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arquitetura e consumo Cançado - MOM. Morar de Outras Maneiras.

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67capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informar sobre tecnologias, materiais, outro modo <strong>de</strong> viver, outroscomportamentos, outra i<strong>de</strong>ologia” (FERRARA, 1989:124). “Marcas, nãoprodutos!” (KLEIN, 2002:45):A sensação <strong>de</strong> estar em Mustique com a certeza <strong>de</strong> morar em SãoPaulo. Esse é o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo do paulistano: residir numa dasmaiores metrópoles do mundo, centro <strong>de</strong> negócios e cultura, e aomesmo tempo sentir-se em Mustique, uma das mais badaladas ilhasdo Caribe. Mustique empresta, agora, seu nome e seu glamour paraesse empreendimento que reúne todas as qualida<strong>de</strong>s e concretiza osonho do paulistano - uma ilha <strong>de</strong> prazeres. Do lado <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro, muitover<strong>de</strong>, áreas livres, conforto e segurança. Fora, todas as facilida<strong>de</strong>sdas gran<strong>de</strong>s metrópoles: compras, lazer, cultura, esportes, além <strong>de</strong>acesso rápido a vias como a Marginal Pinheiros, Ban<strong>de</strong>irantes, ÁguaEspraiada, Morumbi e Berrini. O Mustique é assim: uma ilha queisola e integra. (MUSTIQUE, 2002:A5)Operando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um sistema on<strong>de</strong> a i<strong>de</strong>ologia dominante suporta a utopia dafelicida<strong>de</strong> (exclusiva e privativa) alcançada através do <strong>consumo</strong>, as técnicas dapublicida<strong>de</strong> imobiliária exploram o paradoxo inerente ao próprio sistema“espetacular” vigente: entre a pretensa racionalida<strong>de</strong> financeira e dos negócios, ea retórica emocional utilizada, esse serviço, “que não ultrapassa dois a três porcento do custo da obra” (SANTOS, 1987:45), procura romper todos os“obstáculos ‘sólidos’ que ainda limitam o vôo livre da fantasia e reduzem o‘princípio do prazer’ ao tamanho ditado pelo ‘princípio da realida<strong>de</strong>’”(BAUMAN, 2001:89).A ‘necessida<strong>de</strong>’, consi<strong>de</strong>rada pelos economistas do século XIX comoa epítome da ‘soli<strong>de</strong>z’ – inflexível, permanentemente circunscrita efinita – foi <strong>de</strong>scartada e substituída durante algum tempo pelo <strong>de</strong>sejo,que era muito mais ‘fluido’ e expansível que a necessida<strong>de</strong> por causa<strong>de</strong> suas relações meio ilícitas com sonhos plásticos e volúveis sobre aautenticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um ‘eu íntimo’ à espera <strong>de</strong> expressão.(BAUMAN, 2001:89)Esse mo<strong>de</strong>lo “fourieriano” oscilante entre uma vonta<strong>de</strong> “quase-taxonômica” <strong>de</strong>captura da realida<strong>de</strong> cotidiana e a libertação individual dos <strong>de</strong>sejos mais íntimosna coerência coletiva aproxima a publicida<strong>de</strong> imobiliária, como afirma PepSubirós, das formas <strong>de</strong> expressão contemporâneas da pornografia, para quem,“tanto em um caso como no outro, as mensagens apelam para a libido doconsumidor, potencial e real, com anúncios essencialmente epiteliais e54 Tradução nossa. Texto original inglês.

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