106significado” (PAZ, 2002:26). Os ready-ma<strong>de</strong> são objetos anônimos que o gestogratuito do artista, pelo único fato <strong>de</strong> escolhê-los, converte em obra <strong>de</strong> arte. “Aomesmo tempo esse gesto dissolve a noção <strong>de</strong> obra” (PAZ, 2002:23). Os readyma<strong>de</strong>“não são antiarte [...], mas a-Rtísticos” (PAZ, 2002:27). Com os readyma<strong>de</strong>stransforma-se em algo <strong>de</strong> valor objetos a que não se atribuem valoralgum, “escolher uma pedra entre mil equivale a dar-lhe nome, o nometransporta a pedra qualquer para o “mundo dos nomes; ou seja: à esfera dossignificados” (PAZ, 2002:27). No entanto, ao assinar o mictório, um objeto <strong>de</strong>significado prévio e utilitário, Duchamp “quis dizer que aquele objeto não tinhavalor artístico em si, mas assumia-o a partir <strong>de</strong> um juízo formulado por umsujeito” (CAVALCANTI, 2000:19).Entretanto a própria noção <strong>de</strong> ready-ma<strong>de</strong> havia sido introduzida no universo daarte por Picasso e Braque, a partir <strong>de</strong> 1912, “e codificados como instrumentos <strong>de</strong>comunicação por Duchamp” 111 . Os ready-ma<strong>de</strong>s “sancionam a auto-suficiênciada realida<strong>de</strong> e o repúdio <strong>de</strong>finitivo <strong>de</strong> qualquer representação, por parte <strong>de</strong>ssamesma realida<strong>de</strong>” (TAFURI, 1985:63). Com os ready-ma<strong>de</strong>s, Duchamp iria setornar uma das figuras importantes do movimento dadaísta, para o qual a obra <strong>de</strong>arte <strong>de</strong>ve ser substituída pelo puro ato estético. Foram as experiências dosDadaístas os primeiros movimentos <strong>de</strong> transformação dos objetos a partir daestratégia <strong>de</strong> voltar contra eles próprios os procedimentos que os geraram, “queenfatizaram pela via do absurdo a noção <strong>de</strong> funcionalida<strong>de</strong> e daantifuncionalida<strong>de</strong>, no momento em que a dissociação da função e do objeto levaao extremo esta ina<strong>de</strong>quação [...] consi<strong>de</strong>rada um traço kitsch” (MOLES,2001:64).Essa ina<strong>de</strong>quação caracteristicamente kitsch, provocada <strong>de</strong>liberadamente pelosprocedimentos dadaístas <strong>de</strong> não-coincidência entre objeto e função, na<strong>arquitetura</strong> manifesta-se por meio da aplicação <strong>de</strong> enfeites e ornamentosproduzidos industrialmente em série, explicitando a própria contradição entre osistema produtivo, seus meios e seus verda<strong>de</strong>iros objetivos. Esse fenômeno vai110 Também foram publicados em L’Esprit nouveau em seus cinco anos <strong>de</strong> existência artigos <strong>de</strong> AndréSalmon, Theo van Doesberg, Louis Aragon, Jean Cocteau, além <strong>de</strong> alguns manifestos do De Stijl.
107ser radicalmente combatido por uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> purificação e exortação dosupérfluo e <strong>de</strong> tudo que impregnava a <strong>arquitetura</strong> <strong>de</strong> futilida<strong>de</strong>s e a<strong>de</strong>reços e <strong>de</strong>proposição <strong>de</strong> uma nova forma para esses objetos que fosse coerente com ai<strong>de</strong>ologia da “Era da Máquina”. Essa postura estabelecida como estratégia geralpara a <strong>arquitetura</strong> mo<strong>de</strong>rna vai levar Le Corbusier, quando da sua participação naFeira Internacional <strong>de</strong> Artes Decorativas em 1925, a apresentar sob o título <strong>de</strong>“A arte <strong>de</strong>corativa” (L’Art décoratif d’aujourd’hui), escritos que tinham comoalvo o ornamento e a <strong>de</strong>coração na <strong>arquitetura</strong> e nos objetos utilitários.Sempre reforçando o papel da máquina e do progresso industrial no<strong>de</strong>senvolvimento do mundo mo<strong>de</strong>rno, Le Corbusier construiu o pavilhão francês,batizado também <strong>de</strong> L’Esprit nouveau, sintetizando em um edifício os i<strong>de</strong>aisfuncionais e estéticos do Purismo 112 . “Mesmo sendo ostensivamente contrário àsartes <strong>de</strong>corativas – num gigantesco evento que <strong>de</strong>veria exaltá-las – o pavilhão <strong>de</strong>Le Corbusier” correspon<strong>de</strong>u <strong>de</strong> modo “absolutamente idiossincrático àexpectativa <strong>de</strong> elegância da comissão <strong>de</strong> organizadores”, que contou com aparticipação do próprio arquiteto 113 (PAIM, 2000:101).“Se a questão da arte <strong>de</strong>corativa este ano parece, nos gritos da multidão, dasgirândolas dos fogos <strong>de</strong> artifícios, nos palácios <strong>de</strong> gesso dourado, ocupar um111 Para Greenberg, para quem a arte continua valer principalmente como força visual e como campoautêntico e puro, as intervenções <strong>de</strong>liberadamente contraditórias dos Dadaístas e <strong>de</strong> Marcel Duchamppouco lhe interessaram.112 Em 1918, logo após o final da Primeira Guerra, Le Corbusier, ainda conhecido como Jeanneret(Charles Edouard), e Amé<strong>de</strong>é Ozenfant, expuseram seus trabalhos em pintura em uma galeria <strong>de</strong> Paris.Quando adolescente, Edouard havia sonhado em se tornar um pintor, com o encontro <strong>de</strong> Ozenfant, e sobforte influência do Cubismo e <strong>de</strong> figuras como Picasso, Braque, Delaunays, Duchamp, Metzinger, JuanGris, Fernand Léger, a exposição surge como a oportunida<strong>de</strong> não só <strong>de</strong> realizar sua ambição, comotambém uma forma <strong>de</strong> se enveredar através da arte contra o bizarro e os aspectos <strong>de</strong>corativos da arte,inclusive do próprio Cubismo. No catálogo da exposição, os dois se autoproclamaram como “Puristas”.Em um esforço conjunto <strong>de</strong> superar o Cubismo em favor da lógica, da clarida<strong>de</strong>, da simplicida<strong>de</strong> e daor<strong>de</strong>m, os Puristas consi<strong>de</strong>ravam que nem a figura humana e nem mesmo a paisagem eram relevantespara a arte pictórica, <strong>de</strong>sejando representar objetos do cotidiano dos quais as características mais gerais<strong>de</strong>veriam ser extraídas (garrafas, copos, etc.). A obsessão com os objetos típicos produzidos em massapela indústria, seria mais tar<strong>de</strong> transferida por Le Corbusier para a <strong>arquitetura</strong> e urbanismo pelaproposição dos standards, dos pilotis e dos arranha-céus, como conseqüência lógica da “Era daMáquina”.113 “Os vários pavilhões nacionais eram ecléticos no estilo, e esta foi uma exposição que a ‘Art Déco’ –uma síntese chique <strong>de</strong> fontes exóticas, ornamentos policromáticos e consumismo – teve gran<strong>de</strong> impactosobre o público. Havia duas alternativas a essa cena luxuriante, o pavilhão soviético <strong>de</strong> KonstantinMelnikov, [...]; e o pavilhão <strong>de</strong> L’Esprit nouveau <strong>de</strong>senhado por Le Corbusier” (CURTIS, 1986:64)
- Page 1 and 2:
3Lugares-Comuns CLASSIFICADOS: arqu
- Page 3 and 4:
5SUMÁRIORESUMO/ABSTRACT...........
- Page 5 and 6:
3RESUMOEste trabalho investiga as r
- Page 7 and 8:
5de planta . Um apartamento por and
- Page 9 and 10:
7extinção após um último “sol
- Page 11 and 12:
9capital imobiliário e produtor de
- Page 13 and 14:
11questão decorativa e ornamental
- Page 15 and 16:
13_________________________________
- Page 17 and 18:
15a preocupação construtiva da ar
- Page 19 and 20:
17de novos bairros e até mesmo de
- Page 21 and 22:
19“crítica operativa”, pratica
- Page 23 and 24:
21cumpriu e continua a cumprir o se
- Page 25 and 26:
23devido à sua verticalidade, dema
- Page 27 and 28:
25No MES, os enunciados de Le Corbu
- Page 29 and 30:
27um lado estavam os arquitetos do
- Page 31 and 32:
29engenheiro e do arquiteto pela in
- Page 33 and 34:
31terminal rodoviário, museu de ar
- Page 35 and 36:
33Quanto a empresas construtoras es
- Page 37 and 38:
35Em 1951, Artigas publicou na revi
- Page 39 and 40:
37características” 25 , para ass
- Page 41 and 42:
39Nesse período, o processo de des
- Page 43 and 44:
41basicamente utilizado sob a forma
- Page 45 and 46:
43_________________________________
- Page 47 and 48:
45Com o sistema de telefonia portá
- Page 49 and 50:
47vida proposto e a logomarca da em
- Page 51 and 52:
49potencializar a ficção do consu
- Page 53 and 54:
51espaços progressivamente mais fu
- Page 55 and 56:
53Como mostra a autora, ao lado de
- Page 57 and 58: 55lógica do produtor procura a mas
- Page 59 and 60: 57e fértil novamente” 42 (HITCHC
- Page 61 and 62: 59No Brasil, os parâmetros e princ
- Page 63 and 64: 61mais duras críticas dirigidas à
- Page 65 and 66: 63esses desenhos. São estudos de m
- Page 67 and 68: 65inteiramente novos, novas maneira
- Page 69 and 70: 67capacidade de informar sobre tecn
- Page 71 and 72: 69Marca expandida: a política das
- Page 73 and 74: 71Salão de jogos . Sala de reuniõ
- Page 75 and 76: 73O século XX fez da arquitetura h
- Page 77 and 78: 75Desde a sua invenção no Renasci
- Page 79 and 80: 77Quando “entre a realidade e o i
- Page 81 and 82: 79...de modo que (visão completame
- Page 83 and 84: 81“fetichização do objeto artí
- Page 85 and 86: 83.................................
- Page 87 and 88: 85“uma revolução teria de ser f
- Page 89 and 90: 87(COSTA, 1995:284). Como as utopia
- Page 91 and 92: 89Se uma das premissas fundamentais
- Page 93 and 94: 91residência” (LE CORBUSIER, 200
- Page 95 and 96: 93objetivo do lucro. “Como projet
- Page 97 and 98: 95Lefebvre 89 (1972:74), a caracter
- Page 99 and 100: 9716. KITSCH_______________________
- Page 101 and 102: 99sentido de um futuro que vai ser
- Page 103 and 104: 101qual os indivíduos podem sem do
- Page 105 and 106: 103últimos [grande massa de incult
- Page 107: 105Quando reeditado por L’Esprit
- Page 111 and 112: 109CORBUSIER, 1996:72). Para o arqu
- Page 113 and 114: 111A obsessão de Le Corbusier com
- Page 115 and 116: 113autênticas as formas e o cotidi
- Page 117 and 118: 115parecendo absurdo afirmar que
- Page 119 and 120: 117liberdade privada, desenvolver s
- Page 121 and 122: 119meio-termo, “através desta ac
- Page 123 and 124: 121bocas, lava-louças, depurador d
- Page 125 and 126: 123industrial - e articulava então
- Page 127 and 128: 125utopia moderna; hoje, juntos em
- Page 129 and 130: 127imobiliária, há também, “de
- Page 131 and 132: 129“felicidade positiva”, direc
- Page 133 and 134: 131EAGLETON, Terry. A ideologia da
- Page 135 and 136: 133PAZ, Octavio. Marcel Duchamp ou
- Page 137 and 138: 13523. ANEXO (Empresas) ∗Abyara P
- Page 139 and 140: 137EZ TEC Engenharia e Construçõe