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OS PENSADORES - MOM. Morar de Outras Maneiras.

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ADORNOCom muita facilida<strong>de</strong> toda a música soa hoje como aos ouvidos<strong>de</strong> Nietzsche soava o Parsifal. Lembra ritos incompreensíveise máscaras que sobrevivem dos tempos antigos.O rádio, que projeta excessiva luz sobre a música, concorrepara tanto. Talvez esta <strong>de</strong>cadência aju<strong>de</strong> um dia a levar aoinesperado. E possível que um dia soe uma hora mais felizpara os jovens "mo<strong>de</strong>rninhos", a hora que requeira antes aa<strong>de</strong>quação rápida com matérias previamente fabricadas, aalteração improvisadora das coisas, do que aquele gênero<strong>de</strong> começo radical que só floresce sob a proteção do inabalávelmundo real. Mesmo a disciplina po<strong>de</strong> ser expressão <strong>de</strong>livre solidarieda<strong>de</strong>, quando o seu conteúdo for a liberda<strong>de</strong>.Embora a audição regressiva não constitua sintoma <strong>de</strong> progressona consciência da liberda<strong>de</strong>, é possível que inesperadamentea situação se modificasse, se um dia a arte, <strong>de</strong> mãosdadas com a socieda<strong>de</strong>, abandonasse a rotina do sempre igual.Para esta possibilida<strong>de</strong> a música produziu um mo<strong>de</strong>lo:não a música popular, mas a artística. Não é em vão queMahler constitui o escândalo secreto <strong>de</strong> toda a estética musicalburguesa. Qualificam-no <strong>de</strong> carente <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> criativaporque ele <strong>de</strong>ixa em suspenso seu próprio conceito <strong>de</strong>"criar". Tudo aquilo que Mahler manipula já existe. Toma-ocomo é em sua forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>pravação. Seus temas não sãoseus, são <strong>de</strong>sapropriados. A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong>ste fato, nenhum dosseus temas apresenta o som habitual, todos são guiados comopor um ímã. Precisamente o que já está "gasto" ce<strong>de</strong> maleavelmenteà mão improvisadora; precisamente os temas "batidos"recebem nova vida como variações. Assim como oconhecimento que o motorista possui do seu carro velho eusado po<strong>de</strong> capacitá-lo a conduzi-lo pontualmente ao termo<strong>de</strong>sejado, da mesma forma po<strong>de</strong> a expressão <strong>de</strong> uma melodiabatida e repisada posta em tensão sob o som agudo da clarinetaem mi bemol e <strong>de</strong> oboés em registros altos atingirpíncaros que a linguagem musical escolhida jamais atingiusem perigo. Tal música consegue assumir os elementos <strong>de</strong>pravadose formar um conjunto realmente novo, mas é in-— 107 —

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