<strong>OS</strong> <strong>PENSADORES</strong>cia ao servo que trabalha a coisa". 1 Ulisses se faz representarno trabalho. Assim como não po<strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r à tentação <strong>de</strong> renunciarao si-mesmo, enquanto proprietário ele acaba pornão mais participar do trabalho, <strong>de</strong>ixando finalmente até <strong>de</strong>dirigi-lo, ao passo que os companheiros, apesar <strong>de</strong> toda aproximida<strong>de</strong> às coisas, não po<strong>de</strong>m na verda<strong>de</strong> gozar do trabalho,pois este se faz sob coação, no <strong>de</strong>sespero, os sentidosobstruídos pela violência. O servo permanece subjugado <strong>de</strong>corpo e alma, o senhor regri<strong>de</strong>. Nenhuma dominação pô<strong>de</strong>até agora <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> pagar esse preço e o aspecto cíclico dahistória no seu progresso é explicado também por esse enfraquecimento,o equivalente do po<strong>de</strong>r. Enquanto suas habilida<strong>de</strong>se conhecimentos se diferenciam pela divisão dotrabalho, a humanida<strong>de</strong> é coagida a retroce<strong>de</strong>r a suas etapasantropologicamente mais primitivas, pois, com a existênciafacilitada pela técnica, a permanência da dominação condicionaa fixação dos instintos por uma opressão mais forte.A fantasia é atrofiada. A perdição não está em que os indivíduosnão correspondam à socieda<strong>de</strong> ou à sua produçãomaterial. On<strong>de</strong> quer que a evolução da máquina já se tenhatransformado em maquinaria <strong>de</strong> dominação, fazendo comque as tendências técnica e social, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre entremeadas,convirjam para um envolvimento total do homem, os quenão correspon<strong>de</strong>m não representam apenas a inverda<strong>de</strong>. Emoposição a isso, a adaptação ao po<strong>de</strong>r do progresso, ao progressodo po<strong>de</strong>r, envolve sempre <strong>de</strong> novo aquelas formaçõesregressivas que traduzem não o progresso falido, mas justamenteo progresso bem-sucedido do seu próprio oposto.A maldição do progresso irrefreável é a irrefreável regressão.Essa regressão não se restringe à experiência do mundosensível, ligada a uma proximida<strong>de</strong> em carne e osso, masafeta ao mesmo tempo o intelecto autocrático que se separada experiência sensível para subjugá-la. A uniformização da1 Phimommologie <strong>de</strong>s Geistes, op. cit., p. 146. (N. do A.)
ADORNOfunção intelectual, por força da qual se perfaz a dominaçãosobre os sentidos, a resignação do pensar à produção daunanimida<strong>de</strong>, significa um empobrecimento tanto do pensarcomo da experiência; a separação dos dois reinos importaem danos para ambos. Na restrição do pensar à organizaçãoe administração, praticada pelos que estão <strong>de</strong> cima, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> oastuto Ulisses até os ingênuos diretores gerais, está implícitaa estreiteza que acomete os gran<strong>de</strong>s, a partir do momentoem que não mais se trata <strong>de</strong> manipular os pequenos. O espíritose converte <strong>de</strong> fato naquele aparato <strong>de</strong> dominação e<strong>de</strong> autocontrole, a título do que sempre foi <strong>de</strong>sconhecidopela filosofia burguesa. Os ouvidos surdos que os dóceisproletários conservaram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mito não se constituíramem vantagem alguma, diante da imobilida<strong>de</strong> do mandante.Amadurecida até passar do ponto, a socieda<strong>de</strong> vive da imaturida<strong>de</strong>dos dominados. Quanto mais complicado e refinadoo aparato social, econômico e científico, a serviço do qual ocorpo fora <strong>de</strong>stinado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito, pelo sistema <strong>de</strong> produção,tanto mais pobres as vivências <strong>de</strong> que esse corpo é capaz.A eliminação das qualida<strong>de</strong>s, seu cálculo em termos <strong>de</strong> funções,transpõe-se da ciência, em virtu<strong>de</strong> dos modos <strong>de</strong> trabalhoracionalizados, para o mundo da experiência dos povose ten<strong>de</strong> a torná-lo novamente similar ao mundo dos anfíbios.Hoje, a regressão das massas consiste na incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ouvir o que nunca foi ouvido, <strong>de</strong> palpar com as própriasmãos o que nunca foi tocado, uma nova forma <strong>de</strong> ofuscamentoque supera qualquer ofuscamento mítico vencido.Através da mediação da socieda<strong>de</strong> total, que amarra todasas relações e impulsos, os homens são convertidos <strong>de</strong> novojustamente naquilo contra o que se voltara a lei do <strong>de</strong>senvolvimentoda socieda<strong>de</strong>, o princípio do si-mesmo; em simplesexemplares da espécie humana, semelhantes uns aosoutros, em virtu<strong>de</strong> do isolamento na coletivida<strong>de</strong> dirigidapela coação. Os renfraàores que não po<strong>de</strong>m falar entre si sãoatrelados, todos eles, âo mesmo ritmo, tal como o trabalhadormo<strong>de</strong>rno, na fábrica, no cinema e na sua comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>— 55 —
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