2 A história da BÃblia como história do livro - Maxwell - PUC-Rio
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2. A história <strong>da</strong> Bíblia <strong>como</strong> história <strong>do</strong> <strong>livro</strong> 41<br />
O controle eclesiástico na produção <strong>do</strong> <strong>livro</strong> sagra<strong>do</strong><br />
trouxe, entretanto, mais <strong>do</strong> que limitações ao acesso popular.<br />
O interesse em sustentar suas <strong>do</strong>utrinas e <strong>do</strong>gmas através<br />
<strong>da</strong>s escrituras deu origem a regras que determinavam a<br />
maneira <strong>como</strong> a Bíblia deveria ser li<strong>da</strong> e interpreta<strong>da</strong>. Assim,<br />
uma leitura linear e abrangente de suas páginas nunca foi<br />
prática comum entre os fiéis que buscavam ali algum sustento<br />
espiritual.<br />
Além de seu uso <strong>como</strong> guia espiritual e fonte de narrativas<br />
poéticas, a Bíblia também foi submeti<strong>da</strong> ao uso acadêmico<br />
e jurídico. Por um la<strong>do</strong>, nos <strong>do</strong>is primeiros tipos de<br />
uso, que constituíam a liturgia <strong>da</strong> Igreja, a Bíblia chegou a<br />
ser fisicamente subtraí<strong>da</strong> <strong>da</strong>s celebrações, nas quais apenas<br />
recitações e cânticos esparsos <strong>da</strong>vam ao fiel uma idéia<br />
<strong>do</strong> que havia no misterioso <strong>livro</strong> de Deus. Não eram raras as<br />
vezes em que o próprio ritual e a arquitetura <strong>do</strong>s templos<br />
tinham a pretensão de substituir a necessi<strong>da</strong>de de se ter as<br />
Escrituras ao alcance <strong>do</strong> povo leigo. Esse foi, por exemplo,<br />
o papel representa<strong>do</strong> pelos belos vitrais <strong>da</strong>s paróquias e<br />
catedrais que ilustravam as histórias muitas vezes canta<strong>da</strong>s<br />
em latim pelos padres durante as missas. (VAN DIJK, 1969)<br />
Por outro la<strong>do</strong>, a Bíblia foi o único <strong>livro</strong> ao qual se refeririam<br />
to<strong>da</strong> e qualquer prática <strong>do</strong>utrinária, científica e jurídica<br />
durante séculos (SMALLEY, 1969). Assim, a necessi<strong>da</strong>de<br />
de se interpretar “corretamente” (na ver<strong>da</strong>de, de acor<strong>do</strong> com<br />
os interesses correntes) os textos sagra<strong>do</strong>s impulsionou a<br />
criação mecanismos de acesso e manuseio <strong>da</strong>s Escrituras<br />
que seriam um avanço na possibili<strong>da</strong>de de leitura hipertextual<br />
<strong>da</strong> Bíblia.<br />
Traçar com fideli<strong>da</strong>de to<strong>do</strong>s os passos pelos quais<br />
passou a Bíblia Sagra<strong>da</strong>, desde o começo <strong>da</strong> Era Cristã<br />
até os dias de hoje, é uma tarefa tão pretensiosa quanto<br />
rica, ain<strong>da</strong> que bastante tenta<strong>do</strong>ra. O desenvolvimento de<br />
novas formas de escrita, a confecção de iluminuras, ilustrações,<br />
encadernações, centenas de traduções, seriam alguns<br />
<strong>do</strong>s diversos aspectos <strong>do</strong>s quais a Bíblia teria sempre<br />
algum representante digno de consideração. Mas ain<strong>da</strong><br />
que houvesse acesso a to<strong>do</strong> o material disponível para essa<br />
empreita<strong>da</strong>, ela certamente desviaria <strong>do</strong> foco principal<br />
desta pesquisa.<br />
Com o objetivo de demonstrar os aspectos de hipertextuali<strong>da</strong>de<br />
que permeiam suas páginas e as suas relações<br />
históricas no desenvolvimento <strong>do</strong> próprio objeto <strong>livro</strong>, apresentam-se<br />
adiante os perío<strong>do</strong>s entre a oficialização <strong>do</strong> Cristianismo<br />
até os dias que antecederam sua passagem ao<br />
ambiente digital. Essa história é apresenta<strong>da</strong>, no entanto,<br />
menos numa perspectiva diacrônica <strong>da</strong>s transformações,<br />
mas <strong>como</strong> essas se estabeleceram em função <strong>da</strong> influência<br />
eclesiástica sobre a sua produção e o uso acadêmico.