2 A história da BÃblia como história do livro - Maxwell - PUC-Rio
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2. A história <strong>da</strong> Bíblia <strong>como</strong> história <strong>do</strong> <strong>livro</strong> 25<br />
2.2.<br />
O berço <strong>da</strong> “Palavra”<br />
A história <strong>da</strong> Bíblia começou muito antes <strong>do</strong> estabelecimento<br />
de sua forma escrita. De fato, vários textos bíblicos <strong>do</strong>s<br />
quais toma-se conhecimento atualmente foram transmiti<strong>do</strong>s<br />
oralmente durante séculos.<br />
Outra série de fatos demonstra que parte <strong>da</strong> literatura bíblica<br />
tem uma pré-história [sic] oral. A tarefa básica <strong>do</strong>s profetas<br />
é a proclamação: <strong>como</strong> se diz no man<strong>da</strong>to divino ou segun<strong>do</strong><br />
a descrição <strong>do</strong> “evangelista” ou arauto em Isaías,<br />
cap.40: “Alteia fortemente a voz”. (SCHÖKEL, 1992, p.92)<br />
A importância <strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de é manifesta na forma <strong>como</strong><br />
as culturas antigas tratavam essa forma de transmissão de<br />
idéias:<br />
Nas religiões dessas culturas [pré-literárias], porém também<br />
nas grandes religiões, a palavra possui uma força especial capaz<br />
de evocar e tornar presente o acontecimento primordial <strong>da</strong><br />
criação e os diversos marcos <strong>da</strong> história <strong>da</strong> salvação. A relação<br />
entre o dizer e o fazer (“disse e foi feito”, Gn 1), conforme a<br />
estrutura literária e teológica <strong>da</strong> Bíblia (imperativo-indicativo e<br />
promessa-cumprimento). (BARRERA, 1995, p.126)<br />
A força <strong>da</strong> palavra fala<strong>da</strong> aparece em várias outras<br />
partes <strong>do</strong> Antigo Testamento <strong>como</strong> na passagem em que é<br />
<strong>da</strong><strong>da</strong> ao homem a tarefa de “nomear” to<strong>do</strong>s os animais (Gn<br />
2,20). Para Ong (1998, p.43), essa atitude expressa uma<br />
característica marcante <strong>do</strong>s povos de tradição oral: “Os povos<br />
orais comumente pensam que os nomes (um gênero de<br />
palavras) são capazes de transmitir poder para outras coisas”.<br />
É possível afirmar que a transmissão oral não abor<strong>da</strong>va<br />
somente pequenos cantos ou provérbios, mas to<strong>da</strong> uma<br />
cultura oral:<br />
Já antes de Moisés, os “filhos de Israel”, nas estepes <strong>da</strong> Síria<br />
e <strong>da</strong> Palestina, e os “hebreus”, no Egito, tinham seus textos<br />
não-escritos: fórmulas rituais para expressar sua relação<br />
com a divin<strong>da</strong>de, mitos ou narrações para estruturar o universo<br />
cultual e cultural, sagas, len<strong>da</strong>s, poesias etc. (KO-<br />
NINGS, 1998)<br />
Algumas características <strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de eram sobremo<strong>do</strong><br />
valoriza<strong>da</strong>s pela antiga cultura hebraica que, mesmo ten<strong>do</strong><br />
passa<strong>do</strong> a escrever seus textos, os povos não deixaram essa<br />
prática completamente de la<strong>do</strong>.<br />
Mas quase to<strong>do</strong> o Antigo Testamento, sejam as histórias <strong>do</strong><br />
Tetrateuco, os Salmos ou proclamações proféticas, foi<br />
transmiti<strong>do</strong> oralmente por um longo perío<strong>do</strong> antes de ser<br />
escrito; ele somente era escrito com a intenção de repetirem-se<br />
as palavras em voz alta em uma próxima ocasião,<br />
seja para um grupo de discípulos <strong>do</strong>s profetas, ou no Templo<br />
de Jerusalém (Jr 36,6) ou mais tarde na sinagoga. (KO-<br />
CH, 1969, p.81, tradução nossa)