11.07.2015 Views

Os Bruzundangas, de Lima Barreto Texto ... - Universia Brasil

Os Bruzundangas, de Lima Barreto Texto ... - Universia Brasil

Os Bruzundangas, de Lima Barreto Texto ... - Universia Brasil

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

traziam. Via perfeitamente tais armas e <strong>de</strong>scobri que mesmo para isso éque eles tal cousa faziam.Fascinaram-me e não pu<strong>de</strong> <strong>de</strong>sviar o olhar. Foi a minha <strong>de</strong>sgraça,Deus dos Céus! Um <strong>de</strong>les ergueu o chapéu ao alto da cabeça e fez paramim, encarando-me com horrorosa catadura:-- Que está olhando?-- Nada, não senhor; respondi eu.-- Vá... Você está aí com parte <strong>de</strong> siri sem unha... Arreda!E, sem saber como, vi-me envolvido em um formidável rolo e leveiuma porção <strong>de</strong> pauladas e quatro facadas.Mandaram-me para a Santa Casa, on<strong>de</strong> meu amigo Hanthônio me foivisitar:-- Que foi isto? perguntou-me.-- Direitos políticos.Depois <strong>de</strong> restabelecido, vim a saber que o Kasthriotoh não tivera umúnico voto e arranjara um emprego mo<strong>de</strong>sto que lhe dava para fazê-loviver e mais a família com café e pão sem manteiga. A ata (eu a pu<strong>de</strong> vermais tar<strong>de</strong>) estava um primor <strong>de</strong> autenticida<strong>de</strong>, pois tinha sido falsificadacom toda a perfeição por um espanhol que vivia do ofício eleitoral <strong>de</strong>falsificar atas <strong>de</strong> eleições. Eis como foi a minha estréia eleitoral."<strong>Os</strong> meus leitores po<strong>de</strong>rão verificar que, no ponto <strong>de</strong> vista eleitoral, aBruzundanga nada tem que invejar da nossa cara pátria.XVUma consulta médicaNA Bruzundanga, quando lá estive, a fama do doutor Adhil Ben Thaftnão cessava <strong>de</strong> crescer.Não havia dia em que os jornais não <strong>de</strong>ssem notícia <strong>de</strong> mais umaproeza por ele feita, <strong>de</strong>ntro ou fora da medicina. Em tal dia, um jornaldizia: "O doutor Adhil, esse maravilhoso clínico e excelente goal-keeperacaba <strong>de</strong> receber um honroso convite do Libertad Football Club, <strong>de</strong> SãoJosé <strong>de</strong> Costa Rica, para tomar parte na sua partida anual com o AyrocaFootball Club, <strong>de</strong> Guatemala. Todo o mundo sabe a importância que temesse <strong>de</strong>safio internacional e o convite ao nosso patrício representa umaalta homenagem à ciência da nossa terra e ao football nacional. O celebradomestre, porém, não pô<strong>de</strong> aceitar o convite, pois a sua ativida<strong>de</strong>mental anda agora norteada para a <strong>de</strong>scoberta da composição da PomadaVienense, específico muito conhecido para a cura dos calos".O extraordinário clínico vivia assim mais citado nos jornais que opróprio Mandachuva e o seu nome era encontrado em todas as secçõesdos quotidianos. A secção elegante do O Conservador, logo ao dia seguinteda notícia acima, editada nos sueltos do Jornal ocupou-se do famosomédico da seguinte maneira:"O doutor Adhil apareceu ontem no Lírico inteiramente fashionable."O milagroso clínico saltou do seu coupé completamente nu. Não se<strong>de</strong>screve o interesse das senhoras e o maior ainda <strong>de</strong> muitos homens. Eufiquei babado <strong>de</strong> gozo."A fama do doutor corria assim <strong>de</strong>smedidamente. Deixou em instantes<strong>de</strong> ser médico do bairro ou da esquina, como dizia Mlle. Lespinasse,para ser o médico da capital do país, o lente sábio, o literato ilegível, àJoão <strong>de</strong> Barros, o herói do football, o obrigado papa-banquetes diários; oCícero das enfermarias, o mágico dos salões, o poeta dos acrósticos, odançador dos bailes do tom, etc., etc...O seu consultório vivia tão cheio que nem a avenida em dia <strong>de</strong> carnaval;e havia quem dissesse que muitos rapazes preferiam-no para as proezasdaquelas que os nossos cinematógrafos são o teatro habitual.Era procurado sobretudo pelas senhoras ricas, remediadas e pobres, etodas elas tinham garbo, orgulho, satisfação, emoção na voz quando diziam:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!