Análise Comparativa dos Níveis de Glicose Capilar x ... - NewsLab

entre a dosagem glicêmica capilar e a dosagem glicêmicavenosa (r = 0,9589; p = 0,4899), quando realizadasem jejum de 6 horas e simultaneamente.Concluímos, a partir dos resultados obtidos,que a introdução da medida de glicose capilarem ponta de dedos e o uso de monitores digitaisde alta precisão e rapidez devem ser fortementeestimulados na prática clínica para monitorizaçãodomiciliar do paciente diabético, uma vez que ocontrole rigoroso dos níveis de glicose contribuemsignificativamente na redução das principais complicaçõesdo diabetes mellitus.introduction of the measurement of blood sugarusing blood from the finger tip and the use of fastand accurate digital monitors should be stimulatedfor home monitoring of diabetes as, a tight controlof blood sugar levels significantly contributes toa reduction in the main complications of diabetesmellitus.Keywords: Diabetes mellitus, hyperglycemia,venous glucose, capillary glucose, blood sugarmeterPalavras-chave: Diabetes mellitus, hiperglicemia,glicose venosa, glicose capilar, glicosímetroIntroduçãodiabetes mellitus (DM) incluiO um grupo de doenças metabólicascaracterizadas por hiperglicemia,resultante de defeitos nasecreção de insulina e/ou em suaação (1). A hiperglicemia se manifestapor sintomas como poliúria,polidipsia, perda de peso, polifagiae visão turva ou por complicaçõesagudas que podem levar a risco devida: a cetoacidose diabética e a síndromehiperosmolar hiperglicêmicanão cetótica. A hiperglicemia crônicaestá associada a dano, disfunção efalência de vários órgãos, especialmenteolhos, rins, nervos, coraçãoe vasos sanguíneos (2).O DM é uma situação clínica freqüentee que está se tornando umdos problemas mais significativosde saúde pública não apenas nospaíses desenvolvidos mas tambémnaqueles em desenvolvimento. Apartir de um estudo multicêntricosobre a prevalência do diabetesmellitus, realizado em nove capitaisbrasileiras, de 1986 a 1988, foipossível detectar que cerca de 7,6%da população adulta é portadora dediabetes e, deste percentual, cercade 50% desconhece esta condição.No momento estima-se quetenhamos mais de 140 milhões deindivíduos com DM no mundo e asprojeções indicam que teremos maisde 230 milhões de pessoas afetadaspor volta do ano de 2010 (3).O diagnóstico do diabetes baseia-sefundamentalmente nasalterações da glicose plasmáticade jejum ou após uma sobrecargade glicose por via oral. Os critériosdiagnósticos baseiam-se na glicoseplasmática de jejum (8 horas),nos pontos de jejum e de 2h apóssobrecarga oral de 75g de glicose(teste oral de tolerância à glicose– TOTG) e na medida da glicoseplasmática casual, conforme descriçãona Tabela 1.O diagnóstico correto e precocedo DM e das alterações da tolerânciaà glicose é extremamente importanteporque permite que sejamadotadas medidas terapêuticasque podem evitar o aparecimentode diabetes nos indivíduos comtolerância diminuída e retardar oaparecimento das complicações crônicasnos pacientes diagnosticadoscom diabetes (4).Segundo a Sociedade Brasileirade Endocrinologia, a classificaçãorecomendada para o DM incorporao conceito de estágios clínicos dodiabetes, desde a normalidade,passando pela tolerância à glicose106NewsLab - edição 79 - 2006

Tabela 1. Diagnóstico do diabetes mellitus e alterações da tolerância à glicose dediminuída e/ou glicemia de jejumalterada, até o diabetes mellituspropriamente dito. A classificaçãobaseia-se na etiologia do diabetes,conforme Tabela 2 (5).acordo com valores de glicose plasmática (mg/dl)Categoria Jejum TOTG 75g-2h CasualNorma < 110 < 140Glicose plasmática ≥110 e < 126de jejum alteradaTolerância à glicose < 126 ≥ 140 e < 200diminuídaDiabetes mellitus > 126 > 200 > 200 com sintomasDiabetes gestacional ≥ 110 ≥ 140Em termos de morbidade, o DMatualmente representa uma dasprincipais doenças crônicas queafetam o homem contemporâneo,acometendo indivíduos de paísesem todos os estágios de desenvolvimentoeconômico-social. Suaimportância nas últimas décadasvem crescendo em decorrência devários fatores, tais como: maiortaxa de urbanização, aumento daexpectativa de vida, industrialização,dietas hipercalóricas e ricas emhidratos de carbono de absorção rápida,deslocamento de populaçõespara zonas urbanas, mudanças deestilo de vida, inatividade física eobesidade (6).As complicações crônicas são asprincipais responsáveis pela morbidadee mortalidade dos pacientesdiabéticos. As doenças cardiovascularesrepresentam a principal causade morte (52%) em pacientes diabéticosdo tipo 2. Diversos fatoresde risco, passíveis de intervenção,estão associados ao maior comprometimentocardiovascular observadonos pacientes diabéticos. Entreeles estão a presença da nefropatiadiabética e da hipertensão arterialsistêmica (7).Tabela 2. Etiologia do diabetes melliltusO tratamento do diabetes visa,predominantemente, o controleglicêmico. A Sociedade Brasileira deDiabetes preconiza também comoTipo 1 Tipo 2 Outros tipos específicos Diabetes gestacionalDestruição dascélulas betacom deficiênciaabsoluta deinsulinaVaria entrea resistênciainsulínica eum defeitosecretórioDecorrentes de defeitosgenéticos e de doençasou induzidos porfármacos e agentesquímicosCasosdetectados nagravidezobjetivos: aliviar os sintomas, melhorara qualidade de vida, prevenircomplicações agudas e crônicas,reduzir a mortalidade e tratar asdoenças associadas. O tratamentobásico e o controle da doença dostipos de diabetes 1 e 2 consistem,primordialmente, de uma dietaespecífica, de atividade física e douso adequado da medicação (antidiabéticosorais e/ou insulina). Oresultado é obtido através de umaeducação específica, com a necessidadede adoção pelos diabéticosde determinadas medidas e práticascomportamentais (8).As recomendações para o controledomiciliar do diabético incluemautomonitorização da glicemia capilar,de múltiplas doses de insulina,das alterações nos padrões dietéticosa partir de reeducação alimentare da realização de atividades físicasprogramadas, a fim de manter osníveis glicêmicos (9).A evolução tecnológica vemproporcionando mudanças freqüentesna terapia do diabetesna busca de melhor qualidade devida dos portadores da doença. Aglicemia capilar no monitoramentoda doença é um grande avanço,frequentemente realizada comamostras coletadas em ponta dededo, imprescindível no controle dodiabetes mellitus tipo 1 e de substancialimportância na avaliação dopaciente diabético tipo 2 (10).Seguindo esta tendência, alémde outras iniciativas, Concórdia contacom o Programa de Atendimentoao Paciente Diabético, realizado na108NewsLab - edição 79 - 2006

Policlínica Concórdia, incorporadoàs ações assistenciais da SecretariaMunicipal de Saúde onde tambémsão desenvolvidas atividades deabrangência coletiva relacionados àassistência comunitária, promoçãoe educação em saúde.ObjetivosRealizar dosagens de Glicosecapilar e Glicose venosa em pacientescom Diabetes mellitus tipo2 fazendo uma análise comparativade seus resultados.Os indivíduos foram selecionadosaleatoriamente e entrevistados emdia previamente agendado na PoliclínicaConcórdia.Com relação à hipertensão arterialsistêmica, destaca-se que 55,8% dospacientes eram hipertensos.As dosagens capilares das glicosesdos pacientes foram realizadas poralguns alunos do curso de Farmáciada UnC-Universidade do Contestadocampus de Concórdia/SC, sob orientaçãoprofissional, com glicosímetrodigital (Accu-Chek Advantage; RocheDiagnostics) com lancetas manuais.As coletas para as dosagensvenosas das glicoses dos pacientesforam realizadas pelos mesmosalunos, sendo que os níveis forammedidos em laboratório com qualidadegarantida, utilizando o kitGlicose HK Liquiform do fabricanteLabtest Diagnóstica.Os pacientes foram incluídos noestudo após assinatura de termode consentimento livre esclarecido,onde também receberamorientações e um panfleto contendoinformações sobre diabetesmellitus.Casuística e MétodosFoi realizado um estudo comparativode pacientes com diabetesmellitus tipo 2 atendidos na PoliclínicaConcórdia – Concórdia/SC, nomês de abril de 2006, e que fazemparte do Programa de Atendimentoao Paciente Diabético. Não houverestrição quanto à idade, sexo outempo de diabetes.Foram avaliados 43 pacientescom DM tipo 2, sendo 24 (55,8%)do sexo masculino e 19 (44,2%)do sexo feminino. A idade varioude 35 a 78 anos. O instrumentoutilizado para coleta de dados foium questionário com perguntassemi-estruturadas, abrangendoa identificação do indivíduo,presença de hipertensão arterialsistêmica e tempo do diagnósticodo diabetes.110NewsLab - edição 79 - 2006

ResultadosForam realizadas dosagens deglicose capilar e glicose venosa em43 pacientes com diabetes mellitustipo 2, com 6 horas de jejum.Neste estudo, avaliamos a eficáciada monitorização glicêmicacapilar (realizada em glicosímetrocom material coletado na ponta dodedo) comparada à monitorizaçãoglicêmica venosa (realizada emlaboratório clínico com materialcoletado em veia).Quanto aos resultados das dosagensde glicose, não houve diferençaestatisticamente significante(r = 0,9589; p = 0,4899) entre aglicemia capilar e a glicemia veno-sa, quando realizadas em jejum esimultaneamente.ConclusõesCom base nos resultados obtidoscom o presente estudo, pode-seconcluir que a introdução da medidade glicemia capilar e o uso demonitores digitais de alta precisãoe rapidez, devem ser fortementeestimulados na prática clínica paramonitorização domiciliar do paciente,uma vez que o controle rigorosodos níveis de glicemia contribuemsignificativamente para a reduçãodas principais complicações do diabetesmellitus.Agradecimentos• À Farmácia Concórdia, pelo material fornecidoaos pacientes.• Ao Laboratório Analic e sua equipe, pela contribuiçãona dosagem das glicoses venosas.• À Secretaria Municipal de Saúde e as funcionáriasTânia e Erica da Policlínica Concórdia, pelo apoiorecebido.Correspôndencia para:Profª Giovana Rodrigues Pereiragio.pereira@uncnet.br• Aos pacientes que fazem parte do Programa deAtendimento ao Paciente Diabético da PoliclínicaConcórdia, pela colaboração.• Ao coordenador do Curso de Farmácia da UnC-Universidade do Contestado/Concórdia RodrigoFlores, pelo apoio e participação.• Aos funcionários da UnC-Universidade do Contestado/Concórdiae demais colegas, que contribuíramcom seu trabalho e apoio para a realização deste.Referências Bibliográficas1. The Expert Commitee on the diagnosis and classification of diabetes mellitus. Report of the Expert Committee on the diagnosisand classification of diabetes mellitus. Diabetes Care 1997; 20:1183-97.2. UK Prospective Diabetes Study (UKPDS) Group. Intensive blood-glucose control with sulphonylureas os insulin compared withconventional treatment and risk of complications in patients with type 2 diabetes (UKPDS 33). Lancet 1988; 352:837-53.3. Banco Mundial. Brasil: novo desafio à saúde do adulto. Washington DC, 1991. Parte 1. 134p. Séries de Estudos do BancoMundial sobre Países.4. World Health Organization. Diabetes mellitus: Report of a WHO study group. Geneva: WHO, 1985. Technical ReportSeries 727.5. Sociedade Brasileira de Diabetes. Diagnóstico e classificação do diabetes mellitus e tratamento do diabetes mellitus tipo 2.Disponível em http://www.diabetes.org.br.6. Rull JA, Zorrilla E, Jadzinski MN, Santiago JV. Diabetes mellitus: complicações crônicas. México: McGraw-Hill, 1992.7. Nathan DM, Meigs J, Singer DE. The epidemiology of cardiovascular disease em type 2 diabetes mellitus: how sweet it is..or isit? Lancet 1997; 350:4-9.8. Programa Harvard Joslin – SBD. Educação em diabetes no Brasil: aspectos fundamentais do diagnóstico e tratamento do diabetesmellitus. Brasília: SBD, 1996. 94p.9. Diabetes Control and Complication Trial Research Group. The effect of intensive treatment of diabetes on the development andprogression of long-term complications in insulin-dependent diabetes mellitus. N Engl J Med 1993; 329:977-86.10. Maia FFR, Araújo LR. Projeto “Diabetes Weekend” – proposta de educação e diabetes mellitus tipo 1. Arq Bras EndocrinolMetabol 2002; 46:566-73.112NewsLab - edição 79 - 2006