<strong>OS</strong> <strong>PENSADORES</strong>nêncía, <strong>de</strong> explicação <strong>de</strong> todo acontecer como uma repetição,sustentado pelo iluminismo contra o po<strong>de</strong>r da imaginaçãomítica, é o princípio do próprio mito. A sabedoria ressequida,para a qual nada <strong>de</strong> novo vige sob o sol, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que, no jogosem sentido, todas as cartas já foram jogadas, e os gran<strong>de</strong>spensamentos, todos eles já pensados, que as possíveis <strong>de</strong>scobertaspo<strong>de</strong>m ser antecipadamente construídas, e que oshomens estão comprometidos a se autoconservarem pelaadaptação — essa sabedoria ressequida limita-se a renovara sabedoria fantástica que justamente rejeita: sanção do <strong>de</strong>stinoque reproduz incessantemente por retaliação o que semprejá era. O que po<strong>de</strong>ria ser outro é feito igual. Tal é overedito que estabelece criticamente os confins da experiênciapossível. A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tudo com tudo é paga com o nãohaver nada po<strong>de</strong>ndo ser ao mesmo tempo idêntico a si mesmo.O iluminismo dissolve a injustiça da antiga <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>,a dominação imediata, porém torna-a, ao mesmo tempo,eterna mediação universal, na relação <strong>de</strong> um ente qualquera qualquer outro. Ele consegue fazer aquilo <strong>de</strong> que se louvaa ética protestante <strong>de</strong> Kierkegaard e que se encontra no cicloépico <strong>de</strong> Hércules como dos arquétipos da violência mítica:ele extirpa o incomensurável. Não são só as qualida<strong>de</strong>s quese dissolvem no pensamento, também os homens são coagidosà conformida<strong>de</strong> com o real. O mercado não questionasobre o seu nascimento, mas o preço <strong>de</strong>ssa vantagem, pagopor quem fez a troca, foi o <strong>de</strong> ser obrigado a permitir queas suas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> nascença fossem mo<strong>de</strong>ladas pelaprodução das mercadorias que nele po<strong>de</strong>m ser compradas.Os homens foram presenteados com um si-mesmo próprioa cada um e distinto <strong>de</strong> todos os outros, só para que se torne,com mais segurança, igual aos outros. Mas, como ele nuncase <strong>de</strong>sfez totalmente, o iluminismo, mesmo durante o períodoliberal, sempre simpatizou com a coação social. A unida<strong>de</strong>do coletivo manipulado consiste na negação <strong>de</strong> qualquer indivíduo,zomba-se <strong>de</strong> toda espécie <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> que pu<strong>de</strong>ssequerer fazer do indivíduo um indivíduo. A horda, cujo nome— 28 —
ADORNOfigura sem dúvida alguma na organização da Juventu<strong>de</strong> Hitlerista,não é nenhuma recaída na antiga barbárie, mas otriunfo da igualda<strong>de</strong> repressiva, o <strong>de</strong>senvolvimento da igualda<strong>de</strong>do direito na injustiça feita pelos iguais. O mito pechisbequedos fascistas revela-se como aquilo que no antetempoera o mito genuíno, só que esse último distinguia aretaliação, enquanto o falso a executa cegamente nas suasvítimas. Cada uma das tentativas <strong>de</strong> romper o jugo da natureza,enquanto rompe com a natureza, é só uma quedamais profunda sob esse jugo. Foi assim que a civilização européiapercorreu o seu caminho. A abstração, ferramenta doiluminismo, comporta-se diante <strong>de</strong> seus objetos como o <strong>de</strong>stino,cujo conceito é por ela mesma eliminado: como liquidação.Sob a dominação nivelante do abstrato, que faz comque tudo na natureza se possa repetir, e sob a da indústria,para a qual isso é aprontado, os próprios liberados convertem-sefinalmente naquela "tropa" que Hegel 1 assinalou como0 resultado do iluminismo.A distância do sujeito ao objeto, pressuposto da abstração,fundamenta-se na distância à coisa que o senhor obtémpor meio do assenhoreamento. Os cantos homéricos e os hinosdo-Rig Veda provêm dos tempos da dominação das terrase dos burgos fortalecidos nos quais se assentara um povoguerreiro, senhor da massa dos autóctones vencidos. 2 Omaior <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>uses gerou-se no mundo <strong>de</strong>sses primeirosburgos, ondéõíèi como chefe da nobreza armada, fixavaà terra os subjugados/ enquanto médicos, adivinhos, artesãos,comerciantes cuidavam da circulação social. Com o fim davida nôma<strong>de</strong>, a or<strong>de</strong>m social se constituiu à base da proprieda<strong>de</strong>estável. Dominação e trabalho se separam. Um proprietário,como Ulisses, "traz consigo, <strong>de</strong> terras longínquas,um pessoal numeroso e minuciosamente diferenciado, cons-1 Phànomenologie <strong>de</strong>s Geistes, loc. cit., p. 424. (N. do A.)2 Cf. W. Kirfel, Geschichte lndien, in Propyliiemoeltgeschichte, voL Dl, pp. 261 s. e G. Glotz,Historie Grique, vol. I, in Histoire Ancienne, Paris, 1938, pp. 137 ss. (N. do A.)— 29 —
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