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OS PENSADORES - MOM. Morar de Outras Maneiras.

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<strong>OS</strong> <strong>PENSADORES</strong>donas, no mínimo, alto virtuosismo técnico. Agora exalta-seo material em si mesmo, <strong>de</strong>stituído <strong>de</strong> qualquer função. Einútil perguntar pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exposição puramentemusical. Nem sequer se espera que o cantor domine mecanicamenteos recursos técnicos. Requer-se tão-somente quea sua voz seja particularmente potente ou aguda para legitimaro renome <strong>de</strong> seu dono. Quem, não obstante essas convicções,quiser se atrever a pôr em dúvida — mesmo quenuma conversação privada — a importância <strong>de</strong>cisiva da voze externe a opinião <strong>de</strong> que com uma voz mo<strong>de</strong>sta se po<strong>de</strong>produzir música tão boa quanto a que se po<strong>de</strong> tocar em umpiano <strong>de</strong> sonorida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>sta, <strong>de</strong>parará <strong>de</strong> imediato comuma situação <strong>de</strong> inimiza<strong>de</strong> e hostilida<strong>de</strong> que afetivamentereveste-se <strong>de</strong> muito maior importância que o próprio motivoda discussão. As vozes dos cantores constituem bens sagrados<strong>de</strong> valor igual a uma marca <strong>de</strong> fabricação nacional. Comose as vozes quisessem vingar-se disto, já começam a per<strong>de</strong>ro encantamento dos sentidos em cujo nome são tratadas. Namaioria dos casos, soam como imitações dos arrivistas, mesmoquando elas mesmas são arrivistas. Todo este processoculmina abertamente no absurdo do culto que se presta aosgran<strong>de</strong>s mestres do violino. Cai-se prontamente em estado<strong>de</strong> êxtase diante do belíssimo som convenientemente anunciadopela propaganda <strong>de</strong> um Stradivarius ou <strong>de</strong> um Amati;no entanto, só po<strong>de</strong>m ser distinguidos <strong>de</strong> um violino mo<strong>de</strong>rnorazoavelmente bom por um ouvido especializado, esquecendo-se<strong>de</strong> prestar atenção à composição ou à execução,da qual sempre se po<strong>de</strong>ria ainda tirar algo <strong>de</strong> valor. Quantomais progri<strong>de</strong> a mo<strong>de</strong>rna técnica <strong>de</strong> fabricação <strong>de</strong> violinos,tanto maior é o valor que se atribui aos instrumentos antigos.De vez que os atrativos dos sentidos, da voz e do instrumentosão fetichizados e <strong>de</strong>stituídos <strong>de</strong> suas funções únicas quelhes po<strong>de</strong>riam conferir sentido, em idêntico isolamento lhesrespon<strong>de</strong>m — igualmente distanciadas e alheias ao significadodo conjunto e igualmente <strong>de</strong>terminadas pelas leis dosucesso — as emoções cegas e irracionais, como as relações— 76 —

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