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OS PENSADORES - MOM. Morar de Outras Maneiras.

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ADORNOHuxley levantou em um <strong>de</strong> seus ensaios a seguinte pergunta:quem ainda se diverte realmente hoje num lugar <strong>de</strong> diversão?Com o mesmo direito po<strong>de</strong>r-se-ia perguntar: para quem amúsica <strong>de</strong> entretenimento serve ainda como entretenimento?Ao invés <strong>de</strong> entreter, parece que tal música contribui aindamais para o emu<strong>de</strong>cimento dos homens, para a morte da linguagemcomo expressão, para a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação.A música <strong>de</strong> entretenimento preenche os vazios do silêncioque se instalam entre as pessoas <strong>de</strong>formadas pelo medo, pelocansaço e pela docilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escravos sem exigências. Assumeela em toda parte, e sem que se perceba, o trágico papel quelhe competia ao tempo e na situação específica do cinema mudo.A música <strong>de</strong> entretenimento serve ainda — e apenas — comofundo. Se ninguém mais é capaz <strong>de</strong> falar realmente, é óbviotambém que já ninguém é capaz <strong>de</strong> ouvir. Um especialistaamericano em propaganda radiofônica — que utiliza com predileçãoespecial a música — manifestou ceticismo com respeitoao valor <strong>de</strong> tais anúncios, alegando que os ouvintes apren<strong>de</strong>rama não dar atenção ao que ouvem, mesmo durante o próprioato da audição. Tal observação é contestável quanto ao valorpublicitário da música. Mas é essencialmente verda<strong>de</strong>ira quandose trata da compreensão da própria música.Nas queixas usuais acerca da <strong>de</strong>cadência do gosto, hácertos motivos que se repetem constantemente. Tais motivosestão presentes nas consi<strong>de</strong>rações rançosas e sentimentais <strong>de</strong>dicadasà atual massificação da música, consi<strong>de</strong>rando-a uma"<strong>de</strong>generação". O mais pertinaz é o do encantamento dossentidos, que no enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> muitos amolece e torna a pessoaincapaz <strong>de</strong> qualquer atitu<strong>de</strong> heróica. Tal recriminação encontra-sejá no terceiro livro da República <strong>de</strong> Platão, no qualse proíbem tanto os modos musicais "queixosos" como os"moles", que no dizer do sábio grego "se recomendam embanquetes e orgias"; 1 aliás, até hoje não se sabe com clareza1 Staat, Uebertragung von Preisendanz (A República, tradução <strong>de</strong> Preisendanz), Jena,1920, p. 398.— 67 —

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