<strong>OS</strong> <strong>PENSADORES</strong>tisfazendo-se com os <strong>de</strong>stroços <strong>de</strong>sprovidos <strong>de</strong> sentido querestaram após a liquidação do i<strong>de</strong>alismo, sem interpretar e<strong>de</strong>scobrir a verda<strong>de</strong>, por sua vez, da liquidação e do liquidado.Em lugar disto, encontra díspar o dado interpretadosubjetivamente, e, <strong>de</strong> modo complementar, as formas purasdo pensamento do sujeito. Estes momentos diferenciados doconhecimento são reunidos pelo cientificismo contemporâneotão superficialmente como o fez outrora a filosofia dareflexão, que por este preciso motivo mereceu a sua críticapela dialética especulativa. A dialética contém também ooposto da hybris i<strong>de</strong>alista. Afasta a aparência <strong>de</strong> qualquer possíveldignida<strong>de</strong> naturalmente transcen<strong>de</strong>ntal do sujeito singular,compreen<strong>de</strong>ndo a este e às suas formas <strong>de</strong> pensamentocomo algo social em si: nesta medida, ela é mais "realista" doque o cientificismo com todos os seus "critérios <strong>de</strong> sentido".Como porém a socieda<strong>de</strong> se compõe <strong>de</strong> sujeitos e seconstitui graças à conexão funcional <strong>de</strong>stes, seu conhecimentopor sujeitos vivos, comensuráveis, resulta muito mais comensurávelà "coisa mesma" do que acontece nas ciências naturais,obrigadas, pela estranheza <strong>de</strong> um objeto, que por suavez não é humano, a transferir a objetivida<strong>de</strong> inteiramenteao mecanismo categorial, à subjetivida<strong>de</strong> abstrata. Freyeratentou para isto; a distinção alemã entre o nomotético e oi<strong>de</strong>ográfico po<strong>de</strong> ser posta fora <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração, tanto maisque uma teoria não simplificada da socieda<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> prescindirdas leis <strong>de</strong> sua mobilida<strong>de</strong> estrutural. A comensurabilida<strong>de</strong>do objeto socieda<strong>de</strong> quanto ao sujeito cognoscenteexiste tanto como não existe; também isto dificilmente po<strong>de</strong>ser conciliado com a lógica discursiva. A socieda<strong>de</strong> é ao mesmotempo inteligível e ininteligível. Inteligível na medidaem que o estado <strong>de</strong> coisas objetivamente <strong>de</strong>terminante datroca implica abstração, <strong>de</strong> acordo com sua própria objetivida<strong>de</strong>,implica um ato subjetivo: nele o sujeito verda<strong>de</strong>iramentereconhece a si mesmo. Isto explica, do ponto <strong>de</strong> vistada teoria científica, por que a sociologia weberiana está centradano conceito da racionalida<strong>de</strong>. Nela ele procurava, não— 126 —
ADORNOimporta se conscientemente ou não, aquela igualda<strong>de</strong> entresujeito e objeto, própria a permitir algo como o conhecimentoda coisa, em lugar <strong>de</strong> seu esfacelamento em fatos reais e dotratamento mecânico <strong>de</strong>stes. Contudo a racionalida<strong>de</strong> objetivada socieda<strong>de</strong>, a da troca, pela dinâmica própria afasta-secada vez mais do mo<strong>de</strong>lo da razão lógica. Por isto a socieda<strong>de</strong>,o que se tornou autônomo, também não continua aser inteligível; o é unicamente a lei <strong>de</strong> autonomização. Ininteligibilida<strong>de</strong><strong>de</strong>signa não somente algo essencial à sua estrutura,mas também a i<strong>de</strong>ologia, mediante a qual se protegeda crítica à sua irracionalida<strong>de</strong>. Porque a racionalida<strong>de</strong>, oespírito, se dissociou como momento parcial dos sujeitos vivos,se limitou à racionalização, ela continua a se movimentarem direção oposta ao sujeito. O aspecto da objetivida<strong>de</strong> comoimutabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> que ela assim se reveste, se reflete novamentena coisificação da consciência cognoscente. A contradiçãono conceito da socieda<strong>de</strong> como inteligível e ininteligívelconstitui o motor da crítica racional a se alastrar pela socieda<strong>de</strong>e pôr seu tipo <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong>, a particular. Procurandoa essência da crítica na eliminação das contradições lógicasdo conhecimento pelo progresso <strong>de</strong>ste, Popper torna seu próprioi<strong>de</strong>al em crítica à coisa, ao ter a contradição seu lugarcognoscível nela e não apenas em seu conhecimento. Umaconsciência que não usa antolhos diante da constituição antagônicada socieda<strong>de</strong>, e também diante da imanente contradição<strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> e irracionalida<strong>de</strong>, precisa partirpara a crítica à socieda<strong>de</strong> sem metábasis eis állo gértos, semoutros meios que os racionais.Habermas, em seu trabalho sobre a teoria analítica daciência, fundamentou a transição à dialética como necessária,tendo em vista o conhecimento específico da ciência social. 1Conforme sua argumentação, não apenas o objeto do conhecimentoé mediatizado pelo sujeito, como, aliás, reconhece1 Vi<strong>de</strong> Juergen Habermas, "Teoria analítica da ciência e dialética, contribuição à controvérsiaentre Popper e Adorno", em A Disputa do Positizrismo..., p. 191.— 127 —
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