66<strong>consumo</strong> <strong>de</strong> imagens; a função industrial do capitalismo mo<strong>de</strong>rno é substituídapela função especulativo-financeira apoiada na vanguarda da publicida<strong>de</strong> – “arteoficial do capitalismo” (HARVEY, 1992:65) – e no marketing. O “estilo”mo<strong>de</strong>rno dos objetos e da <strong>arquitetura</strong>, característico dos objetos produzidos evendidos como produtos no passado, vai ser substituído por conceitos – funçãonão comunicada na própria forma dos produtos – mas estabelecidos comoparâmetros <strong>de</strong> comportamento: estilos <strong>de</strong> vida. Nesse processo, “a publicida<strong>de</strong>,<strong>de</strong>stinada a suscitar o <strong>consumo</strong> dos bens, é assim o primeiro dos bens <strong>de</strong><strong>consumo</strong>. Produz mitos, e sem produzir nada se apo<strong>de</strong>ra dos mitos anteriores” 53(LEFEBVRE, 1972:133). Funcionando como a “crítica operativa” <strong>de</strong> nossaépoca, se “apo<strong>de</strong>ra” dos “mitos” mo<strong>de</strong>rnos, mas agora extirpados <strong>de</strong> qualquerutopia.Ve<strong>de</strong>tes do mercado imobiliário nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s brasileiras, a publicida<strong>de</strong> eo marketing vão ser <strong>de</strong>finidores no processo <strong>de</strong> abarcamento radical dasintenções mo<strong>de</strong>rnas <strong>de</strong> controle total do sistema produtivo pelo <strong>de</strong>sign e natransfiguração <strong>de</strong>finitiva da <strong>arquitetura</strong> em “forma-mercadoria”, ou seja, “aigualda<strong>de</strong> confrontada consigo mesma, a categoria do quantitativo. Ela<strong>de</strong>senvolve o quantitativo e só po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver nele” (DEBORD, 1997:28).Assim, enquanto “forma-mercadoria” a <strong>arquitetura</strong>, produto <strong>de</strong>stinado ao seu<strong>consumo</strong> em massa, “exclui o qualitativo”, isso significa que o “limiar <strong>de</strong> suaprópria abundância” (DEBORD, 1997:28) foi transposto e que “aparentementeapoteótico, espacialmente grandioso, o efeito <strong>de</strong>ssa riqueza é um vazio terminal,uma paródia viciosa que sistematicamente ero<strong>de</strong> a credibilida<strong>de</strong> da <strong>arquitetura</strong>,possivelmente para sempre...” 54 (KOOLHAAS, 2000:17).Distante das preocupações informativas das propagandas mo<strong>de</strong>rnas erespaldadas na crença <strong>de</strong> que “os consumidores não acreditam realmente queexista uma gran<strong>de</strong> diferença entre os produtos” (KLEIN, 2002:44), a publicida<strong>de</strong>imobiliária vai se concentrar na construção <strong>de</strong> conceitos <strong>de</strong> vida, marcas, queestabeleçam laços emocionais com seus consumidores propondo i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> vida.“Reinventa-se o funcionalismo: a função do produto dos nossos dias é sua53 Tradução nossa. Texto original espanhol.
67capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informar sobre tecnologias, materiais, outro modo <strong>de</strong> viver, outroscomportamentos, outra i<strong>de</strong>ologia” (FERRARA, 1989:124). “Marcas, nãoprodutos!” (KLEIN, 2002:45):A sensação <strong>de</strong> estar em Mustique com a certeza <strong>de</strong> morar em SãoPaulo. Esse é o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo do paulistano: residir numa dasmaiores metrópoles do mundo, centro <strong>de</strong> negócios e cultura, e aomesmo tempo sentir-se em Mustique, uma das mais badaladas ilhasdo Caribe. Mustique empresta, agora, seu nome e seu glamour paraesse empreendimento que reúne todas as qualida<strong>de</strong>s e concretiza osonho do paulistano - uma ilha <strong>de</strong> prazeres. Do lado <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro, muitover<strong>de</strong>, áreas livres, conforto e segurança. Fora, todas as facilida<strong>de</strong>sdas gran<strong>de</strong>s metrópoles: compras, lazer, cultura, esportes, além <strong>de</strong>acesso rápido a vias como a Marginal Pinheiros, Ban<strong>de</strong>irantes, ÁguaEspraiada, Morumbi e Berrini. O Mustique é assim: uma ilha queisola e integra. (MUSTIQUE, 2002:A5)Operando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um sistema on<strong>de</strong> a i<strong>de</strong>ologia dominante suporta a utopia dafelicida<strong>de</strong> (exclusiva e privativa) alcançada através do <strong>consumo</strong>, as técnicas dapublicida<strong>de</strong> imobiliária exploram o paradoxo inerente ao próprio sistema“espetacular” vigente: entre a pretensa racionalida<strong>de</strong> financeira e dos negócios, ea retórica emocional utilizada, esse serviço, “que não ultrapassa dois a três porcento do custo da obra” (SANTOS, 1987:45), procura romper todos os“obstáculos ‘sólidos’ que ainda limitam o vôo livre da fantasia e reduzem o‘princípio do prazer’ ao tamanho ditado pelo ‘princípio da realida<strong>de</strong>’”(BAUMAN, 2001:89).A ‘necessida<strong>de</strong>’, consi<strong>de</strong>rada pelos economistas do século XIX comoa epítome da ‘soli<strong>de</strong>z’ – inflexível, permanentemente circunscrita efinita – foi <strong>de</strong>scartada e substituída durante algum tempo pelo <strong>de</strong>sejo,que era muito mais ‘fluido’ e expansível que a necessida<strong>de</strong> por causa<strong>de</strong> suas relações meio ilícitas com sonhos plásticos e volúveis sobre aautenticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um ‘eu íntimo’ à espera <strong>de</strong> expressão.(BAUMAN, 2001:89)Esse mo<strong>de</strong>lo “fourieriano” oscilante entre uma vonta<strong>de</strong> “quase-taxonômica” <strong>de</strong>captura da realida<strong>de</strong> cotidiana e a libertação individual dos <strong>de</strong>sejos mais íntimosna coerência coletiva aproxima a publicida<strong>de</strong> imobiliária, como afirma PepSubirós, das formas <strong>de</strong> expressão contemporâneas da pornografia, para quem,“tanto em um caso como no outro, as mensagens apelam para a libido doconsumidor, potencial e real, com anúncios essencialmente epiteliais e54 Tradução nossa. Texto original inglês.
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