<strong>OS</strong> <strong>PENSADORES</strong>ciência, à cega tendência econômica. Por essa recordação danatureza no sujeito, que encerra, ao perfazer-se, a verda<strong>de</strong>incompreendida <strong>de</strong> toda a cultura, o iluminismo se opõe aqualquer dominação e o apelo para que ele seja sustado ressoou,já nos tempos <strong>de</strong> Vanini, menos por angústia dianteda ciência exata, que pelo ódio contra o pensar <strong>de</strong>sregrado,o qual, na medida em que se confessa diante <strong>de</strong> si mesmocomo um estremecimento da própria natureza, liberta-se doseu encantamento. Os sacerdotes sempre vingavam mana noiluminista que, ao atemorizar-se perante o terror que levavao seu nome, apaziguava, e os áugures do iluminismo uniamseaos sacerdotes na hybris. Enquanto burguês, o iluminismose per<strong>de</strong>u no seu momento positivista, muito antes <strong>de</strong> Turgote d'Alembert. Ele nunca foi imune à tentação <strong>de</strong> confundira liberda<strong>de</strong> com a engrenagem da autoconservação. A suspensãodo conceito, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> ter sido feita emnome do progresso ou da cultura, os quais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há muito,uniram-se num conluio secreto contra a verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixou campolivre para a mentira. Num mundo que se importava apenasem verificar os enunciados <strong>de</strong> relatórios e que guardavao pensamento, <strong>de</strong>gradado a contribuição <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s pensadores,como uma espécie <strong>de</strong> slogan caduco, nesse mundo, amentira não podia mais distinguir-se da verda<strong>de</strong> neutralizadaem bem cultural.Porém, o reconhecimento da dominação até mesmo noíntimo do próprio pensamento, enquanto natureza não apaziguada,po<strong>de</strong> afrouxar aquela necessida<strong>de</strong>, cuja eternida<strong>de</strong>foi precipitadamente ratificada pelo próprio socialismo, comoconcessão ao common sense reacionário. Ao elevar a necessida<strong>de</strong>para todo sempre à condição <strong>de</strong> base e ao <strong>de</strong>pravar oespírito, em bom estilo i<strong>de</strong>alista, fazendo <strong>de</strong>le o mais altoponto, o socialismo se agarrou, num espasmo ansioso, à herançada filosofia burguesa. Assim, a relação da necessida<strong>de</strong>ao reino da liberda<strong>de</strong> ficou sendo puramente quantitativa,mecânica, e a natureza, posta como algo totalmente alheio,tornou-se totalitária, como na primeira mitologia, e absorveu— 60 —
ADORNOa liberda<strong>de</strong> junto com o socialismo. Com a renúncia ao pensar,que na sua forma coisificada, enquanto matemática, máquina,organização, vinga-se no homem que o está esquecendo,o iluminismo renunciou a sua própria realização. Disciplinandotudo o que é individual, o iluminismo <strong>de</strong>ixou aotodo não conceitualizado a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> abater-se, enquantodominação sobre as coisas, por cima do ser e do ser-conscientedos homens. Mas a práxis revolucionária <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> daintransigência da teoria em face da inconsciência com a quala socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixa que o pensar se endureça. A concretizaçãonão é posta em causa pelos seus pressupostos materiais, pelatécnica, como tal, <strong>de</strong>ixada à solta. Isso é o que dizem ossociólogos que sonham, por sua vez, com um antídoto, mesmo<strong>de</strong> cunho coletivista, para se tornarem seus donos. 1 Aculpa está no obcecante contexto social. O mítico respeito daciência dos povos pelo dado, que entretanto é sempre produzidopor eles, converte-se finalmente, por sua vez, numfato positivo, na torre-<strong>de</strong>-guarda diante da qual até mesmoa fantasia revolucionária se envergonha <strong>de</strong> si, como um utopismo,e <strong>de</strong>genera em dócil confiança na tendência objetivada história. Como órgão <strong>de</strong> uma tal adaptação, como meraconstrução <strong>de</strong> meios, o iluminismo é tão <strong>de</strong>strutivo como oproclamam seus inimigos românticos. Ele só recairá em siquando <strong>de</strong>sfizer o último acordo com esses inimigos e ousarabandonar o falso absoluto, o princípio da dominação cega.O espírito <strong>de</strong>ssa teoria intransigente po<strong>de</strong>ria inverter, paraseus próprios fins, o espírito <strong>de</strong>sse progresso impiedoso. Bacon,o arauto <strong>de</strong>sse último, sonhava com as muitas coisas"que os reis, com todos os seus tesouros, não po<strong>de</strong>m comprar."The supreme question which confnmts our generation toàay — the question to which ali otherproblems are merely corollaries — is whether technóbgy can be brought un<strong>de</strong>r contrai... Nobodycan be sure of the formula by wich this end can be adntved... We must draw on ali the resourcesto which acess can be had..." (The Rockefeller Foundation, A Review for 1943. Nova York,1944, pp. 33-35. (N. do A.) ("A questão suprema com a qual nossa geração hoje se <strong>de</strong>para— questão da qual todas as outras são corolários — é a <strong>de</strong> saber se a tecnologia po<strong>de</strong> serposta sob controle... Ninguém po<strong>de</strong> ter segurança quanto à fórmula pela qual esse fimpo<strong>de</strong> ser alcançado... É preciso lançar mão <strong>de</strong> todos os recursos aos quais possamos teracesso..." (N. dos T.) ^— 61 —
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