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2 A história da Bíblia como história do livro - Maxwell - PUC-Rio

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2. A história <strong>da</strong> Bíblia <strong>como</strong> história <strong>do</strong> <strong>livro</strong> 48<br />

Outro fator, além <strong>da</strong>s letras, que dificultava a leitura<br />

<strong>do</strong>s primeiros exemplares bíblicos era a forma de escrita. As<br />

palavras eram grafa<strong>da</strong>s em seqüências ininterruptas, sem<br />

espaços entre as mesmas, no estilo chama<strong>do</strong> de scriptio<br />

continua (Figura 15). Mais <strong>do</strong> que um mo<strong>do</strong> peculiar (em<br />

relação à escrita atual) de se escrever, esse obrigava o leitor<br />

a pronunciar verbalmente aquilo que estava len<strong>do</strong>, uma vez<br />

que o senti<strong>do</strong> <strong>da</strong>s palavras só viria após serem ouvi<strong>da</strong>s. Além<br />

de provocar confusão quanto às interpretações, essa<br />

leitura auxiliava a Igreja no controle <strong>do</strong> que estava sen<strong>do</strong><br />

escrito, visto que li<strong>da</strong> em voz alta não <strong>da</strong>va àquele que escrevia<br />

a liber<strong>da</strong>de de alterar os textos sem o risco de uma<br />

autori<strong>da</strong>de eclesiástica censurá-lo.<br />

Os espaços entre as palavras foram introduzi<strong>do</strong>s no século<br />

VIII, na época de Be<strong>da</strong>, o Venerável, <strong>como</strong> recurso didático.<br />

[...] Como efeito colateral, houve uma mu<strong>da</strong>nça na prática<br />

<strong>da</strong> cópia <strong>do</strong>s manuscritos. Até então, o original tinha de ser<br />

dita<strong>do</strong> por um monge a vários copistas ou ca<strong>da</strong> copista tinha<br />

de ler em voz alta quantas palavras pudessem ser capta<strong>da</strong>s<br />

pela memória de seu auditório e, em segui<strong>da</strong>, anotá-las enquanto<br />

“ditava para si mesmo”. (ILLICH, 1995, p.44)<br />

Outros tipos de divisões textuais que facilitava a leitura<br />

<strong>como</strong> as divisões em parágrafos já aconteciam desde a escrita<br />

em papiros, mas nestes, ao invés de haver um espaço<br />

em branco entre os mesmos, optava-se pelo uso de um traço<br />

longo (paragaphos) no começo <strong>do</strong> novo parágrafo (DI-<br />

RINGER, 1982).<br />

Outros instrumentos <strong>como</strong> pontuações, hifenizações,<br />

divisões em capítulos e versos foram algumas <strong>da</strong>s inovações<br />

que se seguiram a essa nova forma de escrita. Estes<br />

não só facilitaram a compreensão <strong>do</strong> texto <strong>como</strong> trouxeram<br />

ao códice um perfil de leitura hipertextual, que até então estava<br />

limita<strong>do</strong> à possibili<strong>da</strong>de de leitura intercala<strong>da</strong> <strong>da</strong>s páginas.<br />

Illich (DIRINGER, 1982) destaca <strong>como</strong> esses fatores,<br />

além de proporcionar esse tipo de leitura, passaram a <strong>da</strong>r<br />

forma “a uma idéia substancialmente diferente: a de um texto<br />

que se distingue <strong>do</strong> <strong>livro</strong> e de suas leituras”.<br />

Esses instrumentos, portanto, afastaram ca<strong>da</strong> vez<br />

mais a Bíblia de sua tradição oral, uma vez que a prática<br />

her<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>do</strong> ju<strong>da</strong>ísmo – <strong>da</strong> leitura <strong>do</strong> texto sempre acompanha<strong>da</strong><br />

de sua vocalização nos templos – não mais se justificava<br />

a não ser pelos interesses que ela aju<strong>da</strong>va a sustentar.<br />

Além disso, esse afastamento <strong>do</strong> texto <strong>da</strong>va ao leitor maior<br />

autonomia, levan<strong>do</strong>-o a “interpretar” o texto por si mesmo,<br />

individualmente. Certamente os instrumentos foram cruciais<br />

para o desenvolvimento <strong>do</strong> uso acadêmico <strong>como</strong> será visto<br />

mais adiante.

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