80terceiro sexo, macho e fêmea, e mais forte que o homem” 68 (BARTHES,1997:140).A construção radicalmente fantasiosa da Harmonia Universal pretendida porFourier, bem como outras proposições utópicas do século XIX originárias dascondições extremas das cida<strong>de</strong>s industriais e her<strong>de</strong>iras da criação <strong>de</strong> Morus,enquanto construções i<strong>de</strong>ais procuram romper veementemente todos os vínculospossíveis com a realida<strong>de</strong> operante, “recorrendo à análise e à programaçãoracional” (BENEVOLO, 1993:558) <strong>de</strong> todas as situações e acontecimentospossíveis. Nesse sentido, essas propostas “são máquinas calculadas para aliviar ohomem da organização física tradicional, que retarda as transformações políticase <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o sistema dos interesses existentes” (BENEVOLO, 1993:558). Eenquanto dispositivos arquitetônicos imaginados “antecipam, portanto – comotentativas isoladas – a pesquisa coletiva da <strong>arquitetura</strong> mo<strong>de</strong>rna que terá iníciono século seguinte” (BENEVOLO, 1993:558) sendo fundamentais noestabelecimento das estratégias <strong>de</strong> ação das vanguardas mo<strong>de</strong>rnas:Subtrair a experiência do choque a qualquer automatismo, criar combase nessa experiência códigos visuais e <strong>de</strong> ação mutuados pelascaracterísticas já consolidadas pela metrópole capitalista –velocida<strong>de</strong> dos tempos <strong>de</strong> transformação, organização esimultaneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicações, tempos acelerados <strong>de</strong> uso,ecletismo – reduzir o objeto puro (metáfora evi<strong>de</strong>nte do objetomercadoria)a estrutura da experiência artística, envolver o público[...]: são estas as tarefas que, no seu conjunto, as vanguardas doséculo XX assumem por conta própria. (TAFURI, 1985:59)Para Tafuri (1985:58), o ato “intencionalmente ‘heróico” das vanguardas(Cubismo, Futurismo, Dadaísmo, De Stijl, etc.) para as quais “a lei da montagemé fundamental”, é uma projeção necessária na arte (não apenas pictórica) da“experiência do choque vivida na cida<strong>de</strong>” (TAFURI 1985:59), possibilitandoque as “leis da produção” passem a fazer parte do novo universo <strong>de</strong> convenções“naturais”. Para as vanguardas “a forma assume a função <strong>de</strong> tornar autêntico enatural o universo não-natural da precisão tecnológica” (TAFURI 1985:86).Assim, não só esse paradigma <strong>de</strong> “arte como mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ação” (TAFURI1985:62) insere a i<strong>de</strong>ologia do <strong>consumo</strong> em suas próprias operações através da68 Tradução nossa. Texto original espanhol.
81“fetichização do objeto artístico” (TAFURI 1985:63), como apresenta a utopiaresidual implícita aos seus procedimentos “como i<strong>de</strong>ologia da correta utilizaçãoda cida<strong>de</strong>”: caos e or<strong>de</strong>m são [...] sancionados pelas vanguardas históricas comoos ‘valores’ propriamente ditos da nova cida<strong>de</strong> capitalista” (TAFURI 1985:66).Enquanto o caos é um dado apresentado pela disforme e anômala estruturaremanescente das cida<strong>de</strong>s industriais, a or<strong>de</strong>m é o objetivo estabelecido comoprojeto para a nova cida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, e “é nesse ponto que a <strong>arquitetura</strong> po<strong>de</strong>entrar em campo absorvendo e superando todas as instâncias das vanguardas, porser ela a única capaz <strong>de</strong> dar respostas reais” às exigências <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação dociclo produção-distribuição-<strong>consumo</strong> do capitalismo industrial (TAFURI1985:66). Entretanto, “partindo do setor <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> edifícios, a culturaarquitetônica <strong>de</strong>scobre que os objetivos previamente fixados só po<strong>de</strong>rão sersatisfeitos ligando aquele setor à reorganização da cida<strong>de</strong>” (TAFURI 1985:68).“Isso equivale a dizer”, afirma Tafuri (1985:86), “que, assim como asnecessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>nunciadas pelas vanguardas históricas remetiam para o setor dasformas <strong>de</strong> comunicação visual” (a <strong>arquitetura</strong> e o <strong>de</strong>sign), também o projeto da<strong>arquitetura</strong> e do urbanismo mo<strong>de</strong>rnos “remete para algo diferente <strong>de</strong> si: para umareestruturação da produção e do <strong>consumo</strong> em geral”. Neste sentido, “a<strong>arquitetura</strong> situa-se – partindo <strong>de</strong> si própria – a meio caminho entre realismo eutopia”, ou seja, uma vez aceitas tais condições, a i<strong>de</strong>ologia do <strong>consumo</strong> e daprodução capitalista torna-se inerente às suas operações i<strong>de</strong>alizadas.A cida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna proposta pelos CIAM e seus integrantes vai ser então a síntese<strong>de</strong>ssa tentativa <strong>de</strong> captura e controle da estrutura e do funcionamento docotidiano pelo planejamento racionalmente funcionalizado e da organização daprodução pelo agenciamento da distribuição e do <strong>consumo</strong>. Para os postuladosdos CIAM, “as cida<strong>de</strong>s da Revolução industrial não haviam sido planejadas nemcomo as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção nem como os centros administrativos que o<strong>de</strong>senvolvimento industrial estava a exigir” (HOLSTON, 1993:50). Nessesentido, os CIAM são uma tentativa <strong>de</strong> implementação “<strong>de</strong> uma autorida<strong>de</strong>capaz <strong>de</strong> mediar a planificação da construção e a planificação urbanística comprogramas <strong>de</strong> reorganização civil [...] no nível político”, enquanto que “aarticulação da forma no seu nível máximo é aproveitada com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>tornar o público sujeito ativo do <strong>consumo</strong>” (TAFURI, 1985:86).
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