<strong>OS</strong> <strong>PENSADORES</strong>idéia <strong>de</strong> uma outra coisa, mas a adia, para po<strong>de</strong>r viver tranqüilo,e por isso prefere <strong>de</strong>ixar morrer uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>algo melhor. A repressão efetua-se em relação a esta possibilida<strong>de</strong>presente; mais concretamente, constata-se uma regressãoquanto à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma outra música, opostaa essa. Regressivo é, contudo, também o papel que <strong>de</strong>sempenhaa atual música <strong>de</strong> massas na psicologia das suas vítimas.Esses ouvintes não somente são <strong>de</strong>sviados do que émais importante, mas confirmados na sua necessida<strong>de</strong> neurótica,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> como as suas capacida<strong>de</strong>s musicaisse comportam em relação à cultura especificamentemusical <strong>de</strong> etapas sociais anteriores. A sua a<strong>de</strong>são entusiastaàs músicas <strong>de</strong> sucesso e aos bens da cultura <strong>de</strong>pravados enquadra-seno mesmo quadro <strong>de</strong> sintomas dos rostos, <strong>de</strong> quejá não se sabe se foi o filme que os tirou da realida<strong>de</strong>, ou arealida<strong>de</strong> do filme; rostos que abrem uma boca monstruosamentegran<strong>de</strong> com <strong>de</strong>ntes brilhantes, encimada por doisolhos tristes, cansados e distraídos. Juntamente com o esportee o cinema, a música <strong>de</strong> massas e o novo tipo <strong>de</strong> audiçãocontribuem para tornar impossível o abandono da situaçãoinfantil geral. A enfermida<strong>de</strong> tem significado conservador.Os modos <strong>de</strong> ouvir típicos das massas atuais não são, absolutamente,novos, e po<strong>de</strong>-se conce<strong>de</strong>r pacificamente que aaceitação da canção <strong>de</strong> sucesso Puppchen, famosa antes da IIGuerra, não foi diferente da que se dispensa a uma cançãoinfantil sintética <strong>de</strong> jazz. Todavia, é digno <strong>de</strong> nota o contextono qual aparece uma tal canção infantil: a ridicularizaçãomasoquista do próprio <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> recuperar a felicida<strong>de</strong> perdida,ou o comprometimento da exigência da própria felicida<strong>de</strong>mediante a retroversão a uma infância cuja inacessibilida<strong>de</strong>dá testemunho da inacessibilida<strong>de</strong> da alegria — estaé a conquista da nova audição, e nada do que atinge o ouvidofoge <strong>de</strong>ste esquema <strong>de</strong> apropriação. Sem dúvida, subsistemdiferenças sociais, porém o novo tipo <strong>de</strong> audição vai tão longequanto a estupi<strong>de</strong>z dos oprimidos atinge os próprios opressores;e diante da prepotência da roda que se impulsiona a— 90 —
ADORNOsi mesma se tornam suas vítimas aqueles que acreditam po<strong>de</strong>r<strong>de</strong>terminar sua trajetória.A audição regressiva relaciona-se manifestamente coma produção, através do mecanismo <strong>de</strong> difusão, o que aconteceprecisamente mediante a propaganda. A audição regressivaocorre tão logo a propaganda faça ouvir a sua voz <strong>de</strong> terror,ou seja: no próprio momento em que, ante o po<strong>de</strong>rio damercadoria anunciada, já não resta à consciência do compradore do ouvinte outra alternativa senão capitular e comprara sua paz <strong>de</strong> espírito, fazendo com que a mercadoriaoferecida se torne literalmente sua proprieda<strong>de</strong>. Na audiçãoregressiva o anúncio publicitário assume caráter <strong>de</strong> coação.Uma fábrica <strong>de</strong> cerveja inglesa utilizou durante algum tempo,para fins <strong>de</strong> propaganda, um cartaz que representava uma<strong>de</strong>ssas pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tijolos brancos que se encontram com tantafreqüência nos bairros pobres <strong>de</strong> Londres e nas cida<strong>de</strong>s industriaisdo norte do país. Colocado com habilida<strong>de</strong>, o cartazdificilmente se distinguia <strong>de</strong> um muro real. No cartaz se via,em cor branca, a imitação perfeita <strong>de</strong> uma caligrafia <strong>de</strong>sajeitada,com as palavras: What we want is Watney's (O quequeremos é cerveja Watney). A marca da cerveja era apregoadacomo slogan político. Tal cartaz não somente permiteenten<strong>de</strong>r a natureza da propaganda mo<strong>de</strong>rna, que transmiteàs pessoas os seus ditames como se fossem mercadorias, mastambém, no caso da firma inglesa, a mercadoria se mascarasob o slogan. O tipo <strong>de</strong> comportamento que o cartaz sugeria,isto é, que as massas fizessem <strong>de</strong> um produto que lhe erarecomendado o objeto <strong>de</strong> sua própria ação, se encontra, narealida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> novo, como esquema da aceitação da músicaligeira. Os ouvintes e os consumidores em geral precisam eexigem exatamente aquilo que lhes é imposto insistentemente.O sentimento <strong>de</strong> impotência, que furtivamente toma conta<strong>de</strong>les em face da produção monopolista, domina-os enquantose i<strong>de</strong>ntificam com o produto do qual não conseguem subtrair-se.Assim, eliminam a estranheza das produções musicaisque lhes são ao mesmo tempo longínquas e ameaçado-— 91 —
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