<strong>OS</strong> <strong>PENSADORES</strong><strong>de</strong>sta"; <strong>de</strong> qualquer maneira, o co-relator já havia esclarecido0 equívoco. 1 Ele não é, porém, uma simples contaminação<strong>de</strong> significados diferentes na mesma palavra, mas é fundamentadono conteúdo. Se aceitamos o conceito popperiano<strong>de</strong> crítica, puramente cognitivo ou, se quisermos, "subjetivo",que preten<strong>de</strong> apenas a unanimida<strong>de</strong> do conhecimento e nãoa legitimação da coisa conhecida, então a tarefa do pensamentonão se <strong>de</strong>tém aqui. Pois aqui e ali a razão crítica é amesma; não são duas "faculda<strong>de</strong>s" que entram em ação; ai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> não é mero acaso. A crítica cognitiva <strong>de</strong> conhecimentose sobretudo <strong>de</strong> teoremas também examina necessariamentese os objetos do conhecimento são o que postulam,<strong>de</strong> acordo com seu próprio conceito. Caso contrário seriamformalistas. Nunca a crítica imanente é apenas puramentelógica, mas sempre também <strong>de</strong> conteúdo, confrontação<strong>de</strong> conceito e coisa. Cabe-lhe perseguir a verda<strong>de</strong> que osconceitos, juízos e teoremas querem expressar por si mesmos;e ela não se esgota na harmonia hermética das formaçõesdo pensamento. Em uma socieda<strong>de</strong> amplamente irracionalestá em discussão precisamente o primado cientificamenteestipulado da lógica. O ater-se aos fatos do qual nenhumconhecimento, inclusive o procedimento puramente lógico,po<strong>de</strong> se libertar sem vestígios, exige que a crítica imanente,enquanto aplicada ao referido em proposições científicas enão a "proposições em si", não proceda apenas <strong>de</strong> modo argumentativo,mas examine se as coisas efetivamente se passamassim. Caso contrário, a argumentação cai naquela estupi<strong>de</strong>zque não raro observamos na perspicácia. O conceito<strong>de</strong> argumento não é constituído pelo óbvio, tal como o trataPopper, mas necessitaria <strong>de</strong> análise crítica; o lema fenomenológico"às coisas elas mesmas" já o dava a enten<strong>de</strong>r. A1 Inicialmente <strong>de</strong> se <strong>de</strong>clarou em concordância com a crítica <strong>de</strong> Popper ao "naturalismo oucientificismo metodológico errôneo ou ambíguo" (vi<strong>de</strong> Popper, loc. cit., p. 107 e Adorno."A lógica das ciências sociais", p. 128), mas em seguida não ocultou que, segundo seuconceito <strong>de</strong> critica, teria que ir além do endossado por Popper (vi<strong>de</strong> Adorno, loc. cit., pp.128 ss.).— 136 —
ADORNOargumentação torna-se questionável assim que supõe a lógicadiscursiva em face do conteúdo. Na Ciência da Lógica Hegelquase não argumentou no sentido referido; na introdução àFenomenologia do Espirito exigiu a "contemplação pura". Popper,pelo contrário, vislumbrando a objetivida<strong>de</strong> da ciênciana objetivida<strong>de</strong> do método crítico, a explica com a proposição"<strong>de</strong> que os meios lógicos auxiliares da crítica — a categoriada contradição lógica — são objetivos". 1 Nisto não se erigeuma pretensão <strong>de</strong> exclusivida<strong>de</strong> da lógica formal, como sea crítica possuísse unicamente nesta o seu organon, mas istoé, pelo menos, sugerido. Também Albert, da orientação <strong>de</strong>Popper, não interpretaria <strong>de</strong> outro modo a crítica. 2 Apesar<strong>de</strong> permitir "exames acerca <strong>de</strong> tais conexões fáticas", 3 tal comolembra Habermas, tenciona "mantê-las em separado" das lógicas.A unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ambos os tipos <strong>de</strong> crítica, que tem noconceito <strong>de</strong>stes seu indício, é escamoteada mediante or<strong>de</strong>mconceituai. Contudo, se nas sentenças das ciências sociais aparecemcontradições lógicas, tais como aquela não irrelevante,<strong>de</strong> que o mesmo sistema social libera e escraviza as forçasprodutivas, então a análise teórica se capacita a remeter taisdissonâncias lógicas a momentos estruturais da socieda<strong>de</strong>,não precisando eliminá-las como simples impertinências dopensamento científico, já que somente po<strong>de</strong>m ser suprimidasmediante transformação da realida<strong>de</strong>. Mesmo sendo possívelverter tais contradições em meramente semânticas, mostrando,portanto, que as proposições contraditórias referem-se<strong>de</strong> cada vez a algo diferente, sua configuração estampa aestrutura do objeto muito mais nitidamente do que um procedimentoque se torne cientificamente satisfatório na medidaem que se afasta da insatisfatorieda<strong>de</strong> do objeto do conhecimentoextracientífico. Além disto, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transferircontradições objetivas à semântica po<strong>de</strong>-se vincular ao1 Popper, "A lógica das ciências sociais", em A Disputa do Positivismo..., p. 106.2 Vi<strong>de</strong> Albert, "Im Rücken <strong>de</strong>s Positivismus?" ("Pelas costas do positivismo?"), ibid.,pp. 286 s.3 Id., ibid., p. 288.— 137 —
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