<strong>OS</strong> <strong>PENSADORES</strong>tituído por homens que cuidam dos bois, ovelhas e porcos,e por serviçais. À noite, tendo avistado do seu castelo o campoiluminado por mil fogos, po<strong>de</strong> adormecer tranqüilamente:ele sabe que seus bravos serviçais velam para manter a distânciaos animais selvagens e para afugentar os ladrões dosrecintos confiados à sua guarda". 1 A generalida<strong>de</strong> dos pensamentos,tal como a lógica discursiva a <strong>de</strong>senvolve, a dominaçãona esfera do conceito, erige-se sobre o fundamentoda dominação na esfera da realida<strong>de</strong>. Na substituição daherança mágica, das antigas representações difusas, pela unida<strong>de</strong>conceituai, exprime-se a constituição da vida articuladapelo mando e <strong>de</strong>terminada pelos homens livres. O si-mesmoque, com a sujeição do mundo, apren<strong>de</strong>u a or<strong>de</strong>m e a subordinação,não tardou a i<strong>de</strong>ntificar a verda<strong>de</strong> em geral comum pensar que dispõe, cujas firmes diferenciações são imprescindíveispara que possa subsistir. Com o feitiço mimético,o si-mesmo transformou em tabu o conhecimento queatinge efetivamente o objeto. Seu ódio se volta contra a imagemdo antemundo vencido e contra a sua felicida<strong>de</strong> imaginária.Os <strong>de</strong>uses ctônios dos aborígenes são <strong>de</strong>sterradospara o inferno no qual a terra mesma se transforma, sob areligião <strong>de</strong> sol e luz <strong>de</strong> Indra e Zeus.Mas céu e inferno estavam estreitamente ligados. Assimcomo o nome <strong>de</strong> Zeus convinha, em cultos que não se excluíamreciprocamente, tanto a um <strong>de</strong>us subterrâneo comoa um <strong>de</strong>us <strong>de</strong> luz, 2 assim como os <strong>de</strong>uses do Olimpo cultivamtodo tipo <strong>de</strong> convivência com os ctônios, do mesmo modoas potências boas e más, a salvação e a perdição, não estavamisoladas uma da outra sem ambigüida<strong>de</strong>s. Elas se enca<strong>de</strong>avamcomo geração e corrupção, vida e morte, verão e inverno.No mundo luminoso da religião grega sobrevive a turva indiferenciaçãodo princípio religioso que, nas mais antigas1 G. Glotz, op. cit., p. 140. (N. do A.)2 Cf. Kurt Eckermann, Jahrbuch <strong>de</strong>r Reiigòmsgeschichte und Mythclogie, Halle, 1845, vol. I, p.241 e O. Kern, Die Rdigúm <strong>de</strong>r Griechen, Berlim, 1926, vol. I, pp. 181 ss. (N. do A.)— 30 —
ADORNOfases conhecidas da humanida<strong>de</strong>, era venerado como numa.Originariamente, indiferenciado é tudo aquilo que é <strong>de</strong>sconhecido,estranho, aquilo que transcen<strong>de</strong> o âmbito da experiência,aquilo que nas coisas exce<strong>de</strong> o seu existir antecipadamenteconhecido. O que aqui é experimentado como sobrenaturalpelo primitivo não é a substância espiritual, emoposição à material, mas o entrelaçamento do natural emface do membro singular isolado. O grito <strong>de</strong> terror que acompanhaa experiência do insólito fica sendo o seu nome. Elefixa a transcendência do <strong>de</strong>sconhecido diante do que é conhecidoe converte assim o tremor em santida<strong>de</strong>. A duplicaçãoda natureza em aparência e essência, ação e força, quefaz com que tanto o mito como a ciência venham a ser possíveis,provém da angústia do homem, cuja expressão se tornaexplicação. Não que a alma seja transferida para a natureza,como faz crer o psicologismo; mana, o espírito motor,não é nenhuma projeção e sim o eco da supremacia real danatureza nas almas fracas dos selvagens. Só a partir <strong>de</strong>ssepré-animismo é que é feita a cisão entre o animado e o inanimado,e que <strong>de</strong>terminados lugares são investidos <strong>de</strong> <strong>de</strong>môniose divinda<strong>de</strong>s. Nele já está implícita a separação entresujeito e objeto. Se o homem não consi<strong>de</strong>ra mais a árvoreapenas uma árvore, mas um testemunho <strong>de</strong> um outro, comose<strong>de</strong> do mana, a linguagem exprime a contradição <strong>de</strong> algoser ele próprio e ao mesmo tempo algo diferente <strong>de</strong> si próprio,idêntico e não idêntie^JJPor meio da divinda<strong>de</strong>, a linguagempassa <strong>de</strong> tautologia a (linguagem. O conceito, que costumaser <strong>de</strong>finido como unida<strong>de</strong> das características daquilo quecompreen<strong>de</strong> sob si, foi, em vez disso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, o produtodo pensamento dialético, no qual sempre tudo só é oque é, enquanto se torna o que não é. Essa foi a forma origináriada objetivação <strong>de</strong>terminante em que conceito e coisa1 Hubert e Mauss <strong>de</strong>screvem o teor representativo da "simpatia", da mimese, da seguintemaneira: "L'un est le tout, tout est dans 1'un, Ia nature triomphe <strong>de</strong> Ia nature" — H. Huberte M. Mauss, Théorie GénénU <strong>de</strong> ]a Magie, in VAnnée Sociobgique, 1902-3, p. 100. (N. do A.)
- Page 1: OS PENSADORES
- Page 4 and 5: FundadorVICTOR CIVITA(1907-1990)Í*
- Page 6 and 7: OS PENSADORESUnidimensional (ou Ide
- Page 8 and 9: OS PENSADORESradiofônicas, pronunc
- Page 10 and 11: OS PENSADORESúnico e mesmo ato da
- Page 13 and 14: CRONOLOGIA1903 — Em Frankfurt, na
- Page 15: BIBLIOGRAFIASCHIMIDT, A. e RUSCONI,
- Page 18 and 19: OS PENSADORESuma união tão glorio
- Page 20 and 21: OS PENSADORESneutras de um jogo. O
- Page 22 and 23: OS PENSADOREStes escolas interprete
- Page 24 and 25: OS PENSADORESse estende do alto a t
- Page 26 and 27: OS PENSADORESUm átomo não é desi
- Page 28 and 29: OS PENSADORESnêncía, de explicaç
- Page 32 and 33: OS PENSADORESse separam dessa mesma
- Page 34 and 35: OS PENSADORESintacto o essencial. A
- Page 36 and 37: OS PENSADOREScomo espiritual, como
- Page 38 and 39: OS PENSADORESdividido numa esfera d
- Page 40 and 41: OS PENSADORESque o conteúdo mau ne
- Page 42 and 43: OS PENSADORESà sobriedade pela qua
- Page 44 and 45: OS PENSADORESobjeto. Mas, a esse pe
- Page 46 and 47: OS PENSADOREScom respeito aos objet
- Page 48 and 49: OS PENSADORESele força o autodespo
- Page 50 and 51: OS PENSADORESmal menor. Os neopagã
- Page 52 and 53: OS PENSADORESdemais. Ninguém que o
- Page 54 and 55: OS PENSADOREScia ao servo que traba
- Page 56 and 57: OS PENSADOREStrabalho. São as cond
- Page 58 and 59: OS PENSADORESpoder e impotência, c
- Page 60 and 61: OS PENSADORESciência, à cega tend
- Page 62 and 63: OS PENSADORESsobre as quais não se
- Page 65 and 66: O FETICHISMO NA MÚSICA E AREGRESS
- Page 67 and 68: ADORNOHuxley levantou em um de seus
- Page 69 and 70: ADORNOmúsica da opressão mágica
- Page 71 and 72: ADORNOtecidas, mas antes por rigoro
- Page 73 and 74: ADORNOmúsica ligeira em oposição
- Page 75 and 76: ADORNOvicioso fatal: o mais conheci
- Page 77 and 78: ADORNOcom a música na qual entram
- Page 79 and 80: ADORNOespecífico caráter fetichis
- Page 81 and 82:
ADORNOo encantamento musical, perec
- Page 83 and 84:
ADORNOjustificar os arranjos. No ca
- Page 85 and 86:
ADORNOmais obscura da técnica do "
- Page 87 and 88:
ADORNOsua destruição, visto que a
- Page 89 and 90:
ADORNOmediação de maneira alguma
- Page 91 and 92:
ADORNOsi mesma se tornam suas víti
- Page 93 and 94:
ADORNOtração atenta, e por isso s
- Page 95 and 96:
ADORNOà consonância que substitui
- Page 97 and 98:
ADORNOconseguinte, de duas uma: ou
- Page 99 and 100:
ADORNOmodelos comerciais entrelaça
- Page 101 and 102:
ADORNOonda é tão maciça, que já
- Page 103 and 104:
ADORNOao presente abstrato- Este ef
- Page 105 and 106:
ADORNOgor, com seu conformismo. Os
- Page 107 and 108:
ADORNOCom muita facilidade toda a m
- Page 109 and 110:
A Fred Pollock,no seu septuagésimo
- Page 111 and 112:
ADORNOdiante a irrefletida identifi
- Page 113 and 114:
ADORNOda ciência, do seu caráter
- Page 115 and 116:
ADORNOcente, se bem que não mais c
- Page 117 and 118:
ADORNOempírica seria analisar os e
- Page 119 and 120:
ADORNOO não ser a dialética um m
- Page 121 and 122:
ADORNOficientes para a explicação
- Page 123 and 124:
ADORNOà sua contrainte por si mesm
- Page 125 and 126:
ADORNOvertida em clientela, sujeito
- Page 127 and 128:
ADORNOimporta se conscientemente ou
- Page 129 and 130:
ADORNOporque a sociedade recusa aos
- Page 131 and 132:
ADORNOtanto os interesses dos membr
- Page 133 and 134:
ADORNOcisava dar-se conta de que el
- Page 135 and 136:
ADORNOlidade efetiva tranqüilizado
- Page 137 and 138:
ADORNOargumentação torna-se quest
- Page 139 and 140:
ADORNOde uma maneira grandiosa que
- Page 141 and 142:
ADORNOcostumavam denominar de despr
- Page 143 and 144:
ADORNOenquanto o impulso popperiano
- Page 145 and 146:
ADORNOnistradores individuais. A ad
- Page 147 and 148:
ADORNOnum sentido aproximativo de u
- Page 149 and 150:
ADORNOglobal e impede a instauraç
- Page 151 and 152:
ADORNOpara quem o método vale ante
- Page 153 and 154:
ADORNOtos; segundo Habermas, "a dep
- Page 155 and 156:
ADORNOsocial mundana sobre o espír
- Page 157 and 158:
ADORNOde lei. Já não mais detém
- Page 159 and 160:
ADORNOconceito de problema aqui uti
- Page 161 and 162:
ADORNOcio, não encontra aptidão n
- Page 163 and 164:
ADORNOeliminado. Como modelo pode s
- Page 165 and 166:
ADORNOso de formas de reação simp
- Page 167 and 168:
ADORNOigual a todos os outros impot
- Page 169 and 170:
ADORNOda authoritarian personality
- Page 171 and 172:
ADORNOlos sentidos, mantém uma ár
- Page 173 and 174:
ADORNOPela sua renúncia a exemplos
- Page 175 and 176:
ADORNOse restringir aos dados, mas
- Page 177 and 178:
ADORNOlosofia. No que é inconfund
- Page 179 and 180:
ADORNOcom a consciência das massas
- Page 181 and 182:
ADORNOmento de tais faits sociaux c
- Page 183 and 184:
ADORNOO que posteriormente se solid
- Page 185 and 186:
ADORNOconsciência coletiva que coi
- Page 187 and 188:
ADORNOtisfaçam suas exigências, e
- Page 189 and 190:
ADORNOseu lugar nas questões da l
- Page 191:
ÍNDICEADORNO — Vida e Obra 5Cron