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OS PENSADORES - MOM. Morar de Outras Maneiras.

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ADORNOmais obscura da técnica do "arranjo" resi<strong>de</strong> na tendência ouinstinto <strong>de</strong> não <strong>de</strong>ixar nada tal como é, e manipular tudocom que topar pela frente. Tal tendência torna-se tanto maisforte quanto maior é a estabilida<strong>de</strong> do existente. A ditadurasocial total confirma o seu po<strong>de</strong>r e a sua glória pelo seloque é impresso em tudo quanto cai na engrenagem <strong>de</strong> seumaquinismo. Contudo, esta afirmação é ao mesmo tempo<strong>de</strong>strutiva. Os ouvintes <strong>de</strong> hoje teriam o máximo prazer em<strong>de</strong>struir o que os mantém em atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> respeito cego, e suapseudo-ativida<strong>de</strong> já se encontra prefigurada e recomendadado lado da produção.A prática dos arranjos provém da música <strong>de</strong> salão. É aprática do entretenimento elevado, que toma emprestada aexigência <strong>de</strong> nível e qualida<strong>de</strong> dos bens da cultura, porémtransforma-os em objetos <strong>de</strong> entretenimento do tipo das músicas<strong>de</strong> sucesso. Tal entretenimento, que em outras épocasse limitava a acompanhar o murmúrio ou tartamu<strong>de</strong>io davoz humana, difun<strong>de</strong>-se hoje em todo o campo da vida musical,que ninguém mais leva a sério, e a verda<strong>de</strong>ira música<strong>de</strong>saparece sempre mais, não obstante todo o falatório emtorno da cultura. Na prática há apenas duas alternativas aescolher: ou entrar docilmente na engrenagem do maquinismo— mesmo que apenas diante do alto-falante no sábadoà tar<strong>de</strong> —, ou aceitar essa pornografia musical que é fabricadapara satisfazer às supostas ou reais necessida<strong>de</strong>s das massas.A falta <strong>de</strong> compromisso e o caráter ilusório dos objetos doentretenimento elevado ditam a distração dos ouvintes. Paracúmulo dos males, tem-se ainda a ousadia <strong>de</strong> manter a consciênciatranqüila, alegando que se oferece aos ouvintes umamercadoria <strong>de</strong> primeira qualida<strong>de</strong>; a quem objetar que setrata <strong>de</strong> mercadoria embolorada, replica-se em seguida queé exatamente isto que os ouvintes <strong>de</strong>sejam. Tal réplica po<strong>de</strong>riaser refutada não por diagnóstico realista do estado dosouvintes, mas somente analisando o processo em sua totalida<strong>de</strong>,que consiste em diabolicamente levar os consumidoresa concordarem com os critérios ditados pelos produtores.— 85 —

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