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2 A história da Bíblia como história do livro - Maxwell - PUC-Rio

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2. A história <strong>da</strong> Bíblia <strong>como</strong> história <strong>do</strong> <strong>livro</strong> 23<br />

Embora seja mais significativa, a diferença entre a Bíblia<br />

católica e protestante não se restringe à lista de <strong>livro</strong>s<br />

normaliza<strong>do</strong>s. Mesmo ten<strong>do</strong>-se a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> a canonici<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s<br />

<strong>livro</strong>s que comporiam a Bíblia Sagra<strong>da</strong>, seu conteú<strong>do</strong> textual<br />

não chegou a ser integralmente fixa<strong>do</strong> por ambas as tradições.<br />

Assim, diversas revisões e traduções proporcionaram<br />

uma expressiva varie<strong>da</strong>de em termos de conteú<strong>do</strong> e significa<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong>s mensagens <strong>do</strong> <strong>livro</strong>. Algumas vezes não somente<br />

uma palavra foi traduzi<strong>da</strong> de forma diferente, mas trechos<br />

inteiros foram transpostos, omiti<strong>do</strong>s ou acrescenta<strong>do</strong>s.<br />

Essa diversi<strong>da</strong>de não chega a ser exclusivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

Bíblia, são vários os críticos que destacam as deformações<br />

textuais <strong>da</strong>s diversas edições de Dom Quixote (WAGS-<br />

CHAL, 2001) e alguns <strong>livro</strong>s sagra<strong>do</strong>s 22 . O que é significativo,<br />

no caso em estu<strong>do</strong>, é o fato de tratar-se de um <strong>livro</strong> sagra<strong>do</strong><br />

que sustenta o <strong>do</strong>gma de ser um “<strong>livro</strong> inspira<strong>do</strong>”, no<br />

qual o próprio Deus teria dita<strong>do</strong> as palavras a seus escritores.<br />

A interpretação de seus textos tem si<strong>do</strong>, muitas vezes,<br />

pivô de debates em torno de <strong>do</strong>gmas e <strong>do</strong>utrinas que direcionam<br />

o pensamento nas diferentes linhas <strong>da</strong> Igreja Cristã.<br />

As várias traduções e versões, apesar de determinarem<br />

plurali<strong>da</strong>de nos textos bíblicos, não acontecem sem que<br />

estejam relaciona<strong>da</strong>s a uma determina<strong>da</strong> <strong>do</strong>utrina a ser defendi<strong>da</strong>.<br />

Assim, ain<strong>da</strong> que leituras fun<strong>da</strong>mentalistas façam<br />

uso <strong>da</strong> interpretação literal de algumas passagens, é de<br />

senso comum a noção de que se tratam de releituras <strong>do</strong>s<br />

textos originais e que as interpretações possuem raízes nos<br />

<strong>do</strong>gmas que ca<strong>da</strong> <strong>do</strong>utrina professa. A infalibili<strong>da</strong>de 23 <strong>da</strong><br />

Bíblia se dá, portanto, mais pelo senti<strong>do</strong> <strong>da</strong> mensagem que<br />

o texto representa para aquela comuni<strong>da</strong>de específica <strong>do</strong><br />

que para to<strong>da</strong>s as variações bíblicas existentes. É importante<br />

ressaltar ain<strong>da</strong> que, por mais cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sos que fossem os<br />

tradutores e copistas, é relativamente recente a idéia <strong>do</strong> uso<br />

<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> científico, que busca o senti<strong>do</strong> original <strong>do</strong> texto a<br />

partir de sua literali<strong>da</strong>de mais antiga. Assim, é natural entender<br />

que algumas “per<strong>da</strong>s” tenham aconteci<strong>do</strong> em relação<br />

aos textos originais.<br />

Relevante é o fato de que a diversi<strong>da</strong>de nas traduções<br />

e versões ocasionou, algumas vezes, interferências significativas<br />

na construção de seu projeto gráfico em função <strong>do</strong><br />

uso <strong>do</strong> espaço físico <strong>da</strong> página. Um exemplo <strong>da</strong> interferência<br />

nesse aspecto está nas bíblias poliglotas, <strong>como</strong> será visto<br />

mais adiante, que em função <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de compa-<br />

22 Mesmo o Corão, <strong>livro</strong> sagra<strong>do</strong> <strong>do</strong> Islã, que preserva uma<br />

única tradução canônica e sustenta sua <strong>do</strong>utrina na leitura original<br />

em árabe, não esteve totalmente livre de reinterpretações conseqüentes<br />

<strong>da</strong> renovação <strong>da</strong> língua escrita. (ROGERSON, 2003,<br />

p.202.)<br />

23 Dogma cristão que determina que em nenhuma parte <strong>da</strong><br />

escritura podem ser encontra<strong>do</strong>s erros de qualquer natureza: “O<br />

parâmetro para interpretação <strong>da</strong> Escritura é a Escritura somente”.<br />

(Infallibilis Scripturam interpretandi regula est Scriptura ipsa).<br />

(WESTMINSTER..., 2004, p.497. tradução nossa)

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