<strong>OS</strong> <strong>PENSADORES</strong>à argumentação, sofre a ameaça <strong>de</strong> serem reconhecidas semdiscussão as regras do jogo <strong>de</strong> uma das posições, que nãoperfazem por último o objeto <strong>de</strong> discussão.A observação do correlatar, <strong>de</strong> não se tratar <strong>de</strong> umadiferença <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vista mas <strong>de</strong> oposições <strong>de</strong>cidíveis,foi respondida por Dahrendorf com a pergunta "se o primeironão seria falso e o segundo verda<strong>de</strong>iro". 1 E certo que, emconseqüência, as posições não excluiriam discussão e argumentos,as diferenças na natureza da argumentação contudosão tão profundas, "que é preciso duvidar se Popper e Adornosão capazes <strong>de</strong> concordar quanto a um único procedimentosequer, com cujo auxílio permitir-se-iam <strong>de</strong>cidir suasdiferenças". 2 A pergunta tem proprieda<strong>de</strong>: ela admite respostaapenas uma vez realizada a tentativa <strong>de</strong> provocar umatal <strong>de</strong>cisão, não antes. Somos impelidos à tentativa, porquea tolerância pacífica para dois tipos diferentes <strong>de</strong> sociologia,coexistentes lado a lado, não conduziria a nada melhor doque a neutralização da enfática pretensão <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>. A tarefase apresenta paradoxalmente: discutir as questões controversassem preconceito logicista, mas também sem dogmatismo.Os esforços neste sentido, e não astuciosos artifícioserísticos, constituem o que Habermas quer dizer com as formulações"infiltrar sob" ou "por trás das costas". Haveria <strong>de</strong>ser encontrado um local espiritual, em que pu<strong>de</strong>sse existirconcordância, sem contudo aceitar um cânone tematizadona controvérsia mesma; uma terra <strong>de</strong> ninguém do pensamento.Este local não <strong>de</strong>ve ser imaginado, conforme o mo<strong>de</strong>loda lógica da proporcionalida<strong>de</strong>, como ainda mais geral doque as duas posições em choque. Obtém sua concreção, porquetambém a ciência, incluída a lógica formal, não é apenasforça social produtiva, mas igualmente relação social <strong>de</strong> produção.Resta saber se isto é aceitável para os positivistas;abala criticamente a tese fundamental da autonomia absoluta1 Dahrendorf, loc. cit., p. 150.2 Loc. cit., p. 151.— 112 —
ADORNOda ciência, do seu caráter constitutivo para qualquer conhecimento.Haveria que questionar se é válida uma disjunçãoconvincente entre o conhecimento e o processo <strong>de</strong> vida real;se, ao contrário, o conhecimento não é mediatizado em relaçãoa este, e mesmo se sua própria autonomia, medianteo que se tornou in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e se objetivou produtivamentediante <strong>de</strong> sua gênese, não é por sua vez <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> suafunção social; se não constitui uma conexão <strong>de</strong> imanência,e igualmente, conforme sua constituição como tal, se se situanum campo circundante, atua também sobre sua estruturaimanente. Uma tal ambigüida<strong>de</strong>, por mais plausível, seriaconflitante com o princípio da não-contradição, pois a ciênciaseria autônoma, e não o seria. Uma dialética que sustentaisto <strong>de</strong>ve tampouco, como em qualquer outra parte, comportar-secomo "pensamento privilegiado"; não <strong>de</strong>ve apresentar-secomo uma capacida<strong>de</strong> particular subjetiva, com queum é dotado e que é negado ao outro, ou até se fazer passarpor intuicionismo. Por outro lado, os positivistas precisamfazer o sacrifício <strong>de</strong> abandonar a posição <strong>de</strong>nominada porHabermas <strong>de</strong> "não-estou-enten<strong>de</strong>ndo", não <strong>de</strong>squalificar simplesmentecomo ininteligível tudo o que não é concor<strong>de</strong> comcategorias como os seus "critérios <strong>de</strong> sentido". Em face dahostilida<strong>de</strong> a se propagar contra a filosofia, não conseguimosabandonar a suspeita <strong>de</strong> que alguns sociólogos querem obstinadamentese livrar do próprio passado, contra o que estecostuma se vingar.Prima vista, a controvérsia se apresenta como se os positivistasrepresentassem um rigoroso conceito <strong>de</strong> valida<strong>de</strong>científica objetiva, diluído pela filosofia; os dialéticos seduzem,conforme o insinua a tradição filosófica, <strong>de</strong> modo especulativo.É certo que nisto o uso da linguagem transformao conceito <strong>de</strong> especulativo em seu oposto. Ele não é maisinterpretado, como em Hegel, no sentido <strong>de</strong> auto-reflexãocrítica do entendimento, sua limitação e sua correção, masinadvertidamente <strong>de</strong> acordo com o mo<strong>de</strong>lo popular, que sobreespeculativo imagina aquele que pensa futilmente sem— 113 —
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