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2 A história da Bíblia como história do livro - Maxwell - PUC-Rio

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2. A história <strong>da</strong> Bíblia <strong>como</strong> história <strong>do</strong> <strong>livro</strong> 26<br />

De fato, não era característica exclusiva <strong>do</strong>s hebreus o<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong> na fixação escrita <strong>da</strong>s mensagens divinas. A passagem<br />

<strong>do</strong>s textos orais para suportes escritos enfrentou em<br />

diversas culturas certa rejeição. Mesmo os gregos, cujo conhecimento<br />

é celebra<strong>do</strong> <strong>como</strong> fonte importante <strong>do</strong> pensamento<br />

ocidental, tiveram de um de seus mais célebres representantes,<br />

Platão, postura reticente quanto à escrita:<br />

O saber mais precioso de que o homem dispõe é aquele<br />

que permanece na sua alma, muito ou pouco que seja, <strong>da</strong><br />

visão <strong>da</strong>s idéias, advin<strong>da</strong> antes de nascer; nenhum logos,<br />

nenhuma tradução em palavras pode resultar senão imperfeita<br />

e de menos valor em relação a ela. Por isso, se é ver<strong>da</strong>de<br />

que Platão contrapõe os timiótera aos discursos escritos,<br />

a contraposição que está aqui em jogo não é aquela entre<br />

<strong>do</strong>utrinas expostas oralmente e <strong>do</strong>utrinas expostas por<br />

escrito, mas aquela entre o saber <strong>da</strong> alma e os mo<strong>do</strong>s em<br />

que se tenta exprimi-lo (entre os quais, <strong>como</strong> muitas vezes<br />

dito, os discursos escritos parecem menos eficazes <strong>do</strong> que<br />

os orais). (TRABATTONI, 2003, p.158,159)<br />

Mais <strong>do</strong> que um preciosismo em torno <strong>da</strong> palavra fala<strong>da</strong><br />

<strong>como</strong> sinal de dinamismo de idéias, algumas tradições<br />

religiosas tiveram receio em prender as palavras divinas em<br />

letras escritas, já que entendiam aquelas <strong>como</strong> formas vivas<br />

de comunicação <strong>da</strong> divin<strong>da</strong>de.<br />

No Irã e na Índia, <strong>como</strong> também nos mun<strong>do</strong>s religiosos grego,<br />

latino e celta, via-se com reservas a colocação por escrito<br />

<strong>da</strong> palavra sagra<strong>da</strong>. Licurgo, Pitágoras e Numa renunciaram<br />

ao uso <strong>da</strong> escritura chegan<strong>do</strong> a proibir que suas palavras<br />

fossem postas por escrito. A mesma atitude tiveram os<br />

drui<strong>da</strong>s. To<strong>da</strong>via, o desenvolvimento dessas religiões fez<br />

que também entre elas a escritura acabasse triunfan<strong>do</strong> sobre<br />

a palavra oral. (BARRERA, 1995, p.156)<br />

Mesmo assim o povo semita, <strong>como</strong> os demais, sucumbiu<br />

à prática escrita e começou a registrar, desse mo<strong>do</strong>,<br />

seus textos sagra<strong>do</strong>s:<br />

De qualquer mo<strong>do</strong>, tanto quanto as referências ao valor <strong>da</strong><br />

transmissão oral, há também indicações de que a escrita<br />

era considera<strong>da</strong> importante. Além disso, é fato incontestável<br />

que o Oriente Antigo, <strong>do</strong> qual Israel era parte, conhecia a<br />

uso <strong>da</strong> escrita desde o segun<strong>do</strong> milênio e usou-a em muitas<br />

esferas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, <strong>como</strong> a existência de milhares de inscrições<br />

e tábuas de argila comprovam. (KOCH, 1969, p.82, tradução<br />

nossa)<br />

Mesmo que essa facili<strong>da</strong>de em aceitar a escrita <strong>como</strong><br />

forma de transmissão <strong>do</strong>s textos tenha ocorri<strong>do</strong> desde muito<br />

ce<strong>do</strong>, a prática de proclamação <strong>como</strong> representação <strong>da</strong> palavra<br />

viva nunca deixou de ser totalmente usa<strong>da</strong>. O ensino<br />

oral <strong>da</strong> Torá é uma prática até hoje presente entre os membros<br />

tradicionais <strong>da</strong> religião ju<strong>da</strong>ica.<br />

Figura 3 . Adão e Eva nomeiam<br />

os animais. O caráter<br />

mitológico <strong>da</strong> passagem<br />

é evidencia<strong>do</strong> pela nomeação<br />

de um unicórnio por<br />

Adão.

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