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Boletim nº 3 - Escola Superior de Educação de Viana do Castelo ...

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EditorialO <strong>Boletim</strong> <strong>nº</strong> 3 “Educar sem Fronteiras” acompanha aevolução <strong>de</strong>ste programa <strong>de</strong> internacionalização e cooperaçãoao longo <strong>de</strong> 2006, <strong>de</strong>bruçan<strong>do</strong>-se sobre as principais iniciativasimplementadas pelo GEED em articulação com vários parceiros.Estas vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o voluntaria<strong>do</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento no interiorda Guiné-Bissau (em parceria com o ISU-núcleo <strong>de</strong> <strong>Viana</strong>), àCampanha Global pela <strong>Educação</strong>, à situação <strong>do</strong> centro <strong>de</strong> recursos<strong>de</strong> Assomada, Santa Catarina, conforme testemunho <strong>do</strong> Delega<strong>do</strong>da <strong>Educação</strong>, Prof. Joaquim Furta<strong>do</strong> (que consi<strong>de</strong>ra o centro“uma das melhores coisas que Assomada teve nos últimos anos”)e ao último curso livre “Culturas <strong>do</strong> Desenvolvimento e Cidadania”que foi consagra<strong>do</strong> à problemática da cooperação e educaçãocomo resposta humanitária.Lançamento <strong>do</strong> livroEste boletim edita um artigo escrito pelos interlocutoresinternacionais da INEE (Re<strong>de</strong> Inter-Institucional para a <strong>Educação</strong>em Situação <strong>de</strong> Emergência), não só porque a ESE-IPVC estáa apostar nesta área <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos contextos on<strong>de</strong> está a implementaro Programa Educar sem Fronteiras, mas também tem esta<strong>do</strong> adivulgar os projectos e materiais <strong>de</strong>sta re<strong>de</strong> no quadro <strong>do</strong>s paíseslusófonos.Ao <strong>de</strong>bruçar-se sobre a temática da educação em paísesfrágeis e ao lançar um olhar mais atento sobre a situação educativa<strong>de</strong> Angola no quadro <strong>do</strong> pós-guerra, o boletim tenta chamar aatenção para os gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios que se colocam aos sistemas<strong>de</strong> educação no perío<strong>do</strong> da reconstrução. Para isto, contribuem3 artigos relevantes escritos por Luísa Grilo e Filipe Zau (Ministérioda <strong>Educação</strong>) e por Fernan<strong>do</strong> Pacheco, presi<strong>de</strong>nte da ADRA(Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente). Estes textosdiscutem aspectos históricos, culturais, linguísticos que sãoessenciais para a nossa compreensão da complexida<strong>de</strong> da actualrealida<strong>de</strong> educativa <strong>de</strong> Angola. Põem, por exemplo no caso daADRA, em relevo o papel inova<strong>do</strong>r que as ONG’s po<strong>de</strong>m trazerao <strong>do</strong>mínio da educação. Haven<strong>do</strong> tão poucos elementos escritossobre o sistema educativo <strong>de</strong> Angola, também estes contributossão fundamentais para aqueles que preten<strong>de</strong>m encetar caminhos<strong>de</strong> cooperação educativa com Angola.O <strong>Boletim</strong> não podia ainda <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> contemplar asvivências daqueles que têm passa<strong>do</strong> por <strong>Viana</strong> <strong>do</strong> <strong>Castelo</strong> àprocura <strong>de</strong> uma experiência <strong>de</strong> educação internacional noscontextos <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento africano. As crónicas sobre <strong>do</strong>ispaíses (Benjamim Moreira em Santa Catarina e Cristina Rodriguesno interior da Guiné-Bissau) ilustram a gran<strong>de</strong> riqueza que po<strong>de</strong>constituir uma experiência <strong>de</strong> cooperação longe da capital e queacentua a dimensão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento muito próxima <strong>do</strong>sactores.Finalmente, é <strong>de</strong> salientar que a ESE-IPVC vai novamentepreparar a Campanha Global pela <strong>Educação</strong> que, em 2007, terácomo tema a educação como um direito humano. É, certamente,neste movimento e com este espírito que têm si<strong>do</strong> concretizadasas acções <strong>do</strong> programa “Educar sem Fronteiras”. Este está a sero nosso contributo, ainda que mo<strong>de</strong>sto, para que muitas crianças,professores e professoras possam ter uma vida com dignida<strong>de</strong>.Os Requisitos Mínimos para a<strong>Educação</strong> em Situação <strong>de</strong> Emergênciasão um manual e também a expressão<strong>de</strong> um compromisso <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> através<strong>de</strong> um amplo processo <strong>de</strong> colaboração.Neste processo, to<strong>do</strong>s os indivíduos –crianças, jovens e adultos – têm o direitoà educação durante as situações <strong>de</strong>emergência. Os requisitos expressam osprincípios fundamentais <strong>do</strong> ProjectoEsfera: <strong>de</strong> que to<strong>do</strong>s os passos <strong>de</strong>vemser da<strong>do</strong>s para aliviar o sofrimentohumano que advém das calamida<strong>de</strong>s econflitos e que as pessoas afectadaspelas catástrofes têm o direito a uma vidacom dignida<strong>de</strong>Esta edição em língua portuguesaesteve a cargo <strong>do</strong> Gabinete <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>spara a <strong>Educação</strong> e Desenvolvimento(GEED), traduzida <strong>de</strong> uma formain<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte através <strong>do</strong>s seuscolabora<strong>do</strong>res, no âmbito <strong>do</strong> ContratoPrograma Educar sem Fronteiras,financia<strong>do</strong> pelo Ministério da Ciência,Tecnologia e Ensino <strong>Superior</strong> Português.O seu lançamento teve lugar em Junho<strong>do</strong> presente ano, integra<strong>do</strong> no Curso Livre“Culturas <strong>do</strong> Desenvolvimento eCidadania”, com a presença da focal point(interlocutora) mundial para os RequisitosMínimos da INEE, Allison An<strong>de</strong>rson.Júlio Santos - GEED1Novembro Maio 2006 - educ@r sem fronteiras


Programa Educar SemFronteiras no FestivalPare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Coura 2006Outras culturas no festival…Integra<strong>do</strong> na Tenda Tecnológica <strong>do</strong> Instituto Politécnico<strong>de</strong> <strong>Viana</strong> <strong>do</strong> <strong>Castelo</strong>, o Programa Educar Sem Fronteiras <strong>do</strong>Gabinete <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s para a <strong>Educação</strong> e Desenvolvimento(GEED) da <strong>Escola</strong> <strong>Superior</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> <strong>de</strong> <strong>Viana</strong> <strong>do</strong> <strong>Castelo</strong>,proporcionou a to<strong>do</strong>s os presentes no Festival uma mostrafotográfica <strong>do</strong>s seus trabalhos, um SPOT informativo <strong>do</strong>Gabinete e da Campanha Global pela <strong>Educação</strong> e a distribuição<strong>de</strong> alguns elementos <strong>de</strong> divulgação <strong>de</strong>ste Programa <strong>de</strong>cooperação.Esta iniciativa, que surgiu no seguimento <strong>do</strong> apoiopresta<strong>do</strong> pelo João Carvalho, promotor <strong>de</strong>ste importante festival<strong>de</strong> Verão no apoio à Campanha Global Pela <strong>Educação</strong>, tevecomo objectivos sensibilizar os presentes para as questões daeducação para o <strong>de</strong>senvolvimento e da cooperação com ospaíses <strong>do</strong> sul; e mostrar o trabalho realiza<strong>do</strong> pelo GEED emAngola, Cabo Ver<strong>de</strong>, Guiné-Bissau, Sri Lanka e Portugal.Jornal <strong>de</strong> Notícias, 16 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2006Opiniões <strong>de</strong> alguns visitantes• Parabéns pela iniciativa, o mun<strong>do</strong> com a vossa ajuda po<strong>de</strong>transformar-se num local mais “bonito” para to<strong>do</strong>s… Contem comigo!A exposição tentou espelhar os contextos tão varia<strong>do</strong>se complexos, as imagens testemunham os quotidianos e aspráticas da educação e cooperação para o <strong>de</strong>senvolvimentolocal. Des<strong>de</strong> o interior <strong>de</strong> Angola (províncias <strong>de</strong> Malanje eHuambo, afectadas pela guerra) e da Guiné-Bissau (região <strong>de</strong>Gabú), passan<strong>do</strong> por Cabo Ver<strong>de</strong> (interior da ilha <strong>de</strong> Santiago),pelo Sri Lanka (no quadro <strong>do</strong> pós-tsunami) e por <strong>Viana</strong> <strong>do</strong><strong>Castelo</strong> ("Campanha Global para a <strong>Educação</strong>"), foi possívelrevelar uma forma <strong>de</strong> ver e enten<strong>de</strong>r uma parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> quese abre a quem envereda pelos caminhos da cooperação parao <strong>de</strong>senvolvimento, quer como técnico, quer como voluntário.• Simplesmente fantástico!São actos como este que po<strong>de</strong>rão fazer <strong>de</strong> nós pessoas melhores,habitantes <strong>de</strong> um mun<strong>do</strong> em que to<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>rão sorrir… Muitosparabéns e obrigada por mostrar estas imagens!• Ao visitar esta exposição a vonta<strong>de</strong> que sempre tive <strong>de</strong> participarem iniciativas como estas cresceu ainda mais! Continuem a “lutar”por um mun<strong>do</strong> mais risonho e bonito.• Desejo a vós que necessitam, uma vida melhor… um mun<strong>do</strong>melhor… tu<strong>do</strong> <strong>de</strong> bom!• Obriga<strong>do</strong> por este trabalho. É importante haver quem se lembre<strong>de</strong> nós.• A iniciativas como estas, resta-me apenas dar os parabéns àspessoas que dão o seu tempo a estas causas.Muitos parabéns por isso!A mostra tentou também suscitar a reflexão sobre o"outro" e sua maneira <strong>de</strong> ver o mun<strong>do</strong>, fazen<strong>do</strong>-nos, ao mesmotempo, re<strong>de</strong>scobrir e repensar a nossa socieda<strong>de</strong> e a nossaeducação. Neste senti<strong>do</strong>, algumas imagens são,propositadamente, uma homenagem àqueles que, nas suascomunida<strong>de</strong>s, vão, cada dia, conseguin<strong>do</strong> que a educação esaú<strong>de</strong> se afirmem como um direito básico.Pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Coura, 2006educ@r sem fronteiras - Novembro 20062


Voluntaria<strong>do</strong> e CidadaniaVoluntaria<strong>do</strong>, Cooperaçãoe Desenvolvimento na Guiné-BissauO ISU-<strong>Viana</strong> foi até à Guiné-Bissau entre Julho aSetembro <strong>de</strong>ste ano, fazen<strong>do</strong>-se representar por um grupo <strong>de</strong>voluntárias que <strong>de</strong>senvolveu activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação eanimação comunitária na região leste daquele país: Gabú.Esta intervenção foi <strong>de</strong>senhada no âmbito <strong>do</strong>s projectosNô Djunta Mon - NDM (Nós Juntamos as Mãos), iniciativa <strong>de</strong>voluntaria<strong>do</strong> para a cooperação, especialmente, dirigi<strong>do</strong> aestudantes universitários.To<strong>do</strong>s os participantes passam por um processo <strong>de</strong>formação específica, que abrange conteú<strong>do</strong>s tais comovoluntaria<strong>do</strong>, cooperação, <strong>de</strong>senvolvimento, concepção <strong>de</strong>projectos e cultural local; selecção e posterior preparação paraa sua permanência no terreno, quer profissionalmente, querpessoalmente.Deste processo, resultou uma equipa <strong>de</strong> seis elementos:Marina Rodrigues e Diana Domingues, estudantes na <strong>Escola</strong><strong>Superior</strong> <strong>de</strong> Enfermagem <strong>do</strong> Instituto Politécnico <strong>de</strong> <strong>Viana</strong> <strong>do</strong><strong>Castelo</strong>; Eduarda Ca<strong>de</strong>co, estudante <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> <strong>de</strong> Infânciana <strong>Escola</strong> <strong>Superior</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> <strong>do</strong> Instituto Politécnico <strong>de</strong><strong>Viana</strong> <strong>do</strong> <strong>Castelo</strong>; Rita Morga<strong>do</strong>, licenciada em Ensino <strong>de</strong>Matemática; Fátima Amorim e Andreia Soares, presi<strong>de</strong>nte ecoor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> ISU-<strong>Viana</strong>, respectivamente. .Este ano, o Nô Djunta Mon teve lugar em <strong>do</strong>is locais <strong>de</strong>intervenção: a Tabanca (al<strong>de</strong>ia) <strong>de</strong> Béli e a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gabú(capital <strong>de</strong> província). Em Béli, a presença <strong>do</strong> ISU resultou daparceria com a Divutec - Associação Guineense <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s eDivulgação <strong>de</strong> Tecnologias Apropriadas, a qual, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há algunsanos, se tem vin<strong>do</strong> a ser reforçada e da qual resultaram jáprojectos muito frutíferos. Em Gabú, o trabalho da equipa foi<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> no Centro Regional Multifuncional para aJuventu<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> se situa o Centro <strong>de</strong> Recursos Educ@r SemFronteiras, equipa<strong>do</strong> pela <strong>Escola</strong> <strong>Superior</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> <strong>do</strong>Instituto Politécnico <strong>de</strong> <strong>Viana</strong> <strong>do</strong> <strong>Castelo</strong>. Este CentroMultifuncional é uma estrutura pública colocada à disposiçãodas camadas mais jovens da região <strong>de</strong> Gabú. De salientarainda que esses jovens estão maioritariamente envolvi<strong>do</strong>s emassociações juvenis locais. Des<strong>de</strong> material informático,bibliográfico, aparelhos <strong>de</strong> som e imagem e iniciativas <strong>de</strong>planeamento familiar, tu<strong>do</strong> é coloca<strong>do</strong> ao dispor <strong>de</strong>ste públicoalvo.Aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> às características <strong>do</strong> centro, às necessida<strong>de</strong>slocais e sugestões <strong>do</strong>s parceiros locais, as activida<strong>de</strong>s realizadasconsistiram em: formação <strong>de</strong> professores nas áreas damatemática e educação pré-escolar - acções realizadas como apoio da Direcção Regional <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> <strong>de</strong> Gabú; formação<strong>de</strong> li<strong>de</strong>res associativos juvenis, com o apoio <strong>do</strong> CentroMuntifuncional e o Centro Regional <strong>de</strong> Juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gabú,abrangen<strong>do</strong> temas como Associativismo, Desenvolvimento,Participação, Cidadania e Sensibilização para a problemática<strong>do</strong> HIV/SIDA, planeamento familiar e higiene pessoal ecomunitária.Em Gabú, um <strong>do</strong>s objectivos primordiais da intervençãoNDM no Centro Muntifuncional para a Juventu<strong>de</strong> era adinamização <strong>do</strong> próprio Centro <strong>de</strong> Recursos Educ@r SemFronteiras, <strong>de</strong> forma a fortalecer a relação da comunida<strong>de</strong> localcom aquele espaço para que se apropriem <strong>de</strong>le, dan<strong>do</strong>seguimento às activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>pois da permanência da equipa.Em Béli, os conteú<strong>do</strong>s e meto<strong>do</strong>logias das activida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> formação e animação comunitária foram <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong>s entre aequipa NDM, os parceiros locais, DIVUTEC e Delegaçõessectoriais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e <strong>Educação</strong> <strong>de</strong> Béli, e ainda os própriosforman<strong>do</strong>s. A partir <strong>de</strong>sta negociação foram dinamizadasiniciativas <strong>de</strong> apoio aos professores nas áreas da matemática,<strong>de</strong> primeiros socorros e língua portuguesa, sen<strong>do</strong> os<strong>de</strong>stinatários professores <strong>do</strong> ensino básico; <strong>de</strong> formação <strong>de</strong>Agentes <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Básica (Socorristas) e Matronas (Parteiras)nas áreas da Primeiros Socorros, Higiene e Cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<strong>de</strong> dinamização da rádio comunitária Colinas <strong>de</strong> Boé; <strong>de</strong>sensibilização para a prevenção <strong>do</strong> HIV/SIDA, planeamentofamiliar e higiene comunitária dirigida aos jovens da tabanca<strong>de</strong> Béli e arre<strong>do</strong>res.3Novembro 2006 - educ@r sem fronteiras


Formação <strong>de</strong> professores, Gabú , 2006Nas diferentes activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> avaliação pelos forman<strong>do</strong>se pela comunida<strong>de</strong>, os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s confirmam a impressãoda equipa <strong>de</strong> que o trabalho implementa<strong>do</strong> atingiu os objectivosinicialmente traça<strong>do</strong>s <strong>de</strong> contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento dasrespectivas comunida<strong>de</strong>s, dinamizan<strong>do</strong> os seus espaços sociais.Os resulta<strong>do</strong>s da avaliação individual <strong>do</strong>s elementos da equipa,ao consi<strong>de</strong>rarmos as impressões <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os intervenientesna dinâmica NDM asseguram que a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste projectoserá uma mais valia para as comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Gabú e Béli, istoé, com to<strong>do</strong>s aqueles com quem temos vin<strong>do</strong> a trabalhar <strong>de</strong>s<strong>de</strong>2004.No senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> dar a conhecer um pouco melhor otrabalho <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pelas voluntárias ISU-<strong>Viana</strong> em Béli eGabú durante Julho, Agosto e Setembro <strong>de</strong> 2006 a equipaprepara já uma exposição que estará presente em todas asescolas <strong>do</strong> Instituto Politécnico <strong>de</strong> <strong>Viana</strong> <strong>do</strong> <strong>Castelo</strong>. Com istopreten<strong>de</strong>mos que os estudantes percebam e sintam aproximida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta dinâmica e que possam vir a integrar projectos<strong>de</strong>sta natureza.Se algumas das características prinicipais <strong>de</strong>ste projectoscom a filosofia NDM são a proximida<strong>de</strong> com a comunida<strong>de</strong>(nunca <strong>de</strong>scuran<strong>do</strong> as suas próprias necessida<strong>de</strong>s, o queinfluencia os planos <strong>de</strong> trabalho na medida em que se preten<strong>de</strong>contribuir <strong>de</strong> certa forma para a minimização <strong>de</strong> algunsproblemas sociais) e o crescimento pessoal (implícito àscondições <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida que os voluntários vivenciamdurante cerca <strong>de</strong> <strong>do</strong>is meses, como foi o caso) po<strong>de</strong>mos entãodizer que o projecto foi, <strong>de</strong> facto, um sucesso.educ@r sem fronteiras - Novembro 20064


Olhan<strong>do</strong>, agora, para este passa<strong>do</strong> próximo e fazen<strong>do</strong>uma análise mais madura, longe das emoções fortes que ocontinente Africano continua a <strong>de</strong>spertar, mesmo naquelesmais <strong>de</strong>screntes neste trabalho pela mediatização que se dáa toda a questão da cooperação com África ou por qualquerapren<strong>de</strong>r novas formas <strong>de</strong> vida que po<strong>de</strong>m criar condiçõespara que, enquanto cidadãos activos possamos dar o nossocontributo consciente na diminuição das barreiras que, muitasvezes, parecem inultrapassáveis entre o Norte e Sul… e queestes projectos <strong>de</strong>monstram que não o são.outra razão, acreditamos que este tipo <strong>de</strong> experiências é,verda<strong>de</strong>iramente, uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescer emconhecimento e entendimento <strong>de</strong> alguma questões até aíverda<strong>de</strong>iras incógnitas. É ainda uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nos<strong>de</strong>ixarmos contagiar pela cultura africana que nos ajuda aA equipa NDM fala mantenhas (cumprimentos) a to<strong>do</strong>squantos contribuíram para o sucesso <strong>do</strong> NDM 2006, bem comoaqueles que já colaboram na i<strong>de</strong>alização <strong>do</strong> NMD 2007…ISU - <strong>Viana</strong>12 31 - Grupo <strong>de</strong> jovens que trabalharam com a equipa NDM, Gabú, 20062 - Formação <strong>de</strong> professores, Gabú , 20063 - Formação <strong>de</strong> Lí<strong>de</strong>res Associativos, Gabú, 20065Novembro 2006 - educ@r sem fronteiras


Apren<strong>de</strong>r a apoiar a educação nos países frágeis*O Grupo <strong>do</strong>s Países Frágeis integra<strong>do</strong> no Comité <strong>de</strong> Apoioao Desenvolvimento – (CAD) da Organização para aCooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) estáa trabalhar no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> aconselhar os <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res no apoioà educação nos “países frágeis”. 1O Grupo <strong>do</strong>s Países Frágeis é constituí<strong>do</strong> porespecialistas em governação, prevenção <strong>de</strong> conflitos ereconstrução <strong>de</strong> agência <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento bilaterais emultilaterais para facilitar a coor<strong>de</strong>nação e partilha <strong>de</strong> boaspráticas para aumentar a eficácia <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento nos“países frágeis”.O CAD caracteriza os países frágeis como sen<strong>do</strong>aqueles on<strong>de</strong> existe uma falta <strong>de</strong> compromisso político ou umafraca capacida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>senvolver e implementar políticas afavor <strong>do</strong>s pobres. Tais países ten<strong>de</strong>m a ser caracteriza<strong>do</strong>scomo possuin<strong>do</strong> uma governação fraca e com tendência paraos conflitos violentos. Neles vivem um sétimo da populaçãomundial, um terço daqueles que vivem com menos <strong>de</strong> um dólarpor dia e meta<strong>de</strong> das crianças que morrem antes <strong>de</strong> atingir aida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cinco anos. Mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> <strong>do</strong>s cerca <strong>de</strong> 115 milhões<strong>de</strong> crianças que não frequentam a escola primária vivem empaíses frágeis.O CAD i<strong>de</strong>ntificou quarto tipos <strong>de</strong> países frágeis: em<strong>de</strong>terioração (<strong>de</strong>teriorating); <strong>de</strong>senvolvimento para<strong>do</strong> (arrested<strong>de</strong>velopment); recuperação recente (early recovery); e pós--conflito (post-conflict). Esta tipologia é útil quan<strong>do</strong> que pensaem diferentes estratégias <strong>de</strong> resposta. Por exemplo, emsituações <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração não será fiável, nem apropria<strong>do</strong>trabalhar com o esta<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>, talvez seja possível trabalharcom as comunida<strong>de</strong>s no planeamento a longo prazo e no apoiosustentável ao sistema educativo enquanto que o esta<strong>do</strong> vai<strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> as suas capacida<strong>de</strong>s. Durante a fase <strong>de</strong>recuperação recente, os <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res po<strong>de</strong>m trabalhar la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>com os parceiros governamentais numa transição gradual paraque o esta<strong>do</strong> possa <strong>de</strong>sempenhar um papel maior naorganização <strong>do</strong>s serviços educativos. No entanto, há oreconhecimento da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter em conta a realida<strong>de</strong>local no planeamento das respostas em contexto específicos.A educação só recentemente foi incluída como o quintopilar da ajuda humanitária. Mesmo assim, não énecessariamente incluída na resposta humanitária das agênciasinternacionais. Isto acontece apesar <strong>do</strong> facto <strong>de</strong> a educaçãoser um direito humano reconheci<strong>do</strong> com prováveis benefíciosinter-geracionais e na vida das pessoas no que se refere aocrescimento, à segurança e ao <strong>de</strong>senvolvimento. A educação<strong>de</strong>sempenha um papel fundamental na formação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>nacional e po<strong>de</strong> ser, ao mesmo tempo, uma arma e um promotor<strong>de</strong> paz. Felizmente, existe um reconhecimento crescente entreos especialistas em educação que a dicotomia entre ajuda -- <strong>de</strong>senvolvimento é artificial e a educação <strong>de</strong>ve ser planeadacomo um esforço a longo prazo. Este reconhecimento, contu<strong>do</strong>,necessita <strong>de</strong> ir para além <strong>do</strong>s especialistas em educação se,se preten<strong>de</strong>r que esta integre o nexo assistência humanitária-- <strong>de</strong>senvolvimento.Se as intervenções nos está<strong>do</strong>s frágeis não forem<strong>de</strong>senvolvidas <strong>de</strong> uma forma holística, e <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com umaabordagem sectorial po<strong>de</strong>rão surgir problemas. As previsõespara um <strong>de</strong>senvolvimento sustentável po<strong>de</strong>m ser obstruídaspor falta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino pós-básico. É tambémessencial centrar-se na formação <strong>de</strong> professores – em particular<strong>de</strong> professoras – mesmo em condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong>terioradas ou com o <strong>de</strong>senvolvimento aprisiona<strong>do</strong>, pois, aeducação po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar um papel fundamental natransição pós-conflito. Se a formação vocacional não éproporcionada para os jovens fora da escola as suas frustraçõespo<strong>de</strong>m <strong>de</strong>spoletar um retrocesso às condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração.Deverá ser salienta<strong>do</strong>, contu<strong>do</strong>, que a formação vocacionaltem um registo misto, especialmente quan<strong>do</strong> as oportunida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> trabalho não se encontram imediatamente disponíveis.É importante construir a partir <strong>de</strong> iniciativasespontâneas da comunida<strong>de</strong> que, geralmente, prece<strong>de</strong>m aorganização <strong>do</strong>s serviços educativos apoia<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong>exterior. Contu<strong>do</strong>, é necessário sermos cautelosos. A confiançanas comunida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong> intensificar a ina<strong>de</strong>quação,especialmente no caso <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s que estão<strong>de</strong>smembradas em consequência <strong>do</strong> conflito.educ@r sem fronteiras - Novembro 20066


Os comités <strong>de</strong> gestão da comunida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m serapropria<strong>do</strong>s pelas elites locais, e eles próprios darem origema conflitos. A passagem <strong>de</strong> iniciativas comunitárias voluntáriaspara um sistema inter-sectorial apoia<strong>do</strong> pelo esta<strong>do</strong> requergastos eleva<strong>do</strong>s com os salários <strong>do</strong>s professores, que,inicialmente po<strong>de</strong>m não ter si<strong>do</strong> avalia<strong>do</strong>s. Virar-se para oapoio externo é talvez fundamental para assegurar uma transiçãosuave, por exemplo, através <strong>de</strong> um trust fund provisório queassegure os salários <strong>do</strong>s professores.Serão necessárias formas inova<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>naçãopara se conseguirem planos estratégicos que sejam consistentescom o apoio múltiplo trans-sectorial ao nível <strong>do</strong> país. Oenvolvimento <strong>de</strong> ONG’s com experiência no fornecimento <strong>de</strong>serviços nas fases iniciais <strong>de</strong> planeamento, bem como dasagências das Nações Unidas com experiência <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>naçãoanterior, po<strong>de</strong>rá ser uma oportunida<strong>de</strong> para assegurar que osistema seja <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma forma sustentável, in<strong>do</strong> aoencontro das preocupações locais, e que po<strong>de</strong>rá proporcionaro <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> abordagens sectoriais. A coor<strong>de</strong>naçãointer-agências é também essencial – da<strong>do</strong> que, frequentemente,não existe ligação entre os projectos <strong>de</strong> assistência humanitáriae <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.• Encontrar critérios para disponibilizar fun<strong>do</strong>s para os paísesfrágeis <strong>de</strong> uma forma mais transparente e menos sujeita aconsi<strong>de</strong>rações estratégicas;• Assegurar que os mecanismos <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> contas<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong> não sejamignora<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> se reforça o governo.Martin Greeley, é economista, e investiga<strong>do</strong>r no Institute ofDevelopment Studies, Sussex. E-mail: m.greeley@ids.ac.ukPauline Rose é <strong>do</strong>cente no Centro Internacional da <strong>Educação</strong>da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sussex. E-mail: p.m.rose@sussex.ac.ukEste artigo lança conclusões preliminares <strong>de</strong> um estu<strong>do</strong>encomenda<strong>do</strong> pelo Department for International Development(DFID) para ajudar o Grupo <strong>do</strong>s Países Frágeis <strong>do</strong> CAD ai<strong>de</strong>ntificar as boas práticas e lições aprendidas a partir dasabordagens das agências internacionais para apoiar a educaçãonos países frágeis 4 .É importante:• Conseguir fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res e assegurar que os dinheiroscirculem <strong>de</strong> forma previsível, eficiente e atempadamente,particularmente no que se refere aos salários <strong>do</strong>s professores;• Combinar as agendas da Re<strong>de</strong> Inter-Institucional para a<strong>Educação</strong> em Situação <strong>de</strong> emergência 2 (INEE, sigla em Inglês)e a das da <strong>Educação</strong> Para To<strong>do</strong>s Fast Track Initiative 3(FTI, sigla em Inglês), <strong>de</strong> forma a criar sinergias, não manten<strong>do</strong>linhas distintas entre resposta <strong>de</strong> emergência versus ajuda alongo prazo;• Forjar o consenso nacional à volta da reforma <strong>do</strong> currículo;• Evitar os perigos <strong>de</strong> focar em <strong>de</strong>masia na assistência técnica,enquanto se ignora a realida<strong>de</strong> política;__________________________________________________1- www.oecd.org/dac2 - www.ineesite.org3 - www.fasttrackinitiative.org/education/efafti/4 - www.ids.ac.uk/ids/pvty/pdf-files/Education_and_Fragile_States.pdf__________________________________________________* Traduzi<strong>do</strong> pelo GEED, com a autorização <strong>do</strong>s autores. Versão original disponívelno suplemento da Forced Migration Review <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2006, emhttp://www.fmreview.org/mags1.htm7Novembro 2006 - educ@r sem fronteiras


Parcerias para o DesenvolvimentoCentro <strong>de</strong> Recursos <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> da Assomada1.Enquadramento <strong>do</strong> centro no contexto educativo <strong>do</strong>Concelho <strong>de</strong> Santa CatarinaO concelho <strong>de</strong> Santa Catarina situa-se no centro dailha <strong>de</strong> Santiago <strong>de</strong> Cabo Ver<strong>de</strong> e tem uma superfície <strong>de</strong> 244km2e população <strong>de</strong> 49.829 habitantes (censo 2000). Dessapopulação, quase meta<strong>de</strong> são estudantes (aproximadamente20 mil).Sen<strong>do</strong> o Pré-<strong>Escola</strong>r com 1500 crianças, o EnsinoBásico com 10.979 alunos e os restantes distribuí<strong>do</strong>s noSecundário e na Formação Média.Em termos <strong>de</strong> corpo <strong>do</strong>cente – Jardim-<strong>de</strong>-Infância –existem 95 monitoras <strong>de</strong> jardim infantil, com uma formação <strong>de</strong>base muito diversificada, in<strong>do</strong> <strong>do</strong> ex- 2º ano <strong>do</strong> Ciclo Preparatórioao 12º ano <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> apenas 13 com formaçãopedagógica. Essas monitoras são apoiadas por 2 coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ras;Ensino Básico – existem 408 professores, sen<strong>do</strong> que 36% nãopossuem formação pedagógica. Os professores são apoia<strong>do</strong>spor 22 gestores <strong>do</strong> Pólo Educativo e 11 coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>respedagógicos.Em relação às infra-estruturas – existem 58 jardins<strong>de</strong>-infanciae 52 escolas <strong>do</strong> Ensino Básico em to<strong>do</strong> o concelho.Tanto os jardins, como as escolas, encontram-se distribuídaspor to<strong>do</strong> o concelho, sen<strong>do</strong> muitas localizadas em zonas <strong>de</strong>difícil acesso, chamadas “zonas isoladas”. As escolas nãopossuem energia eléctrica, salvo 7 que ficam mais perto <strong>do</strong>centro urbano, o que impossibilita o uso <strong>de</strong> novas tecnologias.É, neste contexto, que se <strong>de</strong>senrola o processo ensinoaprendizageme a educação pré-escolar e básica no concelho<strong>de</strong> Santa Catarina.Como forma <strong>de</strong> melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> processoatravés da qualificação <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes, temos vin<strong>do</strong> a procurarparcerias nacionais e estrangeiras e assim, surgiu a parceriaentre esta Delegação e <strong>Escola</strong> <strong>Superior</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> <strong>de</strong> <strong>Viana</strong><strong>do</strong> <strong>Castelo</strong>, cujo principal objectivo é troca <strong>de</strong> experiências eapoio na formação contínua <strong>do</strong>s nossos agentes educativos.Essa parceria já tem como consequência a orientação<strong>de</strong> várias sessões <strong>de</strong> formação por parte <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes <strong>de</strong> <strong>Viana</strong><strong>do</strong> <strong>Castelo</strong> aos nossos agentes educativos aqui em Cabo Ver<strong>de</strong>,a <strong>de</strong>slocação a <strong>Viana</strong> <strong>do</strong> <strong>Castelo</strong> <strong>de</strong> alguns <strong>do</strong>s nossosprofessores, gestores e coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>res para troca <strong>de</strong>experiências e formação, a vinda <strong>de</strong> 4 estagiárias <strong>de</strong> <strong>Educação</strong><strong>de</strong> Infância <strong>de</strong> <strong>Viana</strong> <strong>do</strong> <strong>Castelo</strong> para concluírem os estágios,o apetrechamento <strong>de</strong> um Centro <strong>de</strong> Recursos na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Assomada, se<strong>de</strong> <strong>do</strong> concelho etc.educ@r sem fronteiras - Novembro 20068


2 – Descrição <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong> RecursosO Centro <strong>de</strong> Recursos <strong>de</strong> Assomada foi cria<strong>do</strong> no anolectivo 2004/05, com o apoio da <strong>Escola</strong> <strong>Superior</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong><strong>de</strong> <strong>Viana</strong> <strong>do</strong> <strong>Castelo</strong> e têm os seguintes objectivos:• Desenca<strong>de</strong>ar o processo <strong>de</strong> formação contínua <strong>de</strong> professores<strong>do</strong> Ensino Básico e orienta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Jardim-<strong>de</strong>-infância;• Produzir materiais didácticos <strong>de</strong> apoio à formação e ensino;• Garantir o contacto via Internet entre orienta<strong>do</strong>res portuguesese cabo-verdianos, para formação <strong>do</strong>s últimos.• Incentivar a pesquisa na Internet e o recurso a novastecnologias no processo <strong>de</strong> ensino – aprendizagem.O centro ocupa neste momento 4 salas <strong>do</strong> 2º piso <strong>de</strong>um edifício <strong>de</strong> 4 andares e cada sala tem as seguintes funções:• Uma equipada com materiais informáticos e audiovisuais, eneste momento está servin<strong>do</strong> aos <strong>do</strong>centes na elaboração <strong>do</strong>smateriais didácticos, na utilização pedagógica das novastecnologias, na elaboração <strong>de</strong> textos pedagógicos, na pesquisaatravés <strong>de</strong> Internet, na passagem <strong>de</strong> provas e elaboração <strong>de</strong><strong>do</strong>cumentos necessários aos pólos educativos e escolas, navisualização <strong>de</strong> aulas <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o etc. Nessa sala trabalham, porturno, <strong>do</strong>is professores com conhecimento e habilida<strong>de</strong> emnovas tecnologias <strong>de</strong> informação e comunicação.• Uma sala <strong>de</strong> materiais bibliográficos (biblioteca), com váriosmanuais <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>s científicos e pedagógicos paraactualização <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes e ao mesmo tempo, trabalham ali,também por turno, duas professoras formadas e experientesque apoiam os <strong>do</strong>centes, sobretu<strong>do</strong>, os sem formaçãopedagógica, na planificação das aulas, elaboração <strong>do</strong>s testes<strong>de</strong> avaliação <strong>do</strong>s alunos e em tu<strong>do</strong> o que os <strong>do</strong>centes mostraremdificulda<strong>de</strong>s.• Uma sala on<strong>de</strong> funciona a coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> Pré-<strong>Escola</strong>r, comduas coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ras que apoiam as monitoras <strong>de</strong> jardim-<strong>de</strong>--infância, além <strong>de</strong> visitas <strong>de</strong> terreno.• Uma sala equipada para alojamento <strong>do</strong> pessoal <strong>de</strong> <strong>Viana</strong> <strong>do</strong><strong>Castelo</strong> quan<strong>do</strong> se <strong>de</strong>slocam a Cabo Ver<strong>de</strong> para orientarem aformação (quarto <strong>do</strong>s hóspe<strong>de</strong>s).<strong>Superior</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> <strong>de</strong> <strong>Viana</strong> <strong>do</strong> <strong>Castelo</strong>, por algunsconstrangimentos da nossa parte, mas estamos certos que láchegaremos. Apesar disso, o Centro está a revelar-se <strong>de</strong> enormeimportância no apoio aos professores. É muito procura<strong>do</strong> pelosprofessores e gestores, sobretu<strong>do</strong> os que nunca tiveram acessoàs novas tecnologias. Po<strong>de</strong>-se dizer, que com o surgimento <strong>do</strong>Centro, os Pólos passaram a ter mais igualda<strong>de</strong> em termos <strong>de</strong>benefícios das novas tecnologias, mesmo aqueles que não têmenergia eléctrica. Muitos professores passaram a empenhar--se mais na formação em novas tecnologias porque agora têmum lugar on<strong>de</strong> vão pôr em prática os seus conhecimento e aprópria Delegação sentiu-se <strong>de</strong>scongestionada em relação aosgestores e professores que dantes procuravam ali os serviçosinformáticos. Para muitos, o Centro <strong>de</strong> Recursos é uma dasmelhores coisas que surgiram na educação no concelho nosúltimos anos.É claro que precisamos <strong>de</strong> mais meios informáticos,mais materiais bibliográficos e <strong>de</strong> pessoas com mais qualificaçãopara dirigir o Centro, cremos que com “passos curtos, masseguros” como dizia o Sr. Professor Portela no início <strong>de</strong>ssaparceria, lá chegaremos.O Delega<strong>do</strong>Joaquim Furta<strong>do</strong>Devo dizer, que não cumprimos to<strong>do</strong>s os objectivospreconiza<strong>do</strong>s para o Centro <strong>de</strong> Recursos, sobretu<strong>do</strong> na parteque toca a formação orientada via Internet a partir da <strong>Escola</strong>9Novembro 2006 - educ@r sem fronteiras


Curso Livre – Culturas <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e cidadaniaModulo 4 – A cooperação e a educação como respostahumanitária.Nos dias 29 e 30 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2006 <strong>de</strong>correu na <strong>Escola</strong><strong>Superior</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> <strong>de</strong> <strong>Viana</strong> <strong>do</strong> <strong>Castelo</strong> (ESE-IPVC) o quartomódulo <strong>do</strong> Curso Livre “Culturas <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e cidadania”integra<strong>do</strong> no Contrato Programa Educar Sem Fronteiras, bemcomo o lançamento <strong>do</strong> livro Requisitos Mínimos para <strong>Educação</strong>em Situação <strong>de</strong> Emergência, Crises Crónicas e Reconstrução,edição e tradução <strong>do</strong> Gabinete <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s para a <strong>Educação</strong> eDesenvolvimento.Este módulo intitula<strong>do</strong> “A cooperação e a educaçãocomo resposta humanitária” teve a presença <strong>de</strong> váriosespecialistas e investiga<strong>do</strong>res da área, <strong>de</strong> diferentes países(Angola, Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América, Guiné-Bissau, Grã--Bretanha e Portugal) com prelecções incidin<strong>do</strong> nas questõesda resposta humanitária, da educação na fase <strong>de</strong> reconstrução(o caso <strong>de</strong> Angola) e em países frágeis (o caso da Guiné--Bissau).Num segun<strong>do</strong> momento, foi abordada a utilização <strong>do</strong>sRequisitos Mínimos para a <strong>Educação</strong> em Situação <strong>de</strong>Emergência, Crises Crónicas e Reconstrução para a respostahumanitária, para a dicotomia emergência-reconstrução, alémda sua utilização numa panóplia <strong>de</strong> situações, como, porexemplo, avaliação inicial, acompanhamento <strong>de</strong> professores eoutros técnicos da educação, coor<strong>de</strong>nação, participaçãocomunitária, situações <strong>de</strong> ensino aprendizagem, entre muitasoutras.As apresentações foram as seguintes:• A ajuda <strong>de</strong> emergência numa perspectiva <strong>de</strong> longo prazo – ElizabethChallinor;• A educação em Angola: <strong>de</strong>safios da reconstrução – Luísa Grilo• A educação na Guiné-Bissau: <strong>de</strong>safios para o <strong>de</strong>senvolvimento –João Nala;• A <strong>Educação</strong> como resposta humanitária: um <strong>de</strong>safio para a ESE--IPVC – Júlio Santos;• <strong>Educação</strong>, reconstrução e <strong>de</strong>senvolvimento: o caso da província <strong>de</strong>Malanje – Rui da Silva;• <strong>Educação</strong>, reconstrução e <strong>de</strong>senvolvimento: a experiência da ChristianChildren’s Fund em Angola – Engrácia <strong>do</strong> Céu;• Introdução aos Requisitos Mínimos para <strong>Educação</strong> em Situação <strong>de</strong>Emergência, Crises Crónicas e Reconstrução – Allison An<strong>de</strong>rson, JúlioSantos e Rui da Silva;• Participação comunitária e os Requisitos Mínimos para <strong>Educação</strong> emSituação <strong>de</strong> Emergência, Crises Crónicas e Reconstrução – Júlio Santose Rui da Silva;• Politica educativa e coor<strong>de</strong>nação e os Requisitos Mínimos para<strong>Educação</strong> em Situação <strong>de</strong> Emergência, Crises Crónicas e Reconstrução– Júlio Santos e Rui da Silva);• Síntese da utilização e aplicabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Requisitos Mínimos para<strong>Educação</strong> em Situação <strong>de</strong> Emergência, Crises Crónicas e Reconstrução– Allison An<strong>de</strong>rson, Júlio Santos e Rui da Silva.Opiniões <strong>de</strong> algumas das 31 pessoas presentes:• Ambiente informal e <strong>de</strong>scontraí<strong>do</strong>; partilha <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias/experiências; boameto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> trabalho, especialmente no segun<strong>do</strong> dia (muito positivo);• A troca <strong>de</strong> experiências <strong>de</strong> vários saberes que permitiu uma novaaprendizagem; partilha <strong>de</strong> experiências <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> outros países;• Dinâmica das activida<strong>de</strong>s propostas; o contacto com pessoas <strong>de</strong> diferentesorigens organizacionais; o tipo <strong>de</strong> abordagem às problemáticas propostas;• Partilha <strong>de</strong> experiências <strong>de</strong> cooperação em varia<strong>do</strong>s contextos sociaise culturais; reflexão em grupo; diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidasao longo da sessão e promoção da dinâmica <strong>de</strong> grupo;• As oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> explorar/contactar com este instrumento <strong>de</strong> trabalho;as orientações foram uma forma excelente <strong>de</strong> entrar mais directamenteem contacto com o livro e <strong>de</strong> tornar as sessões em algo interessante enão <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> pesa<strong>do</strong> e cansativo;• Reunião <strong>de</strong> diferentes pessoas; apelo à participação <strong>do</strong>s elementos <strong>do</strong>gran<strong>de</strong> grupo; meto<strong>do</strong>logia, não sen<strong>do</strong> apenas expositivas possibilita aparticipação mais activa <strong>do</strong>s participantes; Livro: um manual estruturanteda acção das pessoas no terreno, potencialmente, dará um forte contributopara a uniformida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bons procedimentos; parece-me que vai contribuir<strong>de</strong>cisivamente para os programas e projectos futuros quevenham a ser melhor planea<strong>do</strong>s, implementa<strong>do</strong>s e avalia<strong>do</strong>s;educ@r sem fronteiras - Novembro 200610


Olhar o Sul146828935710Cooperação – Apren<strong>de</strong>r a estar com os outros...21 - Mbamza Congo, Angola, 200612 - Mbamza Congo, Angola, 200613 - Mansoa, Guiné-Bissau, 200214 - Luanda, Angola, 200515 - Béli, Guiné-Bissau, 200616 - Béli, Guiné-Bissau, 200617 - <strong>Viana</strong> <strong>do</strong> <strong>Castelo</strong>, Portugal, 200618 - Mbamza Congo, Angola, 200609 - Béli, Guiné-Bissau, 200610 - Béli, Guiné-Bissau, 200611 - Malanje, Angola, 200511 Novembro 2006 - educ@r sem fronteiraseduc@r sem fronteiras - Novembro 200612


Re<strong>de</strong> Inter-Institucional para a <strong>Educação</strong> em Situação<strong>de</strong> Emergência*Em Dezembro <strong>de</strong> 2004, a Re<strong>de</strong> Inter-Institucional para a<strong>Educação</strong> em Situação <strong>de</strong> Emergência, Crises Crónicas eReconstrução (INEE, sigla em Inglês) lançou a primeiraferramenta global para <strong>de</strong>finir um nível mínimo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> educação e ajudar a garantir o direito à educação paraas pessoas afectadas por crises.<strong>de</strong>cisões no que diz respeito ao código <strong>de</strong> conduta para osprofessores e para avaliar a eficácia <strong>do</strong>s planos <strong>de</strong> trabalho.No Cambodja, o Ministério da <strong>Educação</strong>, Juventu<strong>de</strong> e Desportotem vin<strong>do</strong> a utilizar os Requisitos Mínimos da INEE como umaferramenta <strong>de</strong> advocacia e capacitação para planos futurospara alcançar as Metas da <strong>Educação</strong> Para To<strong>do</strong>s. Depois <strong>do</strong>Furacão Stan ter <strong>de</strong>vasta<strong>do</strong> a Guatemala em Outubro <strong>de</strong> 2005,Os Requisitos Mínimos para a <strong>Educação</strong> em Situação<strong>de</strong> Emergência, Crises Crónicas e Reconstrução foram<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s através <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> consulta envolven<strong>do</strong>a CARE utilizou o Requisitos Mínimos da INEE para a formação<strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> professores para ajudar a proporcionar, entreoutros, apoio psicossocial às comunida<strong>de</strong>s locais.cerca <strong>de</strong> 2250 indivíduos <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 50 países, incluin<strong>do</strong>alunos, professores e staff das ONG’s, agências das NaçõesUnidas, <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res, governos e universida<strong>de</strong>s. Os RequisitosMínimos espelham a Convenção sobre os Direitos das Criançasdas Nações Unidas 1 , As Metas <strong>de</strong> Dacar para a <strong>Educação</strong>Para To<strong>do</strong>s (EPT) 2 e a Carta Humanitária <strong>do</strong> Projecto Esferae as Normas Mínimas para a Resposta Humanitária emSituações <strong>de</strong> Catástrofe 3 . Eles apoiam a comunida<strong>de</strong>humanitária na prestação <strong>de</strong> contas para proporcionar umaeducação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> sem discriminação. Os requisitos sãosuficientemente flexíveis para se tornarem num guia práticocomo resposta ao nível comunitário, ao mesmo tempo queproporcionam aos governos, outras autorida<strong>de</strong>s, agênciasfinancia<strong>do</strong>ras e agências nacionais e internacionais umenquadramento harmoniza<strong>do</strong>r <strong>de</strong> forma a coor<strong>de</strong>nar as suasactivida<strong>de</strong>s educativas.Reforçan<strong>do</strong> a capacida<strong>de</strong>O sucesso <strong>do</strong> lançamento e as subsequentesactivida<strong>de</strong>s promocionais que <strong>de</strong>correram durante to<strong>do</strong> o ano<strong>de</strong> 2005 salientaram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formação nos requisitos.Como resulta<strong>do</strong>, o Grupo <strong>de</strong> Trabalho 5 <strong>de</strong> 20 pessoas da INEE,facilitou o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> materiais para a formação coma contribuição <strong>de</strong> várias organizações-membro, organizan<strong>do</strong>sessões <strong>de</strong> formação em to<strong>do</strong> o ano <strong>de</strong> 2006. Os materiais <strong>de</strong>formação foram testa<strong>do</strong>s no Nepal, no norte <strong>do</strong> Uganda e noPaquistão no final <strong>de</strong> 2005. Estão a ser utiliza<strong>do</strong>s em novesessões <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> três dias para Forma<strong>do</strong>res <strong>de</strong>Forma<strong>do</strong>res (FF), on<strong>de</strong> em cada um serão forma<strong>do</strong>saproximadamente 25 forma<strong>do</strong>res da área da educaçãohumanitária para a aplicação <strong>do</strong>s Requisitos Mínimos. A cadaforman<strong>do</strong> da FF da INEE é pedi<strong>do</strong> que, no mínimo, realize duasformações para gestores e práticos na área da educação eA procura <strong>do</strong> manual <strong>do</strong>s Requisitos Mínimos tem si<strong>do</strong>elevada, e mais <strong>de</strong> 17.000 cópias foram distribuídas globalmente.trabalho <strong>de</strong> emergência no prazo <strong>de</strong> 12 meses <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>completar a formação da INEE.Os Requisitos Mínimos da INEE foram utiliza<strong>do</strong>s em mais <strong>de</strong>60 países para o planeamento, avaliação inicial, concepção,implementação, formação, capacitação, monitorização eavaliação. No seguimento <strong>do</strong> tsunami em Aceh, o IRC/CARDI 4utilizou os requisitos para levar a cabo uma avaliação inicialrápida e holística das necessida<strong>de</strong>s, para a educação emsituação <strong>de</strong> emergência e planear uma resposta que respondaàs necessida<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ntificadas.No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> próximo ano é espera<strong>do</strong> queaproximadamente 225 forma<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s governos, agências dasNações Unidas e ONG’s organizem formação para milhares<strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res humanitários. Deste mo<strong>do</strong>, estes po<strong>de</strong>mproporcionar protecção psicossocial, física e cognitiva e, paraalém <strong>de</strong> uma resposta coor<strong>de</strong>nada e holística necessáriaeassente numa base sólida e segura para a reconstrução <strong>do</strong>pós-conflito e na reconstrução pós-catástrofe, educação <strong>de</strong>No Cha<strong>de</strong>, a UNICEF e as ONG’s parceiras utilizaramos Requisitos Mínimos da INEE para ajudar na tomada <strong>de</strong>emergência <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> que possa chegar às comunida<strong>de</strong>sem crise.13Novembro 2006 - educ@r sem fronteiras


A INEE encoraja os seus membros a a<strong>do</strong>ptar edisseminar os Requisitos Mínimos. Para os ajudar a realizaresta tarefa, um leque <strong>de</strong> materiais promocionaisestão disponíveis no sítio da Internet da INEE(www.ineesite.org/standards), incluin<strong>do</strong> traduções <strong>do</strong>s mesmosem Francês, Espanhol, Árabe, Português e Bahasa In<strong>do</strong>nésio.A crescente Re<strong>de</strong> da INEE com mais <strong>de</strong> 1,300membros representa diversos grupos <strong>de</strong> ONG’s, agências dasNações Unidas, <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res, governos, académicos e indivíduosdas populações afectadas. A Re<strong>de</strong> aumentou a consciência <strong>do</strong>papel crítico que a educação <strong>de</strong>sempenha <strong>de</strong>ntro da respostahumanitária. O Grupo <strong>de</strong> Orientação da INEE 6 o staff <strong>do</strong>Secretaria<strong>do</strong> e restantes membros advogam:• A inclusão da educação em toda a resposta humanitária;• O acesso para to<strong>do</strong>s os jovens a oportunida<strong>de</strong>s relevantes<strong>de</strong> educação sem discriminação;• A utilização e implementação <strong>do</strong>s Requisitos Mínimos paraa <strong>Educação</strong> em Situação <strong>de</strong> Emergência, Crises Crónicas eReconstrução;• Esforços sustentáveis para melhorar a qualida<strong>de</strong> na educaçãoformal e não-formal;• Que os governos tenham a capacida<strong>de</strong> e os recursos paraassumir a responsabilida<strong>de</strong> para proporcionar educação;• A promoção e investimento na <strong>Educação</strong> Para To<strong>do</strong>s (EPT)pelas partes interessadas internacionais.A INEE trabalha para melhorar a comunicação,coor<strong>de</strong>nação e acesso a recursos para práticos e outras partesinteressadas que trabalham no campo da educação em situação<strong>de</strong> emergência e reconstrução pós-crise através <strong>do</strong> seu sítiona Internet e na lista <strong>de</strong> distribuição.O sítio da Internet da INEE contém um guia <strong>de</strong> boaspráticas, materiais <strong>de</strong> formação e avaliação, bem comoferramentas <strong>de</strong> advocacia – um recurso compreensivo parapráticos, académicos, <strong>de</strong>cisores políticos, <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res e governos.A lista <strong>de</strong> distribuição permite aos membros trocarem informaçõesrelacionadas com oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação, novos recursose ferramentas, além <strong>de</strong> proporcionar um fórum <strong>de</strong> discussãorelaciona<strong>do</strong> com os <strong>de</strong>safios actuais e práticas inova<strong>do</strong>ras.Em Maio <strong>de</strong> 2006 a INEE foi honrada pela Womens’sCommission for Refugee Women and Children na gala anualVoices of Courage em Nova Iorque, um muito mereci<strong>do</strong>reconhecimento da <strong>de</strong>dicação e perseverança <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s osmembros da INEE que trabalharam para assegurar o direito àeducação em situação <strong>de</strong> emergência e reconstruçãopós-crise. 7Allison An<strong>de</strong>rson, é a focal point i(nterlocutora) para osRequisitos Mínimos, está se<strong>de</strong>ada no International RescueCommittee, Nova Iorque.E-mail: minimumstandards@ineesite.org.Mary Men<strong>de</strong>nhall, é a Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra da Re<strong>de</strong> INEE, apoiadapela CARE USA e se<strong>de</strong>ada na UNICEF HQ.E-mail: coordinator@ineesite.org.Para fazer parte da INEE, solicitar uma cópia <strong>do</strong>s RequisitosMínimos ou consultar os recursos disponíveis. Por favor, visitewww.ineesite.org.__________________________________________________1 - www.unicef.org/crc2 - www.unesco.org/education/efa3 - www.sphereproject.org4 - O Consortium for Assistance and Recovery toward Development na In<strong>do</strong>nésiaé uma coligação <strong>de</strong> quarto agências especializadas no trabalho com refugia<strong>do</strong>s,encabeça<strong>do</strong> pelo International Rescue Committee.5 - O Grupo <strong>de</strong> Trabalho nos Requisitos Mínimos actualmente inclui: Aca<strong>de</strong>myfor Educational Development, AVSI, BEFARe, CARE India, CARE USA, CatholicRelief Services, Fundación <strong>do</strong>s Mun<strong>do</strong>s, GTZ, International Rescue Committee,Ministério da <strong>Educação</strong> - França, Norwegian Church Aid, Norwegian RefugeeCouncil, Foundation for the Refugee Education Trust (RET), International Savethe Children Alliance, UNESCO-IIPE, ACNUR, UNICEF, USAID, Windle Trust,World Education.6 - O Grupo <strong>de</strong> Orientação junta representantes da CARE USA, Christian Children’sFund, International Rescue Committee, International Save the Children Alliance,Norwegian Refugee Council, UNESCO, ACNUR, UNICEF e o Banco Mundial.7 -www.womenscommission.org/about/Lunch06/INEESpeech.shtml__________________________________________________* Traduzi<strong>do</strong> pelo GEED, com a autorização <strong>do</strong>s autores. Versão original disponívelno suplemento da Forced Migration Review <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2006, emhttp://www.fmreview.org/mags1.htmeduc@r sem fronteiras - Novembro 200614


Crónicas <strong>de</strong> CooperaçãoUm professor <strong>de</strong> línguaportuguesa em Cabo Ver<strong>de</strong>1. Cooperação: da i<strong>de</strong>ia à sua concretizaçãoA i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> participar num projecto <strong>de</strong> voluntaria<strong>do</strong> paraa cooperação com um país lusófono não era nova mas, porrazões diversas, não tinha si<strong>do</strong> ainda possível concretizar atéque em Outubro <strong>de</strong> 2005 apresentei a minha disponibilida<strong>de</strong>ao Doutor Júlio Santos, director <strong>do</strong> programa Educar semFronteiras e <strong>do</strong> Gabinete <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s para a <strong>Educação</strong> eDesenvolvimento (GEED), da <strong>Escola</strong> <strong>Superior</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong><strong>do</strong> Instituto Politécnico <strong>de</strong> <strong>Viana</strong> <strong>do</strong> <strong>Castelo</strong> (ESE-IPVC). Semo saber, a minha <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> intenções enquadrava-seplenamente no conjunto <strong>de</strong> projectos que, uns giza<strong>do</strong>s e outrosem marcha, estão a ser leva<strong>do</strong>s a cabo por aquele pólodinamiza<strong>do</strong>r com a Guiné-Bissau, Angola e Cabo Ver<strong>de</strong>.Dada a minha formação profissional, <strong>de</strong> imediato essai<strong>de</strong>ia encontrou eco na <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> Professores<strong>do</strong> Ensino Básico <strong>de</strong> Assomada, Instituto Pedagógico <strong>de</strong> CaboVer<strong>de</strong>, com a qual a ESE-IPVC <strong>de</strong>senvolveu já diversosprotocolos <strong>de</strong> cooperação não só a nível <strong>de</strong> formação comoatravés da instalação <strong>de</strong> um centro <strong>de</strong> recursos para alunos<strong>do</strong> IPCV, professores, orienta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> estágio e gestoresescolares <strong>do</strong> concelho <strong>de</strong> Santa Catarina, na ilha <strong>de</strong> Santiago.A minha iniciativa permitiu assim resolver um problema já quea escola não dispunha, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>do</strong> ano lectivo, <strong>de</strong>professor para a disciplina <strong>de</strong> Aprendizagem <strong>de</strong> LínguaPortuguesa e produziu nos oitenta alunos distribuí<strong>do</strong>s por duasturmas uma gran<strong>de</strong> expectativa. Tinha portanto reunidas ascondições para <strong>de</strong>senvolver um trabalho sério e humana eprofissionalmente interessante.2. As primeiras impressõesPara um português que acaba <strong>de</strong> chegar pela primeiravez a África há certas coisas que o perturbam <strong>de</strong> imediato:número eleva<strong>do</strong> <strong>de</strong> pessoas, sobretu<strong>do</strong> crianças, com as quaisnos cruzamos, maior sujida<strong>de</strong> nas ruas, casas por rebocar epintar, partilha <strong>de</strong> certos espaços públicos com alguns animais<strong>do</strong>mésticos como porcos, cabras e galinhas, uma certa animaçãosonora com música, vozes e buzinas, acordar frequentementeao som <strong>de</strong> animais a serem abati<strong>do</strong>s ou sentir tonturas ao ver,<strong>de</strong>penduradas nas árvores, vacas esventradas em processo<strong>de</strong> esquartejamento para venda ou para serem cozinhadas alimesmo. A <strong>de</strong>slocação <strong>de</strong> um europeu também não é fácil:precisa <strong>de</strong> algum tempo para enten<strong>de</strong>r o sistema <strong>de</strong> transportescolectivos na ilha <strong>de</strong> Santiago: em hiace, com lotação máxima(sempre “cheia”, teoricamente mas não legalmente, ilimitada)e um grau <strong>de</strong> comodida<strong>de</strong> variável; em hilux como carga assenteem <strong>do</strong>is bancos laterais convidativos à intercomunicação. Emambos os casos a sua utilização frequente diminui drasticamentea sensibilida<strong>de</strong> aos solavancos provoca<strong>do</strong>s pelas irregularida<strong>de</strong>s<strong>do</strong> piso das estradas. Já percebeu que está noutro país mas,ao contrário <strong>do</strong> que julgava, não enten<strong>de</strong> nada <strong>do</strong> que “eles”dizem, ouvin<strong>do</strong> apenas, aqui e ali, uma ou outra palavraportuguesa mas no meio <strong>de</strong> uma sequência que não enten<strong>de</strong>.Apren<strong>de</strong> então o mais importante: se está a chegarao seu <strong>de</strong>stino <strong>de</strong>verá dizer, no meio <strong>de</strong> uma música altíssima,“Pára li” e a viatura quase instantaneamente se imobiliza (jáse vê que o advérbio “li” significa “aqui”, “já”) ou outra fraseperformativa “Aguenta li”. E a música prossegue sem qualquerinterrupção.Po<strong>de</strong> haver ao seu la<strong>do</strong> uma corpulenta ven<strong>de</strong><strong>de</strong>iraque emite o<strong>do</strong>res a que não está habitua<strong>do</strong> ou cujas ná<strong>de</strong>gaso amarfanham mas se conseguir esquecer essas pequenasvicissitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> viajante, olha à sua volta e vê como são bonitasas pessoas e em quantas <strong>de</strong>las i<strong>de</strong>ntifica traços <strong>de</strong> seusconterrâneos portugueses. Rapidamente, se assim quiser,po<strong>de</strong>rá entrar em conversas ou discussões já encetadas outrazer à liça outros assuntos. Em Cabo Ver<strong>de</strong> saberá quantoa água é um bem precioso e a luz eléctrica uma conquistahumana sobre a natureza. Apren<strong>de</strong>rá também que não é precisoestar sempre a agra<strong>de</strong>cer ou a pedir favores a ninguém masé natural cumprimentar aqueles com quem nos cruzamos nocaminho. Relembramos hábitos já longínquos das al<strong>de</strong>iasportuguesas afinal os mesmos que os outros europeus utilizampolidamente e nós cada vez menos.15Novembro 2006 - educ@r sem fronteiras


3. Activida<strong>de</strong> <strong>do</strong>centeA primeira iniciativa foi tomar conhecimento da situação. Osmeus alunos eram to<strong>do</strong>s adultos e to<strong>do</strong>s professores: numadas turmas leccionavam em média há 18 anos, na outra há 8anos. Na parte da manhã frequentavam o curso <strong>de</strong> formaçãona cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Assomada e pelas 11:30 corriam para apanharo transporte para as suas escolas – algumas bem afastadase com acessos difíceis– on<strong>de</strong> permaneciam até ao final <strong>do</strong> dia.Como professores <strong>do</strong> ensino básico (<strong>do</strong> primeiro ao sexto ano<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>), tinham uma turma em regime <strong>de</strong>mono<strong>do</strong>cência em qualquer <strong>do</strong>s níveis, diferentemente <strong>do</strong> quese passa no sistema educativo português a nível da <strong>do</strong>cência<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> ciclo (5º e 6º anos). Ten<strong>do</strong> em conta o programaque me foi da<strong>do</strong> e a diagnose oral e escrita realizada na segundaaula, <strong>de</strong>lineei um novo programa e <strong>de</strong>i conta <strong>de</strong>le aos alunose à direcção da escola ten<strong>do</strong> em conta as necessida<strong>de</strong>s sentidaspelos alunos e as dificulda<strong>de</strong>s que neles <strong>de</strong>tectei. Algumasáreas críticas obrigaram-me a preparar a minha intervençãonão prevista no programa recebi<strong>do</strong>: a organização das i<strong>de</strong>iase das frases, os articula<strong>do</strong>res <strong>do</strong> discurso, os mecanismos <strong>de</strong>referência anafórica, a produção <strong>de</strong> texto, a coerência <strong>do</strong>stempos gramaticais, as regras <strong>de</strong> concordância, a flexão verbal,problemas <strong>de</strong> ortografia, as regências preposicionais, as relações<strong>de</strong> subordinação (causais, consecutivas, concessivas…), oresumo, a pontuação, audição e reconstituição <strong>de</strong> partes <strong>de</strong>texto, a pedagogia a partir <strong>do</strong> erro, etc. Alguns <strong>de</strong>sses temasforam aborda<strong>do</strong>s numa perspectiva <strong>de</strong> linguística contrastivaentre o crioulo cabo-verdiano e o português (v.g. a relaçãocausal não explícita em “e fri, e xinta” e outras construçõessubordinadas; a flexão em geral; as preposições. Foi aindareserva<strong>do</strong> algum tempo para a criação <strong>de</strong> instrumentospedagógicos e materiais didácticos para a resolução <strong>de</strong>problemas i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s nos textos <strong>do</strong>s alunos e que foramapresenta<strong>do</strong>s e discuti<strong>do</strong>s nas últimas aulas <strong>do</strong> curso. Devenotar-se que o português só é utiliza<strong>do</strong>, tanto por alunos,professores ou população em geral, nas salas <strong>de</strong> aula ou emsituações formais; em to<strong>do</strong>s os contextos informais o criouloé a única língua falada. Acresce ainda o facto <strong>de</strong> o crioulo nãoser língua <strong>de</strong> escolarização.4. Activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> orientação e acompanhamentoÀs terças-feiras <strong>de</strong> manhã orientava um seminário com oscoor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>res e orienta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> estágio acerca <strong>de</strong> temas queinteressavam os presentes e on<strong>de</strong> se tratavam não só questões<strong>de</strong> língua como <strong>de</strong> didáctica e meto<strong>do</strong>logia.Na primeira quinzena <strong>de</strong> Dezembro e durante to<strong>do</strong> o mês <strong>de</strong>Janeiro realizei visitas a escolas urbanas e rurais, algumas<strong>de</strong>las muito isoladas, observan<strong>do</strong> aulas que no final eramsempre analisadas criticamente. Quan<strong>do</strong> terminei este trabalhoredigi e apresentei para discussão um memoran<strong>do</strong>-relatóriodas observações realizadas on<strong>de</strong> incluí algumas propostas.Esse <strong>do</strong>cumento foi entregue ao Director <strong>do</strong> Instituto Pedagógico,ao Delega<strong>do</strong> <strong>Escola</strong>r <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Santa Catarina e envia<strong>do</strong>à ministra da <strong>Educação</strong> e Valorização <strong>do</strong>s Recursos Humanos.Encontrei escolas muito diferentes a vários níveis: <strong>de</strong>infraestruturas (várias não tinham electricida<strong>de</strong> nem águacanalizada), <strong>de</strong> conservação (umas exemplares e outras muito<strong>de</strong>gradadas), <strong>de</strong> organização, <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> apoio às aulas, etc.Foi surpreen<strong>de</strong>nte e em muitos momentos verda<strong>de</strong>iramenteemocionante participar nas aulas. Os alunos revelavam umatal motivação para a aprendizagem, um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> trabalhar e<strong>de</strong> saber, um interesse em tu<strong>do</strong> quanto o professor lhespropunha, uma educação exemplar, uma simpatia contagiante,uma disciplina serena que apetecia voltar sempre para ver osavanços consegui<strong>do</strong>s.Participei ainda no encerramento <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong> alfabetizaçãopara jovens <strong>de</strong> Rincão que receberam formação em pesca, emreuniões ao abrigo <strong>do</strong> programa EBIS no concelho <strong>de</strong> S. Miguelda Calheta que se realizavam ao sába<strong>do</strong> e on<strong>de</strong> os professores<strong>de</strong> diferentes escolas discutiam assuntos diversos, partilhavamexperiências pedagógicas e construíam instrumentos educativos.Fiz uma conferência sobre questões <strong>de</strong> gramática <strong>do</strong> portuguêspara os professores <strong>do</strong> liceu e escola técnica <strong>de</strong> Santa Catarina.educ@r sem fronteiras - Novembro 200616


5. Para além <strong>do</strong> trabalhoNão se vá pensar que os quatro meses dividi<strong>do</strong>s emduas partes, antes e <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> Natal, foram exclusivamentepreenchi<strong>do</strong>s com trabalho. A oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar em CaboVer<strong>de</strong> não podia ser <strong>de</strong>sperdiçada. Por isso, aproveitei <strong>do</strong>isfins-<strong>de</strong>-semana alonga<strong>do</strong>s por serem contíguos a <strong>do</strong>is feria<strong>do</strong>sfui conhecer outras ilhas, outras realida<strong>de</strong>s. Duas experiências,fundamentalmente, <strong>de</strong>ixaram traços in<strong>de</strong>léveis: a subida aopico <strong>do</strong> Fogo e a ida <strong>de</strong> barco da ilha <strong>de</strong> Santiago até às ilhas<strong>de</strong> S. Vicente, Santo Antão, passan<strong>do</strong> por S. Nicolau. Não cabeaqui dar conta das sensações únicas que se sente durante opercurso <strong>de</strong> ascensão a pé até à cratera cónica quase perfeitada erupção <strong>de</strong> 1995, a sensação <strong>de</strong> um vulcão em activida<strong>de</strong>,o chão quente e lunar planta<strong>do</strong> <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>iras, macieiras, feijoeirose flores. Como <strong>de</strong>screver uma manhã na Baía das Gatas emS. Vicente ou um percurso pelo Min<strong>de</strong>lo? Como retratar asemoções nos percursos pe<strong>de</strong>stres na ilha <strong>de</strong> Santo Antão: daPonta <strong>do</strong> Sol à al<strong>de</strong>ia-presépio <strong>de</strong> Fontaínhas, ou a <strong>de</strong>scidavertiginosa <strong>de</strong> Covas até Paúl? Como contar os encontros eos diálogos com crianças, jovens e i<strong>do</strong>sos nesses percursos?Talvez tenha si<strong>do</strong> uma gran<strong>de</strong> vantagem o facto <strong>de</strong> viajar sóporque para evitar a solidão encetamos conversa com pessoastão simpáticas e interessantes que quase apetece lá ficar.Não se pense que só as outras ilhas são interessantes. Percorripraticamente toda a ilha <strong>de</strong> Santiago, subi a alguns montes,alguns bem eleva<strong>do</strong>s, contemplei lá <strong>do</strong> cimo as al<strong>de</strong>ias e ascasas isoladas ao logo das encostas das montanhas, mergulheidiversas vezes nas águas tépidas e transparentes da praia <strong>do</strong>Tarrafal, observei em diversas praias o labor impressionante<strong>de</strong> mulheres arrancan<strong>do</strong> areia ao mar, participei em casamentos,festas religiosas, populares e <strong>de</strong> aniversário, assisti aespectáculos <strong>de</strong> música tradicional (funaná, batuque, cola<strong>de</strong>iras,mornas), conversei com muitas pessoas simples: ven<strong>de</strong><strong>de</strong>iras<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> muito anima<strong>do</strong>, pastores, agricultores, alfaiates(em pleno merca<strong>do</strong> há diversos pessoas costuran<strong>do</strong>), tecelões,velhinhos, e também com intelectuais, magistra<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s,políticos.Em todas as situações estamos perante coisasdiferentes <strong>do</strong> nosso dia-a-dia na nossa terra mas basta que seaceite ou se <strong>de</strong>seje participar na diferença para se usufruirmomentos únicos na nossa vida. Finalmente tive a oportunida<strong>de</strong><strong>de</strong> assistir tanto à campanha para as eleições legislativas comopara as presi<strong>de</strong>nciais que em Cabo Ver<strong>de</strong> têm um eleva<strong>do</strong>grau <strong>de</strong> empenhamento <strong>do</strong>s cidadãos. Como dizia na primeiracarta que enviei <strong>de</strong> lá, tenho ainda os olhos carrega<strong>do</strong>s <strong>de</strong>imagens <strong>de</strong> paisagens e <strong>de</strong> pessoas únicas, os ouvi<strong>do</strong>s prenhes<strong>de</strong> música, sons e palavras singulares, a cabeça cheia <strong>de</strong>sensações, <strong>de</strong> emoções e agora <strong>de</strong> recordações.17Novembro 2006 - educ@r sem fronteiras


5. Duas notas finaisApesar <strong>de</strong> humana e profissionalmente esta minhapassagem por Cabo Ver<strong>de</strong> ter si<strong>do</strong> extremamente positiva, nãoposso <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lamentar o facto <strong>de</strong> Portugal <strong>de</strong>sconhecer ou,pior, ignorar o trabalho <strong>do</strong>s professores cabo-verdianos que se<strong>de</strong>dicam ao ensino da Língua Portuguesa, a língua oficial <strong>do</strong>seu país. Ten<strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, a título individual e voluntarista, aformar professores, e ten<strong>do</strong> observa<strong>do</strong> o interesse e o trabalho<strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes e das crianças nas diversas <strong>de</strong>slocações a escolas<strong>do</strong> ensino básico <strong>de</strong> Santiago, conheço razoavelmente bem asituação a que me refiro. A título <strong>de</strong> exemplo, no final <strong>de</strong> umseminário que orientei no liceu local - com uma população <strong>de</strong>seis mil alunos! - um professor confessou-me ter si<strong>do</strong> essa asegunda vez na sua já muito longa carreira <strong>de</strong> <strong>do</strong>cente <strong>de</strong>Português que pô<strong>de</strong> obter formação após o curso frequenta<strong>do</strong>em Portugal. No entanto e apesar <strong>do</strong> gritante <strong>de</strong>sinteresse <strong>do</strong>esta<strong>do</strong> português para com o ensino e a aprendizagem dalíngua e não obstante as dificulda<strong>de</strong>s concretas existentes emvirtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> praticamente só se apren<strong>de</strong>r português quan<strong>do</strong> seentra pela primeira vez na escola e o crioulo cabo-verdianoser, além disso, praticamente a única língua falada em todasas situações <strong>de</strong> comunicação, os professores revelam uminteresse e uma <strong>de</strong>dicação inexcedíveis. Veja-se que o francês,sen<strong>do</strong> uma língua estrangeira e residual em Cabo Ver<strong>de</strong>, éobjecto <strong>de</strong> diversos programas massivos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> jovensvocaciona<strong>do</strong>s, p.e. para o ecoturismo.Esta minha curta experiência permite ainda umasegunda observação: existe uma política para o apoio ao<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s países <strong>de</strong> língua oficial portuguesa?Existe uma política estrangeira para a língua portuguesa? Écerto que há organismos oficiais <strong>do</strong> Ministério da <strong>Educação</strong> e<strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong>s Negócios Estrangeiros vocaciona<strong>do</strong>s para oapoio à educação, à cooperação e ao <strong>de</strong>senvolvimento. Noentanto, quan<strong>do</strong> nas férias <strong>de</strong> Natal <strong>de</strong> 2005 consegui angariarjunto <strong>de</strong> escolas, professores e editoras uma tonelada <strong>de</strong> livrose material escolar, acabou por ser uma empresa privada, aSOMAGUE, que transportou, gratuitamente, para a Praia ocontentor com essas <strong>do</strong>ações. Esses organismos oficiaisapresentavam sempre novos entraves e dificulda<strong>de</strong>s cada vezmais fortes, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> múltiplos <strong>de</strong>spachos hierárquicos,prazos <strong>de</strong> requerimentos absolutamente espantosos. A Somaguesó precisou <strong>de</strong> uma simples mensagem electrónica para queo transporte se fizesse!Benjamim MoreiraColabora<strong>do</strong>r <strong>do</strong> GEEDeduc@r sem fronteiras - Novembro 200618


Crónicas <strong>de</strong> Cooperação… da minhapassagem por ÁfricaDurante aproximadamente três anos ingressei em projectos<strong>de</strong> apoio à educação na Guiné-Bissau. Trabalhei na área daformação pedagógica, contribuin<strong>do</strong> para a formação científica,técnica e pedagógica <strong>do</strong>s professores em exercício. Para tal,foi necessário um contacto o mais próximo possível <strong>do</strong> dia adia <strong>de</strong>stes profissionais guineenses, em particular, e dapopulação, em geral. Percorri várias vezes 30 km <strong>de</strong> bicicleta,<strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> um calor intenso, para fazer observação <strong>de</strong> aulas.Os professores locais fazem-no to<strong>do</strong>s os dias, com a diferença<strong>de</strong> que eu estava bem alimentada e eles, muitas vezes, levamconsigo somente a curta refeição da noite anterior. Sem saláriohá <strong>do</strong>is anos não se po<strong>de</strong>m permitir à extravagância <strong>do</strong> matabicho (pequeno almoço)!Sentava-me na sala (que nalguns casos não era mais que umacabana feita em canas e folhas <strong>de</strong> palmeira), nos <strong>de</strong>sconfortáveisbancos construí<strong>do</strong>s com ramos <strong>de</strong> árvores e tentava escreversobre as mesas, feitas à base <strong>do</strong> mesmo material e estrutura.O que encontrava era um ensino <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> à base damemorização, com turmas <strong>de</strong> 45 alunos on<strong>de</strong>, por exemplo,no 1º ano, as ida<strong>de</strong>s variam entre os 6 e os 18 anos. Como osprofessores não têm formação específica, importaram o mo<strong>de</strong>lo<strong>do</strong>s seus antigos mestres, transmitin<strong>do</strong> aos futuros <strong>do</strong>centesas mesmas práticas e envolven<strong>do</strong>-se num ciclo sem fim. Ummo<strong>de</strong>lo que se mantém <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a época <strong>do</strong> colonialismo e emque os curricula são ainda o espelho <strong>do</strong> curricula português,sem adaptações à realida<strong>de</strong> guineense.No entanto, o insucesso não passa somente pela falta <strong>de</strong>formação <strong>do</strong>s profissionais da educação, mas também pelaexistência <strong>de</strong> um sistema que tem como língua oficial oPortuguês, ensina<strong>do</strong> como língua materna, quan<strong>do</strong> é a segundae nalguns casos a terceira língua <strong>do</strong>s alunos. Todas as disciplinassão leccionadas em português, que não é <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pelo próprioprofessor, enquanto as crianças falam a língua étnica, e algumastambém o crioulo (língua nacional). O professor muitas vezesé <strong>de</strong> outra etnia, <strong>de</strong>sconhecen<strong>do</strong> a língua materna <strong>do</strong>s alunosque, por sua vez, não enten<strong>de</strong>m o crioulo. Po<strong>de</strong>-se fazer umapequena i<strong>de</strong>ia <strong>do</strong> que esta miscelânea dá!A situação da educação é <strong>de</strong>veras preocupante, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aformação <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes, passan<strong>do</strong> pelas instalações das escolase pela falta <strong>de</strong> recursos – o único livro a que professor e alunostêm acesso é o manual escolar, financia<strong>do</strong> por um projecto <strong>do</strong>Banco Mundial – até ao pagamento <strong>do</strong>s salários <strong>do</strong>s professores,que apesar <strong>de</strong> estarem durante <strong>do</strong>is anos sem receber, to<strong>do</strong>sos dias se <strong>de</strong>slocam para a escola e continuam a reunir-sequinzenalmente para a elaboração <strong>de</strong> planificações! Fazem omelhor que sabem e po<strong>de</strong>m.Mas sobre Africa, e a Guiné-Bissau em particular, muito maishá a dizer…Passar por África, permite-nos um novo olhar, uma(re)aprendizagem <strong>de</strong> padrões culturais e, sobretu<strong>do</strong>, morais ehumanos.A nossa oci<strong>de</strong>ntal socieda<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> o individualismo e oeconomicismo são condições tidas como necessárias esuficientes, exigidas por um colectivo que se habituou a valorizaro material, sofre <strong>de</strong> uma perda <strong>de</strong> valores que conduz à ausência<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> familiar e moral, on<strong>de</strong> a globalização não passase uma retórica ineficaz graças aos cifrões que movem o mun<strong>do</strong>dito <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>.Por isso, África é uma gran<strong>de</strong> escola <strong>de</strong> vida. Uma escola viva.Muda-nos o olhar, ensina-nos a <strong>de</strong>spir os pesa<strong>do</strong>s mantos quetransportamos, ensina-nos a ser livres!Pessoalmente, nunca mais posso <strong>de</strong>ixar África, e compreen<strong>do</strong>agora a velha expressão que diz que quem vai a África ficapara sempre preso a ela. A sua natureza é <strong>de</strong> uma belezaextraordinariamente simples, que nos ator<strong>do</strong>a os senti<strong>do</strong>s. Asua magnitu<strong>de</strong> reduz-nos à nossa verda<strong>de</strong>ira insignificânciaface às forças da natureza. O seu cheiro mágico é in<strong>de</strong>scritível.O olfacto é, realmente, o primeiro senti<strong>do</strong> a reagir, mal se poisao pé em chão africano. Parece que é a forma que a terra tem<strong>de</strong> nos chamar, exalan<strong>do</strong> esse <strong>do</strong>pante o<strong>do</strong>r!A noite cai apressadamente na Guiné-Bissau. Quan<strong>do</strong> anoitece,as cores transformam-se com a iluminação <strong>de</strong> inúmeraspequenas velas nas áreas mais centrais <strong>de</strong> cada localida<strong>de</strong>,<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> surgir com to<strong>do</strong> o seu resplen<strong>do</strong>r milhares <strong>de</strong> pontosno céu. O brilho da noite é, <strong>de</strong> facto, único! Como a luz eléctricaé quase inexistente, as estrelas não têm a concorrência artificial<strong>do</strong>s neons <strong>do</strong>s estabelecimentos públicos, crian<strong>do</strong> umaatmosfera quase mítica <strong>de</strong> profunda harmonia com a natureza,convidan<strong>do</strong> à contemplação.Os sons tornam-se mais intensos, misturan<strong>do</strong>-se os da naturezacom os produzi<strong>do</strong>s pelos humanos. As pessoas sentam-se àsportas, ou no alpendre das casas, no djumbai (conversa),partilhan<strong>do</strong> a ambiência nocturna como testemunho <strong>de</strong> umacalorosa harmonia entre os intervenientes <strong>de</strong>stas (tele)novelasvividas e faladas na primeira pessoa. Aqui, os serões sãoreserva<strong>do</strong>s para estar, estar uns com os outros.19Novembro 2006 - educ@r sem fronteiras


Po<strong>de</strong>-se estar dançan<strong>do</strong> ao ritmo <strong>de</strong> música gravada ou <strong>do</strong>som saí<strong>do</strong> <strong>do</strong> velho transístor; pelo cantar <strong>de</strong> alguns ou através<strong>do</strong> simples ritmo <strong>do</strong> palmo (bater palmas); ou ainda com o somfantástico da tina (instrumento musical constituí<strong>do</strong> por umacabaça e uma tina <strong>de</strong> água), <strong>de</strong> vez em quan<strong>do</strong> interferi<strong>do</strong> poruma gargalhada longínqua <strong>de</strong> uma hiena ou <strong>do</strong> toque <strong>de</strong> umbombolon (instrumento <strong>de</strong> percussão), transmitin<strong>do</strong> algumamensagem para a tabanca (al<strong>de</strong>ia) vizinha. Muitas vezes odjumbai acontece à volta <strong>de</strong> um pequeno fogareiro, enquantose confecciona o uarga (chá típico <strong>do</strong>s muçulmanos) com to<strong>do</strong>um ritual próprio que dura horas.Este ambiente, necessariamente, envolve as pessoas numespírito <strong>de</strong> serenida<strong>de</strong>, tranquilida<strong>de</strong>, alegria e convivência,que reflectem a sua solidarieda<strong>de</strong>, senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> partilha e interajudano dia a dia. Apesar <strong>de</strong> todas as privações e problemasque este povo tem, na Guiné-Bissau impera, <strong>de</strong> facto, umsenti<strong>do</strong> único <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, uma sossegada forma <strong>de</strong>enfrentar as preocupações, pois <strong>de</strong>stas apenas constam osproblemas imediatos. Assim, não há sofrimentos nem ansieda<strong>de</strong>spor antecipação. É óbvio que esta atitu<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rá tornar-seperigosa, se levada a extremos. No entanto, permite-nos umareflexão a nós, oci<strong>de</strong>ntais, que nos <strong>de</strong>ixamos invadir peloconsumismo exacerba<strong>do</strong>, <strong>do</strong>n<strong>de</strong> <strong>de</strong>rivam muitas das nossaspreocupações, remeten<strong>do</strong> para segun<strong>do</strong> plano atitu<strong>de</strong>s ecomportamentos que enalteçam a tranquilida<strong>de</strong>, a atenção aosque nos ro<strong>de</strong>iam, a partilha…O dia seguinte chega ce<strong>do</strong> e com ele as primeiras agitações– mulher a varrer a entrada da casa, mulher a transportar água<strong>de</strong> um poço próximo, mulheres a dirigirem-se a pé com os seusprodutos para o merca<strong>do</strong> mais próximo, mulheres a passaremcom re<strong>de</strong>s para irem apanhar peixe ao rio, mulher a acen<strong>de</strong>rlume para a primeira refeição <strong>do</strong> dia e… homem que aparecena porta <strong>de</strong> casa e se senta no banco que está sempre lá. Amulher, sempre a mulher, essa figura <strong>de</strong> pele castanha brilhantee belos pentea<strong>do</strong>s, é a heroína da Guiné, sustento da nação,honra lhe seja prestada!Assim começa o dia, ainda com uma temperatura fresca, aqual atingirá o seu ponto máximo entre a uma e as quatrohoras, perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo em que o país praticamente pára.Uma criança, duas, três… muitas crianças começam a surgir,primeiro nas portas <strong>de</strong> casa <strong>de</strong>pois nas ruas, a caminho daescola. Muitas vezes é necessário percorrer quilómetros paralá chegar e é comum estas crianças transportarem o seu próprioassento para a sala <strong>de</strong> aula, varian<strong>do</strong> o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o merotijolo até à mais sofisticada ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> plástico.Em Bissau e no resto <strong>do</strong> país muita gente se <strong>de</strong>sloca a pé,alguns <strong>de</strong> can<strong>do</strong>nga (meio <strong>de</strong> transporte que po<strong>de</strong> variar entreum furgão e um camião, on<strong>de</strong> viajam pessoas e animais) emuito poucos <strong>de</strong> bicicleta (o transporte mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> para aépoca seca, no entanto fora <strong>do</strong> alcance da maior parte dasbolsas). Na capital, e só aqui, há táxis, muitos mesmo! E comotu<strong>do</strong> neste país é partilha<strong>do</strong>, uma viagem <strong>de</strong> táxi não po<strong>de</strong> fugirà regra. Um único carro transporta até quatro passageiros, quese vão substituin<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong> percurso.Andar <strong>de</strong> táxi e ou can<strong>do</strong>nga é fascinante. Além <strong>de</strong> nos permitiruma aquisição obrigatória das músicas em voga, é tambémuma fonte <strong>de</strong> conhecimento da cultura local. Foi nestes transporteque soube que na Guiné-Bissau não existem sem abrigo,porque mesmo na capital, mais oci<strong>de</strong>ntalizada, os valoresculturais se sobrepõem a qualquer manifestação individualistaimportada <strong>do</strong> oci<strong>de</strong>nte.Existem pessoas com dificulda<strong>de</strong>, a viverem mal e sem recursos,mas jamais um velho, um amigo, um familiar ou simplesmenteum vizinho, é aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>.Outra coisa que se apren<strong>de</strong>, e não só nos transportes, é o valor<strong>do</strong>s velhos. Na Guiné-Bissau não existem instituições parai<strong>do</strong>sos, tão pouco estes se tornam um far<strong>do</strong> para a família.Porque aqui o i<strong>do</strong>so é sinónimo <strong>de</strong> sapiência e é ele que, nopeso da sua ida<strong>de</strong>, transporta o conhecimento e sabe<strong>do</strong>ria <strong>de</strong>toda uma vida, que até ao fim é tida em conta e transmitidaaos seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes. Ninguém toma <strong>de</strong>cisões sem consultara opinião <strong>de</strong> um homem gran<strong>de</strong> (velho, ancião). Amílcar Cabraldisse que Na Guiné quan<strong>do</strong> morre um velho, é uma bibliotecaque se fecha. É mais um ponto <strong>de</strong> reflexão para a nossasocieda<strong>de</strong>!De facto, viver em África é apaixonante, é reencontrar/re<strong>de</strong>scobrirsentimentos e virtu<strong>de</strong>s, permitin<strong>do</strong>-nos estar mais atentos, nãocompactuan<strong>do</strong> com a indiferença. É uma gran<strong>de</strong> escola <strong>de</strong>vida!...Fevereiro <strong>de</strong> 2006Cristina Rodrigueseduc@r sem fronteiras - Novembro 200620


Activida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> GEEDActivida<strong>de</strong>NovembroDezembro Janeiro Fevereiro MarçoMissão a Angola da ESE-IPVC e DREN -Províncias <strong>do</strong> Zaire e MalanjeV Curso Livre: Acesso e Qualida<strong>de</strong> da <strong>Educação</strong>no contexto <strong>de</strong> Desenvolvimento: contextos,actores e práticas.Curso <strong>de</strong> Formação Geral <strong>de</strong> VoluntáriosProjecto <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> em Cabo Ver<strong>de</strong>II Encontro Internacional Educar Sem Fronteirase Módulo 5 <strong>do</strong> Curso Livre Culturas <strong>do</strong>Desenvolvimento e CidadaniaApresentação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Projecto NôDjunta Mon 2006 - Béli e GabúExposição <strong>de</strong> fotografias itinerante Nô DjuntaMonFilmagens em Cabo Ver<strong>de</strong> para <strong>do</strong>cumentáriosobre <strong>Educação</strong> e Desenvolvimento“Apoio ao apetrechamento <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong>Recursos da ADRA - Malanje no âmbito <strong>do</strong>Contrato Programa Educar sem FronteirasEdição e lançamento <strong>do</strong> Manual <strong>de</strong> LínguaPortuguesa para Cabo Ver<strong>de</strong>Exposição <strong>de</strong> fotografias: “Moçambique – Umelo no passa<strong>do</strong> uma ponte para o futuro"Preparação da Campanha Global para a<strong>Educação</strong>: “<strong>Educação</strong> como um direito humano”21Novembro 2006 - educ@r sem fronteiras


ÍndiceEditorial ------------------------------------------------------------------------------------- 1Lançamento <strong>do</strong> livro Requisitos Mínimos para a <strong>Educação</strong> em Situação <strong>de</strong>Emergência, Crises Crónicas e Reconstrução --------------------------------------------------- 1Programa Educar Sem Fronteiras no Festival Pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Coura 2006 ------------------------- 2Voluntaria<strong>do</strong> e Cidadania: Voluntaria<strong>do</strong>, Cooperação e Desenvolvimentona Guiné-Bissau -------------------------------------------------------------------------------------------------- 3Apren<strong>de</strong>r a apoiar a educação nos países frágeis --------------------------------------------------- 6Parcerias para o Desenvolvimento: Centro <strong>de</strong> Recursos<strong>de</strong> <strong>Educação</strong> da Assomada -------------------------------------------------------------------------- 8Curso Livre - Culturas <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e cidadania ------------------------------------------ 10Olhar o Sul --------------------------------------------------------------------------------11Re<strong>de</strong> Inter-Institucional para a <strong>Educação</strong> em Situação <strong>de</strong> Emergência ------------------------ 13Crónicas <strong>de</strong> Cooperação: Um professor <strong>de</strong> língua portuguesa em Cabo Ver<strong>de</strong> --------- 15Crónicas <strong>de</strong> Cooperação: ...da minha passagem por África ------------------ 19Activida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> GEED ---------------------------------------------------------------------------------------- 21ESE - IPVC, <strong>Viana</strong> <strong>do</strong> <strong>Castelo</strong>, Portugal, 2005Novembro 2006 - educ@r sem fronteiras

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