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OS PENSADORES - MOM. Morar de Outras Maneiras.

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ADORNOrefluiu da roca do presente e o futuro nublado carrega ohorizonte. O que Ulisses <strong>de</strong>ixou atrás <strong>de</strong> si entrou no mundodas sombras; o si-mesmo está ainda tão perto do mito doantetempo, <strong>de</strong> cujo seio se separou penosamente, que seupróprio passado vivido se converte para ele no antetempomítico. Pela or<strong>de</strong>m firme do tempo ele procura um paliativopara isso. O esquema tripartido <strong>de</strong>ve libertar o momentopresente do po<strong>de</strong>r do passado, expulsando este último paratrás do limite absoluto do irrestituível e pondo-o à disposiçãodo agora a título <strong>de</strong> saber praticável. O afã <strong>de</strong> salvar o passadoenquanto vivo, em vez <strong>de</strong> usá-lo como material do progresso,só é apaziguado na arte, à qual a própria históriapertence enquanto exposição da vida passada. Enquanto renunciaa valer como conhecimento, fechando-se assim paraa práxis, a arte é tolerada, assim como o prazer, pela práxissocial. Mas o canto das sereias ainda não foi privado da suaforça, ainda não foi reduzido a arte. Elas sabem <strong>de</strong> "tudoquanto se passa na terra fecunda",i sobretudo aquilo <strong>de</strong> que0 próprio Ulisses participou, "tudo quanto os argivos e troianossofreram na arrasada Tróia pela vonta<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>uses". 2Evocando diretamente o passado mais recente, elasameaçam, com a irresistível promessa <strong>de</strong> prazer percebidano seu canto, a or<strong>de</strong>m patriarcal que só <strong>de</strong>volve a vida <strong>de</strong>cada um contra sua plena medida <strong>de</strong> tempo. Quem vai atrásdas artimanhas das sereias cai na perdição, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que só apermanente presença <strong>de</strong> espírito arranca a existência da natureza.Se as sereias sabem <strong>de</strong> tudo o que se passou, elasexigem o futuro como preço disso e a promissão do felizretorno é o engano pelo qual o passado captura o saudoso.Ulisses foi prevenido por Circe, divinda<strong>de</strong> que transformaos homens em animais; ele lhe soube resistir e, em compensação,ela lhe <strong>de</strong>u %/força <strong>de</strong> resistir a outros po<strong>de</strong>res <strong>de</strong>dissolução. Mas a s«àução das sereias é assim mesmo forte1 Odisséia, XII. (N. do A.) Trad. Jaime Bruna, Cultrix, 1968. (N. do T.)2 Op. cit., XD. (N. do A.)

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