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Ver publicação noscript - Ministério da Justiça

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Nota IntrodutóriaEste livro é produto de um esforço coletivo de mais de 130 profissionais. Dos contatosiniciais até a sua publicação se passaram aproxima<strong>da</strong>mente quatro anos. Nasci<strong>da</strong> de um interessecomum entre a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD e a Universi<strong>da</strong>deFederal do Rio Grande do Sul – UFGRS, a ideia inicialmente discuti<strong>da</strong> transformou-se em umgrande núcleo de geração de informações e tecnologias de pesquisa inovadoras na área detrânsito e álcool no Brasil. Para a execução dos diversos estudos que são descritos neste livro,a SENAD desenvolveu uma estrutura específica de gestão para o acompanhamento destegrande projeto, inclusive designando profissionais em tempo integral para sua realização. Porparte <strong>da</strong> UFRGS, foi criado o NEPTA – Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trânsito e Álcool queatualmente é um Grupo de Pesquisa do CNPq e agrega profissionais envolvidos nessa área doconhecimento. A criação do NEPTA foi possível graças ao acolhimento <strong>da</strong>do ao grupo peloHospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), onde o Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas(CPAD) <strong>da</strong> UFRGS se situa há cinco anos. Criado em caráter permanente, o NEPTA não seextingue com o final <strong>da</strong>s coletas e análises dos <strong>da</strong>dos deste projeto. Ele continuará desenvolvendoconhecimento e metodologia de pesquisa, agregando profissionais e estabelecendoparcerias com outras instituições visando contribuir com o avanço <strong>da</strong> ciência.O livro ora apresentado é composto de 15 capítulos, divididos em duas seções principais.A Seção A tem um caráter introdutório ao tema álcool/outras drogas/trânsito, e traz seis capítulosconceituais, versando desde as relações políticas e técnicas para a execução deste projetoem nível nacional e local até a descrição de cenários de coleta de <strong>da</strong>dos com o objetivo deinserir o leitor na peculiar reali<strong>da</strong>de de obtenção de informações de pesquisa em ambientesatípicos, como por exemplo rodovias federais. Além disso, traz capítulos sobre a história doálcool relacionado ao trânsito no Brasil, sobre a teoria que estu<strong>da</strong> o impacto econômico dosacidentes de trânsito e sobre os delicados aspectos ético-jurídicos que envolvem estudos destanatureza. Há também um capítulo que versa sobre os testes toxicológicos que foram utilizadospara obtenção de amostras biológicas dos motoristas estu<strong>da</strong>dos nos diferentes proje-


tos. A Seção B é eminentemente prática. Traz nove capítulos que descrevem detalha<strong>da</strong>menteas rotinas de coleta de <strong>da</strong>dos dos diferentes estudos e seus achados principais analisados atéa <strong>da</strong>ta de fechamento deste livro. O foco principal não é uma grande e detalha<strong>da</strong> elocubraçãoteórica sobre ca<strong>da</strong> tema pesquisado, mas sim uma descrição pormenoriza<strong>da</strong> dos métodos – oque permitirá a outros grupos de pesquisa repetir e aprimorar coletas desta natureza – e dosachados fun<strong>da</strong>mentais.Por motivos de concisão, todos os anexos indicados nos diferentes capítulos em notas dero<strong>da</strong>pé encontram-se disponíveis para acesso integral ao leitor interessado no site do ObservatórioBrasileiro de Informações sobre Drogas – OBID (www.obid.senad.gov.br).A parceria entre os diferentes órgãos do governo – em especial a Presidência <strong>da</strong> República,Ministério <strong>da</strong> Educação, Ministério <strong>da</strong> Justiça, Ministério <strong>da</strong> Saúde e Ministério <strong>da</strong>s Ci<strong>da</strong>des,por meio de diferentes órgãos e departamentos – demonstrou que a interdisciplinarie<strong>da</strong>de éum ideal possível de ser obtido. Diferentes atores participaram <strong>da</strong> intensa articulação necessáriapara a execução de oito projetos de pesquisa em pouco mais de dois anos, em algunscasos abrangendo capitais de todo o país.É impossível nesta nota introdutória, agradecer a todos os que diligentemente dedicaramhoras e esforço para a correta execução dos passos de pesquisa previstos no projeto. Umalista completa dos parceiros encontra-se ao final deste livro. Em especial, gostaríamos deexpressar nosso reconhecimento às dezenas de coletadores de <strong>da</strong>dos e pessoal de apoio – eao grupo que realizou as coletas nas capitais federais – pelo denodo em executar sua tarefa.Além deles, é importante ressaltar o especial esforço que as colegas Fernan<strong>da</strong> Cubas e SinaraSantos tiveram na supervisão editorial deste livro. Certamente a quali<strong>da</strong>de deste material éum espelho <strong>da</strong> motivação e superação que estes profissionais enfrentaram ao longo de todoeste período.Flavio PechanskyPaulina do Carmo Arru<strong>da</strong> Vieira DuarteRaquel Brandini De BoniMarço de 2010


Lista de ColaboradoresAna Paula Schmidt Metzger – Acadêmica de Medicina.Anne Sordi – Médica Colaboradora do CPAD do HCPA/UFRGS, Residente em Psiquiatria do HCPA.Bárbara Diniz – Bióloga, Mestran<strong>da</strong> em Ciências Médicas pela UFCSPA, Supervisora do VIVAVOZ.Bárbara Ponzi Holmer – Psicóloga, Assistente de Pesquisa do CPAD do HCPA/UFRGS.Breno Matte – Médico, Colaborador do Programa de Déficit de Atenção e Hiperativi<strong>da</strong>de do HCPA/UFRGS, Residenteem Psiquiatria do HCPA.Carl Leukefeld – Assistente social, Professor de Ciências do Comportamento dos Departamentos de Psiquiatria eAssistência Social <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Kentucky, Diretor do Center on Drug and Alcohol Research <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de deKentucky.Carolina Fernández Fernandes – Advoga<strong>da</strong>, Mestran<strong>da</strong> em Direito Público pela Unisinos/RS e pesquisadora doLaboratório de Pesquisa em Bioética e Ética na Ciência.Cássio Machado – Acadêmico de Psicologia.Christian Kieling – Médico, Doutorando em Psiquiatria pela UFRGS, Residente em Psiquiatria no HCPA.Cláudia Maciel Szobot – Psiquiatra, Mestre e Doutora em Psiquiatria pela UFRGS, Pesquisadora do ProgramaNacional de Pós-Doutorado/CAPES.Daniela Benzano – Acadêmica de Estatística, Consultora de Estatística do NEPTA e do CPAD do HCPA/UFRGS.Daniela Goya Tochetto – Economista, Mestre em Economia pela UFRGS e Mestre em Filosofia pela London Schoolof Economics.Daniele Zago Souza – Farmacêutica, Mestran<strong>da</strong> em Ciências Farmacêuticas pela UFRGS, Perita Criminal Federal doDepartamento de Polícia Federal.Débora S. Prusch – Acadêmica de Farmácia pela UFRGS.Deise Schroeter – Psicóloga, Assistente de Pesquisa do CPAD do HCPA/UFRGS.Eliseu Weber – Agrônomo, Mestre em Sensoriamento Remoto pela UFRGS e Pesquisador <strong>da</strong> UFRGS.Eloisa Comiran – Farmacêutica, Colaboradora no Laboratório de Análises Toxicológicas do HCPA/UFRGS.Esmeral<strong>da</strong> Correa – Economista, Doutoran<strong>da</strong> em Economia do Desenvolvimento na UFRGS, Assistente de Pesquisado CPAD do HCPA/UFRGS.Fernan<strong>da</strong> Cubas de Paula – Psicóloga, Mestre em Psicologia <strong>da</strong> Saúde pela UCDB, Assistente de Pesquisa do CPADdo HCPA/UFRGS.Fernan<strong>da</strong> Kreische – Médica Residente em Psiquiatria do HCPA, Colaboradora do CPAD do HCPA/UFRGS.


Mauro Soibelman – Médico, Mestre em Medicina – Clínica Médica pela UFRGS, Professor Auxiliar <strong>da</strong> UFRGS, Médico<strong>da</strong> Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Consultor em Epidemiologia do NEPTA.Paula O. Boehl – Acadêmica de Farmácia <strong>da</strong> UFRGS, Colaboradora do Laboratório de Análises Toxicológicas doHCPA/UFRGS.Paulina do Carmo Arru<strong>da</strong> Vieira Duarte – Assistente Social, Doutora em Ciências pela Facul<strong>da</strong>de de Medicina<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, Secretária-Adjunta <strong>da</strong> Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas <strong>da</strong> Presidência <strong>da</strong>República.Pedro E. Fröehlich – Farmacêutico, Mestre e Doutor em Ciências Farmacêuticas pela UFRGS.Raquel Brandini de Boni – Psiquiatra, Doutoran<strong>da</strong> em Psiquiatria pela UFRGS, Pesquisadora do NEPTA e do CPADdo HCPA/UFRGS.Renata Rocha Kieling – Médica, Colaboradora do Programa de Déficit de Atenção e Hiperativi<strong>da</strong>de doHCPA/UFRGS.Renata P. Limberger – Farmacêutica, Doutora em Ciências Farmacêuticas pela UFRGS, Professora adjunta <strong>da</strong> UFRGS.Roberta P. S. Coelho – Psicóloga, Mestran<strong>da</strong> em Cognição Humana pela PUC-RS, Pesquisadora do Programa deDéficit de Atenção e Hiperativi<strong>da</strong>de do HCPA/UFRGS.Robson Robin <strong>da</strong> Silva – Advogado, Delegado de Polícia Federal, Coordenador Geral de Projetos Estratégicos <strong>da</strong>SENAD/GSI/PR.Sabino <strong>da</strong> Silva Porto Júnior – Economista, Doutor em Economia pela UFRGS, Professor Titular do Departamentode Economia e do Programa de Pós-Graduação em Economia <strong>da</strong> UFRGS.Sibele Faller – Psicóloga, Mestre em Psiquiatria pela UFRGS, Pesquisadora do NEPTA e CPAD.Sinara Santos – Psicóloga, Assistente de Pesquisa do CPAD do HCPA/UFRGS.Taís de Campos Moreira – Fonoaudióloga, Mestre em Ciências Médicas pela UFCSPA, Supervisora do serviçoVIVAVOZ.Tanara Rosângela Vieira Sousa – Economista, Doutoran<strong>da</strong> em Economia Aplica<strong>da</strong> - Programa de Pós-Graduaçãoem Economia - PPGE/UFRGS.Vivian Machado – Médica Residente em Psiquiatria no HCPA, Assistente de Pesquisa do CPAD do HCPA/UFRGS.Vladimir de Andrade Stempliuk – Psicólogo, Doutor em Ciências pela Facul<strong>da</strong>de de Medicina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>dede São Paulo, Coordenador Geral do Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas - OBID <strong>da</strong> SENAD/GSI/PR.


ÍndiceSeção AI. O projeto de pesquisa como elemento na construção <strong>da</strong> política nacional sobre álcool(Paulina do Carmo Arru<strong>da</strong> Vieira Duarte e Vladimir de Andrade Stempliuk) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16II. Um breve histórico <strong>da</strong> relação entre álcool e trânsito no Brasil(Fernan<strong>da</strong> Cubas de Paula, Flávio Pechansky, Vivian Machado) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20III. Aspectos éticos, jurídicos e metodológicos na pesquisa envolvendo o uso de álcool eoutras drogas(Márcia Santana Fernandes, Júlia Schneider Protas, Carolina Fernández Fernandes,José Roberto Goldim) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24IV. Impacto econômico dos acidentes de trânsito relacionados ao uso de substânciaspsicoativas(Sabino <strong>da</strong> Silva Porto Júnior, Daniela Goya Tochetto, Tanara Rosângela Vieira Sousa, Esmeral<strong>da</strong> Correa,Marianne Stampe) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32V. Testes toxicológicos para aferição de substâncias psicoativas em condutores(Renata P. Limberger, Pedro E. Fröehlich, Paula O. Boehl, Daniele S. Zago, Ivomar Zancanaro, Kristiane deCássia Mariotti, Eloisa Comiran, Débora S. Prusch, Fernan<strong>da</strong> Oliveira) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40VI. Cenas <strong>da</strong> coleta de <strong>da</strong>dos em rodovias federais – uma leitura sobre o trabalhode campo(Robson Robin <strong>da</strong> Silva, Fernan<strong>da</strong> Cubas de Paula, Sinara Santos, Ana Paula S. Metzger) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48


Seção BVII. Consumo de álcool e outras drogas entre motoristas privados e profissionais do Brasil(Flavio Pechansky, Raquel De Boni, Paulina do Carmo Arru<strong>da</strong> Vieira Duarte, Fernan<strong>da</strong> Cubas de Paula,Daniela Benzano, Lisia Von Diemen e Carl Leukefeld) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54VIII. Psicopatologia e comportamento de risco em motoristas privados e profissionaisno Brasil(Sibele Faller, Helena Maria Tannhauser Barros, Maristela Ferigolo, Taís de Campos Moreira, Bárbara Diniz,Cássio Machado, Daniela Benzano Bumaguin) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64IX. Consumo de álcool e outras drogas entre vítimas de acidentes de trânsito atendi<strong>da</strong>sem emergências de Porto Alegre(Mauro Soibelman, Daniela Benzano, Lisia Von Diemen, Raquel De Boni e Flavio Pechansky) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72X. Acidentes de trânsito com vítimas fatais necropsia<strong>da</strong>s no Departamento Médico Legalde Porto Alegre(Marianne Zwilling Stampe, Helena Hubert Silva, Deise Schroeter, Raquel De Boni, Flavio Pechansky,Juliana Camargo, Sinara Santos) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78XI. Geoprocessamento no estudo <strong>da</strong> relação entre acidentes de trânsito e baresem Porto Alegre(Raquel De Boni, Francisco Inácio Bastos, Eliseu Weber, Heinrich Hasenack, Flavio Pechansky). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84XII. Beber e dirigir em uma amostra de condutores que frequentam bares dePorto Alegre(Raquel De Boni, Mauricio de Vasconcellos, Bárbara Ponzi Holmer, Robson Robin, Francisco Inácio Bastos,Flavio Pechansky) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90XIII. Motoboys e imprudências no trânsito: existe uma associação com patologiaspsiquiátricas?(Anne Sordi, Fernan<strong>da</strong> Kreische, Breno Matte, Renata Gonçalves, Christian Kieling, Roberta Coelho,Cláudia Maciel Szobot e Luis Augusto Rohde) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96XIV. Custos dos acidentes de trânsito com vítimas associados ao uso de álcoolem Porto Alegre(Tanara Rosângela Vieira Sousa, Esmeral<strong>da</strong> Correa, Marianne Zwilling Stampe, Sabino <strong>da</strong> Silva Pôrto Junior,Raquel De Boni) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100XV. Valorando os benefícios <strong>da</strong> redução do risco de lesões e mortes por acidentes detrânsito causa<strong>da</strong>s pelo consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas em Porto Alegre(Tanara Rosângela Vieira Sousa, Sabino <strong>da</strong> Silva Porto Junior) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112


USO DE BEBIDAS ALCOÓLICASE OUTRAS DROGASNAS RODOVIAS BRASILEIRASE OUTROS ESTUDOSSeção A


Seção A – Capítulo IO projeto de pesquisa como elemento na construção <strong>da</strong> política nacionalsobre o álcoolPaulina do Carmo Arru<strong>da</strong> Vieira Duarte e Vladimir de Andrade StempliukA pesquisa intitula<strong>da</strong> Global Status Report on Alcohol,publica<strong>da</strong> pela Organização Mundial de Saúde – OMS, em2004, estima em aproxima<strong>da</strong>mente 2 bilhões o número deconsumidores de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas no mundo. O Brasil ocupaa 80ª posição quando comparado a outros 185 países emtermos de consumo anual de litros de álcool puro por habitantecom i<strong>da</strong>de superior a 15 anos. No entanto, o mesmoestudo indica que o País ocupa a 25ª posição em termos docrescimento do consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas. Entre as déca<strong>da</strong>sde 70 e 90, o consumo de álcool cresceu mais de 70%no País.No Brasil, o “II Levantamento Domiciliar sobre o Uso deDrogas Psicotrópicas” realizado no ano de 2005, nas 108maiores ci<strong>da</strong>des do país (Senad/Cebrid, 2005), aponta o álcoolcomo a substância psicoativa mais consumi<strong>da</strong> pela população.Estima-se que 74,6% dos brasileiros entre 12 e 65anos já consumiram bebi<strong>da</strong>s alcoólicas pelo menos uma vezna vi<strong>da</strong>, o que corresponde a 37.953.000 de indivíduos.Esse mesmo estudo aponta que na faixa etária dos 12 a17 anos 54,3% dos adolescentes já consumiram algum tipode bebi<strong>da</strong> alcoólica pelo menos alguma vez na vi<strong>da</strong>, o quecorresponde a 4.327.000 jovens, sendo que a proporção entrehomens e mulheres é praticamente a mesma. Quandoanalisa<strong>da</strong> a dependência de álcool, a prevalência foi de 7%,correspondendo a 554.000 jovens, sendo 7,3% para homense 6,0% para mulheres (Senad/Cebrid, 2005).A comparação entre esse 2º Levantamento Domiciliar e o1º realizado no ano de 2001 (Senad/Cebrid, 2001) indica quehouve aumento <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de dependentes do álcool,passando de 11,2% <strong>da</strong> população para 12,3% o correspondentea 6.268.000 de pessoas. Os <strong>da</strong>dos também apontam oconsumo de álcool em faixas etárias ca<strong>da</strong> vez mais precocese sugerem a necessi<strong>da</strong>de de revisão <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s de controle,prevenção e tratamento.A esse respeito, o V Levantamento Nacional com Estu<strong>da</strong>ntesdo Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Médio, realizado em 2004,indicou uso precoce dessa substância, sendo que a i<strong>da</strong>de informa<strong>da</strong>para o primeiro uso foi por volta dos 12 anos e ocorreupredominantemente no ambiente familiar. Segundo esselevantamento, 44,3% dos estu<strong>da</strong>ntes pesquisados relatou terconsumido alguma bebi<strong>da</strong> alcoólica, pelo menos uma vez,nos últimos 30 dias que antecederam a pesquisa (Senad/Cebrid,2004). Outros achados do estudo apontaram que 11,7%desses jovens relataram uso frequente (seis ou mais vezes nomês) e 6,7%, uso pesado (vinte ou mais vezes no mês).Em 2007, o I Levantamento sobre Padrões de Consumo deÁlcool na População Brasileira, realizado com uma amostrarepresentativa dos municípios sem exclusão de qualquer partedo território nacional, inclusive áreas rurais, detectou que52% dos brasileiros acima de 18 anos faz uso de bebi<strong>da</strong> alcoólicapelo menos uma vez ao ano. Do conjunto de homensadultos, 11% bebem todos os dias e 28 % de 1 a 4 vezes porsemana. Quanto à intensi<strong>da</strong>de do consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas,esse mesmo estudo aponta que 24% <strong>da</strong> populaçãobebe frequentemente e de forma pesa<strong>da</strong> (pelo menos umavez por semana, 5 ou mais doses) (Senad/Uniad, 2007), sendoque 40% dos homens e 18% <strong>da</strong>s mulheres consumiram5 ou mais doses de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas numa única ocasiãopelo menos uma vez no último ano. Esse padrão, definidocomo “uso pesado episódico”, também referido como “binge-drinking”,foi inicialmente descrito por Wechsler e colaboradores,em 1992, e definido como sendo o consumo de 5ou mais doses de álcool para homens e 4 ou mais doses paramulheres em uma única ocasião; ele apresenta associaçãopositiva com problemas nos diversos domínios <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> dosindivíduos, assim como acidentes e violência de to<strong>da</strong> ordem(Wechsler e Isaac, 1992).A relação complexa e multidimensional entre o consumode álcool e suas consequências na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população temsido comprova<strong>da</strong> por estudos que demonstram que os problemasrelacionados ao consumo excessivo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicasnão se limitam às populações vulneráveis e indicamassociação com os índices de morbi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>população geral, carecendo, por parte dos governos, de políticaspróprias para o tema. Nos últimos 50 anos, houve umprogresso considerável no entendimento científico sobre arelação entre o consumo abusivo de álcool e seu impacto navi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s populações. As evidências produzi<strong>da</strong>s pela ciênciaembasam ca<strong>da</strong> vez mais o debate público e apontam paraa necessi<strong>da</strong>de de formulação de políticas governamentais.A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a importânciade políticas específicas para o tema e recomen<strong>da</strong> váriostipos de estratégias que podem ser implementa<strong>da</strong>s pelosgovernos para reduzir o impacto negativo do consumo debebi<strong>da</strong>s alcoólicas (Babor, Caetano et al., 2003).Ciente dessa reali<strong>da</strong>de e em resposta ao clamor <strong>da</strong> população,o Governo Brasileiro, já em 2003, deu início ao processode construção de sua Política Nacional sobre o Álcool.Naquele ano, foi criado pelo Presidente <strong>da</strong> República um16


Seção A – Capítulo ISão calculados em torno de 10 bilhões de Euros (Issues,2008) os custos dos <strong>da</strong>nos à proprie<strong>da</strong>de na União Européiaem 2003, causados por acidentes de trânsito sob efeito deálcool, enquanto estudos sobre os custos sociais do álcool noReino Unido consideram o álcool a razão chave para pedidosde benefício social por invalidez (Confederation, 2010).No Brasil, somente no ano de 2004, os acidentes de trânsitoforam responsáveis pela per<strong>da</strong> de 35.674 vi<strong>da</strong>s - sendoa nona causa principal de morte e a segun<strong>da</strong> entre as causasexternas (homicídios em primeiro lugar). É também a primeiracausa geral dos 5 aos 14 anos e a segun<strong>da</strong> dos 15 aos29 anos (Ponce e Leyton, 2008). Corroborando ain<strong>da</strong> este<strong>da</strong>do, Leyton (Leyton, 2002) aponta que o uso do álcool estáestreitamente ligado às mortes por acidentes de trânsito, homicídiose outras mortes por causas externas.É sabido que os acidentes de trânsito com morte acometem,prioritariamente, as frações mais jovens <strong>da</strong> população.Entre os jovens brasileiros do sexo masculino, de 15 a 34anos de i<strong>da</strong>de, os diferentes tipos de acidentes de trânsitosão a segun<strong>da</strong> principal causa de morte, atrás apenas de homicídios(Waiselfisz, 2004).Acidentes de trânsito com vítimas também são responsáveispor alto impacto econômico no Brasil: embora representemapenas 14% do total dos acidentes de trânsito emaglomerações urbanas, eles respondem por 69% dos custostotais. Um acidente com vítima custa 11 vezes mais do queum acidente sem vítimas, podendo custar 44 vezes mais sehouver morte (Ipea, 2003).Em 2003, os acidentes de trânsito totalizaram 114.189 internaçõeshospitalares em nosso país, o que significa 15,56%<strong>da</strong>s hospitalizações por lesões e envenenamentos. Além doimpacto <strong>da</strong>s per<strong>da</strong>s humanas, de custos imensuráveis, ain<strong>da</strong>há o impacto financeiro que este tipo de acidente representaem termos de custos para o Estado. Baseando-se nas estatísticasdo Instituto de Pesquisa Econômica Aplica<strong>da</strong> (IPEA),as per<strong>da</strong>s econômicas advin<strong>da</strong>s dos acidentes de trânsitosituam-se entre 1 e 2% do PIB nacional, algo entre R$ 11,67a 23,34 bilhões por ano (Souza, Minayo et al., 2007).O melhor exemplo de que a partir de legislação e políticasde fiscalização e controle é possível reduzir a ocorrência deeventos que podem ser evitados são os resultados alcançadoscom a aprovação e a aplicação <strong>da</strong> Lei n° 11. 705, de 19 dejunho de 2008, sanciona<strong>da</strong> pelo presidente Luiz Inácio Lula<strong>da</strong> Silva, que alterou a Lei n° 9.503, de 23 de setembro de1997 instituindo o Código de Trânsito Brasileiro, modificandoo limite aceito de alcoolemia do condutor de veículo automotorde 0,6 grama de álcool por litro de sangue para zero.Conheci<strong>da</strong> como “Lei Seca”, a nova lei prevê que o motoristaflagrado excedendo este novo limite fica sujeito ao pagamentode multa, per<strong>da</strong> do direito de dirigir pelo prazo de um anoe apreensão do veículo. Além disso, se flagrado com alcoolemiasuperior a 0,6 grama de álcool por litro de sangue, estarásujeito à prisão em flagrante. Outro aspecto importante é aqualificação na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de dolosa dos homicídios cometidospor condutores alcoolizados. Também agora, é proibi<strong>da</strong>a ven<strong>da</strong> de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas nas rodovias federais em seustrechos rurais.Recebi<strong>da</strong> com enorme aprovação popular, esta novalei mostrou-se necessária e importante, colocando o Brasilnuma posição de vanguar<strong>da</strong> em relação à implementação depolíticas públicas sobre o álcool, uma vez que vem provocandouma redução do comportamento de dirigir sob o efeito deálcool em nosso país.Diversos levantamentos já demonstram resultados positivosna redução dos acidentes de trânsito e dos atendimentosde emergência a eles relacionados. Entre o segundo semestrede 2008 e o segundo semestre de 2007, levantamento doMinistério <strong>da</strong> Saúde nas capitais brasileiras revelou reduçãode 23% no total de internações e de 22,5% <strong>da</strong>s mortes poracidentes de trânsito (Ministério <strong>da</strong> Saúde, 2009).É nesse contexto que a Secretaria Nacional de Políticas sobreDrogas – SENAD, órgão de governo responsável por coordenara implementação <strong>da</strong> Política Nacional sobre o Álcool,fun<strong>da</strong>mentou sua justificativa para a realização <strong>da</strong> pesquisanacional denomina<strong>da</strong> “Estudo do impacto do uso de bebi<strong>da</strong>salcoólicas e outras substâncias psicoativas no trânsito brasileiro”.Coordenado pela Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grandedo Sul – UFRGS, e dividido em oito diferentes etapas, o projeto,além de estu<strong>da</strong>r o impacto do uso de bebi<strong>da</strong>s alcoólicase outras substâncias psicoativas no trânsito brasileiro,contempla o desenvolvimento de metodologia de ponta quepossibilita a capacitação de diferentes centros de pesquisaa executarem estudos com as mesmas características e padrões,subsidiando a elaboração e o planejamento <strong>da</strong>s políticaspúblicas regionais e nacionais, em conformi<strong>da</strong>de com asnecessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> população brasileira <strong>da</strong>s diferentes regiõesdo país.Pela dimensão e inovação <strong>da</strong> proposta, esse estudo só foipossível a partir de uma grande articulação político institucionalque garantiu o aporte de recursos financeiros e permitiu ocumprimento integral <strong>da</strong>s metas planeja<strong>da</strong>s. Sua abrangênciae as dimensões continentais do Brasil deman<strong>da</strong>ram umaação interdisciplinar e interinstitucional. Pesquisadores, policiaisde diferentes corporações e gestores de diversos órgãospúblicos dividiram responsabili<strong>da</strong>des na produção dos <strong>da</strong>dosinéditos ora apresentados.O êxito alcançado pelo consórcio formado por órgãos<strong>da</strong> Administração Pública Federal – Presidência <strong>da</strong> República,por meio <strong>da</strong> SENAD; Ministério <strong>da</strong> Educação, por meio18


Seção A – Capítulo IIUm breve histórico <strong>da</strong> relação entre álcool e trânsito no BrasilFernan<strong>da</strong> Cubas de Paula, Flavio Pechansky e Vivian MachadoAo longo de to<strong>da</strong> a história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, o ser humanoprocurou soluções para facilitar a sua vi<strong>da</strong> e ter mais conforto.Produziu armas, adornos, vestimentas, e dentre outrascoisas, o transporte. O caminhar, entretanto, é o meio maisrudimentar e mais antigo que existe. As pessoas an<strong>da</strong>vampor dias descalças e levando consigo seus bens até que inventaramuma espécie de calçado produzido de pele de animalpara proteger seus pés (Marconi e Presotto, 1986). Assim,em uma série de acertos e erros, o ser humano elaborou oque parece ter sido o primeiro transporte terrestre, que seriabem parecido com um trenó, produzido do tronco de umaárvore. Os primeiros sinais apareceram no período Mesolítico,na Finlândia, e também nas planícies do Oriente próximo,por volta de 4000 a.C. Quando as pessoas perceberam quepoderiam domesticar animais como o elefante, o boi ou o camelo,entenderam que isso facilitaria o transporte de cargasalém do seu próprio transporte. Então, na Mesopotâmia, porvolta de 3000 a.C. a ro<strong>da</strong> foi inventa<strong>da</strong> ou descoberta. Foium grande avanço para as pessoas que se deslocam a todoo momento. A princípio era pesa<strong>da</strong>, sóli<strong>da</strong> e foi a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>para ser puxa<strong>da</strong> por animais de grande porte como os bois(Marconi e Presotto, 1986; Rozestraten, 2005). Enfim, com oavanço do transporte foi necessário criar e melhorar os caminhosnos quais as pessoas se locomoviam; com a evolução <strong>da</strong>ro<strong>da</strong> era necessário construir estra<strong>da</strong>s para que o acesso àsci<strong>da</strong>des fosse mais dinâmico. Por volta de 3.300 a.C. em ci<strong>da</strong>des<strong>da</strong> Índia já se construíam estra<strong>da</strong>s de tijolos que eram ligadoscom betume. Em 312 a.C., os romanos iniciaram a viaApia e à medi<strong>da</strong> que iam conquistando terras, ligavam-nasa essa via. Os persas e os romanos, com o intuito de unir osimpérios, são exemplos dessas construções: o ditado “todosos caminhos levam a Roma” existe por esse motivo. A redeviária romana, sem pavimentação, tinha em média, 350.000km de estra<strong>da</strong>s e, desde então, tornou-se necessário implementarleis para minimizar problemas do trânsito. No séculoI a.C., Júlio César proibiu o tráfego de veículos com ro<strong>da</strong>s naárea central de Roma por algumas horas do dia, permitindoapenas a circulação de veículos oficiais e de patrícios (Modernell,1989; Vasconcellos, 2006).As estra<strong>da</strong>s romanas uniam diversos países do continenteeuropeu; porém, com a que<strong>da</strong> do império romano as estra<strong>da</strong>sse tornaram caminhos de invasão e as estra<strong>da</strong>s foramabandona<strong>da</strong>s por séculos. Somente a partir do séculoXII houve um ressurgimento de algumas ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong> EuropaOcidental, e, com o aumento do comércio estra<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Europae China foram restaura<strong>da</strong>s por Marco Pólo no final doséculo XIII. Então, com o fim <strong>da</strong> guerra dos cem anos entrea Inglaterra e a França o movimento voltou às estra<strong>da</strong>s. Foino final do século XIX e durante todo século XX que houveum maior desenvolvimento com a invenção do automóvel(Rozestraten, 2005).O primeiro carro a vapor foi construídono ano de 1769 por Cugnot, na França. Porém, Karl Benz eGottlieb Damimler são considerados os inventores do automóvel,visto que testaram suas idéias até chegar ao que erasocialmente aceito como útil para movimento <strong>da</strong>s pessoas. Apartir <strong>da</strong>í, o automóvel cresceu em um ritmo exponencial atése tornar o que é nos dias de hoje – um definidor de grandeparte de nossas vi<strong>da</strong>s e nas nossas relações sociais.O Trânsito no BrasilNo Brasil, apenas em 1871 desembarcava o 1º veículo avapor: uma enorme, desajeita<strong>da</strong> e barulhenta máquina conecta<strong>da</strong>a um carro que acomo<strong>da</strong>va os passageiros - hojeseria considerado um “trem de rua”. Em 1886, Daimler eBenz já experimentavam modelos novos movidos por motorà combustão interna e, assim, o veículo a vapor já <strong>da</strong>va lugaraos automóveis de ver<strong>da</strong>de. O primeiro deles foi trazido deParis para São Paulo em 1891 por Henrique Santos Dumont,irmão de Alberto. Este automóvel era um Peugeot com motorDaimler e possuía 3 e meio cavalos de força. Nesse temponão existia nem licença para automóvel, nem exame para habilitaçãode motoristas.Aos poucos no Brasil as carruagens com cavalos foram<strong>da</strong>ndo lugar aos automóveis. Em 1907 o automóvel ingressouno carnaval, com os foliões desfilando em carros, jogandoconfetes, lança-perfumes e serpentina nas multidões. Nomesmo ano foi fun<strong>da</strong>do o Automóvel Club do Brasil, quetinha o objetivo de desenvolver o gosto pelo automobilismo,com interesse principalmente na importação de máquinasnovas, na formação de motoristas e na abertura de novasestra<strong>da</strong>s.A primeira construção de um automóvel no Brasil foi em1908, pelo imigrante italiano Cláudio Bonardeli. O veículofoi feito artesanalmente, levando dois anos para juntar to<strong>da</strong>sas peças e assim, criou-se um carro exclusivo. Até a 1ªGuerra Mundial, em 1917, a frota do Brasil era compostapor veículos europeus. Devido à guerra as importações foramreduzi<strong>da</strong>s e acabou havendo uma aproximação do Brasilcom as montadoras norte americanas, que descobriram aquium mercado atraente. Então, em 1919, com um capital deUS$ 25.000,00, a Ford Brasil iniciou a montagem de veículosimportados em São Paulo. Nesta época, o governador paulistaWashington Luiz tinha como lema: “governar é abrirestra<strong>da</strong>s”, tendo inaugurado em 1921 a rodovia Capital-Campinas; nesse momento, a frota nacional atingia 30.00020


Cubas e cols.Um breve histórico <strong>da</strong> relação entre álcool e trânsito no BrasilSeção A – Capítulo IIuni<strong>da</strong>des. Em 1925 foi a vez <strong>da</strong> General Motors inaugurarsua primeira montadora. O início <strong>da</strong> importação de caminhõespara o Brasil deu-se em 1934, quando foram importadosos primeiros caminhões e automóveis <strong>da</strong> marca Volvo.Em 1953 foi proibi<strong>da</strong> a importação de veículos no Brasil, sendoreaberta a importação somente anos depois, no governoCollor. Na déca<strong>da</strong> de 60 a produção de veículos já era 100%nacional.Em 1939 foi inaugura<strong>da</strong> a primeira estra<strong>da</strong> de longo percursoque ligava o Rio de Janeiro à Bahia (BR 393/116). Estafoi a primeira via efetiva de integração nacional. A rodoviaRégis Bittencourt, que liga São Paulo a Curitiba (BR 116), foiinaugura<strong>da</strong> em 1961. Naquela época esta rodovia foi projeta<strong>da</strong>para comportar 8000 automóveis/dia - hoje recebe maisde 32.000 veículos, sendo destes 25.000 caminhões/dia. Em1999 o Brasil possuía 436 rodovias, <strong>da</strong>s quais 150 eram federais.Infelizmente, segundo o DETRAN, apenas 9,52% destas(164.244 km) estavam pavimenta<strong>da</strong>s na época, sendo queaproxima<strong>da</strong>mente 1.560.000 km não possuem ain<strong>da</strong> asfaltono Brasil. Além do baixo índice de asfaltamento, não há<strong>da</strong>dos atuais disponíveis - os <strong>da</strong>dos disponibilizados no sitedo Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes(DNIT) são de dez anos atrás (Brasil). Apenas em 1941 foicriado o Código Nacional de Trânsito, sendo que suas últimasmodificações ocorreram em 2008.Acidentes de trânsito, álcool e drogasCom a disseminação do automóvel, sem muitas leis ounormas de segurança, ocorreu o primeiro acidente no trânsitono mundo, com o motorista William James Lambert, naci<strong>da</strong>de de Ohio, no ano de 1891. Lambert bateu na raiz deuma árvore, perdendo o controle do veículo e se chocou comum poste de amarração (Society, 2006). No Brasil o primeiroacidente ocorreu com o carro de José do Patrocínio, noRio de Janeiro, que estava sendo dirigido por Olavo Bilac. Oautomóvel se chocou com uma árvore, na Estra<strong>da</strong> Velha <strong>da</strong>Tijuca (Rozestraten, 2005). Já o primeiro acidente relatadoenvolvendo ingestão de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas ocorreu no anode 1897 quando George Smith, motorista de taxi, bateu seuveículo em um edifício e assumiu estar sob a influência de bebi<strong>da</strong>alcoólica (Society, 2009). O primeiro estado americanoa estabelecer leis sobre dirigir alcoolizado foi Nova York, noano de 1910, seguido pela Califórnia. Entretanto, as leis nãoespecificavam qual era o limite de embriaguez (Webb e Llc,2009).Desde o século XIX as autori<strong>da</strong>des se preocupam com oconsumo de álcool e suas consequências. Nesta época a únicaforma encontra<strong>da</strong> era deter o indivíduo até que este se recuperassedos efeitos <strong>da</strong> intoxicação. O problema começou ase agravar no século XX, através do surgimento dos veículosmotorizados. Ao longo do tempo, com o surgimento <strong>da</strong>s indústriase com o manuseio de máquinas complexas por partedos operários, e também com o surgimento de transportesde alta veloci<strong>da</strong>de, foi necessário verificar, por parte <strong>da</strong>s empresas,possíveis consumos de álcool em seus motoristas eoperários no intuito de impedir que funcionários sob o efeitodo álcool realizassem trabalhos de alto risco ou dirigissemembriagados.Em 1940 a única forma de verificação de alcoolemia emum indivíduo era através de exames de urina ou sangue. Noentanto, eram considerados métodos muito demorados ena<strong>da</strong> precisos. Além disso, colher uma amostra de urina ousangue para posteriormente examiná-los não era na<strong>da</strong> práticopara deter motoristas suspeitos de estarem sob efeito deálcool. A necessi<strong>da</strong>de de detectar a presença <strong>da</strong> substânciano sangue de forma rápi<strong>da</strong> e não invasiva para o indivíduocontribuiu para que em 1953, Robert Borkenstein - um policiale ex-professor universitário - construísse o bafômetro: umaparelho que permitia detectar os níveis de álcool através doar exalado pelos pulmões. Esse instrumento era de fácil aplicaçãoe mais preciso que o balão apeli<strong>da</strong>do de Drunkometer,sendo assim um teste melhor para a fiscalização de pessoasque dirigiam sob influência do álcool.Em 1962 foi realizado um estudo que serviu como parâmetroinicial para pontos de corte de alcoolemia, o GrandRapids Study, um dos maiores estudos epidemiológicos nessaárea (H. Moskowitz, 2000). Sua principal contribuição foi estabelecera forte relação entre o uso de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas eo crescente impacto <strong>da</strong> alcoolemia nos acidentes de trânsito.Foi um marco na pesquisa sobre o tema, e até hoje é referidocomo uma <strong>da</strong>s principais contribuições à área. A Noruega foio primeiro país a estabelecer um limite máximo de 0,5 g/Lpara alcoolemia em 1936 e, atualmente, tem um limite de0,2 g/L. Já na Suécia o limite é de 1,5 g/L.Na déca<strong>da</strong> de 1970 foi realizado um dos primeiros estudosrelacionados ao álcool no trânsito na Grã-Bretanha, realizadopor Ross (Leyton, 2009), e tendo como resultado uma que<strong>da</strong>de 23% nos acidentes com mortes e 11% nos acidentes comferidos três meses depois <strong>da</strong> implementação de leis de trânsito.Após três anos, pôde-se perceber que os índices voltarama subir. Esses <strong>da</strong>dos mostram a importância <strong>da</strong> fiscalização,uma vez que quando o indivíduo sabe que será fiscalizadoprovavelmente estará mais atento a seus comportamentos.Houve estudos semelhantes nos Estados Unidos, Austráliae Noruega. Todos mostram uma diminuição no número deacidentes em um primeiro momento, porém também mostraramque os níveis, após um tempo, voltam a subir. É nessemomento que deve haver uma fiscalização mais intensa (Wilde,2005; Leyton, 2009).Estudos relacionados ao consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicascombina<strong>da</strong>s a direção em países como Noruega, Holan<strong>da</strong> eCanadá são frequentes; porém, no Brasil, esses estudos estãose iniciando. Um dos precursores em estudos sobre ocomportamento humano no trânsito foi o Psicólogo Reinier21


Seção A – Capítulo IIRozestraten, que dedicou sua vi<strong>da</strong> acadêmica a essa temática.O autor lembra a importância <strong>da</strong> fiscalização rígi<strong>da</strong> notrânsito, pois em países onde existe um policiamento intensoe o cumprimento <strong>da</strong>s leis de trânsito o número de acidentes émenor. Ele ressalta que para um trânsito adequado deve havero que nos Estados Unidos é chamado de tripé do trânsitoorganizado, (3 Es). Esse modelo visa à integrali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Education(educação), Engineering (engenharia) e Enforcement(policiamento/fiscalização), ou seja, educação que parte dedentro de casa para a escola e para to<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de e, emespecial, para os condutores; engenharia, auxiliando na segurançae melhoria <strong>da</strong> via e do veículo; e policiamento, quefaz cumprir as leis e a fiscalização ativa e constante (Cubas,2009). Segundo Rozenstraten,[...] É importante assegurar que o brasileiro coloque na cabeçaque as leis de Trânsito não são imposições autoritárias.Elas possuem uma vigência internacional e foram imagina<strong>da</strong>spara <strong>da</strong>r segurança a todos aqueles que participam do Trânsito[...] (Rozestraten, 1986 p.23).Os índices de acidentes de Trânsito representam um problemade saúde pública e, no Brasil, vêm aumentando emproporções epidêmicas. Os acidentes deixam entre 20 a 50milhões de pessoas feri<strong>da</strong>s todos os anos. Nos países europeuse no Japão, os acidentes de Trânsito começaram a serpercebidos após a segun<strong>da</strong> guerra mundial. Já no Brasil, osacidentes começaram a ser vistos como um problema para asocie<strong>da</strong>de a partir dos anos 70, como resultado de um processode dependência do transporte humano e de mercadoriaspelas estra<strong>da</strong>s e rodovias (Vasconcellos, 2006). Segundoo autor, além dos óbitos, <strong>da</strong>s sequelas físicas e emocionais,existem também os altos custos que se tornam um árduoônus para to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong>de. Alguns estudos incipientementecomeçaram no Brasil a aferir esta dura reali<strong>da</strong>de:Em 1995 foi realiza<strong>da</strong> uma pesquisa pelo Centro de Estudosdo Abuso de Drogas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia,que correlacionou o consumo de bebi<strong>da</strong>s em situações de lazerem bares e na orla marinha de Salvador, sendo encontrados<strong>da</strong>dos de que aproxima<strong>da</strong>mente 38% dos participantesque haviam sofrido acidentes conduzindo um veículo haviamingerido bebi<strong>da</strong>s alcoólicas no dia do acidente.Outro estudo sobre acidentes de trânsito e uso de bebi<strong>da</strong>salcoólicas foi realizado, em 1997, pela Associação Brasileirados Departamentos de Trânsito em quatro capitais brasileiras:Brasília, Curitiba, Recife e Salvador. Dos 865 participantes,27,2% apresentaram alcoolemia superior a 0,6 g/l,o que hoje seria considerado crime pela Lei 11.705/2008,que altera o Código de Trânsito Brasileiro de 1997 (BRASIL,2008). O álcool está ligado a pelo menos 50% dos acidentesno trânsito, o que resulta em diversos problemas sociais eeconômicos (Rozestraten, 1988; Galduróz e Caetano, 2004;Leyton, 2009).A história <strong>da</strong> pesquisa sobre trânsito e álcool no Brasil ain<strong>da</strong>é recente. Comparado com a contribuição internacionalao tema, o país ain<strong>da</strong> se inicia na produção regular de estudosna área, na tentativa de formar um adequado arcabouçode informações epidemiológicas que possam nortear as políticaspúblicas tão necessárias à questão.Referências1. BRASIL, M. D. T.-D. N. D. I.-E. D. T. v. 2009. n. 10 de dezembro.Brasilia.2. BRASIL, P. D. R. Código de Trânsito Brasileiro - Lei 11.705 de19 de junho de 2008. Diário Oficial <strong>da</strong> República Federativa doBrasil, 2008.3. CUBAS, F. Um estudo preliminar como motoristas de caminhãosobre o uso de álcool e outras drogas nas rodovias federais.(2009). 131 f + anexos f. - Mestrado em Psicologia, Universi<strong>da</strong>deCatólica Dom Bosco, Campo Grande, 2009.4. GALDURÓZ, J. C. F.; CAETANO, R. Epidemiologia do uso do álcoolno Brasil. Revista Brasileira de Psiquiatria. n. 262004. p. 3-6.5. H. MOSKOWITZ, M. B., D. FIORENTINO, A. SMILEY, P. ZADOR.Driver Characteristics and Impairment at Various BACs. v. 2010.n. 26 de janeiro. Washington2000.6. LEYTON, V. P., J.C., ANDREUCCETTI, G. Problemas Específicos:Álcool e trânsito. 1. ed. Barueri: Minha Editora, 2009. (Álcool esuas conseqüências: uma abor<strong>da</strong>gem multiconceitual.).7. MARCONI, M. A.; PRESOTTO, Z. M. N. Antropologia: uma introdução.São Paulo: Atlas, 1986.8. MODERNELL, R. Cinco mil anos de loucura no trânsito. QuatroRo<strong>da</strong>s. v. 3121989. p. 44-49.9. MOSKOWITZ, M. et al. Driver Characteristics and Impairment atVarious BACs. v. 2010. n. 26 de janeiro. Washington, 2000.10. ROZESTRATEN, R. J. A. Psicologia do Trânsito: conceitos e processosbásicos. São Paulo: EDU-EDUSP, 1988.11. ______. Educando para o trânsito:Ensino Fun<strong>da</strong>mental. CampoGrande: UCDB, 2005.12. SOCIETY, O. H. World’s First Automobile Accident. v. 2009. n. 02de desembro2006.13. VASCONCELLOS, E. A. Transporte e meio ambiente: conceitos einformações para análise de impacto. São Paulo: Autor, 2006.14. WEBB, T.; WILLIS, L. The History of DUI (Driving Under the Influence).2007-2009.15. WILDE, G. J. S. O limite Aceitável de Risco: uma nova psicologiade Segura. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.22


23Cubas e cols.Um breve histórico <strong>da</strong> relação entre álcool e trânsito no BrasilSeção A – Capítulo II


Seção A – Capítulo IIIAspectos éticos, jurídicos e metodológicos na pesquisa envolvendo ouso de álcool e outras drogasMárcia Santana Fernandes, Júlia Schneider Protas, Carolina Fernández Fernandes e José Roberto GoldimIntroduçãoUm dos grandes desafios na montagem de qualquerprojeto é a busca <strong>da</strong> adequação dos seus aspectos éticos emetodológicos. A Bioética, sendo um campo de trocas entrediferentes saberes (O’neall, 2002), permite uma ampliaçãodestes aspectos, ao incluir as questões jurídicas associa<strong>da</strong>s aoato de pesquisar pessoas.A realização de estudos abor<strong>da</strong>ndo temas sensíveis comoo uso de álcool e outras drogas por motoristas agregou váriosfatores à reflexão sobre como obter um consentimentoválido em diferentes ambientes e situações. A coleta de<strong>da</strong>dos com motoristas amadores e profissionais, utilizandointerações diretas ou telefônicas, em pessoas em situações deatendimento médico pós-acidente ou em procedimentos policiaisusuais, fez com que houvesse a necessi<strong>da</strong>de de ampliara reflexão sobre a adequação do processo de consentimentoinformado (Clotet, Goldim et al., 2000).Ain<strong>da</strong>, a realização destes estudos exigiu uma compreensãodos aspectos jurídicos e regulatórios para sua melhorrealização. Por esta razão, estu<strong>da</strong>mos a legislação pertinente(por exemplo: Constituição Federal, Código de Trânsito e suasalterações, Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997; CódigoCivil, Lei n. 10.406 de 10 de janeiro de 2002; Código Penal,Decreto-Lei 2848 de 07 de dezembro de 1940 e resoluçõesdo Conselho Nacional de Saúde, etc.) até a elaboração de critérioséticos e jurídicos de autoria previamente delimitados,com base na Lei de Direitos Autorais (Lei n. 9.610 de 19 defevereiro de 1998), em razão do número de investigadoresenvolvidos neste estudo (vide anexo 1) 1 .Características do Processo deConsentimentoTo<strong>da</strong> pesquisa deve estar adequa<strong>da</strong> às normas morais e legaisestabeleci<strong>da</strong>s. No Brasil, as diretrizes fun<strong>da</strong>mentais paraa pesquisa envolvendo seres humanos foram estabeleci<strong>da</strong>spela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (Brasil,1996). Posteriormente, esta Resolução foi detalha<strong>da</strong> eminúmeras outras deste mesmo Conselho.Desde o ponto de vista ético, o consentimento informadoé um dever moral dos investigadores para com os participantes(Clotet, 1995). Da mesma forma, em razão do princípio<strong>da</strong> confiança, o processo de consentimento é um dever jurídicodos pesquisadores para com os participantes. Por estasrazões, os investigadores devem disponibilizar informações,especialmente sobre os procedimentos, riscos e benefíciosassociados, de forma adequa<strong>da</strong> aos participantes; devem,igualmente, reconhecer a possibili<strong>da</strong>de destas pessoas estaremem uma situação de vulnerabili<strong>da</strong>de, assumindo umaconduta que possibilite minimizar a ocorrência de comportamentoscoercitivos.Por outro lado, os participantes devem ser pessoas informáveis,isto é, devem ser capazes de acessar e compreenderas informações disponibiliza<strong>da</strong>s pelos investigadores; devemter capaci<strong>da</strong>de psicológica, moral e jurídica para tomar decisõese devem ter a sua voluntarie<strong>da</strong>de reconheci<strong>da</strong> para serrespeita<strong>da</strong>, isto é, ter a possibili<strong>da</strong>de de decidir previamentepela autorização ou não para a realização <strong>da</strong> pesquisa, namedi<strong>da</strong> do possível livre de pressões externas (ver <strong>da</strong>dos relativosa coerção no processo de consentimento abaixo). Avoluntarie<strong>da</strong>de deve ser garanti<strong>da</strong>, inclusive, na possibili<strong>da</strong>dedo participante querer revogar a sua autorização, retirandosedo estudo sem qualquer tipo de repercussão pessoal ounecessi<strong>da</strong>de de justificativa (Goldim, 2002).O entendimento integrado destas características do processode consentimento gera uma perspectiva que ultrapassao simples reconhecimento e cumprimento de direitos e deveres,que está além <strong>da</strong> preservação <strong>da</strong> autonomia dos participantes.A adequa<strong>da</strong> compreensão do processo de consentimentodeve permitir reconhecer que esta é uma relação deco-responsabili<strong>da</strong>de, de co-presença ética entre pesquisadore participante, basea<strong>da</strong> no compartilhamento de informaçõese na confiança recíproca (Goldim, 2002).Muitas vezes ocorre uma confusão entre o processo deconsentimento propriamente dito e o termo de consentimentolivre e esclarecido (TCLE). Este documento deve conteras informações essenciais sobre o projeto, sobre os direitosdos participantes, devendo, também, ter a identificação dosinvestigadores e <strong>da</strong>s instituições envolvi<strong>da</strong>s. O TCLE apenasdocumenta a autorização <strong>da</strong><strong>da</strong> ao final do processo de consentimentomas de forma alguma o substitui. A própria Resolução196/96, em seu item IV.3.c, abre a possibili<strong>da</strong>de de que1Os anexos deste e demais capítulos do livro encontram-se disponíveis no site do Observatório Brasileiro Sobre Drogas - OBID: www.obid.senad.gov.br24


Fernandes e cols.Aspectos éticos, jurídicos e metodológicos na pesquisa envolvendo o uso de álcool e outras drogasSeção A – Capítulo IIIpossam ocorrer situações de pesquisa onde a obtenção doTCLE pode ser impossível. Nestas situações o Comitê de Éticaem Pesquisa pode, excepcionalmente, autorizar a realizaçãodo projeto, mesmo sem a obtenção do TCLE (Brasil, 1996).Estudos Envolvendo Álcool e OutrasSubstânciasO conjunto de projetos de pesquisa que foram planejadospara avaliar o impacto do uso de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas e outrassubstâncias nos motoristas brasileiros apresentou uma grandediversi<strong>da</strong>de de situações de investigação. A abor<strong>da</strong>gem demotoristas em estra<strong>da</strong>s, em bares e restaurantes foi um primeirodesafio logístico e ético, envolvendo questões inclusivesobre a própria segurança dos investigadores. A realizaçãode coleta de <strong>da</strong>dos e materiais biológicos em ambientes deatendimento de saúde pós-acidente de trânsito e a necessi<strong>da</strong>dede contatos telefônicos posteriores com estes motoristas,para fins de acompanhamento de sua evolução e aprofun<strong>da</strong>mentode algumas informações, apresentou outrasimportantes questões metodológicas, éticas, legais e sociais.Houve também o envolvimento de motociclistas profissionaisem situações de simulação de trânsito, com novas peculiari<strong>da</strong>des.Da mesma forma, a coleta de informações em basesde <strong>da</strong>dos de órgãos de segurança pública gerou questionamentossobre a forma de obtenção e limites de utilização.Ca<strong>da</strong> umas destas situações tinha peculiari<strong>da</strong>des que dificultavama obtenção do Termo de Consentimento Livre eEsclarecido e o cumprimento estrito <strong>da</strong>s características usuaisdo processo de consentimento. Tendo em vista a especifici<strong>da</strong>demetodológica de ca<strong>da</strong> um destes estudos, foi feito umlevantamento individual e detalhado <strong>da</strong> forma de coleta de<strong>da</strong>dos prevista, delineando-se um fluxograma, passo a passo,para ca<strong>da</strong> situação (ver item 4 e figura 1).A partir <strong>da</strong> compreensão adequa<strong>da</strong> de ca<strong>da</strong> um dos procedimentos,definiu-se a forma mais apropria<strong>da</strong> às peculiari<strong>da</strong>desde ca<strong>da</strong> situação de coleta visando resguar<strong>da</strong>r aquali<strong>da</strong>de do processo de consentimento. Foram propostasquatro diferentes abor<strong>da</strong>gens para o processo de obtençãodo consentimento: a disponibilização de informações verbais,segui<strong>da</strong> <strong>da</strong> utilização do termo de consentimento livree esclarecido (TCLE), em sua forma convencional e na formade consentimento a posteriori; o consentimento obtido deforma escalona<strong>da</strong> ou progressiva, durante as diferentes fasesde uma coleta utilizando telefone como meio de contato e oconsentimento tácito (ver figura 1).Além disto, foi utilizado também um Termo de Compromissopara Uso de Dados (vide anexo) 2 , nas situações de coletaque utilizassem apenas bases de <strong>da</strong>dos. Neste documentoos investigadores se comprometeram a utilizar os <strong>da</strong>doscoletados apenas para a finali<strong>da</strong>de do projeto, garantindosua confidenciali<strong>da</strong>de, especialmente os de identificação <strong>da</strong>spessoas aos quais tais informações estão relaciona<strong>da</strong>s.O conjunto <strong>da</strong>s questões metodológicas, éticas, legais esociais foi amplamente discutido com as diferentes equipesde investigadores envolvi<strong>da</strong>s no projeto como um todo. Foramrealiza<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de capacitação metodológica, éticae legal, que permitiram que os investigadores, com suas diferentesformações profissionais, se apropriassem de informaçõesrelevantes à compreensão do que seria o adequadoprocesso de consentimento em ca<strong>da</strong> um dos projetos.Houve o envolvimento de outras organizações, além <strong>da</strong>sjá envolvi<strong>da</strong>s diretamente na pesquisa, nesta fase de planejamento.Foram feitas reuniões com segmentos <strong>da</strong> área doDireito, envolvendo juristas, membros do Ministério Público,juízes e advogados. Foram também realiza<strong>da</strong>s dez reuniõespreparatórias com os órgãos de segurança, especialmentecom a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, PolíciaCivil do Estado do Rio Grande do Sul e Instituto Geral dePerícias, além de órgãos especializados em trânsito, como aEmpresa Pública de Trânsito e Circulação (EPTC) <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dede Porto Alegre. Estes contatos e reuniões permitiram ampliara complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s situações de coleta de <strong>da</strong>dos e demateriais biológicos. A partir destes encontros foram feitasadequações e testa<strong>da</strong>s novas possibili<strong>da</strong>des de como obtero consentimento e os <strong>da</strong>dos dos participantes, em especialde como proteger a privaci<strong>da</strong>de dos mesmos. Alguns <strong>da</strong>dospoderiam ter repercussão direta para os motoristas, comopor exemplo a medi<strong>da</strong> de alcoolemia realiza<strong>da</strong> na presençaou proximi<strong>da</strong>de de agentes policiais.Todos os projetos de pesquisa foram redigidos pelas equipesde investigadores. Antes de serem submetidos aos diferentesComitês de Ética em Pesquisa <strong>da</strong>s instituições envolvi<strong>da</strong>s,os projetos foram novamente revisados, especialmenteos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), quandoprevistos, em seus aspectos éticos e legais. Na elaboraçãoe avaliação interna dos TCLEs foi <strong>da</strong><strong>da</strong> especial atenção,além do conteúdo <strong>da</strong> informação, para a estrutura do textoe para o vocabulário empregado. Foram utiliza<strong>da</strong>s frases eparágrafos mais reduzidos e substituí<strong>da</strong>s palavras de difícilcompreensão pelo público em geral.Todos os projetos, com as diferentes propostas de abor<strong>da</strong>gempara o processo de consentimento, foram aprovadospelos Comitês de Ética em Pesquisa <strong>da</strong>s instituições onde estesforam realizados.2Disponível no site www.obid.senad.gov.br25


Seção A – Capítulo IIIAs Diferentes Formas de Obtenção doConsentimentoA diversi<strong>da</strong>de e a complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s situações de pesquisarelaciona<strong>da</strong>s às diferentes metas do projeto fez com quefossem busca<strong>da</strong>s múltiplas abor<strong>da</strong>gens que permitissem garantiros aspectos éticos e a própria viabili<strong>da</strong>de do estudo. Osaspectos regulatórios foram todos contemplados, tanto queforam aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HCPA.O processo de obtenção do consentimento é mais amploque a simples assinatura de um Termo de ConsentimentoInformado. Este consentimento será considerado válidoquando os componentes de informação e de consentimentopropriamente dito forem adequa<strong>da</strong>mente contemplados.O componente de informação deve levar em conta se oparticipante é informável e se foi adequa<strong>da</strong>mente informado.Entende-se por informável o participante que tiver condiçõesde receber informações, reconhecer sua relevância erelembrar fatos. O pesquisador deve fornecer as informaçõesessenciais sobre os procedimentos, os riscos e desconfortos,os benefícios e direitos do participante, incluindo as questõesreferentes a privaci<strong>da</strong>de, a receber novas informações,a possibili<strong>da</strong>de de retirar o seu consentimento e de receberressarcimento por eventuais <strong>da</strong>nos decorrentes <strong>da</strong> pesquisa.O componente de consentimento inclui a capaci<strong>da</strong>de paraa toma<strong>da</strong> de decisão, a voluntarie<strong>da</strong>de para a escolha e a documentação<strong>da</strong> autorização para a participação no projeto. Acapaci<strong>da</strong>de pode ser estabeleci<strong>da</strong> pela avaliação do desenvolvimentopsicológico-moral dos participantes. A preservação<strong>da</strong> voluntarie<strong>da</strong>de, ou seja, <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de escolher entreparticipar ou não com o mínimo de interferência externapode ser avalia<strong>da</strong> pela percepção de coerção associa<strong>da</strong> aoprocedimento de obtenção do consentimento. Em algumasetapas do projeto foram utiliza<strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s de percepçãode coerção justamente para monitorar a voluntarie<strong>da</strong>de dosparticipantes, principalmente em função <strong>da</strong>s situações decoleta dos <strong>da</strong>dos e materiais biológicos. A documentação<strong>da</strong> autorização deve ser feita, habitualmente, através de umTermo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Excepcionalmente,em função de situações metodológicas necessáriasà realização <strong>da</strong> pesquisa, podem ser utiliza<strong>da</strong>s outras abor<strong>da</strong>genspara esta documentação.Quadro 1 – Diferentes tipos de consentimentos utilizados nas metas do projeto.Tipo deconsentimentoConsentimentoUsualSimUso TCLEEm situações normaisde pesquisaExemplo de estudo do NEPTA que utilizou estetipo de Processo de ConsentimentoCapítulo VII – Consumo de drogas entre motoristas privados eprofissionais do BrasilCapítulo XIII – Motoboys e imprudências no trânsito - existeuma associação com patologias psiquiátricas?Consentimentoa PosterioriSimEm situações deemergênciaCapítulo IX – Consumo de álcool e drogas entre vítimas de acidentesde trânsito atendi<strong>da</strong>s em hospitais de Porto AlegreConsentimentoEscalonadoSimEm situações que oconsentimento deveser frequentementereconsentidoCapítulo VIII – Psicopatologia e Comportamento de Risco emMotoristas Privados e Profissionais no BrasilConsentimentoTácitoNãoEm algumas situaçõesque a identificaçãopode prejudicar ospesquisadosCapítulo XII – Beber e dirigir em uma amostra de condutoresque frequentam bares em Porto Alegre26


Fernandes e cols.Aspectos éticos, jurídicos e metodológicos na pesquisa envolvendo o uso de álcool e outras drogasSeção A – Capítulo IIIForam avalia<strong>da</strong>s múltiplas formas de obter consentimentosválidos dos participantes. No projeto foram utiliza<strong>da</strong>squatro diferentes abor<strong>da</strong>gens: o consentimento usual, oconsentimento a posteriori, o consentimento escalonado e oconsentimento tácito (Quadro 1).Processo de Consentimento UsualO processo de consentimento na sua forma usual, utilizandoo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)como documento <strong>da</strong> autorização prévia dos participantes, estevepresente em dois estudos: o que envolvia motociclistasprofissionais e o que avaliou a prevalência de uso de bebi<strong>da</strong>salcoólicas em motoristas que trafegavam em rodovias federais.No estudo dos motociclistas o recrutamento dos participantesfoi feito junto aos seus locais de trabalho. O profissionalque espontaneamente procurava o NEPTA recebia deum dos investigadores associados ao estudo to<strong>da</strong>s as informaçõessobre os procedimentos, riscos, benefícios e direitosassociados a sua participação, com a possibili<strong>da</strong>de de esclarecereventuais dúvi<strong>da</strong>s que ain<strong>da</strong> permanecessem. Somenteapós este período de interação pessoal e verbal é que eraapresentado o TCLE, com a indicação de que o participante olesse. Este documento já havia sido redigido com o cui<strong>da</strong>dode disponibilizar um texto adequado em termos de estruturae vocabulário. Caso o motociclista aceitasse participar, oprocesso de consentimento se encerrava com a assinaturado TCLE. Esta é a forma mais clássica de obtenção de umconsentimento. Durante o estudo foi avalia<strong>da</strong> a percepçãode coerção dos motociclistas, que poderia variar de zero acinco pontos, utilizando um teste já vali<strong>da</strong>do para o uso noBrasil (Gardner, Hoge et al., 1993; Tabor<strong>da</strong>, 2002). Os motociclistastiveram valores que variaram de zero a três pontos,com maior concentração em um ponto. O valor médio obtidocom a amostra dos motociclistas foi de 1,39+0,89. Estevalor ficou um pouco acima do verificado em outros gruposde pacientes participantes de projetos de pesquisa clínica realizadosno Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que tiverammédia de 1,02+0,94 para a percepção de coerção (figura 2).O estudo “Consumo de drogas entre motoristasprivados e profissionais do Brasil” teve como objetivoavaliar o uso destas substâncias em motoristas que trafegavamem rodovias federais de todos os estados brasileiros e noDistrito Federal. Neste estudo também foi utilizado o TCLEcomo documentação do processo de consentimento, porém,com algumas peculiari<strong>da</strong>des muito interessantes devido a aspectoséticos, sociais e legais associados à forma de coletados <strong>da</strong>dos e materiais biológicos.Os procedimentos de coleta de <strong>da</strong>dos foram planejadospara ocorrer em postos <strong>da</strong> Polícia Rodoviária Federal (PRF)devido a questões de segurança para a própria equipe de investigadores.A coordenação logística destas coletas foi feitacom a estrita colaboração <strong>da</strong> Polícia Federal (PF) e <strong>da</strong> PolíciaRodoviária Federal (PRF).A coleta de <strong>da</strong>dos e de material biológico foi aninha<strong>da</strong>em uma ação de fiscalização de rotina <strong>da</strong> Polícia RodoviáriaFederal. Foram toma<strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s jurídicas e éticas de precauçãono sentido de permitir que informações obti<strong>da</strong>s noestudo fossem cientificamente relevantes e confiáveis, assimcomo os direitos dos investigados e dos coletadores fossemassegurados. Desta forma, o procedimento foi estabelecidoem quatro etapas, assim descritas:1. Da abor<strong>da</strong>gem policial: um agente <strong>da</strong> PRF treinado peloNEPTA e auxiliado por outros policiais federais sinalizapara que um determinado motorista - de caminhão,de ônibus, de motocicleta ou de automóvel de passeio(escolhido pelos critérios de pesquisa) - pare o seu veículoem uma área do posto <strong>da</strong> PRF. Nesta abor<strong>da</strong>gemsão realizados apenas os procedimentos habituais defiscalização padrão <strong>da</strong> documentação e condições detrafegabili<strong>da</strong>de do veículo sem a realização do teste doetilômetro.2. Convite para participar <strong>da</strong> pesquisa: após a realizaçãodos procedimentos habituais de fiscalização e antes deefetuar a medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> alcoolemia do motorista, o policialrodoviário informa ao motorista que está sendo realiza<strong>da</strong>uma pesquisa sobre “uso de álcool e outras substânciaspor motoristas”. Neste momento, o policial apenasfaz um convite para o motorista ter contato com aequipe de investigadores, ficando o motorista livre paraoptar em aceitar ou não o convite. Os investigadores ecoletadores sempre devem estar localizados e instaladosem área diferente <strong>da</strong> área que os procedimentos habituaisde fiscalização se realizam.3. Da negativa para participar <strong>da</strong> pesquisa: caso o motoristanão aceite o convite para conversar com os investigadores,sem qualquer questionamento sobre a suanegativa, o próprio policial encaminha o motorista paraa realização do procedimento de verificação <strong>da</strong> alcoolemia,com o uso de um etilômetro, em uma outra áreado posto <strong>da</strong> PRF (ver no fluxograma 3.a). Destaca-se queneste momento não pode haver a presença de qualquermembro <strong>da</strong> equipe de investigadores. Posterior à realizaçãodo etilômetro, o policial rodoviário tomará to<strong>da</strong>sas providências legalmente exigi<strong>da</strong>s (ver figura 1- 3.b)4. Do aceite para participar <strong>da</strong> pesquisa: Caso o motoristaaceite o convite para participar do estudo, ele éconduzido até um dos investigadores, em área específicapara este fim, o qual se apresenta formalmentee a pesquisa inicia, observando-se uma sequência dequatro fases primordiais, as quais passamos a referir:27


Seção A – Capítulo IIIFigura 1 – Fluxograma do processo de obtenção do consentimento informado.NEPTA*GRUPO DA BIOÉTICAESTUDO NACIONALDAS RODOVIAS1. ABORDAGEM PELO POLICIALRODOVIÁRIO FEDEDERAL2. Sim 3. Não4. Questionamento se oinvestigado deseja participar<strong>da</strong> pesquisa3(a). Realização do procedimentopadrão – realizaçãodo etilômetroA pesquisa é realiza<strong>da</strong>:4(a). Apresentação de TCLE -4(b). Questionário e coleta desaliva - 4(c). Instrumento decoerção - 4(d). autorizaçãopara utilização dos <strong>da</strong>doscoletados pelo etilômetro3(b). PRF tomará to<strong>da</strong>s asprovidências legalmente4-a. o processo de obtenção do consentimento inicia, ouseja informações verbais sobre os procedimentos, riscos,benefícios e direitos do participante na pesquisa são verbalizadospelo investigador. Logo após a prestação <strong>da</strong>sdevi<strong>da</strong>s informações e esclarecimentos, é apresentado oTermo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), quede forma escrita contém as mesmas informações anteriormenteverbaliza<strong>da</strong>s. Nota-se que para que o participantepossa continuar na pesquisa o TCLE deve ser assinado;4-b. Após a assinatura do TCLE os procedimentos depesquisa propriamente ditos são iniciados com a realizaçãode uma breve entrevista estrutura<strong>da</strong> e coleta desaliva para posterior análise de substâncias presentes;4-c. Na sequência há a aplicação de instrumentode medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> percepção de coerção em pesquisa;4-d. Por fim o investigador solicita a autorização paracoleta dos <strong>da</strong>dos a serem obtidos com o etilômetro pelopolicial rodoviário, ao final do procedimento policial (verFigura 1-3.a e 3.b).O TCLE utilizado neste estudo serviu para documentaradequa<strong>da</strong>mente a autorização do motorista para coleta de<strong>da</strong>dos, inclusive de alcoolemia, e de material biológico, nocaso saliva, que seria processa<strong>da</strong> posteriormente.A coleta sobre a percepção de coerção serviu como umamedi<strong>da</strong> de controle para avaliar o impacto de realizar umacoleta de <strong>da</strong>dos durante um procedimento policial de rotina.Os valores obtidos, que variaram de zero a cinco, com médiade 1,21+1,10 (figura 2), evidenciaram que a percepção decoerção dos motoristas foi semelhante à verifica<strong>da</strong> em outrosambientes de pesquisa. Isto pode ser atribuído à totaldissociação, inclusive física e de equipes envolvi<strong>da</strong>s, entre osprocedimentos policiais e de pesquisa. Da mesma forma, aobtenção do <strong>da</strong>do <strong>da</strong> alcoolemia como parte do procedimentopolicial e não de pesquisa visava proteger a exposiçãoindevi<strong>da</strong> de um <strong>da</strong>do do projeto que poderia deman<strong>da</strong>r umaintervenção policial, no caso de ser verificado um valor positivono teste.Vale destacar que alguns motoristas não aceitaram o conviteinicial para participação na pesquisa, o que evidencia apossibili<strong>da</strong>de do exercício de sua voluntarie<strong>da</strong>de.28


Fernandes e cols.Geoprocessamento <strong>da</strong> relação entre acidentes de trânsito e bares de Porto AlegreSeção A – Capítulo IIIConsentimento a PosterioriUma <strong>da</strong>s características tradicionais do processo de consentimentoé a sua obtenção antes de que sejam realizadosquaisquer procedimentos de pesquisa com o participante. Osestudos realizados em situações de atendimento de emergênciapodem não ter condições de atender esta possibili<strong>da</strong>de.Nestas situações o participante ou seus representanteslegais podem estar com a sua capaci<strong>da</strong>de para toma<strong>da</strong> dedecisão reduzi<strong>da</strong> devido ao impacto físico e emocional decorrente<strong>da</strong>s circunstâncias envolvi<strong>da</strong>s. Estas situações exemplificamesta impossibili<strong>da</strong>de já prevista na Resolução 196/96(Brasil, 1996).O estudo “Consumo de álcool e drogas entre vítimasde acidentes de trânsito atendi<strong>da</strong>s em hospitaisde Porto Alegre“ apresentou o desafio de se obter <strong>da</strong>dose materiais biológicos de pacientes maiores de 18 anos emdois hospitais especializados em atendimento de trauma dePorto Alegre: Hospital de Pronto Socorro e Hospital CristoRedentor.Para as situações onde não há possibili<strong>da</strong>de de obtençãoprévia do consentimento, foi planeja<strong>da</strong> uma alternativaa este impedimento, com a utilização do consentimento aposteriori, também referido como deffered consent (Levine,1995). Este processo de obtenção de consentimento possibilitaque os materiais biológicos e informações necessáriospara a realização <strong>da</strong> pesquisa sejam coletados, sem que hajaalteração nos procedimentos assistenciais. As informações emateriais biológicos coletados não são processados ou utilizadosaté que seja possível aplicar o processo de consentimentocom o paciente ou seu representante legal. Todos osprocedimentos já realizados foram apresentados de formadetalha<strong>da</strong>, informando especialmente que caso não fosse<strong>da</strong><strong>da</strong> a autorização, tanto as informações quanto os materiaisbiológicos seriam descartados, ou seja, apesar de teremsido coletados, não seriam incluídos na pesquisa. Por outrolado, caso a autorização fosse obti<strong>da</strong>, as informações já coleta<strong>da</strong>sseriam incluí<strong>da</strong>s, os materiais biológicos encaminhadospara processamento laboratorial e realiza<strong>da</strong> nova coleta de<strong>da</strong>dos complementares.A justificativa ética para o uso deste tipo de procedimento,claramente excepcional, se baseia no benefício potencialque estes <strong>da</strong>dos poderão gerar, com um mínimo de risco deexposição, e na preservação <strong>da</strong> auto-determinação do paciente,diretamente ou por meio de seu representante legal,quanto à possibili<strong>da</strong>de de utilização ou não dos <strong>da</strong>dos e materiaisjá coletados.Especificamente neste estudo, foram coletados <strong>da</strong>dos <strong>da</strong>condição clínica dos pacientes e realiza<strong>da</strong> a coleta de uma alíquotade urina, para a avaliação <strong>da</strong> presença de substânciasde interesse do estudo. Durante a obtenção do consentimentofoi solicita<strong>da</strong> também a autorização do paciente para arealização de contatos telefônicos com a finali<strong>da</strong>de de coletarmais informações a respeito de sua evolução e outras característicasnecessárias para outros estudos associados a estamesma linha de pesquisa.Consentimento EscalonadoA obtenção de <strong>da</strong>dos por meio de contatos telefônicostambém foi utiliza<strong>da</strong> no estudo “Psicopatologia e Comportamentode Risco em Motoristas Privados e Profissionaisno Brasil”. Esta maneira de coletar informaçõesagrega outras questões metodológicas, éticas e legais quedevem ser leva<strong>da</strong>s em consideração.A primeira questão é a que se relaciona com a documentaçãodo processo em si. Foram utiliza<strong>da</strong>s instalações quepossibilitaram o registro sonoro destes contatos. O membro<strong>da</strong> equipe responsável pela entrevista telefônica iniciava o seucontato com a explicação <strong>da</strong> finali<strong>da</strong>de desta interação, relembrandoa autorização para contato que havia sido <strong>da</strong><strong>da</strong>quando do atendimento assistencial do paciente. Após informarque a entrevista estava sendo grava<strong>da</strong>, eram explicadosos procedimentos deste estudo, que envolviam a realizaçãode uma entrevista telefônica, especificando a sua duraçãoaproxima<strong>da</strong> e que este consentimento seria reiterado ao longo<strong>da</strong> mesma. A autorização para a realização <strong>da</strong> pesquisafoi documenta<strong>da</strong> através <strong>da</strong> gravação desta interação telefônicae poderia ser transcrita para fins de arquivamento. Outrassituações de autorização feitas por telefone também seutilizam desta forma de documentação, tais como os bancose outras instituições financeiras.A reiteração do consentimento ao longo <strong>da</strong> entrevista telefônicaé que caracteriza o consentimento escalonado, poisa ca<strong>da</strong> etapa <strong>da</strong> entrevista o participante é solicitado a <strong>da</strong>r asua autorização para a continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mesma. A falta de interaçãovisual entre pesquisador e participante reduz a identificaçãode eventuais situações de constrangimento. Com autilização do consentimento escalonado o participante ficalivre para autorizar ou não o prosseguimento <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de depesquisa, sem contudo comprometer as etapas anteriores.O roteiro de entrevista estrutura<strong>da</strong> utilizado nestes estudosfoi montado de maneira a ter a sua aplicação realiza<strong>da</strong>de forma gradual e progressiva, em termos de detalhamento,conjunto coerente de informações e nível de revelação de informaçõespessoais. Foram incorpora<strong>da</strong>s ao texto perguntassobre a presença de eventuais desconfortos que as questõespoderiam estar gerando ao participante e sobre a possibili<strong>da</strong>de<strong>da</strong> continuação <strong>da</strong> entrevista.O uso de consentimento escalonado nestas situações garanteuma interação respeitosa e de quali<strong>da</strong>de. Isto pode ser,pelo menos em parte, verificado pelos valores obtidos napercepção de coerção, que variaram de zero a quatro, commédia de 0,88+0,91 (figura 2).29


Seção A – Capítulo IIIConsentimento TácitoA documentação <strong>da</strong> participação de uma pessoa em umapesquisa através de um TCLE exige a sua adequa<strong>da</strong> identificação.Em algumas situações de pesquisa a identificação podeprejudicar ou até mesmo impedir a participação de pessoasem circunstâncias específicas. No consentimento tácito todoo processo de consentimento é preservado exceto a sua documentaçãoatravés do TCLE. O pesquisador mantém o deverde informar todos os procedimentos riscos, benefícios e direitosenvolvidos na pesquisa. O participante recebe uma folhainformativa onde constam as informações essenciais <strong>da</strong> pesquisa,mas não é feita a coleta de assinatura nem dos <strong>da</strong>dospessoais de identificação. A autorização era entendi<strong>da</strong> comováli<strong>da</strong>, quando o participante, após ter sido adequa<strong>da</strong>menteinformado, fornecesse, de forma voluntária, as informaçõese materiais biológicos solicitados.No estudo “Beber e dirigir em uma amostra decondutores que frequentam bares em Porto Alegre”esta estratégia de processo de consentimento foi utiliza<strong>da</strong>.Os procedimentos de coleta incluíam a aplicação de umquestionário e a medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> alcoolemia, por meio de um etilômetro,além <strong>da</strong> coleta de saliva. Considerando-se os ambientesde coleta, a forma de interação breve com o pesquisadore as eventuais repercussões legais decorrentes, a não identificaçãodos participantes foi julga<strong>da</strong> como sendo a menosinvasiva e que menor efeito teria sobre a voluntarie<strong>da</strong>de <strong>da</strong>spessoas convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s.Figura 2 – Valores médios e do intervalo de confiança (95%) <strong>da</strong> escalade percepção de coerção obtidos em participantes de pesquisa clínicarealiza<strong>da</strong> no HCPA e com três grupos de participantes do projeto, emcoletas de estra<strong>da</strong>, com motoboys e por meio de entrevista telefônica.É reconhecido o fato que ambientes de pesquisa envolveminúmeros pesquisadores, diferentes etapas de pesquisa, diversasinstituições hospedeiras e patrocinadoras. Os critériosde autoria podem ser objeto significativo de desajustes naharmonia do trabalho. Da mesma forma, a Lei de DireitosAutorais, Lei 9.610 de fevereiro de 1998, não tipifica tais critérios,protegendo genericamente o direito do indivíduo serreconhecido como autor <strong>da</strong> obra.Por estas razões, o Grupo <strong>da</strong> Bioética apresentou profilaticamentesugestão de critérios de autoria que deveriam serpreviamente conhecidos de todos os envolvidos no projetode pesquisa – dos secretários ou coletadores de <strong>da</strong>dos aosinvestigadores principais e instituições envolvi<strong>da</strong>s.Estes critérios foram preestabelecidos em quatro gruposprincipais: 1º certificação pessoal e termo de responsabili<strong>da</strong>deindividual; 2º reconhecimento de função e responsabili<strong>da</strong>desnas metas; 3º reconhecimento de participação no todoou em parte do projeto e 4º reconhecimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>desefetivamente realiza<strong>da</strong>s (observa-se que este critério é subdivididoem 3 outros sub-critérios). Desta forma, para que osparticipantes do projeto fossem também autores, eles obrigatoriamentedeveriam preencher todos os quatro critérios(veja documento anexo) 3 .Considerações FinaisA avaliação <strong>da</strong> adequação bioética de procedimentos depesquisa deve envolver inúmeras áreas de conhecimento queapresentam múltiplas interfaces entre si. É indissociável a relaçãoentre aspectos éticos e metodológicos, assim como aadequação ao referencial legal e regulatório envolvido. Damesma forma, outros aspectos sociais, políticos, econômicos,espirituais, assistências e profissionais também interferemde modo significativo.A Bioética Complexa permite uma visão abrangente destasdiferentes e complementares perspectivas sobre o mesmoproblema (Goldim, 2009). Novas situações de pesquisaexigem soluções criativas e adequa<strong>da</strong>s para permitir a suaaplicação.Hospital 1 Estra<strong>da</strong>s 2 Motoboys 3 Telefone 4É fun<strong>da</strong>mental preservar os elementos fun<strong>da</strong>mentais doprocesso de consentimento, mas é igualmente fun<strong>da</strong>mentalavaliar a sua repercussão e a justificativa para ajustes necessáriosa realização de estudos em situações especiais e específicas.Dos Critérios de autoria implementadospara o projetoÉ fun<strong>da</strong>mental que haja uma integração de diferentes membros<strong>da</strong> equipe de investigadores para permitir que haja umentendimento adequado de to<strong>da</strong>s as possíveis repercussões <strong>da</strong>pesquisa para os indivíduos envolvidos e para a socie<strong>da</strong>de comoum todo. Isto possibilitará um encaminhamento igualmente3Disponível no site www.obid.senad.gov.br30


Fernandes e cols.Geoprocessamento <strong>da</strong> relação entre acidentes de trânsito e bares de Porto AlegreSeção A – Capítulo IIIadequado do projeto a um Comitê de Ética em Pesquisa.A relação entre pesquisador e participante de uma pesquisadeve ser de co-presença ética. A responsabili<strong>da</strong>de dopesquisador pelo participante é, na reali<strong>da</strong>de, o reconhecimentode uma responsabili<strong>da</strong>de por si mesmo, permitindouma relação de co-responsabili<strong>da</strong>de (Souza, 2004).A co-responsabili<strong>da</strong>de foi a diretriz que norteou os trabalhos<strong>da</strong> equipe de Bioética, a qual foi implementa<strong>da</strong> <strong>da</strong>seguinte forma: 1º) reconhecer as dificul<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> metaassessora<strong>da</strong>; 2º) harmonizar os objetivos de ca<strong>da</strong> meta comos objetivos centrais do projeto, respeitando as peculiari<strong>da</strong>desespecíficas (por exemplo: encontrar alternativas diferentespara colher o consentimento informado e esclarecertemas sensíveis, como a coleta de informações pela PolíciaFederal em um ambiente de pesquisa, relacionando-os aoDireito); 3º) assessorar na implementação dos processosde consentimento informado específicos e seus respectivosregistros, quando necessários; 4º) elaborar previamente critériosespecíficos de autoria para a produção acadêmica dogrupo em respeito a deliberações éticas e jurídicas e por fim5º) assessorar para que to<strong>da</strong>s as metas estivessem procedendocom atenção a consensos bioéticos desenvolvidos para oprojeto e aspectos jurídicos e regulatórios relevantes.Referências1. BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e Normas Regulamentadorasde Pesquisas Envolvendo Seres Humanos Resolução196/96. Diário Oficial <strong>da</strong> União 16/10/1996: 21082-210851996.2. CLOTET, J. O consentimento informado nos Comitês de Ética empesquisa e na prática médica: conceituação, origens e atuali<strong>da</strong>de.Bioética [S.I.], v. 3, n. 1, p. 51-59, 1995.3. CLOTET, J. et al. Consentimento Informado e a sua adequação naassistência e pesquisa no Brasil. 1. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS,2000.4. GARDNER, W. et al. Two scales for measuring patients perceptionsfor coercion during mental hospital admission. BehaviorScience Law [S.I.], 1993.5. GOLDIM, J. R. O consentimento informado numa perspectivaalém <strong>da</strong> autonomia. Revista AMRIGS [S.I.], v. 46, n. 3,4, p. 109-116, 2002.6. ______. Bioética Complexa: uma abor<strong>da</strong>gem abrangente para oprocesso de toma<strong>da</strong> de decisão. Revista AMRIGS [S.I.], v. 53, p.58-63, 2009.7. LEVINE, R. J. Research in emergency situations. The role of deferredconsent. Jama [S.I.], v. 273, n. 16, p. 1300-2, Apr 26 1995.8. O’NEALL, O. Autonomy and Trust in Bioethics. Cambridge: Cambridge,2002.9. SOUZA, R. T. Razões Plurais. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.10. TABORDA, J. Percepção de coerção em pacientes psiquiátricos,cirúrgicos e clínicos hospitalizados. (2002). (tese de doutorado),Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande do Sul [Tese de Doutorado],Porto Alegre, 2002.31


Seção A – Capítulo IVImpacto econômico dos acidentes de trânsito relacionados ao uso desubstâncias psicoativasSabino <strong>da</strong> Silva Porto Júnior, Daniela Goya Tochetto, Tanara Rosângela Vieira Sousa, Esmeral<strong>da</strong> Correa,Marianne StampeIntroduçãoO objetivo desse estudo pioneiro no Brasil é examinar umdos aspectos <strong>da</strong> rede de impactos negativos provocados peloconsumo e acesso a substâncias psicoativas: o custo econômicodos acidentes de trânsito relacionados com o consumode álcool na ci<strong>da</strong>de de Porto Alegre. Além disso, tem-se o objetivoespecífico de desenvolver uma metodologia de mensuraçãode custos e uma base de <strong>da</strong>dos que permita aprofun<strong>da</strong>ra compreensão do impacto socioeconômico do consumode álcool.A quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> saúde de uma população é fun<strong>da</strong>mentalquando o tema é desenvolvimento econômico e social. Nadefinição dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, umprograma de desenvolvimento global instituído pela Organização<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (ONU) e que envolve 191 países, asaúde é uma preocupação central.Nesse sentido, o combate à pobreza não pode prescindirde aspectos relacionados ao consumo, produção e acesso asubstâncias psicoativas (SPA), devido ao profundo impactoque a “indústria” dessas substâncias tem sobre a saúde dosci<strong>da</strong>dãos e, consequentemente, sobre o desempenho socioeconômicodos países. Entende-se agora com clareza que oconsumo de SPA tem um impacto econômico negativo quevai muito além do efeito sobre a saúde do consumidor individual,estendendo-se a um aumento na incidência de crimes,no comportamento sexual de risco e em síndromes que acarretam<strong>da</strong>nos aos fetos, dentre outros. Esses efeitos negativosestão entre os principais fatores de risco e de pobreza paraeconomias de países emergentes e/ou em desenvolvimento.(Devlin, Scuffham & Bunt, 1997). No Brasil, estima-se umcusto anual de R$ 5,3 bilhões relacionados aos acidentes detrânsito em grandes metrópoles (IPEA/ANTP, 2003) – aproxima<strong>da</strong>mente0,4% do PIB do país.O acesso, produção e consumo de SPA é uma <strong>da</strong>s principaisbarreiras ao pleno e efetivo desenvolvimento <strong>da</strong>s nações.Portanto, só é possível alcançar um desenvolvimento sustentávelcom inclusão social e equi<strong>da</strong>de se os formadores de opiniãoe tomadores de decisão, tanto na esfera pública quantona priva<strong>da</strong>, bem como a comuni<strong>da</strong>de em geral, entenderemo real impacto <strong>da</strong>s drogas sobre a capaci<strong>da</strong>de de desenvolvimentosocioeconômico de um país (Singer, M. 2008).Nesse contexto, salienta-se a importância de aprofun<strong>da</strong>ro conhecimento dos custos envolvidos com o uso de SPA noBrasil, representando o trabalho aqui apresentado mais umesforço nesse sentido. Embora os acidentes de trânsito sejama segun<strong>da</strong> causa de morte entre jovens e <strong>da</strong>dos internacionaismostrem a magnitude do impacto econômico dessesacidentes e sua relação com o uso de SPA, ain<strong>da</strong> são poucosos <strong>da</strong>dos sobre os custos socioeconômicos relacionados aodirigir sob efeito de substâncias psicoativas no Brasil. Essescustos aparecem sob as mais diversas formas: custos relativosaos atendimentos e internações <strong>da</strong>s vítimas, per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de,morte prematura de uma parcela expressiva <strong>da</strong>população economicamente ativa, e sofrimento <strong>da</strong> família.O presente estudo buscou mensurar todos esses custos decorrentesde acidentes de trânsito relacionados com uso deálcool na ci<strong>da</strong>de de Porto Alegre, através do desenvolvimentode uma metodologia basea<strong>da</strong> em estudos nacionais e internacionais.Dentre esses efeitos, destaca-se a relação entre o uso deSPA e a ocorrência de acidentes de trânsito. Há documentaçãoextensa na literatura mostrando que a ingestão de qualquerquanti<strong>da</strong>de de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas e outras SPA provocaalterações cognitivas que prejudicam o desempenho paradirigir, aumentando o risco de acidentes de trânsito (Moskovitz,1985; Hingson, 2003a).Os acidentes de trânsito relacionados ao uso de SPA geramuma série de custos econômicos e sociais para to<strong>da</strong> asocie<strong>da</strong>de. É um impacto negativo indireto do uso de SPAque pode representar, segundo estimativas internacionaispara a Nova Zelândia, um valor de até 4 bilhões de dólaresanuais decorrentes dos custos gerados por acidentes detrânsito relacionados exclusivamente com o abuso de álcoolNesse capítulo será, primeiramente, delineado um brevepanorama <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de brasileira e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Porto Alegreno que tange aos acidentes de trânsito. A seguir, serãoapresentados os principais estudos internacionais e nacionaisque mensuram os custos socioeconômicos dos acidentes detrânsito. Por fim, e com base nas seções anteriores, serão explicitadosos tipos de custos abrangidos pelo presente estudoe a metodologia emprega<strong>da</strong> para mensurá-los.1. Acidentes de trânsito: uma reali<strong>da</strong>de que preocupaA Organização Mundial <strong>da</strong> Saúde (OMS) estima que o númerode mortes decorrentes de acidentes de trânsito deve ultrapassarum milhão de pessoas em 2015 e reconhece comouma <strong>da</strong>s causas principais desses acidentes o consumo de32


Porto Jr e cols.Impacto econômico dos acidentes de trânsito relacionados ao uso de substâncias psicoativasSeção A – Capítulo IVSPA. No Brasil, mortes violentas ocupam a segun<strong>da</strong> posiçãodentre as causas de morte <strong>da</strong> população (Scalassara et. al.,1998). De acordo com Minayo (2009), acidentes de trânsitoe homicídios são os principais tipos de óbitos que caracterizammortes violentas no Brasil. Na déca<strong>da</strong> de 1990, o Brasilteve 310 mil mortes relaciona<strong>da</strong>s com acidentes de trânsito,excluindo-se os casos de acidentes que não tiveram vítimasfatais.Nesse contexto, políticas públicas relaciona<strong>da</strong>s a acidentesde trânsito têm um papel fun<strong>da</strong>mental na gestão dosrecursos públicos e, por conseguinte, na eficiência econômicado país. Contudo, esses números representam apenas aparte visível dos custos sociais envolvidos. Sabe-se hoje quea excessiva violência no trânsito urbano e nas estra<strong>da</strong>s podeser uma consequência direta do acesso a SPA, sendo esseum dos problemas estruturais que pode estar na origem degraves questões sociais que inviabilizam o desenvolvimentoeconômico do país.Acidentes de trânsito estão relacionados a diversos fatorescausadores: deficiência na conservação de veículos e estra<strong>da</strong>s,consumo de substâncias psicoativas, falhas humanas,dentre outros. Tanto os fatores causadores quanto a intensi<strong>da</strong>dedos acidentes fatais variam bastante entre os municípiosbrasileiros (Minayo, 2009). O coeficiente de mortali<strong>da</strong>deencontrado em Maringá-PR para o ano de 1992 foi de 34,6óbitos por 100 mil habitantes (Scalassara et. al., 1998). EmLondrina, o coeficiente foi um pouco menor, 29 óbitos/100mil habitantes (Andrade e Mello-Jorge 2000). Já em São Paulo,onde se poderia esperar um maior coeficiente de mortali<strong>da</strong>depor ser um grande aglomerado urbano, o coeficientepara o mesmo ano foi de 21/100 mil habitantes (CET 1997).Em estudo realizado para Maringá, no Paraná, Scalassaraet. al. (1998) traça um perfil <strong>da</strong>s vítimas fatais de acidentesde trânsito. Os resultados indicam que a maioria <strong>da</strong>s vítimasresidia em áreas urbanas, era do sexo masculino, e encontrava-sena faixa etária entre 20 e 49 anos – apesar de o riscode morte ser maior para pessoas acima de 65 anos. Pedestresforam o principal tipo de vítima (29,2%), seguidos de motociclistas(27,7%) e ciclistas (18,5%). A maior parte dos acidentesdecorreu de atropelamentos (30%) – principalmentepara pessoas acima de 65 anos – seguidos de colisões entreveículos automotores (26,2%) – principalmente para pessoasde 20 a 49 anos; e ocorreu dentro do perímetro urbano(83,1%), em aveni<strong>da</strong>s com maior fluxo de veículos, em finaisde semana e no período <strong>da</strong> tarde e <strong>da</strong> noite.Hingson e Winter (2003) traçam um perfil de vítimas deacidentes de trânsito relaciona<strong>da</strong>s com o álcool similar aoencontrado por Scalassara et. al. (1998). As principais características<strong>da</strong>s vítimas são: motoristas do sexo masculino,brancos, i<strong>da</strong>de entre 22 e 45 anos, pessoas com problemasalcoólicos, e que não usam cinto de segurança. Outro resultadodo estudo é que os acidentes de trânsito têm umaprobabili<strong>da</strong>de maior de resultar em morte se o álcool estápresente. Em 2002, o percentual de acidentes de trânsitocom morte e relacionados ao álcool foi de 4%. Além disso, amaioria dos acidentes costuma ocorrer à noite e em finais desemana.O Brasil tem apresentado um aumento no número de acidentesde trânsito com vítimas nos últimos anos: de 1998a 2005 este número cresceu 46,1%, enquanto a populaçãoe a frota de veículos cresceram respectivamente a taxas de16,8% e 36% – a proporção de vítimas não-fatais por 10.000veículos cresceu 17,7% no período (Tabela 1).Dados do DATASUS também indicam que o número demortes causa<strong>da</strong>s por AT aumentou no Brasil nos últimos anos,sendo a população jovem a mais afeta<strong>da</strong>. Segundo o DENA-TRAN (2005), 27% <strong>da</strong>s vítimas fatais de acidentes de trânsitono Brasil tinham de 18 a 29 anos e, desses, 78,6% eram dosexo masculino. Segundo Galduróz & Caetano (2004), reportando<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> pesquisa desenvolvi<strong>da</strong> pela Associação Brasileirade Departamentos de Trânsito, 27,2% <strong>da</strong>s vítimas de acidentesde trânsito apresentaram alcoolemia superior ao limitepermitido por lei de 0,6g/l , em quatro ci<strong>da</strong>des brasileiras parao ano de 1997 (Brasília, Curitiba, Recife e Salvador).Tabela 1 – Evolução dos Acidentes de Trânsito – Brasil – 1998 a 2005 – Fonte: Detrans/ SINET - DENATRAN-CGIE1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Acidentes com Vítimas 262.374 376.589 286.994 307.287 251.876 333.689 348.583 383.371Vítimas Fatais 20.020 20.178 20.049 20.039 18.877 22.629 25.526 26.409Vítimas Não Fatais 320.733 325.729 358.762 374.557 318.313 439.065 474.244 513.510Vítimas Fatais/100.000 Hab. 12,4 13,9 11,8 11,6 12,3 12,8 14,1 14,0Vítimas Fatais/10.000 Veíc. 6,5 7,0 6,8 6,3 6,2 6,2 6,5 6,3Vítimas Não Fatais/10.000 Veíc. 103,7 111,8 124,1 119,8 104,6 119,8 120,9 122,1Acidentes c/Vítimas/10.000 Veíc 84,8 116,5 99,3 96,2 75,1 91,0 88,8 91,133


Seção A – Capítulo IVJá a ci<strong>da</strong>de de Porto Alegre apresentou aumento de cercade 10% no número de acidentes de trânsito com vítimas(tanto fatais quanto não-fatais) no período 2000-2006, totalizando5.499 ocorrências em 2006. Essa tendência crescente,no número de acidentes de trânsito com vítimas nosúltimos sete anos analisados, também é verifica<strong>da</strong> no númerode vítimas não-fatais, cuja tendência é ain<strong>da</strong> mais acentua<strong>da</strong>,tendo apresentado aumento de 22% no mesmo períodoanalisado.Outra característica verifica<strong>da</strong> na distribuição dos acidentesde trânsito ao longo do ano é a ocorrência de sazonali<strong>da</strong>de,pois há sensível redução no número de acidentes nosmeses de janeiro e fevereiro - período em que a populaçãodeixa a ci<strong>da</strong>de devido a férias (Figura 1).Segundo <strong>da</strong>dos do Detran-RS e Empresa Pública de Transportee Circulação - EPTC, no período de Janeiro/2000 a Janeiro/2007,os acidentes de trânsito na ci<strong>da</strong>de de Porto Alegrevitimaram fatalmente, em média, 13,3 pessoas a ca<strong>da</strong>mês, totalizando 156 óbitos em 2006 (Figura 2).1.2 Custos Socioeconômicos dos Acidentes de trânsito– experiências internacionais e nacionaisEntre as diversas aplicações <strong>da</strong> Economia <strong>da</strong> Saúde encontra-sea mensuração dos custos sociais e econômicos relacionadosà saúde, como causa direta de doenças, <strong>da</strong> violência,crimes, morte prematura, per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de e acidentesde trânsito, dentre outros. Uma vez que acidentes de trânsitoconstituem uma forma de violência e causam <strong>da</strong>nos àsaúde, é necessário um entendimento <strong>da</strong>s suas causas e doreal impacto desses acidentes sobre o bem-estar econômicoe social.Acidentes de trânsito merecem atenção, portanto, nãoapenas pelos números de vítimas gera<strong>da</strong>s, mas pelos cus-Figura 1: Número de Acidentes de Trânsito com Vítimas Totais e Número de Vítimas Não-Fatais em Acidentes de Trânsito – Janeiro/2000 a Janeiro/2007em Porto Alegre – Fonte: EPTC – Empresa Pública de Transporte e Circulação, Estatísticas (2007).Acidentes de Trânsito com Vítimas Vítimas Não-Fatais Linear ( Acidentes de Trânsito com Vítimas) Linear (Vítimas Não-Fatais)Figura 2: Número de Vítimas Fatais em Acidentes de Trânsito – Janeiro/2000 a Janeiro/2007 em Porto Alegre. Fonte: EPTC – Empresa Pública deTransporte e Circulação, Estatísticas (2007).34


Porto Jr e cols.Impacto econômico dos acidentes de trânsito relacionados ao uso de substâncias psicoativasSeção A – Capítulo IVtos sociais e econômicos impostos para to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong>de.A maioria dos custos socioeconômicos não é facilmente observável.É o caso, por exemplo, <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>degera<strong>da</strong> por acidentes que causam lesões ou morte nas vítimas,custos médicos envolvidos no socorro a vítimas e no seutratamento, <strong>da</strong>nos à proprie<strong>da</strong>de pública e priva<strong>da</strong>, além de<strong>da</strong>nos psicológicos. Todos esses custos são de difícil mensuração,mas de impacto real e significativo sobre o desenvolvimentosustentável de um país ou região.Diversos estudos contabilizam os custos associados aoabuso de substâncias psicoativas, como álcool e outras drogasilícitas. Em sua grande maioria, esses estudos utilizam ametodologia de custo <strong>da</strong> doença, cujo objetivo é contabilizarnão apenas os custos individuais e/ou do sistema de saúde,mas adotar perspectivas sociais, mais abrangentes, que incluamtodos os custos e <strong>da</strong>nos causados pela doença. Além doscustos econômicos, pesquisas recentes também estimam oscustos intangíveis relacionados à dor, ao sofrimento e ao impactosobre a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> dos atingidos por acidentesde trânsito envolvendo consumo de SPA.A metodologia de custo <strong>da</strong> doença é muito utiliza<strong>da</strong> hádiversas déca<strong>da</strong>s, e a estimativa de custos provê informaçõesque descrevem os recursos usados e per<strong>da</strong> potencial de recursosrelacionados à doença. Juntamente com medi<strong>da</strong>s deprevalência, incidência, morbi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de, os custosestimados permitem mapear o impacto para a socie<strong>da</strong>de deuma <strong>da</strong><strong>da</strong> doença .A literatura internacional e nacional que utiliza a metodologiade custo <strong>da</strong> doença é vasta e consagra<strong>da</strong>. Percebe-setambém que para os casos de abuso de álcool e substânciaspsicoativas esta metodologia tem se mostrado adequa<strong>da</strong>,inclusive levando à formação de um International Guidelinepara sistematizar e aprimorar estimativas de Custos Econômicospara abuso de Substâncias (Single; 1995). Diversosestudos posteriores utilizam essa metodologia para a obtençãode custos diretos, indiretos e intangíveis, relacionados adoenças causa<strong>da</strong>s por abuso de álcool ou outras substâncias.e de dias de trabalho, gastos com justiça criminal, dentreoutros. Além dos custos econômicos, o abuso de álcool étambém responsável por significativas per<strong>da</strong>s de quali<strong>da</strong>dede vi<strong>da</strong>: sofrimento causado pela violência associa<strong>da</strong> ao abusode álcool, per<strong>da</strong> de anos de vi<strong>da</strong> devido à morte precoce,e sequelas deixa<strong>da</strong>s por doenças ou acidentes. Esses custosformam os custos por per<strong>da</strong> de quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, estimadosem 48,8 bilhões de dólares para a Califórnia em 2005.Rice, Kelman & Miller (1991) estimaram um custo totalanual relativo ao abuso de SPA e a doenças mentais equivalentea 273,3 bilhões de dólares para os EUA, em 1988.Desse custo total, US$85,8 bilhões são referentes ao abusodo álcool, $58,3 bilhões ao abuso de outras drogas e $129,3bilhões referentes a doenças mentais. Na Nova Zelândia , ocusto anual do abuso do álcool foi estimado entre 1 e 4 bilhõesde dólares, <strong>da</strong><strong>da</strong> uma taxa de prevalência do abuso deálcool de 6,45% para homens e 2,15% para mulheres. Paraa estimação desse custo os autores consideraram os custosde hospitalização, recuperação, absenteísmo, excesso de desemprego,redução <strong>da</strong> eficiência, morte prematura e prisão.Single et. al. (1998) mensuraram o custo do abuso deSPA para o Canadá em 1992, encontrando um resultadoigual a mais do que 18,4 bilhões de dólares, equivalente aUS$ 694 per capita e 2,7% do PIB canadense. Os custos doálcool chegaram a US$ 7,52 bilhões: US$4,14 bilhões relativosà per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de, US$1,36 bilhões de custoslegais e US$1,3 bilhões de custos diretos relacionados à saúde.Os custos do tabaco foram de US$9,56 bilhões: US$6,82bilhões referentes à per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de e US$2,6 bilhõesde custos diretos relacionados à saúde. Por fim, os custosrelativos a outras drogas ilícitas atingiram US$1,4 bilhões.Alguns desses <strong>da</strong>dos podem ser resumidos na Figura 3(abaixo), demonstrando a magnitude do impacto econômicoe social do consumo de álcool na socie<strong>da</strong>de.Figura 3: Custos dos Acidentes de Trânsito relacionados ao Abuso deÁlcool em Bilhões de DólaresNo que tange a estudos internacionais, o Departamentode Trânsito Americano apresentou em 2002 um relatóriocom os custos gerados por acidentes de trânsito envolvendoveículos motorizados no ano de 2000. Os resultados apontaramum custo econômico total equivalente a 230,6 bilhõesde dólares, custo esse que representa as consequências econômicasde 41.821 mortes, 5,3 milhões de vítimas não-fataise 28 milhões de veículos <strong>da</strong>nificados.Com relação especificamente ao abuso de álcool, um estudorecente estima que, para o estado <strong>da</strong> Califórnia (EUA),esse abuso tenha gerado em 2005 um custo econômico totalequivalente a 38,5 bilhões de dólares. Esse custo envolveaspectos como tratamento médico, per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>deCalifórnia (2005) EUA (1988) Nova Zelândia (1997) Canadá (1992)Para o Brasil, há uma carência significativa de <strong>da</strong>dos sobreos custos incorridos pela socie<strong>da</strong>de devido ao uso de substânciaspsicoativas. O único estudo – além do aqui apresentado– que apresenta resultados relativos aos custos decorrentes35


Seção A – Capítulo IVde acidentes de trânsito foi realizado pelo IPEA/ANTP (2003).Os resultados apontam um custo anual de R$ 5,3 bilhões – oequivalente a aproxima<strong>da</strong>mente 0,4% do PIB do país. Dessetotal, 42,8% é referente à per<strong>da</strong> de produção associa<strong>da</strong> àmorte precoce <strong>da</strong>s pessoas ou à interrupção temporária desuas ativi<strong>da</strong>des; 13,3% é referente a custos médicos e 28,8%a custos de reparação dos veículos acidentados.Não obstante, esses custos não são desagregados em termos<strong>da</strong> relação <strong>da</strong> ocorrência dos acidentes com o consumode SPA. Dessa forma, percebe-se a relevância do presente estudo,na medi<strong>da</strong> em que ele constitui uma iniciativa pioneirano Brasil no sentido de estimar custos econômicos e sociaisvinculados ao consumo de substâncias psicoativas. No casoespecífico, os custos dos acidentes de trânsito na ci<strong>da</strong>de dePorto Alegre relacionados ao uso especificamente do álcool.Os <strong>da</strong>dos de pesquisas internacionais apresentados nessa seçãosão evidência inequívoca <strong>da</strong> magnitude desses custos e,consequentemente, do impacto potencial de políticas públicasque visem à redução do consumo de substâncias psicoativas.O presente estudo busca identificar, mensurar e valorar oscustos e consequências associados aos indivíduos alcoolizadosque se envolveram em acidentes de trânsito na ci<strong>da</strong>dede Porto Alegre, através de uma perspectiva social. Para isso,são utiliza<strong>da</strong>s duas metodologias distintas: a metodologia decusto <strong>da</strong> doença e a metodologia de valoração contingente.A primeira é utiliza<strong>da</strong> para a obtenção dos custos diretos eindiretos associados aos acidentes de trânsito relacionadoscom abuso de álcool; a segun<strong>da</strong> é utiliza<strong>da</strong> na obtenção doscustos intangíveis e <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong>de a pagar por políticaspúblicas que visem a redução do número de acidentes detrânsito. O Quadro 1 apresenta um resumo dos principaiscustos mensurados nessa pesquisa.Os Custos Diretos são bens, serviços e outros recursos utilizadospara tratar os desfechos provocados pelo acidente detrânsito. Fazem parte dos custos diretos: custos de resgate,atendimento médico-hospitalar, reabilitação, atendimentopolicial e de agentes de trânsito, <strong>da</strong>nos à proprie<strong>da</strong>de públicae de terceiros, custo de <strong>da</strong>nos ao veículo, custos previdenciáriose judiciais.Os Custos Indiretos ou custos de produtivi<strong>da</strong>de são definidosna literatura como custos relacionados à per<strong>da</strong> ou àredução <strong>da</strong> habili<strong>da</strong>de de trabalhar ou se engajar em ativi<strong>da</strong>desde lazer devido à morbi<strong>da</strong>de ou a morte (Drummond &McGuire (2001), Gold et. al. (1996), Kobelt (2002) e Drummondet. al. (2005)). Esses são componentes importantesdos custos quando o objetivo é realizar um estudo de custode doença. A doença pode alterar a forma como o indivíduoaloca seu tempo e, <strong>da</strong>do que tempo é um insumo limitado eseu uso é relacionado com custo de oportuni<strong>da</strong>de, qualquermu<strong>da</strong>nça em sua alocação decorrente do acidente de trânsitodeve ser quantifica<strong>da</strong> monetariamente e adiciona<strong>da</strong> aosQuadro 1: Resumo dos Principais Custos – Fonte: Elaborado pelos autores,com base em Single (1995) e NBR 6061.Diretos- resgate <strong>da</strong>s vítimas;- médico-hospitalar;Custos- reabilitação – fisioterapia, etc.;- medicação fora do hospital/urgência;- <strong>da</strong>nos a veículos envolvidos;- <strong>da</strong>nos à proprie<strong>da</strong>de pública e priva<strong>da</strong>.Indiretos- dias perdidos de trabalho;- dias perdidos de trabalho do familiar ou acompanhante;- inabili<strong>da</strong>de para trabalhar;- per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de;- morte.Intangíveis- custo do sofrimento relacionado ao acidente de trânsito.custos sociais e econômicos. O questionário sobre esse temaé baseado em metodologia desenvolvi<strong>da</strong> por van Roijen et.al. (1996) e Reilly et. al. (1993).Por fim, os Custos Intangíveis, ou seja, os custos relacionadosà mu<strong>da</strong>nça no estado de saúde/quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, sofrimentoou dor associado ao tratamento ou a per<strong>da</strong> de umente familiar, refletem estados que não podem ser facilmentemedidos ou valorados. Não obstante, através de técnicas devaloração contingente é possível atribuir valores monetáriospara os possíveis desfechos : “Preferências Declara<strong>da</strong>s de Disposiçãoa Pagar” servem para indicar o quanto os indivíduosestariam dispostos a pagar para não incorrer nos sofrimentose per<strong>da</strong>s causados por tais desfechos (Kowalski & Ferraz,2005).O estudo está estruturado como ilustrado na Figura 4. Oscustos diretos foram obtidos a partir de três fontes: coleta de<strong>da</strong>dos na Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC),coleta de <strong>da</strong>dos com Autori<strong>da</strong>des Policiais e coleta de <strong>da</strong>dosnos Hospitais de Pronto Socorro (questionário aplicado nolocal, coleta de <strong>da</strong>dos em Prontuários Médicos e acompanhamentotelefônico <strong>da</strong>s vítimas). Os custos indiretos foramobtidos através de duas fontes: para as vítimas não-fatais,acompanhamento telefônico durante o período de seis meses;para as vítimas fatais, coleta de <strong>da</strong>dos no DepartamentoMédico Legal. Por fim, os custos intangíveis foram obtidosatravés do acompanhamento telefônico. Além disso, foi realiza<strong>da</strong>uma pesquisa na ci<strong>da</strong>de de Porto Alegre com o objetivode mensurar a disposição a pagar <strong>da</strong> população por políticaspúblicas volta<strong>da</strong>s à prevenção dos acidentes de trânsito.36


Porto Jr e cols.Impacto econômico dos acidentes de trânsito relacionados ao uso de substâncias psicoativasSeção A – Capítulo IVFigura 4: Organograma dos EstudosCustosSociaisPolíciasPúblicasPesquisaSAMU/EPTCCustosDiretosCustosIndiretosCustosIntangíveisPesquisaValoraçãoContingenteCusto deResgatePesquisaAutori<strong>da</strong>desPoliciaisPesquisa Hospitais(HPS e HCR)Pesquisa DMLQuestionário aplicadoà amostra <strong>da</strong>População totalCustos <strong>da</strong>nos àproprie<strong>da</strong>de públicae priva<strong>da</strong>: boletinsde ocorrênciaPrevalência alcoolemia;Custosmédico-hospitalares;prontuário<strong>da</strong> vítima; custosreabilitação,medicamentos,<strong>da</strong>nos veículos,per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de:acompanhamentoCusto per<strong>da</strong>produtivi<strong>da</strong>deref. óbitosPesquisa em conjunto com osestudos dos capítulos IX e XA amostragem foi feita nos dois hospitais que recebema maior parte dos acidentados: Hospital de Pronto Socorrode Porto Alegre e Hospital Cristo Redentor. Para a obtençãode custos diretos, indiretos e intangíveis, houve acompanhamento<strong>da</strong>s vítimas ca<strong>da</strong>stra<strong>da</strong>s durante os seis mesessubsequentes à ocorrência, através de contatos telefônicosmensais – a periodici<strong>da</strong>de de um mês é sugeri<strong>da</strong> para evitarproblemas de per<strong>da</strong> de memória (precisão) sobre a descriçãodos custos e morbi<strong>da</strong>des causados pelo acidente de trânsito.No caso <strong>da</strong>s vítimas fatais dos acidentes, os custos decorrentes<strong>da</strong> per<strong>da</strong> de uma vi<strong>da</strong> foram calculados a partirde estudo junto ao Departamento Médico Legal (DML). Foirealizado estudo transversal, com <strong>da</strong>dos secundários resultantesdos prontuários preenchidos nas autópsias realiza<strong>da</strong>sem casos de AT. Esses <strong>da</strong>dos são disponibilizados através debanco de <strong>da</strong>dos existente neste órgão. Os <strong>da</strong>dos coletadoscompreendem to<strong>da</strong>s as vítimas fatais, cujos acidentes ocorreramno perímetro urbano <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Porto Alegre, duranteo período de um ano. Essas informações constam no registrodos laudos do DML, que detalham os determinantes do óbito,tais como alcoolemia ou uso de substâncias psicotrópicas,entre outras. Características pessoais também são coleta<strong>da</strong>s,tais como i<strong>da</strong>de, sexo, cor e profissão, para que, dessa forma,tivéssemos informações mais precisas para calcular os custossociais e econômicos associados à morte por AT causados porabuso de álcool. Os indivíduos envolvidos em acidentes detrânsito foram definidos como condutor (motoristas e motociclistas),ocupante (caronas e ou passageiros no caso deveículos coletivos) ou pedestre.Em paralelo, foi investigado junto a enti<strong>da</strong>des públicas epriva<strong>da</strong>s o custo dos resgates e os <strong>da</strong>nos à proprie<strong>da</strong>de públicae priva<strong>da</strong>, junto a Empresa Pública de Transporte e Circulação(EPTC), órgão acionado em todos os acidentes ocorridosno perímetro urbano de Porto Alegre; a Polícia Militar, semprepresente em casos de acidentes com vítimas; o DepartamentoEstadual de Polícia Judiciária de Trânsito (DEPTRAN)que registra to<strong>da</strong>s as ocorrências; o SAMU, que faz os primeirosatendimentos às vitimas e que transporta as mesmasaos Hospitais de Pronto Socorro. Além disso, foi investigadojunto às Seguradoras de Saúde (que enviam serviços de resgatea seus segurados) e também às Seguradoras de valorese bens (como os veículos e vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s vítimas), o custo referentea resgate e <strong>da</strong>nos e seu impacto no prêmio de tais seguros.Os <strong>da</strong>dos são secundários, uma vez que só buscamos informaçõesjá disponibiliza<strong>da</strong>s por estes organismos.Além disso, foi realizado um estudo transversal na ci<strong>da</strong>dede Porto Alegre para analisar a percepção dos indivíduos comrelação aos acidentes de trânsito. Para tal, foi desenvolvidoum questionário próprio, baseado na literatura afim. Neste,37


Seção A – Capítulo IVo entrevistado reportava se já sofreu acidente de trânsito ouse algum parente ou amigo próximo já esteve envolvido, qualsua percepção sobre o problema do álcool nos acidentes detrânsito, e outras questões relaciona<strong>da</strong>s ao consumo de álcool(frequência com que consome álcool, a quanto tempoconsome, tipo de bebi<strong>da</strong>, gasto com bebi<strong>da</strong>s alcoólicas).O entrevistado também era questionado sobre sua disponibili<strong>da</strong>dea pagar por políticas públicas que visassem reduziro número de acidentes de trânsito, onde eram apresentadoscenários hipotéticos de estabelecimento ou não de políticas(ver Silva & Lima (2006); Amim & Khondoker (2004); Kowalski& Ferraz (2004); Santana & Mota (2004)).A obtenção de todos esses <strong>da</strong>dos é realiza<strong>da</strong> com base emformulários e questionários padrão, embasados na literatura<strong>da</strong> área. Integram a obtenção dos <strong>da</strong>dos os seguintes instrumentosde coleta: questionário aplicado nas vítimas de acidentesnos hospitais de Pronto Socorro, formulário de coletade <strong>da</strong>dos nos Prontuários Médicos <strong>da</strong>s vítimas dos acidentes,questionário aplicado via telefone durante o período de seismeses para acompanhamento <strong>da</strong>s vítimas não-fatais, formuláriode coleta de <strong>da</strong>dos sobre os custos de resgate na EPTC,formulário de coleta de <strong>da</strong>dos sobre as vítimas fatais no DepartamentoMédico Legal (DML) e questionário aplicado emamostra aleatória de habitantes de Porto Alegre (valoraçãocontingente de políticas públicas ). Os resultados <strong>da</strong>s coletasefetua<strong>da</strong>s e suas respectivas análises podem ser examina<strong>da</strong>snos capítulos XIV e XV.Referências1. AMIN, Mo; KHONDOKER, Farhana (2004). 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Seção A – Capítulo VTestes toxicológicos para aferição de substâncias psicoativas emcondutoresRenata P. Limberger, Pedro E. Fröehlich, Paula O. Boehl, Daniele S. Zago, Ivomar Zancanaro, Kristiane deCássia Mariotti, Eloisa Comiran, Débora S. Prusch, Fernan<strong>da</strong> OliveiraAspectos gerais e legislação pertinenteA abor<strong>da</strong>gem de condutores de trânsito feita por policiaisse enquadra no campo <strong>da</strong> Toxicologia Forense e segue o preconizadopelas guias forenses internacionais, como a SOFT/AAFS (Soft/Aafs, 2006), <strong>da</strong> Academia Americana de CiênciasForenses (AAFS - American Academy of Forensic Sciences)e pela Socie<strong>da</strong>de de Toxicologia Forense (SOFT – Society ofForensic Toxicology). Tal abor<strong>da</strong>gem em larga escala requero emprego de técnicas de fácil execução e que apresentemrespostas rápi<strong>da</strong>s, tais como os testes de triagem, seguidosde etapa confirmatória, a qual deve ser realiza<strong>da</strong> por umatécnica mais específica e basea<strong>da</strong> em um princípio de detecçãodiferente. Sempre que possível, a cromatografia em fasegasosa (CG) ou líqui<strong>da</strong> (CLAE), acopla<strong>da</strong>s a detector de massas(EM) ou massas/massas (EM/EM), deve ser a técnica deescolha, por fornecer especifici<strong>da</strong>de suficiente para quandonecessária a instauração de um processo criminal (Soft/Aafs,2006).O rigor exigido em uma confirmação depende <strong>da</strong> importânciado achado analítico e <strong>da</strong>s circunstâncias do caso.Entretanto, por uma questão de princípio geral, científico eético, mesmo em ensaios de triagem nos quais falso-positivossejam improváveis, a confirmação através de um segundosistema analítico é fortemente recomen<strong>da</strong><strong>da</strong>. Independente<strong>da</strong> circunstância, o relatório final <strong>da</strong> análise deve indicar claramentea metodologia emprega<strong>da</strong> (ex. ensaio imunoenzimáticopara benzodiazepínicos; CG-EM(-EM) para cocaína),a sensibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> técnica, suas limitações e, quando for ocaso, uma ressalva de que os resultados não foram confirmados,com descrição dos prováveis interferentes.Em nível internacional, alguns especialistas representantesde diferentes instituições como NIDA (National Institute onDrug Abuse – EUA), Comissão Européia (EU – projeto RO-SITA), Observatório Europeu <strong>da</strong> Toxicodependência (OEDT),Socie<strong>da</strong>de Francesa de Toxicologia Analítica (SFTA), InternationalCouncil on Alcohol, Drugs and Traffic Safety (ICADTS)e Associação Internacional de Toxicologistas Forenses (TIAFT)vêm trabalhando intensamente no sentido de demonstrar osriscos associados ao ato de dirigir sob influência de outrasdrogas (DUID - Driving Under the Influence of Drugs) além doálcool. Esses grupos vêm reunindo esforços a fim de delineardiretrizes que permitam a padronização de procedimentosespecíficos a serem adotados em abor<strong>da</strong>gens policiais de rotina(Walsh et al., 2008).Entre as tendências atuais já implanta<strong>da</strong>s com bastantesucesso em alguns países, está a utilização de testes rápidos,imunocromatográficos ou imunoenzimáticos automatizados,em etapas de triagem, e de CG-EM(-EM) ou CLAE-EM(-EM)em etapas confirmatórias, sendo o fluido oral de condutoresa matriz de escolha, principalmente por ser de difícil adulteração,possuir uma boa correlação com níveis sanguíneos,refletindo o uso recente <strong>da</strong> droga, sendo de coleta fácil, semconstrangimento e de forma não-invasiva, e por propiciar aidentificação in loco, mesmo preliminarmente, viabilizando aação do agente de trânsito no momento <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem.Em Portugal, por exemplo, com a promulgação que regulamentaa fiscalização <strong>da</strong> condução sob influência do álcoolou substâncias psicotrópicas, foram atualizados os procedimentosutilizados pelos agentes fiscalizadores do trânsito edefini<strong>da</strong>s as marcas e modelos de testes preliminares em fluidooral, aprovados para utilização no território português.Para tanto, se faz necessário o cumprimento de determinadosrequisitos dispostos no artigo 14, n°3 do regulamento defiscalização <strong>da</strong> condução sob influência do álcool ou substânciaspsicotrópicas. Em outras palavras, há neste país umaforma legal de detecção do uso de drogas no trânsito, bemcomo legislação específica norteando os métodos e procedimentosque podem ser utilizados pelas enti<strong>da</strong>des competentesjunto aos condutores. Os testes de triagem do consumode SPA podem ser realizados na urina, saliva ou suor (esteúltimo ain<strong>da</strong> não regulamentado), sendo os ensaios confirmatóriosrestritos ao sangue, o qual é coletado do indivíduoquando o teste preliminar resultar positivo.Na Austrália, em diversos estados do país, aplicam-se testesrápidos em fluido oral, empregando equipamentos aprovadospelo governo australiano (Road Legislation AmendmentAct 2009). Neste país, a detecção do uso de substânciapsicoativa (SPA) por policias é realiza<strong>da</strong> de forma randômica,ou seja, a autori<strong>da</strong>de policial possui poder legal de parar motoristasde forma aleatória, sem a necessi<strong>da</strong>de de ter ocorridoinfração de trânsito (Drummer, 2008).No Brasil, alguns trabalhos já foram realizados com objetivode disponibilizar metodologias de verificação do usode SPA no trânsito, destacando-se o trabalho de (Yonamine,2004), o qual empregou amostras de saliva obti<strong>da</strong>sde voluntários motoristas de caminhão, acima de 21 anos(n=561) que trafegavam em rodovias de São Paulo, comomatriz biológica para análise de etanol, anfetamina, cocaína40USO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS E OUTRAS DROGAS NAS RODOVIAS BRASILEIRAS E OUTROS ESTUDOS


Limberger e cols.Testes toxicológicos para aferição de substâncias psicoativas em condutoresSeção A – Capítulo Ve tetrahidrocanabinol (THC). As coletas foram realiza<strong>da</strong>s comauxílio de dispositivos Salivette® e as análises conduzi<strong>da</strong>s emambiente laboratorial, através de triagem por enzimaimunoensaio(ETS Plus, Dade Behring), segui<strong>da</strong> de confirmaçãopor microextração em fase sóli<strong>da</strong> (SPME) e cromatografiaem fase gasosa acopla<strong>da</strong> a detector de massas (CG-EM; HP6890/5972, Hewlett Packard, Little Falls, EUA).De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (Brasil,2008), o ato de dirigir sob influência de álcool (em qualquerconcentração por litro de sangue) ou SPA que causem dependênciaé infração gravíssima sujeita à multa, suspensão dodireito de dirigir por doze meses, retenção do veículo até aapresentação de condutor habilitado e recolhimento do documentode habilitação (Brasil, 2008). Contudo, apesar <strong>da</strong>previsão legal para a fiscalização de condutores suspeitos deestarem sob efeito de SPA, atualmente só é possível avaliaçãoin loco do teor estimado de etanol através de etilômetros (oubafômetros, como são popularmente conhecidos).Fluido oral como matriz biológica paraanálise de SPA no trânsitoA designação “fluido oral” representa a mistura de saliva(secreção de três glândulas principais, a submandibular, aparóti<strong>da</strong> e a sublingual) e outros constituintes presentes naboca, sendo composto por água, enzimas (principalmenteamilase), glicoproteínas (mucina) e eletrólitos (Aps e Martens,2005). Sua composição e o volume produzido inter e intraindividual(cerca de 1 a 3 ml.min-1), podem ser afetados porvários fatores, como por exemplo o ritmo circadiano, dieta,i<strong>da</strong>de, doenças sistêmicas, como a fibrose cística e o diabetesmellitus, e a utilização de algumas drogas e medicamentos,como os antidepressivos tricíclicos e outros anticolinérgicosque levam a diminuição do volume de secreção bucal produzido(UNDCP, 2001; Drummer, 2008).A utilização dessa matriz biológica em abor<strong>da</strong>gens policiaispara verificação do uso de SPA por condutores temocupado posição de destaque no cenário internacional, porser considera<strong>da</strong> a única pela qual se podem traçar paraleloscom a concentração sanguínea, desde que excluí<strong>da</strong> acontaminação <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>de oral (UNDCP, 2001), permitindocorrelacionar as concentrações obti<strong>da</strong>s a prováveis alteraçõescomportamentais. Pertinentes revisões sobre a aplicabili<strong>da</strong>dede fluido oral na análise de SPA podem ser encontra<strong>da</strong>s naliteratura científica, destacando-se os trabalhos de KIDWELL(Kidwell, Holland et al., 1998; Drummer, 2005; 2008).De uma forma geral, a maioria <strong>da</strong>s drogas chega à salivapor meio de difusão simples. Para tanto, a molécula precisater lipossolubili<strong>da</strong>de adequa<strong>da</strong>, estar na sua forma não-ioniza<strong>da</strong>e não-liga<strong>da</strong> a proteínas plasmáticas, de forma que aconcentração de uma droga na saliva representa a sua fraçãolivre e não ioniza<strong>da</strong> no plasma sanguíneo. Assim, substânciascom características de base fraca possuem a tendência dese acumular na saliva, com predomínio <strong>da</strong> droga original enão seus produtos de biotransformação, pois o pH <strong>da</strong> salivaé mais ácido que o pH sanguíneo, o que promove sua ionizaçãoe impede o retorno para o plasma (Kidwell, Hollandet al., 1998). Assim como no plasma, o período de detecçãopode ser alterado por diversos fatores como dose, frequênciade uso e sensibili<strong>da</strong>de dos métodos analíticos (Cone eHuestis, 2007; Walsh et al., 2008). A baixa concentração doanalito e o pequeno volume de fluido oral possível de ser coletadopodem ser contornados pelo uso de técnicas analíticasde alta sensibili<strong>da</strong>de como CG-EM(-EM) e CLAE-EM(-EM).Coleta, transporte e armazenamento deamostras de fluido oralA coleta de fluido oral ocorre de forma não-invasiva e sobsupervisão direta, dificultando a adulteração <strong>da</strong> amostra pelodoador. Pode ser efetua<strong>da</strong> por drenagem, sucção, ou porabsorção em material apropriado e posterior centrifugaçãopara retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> amostra. Vários dispositivos de coleta podemser encontrados no mercado nacional e internacional,inclusive aqueles que contêm indicador de volume coletado(geralmente 1,0 mL) e estimulam a formação de saliva, viabilizandoa coleta inclusive em casos de pessoas que sofrem dexerostomia (“boca seca”), comumente relata<strong>da</strong> por usuáriosde drogas, portadores de diabetes, Parkinson, mulheres noperíodo <strong>da</strong> menopausa, quadros de estresse, depressão, desidratação,dentre outros (Aps e Martens, 2005).Por se tratarem de análises toxicológicas forenses, todosos procedimentos adotados, <strong>da</strong> coleta ao descarte <strong>da</strong> amostra,precisam ser devi<strong>da</strong>mente documentados para permitir arastreabili<strong>da</strong>de de todo o processo. Essa conduta vai constituira “Cadeia de Custódia <strong>da</strong> Amostra”, formando uma documentaçãoque deve estar disponível em caso de qualquerquestionamento com relação ao trabalho desenvolvido (Soft/Aafs, 2006).Organizações internacionais recomen<strong>da</strong>m a coleta de fluidooral em até no máximo 3h após a abor<strong>da</strong>gem policial earmazenamento a -20ºC por até 12 meses, em frascos devi<strong>da</strong>menteidentificados e lacrados, de maneira a garantir suainviolabili<strong>da</strong>de. Visando preservar os resultados analíticos,sempre que possível a amostra coleta<strong>da</strong> deve ser dividi<strong>da</strong> emdois frascos, um para a realização <strong>da</strong> prova e outro destinadoà contraprova. A primeira parte <strong>da</strong> amostra (prova) serásubmeti<strong>da</strong> à análise toxicológica e o frasco <strong>da</strong> contraprova,armazenado para nova análise, no caso de eventual contestaçãodo resultado <strong>da</strong> prova (UNDCP, 2001; Soft/Aafs, 2006;Walsh et al., 2008).41USO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS E OUTRAS DROGAS NAS RODOVIAS BRASILEIRAS E OUTROS ESTUDOS


Seção A – Capítulo VPrincipais métodos de detecção de SPAno trânsitoA detecção do uso de substâncias psicoativas (SPA) notrânsito é um assunto que vem sendo extremamente discutidoem muitos países. Atualmente, com a prospecção <strong>da</strong>snovas metodologias analíticas, a maioria <strong>da</strong>s SPA poderiaser prontamente detectável, através de técnicas de triagemsensíveis e rápi<strong>da</strong>s, mas pouco específicas, utiliza<strong>da</strong>s paraseparar as amostras negativas <strong>da</strong>quelas potencialmente positivaspara determina<strong>da</strong> droga ou classe de drogas, segui<strong>da</strong>sde técnicas cromatográficas de alta especifici<strong>da</strong>de, comoCG-EM(-EM) ou CLAE-EM(-EM).Dentre as alternativas disponíveis para as etapas de triagem,os imunoensaios têm sido os mais empregados, caracterizadospela simplici<strong>da</strong>de e pratici<strong>da</strong>de operacional, facili<strong>da</strong>dede preparo de amostra e tempo reduzido entre coleta eobtenção dos resultados. Podem ser aplicados in loco (testesimunocromatográficos rápidos - on site drug testing devices)ou através de métodos automatizados em ambiente laboratorial,capazes de realizar centenas de análises por dia.Estas técnicas baseiam-se no princípio de interação entre antígenos(as moléculas alvo) e anticorpos específicos para ca<strong>da</strong>droga ou classe de drogas a ser analisa<strong>da</strong>, com a finali<strong>da</strong>dede gerar um sinal mensurável (Moffat, 2004). Permitem aemissão de resultados em poucos minutos, no local <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem,através <strong>da</strong> leitura visual do dispositivo na presençaou ausência de coloração. Podem ser encontra<strong>da</strong>s no mercadoem versões destina<strong>da</strong>s à detecção de uma única drogaou de várias drogas simultaneamente. Entretanto, é importanteconsiderar a natureza subjetiva <strong>da</strong> leitura visual do ensaio,expressa através <strong>da</strong> presença ou ausência de uma faixacolori<strong>da</strong>. Essa visualização se torna prejudica<strong>da</strong> em ensaiosonde a concentração dos analitos se encontra próximas aosvalores de corte adotados (borderline), o que aponta paraa necessi<strong>da</strong>de de treinamento adequado antes que análisesde rotina sejam implementa<strong>da</strong>s (Costa S, 2005). Outro fatorimportante a ser considerado é a questão ética de aplicaçãodestes testes, uma vez que o resultado do teste é gerado empresença do condutor, aspecto relevante se considerarmos aprobabili<strong>da</strong>de de resultados falsos, por ser uma técnica deespecifici<strong>da</strong>de questionável.A técnica imunoenzimática automatiza<strong>da</strong> que tem semostrado mais promissora para análise de SPA em fluido oralé o teste de ELISA (Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay),devido à alta sensibili<strong>da</strong>de. Esse teste consiste em um imunoensaiocontendo uma quanti<strong>da</strong>de conheci<strong>da</strong> de anticorposunidos a um suporte sólido e uma concentração fixa de conjugadosenzimáticos. A reação ocorre pela competição entrea droga de interesse presente na amostra e a droga marca<strong>da</strong>enzimaticamente (Figura 1). A determinação fotométrica <strong>da</strong>ativi<strong>da</strong>de enzimática por absorção está relaciona<strong>da</strong> à concentração<strong>da</strong> droga via uma curva concentração-resposta (oucurva dose-resposta). Quanto maior a ligação do antígenopresente na amostra com os anticorpos, menor a ativi<strong>da</strong>deenzimática, gerando coloração de menor intensi<strong>da</strong>de. Apesar<strong>da</strong> pratici<strong>da</strong>de, algumas limitações importantes como empregode kits diagnósticos importados, baixa especifici<strong>da</strong>de epossibili<strong>da</strong>de de reativi<strong>da</strong>de cruza<strong>da</strong> com outras substânciasquimicamente semelhantes devem ser considera<strong>da</strong>s. Devidoà baixa especifici<strong>da</strong>de, os resultados fornecidos por estes testesde triagem podem ser facilmente questionáveis, justificandoo encaminhamento <strong>da</strong>s amostras positivas, e 5% dostestes negativos (para averiguar a eficácia <strong>da</strong> triagem), paraconfirmação por procedimentos analíticos mais específicos,os quais devem ser, no mínimo, tão sensíveis quanto os testesde triagem e basear-se em princípio analítico diferente, a fimFigura 1. Princípio do método de ELISA competitivo (Créditos <strong>da</strong> Figura: Eloisa Comiran).amostraconjugadoenzima-derivado<strong>da</strong> substânciasubstratocromogênicolavagem42USO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS E OUTRAS DROGAS NAS RODOVIAS BRASILEIRAS E OUTROS ESTUDOS


Limberger e cols.Testes toxicológicos para aferição de substâncias psicoativas em condutoresSeção A – Capítulo Vde não ser alvo dos mesmos interferentes (Soft/Aafs, 2006;Walsh et al., 2008).As análises confirmatórias devem identificar a presençade uma substância específica com alto grau de certeza. Astécnicas considera<strong>da</strong>s “padrão-ouro” são a cromatografiaem fase gasosa ou líqui<strong>da</strong> acopla<strong>da</strong> à detecção de massasou massas/massas (CG-EM, CG-EM(-EM) ou CLAE-EM(-EM)),mais conheci<strong>da</strong>s pela sigla em inglês GC-MS, GC-MS(-MS)e LC-MS(-MS), respectivamente. Dentre estas, o custo global<strong>da</strong> técnica de CG é menor, porém é aplicável apenas aanalitos voláteis (ou volatilizáveis) e termicamente estáveis,enquanto a CLAE pode ser considera<strong>da</strong> mais versátil e sensível,englobando um maior número de substâncias que sãopassíveis de ser analisa<strong>da</strong>s simultaneamente; no entanto,possui um custo agregado geralmente muito maior quandocomparado a CG.De uma forma geral os detectores de massa são destinadosa receber o efluente <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de cromatográfica etêm como princípio a formação de fragmentos característicospara ca<strong>da</strong> droga, tidos como suas “impressões digitais”.Possibilitam a identificação e a quantificação simultânea deinúmeras substâncias, nas mais varia<strong>da</strong>s matrizes e aplicações,com alta sensibili<strong>da</strong>de e comprova<strong>da</strong> confiabili<strong>da</strong>de,proporcionando uma maior certeza na identificação decompostos de interesse devido à fragmentação seletiva dosseus íons (íon precursor) e o monitoramento dos respectivosíons produzidos (íon produto ou íon filho) a partir de suafragmentação, aumentando bastante a seletivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> análise.Métodos envolvendo CG-EM e CLAE-EM(-EM) têm sidoconstantemente relatados e amplamente utilizados (Maurer,2007), sendo atualmente as técnicas mais difundi<strong>da</strong>s entre asmais diversas áreas <strong>da</strong> química analítica, especialmente nasanálises toxicológicas forenses. Dentre os critérios de aceitaçãopreconizados para as análises confirmatórias, podemosdestacar o emprego <strong>da</strong> EM no modo SIM (monitoramentoseletivo de íons) para a identificação de uma determina<strong>da</strong>droga, quer como parte de um procedimento quantitativoou não, através do uso de pelo menos um íon qualificador(diagnóstico) para ca<strong>da</strong> analito e padrão interno, além de umíon primário (precursor) para ca<strong>da</strong> um. Para uma análise serconsidera<strong>da</strong> positiva, todos os íons principais e diagnósticospresentes no espectro <strong>da</strong> substância química de referência(SQR) devem estar presentes no analito, em razão de até± 20% em relação à proporção <strong>da</strong> SQR para CG-EM e deaté ± 25% ou 30% para CLAE-EM(-EM). Não é recomen<strong>da</strong>doo monitoramento de íons adultos ou isótopos comoíons qualificadores para a identificação (Soft/Aafs, 2006;Walsh et al., 2008).O tempo de retenção também deve fazer parte dos critériosde aceitação para ensaios cromatográficos, sendo preconiza<strong>da</strong>variação para técnica de CG de até 1-2% em relação àSQR, ou variação pouco maior quando emprega<strong>da</strong> a técnicade CLAE, sobretudo em sistema de gradiente. É recomendáveltambém a confirmação dos resultados em extratos oumatrizes diferentes <strong>da</strong>quele utilizado no primeiro teste, paradescartar a possibili<strong>da</strong>de de contaminação <strong>da</strong> amostra, bemcomo a realização de análises em replicatas, na mesma matriz,com adequados controles positivos e negativos (Soft/Aafs, 2006; Walsh et al., 2008). Seguindo estas diretrizes, oalto grau de confiabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s análises permite a identificaçãoinequívoca <strong>da</strong> SPA, sendo aceitas como técnicas de referência,tanto em termos científicos quanto legais, em âmbitonacional e internacional.Confiança e aplicabili<strong>da</strong>de dos métodosempregados para análise de substânciaspsicoativasRepresenta um desafio para o analista selecionar o métodode análise mais apropriado diante <strong>da</strong> gama de alternativasdisponíveis. Independente <strong>da</strong> metodologia emprega<strong>da</strong>, ademonstração <strong>da</strong> confiança e <strong>da</strong> aplicabili<strong>da</strong>de é um aspectofun<strong>da</strong>mental e consiste na avaliação de um método paragarantir que este apresenta desempenho adequado para aanálise a qual se destina. Há vários sistemas de quali<strong>da</strong>delaboratorial que podem ser aplicados aos Laboratórios de ToxicologiaForense, como, por exemplo, as Boas Práticas deLaboratório (BPL), a ISO Guia-25 e aquelas que são utiliza<strong>da</strong>sespecificamente em Laboratórios de Toxicologia Forense(Ex: NIDA, SOFT/AAFS, WADA, SAMSHA).Neste contexto, a vali<strong>da</strong>ção de metodologias analíticas éum componente essencial que deve ser seguido em qualquerlaboratório analítico. De acordo com as guias nacionais einternacionais, vali<strong>da</strong>ção pode ser defini<strong>da</strong> como “A confirmaçãoatravés <strong>da</strong> análise e demonstração de evidências objetivasde que os requisitos para um uso específico foramatingidos”. A Tabela 1 apresenta os principais parâmetrosque devem ser avaliados, de acordo com o International Conferenceon Harmonisation (Ich, 2005), que também traz asdefinições de ca<strong>da</strong> termo. Estas exigências e definições tambémforam incorpora<strong>da</strong>s pela Agência Nacional de VigilânciaSanitária - ANVISA (Brasil, 2003).Guias como ISO (Iso, 1992), ICH (Ich, 2005), BRASIL (Brasil,2003), dispõem sobre as necessi<strong>da</strong>des de métodos analíticosatendendo aos requisitos necessários para pesquisa deSPA em fluido oral de condutores, inclusive alguns com umenfoque mais prático sugerindo limites aceitáveis. A escolhaadequa<strong>da</strong> dos parâmetros, bem como os limites de variaçãoaceitáveis, vai depender do método proposto e de suaaplicação (Green, 1996). Na ausência de guia regulatória específica,cabe ao analista definir se os requisitos mínimos en-43USO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS E OUTRAS DROGAS NAS RODOVIAS BRASILEIRAS E OUTROS ESTUDOS


Seção A – Capítulo VTabela 1: Principais parâmetros avaliados na vali<strong>da</strong>ção de métodos analíticos.Tipo de ensaio Identificação Ensaio de Impurezas DoseamentoQuantitativoLimiteExatidão - + - +PrecisãoRepetibili<strong>da</strong>de - + - +Precisão intermediária - + (1) - + (1)Especifici<strong>da</strong>de + + + +Limite de detecção - - + -Limite de quantificação - + - -Lineari<strong>da</strong>de - + - +Faixa de concentração - + - +(-): normalmente não precisa ser avalia<strong>da</strong>; (+): normalmente avalia<strong>da</strong>; (1): se a reprodutibili<strong>da</strong>de foi avalia<strong>da</strong>, não é necessário; (2): a ausência de especifici<strong>da</strong>depode ser compensa<strong>da</strong> por outros procedimentos analíticos; (3): pode ser necessário em alguns casos.contrados na legislação vigente são suficientes para garantir<strong>da</strong>dos confiáveis. Nesta etapa, alguns problemas podem serencontrados com relação às terminologias (Iso, 1992; Ich,2005), embora aquela adota<strong>da</strong> pelas agências regulatóriasinternacionais, como o ICH, seja a mais aceita. Esta não apresentaa definição de estabili<strong>da</strong>de, que é um parâmetro importanteem métodos bioanalíticos, e a definição do ICH paraseletivi<strong>da</strong>de não considera os interferentes que podem estarpresentes em bioanálises, como os produtos de biotransformação(Iso, 1992). Frente a esta reali<strong>da</strong>de, a alternativa atualdo toxicologista forense no Brasil é buscar soluções em guiasinternacionais para preencher as lacunas <strong>da</strong> legislação vigentenacional, sendo a SOFT/AAFS (Soft/Aafs, 2006) a mais frequentementeemprega<strong>da</strong>.Valores de corte e interpretação dosresultados analíticosÉ prática comum nas análises toxicológicas o estabelecimentodos limites de concentração para categorização dosresultados como indicativo ou não do consumo de SPA. Essesvalores de referência (denominados “cut-offs”) são valoresestabelecidos para uma droga ou classe de drogas e seusprodutos de biotransformação e são utilizados para definirse o resultado de uma análise foi positivo (valores analíticosiguais ou superiores ao valor de corte) ou negativo. Natabela 2 são apresentados os valores máximos de corte, preconizadospor WALSH (Walsh et al., 2008). Estes valores variamconforme a matriz biológica e o limite de detecção dosmétodos analíticos empregados, devendo estar abaixo <strong>da</strong>janela terapêutica, de forma a permitir a detecção de dosesusuais após 24 horas de uso (Costa S, 2005).O termo “traço” pode ser usado, mas com ressalvas, poisse uma droga foi detecta<strong>da</strong> em uma amostra, mas em concentraçãoabaixo do valor de corte, do ponto de vista analítico,caracteriza resultado negativo, levando-se sempre emconsideração que métodos pouco sensíveis ou pouco especí-Tabela 2: Valores máximos de corte (cut-off), em ng.mL-1, recomen<strong>da</strong>dos por Walsh et al. (2008).Analitos Fluido Oral Sangue TotalCocaína 10 10Benzoilecgonina 10 50Cocaetileno / Ecgoninametiléster 20 10Compostos Anfetamínicos 20 20Delta-9-tetrahidrocanabinol 2 111-nor-9-carboxi-tetrahidrocanabinol nd 511-hidroxi-tetrahidrocanabinol nd 1Diazepam nd 20Oxazepam nd 50Alprazolam nd 10Clonazepam nd 10Lorazepam nd 10Mi<strong>da</strong>zolam nd 20*nd: ain<strong>da</strong> não determinados44


Limberger e cols.Testes toxicológicos para aferição de substâncias psicoativas em condutoresSeção A – Capítulo Vficos não refletem a casuística (Soft/Aafs, 2006).Análises realiza<strong>da</strong>s no projetoEntre janeiro de 2008 e setembro de 2009 foram realiza<strong>da</strong>scoleta e análise de 3.251 amostras de fluido oral oriun<strong>da</strong>sde motoristas de 26 capitais brasileiras e Distrito Federal,descrita em detalhes no capítulo VII.A coleta foi realiza<strong>da</strong> com auxílio do dispositivo Quantisal® (Immunalysis Corporation). O armazenamento e a análise<strong>da</strong>s amostras seguiram rigorosamente o preconizado pelofabricante. Após a coleta, as amostras foram acondiciona<strong>da</strong>sem refrigeradores portáteis e encaminha<strong>da</strong>s ao laboratóriopara posterior análise toxicologica, as quais foram realiza<strong>da</strong>sem colaboração com o Laboratório de Toxicologia <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>dede Farmácia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande doSul, sob responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> autora principal deste capítulo.As análises foram realiza<strong>da</strong>s através de triagem segui<strong>da</strong>de análise confirmatória, segundo preconizado porWALSH (Walsh et al., 2008). Para o método de triagem foiempregado teste imunoenzimático ELISA (Enzyme LinkedImmuno Sorbent Assay) utilizando kits específicos para ca<strong>da</strong>analito (amphetamine, cocaine/benzoilecgonine, tetrahydrocannabinol(THC) e benzodiazepines) adquiridos <strong>da</strong> empresaImmunalysis Corporation (Pomona, CA, Estados Unidos).Previamente ao início <strong>da</strong>s baterias de análises, o método foirevali<strong>da</strong>do in loco, através de treinamento específico com especialistastécnicos representantes do fabricante.As amostras positivas nessa etapa foram encaminha<strong>da</strong>spara análise confirmatória, realiza<strong>da</strong>s por CLAE-EM(-EM)(Waters 2695 Micromass® QuattroMicro API) através demétodo a<strong>da</strong>ptado de OIESTAD ET al (Oiestad E.L, 2007) evali<strong>da</strong>do pelo grupo, para o monitoramento <strong>da</strong> presençade benzodiazepínicos (diazepam, clonazepam, alprazolam,bromazepam, cloxazolam, clordiazepóxido); compostos anfetamínicos(anfetamina, anfepramona, femproporex, metilfeni<strong>da</strong>to);cocaína e delta-9-THC. Para tanto, inicialmenteprocedeu-se a otimização <strong>da</strong>s condições de análise em módulode ionização Eletrospray positivo, utilizando solução padrãoa 200 ng.mL-1 diluí<strong>da</strong> em metanol, variando-se energiade ionização e colisão, obtendo assim a transição de doisfragmentos para ca<strong>da</strong> analito, em acordo com o preconizadopela SOFT/AAFS (Soft/Aafs, 2006). Estas informações, soma<strong>da</strong>sao respectivo tempo de retenção no sistema cromatográfico,foram emprega<strong>da</strong>s para a identificação do compostopresente nas amostras de fluido oral. Para o método cromatográfico,empregou-se coluna HPLC Luna C18(2) (150 x2,0mm; 5μ; 100Å; Phenomenex®) precedi<strong>da</strong> de pré-coluna;fase móvel composta por gradiente de acetonitrila com 0,1%de ácido fórmico como solvente A e acetato de amônio 5mmol a pH 5,0 pela adição de ácido acético como solventeB. A análise cromatográfica foi de 15 minutos.Através <strong>da</strong> avaliação dos resultados obtidos nas etapas detriagem podemos observar um baixo índice de resultados positivospara os compostos anfetamínicos, atribuído à falta deespecifici<strong>da</strong>de dos kits empregados para os medicamentoscomercializados no Brasil, contendo anfepramona e femproporexcomo princípios ativos. Fato preocupante, pois essesprodutos (vulgarmente chamados “rebites”) são largamenteutilizados por profissionais, o que se contrapõe aos baixosíndices encontrados, apontando para a necessi<strong>da</strong>de dedesenvolvimento de análise alternativa para triagem destassubstâncias ou encaminhamento direto para análise por CG-EM ou CLAE-EM(-EM). Segundo WALSH (Walsh et al., 2008),para fins de investigação, não é necessário realizar um imunoensaioprévio como teste de triagem, se CLAE-EM(-EM) forempregado no modo full-scan (varredura de íons) para identificare quantificar simultaneamente os analitos de interesse.ConclusõesOs efeitos clínicos e sociais causados pelo consumo de álcoole outras drogas no trânsito são considerados atualmenteum dos maiores problemas de saúde e segurança pública.A viabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s análises para a verificação do uso de SPA éfun<strong>da</strong>mental para o controle e prevenção do uso e constituiuma área emergencial a ser desenvolvi<strong>da</strong> em âmbito nacionale internacional. Entretanto, inúmeros fatores devem serconsiderados e superados para que o monitoramento possaser considerado em abor<strong>da</strong>gens de rotina no Brasil, como padronizaçãode técnicas analíticas, disponibili<strong>da</strong>de de equipamentose SQR, credenciamento e acreditação de laboratóriosde referência e prospecção de profissionais qualificados.Cabe ain<strong>da</strong> ressaltar a necessi<strong>da</strong>de de definição, elaboraçãoe revisão de guias regulatórias nacionais, principalmenteno que tange a parâmetros de análises bioanalíticas forenses,bem como normas específicas que viabilizem o fluxode amostras-controle e padrões analíticos, essenciais para ocumprimento de exigências de acreditação aos laboratórioscredenciados. Esses aspectos são de fun<strong>da</strong>mental importânciapara que a confiabili<strong>da</strong>de dos resultados analíticos sejaassegura<strong>da</strong> e dependem <strong>da</strong> implementação de uma culturanacional de valoração dos achados laboratoriais.45


Seção A – Capítulo VReferências1. APS, J.; MARTENS, L. Review: The physiology of saliva and transferof drugs into saliva. Forensic Sci Int [S.I.], v. 150, n. 2-3, p.119-31, Jun 2005.2. BRASIL. Resolução RE no 899. Guia para vali<strong>da</strong>ção de métodosanalíticos e bioanalíticos. In: Agencia Nacional de Vigilância Sanitária(ANVISA). Diário Oficial <strong>da</strong> União, Brasília, DF2003.3. BRASIL, M. D. T.-D. N. D. I.-E. D. T. v. 2009. n. 10 de dezembro.Brasilia.4. BRASIL, P. D. R. Código de Trânsito Brasileiro - Lei 11.705 de19 de junho de 2008. Diário Oficial <strong>da</strong> República Federativa doBrasil, 2008.5. CONE, E.; HUESTIS, M. Interpretation of oral fluid tests for drugsof abuse. Ann N Y Acad Sci [S.I.], v. 1098, p. 51-103, Mar 2007.6. COSTA S, C. L., DOLES L, YONAMINE M, VALENTE-CAMPOS S,PENNA K. Revisão crítica do uso de testes rápidos imunológicospara verificar o consumo de substâncias psicoativas. v. 18 (2).Revista Brasileira de Toxicologia2005.7. DRUMMER, O. Review: Pharmacokinetics of illicit drugs in oralfluid. Forensic Sci Int [S.I.], v. 150, n. 2-3, p. 133-42, Jun 2005.8. ______. Introduction and review of collection techniques an<strong>da</strong>pplications of drug testing of oral fluid. Ther Drug Monit [S.I.],v. 30, n. 2, p. 203-6, Apr 2008.9. GREEN. Um guia prático para vali<strong>da</strong>ção de métodos analíticos.Analytical Chemistry1996.10. ICH. Vali<strong>da</strong>tion of Analytical Procedures: Text and Methodology(Q2R1). Genebra: International Conference on Harmonization,2005.11. ISO. Quality management and quality assurance - vocabulary.Geneva: Switzerland.: International Stan<strong>da</strong>rds Organization,1992.12. KIDWELL, D. et al. Testing for drugs of abuse in saliva and sweat.J Chromatogr B Biomed Sci Appl [S.I.], v. 713, n. 1, p. 111-35,Aug 1998.13. MAURER, H. H. Current role of liquid chromatography-massspectrometry in clinical and forensic toxicology. Analytical andBioanalytical Chemistry, 2007. p. 1315-25.14. MOFFAT, A. Clarke’s isolation and identification of drugs. 2004.15. OIESTAD E.L, J. U., CHRISTOPHERSEN AS. Drug screening of preservedoral fluid by liquid chromatography-tandem mass spectrometry.Clinical Chemistry2007.16. SOFT/AAFS. Forensic Toxicology Laboratory Guidelines. 2006.17. UNDCP. Guidelines for testing drugs under international controlin hair, sweat and saliva. United Nations, 2001.18. WALSH, J. et al. Guidelines for research on drugged driving.Addiction [S.I.], v. 103, n. 8, p. 1258-68, Aug 2008.19. YONAMINE, M. A saliva como espécime biológico para monitoraro uso de álcool, anfetamina, metanfetamina, cocaína emaconha por motoristas profissionais. (2004). Facul<strong>da</strong>de deCiências Farmacêuticas: São Paulo, Universi<strong>da</strong>de de São Paulo,Doutorado em Toxicologia e Análises Toxicológicas, 2004.46


Limberger e cols.Testes toxicológicos para aferição de substâncias psicoativas em condutoresSeção A – Capítulo V47


Seção A – Capítulo VICenas <strong>da</strong> coleta de <strong>da</strong>dos em rodovias federais – uma leitura sobre otrabalho de campoRobson Robin <strong>da</strong> Silva, Fernan<strong>da</strong> Cubas de Paula, Sinara Santos, Ana Paula S. MetzgerEste capítulo descreve as necessárias decisões que foramtoma<strong>da</strong>s por uma equipe de profissionais de pesquisa paraa execução de uma coleta de <strong>da</strong>dos em rodovias federais de27 capitais brasileiras. A descrição pormenoriza<strong>da</strong> do estudoespecífico foge do escopo deste capítulo, e é realiza<strong>da</strong> nocapítulo VII. Nosso objetivo aqui é descrever as dificul<strong>da</strong>des esoluções encontra<strong>da</strong>s para a realização do projeto do pontode vista prático e operacional, com o intuito de facilitar o trabalhofuturo de equipes de coleta em situação semelhante.Como foi monta<strong>da</strong> a logística <strong>da</strong> coletade <strong>da</strong>dosO estudo em questão previa a coleta de <strong>da</strong>dos de aproxima<strong>da</strong>mente3400 motoristas em 27 capitais, durante o períodode mais de um ano, com viagens constantes de equipestreina<strong>da</strong>s. Além disso, o trabalho multidisciplinar de coletaprevia a coordenação de equipe forma<strong>da</strong> por profissionaiscom treinamentos bastante díspares - Policiais RodoviáriosFederais, Policiais Federais e coletadores de diferentes formações.Da<strong>da</strong> a ambição do projeto de pesquisa e seu ineditismo,deparamo-nos com desafios que se apresentaramdíspares do que até então se havia previsto e providenciadopara a execução <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des do projeto de pesquisa. Elesserão brevemente discutidos abaixo.Fatores regionais, climáticos e docalendárioEstes são peculiares a ca<strong>da</strong> região submeti<strong>da</strong> à ação.Relacionam-se diretamente às decisões sobre providênciasadministrativas e operacionais a serem pratica<strong>da</strong>s pelos profissionaisenvolvidos, e que consistem na base para a organização<strong>da</strong> mesma. Um deles, que afetaria sobremaneira acoleta de <strong>da</strong>dos, é o clima. Como é sabido, características detemperatura e chuvas se devem bastante ao relevo e à latitudedo Brasil. A maior parte do país está a uma altitude quevaria entre 200 e 1.000 metros, submetendo as equipes decoleta a condições de adversi<strong>da</strong>de climática. Desta forma, foifun<strong>da</strong>mental para a execução do projeto a avaliação <strong>da</strong>s característicastípicas <strong>da</strong>s estações nas regiões em que o estudoera realizado antes <strong>da</strong>s saí<strong>da</strong>s a campo, visto que a definiçãode <strong>da</strong>tas de coletas em ca<strong>da</strong> estado teve como base um sorteioprévio, que definiu a cronologia de ca<strong>da</strong> região; algumascircunstâncias climáticas tiveram que ser contorna<strong>da</strong>s, comopor exemplo, em Belém – PA, onde foi necessário respeitar operíodo entre às 12h e às 14h e retar<strong>da</strong>r o início <strong>da</strong> coletaem função <strong>da</strong>s chuvas fortes que regularmente acontecemnessa região, que inviabilizavam nossa presença nas estra<strong>da</strong>s.Este é um exemplo que ilustra o quanto inevitavelmenteo método de um grande projeto de pesquisa precisa sofrera<strong>da</strong>ptações à reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> coleta.As coletas tiveram início em agosto de 2008, na ci<strong>da</strong>dede Porto Alegre-RS, onde o clima era predominantementechuvoso e frio. Na semana posterior, coletamos na ci<strong>da</strong>de deFlorianópolis-SC, onde também enfrentamos chuvas e temperaturasde 5 graus centígrados. Na coleta seguinte a esta,em João Pessoa/PB, altas temperaturas se faziam presentesdurante a execução do estudo. As ci<strong>da</strong>des e suas característicasclimáticas foram alternando-se de maneira completamentealeatória, método que fez com que houvesse cui<strong>da</strong>docontínuo e minucioso com relação ao respaldo de mantimentos,acessórios e metodologias aplica<strong>da</strong>s de acordo com oclima típico de ca<strong>da</strong> região.O estudo em ca<strong>da</strong> estado consistiu de coletas realiza<strong>da</strong>sem finais de semana (um final de semana para ca<strong>da</strong> estado,excetuando-se São Paulo, que teve dois finais de semanapara coleta em função do grande número de casos). É fun<strong>da</strong>mentalressaltar que a jorna<strong>da</strong> em ca<strong>da</strong> local era intensa.Ca<strong>da</strong> coleta era precedi<strong>da</strong> de viagem por parte <strong>da</strong> equipede coletadores, que se baseava predominantemente no RS edirecionava-se para os demais estados, adiciona<strong>da</strong> também,por outra parcela que partia de Brasília-DF com o mesmodestino. Detalhes que propiciam conforto à equipe são fun<strong>da</strong>mentaispara que ela se mantenha concentra<strong>da</strong>, volta<strong>da</strong>totalmente para a ativi<strong>da</strong>de, que exige estado de alerta elevado.Principalmente, podemos citar a disponibilização deviaturas não ostensivas <strong>da</strong> Polícia Federal para deslocamentos<strong>da</strong> equipe. O quadro 1 abaixo ilustra a configuração mínimade uma equipe de coleta para um final de semana detrabalho.Quadro 1. Configuração básica de uma equipe de coleta de campoPessoal de coleta (oriundo do centro de pesquisa)1 Policial Federal, 1 Policial Rodoviário Federal, 03 coletadoresPessoal de apoio local2 Policiais Federais, 2 Policiais Rodoviários FederaisEquipamento2 etilômetros, 4 PDAs*, 2 malas com brindes – 100/150 brindes(bolsas, bonés, camisetas, porta-cds), capas de chuva, lanternas,1 geladeira para acondicionamento de testes de saliva*PDA – Personal Digital Assistant – Telefones digitais para inserção dos<strong>da</strong>dos.48


Robin e cols.Cenas <strong>da</strong> coleta de <strong>da</strong>dos em rodovias federais – uma leitura sobre o trabalho de campoSeção A – Capítulo VIFusos horários e feriadosEm virtude de sua grande extensão longitudinal, o Brasilcompreende quatro fusos horários, que variam de 2 a 5 horasa menos que a hora do Meridiano de Greenwich (GMT).O horário oficial do país é o de Brasília, que é 3 horas atrasadoem relação ao GMT. Nos meses de outubro a fevereiro, háa adoção do chamado “horário de verão”, visando a reduçãode energia. Os fusos horários interferiram diretamente emnossas ativi<strong>da</strong>des e portanto devem ser observados.Da mesma forma que os horários, o planejamento precisouobservar primeiro os feriados nacionais e locais, umavez que as coletas não seriam realiza<strong>da</strong>s nestas circunstâncias,por definição do método - visto que tal quadro modificao perfil rotineiro do motorista que trafega nas rodovias,situação esta que poderia enviesar a amostra. Além disso,tal acontecimento também interfere nos serviços públicos.No caso de certos órgãos, como de segurança ou saúde, osefetivos são reforçados em períodos de feriados, comprometendo,por exemplo, no caso <strong>da</strong> Polícia Rodoviária Federal,o envolvimento de maior deman<strong>da</strong> de policiais na fiscalização<strong>da</strong>s rodovias. O mesmo se passa nos aeroportos, coma Polícia Federal. Esse fenômeno determinou to<strong>da</strong> sorte deintercorrências no planejamento, tais como o deslocamento<strong>da</strong> equipe ou a disponibilização de passagens aéreas comantecedência, visto o aumento de custo destas na alta tempora<strong>da</strong>,bem como <strong>da</strong> hospe<strong>da</strong>gem.Doenças regionais e surtos endêmicosOs profissionais que atuaram em campo trabalharam diretamentee face-a-face com pessoas, em locais estratégicosà captação do indivíduo a ser pesquisado: rodovias baliza<strong>da</strong>spor Postos <strong>da</strong> Polícia Rodoviária Federal. Neste cenário, háuma proposital e espera<strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de de motoristas, tantonativos quanto oriundos de outros estados, que trazem consigouma potencial exposição a todo tipo de contaminaçãoinfecto-contagiosa – mais ain<strong>da</strong> quando são obti<strong>da</strong>s amostrasfisiológicas de saliva, como neste estudo.Diante disso, to<strong>da</strong>s as imunizações disponíveis às doençasendêmicas de ca<strong>da</strong> região foram previamente ministra<strong>da</strong>saos integrantes <strong>da</strong> equipe. Contudo, é sabido que nem to<strong>da</strong>sas doenças infecto-contagiosas têm profilaxia estabeleci<strong>da</strong>.Outro exemplo, não menos importante, foi a realização <strong>da</strong>coleta no Rio de Janeiro, em meio a um surto de dengue.A relevância é intrínseca ao fato de tal doença ser isenta detécnicas imunizantes e que, durante um ano <strong>da</strong> coleta, foramregistrados mais de 250 mil novos casos <strong>da</strong> doença nesseestado. Desta forma foi orientado à equipe usar tênis, calçajeans e repelente nos braços, a fim de evitar uma possívelcontaminação. Em Rondônia, em nossa chega<strong>da</strong>, jornaisestampavam na primeira folha alertas para surto de febreamarela, dengue e malária. Nessa <strong>da</strong>ta, trabalhamos em umposto de coleta distante 40 km <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, praticamente inseridoem área de floresta nativa e com chuvas diárias, o quecompõe um ambiente propício aos vetores de tais doenças.Em outros estados, como Acre, Amazonas, Pará, Roraima,Tocantins, Goiás, DF, estas doenças, variando de grau emdeterminados momentos, são uma constante. Por isso, é deextrema importância ter to<strong>da</strong> vacinação em dia, uso de repelentese todo cui<strong>da</strong>do com alimentação e acomo<strong>da</strong>ção. EmFortaleza uma <strong>da</strong>s coletadoras levou uma pica<strong>da</strong> de inseto nopé que se transformou em uma reação alérgica que necessitoude atendimento médico.Planejamento alimentar, pausas edescansos.Este item condiz diretamente com a saúde dos profissionaisenvolvidos. O suporte de água representa um cui<strong>da</strong>doa ser bem observado, principalmente durante o período detrabalho do pesquisador. Esta era previamente adquiri<strong>da</strong>,em quanti<strong>da</strong>de suficiente para suprir tanto coletadores, quepermaneciam em ativi<strong>da</strong>de ininterrupta por até 12h, quantoparticipantes <strong>da</strong> pesquisa, visto que aos últimos esta era oferta<strong>da</strong>de maneira a tornar sua participação na pesquisa o maisconfortável possível, além de facilitar a coleta de saliva (videmétodo do estudo, no capítulo VII). A alimentação, <strong>da</strong> mesmaforma, deve ser objeto de planejamento e atenção. Fez-sefun<strong>da</strong>mental para o grupo observar a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ingestãode alimentação adequa<strong>da</strong> às condições de trabalho e emambiente saudável, pois durante o período de coleta na rodovianem sempre há disponibili<strong>da</strong>de de lugares adequadospara uma boa alimentação ou tempo disponível para tal. Emuma <strong>da</strong>s coletas um policial teve uma intoxicação alimentare teve que ser medicado. Portanto esta era sempre planeja<strong>da</strong>optando-se por realizá-las em conjunto, para otimizar o tempo:éramos em geral, nove pessoas (vide quadro 1), distribuí<strong>da</strong>sem 3 veículos. Com isso, eram evitados deslocamentosdesnecessários e dispersos, visto que a deman<strong>da</strong> de tempoera pequena para tal. Se fosse realmente necessário, a coletaera diminuí<strong>da</strong>, ou até mesmo suspensa, como por exemplo,no caso de acidentes na pista. Nossa ativi<strong>da</strong>de de coleta noPosto Policial foi prevista para 12 horas de trabalho, atingindoum amplo espectro de motoristas e horários. Diante de talpropósito, as horas de descanso prévias ao trabalho precisaramser bem observa<strong>da</strong>s. Então, hospe<strong>da</strong>gem com confortosuficiente e seguro foram fun<strong>da</strong>mentais para o êxito <strong>da</strong> ação,pois um coletador usufruindo de disposição durante a coletaobtém <strong>da</strong>dos de maneira mais minuciosa do seu indivíduopesquisado. Mesmo tomando todo cui<strong>da</strong>do com a alimentação,a diversi<strong>da</strong>de de características de alimentação do país éde fun<strong>da</strong>mental atenção em um projeto desta magnitude.49


Seção A – Capítulo VILogística de coletaO fato de utilizarmos as instalações de determinado órgão- no caso um posto <strong>da</strong> Polícia Rodoviária Federal - como base<strong>da</strong> operação durante a coleta não necessariamente significaque nele haja to<strong>da</strong> infra-estrutura necessária para o trabalho.Portanto, ambiente físico e características gerais do local devemser avaliados previamente pelo grupo responsável, paraque, a partir disto, possa ser orienta<strong>da</strong> e programa<strong>da</strong> a coleta.A verificação deve ser permanente e previa ao desencadeamentode ca<strong>da</strong> ação de coleta.As coletas eram realiza<strong>da</strong>s através de questionário, cujasrespostas eram digita<strong>da</strong>s em PDAs (ver capítulo VII) e envia<strong>da</strong>sà sede de Porto Alegre, através de uma operadora telefônica,e isto nos remetia a análise prévia <strong>da</strong> cobertura <strong>da</strong>rede telefônica local. Em Manaus, por exemplo, a coleta foirealiza<strong>da</strong> em um posto onde não funcionavam celulares; comisso, as respostas foram arquiva<strong>da</strong>s nos palmtops e man<strong>da</strong><strong>da</strong>sà central tão logo obtivéssemos um sinal telefônico adequado.Na total impossibili<strong>da</strong>de de encaminhamento on-line<strong>da</strong>s coletas, era preenchido em papel o questionário paraposterior envio <strong>da</strong>s informações coleta<strong>da</strong>s. O reforço de policiaisdurante a prática de nossa ação constituiu um itemindispensável durante sua execução. No Posto Policial, os efetivosde serviço cumprem uma rotina de trabalho, prevista enormatiza<strong>da</strong>, não podendo se envolver prioritariamente naação <strong>da</strong> pesquisa. Os policiais de serviço no posto atendemtelefones, rádios, recebem motoristas, prestam informações,fiscalizam, aplicam multas, atendem ocorrências e acidentes.Para tal, no acordo de cooperação firmado entre DPRF e DPF,buscou-se a dotação de efetivos policias extras de forma a<strong>da</strong>r autonomia à pesquisa, sem abrir mão <strong>da</strong> necessária infraestruturade segurança para a ação. No que diz respeito a organização<strong>da</strong> ação propriamente dita, a operação iniciava-secom a compra prévia de suprimento de água que era levadoao Posto <strong>da</strong> PRF. Esta era refrigera<strong>da</strong> no posto para uso. Serviçosde banheiros, cozinha, iluminação para a entrevista ecoleta noturna, assim como cadeiras e mesas para receber oscondutores de veículos eram fornecidos pela PRF, <strong>da</strong> mesmaforma que os cones de sinalização para organizar a pista e oestacionamento de veículos.Na chega<strong>da</strong> ao Posto Policial, antes do início de ca<strong>da</strong> coleta,era realiza<strong>da</strong> uma rápi<strong>da</strong> reunião de apresentação <strong>da</strong> equipede coleta e policiais do local, com intuito de informar as etapasa seguir durante a coleta e suprir as possíveis dúvi<strong>da</strong>s.Características <strong>da</strong> rodoviaQuando nos propomos a trabalhar em uma rodovia federaldevemos, primeiramente, estar preparados e atentos aitens referentes à segurança e circulação na mesma. Por contadisso, a equipe de coleta, que era forma<strong>da</strong> por acadêmicosde medicina e psicólogos, foi submeti<strong>da</strong> a uma capacitação.Coube aos Policias Rodoviários Federais informar, educar einstruir a equipe sobre fatos e comportamento em pista adequadospara uma boa a<strong>da</strong>ptação ao meio durante as coletas.Medi<strong>da</strong>s simples como nunca ficar de costas para a rodovia,estar sempre identificado com coletes sinalizadores, olharpara o motorista e jamais atravessar a pista sem comandopolicial foram treina<strong>da</strong>s.Ca<strong>da</strong> posto policial, devido a sua localização geográficana rodovia, apresenta características próprias. Há os quese situam em rodovias contendo pistas duplas, onde a veloci<strong>da</strong>demédia dos veículos, em geral, é mais alta. Algunslocalizam-se em vias de traçado reto, o que permite umamelhor visualização dos veículos circulantes. Outros postosrodoviários ficam em aclives ou declives, o que comprometea visibili<strong>da</strong>de à distância, tanto do motorista quanto do policial.Minimizamos o problema utilizando uma antecipação<strong>da</strong> sinalização através de cones, placas, viaturas, e flashlightsà noite. A mecânica <strong>da</strong>s abor<strong>da</strong>gens iniciava com quatro motoristas.Somente neste ato inicial <strong>da</strong> coleta, quando esseseram entrevistados, ficavam quatro veículos estacionados(podendo tratar-se de ônibus, caminhão, carro ou moto).Um detalhamento desta sequência de abor<strong>da</strong>gem encontrasedescrito no capítulo VII.Ocorrências na rodovia durante as coletasAs rodovias brasileiras são díspares, e isso se expressou emnossa coleta de <strong>da</strong>dos. Uma mesma via pode apresentar particulari<strong>da</strong>desdiferentes em sua extensão, além de diferentescomposições de fluxo de motoristas. Por exemplo, estadoscomo Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, dentreoutros, apresentam maior concentração de fluxo de caminhões.Nos demais estados, eles já circulam mais dispersos.Tais características determinam ações de a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong> coletade <strong>da</strong>dos. Nos trechos de pista simples que cortam ci<strong>da</strong>des,como por exemplo na coleta em Alagoas, onde a rodoviaadentra as áreas urbanas, os acidentes aumentam e os cui<strong>da</strong>dos<strong>da</strong> equipe durante a atuação tiveram de ser redobrados.No período de convivência nos postos <strong>da</strong> PRF, houve interrupçõesna coleta, determina<strong>da</strong>s por ocorrências nas rodovias,sendo estas a priori<strong>da</strong>de no momento. Nem sempreos efetivos policias eram em números ideais. Ocasionalmente,havia mais de uma ocorrência a atender; dessa forma, osefetivos destinados à pesquisa se lançavam no auxílio destasequipes. Disto, extraímos “in loco” a percepção clara <strong>da</strong> importância<strong>da</strong> infra-estrutura de pessoal e equipamentos quese deve ter em uma rodovia. Em Teresina/PI, por exemplo,a coleta foi interrompi<strong>da</strong> devido a um chamado de atendimentoa um acidente ocorrido na rodovia envolvendo umamoto e uma ciclista. O efetivo <strong>da</strong> PRF disponível no postoera insuficiente, sendo necessário que os policiais <strong>da</strong> equipe5 0


Robin e cols.Cenas <strong>da</strong> coleta de <strong>da</strong>dos em rodovias federais – uma leitura sobre o trabalho de campoSeção A – Capítulo VIde coleta somassem-se ao socorro deste acidente. Tambémem Florianópolis/SC, o início <strong>da</strong> coleta foi atrasado em aproxima<strong>da</strong>mente2 horas devido ao grande congestionamentoencontrado no deslocamento <strong>da</strong> equipe em direção ao posto<strong>da</strong> PRF em função do tombamento de um caminhão que resultouna interdição <strong>da</strong> rodovia.Fluxo de veículos e condições deluminosi<strong>da</strong>deSabemos que tal fenômeno varia de intensi<strong>da</strong>de nas regiõese nos horários. Contudo, não basta prever ou conhecer,temos que reagir diante dele. Assim, no campo, a equipedeve ter a sensibili<strong>da</strong>de de se aconselhar com os profissionaisque atuam cotidianamente ali. Tivemos que, por exemplo,em certos períodos, aceitar o fluxo <strong>da</strong> rodovia como o definidor<strong>da</strong> coleta, <strong>da</strong>do o congestionamento e a consequentelentidão. Tivemos que ser sensíveis a estes acontecimentostendo em conta que o motorista está sob regime de estressediferenciado naquele momento e uma abor<strong>da</strong>gem naquelascondições não seria simpática ao motorista e consequentementedesgastante para o coletador. A coleta acontecia continua<strong>da</strong>mente<strong>da</strong>s 12 às 24h, e nem sempre havia suporte deiluminação adequa<strong>da</strong> nos locais de coleta para sua realização.Em Salvador, tivemos de coletar à noite, no acostamento<strong>da</strong> via, contando com a iluminação por meio dos faróisde uma ambulância ali estaciona<strong>da</strong> com este intuito. Daí aimportância de utilizarmos vestimenta reflexiva, bem comocones de sinalização, postando-se viaturas ostensivas estrategicamentedurante o dia e emitindo sinais luminosos à noite,com uso de lanternas de sinalização. É importante para asequipes de coleta avaliar as condições precisas de iluminaçãoe segurança em casos desta natureza.Circunstâncias atípicas relaciona<strong>da</strong>s àcriminali<strong>da</strong>de localO perfil dos crimes e “modus operandi“ dos criminosos esua repercussão nas nossas áreas de atuação dos pesquisadoresprecisaram ser identificados. Estas informações devemser adquiri<strong>da</strong>s em momento oportuno, antecipado, com asautori<strong>da</strong>des no assunto. Um episódio característico que podeser citado ocorreu durante a coleta em uma rodovia do nordestedo país, quando houve uma denúncia de que gruposde delinquentes armados circulavam, naquele momento, narodovia. Tal informação determinou que, tanto a PF, quantoa PRF providenciassem efetivos armados de fuzis, coletes aprova de projéteis de arma de fogo e viaturas adequa<strong>da</strong>s.Tal contexto determinou um cui<strong>da</strong>do especial durante asabor<strong>da</strong>gens. Por exemplo, motociclistas eram sinalizados,abor<strong>da</strong>dos e advertidos para que não descessem <strong>da</strong> motoe que o condutor mantivesse suas mãos sobre o guidão.O carona <strong>da</strong> moto deveria manter as mãos sobre os ombrosno condutor até a checagem de sua documentação. Nestequadro era feita uma revista pessoal dos dois, especialmentena linha <strong>da</strong> cintura e tórax. Tal ação era realiza<strong>da</strong> sob cercopolicial fortemente armado. Somente após este procedimentoera autorizado o desembarque. Seguia-se solicitação dedocumentação pessoal e do veículo e nosso convite a participar<strong>da</strong> pesquisa. No momento em que era realiza<strong>da</strong> acoleta, os policiais inicialmente faziam uma verificação nosdocumentos e veículo do condutor abor<strong>da</strong>do a fim de garantira segurança dos coletadores, observando se não existiamdrogas ou alguma irregulari<strong>da</strong>de legal relaciona<strong>da</strong> ao condutor.É importante salientar que a equipe de coletadores erainstala<strong>da</strong> em local determinado pelos policiais de acordo comregras de segurança, evitando que a mesma ficasse exposta aeventuais situações de risco, conforme treinamento referidoanteriormente.Infra-estrutura cedi<strong>da</strong> pelos órgãosFez-se indispensável o planejamento de uma infra-estruturalocal, que determinou a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cooperação técnicaentre o projeto de pesquisa e outros órgãos, públicosou não, pertencente a qualquer <strong>da</strong>s três esferas administrativas.É importante que se conheça a vocação de ca<strong>da</strong> órgãocom quem se pretende estabelecer cooperação. Em nossocaso, buscamos parceria para a execução do projeto junto aoDepartamento <strong>da</strong> Polícia Rodoviária Federal e também como Departamento de Polícia Federal. Dessas obtivemos destacadoapoio, tendo nossas ações nos postos sido contempla<strong>da</strong>ssempre com a presença de profissionais pertencentesaos grupos de operações especiais do Estado. Fez-se uso,invariavelmente, de viaturas novas, em excelente estado, doDepartamento de Polícia Federal e Departamento de PolíciaRodoviária Federal. Tal estrutura decorreu <strong>da</strong> real compreensãodos dirigentes desses órgãos, que franquearam o apoio,através <strong>da</strong> cooperação técnica firma<strong>da</strong> entre SENAD x DPRF eDPF, em todo o território nacional.51


USO DE BEBIDAS ALCOÓLICASE OUTRAS DROGASNAS RODOVIAS BRASILEIRASE OUTROS ESTUDOSSeção B


Seção B – Capítulo VIIConsumo de álcool e drogas entre motoristas privados e profissionaisdo BrasilFlavio Pechansky, Raquel De Boni, Paulina Duarte, Fernan<strong>da</strong> Cubas de Paula, Daniela Benzano, Lisia VonDiemen e Carl LeukefeldIntroduçãoO Brasil é o líder mundial em acidentes de trânsito nasestra<strong>da</strong>s, de acordo com <strong>da</strong>dos do Departamento de PolíciaRodoviária Federal de 2008 (Brasil, 2009), sendo que naúltima déca<strong>da</strong> apesar de diversos esforços <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>despoliciais e de medi<strong>da</strong>s de prevenção toma<strong>da</strong>s em nível nacionalnão houve redução no número de tais acidentes. Desde oano de 1999 até o ano de 2006 foram registra<strong>da</strong>s 172.000mortes por acidente de trânsito apenas nos locais dos acidentes(Brasil, 2009). Este aspecto epidêmico – evidenciadopelo impacto numérico do número de mortes por ano noBrasil – justifica o tratamento do assunto como uma sériaquestão de saúde pública. Enquanto na Itália o índice demortos por mil quilômetros em rodovias é de 10, nos EstadosUnidos ele é de 6,56 e no Canadá de 3,3; no Brasil, o índiceé de 106 mortos/1.000 km. Como um resultado deste númeroimpactante, o Brasil quando comparado aos países maisdesenvolvidos domina o ranking de gastos com acidentes detrânsito nas uni<strong>da</strong>des de emergência, em termos individuaise macroeconômicos, como afirma Walsh (2004).Desde a implementação do Código de trânsito Brasileiro,em 1997, houve reduções pouco significativas no comportamentodo beber e dirigir (Leyton, Ponce, Andreuccetti, 2009).De acordo com Rozestraten (1988), Fleischfresser (2005) eSoares (2007) 80% dos acidentes são causados pelo fatorhumano. No Brasil, hipotetiza-se que as causas mais comunsrelaciona<strong>da</strong>s aos acidentes sejam dirigir sob efeito de álcoole outras drogas além <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de excessiva, e estes fatoresparecem estar tipicamente associados. Por exemplo, umestudo pioneiro realizado em 1995 com 865 participantespelo Centro de Estudos do Abuso de Drogas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>deFederal <strong>da</strong> Bahia, correlacionando o consumo de bebi<strong>da</strong>s emsituações de lazer em bares e na orla marinha de Salvadorcom acidentes de trânsito, encontrou que aproxima<strong>da</strong>mente38% dos participantes que sofreram acidentes conduzindoum veículo haviam ingerido bebi<strong>da</strong>s alcoólicas naquele dia(Nery-Filho, Miran<strong>da</strong>, Medina, 1995). Outro estudo nacional,realizado em serviços de emergência e institutos médico-legaisno ano de 1997 pela Associação Brasileira dos Departamentosde Trânsito em Brasília, Curitiba, Recife e Salvador,avaliou 831 participantes - dos quais 27,2% apresentavamalcoolemia superior a 0,6 g/l, o que hoje seria consideradocrime pela lei em vigor.Estudo mais recente realizado por Moura e cols. (Moura etal., 2009) utilizando o sistema VIGITEL para fatores de risco eproteção para doenças crônicas do Ministério <strong>da</strong> Saúde analisouentrevistas telefônicas por telefone de 54.000 indivíduosacima de 18 anos. Aproxima<strong>da</strong>mente 1,5% dos entrevistadosreferiram em pelo menos uma ocasião ter bebido e dirigidosob efeito abusivo de álcool (cinco ou mais doses para homens,quatro ou mais doses para mulheres). Além do <strong>da</strong>doisolado, o estudo também procurou observar se houve alteraçãona prevalência reporta<strong>da</strong> deste consumo antes ou depois<strong>da</strong> chama<strong>da</strong> “lei seca” 1 . Não houve, segundo o estudo,mu<strong>da</strong>nça permanente no relato destes episódios, apesar deter havido uma redução reporta<strong>da</strong> nos meses imediatamenteposteriores à promulgação <strong>da</strong> lei.Dirigir sob o efeito de álcool e outras substâncias psicoativasé um comportamento de risco, visto que estas alteramo entendimento <strong>da</strong>s situações cotidianas e a percepção doque acontece ao redor do condutor (De Boni, 2007; Thielen,Hartmann; Soares, 2008). De Boni (2007), ao citar Hingson(2003) mostra que dirigir sob o efeito do álcool pode aumentarem quatro vezes o risco de uma pessoa se envolver em umacidente no trânsito, quando sua alcoolemia varia entre 0,05a 0,09 mg/dl, além de uma maior probabili<strong>da</strong>de de se envolverem acidentes fatais (Hingson, 2003). O sistema viário - emespecial as rodovias e estra<strong>da</strong>s - está por trás <strong>da</strong> maior partedo transporte de massas, fazendo parte intrínseca <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>dos indivíduos cotidianamente. Essas substâncias afetam asfunções cerebrais e os processos mentais necessários para acondução em segurança de veículos, conforme a literatura jádemonstra desde a déca<strong>da</strong> de 50. Também está demonstradoque essas substâncias afetam a capaci<strong>da</strong>de de se conduzirum veículo não apenas no momento em que são usa<strong>da</strong>s, mastambém produzindo efeitos residuais, como por exemplo a“ressaca” do álcool, que afeta os reflexo do condutor, ou oefeito rebote <strong>da</strong> anfetamina, como a depressão, o sono oua fadiga, além <strong>da</strong> degeneração dos neurônios responsáveispela produção <strong>da</strong> serotonina (Ponce e Leyton, 2008; Rozestraten,1988).Até o presente momento, pouco é conhecido sobre oconsumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas em rodovias federais brasileiras,que são responsáveis por 74,3% do total pavimentado<strong>da</strong> malha rodoviária do país, correspondendo a 57.933quilômetros (BRASIL, 2005). Estas rodovias são importanteseixos de escoamento <strong>da</strong> produção, além de representarem1Lei 11.705 (Brasil, 2008)54


Pechansky e cols.Consumo de álcool e drogas entre motoristas privados e profissionais do BrasilSeção B – Capítulo VIIsignificativa conexão entre as capitais brasileiras. Mais ain<strong>da</strong>,representam o trânsito entre os principais aglomerados populacionaisbrasileiros.O presente capítulo descreve o primeiro esforço nacionalno sentido de conhecer o consumo de álcool e de substânciaspsicoativas de condutores que trafegam em rodovias federaisque cruzem as regiões metropolitanas <strong>da</strong>s 26 capitais brasileirase do Distrito Federal. Buscou-se estabelecer uma metodologiacapaz de obter <strong>da</strong>dos iniciais, porém robustos, sobreo que se passa nas rodovias em horários convencionais e nosquatro tipos principais de motoristas-alvo: motociclistas, caminhoneiros,motoristas de ônibus e motoristas privados.MétodoDelineamento e amostragemFoi realizado um estudo transversal utilizando como pontosde coleta postos <strong>da</strong> Polícia Rodoviária Federal que selocalizassem no perímetro <strong>da</strong>s regiões metropolitanas <strong>da</strong>s 26capitais de estados brasileiros e do Distrito Federal. Os pontosde coleta por região metropolitana foram inicialmente mapeadose os possíveis locais escolhidos em uma distância de até50km do centro geográfico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de origem.O tamanho <strong>da</strong> amostra foi estimado considerando o orçamentodisponível e a prevalência do uso de anfetaminas,que supunha-se menor do que a prevalência do uso de álcool(logo, para detectá-la seria necessário um maior númerode sujeitos no estudo). Conforme estudo prévio realizado nopaís (Silva et al, 2003), estimou-se uma prevalência de usode anfetaminas de 6%, com margem de erro de 2% com umnível de confiança de 95% . Para isso seria necessário incluir542 motoristas em ca<strong>da</strong> estrato. Para manter-se a proporçãopor condutores de diferentes tipos de veículos seriam necessários3.388 condutores, o que permitiria estimar uma prevalênciade uso de álcool de 30% com uma margem de erromenor de 1,5%.Tabela 1 – Proporção de veículos coletados na amostra nacional (as colunas em negrito representam os números finais depois do arredon<strong>da</strong>mento paraa coleta)EstadoNúmero demotoristas% referenteao Brasilnmotoristasônibus ecaminhão%motoristascarro%motociclistas%Motoristasônibus ecaminhão%MotoristasCarro%AP 107.202 0,2 100 17,89 47,9 34,21 18 48 35RR 122.079 0,23 100 12,39 44,21 43,4 13 45 44AC 142.228 0,27 100 15,23 42,64 42,13 16 43 43SE 296.768 0,56 100 17,68 53,3 26,02 18 54 27TO 312.602 0,58 100 16,91 43,9 39,19 17 44 40AL 324.677 0,61 100 19,79 56,33 23,88 20 57 24AM 355.258 0,66 100 18,24 60,39 21,37 19 61 22MA 387.205 0,72 100 21,72 52,46 25,82 22 53 26PI 384.676 0,72 100 19,09 46,01 34,91 20 47 35RN 443.078 0,83 100 20,89 37,6 41,41 21 38 42PB 562.340 1,05 100 16,95 53,68 29,37 17 54 30RO 627.024 1,17 100 13,57 31,53 54,9 14 32 55PA 734.182 1,37 100 18,3 52,07 29,63 19 53 30MS 899.465 1,68 100 18,13 47,01 34,85 19 48 35MT 982.489 1,84 100 20,39 41,85 37,76 21 42 38CE 1.041.816 1,95 100 12,35 58,38 29,27 13 59 30DF 1.119.771 2,09 100 14,63 70,78 14,59 15 71 15ES 1.384.073 2,59 100 13,77 40,92 45,3 14 41 46PE 1.476.528 2,76 100 14,99 56,13 28,88 15 57 29BA 1.643.374 3,07 100 18,27 59,86 21,86 19 60 22GO 1.802.032 3,37 100 16,48 50,7 32,82 17 51 33SC 3.189.203 5,96 100 15 50,79 34,22 15 51 35PR 3.989.295 7,46 138 21,78 52,81 25,42 30 73 35RS 4.084.483 7,64 138 16,3 58,76 24,94 23 81 35RJ 4.088.018 7,65 138 20,43 66,61 12,96 29 92 18MG 5.140.830 9,61 138 14,39 52,95 32,66 20 73 45Motoristasmoto%SP 17.830.290 33,35 550 20,51 55,98 23,47 113 308 13055


Seção B – Capítulo VIIA amostra em ca<strong>da</strong> capital foi seleciona<strong>da</strong> em blocos proporcionaisao número de condutores no estado específicoe estratifica<strong>da</strong> por tipo de veículo (carro, moto, caminhãoe ônibus). Em um primeiro momento, foram examinadosos <strong>da</strong>dos disponíveis no Departamento Nacional de Trânsito(DENATRAN) (Brasil, 2008) sobre o número de carteiras dehabilitação forneci<strong>da</strong>s por estado <strong>da</strong> federação, e atualizadosaté o ano de 2006, o que totalizou aproxima<strong>da</strong>mente 53milhões de condutores. Estes foram cruzados com a frota deveículos dos estados, também a partir dos <strong>da</strong>dos disponíveisno DENATRAN; a análise entre a densi<strong>da</strong>de de condutorese de veículos demonstrou haver forte e positiva correlaçãogeral entre ambas, com coeficiente de correlação = 0,94(P100, totalizando 38.322.119motoristas, e recalcula<strong>da</strong>s as proporções em ca<strong>da</strong> estado sobreeste número. Finalmente, foi estimado o número de motoristasa serem abor<strong>da</strong>dos em ca<strong>da</strong> estado para esse total desujeitos que sobraram para estes estados, mantendo-se umtercil intermediário (n=138), e restando um estado isoladoque respondeu pelo último terço <strong>da</strong> amostra (SP, n=550).Em algumas situações, alguns poucos casos a mais foram coletadosem função <strong>da</strong> manutenção <strong>da</strong>s proporções. Este cálculose encontra na Tabela 1, e é o cálculo amostral final quefoi utilizado neste estudo. Os veículos foram selecionados deforma aleatória, proporcionalmente ao número de veículosem ca<strong>da</strong> estrato, de acordo com listas de números aleatóriosgera<strong>da</strong>s previamente ao procedimento de coleta, durante as12 horas estabeleci<strong>da</strong>s (<strong>da</strong>s 12h às 24h), em sextas-feiras esábados. Não foram coletados <strong>da</strong>dos em feriados, no sentidode evitar épocas em que sabi<strong>da</strong>mente aumentam os índicesde morte no trânsito. As entrevistas foram obti<strong>da</strong>s no períodode 08 de agosto de 2008 até 26 de setembro de 2009.Critérios de inclusão e exclusãoForam incluídos no estudo motoristas profissionais e privadosdos seguintes veículos automotores: ônibus (assimcomo vans e assemelhados), caminhões ou carretas, motocicletase veículos de passeio, que fossem do sexo masculinoou feminino, com i<strong>da</strong>de acima de 18 anos de i<strong>da</strong>de, queestivessem trafegando na rodovia escolhi<strong>da</strong> na direção ondeestivesse sendo realiza<strong>da</strong> a coleta durante o bloco de temposelecionado, e que aceitassem participar do estudo mediantecompreensão de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido2 . Foram excluídos do estudo motoristas com i<strong>da</strong>de abaixode 18 anos de i<strong>da</strong>de e que se negassem a participar. Nototal, houve entre exclusões e recusas, 90 casos distribuídossem diferenças significativas entre as 27 áreas de coleta.EquipeA equipe de coleta de <strong>da</strong>dos foi forma<strong>da</strong> por sete coletadores,auxiliados por um policial federal treinado especificamentepara a função de ligação com as equipes locais emanejo <strong>da</strong> estrutura logística de coleta. Além deste policialfederal, membros sênior <strong>da</strong> Polícia Rodoviária Federal acompanharame estruturaram to<strong>da</strong>s as coletas de <strong>da</strong>dos nos 27locais. Equipes forma<strong>da</strong>s por no mínimo 03 coletadores viajarampara os diferentes locais de coleta a partir de um planode viagens pré-estabelecido. Todos os coletadores (04 psicólogase 03 estu<strong>da</strong>ntes de medicina) foram exaustivamentetreinados pelos investigadores principais antes do início <strong>da</strong>scoletas de <strong>da</strong>dos, incluindo estudos-piloto e testes de campo<strong>da</strong>s abor<strong>da</strong>gens dos condutores. Todo o treinamento <strong>da</strong>equipe de coleta foi realizado em Porto Alegre, utilizandouma a<strong>da</strong>ptação dos métodos de coleta desenvolvidos peloPacific Institute for Research and Evaluation (Lacey , 2007),que em 2007 executou um estudo piloto para testar umametodologia de pesquisa para “roadside surveys”. O treinamentoconstou de:• Familiarização com o instrumento de coleta de <strong>da</strong>dosem suas diferentes a<strong>da</strong>ptações, incluindo a utilização dePersonal Digital Assistants (PDAs) especificamente programadoscom o questionário utilizado;• Conhecimento teórico sobre metabolismo do álcool eutilização do etilômetro e treinamento prático para obtençãode amostras, fornecidos por profissional certificadono manuseio e utilização dos etilômetros digitaisespecíficos que foram utilizados no estudo;• Conhecimento teórico sobre coleta, estocagem e transportede saliva utilizando coletores, e treinamento práticopara obtenção de amostras, fornecido por profissionaiscertificados;• “Role-playing” de abor<strong>da</strong>gens típicas e atípicas de coletasde <strong>da</strong>dos em rodovias, fornecidos por policiais rodoviáriosfederais e supervisionado pelos investigadoresprincipais;2Disponível no site www.obid.senad.gov.br56


Pechansky e cols.Consumo de álcool e drogas entre motoristas privados e profissionais do BrasilSeção B – Capítulo VII• Estudo-piloto com coleta de <strong>da</strong>dos realizado em umarodovia federal próxima à ci<strong>da</strong>de de Porto Alegre. Os<strong>da</strong>dos deste piloto não foram considerados como parte<strong>da</strong> amostra <strong>da</strong> região metropolitana <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, mas simcomo uma ativi<strong>da</strong>de de treinamento em técnica de coletade <strong>da</strong>dos, que orientou modificações na metodologiae a<strong>da</strong>ptações nos instrumentos;• Treinamento em elementos de bioética fornecido pormembros do Laboratório de Bioética do HCPA. Um manualde procedimentos 3 foi elaborado para orientar osentrevistadores nas diversas fases de execução <strong>da</strong> entrevistae coleta de amostras.Instrumental - entrevista e obtenção de amostrasfisiológicasA entrevista de obtenção de <strong>da</strong>dos basea<strong>da</strong> no estudo-pilotoamericano foi a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> para utilização no Brasil a partirde teste de campo. To<strong>da</strong> a entrevista foi inseri<strong>da</strong> em PDAs especificamenteprogramados para este fim, que faziam transmissãoindividual dos casos coletados nas diversas capitaisdo pais via internet para uma página segura e criptografa<strong>da</strong> 4 .Em resumo, as seções <strong>da</strong> entrevista versam sobre:• Características sócio-demográficas do condutor do veículo;• Características do veículo (tipo de automóvel), númerode passageiros, uso de cinto de segurança por passageiroe acompanhantes;• Características típicas de dirigir e distância geográfica doponto de coleta ao domicilio do entrevistado;• Consumo recente de álcool e outras substâncias psicoativas,incluindo medicações lícitas de efeito psicoativo;• Comportamentos e fatores de risco associados ao bebere dirigir 5 .A obtenção <strong>da</strong> alcoolemia do motorista foi realiza<strong>da</strong> apartir de etilômetros <strong>da</strong> marca Alco-Sensor IV (Intoximeters,Inc) digitais, certificados pelo Inmetro, utilizando procedimentos-padrãopara coleta deste tipo de <strong>da</strong>do. As coletas,realiza<strong>da</strong>s pelos policiais rodoviários, eram posteriormenteinseri<strong>da</strong>s nos registros <strong>da</strong> entrevista referi<strong>da</strong> acima. A obtenção<strong>da</strong>s outras medi<strong>da</strong>s de uso de substâncias psicoativasfoi realiza<strong>da</strong> com o uso de “swabs” de algodão para coletade saliva (Quantisal, Inc), utilizados e recomen<strong>da</strong>dos naliteratura internacional (Pil and <strong>Ver</strong>straete, 2008; Walsh etal., 2008). Era solicitado ao respondente que acumulassedurante aproxima<strong>da</strong>mente 1 minuto saliva no “swab”; paraestimular a produção de saliva os entrevistadores forneciamágua aos motoristas. Após a obtenção de saliva, o “swab”era estocado em um recipiente próprio e refrigerado a 4graus centígrados, e encaminhado posteriormente para o laboratóriopara análise utilizando o método descrito anteriormenteno capítulo V. Além do treinamento realizado sobre oetilômetro, os coletadores também foram familiarizados comos valores correspondentes aos efeitos do álcool no organismoe às tabelas de conversão dos valores do etilômetro àalcoolemia. Estes materiais se encontram em anexo no sitewww.obid.senad.gov.br .Logística <strong>da</strong> coletaOs membros <strong>da</strong> equipe de coleta viajavam com no mínimoum dia de antecedência ao ponto previsto para a montagem<strong>da</strong> zona de coleta, onde policiais rodoviários locais osaguar<strong>da</strong>vam para apoio logístico e detalhamento <strong>da</strong>s tarefasde sinalização <strong>da</strong> rodovia e <strong>da</strong> sequência de coletas estabeleci<strong>da</strong>pelos entrevistadores.No posto de coleta, o policial rodoviário era instruído asinalizar para que um determinado veículo parasse em localapropriado, afastado do eixo principal <strong>da</strong> rodovia. Em umprimeiro momento, o policial federal abor<strong>da</strong>va o veículo selecionadocom material informativo de prevenção de acidentesassociados a beber e dirigir 6 . Posteriormente, convi<strong>da</strong>vao motorista a participar do estudo, encaminhando-o para aárea de coleta. Era informado ao motorista que o estudo eraanônimo e privativo, com membros de uma equipe de coletade <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> UFRGS. Caso o motorista se recusasse, este eraliberado se o policial não identificasse sinais que justificassemsua permanência no posto de polícia. Caso este aceitasseparticipar, seus documentos eram revisados por um policialrodoviário (seguindo a rotina de trabalho <strong>da</strong> corporação) eseguia-se a sequência de aplicação do questionário pelo entrevistador,que ao final <strong>da</strong> coleta encaminhava o motoristaao policial responsável por seus documentos. Este procediaentão com um convite a realizar um teste de etilometria.Caso o policial encontrasse algum indício que o levasse a suspeitardo uso de álcool ou drogas por parte do condutor, eleseguia os procedimentos policiais padrão. Depois dos procedimentospoliciais pertinentes, o motorista era liberado paraa rodovia.As entrevistas duraram entre sete e dez minutos. Ao término<strong>da</strong> entrevista, foram oferecidos bonés ou camisetascom logotipos do NEPTA e <strong>da</strong> SENAD, a título de brinde, para3Disponível no site www.obid.senad.gov.br4Interessados em conhecer detalhes dos métodos de programação, inserção de <strong>da</strong>dos, modificações de planilhas de coleta e transmissão de <strong>da</strong>dos devemcontactar diretamente aos autores.5Para fins deste capítulo, apenas as análises principais serão apresenta<strong>da</strong>s.6Disponível no site www.obid.senad.gov.br57


Seção B – Capítulo VIItodos os participantes, que não eram previamente informadossobre esse recebimento. A Figura 1 ilustra as ativi<strong>da</strong>desdos policiais e dos coletadores no processo de obtenção de<strong>da</strong>dos.traram ou terminaram o ensino superior ou curso técnico27,8% (n=943). Com relação à situação profissional, 93,3%(n=3.172) tinham emprego ou eram autônomos, e os demais6,7% (n=226) distribuíam-se entre aposentados, semFigura 1. Ações policiais e dos entrevistadores na coleta de <strong>da</strong>dosPolíciaEntrevistadoresMotorista paradopor policial<strong>Ver</strong>ifica documentosTCLEConvi<strong>da</strong> motorista participar do estudoQuestionárioEnviado viainternetRecusaAceitaSalivaArmazena<strong>da</strong>BafômetroAnalisa<strong>da</strong>no HCPAPositivo –procedimentospoliciaisNegativo –Retorna à rodoviaResultadosDo total de 3.492 abor<strong>da</strong>gens realiza<strong>da</strong>s, tivemos entreper<strong>da</strong>s e recusas 94 casos (97,4% de aceitação em participar),gerando uma base de <strong>da</strong>dos de 3.398 motoristas. Destesa maioria era do sexo masculino (n=3.206, 94,3%), commédia de i<strong>da</strong>de de 37,3 anos. Os participantes do sexo femininotinham, em média, 36,3 anos de i<strong>da</strong>de. Não houvediferenças significativas nas taxas de recusa por capital. Doponto de vista dos tipos de motorista, as taxas de recusasforam concentra<strong>da</strong>s (85%) nos motoristas privados (carros emotos).Em relação aos tipos de veículos tivemos as seguintesproporções: 51% (n=1.735) eram veículos de passeio (carro,caminhonete e caminhoneta); 10% (n=344) ônibus ousimilares; 9,9% (n=337) caminhões e 28,9% (n=982) motocicletas.Do total de entrevistas, 31,2% (n=1.058) dos motoristashavia estu<strong>da</strong>do até a 8ª série do ensino fun<strong>da</strong>mental, sendoque destes 41,1% (n=1.395) havia estu<strong>da</strong>do entre o 1ºano do ensino médio até o ensino médio incompleto. Enemprego,incapacitados, do lar ou estu<strong>da</strong>ntes. A mediana <strong>da</strong>ren<strong>da</strong> individual foi de R$ 1.500,00 e <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> familiar de R$2.200,00. A tabela 1 ilustra as proporções de ren<strong>da</strong> e nívelde escolari<strong>da</strong>de <strong>da</strong> amostra de acordo com o tipo de veículoabor<strong>da</strong>do.Os motivos <strong>da</strong>s viagens dos entrevistados foram: 52,5%(n=1783) por trabalho, 39,2% (n=1333) a passeio e 8,5%(n=281) por outros motivos. Predominantemente, os motoristasestavam vindo (42,2%, n=1.435) ou indo (62,9%,n=2.135) de sua casa ou <strong>da</strong> de um conhecido, ou vindo(34,8%, n=1.183) ou indo (22,5%, n=766) para seu trabalho.As outras respostas em conjunto - como vir ou estarindo a um restaurante, escola, igreja e hotel, entre outrosforam predominantes em 22,8% (n=779) e 14,6 % (n=495)respectivamente. A Figura 2 ilustra o local de origem dos motoristasabor<strong>da</strong>dos e sua relação com consumo de álcool nodia <strong>da</strong> coleta.Do total de participantes, 71,1% (n=2412) relataram terconsumido bebi<strong>da</strong>s alcoólicas nos doze meses anteriores àcoleta, sendo que apenas os motoristas de ônibus diferiramdesta proporção (61,1%). A frequência típica de consumo e58


Pechansky e cols.Consumo de álcool e drogas entre motoristas privados e profissionais do BrasilSeção B – Capítulo VIITabela 1: Ren<strong>da</strong> e escolari<strong>da</strong>de por tipo de veículoVariávelSérie cursa<strong>da</strong>Carro,camioneta oucaminhoneteÔnibus oumicroônibusCaminhão,caminhãoarticulado, carreta(transporte de carga)Motocicleta,motoneta,ciclomotor, tricicloAte 8ª série 361 (20,8) 184 (53,6) 202 (59,9) 309 (31,5)1ª série do ensino médioaté ensino médio completoSuperior incompleto,completo ou curso técnicoRen<strong>da</strong> mediana individual(em Reais)609 (35,1) 146 (42,6) 126 (37,4) 515 (52,5)764 (44,1) 13 (3,8) 9 (2,7) 157 (16,0)2.000 1.200 1.500 1.000Figura 2. Local de origem dos motoristas abor<strong>da</strong>dos e consumo no dia <strong>da</strong> coletaas doses tipicamente consumi<strong>da</strong>s pelos quatro tipos principaisde motorista encontram-se nas Figuras 3 e 4.Sobre consumo abusivo nos doze últimos meses (“binge”,ou seja, cinco doses ou mais para o sexo masculino eFigura 3. Frequência de consumo (%)quatro ou mais para o sexo feminino), o estudo revelou queisto aconteceu em 73% do total de motoristas de carro, 79%dos motoristas de moto, 71% dos motoristas de caminhãoe 61% dos motoristas de ônibus. A frequência principal debinges foi de menos de uma vez por mês (73,1% para o totalFigura 4. Doses de álcool típicas em um dia normal de consumo (%)n=2412n=241259


Seção B – Capítulo VIIde motoristas), enquanto que 25,3% dos motoristas relatouepisódios de binge entre duas e até oito vezes por mês.No momento <strong>da</strong> entrevista 309 motoristas (12,8%) relataramter ingerido bebi<strong>da</strong> alcoólica naquele dia, e a distribuiçãodestes encontra-se na Figura 5.Figura 5. Bebeu no dia <strong>da</strong> coleta (%)n=309A maior parte dos que relataram ter bebido no dia o fizeramna sua casa ou de alguém (54,7%) ou em bares ou restaurantes(21%), sendo que as demais respostas se dividiram empequenas proporções entre trabalho, clube ou local esportivo,loja ou similar, e postos de gasolina. Um aspecto interessanteé que dos 309 sujeitos que reportaram haver bebido no dia <strong>da</strong>coleta, apenas 18 (6%) consideravam que sua habili<strong>da</strong>de paradirigir não estava afeta<strong>da</strong> pelo seu consumo no dia.Ain<strong>da</strong>, 60,2% dos motoristas (n=2.040) relataram játerem sido na vi<strong>da</strong> passageiros de motoristas que tivessembebido antes de dirigir, sendo que as proporções positivasforam mais altas nos motoristas privados (aproxima<strong>da</strong>mente62%) quando comparados com motoristas profissionais(aproxima<strong>da</strong>mente 50,5%). Apesar dos relatos sobre ter sofridoacidente após 3 ou mais doses de álcool terem sido rarosna amostra (4% para carros, 6,5% para motos, 0,9% paracaminhões e 2% para ônibus), o relato de ter dirigido apósbeber tanto que seria legalmente impróprio não foram infrequentes,conforme vemos na Figura 6. Pode-se novamenteperceber uma atitude mais conservadora dos motoristas profissionaisquando comparados com os motoristas privados.Figura 6. Já dirigiu depois de beber tanto que seria legalmente impróprio?(%)Ao serem bafometrizados, os motoristas foram perguntadossobre o quanto isso já tinha acontecido em suas vi<strong>da</strong>s ese sabiam os limites legais sobre beber e dirigir. Novamenteos motoristas profissionais demonstraram que isso acontecemuito infrequentemente (9,2% para carros, 8,3% para motos).Já os motoristas profissionais tinham sido bafometrizadosmais vezes, mas também em proporções baixas (20%para caminhões e 20,9% para motoristas de ônibus). Paradoxalmente,os motoristas de carro e moto diziam conhecero limite legal para beber e dirigir mais frequentemente (38%e 33,6%, respectivamente) quando comparados com os motoristasprofissionais (23,6% para caminhões e 31,1% paraônibus). Porém, como as proporções de escolari<strong>da</strong>de e ren<strong>da</strong>se distribuíram muito diferentemente na amostra estu<strong>da</strong><strong>da</strong>,é possível que esta informação esteja bastante media<strong>da</strong> pelaescolari<strong>da</strong>de. Mais ain<strong>da</strong>, relatos ain<strong>da</strong> não analisados porcompleto de nossos entrevistadores sugerem que a maiorparte do conhecimento descrito por estes motoristas era depouca vali<strong>da</strong>de, ou seja, as informações forneci<strong>da</strong>s por estesdemonstravam que na prática eles não conheciam os limiteslegais ou as relações entre doses e seu impacto no dirigir.Do total de 309 motoristas que relataram haver bebidono dia em que a coleta estava sendo realiza<strong>da</strong>, as proporçõesmaiores foram de carros (14,1%) e motos (14,6%). Motoristasde caminhão e de ônibus relataram proporções menores(9,6% e 2,4%, respectivamente). No que compete aosachados de alcoolemia positiva, de acordo com o teste debafômetro, a taxa de qualquer alcoolemia encontra<strong>da</strong> acimade zero foi de 4,8%, homogeneamente similar para carros,motos e caminhões (4,5, 4,8 e 4,9%, respectivamente), emais baixa para ônibus (1,2%). Percebe-se uma certa vali<strong>da</strong>deentre os relatos de consumo no dia e as bafometrias, quede certa forma respeitaram as proporções identifica<strong>da</strong>s nosrelatos dos motoristas. Esta taxa geral de alcoolemia positivademonstrava ser mais frequente a partir <strong>da</strong>s 20h (7,3%)quando compara<strong>da</strong> com as coletas antes <strong>da</strong>s 20h (3,3%).Após relatarem que haviam bebido, os motoristas respondiamse sua habili<strong>da</strong>de para dirigir estava afeta<strong>da</strong> pelo seuconsumo. Cem por cento dos motoristas de ônibus e caminhãorelataram que sua habili<strong>da</strong>de estaria afeta<strong>da</strong> para dirigirno dia <strong>da</strong> coleta, enquanto que 81% dos motoristas dogrupo <strong>da</strong>s motos e também dos motoristas de carro disseramque sua habili<strong>da</strong>de para dirigir estaria afeta<strong>da</strong>.n=3391Uma vez que o uso de outras substâncias além do álcoolnão foi perguntado diretamente aos motoristas do estudo,podemos apenas estimá-lo a partir <strong>da</strong>s coletas obti<strong>da</strong>s pelasaliva. É importante salientar que do ponto de vista metodológico,a análise de salivas apresenta<strong>da</strong> neste capítuloain<strong>da</strong> não tem as características confirmatórias de análisesrealiza<strong>da</strong>s por espectrômetro de massa (vide capítulo V),que estavam sendo realiza<strong>da</strong>s durante a confecção destecapítulo (vide discussão). No total, 150 (4,6%) motoristas60


Pechansky e cols.Consumo de álcool e drogas entre motoristas privados e profissionais do BrasilSeção B – Capítulo VIIapresentaram alguma positivi<strong>da</strong>de para outras drogas na saliva,assim distribuí<strong>da</strong>s: cocaína: 2,05% (n=67), maconha:1,5% (n=49), benzodiazepínicos: 1,04% (n=34). Para oscompostos anfetamínicos foram analisa<strong>da</strong>s 1.158 <strong>da</strong>s 3.251amostras coleta<strong>da</strong>s, devido a falta de especifici<strong>da</strong>de dos kitspara os derivados comercializados no Brasil (anfepramonae femproporex). Destas 1.158 amostras, 14 eram positivas,correspondendo a 1,2%, valor subdimensionado tendo emvista o uso sabi<strong>da</strong>mente indiscriminado. A distribuição <strong>da</strong>ssubstâncias por tipo de motorista encontra-se na Figura 7.Figura 7. Distribuição <strong>da</strong>s SPAs por tipo de motoristaO primeiro ponto que consideramos apropriado salientaré a factibili<strong>da</strong>de do método – a inserção de um projeto depesquisa dentro de uma ação policial padrão. De acordo comos <strong>da</strong>dos obtidos dos estudos de percepção de coerção empesquisa descritos no capítulo III, foi possível perceber que osmotoristas não se sentiram mais coagidos a participar desteestudo do que em outros estudos que também tivessem oenvolvimento com coletas de <strong>da</strong>dos. Mais ain<strong>da</strong>, o fato deque nem todos aceitaram (houve uma pequena proporçãode recusas) nos permite supor que mesmo na circunstânciaatípica de um convite feito por um policial para participar deum estudo científico houve indivíduos que preferiram – pelosmais alegados motivos – não participar. Mais ain<strong>da</strong>, o fato deque os policiais rodoviários eram os responsáveis pela bafometrizaçãodos motoristas permitiu que as eventuais açõeslegais (penalizações, apreensão de documentos, multas, prisões)fossem realiza<strong>da</strong>s de forma separa<strong>da</strong> do ambiente depesquisa, uma vez que estas teriam que fatalmente ocorrerem função <strong>da</strong> origem <strong>da</strong> ação (uma ação policial na rodovia).Os relatos inerentes aos fatos paralelos a este processo decoleta de <strong>da</strong>dos encontram-se no capítulo VI.As análises confirmatórias foram capazes de identificar osdiversos tipos de substância utiliza<strong>da</strong>s pelo total de motoristasabor<strong>da</strong>dos. Desta forma, pode-se conhecer abaixo aclasse química e o tipo de substância identifica<strong>da</strong>, conformea Figura 8.Figura 8. Análise confirmatória <strong>da</strong>s salivas positivas (%)DiscussãoEste é o primeiro estudo em âmbito nacional que buscaidentificar a prevalência do consumo de álcool e outrasdrogas em condutores que trafegam por rodovias federaisbrasileiras. Apesar <strong>da</strong>s naturais limitações inerentes ao método,foi possível identificar alguns padrões no comportamentodestes motoristas. A análise destes padrões pode permitirum refinamento <strong>da</strong>s políticas volta<strong>da</strong>s para a prevenção, arepressão e a reeducação dos motoristas que trafegam nasrodovias sob efeito de substâncias.O que encontramos nesta primeira coleta de base nacionalfoi que os motoristas abor<strong>da</strong>dos não diferem muito doconhecido padrão de beber do adulto brasileiro: uma proporçãosignificativa e não diferencia<strong>da</strong> por tipo de motoristafaz consumo regular de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas (ao redor de22%, no geral), e em seus dias normais de consumo consomemquanti<strong>da</strong>des significativas de álcool (aproxima<strong>da</strong>mente60% referem 7 a 15 doses consumi<strong>da</strong>s). Parece haver algumaparcimônia no que compete a ter bebido no dia em quea coleta era realiza<strong>da</strong>, principalmente junto aos motoristasprofissionais – que teoricamente estariam muito mais tempocirculando nas estra<strong>da</strong>s e consequentemente mais expostosao risco <strong>da</strong> associação com o álcool. Este fenômeno é repetidona resposta sobre ter bebido depois de dirigir, demonstrandohaver alguma diferença de conscientização entre omotorista profissional e o motorista comum, conforme demonstradona figura 6. Entretanto, é importante ressaltarque mesmo havendo diferenças, estes números demonstramnão ser infrequente a relação entre beber e dirigir nos motoristasabor<strong>da</strong>dos.No que compete ao uso de outras substâncias, a amostraestu<strong>da</strong><strong>da</strong> demonstrou que os motoristas privados apresentavamuma maior variação nas opções de consumo de substâncias,mesmo apresentando proporções baixas destas, quandocomparados com os motoristas profissionais. É de se salientarque os achados sobre anfetaminas, bastante mais frequentesnos motoristas de caminhão - como já identificado em outrosachados <strong>da</strong> literatura (Leyton et al. 2002; 2009; Yonamine,2004) - encontram-se subestimados. Conforme mencionadona seção de método deste capítulo, a análise final <strong>da</strong>s anfetaminhase <strong>da</strong>s outras substâncias psicoativas ain<strong>da</strong> não61


Seção B – Capítulo VIIhavia sido termina<strong>da</strong> quando <strong>da</strong> confecção deste capítulo.Os exames confirmatórios por espectrômetro de massa deverãomostrar um provável aumento nos níveis de anfetaminaencontrados nos motoristas, pois os kits para análise de salivautilizados nas amostras são de origem americana, e consequentementenão medem com exatidão as anfetaminas maisfrequentemente utiliza<strong>da</strong>s de forma abusiva no Brasil, quesão amfepramona e femproporex, menos frequentementeabusa<strong>da</strong>s nos Estados Unidos. Análises posteriores serão divulga<strong>da</strong>sem artigos científicos.Em termos genéricos, a amostra de motoristas analisa<strong>da</strong>espelha um pouco a impressão intuitiva que tínhamos a respeitodos motoristas <strong>da</strong>s rodovias federais brasileiras: há umadiferença clara de escolari<strong>da</strong>de e ren<strong>da</strong> entre motoristas profissionais(ônibus e caminhão) e motoristas privados, o quede certa forma se expressou em diversos achados do estudo.Ao mesmo tempo, em função de sua ativi<strong>da</strong>de profissional,os motoristas de caminhão e ônibus apresentavam em algumasrespostas comportamentos mais conservadores no quecompete ao consumo de álcool ou mesmo ao beber e dirigirou ao serem passageiros de motoristas alcoolizados. Porém,há apenas uma diferença para menos na prevalência destesachados. Segue existindo por parte dos motoristas profissionaisuma quanti<strong>da</strong>de significativa de indivíduos que consomembebi<strong>da</strong>s alcoólicas no dia em que irão dirigir – mesmoque em proporção menor aos motoristas privados. Isso talvezse deva ao fato de que motoristas profissionais são mais frequentementecontrolados pelas empresas no que competeao consumo de álcool (inclusive com bafometrização dosmotoristas antes de assumirem o volante). Tais diferençasde proporção também se expressam quanto à questão de játer dirigido com uma quanti<strong>da</strong>de de álcool que configurariaconsumo ilegal. Novamente os motoristas privados são maisabusivos neste aspecto do que os motoristas profissionais.Um <strong>da</strong>do saliente é o quão frequente é o consumo deálcool no dia-a-dia dos motoristas, tanto dentro quanto forados dias específicos em que estão dirigindo. Conforme é possívelobservar na Figura 2, a maioria desse motoristas referiuestar indo ou vindo <strong>da</strong> própria casa ou <strong>da</strong> casa de alguém,além do trabalho. Mesmo assim, independente <strong>da</strong> associaçãoentre beber e dirigir no dia específico em que a coleta de <strong>da</strong>dosse realizou, a grande frequência de consumo associa<strong>da</strong>às altas doses, além <strong>da</strong> impressionante frequência de bingesnestes motoristas, sugere que em grande parte do tempo estesse encontram sob efeito agudo ou pós-efeito do consumode álcool, o que sabi<strong>da</strong>mente afeta a capaci<strong>da</strong>de de dirigir,mesmo que sob doses aparentemente pequenas ou sem aevidência de alcoolemia presente através do bafômetro (Liue Fu, 2007); mais ain<strong>da</strong>, motoristas em condições de risco,como os motoristas profissionais com poucas horas de sonoe uso ativo de anfetaminas aumentam seus riscos quando<strong>da</strong> ingestão de álcool, conforme comprovado pela literatura(Banks et al., 2003; 2004; Barrett; Horne; Reyner, 2005). Sabemostambém que em função <strong>da</strong>s características de coletautiliza<strong>da</strong>s (sextas e sábados apenas, <strong>da</strong>s 12h às 24h, sem coletasem feriados), provavelmente nossa amostra apresentaachados de prevalência conservadores. Mesmo assim, comoo objetivo do estudo não era o de identificar os achados óbvios,mas sim o que é costumeiramente identificado em umarodovia, acreditamos que as informações conti<strong>da</strong>s sejamúteis para iniciar a nortear decisões de políticas de prevençãosobre consumo de álcool a motoristas específicos. Mais ain<strong>da</strong>,análises futuras dos achados coletados – não reporta<strong>da</strong>sneste capítulo em função <strong>da</strong> brevi<strong>da</strong>de do espaço – poderãoaumentar nossa compreensão sobre estes fenômenos.AgradecimentosOs autores agradecem aos coletadores Ana Paula S. Metzger,Daniel Fuchs, Deise Schroeter, Lucas Araújo, PetúliaLopes, Sinara Santos e Bárbara Ponzi Holmer; aos colegasChristine Moore e Michael Vincent (Immunalysis, Inc) pelaorientação na preparação dos equipamentos para análise desaliva e à equipe coordena<strong>da</strong> pela Profa. Renata Limberger– Facul<strong>da</strong>de de Farmácia <strong>da</strong> UFRGS - pelas análises toxicológicasde saliva. Agradecem também ao Sr. Armando EugenioSalvador Pacello (APS sinalizações) pela cedência dos etilômetrospara treinamento e coleta.62


Seção B – Capítulo VIIIPsicopatologia e Comportamento de Risco em Motoristas Privados eProfissionais no BrasilSibele Faller, Helena Maria Tannhauser Barros, Maristela Ferigolo, Taís de Campos Moreira, Bárbara Diniz,Cássio Machado, Daniela Benzano BumaguinIntroduçãoA influência do álcool e de outras substâncias psicoativasno dirigir, associa<strong>da</strong> à alta prevalência de transtornos psiquiátricos,como Transtornos do Humor, Transtorno do EstressePós-Traumático (TEPT) e Transtorno de Personali<strong>da</strong>de Antissocial,é relata<strong>da</strong> em vários estudos como um fator determinantepara o aumento do risco de Acidentes de Trânsito (ATs) (Mcmillen,Pang et al., 1991; Sutton, 1994; Lapham, Smith et al.,2001; Lapham, C’de Baca et al., 2006; Mcmillan, Timken etal., 2008). Conforme o National Comorbidity Survey – NCS,realizado em 2001 (Lapham, Smith et al., 2001), 91% dos motoristasinfratores apresentaram transtornos relacionados aoálcool pelo menos uma vez na vi<strong>da</strong>, contra 44% <strong>da</strong> populaçãogeral norte-americana (Kessler, Mcgonagle et al., 1994). Entreesses motoristas, 50% <strong>da</strong>s mulheres e 33% dos homens foramdiagnosticados com ao menos uma comorbi<strong>da</strong>de psiquiátricaalém de abuso ou dependência de drogas, mais frequentementeTranstorno Depressivo Maior e TEPT.Com o objetivo de estimar a prevalência de transtornospsiquiátricos durante a vi<strong>da</strong> e nos últimos 12 meses em umaamostra de motoristas com repeti<strong>da</strong>s infrações por beber edirigir, entrevistas foram conduzi<strong>da</strong>s entre 2001 e 2003 com385 homens e 74 mulheres em Oregon, nos EUA. Os motoristasem questão participavam de um programa com duraçãode três anos, com monitoramento e supervisão dos infratorese tratamento do abuso de álcool com foco na mu<strong>da</strong>nçade comportamento e na abstinência. O resultado apontouque 65% dos homens e 79,7% <strong>da</strong>s mulheres tiveram, pelomenos, uma comorbi<strong>da</strong>de psiquiátrica com abuso ou dependênciade álcool durante a vi<strong>da</strong>. Novamente, o mais prevalentetranstorno não-relacionado com o uso de substânciasfoi o Transtorno Depressivo Maior (30,9%), seguido por TEPT(15,3%). Duzentos e trinta e três dos participantes do estudoforam triados para transtornos psiquiátricos, e foi identificadoque 97,2% dos casos de Transtorno Bipolar, 67% doscasos de Depressão Maior, 37,3% dos casos de uso de drogase 100% dos casos de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)não foram adequa<strong>da</strong>mente diagnosticados durante o tratamento,o que representa uma grande per<strong>da</strong> de oportuni<strong>da</strong>dede incremento nos resultados <strong>da</strong> intervenção (Mcmillan, Timkenet al., 2008).Assim, dentre os estudos publicados, a maioria ratificaa possibili<strong>da</strong>de de que características pessoais e patologiaspsiquiátricas influenciem e sejam influencia<strong>da</strong>s por ATs e consumode SPAs. Portanto, um diagnóstico psiquiátrico ou aidentificação de marcadores de risco para tais morbi<strong>da</strong>despode determinar as intervenções e o plano pós-tratamentopara motoristas infratores a fim de reduzir recaí<strong>da</strong>s, consumoe, consequentemente, infrações de trânsito (Palmer et al.,2007). Sabendo-se <strong>da</strong> importância de um acompanhamentopsiquiátrico, em vários países os indivíduos infratores por dirigirsob influência de substâncias são encaminhados para tratamento.Porém, estudos têm mostrado que esses pacientessão subdiagnosticados no que compete a tais transtornos,mesmo se sabendo que, além do uso de álcool e SPA, comorbi<strong>da</strong>destambém contribuem para o aumento do risco de AT(Mcmillan, Timken et al., 2008; McMillan, 2008).Em relação a comportamentos de risco no trânsito, emalgum grau todos os motoristas estão suscetíveis ao cometimentode erros e violações. Tanto erros quanto violações sãoformas inadequa<strong>da</strong>s de conduta, ou seja, infrações (Aberge Rimmö, 1998; Kontogiannis, Kossiavelou et al., 2002).De acordo com Reason (Reason, Manstead et al., 1990), osdois termos possuem diferentes origens psicológicas e, portanto,requerem maneiras distintas de entendimento e consequenteintervenção. Erro pode ser definido como “a falhade ações planeja<strong>da</strong>s para alcançar determinados resultadosdesejados sem a intervenção de um acaso ou fator imprevisível”e violação como “uma infração delibera<strong>da</strong> de algumcódigo de comportamento regulamentado ou socialmenteaceito” (Parker, West et al., 1995). Assim sendo, o erro significaum ato involuntário relacionado com o processamentocognitivo do indivíduo, enquanto a violação envolve intencionali<strong>da</strong>de,estando relaciona<strong>da</strong> a fatores motivacionais esociais. De qualquer forma, acredita-se que dirigir sob influênciade álcool ou outras drogas torna maior a probabili<strong>da</strong>dede ocorrência dos dois tipos de infração.Para tornar estudos mais acessíveis para pesquisadores eentrevistados, ca<strong>da</strong> vez mais têm se optado pela utilizaçãode entrevistas telefônicas em pesquisa na área <strong>da</strong> saúde.Os primeiros estudos no campo a utilizarem essa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>dede enquete foram realizados nos EUA, e <strong>da</strong>tam de meadosdos anos 1970. Desde então, esse método vem sendoempregado em diversas populações e em vários países, poisapresenta adequa<strong>da</strong> relação custo-benefício por ser maisbarato que a entrevista realiza<strong>da</strong> face a face, além de apresentarboa confiabili<strong>da</strong>de (Greenfield, Mi<strong>da</strong>nik et al., 2000).64


Faller e cols.Psicopatologia e Comportamento de Risco em Motoristas Privados e Profissionais no BrasilSeção B – Capítulo VIIIPorém, ain<strong>da</strong> há poucos estudos na área <strong>da</strong> psiquiatria queutilizam a entrevista telefônica como meio de obtenção de<strong>da</strong>dos. Em um deles, a confiabili<strong>da</strong>de e a vali<strong>da</strong>de de entrevistapor telefone para avaliar alcoolismo foi examina<strong>da</strong> porSlutske (Slutske, True et al., 1998) em um estudo com 8.000veteranos do Vietnã. Uma subamostra de 146 homens foientrevista<strong>da</strong> por telefone utilizando a mesma entrevista estrutura<strong>da</strong>.A confiabili<strong>da</strong>de teste-reteste para diagnóstico deabuso e dependência de álcool foi adequa<strong>da</strong> (apresentandocoeficientes kappa de 0,74 e 0,61, respectivamente), sendoque 96% dos indivíduos identificados como tendo diagnósticode dependência foram corretamente avaliados pelo métodoem questão. Alguns estudos na área de álcool e trânsitoutilizaram entrevistas telefônicas para avaliar comportamentode beber e dirigir entre jovens e em motoristas com infraçãopor embriaguez (Rothe e Elgert, 2005). Entrevistas realiza<strong>da</strong>scom 400 jovens adultos com i<strong>da</strong>des de 19 a 25 anosvisando examinar atitudes, práticas e sensibilização frente àlei em torno do tema “beber e dirigir” (Stutts e Wilkins, 2003)encontraram que 34% dos respondentes disseram ter bebidoantes de dirigir, e 17% admitiram ter bebido muito acima <strong>da</strong>quanti<strong>da</strong>de considera<strong>da</strong> segura, resultados semelhantes aosencontrados em entrevistas realiza<strong>da</strong>s face a face no exteriore no Brasil (Rosman e Sawyer, 1988; Rosman, Ferrante etal., 2001). Foi publicado recentemente no Brasil o RelatórioVIGITEL – já citado no capítulo VII – realizado com um totalde 2000 participantes, com o objetivo de verificar fatores derisco e morbimortali<strong>da</strong>de relaciona<strong>da</strong> a doenças crônicas nãotransmissíveis, dentre as quais tabagismo e alcoolismo, umexemplo de estudo com método bem estruturado de entrevistastelefônicas.As informações apresenta<strong>da</strong>s até aqui demonstram quedirigir sob influência de substâncias é um grave problema desaúde pública no Brasil. São raros os estudos para avaliar característicase elementos envolvidos nessa prática no país, devidoàs dificul<strong>da</strong>des financeiras e geográficas. No Brasil nãohá estudos estimando o grau dessa associação, dificultandoa elaboração de programas que contemplem a necessi<strong>da</strong>dedo motorista. Considerando que entrevistas para avaliar motoristasque trafegam sob o efeito de álcool e outras SPAs emrodovias exigem abor<strong>da</strong>gem rápi<strong>da</strong>, complementar à coletade <strong>da</strong>dos através de contatos telefônicos posteriores paraavaliação psiquiátrica e comportamental, esta é uma alternativaa ser considera<strong>da</strong>. Sendo assim, o principal objetivodo estudo exposto no presente capítulo foi verificar a associaçãoentre transtornos psiquiátricos e comportamentos derisco no trânsito em motoristas que apresentaram alcoolemiapositiva e uso prévio de outras substâncias, comparando-oscom aqueles sem uso de álcool e substâncias. Além disso,consideramos que a descrição do método utilizado será degrande vali<strong>da</strong>de para outros investigadores que a queiramutilizar sob forma a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>.MétodoDelineamento e AmostragemFoi utilizado para este estudo um delineamento do tipotransversal. Os candi<strong>da</strong>tos a participar foram recrutados naocasião <strong>da</strong> coleta de <strong>da</strong>dos do estudo referido no capítulo07, com motoristas que trafegavam nas principais rodoviasdo país.Método de Seleção e Obtenção dos Contatos TelefônicosAo final <strong>da</strong> entrevista realiza<strong>da</strong> no estudo <strong>da</strong>s rodovias,foi solicitado a ca<strong>da</strong> participante o fornecimento, medianteautorização, de informações necessárias para a realizaçãode uma ligação telefônica posterior, como nome e telefone.Houve tentativas de contato com todos aqueles que a autorizaram.Cálculo do Tamanho AmostralO tamanho <strong>da</strong> amostra do presente estudo foi calculadocom base nos <strong>da</strong>dos de prevalência de transtornos psiquiátricosna população geral e em motoristas que demonstraramcomportamento de beber e dirigir encontrados na literatura(Lapham, Smith et al., 2001). O cálculo foi realizado como objetivo de estimar a prevalência dos transtornos psiquiátricosmais raros no estudo – 3% para o transtorno bipolar,que apresenta menor prevalência – e detectar uma diferençaentre o grupo de motoristas que apresentassem alcoolemiapositiva, o grupo com uso prévio de outras substâncias e ogrupo sem alcoolemia positiva e sem uso de outras substâncias.Foi considerado um valor de alfa de 0,05 e poder de80%, obtendo-se um número mínimo de 1900 indivíduosno intuito de detectar uma diferença entre os três grupos demotoristas.Critérios de Inclusão e ExclusãoForam incluídos no estudo todos os motoristas que autorizaramo contato telefônico posterior à sua participaçãona etapa realiza<strong>da</strong> nas rodovias e que, após o processo deconsentimento informado, no momento <strong>da</strong> ligação, aceitaramresponder a entrevista telefônica. Aqueles que não apresentaramcondições de responder ao questionário telefônico– seja por intoxicação presente por drogas, seja por incapaci<strong>da</strong>decognitiva ou sensorial 1 – foram excluídos do estudo, emum total de 0,3% dos casos. Essas condições foram aferi<strong>da</strong>satravés de perguntas realiza<strong>da</strong>s ao início <strong>da</strong> coleta de <strong>da</strong>dos.1Deficiência auditiva ou surdez, já que o motorista portador de alguma dessas características estaria impossibilitado de responder à entrevista portelefone.65


Seção B – Capítulo VIIIFatores em Estudo e DesfechosO principal desfecho deste estudo é a presença de alcoolemiapositiva (verifica<strong>da</strong> por intermédio do etilômetro no momentodo recrutamento <strong>da</strong> amostra) ou uso prévio de outrasSPAs (procedimentos já relatados e expostos nos capítulos05 e 07). Para fins de análise <strong>da</strong>s diversas variáveis, foramconsiderados dois grupos :1. Motoristas com exames positivos para uso de álcool eoutras SPAs;2. Motoristas sem a presença de substâncias no sangue.Os grupos foram comparados em relação aos seguintesfatores em estudo: presença de comorbi<strong>da</strong>des psiquiátricas,dependência e abuso de álcool e outras SPA e comportamentosde risco no trânsito.Logísticaestrutura local. Este estudo contou com um POP desenvolvidoespecialmente para orientar a realização de ligações paraos motoristas.Seis consultores que operam no VivaVoz foram selecionadospela coordenação do estudo em conjunto com a coordenaçãodo local para integrar a equipe de coleta. Neste estudo,a investigadora principal foi capacita<strong>da</strong> para gerenciar osentrevistadores. O treinamento foi realizado conforme cursocomumente ministrado pela equipe do serviço, totalizando40 horas de aulas teóricas e 20 horas de aulas práticas commanejo do software e aplicação de escalas. Os consultoresreceberam treinamento específico e direcionado, com simulaçõesde entrevistas e diferentes situações de coleta de<strong>da</strong>dos. Duas supervisoras do VivaVoz também foram capacita<strong>da</strong>spara auxiliar na administração no call-center e narealização de entrevistas. O esquema gráfico <strong>da</strong> coleta estáexposto e detalhado na Figura 1.Figura 1: Esquema gráfico <strong>da</strong> logística <strong>da</strong> coleta de <strong>da</strong>dosLocal e EquipeRodoviasAutorizaçãoAs entrevistas telefônicas foram realiza<strong>da</strong>s no serviço VivaVoz(Serviço Nacional de Orientações e Informações sobrea Prevenção do Uso Indevido de Drogas - fun<strong>da</strong>do em junhode 2005 através de um acordo de cooperação entre SENADe Universi<strong>da</strong>de Federal de Ciências <strong>da</strong> Saúde de Porto Alegre(UFCSPA). O VivaVoz é um serviço telefônico do tipo callcenter(central telefônica), que presta orientação e informaçãogratuita e sigilosa sobre a prevenção do uso indevido dedrogas, através de chama<strong>da</strong>s sem custo (ligação 0800). Alémde divulgar informações científicas sobre drogas, o serviço éespecializado em oferecer intervenção breve para usuários deSPA e apoio para seus familiares, bem como indicar locais detratamento. A estrutura física e tecnológica do call center doVivaVoz conta com:1. Posições ou Postos de Atendimento (PAs), compostospor um computador equipado com softwares específicospara armazenamento de <strong>da</strong>dos, aparelho telefônicoacoplado a um fone de ouvido e microfone, proporcionandoa liberação <strong>da</strong>s mãos do consultor para digitaçãodurante o atendimento – e linha telefônica conecta<strong>da</strong> aocomputador;2. Uni<strong>da</strong>de de Resposta Audível (URA), que permite identificarquantas chama<strong>da</strong>s estão em espera, recebe ligaçõese as encaminha para os PAs sem a interferência doatendente, direcionando uniformemente o fluxo de ligações.A conduta do consultor é orienta<strong>da</strong> através de POPs (ProcedimentosOperacionais Padrão), que são roteiros elaboradoscom diversas situações e orientações para a utilização <strong>da</strong>Per<strong>da</strong> 1Participação aceitaInclusão Exclusão 3EntrevistaRecusas tácitas e impossibili<strong>da</strong>de de contato 1 – Recusas formais 2 –Conforme critérios de exclusão 3Organização <strong>da</strong>s InformaçõesFormulário de Entrevista e Bancos de DadosUm banco de <strong>da</strong>dos independente foi desenvolvido paraarmazenar informações sigilosas necessárias para a realização<strong>da</strong>s ligações telefônicas. Semanalmente, tendo recebidoas autorizações por meio <strong>da</strong> equipe de coleta do estudo<strong>da</strong>s rodovias com os nomes e telefones dos entrevistadosnos postos <strong>da</strong> polícia rodoviária, a coordenadora do estudoorganizava em uma planilha de Excel os nomes e telefonesdos motoristas juntamente com informação sobre númerode registro no estudo. Dessa maneira, os indivíduos foramlocalizados e contatados sem que os <strong>da</strong>dos de identificaçãofossem relacionados com os <strong>da</strong>dos coletados, preservando aidenti<strong>da</strong>de dos participantes <strong>da</strong> pesquisa.Ligação Recusa 2Agen<strong>da</strong>mentoDesistênciaFinalização66


Faller e cols.Psicopatologia e Comportamento de Risco em Motoristas Privados e Profissionais no BrasilSeção B – Capítulo VIIITo<strong>da</strong>s as informações adquiri<strong>da</strong>s ao longo de ca<strong>da</strong> entrevistaforam inseri<strong>da</strong>s em documentos em Word paraposteriormente serem digita<strong>da</strong>s em uma planilha Excelpela coordenadora do estudo e um assistente de pesquisa.Ligação Telefônica e EntrevistaPor intermédio do call-center localizado no VivaVoz, apartir <strong>da</strong>s informações conti<strong>da</strong>s no banco de <strong>da</strong>dos dos contatos,os coletadores realizaram ligações, contatando os motoristascom o objetivo de entrevistá-los. Para que os horáriosde repouso do entrevistado fossem respeitados, as diferençasno fuso horário brasileiro foram considera<strong>da</strong>s.Desenvolvimento <strong>da</strong> coleta de <strong>da</strong>dosO primeiro passo após efetuar o contato telefônico foi aleitura <strong>da</strong> primeira parte do termo de consentimento para omotorista que, a seguir, era convi<strong>da</strong>do a participar do estudo.Se houvesse aceitação, a avaliação dos critérios de inclusãose tornava o próximo passo. Caso o motorista solicitasse aocoletador que a entrevista fosse realiza<strong>da</strong> em outra ocasião, oentrevistador combinaria dia e hora e retornaria conforme ocombinado. Para a realização <strong>da</strong> entrevista, o coletador tevede seguir os POPs lidos anteriormente e as instruções conti<strong>da</strong>sno decorrer <strong>da</strong> entrevista, cuja duração aproxima<strong>da</strong> foide 30min.Durante to<strong>da</strong> a coleta de <strong>da</strong>dos, a supervisão <strong>da</strong>s entrevistastelefônicas foi executa<strong>da</strong> pela coordenadora do estudono momento <strong>da</strong> entrevista – com ligações ouvi<strong>da</strong>s sob autorizaçãoe monitora<strong>da</strong>s em tempo real – e através de reuniõesquinzenais para avaliar problemas logísticos.EntrevistaA entrevista desenvolvi<strong>da</strong> para a obtenção de <strong>da</strong>dos foicomposta por perguntas a respeito de informações sociodemográficase pelos seguintes instrumentos 2 :1. Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI -CORE) – <strong>Ver</strong>são Brasileira, que consiste em uma entrevistadiagnóstica padroniza<strong>da</strong> breve (15-30 minutos)organiza<strong>da</strong> por módulos diagnósticos independentes,compatível com os critérios do DSM-III-R/IV e <strong>da</strong> CID-10,destina<strong>da</strong> à utilização na prática clínica e na pesquisaem atenção primária e em psiquiatria, podendo ser utiliza<strong>da</strong>após um treinamento rápido (de 1 a 3 horas).2. Escala de Violações e Erros de Motoristas (EVEM), instrumentoque foi baseado no “Driver Behaviour Questionnaire(DBQ)” (Questionário do Comportamento doMotorista) de Reason e cols. (1990), e foi a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> parao contexto sociocultural brasileiro. A EVEM consta dequestões referentes a erros e violações, distribuí<strong>da</strong>s em4 domínios: 12 questões referentes a erro; 7 referentes aviolação; 10 referentes a violação agressiva e 11 referentesa violação agressiva interpessoal.Taxa de RespostaDe 2.957 motoristas entrevistados no estudo realizadonas rodovias, 2.580 (87,25%) aceitaram receber ligação posterior(Tabela 1). Desses, 1.134 concor<strong>da</strong>ram em responder aentrevista e 199 (7,71%) recusaram sua participação no momentodo contato telefônico. Daqueles que não foram entrevistadose não recusaram formalmente sua participação, 300(11,62%) agen<strong>da</strong>ram contato posterior e não responderamas ligações subsequentes e 947 (36,70%) não foram encontrados.Assim, a taxa de aceitação foi de 43,95%, o que estádentro dos limites aceitáveis para este tipo de estudo.Tabela 1: Taxa de resposta <strong>da</strong> amostraNível de contato n (%)Total de motoristas – estudo rodovias 2957 (100)Autorizaram contato telefônico 2580 (87,25)Entrevistados 1134 (43,95)Recusas 199 (7,71)Entrevistas agen<strong>da</strong><strong>da</strong>s 300 (11,62)Motoristas sem contato 947 (36,70)Processamento dos Dados e Análise EstatísticaO banco de <strong>da</strong>dos contendo as respostas dos participantesfoi exportado para o programa SPSS v.16.0 para análiseestatística. Foram descritas as variáveis categóricas pela frequênciaabsoluta e frequência relativa percentual; as variáveisquantitativas pela média e desvio padrão em distribuições simétricas,e mediana e amplitude interquartil em distribuiçõesassimétricas. Na análise secundária dos <strong>da</strong>dos, foram compara<strong>da</strong>sas variáveis categóricas pelo teste de Qui quadradocom correção de Yates.Aspectos ÉticosA autorização para ligação telefônica posterior, forneci<strong>da</strong>pelos participantes do estudo realizado nas rodovias, não foiconsidera<strong>da</strong> parte de um termo de consentimento, e sim umrecurso para que os possíveis participantes fossem contatados.A inclusão dos participantes do estudo ocorreu no momentodesse contato telefônico, através de um processo deconsentimento informado, realizado de forma verbal, com aaceitação tácita <strong>da</strong> participação mediante a obtenção <strong>da</strong>s respostas,após o objetivo e a finali<strong>da</strong>de do projeto terem sidodevi<strong>da</strong>mente informados. Essa possibili<strong>da</strong>de está prevista naResolução 196/96 no item IV.3.c. O consentimento, descrito2Disponível no site www.obid.senad.gov.br67


Seção B – Capítulo VIIIde forma mais aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> no capítulo III, foi obtido poretapas (rolling consent), em que o entrevistado foi informadoa ca<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça de seção para que ele pudesse optarentre prosseguir ou finalizar a entrevista. Assim, forneceu-seum conjunto de informações inicial e a ca<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça de seção,a autorização verbal do participante para a continui<strong>da</strong>de<strong>da</strong> entrevista telefônica foi reitera<strong>da</strong>. Dados de identificaçãodos participantes foram mantidos em sigilo e os nomes dosparticipantes não foram vinculados aos resultados obtidos.ResultadosA amostra foi composta principalmente por homens(95%) com aproxima<strong>da</strong>mente 35 anos de i<strong>da</strong>de mediana (intervalointerquartil de 28 a 44). Em torno de 34% <strong>da</strong> amostraapresentou ensino médio incompleto e 51% apresentouren<strong>da</strong> de até R$ 1.499,00. Aproxima<strong>da</strong>mente 7% 3 (n=832)<strong>da</strong> amostra apresentou alcoolemia positiva ou uso de substânciasna ocasião em que foram realiza<strong>da</strong>s as entrevistasnas rodovias federais, indicando que esses condutores estavamdirigindo sob influência de álcool e outras SPAs. Esse segundogrupo de motoristas apresentou maior prevalência dediagnósticos psiquiátricos quando comparado com o grupode condutores sem uso de álcool e outras drogas (Gráfico 1).A respeito dos comportamentos de risco no trânsito (Gráfico2), os dois grupos não apresentaram diferenças estatisticamentesignificativas em nenhum dos domínios <strong>da</strong> escalaEVEM.Gráfico 1: Transtornos psiquiátricos – Comparaçãoentre as prevalências nos dois grupos de motoristas(%)p0,053Nota do Editor: A proporção de 7% é maior nesta amostra específica em relação à proporção encontra<strong>da</strong> no estudo nacional (aproxima<strong>da</strong>mente 5%)em função de que aqui a proporção de respondentes é diferente <strong>da</strong> amostra de origem68


Faller e cols.Psicopatologia e Comportamento de Risco em Motoristas Privados e Profissionais no BrasilSeção B – Capítulo VIIIConclusõesA análise preliminar dos <strong>da</strong>dos coletados demonstroua existência de forte associação entre dirigir sob efeito deálcool e outras substâncias psicoativas e todos os transtornospsiquiátricos avaliados nessa amostra, especialmenteDepressão, TEPT e Abuso/Dependência de Substâncias.O que parece ser bastante significativo em relação a essesachados é a importante diferença entre os dois grupos, mesmoquando comparados aos resultados de outros estudosrealizados previamente nos EUA (Lapham, 2001). Um estudonorte-americano publicado em 2008 examinou a relação entrehumor deprimido e a prática de beber e dirigir, relatandoque a associação entre esses dois elementos tem importantesimplicações na segurança no trânsito, já que tanto bebere dirigir quanto depressão prejudicam significativamente aperformance psicomotora no trânsito (Stoduto 2008). Indivíduoscom Transtorno de Personali<strong>da</strong>de Antissocial, tambémbastante prevalente na amostra do presente estudo, podemcontribuir para ATs por meio de condutas de violação, umavez que possuem a tendência de se comportar de forma maisagressiva. Por sua vez, os transtornos de ansie<strong>da</strong>de, como oTEPT, apresentam vieses em processos como atenção e percepção,podendo tornar o motorista hiperreativo a estímuloscomo buzinas e manobras bruscas de outros condutores, facilitandoacidentes.No que compete aos comportamentos de risco para acidentesde trânsito, não foram encontra<strong>da</strong>s diferenças estatisticamentesignificativas entre os grupos estu<strong>da</strong>dos. Cabesalientar, entretanto, que a proporção de erros e violaçõesfoi bastante alta na amostra estu<strong>da</strong><strong>da</strong>, o que expõe um problemade bastante relevância para a saúde pública do país,independente do consumo de álcool e substâncias dos condutores.Este é o primeiro estudo nacional com o objetivo de avaliartranstornos psiquiátricos, alcoolemia positiva, uso de SPAs ecomportamento de risco no trânsito em motoristas brasileirosutilizando uma entrevista telefônica com rolling consent.Alguns aspectos foram de fun<strong>da</strong>mental importância para osucesso e quali<strong>da</strong>de do estudo. Entre eles, a coleta de <strong>da</strong>dosrealiza<strong>da</strong> em uma estrutura de call-center, que permitiu melhororganização <strong>da</strong>s ligações e <strong>da</strong> equipe; a supervisão emtempo real, que proporcionou monitoramento dos <strong>da</strong>dos coletadose solução de dúvi<strong>da</strong>s no momento <strong>da</strong> entrevista, aumentandoa quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação; e, por fim, o extensotreinamento pelo qual foi submeti<strong>da</strong> a coordenadora do estudo,os supervisores e entrevistadores, tanto para operar osrecursos e ter condições para enfrentar problemas técnicoseventualmente presentes em uma estrutura de call-center,quanto para li<strong>da</strong>r com questões teóricas e de condução <strong>da</strong>entrevista.Comparando esse estudo telefônico com outros realizadosatravés de entrevistas presenciais, apresentamos menorestaxas de resposta (Lapham, Smith et al., 2001), fatoque pode estar relacionado com o tipo de população – emgrande parte, motoristas profissionais que dedicam tempoem viagens pelas rodovias brasileiras; motoristas que apresentaramalcoolemia positiva e sofreram as penali<strong>da</strong>des impostaspela lei – e com a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de entrevista. O Brasilain<strong>da</strong> não possui tradição na realização de estudos por meiodo contato telefônico. Acredita-se que a recusa em participartambém possa estar relaciona<strong>da</strong> à reação negativa <strong>da</strong>população, gera<strong>da</strong> pelo aumento <strong>da</strong> frequência de extorsõese outros crimes praticados por telefone e pela proliferaçãodos serviços de telemarketing. Por outro lado, a forma deconsentimento utiliza<strong>da</strong> evita que o participante se sintaobrigado a responder as perguntas até o final <strong>da</strong> entrevista,minimizando a possibili<strong>da</strong>de de ocorrer constrangimento eatenuando o possível desconforto. As entrevistas telefônicas,em seu aspecto positivo, facilitaram o acesso aos motoristasde diferentes regiões do Brasil, permitindo a realização deum estudo de magnitude nacional em um país com grandeextensão territorial, reduzindo o tempo que seria gastocom deslocamento de equipe e, por consequência, os custosfinanceiros provenientes de transporte, hospe<strong>da</strong>gem,alimentação e material. Em resumo, o método empregadono estudo demonstrou factibili<strong>da</strong>de, encontrando resultadossignificativos do ponto de vista <strong>da</strong> saúde pública brasileira.Considerando-se as evidências apresenta<strong>da</strong>s e discuti<strong>da</strong>sacima, os comportamentos de risco no trânsito e transtornospsiquiátricos são fatores que influenciam e são influenciadospela prática de beber e dirigir. Portanto, esses condutoresnecessitam de avaliações e intervenções específicasdireciona<strong>da</strong>s para transtornos psiquiátricos, e não somentepara problemas relacionados ao álcool e outras SPAS. Assim,o conhecimento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de dos motoristas brasileiros é oprimeiro passo para a elaboração e o planejamento de políticaspúblicas como o delineamento de intervenções, programasde tratamento e realização de avaliações psiquiátricasadequa<strong>da</strong>s para que <strong>da</strong>nos decorrentes do problema sejamevitados ou, pelo menos, minimizados.AgradecimentosTo<strong>da</strong> equipe do Vivavoz, em especial aos entrevistadoresSolange Barbosa Paim, Glaucus Mai<strong>da</strong>na, Ricardo Schneidere Guilherme Foletto, e às psicólogas Sinara Santos e Fernan<strong>da</strong>Cubas de Paula.69


Seção B – Capítulo VIIIReferências1. ABERG, L.; RIMMÖ, P. Dimensions of aberrant driver behaviour.Ergonomics [S.I.], v. 41, n. 1, p. 39-56, Jan 1998.2. GREENFIELD, T. et al. Effects of telephone versus face-to-faceinterview modes on reports of alcohol consumption. Addiction[S.I.], v. 95, n. 2, p. 277-84, Feb 2000.3. KESSLER, R. et al. Lifetime and 12-month prevalence of DSM-III-R psychiatric disorders in the United States. Results from theNational Comorbidity Survey. Arch Gen Psychiatry [S.I.], v. 51, n.1, p. 8-19, Jan 1994.4. KONTOGIANNIS, T. et al. Self-reports of aberrant behaviour onthe roads: errors and violations in a sample of Greek drivers. AccidAnal Prev [S.I.], v. 34, n. 3, p. 381-99, May 2002.5. LAPHAM, S. et al. Psychiatric disorders in a sample of repeatimpaired-driving offenders. J Stud Alcohol [S.I.], v. 67, n. 5, p.707-13, Sep 2006.6. ______. Prevalence of psychiatric disorders among persons convictedof driving while impaired. Arch Gen Psychiatry [S.I.], v. 58,n. 10, p. 943-9, Oct 2001.7. MCMILLAN, G. et al. Underdiagnosis of comorbid mental illnessin repeat DUI offenders man<strong>da</strong>ted to treatment. J Subst AbuseTreat [S.I.], v. 34, n. 3, p. 320-5, Apr 2008.8. MCMILLEN, D. et al. Behavior and personality traits among DUIarrestees, nonarrested impaired drivers, and nonimpaired drivers.Int J Addict [S.I.], v. 26, n. 2, p. 227-35, Feb 1991.10. REASON, J. et al. Errors and violations on the roads: a real distinction?Ergonomics [S.I.], v. 33, n. 10-11, p. 1315-32, oct - nov1990.11. ROSMAN, A.; SAWYER, W. Population-based drug use evaluation.Top Hosp Pharm Manage [S.I.], v. 8, n. 2, p. 76-91, Aug1988.12. ROSMAN, D. et al. A linkage study of Western Australian drinkdriving arrests and road crash records. Accid Anal Prev [S.I.], v.33, n. 2, p. 211-20, Mar 2001.13. ROTHE, J.; ELGERT, L. Driving risk and rural life: every<strong>da</strong>y andreconstructed realities. J Agric Saf Health [S.I.], v. 11, n. 2, p.273-9, May 2005.14. SLUTSKE, W. et al. Long-term reliability and validity of alcoholismdiagnoses and symptoms in a large national telephone interviewsurvey. Alcohol Clin Exp Res [S.I.], v. 22, n. 3, p. 553-8, May1998.15. STUTTS, J.; WILKINS, J. On-road driving evaluations: a potentialtool for helping older adults drive safely longer. J Safety Res [S.I.],v. 34, n. 4, p. 431-9, 2003.16. SUTTON, L. Assessment of alcohol dependence and otherpsychiatric disorders: implications for rehabilitation programs ofthe DUI offender. Blutalkohol [S.I.], v. 31, n. 1, p. 33-9, Jan 1994.9. PARKER, D. et al. Behavioural characteristics and involvement indifferent types of traffic accident. Accid Anal Prev [S.I.], v. 27, n.4, p. 571-81, Aug 1995.70


Faller e cols.Psicopatologia e Comportamento de Risco em Motoristas Privados e Profissionais no BrasilSeção B – Capítulo VIII71


Seção B – Capítulo IXConsumo de álcool e drogas entre vítimas de acidentes de trânsitoatendi<strong>da</strong>s em emergências de Porto AlegreMauro Soibelman, Daniela Benzano, Raquel De Boni, Lisia Von Diemen e Flavio PechanskyO uso de álcool e drogas frequentemente leva a admissõesem Centros de Atendimento a Emergência ou Trauma(CAET), sendo estimado que os problemas decorrentes desteuso sejam responsáveis por aproxima<strong>da</strong>mente 15% de todosos atendimentos realizados em salas de emergência dosEUA (Global Road Safety Partnership, 2007; Bendtsen P et al,1999). As principais causas destes atendimentos são acidentes,overdoses e complicações clínicas relaciona<strong>da</strong>s ao usode substâncias (Global Road Safety Partnership, 2007), sendoque as drogas mais frequentemente responsáveis por levarpacientes às salas de emergência são o álcool, a cocaína, amaconha e a heroína (De Boni, et al, 2008). Em estudo realizadoem emergências de 16 países, alcoolemia maior de0,08 mg/dL foi significativamente associa<strong>da</strong> a lesões maisgraves, sendo que a maior percentagem de atendimentoscom alcoolemia positiva foi secundária a lesões relaciona<strong>da</strong>sa violência (Erin Kelly SDJR, 2004). No Brasil, foi realilizadoum estudo de prevalência do uso de substâncias em CAET(Fergusson DM, 2001), avaliando pacientes atendidos porqualquer lesão traumática. Constatou-se uso de álcool em11% dos casos, cannabis em 13,6% e cocaína em 3,3%.No Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre (HPS), <strong>da</strong>dosestimam que a prevalência de atendimentos nos quaisconstatou-se intoxicação agu<strong>da</strong> por álcool varia de 16 a 57%(Gibb KA et al, 1984). Em vítimas de violência, este númerochega a 70% dos atendimentos, sendo que a maioria dosindivíduos nestas condições é do sexo masculino, com i<strong>da</strong>deentre 15 e 35 anos, atendidos principalmente à noite(Gjerde H et al, 2008).Os acidentes de trânsito também são responsáveis porgrande parte dos atendimentos em CAET, e estão fortementeassociados ao uso de substâncias psicoativas. Em hospital detrauma americano, foram testa<strong>da</strong>s para uso de álcool e drogasvítimas de AT (que representaram aproxima<strong>da</strong>mente doisterços dos atendimentos realizados naquele período). Destas,65,75% apresentaram screening positivo para álcool oudrogas, sendo a metade positivo para outras drogas - excetoálcool - e um quarto positivo para maconha. Confirmando<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> literatura internacional, estudo com vítimas de acidentesatendi<strong>da</strong>s em hospitais de Belo Horizonte mostra quea maioria dos motoristas pesquisados (acima de 70%) era dosexo masculino, com i<strong>da</strong>de média de 26 anos. Além disso,27,7% dos motoristas havia ingerido bebi<strong>da</strong>s alcoólicas (KellyE. et al, 2004). Como se pode perceber, os estudos internacionaisapontam que o álcool não é a única substânciapsicoativa que influi significativamente nos comportamentosrelacionados a trânsito. Entre as SPA ilícitas, a maconha vemsendo fortemente associa<strong>da</strong> a AT (Nery Filho A. et al, 1997;Stowell AR, 1998). Em 2006, Jones e colaboradores demonstraramque a i<strong>da</strong>de do início de consumo de maconha e adependência <strong>da</strong> droga eram preditores de dirigir sob efeitode cannabis para mulheres (Valencia-Martín JL, et al, 2008).Na França, em estudo de caso-controle com base populacional,motoristas detidos no trânsito com teste positivo paramaconha apresentavam risco 3 vezes maior para serem culpados,sendo constata<strong>da</strong> uma associação do tipo dose-efeito(Walsh JM et al ,2008).Dois hospitais de trauma <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Porto Alegre recebemmais de 90% dos acidentes de trânsito <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de: oHospital de Pronto Socorro (HPS) e o Hospital Cristo Redentor(HCR). Em média, o HPS realiza 600 atendimentos a vítimasde AT por mês. Deste total, estimativas apontam que 45%<strong>da</strong>s vítimas são motociclistas e 42% são motoristas ou passageirosde veículos (MPV). O HCR realiza, em média, 300atendimentos a vítimas de trânsito por mês, estimando-seque as proporções entre os tipos de atendimento sejam semelhantes.Não há, entretanto, <strong>da</strong>dos específicos associandoestes números ao uso de álcool e drogas.O objetivo principal deste estudo foi estimar a prevalênciado uso de álcool e de outras substâncias psicoativas nospacientes atendidos por acidente de trânsito (AT) nos doisprincipais CAETs de Porto Alegre e comparar os fatores associadosentre indivíduos com e sem alcoolemia detecta<strong>da</strong>.MétodoDelineamento e AmostragemFoi delineado um estudo transversal para obter umaamostra consecutiva de todos os pacientes com i<strong>da</strong>de superiora 18 anos atendidos no HPS e no HCR por terem sofridoAT, tanto na condição de motorista quanto de passageiro oupedestre. Estes centros foram escolhidos por serem os principaisserviços de referência para atendimento a trauma na ci<strong>da</strong>dede Porto Alegre. Os <strong>da</strong>dos foram coletados durante 45dias, entre outubro e novembro e 2009. Critérios adicionaispara a inclusão dos sujeitos no estudo foram: apresentar condiçõesclínicas e cognitivas para fornecer o consentimentopós-informação e para responder as perguntas <strong>da</strong> entrevista,sempre realiza<strong>da</strong> após o atendimento médico inicial e a estabilizaçãodo paciente. Nos casos em que os pacientes nãoapresentavam as condições necessárias para os procedimentosdo estudo no momento <strong>da</strong> primeira abor<strong>da</strong>gem pelos72


Soibelmann e cols.Consumo de álcool e drogas entre vítimas de acidentes de trânsito atendi<strong>da</strong>s em emergências de Porto AlegreSeção B – Capítulo IXentrevistadores, buscou-se o consentimento e a realização<strong>da</strong> entrevista com um familiar ou outro acompanhante, bemcomo foram coleta<strong>da</strong>s amostras de urina para as medi<strong>da</strong>stoxicológicas. Tão logo o paciente apresentasse as condiçõesreferi<strong>da</strong>s, era solicita<strong>da</strong> ratificação do consentimento, sem oque a urina coleta<strong>da</strong> e as informações obti<strong>da</strong>s previamentecom acompanhantes eram descarta<strong>da</strong>s. A figura 1 esquematizaas etapas <strong>da</strong> coleta de <strong>da</strong>dos.Figura 1 – Fluxograma de ColetaACIDENTE DE TRÂNSITOCHEGADA AO HOSPITALIdentificação do pacienteEncaminhamento ao setor deatendimentoAtendimento médico inicialEscala deGravi<strong>da</strong>de doTraumaSEM condiçõesde entrevistaCOM condiçõesde entrevistaColetar urina e armazenarTentar realizar entrevista comfamiliar ouacompanhante - TCLE1. TCLE2. Entrevista3. Alcoolímetro4. Saliva5. Folder do seguimento (Economia)e brinde NEPTA6. Armazenar material7. Revisar a entrevistaEntrevista OKEntrevista NÃO é possívelRegistrar <strong>da</strong>dos obtidos comfamiliar/acompanhante• Desprezar urina• Registra sexo e i<strong>da</strong>de do caso +motivo de não ter sido entrevistado egravi<strong>da</strong>de do traumaPaciente adquire condiçõesclínicas e cognitivas• Refazer TCLE• Completar a entrevista• Armazenar urina obti<strong>da</strong> ou utilizarteste de saliva• Desprezar Urina• Registra sexo e i<strong>da</strong>de do caso +motivo de não ter sido entrevistadoe gravi<strong>da</strong>de do trauma73


Seção B – Capítulo IXMedi<strong>da</strong>sO desfecho principal foi a presença de álcool aferi<strong>da</strong> naurina ou através de medi<strong>da</strong> direta em amostra de ar alveolarpor etilômetro. Essa, assim como outras variáveis de interesse(ren<strong>da</strong>, i<strong>da</strong>de, escolari<strong>da</strong>de, uso de outras substâncias, localdo acidente, horário do acidente, situação <strong>da</strong> vítima - passageiro,condutor ou pedestre -, tipo de veículo e diagnósticode abuso e dependência), são descritas neste capítulo.Equipe, logística e coleta de <strong>da</strong>dos.Foram selecionados 51 entrevistadores, estu<strong>da</strong>ntes ouprofissionais de áreas liga<strong>da</strong>s à saúde. Todos receberam treinamentosobre o atendimento prestado a pacientes vítimasde AT em serviços de emergência, modo de abor<strong>da</strong>gem dopaciente e dos familiares para a pesquisa, técnica de entrevista,consentimento pós-informação, coleta de urina e saliva,utilização do etilômeto e de inserção <strong>da</strong>s respostas <strong>da</strong> entrevistae demais informações em PDAs, em formato similarà coleta e inserção de <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra de rodovias federais(Capítulo VII). Os treinamentos incluíram discussão do instrumentode coleta (questionário) 1 e simulações de todos osprocedimentos.Como primeiro passo, visando a apresentação do projeto,foi estabelecido contato pessoal de responsáveis pelo estudocom diretores dos dois Centros de Atendimento a Emergênciaou Trauma selecionados. Antes do início do estudo piloto,os coordenadores do estudo estabeleceram contato comchefes de setores dos dois hospitais, identificados como facilitadorespara a operacionalização <strong>da</strong> pesquisa. Essa abor<strong>da</strong>gempermitiu a adequação dos procedimentos de coleta àrotina de atendimento de ca<strong>da</strong> local. Antes do início <strong>da</strong>s entrevistas,como parte <strong>da</strong> estratégia para facilitar o trabalho <strong>da</strong>equipe de entrevistadores, a direção de ca<strong>da</strong> hospital envioucorrespondência a todos os chefes dos setores envolvidos,informando a <strong>da</strong>ta de início <strong>da</strong> coleta e a relação nominal dosentrevistadores.Para a coleta de <strong>da</strong>dos, foram organizados turnos de trabalhode 4 horas de duração. Ca<strong>da</strong> turno contou com a presençade um gerente de coleta e de dois a quatro coletadores(conforme a prevalência estima<strong>da</strong> de acidentes no turno).O gerente preenchia um formulário com <strong>da</strong>dos sobre as entrevistas,tais como horário e i<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> entrevistado, totalde entrevistas realiza<strong>da</strong>s no turno, casos de pacientes ain<strong>da</strong>sem condições para entrevista, a fim de serem abor<strong>da</strong>dosno plantão seguinte, além de observações relevantes, nomese assinaturas dos coletadores presentes. No HPS, o gerenteidentificava a entra<strong>da</strong> de qualquer acidentado de trânsitopara atendimento através de pesquisa em um computadordo hospital, gerenciando as entrevistas com os coletadores.No final de ca<strong>da</strong> entrevista, o gerente verificava todo o material,providenciando eventuais complementos ou correçõesnecessários. No HCR, sem acesso ao ca<strong>da</strong>stro informatizado,o gerente percorria os corredores e salas de atendimentopara identificar os acidentados de trânsito que preenchiamcritérios para inclusão no estudo. Os demais procedimentosforam similares. Ao término <strong>da</strong> entrevista, foram distribuídosfolhetos 2 com informações sobre o impacto do uso de álcoolno trânsito, incluindo aspectos <strong>da</strong> legislação brasileira e oferecidosbrindes (bonés, camisetas, etc) para todos os participantes.Os termos de consetimento utilizados neste estudoestão disponíveis aos interessados 3 .ResultadosDe acordo com o registro de atendimentos <strong>da</strong>s instituições,foram abor<strong>da</strong>dos pela equipe 92,6% dos indivíduoselegíveis, sendo que a amostra final foi composta por 609sujeitos com média de i<strong>da</strong>de de 32,8 anos (dp=13,2), sendo72% do sexo masculino. A maioria <strong>da</strong>s vítimas encontrava-sena condição de condutor (60%), sendo que destes, aproxima<strong>da</strong>mente80% dirigiam motocicletas. Os condutores, emrelação a pedestres e passageiros, eram principalmente homens,mais jovens e com maior consumo episódico pesadode álcool (binge) (p


Soibelmann e cols.Consumo de álcool e drogas entre vítimas de acidentes de trânsito atendi<strong>da</strong>s em emergências de Porto AlegreSeção B – Capítulo IXta<strong>da</strong>s as análises <strong>da</strong> associação entre alcoolemia e característicasdo acidente de trânsito que ocasionou o atendimentomédico avaliado.A maior parte <strong>da</strong>s vítimas (76%) referia ter sofrido AT noperímetro urbano de Porto Alegre ou alguma outra ci<strong>da</strong>de.Não foi possível identificar diferenças significativas emboranenhum dos 9 pacientes oriundos de acidentes ocorridos emRodovias Federais tenha apresentado alcoolemia positiva (Tabela2).Tabela 2– Associação entre alcoolemia e local do acidente (N=527)LocalPorto Alegrevia urbana (N=458)Outra ci<strong>da</strong>devia urbana (N=48)Rodovia FederalBR (N=9)Rodovia EstadualRS (N=12)P


Seção B – Capítulo IXOs <strong>da</strong>dos aqui apresentados indicam altas prevalênciasde consumo de álcool. Embora a prevalência de alcoolemiapositiva, aferi<strong>da</strong> por bafômetro, tenha sido 8,3%, 28,5%dos indivíduos referiram consumo nas 24 horas anterioresao AT. Essa diferença crucial pode ser explica<strong>da</strong> pelo tempodecorrido entre o momento do acidente, o atendimento eos procedimentos <strong>da</strong> pesquisa. Por si só, a constatação deque proporções na<strong>da</strong> desprezíveis de vítimas de acidentesde trânsito atendi<strong>da</strong>s em hospitais de referência estão sobefeito de substâncias psicoativas (SPA) – que alteram nossocomportamento - já é alarmante, mesmo que algum conhecimentoprévio sobre o tema permitisse tal previsão.Ressalta-se que não se detectou diferença estatisticamentesignificativa na prevalência de alcoolemia positiva entreos condutores, passageiros e pedestres. Mais ain<strong>da</strong>, emboranão testa<strong>da</strong> esta hipótese em nosso estudo, é razoável suporque a probabili<strong>da</strong>de de um passageiro sob efeito de algumaSPA estar sendo conduzido por um condutor que usou taissubstâncias seja eleva<strong>da</strong>. Assim os resultados indicam queestratégias preventivas quanto ao consumo de álcool devemabor<strong>da</strong>r os três grupos de potenciais vítimas.Coerentemente com o quadro clínico típico destes transtornosdo comportamento, merece destaque dentre os resultadosaté aqui analisados a tendência à maior probabili<strong>da</strong>dede um indivíduo com diagnóstico de abuso ou de dependênciado álcool estar sob efeito dessa SPA no momentodo acidente, já que os testes destas associações mostraramsignificância estatística marginal (p


Soibelmann e cols.Consumo de álcool e drogas entre vítimas de acidentes de trânsito atendi<strong>da</strong>s em emergências de Porto AlegreSeção B – Capítulo IX77


Seção B – Capítulo XAcidentes de trânsito com vítimas fatais necropsia<strong>da</strong>s no DepartamentoMédico Legal de Porto AlegreMarianne Zwilling Stampe, Helena Hubert Silva, Deise Schroeter, Raquel De Boni, Flavio Pechansky, JulianaCamargo, Sinara SantosIntroduçãoEste capítulo tem como objetivo identificar o perfil e mensurara prevalência de alcoolemia e substâncias psicoativasem vítimas fatais de acidentes de trânsito necropsia<strong>da</strong>s noDepartamento Médico Legal, em Porto Alegre no período deum ano.Muitos são os estudos que vêm sendo desenvolvidos emrelação a acidentes com vítimas fatais sob efeito de álcool edrogas com a finali<strong>da</strong>de de identificar <strong>da</strong>dos que caracterizemum perfil dos acidentes e <strong>da</strong>s vítimas, fornecendo asferramentas necessárias para sugestão de políticas públicasque visem reduzir estes acidentes. Com relação aos acidentescom vítimas fatais e a correlação destes com uso de substânciaspsicoativas (Campos, Salgado et al., 2008), citam que aprobabili<strong>da</strong>de de um indivíduo sob efeito do álcool ser vítimade acidente fatal é sete vezes maior do que a de uma pessoasóbria.Estudos internacionais recentes de análise toxicológica emvítimas fatais de acidentes de trânsito demonstram um aumentoconsiderável de resultados positivos para substânciasilícitas em comparação a estudos semelhantes de uma déca<strong>da</strong>atrás. Em estudo realizado na Suécia em um período dedois anos foram acompanha<strong>da</strong>s vítimas não fatais e fatais deacidentes de trânsito. Dos fatalmente feridos, 38% foram positivospara álcool e 9% pra substâncias ilícitas (Ahlm, Björnstiget al., 2009). Entre 2000 e 2002, também na Suécia,foram realiza<strong>da</strong>s análises toxicológicas em 855 motoristas vítimasde acidentes fatais. Comparando-se este dois períodosverificou-se um aumento de 38,9% em 2000 para 45,9% em2002 em resultados positivos, sendo que a presença de álcoolfoi a mais comum entre as substâncias detecta<strong>da</strong>s (Holmgrenet al., 2005). O álcool continua a ser o grande risco emqualquer i<strong>da</strong>de, e jovens motoristas consumidores de álcoole maconha representam um alvo prioritário para a prevenção(Cheng, Chan et al., 2005).MétodoO estudo foi realizado a partir dos <strong>da</strong>dos obtidos no sistemaeletrônico de registro de casos de vítimas fatais deacidentes de trânsito necropsiados na uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> capital doDepartamento Médico Legal (DML), em Porto Alegre entreo período de 01 de julho de 2008 a 30 de junho de 2009.A coleta dos <strong>da</strong>dos ocorreu de forma manual e estes foramregistrados em questionários de papel. O acesso aos <strong>da</strong>dosfoi realizado por um dos autores (HHS), perita médicalegista,colaboradora do projeto, em razão do sigilo pericialdeterminado pela instituição e preservação <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>dedos sujeitos.As perícias médico-legais são realiza<strong>da</strong>s no RS, pelo DML– órgão do Instituto Geral de Perícias (IGP) – através de trintae seis postos distribuídos no interior do estado e pelauni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> capital. Nesta, são realiza<strong>da</strong>s as perícias encaminha<strong>da</strong>spela Polícia Civil, Briga<strong>da</strong> Militar e Judiciário emsuas áreas de competência oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des ao redor dePorto Alegre nos casos de morte violenta. Adicionalmente,são realiza<strong>da</strong>s necropsias de pessoas com registro deocorrência em outra ci<strong>da</strong>de, porém atendi<strong>da</strong>s em hospitaisde Porto Alegre, devido à gravi<strong>da</strong>de de seus casos, e queevoluíram para óbito.Para a realização <strong>da</strong> perícia médico-legal (necropsia) é necessárioque haja a solicitação pela autori<strong>da</strong>de competente,o que ocorre após o registro pertinente nas delegacias depolícia civil; somente então, o DML é acionado para recolhimentodo corpo a ser examinado. Registre-se que, por vezes,é necessário aguar<strong>da</strong>r que seja feita a perícia do local, a cargodo Departamento de Criminalística e por solicitação <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de,para então haver o recolhimento do corpo.Os registros dos acidentes são feitos nas delegacias de origem,ou seja, nas delegacias de circunscrição do endereço doacidente ou delegacias de pronto atendimento. Deles resultaum boletim de ocorrência policial com <strong>da</strong>dos de identificação<strong>da</strong> pessoa e do fato ocorrido. O laudo pericial é encaminhadoà delegacia de destino que, em muitos casos, é a mesmadelegacia de origem. Estas informações constam do boletimde ocorrência do fato.Nos acidentes registrados nas delegacias de polícia <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>desde Porto Alegre e arredores, o DML é acionado atravésdo informe <strong>da</strong>s delegacias ao Centro Integrado de Operações<strong>da</strong> Segurança Pública (CIOSP) que, via radiocomunicação, informaa Equipe de Remoção do DML. Contudo, em acidentesregistrados em outras ci<strong>da</strong>des, o acionamento do DML é feitoatravés de empresas funerárias que recolhem o corpo. Estasempresas são filia<strong>da</strong>s ao Sindicato dos Estabelecimentos dePrestação de Serviços Funerários do Estado do Rio Grande doSul – SESF/RS, que mantém convênio com o IGP, e a informaçãoocorre por comunicação telefônica. Todos os corpos sãoidentificados no momento do recolhimento.Ao <strong>da</strong>rem entra<strong>da</strong> no DML, os <strong>da</strong>dos contidos no boletimde ocorrência policial são incluídos no sistema de regis-78


Stampe e cols.Acidentes de trânsito com vítimas fatais necropsia<strong>da</strong>s no Departamento Médico Legal de Porto AlegreSeção B – Capítulo Xtro eletrônico com numeração protocolar própria do DML eos corpos seguem para a sala de necropsia. O recolhimentoacontece dioturnamente e as perícias são realiza<strong>da</strong>s entre as08h e as 24h, obedecendo-se o preceito legal de 6h após oóbito para <strong>da</strong>r início à mesma.O procedimento pericial é constituído pelo exame externodo corpo e interno <strong>da</strong>s cavi<strong>da</strong>des craniana, torácica e abdominal,descrevendo-se sistematicamente as lesões encontra<strong>da</strong>se coleta de material biológico. O sangue é coletadopara a pesquisa quantitativa de alcoolemia. Preferencialmente,coleta-se urina para pesquisa qualitativa de substânciaspsicotrópicas e, na ausência desta, um fragmento de fígado.Para este estudo foram pesquisa<strong>da</strong>s as substâncias: canabinóides,anfetaminas, cocaína, benzodiazepínicos e barbitúricos.Estes materiais são enviados ao Laboratório de Períciaspara análise. Após o exame, o corpo é liberado para a famíliacom emissão <strong>da</strong> declaração de óbito. Os corpos de pessoasdesconheci<strong>da</strong>s ou identifica<strong>da</strong>s que não são reclamadosapós 30 dias <strong>da</strong> perícia são inumados pelo DML. O peritomédico-legista, então, elabora o laudo médico-legal e aguar<strong>da</strong>o resultado dos exames laboratoriais quanto à pesquisade drogas psicoativas para completar seu laudo. Os resultadosdos exames são incluídos no sistema de registro eletrônicopor funcionários do Laboratório de Pericias, os quaisserão acessados por servidor do DML, que terá a tarefa deacrescentá-los ao laudo em espera e encaminhar ao médicolegistaresponsável pelo caso para a conclusão final. Cópiasdo laudo pericial concluso são envia<strong>da</strong>s ao arquivo do DML edisponibiliza<strong>da</strong>s para as delegacias de destino. É importantemencionar que do ponto de vista legal a presença de qualquerdroga é suficiente para a confirmação do laudo, o quefaz com que não sejam dosa<strong>da</strong>s rotineiramente to<strong>da</strong>s as drogas.Neste estudo, to<strong>da</strong>s as substâncias psicoativas descritasforam dosa<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong> análise.Dentre as características dos acidentes e <strong>da</strong>s vítimas obti<strong>da</strong>sno sistema do DML foram incluí<strong>da</strong>s as seguintes variáveisno instrumento de coleta: sexo, i<strong>da</strong>de, cor, ci<strong>da</strong>de de naturali<strong>da</strong>de,ci<strong>da</strong>de de residência, estado civil, escolari<strong>da</strong>de, profissão,delegacia de origem do fato, delegacia de destino dolaudo, <strong>da</strong>ta do óbito, <strong>da</strong>ta do acidente, horário do acidente,local de ocorrência do acidente de trânsito (identificando aregião – urbana ou rural, rodovia estadual ou federal), origem<strong>da</strong> vítima até o DML (diretamente do local do acidente,Hospital de Pronto Socorro, Hospital Cristo Redentor ou outrohospital), dia e horário <strong>da</strong> coleta, tipo de material biológicocoletado (sangue, urina ou fígado) e resultados quantitativopara o teste de alcoolemia e qualitativo para psicotrópicos(canabinóides, anfetamina, cocaína, benzodiazepínicos ebarbitúricos).Após preenchimento do questionário 1 , os casos foram inseridosem base de <strong>da</strong>dos cria<strong>da</strong> em Excel e analisados noprograma SPSS (versão 10). Dessa forma, foi possível traçarum perfil <strong>da</strong>s vítimas fatais e estimar a prevalência <strong>da</strong> alcoolemiae outras substâncias psicoativas nas mesmas.O critério escolhido para seleção dos casos foi de óbitosque entraram no DML no período de 01/07/2008 a31/06/2009 e cuja causa tenha sido registra<strong>da</strong> como acidentede trânsito. Considerando-se este critério, nem sempre a<strong>da</strong>ta do óbito corresponde à <strong>da</strong>ta do acidente de trânsito,visto que existem casos em que a vítima fora interna<strong>da</strong> paraatendimento médico-hospitalar, mas mesmo assim evoluiupara o óbito. Foram preserva<strong>da</strong>s as identi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s vítimas eutilizou-se o critério de i<strong>da</strong>de a partir de 18 anos.ResultadosDe um total de 370 vítimas de acidentes, a base de <strong>da</strong>dosfoi concluí<strong>da</strong> com 348, sendo excluídos 22 casos de menoresde i<strong>da</strong>de. Segue um detalhamento dos principais resultados<strong>da</strong> análise. Foram considerados neste estudo os casos de acidentede trânsito fatais necropsiados no DML oriundos <strong>da</strong>sci<strong>da</strong>des de Porto Alegre, Alvora<strong>da</strong>, Eldorado do Sul, Gravataí,Guaíba, Viamão e Camaquã. Também foram computados oscasos necropsiados oriundos de outras ci<strong>da</strong>des (com atendimentohospitalar em Porto Alegre e que foram a óbito).As ci<strong>da</strong>des com maior incidência de acidentes de trânsito,depois de Porto Alegre, foram Gravataí e Viamão, com aproxima<strong>da</strong>mente10 e 5% de prevalência, respectivamente.Em relação ao local de ocorrência dos acidentes, considerando-seque em apenas 40% dos casos foi possível obter ainformação, têm-se que 42,9% ocorreram em via urbana dePorto Alegre, 25% em rodovia federal, 18,6% em via urbanade outra ci<strong>da</strong>de, e 13,6% em rodovia estadual. Entre as rodoviasfederais, a BR 290 apresentou maior incidência (73,5%),sendo que a BR 116 teve frequência de 17,5% dos casos e aBR 386, 8,8%.Dentre as características gerais <strong>da</strong>s vítimas, 76,7% eramdo sexo masculino, a maioria de cor branca (83,7%), solteiros(61,5%) e com média de i<strong>da</strong>de de 43,1 anos, sendo a mo<strong>da</strong> –valor mais comum – de 20 anos, indicando que a faixa etáriade 18 – 35 anos, os mais jovens desta amostra, representamum percentual maior (40,4%) de vítimas fatais de acidentesde trânsito. Quando analisa<strong>da</strong> a i<strong>da</strong>de versus sexo, verifica-seque a proporção de vítimas do sexo masculino é maior na faixaetária de 18 a 34 anos do que nas demais faixas etárias, aopasso que a proporção de vítimas do sexo feminino é maiorna faixa etária de 50 anos ou mais.Apesar de não constarem informações a respeito <strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de,foi possível obter uma proxy através <strong>da</strong> profissão.Apesar de obter-se informação a respeito de apenas 51% dos1Disponível no site www.obid.senad.gov.br79


Seção B – Capítulo Xcasos, diagnosticou-se que a maior parte <strong>da</strong>s vítimas possuialguma ativi<strong>da</strong>de remunera<strong>da</strong> (82%). As demais vítimas compreendemestu<strong>da</strong>ntes, aposentados, e “Do Lar”.Durante o período de análise, verificou-se que os mesesde abril de 2009 e outubro de 2008 foram os de maiorincidência de óbitos por acidente de trânsito, com 11,5 e10,3%, respectivamente. Os dias <strong>da</strong> semana de maior incidênciamostraram ser sexta-feira e sábado, apesar de nãohaver uma variação muito grande entre eles. A pesquisademonstrou que <strong>da</strong>s vítimas necropsia<strong>da</strong>s no DML, 38,9%foram oriun<strong>da</strong>s do local do acidente, 19,3% do hospital dePronto Socorro, 21,7% do hospital Cristo Redentor e 20,2%de outros hospitais, podendo ser estes tanto de Porto Alegrequanto de outra ci<strong>da</strong>de.Em relação à alcoolemia (Figura 1), considerando-se oscasos em que foi realizado o exame (337 casos), obtivemosuma prevalência de 32,1%. O percentual de per<strong>da</strong> de informaçãoreferente a esta variável foi de 31,9% (111 casos).Dentre os motivos de não-realização do teste estão: análiseprejudica<strong>da</strong> em função de material coagulado ou insatisfatório(9,9%), indivíduo doador de órgão (6,3%), internaçãohospitalar (onde o tempo máximo para realização do testedeve ser de 24h) (38,7%), e não solicitação de exame (0,9%).A faixa etária de 18 a 34 anos, apesar de ser a faixa de i<strong>da</strong>deem que foi registrado maior número de vítimas fatais, emtermos de prevalência de alcoolemia é a segun<strong>da</strong> colocação,conforme a Figura 3.Figura 3: Alcoolemia por faixa etária (%)A alcoolemia média, considerando-se todos os casos emque foi realizado exame, foi de 5,036 dg/l. Quando analisa<strong>da</strong> aprevalência por mês, verifica-se que os meses de agosto, janeiroe julho são os de maior prevalência, conforme a Figura 4.Figura 4: Prevalência de alcoolemia por mês de óbito (%)Figura 1: Prevalência de alcoolemia (%)Na análise de alcoolemia por sexo (Figura 2), verifica-seque a prevalência de alcoolemia em homens é praticamenteo dobro do que em mulheres. Quando se consideram as faixasetárias, observou-se que, para i<strong>da</strong>de entre 35 e 50 anos, aprevalência é maior, chegando a 47,5%, e também que, paraa faixa etária de 50 anos ou mais, a prevalência é menor emrelação à análise de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des conjuntamente.Figura 2: Prevalência de alcoolemia por sexo (%)Do total <strong>da</strong> amostra, foram realizados exames toxicológicospara outras substâncias psicoativas em 231 <strong>da</strong>s vítimas(per<strong>da</strong> de 33,6%). Dentre elas, a prevalência de outras substânciaspsicoativas foi de 11,02%. A maconha foi a substânciamais frequentemente encontra<strong>da</strong> (5%), segui<strong>da</strong> porcocaína e benzodiazepínicos (3,33% e 2,08% dos casos,respectivamente). Também foram encontrados resultadospositivos para Barbitúricos, Cloroquina (usa<strong>da</strong> no tratamentode malária e osteoartrose), e Clorpromazina (antipsicótico),conforme a Figura 5.Figura 5: Prevalência de exames toxicológicos positivos (%)80


Stampe e cols.Acidentes de trânsito com vítimas fatais necropsia<strong>da</strong>s no Departamento Médico Legal de Porto AlegreSeção B – Capítulo XTabela 1: Número de exames e prevalência de toxicológicos positivos, estratifica<strong>da</strong> por faixa etária.18 a 34 anos 35 a 49 anos 50 anos ou maisNEGATIVO PARA PSICOTRÓPICOS 88 (88,9%) 55 (90,2%) 66 (93%)CANABINÓIS 6 (6,1%) 1 (1,6%) 1 (1,4%)COCAÍNA 3 (3%) 1 (1,6%) 0 (0%)BENZODIAZEPÍNICOS 0 (0%) 2 (3,4%) 3 (4,2%)BARBITÚRICOS 0 (0%) 1 (1,6%) 0 (0%)CLOROQUINA 0 (0%) 0 (0%) 1 (1,4%)CLORPROMAZINA 1 (1%) 0 (0%) 0 (0%)CANABINÓIS E COCAÍNA 1(1%) 1 (1,6%) 0 (0%)POSITIVO PARA PSICOTRÓPICOS 11 (11,1%) 6 (9,8%) 5 (7%)TOTAL DE CASOS (NEGATIVOS + POSITIVOS) 99 (100%) 61 (100%) 71 (100%)A prevalência de outras substâncias psicoativas foi maiorna faixa etária de 18 a 24 anos. Este resultado difere <strong>da</strong> alcoolemia,uma vez que, para alcoolemia a faixa etária de maiorincidência foi de 35 a 49 anos, conforme a Tabela 1 acima.DiscussãoEste estudo teve início consultando os inquéritos doDPTRAN de Porto Alegre. Foram analisa<strong>da</strong>s informações rotineirasexistentes nos mesmos, elaborando-se um instrumentode coleta. Contudo, constatou-se que o tempo de arquivamentodos mesmos seria um empecilho para a obtenção de<strong>da</strong>dos atuais, de forma que seria necessário pensar em umaforma alternativa de obtenção <strong>da</strong>s informações disponíveisnos inquéritos policiais. A média de arquivamento <strong>da</strong> maioriados casos é em torno de 6 meses, já que muitos levavam maisde ano para serem arquivados, impedindo que fosse monta<strong>da</strong>uma base de <strong>da</strong>dos atual. Por exemplo, em fevereiro de2009 ain<strong>da</strong> estavam sendo coletados <strong>da</strong>dos de 2007.Uma vez que o resultado do exame de alcoolemia e de outrassubstâncias psicoativas era fun<strong>da</strong>mental para mensurara prevalência destas substâncias, verificou-se que existia umarelação entre os inquéritos e o DML, o qual enviava estes resultados.Pensou-se, então, como alternativa, buscar as informaçõesconstantes nos inquéritos do sistema do DML – quefoi parceiro na realização do estudo. Utilizou-se como instrumentode coleta o questionário elaborado com base nasinformações existentes nos inquéritos policiais do DPTRAN.Contudo, verificou-se que nem to<strong>da</strong>s as informações que sãopossíveis de obter-se nos inquéritos policiais constam no sistemado DML, constatando-se a incompatibili<strong>da</strong>de entre ossistemas utilizados pelo DML e pela polícia. Este é um fatorque poderia facilitar a tramitação de processos, além de ambosórgãos públicos terem acesso às mesmas informações,possibilitando que decisões sejam toma<strong>da</strong>s de forma maiseficiente.Em virtude <strong>da</strong> falta de registros completos no sistema informacionaldo DML, como por exemplo: tipo de acidente,situação <strong>da</strong> vítima – se condutor, ocupante ou pedestre –<strong>da</strong>ta e horário do acidente, buscou-se como alternativa acessoao sistema de <strong>da</strong>dos do DPTRAN, que também participoudo estudo. Apesar do apoio de ambas as instituições, os sistemasnão conversam entre si, e houve uma dificul<strong>da</strong>de deidentificar os casos do DML no DPTRAN, uma vez que paraca<strong>da</strong> caso do DML existe uma delegacia de origem e outra dedestino. Da<strong>da</strong>s as dificul<strong>da</strong>des, optou-se por trabalhar nesteestudo apenas com a base de <strong>da</strong>dos do DML. Contudo,pretende-se finalizar a coleta de todos os casos do DML nosistema do DPTRAN e propor uma compatibilização entre estessistemas, a partir <strong>da</strong> lógica de funcionamento de ambos.Algumas variáveis não foram incluí<strong>da</strong>s nos resultados emfunção de apresentarem alto percentual de per<strong>da</strong> (maior que50% ). Uma <strong>da</strong>s variáveis não contempla<strong>da</strong> por falta de registroé a escolari<strong>da</strong>de. Contudo, deveria ser <strong>da</strong><strong>da</strong> especial atençãoa esta variável em razão de sua importância para análisessócio-econômicas, uma vez que através <strong>da</strong> mesma é possívelfazer inferências a respeito de rendimentos, auxiliando emcálculos de per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de e, consequentemente, decustos econômicos.Uma <strong>da</strong>s vantagens de se trabalhar com o sistema de<strong>da</strong>dos do DML foi a possibili<strong>da</strong>de de acessar todos os <strong>da</strong>dosde vítimas que entram no DML, oriundos de outras ci<strong>da</strong>des,e não se limitando a casos de Porto Alegre. Essa vantagemocorre porque nos inquéritos de Porto Alegre somente seteria acesso a casos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de (casos arquivados), sendonecessário deslocamento a outras delegacias policiais paraacessar <strong>da</strong>dos de inquéritos de outras ci<strong>da</strong>des. A diferençade perfil observado quanto aos casos oriundos de Porto Alegree os <strong>da</strong>s demais ci<strong>da</strong>des, quando se considera óbito nolocal do acidente ou em hospitais, pode estar relaciona<strong>da</strong>,nas demais locali<strong>da</strong>des, com a necessi<strong>da</strong>de de recolhimentodo cadáver do local em que houve o acidente para entãoserem realizados os procedimentos documentais e, assim,diminuir a exposição do corpo que, recolhido aos hospitais,aguar<strong>da</strong> seu translado ao necrotério em Porto Alegre. Outroaspecto a ser considerado pode estar relacionado à menorgravi<strong>da</strong>de imediata <strong>da</strong>s lesões, permitindo uma maior sobrevi<strong>da</strong><strong>da</strong>s vítimas. Entretanto, os registros destes aspectosnão são precisos.81


Seção B – Capítulo XFoi indicado, neste estudo, que os jovens - vítimas entre18 e 34 anos - representam um percentual maior de vítimasfatais de acidentes de trânsito. A literatura nacional apontaque a chance dos acidentes de trânsito que têm por desfechovítimas fatais ocorrerem com jovens é de 55 vezes maiordo que um indivíduo de 65 anos, devido a possíveis fatorescomo: experiência como condutor, impulsivi<strong>da</strong>de, hábito dedirigir em alta veloci<strong>da</strong>de e o uso menos frequente do cintode segurança (Campos, Salgado et al., 2008). A literatura internacionaltambém indica que as mortes por acidentes detrânsito no mundo geralmente atingem jovens entre 18 e 35anos, do sexo masculino. Esta faixa etária indica que as vítimasestão em i<strong>da</strong>de produtiva, e que, portanto, geram umproblema econômico relacionado à per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de(OMS, 2004).<strong>Ver</strong>ificou-se que, quanto ao sexo dos acidentados, o predomíniode homens é notório (77%), inclusive quando o sexoé analisado por faixa etária. Este resultado é condizente comestudos nacionais já realizados, onde homens se expõem ariscos físicos sob efeito do álcool três vezes mais do que mulheres(Carlini Ea, 2007), e com estudos internacionais.A prevalência de alcoolemia encontra<strong>da</strong> foi de 32,2%. Esteresultado é maior do que encontrado em pesquisa realiza<strong>da</strong>pela Associação Brasileira de Departamentos de Trânsito, noqual 27% <strong>da</strong>s vítimas de acidentes de trânsito apresentaramalcoolemia positiva (Galduróz e Caetano, 2004), contudo,neste último estudo são considera<strong>da</strong>s vítimas fatais e nãofatais,diferentemente do estudo realizado nesta pesquisa,que analisa apenas <strong>da</strong>dos de vítimas fatais. Este resultado éinteressante, pois mostra que a alcoolemia em vítimas fataistende a ser maior do que quando são considerados todosos tipos de vítimas – fatais e não fatais. A análise de substânciaspsicoativas – sem considerar alcoolemia – apresentouuma prevalência de 11,02%, sendo a prevalência maior entrejovens. Este resultado supera alguns resultados encontradospela literatura internacional, uma vez que a prevalência encontra<strong>da</strong>foi de 9% na Suíça, (Borkenstein Rf, 1974), 9,3%no Canadá (Mercer e Jeffery, 1995 apud Del Rio e Alvarez,2000), 2,5% na Espanha (Del Rio e Alvares, 2000, apud Poncee Leyton (2008). A maconha foi a substância de maiorprevalência neste estudo– desconsiderando o álcool – representando5% deste total. Este resultado está de acordo coma constatação de Ponce e Leyton (2008), que afirmam quea maconha é a droga ilítica mais comumente utiliza<strong>da</strong> pormotoristas no mundo. Quando considera<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s as substânciaspsicoativas conjuntamente, incluindo o álcool, a presençade alguma substância psicoativa aumenta para 37,1%.Analistas políticos têm proposto uma varie<strong>da</strong>de de maneiraspara reduzir a incidência de pessoas que dirigem alcooliza<strong>da</strong>s,desde programas educacionais à Lei de TolerânciaZero. Nos EUA, um estudo realizado com jovens de 18 a 21anos como grupo de controle (Carpenter, 2004), indica que aLei de Tolerância Zero reduziu em 13% a alcoolemia entre homensmenores de 21 anos que bebem 5 ou mais drinques emuma ocasião, ou seja, teve impacto positivo na diminuiçãodo comportamento de risco envolvendo consumo abusivo deálcool e dirigir. A alteração do Código de Trânsito Brasileiro(lei de tolerância zero ao álcool), que entrou em vigor no dia20 de junho de 2008, tem por objetivo reduzir o númerode acidentes de trânsito causados por influência do álcool esuas consequências adversas para a socie<strong>da</strong>de: número demortes, gastos hospitalares, chama<strong>da</strong>s de ambulâncias, per<strong>da</strong>de produtivi<strong>da</strong>de, custos dos seguros de veículos, custodos seguros de vi<strong>da</strong> e saúde, etc. Observa-se que no mêsde julho de 2008, posterior à lei, a prevalência de alcoolemiapositiva nas vítimas fatais foi a menor de todo o períodoanalisado (6,3%). Além disso, o mês de agosto de 2008 foio de menor incidência de óbitos por acidentes de trânsito.Esses resultados podem ser reflexos <strong>da</strong> nova lei de trânsito,porém, percebe-se que essas taxas não se mantêm, podendoser consequência de uma percepção <strong>da</strong> população em relaçãoà falta de fiscalização para o cumprimento <strong>da</strong> lei.AgradecimentosOs autores agradecem às Doutoras Viviane Fassina e TríciaAlbuquerque pelo cui<strong>da</strong>doso trabalho nas análises toxicológicas;às estagiárias Giuliana Marques, Alice Farias, DéboraGarcez Leal, Bruna Velásquez, Lysa Remy, Lara Mombelli,Bernardo Alcalde, Marina Ludwig Otto, Alessandra Campos,Dória Migotto; ao Delegado Gilberto Alemei<strong>da</strong> Montenegroe Vânia Flores do DPTRAN e à Sirlei Beatriz Machado.82


Stampe e cols.Acidentes de trânsito com vítimas fatais necropsia<strong>da</strong>s no Departamento Médico Legal de Porto AlegreSeção B – Capítulo XReferências1. AHLM, K. et al. Alcohol and drugs in fatally and non-fatally injuredmotor vehicle drivers in northern Sweden. Accid Anal Prev[S.I.], v. 41, n. 1, p. 129-36, Jan 2009.2. BORKENSTEIN RF, C. R., SHUMATE RP, ZIEL WB, ZYLMAN R . Opapel do motorista beber em acidentes de trânsito. Blutalkohol1974: 11: 1 – 132, 1974, 1974.3. CAMPOS, V. et al. [Drinking-and-driving prevalence in Belo Horizonte,Minas Gerais State, Brazil]. Cad Saude Publica [S.I.], v. 24,n. 4, p. 829-34, Apr 2008.4. CARLINI EA, G. J., NOTO AR, CARLINI CM, OLIVEIRA LG, NAPPOAS. II levantamento domiciliar sobre uso de drogas psicotrópicasno Brasil: estudo envolvendo as 108 maiores ci<strong>da</strong>des do país:2005. São Paulo: Páginas & Letras, 2007.5. CARPENTER, C. How do zero tolerance drunk driving laws work?: Journal of Health Economics 23, 61-83., 2004.6. CHENG, J. et al. An epidemiological study on alcohol/drugs relatedfatal traffic crash cases of deceased drivers in Hong Kongbetween 1996 and 2000. Forensic Sci Int [S.I.], v. 153, n. 2-3, p.196-201, Oct 2005.7. DEL RIO, M. C.; ALVAREZ, F. J. Presence of illegal drugs in driversinvolved in fatal road traffic accidents in Spain. Drug and AlcoholDependence 57(3): 177-182, 2000.8. GALDURÓZ, J. C. F.; CAETANO, R. Epidemiologia do uso do álcoolno Brasil. Revista Brasileira de Psiquiatria. n. 262004. p. 3-6.9. HOLMGREN, P. et al. Alcohol and drugs in drivers fatally injuredin traffic accidents in Sweden during the years 2000-2002. ForensicSci Int [S.I.], v. 151, n. 1, p. 11-7, Jun 2005.10. MERCER, G. W.; JEFFERY, W. K. Alcohol, drugs, and impairmentin fatal traffic accidents in British Columbia. Accident Analysis &Prevention 27(3): 335-343, 1995.11. OMS. Global Status Report on Alcohol. Geneva: OMS, 2004.12. PONCE, J. C.; LEYTON, V. Drogas ilícitas e trânsito: problema poucodiscutido no Brasil. Rev. psiquiatr. clín. v. 352008. p. 65-69.83


Seção B – Capítulo XIGeoprocessamento no estudo <strong>da</strong> relação entre acidentes de trânsito ebares em Porto AlegreRaquel De Boni, Francisco Inácio Bastos, Eliseu Weber, Heinrich Hasenack, Flavio PechanskyIntroduçãoGeoprocessamento é definido como o “conjunto de tecnologiaspara o tratamento e manipulação de <strong>da</strong>dos geográficos,através de programas computacionais”(Carvalho,Pina et al., 2000), sendo os sistemas computacionais quedesempenham tais tarefas de forma integra<strong>da</strong> denominadosSistemas de Informação Geográfica (SIG). Os SIG adicionamvariáveis referentes à “localização espacial” (por exemplo,coordena<strong>da</strong>s geográficas referentes à latitude e longitude)a <strong>da</strong>dos de natureza diversa - propriamente geográfica (porexemplo, o relevo de uma cadeia montanhosa ou o traçadode um rio) ou não (por exemplo, a população de uma <strong>da</strong><strong>da</strong>ci<strong>da</strong>de ou a incidência de uma determina<strong>da</strong> doença)- definindo-se,assim, uma interface que pode <strong>da</strong>r lugar a projeçõescartográficas (mapas) e facilitar a apresentação e tratamentode informações (Câmara e Queiroz, 2001).As aplicações dos SIG podem ser de natureza basicamentedescritiva (produção de cartogramas ou mapas temáticos)ou analítica, com o auxílio de métodos computacionaise/ou estatísticos de análise, como na assim denomina<strong>da</strong> análiseestatística espacial. Ain<strong>da</strong> que de forma exclusivamentedescritiva, cartogramas constituem estratégias poderosas esimples de visualização de <strong>da</strong>dos, como na célebre série decartogramas sobre o mundo contemporâneo, que se transformouem um livro de muito sucesso, denominado “O Atlasdo Mundo Real” (Dorling, Newman et al., 2008).As ferramentas do que hoje denominamos SIG começarama ser utiliza<strong>da</strong>s já na déca<strong>da</strong> de 50, quando foram desenvolvi<strong>da</strong>spara a área militar, especialmente em decorrência <strong>da</strong>Guerra Fria (Who, 2008). Até recentemente, seu uso em saúdeera muito restrito, em função dos custos e complexi<strong>da</strong>dedos softwares utilizados, o que tornava difícil e trabalhosa aextração de informações relevantes para a área de saúde pública(Who, 2008). Esta situação mudou nas últimas déca<strong>da</strong>se os SIG vêm sendo utilizados com ca<strong>da</strong> vez mais frequênciapara a determinação geográfica <strong>da</strong> distribuição de doenças(Kistemann, Munzinger et al., 2002), análise espacial e temporalde tendências (Wu, Guo et al., 2009), mapeamento depopulações sob risco (Murray, Marais et al., 2009), avaliaçãode alocação de recursos, planejamento e monitoramento deintervenções ao longo do tempo (Geanuracos, Cunninghamet al., 2007), inclusive no Brasil (Carvalho, Pina et al., 2000).Uma <strong>da</strong>s primeiras observações ao iniciar o estudo de acidentesde trânsito (AT) em Porto Alegre em 2006, foi a deque existem varia<strong>da</strong>s fontes de informação sobre os mesmos,provenientes de diferentes órgãos e instituições. A despeito,entretanto, <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos, há uma dificul<strong>da</strong>dede integração dos mesmos de forma a analisar suas relaçõescom o uso de álcool ou com outros fatores associados, comosazonali<strong>da</strong>de, as condições <strong>da</strong>s rodovias ou fluxo de veículos.De um modo geral, as bases de <strong>da</strong>dos não são interliga<strong>da</strong>s,e não necessariamente há campos em comum, com informaçõescompletas e coerentes, que permitiriam sua vinculação(“linkagem”) de forma rápi<strong>da</strong> e fácil. Essas dificul<strong>da</strong>des transformama análise em um trabalho árduo, longo e oneroso,que, por vezes, precisam lançar mão de métodos refinados,como a linkagem probabilística (Malta, Bastos et al., 2009).Nesse sentido, o ferramental utilizado em geoprocessamento,desde que supera<strong>da</strong>s as dificul<strong>da</strong>des menciona<strong>da</strong>s, se mostraútil não apenas para compreender o fenômeno em si (osacidentes de trânsito relacionados ao álcool) e as principaisvariáveis associa<strong>da</strong>s a ele, mas também permitir a vinculaçãoe o tratamento integrado dos <strong>da</strong>dos de diferentes bases parafins de análise, formulação, monitoramento e avaliação depolíticas públicas (Thomas, 1992). Estudos internacionais outilizam na análise e prevenção de AT, e alguns deles vêm observandoque os locais onde os indivíduos consomem bebi<strong>da</strong>salcoólicas podem ser considerados indicativos <strong>da</strong> chancede beber e dirigir – sugerindo que a densi<strong>da</strong>de de pontos deven<strong>da</strong> de bebi<strong>da</strong>s é diretamente proporcional ao número deacidentes de trânsito relacionados ao álcool (Treno, Johnsonet al., 2007).Neste capítulo, discutem-se subsídios para a utilização doinstrumental de geoprocessamento como ferramenta para oestudo <strong>da</strong> ocorrência e distribuição espacial de AT associadosao consumo de álcool. Para tal, lançou-se mão de um estudorealizado em Porto Alegre, compreendendo a integraçãode diversas fontes de <strong>da</strong>dos e a determinação <strong>da</strong>s áreas domunicípio de Porto Alegre com maior concentração de ATcom vítimas, relacionados ou não ao consumo de álcool, e asáreas com maiores densi<strong>da</strong>de de estabelecimentos onde sãoconsumi<strong>da</strong>s bebi<strong>da</strong>s alcoólicas.MétodoFoi realizado um estudo exploratório, utilizando <strong>da</strong>dossecundários provenientes de diferentes fontes, lista<strong>da</strong>s a seguir.Inicialmente foi realiza<strong>da</strong> a padronização do nome doslogradouros, entre a tabela de atributos do mapa de eixosde ruas e as tabelas com os endereços dos acidentes e dosbares. Como ca<strong>da</strong> base de <strong>da</strong>dos armazenava o nome doslogradouros de uma forma distinta, essa padronização foi84


De Boni e cols.Geoprocessamento <strong>da</strong> relação entre acidentes de trânsito e bares em Porto AlegreSeção B – Capítulo XIfun<strong>da</strong>mental para possibilitar a localização dos <strong>da</strong>dos pelageocodificação dos respectivos endereços. Esse processo foirealizado de forma totalmente manual, consumindo tempoconsiderável. Em segui<strong>da</strong>, foram obtidos os seguintes <strong>da</strong>dos:1. Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC): aEPTC disponibilizou a base de <strong>da</strong>dos de acidentes detrânsito referente ao ano de 2007. Esta base é compostapela localização (endereço) dos AT e contempla asseguintes variáveis: presença de vítimas fatais ou nãofatais,condições meteorológicas, <strong>da</strong>ta, hora, tipo doacidente (abalroamento, atropelamento, colisão, capotagem,choque e que<strong>da</strong>), tipo de veículo (caminhão,moto, ônibus, lotação, carro, bicicleta).2. Secretaria de Indústria e Comércio de Porto Alegre(SMIC): a SMIC disponibilizou os endereços de registrosde alvará de estabelecimentos classificados como barchopp,bar-café, boliches ou bilhares, boates, casas noturnase lojas de conveniência. Foram selecionados essesestabelecimentos por serem considerados locais onde osindivíduos costumam ingerir bebi<strong>da</strong>s alcoólicas.Os dois conjuntos de <strong>da</strong>dos provenientes <strong>da</strong> EPTC e SMICe o eixo de ruas do município de Porto Alegre foram importadospara o programa Terraview (Inpe et al., 2009), ondeforam processados, elaborados os mapas temáticos e conduzi<strong>da</strong>a análise exploratória buscando identificar aglomeradosde acidentes e bares. Para tal, foi utiliza<strong>da</strong> a estimativa deKernel – ´’técnica de interpolação que gera uma superfíciede densi<strong>da</strong>de para a identificação visual de “áreas quentes”(...), sendo área quente uma concentração de eventos queindica de alguma forma a aglomeração em uma distribuiçãoespacial.” (Barcellos, 2007). Resumi<strong>da</strong>mente, o Kernel resultade uma divisão em grade <strong>da</strong> área do estudo, onde o númerode eventos pode ser contado por célula, quando se buscamFigura 1: Superfície de densi<strong>da</strong>de de acidentes de trânsito não-relacionados ao álcool em Porto Alegre, obti<strong>da</strong> através <strong>da</strong> técnica de Kernel, utilizando<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> EPTC (2007)85


Seção B – Capítulo XIestimativas de densi<strong>da</strong>de. Em segui<strong>da</strong>, são calcula<strong>da</strong>s estimativasde densi<strong>da</strong>de para as áreas vizinhas, utilizando funçõesde Kernel, o que fornece uma superfície de ”suavização” <strong>da</strong>sáreas quentes. Para a realização do Kernel, dois parâmetrossão essenciais: a largura <strong>da</strong> ban<strong>da</strong> (ou raio) – que vai fornecero gradiente de suavização – e o tipo de cálculo a ser realizado.Nesse estudo, foi utilizado o cálculo de densi<strong>da</strong>de, e foramtesta<strong>da</strong>s diversas larguras de ban<strong>da</strong>, inclusive a a<strong>da</strong>ptativa.Porém, para poder obter alguma forma de comparaçãoentre os diferentes eventos (acidentes e bares), nesse capítuloserão apresentados mapas de Kernel que utilizaram raio =0.6 km.ResultadosA base de <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> EPTC apresentava um total de 23.333acidentes registrados em 2007. Destes, foram selecionadosaqueles que envolviam como vítimas, condutores de carros e/ou motos (4.580 AT). Estes <strong>da</strong>dos foram então geocodificados,a partir do endereço, sendo identificados com sucesso4.235 AT (per<strong>da</strong> de 7,5% dos registros disponíveis). Do totalde acidentes com vítimas, 976 (21,3%) foram consideradosrelacionados, a princípio, ao consumo de álcool – ou seja, adespeito <strong>da</strong> ausência de <strong>da</strong>dos sobre a alcoolemia dos condutores,aconteceram à noite (entre 20h e 04h). Acidentescom essas características são considerados em estudos internacionaiscomo indicativos de influência do uso de álcool(Voas, Romano et al., 2009), utilizando-se, portanto, um proxyde acidentes associados ao álcool em estudos ecológicos.A base de <strong>da</strong>dos de estabelecimentos <strong>da</strong> SMIC apresentava2.027 registros, dos quais foram excluídos 513 registrospor apresentarem duplicação. Dos registros válidos, foramgeocodificados 1.498 estabelecimentos, o que resultou emuma per<strong>da</strong> de 3%.As áreas com altas concentrações de AT não-relacionadosFigura 2: Superfície de densi<strong>da</strong>de de acidentes de trânsito relacionados ao álcool em Porto Alegre, obti<strong>da</strong> através <strong>da</strong> técnica de Kernel, utilizando <strong>da</strong>dosEPTC (2007).86


Seção B – Capítulo XIentre áreas de concentração de AT relacionados ao álcoole não relacionados, embora visualmente observe-se grandesemelhança entre pontos de maior incidência de ambos osacidentes. A visualização <strong>da</strong>s áreas de maior concentração,na reali<strong>da</strong>de, é muito útil para o levantamento de hipótesese questões de pesquisa a serem aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>s mediante oemprego de métodos analíticos.Por exemplo, quais seriam as características dessas áreas equais as diferenças em relação a áreas de baixa densi<strong>da</strong>de deAT? Muito possivelmente algumas explicações plausíveis estariamrelaciona<strong>da</strong>s ao fluxo de veículos, à densi<strong>da</strong>de populacionale à densi<strong>da</strong>de de áreas comerciais nas regiões. Outraquestão a ser investiga<strong>da</strong> é sua associação com as áreas dealta densi<strong>da</strong>de de bares, visto que ambas são em grande partecoincidentes, especialmente as “áreas quentes” dos barese as de AT relacionados ao consumo de álcool.Ain<strong>da</strong> assim, é importante destacar que os resultadosfornecem informações importantes para o planejamento deintervenções preventivas. A observação cui<strong>da</strong>dosa dos mapaspermite estimar que grande parte dos AT – relacionados ounão ao consumo de álcool – acontece em uma área específica<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, que poderia ser delimita<strong>da</strong> por uma circunferênciade raio aproximado de 2km. Dessa forma, ações preventivas,como barreiras policiais para realização de teste debafômetro (alcoolemia), devem considerar essas áreas comoprioritárias.AgradecimentosEmpresa Pública de Transporte e Circulação de Porto Alegre;Secretaria Municipal de Indústria e Comércio de PortoAlegre; aos alunos Guilherme Menegon, Henrique Comirame Vinicius Schneider; Eng. cartógrafo Lucio Lucatteli responsávelpela cartografia.Referências1. BARCELLOS, C. Analise de <strong>da</strong>dos em forma de pontos. In: SAN-TOS, S.; WV, S. (Ed.). Introdução a estatística espacial para a saúdepública. Brasilia: Ministerio <strong>da</strong> Saude, 2007.2. CARVALHO, M. et al. Conceitos básicos de sistemas deinformaçãogeográfica e cartografia aplicados à saúde. Brasilia: OPAS/MS, 2000.3. CÂMARA, G.; QUEIROZ, G. R. Arquitetura de Sistemas de informaçãoGeográficaFun<strong>da</strong>mentos de Geoprocessamento: InstittutoNacional de Pesquisas Espaciais, 2001. p. 3-1-3-12.4. DORLING, D. et al. The Atlas of the Real World:Mapping the waywe live. Thames & Hudson, 2008.5. GEANURACOS, C. et al. Use of geographic information systemsfor planning HIV prevention interventions for high-risk youths.Am J Public Health [S.I.], v. 97, n. 11, p. 1974-81, Nov 2007.6. INPE et al. Terraview. 2009.7. JOYCE, K. “To me it’s just another tool to help understand theevidence”: public health decision-makers’ perceptions of the valueof geographical information systems (GIS). Health Place [S.I.],v. 15, n. 3, p. 801-10, Sep 2009.8. KADT, E.; TASCA, R. Promovendo a Equi<strong>da</strong>de: Um novo enfoquecom base no setor <strong>da</strong> saúde. São Paulo: Hucitec, 1993.10. MALTA, M. et al. Differential Survival Benefit of Universal HAARTAccess in Brazil: A Nation-Wide Comparison of Injecting DrugUsers <strong>Ver</strong>sus Men Who Have Sex With Men. J Acquir ImmuneDefic Syndr [S.I.], Aug 2009.11. MURRAY, E. et al. A multidisciplinary method to map potentialtuberculosis transmission ‘hot spots’ in high-burden communities.Int J Tuberc Lung Dis [S.I.], v. 13, n. 6, p. 767-74, Jun 2009.12. THOMAS, R. Geomedical Systems: Intervention and Control.Routledge, 1992.13. TRENO, A. J. et al. The impact of outlet densities on alcoholrelatedcrashes: a spatial panel approach. Accid.Anal.Prev [S.I.],v. 39, n. 5, p. 894-901, 2007.14. VOAS, R. et al. Validity of surrogate measures of alcohol involvementwhen applied to nonfatal crashes. Accid Anal Prev [S.I.], v.41, n. 3, p. 522-30, May 2009.15. WHO, W. H. O. GIS and Public Health mapping. n. 15 setembro20092008.16. WU, W. et al. GIS-based spatial, temporal, and space-time analysisof haemorrhagic fever with renal syndrome. Epidemiol Infect[S.I.], p. 1-10, Apr 2009.9. KISTEMANN, T. et al. Spatial patterns of tuberculosis incidencein Cologne (Germany). Soc Sci Med [S.I.], v. 55, n. 1, p. 7-19,Jul 2002.88


De Boni e cols.Geoprocessamento <strong>da</strong> relação entre acidentes de trânsito e bares de Porto AlegreSeção B – Capítulo XI89


De Boni e cols.Beber e dirigir em uma amostra de condutores que frequentam bares de Porto AlegreSeção B – Capítulo XIIdos ao uso de álcool e drogas em uma amostra probabilísticade condutores que ingerem bebi<strong>da</strong>s alcoólicas em bares elojas de conveniência do município de Porto Alegre. Em segui<strong>da</strong>,são apresentados resultados relevantes para o conhecimento<strong>da</strong>s características do grupo pesquisado, bem comoestatísticas amostrais sobre a prevalência de beber e dirigir.MétodoFoi realizado um estudo transversal com indivíduos quepotencialmente estivessem sob risco para acidentes de trânsitorelacionados ao álcool (saindo de bares, definidos comoos locais onde os indivíduos consomem bebi<strong>da</strong>s alcoólicas, oque inclui casas noturnas e lojas de conveniência, e exclui oslocais onde apenas ocorra a ven<strong>da</strong> de bebi<strong>da</strong>s, como supermercadose mini-mercados).A população de pesquisa foi composta por indivíduos de18 anos ou mais, que morassem em Porto Alegre, que não tivessemrespondido previamente à pesquisa, que tivessem dirigidonos últimos 12 meses, que tivessem ingerido bebi<strong>da</strong>salcoólicas no local <strong>da</strong> coleta e que aceitassem participar doestudo. Para estu<strong>da</strong>r esta população flutuante, foi desenha<strong>da</strong>uma amostra probabilística, estratifica<strong>da</strong>, com três estágiosde seleção. No primeiro estágio foram selecionados setorescensitários; no segundo estágio foram selecionados os bares/turnos (entendidos como a combinação de bar e turno defuncionamento); e no terceiro estágio foi aplica<strong>da</strong> a técnicade amostragem inversa (Hal<strong>da</strong>ne, 1945) para identificar osindivíduos <strong>da</strong> população de pesquisa a entrevistar.Previamente à sua seleção, os setores censitários foramestratificados em dois estratos de concentração de bares. Optou-sepor não estratificar os setores segundo o número debares nele contidos, mas sim em função de áreas geográficascom alta e baixa concentração de bares, conforme descritono capítulo XI. Em ca<strong>da</strong> estrato, os setores foram selecionadoscom probabili<strong>da</strong>de proporcional ao seu número de bares.Esse número de bares foi contado na lista de alvarás parao ano de 2008, que foi forneci<strong>da</strong> pela Secretária Municipalde Indústria e Comércio (SMIC) de Porto Alegre. Como costumaocorrer em seleções com probabili<strong>da</strong>de proporcionalao tamanho, alguns setores, em função do número de seusbares, foram incluídos na amostra com certeza (probabili<strong>da</strong>dede inclusão=1), passando a ser estratos de seleção. Assimforam definidos dois estratos: (1) alta concentração de bares,com 23 setores; e (2) baixa concentração de bares, com 25setores. Para tanto, partiu-se de um número exagera<strong>da</strong>menteelevado (pelas impossibili<strong>da</strong>des ca<strong>da</strong>strais previstas) de 806entrevistas (506 para o estrato de alta concentração de bares),sendo 22 e 12 entrevistas por setor nos estratos de altae baixa concentração de bares, respectivamente.Em segui<strong>da</strong>, a equipe de coleta realizou um levantamentonos 48 setores selecionados para verificar os <strong>da</strong>dos do ca<strong>da</strong>stro<strong>da</strong> SMIC e obter o horário de funcionamento dos barespor dia <strong>da</strong> semana, a fim de permitir a construção do ca<strong>da</strong>strousado no segundo estágio de seleção. Nesse ca<strong>da</strong>stro, osbares tiveram seus turnos de funcionamento definidos pordia <strong>da</strong> semana e horário de atendimento. Em princípio, paraca<strong>da</strong> dia <strong>da</strong> semana (1- domingo a 7- sábado), foram definidosquatro horários de funcionamento dos bares: (1) de03:00 a 09:00; (2) de 09:00 a 15:00; (3) de 15:00 a 21:00;e (4) de 21:00 a 03:00 do dia seguinte. Para definição desseshorários, foi utilizado o estudo realizado em centros deatendimento a emergência ou trauma do município de PortoAlegre, descrito no capítulo IX, cujos <strong>da</strong>dos de AT com alcoolemiapositiva foram tabulados em grupos de três horas deduração para identificar os momentos de maior incidência deacidentes.Esses <strong>da</strong>dos (Quadro 1) permitiram definir a estratificaçãodos turnos (combinação de dia <strong>da</strong> semana e horário de funcionamento)em três estratos de número de AT: baixo, médioe alto de acidentesQuadro 1: Número de acidentes de trânsito com alcoolemia positivaem centros de atendimento a emergência ou trauma de Porto Alegre,2008, por turno.Dia <strong>da</strong>semana03:00:01 a09:00:00Horário dos turnos09:00:01 a15:00:0015:00:01 a21:00:0021:00:01 a03:00:00 (+d1)Domingo 2 5 7 3Segun<strong>da</strong> 2 1 5 3Terça 0 0 3 3Quarta 1 0 2 2Quinta 1 1 0 2Sexta 1 1 0 4Sábado 4 0 2 8Legen<strong>da</strong>Estratos de turnosNúmero baixo de acidentes (0 ou 1)Número médio de acidentes (2 ou 3)Número alto de acidentes (4 ou mais)Dentro de ca<strong>da</strong> setor selecionado e estrato de númerode AT, as combinações de bar e turno (CBT) foram seleciona<strong>da</strong>scom probabili<strong>da</strong>de proporcional à duração dos turnos.Assim, foram seleciona<strong>da</strong>s 324 combinações de bar e turnoonde deveriam ser realiza<strong>da</strong>s as entrevistas.Para determinar o tamanho <strong>da</strong> amostra de CBT em ca<strong>da</strong>estrato de número de AT de ca<strong>da</strong> setor selecionado foramfixados os números de CBT e de pessoas a entrevistar emca<strong>da</strong> CBT: (1) nos setores do estrato de alta concentraçãode bares foram fixados 2 CBT com 2 entrevistas, 3 CBT com2 entrevistas, e 3 CBT com 4 entrevistas, para os estratos denúmero baixo, médio e alto de acidentes, respectivamente;e (2) nos setores do estrato de baixa concentração de baresusou-se 2 CBT com 2 entrevistas ca<strong>da</strong>, para os três estratosde número de AT.91


Seção B – Capítulo XIINo terceiro estágio, os indivíduos foram selecionados utilizandoa técnica de amostragem inversa. A amostragem inversa,inicialmente descrita por Hal<strong>da</strong>ne (Hal<strong>da</strong>ne, 1945), éum método de amostragem sequencial no qual o número deentrevistas realiza<strong>da</strong>s é fixado a priori e o tamanho <strong>da</strong> amostra(n) transforma-se em uma variável aleatória. Assim, a ideiaprincipal <strong>da</strong> amostragem inversa é contar quantas uni<strong>da</strong>des(n) precisaram ser observa<strong>da</strong>s para conseguir k entrevistas(onde k é o número, fixado de entrevistas realiza<strong>da</strong>s).Com o número de entrevistas a realizar por CBT, indicadoanteriormente, to<strong>da</strong>s as pessoas que saíam do bar no turnoselecionado eram abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s para verificar se atendiamaos critérios de inclusão e se aceitavam participar <strong>da</strong> pesquisa(ou seja, foi realiza<strong>da</strong> uma operação de rastreamento –screening – por amostragem). Nesse momento, <strong>da</strong>dos sobreca<strong>da</strong> pessoa que saía do bar eram registrados em uma folhade coleta (FC) especificamente desenha<strong>da</strong> para a pesquisa.Na FC foram registra<strong>da</strong>s as respostas para as perguntaschavedo critério de elegibili<strong>da</strong>de, o horário de término <strong>da</strong>sentrevistas e o resultado de ca<strong>da</strong> tentativa de entrevista, a fimde determinar o número de pessoas abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s (n), o númerode pessoas elegíveis, o número de pessoas entrevista<strong>da</strong>s e aduração do screening, <strong>da</strong>dos fun<strong>da</strong>mentais para o cálculodos pesos amostrais.Nesse desenho de amostra, foi aleatoriamente determinadoo horário de início do screening na CBT. As pessoas quesaíam eram abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s pela dupla de coletadores até que onúmero de entrevistas fosse atingido ou que o horário doturno, impresso na FC, fosse atingido. Esse trabalho de coletafoi realizado entre abril e dezembro de 2009.O principal desfecho avaliado nessa pesquisa foi a presençade alcoolemia positiva soma<strong>da</strong> à intenção de dirigir naprimeira hora subsequente à entrevista. Algumas <strong>da</strong>s demaisvariáveis estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s e seus respectivos critérios de mensuraçãoencontram-se descritas no Quadro 2.To<strong>da</strong>s as entrevistas foram coleta<strong>da</strong>s com auxílio de PDAs,conectados a um servidor web, de modo que eram encaminha<strong>da</strong>sem tempo real ao banco de <strong>da</strong>dos. A equipe decoleta foi forma<strong>da</strong> por sete duplas de entrevistadores, selecionadosentre estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> área de saúde e psicólogos, etreinados pela equipe de pesquisa para a utilização do etilômetroe dos testes de saliva, bem como para a aplicação <strong>da</strong>sentrevistas.Aspectos ÉticosO estudo foi aprovado no Comitê de Ética do Hospital deClínicas de Porto Alegre, sendo utilizado consentimento tácitoconforme o Capítulo III. Para os indivíduos que tivessembebido e referissem que iriam dirigir, inicialmente foi sugeridoque outra pessoa, sóbria, dirigisse; caso não fosse possível,era oferecido um táxi, com valor pré-determinado pagoao taxista pelo entrevistador.Para garantir a segurança <strong>da</strong> equipe de coleta, em 55 bares/turnoconsiderados perigosos, em função principalmente<strong>da</strong> alta criminali<strong>da</strong>de e do tráfico de drogas, integrantes <strong>da</strong>Briga<strong>da</strong> Militar de Porto Alegre ou <strong>da</strong> Polícia Federal, à paisana,acompanharam à distância os entrevistadores.ResultadosForam abor<strong>da</strong>dos, no total, 3.118 indivíduos que saíramde bares para a obtenção de 683 entrevistas. O fluxogramade coleta, com o número de indivíduos abor<strong>da</strong>dos até a obtenção<strong>da</strong> amostra final pode ser observado na Figura 1. Asprevalências de beber e dirigir, por dia <strong>da</strong> semana e por turnopodem ser observa<strong>da</strong>s nas figuras 2 e 3.Em relação à amostra de indivíduos entrevistados, ela foiconstituí<strong>da</strong> principalmente por indivíduos do sexo masculino(74,4%), com i<strong>da</strong>de média de 37,7 anos (+/-12,3 anos), ensinosuperior ou mais (54,9%) e mediana <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> familiarde R$ 3.000,00. Dentre os 683 entrevistados, 6,7% se recusarama realizar o teste do bafômetro.Quadro 2. Variáveis de interesse e respectivos critérios de mensuraçãoVariávelMétodo de Aferição1. Alcoolemia Etilômetro convencional (ALCO-SENSOR, Intoximeters, Inc)2. Intenção de dirigir Questão: “ Você pretende dirigir na próxima hora?”3. Variáveis demográficas (i<strong>da</strong>de, escolari<strong>da</strong>de e ren<strong>da</strong>) Entrevista estrutura<strong>da</strong>4. Opinião sobre a Lei 11.705/08Questões: “ Você é a favor ou contra a Lei que proíbe qualquerconsumo de álcool antes de dirigir?” e “ Você modificou seucomportamento após a implementação <strong>da</strong> lei?”92


De Boni e cols.Beber e dirigir em uma amostra de condutores que frequentam bares de Porto AlegreSeção B – Capítulo XIIFigura 1: Fluxograma de coleta e critérios de inclusão (screening)Todos os indivíduos abor<strong>da</strong>dosn = 3118Mora em Porto Alegren = 2584Nunca participou <strong>da</strong> pesquisan = 2562Dirigiu nos últimos 12 mesesn = 2023ElegíveisIngeriu bebi<strong>da</strong> alcoólica no barn = 1070Recusas: n = 41 (3,8%)Vai dirigirn = 546 (51%)Não vai dirigirn = 524 (49%)Entrevistar todosEntrevistar, em média,1 a ca<strong>da</strong> 4 indivíduosPrevalência de beber e dirigirentre indivíduos que bebem em bares = 51%Figura 2: Prevalências de consumo de álcool e beber e dirigir, por dia<strong>da</strong> semana.Figura 3: Prevalências de consumo de álcool e beber e dirigir, por turno.93


Seção B – Capítulo XIIA mediana <strong>da</strong> alcoolemia foi 0,29 mg/L de ar alveolar e52% dos indivíduos referiam consumo de álcool em binge(ou seja, cinco ou mais doses em uma única ocasião parahomens, e quatro ou mais doses, para mulheres), ao menosuma vez por mês. Como exibido na Figura 4, a maior partedos sujeitos (75,9%) havia bebido cerveja, combina<strong>da</strong> ou nãoa outra bebi<strong>da</strong>, no bar.Figura 4: Tipo de bebi<strong>da</strong> consumi<strong>da</strong>.Apesar de 85,9% dos indivíduos referirem ter bebido edirigido nos últimos 12 meses, apenas 9,2% referiam teremsido parados alguma vez na vi<strong>da</strong> para fazer o teste do bafômetro.A maioria <strong>da</strong> amostra (63,0%) referia ser a favor <strong>da</strong> Lei11.705/08, e 43,8% referiam ter mu<strong>da</strong>do o comportamentoem relação ao beber e dirigir. Entre os que mu<strong>da</strong>ram ocomportamento, as principais alterações podem ser vistas naFigura 5.Figura 5: Mu<strong>da</strong>nças após a implementação <strong>da</strong> Lei 11.705/08, entre osindivíduos que referiram ter alterado algum comportamento (n=299).DiscussãoEste capítulo apresentou uma estratégia para o estudo deuma população flutuante, em risco de beber e dirigir, quepode ser considera<strong>da</strong> no planejamento de futuros estudosde abrangência nacional. Percebe-se que, a partir do métodoproposto, é possível obter estimativas populacionais váli<strong>da</strong>s,com um número relativamente pequeno de indivíduos entrevistados(n=683), aproxima<strong>da</strong>mente 1/5 do total de indivíduosabor<strong>da</strong>dos (n=3118). Trata-se, portanto, de umaestratégia útil em estudos voltados à determinação de políticaspúblicas para este tipo específico de população, emprimeiro lugar devido ao exposto previamente na introdução,e, secun<strong>da</strong>riamente, em razão de que um número menor deentrevistas significa também economia de recursos financeirospara a realização de pesquisas.Alguns cui<strong>da</strong>dos, porém, são importantes ao se trabalharcom amostras complexas e precisam ser considerados para aobtenção de inferências populacionais. De maneira sucinta, éfun<strong>da</strong>mental considerar o desenho de amostra na posterioranálise estatística e modelagem dos <strong>da</strong>dos. Neste capítulo,não é apresenta<strong>da</strong> a expansão dos <strong>da</strong>dos, de modo que osresultados limitam-se aos <strong>da</strong>dos amostrais e não podem sergeneralizados. Ain<strong>da</strong> em relação ao plano amostral, é importanteressaltar que as evidências disponíveis em relaçãoao beber e dirigir na ci<strong>da</strong>de de Porto Alegre foram úteis nasespecificações iniciais: a estratificação geográfica dos bares(obti<strong>da</strong> por geoprocessamento – capítulo XI), os horáriosdos acidentes relacionados ao álcool (obtidos no estudo ememergências, capítulo IX) e alguma estimativa <strong>da</strong> prevalênciade beber e dirigir entre indivíduos que frequentassem baresde Porto Alegre. A última, obti<strong>da</strong> em estudo realizado emlojas de conveniência <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, estimava que aproxima<strong>da</strong>mente30% dos indivíduos que bebiam nas lojas de conveniênciairiam dirigir na hora subsequente (De Boni, Leukefeld etal., 2008), e justificou a seleção de todos os indivíduos queiriam dirigir e apenas um em ca<strong>da</strong> quatro (selecionados deforma aleatória entre o primeiro, segundo, terceiro e quartoindivíduos) indivíduos que não iriam dirigir (o que garantiriaum número mínimo de pessoas com o desfecho na amostrasob análise, e considerava a premissa de que as prevalênciaspoderiam ter diminuído com a implementação <strong>da</strong> Lei11.705/08). Essa distinção, porém, mostrou-se desnecessáriaao ser encontra<strong>da</strong> uma prevalência de 50% de beber e dirigir,de modo que, a princípio, o processo de coleta poderia sersimplificado na condução de novos estudos.A prevalência de beber e dirigir entre os condutores quebebem em bares foi a mais eleva<strong>da</strong> na comparação com asamostras de condutores apresenta<strong>da</strong>s neste livro. Este <strong>da</strong>doestá de acordo com a literatura internacional que indica barescomo locais onde o risco para beber e dirigir é aumentado– embora, nem mesmo os estudos internacionais relatemnúmeros tão elevados. De acordo com duas revisões sistemáticasrecentemente publica<strong>da</strong>s, altas densi<strong>da</strong>des de baresestão associa<strong>da</strong>s com consumo pesado de álcool e com osproblemas decorrentes deste consumo – desde alcoolismoaté acidentes de trânsito. Ambas recomen<strong>da</strong>m que sejamadota<strong>da</strong>s restrições em relação à densi<strong>da</strong>de de bares e seushorários/dias de funcionamento, a fim de diminuir o risco <strong>da</strong>população (Campbell, Hahn et al., 2009; Popova, Giesbrechtet al., 2009). Os <strong>da</strong>dos também confirmaram os dias e horáriosnos quais comportamentos de risco se mostram maisincidentes: à noite e nos finais de semana.94


De Boni e cols.Beber e dirigir em uma amostra de condutores que frequentam bares de Porto AlegreSeção B – Capítulo XIIEm relação aos <strong>da</strong>dos demográficos, chama atenção aalta escolari<strong>da</strong>de dos sujeitos de pesquisa (aproxima<strong>da</strong>mente55% referiam ensino superior completo ou incompleto),contrastante com as demais amostras descritas neste livro emuito acima <strong>da</strong> proporção encontra<strong>da</strong> na região Sul do país(15,5% dos indivíduos acima de 25 anos com ensino superiorcompleto/incompleto (IBGE, 2009)). Possivelmente, istose relaciona ao fato de se ter entrevistado somente indivíduoshabilitados para dirigir, dentro <strong>da</strong> área urbana, e com ummínimo de condições socioeconômicas para poder adquirirbebi<strong>da</strong>s alcoólicas em bares. Contudo, a escolari<strong>da</strong>de nãoparece ter influência, ao menos nestas análises preliminares,nem sobre o comportamento de beber e dirigir, nem sobre oconsumo de álcool em si: a maioria referia consumo em bingee consumo de cerveja – ambos classicamente associadoscom beber e dirigir.Finalmente, a maioria dos indivíduos aprovava a Lei11.705/08, popularmente conheci<strong>da</strong> como Lei Seca. Entretanto,uma parcela menor (43,8%) referia ter modificado ocomportamento relacionado ao beber e dirigir, e 86% delesreferiam ter bebido e dirigido alguma vez no ano anterior.Possivelmente, essa discrepância entre a percepção de importância<strong>da</strong> lei e a efetiva alteração comportamental possaser explica<strong>da</strong> por uma fiscalização pouco eficiente, visto quemenos de 10% referiam ter sido parados alguma vez na vi<strong>da</strong>em blitz para realizar teste de alcoolemia, embora a dissonânciaentre informação/percepção e adoção consistentede comportamentos mais seguros se manifeste em praticamenteto<strong>da</strong>s as áreas <strong>da</strong> saúde pública, como, por exemplona proporção substancialmente menor que utiliza de formaconsistente preservativos em suas relações sexuais, se compara<strong>da</strong>sàquelas que se mostram adequa<strong>da</strong>mente informa<strong>da</strong>se se percebem sob risco frente às infecções sexualmentetransmissíveis, inclusive o HIV/AIDS. Esses <strong>da</strong>dos reforçam aimportância e necessi<strong>da</strong>de de estratégias eficazes de fiscalizaçãoe educação para a saúde.AgradecimentosBriga<strong>da</strong> Militar de Porto Alegre, Sindicato Médico do RioGrande do Sul, Empresa Pública de Transporte e Circulaçãode Porto Alegre, Secretária Municipal de Indústria e Comércio,PF Aroldo Guimarães Monteiro de Castro e Luis FilipeCintra Ayub; Estagiários: Ana Carolina Carvalho, Ana PaulaMetzger, Betina Neutzling, Bruno Rech, Daniela Ferreira, DóriaMignoto, Fausto Steckel, Gregory Bertgnolli, Halley Yamaguchi,Fabiola Cubas de Paula, Fernan<strong>da</strong> Cubas de Paula, GracielaPaza, Luciana Monaiar, Madson Ralide Fonseca Gomes,Marcela Roncheti, Melissa Borges, Raquel Sal<strong>da</strong>nha, PetuliaLopes, Tiago Breitenbach, Sinara Santos.Referências1. CAMPBELL, C. et al. The effectiveness of limiting alcohol outletdensity as a means of reducing excessive alcohol consumptionand alcohol-related harms. 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Seção B – Capítulo XIIIMotoboys e imprudências no trânsito – existe uma associação compatologias psiquiátricas?Anne Sordi, Fernan<strong>da</strong> Kreische, Breno Matte, Renata Gonçalves, Christian Kieling, Roberta Coelho,Cláudia Maciel Szobot e Luis Augusto RohdeIntroduçãoO crescente processo de urbanização tem proporcionadoque motocicletas sejam amplamente utiliza<strong>da</strong>s em países debaixa e média ren<strong>da</strong>s como meio de transporte. A rapidezdo veículo, a mobili<strong>da</strong>de e o baixo custo levaram a um crescimentoexponencial no número de motocicletas circulantes(Sano K, 2005). Isto é particularmente ver<strong>da</strong>de para muitasci<strong>da</strong>des do sudeste asiático, que chegam a apresentar setevezes a média do número de motocicletas encontra<strong>da</strong> emoutras ci<strong>da</strong>des ao redor do mundo, além de ter a maior proporçãoglobal de fatali<strong>da</strong>des em estra<strong>da</strong>s (Ibrahim Sak, 2006;Lagarde E., 2007; Senbil M, 2007). Contudo, mesmo em paísesdesenvolvidos, o risco de morrer por acidente de motocicletapor ca<strong>da</strong> quilômetro percorrido é 20 vezes maior doque por outros veículos motores (Solagberu, 2006). Enquantoo número de motociclistas por habitante é ain<strong>da</strong> relativamentebaixo nos países <strong>da</strong> América Latina em comparaçãocom esses países asiáticos, tem sido observado um aumentodramático na frota nos últimos 20 anos. Particularmente noBrasil, a produção anual de motocicletas aumentou de cercade 200 mil nos anos 1980 para mais de 2 milhões em 2008(Abraciclo - Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletase Motonetas, 2008), o que foi acompanhado por umacréscimo de 400% na mortali<strong>da</strong>de relaciona<strong>da</strong> a motociclistasdo sexo masculino (Moraes, 2008).Em diversos países em desenvolvimento motocicletassão usa<strong>da</strong>s também para entregar documentos e pequenasmercadorias. No Brasil, esses entregadores são chamados de“motoboys”. Embora não existam estatísticas oficiais, motoboyssão geralmente percebidos como responsáveis peloaumento no número de acidentes de trânsito nas grandesci<strong>da</strong>des brasileiras (Silva, 2008). Porém, pouco se sabe sobrequais são os fatores específicos desta população que podemestar contribuindo para este aumento em número de acidentese de multas de trânsito.Embora os acidentes de trânsito tenham uma etiologiamultifatorial, as principais causas parecem ser atribuíveis aerro humano (Norris, 2000). Nesse contexto, dois fatoresprincipais são associados com falhas humanas: uso de substânciase desatenção, que podem ser atribuídos, pelo menosem parte, aos diagnósticos de transtorno de uso de substâncias(TUS) e transtorno de déficit de atenção/hiperativi<strong>da</strong>de(TDAH). É estimado que 30 a 50% <strong>da</strong>s pessoas comTUS (álcool ou cannabis, principalmente) têm comorbi<strong>da</strong>decom TDAH (Tapert, 2002; Szobot, 2007). Apesar do crescentenúmero de indivíduos trabalhando como motoboys empaíses em desenvolvimento e do contínuo crescimento dosacidentes de trânsito com motocicletas, além <strong>da</strong> potencialconexão entre acidentes e TDAH/TUS, é surpreendente quepouca atenção tenha sido destina<strong>da</strong> ao estudo <strong>da</strong> associaçãoentre saúde mental e motoboys.Percebendo-se a importância dessas questões é que foirealizado um estudo com os seguintes objetivos:1. descrever as principais características de uma amostra demotoboys que circulam por um grande centro urbano;2. avaliar a prevalência de transtornos psiquiátricos – particularmenteTDAH e TUS em uma amostra adequa<strong>da</strong> demotoboys;MétodoPopulação e RecrutamentoO estudo foi conduzido em Porto Alegre, que à épocaabrangia um total de 1.360.000 habitantes. Os participantesforam recrutados em três localizações: Hospital de Pronto Socorro(HPS), companhias que disponibilizam motoboys pararealizar entregas (identifica<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> lista telefônica), eo maior estacionamento de motoboys <strong>da</strong> capital. Todos osindivíduos admitidos no HPS devido a um acidente de trânsitoocorrido entre setembro de 2006 a abril de 2008 e queafirmavam ser motoboys foram contatados por telefoneapós a alta hospitalar e convi<strong>da</strong>dos a participar do estudo, seelegíveis para o mesmo. Foi envia<strong>da</strong> para as companhias demotoboys uma carta de uma página, descrevendo brevementeo projeto e convi<strong>da</strong>ndo os indivíduos a participarem <strong>da</strong>pesquisa. Adicionalmente, folhetos 1 foram distribuídos paraos motoboys que se encontravam no estacionamento, emdiferentes ocasiões, durante três meses consecutivos. Comexceção dos indivíduos recrutados no HPS, que foram contatadospor telefone, todos os outros indivíduos foram convi<strong>da</strong>dosa ligar para o centro de pesquisa para averiguar seeles preencheriam ou não os critérios de inclusão no estudoe para, eventualmente, agen<strong>da</strong>r sua avaliação.Os procedimentos do estudo foram brevemente descritospor telefone, e os indivíduos foram convi<strong>da</strong>dos a comparecer1Disponível no site www.obid.senad.gov.br96


Sordi e cols.Motoboys e imprudências no trânsito - existe uma associação com patologias psiquiátricas?Seção B – Capítulo XIIIao centro de estudos para uma avaliação. Na chega<strong>da</strong>, todosreceberam uma descrição detalha<strong>da</strong> do projeto e assinaramum termo de consentimento informado 2 . Ca<strong>da</strong> participanterecebeu uma compensação financeira de aproxima<strong>da</strong>menteR$ 13,00 por hora de participação. O protocolo do estudofoi aprovado pelo Grupo de Pesquisa e Pós-Graduação doHospital de Clínicas de Porto Alegre.Os indivíduos eram inseridos no estudo se eles: estavamtrabalhando atualmente como motoboys; tinham entre 19 e34 anos de i<strong>da</strong>de; moravam na região metropolitana de PortoAlegre; e eram alfabetizados. Os indivíduos eram excluídosse apresentassem problemas de saúde que pudessem interferirna habili<strong>da</strong>de para dirigir (psicose, dificul<strong>da</strong>des sensóriasou motoras, apnea ou epilepsia).Avaliação dos ParticipantesApós terem realizado contato com o centro de pesquisa epreenchido todos os critérios de inclusão, os indivíduos eramagen<strong>da</strong>dos para a avaliação. Eles eram avaliados em um diade semana, <strong>da</strong>s 18h às 22h, divididos em grupos de dois aquatro motoboys por sessão. To<strong>da</strong>s as avaliações foram realiza<strong>da</strong>sem salas priva<strong>da</strong>s e individuais.A avaliação completa compreendeu:1. Um questionário sócio-demográfico, como definidopela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Pesquisas,2003) 3 ;2. Um registro pessoal <strong>da</strong> história de acidentes e violaçõesno trânsito 4 ;3. O desenho de blocos e os subtestes de vocabulário<strong>da</strong> versão portuguesa do Wechsler Adult IntelligentScale (WAIS – III) (Wechsler, 1997), aplicado por umapsicóloga;4. Uma entrevista psiquiátrica semi-estrutura<strong>da</strong> através<strong>da</strong> Mini-International Neuropsychiatric Interview (MINI)(Amorim, 2000), segui<strong>da</strong> por uma avaliação de transtornode déficit de atenção e hiperativi<strong>da</strong>de em adultosatravés <strong>da</strong> Adult Self Report Scale (ASRS) (Mattos,2006), ambos vali<strong>da</strong>dos para a população brasileira econduzidos por um psiquiatra;5. Avaliação de transtornos externalizantes em crianças,incluindo TDAH, através do Schedule for Affective Disordersand Schizophrenia for School – Age Children,Epidemiological <strong>Ver</strong>sion (K-SADS-E) (Orvaschel H, 1989),modificado para avaliar critérios do DSM-IV, versão emportuguês (Merca<strong>da</strong>nte Mt et Al., 1995) aplicado porpesquisadores treinados, cuja confiabili<strong>da</strong>de inter avaliadorestinha sido testa<strong>da</strong> previamente (kappas de 0,77 a1,00, p


Seção B – Capítulo XIIIUm fato interessante relacionado a emprego por partedos respondentes foi o de que apenas 37 dos 101 participantesatestaram estar legalmente empregados. Os sujeitosinformaram ter carteira de habilitação para dirigir motocicletahá, em média, 71,2 meses e estarem trabalhando comomotoboys há, em média, 57,5 meses. Dezessete sujeitos estavamtrabalhando como motoboys antes de obter a carteirade habilitação. A média de horas trabalha<strong>da</strong>s foi de 9,8 horaspor dia. Vinte e três indivíduos informaram trabalhar duranteos sete dias <strong>da</strong> semana, e 37 durante seis dias <strong>da</strong> semana.Em relação à prevalência na vi<strong>da</strong> de doença psiquiátrica,foi encontrado que 75% dos participantes tinham ao menosum diagnóstico e 54% de entrevistados apresentaram doisou mais diagnósticos. Os transtornos do DSM-IV mais prevalentesna vi<strong>da</strong> foram de abuso de substância e transtornosdo humor, o que incluía apenas casos de depressão maior edistimia. Também foi notável o número de casos de transtornosexternalizantes <strong>da</strong> infância e transtorno de personali<strong>da</strong>deanti-social (TPAS) (Figura 1).Figura 1: Prevalência na Vi<strong>da</strong> de Doenças Psiquiátricas: porcentagemde casos na amostra estu<strong>da</strong><strong>da</strong>.Comparando-se estes <strong>da</strong>dos com os de um grupo de faixaetária semelhante nos EUA, notam-se prevalências mais altasde diagnósticos psiquiátricos, com exceção de transtornos deansie<strong>da</strong>de (Kessler, 2005). Os números também foram substancialmentemais altos quando comparados com um estudoprévio de prevalência de doença mental durante a vi<strong>da</strong>, comajuste de i<strong>da</strong>de, realizado em três ci<strong>da</strong>des brasileiras, onde astaxas para as desordens psiquiátricas mais prevalentes nãoultrapassam 15% (Almei<strong>da</strong>-Filho, 1997). A distribuição dosdiagnósticos encontrados no presente estudo foi semelhanteentre as fontes de recrutamento.Esses <strong>da</strong>dos passam a nos preocupar, principalmente noque concerne às altas taxas de prevalência de TPAS entreos motoboys. Sabe-se que o TPAS está bastante associadocom a criminali<strong>da</strong>de, e a população de motoboys está particularmentesujeita a sofrer ou causar acidentes, incluindoacidentes com vítimas. Além disso, são pessoas que entramem contato com o público diretamente em suas casas paraentregar mercadorias. A implicação disso no possível aumento<strong>da</strong> violência no trânsito, ou mesmo na violência urbanaain<strong>da</strong> não está esclareci<strong>da</strong>. Pode-se pensar também que éjustamente a marginalização dessas pessoas, que apresentamdificul<strong>da</strong>des para seguir regras e a<strong>da</strong>ptar-se a outros tiposde trabalho, que acabou deslocando-os para este tipo deativi<strong>da</strong>de. Porém, este estudo não pode oferecer mais do queuma hipótese causal, devido a limitações do seu desenho.É importante pensarmos na necessi<strong>da</strong>de de refletir sobreesses achados. O transtorno de déficit de atenção e hiperativi<strong>da</strong>deé um transtorno mental com intervenções de tratamentodisponíveis e eficazes (The MTA Cooperative Group,1999), que têm provado serem efetivas também na melhorado comportamento na condução de veículos (<strong>Ver</strong>ster, 2008).Se pensarmos que a população de motoboys poderia ser devi<strong>da</strong>menteassisti<strong>da</strong> em relação ao tratamento desta patologia,imprudências no trânsito e mortes poderiam, talvez, tersuas taxas bastante reduzi<strong>da</strong>s. Além disso, sabendo-se queo TPAS tem uma prevalência aumenta<strong>da</strong> nesta população,quando comparamos a prevalência de 13,8% encontra<strong>da</strong>nos resultados com apenas 3% na população geral (Vasconcellos,2004), medi<strong>da</strong>s legais específicas à profissão poderiamser planeja<strong>da</strong>s visando maior segurança.Os motoboys são um fenômeno onipresente nas grandesci<strong>da</strong>des de muitos países em desenvolvimento. Apesarde, na última déca<strong>da</strong>, milhares de homens jovens aderirema essa profissão de risco, informações disponíveis sobre asaúde mental deles ain<strong>da</strong> são escassas. Neste contexto, essesresultados documentam pela primeira vez uma prevalênciasignificativamente maior do que o esperado na populaçãogeral de transtornos mentais em condutores de motocicletasprofissionais.98


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Seção B – Capítulo XIVCustos dos acidentes de trânsito com vítimas associados ao uso de álcoolem Porto AlegreTanara Rosângela Vieira Sousa, Esmeral<strong>da</strong> Correa, Marianne Zwilling Stampe, Sabino <strong>da</strong> Silva Pôrto Junior,Raquel De BoniIntroduçãoO consumo excessivo de álcool é um problema de saúdepública, uma vez que causa fortes externali<strong>da</strong>des como aper<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de, morte precoce, crime, problemas derelacionamentos familiares, baixa-estima, suicídio e acidentesde trânsito (Cook e Moore, 2000). A ingestão de qualquerquanti<strong>da</strong>de de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas provoca alterações cognitivasque prejudicam o desempenho para dirigir, aumentandoo risco de acidente de trânsito (Zador, Krawchuk et al., 2000;Peden, Scurfield et al., 2004)Embora as evidências indiquem uma associação entre ouso de álcool e os acidentes de trânsito, ain<strong>da</strong> é pouco discuti<strong>da</strong>a magnitude dos custos econômicos que esses eventosimpõem à socie<strong>da</strong>de. Contudo, infere-se que estes sejam expressivos,devido a que envolvem custos relativos ao resgate,ao atendimento médico-hospitalar, processos de reabilitação<strong>da</strong>s vítimas e per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de e, sobretudo, por seremresponsáveis pela morte de uma parcela <strong>da</strong> populaçãoeconomicamente ativa. Desta forma, o presente capítulo vemcontribuir na mensuração dos custos sociais e econômicosde acidentes de trânsito com vítimas por abuso de álcool naci<strong>da</strong>de de Porto Alegre.MétodoPara este estudo, cujo objetivo foi demonstrar o impactoeconômico dos acidentes de trânsito causados por abuso deálcool, centrou-se só em um aspecto <strong>da</strong> avaliação econômica:o componente de Custo. Portanto, através <strong>da</strong> metodologiade Custo <strong>da</strong> Doença (cost of illness ou burden of illness)Figura 1 – Categorização dos Custos dos Acidentes de TrânsitoCustos dosAcidentesde TrânsitoCustos DiretosCustos IndiretosCustos diretosmédicosCustos diretosnão médicosPer<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de- morbi<strong>da</strong>dePer<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de- morbi<strong>da</strong>deprematuraHospitalizações,atend. ambulatorial,consultas,medicamentos,exames diagnósticos,serviço de ambulância,serviçode enfermagemCustos de transportepara assistência àsaúde, outros gastosnão médicos relacionadosà doença,custos policiais ejudiciários, <strong>da</strong>nos aveículos e proprie<strong>da</strong>dede terceiros,remoção de veículosDias perdidos detrabalho <strong>da</strong> vítima,dias perdidosde trabalho deacompanhantes<strong>da</strong> vítima,inabili<strong>da</strong>de paratrabalharAnos de vi<strong>da</strong>perdidosFonte: Elaborado pelos autores100


Sousa e cols.Custos dos acidentes de trânsito com vítimas associados ao uso de álcool em Porto AlegreSeção B – Capítulo XIVestimou-se o custo dos acidentes de trânsito e por consumode álcool desde a perspectiva <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de (Drummond,Sculpher et al., 2005; Bouwes, 2006). Desta forma, na Figura1, apresenta-se a classificação de custos adota<strong>da</strong> e que forammensurados 1 .O período de avaliação dos custos dos acidentes de trânsitofoi o ano de 2008, considerando as vítimas não fatais(feridos) 2 desse ano e vítimas fatais de 2007. Para fins dehomogenei<strong>da</strong>de foram atualizados os valores dos custos <strong>da</strong>svítimas fatais para 2008. A base de <strong>da</strong>dos utiliza<strong>da</strong> compreendeacidentes que ocorreram no perímetro urbano de PortoAlegre - RS e que foram registrados pela Empresa Pública deTransporte e Circulação (EPTC) e pelo Departamento Estadualde Polícia Judiciária de Trânsito (DPTRAN).Tendo em conta que este estudo contou com distintasfontes de <strong>da</strong>dos, desenhou-se uma estrutura organiza<strong>da</strong>através de sub-estudos para a obtenção e coleta tanto de<strong>da</strong>dos primários, quanto secundários (Figura 2).Sub-Estudo 1 - Hospitais de Pronto SocorroEste sub-estudo foi realizado conjuntamente com o trabalhoapresentado no capítulo IX, que consistiu de um estudotransversal nos hospitais que recebem a maior proporção doscasos de trauma por acidentes de trânsito em Porto Alegre,para amostragem de vítimas não fatais de acidentes de trânsitoatendidos nos hospitais <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. A coleta de <strong>da</strong>dosocorreu no período de 10 de outubro a 19 de novembro de2008, no Hospital de Pronto Socorro (HPS) e Hospital CristoRedentor (HCR) 3 . A coleta teve duração de 19 dias no primeirohospital – HPS – e posteriormente, o mesmo período noHCR.To<strong>da</strong>s as vítimas de acidentes de trânsito, maiores de 18anos, que deram entra<strong>da</strong> nos hospitais no período <strong>da</strong> coletaFigura 2- Organograma <strong>da</strong> Obtenção de DadosCustos dos Acidentesde TrânsitoSub-estudo 1 Hospitaisde Pronto SocorroVítimas não fataisSub-estudo 2 Uni<strong>da</strong>desde resgate e EPTC Vítimasfatais e não fataisSub-estudo 3 DMLe DEPTRAN VítimasfataisColeta de <strong>da</strong>dosnos HospitaisSeguimento (atravésde entrevistas telefônicasmensais)Custo deambulânciasColeta de <strong>da</strong>dosem inquéritosPrevalência de álcoolentre as vítimas;Dados sócio-demográficose de contato<strong>da</strong>s vítimas (paraposterior seguimento);<strong>da</strong>dos deboletins de atendimentoe prontuáriosmédicosDados referentesao acidente; custosmédicos fora <strong>da</strong> instituiçãode primeiroatendimento; <strong>da</strong>nosà proprie<strong>da</strong>de; per<strong>da</strong>de produtivi<strong>da</strong>deliga<strong>da</strong> a morbi<strong>da</strong>deCustos de ativi<strong>da</strong>depolicialDados do mapade acidentesPrevalência de álcoolentre vítimas;<strong>da</strong>dos sócio-demográficosEPTC - Empresa Pública de Transporte e Circulação; DML – Departamento Médico Legal e DPTRAN - Departamento Estadual de Polícia Judiciária deTrânsito.1 A categorização adota<strong>da</strong> segue a literatura tradicionalmente utiliza<strong>da</strong>; no entanto, uma categorização alternativa é proposta por Drummond, Sculpheret al., (2005), subdividindo os custos em custos ‘do setor de assistência a saúde’, ‘de outros setores’; ‘do paciente e <strong>da</strong> família’ e ‘per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de’.A escolha de uma ou outra categorização deverá ser feita de modo a atingir mais adequa<strong>da</strong>mente os objetivos propostos (Rascati, 2010).2 Não são considera<strong>da</strong>s vítimas ilesas no momento do acidente.3 Segundo <strong>da</strong>dos obtidos junto ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de Porto Alegre – SAMU, em 2006 cerca de 66,3% dos atendimentos foramencaminhados ao HPS, 32,7% ao HCR e 1% a diversas outras uni<strong>da</strong>des de atendimento; portanto com base nestes <strong>da</strong>dos planejou-se a coleta nosdois primeiros. A coleta não ocorreu em simultâneo nos dois hospitais por questão de logística, uma vez que a coleta ocorreu 24 horas por dia.101


Seção B – Capítulo XIVforam convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s a participar do estudo. Das 695 abor<strong>da</strong><strong>da</strong>sinicialmente, 615 concor<strong>da</strong>ram em informar seus <strong>da</strong>dosde identificação inicial. Para a abor<strong>da</strong>gem foi utilizado umquestionário estruturado contemplando <strong>da</strong>dos sócio-demográficos,do acidente, do consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas eoutras substâncias psicoativas. Os indivíduos poderiam ounão concor<strong>da</strong>r em fazer testes para alcoolemia por meio deetilômetros, assim como testes para outras substâncias através<strong>da</strong> coleta de saliva, e nos casos em que o indivíduo nãotinha condições de fornecê-la, eram efetuados exames de urina.Detalhes desta coleta estão descritos no capítulo IX.Para a obtenção dos custos e <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>derelaciona<strong>da</strong>s ao acidente, as vítimas foram convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s a fornecerseus <strong>da</strong>dos de identificação pessoal e telefone, alémde autorizar acesso aos boletins de atendimento e prontuáriosmédicos 4 , para participar de um acompanhamento viacontato telefônico uma vez por mês durante os seis mesessubsequentes à ocorrência. Considerou-se uma periodici<strong>da</strong>demensal para evitar que a pessoa esquecesse a descrição doscustos e morbi<strong>da</strong>des causados pelo acidente de trânsito epudesse detalhá-los com maior precisão.Do total <strong>da</strong> amostra, 563 vítimas (81% <strong>da</strong>s vítimas abor<strong>da</strong><strong>da</strong>se convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s a participar do estudo) autorizaram suaparticipação nesta fase <strong>da</strong> pesquisa. Em todos estes casos foifeita a coleta de informações em boletins de atendimento eprontuários médicos, disponibilizando <strong>da</strong>dos sobre as consequênciasdo acidente, bem como os custos de atendimento<strong>da</strong>s vítimas nas uni<strong>da</strong>des de primeiro atendimento, tantoambulatorial quanto no caso de hospitalizações. Para a mensuraçãodesses custos consideraram-se quatro categorias decustos: I) Honorários médicos; II) Taxas e diárias; III) Materiaise medicamentos e IV) Diagnose e terapia 5 .Para o acompanhamento <strong>da</strong>s vítimas através de contatotelefônico 6 em entrevistas mensais foi usado um questionárioeletrônico estruturado que compreendeu diferentesblocos de <strong>da</strong>dos: I) Identificação do indivíduo e “Consentimentoinformado”, que foi lido e explicado para o entrevistadoem ca<strong>da</strong> contato telefônico, possibilitando que omesmo desistisse de participar caso não se sentisse confortável,apesar do consentimento inicial obtido no hospital;além disso, as entrevistas contaram com rolling consent,que consiste de um consentimento por etapas ao longo <strong>da</strong>entrevista, permitindo ao entrevistado parar de respondera qualquer momento; II) Dados ca<strong>da</strong>strais, com questõespara a complementação de <strong>da</strong>dos obtidos na entrevista inicial(ver capítulo IX) e que foram feitas apenas no primeirocontato; III) Dados relacionados a <strong>da</strong>nos a proprie<strong>da</strong>de,também apenas no primeiro mês; IV) Dados relacionados acustos médico-hospitalares, usados no contato durante os6 meses; V) Dados relacionados a per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de(dias perdidos de trabalho e outras ativi<strong>da</strong>des), coletado poraté 6 meses após o acidente 7 .Tentou-se contato telefônico com to<strong>da</strong>s as vítimas queautorizaram o mesmo; no entanto, a taxa de resposta noprimeiro mês foi de 69,6% (392 vítimas), sendo que destescontatos, 92% (361 vítimas) resultaram em entrevistas finaliza<strong>da</strong>se 5,8% em desistência. Em 2% dos casos se iniciou aentrevista e por diversos motivos esta não foi finaliza<strong>da</strong>, nãosendo possível um novo contato. A não resposta ocorreu pordiversos motivos, como por exemplo, números de telefoneincorretos, situações que os entrevistados quando sabendotratar-se de tal entrevista, pediam para ligar novamente emoutro horário e não voltavam mais a atender ao telefone,entre outras. Nos casos em que as entrevistas continuaramnos meses subsequentes (para os casos que disseram prevercustos relacionados ao acidente para o mês seguinte e preencheramalguns critérios quanto aos custos do mês corrente)seguiu-se uma taxa de recusa de cerca de 4% a ca<strong>da</strong> novocontato.Após a coleta de <strong>da</strong>dos, estes foram tratados juntamentecom os <strong>da</strong>dos obtidos dos boletins de atendimento e prontuáriosmédicos. Para a mensuração dos custos estabeleceram-setrês cenários de faturamento do atendimento dopaciente no hospital e custos pós-hospitalar, relacionados àreabilitação e posterior atendimento ou procedimentos médicospor sequelas do acidente. O primeiro teve como referênciaos preços vigentes no período <strong>da</strong> coleta via o SistemaÚnico de Saúde (SUS). O segundo cenário usou a Listade Procedimentos Médicos de 1999 <strong>da</strong> Associação MédicaBrasileira (AMB, 1999), a qual é atualmente utiliza<strong>da</strong> paraestimar o ressarcimento do Seguro Obrigatório de DanosPessoais Causados por Veículos Automotores de via Terrestre– DPVAT para cobrir despesas comprova<strong>da</strong>s com atendimentomédico-hospitalar 8 . Por último, foram aplicados os valores<strong>da</strong> quinta edição <strong>da</strong> Classificação Brasileira Hierarquiza<strong>da</strong> deProcedimentos Médicos – CBHPM (AMB, 2008). Além disso,relacionado aos custos por medicamentos, considerou-se emtodos os cenários a tabela Brasíndice publica<strong>da</strong> no período<strong>da</strong> coleta de <strong>da</strong>dos (Outubro e Novembro de 2008) (Brasíndice,2008). A per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de foi calcula<strong>da</strong> a partirdos salários informados pelas próprias vítimas.4Os <strong>da</strong>dos foram coletados nos boletins de atendimento para os casos ambulatoriais e prontuários médicos quando o paciente foi internado.5Disponível no site do Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (OBID) <strong>da</strong> SENAD.6As ligações telefônicas foram feitas através do software SKYPE e também através de telefones convencionais e celulares. A estrutura de coleta quenecessitou de computadores conectados a internet foi sedia<strong>da</strong> na Facul<strong>da</strong>de de Economia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande do Sul e dependências do Programa de Pós-Graduação em Economia.7Disponível no site www.obid.senad.gov.br102


Sousa e cols.Custos dos acidentes de trânsito com vítimas associados ao uso de álcool em Porto AlegreSeção B – Capítulo XIVSub-Estudo 2 – Uni<strong>da</strong>des de Resgate e EPTCOs <strong>da</strong>dos sobre custos de resgate foram obtidos junto àsenti<strong>da</strong>des públicas responsáveis pelos trâmites policiais nolocal de ocorrência. Este processo é detalhado a seguir:1. O resgate consiste no primeiro atendimento médico àvítima e o transporte até os hospitais, o qual é efetuadona ci<strong>da</strong>de de Porto Alegre pelo Serviço de AtendimentoMóvel de Urgência – SAMU, que disponibilizou sua estruturade custos para a estimação do valor médio poratendimento na uni<strong>da</strong>de de Porto Alegre.2. A EPTC, empresa responsável pela regulação e fiscalização<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>s com o trânsito e o transportedo município de Porto Alegre, se faz presente emto<strong>da</strong>s as ocorrências de acidentes de trânsito e contacom uma base atualiza<strong>da</strong> com diversas variáveis referentetanto ao acidente quanto às vítimas. Considerou-se,portanto, o custo médio desse atendimento, cujos <strong>da</strong>dospara sua estimação foram fornecidos por esta enti<strong>da</strong>de9 .3. No Departamento Estadual de Trânsito – DETRAN foramobtidos os custos relacionados a guinchos para a remoçãode veículos envolvidos em acidentes de trânsito,assim como o respectivo valor <strong>da</strong>s diárias dos locais dedepósito.Sub-Estudo 3 - Departamento Médico Legal e DPTRANNo caso <strong>da</strong>s vítimas fatais em acidentes de trânsito ocorridosna ci<strong>da</strong>de de Porto Alegre foram estimados os custosdecorrentes <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de a partir de <strong>da</strong>dos coletadosjunto a inquéritos policiais relacionados a homicídioculposo causados por acidentes de trânsito e arquivados noDPTRAN para o ano de 2007. O fator que mais pesou naescolha desse ano para a coleta de <strong>da</strong>dos foi o tempo dearquivamento dos inquéritos, que em geral levam no mínimoquatro meses para serem arquivados (muitos levam maistempo, podendo chegar a mais de 2 anos). Isso foi um dosempecilhos <strong>da</strong> coleta de <strong>da</strong>dos, pois se pretendia trabalharcom <strong>da</strong>dos mais atualizados; não foi possível concluira coleta nos inquéritos de 2008 em função do problemaapresentado.O problema pode ser visualizado na coleta de 2009, poisem junho desse ano ain<strong>da</strong> estavam sendo coletados casosde 2007. Tentou-se resolver o problema do tempo de arquivamentodos <strong>da</strong>dos coletando-os diretamente no DML.Contudo, o sistema de <strong>da</strong>dos desta Instituição não possuicaracterísticas suficientes para formar um perfil <strong>da</strong>s vítimas edos acidentes, apenas <strong>da</strong>dos de alcoolemia e <strong>da</strong>dos básicos<strong>da</strong>s vítimas. A solução para formar este perfil foi continuar acoleta de <strong>da</strong>dos do DML no Sistema de Dados do DPTRAN.Em função do entendimento entre os dois sistemas e de acessoao sistema do DPTRAN depender de um funcionário, a coletade <strong>da</strong>dos no sistema do DPTRAN ain<strong>da</strong> não foi finaliza<strong>da</strong>e por isso não será descrita neste livro. Os <strong>da</strong>dos desta coletavia DML-DPTRAN são de julho de 2008 a junho de 2009.A coleta de <strong>da</strong>dos iniciou-se em outubro de 2007, depoisde serem realizados dois estudos-piloto. Para realizar a coletade <strong>da</strong>dos tivemos o apoio do DPTRAN, que permitiu acessoaos inquéritos policiais mediante ofício de comprometimentode todos coletadores com o sigilo dos <strong>da</strong>dos. A versão finaldo questionário está disponível aos interessados 10 .Utilizando-se a metodologia do Capital Humano e a partirde <strong>da</strong>dos como i<strong>da</strong>de, sexo, expectativa de vi<strong>da</strong> e rendimentos,estimou-se a per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de para as vítimasfatais. Os <strong>da</strong>dos de i<strong>da</strong>de e sexo foram obtidos na coleta noDPTRAN, e os <strong>da</strong>dos de expectativa de vi<strong>da</strong> e de rendimentoforam obtidos na PNAD 2006 (IBGE, 2007). Os custos demortali<strong>da</strong>de são mensurados em função do tempo potencialmenteperdido e calculado através de uma estimativa <strong>da</strong>per<strong>da</strong> dos ganhos futuros dos trabalhadores afetados. Paraisso, utiliza-se uma taxa de desconto de 5%, sugeri<strong>da</strong> para oBrasil pelo Ministério <strong>da</strong> Saúde (Saúde, 2007). Considerou-seo rendimento médio anual de R$ 15.066,45, e estimou-se aper<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de para vítimas fatais de acidentes detrânsito na ci<strong>da</strong>de de Porto Alegre no ano de 2007, atualizando-seos valores para o ano de 2008.Extrapolação dos <strong>da</strong>dosPara a quantificação dos custos totais é calculado o customédio de ca<strong>da</strong> componente do custo e posteriormente extrapoladocom base nas informações forneci<strong>da</strong>s pela EPTC, comrespeito ao número total de acidentes de trânsito na ci<strong>da</strong>dede Porto Alegre para o ano 2008, com vítimas não fatais8O Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de via Terrestre – DPVAT é um seguro que indeniza vítimas por morte,invalidez permanente e despesas com atendimento médico-hospitalar causados por acidente de trânsito em veículos com motor próprio (que exclui asbicicletas). No período <strong>da</strong> coleta, o seguro DPVAT podia ser ativado para ressarcimentos ao Hospital Pronto Socorro (HPS) e só por pacientes comatendimento ambulatorial (excluindo pacientes internados). No Hospital Cristo Redentor (HCR) as despesas com atendimento eram fatura<strong>da</strong>s somentepelo SUS. Quando os pacientes aceitavam ativar o seguro DPVAT, o processo de faturamento desses custos era realizado conforme a tabela AMB 99e que correspondia ao valor a ser ressarcido ao Hospital. Dentre as pessoas que tiveram atendimento emergencial no HPS (365), 20,27% (74 pessoas)tiveram finalizado o faturamento via tabela AMB 99 para ser coberto pelo seguro DPVAT.9Há também a presença <strong>da</strong> Polícia Militar em casos de acidentes com vítimas, sendo responsável junto ao DPTRAN pelo registro <strong>da</strong>s ocorrências. Estaúltima enti<strong>da</strong>de, por sua vez, é quem dá continui<strong>da</strong>de do processo de investigação. Os custos referentes a esses procedimentos não foram obtidos atéo presente momento e, portanto não serão considerados neste estudo.10Disponível no site www.obid.senad.gov.br103


Seção B – Capítulo XIV(feridos), maiores de 18 anos, conforme situação <strong>da</strong> vítima(condutor, ocupante e pedestre) e tipo de veículo envolvido.Estes <strong>da</strong>dos são apresentados na tabela 1.Tabela 1 – Informações para extrapolação dos <strong>da</strong>dosVariávelVítimas de acidentes de trânsitomaiores de 18 anosUni<strong>da</strong>des anuaise proporções6.664(93% do total de vítimas)Vítimas Feri<strong>da</strong>s > 18 anos 6.531 (98% de 6.664)Vítimas Feri<strong>da</strong>s + pós-morte> 18 anosFeridos segundo situação <strong>da</strong>vítima no acidente de trânsito> 18 anos6.597 (99% de 6.664)• Condutor: 4.431(66% de 6.664)• Ocupante: 1.224(18% de 6.664)• Pedestre: 1.009(15% de 6.664)<strong>da</strong>s vítimas, sem considerar menores de i<strong>da</strong>de, foi de 40,77anos, sendo a mo<strong>da</strong> – valor mais comum – de 21 anos. Amaior parte <strong>da</strong>s vítimas estava na faixa etária de 18 a 24 anos(27,9%), ou seja, jovens. Contudo, a faixa etária de pessoasacima de 60 anos foi a segun<strong>da</strong> maior frequência, com24,7% dos casos.<strong>Ver</strong>ificou-se também que o percentual de vítimas do sexomasculino é maior na faixa etária de 18 a 24 anos, ao passoque vítimas do sexo feminino são mais comuns na faixa etáriaacima de 60 anos, conforme mostra a Figura 3.Figura 3 – Gênero por Faixa EtáriaFonte: EPTCPor outro lado, considerando que o objetivo central é estimaros custos sociais de acidentes de trânsito por abusodo álcool, foi utiliza<strong>da</strong> uma ferramenta epidemiológica paraderivar o percentual de AT que podem ser atribuíveis aoconsumo abusivo de álcool. Para isso, foi estimado o RiscoAtribuível à População (PAR) (Tsuang e Tohen, 2002),que serefere à probabili<strong>da</strong>de de uma pessoa exposta a um fator derisco (no nosso caso álcool) de ter acidentes de trânsito maisfrequentemente que uma pessoa não exposta ao álcool.Neste caso, tendo em conta a falta de informações noBrasil com respeito ao risco relativo de acidentes de trânsitocausados por consumo de álcool, o fator RR não foi calculado.Portanto, a partir de uma revisão <strong>da</strong> literatura internacional,foi considerado o RR igual a 4,9 estimado no trabalho dePetridou, Trichopoulos et al. (1998).Negros apresentaram menos chance que brancos de sofreremfatalmente de acidentes de trânsito, apesar de seremmais relevantes que os demais tipos de cor. Este resultadoestá de acordo com o esperado, <strong>da</strong><strong>da</strong> a constituição <strong>da</strong> populaçãode Porto Alegre. Após os solteiros, casados são osegundo tipo de estado civil de mais frequência (23,20%),divorciados, viúvos, união estável e outros são menos significativos(Figura 4a e 4b).Figura 4a. CorResultadosOs <strong>da</strong>dos serão apresentados a seguir em duas subseções.Na primeira apresentam-se as características sócio-demográficase referentes ao acidente, tanto <strong>da</strong> amostra de vítimasnão fatais quanto <strong>da</strong> população de vítimas fatais. A segun<strong>da</strong>analisa os custos dos acidentes de trânsito totais e tambémos custos associados ao consumo de álcool.Características <strong>da</strong>s Vítimas e dos AcidentesVítimas fataisFigura 4b. Estado CivilA coleta nos inquéritos permitiu realizar um estudo completo<strong>da</strong>s vítimas fatais de acidentes de trânsito, uma vezque contempla tanto <strong>da</strong>dos <strong>da</strong>s vítimas, quanto dos acidentese de alcoolemia (os inquéritos incluem laudos do DML).A coleta de <strong>da</strong>dos identificou 170 casos para Porto Alegreem 2007. Contudo, após a retira<strong>da</strong> de indivíduos menores dei<strong>da</strong>de e de casos ain<strong>da</strong> não arquivados em junho de 2009, abase de <strong>da</strong>dos finalizou com 155 observações. Em relação àsvítimas fatais, obteve-se um perfil de maioria homens (71%),de cor branca (82,5%) e solteiros (64.2%). A i<strong>da</strong>de média104


Sousa e cols.Custos dos acidentes de trânsito com vítimas associados ao uso de álcool em Porto AlegreSeção B – Capítulo XIVOutra característica importante <strong>da</strong>s vítimas é em relação àsituação no acidente de trânsito. A maioria <strong>da</strong>s vítimas foramcondutores de veículos (47,7%). Pedestres ficaram na segun<strong>da</strong>posição, com 37,4% e ocupantes apresentaram menorfrequência (14,8%). A faixa etária que apresentou maior incidênciade condutores e ocupantes foi de 18 a 24 anos, aopasso que a maioria dos pedestres está na faixa etária acimade 60 anos (Figura 5). Também se verificou que 63,5% doscondutores conduziam motocicletas e 56,5% dos ocupantesestavam em automóveis, segun<strong>da</strong> maior categoria de veículopara condutores.Figura 5 – Situação no acidente de trânsito por Faixa EtáriaDentre as profissões, a de comerciante foi a mais representativa(8,8%). Outras profissões que caracterizam as vítimasforam de doméstica (ou “do lar”), com 5,4% e motoristacom 4,1%. Aproxima<strong>da</strong>mente em 30% <strong>da</strong>s vítimas não foipossível obter o <strong>da</strong>do referente à profissão. Outro <strong>da</strong>do deextrema importância e que praticamente não está presentenos inquéritos policiais de vítimas fatais é a escolari<strong>da</strong>de 11 .Em relação ao tipo de acidente de trânsito, o mais comumfoi atropelamento (39,4%), seguido de abalroamento,com 22,6% (Figura 6a). A maior parte dos acidentes envolveuapenas um veículo (60,8%). Estes casos envolvem tanto pedestresquanto choque ou colisão em algo público e que<strong>da</strong>de moto. Por outro lado, o tipo de veículo em que se encontravamaior percentual <strong>da</strong>s vítimas foi motocicletas (35,5%).No entanto, pedestres foram vítimas em número quase equivalentea este (34,8%). Automóvel ocupou a terceira posição,apresentando frequência de 19,4% (Figura 6b). Este resultadoindica que motociclistas e pedestres devem ser foco depolíticas públicas que atuem na prevenção de acidentes detrânsito.Figura 6a. – Tipos de acidentes de trânsitoFigura 6b – Tipos de VeículosA alcoolemia apresentou uma prevalência de 36,7% nasvítimas, indicando que o álcool é um fator bastante significativoentre as causas de acidentes de trânsito. O teor alcóolicomédio, dentre as vítimas que apresentaram prevalênciapositiva, foi de 6,61 dg/l (acima do limite que antes <strong>da</strong>Lei Seca era considerado grave). A i<strong>da</strong>de média <strong>da</strong>s vítimasapresentou-se menor que a média <strong>da</strong> amostra total, caindode 40 para 34, indicando que alcoolemia está mais relaciona<strong>da</strong>a pessoas mais jovens quando consideram-se acidentesde trânsito. A faixa etária que apresenta a maior prevalênciadentre os casos de alcoolemia positiva é de 35 a 44 anos,apesar <strong>da</strong> maior parte <strong>da</strong>s vítimas fatais de acidentes de trânsitoestarem na faixa etária de 18 a 24 anos (Figura 7).Figura 7 – Alcoolemia por faixa etáriaDentre as vítimas que apresentaram alcoolemia positiva,o tipo de acidente de trânsito de maior frequência foi abalroamento(27,3%). Existe aqui uma grande diferença entre otipo de acidente de trânsito mais comum nas vítimas fatais,que foi o atropelamento. Este tipo de acidente tem um percentualmenor de frequência quando consideram-se apenasvítimas fatais alcooliza<strong>da</strong>s, caindo de 39,4% para 25%. Outrogrande diferencial em relação a este critério de alcoolemiapositiva foi para o tipo choque em poste, que empatou comabalroamento na primeira posição, com 27,3% de frequênciaca<strong>da</strong>. Colisão teve 13,6% do total, percentual parecidocom o total <strong>da</strong> amostra (16,8%).Em relação ao tipo de veículo em que a vítima estava,considerando-se apenas os casos de alcoolemia positiva,motocicletas continuam ocupando a primeira posição, com36,4% - percentual parecido com o total <strong>da</strong> amostra (35,5%).11Constatou-se, conversando com pessoas que trabalham no DPTRAN, que não é hábito do investigador preocupar-se com esta informação, apesarde a mesma ser um diferencial para estimar rendimentos monetários de indivíduos.105


Seção B – Capítulo XIVContudo, pedestres que antes apresentavam um percentualelevado, quase equivalente ao de motocicletas, caiu de 37,4para 25%. Por outro lado, automóvel aumentou o seu percentualde 18,7 para 31,8%. Dessa forma, pedestres são vítimasmenos relaciona<strong>da</strong>s com alcoolemia dentre as fatais.Vítimas não-fataisAlém dos <strong>da</strong>dos sócio-demográficos apresentados no capítuloIX, referente à amostra obti<strong>da</strong> nos hospitais de prontoatendimento de Porto Alegre, HPS e HCR, o segundo blocode questões nas entrevistas telefônicas permitiu conhecerque 56% <strong>da</strong>s vítimas atendi<strong>da</strong>s declararam ser solteiras, 32%casa<strong>da</strong>s e o restante sendo pessoas viúvas, separa<strong>da</strong>s ou divorcia<strong>da</strong>s.Entretanto, 52% <strong>da</strong>s vítimas possuíam algum dependente.Estas informações são relevantes tendo em contaque além do sofrimento causado pelo acidente, existe maiorprobabili<strong>da</strong>de de familiares e dependentes serem prejudicadosdiante do risco de morte ou per<strong>da</strong> de ren<strong>da</strong> e empregopor parte <strong>da</strong> vítima, sendo que 84% afirmaram realizar ativi<strong>da</strong>desremunera<strong>da</strong>s antes do acidente de trânsito. Destestrabalhadores, 7% perderam o emprego e 28% passaram areceber menor ren<strong>da</strong> após o acidente de trânsito (Figura 8a).Figura 8a – Proporção de vítimas que perderam ren<strong>da</strong> depois do acidentede trânsitoDas pessoas que foram prejudica<strong>da</strong>s pela redução <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>depois do acidente, mais <strong>da</strong> metade (51%) perdeu 100%<strong>da</strong> sua ren<strong>da</strong> (Figura 8b). Esta condição representa um prejuízoain<strong>da</strong> maior para as vítimas e seus familiares tendo emconta que depois do acidente estas pessoas devem cobriras despesas com medicamentos, muletas, cadeira de ro<strong>da</strong>s,outros tratamentos médicos ou também, em alguns casos,cobrir gastos por <strong>da</strong>nos a veículos próprios ou de terceiros.Das vítimas entrevista<strong>da</strong>s, 11,2% indicaram ter profissão“motoboy”, 5,7% indicaram ser motorista profissional (de taxi,caminhão ou outro veículo), o que sugere que além do grandepercentual de vítimas serem motociclistas, estes atuam de formaprofissional e acabam por se expor muito mais a acidentesque outros motoristas. Inclusive, a especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> profissão,que exige veloci<strong>da</strong>de e agili<strong>da</strong>de na entrega, contribui a que osprofissionais tenham comportamento de risco.Das vítimas de acidentes de trânsito envolvendo algumveículo, 77% indicaram que houve <strong>da</strong>nos a esses veículos,que por sua vez, em 71% dos casos eram próprios (Figura9a). To<strong>da</strong>via, mostra-se que na maioria dos acidentes (73%),o veículo no qual se encontrava a vítima não possuía seguro(Figura 9b). Deste modo, além dos outros gastos em saúdemencionados e <strong>da</strong> possível redução <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>, as vítimas tiveramque assumir as despesas gera<strong>da</strong>s por <strong>da</strong>nos a veículos.Figura 9a – Veículo em que a vítima estava sofreu <strong>da</strong>noFigura 8b – Proporção de vítimas que perderam ren<strong>da</strong> por porcentagemde per<strong>da</strong>Figura 9b – Proporção de vítimas que indicaram que este veículo possuíaseguro106


Sousa e cols.Custos dos acidentes de trânsito com vítimas associados ao uso de álcool em Porto AlegreSeção B – Capítulo XIVCustos dos Acidentes de TrânsitoDas 563 pessoas que autorizaram participar do estudo decustos, 10,9% foram vítimas que tiveram internação hospitalar,o qual representa um sinal de gravi<strong>da</strong>de do acidente detrânsito. Em média, estes pacientes estiveram 9,3 dias hospitalizados,sendo o custo médio pelo atendimento dentro dohospital de R$987,23, faturado pelo SUS, que correspondeao cenário conservador. No entanto, quando se consideramsó as pessoas que tiveram acidentes no perímetro urbanode Porto Alegre, este valor se reduz a R$466,93 (internadosem média 4,3 dias). Entretanto, para as vítimas interna<strong>da</strong>sque tiveram acidentes em outras ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong> área metropolitana,mas que foram levados para o HPS ou HCR, este valoraumenta para R$1.997,68. Percebe-se desta forma que osacidentes mais graves e, portanto, que incidem em maiorescustos médico-hospitalares, são aqueles que ocorreram fora<strong>da</strong> área urbana de Porto Alegre.Os resultados apresentados na Figura 11 mostram que asvítimas entrevista<strong>da</strong>s perderam em média 26 dias de trabalhopor causa do acidente de trânsito, sendo ain<strong>da</strong> mais diasnos casos <strong>da</strong>s internações (57 dias). Poder-se-ia esperar queos casos com atendimento ambulatorial no dia do acidentetivessem uma mínima per<strong>da</strong> de dias de trabalho por seremaparentemente menos graves; no entanto, observa-se queestes perderam em média 21 dias. Tendo em conta a situação<strong>da</strong> vítima no acidente, os pedestres foram os mais prejudicadostanto <strong>da</strong>queles que foram hospitalizados (60 diasperdidos) quanto dos que tiveram atendimento ambulatorial(27 dias). Do mesmo modo, maiores per<strong>da</strong>s de dias de trabalhoforam em casos de acidentes envolvendo motociclistase que tiveram hospitalização (61 dias).Figura 11 – Dias de trabalho perdidos de vítima de acidentes de trânsito,por situação no hospital, no acidente e por veículo.Os custos médicos gerados tanto do atendimento ambulatorialquanto por hospitalização aumentam ain<strong>da</strong> maisquando se consideram aqueles gerados após a alta do hospital,relacionados a novas revisões médicas e cirurgias, comprade medicamentos e tratamentos posteriores de fisioterapia,entre outros. Desta forma, na Figura 10 são apresentadosos valores médios dos custos médicos totais, incluindo-se oscustos gerados nos hospitais de atendimento inicial, os custosmédicos posteriores e gastos com locomoção para teratendimento de saúde, além de outros gastos médicos comocadeiras de ro<strong>da</strong> e muletas.Os maiores custos médicos por situação <strong>da</strong> vítima, emtodos os cenários de faturamento, foram em pedestres; porém,quando se trata de vítimas interna<strong>da</strong>s são maiores entreos condutores. Por tipo de veículo, os custos são mais elevadosem casos de motociclistas, que representam 63,9% <strong>da</strong>svítimas interna<strong>da</strong>s e com um custo médio por hospitalizaçãode R$1.911,27 (preços do SUS).Ain<strong>da</strong> que os custos médicos sejam relevantes e possamrepresentar uma eleva<strong>da</strong> proporção do custo total causadopor acidentes de trânsito, existem maiores prejuízos geradosposteriormente devido ao afastamento do trabalho por parte<strong>da</strong> vítima, per<strong>da</strong> de ren<strong>da</strong> para consertar <strong>da</strong>nos a terceiros,transtornos para familiares considerando a assistência noperíodo de reabilitação, além de prejuízos a pessoas dependentesfinanceiramente <strong>da</strong>s vítimas. Todos estes custos foramestimados a partir <strong>da</strong>s entrevistas via contato telefônico,sendo possível ampliar o perfil <strong>da</strong>s vítimas e inferir os custosassociados ao acidente de trânsito após a saí<strong>da</strong> do hospital.Nota: Valores médios calculados com as vítimas entrevista<strong>da</strong>s por telefone.Em geral, notou-se que os motociclistas foram as vítimasde acidentes de trânsito mais graves, nos quais foi necessáriainternação hospitalar, e ao mesmo tempo, foram os que gerarammaiores custos por per<strong>da</strong> de dias de trabalho, sendoem média por vítima R$3.296,25, superior à média geral porinternação (R$2.553,09).Custos Totais para a Socie<strong>da</strong>deNa ci<strong>da</strong>de de Porto Alegre, os acidentes de trânsito causaramum custo social total de R$66.445.528,63 no ano de2008 (a preços de 2008), segundo o cenário mais conservadorde custos médicos SUS (Tabela 2). Desse custo total, amaior proporção corresponde aos custos indiretos (76,2%),devido à per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de por morte prematura <strong>da</strong>s vítimase inabili<strong>da</strong>de por morbi<strong>da</strong>de. Por outro lado, os custosdiretos responderam por 23,8% do custo total, distribuídosentre os custos médicos (6,5%) e os custos de outros setorescomo o serviço de guinchos para a remoção de veículos, <strong>da</strong>nosa proprie<strong>da</strong>de e custos de resgate (17,2%).Ao considerar os custos totais no cenário CBHPM, que representaos custos mais próximos a valores de mercado, notamosque estes são superiores em uma proporção de 8,2%aos estimados via faturamento SUS. Isto se deve ao maiorpeso e detalhamento que a CBHPM permite na mensuração107


Seção B – Capítulo XIVFigura 10 – Custos Médicos Totais em três cenários de faturamento, por situação no hospital, no acidente e por veículo (Reais)Nota: Valores médios em reais de 2008.dos custos médico-hospitalares, os quais representam 13,7%do custo total nesse cenário, uma proporção duas vezes superiorao percentual do mesmo item de custo no cenário SUS.Por outro lado, os custos de acidentes de trânsito associadosao abuso de álcool foram estimados tendo em conta orisco atribuído à população (PAR), para o qual, considerou-seum risco relativo igual a 4,9 (Petridou, Trichopoulos et al.,1998), uma prevalência de alcoolemia de vítima não fataisde 7,7% e para vítimas fatais igual a 36,7%. Desta forma,o custo de acidentes de trânsito que pode ser atribuível aoconsumo de álcool é de R$31.443.367,91 (Tabela 3).Como se observa na Tabela 3, o custo de acidentes porabuso de álcool corresponde a quase a metade do custo totalglobal, tendo uma proporção de 47,3%. Nota-se que os custossão maiores ao considerar a per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de pormorte <strong>da</strong>s vítimas, que representam 39,9% do custo total.Isto se deve à maior prevalência de álcool dentre as vítimasfatais. Desta forma, percebe-se que o abuso do álcool podeocasionar acidentes mais graves, por levar a fatali<strong>da</strong>des, eque, por sua vez, podem gerar custos muito mais elevadosdesde uma perspectiva <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.ConclusõesAs estimativas indicam que existe um elevado custo parasocie<strong>da</strong>de gerado por acidentes de trânsito; porém, quase ametade dos acidentes ocorridos são atribuídos ao consumode álcool, o qual significa que os custos poderiam ser reduzidosnessa proporção se retirassemos o fator de exposição“álcool”. Desta forma, os resultados são relevantes como referênciaspara a definição de políticas públicas com alvo naredução de acidentes de trânsito e consumo de álcool.Por outro lado, uma <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong> na coletade <strong>da</strong>dos secundários foi a falta de preenchimento dealgumas informações nos documento consultados, portanto,parte <strong>da</strong> contribuição pontual deste trabalho diz respeito ànecessi<strong>da</strong>de de conscientização dos diferentes órgãos públicose dos funcionários para estabelecer o hábito de investigar,in<strong>da</strong>gar e preencher algumas informações úteis parapesquisas de diferente tipo, como é o caso <strong>da</strong> variável educação,por exemplo, que é utiliza<strong>da</strong> para estimar rendimentosdos indivíduos.108


Sousa e cols.Custos dos acidentes de trânsito com vítimas associados ao uso de álcool em Porto AlegreSeção B – Capítulo XIVTabela 2 – Resumo de Custos Totais de Acidentes de Trânsito (Reais 2008)CustosNúmero deUni<strong>da</strong>desCusto TotalSUS%Custo TotalAMB%Custo TotalCBHPM%CUSTO TOTAL 66.445.528,63 100 69.981.223,87 100 71.925.254,17 100Custos Diretos 15.796.021,35 23,8 19.331.716,60 27,6 21.275.746,90 29,6Custos Médicos 4.349.042,90 6,5 7.884.738,14 11,3 9.828.768,44 13,7Ambulatoriais* 5.821 306.978,76 0,5 1.215.051,52 1,7 1.619.700,05 2,3Hospitalizações* 717 334.956,90 0,5 1.251.269,53 1,8 1.722.682,65 2,4Médicos (pós-emerg)* 6.531 1.368.642,99 2,1 3.079.952,86 4,4 4.147.921,50 5,8Custo de Resgate - SAMU 6.664 2.338.464,24 3,5 2.338.464,24 3,3 2.338.464,24 3,3Custos Não Médicos 11.446.978,46 17,2 11.446.978,46 16,4 11.446.978,46 15,9Locomoção 6.531 429.329,53 0,6 429.329,53 0,6 429.329,53 0,6Custo de Resgate - EPC 6.664 404.238,24 0,6 404.238,24 0,6 404.238,24 0,6Danos a Proprie<strong>da</strong>de 2.155 2.112.896,90 3,2 2.112.896,90 3,0 2.112.896,90 2,9Remoção e depósito veículos 6.901 8.500.513,78 12,8 8.500.513,78 12,1 8.500.513,78 11,8Custos Indiretos 50.649.507,27 76,2 50.649.507,27 72,4 50.649.507,27 70,4Devido a Morbi<strong>da</strong>deDias perdidos de trabalho 33 .932 5.649.240,77 8,5 5.649.240,77 8,1 5.649.240,77 7,9Devido a Mortali<strong>da</strong>deMortes 1555881 anos de vi<strong>da</strong>45.000.266,50 67,7 45.000.266,50 64,3 45.000.266,50 62,6Nota: Consideram-se apenas os custos de vítimas maiores de 18 anos, e custo correspondente aos acidentes ocorridos nas vias urbanas de Porto Alegre,e <strong>da</strong>dos de vítimas fatais para 2007. Valores monetários em Reais 2008.Tabela 3 – Resumo de Custos Sociais Totais de Acidentes de Trânsito Atribuíveis ao consumo do álcoolCustosCusto TotalAtribuível ao ÁlcoolSUS%Proporção (%) doCusto Atribuível aoÁlcool Sobre o CustoCUSTO TOTAL 31.443.367,91 100 47,3Custos Diretos 3.647.301,33 11,6 5,5Custos Médicos 1.004.194,01 3,2 1,5Ambulatoriais* 70.881,40 0,2 0,1Hospitalizações* 77.341,55 0,2 0,1Médicos (pós-emerg)* 316.019,67 1,0 0,5Custo de Resgate - SAMU 539.951,39 1,7 0,8Custos Não Médicos 2.643.107,33 8,4 4,0Locomoção 99.132,19 0,3 0,1Custo de Resgate - EPTC 93.338,61 0,3 0,1Danos a Proprie<strong>da</strong>de - veículos 487.867,89 1,6 0,7Remoção e depósito - veículos 1.962.768,63 6,2 3,0Custos Indiretos 27.796.066,58 88,4 41,8Devido a Morbi<strong>da</strong>deDias perdidos de trabalho 1.304.409,69 4,1 2,0Devido a Mortali<strong>da</strong>deMortes 26.491.656,89 84,3 39,9Nota: Consideram-se apenas os custos de vítimas maiores de 18 anos. Valores monetários em Reais 2008.109


Seção B – Capítulo XIVAgradecimentosBolsistas: Alice Lopes de Almei<strong>da</strong> Guedes Diefenbach, BernardoFrederes Krämer Alcalde, Camila <strong>da</strong> Ré, Cristian TheófiloGonçalves Lopes, Daniela Goya Toccheto, Débora GarcezLeal; Dória Migotto Leães, Everton Nunes <strong>da</strong> Silva, GabrielaSoviero Moraes; Juliana Camargo, Lara Mombelli, Maria Apareci<strong>da</strong>de Rodrigues Machado, Nara Barbosa dos Santos, AlfredoMetzger, Ana Paula Metzger, Aline Sponchiado Assoni.Parceiros do projetoPrograma de Pós-Graduação em Economia – PPGE; Facul<strong>da</strong>dede Ciências Econômicas - FCE; Empresa Pública de Transportee Circulação – EPTC; Hospital de Pronto Socorro de PortoAlegre – HPS-PA; Fun<strong>da</strong>ção PRO-HPS; Hospital Cristo Redentor- HCR e Grupo Hospitalar Conceição - GHC; Serviço de AtendimentoMóvel de Urgência - SAMU; Secretaria Municipal deSaúde de Porto Alegre; Departamento Estadual de Trânsito –DETRAN – RS; Departamento Estadual de Polícia Judiciária deTrânsito - DPTRAN.Referências1. AMB. Lista de procedimentos médicos: valores referenciais. AssociaçãoMédica Brasileira, 1999.2. CBHPM. Classificação brasileira hierarquiza<strong>da</strong> de procedimentosmédicos <strong>da</strong> Associação Médica Brasileira. 2008.3. BOUWES, N. The cost of illness handbook. Cambridge, Massachusetts:Office of Pollution Prevention and Toxics (EETD, EPAB),2006. Disponível em:. Acesso em: 01 jul 2007.4. BRASÍNDICE. Guia Farmacêutico. n. 671: ANDREI PublicaçõesMédicas, 2008.5. COOK, P. J.; MOORE, M. J. Alcohol. In: CULYER, A. J.; NEWHOU-SE, J. P. (Ed.). Handbook of Health Economics. North Holland:Elsevier, 2000. Cap.30. p. 1629-1673.6. DRUMMOND, M. F. et al. Methods for the economic evaluationof health care programmes. 3rd. ed. Oxford: Oxford UniversityPress, 2005. (Oxford medical publications).7. IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD2006. 2007.8. PEDEN, M. et al. World report on road traffic injury prevention.World Health Organization, 2004.9. PETRIDOU, E. et al. Relative and population attributable risk oftraffic injuries in relation to blood-alcohol levels in a Mediterraneancountry. Alcohol & Alcoholism [S.I.], v. 33, n. 5, p. 502-508,1998.10. RASCATI, K. L. Introdução à farmacoeconomia. Tradução deCRISTINA BAZÁN, R. L. S., CHRISTIANE DE BRITO ANDREI. PortoAlegre: Artmed, 2010.11. SAÚDE, M. D. Diretrizes Metodológicas para Estudos de AvaliaçãoEconômica de Tecnologias para o Ministério <strong>da</strong> Saúde. Ministério<strong>da</strong> Saúde. Brasília. 200712. TSUANG, M. T.; TOHEN, M. Textbook in psychiatric epidemiology.Hoboken, New Jersey: John Wiley & Sons, Inc., 2002.13. ZADOR, P. L. et al. Relative risk of fatal and crash involvement byBAC, age and gender. washington - DC: National Highway TrafficSafety Administration, 2000.110


Sousa e cols.Custos dos acidentes de trânsito com vítimas associados ao uso de álcool em Porto AlegreSeção B – Capítulo XIV111


Seção B – Capítulo XVValorando os benefícios <strong>da</strong> redução do risco de lesões e mortes poracidentes de trânsito causa<strong>da</strong>s pelo consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas emPorto AlegreTanara Rosângela Vieira Sousa, Sabino <strong>da</strong> Silva Porto JuniorExistem pelo menos três diferentes enfoques para as avaliaçõeseconômicas em saúde: o chamado método do capitalhumano, o método de preferências revela<strong>da</strong>s 1 e o métodode valoração contingente. No método do capital humano,os programas de cui<strong>da</strong>dos de saúde são considerados comoinvestimento em capital humano <strong>da</strong>s pessoas, quantificandoseo valor econômico em termos <strong>da</strong> qualificação (neste caso,melhora do status de saúde) dos indivíduos e aumentos naprodução 2 .Os estudos de valoração contingente ou de “disposição apagar” - DAP (willingness to pay) apresentam, aos respondentesou entrevistados, cenários hipotéticos sobre o programaou problema sob avaliação, convi<strong>da</strong>ndo-os a pensar sobrea eventuali<strong>da</strong>de de existir um mercado para tal programaou benefício à saúde e, dessa forma, induzindo-os a revelar omáximo que estariam dispostos a pagar por esse bem (Drummond,Sculpher et al., 2005).A DAP é, portanto, uma medi<strong>da</strong> de valor basea<strong>da</strong> na premissaque o valor de um bem é simplesmente o que ele valepara quem o consome e a percepção subjetiva do benefícioextraído dele. Assim, a quantia que um indivíduo está dispostoa pagar para não ficar sem acesso a um determinadobem particular pode ser maior, menor ou igual ao custo destebem, e variará de um indivíduo para outro, além de poderdeclinar em função de quanto deste bem o indivíduo já dispõe.Esta metodologia geralmente é utiliza<strong>da</strong> para bens emque não há um mercado definido, assumindo-se, contudo,que, mesmo teoricamente, estes bens poderiam ser avaliadosexatamente como os que são comercializados no mercado3 . (Krupnick, 2002; Alberini, Cropper et al., 2004; Alberini,2005)Além disso, muitos destes bens, para os quais não existeum mercado explicito, são considerados bens públicos – benscujos benefícios são aproveitados simultaneamente por muitaspessoas ao mesmo tempo, como por exemplo, a reduçãodo risco de um efeito adverso à saúde decorrente de exposiçãoa determina<strong>da</strong> doença. Segundo essa visão alternativa,o valor <strong>da</strong> redução do risco à saúde é definido como a soma<strong>da</strong>s DAP de todos os indivíduos (Krupnick, 2002).Portanto, além de permitir que os indivíduos revelem oquanto estariam dispostos a pagar para a redução do riscopara eles mesmos, a metodologia de valoração contingentepermite revelar a DAP para redução do risco de outras pessoasou na socie<strong>da</strong>de, permitindo assim a identicação de umcomponente altruísta, principalmente no caso de doençassérias ou em situações de risco de incapacitação ou morte.A DAP pela redução no risco pressupõe que os indivíduosusam sua percepção subjetiva do risco para determinála;portanto no estudo aqui desenvolvido os indivíduos sãoquestionados a respeito <strong>da</strong> sua percepção do risco associadoà combinação de trânsito e uso de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas. O conceitode ‘risco’ é muito importante em estudos de comportamento,tanto relacionados à saúde quanto a qualquer outraárea de ativi<strong>da</strong>de econômica, pois escolhas sob incerteza sãoparte do cotidiano dos indivíduos. Além disso, os indivíduostêm diferentes ‘percepções’ e ‘preferências’ por risco, o queexplica, em parte, a diversi<strong>da</strong>de de escolhas possíveis, mesmonum ambiente sob incerteza.Entende-se que se a percepção de risco pelos indivíduosconsiga refletir os riscos reais, na ausência de efeitos externos,seria possível, então, obter-se resultados ótimos – sobo ponto de vista <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. No entanto, a percepção derisco pelos indivíduos pode ser desenvolvi<strong>da</strong> de forma erra<strong>da</strong>,o que levaria a vieses sistemáticos, podendo, por exemplo,superestimar eventos de pequena magnitude ou o contrário.Utilizando-se a perspectiva do bem-estar, é possível diminuiressas deficiências na percepção de risco através do fornecimento<strong>da</strong>s informações sobre os riscos reais a que são expostosos indivíduos, incentivando-os assim a tomar decisõesque reflitam a quanti<strong>da</strong>de de informação recebi<strong>da</strong> (Viscusi,1990; 1991; Viscusi e Hersch, 2001; Lundborg e Lindgren,2002; Lundborg e Andersson, 2008).1Os estudos que utilizam o método de preferências revela<strong>da</strong>s examinam a relação entre o risco à saúde, em função de possíveis acidentes de trabalho,e os salários que os indivíduos exigem para aceitá-lo: que é baseado nas preferências individuais e nas escolhas do consumo presente (Drummondet al 2005).2<strong>Ver</strong> capítulo XIV para maiores detalhes deste método.3No casos do mercado de bens a comparação entre o preço e a DAP determina se o bem é comprado ou não: se o preço for menor que a DAP, o indivíduo irá comprá-lo recebendo o ‘excedente do consumidor’; se o preço for igual, o consumidor irá consumi-lo igualmente; mas se o preço for maior,este indivíduo não comprará o bem.112


Sousa e cols.Valorando benefícios <strong>da</strong> redução do risco de lesões e mortes por acidentes de trânsito causa<strong>da</strong>s pelo consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicasSeção B – Capítulo XVEsses aspectos do processo de escolha manifestam-senota<strong>da</strong>mente no consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas, pois osindivíduos fazem escolhas de quanti<strong>da</strong>de de consumo debebi<strong>da</strong>s alcoólicas e posteriormente praticam determina<strong>da</strong>sações – que acabam por caracterizar o comportamento derisco, como dirigir, expor-se a relacionamentos que possamresultar em violência, consumir outras substâncias psicoativase exposição às DSTs. As consequências para a socie<strong>da</strong>dedestas ações e/ou decisões acabam implicando em resultadosmuito distantes do ótimo social, pois essas escolhas geramcustos para o indivíduo e para a socie<strong>da</strong>de. Estes custos aparecemna forma de custos diretos, resultados de gastos comtratamento médico, <strong>da</strong>nos materiais e para outros setores<strong>da</strong> economia; per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de – devido a mortali<strong>da</strong>dee morbi<strong>da</strong>de, além dos custos intangíveis, como a dorprovoca<strong>da</strong> pela morte prematura de um ente querido. Estesúltimos, devido à dificul<strong>da</strong>de de mensuração, são desconsideradosna maioria <strong>da</strong>s avaliações econômicas em saúde.O estudo ora descrito acrescenta informação à análise doimpacto do acesso irrestrito a bebi<strong>da</strong>s alcoólicas no Brasil,pois tem como um dos objetivos investigar a percepção <strong>da</strong>população de Porto Alegre a respeito do risco de sofrer umacidente de trânsito no qual há uma associação de consumode bebi<strong>da</strong>s alcoólicas e comportamentos de risco no trânsito,possibilitando assim a mensuração e a estimação <strong>da</strong> disposiçãoa pagar por redução do risco de sofrer lesões por acidentesde trânsito. Um subproduto factível desses resultadosé a obtenção preliminar dos prováveis custos intangíveis dosacidentes de trânsito.MétodoCom o objetivo de mensurar a DAP para obter-se umaredução no risco de ocorrência de acidente de trânsito associadoao consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas foi realizado umestudo transversal na ci<strong>da</strong>de de Porto Alegre, com entrevistapresencial estrutura<strong>da</strong> em três blocos, cujas variáveis são descritasna Tabela 1.As questões sobre a percepção de risco foram feitas emdois estágios: I) percepção do risco de sofrer um acidentefatal; II) percepção do risco de sofrer um acidente após oconsumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas. As questões foram feitas aosrespondentes como segue:• Ia) apresentou-se o risco objetivo de morrer em um acidentede trânsito na ci<strong>da</strong>de de Porto Alegre – 11 em100.000 4 – e solicitou-se que o entrevistado revelassese considerava ter um risco maior, menor ou igual (riscorelativo);• Ib) com a informação anterior, e a apresentação de umcartão com seis faixas 5 , solicitou-se que o respondenterevelasse também qual faixa de risco considerava comosendo a sua (risco absoluto) (questões basea<strong>da</strong>s nos estudosde Kidholm, 1995; Persson, Norinder et al., 1995);Tabela 1: Estrutura <strong>da</strong> entrevista e variáveis de interesseI - Características IndividuaisSexo, i<strong>da</strong>de, bairro de residência, cor, estado civil, relação familiar, escolari<strong>da</strong>de, situação ocupacional, profissão,ren<strong>da</strong> familiar e religião.II - Experiência PessoalComportamento no TrânsitoTempo no trânsito, veículo utilizado diariamente, condução por tipo de veículo, uso de carona e frequência, uso decinto de segurança e capacete, habilitação para dirigir.Experiência com Acidentes de TrânsitoDo entrevistado (situação no acidente e gravi<strong>da</strong>de) e de familiar e/ou pessoa próxima (situação no acidente,gravi<strong>da</strong>de e relação com o acidentado).Consumo de Bebi<strong>da</strong>s AlcoólicasConsumo de bebi<strong>da</strong>s por tipo e frequência, local de consumo e gasto mensal (em reais).Consumo de Bebi<strong>da</strong>s associado ao TrânsitoVolta para casa após consumo, uso de carona de condutor que bebeu e direção após beber.InformaçãoInformação sobre associação de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas a acidentes de trânsito e modo de obtenção, informação sobrelimite máximo permitido por lei para presença de álcool no sangue para condutores.Percepção de RiscoPercepção sobre risco de acidentes fatais e consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas associado a comportamento no trânsito.III - Valoração ContingenteDisposição a pagar por redução do risco de sofrer três tipos de lesões possíveis em um acidente de trânsito.4Baseado em <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) para o ano de 2007. Para <strong>da</strong>r ideia de quanto representa este númeroem termos práticos, foi mostra<strong>da</strong> ao respondente uma grade impressa com 100.000 quadrados de cerca de 1mm² em branco e apenas 11 destes quadradospintados – estratégia utiliza<strong>da</strong> em estudos desta natureza.5As faixas eram: 0 a 5, 6 a 10, 11, 12 a 15, 16 a 20, 21 e +. To<strong>da</strong>s com denominador 100.000, usualmente utilizado na apresentação de riscos em epidemiologia.113


Seção B – Capítulo XV• IIa) apresentou-se, a seguir, numa escala de risco crescentede um a cinco, diversas ações relaciona<strong>da</strong>s aobeber e dirigir, comportamento ao atravessar a rua e tomarcarona de pessoas que haviam bebido, bem comoquestões já bastante inseri<strong>da</strong>s no cotidiano dos usuários<strong>da</strong>s vias: uso de faixa de pedestre, cinto de segurança ecapacete (questões basea<strong>da</strong>s nos estudos de Glik, Kronenfeldet al., 1999; Rosenbloom, Shahar et al., 2008),solicitando-se que fosse atribuído o risco percebido deca<strong>da</strong> ação;• IIb) questionou-se a percepção do risco de acidente detrânsito atribuído ao consumo de álcool com a seguintequestão: “Para ca<strong>da</strong> 100 pessoas que dirigem após beber2 doses de qualquer bebi<strong>da</strong> alcoólica, quantas o(a)sr(a) acha que podem sofrer um acidente de trânsito?” 6O terceiro bloco de questões, nomea<strong>da</strong>mente de valoraçãocontingente, consistiu na apresentação de três cenárioshipotéticos aos entrevistados, descrevendo tanto a doençaquanto os benefícios <strong>da</strong> intervenção e/ou regulação sugeri<strong>da</strong>,além de apresentar um veículo ou modo de pagamento7 . Como um dos objetivos do estudo era obter os custosintangíveis dos acidentes de trânsito, foi solicitado tambémque o respondente desconsiderasse gastos com tratamentosmédico-hospitalares, per<strong>da</strong>s de salário e tempo, e tambémo fato de ter algum tipo de seguro de vi<strong>da</strong> ou do veículo,considerando-se, assim, apenas a dor e sofrimento de umpossível acidente de trânsito.Todos os cenários apresentados descreveram diferentestipos de lesões causa<strong>da</strong>s por um acidente de forma simplifica<strong>da</strong>,mas de uma forma que o indivíduo pudesse perceberas diferenças entre os cenários. Para veículo de pagamentooptou-se por utilizar um bem “privado”, na forma de umdispositivo de segurança (um novo tipo de airbag - que diferentementedo convencionalmente comercializado apenaspara veículos, pudesse ser usado também por pedestres,motociclistas e ciclistas, e que fosse ativado em caso de umacidente, reduzindo as possíveis lesões em diferentes níveis)que não fosse confundido como taxas ou impostos, devido àgrande recusa e protestos a uma suposta “contribuição 8 porocasião <strong>da</strong> realização do estudo piloto 9 .Desta forma, após a explicação dos propósitos gerais doestudo, a primeira questão foi: “O(a) Sr(a) estaria dispostoa pagar por este dispositivo, para reduzir o risco de sofrerlesões em um acidente de trânsito?”. Se a resposta obti<strong>da</strong>fosse positiva 10 era então apresentado aos respondentes oprimeiro cenário hipotético com a seguinte questão: “Suponhaentão, um acidente no qual teria que permanecer hospitalizadopor alguns dias e deixar de fazer suas ativi<strong>da</strong>deshabituais (de trabalho, estudo, etc) por pelo menos 3 meses,sendo necessário continuar a fazer fisioterapia por mais 6meses. Qual a quantia máxima que estaria disposto(a) a pagarpor este dispositivo, para reduzir o risco à metade?”Ain<strong>da</strong> pensando em reduzir o tempo médio de entrevistae o número de questionários não finalizados, quando oentrevistado respondia a questão apresenta<strong>da</strong> no parágrafoanterior, para o segundo cenário era acrescentado mais gravi<strong>da</strong>de:“E se esse dispositivo reduzisse a chance de O(a) Sr(a)sofrer um acidente ain<strong>da</strong> mais grave, como por exemplo, queresultasse em per<strong>da</strong> de movimentos <strong>da</strong>s pernas, quanto estariadisposto(a) a pagar por este dispositivo, para reduzir orisco a um terço?” O terceiro e último cenário confrontava orespondente com a “disposição a pagar” para reduzir a zeroa chance de ter um acidente fatal.Após ca<strong>da</strong> questionamento, foi mostrado um “cartão depagamento” com 26 diferentes valores (obtidos na pesquisapiloto) além <strong>da</strong> opção de qualquer outro valor 11 . O modelode cartões de pagamento é uma <strong>da</strong>s formas de extrair a DAPem um estudo de valoração contingente. Nesta metodologia,as questões podem ser abertas ou fecha<strong>da</strong>s. As questõesabertas possuem a vantagem de se obter a máxima DAP diretamentee têm como seus formatos mais comuns lanceslivres, cartões de pagamento e jogos de leilão. As questõesfecha<strong>da</strong>s, por outro lado, possibilitam que os respondentesapenas digam se desejam ou não pagar um preço único dentreum conjunto de preços predeterminados - mais próximoao que ocorre nos mercados. (Mitchell e Carson, 1989; Rascati,2010).AmostraA amostragem por quotas <strong>da</strong> população de maiores de18 anos, residentes na ci<strong>da</strong>de de Porto Alegre, ocorreu no6Questão construí<strong>da</strong> conforme sugerido na literatura (Viscusi, 1990; 1991; Lundborg e Lindgren, 2002).7O veículo de pagamento é importante, pois esclarece ao respondente o modo como ele faria o pagamento.8Foi efetuado um estudo piloto para adequação <strong>da</strong> metodologia de coleta e <strong>da</strong>s questões, com 92 entrevistas na ci<strong>da</strong>de de Porto Alegres, no períodode 16 a 22 de julho de 2009. 29,4% dos respondentes disseram não estar dispostos a pagar e 40,7% destes declararam não estarem dispostos a pagar,por já pagarem muitos impostos, taxas e contribuições.9O modo de pagamento por este dispositivo também foi estabelecido, de forma que o valor pudesse ser usado como uma medi<strong>da</strong> anual, na forma dealuguel e não na compra (pois a durabili<strong>da</strong>de do mesmo teria que entrar em discussão e dificultaria a maneira de transformar isso em um valor anual).10Caso contrário, era questionado o porquê <strong>da</strong> não disposição a pagar por tal dispositivo.11Esta opção de veículo para lance foi utiliza<strong>da</strong> por aumentar a taxa de resposta por confrontar o respondente com uma ordena<strong>da</strong> sequência de lancesonde ele escolhe sua máxima DAP (Mitchell and Carson 1989, Rascati 2010). Os valores médios obtidos no estudo piloto para a DAP foram: menorgravi<strong>da</strong>de - R$ 381,20 (IC 95%: R$121,31-R$641,08); média gravi<strong>da</strong>de - R$ 583,59 (IC 95%: R$267,89-R$899,29) e maior gravi<strong>da</strong>de - R$1.229,35(IC 95%: R$489,91-R$1968,78).114


Sousa e cols.Valorando benefícios <strong>da</strong> redução do risco de lesões e mortes por acidentes de trânsito causa<strong>da</strong>s pelo consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicasSeção B – Capítulo XVperíodo de 04 de agosto a 22 de setembro de 2009. Paraobter uma amostra que contivesse os indivíduos de todosos estratos <strong>da</strong> população, optou-se por utilizar quotas combase no gênero, faixa etária (18 a 24 anos, 25 a 34 anos,35 a 44 anos, 45 a 59 anos e 60 anos e mais) e na região<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de (16 regiões, conforme Observatório <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de dePorto Alegre e Atlas do desenvolvimento humano <strong>da</strong> regiãometropolitana de Porto Alegre, chama<strong>da</strong>s de “regiões doOrçamento Participativo” 12 ). Obteve-se assim, 128 quotascom a distribuição percentual <strong>da</strong> população estima<strong>da</strong> paraca<strong>da</strong> uma delas. O tamanho <strong>da</strong> amostra foi estimado emN=1067 13 .As entrevistas foram feitas em locais de grande circulaçãode pessoas (como o centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, praças, parques,ruas de grande movimentação), cujo critério de seleção era obairro de residência (para identificação posterior <strong>da</strong> região),sexo e faixa etária. A equipe de coleta contou com 11 entrevistadorestreinados, usando questionários em papel (com oapoio de cartões coloridos para apresentação de informaçõesextras aos respondentes), que foram digitados pelos própriosentrevistadores - para reduzir erros de digitação, em site desenvolvidopara armazenamento de <strong>da</strong>dos. Posteriormente os<strong>da</strong>dos foram tratados nos softwares Excel e SPSS versão 16.ResultadosPerfil Sócio-demográfico <strong>da</strong> AmostraA abor<strong>da</strong>gem dos entrevistadores resultou em uma amostrade 1.132 casos digitados; após limpeza <strong>da</strong> base de <strong>da</strong>dos,1.104 entrevistas haviam sido completa<strong>da</strong>s até pelo menos osegundo bloco de questões. As entrevistas tiveram duraçãomédia de 13:5 minutos.A média de i<strong>da</strong>de dos entrevistados foi 39,9 anos (IC 95%:39,0-40,9) e 45,6% declaram-se solteiros, 39,3% casados ouem união estável, 10,1% divorciados ou separados e 6,1%viúvos. A composição média familiar foi de 3,1 indivíduos (IC95%: 3,04-3,22) e 48,5% declararam ter dependentes.O número de anos de estudo apresentou diferenças temporais14 e de gênero apenas entre os mais jovens, onde asmulheres (na faixa de 18 a 24 anos) possuíam em média7,8% mais anos de estudo que os homens.Quanto à situação ocupacional, 49,4% dos indivíduos declararamestar empregados, 14,8% eram autônomos, 13,4%aposentados, 10,9% estu<strong>da</strong>ntes (na faixa etária de 18 a 24anos, 49% <strong>da</strong>s mulheres declaram ser estu<strong>da</strong>ntes versus35,5% dos homens), e 8,9% desempregados – o que estámuito próximo <strong>da</strong> taxa de desemprego aberta para a RegiãoMetropolitana de Porto Alegre, estima<strong>da</strong> através <strong>da</strong> Pesquisade Emprego e Desemprego (PED) para o mês de agostode 2009 de 8,8% 15 . A ren<strong>da</strong> média mensal familiar foi deR$2.881,98 (IC 95%: 2.703,36-3.060,61).Comportamento no TrânsitoOs porto-alegrenses passam cerca de 12,5% do seu dia notrânsito: o tempo médio de exposição diária – como motorista,passageiro/carona ou pedestre – é de 2:59, sendo que oshomens responderam que passam mais tempo no trânsito –em média 3:23 e as mulheres 2:32. Esta diferença de gêneroaparece na faixa etária de 18 a 24 anos (p= 0,064) e tambémnas faixas acima de 45 anos 16 , pois na faixa de 18 a 24 anose 45 a 59 anos menor percentual de mulheres trabalha forade casa (considerou-se o somatório <strong>da</strong>s que se declararamemprega<strong>da</strong>s ou autônomas).A frequência com que os respondentes dirigem tambémvaria com a faixa etária: nas faixas de 18 a 24 anos e 25 a 34anos, apenas 40,2% e 42,9% dirigem diariamente (Figura 1).Segundo Peden, Scurfield et al. (2004), a falta de frequênciana direção entre os jovens é um dos fatores de risco para acidentesde trânsito, pois estes dirigem menos e muitas vezesum veículo que não conhecem, pois é geralmente emprestadode familiares ou amigos.Independente de costumarem dirigir, 46,6% dos indivíduospossuía habilitação, mas destes apenas 82% dirigiam – enquanto7,5% dos que dizem dirigir comumente não tinhamcarteira de habilitação (entre os homens de 18 a 24 anos estepercentual sobe a 26,7%).Quanto ao uso do cinto de segurança quando condutores(apenas os que costumam dirigir), apenas 1% disseram12Disponível em: http://www.observapoa.palegre.com.br/.13Considera<strong>da</strong> margem de erro de 3%, intervalo de confiança de 95% e população de Porto Alegre de cerca de 1,4 milhões de habitantes - <strong>da</strong>dos doIBGE para o ano de 2009.14Realizado teste de diferença de média de Kruskal Wallis – para distribuição não normal: para faixa etárias p=0,000 e para sexo intra-faixa etáriasp=0,016).15Pesquisa efetua<strong>da</strong> mediante convênio <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção de Economia e Estatística (FEE) com a Fun<strong>da</strong>ção Gaúcha do Trabalho e Ação Social/SistemaNacional de Emprego (FGTAS/Sine-RS), a Fun<strong>da</strong>ção Sistema Estadual de Análise de Dados (Fun<strong>da</strong>ção SEADE-SP) e o Departamento Intersindicalde Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (DIEESE), com metodologia desenvolvi<strong>da</strong> pelas duas últimas.16Realizado teste de diferença de média de Kruskal Wallis – para distribuição não normal: para faixa etárias p=0,005 e para sexo p= 0,000.115


Seção B – Capítulo XVFigura 1 - Frequência com que dirige (%) x faixas etáriasnunca utilizar; dos que disseram utilizar carona sentandono banco <strong>da</strong> frente, apenas 3% disseram nunca utilizá-lo.No entanto, dos que utilizavam carona e sentavam no bancode trás do veículo, apenas 34% reportavam utilizar sempreo cinto de segurança e 43% disseram nunca utilizar. Tal fatoé preocupante, pois a utilização de carona como meio detransporte é feita diariamente ou pelo menos 1 ou 2 vezespor 41,5% dos indivíduos, sendo os jovens os maiores utilizadores.Proporcionalmente, o uso do capacete foi maior noscondutores de motocicletas: 97,7% reportaram sempre utilizá-lo,percentual semelhante no caso dos caronas de motocicleta:95,6. De maneira geral, estes percentuais caracterizamuma alta utilização dos dispositivos de segurança previstosem lei no Brasil, há pelo menos uma déca<strong>da</strong> 17 .Figura 2 - Envolvimento em Acidentes de trânsito – condutores e não condutores x gênero17Lei Nº 9.503 - de 23 de setembro de 1997 que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro.116


Sousa e cols.Valorando benefícios <strong>da</strong> redução do risco de lesões e mortes por acidentes de trânsito causa<strong>da</strong>s pelo consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicasSeção B – Capítulo XVExperiência com Acidentes de TrânsitoA experiência com acidentes de trânsito, tanto pessoalquanto de alguém próximo, faz parte do cotidiano <strong>da</strong> população<strong>da</strong>s grandes ci<strong>da</strong>des: 35,7% dos porto-alegrenses reportaramter sofrido algum acidente de trânsito - com lesõesou não, percentual que cresce entre os condutores. Há diferençasrelevantes também quanto ao gênero: uma proporçãomaior de homens já se envolveu em acidentes de trânsito,o que corrobora a literatura que indica que homens são asmaiores vítimas de acidentes de trânsito; no entanto as diferençassão menores entre os condutores (Figura 2).A média de número de acidentes entre os envolvidos dosexo masculino foi de 1,7 acidentes, versus 1,4 acidentes entreas mulheres (p=0,017), confirmando a evidência anterior.O envolvimento de pessoas próximas (familiares ou amigos)em acidentes de trânsito apareceu em 65,7% <strong>da</strong>s entrevistase destas, 56% tratava-se de familiar de primeiro grau 18 .Quanto à gravi<strong>da</strong>de do acidente, 19,6% reportaram ter tidopelo menos uma pessoa próxima que morreu devido a umacidente de trânsito.Consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas e sua associação àdireção – informação e comportamento de riscoDe acordo com o presente estudo, 58,3% dos residentesem Porto Alegre consomem alguma bebi<strong>da</strong> alcoólica pelomenos uma vez por ano, mas entre homens de até 24 anoseste percentual pode chegar a 75,7%. Entre os mais jovens oconsumo também é frequente (pelo menos uma vez por semana);para 48,9% deles, a bebi<strong>da</strong> usualmente mais consumi<strong>da</strong>é a cerveja, e a média de doses é 6,0 a ca<strong>da</strong> consumo; oque é considerado como “binge drinking” – acima de 5 dosespara os homens e 4 doses para as mulheres por ocasião(Evans, Grant et al., 2007). O consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicasocorre em casa, para 65,3% dos indivíduos que declararamconsumir alguma quanti<strong>da</strong>de e 74,5% revelaram consumirfora, em restaurantes, bares, festas. O resultado deste consumoimpacta o orçamento familiar: os indivíduos reportaramgastar mensalmente, em média R$104,50 (64,3% são gastosfora de casa), o que representa em média 4,4% <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> familiar.Para famílias de ren<strong>da</strong> até um salário mínimo, o gastocom bebi<strong>da</strong>s sobe para 12,3%.A informação de que consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas associadoà direção poderia resultar em um acidente de trânsitoera do conhecimento de 97,1% dos entrevistados, masquanto ao valor máximo de álcool no sangue permitido porlei para dirigir, apenas 30,3% disseram sabê-lo em números;no entanto, 48,8% disse entender que o limite legal nãoultrapassaria 1 dose, e 18,4% 2 doses de alguma bebi<strong>da</strong>alcoólica.Apesar <strong>da</strong> informação <strong>da</strong>s consequências <strong>da</strong> associaçãode consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas com direção poder resultarem acidente, o uso de carona com condutores que já tinhamconsumido qualquer quanti<strong>da</strong>de de bebi<strong>da</strong> alcoólica é usualpara 45,2% dos entrevistados. Além disso, o comportamentoFigura 3 - Comportamento em relação ao beber e dirigir x faixas etárias (%)18A relação com a vítima foi classifica<strong>da</strong> em ‘familiar próximo’ (pais, filhos, avós e cônjuges), ‘familiar outros’, amigo e outras (para outras relações detrabalho, vizinhança, etc).117


Seção B – Capítulo XVde risco varia decrescentemente com a i<strong>da</strong>de: 66,1% dos jovensde 18 a 24 anos disseram utilizar carona nesta condição,enquanto 83,3% dos maiores de 60 anos disseram nuncautilizar.Figura 4 - Percepção do risco de sofrer um acidente fatal em PortoAlegreQuanto ao comportamento de dirigir após ter ingeridobebi<strong>da</strong> alcoólica, 47,4% dos condutores declaram já ter praticadotal ação. As diferenças são percebi<strong>da</strong>s conforme as faixasetárias: entre 25 a 34 anos, parcela significativa admitiuter tido comportamento de risco (Figura 3). Dos condutoresque afirmaram ter conduzido após terem ingerido quanti<strong>da</strong>dede bebi<strong>da</strong> alcoólica que consideram superior ao limitelegal, 13,5% declararam que a sua capaci<strong>da</strong>de e percepçãode dirigir foram reduzi<strong>da</strong>s ‘totalmente’ e 51,6% disseram tersua percepção reduzi<strong>da</strong> parcialmente.Percepção de RiscoA percepção do risco de sofrer um acidente fatal, para44,4% dos porto-alegrenses é igual ao risco objetivo - 11mortes para 100.000 habitantes, em função <strong>da</strong> sua exposiçãoe comportamento no trânsito. 30,6% consideram terrisco maior. Para valores absolutos, 14,4% e 12,7% disseramacreditar ter os risco mínimo e máximo, respectivamente(Figura 4).A percepção de risco relaciona<strong>da</strong> a comportamento notrânsito, através de uma escala crescente de risco de 1 a 5,indica que os residentes de Porto Alegre percebem risco altoa muito alto na maioria <strong>da</strong>s ações relaciona<strong>da</strong>s ao trânsito naci<strong>da</strong>de (Figura 5).A adição do elemento álcool aumenta o risco conforme seobserva na questão dos pedestres atravessarem a rua fora <strong>da</strong>faixa de segurança sóbrios ou após terem consumido 2 dosesde qualquer bebi<strong>da</strong> alcoólica. A percepção de risco maior emduas ações, previstas em lei e já incorpora<strong>da</strong> ao cotidianodos usuários <strong>da</strong>s vias 19 , como o uso do cinto de segurança ecapacete, quando comparado ao conduzir após ingerir pelomenos 2 doses de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas (Figura 5), pode sugerirque é necessário um período de a<strong>da</strong>ptação e fiscalização atéque o cumprimento <strong>da</strong> lei se torne efetivo. Além disso, osindivíduos que não bebem têm percepção de risco maior emto<strong>da</strong>s as ações.O indicador <strong>da</strong> percepção do risco associado a dirigir apóso consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas obtido através <strong>da</strong> questãodireta sugere que se espera que 32,4% <strong>da</strong>s pessoas que dirigemapós beber 2 doses de qualquer bebi<strong>da</strong> alcoólica possamFigura 5 - Escala de riscos para ações envolvendo ou não consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas19<strong>Ver</strong> seção sobre comportamento no trânsito.118


Sousa e cols.Valorando benefícios <strong>da</strong> redução do risco de lesões e mortes por acidentes de trânsito causa<strong>da</strong>s pelo consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicasSeção B – Capítulo XVsofrer um acidente de trânsito. Este indicador sugere ser umaboa referência <strong>da</strong>s diferenças na percepção do risco: mulheresapresentam percepção de maior risco (p=0,00) 20 , assimcomo os mais velhos (p=0,023), não condutores (p=0,001),indivíduos que não bebem (p=0,000), ou já tiveram algumfamiliar próximo morto em acidente de trânsito (p=0,000),apesar de não haver diferença se o indivíduo já sofreuacidente ou não.Disposição a Pagar pela redução do Risco de sofrerlesões em Acidentes de TrânsitoApós serem confrontados sobre a percepção do risco desofrer um acidente de trânsito e <strong>da</strong> associação do consumode álcool com comportamentos de risco, os entrevistados foramconvi<strong>da</strong>dos a revelar sua disposição a pagar pela reduçãodeste risco.Dos indivíduos que finalizaram a entrevista, 76,1% disseramestar “dispostos a pagar” pelo dispositivo de segurançapara redução do risco de lesões em caso de um acidente detrânsito. Entre os que não estavam dispostos a pagar, 22,8%disseram ser por não acreditarem ter risco de envolvimentoem um acidente, 25,8% por não quererem pagar mais na<strong>da</strong>pois já pagam impostos, e 20,8% não acham possível reduzirtal risco. A não disposição a pagar é maior entre os homens(p=0,058), e nas faixas a partir de 45 anos (p=0,000), o queno caso destes últimos é justifica<strong>da</strong> devido a menor expectativade vi<strong>da</strong> e no caso dos primeiros pela menor percepçãodo risco de acidentes, tanto em relação a morte por acidentede trânsito (p=0,039) e ao risco de acidente relacionado aacidentes de trânsito (p=0,056).A DAP apresentou-se crescente com a gravi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s lesõese há diferença nos valores médios, significativa estatisticamente,entre as faixas etárias: os indivíduos entre 35 e 44anos estão dispostos a pagar mais nos dois primeiros cenários.A diferença é significativa estatisticamente entre condutorese não condutores, mas não entre os que costumam ounão consumir bebi<strong>da</strong>s alcoólicas, além de não haver diferençade gênero (Tabela 2).Além dos valores que estariam dispostos a pagar pelo aluguelanual de um dispositivo para si mesmo, foi questionadose estariam dispostos a pagar também para familiares, amigose desconhecidos. Apenas 5,1% não estariam dispostosa pagar na<strong>da</strong> para um familiar, 25,2% para amigos e 53,8%para desconhecidos, o que mostra um componente altruístana população (Figura 6, na página seguinte).ConclusãoEste estudo teve como objetivos investigar a percepção <strong>da</strong>população de Porto Alegre a respeito do risco de sofrer umacidente de trânsito e a associação de consumo de bebi<strong>da</strong>salcoólicas e comportamentos de risco no trânsito, possibilitandoassim, mensurar a disposição a pagar por redução dorisco de sofrer lesões por acidentes de trânsito.Os resultados encontrados trazem evidências de que a populaçãopercebe o próprio risco de morte por acidente detrânsito, em sua maioria, igual ao risco objetivo de 11 mortespor 100.000, e 30% percebem ter risco maior, sugerindo sensaçãode insegurança no trânsito. O risco de envolvimentoem um acidente de trânsito, associado ao consumo de álcool,é percebido ser alto ou muito alto, principalmente quantoaos pedestres e motociclistas, o que é coerente uma vezque estes estão entre os usuários vulneráveis <strong>da</strong>s vias (Peden,Scurfield et al., 2004). No entanto, maior percentual de pessoasconsidera tomar carona de um condutor que consumiubebi<strong>da</strong>s alcoólicas um alto risco, versus “dirigir sob o efeitode bebi<strong>da</strong>s alcoólicas”. Este resultado sugere que apesar dosindivíduos perceberem alto risco na associação entre álcool etrânsito, têm menor percepção de que o condutor seja responsável.Quanto à disposição a pagar por redução nos riscos de lesõespor acidente de trânsito, 76% dos entrevistados se disseramdispostos a pagar por um mecanismo de mitigação destesriscos. Os valores médios <strong>da</strong> DAP indicam dependência <strong>da</strong>i<strong>da</strong>de – os idosos são os menos dispostos a pagar e pagammenos – e do fato dos indivíduos serem ou não condutores.Mas não há diferenças entre as médias <strong>da</strong> DAP em relação aoTabela 2: DAP por redução no risco de lesões por acidentes de trânsitoFaixa Etária (anos)Costuma DirigirTodos 18 a 24anos25 a 34anos35 a 44anos45 a 59anos60 anose +p=* Não Sim p=*Cenário 1 (lesões médias)944.4(98.04)1046.3(135.7)1271.3(310.4)695.7(85.03)799.8(140.2)791.6(305.9)0.0072712.7(73.57)1263.0(208.7)0.0001Cenário 2 (lesões graves)2347.3(223.5)2779.1(293.6)2266.5(526.0)2337.2(487.8)2531.2(587.7)1517.7(300.3)0.00151798.7(149.7)3101.8(486.8)0.0001Cenário 3 (óbito)11619.5(1032.9)16605.5(2809.3)9371.7(1895.1)9870.8(2102.9)12826.2(2244.6)9114.2(2511.4)0.00159909.6(1227.1)13971.2(1775.1)0.0001Nota: Valores médios em R$, e entre parênteses o desvio padrão. Teste de diferença de média de Kruskal Wallis.20Teste de diferença de médias para variáveis com distribuição não normal: Teste de Kruskal-Wallis.119


Seção B – Capítulo XVFigura 6 - Disposição a pagar para redução de lesões de outras pessoas (%)gênero – apesar dos homens passarem mais tempo no trânsito,serem a maioria dos condutores e beberem mais que asmulheres.A participação <strong>da</strong> população neste tipo de estudo, tantoquanto a adesão à coleta quando exposto o tema quanto àbaixa taxa de não disposição a pagar por redução nos riscosassociados a acidentes de trânsito, além <strong>da</strong> percepção dealto risco em ações ligando consumo de álcool ao comportamentono trânsito, sugerem que os acidentes de trânsitotêm alto impacto para a socie<strong>da</strong>de, principalmente quandorelacionados a um fator de risco como o álcool, que poderiaser facilmente moderado.AgradecimentosAgradecemos ao Prof. Dr. João António Catita Garcia Pereira(ENSP-UNL – Portugal), pela valiosa orientação na construçãodeste estudo, e aos coletadores de <strong>da</strong>dos que contribuíramsignificativamente para que estes resultados fossemobtidos: Alice Diefenbach, Bernardo Alcalde, Cristian Lopes,Débora Leal, Dória Leães, Jorge Aragón, Lara Mombelli, LucasRosca, Maria Machado, Otávio Ben, Tanise Brandão.120


ReferênciasSousa e cols.Valorando benefícios <strong>da</strong> redução do risco de lesões e mortes por acidentes de trânsito causa<strong>da</strong>s pelo consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicasSeção B – Capítulo XV1. ALBERINI, A. What is a life worth? Robustness of VSL values fromcontingent valuation surveys. Risk Analysis [S.I.], v. 25, n. 4, p.783-800, Aug 2005.2. ALBERINI, A. et al. Willingness to Pay for Mortality Risk Reductions:Does Latency Matter? v. 532004.3. DRUMMOND, M. F. et al. Methods for the economic evaluationof health care programmes. 3rd. ed. Oxford: Oxford UniversityPress, 2005. (Oxford medical publications).4. GLIK, D. C. et al. Comparison of traffic accident and chronic diseaserisk perception. American Journal of Health Behaviour [S.I.],v. 23, n. 3, p. 198-209, 1999.5. KIDHOLM, K. Assessing the Value of Traffic Safety Using the ContingentValuation Technique: The Danish Survey. In: SCHWABCHRISTE, N. G.; SOGUEL, N. C. (Ed.). Contingent Valuation,Transport Safety and the Value of Life, 1995. Cap.3. p. 48-62.(Studies in Risk and Uncertainty).6. KRUPNICK, A. The value of reducing risk of death: a policy perspective.J Policy Anal Manage [S.I.], v. 21, n. 2, p. 275-82, 2002.7. LUNDBORG, P.; ANDERSSON, H. Gender, risk perceptions, andsmoking behavior. Journal of Health Economics [S.I.], v. 27, p.1299–1311, 2008.8. LUDBORG, P.; LINDGREN, B. Risk perceptions and alcohol consumptionamong young people. Journal of Risk and Uncertainty[S.I.], v. 25, n. 2, p. 165–183, 2002.9. MITCHELL, R. C.; CARSON, R. T. Using surveys to value publicgoods : the contingent valuation method. Washington,D.C.[Baltimore]: Resources for the Future ;Distributed worldwideby the Johns Hopkins University Press, 1989.10. PEDEN, M. et al. World report on road traffic injury prevention.World Health Organization, 2004.11. PERSSON, U. et al. Valuing the Benefits of Reducing the Risk ofNon-fatal Road Injuries: The Swedish Experience. In: SCHWABCHRISTE, N. G.; SOGUEL, N. C. (Ed.). Contingent Valuation,Transport Safety and the Value of Life, 1995. Cap.4. p. 63-84.(Studies in Risk and Uncertainty).12. RASCATI, K. L. Introdução à farmacoeconomia. Tradução deCRISTINA BAZÁN, R. L. S., CHRISTIANE DE BRITO ANDREI. PortoAlegre: Artmed, 2010.13. ROSENBLOOM, T. et al. Risk perception of driving as a functionof advanced training aimed at recognizing and handling risks indemanding driving situations. Accident Analysis and Prevention[S.I.], v. 40, p. 697–703, 2008.14. VISCUSI, W. K. Do Smokers Underestimate Risks? Journal of PoliticalEconomy [S.I.], v. 98, n. 6, p. 1253-1269, 1990.15. ______. Age Variations in Risk Perceptions and Smoking Decisions.Review of Economics and Statistics [S.I.], v. 73, n. 4, p.577-588, 1991.16. VISCUSI, W. K.; HERSCH, J. Cigarette Smokers as Job Risk Takers.Review of Economics and Statistics [S.I.], v. 83, n. 2, p. 269-280,2001.121


ColetadoresAlessandra CamposAlexandra BorbaAlexandre BussAlexandre Lange AgraAlfredo MetzgerAlice Ubatuba de FariaAline AssoniAline MatterAna Carolina <strong>da</strong> Silva CarvalhoAna Paula Schmidt MetzgerAna Solange AmaralBárbara Ponzi HolmerBernardo Frederes Kramer AlcaldeBetina de Albuquerque NeutzlingBruna Velasco VelazquezBruno Evaldt RechCamila Da RéCamila Ferreira de BitencourtCaroline Machado MelloCatiele AntunesDaniel Fernando Paludo FuchsDaniela de Souza FerreiraDanielle MilanezDébora Garcez LealDébora PiresDeise SchroeterDória Migotto LeãesEdna BuenoEva Joseane FontanaFabíola Cubas de PaulaFausto Nunes SteckelFernan<strong>da</strong> Cubas de PaulaFernando AurélioGiovanna NegrettoGiuliana MarquesGraciela Gema PasaGraziela PintoGrégori Fernando BertagnolliJaqueline PinheiroJoseane MüllerJuliana CamargoKelly BuenoLara MombelliLucas Campos de AraújoLuciana Rott MonaiarLysa Silveira RemyMadson Ralide Fonseca GomesManoel Bernardo dos SantosMarcela Andressa RonchettiMárcia Izabel Rodzinski PettenonMárcio PereiraMariana BroloMariana ConsoniMariana PhilippsenMarina OttoMelissa Reis BorgesNara Barbosa dos SantosNolar BobadillaPaola ConteRodrigo Freitas FeidenSinara dos Santos e SilvaSuellen FragaTatiana StockThairis CastroTiago BreitenbachVagner Menegotto Comin


ColaboradoresOs autores agradecem aos Policiais Federais Abdon, Leandro, Antônio Jorge, Roberto,Marcelo, Mendes, Flávio, Agostinho, Haroldo, Vala<strong>da</strong>res, Tamura, Jaqueline, Pimentel,Ferri, Leandro, Mauro, Marcelo, Mingozzi, Osmar, Volmir, Sérgio, Nicolas, Ferraz, Luiz Edmar,Daniel, Silvério, Carrijo, Ramos, Geison, Sérgio, Nonato, Elverth, Benevides, Rosivaldo, PauloCesar, Goz, Mônica, Massardi, Gilson, Emanuel, Thiago, Assis, Deusimar, Márcio, A<strong>da</strong>lberto,Vladmir, Laécio, Clóvis, Jaedson, Fernando e Carlos Henrique.Aos Policiais Rodoviários Federais Faby, Petrônio, Márcio, Vigílio, Bruno, Klebson, Andrade,Fernando, Arthur, Vitor, Márcio, Lima, Fabiano, Nyland, Giane, Lawisch, Chaplin, Tibério, JoãoHenrique, Maria José, Nava, Luceno, Valdmar, Reginaldo, Dias, Ferraz, Liça, Gilberto, Segundo,Basílio, Lustosa, Sylmara, Fernandes, Pedro, Cozer, Jefersson, Darley, Mário, Pessoti, Felipe,Sérgio, Ferraz, Moacir, Roger, Rocha, Wilian, Eurico e Rubenilson.E às dezenas de outros colegas dos dois Departamentos que colaboraram na infraestruturae logística <strong>da</strong>s coletas de <strong>da</strong>dos.


Secretaria NacionalAntidrogasEstudo do Impacto do Uso de Bebi<strong>da</strong>s Alcoólicas e Outras Substâncias Psicoativas no TrânsitoBrasileiroTermo de Consentimento Livre e Esclarecido- VOCÊ está sendo CONVIDADO a participar de uma pesquisa desenvolvi<strong>da</strong>pelo Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas <strong>da</strong> UFRGS e HCPA (CPAD), com oapoio <strong>da</strong> Secretária Nacional Antidrogas (SENAD). Os pesquisadoresresponsáveis são o Prof. Dr. Flávio Pechansky e a Dra. Raquel De Boni.- O nosso OBJETIVO é avaliar a presença de substâncias como álcool,maconha, cocaína e anfetaminas no corpo de pessoas que estejam dirigindo emestra<strong>da</strong>s brasileiras.- COMO FAREMOS ISSO?1) Utilizaremos amostras de saliva através de um salivete, que é parecidocom um cotonete grande, que coleta saliva <strong>da</strong> boca <strong>da</strong>s pessoas, para verificar apresença de drogas.2) Faremos uma entrevista na qual perguntaremos alguns <strong>da</strong>dos pessoais,como sexo, i<strong>da</strong>de, escolari<strong>da</strong>de e também sobre o seu consumo de álcool ealgumas características de como você dirige. Além disso, também perguntaremosse você se sentiu forçado ou à vontade para participar deste estudo.- A SUA PARTICIPAÇÃO CONSISTIRÁ EM:1) Coletar saliva no salivete.2) Responder algumas perguntas, através de uma entrevista, sobre suarotina e seus sentimentos.- O TEMPO necessário para responder a to<strong>da</strong>s as perguntas é deaproxima<strong>da</strong>mente quinze (15) minutos.ATENÇÃO: A sua participação neste estudo é totalmente voluntária. Algumas perguntas poderão lhe gerar um certo desconforto, por issomesmo que tenha concor<strong>da</strong>do em participar desta pesquisa, vocêpoderá desistir a qualquer momento, sem ter que <strong>da</strong>r qualquerjustificativa ou explicação. To<strong>da</strong>s as informações de identificação pessoal coleta<strong>da</strong>s serãomanti<strong>da</strong>s de forma confidencial.


Estudo do Impacto do Uso de Bebi<strong>da</strong>s Alcoólicas e Outras Substâncias Psicoativas no TrânsitoBrasileiroTermo de Consentimento Livre e Esclarecido O seu nome não será vinculado aos resultados desse estudoquando os mesmos forem publicados, porque os <strong>da</strong>dos serãoavaliados e divulgados de forma coletiva. As informações sobre presença de substâncias na saliva serãoacessa<strong>da</strong>s por um código de identificação impessoal e utiliza<strong>da</strong>sapenas pelo grupo de pesquisadores deste projeto.Sinta-se à vontade para esclarecer quaisquer dúvi<strong>da</strong>s antes de decidirsobre a sua participação no estudo.PARA DEMAIS INFORMAÇÕES você poderá entrar em contato com os Dr.Flávio Pechansky ou a Dra. Raquel De Boni pelo telefone 51- 3330-5813, desegun<strong>da</strong> à sexta-feira pela manhã, ou através do e-mail: cpad.fm@terra.com.br. OComitê de Ética em Pesquisa do HCPA, que aprovou o projeto, também podeauxiliar a esclarecer alguma dúvi<strong>da</strong> que você tiver, pelo telefone 51-21018304.Eu, ___________________________________________declaro ter lido ediscutido o conteúdo do presente Termo de Consentimento e concordo emparticipar desse estudo de forma livre e esclareci<strong>da</strong>. Também declaro terrecebido cópia deste termo.___________________________________________________Assinatura do participante__/___/___Data____________________________ ________________________ __/__/___Nome do entrevistador Assinatura do entrevistador Data


Secretaria NacionalAntidrogasApós aplicação do questionário, o entrevistador faz aplicação do teste desaliva. Segue abaixo, passo a passo, o manual para utilização do quantisal:1) Conteúdo do kit para a coleta de saliva:- embalagem externa com instruções na parte posterior- quantisal envolvido por uma embalagem descartável- um tubo com líquido2) Descrição do procedimento a ser realizado:“Nós vamos fazer uma coleta de saliva, através de um instrumentochamado quantisal, o qual introduziremos abaixo <strong>da</strong> sua língua por algunsminutos, para que absorva, através do algodão que possui na sua pontinha,uma quanti<strong>da</strong>de suficiente de saliva que será analisa<strong>da</strong> posteriormente em umlaboratório. Certo?’’.3) Coleta de saliva:1) Peça ao entrevistado que tome um pouco de água, oferecendo-a através deum copo descartável lacrado, a fim de aumentar a salivação2) Coloque as luvas3) Abra o fecho <strong>da</strong> embalagem (rasgar parte superior)4) Retire o tubo e a embalagem com o quantisal <strong>da</strong> embalagem externa- não descarte a embalagem externa5) Marque, à caneta, na etiqueta do tubo, a <strong>da</strong>ta e número do caso6) Destaque as duas partes <strong>da</strong> embalagem em que o quantisal está contido- descarte a embalagem envolta no quantisal- caso as peças do quantisal desconectem-se, reúna-as e utilize-o1


7) Peça ao entrevistado que abra a boca e eleve a língua, encostando-a no“céu <strong>da</strong> boca”8) Introduza o quantisal embaixo <strong>da</strong> língua do entrevistado9) Assinale no palm o horário em que o teste iniciou10) Preencha a etiqueta do tubo com a <strong>da</strong>ta e o código identificador11) Neste momento o coletador deve orientar o entrevistado para que a coletaocorra eficientemente:“Enquanto você estiver com o quantisal na boca, peço que não fale, e nãomor<strong>da</strong> a extremi<strong>da</strong>de de algodão do quantisal. Vai durar apenas algunsminutos, enquanto isso peço que você pegue o folder que lhe foi entregue,assim como pegarei um também, e falarei brevemente sobre este folheto.Assim que estiver pronto, eu irei lhe avisar para que possa retirar o quantisal.’’12) Observe a parte média <strong>da</strong> haste do quantisal e aguarde o surgimento deum sinal azul (quando aparecer esse sinal, o teste estará pronto)- o tempo para ficar pronto é muito variável (desde 2 minutos até 10minutos)- caso exce<strong>da</strong> os 10 minutos de testagem, sugere-se a repetição doteste13) Assinale no palm o horário em que o teste ficou pronto14) Caso o entrevistado se recuse ou interrompa o teste de saliva, assinaleesta opção no palm15) Abra cui<strong>da</strong>dosamente o tubo (evitando que o líquido contido no seu interiorextravase)16) Retire o quantisal do entrevistado e coloque a parte de algodão do mesmoem contato com o líquido do tubo, inserindo-o no interior do mesmo2


17) Recoloque cui<strong>da</strong>dosamente a tampa no tubo até escutar o fechamento total(“clap’’), evitando que o mesmo fique mal lacrado e que o líquido possaextravasar.18) Recoloque o tubo lacrado na embalagem externa19) Cerre o fecho <strong>da</strong> embalagem externa5) Armazenamento e cui<strong>da</strong>dos com o material após a coleta- Após fechar a embalagem externa, o material deve ser guar<strong>da</strong>do na caixatérmica, que estará equipa<strong>da</strong> com um material substituto do gelo- O material não deve exceder a temperatura de 27 graus celsius- O material deve ser armazenado em refrigerador até ser entregue no localque será analisado- O material deve ser entregue em, no máximo, 7 dias após a coleta, pois é oprazo médio em que o material pode ser armazenado até ser analisado.3


Formulário de Coleta – Meta 8Questionário – Entrevistas por Telefone1 – Bom Dia (OU BOA TARDE/NOITE). Meu nome é (NOME DO ENTREVISTADOR). Estou falando <strong>da</strong> UFRGS eHospital de Clínicas de Porto Alegre, o número do seu telefone é XXXXXXXXXX?SimNão2 - Gostaria de falar com o(a) sr(a) (NOME DO ENTREVISTADO). Ele(a) está?Sim Não É ele3 - Qual o melhor dia e horário para conversarmos com o(a) sr(a) (NOME DO ENTREVISTADO)?---às---h---min4 - Posso falar com ele agora?SimNão5 - O Sr(a) concordou em participar de uma pesquisa desenvolvi<strong>da</strong> pela UFRGS e Hospital de Clínicas de Porto Alegre, ereceber ligações mensais para acompanhamento de sua recuperação. Este é um bom horário para esta ligação?SimNão5.1 - Qual o melhor dia e horário para conversarmos com o sr(a)?---------àshmin6 - Estamos realizando esta pesquisa para avaliar os custos dos acidentes de trânsito com vítimas, atendidos nosHospitais de Porto Alegre. Esta entrevista terá duração aproxima<strong>da</strong> de 15 minutos. A sua participação é voluntária, eto<strong>da</strong>s as informações de identificação pessoal coleta<strong>da</strong>s serão manti<strong>da</strong>s de forma confidencial. O seu nome nuncaaparecerá nos resultados deste estudo, pois todos os <strong>da</strong>dos serão avaliados e divulgados de forma coletiva, semidentificação individual. As respostas não irão causar nenhum envolvimento legal. O Sr (a) pode desistir de participar aqualquer momento. Ou então, caso alguma pergunta cause muito desconforto é possível simplesmente não respondê-la,<strong>da</strong>ndo seguimento ao questionário. O Sr(a) compreende esta explicação?(SE A RESPOSTA FOR "NÃO", EXPLICAR COM AS PALAVRAS DE VOCÊS OS PONTOS IMPORTANTES: -OBJETIVO DA PESQUISA - PARTICIPAÇÃO VOLUNTÁRIA - NÃO PRECISA RESPONDER TUDO – TEMPO -IDENTIFICAÇÃO CONFIDENCIAL - NENHUM ENVOLVIMENTO LEGAL)7 - O benefício em participar deste estudo é que a informação aqui obti<strong>da</strong> servirá para aju<strong>da</strong>r a desenvolver políticas queprevinam acidentes de trânsito.Se você tiver mais alguma pergunta sobre esse estudo ou sobre o consentimento informado, poderá entrar em contatocom a Economista Tanara Sousa, que coordena a pesquisa. Peço que o sr(a) anote o telefone e o e-mail para entrar emcontato caso tenha dúvi<strong>da</strong>s.(DIGA O NÚMERO DE TELEFONE E E-MAIL, PAUSADAMENTE):Telefone: 51- 3308-3452 e 51 8186-3034- E-mail: economia<strong>da</strong>saude@ufrgs.br.8 - Concor<strong>da</strong>, portanto, em continuar a participar desta pesquisa?SimNão9 - Precisa que eu explique mais a entrevista para o(a) Sr(a)?Sim (SE A RESPOSTA FOR "SIM", EXPLICAR COM AS PALAVRAS DE VOCÊS OS PONTOS IMPORTANTES: -PARTICIPAÇÃO VOLUNTÁRIA - NÃO PRECISA RESPONDER TUDO – TEMPO - IDENTIFICAÇÃO CONFIDENCIAL -NENHUM ENVOLVIMENTO LEGAL.)Não10 - (BLOCO II-A: DADOS CADASTRAIS DO ENTREVISTADO - APLICÁVEL APENAS NO PRIMEIRO MÊS).10.1 - Qual seu estado civil?Solteiro


CasadoDivorciado ou SeparadoViúvoOutro (Anotar nas observações)10.2 - O(A) Sr(a) possui filhos ou pessoas que depen<strong>da</strong>m do Sr(a)?NãoSim10.3 - Quantos filhos e/ou pessoas que depen<strong>da</strong>m do(a) Sr(a)?---10.4 - O(A) Sr(a) possuía ativi<strong>da</strong>de remunera<strong>da</strong> antes do Acidente de Trânsito?NãoSimAposentado10.5 - Quantas horas por semana dedica<strong>da</strong>s a esta ativi<strong>da</strong>de?---10.6 - Qual sua profissão?10.7 - O(A) Sr(a) estu<strong>da</strong>? Qual curso freqüenta?Não estu<strong>da</strong>Fun<strong>da</strong>mentalMédioTécnicoSuperiorPós-GraduaçãoOutro10.8 - Qual era sua ren<strong>da</strong> mensal antes do Acidente de Trânsito?NenhumaMais de ½ salário até 1 salário (R$ 207,50 - 414,99)Mais de 1 até 2 salários (R$ 415,00- 829,99)Mais de 2 até 3 salários (R$ 830,00 - 1244,99)Mais de 3 até 5 salários (R$ 1245,00 - 2074,99)Mais de 5 até 10 salários (R$ 2075,00 - 4149,99)Mais de 10 até 20 salários (R$ 4150,00 - 8299,99)Mais de 20 salários (R$ 8300,00)10.9 - Deixou de receber essa ren<strong>da</strong> mensal, integral ou parcialmente, após o Acidente de Trânsito?Não.Sim, perdi o emprego.Sim, passei a receber menos.


10.10 - Neste caso, teve uma redução na ren<strong>da</strong> de cerca de (CONFORME A RESPOSTA, ESTIMAR EM TERMOS %,USAR CAMPO OBSERVAÇÃO):100%.75%.50%.25%.Não sabe.10.11 - O(A) Sr(a) possui algum tipo de Plano de Saúde?Não.Sim.10.12 - Qual tipo de tipo de Plano de Saúde o(a) Sr(a) possui?Cobertura Total (incluindo hospital)Cobertura Ambulatorial (apenas consultas, exames e atendimento ambulatorial).11 - (BLOCO II-B: DANO A PROPRIEDADE PÚBLICA E PRIVADA (APLICÁVEL APENAS NO PRIMEIRO MÊS OUNO SEGUNDO MÊS CASO NÃO TENHA RESPONDIDO NO PRIMEIRO)11.1 - Houve <strong>da</strong>nos aos veículos envolvidos no Acidente de Trânsito?Não.Sim.Não sei.11.2 - O veículo em que estava era:Próprio.Alugado.Emprestado.Da empresa em que trabalha.Outro.11.3 - Qual o nome-marca do veículo?11.4 - Qual o ano do veículo?11.5 - O veículo em que estava, possuía algum tipo de seguro privado na época do acidente de trânsito?Não.Sim.Não sei.11.6 - Quanto o(a) Sr(a) gastou para reparar este veículo depois do acidente de trânsito? (PODE SER QUE OUTRAPESSOA GASTOU, MAS AI NÃO ENTRA)Este valor foi pagamento de franquia do seguro?Não.Sim.


11.7 - Houve <strong>da</strong>nos a outros veículos ou proprie<strong>da</strong>des de terceiros (pública ou priva<strong>da</strong>)?Não.Sim.Não sei.11.8 - Que tipo de <strong>da</strong>nos?Outros veículos (de terceiros).Via pública (sinalização de trânsito, postes, pontes).Outro.11.9 - Quanto o(a) Sr(a) gastou para consertar o(s) outro(s) veículo(s) e/ou proprie<strong>da</strong>des de terceiros <strong>da</strong>nificados noacidente de trânsito?Este valor foi pagamento de franquia do seguro?Não.Sim.11.10 - Recebeu algum tipo de beneficio do seguro obrigatório do veículo – DPVAT?Não.Sim.Ain<strong>da</strong> não.11.11 - Qual o valor que o(a) Sr(a) recebeu?12 - Antes de passarmos para a próxima seção, eu gostaria de ter certeza de que o(a) Sr(a) ain<strong>da</strong> sente-se confortávelpara continuara responder as perguntas. As próximas perguntas são sobre custos com hospital, medicamentos e per<strong>da</strong>em suas ativi<strong>da</strong>des. Posso continuar?Não.Sim.13 - Quer que volte a ligar em outro dia ou horário?Não.Sim.14 - Qual o melhor dia <strong>da</strong> semana e horário para voltarmos a ligar para o(a) Sr(a)?---------àshmin15 - Precisa que eu explique mais a entrevista para o(a) Sr(a)?Não.Sim.16 -(EXPLICAR COM AS PALAVRAS DE VOCÊS - PONTOS IMPORTANTES: - OBJETIVO DA PESQUISA -PARTICIPAÇÃO VOLUNTÁRIA - NÃO PRECISA RESPONDER TUDO – TEMPO - IDENTIFICAÇÃO CONFIDENCIAL -NENHUM ENVOLVIMENTO LEGAL)Podemos continuar a entrevista?Não.Sim.


BLOCO II-C: CUSTOS MÉDICO-HOSPITALARES (APLICÁVEL TODOS OS MESES). APENAS OCORRIDO APOS AULTIMAENTREVISTA - NAO PODE HAVER DUPLICACAO DOS GASTOS!17.1 - Quantos dias o(a) Sr(a) ficou internado em Hospital e/ou Clínica no último mês, relacionados ao acidente detrânsito (além dos dias de internação no Hospital de Pronto Socorro)?---17.2 - Quantas consultas médicas foram realiza<strong>da</strong>s no último mês, relaciona<strong>da</strong>s ao AT?---17.3 - O(A) Sr(a) utilizou alguma medicação no último mês, relaciona<strong>da</strong> ao AT?NãoSim17.4 - Quais medicamentos e em que quanti<strong>da</strong>de? COLOCAR NOME COM INFORMAÇÃO DE MILIGRAMAS EQUANTIDADE EM NÚMERO DE COMPRIMIDOSNome Mg Freq/Dia Dias Qtde/Doses1234567817. 5 - Quanto o(a) Sr(a) gastou com medicação no último mês, relativo ao acidente de trânsito?R$17. 6 - O(A) Sr(a) utilizou algum tipo de reabilitação, cirurgia no último mês, relativo ao Acidente de Trânsito?NãoSim17.7 - O(A) Sr(a) utilizou fisioterapia? Quantas sessões?---17.8 - O(A) Sr(a) utilizou psicoterapia? Quantas sessões?---17.9 - O(A) Sr(a) submeteu-se a alguma cirurgia? Quais?Ciru rgia Nome Quanti<strong>da</strong>de1234567817.10 - O(A) Sr(a) utilizou outro tipo de reabilitação? (LISTAR QUAIS, SE NÃO TIVER, DEIXAR EM BRANCO.) Quais?


Reabilitacao Nome1Quanti<strong>da</strong>de234567817. 11 - O(A) Sr(a) realizou exames no último mês, relativo ao acidente de trânsito? Quais? Quantos? (AQUIDESCREVER TIPO DE EXAME: SE FOI ECOGRAFIA OU RAIO-X, ESPECIFICAR EM QUE LOCAL, POIS ESSE TIPODE EXAME TEM VALOR DIFERNTE. EX: RAIO X DA PERNA, ECOGRAFIA ABDOMINAL)Exame Nome Quanti<strong>da</strong>de1234567817. 12 - O(A) Sr(a) teve algum tipo de custo de transporte (combustível, táxi, ônibus, etc) para ir a hospitais, clínicas,laboratórios ou outros lugares no último mês, relacionado ao acidente de trânsito?NãoSim17.13 - Em que foi este custo de transporte e quanto?1. Combustível R$ ou Km2. Taxi3. Ônibus4. OutroR$R$Qual? R$17.14 - O (A) Sr(a) teve algum gasto extra em função de compra de cadeira de ro<strong>da</strong>s, muleta, bengala, a<strong>da</strong>ptação nacasa, contratação de enfermeiro( a), ou outra coisa, em função do Acidente de Trânsito?NãoSim17.15 - Que gastos foram estes?Nome Quanti<strong>da</strong>de12345


67817.16 - Os custos com consultas, hospital (além do Hospital de Pronto Socorro), exames, foram pagos através doSUS Plano de Saúde PúblicoPlano de Saúde Privado Particular SUS e Plano de Saúde PúblicoSUS e Plano de Saúde Privado SUS e Particular Plano de saúde Público e Particular Plano de saúdePrivado e ParticularOutroBLOCO II-D: PERDA DE PRODUTIVIDADE (APLICÁVEL TODOS OS MESES)18.1 - O(A ) Sr(a) deixou de realizar quaisquer de suas ativi<strong>da</strong>des habituais por motivo de saúde decorrente do acidentede trânsito no último mês?NãoSim18.2 - O(A) Sr(a) deixou de realizar ativi<strong>da</strong>des domésticas? Quantos dias sem realizá-las?---18.3 - O(A) Sr(a) deixou de realizar ativi<strong>da</strong>des de lazer? Quantos dias sem realizá-las?---18.4 - O(A) Sr(a) deixou de realizar ativi<strong>da</strong>des educacionais? Quantos dias sem realizá-las?---18.5 - O(A) Sr(a) deixou de realizar ativi<strong>da</strong>des de trabalho remunerado? Quantos dias sem realizá-las?---18.6 - Consegue realizar as suas ativi<strong>da</strong>des habituais <strong>da</strong> mesma maneira que antes do AT?NãoSim18.7 - Essa diferença na realização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des poderia ser medi<strong>da</strong> numa escala?Total impossibili<strong>da</strong>de de realizar qualquer ativi<strong>da</strong>de.Grande dificul<strong>da</strong>de para realizar as ativi<strong>da</strong>des.Media dificul<strong>da</strong>de para realizar as ativi<strong>da</strong>des.Pequena dificul<strong>da</strong>de para realizar as ativi<strong>da</strong>des.18.8 - Quantos dias foram perdidos por mês relacionado ao tratamento médico e de reabilitação, devido ao acidente detrânsito (incluindo tempo de deslocamento)?---18.9 - Caso esteja afastado <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de trabalho após o acidente de trânsito, recebe ou recebeu benefícios doINSS?NãoSim18.10 - Qual o tempo previsto inicialmente para ficar afastado do trabalho e recebendo os benefícios do INSS?19 - BLOCO II-E: PERDA DE PRODUTIVIDADE FAMILIAR (APLICÁVEIS TODOS OS MESES)19.1 - Algum familiar e/ou amigo deixou de trabalhar para prestar assistência ao(a) Sr(a)?---Não Sim Quantos?19.2 - Quais as ativi<strong>da</strong>des desta(s) pessoa(s) antes do Acidente de trânsito?


Pessoa Ativi<strong>da</strong>de1234519. 3 - Quantas horas por semana os seus familiares e /ou amigos deixaram de realizar ativi<strong>da</strong>des habituais para ajudá-loapós o acidente de trânsito?Pessoa Tempo Auxílio1234519. 4 - Qual o valor do rendimento mensal dos familiares ou amigos que lhe prestaram assistência?Pessoa Rendimento1 ---2 ---3 ---4 ---5 ---20.0 - O (A)Sr(a) tem alguma consulta, exame ou algum outro desdobramento decorrente do acidente de trânsitomarcado para os próximos meses?NãoSim20 - Sr(a) (NOME DO ENTREVISTADO)?. Agradeço pela sua colaboração e boa vontade em participar do estudo.Podemos voltar a ligar no próximo mês, para acompanhar seu restabelecimento, sendo que a próxima entrevista teráduração bem menor do que esta?(SE A PESSOA PERGUNTAR, EM TORNO DE 8 MINUTOS)NãoSim20A - Sr(a) (NOME DO ENTREVISTADO).Sua participação foi muito importante para esse estudo, e como o senhor nãoteve despesas, este mês, relaciona<strong>da</strong>s o acidente, não vamos voltar a lhe telefonar no próximo mês. Agradecemos porsua disposição e boa vontade em responder essa pesquisa. Gostaria de esclarecer alguma dúvi<strong>da</strong> ou curiosi<strong>da</strong>de sobreoestudo?(PERGUNTAR QUAL E EXPLICAR, SE PERGUNTAR QUANDO FICA PRONTO DIZER QUE SERÁ DIVULGADO NAMÍDIA – JORNAL; PROVAVELMENTE DENTRO DE UM ANO)NãoSim20B - Sr(a), poderíamos lhe sugerir, caso o senhor tenha vontade de conversar sobre o acidente e o trauma associado,procurar pessoal especializado, ligado ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O Sr(a) gostaria de anotar o contato?NãoSim20C - Local de funcionamento: 4° an<strong>da</strong>r do HCPA (Ramirofuncionamento:De segun<strong>da</strong> a sexta-feira, <strong>da</strong>s 8h às 16hBarcelos, 2.350) Telefone: (51) 2101.8294 Horário de


20.1 - Podemos voltar a ligar no próximo mês, para acompanhar seu restabelecimento?NãoSim21 - Qual se ria o melhor horário para que, dentro de aproxima<strong>da</strong>mente um mês, continuemos a acompanhar seureestabelecimento?------hmin22 - Sr(a) luis artur centeno marques, posso adiantar-lhe que a entrevista do próximo mês será mais curta, pois os <strong>da</strong>dosbásicos não serão perguntados novamente. Posso esclarecer dúvi<strong>da</strong>s quanto ao estudo?NãoSim. (PERGUNTAR QUAL E FALAR DA IMPORTÂNCIA DO ESTUDO)23 - Sr(a), poderíamos lhe sugerir, caso o senhor tenha vontade de conversar sobre o acidente e o trauma associado,procurar pessoal especializado, ligado ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O Sr(a) gostaria de anotar o contato?Não.Sim.24 - Local de funcionamento: 4° an<strong>da</strong>r do HCPA (Ramiro Barcelos, 2.350)Telefone: (51) 2101.8294Horá rio de funcionamento: De segun<strong>da</strong> a sexta-feira, <strong>da</strong>s 8h às 16h25 - Obrigado pela atenção, até logo.25 - Desculpe, foi engano.


Organograma do EstudoFonte: Elaborado pelo autores


Formulário-Web desenvolvido por Bernardo Alcalde e Sandro


Questionário completo em documento anexo


Secretaria Nacional dePolíticas sobre DrogasManual de coleta Pesquisa Nacional:Prevalência de alcoolemias positivas ede outras substâncias psicoativas emmotoristas profissionais e privados doBrasil1


Este manual visa padronizar os procedimentos para coleta de <strong>da</strong>dos a seremrealizados nas capitais de todos os estados do Brasil, assim como descrever ca<strong>da</strong> etapadeste processo.1. Cronograma2. Contato prévio com os postos selecionados e viaturas policiais3. Lista dos itens necessários4. Organização prévia para a coleta de <strong>da</strong>dos5. Chega<strong>da</strong> na Capital de coleta6. Chega<strong>da</strong> no local <strong>da</strong> coleta (Posto <strong>da</strong> PRF)7. Abor<strong>da</strong>gem aos motoristas8. Login palm top e <strong>da</strong>dos observacionais – ver anexo do palm9. Apresentação do coletador10. Leitura do termo de consentimento11. Coleta de Saliva – ver manual de coleta12. Escala de Coerção13. Momento final (entrega do brinde, feedback e agradecimentos)14. À volta a Porto Alegre15. Anexos (1.Cotas tipos veículos x capitais 2. manual do palm 3.Termo deConsentimento 4. Manual de Saliva 5. Escala de coerção 6. Fluxograma)Descrição <strong>da</strong>s etapas:1. CronogramaAs coletas deverão ser realiza<strong>da</strong>s, as sextas-feiras e aos sábados, <strong>da</strong>s 12h às 24h,com 5 intervalos, de no mínimo 30 minutos até no máximo uma hora, para descanso <strong>da</strong>sequipes de coleta e apoio e regularização do fluxo na rodovia, e segundo um cronogramapreviamente estabelecido (em anexo).2. Contato prévio com os postos selecionados e viaturas policiaisOs postos de polícia <strong>da</strong>s capitais serão previamente contatados através de umdocumento de apresentação <strong>da</strong> pesquisa com respaldo <strong>da</strong> SENAD e UFRGS informando2


sobre a coleta de <strong>da</strong>dos. Aproxima<strong>da</strong>mente duas semanas antes <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> doscoletadores ao local estabelecido para a realização <strong>da</strong> pesquisa, o gerente de coletadesignado pela SENAD e membro treinado <strong>da</strong> equipe, fará o contato prévio via telefonecom Policiais do Posto <strong>da</strong> Polícia Rodoviária Federal (PRF) selecionado, a fim de informarsobre a coleta de <strong>da</strong>dos a ser aplica<strong>da</strong>, com <strong>da</strong>dos pontuais, como: Motivo <strong>da</strong> pesquisa e funcionamento <strong>da</strong> mesma; Confirmar o Policial de contato local que irá auxiliar os coletadores nos dias <strong>da</strong>coleta e a quem os mesmos irão se dirigir em qualquer situação; Solicitação de materiais que serão utilizados, como cones para estabelecer„‟barreiras‟‟ na estra<strong>da</strong>; Fazer o contato com o representante <strong>da</strong> polícia local informando <strong>da</strong>ta e horáriode chega<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong>de, assim como <strong>da</strong>ta e horário do início <strong>da</strong> coleta de <strong>da</strong>dos; uma vezque os policiais serão responsáveis pela locomoção <strong>da</strong> equipe de pesquisa.3. Lista dos itens necessáriosOs coletadores deverão estar munidos, no dia <strong>da</strong> viagem, dos seguintes itens: Carta de apresentação <strong>da</strong> SENAD / NEPTA descrevendo o projeto; Passagens aéreas e contatos <strong>da</strong> hospe<strong>da</strong>gem; Autorização para transporte de material biológico (ANVISA); Malas para transportes de brindes (camisetas, bonés e porta-cds) e folders; Palm top (um para ca<strong>da</strong> coletador); Questionários avulsos em papel (caso os Palm tops falhem), termos deconsentimento livre e esclarecido (TCLE) e escala de coerção em quanti<strong>da</strong>de suficientepara coleta; Lista do n de ca<strong>da</strong> capital com a ordem dos automóveis a serem abor<strong>da</strong>dos(gera<strong>da</strong> por aleatorie<strong>da</strong>de); Crachás identificatórios; Canetas esferográficas e canetas para marcação dos quantisais; Pranchetas; Quantisal (em número adequado para coleta <strong>da</strong>quele Estado/dia, commargem); que estarão no Laboratório de Farmácia do HCPA; Bolsas térmicas para quantisal; Cartela com fotos explicativas <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s bebi<strong>da</strong>s;3


Faixa (peito) fluorescente para coletadores; Lanternas; Capas de chuva; Etilômetros; Celular para contato com o Centro de Pesquisas e coordenadores <strong>da</strong> pesquisa; Carteira <strong>da</strong>s vacinas de ca<strong>da</strong> coletador; Repelente; Filtro solar; Crachá do HCPA; chaves do Centro de Pesquisa (02 chaves), chaves dolaboratório (02 chaves) onde as amostras de saliva serão armazena<strong>da</strong>s.4. Organização prévia para a coleta de <strong>da</strong>dosNo dia anterior a viagem, os coletadores devem organizar o material que serálevado a campo. Checar a lista dos itens necessários; eleger quem ficará responsável,naquela coleta, pela amostra de saliva.O responsável deverá portar 02 chaves do Centro de Pesquisas, estar ca<strong>da</strong>stradosno laboratório para retira<strong>da</strong> e entrega dos Quantisais, assim como a chave do cadeado <strong>da</strong>câmara fria e a chave do armário onde os quantisais estarão armazenados. O restante domaterial ficará guar<strong>da</strong>do na sala do coordenador <strong>da</strong> pesquisa. Os palms estarão no cofrejuntamente com os etilômetros. Vale ressaltar que os palms deverão ser guar<strong>da</strong>dos com acerteza de estarem devi<strong>da</strong>mente recarregados (quando a bateria estiver realmente nofinal),Para as coletas onde o n é 100, por exemplo, sugere-se que sejam impressosanteriormente 30 questionários, 210 TCLE e 210 Escalas de Coerção.5. Chega<strong>da</strong> na Capital de coletaA equipe de coleta chegará ao aeroporto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de onde será realiza<strong>da</strong> apesquisa no dia anterior a ela. Um veículo <strong>da</strong> PRF local cedido e já previamentecontatado pelo gerente de coleta, fará a locomoção dos mesmos para o hotel, bem comopara o posto <strong>da</strong> PRF na manhã seguinte.6. Chega<strong>da</strong> no local <strong>da</strong> coleta (Posto <strong>da</strong> PRF)4


Os membros <strong>da</strong> equipe deverão chegar aproxima<strong>da</strong>mente duas horas antes dohorário previsto para início <strong>da</strong> coleta, e deverão estar portando os instrumentos paraaplicação <strong>da</strong> pesquisa, conforme item 3 acrescidos de copos de água mineral para ossujeitos entrevistados.Chegando no posto <strong>da</strong> PRF, deve-se organizar a equipe local forma<strong>da</strong> por policiaisrodoviários federais, que farão as abor<strong>da</strong>gens aos veículos, assim como um policial quefará a sinalização na rodovia a fim de encaminhar os automóveis à área de pesquisa.Neste momento, o gerente de coleta membro <strong>da</strong> equipe irá treinar os policiais de suasatribuições nesta pesquisa de modo a tornar um procedimento padrão em todos osEstados, assim como <strong>da</strong> organização do local, com sinalização adequa<strong>da</strong> para desvio dosautomóveis e demarcação <strong>da</strong> área do desvio inicial.Representantes <strong>da</strong> Polícia Federal previamente contactados deverão estar no localpara <strong>da</strong>r suporte logístico e segurança à coleta de <strong>da</strong>dos. A área onde será feita a coletade <strong>da</strong>dos, dentro do espaço do posto <strong>da</strong> Policia Rodoviária, visa local adequado paraproteção dos coletadores e para contemplar ca<strong>da</strong> veículo, de modo que haja tambémrecuo para o mesmo voltar à rodovia termina<strong>da</strong> coleta, e espaço para a estrutura.Este espaço com suas demarcações está ilustrado abaixo:5


PRFAutomóveis paradosAbor<strong>da</strong>gem inicialPara<strong>da</strong> dos carrosLegen<strong>da</strong>:PRF= Posto <strong>da</strong> Polícia Rodoviária Federal = = Policial (abor<strong>da</strong>gem inicial)= Coletador = Policial auxiliar (sinalização)= entra<strong>da</strong> do veículo = saí<strong>da</strong> do veículo= cones = faixa com identificação <strong>da</strong>pesquisa= toldo ou similarpara água= Local para: - mochila com: brindes e quantisal – bolsas térmicas (para quantisal e6


7. Abor<strong>da</strong>gem aos motoristasOs veículos a serem parados na rodovia serão selecionados de modo que oterceiro veículo seja abor<strong>da</strong>do após o início <strong>da</strong> coleta ser liberado, evitando viés naseleção do primeiro veículo 1 . O veículo seguinte será parado após a entrevista e coletade um dos três coletadores ter chegado ao término. O processo de coleta para ca<strong>da</strong>capital conclui-se no momento que os coletadores alcançarem a cota estabeleci<strong>da</strong>, paraca<strong>da</strong> tipo de veículo (cotas de coleta por veículo de ca<strong>da</strong> capital).Um Policial Rodoviário local será designado para sinalização e desvio dosautomóveis para área de pesquisa, o mesmo deverá portar esta listagem a fim deacompanhar a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> coleta.O policial designado fará a abor<strong>da</strong>gem inicial: fiscalização padrão <strong>da</strong>documentação e condições de tráfego do veículo. O motorista será informado sobre arealização <strong>da</strong> pesquisa e convi<strong>da</strong>do a conversar com o coletador, recebendo um folderexplicativo sobre beber e dirigir.Feita a abor<strong>da</strong>gem inicial pelo policial e concluí<strong>da</strong> a sua abor<strong>da</strong>gem padrão, opolicial faz o convite ao condutor do veículo para que se dirija ao coletador <strong>da</strong> pesquisa. Ocontato entre o motorista e os coletadores deverá ser sempre realizado fora do veículo.8. Login palm top e <strong>da</strong>dos observacionais –Caso o motorista aceite o convite de conversar com o coletador, o mesmo explicaOs objetivos <strong>da</strong> pesquisa, e convi<strong>da</strong> o motorista para participar apresentando oTermo de Consentimento Livre e Esclarecido.Caso a resposta seja afirmativa, o coletador realiza a entrevista, aplica oquestionário e coleta de saliva e a escala de coerção e entrega do brinde. Após oprocedimento de pesquisa, é re-encaminhado ao policial, que fará o teste de bafômetro.Se o sujeito não aceitar participar <strong>da</strong> pesquisa, o coletador agradece a atenção eencerra a ativi<strong>da</strong>de, no entanto solicita que o mesmo retorne o contato policial de a fim derealizar o teste de bafômetro.Após o login inicial no PDA, o coletador deve observar as condições gerais doautomóvel selecionado, conforme itens estabelecidos e postos no PDA.1 Esse procedimento é o utilizado em levantamentos de beira de estra<strong>da</strong> e resulta em uma seleção aoacaso dos veículos elegíveis, e que resulta numa ausência de viés quanto ao tipo de veículo selecionado.7


9. Apresentação do coletadorDepois de preenchidos os <strong>da</strong>dos observacionais no palmtop, o coletador abor<strong>da</strong>ráo motorista seguindo um protocolo básico que inclui a sua apresentação como integrantede um projeto de pesquisa de âmbito nacional, citando as instituições envolvi<strong>da</strong>s noprocesso, a participação voluntária do entrevistado, assim como o caráter anônimo <strong>da</strong>pesquisa, como no modelo abaixo:“Boa Tarde! Meu nome é _______. Estamos realizando uma pesquisa <strong>da</strong>Universi<strong>da</strong>de Federal do Estado do Rio Grande do Sul para estu<strong>da</strong>r o comportamento dosmotoristas. Podemos conversar?”Entregar o TCLE.“Eu gostaria de lhe entregar estas explicações sobre o estudo e dizer que suaparticipação é totalmente voluntária. As informações são confidenciais – ou seja, seunome não aparece nos resultados de maneira alguma. A pesquisa levará apenas algunsminutos e consiste de algumas perguntas e de uma coleta de saliva.Você pode desistir aqualquer momento, sem ter que <strong>da</strong>r justificativa.. Alguma dúvi<strong>da</strong>?”Você poderia assinar esta folha- uma cópia é sua e a outra é nossa. Ela é agarantia de que as informações são para pesquisa apenas. Gostaria de lembrar que estaassinatura não é mistura<strong>da</strong> com as respostas do questionário.Tudo bem para você?‟‟10. Leitura do termo de consentimentoApós a apresentação inicial, o coletador fará uma leitura breve do termo deconsentimento explicando os elementos de obtenção de <strong>da</strong>dos no que compete àprivaci<strong>da</strong>de e sigilo <strong>da</strong> pesquisa.Caso o indivíduo NÃO concorde em participar do estudo, o coletador pergunta aosujeito qual a razão <strong>da</strong> recusa e libera-o e solicita que o mesmo retorne o contato policialde a fim de realizar o teste de etilômetro.Caso o indivíduo concorde, ele se mantém no mesmo espaço e o item 8 e itensseguinte serão assinalados. Feita leitura do termo de consentimento, e anotação do graude alcoolemia do motorista, o coletador inicia a aplicação do questionário. As questões doquestionário serão li<strong>da</strong>s para o sujeito de modo que o coletador registre as respostas nopalm, esclarecendo ca<strong>da</strong> questão, se necessário.8


11. Coleta de Saliva – ver manual de coleta12. Escala de CoerçãoApós a coleta <strong>da</strong> saliva o condutor será convi<strong>da</strong>do a responder a escala de coerçãoem pesquisa. Para tal, lhe será entregue uma folha de papel que posteriormente serátransferi<strong>da</strong> para o palm. A Escala de coerção encontra-se em anexo13. Entrega do brinde, feedback e agradecimentosNeste momento final, o coletador perguntará se o sujeito ficou com alguma dúvi<strong>da</strong>,ou gostaria de deixar alguma consideração ou sugestão sobre esta pesquisa. Após,agradece a participação do sujeito nesta pesquisa, e lhe entrega um brinde desenvolvidopelo Nepta. Há três tipos de brinde para esta ocasião, um boné, uma camiseta e umporta-cds com o logotipo do Nepta e dos órgãos fomentadores desta pesquisa. Feito isto,o motorista é direcionado novamente ao policial a fim de realizar o teste de etilômetro, e oseu resultado será anotado pelo coletador.14. À volta a Porto AlegreO coletador responsável pela entrega do material coletado irá se dirigir doaeroporto diretamente ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre, a fim de armazenar asamostras de saliva na câmara fria do Laboratório, onde já existe um local próprio eidentificado para o armazenamento <strong>da</strong>s mesmas. Nesse local a pessoa responsável pelaentrega deve preencher a tabela que fica junto ao local do armazenamento dos quantisaise contém <strong>da</strong>dos como hora <strong>da</strong> entrega do material, quanti<strong>da</strong>de, local <strong>da</strong> coleta.O restante do material deverá ser colocado na sala do coordenador do Centro dePesquisas de Álcool e Drogas (CPAD). Vale lembrar que os palms e os etilômetros ficarãono cofre.9


Secretaria NacionalAntidrogasEstudo do Impacto do Uso de Bebi<strong>da</strong>s Alcoólicas e OutrasSubstâncias Psicoativas no Trânsito BrasileiroEscala de Percepção de Coerção em PesquisaCÓDIGO DE IDENTIFICAÇÃO:Leia as seguintes frases e assinale se concor<strong>da</strong> oudiscor<strong>da</strong> <strong>da</strong> afirmação:Senti-me livre para fazer o quequisesse a respeito <strong>da</strong> minhaparticipação na pesquisa.Eu escolhi participar <strong>da</strong> pesquisa.Foi minha a idéia de participar <strong>da</strong>pesquisa.Tive bastante decisão sobre se euparticiparia na pesquisa.Tive mais influência do que qualqueroutra pessoa sobre o fato departicipar ou não <strong>da</strong> pesquisa.ConcordoDiscordo


1ANEXOCRITÉRIOS DE AUTORIA DO NEPTA1. Eu certifico que o trabalho apresentado é válido e lícito, de minha autoria ou co-autoria, para oqual dispensei atenção devi<strong>da</strong> à realização de referências e citações a outros autores e as suas obras,necessários a produção. Da mesma forma, certifico que os <strong>da</strong>dos nele contidos são compatíveis como desenvolvimento do projeto de pesquisa do NEPTA, tendo sido o seu uso possível porque foiminha a orientação e planejamento <strong>da</strong>s coletas ou fui autorizado formalmente por quem as tenhaorientado e planejado. Assumo plenamente a responsabili<strong>da</strong>de do reconhecimento de minha autoriaou co-autoria no referido artigo ou obra literária ou científica. 2. Eu forneci aprovação final para a submissão à publicação de qualquer produção literária oucientífica decorrente <strong>da</strong>s pesquisas para as quais sou responsável. 2.1. Projeto-geral do NEPTA 2.2. Meta 2 2.3. Meta 3 2.4. Meta 4 2.5. Meta 5 2.6. Meta 6 2.7. Meta 7 2.8. Meta 8 2.9. Meta 93. Eu participei suficientemente na obra submeti<strong>da</strong> a publicação ou a divulgação, assumindo aresponsabili<strong>da</strong>de por: 3.1. Parte do conteúdo 3.2. Todo o conteúdo4.1. Para qualificar-se com autor ou co-autor você necessariamente deve adequar-se a uma <strong>da</strong>ssituações previstas abaixo.Eu contribui substancialmente para a elaboração <strong>da</strong> obra ou artigo literário ou cientifico comodescrito abaixo:4.1.1. Assinale pelo menos 1 de 34.1.1.1. Concepção, planejamento e estruturação4.1.1.2. Coleta de <strong>da</strong>dos4.1.1.3. Análise e interpretação dos <strong>da</strong>dos coletados4.1.2. Assinale pelo menos 1 de 2 4.1.2.1. Realizei re<strong>da</strong>ção do trabalho 4.1.2.2. Realizei revisão intelectual critica do conteúdo dotrabalho4.1.3. Participei especificamente de: (assinale pelo menos 1 de 4) 4.1.3.1. Expertise estatística


2 Obtenção de fundos 4.1.3.2. Elaboração de material administrativo, de apoio e técnico 4.1.3.3. Supervisão 4.1.3.4. Outros, especificar:___________________________________________________________________________________________________________________________Atenção: A palavra “trabalho” significa qualquer produção, seja ela literária ou científica, direciona<strong>da</strong> apublicação e divulgação do NEPTA, independente do meio utilizado.Data:Local: Laboratório de pesquisa em álcool e trânsitoAssinatura:


Instrumento de Coleta de Dados – DMLN° Ocorrência policial: -N° Protocolo DML:-// (dia1. Data do ÓBITO: /mês/ano)2. Hora <strong>da</strong> Entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> vítima no DML:  h minDP Origem ________________________________________________________Número DP Origem: 3. DP Destino________________________________________________________Número DP Destino: 4. Ci<strong>da</strong>de de residência_______________________________________________5. Ci<strong>da</strong>de de naturali<strong>da</strong>de_____________________________________________6. I<strong>da</strong>de  anos7. Data de nascimento //(dia/mês/ano)8. Cor de pele1 Branco2 Negro3 Misto4 Outro/Qual? _________________________9. Sexo1


1 Feminino2 Masculino10. Estado Civil1 Solteiro2 Casado3 Divorciado4 Viúvo5 União Estável6 Outro/Qual?___ ________________________________14. Profissão____________________________________________________15. Data de Ocorrência (AT) // (dia/mês/ano)16. Horário de Ocorrência (AT) h min17. Tipo de AT1 Atropelamento2 Colisão3 Abalroamento4 Choque5 Capotagem6 Que<strong>da</strong> de moto7 Acidente de trânsito8 Outro/Qual?_______ ______________________________________________18. Lugar de ocorrência do AT2


1 Porto Alegre - via urbana2 Outra ci<strong>da</strong>de - via urbana3 Rodovia Federal - BR4 Rodovia Estadual - RS.19. Endereço do AT____________________________________________________________26. Origem <strong>da</strong> vítima até o DML1 Diretamente do AT ao DML2 Via Emergência HCR3 Via Emergência HPS4 Outro - Qual? ________________________________________// (dia27. Data do Exame (Laboratório): /mês/ano)29. Hora do Exame (Laboratório):  h min30. Teste de Alcoolemia (sangue)1 Positivo2 Negativo (riscar questão 30)3 Não foi realizadoCaso o teste NÃO tenha sido realizado, motivo________________________________________________________________________________________________________________________________________________________31. Se positivo , dg/l32. Presença de substância psicoativa3


 0 Negativo para psicotrópicos 1 Canabinóides 2 Cocaína 3 Anfetaminas 4 Benzodiazep 5 Barbitúricosínicos33. Coleta de material psicotropicos 1 Vísceras / F 2 Urinaígado4


CARTÕES UTILIZADOS NAS ENTREVISTASCartão Azul – Risco de óbito por acidente de trânsito em Porto AlegreCartão Bege - Doses de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas


2Cartão Cinza – Escala de RiscoCartão de Pagamento Amarelo – Questão 3.3


3Cartão de Pagamento Azul – Questão 3.4Cartão de Pagamento Laranja – Questão 3.5


PESQUISA DE VALORAÇÃO CONTINGENTEÁLCOOL E ACIDENTES DE TRÂNSITOEntrevista__ __/__ __ __Data <strong>da</strong> Entrevista: ___/___/2009Horário de Inicio: ____:____ Horário de Término: ____:_____Sou entrevistador do Grupo de Pesquisa em Economia <strong>da</strong> Saúde (GPES) <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Economia <strong>da</strong>UFRGS e estamos realizando um estudo com a população <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Porto Alegre, sobre acidentes detrânsito e os riscos envolvidos. Os resultados aju<strong>da</strong>rão os pesquisadores <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de a entender esteproblema, e irá gerar informações para os gestores poderem reduzi-los.A sua participação é voluntária e o (a) Sr (a) não precisa se identificar, apenas rubricar o questionáriono final. To<strong>da</strong>s as informações coleta<strong>da</strong>s serão manti<strong>da</strong>s de forma confidencial.1 Características Individuais1.1 Sexo: (0) masculino (1) Feminino1.2 I<strong>da</strong>de: _________Faixa Etária: (0) 18 a 24 anos (1) 25 a 34 anos (2) 34 a 44 anos (3) 45 a 59 anos (3) 60 anos e +1.3 Bairro de Residência:_______________________________________________ Porto Alegre - RS1.4 Qual sua cor?(0) Branca (1) Preta (2) Amarela (3) Par<strong>da</strong> (4) Indígena (5) Não quer declarar1.5 Qual seu estado civil?(0) Solteiro (1) Casado (2) Divorciado ou Separado (3) Viúvo (4) União Estável (5) Outro1.6 O (A) Sr (a) possui pessoas que depen<strong>da</strong>m do Sr (a)?(0) Sim (1) Não1.7 Quantas pessoas vivem na sua casa, incluindo o (a) Sr (a)?______ pessoas1.8 Qual a última série cursa<strong>da</strong> (e concluí<strong>da</strong>)? ______(0) Ensino Fun<strong>da</strong>mental (1) Ensino Médio (2) Ensino Superior(3)Ensino Pós-Graduação (4) Nunca estudou1.9 Qual sua situação ocupacional?(0) Estu<strong>da</strong>nte (1) Empregado (2) Desempregado (3) Autônomo (4) Aposentado (5) Outro1.10 Qual sua profissão/ocupação? _________________________________________________________1.11 Tem algum familiar ou amigo próximo (taxista, motoboy, caminhoneiro, motorista de ônibus, etc.) quetrabalha como motorista profissional?(0) Sim (1) Não1.12 Qual a ren<strong>da</strong> mensal de to<strong>da</strong>s as pessoas que moram na sua casa (considerar pensões, aposentadorias,bolsas de estudo, salário-desemprego, remuneração de trabalho informal e etc)? R$ ____________,001.13 Qual sua religião?(0) Católica(1) Protestante/Evangélica (Luterana, Anglicana e outras religiões cristãs)(2) Candomblé/Umban<strong>da</strong>(3) Outras(4) Nenhuma2 Experiência Pessoal2.1 Quanto tempo fica exposto ao trânsito diariamente (como motorista, carona ou pedestre)? ___h____min2.2 Que transporte o (a) Sr (a) costuma utilizar diariamente (para ir ao trabalho, escola, outros)?(0) automóvel (1) motocicleta (2) ônibus/lotação (3) caminhão(4) trem (5) bicicleta (6) outro (7) nenhum2.3 O (a) Sr (a) costuma dirigir/conduzir algum veículo?(0) Sim (1) Não (PULAR P/ Q 2.6)1


2.4 Que veículos o (a) Sr (a) costuma dirigir (considerar o último ano)?(0) automóvel (1) motocicleta (2) ônibus/lotação (3) caminhão (4) outro2.5 Com que freqüência dirige?(0) diariamente (1) 1 a 2 vezes por semana (2) 1 vez a ca<strong>da</strong> 15 dias(3) 1 vez por mês (4) menos que 1 vez por mês2.6 Tem hábito de utilizar carona de familiares, amigos e/ou colegas?(0) diariamente (1) 1 a 2 vezes por semana (2) 1 vez a ca<strong>da</strong> 15 dias(3) 1 vez no mês (4) nunca2.7 Utiliza cinto de segurança, quando:Condutor: (0) Sempre (1) Nunca (2) Algumas vezes (3) Não se aplicaCarona no banco <strong>da</strong> frente: (0) Sempre (1) Nunca (2) Algumas vezes (3) Não se aplicaCarona no banco de trás: (0) Sempre (1) Nunca (2) Algumas vezes (3) Não se aplicaPassageiro em ônibus/lotação: (0) Sempre (1) Nunca (2) Algumas vezes (3) Não se aplica2.8 Utiliza capacete, quandoCondutor: (0) Sempre (1) Nunca (2) Algumas vezes (3) Não se aplicaCarona: (0) Sempre (1) Nunca (2) Algumas vezes (3) Não se aplica2.9 Possui carteira de habilitação? (0) Sim (1) Não2.10 Você já sofreu algum acidente de trânsito?(0) Sim. Quantos?____ (SE MAIS DE “1”, PREENCHER A CAIXA) (1) Não (PULAR P/ Q 2.13)2.11 Qual foi sua situação neste(s) acidente(s)?(0) condutor (1) acompanhante (passageiro) (2) pedestre2.12 Qual a gravi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s lesões físicas sofri<strong>da</strong>s neste(s) acidente (s)?(0) Não houve lesões (não foi ao PS)(1) Lesões leves (foi ao PS, mas não ficou internado nem teve qualquer quebradura ou arranhão)(2) Lesões médias (foi ao PS, não ficou internado, mas teve alguma quebradura e/ou necessitouacompanhamento posterior)(3) Lesões graves (ficou internado pelo menos 1 dia)QUESTÃO Acidente 1 Acidente 2 Acidente 3 Acidente 4 Acidente 52.11 - Situação2.12 - Gravi<strong>da</strong>de2.13 Algum parente ou pessoa próxima já sofreu algum acidente de trânsito?(0) Sim. Quantos?____ (SE MAIS DE “1”, PREENCHER A CAIXA) (1) Não (PULAR P/ Q 2.17)2.14 Qual sua relação com esta pessoa? _____________________2.15 Qual foi a situação dela no acidente?(0) condutor (1) acompanhante (passageiro) (2) pedestre2.16 Qual a gravi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s lesões físicas sofri<strong>da</strong>s no acidente (USAR ESCALA-GRAVIDADE DA Q 2.12)?1. (0) Não houve lesões (1) lesões leves (2) lesões médias (3) lesões graves (4) óbitoQUESTÃO Acidente 1 Acidente 2 Acidente 3 Acidente 4 Acidente 52.14 Relação2.15 Situação2.16 Gravi<strong>da</strong>de2.17 Sabe-se que em Porto Alegre, o risco de ser vítima fatal em um acidente de trânsito, é de 11 em100.000. O(A) sr (a) considera ter um risco:(0) igual (PULAR P/ Q. 2.19) (1) maior (2) menor.2.18 Em números, o (a) sr (a) considera ter um risco de (MOSTRAR CARTÃOAZUL):(0) 0 a 5 em 100.000 (1) 6 a 10 em 100.000 (2) 11 em 100.000(3) 12 a 15 em 100.000 (4) 16 a 20 em 100.000 (5) 21 ou + em 100.0002


Passamos agora para questões sobre consumo de álcool.2.19 O (A) Sr (a) costuma ingerir qualquer quanti<strong>da</strong>de de alguma destas bebi<strong>da</strong>s alcoólicas (MOSTRARCARTÃO BEGE)?(0) sim (1) não (PULAR P/ Q 2.26)2.20 Com que freqüência costuma ingerir qualquer destas bebi<strong>da</strong>s alcoólicas?(0) diariamente (1) 3 ou 4 vezes por semana (durante a semana)(2) pelo menos 1 vez por semana (3) 2 a 3 vezes por mês(4) menos de 1 vez por mês, mas ao menos 1 vez por ano (5) menos de 1 vez por ano2.21 Qual a quanti<strong>da</strong>de de bebi<strong>da</strong>s alcoólicas que costuma ingerir em doses (MOSTRAR CARTÃOBEGE)?(0) ______ doses de cerveja ou chope(1) ______ doses de vinho(2) ______ doses de bebi<strong>da</strong>s destila<strong>da</strong>s– cachaça, whisky, vodka ou outras(3) ______ doses bebi<strong>da</strong>s “ice”(4) ______ doses outra (_____________)2.22 Onde costuma beber?( ) em casa ( ) bares ( ) restaurantes ( ) festas ( ) outros2.23 Nestas ocasiões, costuma beber acompanhado de familiares e/ou amigos?(0) sim (1) não2.24 Quanto o Sr (a) costuma gastar mensalmente com bebi<strong>da</strong>s alcoólicas em:(0) casa (SE RESPONDEU 2.22): R$__________ (1) bares, restaurantes, festas e outros: R$________2.25 Nestas ocasiões em que ingere qualquer tipo ou quanti<strong>da</strong>de de bebi<strong>da</strong> alcoólica fora de casa, comocostuma voltar?( ) dirigindo ( ) de carona com amigos ( ) de táxi ( ) de ônibus ou trem ( ) caminhando2.26 *Costuma aceitar ou já aceitou carona de um amigo/familiar, sabendo que ele já bebeu?(0) Sempre (1) Nunca (2) As vezes2.27 *O (A) Sr (a) tem obtido algum tipo de informação de que “consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicasassocia<strong>da</strong> a direção pode causar acidentes de trânsito”?(0) Sim (1) Não2.28 *Qual o meio de comunicação que teve mais acesso a informação que “consumo de bebi<strong>da</strong>s alcoólicasassocia<strong>da</strong> a direção pode causar acidentes de trânsito”?( ) TV ( ) Rádio ( ) Jornais ( ) Revistas ( ) Internet ( ) Livros( ) Outdoors ( ) Falando com Amigos ( ) Aulas (escola e/ou universi<strong>da</strong>de)2.29 *O (A) Sr (a) sabe qual é o valor máximo de álcool no sangue permitido por lei, para dirigir no Brasil(EM GRAMAS DE ÁLCOOL POR LITRO DE SANGUE)?(0) Sim. Qual? ____________. (1) Não2.30 *Quantas doses essa quantia representa (MOSTRAR CARTÃO BEGE)?(0) ______ doses de cerveja ou chope(1) ______ doses de vinho(2) ______ doses de bebi<strong>da</strong>s destila<strong>da</strong>s– cachaça, whisky, vodka ou outras(3) ______ doses bebi<strong>da</strong>s “ice”(4) ______ doses outras bebi<strong>da</strong>s2.31 O (A) Sr (a) já dirigiu, depois de ter bebido as quanti<strong>da</strong>des descritas acima?(0) Sim (1) Não (PULAR P/ Q. 2.33) (2) Não se aplica (PULAR P/ Q. 2.33)2.32 O (A) Sr (a) acha que ter bebido as quanti<strong>da</strong>des acima, reduziu sua percepção e capaci<strong>da</strong>de paradirigir?(0) Sim, totalmente (1) Sim, parcialmente (2) Não2.33 *Considere a escala de 1-5 (1 = não arriscado; 5 = muito arriscado) e indique o grau de riscoenvolvido em ca<strong>da</strong> situação (MOSTRAR CARTÃO CINZA):A ( ) Atravessar uma rua movimenta<strong>da</strong> (COMO PEDESTRE), fora <strong>da</strong> faixa de segurança, sabendoque existe uma a menos de 50 metros de distância.B ( ) Atravessar uma rua movimenta<strong>da</strong>, fora <strong>da</strong> faixa de segurança, sabendo que existe uma a menos3


de 50 metros de distância, após ter bebido 2 latas de cerveja ou 2 doses de outras bebi<strong>da</strong>s alcoólicaC ( ) Não usar cinto de segurança, quando está em um automóvel, caminhão ou ônibus.D ( ) Não usar capacete, quando está em uma motocicleta.E ( ) Conduzir qualquer veículo após beber 2 latas de cerveja ou 2 doses de qualquer outra bebi<strong>da</strong>alcoólica.F ( ) Conduzir motocicleta após beber 2 latas de cerveja ou 2 doses de qualquer outra bebi<strong>da</strong> alcoólica.G ( ) Aceitar carona, após o condutor ter bebido 2 latas de cerveja ou 2 doses de qualquer outra bebi<strong>da</strong>alcoólica.2.34 *Para ca<strong>da</strong> 100 pessoas que dirigem após beber 2 doses de qualquer bebi<strong>da</strong> alcoólica, quantas o (a)Sr(a) acha que podem sofrer um acidente de trânsito?_____3 Valoração ContingenteO outro objetivo do estudo é saber quanto as pessoas estariam dispostas a pagar para reduzir o risco desofrer um acidente de trânsito.Suponhamos que fosse possível “alugar por 1 ano” um dispositivo de segurança, como um novo tipo deairbag (possível de ser usado por motociclistas, ciclistas e pedestres também), que reduzisse a chance desofrer um acidente com lesões.Não considere gastos com tratamento médico-hospitalares, per<strong>da</strong>s de salário e tempo, nem mesmo o fatode já ter algum seguro de vi<strong>da</strong> ou do veículo. Considere apenas dor e sofrimento causado por umacidente de trânsito.3.1 O Sr (a) estaria disposto a pagar por este dispositivo, para reduzir o risco de sofrer um acidente de trânsito?(0) Sim (PULAR PARA 3.3) (1) Não (2) Não sabe3.2 Poderia indicar qual <strong>da</strong>s razões lista<strong>da</strong>s, melhor explicaria porque não estaria disposto a pagar para reduziro risco de sofrer um acidente de trânsito?(0) Não corro risco de sofrer um acidente(1) Não quero pagar mais, pois já pago impostos ou contribuições sociais(2) Não acho que haja sofrimento causado por um acidente(3) Não acho que seja possível reduzir o risco de sofrer um acidente de trânsito(4) Outra:_______________________________3.3 Suponha então, um acidente que teria que permanecer hospitalizado por alguns dias e deixar de fazer suasativi<strong>da</strong>des habituais (de trabalho, estudo, etc) por pelo menos 3 meses, sendo necessário continuar a fazerfisioterapia por mais 6 meses.Qual a quantia máxima que estaria disposto (a) a pagar por este dispositivo,para reduzir o risco à metade? __________(MOSTRAR CARTÃO AMARELO)3.4 E se esse dispositivo reduzisse a chance de O Sr (a) sofrer um acidente ain<strong>da</strong> mais grave, como porexemplo, que resultasse em per<strong>da</strong> de movimentos <strong>da</strong>s pernas, quanto estaria disposto (a) a pagar por estedispositivo, para reduzir o risco a um terço? _____________(MOSTRAR CARTÃO AZUL)3.5 E se esse dispositivo reduzisse a chance de O Sr (a) sofrer um acidente ain<strong>da</strong> mais grave, que resultasse emóbito, quanto estaria disposto (a) a pagar por este dispositivo, para reduzir o risco a zero?_____________ (MOSTRAR CARTÃO LARANJA)3.6 Você estaria disposto a pagar a pagar as quantias anteriores, para alugar o dispositivo para outra pessoa quenão fosse o (a) Sr (a), e assim reduzir o risco desta pessoa sofrer um acidente de trânsito, se ela fosse um1. Familiar: (0) a mesma quantia (1) uma quantia menor (1) uma quantia maior ( 2) Na<strong>da</strong>2. Amigo: (0) a mesma quantia (1) uma quantia menor (1) uma quantia maior ( 2) Na<strong>da</strong>3. Desconhecido: (0) a mesma quantia (1) uma quantia menor (1) uma quantia maior ( 2) Na<strong>da</strong>OBRIGADO (A) PELA PARTICIPAÇÃOConcordo em participar desse estudo, autorizando a utilização <strong>da</strong>s respostas obti<strong>da</strong>s pelo entrevistador abaixoidentificado, para fins de pesquisa.____________________________________________Porto Alegre, ___/___/2009.(Rubrica do Participante)____________________________________________(Nome do entrevistador)________________________________(Assinatura do entrevistador)Entrevista: (0) Finaliza<strong>da</strong> (1) Não concluí<strong>da</strong>. Motivo:_______________________________________Motivação:______4


Secretaria NacionalAntidrogasCódigo IdentificadorLocal <strong>da</strong> Coleta:Dia: / /Hora de início: h minEntrevistador:DADOS OBSERVACIONAIS:1. Sexo do Condutor:1) Masculino2) Feminino3) Não identificado2. I<strong>da</strong>de aparente do Condutor: 1) Abaixo de 18 anos2) 18 a 35 anos3) 35 a 50 anos4) 50 anos ou mais5) Não identificado3. Tipo de Veículo:1) Carro, camioneta ou caminhonete2) Ônibus ou microônibus (transporte de passageiros)1


3) Caminhão, caminhão articulado, carreta (transporte de carga)4) Motocicleta, motoneta, ciclomotor, triciclo5) Outro (veiculo de competição, coleção, etc4. Cinto de segurança:4.1) Condutor Tipo de cinto1) Cinto de ombro e de cintura2) Cinto de ombro apenas3) Cinto de cintura apenas4) Nenhum5) Não foi possível identificar6) Não se aplica (motivo: _____________________________)4.2)Passageiro do banco <strong>da</strong> frenteTipo de cintoCinto de ombro e de cinturaCinto de ombro apenasCinto de cintura apenasNenhumNão foi possível identificarNão se aplica (motivo: ____________)5. Número de ocupantes do veículo, incluindo o motorista:Outro: ____________________________________________6. Passageiros menores de 16 anos:1) Sim, Nº. ___________________2) Não3) Não identificado7. Veículo selecionado:1) Parou ao comando do policial e aceitou participar do estudo2


2) Parou ao comando do policial e não aceitou participar3) Não parou ao comando do policial4) Outro: ___________________________ENTREVISTADOR: APRESENTE-SE E LEIA O TERMO DE CONSENTIMENTO8. Participação no Estudo:1) Concor<strong>da</strong> em participar [Pule para 9]2) Não concor<strong>da</strong> [encerre a entrevista e preencha 8.1 se possível ]8.1) Motivo aparente ou alegado de não concordância 1) Sem tempo, com pressa2) Pessoal3) Outro. Qual?_____________________________________________________ENCAMINHE PARA O POLICIAL E ANOTE A ALCOLEMIAENTREVISTADOR: INICIE A APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIOAS PERGUNTAS A SEGUIR ESTÃO RELACIONADAS A SUA PESSOA E A SUAFORMA DE CONDUÇÃO DE VEÍCULOS9. Qual a sua i<strong>da</strong>de? Anos( ) Desistiu10. Em que ci<strong>da</strong>de você mora? ______________________________________11. Em que estado você mora?12. Qual a última série que você cursou?1) Nunca estudou2) Até 4a série3) 5a a 8a série4) 1a série do II grau até II grau incompleto5) II grau completo3


6) Superior incompleto7) Superior completo8) Curso técnico completo9) Outro _______________________________Desistiu13. Com quem você mora?( ) 1) sozinho( ) 2) com companheiro/a, sem filhos( ) 3) com companheiro/a, com filhos( ) 4) Sem companheiro e com filhos( ) 5)outros __________________________________________( ) Desistiu14. Qual a sua situação de emprego?1) Empregado/ Autônomo2) Desempregado/ Sem trabalho3) Aposentado4) Incapacitado5) Dona de casa6) Estu<strong>da</strong>nte7) Preferiu não responder( ) Desistiu15. Qual sua ren<strong>da</strong> individual? ___________reais1) Sem resposta2) Desistiu16. Qual sua ren<strong>da</strong> familiar? ___________reais1) Sem resposta2) Desistiu17. A quantos quilômetros você se encontra do seu destino final?___________km1) Sem resposta2) Desistiu4


18. Qual o motivo desta viagem?1) Trabalho2) Lazer3) Outro: ___________________________________________________4) Desistiu19. De onde você está vindo e para onde está indo? ENTREVIATADOR: NOCASO DE MOTORISTA PROFISSIONAL PERGUNTE ONDE FOI A ÚLTIMAPARADA.19.1)De:19.2)Para:Local1) Própria casa2) Casa de alguém3) Trabalho4) Restaurante5) Bar ou similar6) Escola / Igreja7) Clube ou local esportivo8) Loja, centro comercial, shopping9) Posto de gasolina10) Hotel, pensão, motel11) Outro: _________________________________999) Não respondeu( ) Desistiu20. As perguntas seguintes são sobre o uso de álcool, podemos prosseguir?( ) 1) sim( ) 2) não (Pule para questão 32 )( ) DesistiuCASO O RESPONDENTE SE RECUSE, PULE PARA A QUESTÃO 325


21. No ultimo ano você ingeriu alguma bebi<strong>da</strong> que contivesse álcool, emqualquer quanti<strong>da</strong>de?( ) 1) sim( ) 2) não (Pule para questão 38)( ) Desistiu22. Das bebi<strong>da</strong>s que contém álcool, qual você prefere beber?1) Cerveja2) Vinho3) Uísque4) Cachaça5) Outro. Qual? __________________________Desistiu23. Durante os últimos 12 meses, com que freqüência você fez uso debebi<strong>da</strong>s alcoólicas?( )Todos os dias( ) 5 a 6 vezes por semana( ) 3 a 4 vezes por semana( ) duas vezes por semana( ) uma vez por semana( ) 2 a 3 vezes por mês( ) uma vez por mês( ) 3 a 11 vezes nos últimos doze meses( ) 1 a 2 vezes nos últimos doze meses( ) DesistiuENTREVISTADOR: MOSTRAR CARTELAS COM FOTOS DAS BEBIDAS24. Estas são doses padrões de álcool. Durante os últimos 12 meses,quantas doses de álcool você bebeu em um dia de consumo normal?( ) 25 doses ou mais( ) 19 a 24 doses( ) 16 a 18 doses( ) 12 a 15 doses( ) 9 a 11 doses( ) 7 a 8 doses( ) 5 a 6 doses( ) 3 a 4 doses( ) 2 doses( ) 1 dose6


( ) Desistiu25. Durante os últimos 12 meses, com que freqüência você bebeu 5 ou mais(homens) ou 4 ou mais (mulheres) doses em uma única ocasião?( ) Todos os dias( ) 5 a 6 dias por semana( ) 3 a 4 dias por semana( ) dois dias por semana( ) uma vez por semana( ) 2 a 3 vezes por mês( ) uma vez por mês( ) 3 a 11 vezes nos últimos doze meses( ) 1 ou 2 vezes nos últimos doze meses( ) Nenhuma vez( ) Desistiu26. Você bebeu alguma bebi<strong>da</strong> de álcool hoje?1) Sim2) Não [Pule para questão 32]3) Desistiu27. Quanto tempo faz que você bebeu sua última dose de bebi<strong>da</strong> alcoólica?Horas eMinutosNão sabe ou não respondeuDesistiu28. Onde você bebeu sua última dose de bebi<strong>da</strong> alcoólica?Local1) Própria casa2) Casa de alguém3) Trabalho4) Restaurante5) Bar ou similar6) Escola / Igreja7) Clube ou local esportivo8) Loja, centro comercial, shopping center,7


9) Posto de gasolina10) Hotel, pensão, motel, ou similar11) Outro: __________________________________999) Não respondeu( ) Desistiu29. O que você bebeu era cerveja, vinho, destilado (cachaça, uísque) ou umacombinação destas? E quanto você bebeu? (marcar mais de uma, se for o caso)*Entrevistador: EM VOLUME, PREENCHER COPO OU LATINHA, OU GARRAFA OUGARRAFÃOTipo de bebi<strong>da</strong> Sim/Não Quanti<strong>da</strong>de Cálculo dedoses (PALM)1. Cerveja2. vinho3. destilado4.Outro30. Você acha que a sua habili<strong>da</strong>de de dirigir está prejudica<strong>da</strong> por esteconsumo de álcool recente que você descreveu?1) Não2) Sim3) Não Sabe4) Desistiu31. ENTREVISTADOR: As perguntas seguintes são sobre beber e dirigir,podemos prosseguir?32. Nos últimos 12 meses, você alguma vez dirigiu depois de beber tantoque seria considerado legalmente impróprio dirigir?1) Sim. Você acha que isso aconteceu quantas vezes? vezes2) Não (Pular para questão 34)3) Não sabe / não lembra8


4) Não bebe5) Desistiu33. Isso aconteceu antes ou depois <strong>da</strong> alteração <strong>da</strong> lei sobre beber e dirigir?(19 de junho de 2008)( ) Antes( ) Depois( ) Ambos( ) Desistiu34. Existe um nível de álcool no sangue a partir do qual o motorista poderáser preso por beber e dirigir. Você sabe qual é este limite?qual é]1) Sim. Qual é? _________________________ [Se estiver errado, informar2) Não. [Informar qual é]3) Desistiu35. Alguma vez na vi<strong>da</strong> você já sofreu um acidente enquanto dirigia umveículo automotor após ter bebido 3 ou mais doses de álcool?( ) 1) sim( ) 2) não( ) 3) Desistiu36. Alguma vez na vi<strong>da</strong>, você já foi passageiro de um condutor que tivessebebido qualquer quanti<strong>da</strong>de de álcool?( ) 1) sim( ) 2) não( ) 3) Desistiu37. Alguma vez na vi<strong>da</strong>, você já foi parado por um policial para fazer o testedo bafômetro?( ) 1) sim( ) 2) não( ) 3) DesistiuENTREVISTADOR: INICIE A COLETA DE SALIVA ANOTE O CÓDIGO DEIDENTIFICAÇÃO NO QUANTISAL38. Teste de saliva:1) Coletou9


2) Recusou-se a coletar3) Ultrapassou os 10 minutos e re-coletou4) Ultrapassou os 10 minutos e recusou-se a re-coletar5) Não finalizou/ desistiu durante a coleta39. Horário <strong>da</strong> Coleta de Saliva:39.1) Início: h min39.2) Final: h minEXPLIQUE O FOLDERENTREVISTADOR: ENTREGUE O QUESTIONÁRIO DE COERÇÃO, INFORME QUEA PESQUISA ESTA QUASE TERMINANDO E RECOLHA O QUESTIONÁRIO APÓSO PREENCHIMENTO.ENTREVISTADOR: REALIZE A ENTREGA DO BRINDE, FEEDBACK EAGRADECIMENTOS40. Horário de término <strong>da</strong> entrevista: h minEntrevistador: COMUNIQUE O FINAL DA PESQUISA, ENCAMINHE O SUJEITODE PESQUISA PARA O POLICIAL E ANOTE A ALCOOLEMIA MEDIDA .41. Alcoolemia42. NÃO ESQUEÇA O QUESTIONÁRIO DE CORÇÃO, QUANDOPREENCHIDO.10

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