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2 A história da Bíblia como história do livro - Maxwell - PUC-Rio

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2. A história <strong>da</strong> Bíblia <strong>como</strong> história <strong>do</strong> <strong>livro</strong> 38<br />

bos os la<strong>do</strong>s é um fator que deve ser realmente considera<strong>do</strong>.<br />

De fato, o advento <strong>do</strong> pergaminho é deve<strong>do</strong>r dessa prática,<br />

uma vez que otimiza essa forma de escrita, visto a dificul<strong>da</strong>de<br />

trazi<strong>da</strong> pelo papiro em ter um <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s usa<strong>do</strong> <strong>como</strong><br />

suporte de escrita, em função <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> <strong>como</strong> era fabrica<strong>do</strong><br />

que deixava nesse as tramas <strong>do</strong> vegetal em senti<strong>do</strong><br />

transversal ao <strong>do</strong> movimento <strong>da</strong> escrita. A descoberta no<br />

Egito de 99 códices em papiro opistógrafos com textos cristãos,<br />

que correspondem ao perío<strong>do</strong> inicial <strong>da</strong> nova religião,<br />

reforça a idéia <strong>da</strong> economia, ain<strong>da</strong> que outros argumentos<br />

também se sustentem sob esses fatos. Diringer (1953) argumenta<br />

que o uso em si, <strong>como</strong> objeto referencial, é um fator<br />

determinante nesse tipo de escrita, que permite melhor<br />

navegação entre as páginas.<br />

Um argumento a favor <strong>da</strong> economia que se desfaz é<br />

de que os primeiros códices eram to<strong>do</strong>s escritos com letras<br />

e espacejamentos significantes, o que, para Wiseman<br />

(1970, p.58, tradução nossa) “na<strong>da</strong> sugere que o primeiro<br />

objetivo <strong>do</strong> escriba era obter o máximo de texto no mínimo<br />

de espaço”. Diringer (1953, p.163, tradução nossa) chega a<br />

apontar que:<br />

Como um resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça gradual, <strong>do</strong>s rolos aos códices,<br />

as colunas estreitas de linhas curtas foram estendi<strong>da</strong>s,<br />

e enquanto existem códices de papiros que possuem<br />

duas colunas numa página [...], a grande maioria <strong>do</strong>s códices<br />

de papiros preserva<strong>do</strong>s tem somente uma coluna.<br />

Do mesmo mo<strong>do</strong>, a idéia <strong>da</strong> atrativi<strong>da</strong>de econômica<br />

trazi<strong>da</strong> pela compactação <strong>do</strong>s <strong>livro</strong>s no novo formato também<br />

não se sustenta pelo fato de muitos <strong>do</strong>s primeiros <strong>livro</strong>s<br />

virem separa<strong>do</strong>s, mesmo os que já eram ti<strong>do</strong>s <strong>como</strong> sagra<strong>do</strong>s<br />

antes <strong>da</strong> canonização, <strong>como</strong> no caso <strong>do</strong>s quatro evangelhos.<br />

Por último, o transporte mais fácil, <strong>do</strong> qual o códice<br />

se destaca, não responde o uso que os hebreus durante séculos<br />

fizeram e continuaram fazen<strong>do</strong>.<br />

Por esses argumentos fica evidente a importância de<br />

fatores simbólicos na escolha <strong>do</strong> códice pelos cristãos, diferencian<strong>do</strong>-os<br />

<strong>do</strong>s rolos judeus. Sua prevalência, segun<strong>do</strong><br />

Wiseman, se deve mesmo à forte influência dessa religião<br />

sobre esse formato.<br />

Um fato curioso, entretanto, merece destaque: a palavra<br />

grega à qual impusemos o significa<strong>do</strong> que nomeia o Livro<br />

sagra<strong>do</strong> cristão era, na ver<strong>da</strong>de, usa<strong>da</strong> pelos primeiros<br />

cristãos <strong>como</strong> relativa aos “rolos de papiro” 33 .<br />

Outro fator, não liga<strong>do</strong> ao suporte em si mas que comprova<br />

o definitivo rompimento <strong>da</strong> Bíblia cristã em relação ao<br />

seu par ju<strong>da</strong>ico, é referente à transcrição <strong>do</strong> nome sagra<strong>do</strong><br />

de Deus <strong>do</strong> hebraico para o grego. Os escritos judeus quan-<br />

33 Outra palavra grega, bíblos, de býblos (búblos), significan<strong>do</strong><br />

o “miolo <strong>do</strong> galho de papiro”, originou a palavra grega biblíon,<br />

que se tornou o termo comum para “rolos de papiro”; seu plural<br />

era bíblia [...] e tá biblía, ”os rolos” ou “os <strong>livro</strong>s” vieram a indicar<br />

“os Livros”, por excelência, isto é, as Escrituras Sagra<strong>da</strong>s. (DI-<br />

RINGER, 1953, p.125, tradução nossa)

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