<strong>OS</strong> <strong>PENSADORES</strong>buídos a causas falsas, do que regularmente se aproveita ai<strong>de</strong>ologia dominante. Que a socieda<strong>de</strong> não permite ser firmadacomo fato, isto expressa apenas o fato mesmo da mediação:os fatos não são aquilo tido por último e impenetrávelpelo que os consi<strong>de</strong>ra a sociologia dominante, conforme osmo<strong>de</strong>los dos dados sensíveis da teoria mais antiga do conhecimento.Neles se manifesta algo que eles mesmos nãosão. 1 Não é a menos significativa das diferenças entre a concepçãopositivista e a dialética, a <strong>de</strong> que o positivismo, segundoa máxima <strong>de</strong> Schlick, reconhece somente a vigência<strong>de</strong> fenômenos, enquanto a dialética não renuncia à distinçãoentre essência e fenômeno. Por seu lado, constitui uma leisocial que estruturas <strong>de</strong>cisivas do processo social, tais comoa da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> dos supostos equivalentes que são intercambiados,não se evi<strong>de</strong>ncia sem a intervenção da teoria. Dasuspeita daquilo que Nietzsche <strong>de</strong>nominava transmundano,0 pensamento dialético vem ao encontro na medida em quea essência (Wesen) oculta constitui <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, abuso (Unwesen).Irreconciliável com a tradição filosófica, não aceita esta<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m graças à sua violência, mas a critica em sua contradiçãocom o "que se manifesta" e por último com a vidareal dos homens singulares. Há que se apegar à proposiçãohegeliana <strong>de</strong> que é preciso a essência se manifestar; é <strong>de</strong>stemodo que isso incorre na referida contradição com o fenômeno.A totalida<strong>de</strong> não constitui uma categoria afirmativa,mas sim crítica. A crítica dialética se propõe a ajudar a salvarou restaurar o que não está <strong>de</strong> acordo com a totalida<strong>de</strong>, oque se lhe opõe ou o que, como potencial <strong>de</strong> uma individuaçãoque ainda não é, está apenas em formação. A interpretaçãodos fatos conduz à totalida<strong>de</strong>, sem que esta seja,ela própria, um fato. Não há nada socialmente fático quenão tenha seu valor específico nesta totalida<strong>de</strong>. Ela está preor<strong>de</strong>nadaa todos os sujeitos singulares, porque estes obe<strong>de</strong>cem1 Vi<strong>de</strong> Max Horkheimer, loc. cit., pp. 20 s.— 122 —
ADORNOà sua contrainte por si mesmos e até mesmo por sua constituiçãomonadológica, e inclusive, por causa <strong>de</strong>sta, representama totalida<strong>de</strong>. Neste sentido, ela constitui a mais efetivarealida<strong>de</strong>. Na medida em que é a síntese da relação socialdos indivíduos entre si, a obscurecer-se em face do singular,ela, contudo, simultaneamente é também aparência, i<strong>de</strong>ologia.Uma humanida<strong>de</strong> liberada não persiste como totalida<strong>de</strong>;0 ser-em-si <strong>de</strong>sta também é a ausência <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> daquela,tal como a simula a respeito <strong>de</strong> si mesma como sendo overda<strong>de</strong>iro substrato social. E certo que <strong>de</strong>ste modo não selogrou o <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rato <strong>de</strong> uma análise lógica do conceito <strong>de</strong>totalida<strong>de</strong> 1 como <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> contradição objetiva da totalida<strong>de</strong>.Mas a análise livraria o recurso da totalida<strong>de</strong> dacrítica <strong>de</strong> arbitrarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisória. 2 Habermas, assim comoqualquer outro dialético, não nega a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> umaexplicação da totalida<strong>de</strong>, mas sim somente a sua verificabilida<strong>de</strong>conforme o critério dos fatos, que é transcendido pelomovimento à categoria <strong>de</strong> totalida<strong>de</strong>. Da mesma maneira elanão é khorís dos fatos, mas, como sua mediação, lhes é imanente.A totalida<strong>de</strong>, numa formulação provocativa, é aSCHcieda<strong>de</strong> como coisa em si, provida <strong>de</strong> toda carga <strong>de</strong> coisificação.Porém, precisamente porque esta coisa em si aindanão é sujeito social global, ainda não é liberda<strong>de</strong>, mas prosseguecomo natureza heterônoma, cabe-lhe objetivamente ummomento <strong>de</strong> irredutibilida<strong>de</strong>, tal como Durkheim, com suficienteparcialida<strong>de</strong>, a explicava para a essência do social.Nesta medida, ela também é "fática". O conceito <strong>de</strong> faticida<strong>de</strong>,custodiado pela concepção positivista como seu substrato último,é função da mesma socieda<strong>de</strong> a cujo respeito cala asociologia cientificista, insistindo na imperscrutabilida<strong>de</strong> dosubstrato. A separação absoluta entre fato e socieda<strong>de</strong> constituium produto artificial da reflexão a ser <strong>de</strong>duzido e refutadopor meio <strong>de</strong> uma segunda reflexão.1 Albert, "O mito da razão total", em A Disputa do Positivismo..., pp. 197 s.2 í<strong>de</strong>m, ibid., p. 199.— 123 —
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