<strong>OS</strong> <strong>PENSADORES</strong>fisionômica lhe faz mais justiça, já que apresenta a totalida<strong>de</strong>que "é" e não uma simples síntese <strong>de</strong> operações lógicas, fazendo-asvaler em sua relação ambígua aos fatos que <strong>de</strong>cifra.Os fatos não são idênticos com ela, mas ela não existe alémdos fatos. Um conhecimento social que não começa com avisada fisionômica empobrece <strong>de</strong> maneira insustentável. Possuicaráter canônico para ele o soupçon quanto ao fenômenocomo aparência. O conhecimento não po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>ter nisto.Desdobrando as mediações do fenômeno e do que nelas seexpressa, a interpretação freqüentemente se diferencia e seretifica <strong>de</strong> modo radical. Um conhecimento digno do homem,à diferença do registro obtuso, que em verda<strong>de</strong> é pré-científico,tem seu início ao ser aguçado o sentido para o queem todo fenômeno social se dá a conhecer: se algo po<strong>de</strong> ser<strong>de</strong>finido como o órgão da experiência científica, então seráisto. A sociologia estabelecida expulsa este sentido: don<strong>de</strong> asua esterilida<strong>de</strong>. Mas on<strong>de</strong> se encontra <strong>de</strong>senvolvido, há queser disciplinado. Sua disciplina requer tanto um alto grau<strong>de</strong> exatidão da observação empírica quanto também a forçada teoria que inspira a interpretação, e graças a esta se modifica.Muitos cientificistas concordariam generosamentecom isto, sem que isto implique o <strong>de</strong>saparecimento da divergência.Constitui uma das concepções possíveis. O positivismoencara a sociologia como uma ciência entre as outras,e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Comte, consi<strong>de</strong>ra os consagrados métodos da ciênciamais antiga, sobretudo a da natureza, como aplicáveis à sociologia.E aqui que está contido o engano propriamente dito.Pois a sociologia possui um caráter duplo: nela o sujeito <strong>de</strong>todo conhecimento, justamente a socieda<strong>de</strong>, o portador dauniversalida<strong>de</strong> lógica, é simultaneamente objeto. Subjetivamente,a socieda<strong>de</strong>, por remeter aos homens que a formam,e inclusive seus princípios <strong>de</strong> organização, remetendo à consciênciasubjetiva e sua forma <strong>de</strong> abstração mais universal, alógica, é algo essencialmente intersubjetiva. Ela é objetiva,porque na base <strong>de</strong> sua estrutura <strong>de</strong> apoio, sua própria subjetivida<strong>de</strong>não lhe é transparente, já que não possui sujeito— 148 —
ADORNOglobal e impe<strong>de</strong> a instauração <strong>de</strong>ste em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua organização.Um tal caráter duplo, porém, altera a relação <strong>de</strong>um conhecimento científico-social ao seu objeto, e disto opositivismo não toma notícia. Ele trata sem mais a socieda<strong>de</strong>,potencialmente o sujeito que se auto<strong>de</strong>termina, como se fosseum objeto a ser <strong>de</strong>terminado a partir do exterior. Literalmente,ele transforma em objeto, o que por sua vez causa aobjetivação e a partir da qual a objetivação há que ser explicada.Uma tal substituição <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> como sujeito, porsocieda<strong>de</strong> como objeto, constitui a consciência coisificada dasociologia. Desconsi<strong>de</strong>ra que, com a mudança em direção aosujeito como algo objetivamente oposto e estranho a si mesmo,necessariamente o sujeito consi<strong>de</strong>rado, se quisermos,precisamente o objeto da sociologia, se transforma em algooutro. Embora é certo que a alteração mediante o enfoquedo conhecimento tenha seu fundamentum in re. Por sua vez,a tendência evolutiva da socieda<strong>de</strong> corre em direção à coisificação;o que favorece a adaequatio a uma consciência coisificadadaquela. Mas a verda<strong>de</strong> exige a inclusão <strong>de</strong>ste quidpro quo. A socieda<strong>de</strong> como sujeito e a socieda<strong>de</strong> como objetosão a mesma coisa e também não são a mesma coisa. Osatos objetivadores da socieda<strong>de</strong> eliminam na socieda<strong>de</strong> o quefaz com que não seja apenas objeto, o que lança sua sombrapor sobre toda a objetivida<strong>de</strong> cientificista. Reconhecer isto éo mais difícil para uma doutrina cuja norma máxima é aausência <strong>de</strong> contraditorieda<strong>de</strong>. Eis aqui a diferença mais profundaentre uma teoria crítica da socieda<strong>de</strong> e o que na linguagemcorrente é <strong>de</strong>nominado sociologia: uma teoria crítica,apesar <strong>de</strong> toda experiência <strong>de</strong> coisificação, e mesmo justamenteao exteriorizar esta experiência, se orienta pela idéiada socieda<strong>de</strong> como sujeito, enquanto a sociologia aceita acoisificação, repetindo-a em seus métodos, per<strong>de</strong>ndo assima perspectiva em que a socieda<strong>de</strong> e sua lei unicamente serevelaram. Isto data regressivamente da pretensão <strong>de</strong> dominaçãoda sociologia anunciada por Comte, e que hoje se reproduzmais ou menos abertamente na convicção <strong>de</strong> que,— 149 —
- Page 1:
OS PENSADORES
- Page 4 and 5:
FundadorVICTOR CIVITA(1907-1990)Í*
- Page 6 and 7:
OS PENSADORESUnidimensional (ou Ide
- Page 8 and 9:
OS PENSADORESradiofônicas, pronunc
- Page 10 and 11:
OS PENSADORESúnico e mesmo ato da
- Page 13 and 14:
CRONOLOGIA1903 — Em Frankfurt, na
- Page 15:
BIBLIOGRAFIASCHIMIDT, A. e RUSCONI,
- Page 18 and 19:
OS PENSADORESuma união tão glorio
- Page 20 and 21:
OS PENSADORESneutras de um jogo. O
- Page 22 and 23:
OS PENSADOREStes escolas interprete
- Page 24 and 25:
OS PENSADORESse estende do alto a t
- Page 26 and 27:
OS PENSADORESUm átomo não é desi
- Page 28 and 29:
OS PENSADORESnêncía, de explicaç
- Page 30 and 31:
OS PENSADOREStituído por homens qu
- Page 32 and 33:
OS PENSADORESse separam dessa mesma
- Page 34 and 35:
OS PENSADORESintacto o essencial. A
- Page 36 and 37:
OS PENSADOREScomo espiritual, como
- Page 38 and 39:
OS PENSADORESdividido numa esfera d
- Page 40 and 41:
OS PENSADORESque o conteúdo mau ne
- Page 42 and 43:
OS PENSADORESà sobriedade pela qua
- Page 44 and 45:
OS PENSADORESobjeto. Mas, a esse pe
- Page 46 and 47:
OS PENSADOREScom respeito aos objet
- Page 48 and 49:
OS PENSADORESele força o autodespo
- Page 50 and 51:
OS PENSADORESmal menor. Os neopagã
- Page 52 and 53:
OS PENSADORESdemais. Ninguém que o
- Page 54 and 55:
OS PENSADOREScia ao servo que traba
- Page 56 and 57:
OS PENSADOREStrabalho. São as cond
- Page 58 and 59:
OS PENSADORESpoder e impotência, c
- Page 60 and 61:
OS PENSADORESciência, à cega tend
- Page 62 and 63:
OS PENSADORESsobre as quais não se
- Page 65 and 66:
O FETICHISMO NA MÚSICA E AREGRESS
- Page 67 and 68:
ADORNOHuxley levantou em um de seus
- Page 69 and 70:
ADORNOmúsica da opressão mágica
- Page 71 and 72:
ADORNOtecidas, mas antes por rigoro
- Page 73 and 74:
ADORNOmúsica ligeira em oposição
- Page 75 and 76:
ADORNOvicioso fatal: o mais conheci
- Page 77 and 78:
ADORNOcom a música na qual entram
- Page 79 and 80:
ADORNOespecífico caráter fetichis
- Page 81 and 82:
ADORNOo encantamento musical, perec
- Page 83 and 84:
ADORNOjustificar os arranjos. No ca
- Page 85 and 86:
ADORNOmais obscura da técnica do "
- Page 87 and 88:
ADORNOsua destruição, visto que a
- Page 89 and 90:
ADORNOmediação de maneira alguma
- Page 91 and 92:
ADORNOsi mesma se tornam suas víti
- Page 93 and 94:
ADORNOtração atenta, e por isso s
- Page 95 and 96:
ADORNOà consonância que substitui
- Page 97 and 98: ADORNOconseguinte, de duas uma: ou
- Page 99 and 100: ADORNOmodelos comerciais entrelaça
- Page 101 and 102: ADORNOonda é tão maciça, que já
- Page 103 and 104: ADORNOao presente abstrato- Este ef
- Page 105 and 106: ADORNOgor, com seu conformismo. Os
- Page 107 and 108: ADORNOCom muita facilidade toda a m
- Page 109 and 110: A Fred Pollock,no seu septuagésimo
- Page 111 and 112: ADORNOdiante a irrefletida identifi
- Page 113 and 114: ADORNOda ciência, do seu caráter
- Page 115 and 116: ADORNOcente, se bem que não mais c
- Page 117 and 118: ADORNOempírica seria analisar os e
- Page 119 and 120: ADORNOO não ser a dialética um m
- Page 121 and 122: ADORNOficientes para a explicação
- Page 123 and 124: ADORNOà sua contrainte por si mesm
- Page 125 and 126: ADORNOvertida em clientela, sujeito
- Page 127 and 128: ADORNOimporta se conscientemente ou
- Page 129 and 130: ADORNOporque a sociedade recusa aos
- Page 131 and 132: ADORNOtanto os interesses dos membr
- Page 133 and 134: ADORNOcisava dar-se conta de que el
- Page 135 and 136: ADORNOlidade efetiva tranqüilizado
- Page 137 and 138: ADORNOargumentação torna-se quest
- Page 139 and 140: ADORNOde uma maneira grandiosa que
- Page 141 and 142: ADORNOcostumavam denominar de despr
- Page 143 and 144: ADORNOenquanto o impulso popperiano
- Page 145 and 146: ADORNOnistradores individuais. A ad
- Page 147: ADORNOnum sentido aproximativo de u
- Page 151 and 152: ADORNOpara quem o método vale ante
- Page 153 and 154: ADORNOtos; segundo Habermas, "a dep
- Page 155 and 156: ADORNOsocial mundana sobre o espír
- Page 157 and 158: ADORNOde lei. Já não mais detém
- Page 159 and 160: ADORNOconceito de problema aqui uti
- Page 161 and 162: ADORNOcio, não encontra aptidão n
- Page 163 and 164: ADORNOeliminado. Como modelo pode s
- Page 165 and 166: ADORNOso de formas de reação simp
- Page 167 and 168: ADORNOigual a todos os outros impot
- Page 169 and 170: ADORNOda authoritarian personality
- Page 171 and 172: ADORNOlos sentidos, mantém uma ár
- Page 173 and 174: ADORNOPela sua renúncia a exemplos
- Page 175 and 176: ADORNOse restringir aos dados, mas
- Page 177 and 178: ADORNOlosofia. No que é inconfund
- Page 179 and 180: ADORNOcom a consciência das massas
- Page 181 and 182: ADORNOmento de tais faits sociaux c
- Page 183 and 184: ADORNOO que posteriormente se solid
- Page 185 and 186: ADORNOconsciência coletiva que coi
- Page 187 and 188: ADORNOtisfaçam suas exigências, e
- Page 189 and 190: ADORNOseu lugar nas questões da l
- Page 191: ÍNDICEADORNO — Vida e Obra 5Cron