<strong>OS</strong> <strong>PENSADORES</strong><strong>de</strong> verificação e organizam concursos, nos quais vence quemapresentar o maior número <strong>de</strong> tais fichas. Dentre os ouvintesfetichistas, o mais perfeito é talvez o radioamador. O queouve, e mesmo a maneira como ouve, lhe é totalmente indiferente;o que lhe interessa é tão-somente saber que estáouvindo, e que consegue, através do seu aparelho particular,introduzir-se no mecanismo público, embora não consigaexercer sobre este a mínima influência. Imbuídos do mesmoespírito, incontáveis são os rádio-ouvintes que manobram obotão sintonizador e o regulador <strong>de</strong> volume do seu aparelho,sem eles mesmos "fabricarem" tais aparelhos. Outros há quesão mais entendidos, ou pelo menos mais agressivos. São osmoços "mo<strong>de</strong>rninhos", que em toda parte se sentem à vonta<strong>de</strong>e que têm capacida<strong>de</strong> para tudo: é o estudante <strong>de</strong> escolasuperior ou faculda<strong>de</strong>, que em qualquer ambiente social estádisposto a tocar jazz mecanicamente para os <strong>de</strong>mais dançaremou ouvirem; ou então trata-se do frentista do posto <strong>de</strong>gasolina, que cantarola <strong>de</strong>scontraidamente as suas síncopesao abastecer os carros que aparecem. Ou então, trata-se doperito <strong>de</strong> audição que é capaz <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar cada banda ese aprofunda na história do jazz como se fosse a históriasagrada. É o que mais se aproxima do esportista: se não dopróprio jogador <strong>de</strong> futebol, em todo caso do torcedor fanfarrãoque domina as tribunas dos estádios. Brilha pela capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> improvisação, embora tenha que tocar pianoem casa durante horas, para po<strong>de</strong>r executar os ritmos fantasmagóricosque lhe apresentam. Este tipo <strong>de</strong> "mo<strong>de</strong>rninho"se apresenta como o in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte que assobia <strong>de</strong>scontraidamente,contra todo mundo. Mas, no fundo, a melodia queassobia é a que todo mundo canta, e os seus estratagemasconstituem, mais do que invenções do momento, experiênciasacumuladas no contato com os objetos técnicos impostos pelapropaganda. As suas improvisações são sempre gestos <strong>de</strong>hábil subordinação àquilo que lhe é ditado pelos organismosdirigentes. O motorista é o protótipo do ouvinte "mo<strong>de</strong>rninho".A sua concordância com tudo o que está na crista da—100 —
ADORNOonda é tão maciça, que já não opõe a menor resistência anada, mas faz sempre o que lhe é exigido, a fim <strong>de</strong> que tudofuncione tranqüilamente. Ele mesmo, porém, afirma que nãoestá sujeito à máquina dirigente, mas a domina. Em conseqüência,a rotina soberana do amador <strong>de</strong> jazz é apenas acapacida<strong>de</strong> passiva <strong>de</strong> não <strong>de</strong>ixar-se <strong>de</strong>sviar por nada naadaptação dos padrões. Ele é o verda<strong>de</strong>iro sujeito do jazz:as suas improvisações vêm do esquema; comanda o esquema,com o cigarro na boca, tão displicentemente como se ele mesmoo tivesse inventado.Os ouvintes regressivos apresentam muitos traços emcomum com o homem que precisa matar o tempo porquenão tem outra coisa com que exercitar o seu instinto <strong>de</strong> agressão,e com o trabalhador <strong>de</strong> meio expediente. Precisa-se dispor<strong>de</strong> muito tempo livre e <strong>de</strong> muito pouca liberda<strong>de</strong> ouficar colado o dia inteiro ao rádio para tornar-se um bomperito em jazz; e a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar conta, com a mesma<strong>de</strong>senvoltura, tanto das síncopes do jazz como dos ritmosfundamentais, é comparável à do funileiro <strong>de</strong> automóveis,que se consi<strong>de</strong>ra capaz <strong>de</strong> consertar alto-falantes e instalaçõeselétricas. Os mo<strong>de</strong>rnos ouvintes assemelham-se a certo tipo<strong>de</strong> mecânicos, especializados e ao mesmo tempo capazes <strong>de</strong>empregar os seus conhecimentos técnicos em misteres inesperados,fora do ofício que apren<strong>de</strong>ram. Entretanto, o abandonoda sua especialização só aparentemente os ajuda a selibertarem do sistema. Quanto mais intensamente se <strong>de</strong>dicamàs exigências do seu ofício, tanto mais se escravizam aosditames do sistema. A constatação resultante <strong>de</strong> uma pesquisa,<strong>de</strong> que entre rádio-ouvintes os amigos da música ligeirase <strong>de</strong>monstram <strong>de</strong>spolitizados, não é casual. A possibilida<strong>de</strong>do refúgio individual e da segurança pessoal, questionávelcomo sempre, impe<strong>de</strong> o olhar <strong>de</strong> perceber a modificaçãodo estado no qual se quer procurar guarida. A experiênciasuperficial o contradiz. A "geração jovem" — o próprioconceito constitui uma simples capa i<strong>de</strong>ológica — pareceprecisamente, em razão da nova maneira <strong>de</strong> ouvir, estar em— 101 —
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