11.07.2015 Views

OS PENSADORES - MOM. Morar de Outras Maneiras.

OS PENSADORES - MOM. Morar de Outras Maneiras.

OS PENSADORES - MOM. Morar de Outras Maneiras.

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ADORNOgem mítica, bem como na clareza da fórmula científica, ératificada a eternida<strong>de</strong> do fatual e a mera existência é proclamadacomo sentido que o fatual obstrui. O mundo enquantogigantesco juízo analítico, o único que restou <strong>de</strong> todosos sonhos da ciência, tem o mesmo cunho do mito cósmico,que ligava a mudança da primavera e do outono ao rapto<strong>de</strong> Perséfone. A unicida<strong>de</strong> do acontecimento mítico, que <strong>de</strong>velegitimar o acontecimento fatual, é enganosa. Originariamente,o rapto da <strong>de</strong>usa era imediatamente i<strong>de</strong>ntificado à morteda natureza. Repetia-se a cada outono, e nem mesmo a repetiçãoera uma sucessão <strong>de</strong> acontecimentos separados, masera, cada vez, o mesmo. Com o endurecimento da consciênciado tempo, o acontecimento foi fixado no passado como único,e buscou-se aplacar ritualmente o tremor perante a morte,em cada novo ciclo das estações do ano, recorrendo-se aoque era uma vez, há muito tempo. Mas a separação é impotente.Em virtu<strong>de</strong> do posicionamento daquele passadocomo acontecendo uma só vez, o ciclo assume o caráter doinevitável e o tremor se irradia do antigo para o acontecerinteiro, enquanto mera repetição sua. A subsunção do fatual,quer à fabulosa pré-história, quer ao formalismo matemático,o relacionamento simbólico do presente, no rito, com o acontecimentomítico, ou, na ciência, com a categoria abstrata, fazcom que o novo apareça como o pre<strong>de</strong>terminado que, na verda<strong>de</strong>,é assim o antigo. O que é sem esperança não é a existência,mas o saber, que no símbolo afigurativo ou matemático se apropriada existência e a perpetua como um esquema.No mundo do iluminismo, a mitologia entrou na esferado profano. A existência radicalmente purificada dos <strong>de</strong>môniose <strong>de</strong> sua prole conceituai assume, na sua naturalida<strong>de</strong>límpida, o caráter luminoso que o antemundo atribuiu aos<strong>de</strong>mônios. Sob o/tíÇulp <strong>de</strong> fato bruto, a injustiça social daqual eles se originam é hoje sacralizada como uma injustiçaque se subtrai eternamente a investidas, assim como o curan<strong>de</strong>iroera sacrossanto, sob a proteção <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>uses. Adominação não é paga apenas com a alienação do homem— 45 —

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!