<strong>OS</strong> <strong>PENSADORES</strong>tes escolas interpretem os axiomas <strong>de</strong> diferentes maneiras,a estrutura da ciência unitária é sempre a mesma. Apesar<strong>de</strong> todo o pluralismo dos domínios <strong>de</strong> pesquisa, o postulado<strong>de</strong> Bacon da Una scientia universalis 1 é tão hostil ao <strong>de</strong>sconexoquanto a mathesis universalis <strong>de</strong> Leibniz é inimiga do salto.A multiplicida<strong>de</strong> das figuras é reduzida a posição e or<strong>de</strong>nação;a história, ao fato; as coisas, à matéria. Mesmo segundoBacon, <strong>de</strong>ve existir entre os princípios supremos e os enunciados<strong>de</strong> observação uma conexão lógica unívoca atravésdos níveis <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>. De Maistre zomba <strong>de</strong> Bacon, acusando-o<strong>de</strong> cultuar une idole d'echelle. 2 A lógica formal foi agran<strong>de</strong> escola <strong>de</strong> uniformização. Ela ofereceu aos iluministaso esquema da calculabilida<strong>de</strong> do mundo. A equiparação mitologizantedas idéias aos números, nos últimos escritos <strong>de</strong>Platão, exprime a ânsia própria a qualquer <strong>de</strong>smitologização:o número se tornou o cânon do iluminismo. As mesmas e-quações dominam tanto a justiça burguesa quanto a troca<strong>de</strong> mercadorias. "Pois a regra <strong>de</strong> que é <strong>de</strong>sigual a soma doigual com o <strong>de</strong>sigual não será um princípio fundamentaltanto da justiça como da matemática? E será que não existeuma verda<strong>de</strong>ira correspondência entre a justiça comutativae distributiva, por um lado, e as proporções geométricas earitméticas, por outro?" 3 A socieda<strong>de</strong> burguesa é dominadapelo equivalente. Ela torna comparáveis as coisas que nãotêm <strong>de</strong>nominador comum, quando as reduz a gran<strong>de</strong>zas abstratas.O que não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>svanecer em números, e, emúltima análise, numa unida<strong>de</strong>, reduz-se, para o iluminismo,a aparência e é <strong>de</strong>sterrado, pelo positivismo mo<strong>de</strong>rno, para0 domínio da poesia. De Parmêni<strong>de</strong>s a Russell, a senha é aunida<strong>de</strong>. Insiste-se na <strong>de</strong>struição dos <strong>de</strong>uses e das qualida<strong>de</strong>s.Mas os mitos que tombam como vítimas do iluminismojá eram, por sua vez, seus próprios produtos. No cálculo1 Bacon, De Augmentis Scientiarum, op. cit., vol. VIII, p. 152. (N. do A.)2 Les Soirées <strong>de</strong> Samt-Pétersburg, 5ème entretien. Oeuvres complètes, Lião, 1891, vol. IV, p.256. (N. do A.)3 Bacon, Advancement of Leammg, op. cit., vol. n, p. 126. (N. do A.)— 22 —
ADORNOcientífico dqfaepntecer, anula-se a justificação que uma vezlhe fora daoa jjelo pensamento, nos mitos. O mito pretendiarelatar, <strong>de</strong>nominar, dizer a origem; e, assim, expor, fixar, explicar.Com a escrita e a compilação dos mitos, essa tendênciase fortaleceu. De relato que eram, eles logo passaram a serdoutrina. Todo ritual inclui uma representação do acontecerenquanto processo <strong>de</strong>terminado que se <strong>de</strong>stina a ser influenciadopelo feitiço. Este elemento teórico do ritual tornou-sein<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte nas mais antigas epopéias dos povos. Os mitos,tais como encontrados pelos autores trágicos, já estavam sob0 signo daquela disciplina e daquele po<strong>de</strong>r louvados porBacon como o objetivo a ser perseguido. Em lugar dos <strong>de</strong>usese <strong>de</strong>mônios locais, aparecem o céu e a sua hierarquia, emlugar das práticas <strong>de</strong> conjuração do feiticeiro e da tribo, surgemos sacrifícios <strong>de</strong> vários níveis hierárquicos e o trabalhodos escravos mediatizado pelo mundo. As divinda<strong>de</strong>s olímpicasnão são mais imediatamente idênticas aos elementos,elas os significam. Em Homero, Zeus presi<strong>de</strong> o céu diurno,Apoio guia o sol, Hélio e Eos já <strong>de</strong>rivam para o alegórico.Os <strong>de</strong>uses se separam dos elementos materiais como suasessências. Des<strong>de</strong> então, o ser se <strong>de</strong>compõe, por um lado, emlógos que, com o progresso da filosofia, se comprime na mônada,num mero ponto <strong>de</strong> referência, e, por outro lado, namassa <strong>de</strong> todas as coisas e criaturas lá fora. Uma única diferença,a diferença entre a própria existência e a realida<strong>de</strong>,absorve todas as outras. Sem que sejam respeitadas as diferenças,o mundo torna-se sujeito ao homem. Nesse pontoconcordam a história da criação judaica e a religião olímpica."E disse Deus: 'Façamos o homem à nossa imagem, conformea nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar,sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, os animaisselvagens e todos os répteis que rastejam sobre a terra'." 1"Ó, Zeus, pai Zeus, é teu o domínio do céu e teu olhar1 Gén 1, 26. (N. do A.)
- Page 1: OS PENSADORES
- Page 4 and 5: FundadorVICTOR CIVITA(1907-1990)Í*
- Page 6 and 7: OS PENSADORESUnidimensional (ou Ide
- Page 8 and 9: OS PENSADORESradiofônicas, pronunc
- Page 10 and 11: OS PENSADORESúnico e mesmo ato da
- Page 13 and 14: CRONOLOGIA1903 — Em Frankfurt, na
- Page 15: BIBLIOGRAFIASCHIMIDT, A. e RUSCONI,
- Page 18 and 19: OS PENSADORESuma união tão glorio
- Page 20 and 21: OS PENSADORESneutras de um jogo. O
- Page 24 and 25: OS PENSADORESse estende do alto a t
- Page 26 and 27: OS PENSADORESUm átomo não é desi
- Page 28 and 29: OS PENSADORESnêncía, de explicaç
- Page 30 and 31: OS PENSADOREStituído por homens qu
- Page 32 and 33: OS PENSADORESse separam dessa mesma
- Page 34 and 35: OS PENSADORESintacto o essencial. A
- Page 36 and 37: OS PENSADOREScomo espiritual, como
- Page 38 and 39: OS PENSADORESdividido numa esfera d
- Page 40 and 41: OS PENSADORESque o conteúdo mau ne
- Page 42 and 43: OS PENSADORESà sobriedade pela qua
- Page 44 and 45: OS PENSADORESobjeto. Mas, a esse pe
- Page 46 and 47: OS PENSADOREScom respeito aos objet
- Page 48 and 49: OS PENSADORESele força o autodespo
- Page 50 and 51: OS PENSADORESmal menor. Os neopagã
- Page 52 and 53: OS PENSADORESdemais. Ninguém que o
- Page 54 and 55: OS PENSADOREScia ao servo que traba
- Page 56 and 57: OS PENSADOREStrabalho. São as cond
- Page 58 and 59: OS PENSADORESpoder e impotência, c
- Page 60 and 61: OS PENSADORESciência, à cega tend
- Page 62 and 63: OS PENSADORESsobre as quais não se
- Page 65 and 66: O FETICHISMO NA MÚSICA E AREGRESS
- Page 67 and 68: ADORNOHuxley levantou em um de seus
- Page 69 and 70: ADORNOmúsica da opressão mágica
- Page 71 and 72: ADORNOtecidas, mas antes por rigoro
- Page 73 and 74:
ADORNOmúsica ligeira em oposição
- Page 75 and 76:
ADORNOvicioso fatal: o mais conheci
- Page 77 and 78:
ADORNOcom a música na qual entram
- Page 79 and 80:
ADORNOespecífico caráter fetichis
- Page 81 and 82:
ADORNOo encantamento musical, perec
- Page 83 and 84:
ADORNOjustificar os arranjos. No ca
- Page 85 and 86:
ADORNOmais obscura da técnica do "
- Page 87 and 88:
ADORNOsua destruição, visto que a
- Page 89 and 90:
ADORNOmediação de maneira alguma
- Page 91 and 92:
ADORNOsi mesma se tornam suas víti
- Page 93 and 94:
ADORNOtração atenta, e por isso s
- Page 95 and 96:
ADORNOà consonância que substitui
- Page 97 and 98:
ADORNOconseguinte, de duas uma: ou
- Page 99 and 100:
ADORNOmodelos comerciais entrelaça
- Page 101 and 102:
ADORNOonda é tão maciça, que já
- Page 103 and 104:
ADORNOao presente abstrato- Este ef
- Page 105 and 106:
ADORNOgor, com seu conformismo. Os
- Page 107 and 108:
ADORNOCom muita facilidade toda a m
- Page 109 and 110:
A Fred Pollock,no seu septuagésimo
- Page 111 and 112:
ADORNOdiante a irrefletida identifi
- Page 113 and 114:
ADORNOda ciência, do seu caráter
- Page 115 and 116:
ADORNOcente, se bem que não mais c
- Page 117 and 118:
ADORNOempírica seria analisar os e
- Page 119 and 120:
ADORNOO não ser a dialética um m
- Page 121 and 122:
ADORNOficientes para a explicação
- Page 123 and 124:
ADORNOà sua contrainte por si mesm
- Page 125 and 126:
ADORNOvertida em clientela, sujeito
- Page 127 and 128:
ADORNOimporta se conscientemente ou
- Page 129 and 130:
ADORNOporque a sociedade recusa aos
- Page 131 and 132:
ADORNOtanto os interesses dos membr
- Page 133 and 134:
ADORNOcisava dar-se conta de que el
- Page 135 and 136:
ADORNOlidade efetiva tranqüilizado
- Page 137 and 138:
ADORNOargumentação torna-se quest
- Page 139 and 140:
ADORNOde uma maneira grandiosa que
- Page 141 and 142:
ADORNOcostumavam denominar de despr
- Page 143 and 144:
ADORNOenquanto o impulso popperiano
- Page 145 and 146:
ADORNOnistradores individuais. A ad
- Page 147 and 148:
ADORNOnum sentido aproximativo de u
- Page 149 and 150:
ADORNOglobal e impede a instauraç
- Page 151 and 152:
ADORNOpara quem o método vale ante
- Page 153 and 154:
ADORNOtos; segundo Habermas, "a dep
- Page 155 and 156:
ADORNOsocial mundana sobre o espír
- Page 157 and 158:
ADORNOde lei. Já não mais detém
- Page 159 and 160:
ADORNOconceito de problema aqui uti
- Page 161 and 162:
ADORNOcio, não encontra aptidão n
- Page 163 and 164:
ADORNOeliminado. Como modelo pode s
- Page 165 and 166:
ADORNOso de formas de reação simp
- Page 167 and 168:
ADORNOigual a todos os outros impot
- Page 169 and 170:
ADORNOda authoritarian personality
- Page 171 and 172:
ADORNOlos sentidos, mantém uma ár
- Page 173 and 174:
ADORNOPela sua renúncia a exemplos
- Page 175 and 176:
ADORNOse restringir aos dados, mas
- Page 177 and 178:
ADORNOlosofia. No que é inconfund
- Page 179 and 180:
ADORNOcom a consciência das massas
- Page 181 and 182:
ADORNOmento de tais faits sociaux c
- Page 183 and 184:
ADORNOO que posteriormente se solid
- Page 185 and 186:
ADORNOconsciência coletiva que coi
- Page 187 and 188:
ADORNOtisfaçam suas exigências, e
- Page 189 and 190:
ADORNOseu lugar nas questões da l
- Page 191:
ÍNDICEADORNO — Vida e Obra 5Cron