<strong>OS</strong> <strong>PENSADORES</strong>uma união tão gloriosa. A impressora, invenção grosseira; ocanhão, que já era prefigurado; a bússola, que até certo pontojá era conhecida anteriormente; que mudanças não produziramessas três — a primeira, no estado da ciência, a outra,no da guerra, a terceira, no das finanças, do comércio e danavegação! E foi só por acaso, repito, que se <strong>de</strong>u <strong>de</strong> encontrocom essas invenções. Portanto, não há dúvida alguma <strong>de</strong>que a superiorida<strong>de</strong> do homem resi<strong>de</strong> no saber. Nele estãoguardadas muitas coisas, que os reis com todos os seus tesourosnão po<strong>de</strong>m comprar, sobre as quais não se impõe oseu mando, das quais seus informantes e alcagüetes não dãonotícia alguma, cujas terras <strong>de</strong> origem não po<strong>de</strong>m ser alcançadaspelos veleiros dos seus navegantes e <strong>de</strong>scobridores.Hoje, não passa <strong>de</strong> simples opinião nossa, a <strong>de</strong> que dominamosa natureza; estamos submetidos a seu jugo. Porém,se nos <strong>de</strong>ixássemos guiar por ela na invenção, nós a teríamos,na práxis, a nosso mando". 1Apesar <strong>de</strong> alheio à matemática, Bacon captou muito bem0 espírito da ciência que se seguiu a ele. O casamento felizentre o entendimento humano e a natureza das coisas, queele tem em vista, é patriarcal: o entendimento, que venceua superstição, <strong>de</strong>ve ter voz <strong>de</strong> comando sobre a natureza<strong>de</strong>senfeitiçada. Na escravização da criatura ou na capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> oposição voluntária aos senhores do mundo, o saber queé po<strong>de</strong>r não conhece limites. Esse saber serve aos empreendimentos<strong>de</strong> qualquer um, sem distinção <strong>de</strong> origem, assimcomo, na fábrica e no campo <strong>de</strong> batalha, está a serviço <strong>de</strong>todos os fins da economia burguesa. Os reis não dispõemsobre a técnica <strong>de</strong> maneira mais direta do que os comerciantes:o saber é tão <strong>de</strong>mocrático quanto o sistema econômicojuntamente com o qual se <strong>de</strong>senvolve. A técnica é a essência<strong>de</strong>sse saber. Seu objetivo não são os conceitos ou imagensnem a felicida<strong>de</strong> da contemplação, mas o método, a explo-1 Bacon, In Pnásc of Knomkdge. MáaUaneous Tracts Upon Human Pküosophy, The Works ofFrtmcis Bacon, ed. Basil Montagu, Londres, 1825, vol. I, pp. 254 s. (N. do A.)— li —
ADORNOração do trabalho dos outros, o capital. Por sua vez, as inúmerascoisas que, segundo Bacon, ainda são guardadas nelenão passam <strong>de</strong> instrumentos: o rádio, enquanto impressorasublimada, o avião <strong>de</strong> combate, enquanto artilharia eficaz,o telecomando, enquanto bússola <strong>de</strong> maior confiança. O queos homens querem apren<strong>de</strong>r da natureza é como aplicá-lapara dominar completamente sobre ela e sobre os homens.Fora disso, nada conta. Sem escrúpulos para consigo mesmo,0 iluminismo incinerou os últimos restos da sua própria consciência<strong>de</strong> si. Só um pensar que faz violência a si próprio ésuficientemente duro para quebrar os mitos. Diante do triunfoatual do tino para os fatos, até mesmo o credo nominalista<strong>de</strong> Bacon seria suspeito <strong>de</strong> ser ainda uma metafísica e cairiasob o veredito <strong>de</strong> futilida<strong>de</strong> que ele próprio pronunciou contraa escolástica. Po<strong>de</strong>r e conhecimento são sinônimos. 1 Afelicida<strong>de</strong> estéril, provinda do conhecimento, é lasciva tantopara Bacon como para Lutero. O que importa não é aquelasatisfação que os homens chamam <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, o que importaé a operation, o proce<strong>de</strong>r eficaz. "O verda<strong>de</strong>iro objetivo e serventiada ciência" não resi<strong>de</strong> nos "discursos plausíveis, <strong>de</strong>leitantes,veneráveis, que fazem efeito, ou em quaisquer argumentosintuitivamente evi<strong>de</strong>ntes, mas sim no <strong>de</strong>sempenhoe no trabalho, na <strong>de</strong>scoberta dos fatos particulares anteriormente<strong>de</strong>sconhecidos que nos auxiliem e nos equipem melhorna vida". 2 Portanto, nenhum mistério há <strong>de</strong> restar e, tampouco,nenhum <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> revelação.O <strong>de</strong>senfeitiçamento do mundo é a erradicação do animismo.Xenófanes zomba dos muitos <strong>de</strong>uses, por serem elessemelhantes aos homens, que os produziram, no que estestêm <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntal e <strong>de</strong> pior, e a lógica mais recente <strong>de</strong>nunciaas palavras em que se cunha a linguagem, como moedasfalsas, que melhor seria se fossem substituídas por fichas1 Cf. Bacon, Nooum Organum, op. cit., vol. XIV, p. 31. (N. do A.)2 Bacon, Valerius Termmus of the Interpretation of Naturt. Miscdlaneous Tracts, op. cit., vol. I,P- 281. (N. do A.)— 19 —
- Page 1: OS PENSADORES
- Page 4 and 5: FundadorVICTOR CIVITA(1907-1990)Í*
- Page 6 and 7: OS PENSADORESUnidimensional (ou Ide
- Page 8 and 9: OS PENSADORESradiofônicas, pronunc
- Page 10 and 11: OS PENSADORESúnico e mesmo ato da
- Page 13 and 14: CRONOLOGIA1903 — Em Frankfurt, na
- Page 15: BIBLIOGRAFIASCHIMIDT, A. e RUSCONI,
- Page 20 and 21: OS PENSADORESneutras de um jogo. O
- Page 22 and 23: OS PENSADOREStes escolas interprete
- Page 24 and 25: OS PENSADORESse estende do alto a t
- Page 26 and 27: OS PENSADORESUm átomo não é desi
- Page 28 and 29: OS PENSADORESnêncía, de explicaç
- Page 30 and 31: OS PENSADOREStituído por homens qu
- Page 32 and 33: OS PENSADORESse separam dessa mesma
- Page 34 and 35: OS PENSADORESintacto o essencial. A
- Page 36 and 37: OS PENSADOREScomo espiritual, como
- Page 38 and 39: OS PENSADORESdividido numa esfera d
- Page 40 and 41: OS PENSADORESque o conteúdo mau ne
- Page 42 and 43: OS PENSADORESà sobriedade pela qua
- Page 44 and 45: OS PENSADORESobjeto. Mas, a esse pe
- Page 46 and 47: OS PENSADOREScom respeito aos objet
- Page 48 and 49: OS PENSADORESele força o autodespo
- Page 50 and 51: OS PENSADORESmal menor. Os neopagã
- Page 52 and 53: OS PENSADORESdemais. Ninguém que o
- Page 54 and 55: OS PENSADOREScia ao servo que traba
- Page 56 and 57: OS PENSADOREStrabalho. São as cond
- Page 58 and 59: OS PENSADORESpoder e impotência, c
- Page 60 and 61: OS PENSADORESciência, à cega tend
- Page 62 and 63: OS PENSADORESsobre as quais não se
- Page 65 and 66: O FETICHISMO NA MÚSICA E AREGRESS
- Page 67 and 68: ADORNOHuxley levantou em um de seus
- Page 69 and 70:
ADORNOmúsica da opressão mágica
- Page 71 and 72:
ADORNOtecidas, mas antes por rigoro
- Page 73 and 74:
ADORNOmúsica ligeira em oposição
- Page 75 and 76:
ADORNOvicioso fatal: o mais conheci
- Page 77 and 78:
ADORNOcom a música na qual entram
- Page 79 and 80:
ADORNOespecífico caráter fetichis
- Page 81 and 82:
ADORNOo encantamento musical, perec
- Page 83 and 84:
ADORNOjustificar os arranjos. No ca
- Page 85 and 86:
ADORNOmais obscura da técnica do "
- Page 87 and 88:
ADORNOsua destruição, visto que a
- Page 89 and 90:
ADORNOmediação de maneira alguma
- Page 91 and 92:
ADORNOsi mesma se tornam suas víti
- Page 93 and 94:
ADORNOtração atenta, e por isso s
- Page 95 and 96:
ADORNOà consonância que substitui
- Page 97 and 98:
ADORNOconseguinte, de duas uma: ou
- Page 99 and 100:
ADORNOmodelos comerciais entrelaça
- Page 101 and 102:
ADORNOonda é tão maciça, que já
- Page 103 and 104:
ADORNOao presente abstrato- Este ef
- Page 105 and 106:
ADORNOgor, com seu conformismo. Os
- Page 107 and 108:
ADORNOCom muita facilidade toda a m
- Page 109 and 110:
A Fred Pollock,no seu septuagésimo
- Page 111 and 112:
ADORNOdiante a irrefletida identifi
- Page 113 and 114:
ADORNOda ciência, do seu caráter
- Page 115 and 116:
ADORNOcente, se bem que não mais c
- Page 117 and 118:
ADORNOempírica seria analisar os e
- Page 119 and 120:
ADORNOO não ser a dialética um m
- Page 121 and 122:
ADORNOficientes para a explicação
- Page 123 and 124:
ADORNOà sua contrainte por si mesm
- Page 125 and 126:
ADORNOvertida em clientela, sujeito
- Page 127 and 128:
ADORNOimporta se conscientemente ou
- Page 129 and 130:
ADORNOporque a sociedade recusa aos
- Page 131 and 132:
ADORNOtanto os interesses dos membr
- Page 133 and 134:
ADORNOcisava dar-se conta de que el
- Page 135 and 136:
ADORNOlidade efetiva tranqüilizado
- Page 137 and 138:
ADORNOargumentação torna-se quest
- Page 139 and 140:
ADORNOde uma maneira grandiosa que
- Page 141 and 142:
ADORNOcostumavam denominar de despr
- Page 143 and 144:
ADORNOenquanto o impulso popperiano
- Page 145 and 146:
ADORNOnistradores individuais. A ad
- Page 147 and 148:
ADORNOnum sentido aproximativo de u
- Page 149 and 150:
ADORNOglobal e impede a instauraç
- Page 151 and 152:
ADORNOpara quem o método vale ante
- Page 153 and 154:
ADORNOtos; segundo Habermas, "a dep
- Page 155 and 156:
ADORNOsocial mundana sobre o espír
- Page 157 and 158:
ADORNOde lei. Já não mais detém
- Page 159 and 160:
ADORNOconceito de problema aqui uti
- Page 161 and 162:
ADORNOcio, não encontra aptidão n
- Page 163 and 164:
ADORNOeliminado. Como modelo pode s
- Page 165 and 166:
ADORNOso de formas de reação simp
- Page 167 and 168:
ADORNOigual a todos os outros impot
- Page 169 and 170:
ADORNOda authoritarian personality
- Page 171 and 172:
ADORNOlos sentidos, mantém uma ár
- Page 173 and 174:
ADORNOPela sua renúncia a exemplos
- Page 175 and 176:
ADORNOse restringir aos dados, mas
- Page 177 and 178:
ADORNOlosofia. No que é inconfund
- Page 179 and 180:
ADORNOcom a consciência das massas
- Page 181 and 182:
ADORNOmento de tais faits sociaux c
- Page 183 and 184:
ADORNOO que posteriormente se solid
- Page 185 and 186:
ADORNOconsciência coletiva que coi
- Page 187 and 188:
ADORNOtisfaçam suas exigências, e
- Page 189 and 190:
ADORNOseu lugar nas questões da l
- Page 191:
ÍNDICEADORNO — Vida e Obra 5Cron