126Apesar da i<strong>de</strong>ologia do <strong>consumo</strong> estar impregnada em todos os âmbitos dasocieda<strong>de</strong> atual e se <strong>de</strong>senvolver plenamente na <strong>arquitetura</strong> imobilária, énecessário lembrar que a própria prática do <strong>consumo</strong>, antes <strong>de</strong> ser um atoirrefletido ou um simples manipulação dos consumidores por parte das gran<strong>de</strong>scorporações, é necessariamente uma relação <strong>de</strong> mão dupla entre essas partescomo aponta Michel <strong>de</strong> Certeau:Na realida<strong>de</strong>, diante <strong>de</strong> uma produção racionalizada, expansionista,centralizada, espetacular e barulhenta, posta-se uma produção <strong>de</strong> tipototalmente diverso, qualificada <strong>de</strong> “<strong>consumo</strong>”, e que tem comocaracerística suas astúcias, seus esfarelamento em conformida<strong>de</strong> comas ocasiões, suas “piratarias”, sua clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>, seu murmúrioincansável, em suma, uma quase-invisibilida<strong>de</strong>, pois ela quase não sefaz notar por produtos próprios (on<strong>de</strong> teria o seu lugar) mas por umaarte <strong>de</strong> utilizar aqueles que lhe são impostos. (CERTEAU,1996:94)Na “arte <strong>de</strong> utilizar” ou nas “astúcias do cotidiano” a própria <strong>de</strong>finiçãocontemporânea <strong>de</strong> <strong>consumo</strong> eleva suas práticas a um patamar capaz <strong>de</strong> se impordiante da produção dos bens disponibilizados. Entretanto, como percebidoclaramente na internet (LÉVY, 2001:108), o <strong>consumo</strong> extrapola cada vez mais oato da compra, consome-se atualmente simplesmente pelo fato <strong>de</strong> dirigir aatenção para <strong>de</strong>terminado produto. Nesse processo on<strong>de</strong> o <strong>consumo</strong> é cada vezmais invisível e “ontológico”, consumir, comunicar e produzir são fases <strong>de</strong> ummesmo ciclo, on<strong>de</strong> um telefonema para uma corretora, um clique no mouse, ou acompra <strong>de</strong> um apartamento <strong>de</strong>sempenham a mesma função <strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar aprodução <strong>de</strong> novos condomínios, novos outdoors pela cida<strong>de</strong>, novos estilos <strong>de</strong>vida propostos. Nesse sentido, o <strong>consumo</strong> <strong>de</strong>ve ser entendido cada vez maiscomo um ato político.Na prática cotidiana, como mostra Flávio Villaça (1998:183), a <strong>arquitetura</strong>imobiliária e as suas consequências urbanas (infra-estruturas, valorização dasáreas, etc.) – aquilo que Lefebvre chamou <strong>de</strong> “produção do espaço” – já sãoarticulados pela própria classe média brasileira, que em todas as principaiscida<strong>de</strong>s, “estimuladas pelos interesses imobiliários [...] estão constantementeproduzindo novos bairros e <strong>de</strong>ixando outros para trás” (VILLAÇA, 1998:188).Dessa forma, assim como há hoje os po<strong>de</strong>rosos grupos <strong>de</strong> incorporação
127imobiliária, há também, “<strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito antes <strong>de</strong> existir não só qualquerincorporação, mas o próprio setor imobiliário”, as escolhas das classes médias,que ditam a articulação do território da cida<strong>de</strong> (VILLAÇA, 1998:184).Nesse processo <strong>de</strong> articulação <strong>de</strong>ssas duas principais forças <strong>de</strong> agenciamento doespaço urbano – a incorporação e o <strong>consumo</strong> imobiliário da classe média – e nasuperação da gran<strong>de</strong> distância entre as práticas espaciais cotidianas e os espaços<strong>de</strong> representação, ou seja, entre a forma que o espaço é produzido e a forma queé imaginado teorizada por Lefebvre (apud, ZAERA, 1996:32), os “pequenosanúncios” ou os “CLASSIFICADOS” imobiliários dos jornais são um campoprivilegiado.O sentido da produção do espaço para Lefebvre po<strong>de</strong> ser entendido <strong>de</strong> duasformas: uma que se refere à produção <strong>de</strong> bens e mercadorias, e outra queestabelece a noção <strong>de</strong> que se produz também relações sociais, i<strong>de</strong>ologia, cultura,valores compartilhados (CARLOS, 2001:63). Para Michel <strong>de</strong> Certeau(1996:100), essa distância <strong>de</strong> que nos fala Lefebvre é fruto da “instauração dodiscurso urbanístico [...] <strong>de</strong>finido pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma tríplice operação:” aprodução <strong>de</strong> um espaço próprio, o estabelecimento <strong>de</strong> um “não tempo” atravésda redução niveladora sobre os usuários, e na criação <strong>de</strong> um sujeito universal eanônimo. Assim, para Certeau, o urbanismo e a <strong>arquitetura</strong>, enquanto espaçosabstratos e i<strong>de</strong>ais, somente se tornam possíveis a partir “do cálculo ou amanipulação das relações <strong>de</strong> forças [...] a partir do momento que um sujeito <strong>de</strong>querer e po<strong>de</strong>r (empresa, exército) po<strong>de</strong> ser isolado”. Esse processo caracteriza e<strong>de</strong>fine a estratégia como uma ação “que postula um lugar circunscrito como algopróprio”, a base <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> agenciar as relações que são externas a essedomínio do tempo pela fundação <strong>de</strong> um lugar autônomo (CERTEAU, 1996:100),<strong>de</strong>fine também o próprio espaço da cida<strong>de</strong>, manipulado pelos planos estratégicosdos tecnocratas ou das empresas. Por outro lado, o <strong>consumo</strong> ou as trajetórias dosusuários nesse espaço, ações caracterizadas fundamentalmente pela ausência <strong>de</strong>um lugar “próprio” são “táticos”, movimentos calculados pelas ocasiões que seapresentam, em um campo <strong>de</strong>sconhecido controlado por <strong>de</strong>cisões externas(CERTEAU, 1996:100).
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