<strong>OS</strong> <strong>PENSADORES</strong>conhecimento das mediações sociais que nela resi<strong>de</strong>m, namedida em que <strong>de</strong> modo algum ela constitui simples veículo<strong>de</strong> relações e interesses sociais. Sua absolutização e sua instrumentação,ambas produtos da razão subjetiva, se complementam.Engajando-se unilateralmente como momento unificador<strong>de</strong> indivíduo e socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com a sistemáticalógica, e <strong>de</strong>svalorizando em epifenômeno o momento antagonistaque não se enquadra numa tal lógica, o cientificismotorna-se falso em face <strong>de</strong> estados <strong>de</strong> coisas centrais. Conformea lógica pré-dialética, o constitutum não po<strong>de</strong> ser constituens,0 condicionado não po<strong>de</strong> ser condição <strong>de</strong> sua própria condição.A reflexão acerca do valor posicionai do conhecimentosocial no interior do que é por ele conhecido impele paraalém <strong>de</strong>sta simples ausência <strong>de</strong> contradição. A imposição doparadoxo, na expressão franca <strong>de</strong> Wittgenstein, testemunhaque em geral a ausência <strong>de</strong> contrarieda<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ser aúltima palavra para o pensamento conseqüente, mesmo alion<strong>de</strong> ele sanciona a sua norma. Aqui se revela <strong>de</strong>cisivamentea superiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Wittgenstein em relação aos positivistasdo círculo <strong>de</strong> Viena: o lógico percebe os limites da lógica.Em seus próprios limites, a relação <strong>de</strong> linguagem e mundo,tal como Wittgenstein a representava para si, não permitiatratamento unívoco. Pois, para ele, a linguagem forma umaconexão <strong>de</strong> imanência fechada em si mesma, através da qualestão mediatizados os momentos do conhecimento que nãosão linguagem, os dados sensíveis, por exemplo; contudo,não está menos inserido no sentido da linguagem o referir-seao que não é linguagem. Esta é tanto linguagem como algoautárquico, dotado das regras do jogo válidas apenas paraela, conforme a suposição cientificista, como também um momentono interior da socieda<strong>de</strong>, fait social.1 Wittgenstein pre-1 O caráter ambíguo da linguagem se expressa pela circunstância, em que está <strong>de</strong> acordocom os positivistas, <strong>de</strong> adquirir objetivida<strong>de</strong> unicamente mediante a intenção subjetiva.Somente quem expressa da melhor maneira possível o que quer dizer subjetivamenteproce<strong>de</strong> <strong>de</strong> conformida<strong>de</strong> com a objetivida<strong>de</strong> da linguagem, fortalecendo-a enquanto todatentativa <strong>de</strong> se confiar ao ser-em-si da linguagem, bem como à sua essência ontológica.
ADORNOcisava dar-se conta <strong>de</strong> que ela se distingue <strong>de</strong> todo ser fático,porque ela é "dada" apenas por seu intermédio, e contudopo<strong>de</strong> ser pensada somente como momento do mundo, doqual, em conformida<strong>de</strong> com sua reflexão, nada po<strong>de</strong> ser conhecidoa não ser através da linguagem. Deste modo, eleatingiu o umbral <strong>de</strong> uma consciência dialética dos assim <strong>de</strong>nominadosproblemas <strong>de</strong> constituição, reduzindo ad absurdumo direito do cientificismo a amputar o pensamento dialético.Isto afeta igualmente a representação cientificista usualdo sujeito, inclusive <strong>de</strong> um sujeito transcen<strong>de</strong>ntal do conhecimento,que, em conformida<strong>de</strong>, é remetido ao seu objetocomo a uma condição da própria possibilida<strong>de</strong>, como tambéma do objeto. Não se constitui mais em um X cujo substratohaveria que compor a partir da conexão <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminaçõessubjetivas, mas também <strong>de</strong>termina, como algo por suavez <strong>de</strong>terminado, a função subjetiva.É certo que a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimentos e não apenas<strong>de</strong> leis naturais é amplamente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> sua gênese.Em Tübingen, relator e correlator concordavam na crítica àsociologia do saber e ao sociologismo do tipo <strong>de</strong> Pareto. Ateoria <strong>de</strong> Marx lhe é contrária: a doutrina da i<strong>de</strong>ologia, dafalsa consciência, da aparência socialmente necessária, seriacompletamente sem sentido quando <strong>de</strong>sprovida do conceito<strong>de</strong> consciência verda<strong>de</strong>ira e verda<strong>de</strong> objetiva. Apesar disto,gênese e valida<strong>de</strong> também não permitem separação isenta<strong>de</strong> contradição. A valida<strong>de</strong> objetiva preserva o momento <strong>de</strong>seu surgimento, que atua permanentemente nela. Por maisincontestável que seja a lógica, o processo <strong>de</strong> abstração quea subtrai à contestação é o da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisória. Ele eliminaculmina no mau subjetivismo da hipóstase <strong>de</strong> figuras da linguagem. Já Benjamin o haviapercebido; no positivismo, exceção feita <strong>de</strong> Wittgenstein, único, qualquer motivo positivistase apresenta carente. A negligência estilística <strong>de</strong> muitos cientificistas, passível <strong>de</strong> racionalizaçãomediante o tabu a respeito do momento expressivo da linguagem, <strong>de</strong>nuncia umaconsciência coisificada. Uma vez que a ciência é dogmaticamente convertida em uma objetivida<strong>de</strong>,que não <strong>de</strong>ve ter passado pelo sujeito, a expressão da linguagem acaba bagatelizada.Quem sempre dispõe estados <strong>de</strong> coisas como sendo em-si, sem mediação subjetiva,para este a formulação torna-se indiferente, à custa da coisa <strong>de</strong>ificada.— 133 —
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