Nota curricular - Biblioteca Digital do IPB - Instituto Politécnico de ...
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Actas <strong>do</strong> 7.º Encontro Nacional / 5.º Internacional <strong>de</strong>Investigação em Leitura, Literatura Infantil e IlustraçãoBraga: Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Minho, Outubro 2008PosterO Cuque<strong>do</strong>? E quem é o Cuque<strong>do</strong>? – Perguntou o Cuque<strong>do</strong>.Ana Maria PereiraFilomena PradaAgrupamento Vertical <strong>de</strong> Escolas <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong> <strong>de</strong> CavaleirosCristina CoelhoElza Mesquita<strong>Instituto</strong> Politécnico <strong>de</strong> Bragança – Escola Superior <strong>de</strong> EducaçãoAgrupamento Vertical <strong>de</strong> Escolas <strong>de</strong> ValongoResumoNeste artigo atrevemo-nos a <strong>de</strong>screver como aconteceu a exploração da história “O cuque<strong>do</strong>”. Ahistória <strong>de</strong> Clara Cunha e Paulo Galindro foi transformada em códigos cinéticos. Arriscámostransformá-la num jogo com a intencionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser contada às crianças através <strong>de</strong> uma linguagemcodificada por imagens, pois acreditamos que estas proporcionam um acesso ao conhecimentoicónico-textual através <strong>de</strong> uma construção em cores, formas, sensações e percepções. O conto foitrabalha<strong>do</strong> através da apresentação <strong>de</strong> um cartaz em que a mensagem era lida através <strong>de</strong> códigos e<strong>de</strong> espaços em branco. Pu<strong>de</strong>mos perceber que ao trabalharmos esta história com crianças <strong>de</strong>diferentes faixas etárias, o reconto oral através da simbologia <strong>do</strong>s códigos cinéticos se tornouprofícuo. As crianças são, então, receptoras e cria<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> mensagens visuais, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser capazes<strong>de</strong> tecer interpretações espontâneas à medida que as informações adquiridas sobre a históriasurgiam. É impossível negar o regozijo com que sentimos o entusiasmo das crianças a “<strong>de</strong>vorarem” ea “absorverem” os códigos, a expressarem-se oralmente… a escreverem sobre o observa<strong>do</strong> e ovivi<strong>do</strong>, a inventarem histórias com coerência e senti<strong>do</strong> e a mobilizarem saberes <strong>de</strong> uma formaintegrada.AbstractIn this article we dare to <strong>de</strong>scribe how the exploration of the story “O Cuque<strong>do</strong>” took place. The storyfrom Clara Cunha and Paulo Galindro was transformed into kinetic co<strong>de</strong>s. We risked to transform itinto a game with the intention of being told to children through a language codified in images becausewe believe that these provi<strong>de</strong> an access to an iconic-literal knowledge with the use of colours, shapes,sensations and perceptions. The story was presented with a poster on which the message was readthrough co<strong>de</strong>s and blank spaces. When working this story with children of different ages we couldperceive that telling stories through kinetic co<strong>de</strong>s has become fruitful. Children are, thus, receivers andproducers of visual messages, being able to interpret spontaneously, as the information on the storycomes up. It is impossible to <strong>de</strong>ny the rejoicing we felt with the enthusiasm of the children “<strong>de</strong>vouring”and “absorbing” the co<strong>de</strong>s, expressing themselves verbally… writing about what they have seen andlived, making up coherent and meaningful stories and mobilising knowledge in an integrated form.468
IntroduçãoCom frequência aparecem hoje livros <strong>de</strong> literatura para a infância que, pela suavarieda<strong>de</strong> temática, gráfica e escrita, nos po<strong>de</strong>rão servir para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>activida<strong>de</strong>s didáctico-pedagógicas diversas. Contu<strong>do</strong>, e ten<strong>do</strong> em conta esta multiplicida<strong>de</strong><strong>de</strong> opções, <strong>de</strong>vemos pensar no livro enquanto conteú<strong>do</strong> explorável, para que não se anule aparcela educativa que se preten<strong>de</strong> ver <strong>de</strong>senvolvida no conjunto das tarefas propostas peloadulto à criança. Foi num longo processo <strong>de</strong> selecção que encontrámos a história “OCuque<strong>do</strong>”. Entre histórias <strong>de</strong> gatos, fadas, monstros, crocodilos, outros animais e seresestranhos, encontrámos um ser estranho que era “muito assusta<strong>do</strong>r” e que pregava “sustosa quem estivesse para<strong>do</strong> no mesmo lugar”. Assumiu assim a história o interesse datransformação <strong>do</strong> vulgar animal num outro ser que a criança criou e recriou mentalmente àmedida que a história foi sen<strong>do</strong> contada. Essa transformação fez-se tanto nas dimensões <strong>do</strong>suposto animal assusta<strong>do</strong>r, como no seu aspecto gráfico.DesenvolvimentoExistem palavras que, ao não subsistirem enquanto vocábulos da nossa línguamaterna, se constituem em verda<strong>de</strong>iras motivações. Acontece com a palavra “cuque<strong>do</strong>” que.ao ser uma palavra inventada, tem um efeito mágico nas crianças, permanecen<strong>do</strong>, ao longo<strong>de</strong> toda a história “O Cuque<strong>do</strong>”, uma ligação afectiva intrínseca, sen<strong>do</strong> que a figura <strong>do</strong> serestranho é revelada apenas no seu final. “O Cuque<strong>do</strong>” assenta num jogo que representauma acção entre as imagens e as palavras, e haven<strong>do</strong> repetição <strong>de</strong> vocábulos e sonsacrescenta-se o limite <strong>do</strong> prazer da audição. Este prazer po<strong>de</strong> ser amplia<strong>do</strong> se pensarmosem formas alternativas <strong>de</strong> contar histórias. Uma <strong>de</strong>ssas formas resultou na transformaçãoda história “O Cuque<strong>do</strong>” num cartaz com códigos cinéticos, que se apresenta:469
A visualização <strong>do</strong> cartaz, à partida, causa estranheza, assim como a palavra“cuque<strong>do</strong>”, que terá <strong>de</strong> ser explorada a priori numa tentativa <strong>de</strong> se perceber os significa<strong>do</strong>sda<strong>do</strong>s pela criança, quer em termos <strong>de</strong> palavras que lhe estão associadas, quer em termosicónico-gráficos. Percebe-se o jogo <strong>de</strong> imagens pela repetição e pela sequencializaçãodada, o que a transforma numa estrutura formal. Ao ser lida a palavra, a sonorização que secria permite à criança perceber o texto, uma vez que se <strong>de</strong>senvolve por associação. Sen<strong>do</strong>que a lógica linguística da criança não é causal mas sim associativa, o que permite apelar àmemória da criança, o reconto da história faz-se, em qualquer ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma lúdica,pre<strong>do</strong>minan<strong>do</strong> a assertivida<strong>de</strong> das palavras que utiliza e, sobretu<strong>do</strong>, porque interpreta o quelê. Isto porque a criança valoriza o aspecto formal e sonoro da estrutura <strong>de</strong> um conto. Nestesenti<strong>do</strong>, concordamos com Manila (2007) quan<strong>do</strong> refere que “ensinar um aluno a expressarseoralmente, a <strong>do</strong>minar o timbre, a altura e a intensida<strong>de</strong> da voz é também convidá-lo atomar consciência <strong>do</strong> seu corpo, a compreen<strong>de</strong>r os mecanismos fisiológicos sem os quais atransformação <strong>do</strong> ar em som – e, além disso, em som significativo – é impossível” (p.11).Len<strong>do</strong> a história facilmente se percebe que há to<strong>do</strong> um percurso interior repetitivo oque permite o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> raciocínio associativo. Porém, essa repetição é quebradapela existência <strong>de</strong> espaços em branco que, ao representarem o espaço que <strong>de</strong>veria serpreenchi<strong>do</strong> pela figura estranha, espicaçam mais a curiosida<strong>de</strong> da criança para o seuconhecimento. Mas como se lê esta história?Andava umamanada<strong>de</strong> hipopótamos<strong>de</strong> lá para cáquan<strong>do</strong>apareceu umazebra que disse: ALTO LÁ! Po<strong>de</strong>m dizerme…o que andamvocês…e <strong>de</strong> cá para láhipopótamosa fazer<strong>de</strong> lá para cáAi! Tu nãosabes?Chegou…à selva oCuque<strong>do</strong>!O Cuque<strong>do</strong>! E quemé o Cuque<strong>do</strong> -perguntou a Zebra.O Cuque<strong>do</strong> émuitoassusta<strong>do</strong>r...Prega sustos aquem estiverpara<strong>do</strong> nomesmo lugar.e <strong>de</strong> cá paralá?Andava umamanada<strong>de</strong> hipopótamose zebras<strong>de</strong> lá para cáquan<strong>do</strong>apareceu umelefanteque disse:ALTO LÁ!Po<strong>de</strong>m dizerme…o que andamvocês…e <strong>de</strong> cá para lá470
hipopótamose zebras afazer<strong>de</strong> lá para cáAi! Tu nãosabes?Chegou…à selva oCuque<strong>do</strong>!O Cuque<strong>do</strong>! E quemé o Cuque<strong>do</strong> -perguntou o elefante.O Cuque<strong>do</strong> émuitoassusta<strong>do</strong>r...Prega sustos aquem estiverpara<strong>do</strong> nomesmo lugar.e <strong>de</strong> cá paralá?Andava umamanada<strong>de</strong> hipopótamos,zebras eelefantes<strong>de</strong> lá para cáquan<strong>do</strong>apareceu umagirafa que disse: ALTO LÁ!Po<strong>de</strong>m dizerme…o que andamvocês…e <strong>de</strong> cá para láHipopótamos,zebras eelefantes afazer<strong>de</strong> lá para cáAi! Tu nãosabes?Chegou…à selva oCuque<strong>do</strong>!O Cuque<strong>do</strong>! E quemé o Cuque<strong>do</strong> -perguntou a girafa.O Cuque<strong>do</strong> émuitoassusta<strong>do</strong>r...Prega sustos aquem estiverpara<strong>do</strong> nomesmo lugar.e <strong>de</strong> cá paralá?Andava umamanada<strong>de</strong> hipopótamos,zebras, elefantese girafas<strong>de</strong> lá para cáquan<strong>do</strong>apareceu umrinoceronte que disse: ALTO LÁ!Po<strong>de</strong>m dizerme…o que andamvocês…e <strong>de</strong> cá para láHipopótamos,zebras, elefantese girafas a fazer<strong>de</strong> lá para cáAi! Tu nãosabes?Chegou…à selva oCuque<strong>do</strong>!O Cuque<strong>do</strong>! E quemé o Cuque<strong>do</strong> -perguntou orinoceronte.O Cuque<strong>do</strong> émuitoassusta<strong>do</strong>r...Prega sustos aquem estiverpara<strong>do</strong> nomesmo lugar.e <strong>de</strong> cá paralá?Andava umamanada<strong>de</strong> hipopótamos,zebras, elefantes,girafas erinocerontes<strong>de</strong> lá para cáquan<strong>do</strong>apareceu oCuque<strong>do</strong> que disse: ALTO LÁ!Po<strong>de</strong>m dizerme…o que andamvocês…e <strong>de</strong> cá para láAnimais daselva a fazer<strong>de</strong> lá para cáAi! Tu nãosabes?Chegou…à selva oCuque<strong>do</strong>!O Cuque<strong>do</strong>! Equem é o Cuque<strong>do</strong>- perguntou aoCuque<strong>do</strong>.O Cuque<strong>do</strong> émuitoassusta<strong>do</strong>r...Prega sustos aquem estiverpara<strong>do</strong> nomesmo lugar.e <strong>de</strong> cá para lá?471
Capa <strong>do</strong> livro “O Cuque<strong>do</strong>”No final <strong>de</strong> terem feito o reconto da história, a figura <strong>do</strong> “cuque<strong>do</strong>” é apresentadaobjectivamente pelo preenchimento <strong>do</strong>s espaços em branco e confronta-se com osdiferentes registos icónico-gráficos que as crianças construíram.Na exploração que fizemos, com crianças <strong>de</strong> diferentes faixas etárias, fomosperceben<strong>do</strong>, nesta etapa, que o jogo das palavras e <strong>do</strong>s sons associa<strong>do</strong>s aos códigoscinéticos lhes permitiu às crianças mais pequenas, pelo simples facto <strong>de</strong> estarem emcontacto com texto <strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong> <strong>de</strong> senti<strong>do</strong> um <strong>de</strong>spertar <strong>do</strong> significante que apela aoimaginário, enquanto que as crianças mais velhas introduziam outros grafismos maiselabora<strong>do</strong>s, completamente enviesa<strong>do</strong>s por estereótipos. Apresentamos alguns exemplosicónico-gráficos para contextualizar:Raquel (4 anos) João (10 anos) Inês (16 anos)472
Sabe-se que o simples facto <strong>de</strong> narrar permite a interacção social e que “as históriasque contamos não são exclusivamente produtos da linguagem, admiráveis pelo que geram:a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir múltiplas versões <strong>de</strong> uma mesma situação” (Bruner, cita<strong>do</strong> porManila, 2007, p.5). Neste senti<strong>do</strong>, o facto <strong>de</strong> termos proporciona<strong>do</strong> às crianças recontarematravés <strong>de</strong> códigos, por um la<strong>do</strong> permitiu-lhes fazer um jogo <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> formas com um<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> significa<strong>do</strong> e, por outro, possibilitou-lhes a apreensão <strong>do</strong> confronto entre apalavra escrita e o respectivo código cinético que lhe estava associa<strong>do</strong>. Não foi nossapretensão separar a oralida<strong>de</strong> da escrita, pois acreditamos que são duas realida<strong>de</strong>s que seinter-relacionam e não se excluem. Contu<strong>do</strong>, o saber contar histórias é algo que <strong>de</strong>vemosvalorizar e <strong>de</strong>senvolver nas crianças em termos <strong>de</strong> competência, “uma vez que a literaturaque chega até nós mediante uma voz – ou através daquele mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> vozes que ressoa nanossa imaginação cada vez que nos aproximamos <strong>de</strong> um livro e começamos a sua leitura –,é uma voz que, na sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emanação <strong>do</strong> corpo que representa, se transforma emmotor essencial das energias subjacentes da colectivida<strong>de</strong>” (Manila, 2007, p. 9).473
Referências BibliográficasBUORO, A. B. (2002). Olhos que pintam. A leitura da imagem e o ensino da arte. São Paulo:Educ/ Fapesp/ Cortez Editora.CUNHA, C. & GALINDRO, P. (2008). O Cuque<strong>do</strong>. Lisboa: Livros Horizonte.DEWEY, J. (2002). A escola e a socieda<strong>de</strong> e a criança e o currículo. Lisboa: Relógio D’Água.HERNÁNDEZ, F. (1998). Transgressão e mudança na educação. Os projectos <strong>de</strong> trabalho.Porto Alegre: Artmed.HERNÁNDEZ, F. (2000). Cultura visual, mudança educativa e projecto <strong>de</strong> trabalho. PortoAlegre: Artes Médicas Sul.MANILA, G. (2007). Literatura oral e ecologia <strong>do</strong> imaginário. Lisboa: Apenas.MUNARI, B. (2007). Fantasia. Lisboa: Edições 70.OLIVEIRA-FORMOSINHO, J. (2007). Pedagogia(s) da infância: reconstruin<strong>do</strong> uma praxis <strong>de</strong>participação. In J. Oliveira-Formosinho, T. Kishimoto & M. Pinazza (Orgs.),Pedagogia(s) da Infância. Dialogan<strong>do</strong> com o passa<strong>do</strong>, construin<strong>do</strong> o futuro (pp. 13-36). Porto Alegre: Artmed.474