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Universidade Federal de Minas Gerais - ICB - Universidade Federal ...

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À minha mãe - nada menos do que meus seis sentidos.II


Agra<strong>de</strong>cimentosA Deus, por cada um dos anjos que cruzaram e ainda cruzarão o meu caminho.A natureza, por ser minha fonte eterna <strong>de</strong> inspiração. Por toda a sua exuberância,mistério e magia, que <strong>de</strong>spertam em mim a paixão pelo que faço. Pela sua infinitacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> me trazer paz e recarregar minhas energias. Por manter <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim acoragem e a força para lutar por sua preservação.À minha mãe, por me <strong>de</strong>dicar cada segundo <strong>de</strong> sua vida, por acreditar em mim e meamar como sou. Pelo esforço <strong>de</strong>spendido para que eu chegasse até aqui. Pelacumplicida<strong>de</strong> e seu amor inabalável. Por seu exemplo <strong>de</strong> integrida<strong>de</strong>, bravura ecompaixão. Pelo cheirinho do café no final da tar<strong>de</strong> e sua presença suave e constante emminha vida. Por ser a base a partir da qual me edifiquei. Minha melhor amiga, minhacompanheira, minha fiel escu<strong>de</strong>ira. Por seu jeito bonito <strong>de</strong> perdoar e se doar. Por todosos ensinamentos, por cada esforço, cada “grama” <strong>de</strong> paciência e cada sábio conselho.Pela fonte eterna <strong>de</strong> paz, força e positivismo. Por me mostrar várias vezes que não se<strong>de</strong>volve ao mundo as pancadas e que o amor ainda vale a pena. Por me permitir chegarem casa e me sentir amada, protegida e jamais solitária. Por me somar a cada dia e medoar em doses homeopáticas um pouco <strong>de</strong> sua nobreza infinita.À minha pequena gran<strong>de</strong> família, sobretudo por me darem suporte nos momentosdifíceis, vibrarem com minhas vitórias e compartilharem comigo todas as alegriasvividas. Ao meu irmão Cacáudio, com seu falso coração gelado. Por seu exemplo <strong>de</strong>intelectualida<strong>de</strong> e sucesso. Por fazer parte da minha história e ser o confortante elo como meu passado. Pelas divertidas e sinceras reuniões familiares e boas risadas. Pelo salãoda Barbie, pelo seu jeitinho único <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar carinho e pela aconchegante certeza <strong>de</strong>seu afeto. À minha cunhada Bruna, que <strong>de</strong> “cunhada” não tem nada. Pela sua amiza<strong>de</strong> ecompanhia sempre agradáveis. Ao meu gran<strong>de</strong> amigo Marcos, por me amar assim... dojeito que eu sou: rabugenta. Pelas várias e várias vezes em que esteve ao meu ladoquando mais precisei. Por cada gota <strong>de</strong> lágrima que ele secou e cada minuto <strong>de</strong> suapresença em minha vida. Pela sua divertida e infinita curiosida<strong>de</strong> em relação à ciência.Pelas tantas conversas e aluguel sem fins lucrativos dos seus ouvidos. Ao meu primoRichard, por cada “grama” <strong>de</strong> sua infinita paciência, pelas horas perdidas no Xadrez,Combate, Jogo da Vida, Banco Imobiliário... Pelos solucionáticos queijos, samambaiase axés. Pela sua risada única, “causos” e mais “causos” e sua presença certa em todos osmomentos especiais <strong>de</strong> minha vida até então.Ao Joselmar, pelo companheirismo e lealda<strong>de</strong>. Por cada momento em que, emboradistante, se fez presente. Por me ouvir, enten<strong>de</strong>r e apoiar nos momentos <strong>de</strong> fraqueza erebeldia. Por acreditar em mim e me convencer a acreditar também. Por compartilharcomigo todas as aflições e alegrias. Por diversas vezes ter me reerguido e me ajudado aseguir em frente. Por cada palavra e gesto <strong>de</strong> apoio e carinho. Por seu exemplo <strong>de</strong>generosida<strong>de</strong>, esforço e sucesso. Por me mostrar que po<strong>de</strong>mos realizar nossos sonhosII


começando do zero. Pelo seu ombro sempre tão forte e seu amor sempre tão sincero,leve e confortante.Ao meu orientador José Eugênio, por toda a sua sapiência e cada uma <strong>de</strong> suas idéiasbrilhantes. Por sua <strong>de</strong>dicação acadêmica e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer sempre o melhor. Poracreditar que um dia essa “catarrina” chegaria até aqui. E quem diria... brincando com ocaos... Por cada “grama” <strong>de</strong> sua paciência e por cada pedacinho do seu infinitoconhecimento. Por ter me edificado enquanto pessoa e profissional. Por todo esse tempo<strong>de</strong> paternal convivência, que tornou minha trajetória acadêmica mais leve e divertida.Por sua leal amiza<strong>de</strong>, seu apoio e sua compreensão. Pela certeza <strong>de</strong> sua ajuda sempreque precisei. Pelas calorosas reuniões em sua casa. Pelo exemplo <strong>de</strong> generosida<strong>de</strong>, éticae justiça.Ao meu coorientador Ary, por todas as suas contribuições, pela ajuda fundamental comas análises <strong>de</strong> solo e i<strong>de</strong>ntificação das espécies. Por toda a sua simplicida<strong>de</strong> econhecimento. E sobretudo, por ter aceito o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> se envolver nessa idéia maluca<strong>de</strong> enxergar alguma or<strong>de</strong>m no caos.Aos meus seletos amigos. Carol e Marininha pela reciprocida<strong>de</strong>, atenção, carinho,momentos <strong>de</strong> alegria e boas lembranças. Pelas pipocas <strong>de</strong> panela, Coca-colas geladas efilmes ruins. Por rirem das minhas piadas sem graça. Por me acolherem em suas vidascomo se nos conhecêssemos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança. Pelos sábios conselhos amorosos e apoio àsminhas sandices. Pela amiza<strong>de</strong> simples e inocente, sem <strong>de</strong>speito ou disfarces. Ao meuamigo Bruninho, por todas as <strong>de</strong>liciosas e terapêuticas crises <strong>de</strong> risos e pelos sempredivertidos encontros. Por me apoiar, estimular e ajudar a colocar planos sempre falíveisem prática. À Graciele, por sua velha amiza<strong>de</strong> e tantas histórias que hoje tenho paracontar. À Vívian pelo exemplo <strong>de</strong> serenida<strong>de</strong> e agradável companhia. Por seu senso <strong>de</strong>justiça e apoio nos momentos em que mais precisei. À Fabiana Lopes, minha boa amigapela sua companhia sempre certa, sua meiguice, simplicida<strong>de</strong> e competência.Aos meus estagiários e amigos, Thomaz, Julianne e Fernanda pela presençafundamental no campo. Pela <strong>de</strong>dicação, pelas horas <strong>de</strong> sofrimento e alegriacompartilhadas e por cada carrapato que atormentou suas vidas. Pelo tão esperado PF danoite. Pela responsabilida<strong>de</strong> com os dados e troca <strong>de</strong> conhecimentos. Por permaneceremno projeto mesmo com outros planos. Definitivamente, sem esses peões eu não po<strong>de</strong>riamexer as peças do meu tabuleiro. Obrigada, turminha! Devo essa a vocês!!! Espero <strong>de</strong>alguma forma ter contribuído para o crescimento profissional <strong>de</strong> vocês. Obrigadatambém à Ludmila pela ajuda em campo e por suas mirabolantes estratégias <strong>de</strong>orientação e sobrevivência na selva.À família Cortes Figueira, sobretudo por me acolherem e compartilharem comigomomentos <strong>de</strong> reflexão, angústia e alegria antes e durante o período <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong>ssa dissertação. À Fabiana Mourão, pelo eterno exemplo <strong>de</strong> esforço, dinamicida<strong>de</strong> eIII


sucesso. Por cada oportunida<strong>de</strong> que me fez crescer profissionalmente. Pelos conselhos,troca <strong>de</strong> experiências, boas risadas e divertidas reuniões e pausas para o lanche. Portomar minhas dores quando precisei <strong>de</strong> um leal escu<strong>de</strong>iro. Pelo apoio nos momentosdifíceis e pelas vezes em que me convenceu a não colocar fogo em tudo e sair correndoe gritando. Ao Nissim, um dia no passado meu “chefe”, hoje meu gran<strong>de</strong> amigo. Pelossempre divertidos encontros e pelo melhor Réveillon da minha vida. Por ser meu amigoe estar sempre presente, nem que seja para me amolar. Pelo amor fraternal e seuexemplo <strong>de</strong> sucesso e competência. Você faz falta, viu? Ao Rafael Drummond, por suainfinita prestabilida<strong>de</strong> e por sua preocupação em fazer do mundo um lugar melhor. ÀFabi Couto, Leo e Luíza pelas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> crescimento, agradável convivência etroca <strong>de</strong> conhecimentos.Aos meus colegas <strong>de</strong> <strong>de</strong>partamento por tornarem minha caminhada mais leve edivertida. Ao Ericson pelas piadas sempre espirituosas e trocas <strong>de</strong> conhecimentos. Portornar as saídas <strong>de</strong> campo mais divertidas e marcá-las positivamente na minha históriaacadêmica. Foi muito divertido trabalhar com você! À Marcela das cornutas, pelas boasrisadas e pelo compartilhamento dos traumas e sandices. Por também ouvir vozes ereconhecer seres <strong>de</strong>tentores do conhecimento universal. À cada um que, mesmo poralguns instantes, tenham me acrescentado um pouco mais <strong>de</strong> alegria.A todos os professores do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ecologia Conservação eManejo da Vida Silvestre (PPG ECMVS) pela amiza<strong>de</strong> e troca <strong>de</strong> conhecimentos.À Professora Cristiane Valéria <strong>de</strong> Oliveira, pela atenciosa colaboração e explicaçãosobre o funcionamento dos solos. Ao professor Marcel Giovanni Costa pelas discussõessobre a interação das plantas com o solo. Ao professor Marcos Sobral pela paciência egenerosa colaboração com a i<strong>de</strong>ntificação das espécies. Ao Pedrinho e colegas doLaboratório <strong>de</strong> Sistemática Vegetal pela ajuda nas i<strong>de</strong>ntificações. Ao Marco Aurélio eao Departamento <strong>de</strong> Ciências do Solo da UFLA pela fundamental análise dos solos. ÀKátia Torres pela sugestão inicial <strong>de</strong>ste estudo, pelas discussões e trocas <strong>de</strong>conhecimentos e pelo exemplo <strong>de</strong> empenho profissional. Ao IBAMA do ParqueNacional da Serra do Cipó pelo apoio ao projeto.A CAPES pela bolsa <strong>de</strong> estudos. À US-FISH e à FAPEMIG pelo auxílio financeiro. AoDepartamento <strong>de</strong> Biologia Geral pela oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse projeto eobtenção do título <strong>de</strong> mestrado. Ao Fred e à Cris pela paciência, prestabilida<strong>de</strong> eeficiência na secretaria.Aos membros da banca examinadora composta pelos professores Dra. Claudia MariaJacobi, Dra. Kátia Torres Ribeiro e Dr. José Fernan<strong>de</strong>s Bezerra Neto, por aceitarem oconvite e contribuírem com suas valiosas sugestões para este estudo.A todos aqueles que porventura eu tenha me esquecido, mas que <strong>de</strong>ixaram suacontribuição para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste trabalho.IV


ResumoSegundo relatos <strong>de</strong> viajantes, durante o processo <strong>de</strong> ocupação da região on<strong>de</strong> hoje estálocalizado o Parque Nacional da Serra do Cipó, gran<strong>de</strong>s extensões da paisagem forammanejadas para fins agropastoris, resultando em <strong>de</strong>smates, queimadas freqüentes eplantio <strong>de</strong> gramíneas exóticas. Após a implementação do Parque e <strong>de</strong> programas <strong>de</strong>combate a incêndios e retirada <strong>de</strong> gado, teve início a recuperação natural <strong>de</strong>ssas áreas.No vale do Rio Cipó, próximo à convergência dos rios Bocainas e Mascates, uma mataciliar <strong>de</strong> largura variável é margeada por um campo <strong>de</strong> gramíneas, localizado em umaplanície <strong>de</strong> sedimentação arenosa, que permanece encharcada nos períodos chuvosos.Esse campo, por sua vez, é margeado por uma área <strong>de</strong> cerrado sensu-stricto, situado emcotas altimétricas um pouco mais elevadas. No campo existem espécies herbáceas,arbustivas e arbóreas que indicam um claro processo sucessional impulsionado peloencerramento das ativida<strong>de</strong>s agropastoris. O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho foi compreen<strong>de</strong>r osprocessos que estão <strong>de</strong>terminando a colonização do campo e propor uma possíveltrajetória sucessional para a área. Para isso foram feitos levantamentos florísticos nocampo, na mata e no cerrado pelo método das parcelas, incluindo todos os indivíduoscom altura acima <strong>de</strong> 50 cm. As síndromes <strong>de</strong> dispersão foram <strong>de</strong>terminadas com base naliteratura e consulta a especialistas. Em parte <strong>de</strong>ssas parcelas, foram coletadas amostras<strong>de</strong> solo para análise <strong>de</strong> umida<strong>de</strong>, textura e fertilida<strong>de</strong>. Adicionalmente, no campo foramfeitas medidas <strong>de</strong> microclima com um datalogger LICOR-1400. O mo<strong>de</strong>lo geométrico,ajustado aos “ranques” <strong>de</strong> abundância das espécies, reforça a idéia <strong>de</strong> um campo emfranco processo sucessional. Nesse campo, entre as herbáceas, dominammonocotiledôneas com afinida<strong>de</strong> por solos úmidos, on<strong>de</strong> também é menor a riqueza <strong>de</strong>outras herbáceas, na sua maioria espécies do cerrado. Em contraste com as espécies <strong>de</strong>mata que se concentram na borda do campo, as espécies do cerrado são encontradas emtoda a extensão do campo. As três síndromes <strong>de</strong> dispersão po<strong>de</strong>m ser encontradas nocampo, enquanto na mata e no cerrado a zoocoria é predominante. Diferentes texturas efertilida<strong>de</strong>s caracterizam e discriminam bem os solos do campo sucessional, da mata edo cerrado, mas todos apresentaram concentrações tóxicas <strong>de</strong> alumínio e pobrezanutricional extrema. No campo, <strong>de</strong>ntre outras características, é notável o elevadopercentual <strong>de</strong> silte, que sugere lento intemperismo, provavelmente causado pelaumida<strong>de</strong> excessiva mais duradoura, que vem se mantendo ao longo do tempo. Issosugere que o campo po<strong>de</strong> não ter comportado vegetação <strong>de</strong>nsa e <strong>de</strong> maior porte, comelevada capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evapotranspiração, a ponto <strong>de</strong> permitir processos oxidativos queresultariam no acúmulo <strong>de</strong> argila. Em função disso, uma possível trajetória sucessionalseria a manutenção <strong>de</strong> um campo inundável com grupos <strong>de</strong> indivíduos lenhososinseridos na matriz <strong>de</strong> monocotiledôneas típicas <strong>de</strong> áreas alagadas. Esse contexto po<strong>de</strong>representar uma forte “base <strong>de</strong> atração”, originada a partir das intervenções antrópicaslocais, na qual o campo ten<strong>de</strong> a se manter.Palavras chave: Campo abandonado, Cerrado, Alagamentos, Sucessão ecológica.V


AbstractAccording to reports from travelers, during the occupation of the region where today islocated the National Park of Serra do Cipo, large tracts of the landscape were managedfor grazing, resulting in <strong>de</strong>forestation, burning and frequent planting of exotic grasses.After the implementation of park and the programs of fighting fires and removal ofcattle, began the natural recovery of these areas. In the valley of the Rio Cipo, near tothe convergence of rivers Bocaina and Mascates, a variable-width riparian forest isbor<strong>de</strong>red by a grassy field, located in a sandy plain sedimentation, which remainswaterlogged in the rainy season. This field, in turn, is bor<strong>de</strong>red by an area of savanna,located at altitu<strong>de</strong>s a little higher. In the field there are herbaceous species, shrubs andtrees that indicate a clear successional process driven by the closure of agropastoralactivities. The objective of this study was to un<strong>de</strong>rstand the processes that are<strong>de</strong>termining the colonization of the field and propose a possible succession trajectoryfor the area. For this, floristic surveys were ma<strong>de</strong> in the field, forest and savanna by themethod of the plot, including all individuals taller than 50 cm. The dispersal syndromeswere <strong>de</strong>termined based on the literature and consulting experts. In some of these plots,soil samples were collected for analysis of moisture, texture and fertility. Additionally,field measurements of microclimate were ma<strong>de</strong> with the LICOR-1400 datalogger. Thegeometric mo<strong>de</strong>l adjusted to the "ranks" of species abundance, highlights the i<strong>de</strong>a of afield successional process. In this field, among the herbaceous, grass with affinity forwet soils are dominats, where there are species richness. In contrast to the species ofwoods that are concentrated at the edge of the field, savanna species are foundthroughout the length of the field. The three dispersal syndromes may be encountered inthe field, while in the forest and savanna, the zoochory is predominant. Differenttextures and fertility characterize the soils of successional field, the forest and thesavanna, but all of them had toxic concentrations of aluminum and nutritional extremepoverty. In the field, among other features, it is remarkable the high percentage of silt,which suggests slow weathering, likely caused by excessive moisture longer, whichhave remained over time. This suggests that the field may not have sustained a <strong>de</strong>nseand larger vegetation, with high capacity for evapotranspiration, enough to allowoxidation processes that result in the accumulation of clay. As a result, a successiontrajectory would be possible to maintain a field floo<strong>de</strong>d with groups of individualsinclu<strong>de</strong>d in the matrix of grasses typical of wetlands. This context can represent a strong"base attraction," originated from local anthropogenic interventions, in which the fieldtends to remain.Keywords: abandoned fields, savanna, floods, ecological succession.VI


Lista <strong>de</strong> FigurasFIGURA 1 - Estimativa da área global <strong>de</strong> paisagens abandonadas em florestas esavanas no período <strong>de</strong> 1700 até 1990 ....................................................................... 10FIGURA 2 - Paisagem <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> com duas bases <strong>de</strong> atração mostrando aposição do sistema e três aspectos da resiliência .................................................... 12FIGURA 3 - Localização geográfica do Parque Nacional da Serra do Cipó-MG .. 19FIGURA 4 - Localização geográfica da Serra do Cipó no contexto da Ca<strong>de</strong>ia doEspinhaço ................................................................................................................... 20FIGURA 5 - Imagem <strong>de</strong> satélite mostrando a área <strong>de</strong> estudo em diferentes escalas.................................................................................................................................... 24FIGURA 6 - Imagem <strong>de</strong> satélite da área <strong>de</strong> estudo mostrando o campo <strong>de</strong>gramíneas, a mata ciliar e o cerrado ....................................................................... 25FIGURA 7 - Gradiente vegetacional da área <strong>de</strong> estudo ............................................ 25FIGURA 8 - Cada uma das três fitofisionomias acompanhada pela respectivafotografia hemisférica ............................................................................................... 26FIGURA 9 - Fotografias da área <strong>de</strong> estudo. (A) planície <strong>de</strong> inundação do Rio Cipóem <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009. (B) (C) solo encharcado com formação <strong>de</strong> lâmina d’água.................................................................................................................................... 27FIGURA 10 - Imagem <strong>de</strong> satélite mostrando o posicionamento aproximado dostrês transectos na área <strong>de</strong> estudos. .......................................................................... 29FIGURA 11 - Espécies <strong>de</strong> gramíneas estudadas. (A) Andropogon bicornis, (B)Urochloa <strong>de</strong>cumbens, (C) Poaceae não i<strong>de</strong>ntificada ............................................... 31FIGURA 12 - Curva espécie/abundância para os três transectos do campo ....... 34FIGURA 13 - Relações entre as abundâncias das três espécies <strong>de</strong> gramíneas e aumida<strong>de</strong> do solo ......................................................................................................... 35FIGURA 14 - Relações entre a riqueza <strong>de</strong> espécies, a umida<strong>de</strong> e a cobertura dastrês gramíneas estudadas (Poaceae (não i<strong>de</strong>ntificada), Urochloa <strong>de</strong>cumbens eAndropogon bicornis) ................................................................................................ 36FIGURA 15 - Aumento da riqueza em espécies com a distância em relação àsbordas do cerrado ..................................................................................................... 37VII


FIGURA 16 - Redução da cobertura <strong>de</strong> Urochloa <strong>de</strong>cumbens e Andropogonbicornis com a distância em relação às bordas do cerrado ................................... 37FIGURA 17 - Relações entre a PAR e a cobertura <strong>de</strong> Urochloa <strong>de</strong>cumbens .......... 38FIGURA 18 - Porcentagem <strong>de</strong> indivíduos <strong>de</strong> cada fitofisionomia registrados nocampo. Espécies típicas <strong>de</strong> cerrado ou mata ciliar e espécies que po<strong>de</strong>m serencontradas nos dois ambientes ............................................................................... 38FIGURA 19 - Distribuição das espécies características <strong>de</strong> cada hábitat nas parcelasdo campo. (A) Porcentagem <strong>de</strong> espécies típicas <strong>de</strong> cerrado. (B) Porcentagem <strong>de</strong>espécies que po<strong>de</strong>m ser encontradas em ambientes <strong>de</strong> cerrado ou mata ciliar. (C)Porcentagem <strong>de</strong> espécies típicas <strong>de</strong> mata ciliar ...................................................... 39FIGURA 20 - Distribuição das espécies com diferentes portes pelo campo ........... 39FIGURA 21 - Distribuição <strong>de</strong> alturas médias dos indivíduos nas parcelas do campo.................................................................................................................................... 40FIGURA 22 - Distribuição das três formas <strong>de</strong> dispersão nas parcelas do campo.(A) autocóricas, (B) anemocóricas, (C) zoocóricas ................................................ 40FIGURA 23 - Percentual <strong>de</strong> espécies zoocóricas, anemocóricas e autocóricas emcada uma das três fitofisionomias. (A) mata ciliar (B) cerrado (C) campo ......... 41FIGURA 24 - Comparação entre as variáveis químicas dos solos do cerrado,campo e mata ciliar ................................................................................................... 42FIGURA 25 - Comparação entre as variáveis físicas dos solos do cerrado, campo emata ciliar .................................................................................................................. 43FIGURA 26 - Diagrama bidimensional representando a distribuição dos grupos noespaço discriminante ................................................................................................. 46FIGURA 27 - Correlações entre as variáveis físico-químicas e os dois primeiroscomponentes da PCA ................................................................................................ 48FIGURA 28 - Correlações entre os escores resultantes da Análise Discriminante eda PCA ....................................................................................................................... 49FIGURA 29 - Distribuição das parcelas no espaço bidimensional formado pelosdois primeiros eixos da NMDS ................................................................................ 50FIGURA 30 - Distribuição das parcelas no espaço tridimensional formado pelostrês primeiros eixos da NMDS ................................................................................. 51FIGURA 31 - Correlações entre os escores resultantes da NMDS e da PCA ......... 53VIII


Lista <strong>de</strong> TabelasTABELA 1 - Processos reconhecidos por Clements como norteadores da sucessão,com suas respectivas interpretações mo<strong>de</strong>rnas ...................................................... 04TABELA 2 - Eigenvalues, porcentagem relativa e correlação canônica das duasfunções discriminantes ............................................................................................. 43TABELA 3 - Média das variáveis edáficas para cada grupo resultantes da AnáliseDiscriminante ............................................................................................................ 44TABELA 4 - Coeficientes padronizados da Análise Discriminante ........................ 45TABELA 5 - Autovalores e porcentagem da variância explicada por cada um doscomponentes .............................................................................................................. 46TABELA 6 - Peso das variáveis em cada eixo da PCA ............................................. 47TABELA 7 - Po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> explicação <strong>de</strong> cada eixo do NMDS........................................ 49TABELA 8 - Teste <strong>de</strong> Permutação <strong>de</strong> Monte Carlo .................................................. 51TABELA 9 - Matriz <strong>de</strong> coeficientes <strong>de</strong> correlação <strong>de</strong> Spearman entre os eixosedáficos e florísticos .................................................................................................. 52IX


Sumário1. Introdução ................................................................................................................... 11.1 Sucessão Ecológica: A Evolução dos Conceitos ..................................................... 11.2 A Sucessão nos Campos Abandonados ................................................................. 102. Um breve histórico da Ca<strong>de</strong>ia do Espinhaço ......................................................... 163. O Parque Nacional da Serra do Cipó ..................................................................... 184. Área <strong>de</strong> Estudo .......................................................................................................... 225. Objetivos .................................................................................................................... 276. Hipóteses .................................................................................................................... 287. Material e Métodos ................................................................................................... 287.1. Coleta <strong>de</strong> Dados ..................................................................................................... 287.1.1. Levantamento Florístico ............................................................................. 287.1.2. Coleta <strong>de</strong> Solos ............................................................................................. 307.1.3. Cobertura <strong>de</strong> Gramíneas ............................................................................ 317.1.4. Microclima ................................................................................................... 317.2. Análise dos Dados .................................................................................................. 328. Resultados ................................................................................................................. 338.1. As curvas espécie-abundância .............................................................................. 338.2. A cobertura <strong>de</strong> gramíneas ..................................................................................... 348.3. Efeitos da distância em relação às bordas ........................................................... 368.4. O microclima .......................................................................................................... 378.5. Origem e síndromes <strong>de</strong> dispersão no campo ....................................................... 388.6. Os solos e a vegetação ............................................................................................ 419. Discussão ................................................................................................................... 539.1. As curvas espécie-abundância .............................................................................. 539.2. A cobertura <strong>de</strong> gramíneas ..................................................................................... 54X


9.3. Efeitos da distância em relação às bordas ........................................................... 559.4. Origem e síndromes <strong>de</strong> dispersão no campo ....................................................... 569.5. Os solos e a vegetação ............................................................................................ 5710. Conclusão ................................................................................................................ 6511. Referências Bibliográficas ..................................................................................... 66APÊNDICE A - Análises Multivariadas ..................................................................... 78APÊNDICE B - Tabela Florística ............................................................................... 85APÊNDICE C - Correlação entre as variáveis físico-químicas do solo ................... 92APÊNDICE D - Esquema da dinâmica no campo ..................................................... 93XI


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________1. Introdução1.1 Sucessão Ecológica: A Evolução dos ConceitosEnten<strong>de</strong>r porque certos tipos vegetacionais estão restritos a certas combinações<strong>de</strong> clima e solo, ou porque a riqueza <strong>de</strong> espécies é tão gran<strong>de</strong> em algumas regiões e tãopequena em outras é uma preocupação da Ecologia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos mais remotos(Crawley 1997). Sabe-se que diversas causas po<strong>de</strong>m levar a mudanças na vegetação aolongo do tempo e essa seqüência <strong>de</strong> mudanças é hoje conhecida como “sucessãoecológica” (Miles 1987). A partir <strong>de</strong> meados do século XIX muitos trabalhosenvolvendo teorias sobre as comunida<strong>de</strong>s vegetacionais enriqueceram a literaturacientífica (Miles 1987). Warming foi o primeiro a afirmar a universalida<strong>de</strong> dasmudanças vegetacionais: “Antes, as socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> plantas eram vistas como gruposestáveis, os quais permaneciam em estados <strong>de</strong> quiescência, com <strong>de</strong>senvolvimentocompleto e vivendo passivamente lado a lado. Na realida<strong>de</strong>, essas relações não existemno mundo vegetal. Em todo lugar e constantemente existe uma luta entre as socieda<strong>de</strong>s<strong>de</strong> plantas. Cada socieda<strong>de</strong> empenha-se em invadir o território <strong>de</strong> outras e cadapequena mudança nas condições <strong>de</strong> vida imediatamente produz mudanças nas relaçõesentre os grupos” (Cooper 1926). Cooper reafirma os argumentos <strong>de</strong> Warmingcolocando que as mudanças são universais e aplicáveis ao passado e ao presente, bemcomo às comunida<strong>de</strong>s vegetais e animais (Cooper 1926). O autor compara a dinâmicavegetacional a um “riacho” e nesse contexto, a vegetação como vemos hoje, é apenasum “trecho <strong>de</strong>sse riacho”, pois está em constante mudança. Segundo Cooper, a partir <strong>de</strong>estudos do presente e do passado, seria possível prever os resultados das mudanças emum futuro a curto prazo (Cooper 1926). Após os estudos pioneiros <strong>de</strong> Warming, oconceito <strong>de</strong> sucessão foi <strong>de</strong>senvolvido em mais <strong>de</strong>talhes nos trabalhos <strong>de</strong> Clements eCowles.Cowles (1911), estudando a dinâmica <strong>de</strong> dunas <strong>de</strong> vegetação no Lago Michigan,concluiu que os movimentos <strong>de</strong> expansão e retração das dunas através da ação dosventos influenciavam diretamente na sobrevivência das espécies vegetais. Espéciesarbustivas, por exemplo, eram estimuladas a alongar exacerbadamente seus caules,enquanto outras espécies tinham sua sobrevivência condicionada à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>alongar suas raízes adventícias na mesma rapi<strong>de</strong>z com que as dunas avançavam. Ou1


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________seja, quanto mais rápidos fossem os movimentos das dunas, menos espécies seriamcapazes <strong>de</strong> sobreviver. (Cowles 1911). Se por um lado, as dunas <strong>de</strong> areia <strong>de</strong>finiam avegetação resi<strong>de</strong>nte, por outro lado, seu <strong>de</strong>senvolvimento também era moldado pelaprópria vegetação. Sendo assim, a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> plantas naquele hábitat, <strong>de</strong>finia atécerta forma, a comunida<strong>de</strong> que se estabeleceria posteriormente (Miles 1987). Nessecontexto, os trabalhos <strong>de</strong> Cowles representaram mudanças no foco dos estudos sobre avegetação, pois <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> enfatizar as formações vegetais como elas são ecomeçaram a chamar a atenção para a dinâmica <strong>de</strong>stas formações em processo <strong>de</strong>mudanças (Cooper, 1926). Cowles acreditava que as socieda<strong>de</strong>s vegetais passavam poruma série <strong>de</strong> sucessivos tipos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua condição original até a floresta mesofítica,consi<strong>de</strong>rada como um clímax ou tipo culminante, que nunca atinge uma condição <strong>de</strong>equilíbrio (Cooper, 1926).Em 1898, na mesma época em que Cowles publicou seus trabalhos, Clementsestudou as pradarias em Nebraska, sugerindo que as formações vegetais raramenteestariam em equilíbrio estável. Seis anos <strong>de</strong>pois, em 1904, Clements publicou umtrabalho discutindo as causas da sucessão, no qual distinguia entre a sucessão primáriaem superfícies expostas, on<strong>de</strong> nenhum tipo <strong>de</strong> vegetação chegou a se <strong>de</strong>senvolver e asucessão secundária, on<strong>de</strong> a vegetação foi <strong>de</strong>struída ou alterada. Mais tar<strong>de</strong>, em 1916,Clements publicou “Plant Succession”, importante obra científica on<strong>de</strong> foi discutido oconceito <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> climax. Para Clements, o clima funciona como um genoma e avegetação, como um organismo cujas características o genoma <strong>de</strong>termina (Clements,1936). Ou seja, cada área, com sua própria característica climática, <strong>de</strong>senvolve, aolongo do tempo, o seu próprio tipo <strong>de</strong> associação, composta por populações <strong>de</strong> plantas e<strong>de</strong> animais. Caso uma associação sofra distúrbios, como o fogo, a pastagem, o cultivoou as inundações, o processo <strong>de</strong> sucessão levará à mesma composição <strong>de</strong> espécies queexistia antes do distúrbio, porque apenas essa comunida<strong>de</strong> está em balanço com o clima.Clements chamou essa comunida<strong>de</strong> final da sucessão <strong>de</strong> clímax (Eliot 2007). Emsíntese, para Clements, qualquer região climática tem uma única comunida<strong>de</strong> clímaxpossível, teoria hoje conhecida como “monoclimax”. O autor fez uma analogia entre asucessão e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um indivíduo, on<strong>de</strong> o climax seria como uma entida<strong>de</strong>orgânica, cuja estrutura e função estariam conectadas ao clima local e correspon<strong>de</strong>riamà estrutura e função <strong>de</strong> um organismo individual (Miles 1987; Cooper 1926; Clements1936). O clímax, assim como um organismo, nasce, cresce, se reproduz e morre. Cada2


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________comunida<strong>de</strong> clímax po<strong>de</strong> se reproduzir, repetindo fielmente os estágios <strong>de</strong> seu<strong>de</strong>senvolvimento em um processo <strong>de</strong>finido, como um organismo individual. Dessaforma, a comunida<strong>de</strong> clímax seria o indivíduo adulto e os estágios sucessionais seriamas etapas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do indivíduo (Cooper 1926).Em 1907, Clements publicou o trabalho intitulado Plant Physiology andEcology, on<strong>de</strong> ele afirma que para compreen<strong>de</strong>r a fisiologia vegetal, é necessária umaanálise do tipo <strong>de</strong> ambiente em que uma espécie normalmente vive, ou seja, em que áreado espectro ambiental ela é normalmente encontrada (Eliot 2007). Nesse caso, oambiente po<strong>de</strong> ser entendido como um conjunto <strong>de</strong> fatores, tais como água, nutrientes,luminosida<strong>de</strong>, temperatura, vento, solo, pressão e outros fatores bióticos queinfluenciam na sua habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobrevivência. Na medida em que se afastam dascondições ambientais ótimas, a sobrevivência dos indivíduos passa a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> suasrespostas funcionais ou adaptativas. Quando seus limites <strong>de</strong> tolerância sãoultrapassados, os indivíduos acabam morrendo (Eliot 2007). Após um distúrbio, acolonização é feita por plantas capazes <strong>de</strong> chegar ao local e sobreviver às novascondições, que estão <strong>de</strong>ntro dos seus limites <strong>de</strong> tolerância ambiental (Eliot 2007). Essaprimeira comunida<strong>de</strong>, chamada pioneira, modifica o ambiente possibilitando oestabelecimento <strong>de</strong> outro conjunto <strong>de</strong> espécies, que tornam as condições <strong>de</strong>sfavoráveis àsobrevivência da comunida<strong>de</strong> pioneira. A chegada <strong>de</strong> plantas viáveis nessas novascondições, distintas das condições iniciais, marca um segundo estágio na sucessão. Casoos fatores abióticos permaneçam constantes, as novas plantas resi<strong>de</strong>ntes continuam amodificar o ambiente local e a favorecer a chegada <strong>de</strong> outras espécies, que novamentecomprometem a sobrevivência da comunida<strong>de</strong> anterior. Na ausência <strong>de</strong> mudançasabióticas, a sucessão segue nesse sentido até atingir a comunida<strong>de</strong> clímax (Eliot 2007).Dessa forma, as mudanças na vegetação se dão através das modificações locais feitaspela própria vegetação resi<strong>de</strong>nte, em um pano <strong>de</strong> fundo ambiental relativamente estável(Eliot 2007).Clements i<strong>de</strong>ntificou três processos básicos que dirigem a sucessão (Tabela 1).As causas iniciais, que incluem os processos <strong>de</strong> nudação, são todos os eventos oucircunstâncias que levem à formação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong>scobertas, modificando adisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos. Depois que as causas iniciais possibilitaram a sucessão, asdiferentes histórias <strong>de</strong> vida e a modificação do ambiente pelos organismos continuam acontrolar o <strong>de</strong>senvolvimento da vegetação. A história <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> uma espécie inclui seu3


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________potencial <strong>de</strong> dispersão, estabelecimento, crescimento e longevida<strong>de</strong>. Todos esseselementos são atributos que influenciam no sucesso <strong>de</strong> invasão dos indivíduos (Eliot2007; Hobbs & Walker 2007). As características e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssas espécies produzemalterações no ambiente, que variam <strong>de</strong> simples ajustes na umida<strong>de</strong> do solo e nosombreamento à adição ou subtração <strong>de</strong> nutrientes ou toxinas e redução <strong>de</strong> vento emicroorganismos no solo. Essas alterações po<strong>de</strong>m favorecer a chegada e oestabelecimento <strong>de</strong> novas espécies ou <strong>de</strong>sfavorecer a sobrevivência das espécies jáestabelecidas (Eliot 2007). O autor conclui que a reação, ou seja, a modificação doambiente pelas plantas seja um processo fundamental quando a sucessão ocorre emáreas que nunca comportaram nenhum tipo <strong>de</strong> vegetação (sucessão primária). Nessescasos, o grau <strong>de</strong> modificação do ambiente, ou seja, a facilitação para a chegada <strong>de</strong> novasespécies é <strong>de</strong>terminante para a sucessão acontecer.TABELA 1: Processos reconhecidos por Clements como norteadores da sucessão, com suas respectivasinterpretações mo<strong>de</strong>rnas.PROCESSOSINTERPRETAÇÃO MODERNANudaçãoDistúrbios alogênicos, eventos estocásticosMigraçãoCaracterísticas da História <strong>de</strong> Vida: dispersãoEstabelecimento Características da História <strong>de</strong> Vida: estabelecimento, crescimento e longevida<strong>de</strong>Competição Competição, alelopatia e herbivoriaReaçãoModificação do ambiente por organismos, facilitaçãoEstabilização Desenvolvimento do clímaxFonte: Hobbs & Walker 2007Em “Further Views on the Succession-Concept”, Gleason reconhece três causasprincipais da sucessão: reação da vegetação às condições ambientais, processosfisiográficos e mudanças climáticas. O autor, assim como Clements, consi<strong>de</strong>rou amigração <strong>de</strong> novas espécies e posteriormente, Cooper colocou a adaptação das espéciesresi<strong>de</strong>ntes como mais um fator <strong>de</strong>terminante para a sucessão. Algumas causas operammais rapidamente do que outras e seus resultados são mais visíveis, criando a falsa idéia<strong>de</strong> que sejam as únicas causas operantes, quando na realida<strong>de</strong> todas as causas têmparticipação nos resultados (Gleason 1927). Ou seja, cada etapa da sucessão representaum resultado <strong>de</strong> todas as causas atuantes, sendo que algumas <strong>de</strong>las po<strong>de</strong>m ter sido maisativas no passado e menos ativas no presente ou vice-versa. Segundo o autor, po<strong>de</strong>mostentar prever o futuro da vegetação com base nas causas observadas, mas corremos o4


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________risco <strong>de</strong> negligenciar causas ocultas que também estão atuando naquele momento(Gleason 1927).Uma interpretação alternativa das causas da sucessão foi proposta por Egler(1954). O autor sugeriu que a seqüência <strong>de</strong> colonização estava mais relacionada àhistória <strong>de</strong> vida das espécies envolvidas do que à facilitação. Para ele, as áreas abertasnormalmente possuem representantes <strong>de</strong> mais do que um estágio sucessional, muitasvezes em gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s. Ou seja, no início da sucessão, estão presentes assementes e frutos das espécies dominantes <strong>de</strong> todos os estágios, incluindo as do clímax(Miles 1987). Essa idéia, da composição florística inicial sugere uma interação mínimaentre as espécies, enfatizando a importância do crescimento diferencial para a seqüência<strong>de</strong> colonização (Hobbs & Walker 2007).Pickett et al. (1987) analisaram os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> sucessão propostos por Connel eSlatyer (1977), que sumarizavam os efeitos positivos, neutros e negativos das espéciesresi<strong>de</strong>ntes sobre as espécies invasoras durante o processo sucessional. Os três mo<strong>de</strong>los<strong>de</strong> relações entre as espécies seriam a facilitação, tolerância e inibição, os quais não sãomutuamente exclu<strong>de</strong>ntes e po<strong>de</strong>m ocorrer em qualquer estágio do processo sucessional(Connel & Slatyer 1977). A facilitação, similarmente às idéias colocadas por Clements,acontece quando as espécies resi<strong>de</strong>ntes modificam o ambiente <strong>de</strong> tal forma quefavorecem o estabelecimento <strong>de</strong> novas espécies. No mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> inibição, as espéciesresi<strong>de</strong>ntes regulam as condições <strong>de</strong> tal forma que novas espécies não conseguem invadire crescer naquele ambiente. Já no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> tolerância, as mudanças florísticasacontecem <strong>de</strong>vido a diferenças nas histórias <strong>de</strong> vida das espécies e na habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>tolerar as condições ambientais iniciais (Pickett et al. 1987). Pickett et al. propõe umahierarquia <strong>de</strong> causas sucessionais que abrangem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as mais universais até as maisespecíficas. Em um primeiro nível, mais geral, o autor aponta como causas da sucessãoa existência <strong>de</strong> áreas abertas, a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies e a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssasespécies para lidar umas com as outras e com as condições ambientais no local. Emníveis mais específicos, o autor argumenta que o tamanho, a severida<strong>de</strong> e a duração dodistúrbio afetam as condições ambientais, a sobrevivência dos indivíduos e dospropágulos, cuja disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dispersão e do banco <strong>de</strong>sementes no solo (Pickett et al. 1987).Uma questão amplamente discutida entre os autores é se a sucessão inclui todosos tipos <strong>de</strong> mudanças vegetacionais, quer elas sejam flutuantes e abruptas ou5


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________progressivas e graduais (Gleason 1927; Cooper 1926). Por flutuação enten<strong>de</strong>m-se asvariações sazonais e anuais na estrutura da vegetação causadas por flutuações oumudanças recorrentes no ambiente, enquanto a sucessão é causada por mudançasambientais progressivas ou cumulativas (Gleason 1927). Mas existem muitos tipos <strong>de</strong>mudanças progressivas ou cumulativas que são ao mesmo tempo flutuantes em suanatureza e intensida<strong>de</strong>. As mudanças cumulativas po<strong>de</strong>m ser tão lentas que seus efeitossão ocultados pelos efeitos mais óbvios <strong>de</strong> flutuações relevantes (Gleason 1927). Ofenômeno sucessional po<strong>de</strong> incluir todos os tipos <strong>de</strong> mudanças no tempo, mesmo queelas sejam apenas flutuantes ou produzam alterações fundamentais na associação(Gleason 1927; Cooper 1926). Gleason utiliza exemplos <strong>de</strong> sucessão lateral, on<strong>de</strong> osefeitos flutuantes mascaram as mudanças progressivas na vegetação. Nesse processo,duas associações vivem em contato geográfico e entre elas existe uma zona <strong>de</strong> tensão ouecótone, que representa um espaço on<strong>de</strong> as condições ambientais fazem com que umaesteja em retração e a outra em expansão. A duração <strong>de</strong>ssas condições está relacionada àvelocida<strong>de</strong> das mudanças ambientais. Tudo começa quando as mudanças ambientaispermitem a entrada suficiente <strong>de</strong> plantas da comunida<strong>de</strong> em expansão para causar umavisível alteração na vegetação. Tudo termina quando restam poucas plantas dacomunida<strong>de</strong> em retração, ocasião em que elas <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ter importância na<strong>de</strong>terminação da estrutura da vegetação. Sendo assim, a observação <strong>de</strong> qualquerassociação em diferentes anos mostraria o aparecimento, <strong>de</strong>saparecimento ereaparecimento <strong>de</strong> algumas espécies, <strong>de</strong> modo que as flutuações observadas na estruturada vegetação po<strong>de</strong>riam obscurecer qualquer resultado visível a menos que asobservações se esten<strong>de</strong>ssem por um consi<strong>de</strong>rável período <strong>de</strong> tempo (Gleason 1927).Em um <strong>de</strong>terminado momento da sucessão, haverá um conjunto <strong>de</strong> espéciescapaz <strong>de</strong> modificar o ambiente <strong>de</strong> modo que novas invasões sejam inviáveis. Essa seria,segundo Clements, a fase final do processo sucessional, com a estabilização dasmudanças e <strong>de</strong>senvolvimento da comunida<strong>de</strong> clímax (Eliot 2007; Hobbs & Walker2007). No entanto, tal como Cowles, Clements reconhece que o clímax, embora estável,nunca estará em equilíbrio completo (Miles 1987). Em “Nature and Structure of theClimax”, Clements afirma que a unida<strong>de</strong> da formação clímax é uma resposta a um climaparticular (Clements 1936). Segundo o autor, a visível unida<strong>de</strong> da formação clímax é<strong>de</strong>vida às formas <strong>de</strong> vida dominantes, que são a concreta expressão do clima. Naspradarias, por exemplo, as gramíneas são as formas <strong>de</strong> vida predominantes, enquanto as6


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________árvores aparecem principalmente nos ambientes florestais (Clements 1936). A unida<strong>de</strong>clímax po<strong>de</strong> migrar ou <strong>de</strong>saparecer com as gran<strong>de</strong>s mudanças climáticas ou distúrbios<strong>de</strong>strutivos causados pelo homem. Na ausência <strong>de</strong>sses eventos, as formações clímaxpo<strong>de</strong>riam persistir por milhões <strong>de</strong> anos. Segundo Clements, o clímax é caracterizadopelo alto grau <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> e essa estabilização é uma tendência universal <strong>de</strong> todavegetação (Clements 1936).Na idéia <strong>de</strong> Clements, a sucessão seria uma seqüência <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s vegetaismarcada pela mudança das menores para as maiores formas <strong>de</strong> vida possíveis nocontexto do clima consi<strong>de</strong>rado. Nesse contexto, para o autor, a sucessão reversa, damaior para a menor forma <strong>de</strong> vida, nunca po<strong>de</strong>ria acontecer porque a sucessão erainevitavelmente progressiva e a regressão, tão impossível para uma sere quanto para umorganismo individual (Miles 1987). Idéias semelhantes, sobre o <strong>de</strong>terminismo dasucessão, foram publicadas por Margalef em 1958, on<strong>de</strong> ele afirma que a sucessão égradual e irreversível, substituindo sistemas com organismos pequenos, alta relaçãoprodutivida<strong>de</strong>/biomassa e rápida utilização dos recursos por sistemas mais estáveis,constituídos por organismos maiores, menor relação produtivida<strong>de</strong>/biomassa e eficienteutilização dos recursos (Miles 1987).Em síntese, para Clements, a sucessão ocorre <strong>de</strong>terministicamente, impulsionadapelas reações e facilitações, sempre em direção a um clímax, que seria o único pontofinal possível para uma dada região. O autor acredita que essa comunida<strong>de</strong> clímaxfuncione como um organismo que nasce, cresce, se reproduz e morre, teoria que ficouconhecida como o “superorganismo”. O trabalho <strong>de</strong> Clements é reconhecido por suaextensão e visão dinâmica dos sistemas naturais, até então consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong> maneiraestática. Apesar disso, muitas críticas surgiram em torno <strong>de</strong> suas hipóteses e analogias.Braun-Blanquet, em 1932, consi<strong>de</strong>rou a visão <strong>de</strong> Clements como “um vôo <strong>de</strong>imaginação” (Cooper 1926). Os trabalhos e críticas publicados por Gleason polarizaramos conceitos <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> e sucessão vegetal. O autor chamou a atenção para aimportância do indivíduo e o papel da dispersão e competição no processo sucessional.Para ele, todo o processo sucessional <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um indivíduo se mantere reproduzir, teoria hoje conhecida como “conceito individualístico".Cooper <strong>de</strong>finiu a sucessão como um processo universal, on<strong>de</strong> todas as mudançasvegetacionais precisam necessariamente ser sucessionais. Gleason (1927) coloca asidéias <strong>de</strong> Cooper e Clements como extremos opostos no conceito <strong>de</strong> sucessão vegetal. O7


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________autor argumenta que para Clements a sucessão representa o crescimento <strong>de</strong> umindivíduo e mesmo que esse indivíduo possa nascer <strong>de</strong> maneiras diferentes, seucrescimento precisa necessariamente seguir uma seqüência <strong>de</strong>terminada que vai levá-loa apenas um <strong>de</strong>stino final, o organismo adulto ou comunida<strong>de</strong> clímax. Já para Cooper, aassociação clímax não é um organismo e sim um agrupamento variável <strong>de</strong> espéciesvegetais que po<strong>de</strong>m sofrer flutuações em sua estrutura, serem completamentesubstituídas por outro tipo <strong>de</strong> vegetação ou continuar em direção a um clímax. E issopo<strong>de</strong> acontecer em qualquer direção e em qualquer ponto ao longo do curso sucessional.Para Gleason, a sucessão significa a substituição <strong>de</strong> uma associação vegetal por outra eocupa uma posição mais ou menos mediana entre os dois extremos. Ele <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que ofenômeno sucessional da vegetação inclui todos os tipos <strong>de</strong> mudanças no tempo, mesmoque sejam apenas flutuações ou produzam mudanças fundamentais na comunida<strong>de</strong>.Gleason acredita que a sucessão po<strong>de</strong> seguir diversas rotas diferentes e nãoprecisa necessariamente atingir um clímax <strong>de</strong>finido. Comprovando sua hipótese, o autorargumenta que a sucessão reversa, também reconhecida por Cooper (1926), po<strong>de</strong>acontecer <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> vegetação ou entre tipos diferentes. A sucessão reversarepresenta o reaparecimento <strong>de</strong> uma sere anterior causado pela recorrência <strong>de</strong> umcomplexo ambiental anterior. Como exemplo <strong>de</strong>sse fenômeno, o autor menciona asucessão entre as florestas e pradarias <strong>de</strong> Illinois-EUA. Paisagens <strong>de</strong> gramíneas eflorestas estão correlacionadas com diferentes tipos <strong>de</strong> clima e quando esses dois tipos<strong>de</strong> vegetação divi<strong>de</strong>m o mesmo espaço, é possível que o clima favoreça uma ou outra.As espécies <strong>de</strong> floresta estão adaptadas a germinar e crescer em áreas sombreadas, aopasso que as espécies <strong>de</strong> pradarias são predominantemente plantas <strong>de</strong> sol, nãoconseguindo sobreviver na sombra. Os galhos das árvores que crescem nas bordas dafloresta criam uma zona <strong>de</strong> sombreamento que inibe as espécies <strong>de</strong> pradaria e permite oestabelecimento <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> floresta on<strong>de</strong> antes era solo <strong>de</strong> pradaria. Assim, asflorestas suce<strong>de</strong>m as pradarias. Mas nas pradarias, a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong>gramíneas inibe a germinação <strong>de</strong> sementes e prejudica o estabelecimento <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong>floresta em função da alta retirada <strong>de</strong> água superficial. O fogo, outro fator não menosimportante, consome toda a parte aérea com a qual tem contato e acaba favorecendo asformas <strong>de</strong> vida que protegem suas estruturas e rebrotam após a queima, tais como ashemicriptófitas típicas das pradarias. Então, se as forças se mantiverem constantes, asucessão seguirá na mesma direção. Porém algumas causas po<strong>de</strong>m variar sua8


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________intensida<strong>de</strong> com o tempo e isso po<strong>de</strong> ser suficiente para lançar a resultante em outradireção completamente reversa.Gleason afirma a inexistência <strong>de</strong> um clímax verda<strong>de</strong>iro, consi<strong>de</strong>rando que ascausas sucessionais nunca param <strong>de</strong> agir. Elas po<strong>de</strong>m agir em taxas diferentes ou emdiferentes direções. Na medida em que a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação das causas sucessionaisvaria, aparecem na vegetação fases <strong>de</strong> mudanças lentas e relativa estabilida<strong>de</strong>alternando com fases <strong>de</strong> mudanças rápidas. O clímax representa uma fase <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>estabilida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> não conseguimos observar a ação das causas sucessionais econseqüentemente não po<strong>de</strong>mos prever o seu futuro (Gleason 1927). Mas se duascausas, chamadas por Gleason <strong>de</strong> forças, que geram efeitos contrários, agiremsimultaneamente com a mesma intensida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ríamos supor erroneamente que oequilíbrio foi atingido (Gleason 1927). Se uma mudança ambiental muito lentaacontecer ao longo <strong>de</strong> muitos anos, po<strong>de</strong> acabar neutralizando o efeito <strong>de</strong> uma mudançamais rápida e <strong>de</strong> curta duração. Embora nesse curto período <strong>de</strong> tempo as duas forçastenham operado juntas, os efeitos da mudança mais lenta praticamente não pu<strong>de</strong>ram serobservados (Gleason 1927). Apesar <strong>de</strong> todas as hipóteses consi<strong>de</strong>ráveis, Gleason colocaque as causas da sucessão são ainda obscuras, os processos são geralmente lentos e osresultados são visíveis apenas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muitos anos.As observações que revelam a tendência presente da sucessão são bastanteconfiáveis, mas passam a per<strong>de</strong>r a niti<strong>de</strong>z quando tentamos projetá-las para o futuro.Essas projeções só seriam corretas se as causas sucessionais observadas fossem asúnicas causas operantes, agindo <strong>de</strong> forma constante ao longo do tempo até que osresultados esperados fossem atingidos (Gleason 1927). Se as causas agirem lentamentesem serem notadas pelo observador ou se estiverem sujeitas a flutuações ambientais queafetem seriamente a vegetação e influenciem a tendência sucessional, qualquer tentativa<strong>de</strong> previsão dos resultados estará comprometida.O reconhecimento <strong>de</strong> múltiplos mo<strong>de</strong>los e causas do processo sucessional temresultado em um entendimento menos <strong>de</strong>terminístico e previsível. Glenn-Lewinconsi<strong>de</strong>ra que os ecologistas mo<strong>de</strong>rnos têm visto as mudanças vegetacionais como umresultado da interação <strong>de</strong> populações <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> condições ambientais flutuantes (Glenn-Lewin 1992). Nesse contexto, estão sendo <strong>de</strong>senvolvidos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> sucessão, on<strong>de</strong> osresultados são <strong>de</strong>terminados pelas interações entre indivíduos <strong>de</strong> diferentes espécies,controlados por suas taxas <strong>de</strong> crescimento e tolerância ambiental. De fato, a sucessão é9


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________dirigida por uma combinação <strong>de</strong> fatores em diferentes níveis, <strong>de</strong> indivíduo atéecossistemas. Hoje, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> múltiplas trajetórias e pontos finais é consi<strong>de</strong>radaplausível. Isso inclui também a idéia <strong>de</strong> estados alternativos estáveis, on<strong>de</strong> diferentescomposições <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s são possíveis em qualquer área (Hobbs & Walker 2007).1.2 A Sucessão nos Campos AbandonadosO abandono <strong>de</strong> pastagens e a conversão <strong>de</strong> paisagens naturais em áreas <strong>de</strong>cultivo têm se <strong>de</strong>stacado entre os diversos tipos <strong>de</strong> mudanças no uso da paisagem(Hobbs & Walker 2007; Ramunkutty 1999) (Fig.1). As causas do abandono constituemuma mistura complexa <strong>de</strong> fatores sociais, econômicos e ecológicos. O fenômeno <strong>de</strong>migração rural, por exemplo, é uma tendência mundial progressiva e propicia atransformação dos campos abandonados em oportunida<strong>de</strong>s para a recuperação daspaisagens exploradas (Cramer et al. 2007). Mas no cenário atual, on<strong>de</strong> o uso <strong>de</strong> métodostradicionais <strong>de</strong> exploração feitos em pequena escala dá lugar à exploração intensiva emescala industrial, os campos abandonados passam a ocorrer em paisagens altamentefragmentadas, impactadas e <strong>de</strong> difícil recuperação.FIGURA 1: Estimativa da área global <strong>de</strong> paisagens abandonadas em florestas e savanas no período <strong>de</strong>1700 até 1990. (Ramunkutty 1999).Atualmente, rápidas mudanças climáticas estão sendo promovidas pelo modo <strong>de</strong>vida humano. Essas mudanças se somam a outros impactos como a alteração da10


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________biomassa e da hidrologia, a compactação e a acidificação do solo provocadas pelapastagem (Geissen et al. 2009), o cultivo, a fertilização, a introdução <strong>de</strong> espéciesinvasoras, a fragmentação <strong>de</strong> habitats e a poluição. Tudo isso po<strong>de</strong> modificar oecossistema <strong>de</strong> tal forma que é possível visualizar os efeitos na composição e estruturadas comunida<strong>de</strong>s mesmo centenas <strong>de</strong> anos <strong>de</strong>pois do abandono da paisagem. Nessescampos abandonados a vegetação po<strong>de</strong> permanecer por décadas em um estado<strong>de</strong>gradado dominado por espécies invasoras (Cramer et al. 2007).Por resiliência, enten<strong>de</strong>-se a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um sistema absorver o distúrbio ereorganizar sua função, estrutura, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e feedbacks (Walker et al. 2004). Noentanto, todo sistema possui um limite <strong>de</strong> mudanças a partir do qual ele per<strong>de</strong> acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se reestabelecer, po<strong>de</strong>ndo estar mais ou menos próximo <strong>de</strong>sse limite e sermais ou menos resistente a essas mudanças (Walker et al. 2004; Rull 1992). O estado <strong>de</strong>um sistema é <strong>de</strong>finido pelas variáveis que o constituem. Se por exemplo, o campo écaracterizado pela quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gramíneas, arbustos e umida<strong>de</strong>, o estado será umespaço tridimensional <strong>de</strong> todas as possíveis combinações <strong>de</strong>ssas variáveis. Uma base <strong>de</strong>atração é a região do estado no qual o sistema ten<strong>de</strong> a se manter (Fig.2). Para sistemasque ten<strong>de</strong>m a um equilíbrio, o estado <strong>de</strong> equilíbrio é <strong>de</strong>finido como o atrator e a base <strong>de</strong>atração é constituída por todas as condições iniciais que irão levar o sistema a esteestado <strong>de</strong> equilíbrio. Po<strong>de</strong> existir mais <strong>de</strong> uma base <strong>de</strong> atração para cada sistema, ouseja, mais <strong>de</strong> uma combinação <strong>de</strong> variáveis em direção a qual o sistema po<strong>de</strong> convergir,<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do ponto inicial. As várias bases que um sistema po<strong>de</strong> ocupar formam,junto com as bordas que as separam, uma paisagem <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong>. Tanto fatoresexternos, como a precipitação e a temperatura, quanto fatores internos, como a sucessão<strong>de</strong> plantas, predação e competição po<strong>de</strong>m levar a mudanças na paisagem <strong>de</strong>estabilida<strong>de</strong>. Esses fatores po<strong>de</strong>m alterar o número e a posição das bases <strong>de</strong> atração<strong>de</strong>ntro do estado, mudar a posição dos limites a partir dos quais o sistema não conseguemais se reorganizar ou a profundida<strong>de</strong> das bases <strong>de</strong> atração, que <strong>de</strong>terminam adificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mover o sistema para fora <strong>de</strong>las. Esses atores capazes <strong>de</strong> influenciar aresiliência <strong>de</strong> um sistema po<strong>de</strong>m também alterar o diâmetro das bases <strong>de</strong> atração, movero sistema em direção às sua bordas ou a outras bases (Walker et al. 2004). Algumasvezes o sistema encontra-se em uma base <strong>de</strong> atração <strong>de</strong>sejável e nesses casos, osesforços <strong>de</strong> conservação se preocupam em manter o sistema distante das bordas da base<strong>de</strong> atração (maior resiliência). Em outros casos, o sistema está inserido em uma base <strong>de</strong>11


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________atração in<strong>de</strong>sejável, on<strong>de</strong> os esforços buscam reduzir sua resiliência e movê-lo emdireção à outra base <strong>de</strong>sejável (Walker et al. 2004).Alguns estudos afirmam que a taxa <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> uma área varia <strong>de</strong> acordocom o tipo, a freqüência e a intensida<strong>de</strong> do distúrbio (Zahawi & Augspurger 1999;Collins et al. 2001). Collins sugere que a freqüência <strong>de</strong> um distúrbio po<strong>de</strong> afetar ariqueza <strong>de</strong> espécies colonizadoras, porque apenas as espécies tolerantes permanecem noambiente (Collins et al. 2001). Mas se a freqüência é maior do que o tempo necessáriopara a exclusão competitiva, o distúrbio po<strong>de</strong> acabar promovendo a coexistência e oconseqüente aumento na riqueza em espécies. Por outro lado, a intensida<strong>de</strong> do distúrbio,<strong>de</strong>finida pelo autor como a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> biomassa removida ou grau <strong>de</strong> impacto naestrutura da comunida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ria afetar os processos competitivos e a proporção dasalterações ambientais (Collins et al. 2001). Quando uma área é explorada com autilização <strong>de</strong> métodos tradicionais em paisagens que mantêm gran<strong>de</strong>s extensões <strong>de</strong>vegetação nativa intacta, a sucessão ocorre em uma seqüência <strong>de</strong> transiçõesrelativamente previsíveis. Mas quando a exploração ocorre durante centenas <strong>de</strong> anos,espécies intolerantes ao distúrbio são perdidas <strong>de</strong>vido à pressão <strong>de</strong> seleção intensa enovas comunida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m se estabelecer (Cramer et al. 2007).DRLFIGURA 2: Paisagem <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> com duas bases <strong>de</strong> atração mostrando a posição do sistema (ponto)e três aspectos da resiliência: D = Diâmetro. R = Resistência. L = Distância ao limite da base. (Walker etal. 2004)Quando a extensão, a duração e a intensida<strong>de</strong> do distúrbio aumentam, doislimites po<strong>de</strong>m ser ultrapassados: o biótico e o abiótico. O limite biótico é controlado porvariáveis como a dispersão <strong>de</strong> sementes e a competição, ao passo que o limite abióticoestá associado a variáveis como a química do solo e o regime hidrológico. Cada limiteretrata a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> se reestruturar e quando esse limite é12


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________ultrapassado, os mecanismos naturais <strong>de</strong> recuperação não po<strong>de</strong>m reparar o dano. Se olimite biótico for ultrapassado, a restauração exigirá a manipulação da vegetação. Masse o limite abiótico for ultrapassado, serão necessárias modificações no ambiente físico(Cramer et al. 2007).No caso da agricultura, áreas que apresentam condições a<strong>de</strong>quadas necessitam<strong>de</strong> menos correções do que áreas on<strong>de</strong> o cultivo é limitado em função <strong>de</strong> restriçõesabióticas. A menor intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exploração <strong>de</strong>vido ao uso <strong>de</strong> métodos tradicionais oumanutenção <strong>de</strong> vegetação nativa favorece a dispersão <strong>de</strong> sementes até a área, assimcomo a conservação do banco <strong>de</strong> sementes no solo (Cramer et al. 2007). Nesses casos,nenhum limite é ultrapassado e a vegetação consegue se recuperar sozinha.Em outras situações, a extensão e duração do distúrbio po<strong>de</strong>m ultrapassar oslimites bióticos do ecossistema. Quando isso acontece, a dispersão <strong>de</strong> sementes até aárea e a manutenção do banco <strong>de</strong> sementes no solo fica comprometida. A dispersão <strong>de</strong>sementes diminui na medida em que se afasta da fonte <strong>de</strong> propágulos e as sementes <strong>de</strong>habitats estáveis geralmente possuem baixa persistência no solo. Os efeitos da pobredispersão <strong>de</strong> sementes das espécies nativas se somam à rápida germinação e àcompetição com espécies invasoras, particularmente gramíneas introduzidas (Cramer etal. 2007).Os estudos que buscam acompanhar o processo sucessional após o abandono <strong>de</strong>uma paisagem trabalham com duas metodologias básicas. Alguns po<strong>de</strong>m comparardiferentes áreas com o mesmo histórico <strong>de</strong> exploração e outros po<strong>de</strong>m acompanhartemporalmente as mudanças progressivas em uma mesma área. Zahawi e Augspurgerestudaram mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> sucessão <strong>de</strong> plantas em quatro áreas <strong>de</strong> pastagem com ida<strong>de</strong>sdiferentes e uma floresta secundária no Equador (Zahawi & Augspurger 1999). Nessetrabalho, os autores documentaram a sucessão <strong>de</strong> plantas através <strong>de</strong> pesquisas temporaise análises <strong>de</strong> cronosseqüência, <strong>de</strong>screveu proprieda<strong>de</strong>s bióticas e abióticas que po<strong>de</strong>riamafetar o curso da sucessão, comparou a sucessão em pastos com cobertura <strong>de</strong> copa etotalmente limpos. O principal objetivo era prever se as áreas chegariam ao estado <strong>de</strong>floresta secundária ou se permaneceriam em estado arrastado <strong>de</strong> sucessão. Os resultadosmostraram que a cobertura <strong>de</strong> copa facilita a recuperação das pastagens abandonadas, namedida em que reduzem a temperatura e a competição com gramíneas, possibilitando achegada <strong>de</strong> outras espécies (Zahawi & Augspurger 1999). Para os autores, as pastagenssem nenhuma cobertura <strong>de</strong> copa estão em processo arrastado <strong>de</strong> sucessão, com baixa13


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________riqueza <strong>de</strong> espécies e alta dominância <strong>de</strong> Baccharis trinervis. Tudo isso <strong>de</strong>monstra aimportância da presença <strong>de</strong> espécies arbustivas e arbóreas nas áreas abandonadas, querseja pelo sombreamento ou pela viabilização da chuva <strong>de</strong> sementes.Espécies com barreiras <strong>de</strong> estabelecimento facilmente manejáveis po<strong>de</strong>m serusadas para estabelecer uma copa para espécies que não toleram as condições iniciaisapós o abandono. Entre as possíveis barreiras para o estabelecimento <strong>de</strong> espécies emcampos abandonados estão a dispersão, a competição com as gramíneas, a predação esolos nutricionalmente <strong>de</strong>sfavorecidos (Holl et al. 2000; Nepstad et al. 1990).A dispersão é um fator importante na recuperação dos campo abandonados,especialmente para espécies arbóreas, que têm seus frutos dispersos a poucos metros <strong>de</strong>distancia da planta-mãe, apresentam baixa viabilida<strong>de</strong> e geralmente não estão presentesno banco <strong>de</strong> sementes no solo (Uhl 1987). Árvores, arvoretas ou arbustos po<strong>de</strong>mfuncionar como poleiros e refúgios atrativos para aves e morcegos que levam assementes a distâncias maiores. No entanto, quando chegam ao campo, as sementesainda precisam sobreviver à predação para que possam germinar e se estabelecer. Aprobabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas sementes sobreviverem está fortemente ligada à sua atrativida<strong>de</strong>para a comunida<strong>de</strong> animal. Essa atrativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do tamanho e do peso da semente,que po<strong>de</strong>m influenciar no tipo <strong>de</strong> animal que po<strong>de</strong>rá manipulá-la. Depen<strong>de</strong> também dassubstâncias presentes na superfície da semente, que po<strong>de</strong>m ser atrativas tanto para odispersor quanto para o predador (Nepstad et al. 1990).Zimmerman et al. (2000) encontraram uma forte influência da distância emrelação à fonte <strong>de</strong> propágulos em uma área <strong>de</strong> pastagem abandonada em Porto Rico. Osefeitos da distância da borda da floresta sobre o número <strong>de</strong> espécies e o número <strong>de</strong>sementes no banco <strong>de</strong> sementes do solo foram significativamente negativos. Segundo oautor, a dispersão <strong>de</strong> sementes no campo era predominantemente constituída porespécies anemocóricas ou por árvores remanescentes que sobreviveram ao distúrbio. Asespécies zoocóricas encontradas no campo já estavam presentes no local ou na florestaadjacente, indicando que a maioria das sementes dispersas era <strong>de</strong> espécies da região.Se o indivíduo consegue se estabelecer, um conjunto <strong>de</strong> fatores bióticos eabióticos po<strong>de</strong> futuramente comprometer sua sobrevivência (Holl et al. 2000). Aherbivoria exerce uma consi<strong>de</strong>rável influência sobre as espécies que po<strong>de</strong>m se tornarmaduras no campo abandonado (Nepstad et al. 1990). Por outro lado, a competição comas gramíneas e herbáceas também é um fator que po<strong>de</strong> influenciar o estabelecimento <strong>de</strong>14


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________espécies nos campos abandonados (Holl et al. 2000). As gramíneas po<strong>de</strong>m competirpelos recursos ou sombrear as sementes e plântulas alterando o microclima abaixo <strong>de</strong>sua cobertura. Alguns estudos mostram que as gramíneas e herbáceas presentes noscampos abandonados, muitas vezes po<strong>de</strong>m favorecer a germinação e o estabelecimento<strong>de</strong> outras espécies (Zimmerman et al. 2000; Holl et al. 2000). Segundo Zimmermann etal., poucas espécies germinaram em áreas expostas, sugerindo que a predação <strong>de</strong>sementes po<strong>de</strong> ter diminuído a taxa <strong>de</strong> germinação nessas áreas, on<strong>de</strong> as gramíneasforam removidas (Zimmerman et al. 2000). Por outro lado, a presença <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong>gramíneas invasoras po<strong>de</strong> intensificar o impacto gerado pela exploração, além <strong>de</strong>prejudicar a dispersão <strong>de</strong> sementes por falta <strong>de</strong> atrativida<strong>de</strong> às aves e morcegos que sealimentam <strong>de</strong> frutos na mata (Nepstad et al. 1990). Espécies que produzem sementesmenores po<strong>de</strong>m dispersar pelos campos abandonados, mas não são capazes <strong>de</strong>sobreviver em competição com as gramíneas invasoras. Já as espécies que produzemsementes maiores, geralmente conseguem se estabelecer sob <strong>de</strong>nsas coberturas <strong>de</strong>gramíneas, mas possuem dispersão limitada (Hooper et al. 2005). Essas gramíneastambém po<strong>de</strong>m intensificar os incêndios <strong>de</strong> tal maneira que as plântulas já estabelecidasno campo acabam queimadas e perdidas (Nepstad et al. 1990). Dessa forma, a passagemdo fogo representa mais uma barreira ao estabelecimento <strong>de</strong> espécies arbóreas noscampos abandonados cobertos por <strong>de</strong>nsas coberturas <strong>de</strong> gramíneas invasoras (Griguliset al. 2005).A alta luminosida<strong>de</strong> (fotoinibição), os baixos níveis <strong>de</strong> nutrientes e matériaorgânica, bem como o grau <strong>de</strong> compactação do solo também são fatores queinfluenciam negativamente na taxa <strong>de</strong> estabelecimento dos indivíduos nos camposabandonados.Métodos antigos e mo<strong>de</strong>rnos utilizados em sistemas agrícolas afetam adistribuição e o suprimento <strong>de</strong> nutrientes por alterar diretamente as proprieda<strong>de</strong>s do soloe por influenciar transformações biológicas na zona radicular (Fraterrigo et al. 2005).Alguns autores sugerem que as ativida<strong>de</strong>s humanas possam atuar como fatores <strong>de</strong>formação <strong>de</strong> solo e a International Society of Soil Science reconhece grupos <strong>de</strong> soloscaracterizados pela presença <strong>de</strong> um horizonte antropogênico, resultante <strong>de</strong> muitos anos<strong>de</strong> cultivo contínuo (McLauchlan 2006). O uso agropecuário do solo altera a biomassavegetal na medida em que substitui a vegetação natural por monoculturas, enquanto afertilização, uma prática agrícola comum, po<strong>de</strong> aumentar a entrada <strong>de</strong> vários nutrientes15


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________no solo. A irrigação e a drenagem levam a alterações nos regimes hidrológicos, po<strong>de</strong>ndocausar danos irreversíveis, tais como a siltização e salinização (Jacobsen & Adams1958). Os solos po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>scritos como resilientes ou resistentes à perturbaçãoagrícola. Os solos resilientes mudam em resposta à agricultura, mas retornamrapidamente às suas condições iniciais. Por outro lado, os solos resistentes precisam <strong>de</strong>uma perturbação severa para sofrer mudanças, po<strong>de</strong>ndo não retornar às suas condiçõesiniciais (McLauchlan 2006).Conhecer os processos sucessionais e as barreiras bióticas e abióticas para oestabelecimento e crescimento <strong>de</strong> indivíduos em campos abandonados permite criarmetodologias <strong>de</strong> restauração e prever se há a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acelerar a taxa <strong>de</strong>recuperação natural quando uma área está em processo arrastado <strong>de</strong> sucessão (Zahawi &Augspurger 1999).No Parque Nacional da Serra do Cipó, inserido na porção sul da Ca<strong>de</strong>ia doEspinhaço, um mosaico vegetacional po<strong>de</strong> ser observado no vale do Rio Cipó. Umamata ciliar <strong>de</strong> largura variável e às vezes <strong>de</strong>scontínua cobre as margens <strong>de</strong>ste rio. Estamata é margeada por uma área <strong>de</strong> campo, cujo solo permanece encharcado boa parte doperíodo chuvoso. O campo, por sua vez, é <strong>de</strong>limitado por uma área <strong>de</strong> cerrado situadoem cotas altimétricas um pouco mais elevadas que contribuem para maior drenagem dosolo. Durante décadas a área on<strong>de</strong> hoje se encontram os campos foi repetidamentequeimada e usada para agricultura e criação <strong>de</strong> gado, ativida<strong>de</strong>s que perduraram semcontrole até recentemente. Após a retirada do gado e a implementação <strong>de</strong> um programa<strong>de</strong> controle <strong>de</strong> incêndios pelo PREVFOGO/IBAMA, notam-se mudanças na fisionomiada vegetação campestre. Algumas espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> porte herbáceo a arbóreo estãocolonizando o campo, sugerindo o início <strong>de</strong> um processo sucessional.2. Um breve histórico da Ca<strong>de</strong>ia do EspinhaçoA Ca<strong>de</strong>ia do Espinhaço constitui uma gran<strong>de</strong> cordilheira, que se esten<strong>de</strong> porcerca <strong>de</strong> 1.200Km na direção N-S, entre os Estados <strong>de</strong> <strong>Minas</strong> <strong>Gerais</strong> e Bahia, po<strong>de</strong>ndoser compartimentada em dois setores: o Planalto Meridional e o Planalto Setentrional(Saadi 1995). O Estado <strong>de</strong> <strong>Minas</strong> <strong>Gerais</strong> está inserido no setor Meridional doEspinhaço, on<strong>de</strong> a ca<strong>de</strong>ia se divi<strong>de</strong> em quatro regiões: Norte, Sul, Planalto daDiamantina e Serra do Cipó (Fig. 4).16


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________A Ca<strong>de</strong>ia do Espinhaço teve sua formação ligada aos movimentos geológicosresponsáveis pela junção e fragmentação <strong>de</strong> continentes ao longo do tempo. A espinhadorsal formada por essas serras é uma evidência da dinâmica geológica vinculada a umaantiga área <strong>de</strong> contato <strong>de</strong> placas tectônicas. Os dobramentos geológicos resultantes seformaram a mais <strong>de</strong> 2,5 milhões <strong>de</strong> anos atrás, no final do período proterozóico.O supercontinente Colúmbia é consi<strong>de</strong>rado o mais antigo e se consolidou entre2,3 e 1,8 Ga. No final do Paleoproterozóico, há cerca <strong>de</strong> 1752 Ma, se <strong>de</strong>u o início doprocesso <strong>de</strong> fragmentação do Colúmbia, começando com a distensão da crosta terrestre,o a<strong>de</strong>lgaçamento litosférico, o soerguimento, a abertura do continente, as intrusõesintraplacas e finalmente culminando na formação <strong>de</strong> oceanos intracontinentais. Todoesse processo distensivo <strong>de</strong>u origem a uma bacia, na qual foram acumulados sedimentosterrestres característicos <strong>de</strong> ambientes fluviais e marinhos pouco profundos. Ascaracterísticas <strong>de</strong>sta sedimentação, encontradas nas formações basais do SupergrupoEspinhaço (Formações São João da Chapada e Sopa Brumadinho) indicam uma gran<strong>de</strong>instabilida<strong>de</strong> da bacia, que é típica <strong>de</strong>ste período (Dussin & Dussin 1995). Essessedimentos foram posteriormente cobertos por quartzitos <strong>de</strong> ambientes eólico e marinhoraso (Formação Galho do Miguel), que correspon<strong>de</strong>m à parte superior da seqüência <strong>de</strong>sedimentação, indicando o fim da instabilida<strong>de</strong> neste período (Dussin & Dussin 1995).No início do Mesoproterozóico, há cerca <strong>de</strong> 1250 Ma, um novo ciclogeotectônico começou com outra fusão que formou o supercontinente Rodínia. Osprocessos compressivos gerados pela fusão levaram ao fechamento da bacia comtransporte <strong>de</strong> leste para oeste. Durante os 250 Ma seguintes, um período <strong>de</strong> relativaestabilida<strong>de</strong> tectônica possibilitou a sedimentação do Grupo Macaúbas, parcialmenteglaciogênica. Há 900 Ma, já no Neoproterozóico, um novo evento distensivo,promovido por outro movimento divergente <strong>de</strong> placas tectônicas causou intensomagmatismo basáltico e a subsidência do Cráton São Francisco, formando uma baciaque acolheu os sedimentos carbonáticos do Grupo Bambuí. A unida<strong>de</strong> do topo doGrupo Bambuí (Formação Três Marias) mostra sedimentos <strong>de</strong> ambiente marinho raso efluviais, o que sugere uma significativa regressão marinha antes <strong>de</strong> 680 Ma. Emboraesse processo <strong>de</strong> sedimentação caracterizasse um período <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> tectônica, umaimportante glaciação, entre 680 e 550 Ma afetou a maior parte do Cráton São Franciscoe o arraste das geleiras <strong>de</strong>ixou pavimentos estriados e sulcos profundos nas rochas(Abreu 1995).17


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________No final do Neoproterozóico, um novo movimento tectônico, <strong>de</strong>sta vezconvergente, formou o Supercontinente Gondwana. Os processos compressivosresultaram em empurrões <strong>de</strong> leste para oeste, e a conseqüente inversão do relevo, com asobreposição da formação mais antiga do Supergrupo Espinhaço à formação maisrecente dos Grupos Macaúbas e Bambuí. Esse processo <strong>de</strong> empurrão <strong>de</strong> leste para oesteprovocou uma vergência nítida nas rochas da Serra do Cipó, que sempre estãoapontadas na direção oeste.Da história sedimentar e metamórfica proterozóica do Espinhaço, resultaramgran<strong>de</strong>s unida<strong>de</strong>s lito-estratigráficas, que através das diferenças <strong>de</strong> comportamentofrente ao intemperismo e <strong>de</strong> resistência mecânica à erosão, vão controlar gran<strong>de</strong> parte daformação do relevo em escala regional. No setor meridional do Espinhaço, on<strong>de</strong> selocaliza a Serra do Cipó, a característica fundamental é a predominância absoluta daunida<strong>de</strong> quartzítica, que em toda a sua extensão, compõem uma cobertura rígida,embora <strong>de</strong>nsamente fraturada.3. O Parque Nacional da Serra do CipóEm 1978, o Decreto-lei 19.278 <strong>de</strong> 1978 criou o Parque Estadual da Serra doCipó, que foi posteriormente transformado em Parque Nacional da Serra do Cipó peloDecreto-lei 90.223 <strong>de</strong> 25.09.1984. O Parque Nacional da Serra do Cipó está localizadona porção central <strong>de</strong> <strong>Minas</strong> <strong>Gerais</strong>, próximo à região metropolitana <strong>de</strong> Belo Horizonte, acerca <strong>de</strong> 100Km <strong>de</strong> distância da capital mineira (Fig.3). O Parque, que engloba áreasdos municípios <strong>de</strong> Jaboticatubas, Santana do Riacho, Morro do Pilar e Itambé do MatoDentro, é inteiramente circundado pela Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental Morro da Pedreira,criada em 1990 pelo Decreto-lei 98.891 <strong>de</strong> 26.01.90.A Serra do Cipó está inserida na porção sul da Ca<strong>de</strong>ia do Espinhaço, eleita pelaUNESCO, em 2005, uma Reserva da Biosfera, por representar um importante centro <strong>de</strong>diversida<strong>de</strong> biológica e en<strong>de</strong>mismo.A APA e o PARNA da Serra do Cipó possuem um valor estratégico em termosconservacionistas porque além <strong>de</strong> estarem inseridos na Ca<strong>de</strong>ia do Espinhaço, uma área<strong>de</strong> priorida<strong>de</strong> para a conservação, representam uma faixa <strong>de</strong> transição entre doishotspots <strong>de</strong> megadiversida<strong>de</strong>, os biomas Cerrado e Mata Atlântica.18


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________A Serra do Cipó é um importante divisor <strong>de</strong> águas nas Bacias do Rio Doce e SãoFrancisco. A oeste da Serra, praticamente todos os rios que se formam são afluentesdiretos ou indiretos do Rio São Francisco, entre eles os Rios Cipó e das Velhas, queapresentam um curso altamente sinuoso com muitos meandros abandonados e lagoasintermitentes e perenes (Schaefer et al. 2008). Os rios que drenam a borda leste da Serracompõem a bacia do Rio Doce e apresentam seus cursos iniciais bastante encaixados,como o Rio do Peixe, que <strong>de</strong>semboca na margem esquerda do Rio Santo Antônio,principal curso d’água da borda leste da Serra (Schaefer et al. 2008).FIGURA 3: Localização geográfica do Parque Nacional da Serra do Cipó-MG.19


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________FIGURA 4: Localização geográfica da Serra do Cipó no contexto da Ca<strong>de</strong>ia do Espinhaço (Adaptado <strong>de</strong>Rapini 2000).A base geológica da Serra do Cipó é constituída predominantemente por umamatriz <strong>de</strong> Quartzito, embora as bordas escarpadas ao leste, pertencentes à Bacia do RioDoce, sejam constituídas por rochas cristalinas Gnáissico-Graníticas, que suportamflorestas em função <strong>de</strong> seu maior teor argiloso, fertilida<strong>de</strong> e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retenção <strong>de</strong>umida<strong>de</strong> (Schaefer et al. 2008). O PARNA Serra do Cipó po<strong>de</strong> ser dividido em doisgeossistemas: Geossistema Montanhoso do Espinhaço (conjunto <strong>de</strong> alinhamentos <strong>de</strong>quartzito, entre 1.100 e 1.600 metros, on<strong>de</strong> ocorrem os campos rupestres) e GeossistemaSemi-Montanhoso da Bacia Inter-planáltica do Médio Rio Cipó (on<strong>de</strong> se encontram osvales e outras fitofisionomias do Cerrado) (Derby 1906). Na vertente leste, estão asfisionomias <strong>de</strong> Mata Atlântica, e na vertente oeste, nas drenagens que compõem a Baciado rio São Francisco estão as fisionomias <strong>de</strong> Cerrado. Além <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s extensões <strong>de</strong>Cerrado e Mata Atlântica, o PARNA também engloba um dos mais ricos ComplexosRupestres do Brasil, cuja existência foi a principal justificativa para a criação daUnida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação (Schaefer et al. 2008). O alto en<strong>de</strong>mismo que caracteriza oscampos rupestres da Serra do Espinhaço po<strong>de</strong> estar relacionado à distribuição insular20


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________das serras <strong>de</strong> quartzito, imersas em uma matriz <strong>de</strong> áreas rebaixadas, com topografia esolos distintos.A ocupação da região da Serra do Cipó se <strong>de</strong>u muito antes da chegada dosban<strong>de</strong>irantes no local. As primeiras ocupações humanas nessa região são datadas <strong>de</strong>12.000 anos a.C., durante a transição do Pleistoceno para o Holoceno (Prous 2003).Dentre os vestígios encontrados em Santana do Riacho, <strong>de</strong>staca-se uma coleção <strong>de</strong> 40esqueletos sepultados, cujas morfologias e datações são compatíveis com os esqueletosanteriormente encontrados no Carste <strong>de</strong> Lagoa Santa e que correspon<strong>de</strong>m à ocupaçãohumana mais antiga da América do Sul (Prous 2003).Além dos sepultamentos, no Gran<strong>de</strong> Abrigo <strong>de</strong> Santana do Riacho, foramencontrados vestígios <strong>de</strong> cultura material, com importantes informações sobre hábitosalimentares, aspectos simbólicos organização do espaço e maneiras <strong>de</strong> produzirferramentas <strong>de</strong> pedra. Nesse local também se <strong>de</strong>stacam os painéis <strong>de</strong> pinturas rupestres,nos quais aproximadamente 3.000 figuras já foram i<strong>de</strong>ntificadas (Prous 2003). Entre osanimais mais comumente grafados estão os cerví<strong>de</strong>os, os peixes, as aves, os tatus eoutros quadrúpe<strong>de</strong>s. Esses animais estão muitas vezes associados entre si ou comfiguras humanas, que são representados <strong>de</strong> maneira bastante esquemática (Prous 2003).Esse conjunto singular <strong>de</strong> vestígios, portanto, afirma a extrema importância da região <strong>de</strong>Santana do Riacho para a compreensão das ocupações pré-históricas, especialmentequando associada a outras regiões do país e <strong>de</strong> <strong>Minas</strong> <strong>Gerais</strong>.No século XVIII, quando as cartas <strong>de</strong> sesmarias foram distribuídas pelo governoPortuguês, teve início uma nova fase <strong>de</strong> ocupação da região. Em 1759, por exemplo, foiconcedida a carta <strong>de</strong> sesmaria ao capitão Manuel Soares Pereira dando-lhe direitos <strong>de</strong>uso sobre a fazenda <strong>de</strong> Santa Ana do Capão Grosso, situada às margens do Rio Cipó.Na fazenda, haviam “(...)engenho <strong>de</strong> canas, <strong>de</strong> pinhões e <strong>de</strong> moer mandioca, moinho <strong>de</strong>mamona, moinho <strong>de</strong> milho, monjolo, paióis, pombal, currais, chiqueiros, árvores <strong>de</strong>espinho, bananal, casas <strong>de</strong> vivenda <strong>de</strong> sobrado com pomar e todos os mais pertencentese lagradouros, pastos <strong>de</strong> criar gados vacum e cavalar, um pasto enfezado, pastoslargos, matos virgens, capoeiras e campos até a barra do capão grosso(...)”(Guimarães 1991).John Mawe, um viajante que chegou ao Brasil em 1807 empreen<strong>de</strong>u uma visitaàs <strong>Minas</strong> <strong>Gerais</strong> e se surpreen<strong>de</strong>u com a riqueza <strong>de</strong> minério <strong>de</strong> ferro da região <strong>de</strong> Morro<strong>de</strong> Gaspar Soares, atual Morro do Pilar: “com gran<strong>de</strong> surpresa, que o ferro formava21


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________camada regulares, <strong>de</strong> uma polegada <strong>de</strong> espessura, alternando com camadas <strong>de</strong> areia.”(Guimarães 1991). Apesar das condições minerais favoráveis, os investimentossi<strong>de</strong>rúrgicos na região foram fracassados. A mineração, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os diamantes até assi<strong>de</strong>rúrgicas, resultou no surgimento <strong>de</strong> vilas e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>sagropastoris. Em função das extensas criações <strong>de</strong> gado para fornecimento <strong>de</strong> charquenas áreas <strong>de</strong> mineração, a Serra do Cipó era antes conhecida como Serra da Vacaria(Guimarães 1991). Saint-Hilaire, um viajante francês, autor <strong>de</strong> uma vasta obra sobresuas viagens ao Brasil chegou ao país em 1816 e permaneceu até 1822. Em sua visita àVila do Príncipe, atual Serro, <strong>de</strong>screveu: “toda a região que se esten<strong>de</strong> até a Vila doPríncipe é ainda montanhosa, e as florestas, que a cobriram outrora, <strong>de</strong>ram lugar, emmuitos pontos, a imensas pastagens <strong>de</strong> capim gordura.” (Guimarães 1991). GeorgeGardner, outro viajante que esteve no Brasil <strong>de</strong> 1836 a 1841, visitou a região do Morro<strong>de</strong> Gaspar Soares (Morro do Pilar) e constatou: “não havia sinal <strong>de</strong> plantações, emboraao que me informam, todos esses campos nus tivessem sido cultivados até que o capimgordura os invadiu. Derrubando florestas virgens, fizeram-se a alguma distancia novasplantações, que por sua vez terão <strong>de</strong> ser abandonadas pela mesma causa.” (Guimarães1991).Os diversos relatos <strong>de</strong> viajantes que passaram pela região evi<strong>de</strong>nciam oimportante papel da ativida<strong>de</strong> agropastoril para a ocupação da região e suasconseqüências <strong>de</strong>vastadoras para a paisagem natural.4. Área <strong>de</strong> EstudoA área <strong>de</strong> estudo encontra-se no interior do Parque Nacional da Serra do Cipó,próximo à se<strong>de</strong> do ICMBIO, nas coor<strong>de</strong>nadas 19º20’54.29”S e 43º36’45.92”O. Tratase<strong>de</strong> um campo inserido na bacia <strong>de</strong> drenagem do rio Mascates, junto ao encontro como rio Bocaina on<strong>de</strong> ocorre a formação do rio Cipó (Fig.5, 6 e 7). A área é formada porum mosaico vegetacional composto por uma mata ciliar <strong>de</strong> largura variável, que émargeada pelo campo <strong>de</strong> gramíneas, cujo solo permanece encharcado nos períodoschuvosos, inclusive com formação <strong>de</strong> uma lâmina d’água. O campo, por sua vez, é<strong>de</strong>limitado por uma área <strong>de</strong> cerrado senso-stricto, situado em cotas altimétricas umpouco mais elevadas, com relevo movimentado e solos bem drenados (Fig. 8 e 9).22


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________A área ocupada pelo campo <strong>de</strong> gramíneas caracteriza uma região <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição<strong>de</strong> sedimentos e durante décadas foi repetidamente queimada e usada para agricultura ecriação <strong>de</strong> gado, ativida<strong>de</strong>s que perduraram sem controle até recentemente, quando oParque Nacional foi criado e um programa <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> incêndios, PREVFOGO foiimplementado pelo IBAMA. Embora medidas tenham sido tomadas, essa área aindasofre com o uso extensivo e conflitante, sendo por isso reconhecida como prioritáriapara recuperação e reabilitação.O controle das ativida<strong>de</strong>s antrópicas permitiu a recuperação natural da área, coma conseqüente ocupação do campo por espécies <strong>de</strong> gramíneas e outras <strong>de</strong> porteherbáceo, arbustivo e arbóreo. A colonização do campo sugere um possível processosucessional, cuja dinâmica é o foco central <strong>de</strong>ste trabalho.23


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________FIGURA 5: Imagem <strong>de</strong> satélite mostrando a área <strong>de</strong> estudo em diferentes escalas. Na escala maior, aslinhas azuis mostram os limites da APA Morro da Pedreira e as linhas amarelas, os limites do ParqueNacional da Serra do Cipó.24


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________FIGURA 6: Imagem <strong>de</strong> satélite da área <strong>de</strong> estudo mostrando o campo <strong>de</strong> gramíneas ao centro, a mataciliar contornando o rio e o cerrado abaixo da trilha. À direita, a união do rio Bocaina ao rio Mascatesformando o rio Cipó.FIGURA 7: Gradiente vegetacional da área <strong>de</strong> estudo: abaixo, o rio Cipó e a mata ciliar, <strong>de</strong>limitada pelocampo <strong>de</strong> gramíneas, que se esten<strong>de</strong> até o cerrado sensu-stricto, localizado em cotas altimétricas umpouco mais elevadas. O gradiente continua até o topo da serra, on<strong>de</strong> as plantas <strong>de</strong> cerrado misturam-se àsplantas dos campos rupestres.25


Fotos: Gustavo SchifllerFotos: Gustavo SchifllerFotos: Gustavo SchifllerEugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________ABCFIGURA 8: Cada uma das três fitofisionomias acompanhadas pela respectiva fotografia hemisférica,tiradas com uma lente FISHEYE FCE9 acoplada a uma NIKON PULPIX 5400 em agosto <strong>de</strong> 2005. (A)Mata ciliar, (B) Campo, (C) Cerrado.26


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________ABCFIGURA 9: Fotografias da área <strong>de</strong> estudo. (A) planície <strong>de</strong> inundação do Rio Cipó em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009.(B) (C) solo encharcado com formação <strong>de</strong> lâmina d’água.5. ObjetivosO principal objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi <strong>de</strong>terminar uma possível trajetóriasucessional para o campo, compreen<strong>de</strong>ndo os processos que estão <strong>de</strong>terminando suacolonização. Os conhecimentos gerados a partir <strong>de</strong>ste estudo po<strong>de</strong>rão contribuir comnovas pesquisas científicas e futuros projetos <strong>de</strong> recuperação da área.Para atingir esse objetivo, as seguintes questões foram formuladas:1) Quais espécies vegetais compõem a mata ciliar, o cerrado e o campo?2) As espécies presentes no campo vêm da mata ciliar ou do cerrado?27


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________3) Quais são suas síndromes <strong>de</strong> dispersão?4) Como estas espécies estão distribuídas e que fatores estão <strong>de</strong>terminando essadistribuição?5) Quais características físicas e químicas distinguem os solos do campo dossolos da mata ciliar e do cerrado?6) Que trajetória sucessional os solos e a vegetação atual indicam?6. HipótesesHipótese I. O campo é constituído por um mosaico vegetacional com espéciescampestres, <strong>de</strong> mata ciliar e <strong>de</strong> cerrado sensu-stricto.Hipótese II. A zoocoria é predominante no cerrado e na mata ciliar, enquanto aanemocoria é mais representativa no campo.Hipótese III. A riqueza <strong>de</strong> espécies é menor em parcelas com predomínio <strong>de</strong>monocotiledôneas com maior afinida<strong>de</strong> por umida<strong>de</strong>.Hipótese IV. As características físico-químicas do solo po<strong>de</strong>m explicar as semelhançasflorísticas encontradas entre o campo, o cerrado e a mata.Hipótese V. Os solos do campo apresentam características exclusivas e distintas da mataciliar e do cerrado.7. Material e Métodos7.1. Coleta <strong>de</strong> Dados7.1.1. Levantamento FlorísticoAs coletas florísticas foram realizadas no período seco, entre maio e setembro <strong>de</strong>2009. Foram criados três tansectos, que seguiram a linha <strong>de</strong> drenagem do Rio Cipó epreservaram uma distância mínima <strong>de</strong> 30m entre si (Fig.10).28


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________T1T2T3FIGURA 10: Imagem <strong>de</strong> satélite mostrando o posicionamento aproximado dos três transectos na área <strong>de</strong>estudos.Todos os transectos começavam no cerrado, atravessavam o campo eterminavam na mata ciliar. Cada um <strong>de</strong>les possuía uma parcela no cerrado, com 10mx10m e outra na mata, também com 10m x10m. No campo, as parcelas estavamdistribuídas ao longo <strong>de</strong> todo o transecto, começando na borda do cerrado e terminandona borda da mata ciliar. Cada uma <strong>de</strong>ssas parcelas possuía 3m x10m, com intervalos <strong>de</strong>10m entre elas. Em função do traço meandrante do Rio Cipó os transectos possuíamnúmeros <strong>de</strong> parcelas diferentes no campo, sendo 19, 25 e 21 respectivamente. Foiestabelecido um intervalo <strong>de</strong> 10m antes e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> trilhas e obstáculos físicos, taiscomo lagoas e troncos <strong>de</strong> árvores caídos, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evitar os efeitos <strong>de</strong> bordae as possíveis interferências antrópicas na vegetação.Em cada parcela, todos os indivíduos com altura mínima <strong>de</strong> 50cm foramincluídos na amostragem. O Diâmetro na Altura do Solo (DAS) e o Diâmetro na Alturado Peito (DAP) não foram utilizados como critério <strong>de</strong> inclusão porque excluíam plantascom altura significativa no campo e plântulas importantes na mata e no cerrado. Todosos indivíduos foram marcados e exemplares <strong>de</strong> cada morfoespécie foram coletados ei<strong>de</strong>ntificados. A i<strong>de</strong>ntificação foi realizada com o auxílio <strong>de</strong> especialistas, consultas àbibliografias e ao Herbário BHCB/UFMG.Para classificar as espécies quanto ao seu hábitat, foram utilizadas consultas àliteratura e aos especialistas. Quando uma espécie apareceu apenas uma vez na29


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________amostragem e informações não foram encontradas na literatura, a espécie foi<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rada. As espécies não i<strong>de</strong>ntificadas ou i<strong>de</strong>ntificadas a nível <strong>de</strong> gênerotambém foram <strong>de</strong>consi<strong>de</strong>radas nas análises.7.1.2. Coleta <strong>de</strong> SolosFertilida<strong>de</strong> e Textura: Para estudos <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong> e textura dos solos, 12 amostras <strong>de</strong> 0-20cm <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> foram coletadas em cada fitofisionomia com o auxílio <strong>de</strong> um tradocala dor <strong>de</strong> 5cm <strong>de</strong> diâmetro. No cerrado e na mata ciliar, cada parcela foi dividida em 4subparcelas. Em cada uma <strong>de</strong>ssas subparcelas foram escolhidos 3 pontos aleatórios <strong>de</strong>coleta. As 3 amostras foram homogeneizadas e acondicionadas em sacos plásticosi<strong>de</strong>ntificados. Ao final, 4 subparcelas em 3 parcelas totalizaram 12 amostras na mata e 12 nocerrado. Cupinzeiros, trocos em <strong>de</strong>composição, ou quaisquer outros fatores que pu<strong>de</strong>ssemcausar alterações locais no solo e <strong>de</strong>ssa forma interferir nos resultados, foram registrados eevitados. No campo, cada transecto foi dividido em 4 grupos <strong>de</strong> 4 a 7 parcelas. As coletaspara análise <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong> e textura foram feitas nas parcelas centrais <strong>de</strong> cada grupo. Aofinal, 4 parcelas em 3 transectos totalizaram 12 amostras no campo. Todas as amostrasforam encaminhadas para análise no Laboratório <strong>de</strong> Análise <strong>de</strong> Solos da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><strong>Fe<strong>de</strong>ral</strong> <strong>de</strong> Lavras.Umida<strong>de</strong> do Solo: Para analisar a umida<strong>de</strong> do solo, uma amostra <strong>de</strong> 0-10cm <strong>de</strong>profundida<strong>de</strong> foi coletada em cada subparcela das parcelas da mata ciliar e do cerrado. Já nocampo, 3 amostras foram coletadas em cada parcela, também <strong>de</strong> 0-10cm <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>,sendo uma no início, uma no centro e outra no final <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las. Touceiras <strong>de</strong>gramíneas foram evitadas sempre que possível, pois nesses locais a umida<strong>de</strong> se tornanaturalmente mais elevada. Os solos coletados foram colocados em sacos plásticos vedados.No mesmo dia todas as amostras foram pesadas em laboratório para o registro do pesoúmido. Em seguida, os sacos plásticos foram abertos e as amostras foram <strong>de</strong>ixadas expostasà temperatura ambiente para secagem. Todas foram pesadas <strong>de</strong> 10 em 10 dias até que nãohouvessem mais variações no peso. O percentual <strong>de</strong> umida<strong>de</strong> do solo foi <strong>de</strong>terminado daseguinte forma:100 x (Pu – Ps) / Puon<strong>de</strong> Pu = Peso Úmido e Ps = Peso Seco.30


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________7.1.3. Cobertura <strong>de</strong> GramíneasCinco categorias <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cobertura foram estabelecidas: 0-20%, 21-40%, 41-60%, 61-80%, 81-100%. Foram consi<strong>de</strong>radas apenas as três espécies <strong>de</strong> gramíneas maisabundantes: Urochloa <strong>de</strong>cumbens, Andropogon bicornis, e uma espécie <strong>de</strong> Poaceae nãoi<strong>de</strong>ntificada (Fig.11). Outras espécies foram excluídas da análise por ocorrerem em menos <strong>de</strong>5% das parcelas. Cada parcela, no cerrado, no campo e na mata, foi dividida em 4 subparcelas epor estimativas visuais, cada um <strong>de</strong>les foi inserido em uma das categorias <strong>de</strong> cobertura.FIGURA 11: Espécies <strong>de</strong> gramíneas estudadas. (A) Andropogon bicornis, (B) Urochloa <strong>de</strong>cumbens, (C)Poaceae não i<strong>de</strong>ntificada.7.1.4. MicroclimaUm Datalogger LICOR-1400 foi utilizado para registrar medidas <strong>de</strong> PAR(Radiação Fotossinteticamente Ativa), temperatura e umida<strong>de</strong> do ar nas parcelas dotransecto 2, selecionado por ser o maior e mais representativo. As medidas foram feitas31


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________ao nível do solo, em pontos aleatórios, entre 10:30 e 13:30 horas. Nas parcelas da matae do cerrado, foram amostrados 3 pontos em cada subparcela, totalizando 36 mediçõespara cada uma das duas fitofisionomias. No campo, foram amostrados 3 pontos em cadaparcela, totalizando 75 medições. Para as análises, foi calculada a média aritmética dasmedições em cada parcela ou subparcela.7.2. Análise dos DadosMo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> abundância foram aplicados aos dados florísticos. Tais mo<strong>de</strong>los,embora empíricos, possuem aplicabilida<strong>de</strong> prática na medida em que fornecem umretrato aproximado da estrutura da comunida<strong>de</strong> (Magurran 2004).Análise Discriminante e Análise dos Componentes Principais (PCA) foramusadas para 1) verificar se solos <strong>de</strong> cada uma das três fitofisionomias apresentamcaracterísticas comuns que os distinguem dos solos das outras fitofisionomias e 2)verificar como se relacionam os diferentes parâmetros físico-químicos <strong>de</strong>sses solos.Foi utilizada primeiramente a Análise Discriminante. Porém, o método“stepwise”, utilizado nesta análise, elimina variáveis redundantes e com baixo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>discriminação, o que impossibilitou a análise das correlações entre todas as variáveisfísico-químicas. Por outro lado, isso foi possível com a PCA.O Escalonamento Multidimensional Não-Métrico (NMDS) foi aplicado aosdados florísticos para <strong>de</strong>tectar possíveis similarida<strong>de</strong>s entre as fitofisionomias. Para estaanálise, só foram consi<strong>de</strong>radas espécies presentes em mais do que 5% das parcelas, oque exclui as espécies raras. A análise foi aplicada para todas as parcelas e também paraas parcelas com coletas <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> solo. A NMDS foi usada para or<strong>de</strong>nar asparcelas <strong>de</strong> acordo com o grau <strong>de</strong> similarida<strong>de</strong> em abundância e composição <strong>de</strong>espécies. Essa técnica não requer a normalida<strong>de</strong> multivariada e produz a representaçãomais apurada da estrutura dos dados (Clarke 1993). A NMDS foi executada no modoautomático do programa PC-ORD usando a distância <strong>de</strong> Bray-Curtis. Antes da análise,todas as parcelas foram estandardizadas. O número <strong>de</strong> dimensões foi <strong>de</strong>finido pelo valordo estresse final que foi comparado a configurações randomizadas dos dados (Teste <strong>de</strong>Monte Carlo) (Mccune & Grace 2002). A distribuição das parcelas no espaçomultidimensional do PC-ORD é <strong>de</strong>finida pelas similarida<strong>de</strong>s na composição eabundância <strong>de</strong> espécies.32


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________Os escores obtidos das análises <strong>de</strong> solo foram correlacionados com os escores daNMDS para verificar possíveis relações com as características edáficas.Correlações simples (Coeficiente <strong>de</strong> Spearman) foram aplicadas aos parâmetrosmicroclimáticos (PAR, temperatura, umida<strong>de</strong> do solo e do ar), assim como foramutilizadas para relacionar a cobertura <strong>de</strong> gramíneas à riqueza em espécies, à distânciaem relação à borda do cerrado e à umida<strong>de</strong> do solo. A riqueza, por sua vez, também foirelacionada à umida<strong>de</strong> do solo e à distância em relação à borda do cerrado e da mata.Uma breve discussão sobre as análises multivariadas utilizadas neste estudo estáapresentada no apêndice A.8. ResultadosNo total, foram amostrados 3.530 indivíduos pertencentes a 278 espécies emorfoespécies. Desse total, foram i<strong>de</strong>ntificadas 167 espécies, pertencentes a 113gêneros e 48 famílias. Muitos exemplares não pu<strong>de</strong>ram ser i<strong>de</strong>ntificados em função daausência <strong>de</strong> estruturas reprodutivas. Na área <strong>de</strong> estudo, foram encontradas 115 espéciese morfoespécies no cerrado, 171 no campo e 75 na mata ciliar. As famílias com maiornúmero <strong>de</strong> espécies foram Fabaceae (24), Myrtaceae (21) e Asteraceae (14). No cerradoe na mata, as famílias mais abundantes foram Fabaceae e Myrtaceae. No campo, se<strong>de</strong>stacaram as famílias Fabaceae, Myrtaceae e Asteraceae. As espécies i<strong>de</strong>ntificadas,bem como seu porte, síndromes <strong>de</strong> dispersão e hábitat <strong>de</strong> origem estão representadas noApêndice B.8.1. As curvas espécie-abundânciaAs curvas espécie/abundância sugerem forte dominância, indicando a presença<strong>de</strong> muitas espécies raras e poucas espécies abundantes (Fig.12). Todas as três curvasforam melhor <strong>de</strong>scritas pelo mo<strong>de</strong>lo geométrico. As espécies mais abundantes nocampo foram Sebastiania hispida, Miconia albicans, Sida linifolia e Ludwigia nervosa.33


Abundância (log)Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________1001010 34 68 102 136 170RankFIGURA 12. Curva espécie/abundância para os três transectos do campo. Transecto 1 (●), Transecto2(●), Transecto 3 (●).T1T2T38.2. A cobertura <strong>de</strong> gramíneasAs espécies Urochloa <strong>de</strong>cumbens e Andropogon bicornis <strong>de</strong>monstraram gran<strong>de</strong>afinida<strong>de</strong> por solos úmidos, on<strong>de</strong> apresentaram as maiores <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cobertura(Fig.13A,B). O primeiro transecto foi omitido nos gráficos que ilustram os resultadosenvolvendo a espécie Urochloa <strong>de</strong>cumbens, porque ela estava presente em apenas umadas parcelas <strong>de</strong>sse transecto.Por outro lado, a espécie <strong>de</strong> Poaceae não i<strong>de</strong>ntificada <strong>de</strong>monstrou maiorafinida<strong>de</strong> por áreas mais secas (Fig.13C). A cobertura <strong>de</strong>ssa espécie <strong>de</strong> gramínea estánegativamente correlacionada à cobertura <strong>de</strong> Urochloa <strong>de</strong>cumbens e Andropogonbicornis (rs = -0,424, p


Urochloa <strong>de</strong>cumbens (%)Andropogon bicornis (%)Poaceae (%)Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________(A)120rs = 0,293 p < 0,02 (B)rs = 0,527 p < 0,001(C)rs = -0,541 p < 0,00110010010090809080807060706060405040305040302000,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6Umida<strong>de</strong> (%)201000,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6Umida<strong>de</strong> (%)201000,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6Umida<strong>de</strong> (%)FIGURA 13: Relações entre as abundâncias das três espécies <strong>de</strong> gramíneas e a umida<strong>de</strong> do solo.Transecto 1 (●), Transecto 2(●),Transecto 3 (●).T1T2T3A riqueza em espécies reduziu com o aumento da umida<strong>de</strong> e da cobertura <strong>de</strong>Andropogon bicornis e Urochloa <strong>de</strong>cumbens (Fig.14A,B,C). Para <strong>de</strong>scartar apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> correlação espúria, foi feita uma regressão simples utilizando somenteos dados das parcelas com cobertura zero <strong>de</strong> Andropogon bicornis e Urochloa<strong>de</strong>cumbens. O resultado não foi significativo (n = 26, p = 0,403, rs = 0,171), indicandoque a riqueza em espécies está negativamente correlacionada à cobertura <strong>de</strong>Andropogon bicornis e Urochloa <strong>de</strong>cumbens e não à umida<strong>de</strong> do solo. Se associarmosao fato <strong>de</strong> que as espécies Sida linifolia e Ludwigia nervosa apresentam maior<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> em manchas <strong>de</strong> Andropogon bicornis, fica claro que essas gramíneasestabelecem um ambiente altamente seletivo, caracterizado por forte dominância <strong>de</strong>poucas espécies. Como esperado nesse caso, a riqueza em espécies aumentou com aporcentagem <strong>de</strong> cobertura da Poaceae não i<strong>de</strong>ntificada (Fig.14D), uma vez que essaespécie <strong>de</strong> gramínea está associada a parcelas com menor cobertura <strong>de</strong> Andropogonbicornis e Urochloa <strong>de</strong>cumbens.35


Riqueza <strong>de</strong> EspéciesRiqueza <strong>de</strong> EspéciesRiqueza <strong>de</strong> EspéciesRiqueza <strong>de</strong> EspéciesEugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________(A) rs = -0,341 p < 0,05 (B)rs = -0,568 p < 0,00130302020101000,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6Umida<strong>de</strong> (%)001020304050607080Andropogon bicornis (%)90100T1T2T3(C)30rs = -0,569 p < 0,001(D)30rs = 0,399 p < 0,012020101000 20 40 60 80 100 120Urochloa <strong>de</strong>cumbens (%)00102030405060Poaceae (%)FIGURA 14: Relações entre a riqueza <strong>de</strong> espécies, a umida<strong>de</strong> e a cobertura das três gramíneas estudadas(Poaceae (não i<strong>de</strong>ntificada), Urochloa <strong>de</strong>cumbens e Andropogon bicornis). Transecto 1 (●), Transecto2(●),Transecto 3 (●).7080901008.3. Efeitos da distância em relação às bordasParcelas mais próximas à borda da mata são mais ricas do que parcelas maispróximas à borda do cerrado (Fig.15). Já as espécies <strong>de</strong> gramíneas Urochloa <strong>de</strong>cumbense Andropogon bicornis apresentaram maiores coberturas próximo à borda do cerrado(Fig.16A,B). Esses resultados são coerentes com os anteriores, pois a riqueza <strong>de</strong>espécies diminui com o aumento da cobertura <strong>de</strong>ssas gramíneas.36


Urochloa <strong>de</strong>cumbens (%)Andropogon bicornis (%)Nº <strong>de</strong> EspéciesSucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________30rs = 0,469 p < 0,001201000 10 20 30ParcelaT1T2T3FIGURA 15: Aumento da riqueza em espécies no campo com a distância em relação às bordas docerrado. As primeiras parcelas estão mais próximas do cerrado e as últimas, mais próximas da mata ciliar.Transecto 1 (●), Transecto 2(●),Transecto 3 (●).(A)120100rs = -0,596 p < 0,001 rs = -0,451 p < 0,001(B)100908080604070605040302000 10 20 30Parcela201000 10 20 30ParcelaT1T2T3FIGURA 16: Redução da cobertura <strong>de</strong> Urochloa <strong>de</strong>cumbens e Andropogon bicornis com a distância emrelação às bordas do cerrado. Transecto 1 (●), Transecto 2(●),Transecto 3 (●).8.4. O microclimaQuanto menor a PAR (Radiação Fotossinteticamente Ativa), menor atemperatura (rs = 0,423, p


Nº <strong>de</strong> Indivíduos (%)Umida<strong>de</strong> do ArPAREugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________rs = -0,417 p < 0,05301.500ρ = 0,366 ρ = - 0,417251.0002050015101 11 21 31 41 51 61Andropogon bicornis01 11 21 31 41 51 61 71Urochloa <strong>de</strong>cumbensFIGURA 17: Relações entre a PAR e a cobertura <strong>de</strong> Urochloa <strong>de</strong>cumbens.8.5. Origem e síndromes <strong>de</strong> dispersão no campoNo campo, a maior parte dos indivíduos pertence a espécies típicas <strong>de</strong> cerrado(69,51%). O restante é composto por indivíduos pertencentes a espécies que po<strong>de</strong>m serencontradas no cerrado ou na mata ciliar (13,90%) e espécies típicas <strong>de</strong> mata ciliar(16,59%) (Fig.18).70605040302010CerradoCerrado/MataMataFIGURA 18: Porcentagem <strong>de</strong> indivíduos <strong>de</strong> cada fitofisionomia registrados no campo. Espécies típicas<strong>de</strong> cerrado ou mata ciliar e espécies que po<strong>de</strong>m ser encontradas nos dois ambientes.38


% Espécies Arbóreas% EspéciesArbustivo/ArbóreasHerbáceas% EspéciesArbustivas% Espécies Arbóreas% EspéciesArbustivo/Arbóreas% EspéciesHerbáceas% EspéciesArbustivas% Espécies <strong>de</strong>Cerrado/Mata Ciliar% Espécies <strong>de</strong>Cerrado/Mata Ciliar% Espécies <strong>de</strong>Cerrado% Espécies <strong>de</strong> MataCiliar% Espécies <strong>de</strong>Cerrado/Mata Ciliar% Espécies <strong>de</strong>Cerrado% Espécies <strong>de</strong> MataCiliar% Espécies <strong>de</strong>Cerrado% Espécies <strong>de</strong> MataCiliarSucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________120120100100As espécies típicas do cerrado ou que po<strong>de</strong>m viver tanto no cerrado quanto na8080mata ciliar são encontradas em toda a extensão do campo (Fig.19A,B). No entanto, asespécies típicas <strong>de</strong> mata ciliar estão concentradas predominantemente próximo à bordada mata (rs = 0,436, p


% EspéciesAutocóricas% EspéciesAutocóricas% EspéciesAutocóricas% EspéciesZoocóricas% EspéciesAnemocóricas% EspéciesZoocóricas% EspéciesAnemocóricas% EspéciesZoocóricas% EspéciesAnemocóricasAltura média(m)NúmeCerradoCampoMataCerrado/Mata1Eugênia Kelly Luciano Batista0 5 10 15 20 25______________________________________________________________________Parcela(B)32100 9 18 27ParcelaFIGURA 21: Distribuição das alturas médias dos indivíduos nas parcelas do campo.As espécies autocóricas e anemocóricas po<strong>de</strong>m ser encontradas em toda a120120extensão do campo (Fig.22A,B). No entanto, o percentual <strong>de</strong> espécies zoocóricas foi100100correlacionado ao número <strong>de</strong> espécies típicas da mata ciliar (rs = 0,328, p


% Espécies% Espécies% EspéciesSucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________com o número <strong>de</strong> espécies arbóreas (rs = -420, p


Prem (mg/L)Prem (mg/L)MO (dag/kg)MO (dag/kg)Umida<strong>de</strong> (%)Umida<strong>de</strong> (%)SB (cmolc/dm3)Prem (mg/L)SB (cmolc/dm3)Prem (mg/L)K (cmol/dm3)K (cmol/dm3)MO (dag/kg)Umida<strong>de</strong> (%)Prem (mg/L)MO (dag/kg)V (%)V (%)Umida<strong>de</strong> (%)MO (dag/kg)Umida<strong>de</strong> (%)SB (cmolc/dm3)(t) (cmolc/dm3)(t) (cmolc/dm3)SB (cmolc/dm3)(T) (cmolc/dm3)K (cmol/dm3)Prem (mg/L)(T) (cmolc/dm3)K (cmol/dm3)SB (cmolc/dm3)V (%)pHpHMO (dag/kg)V (%)Umida<strong>de</strong> (%)K (cmol/dm3)V (%)H+AL (cmol/dm3)H+AL (cmol/dm3)(t) (cmolc/dm3)SB (cmolc/dm3)(T) (cmolc/dm3)(t) (cmolc/dm3)AL (cmol/dm3)AL (cmol/dm3)m (%)m (%)(T) (cmolc/dm3)pHK (cmol/dm3)(t) (cmolc/dm3)pH(T) (cmolc/dm3)V (%)pHH+AL (cmol/dm3)H+AL (cmol/dm3)AL (cmol/dm3)(t) (cmolc/dm3)m (%)AL (cmol/dm3)H+AL (cmol/dm3(T) (cmolc/dm3m (%)AL (cmol/dm3)pHm (%)202020905909033331001080802222 Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________CA CE MAGrupo101CA CE MACA CA CE MAGrupoGrupo100170CA CE MACA CA CE CE MAGrupoMAGrupo41370CA CE MACA CE MAGrupoGrupo8070CACEGrupo30 30 50,730 550,690510030680930686420 20440,52070420 905607205 65310 1020,4330,310220,25034010 804302205410432410CA CE MAGrupo0,1101CA CE MACA GrupoCE MAGrupo1017003CA CE MACA CE MACA GrupoCE MAGrupoGrupo103CA CE MACA CE MACA CE MAGrupoGrupo3CACEGrupo0,750,640,50,4330,3220,20,7905030800,640700,52060 300,45020400,31030100,2200,79098680 0,6 8770760,5560650,4505440 0,3 4433030,222020,5 9098080,47076060,35050,2 4043030,1202987654320,111CA CECA MACE MAGrupoGrupo0,11000CA CA CACA CE CECE CEMAMAMA MAGrupoGrupo0,110113CA CA CACE CE CEMAMA MAGrupoGrupoGrupo0,0101CACACECEMAMACA CE MAGrupoGrupo1CACEGrupo0,7 0,7 509050 85090,5 880,50,50,6 0,6400,5 0,5300,4 0,4200,3 0,30,2 0,210807407066030 550420403031020 2840 70,47630 60,355200,2 43100,1270,460,3540,230,1 20,40,30,20,10,1 0,1 0CACA CA CE CE MA MAGrupo100 1CA CA CE CE MA MAGrupo100,0 1CA CE MACA CA CE MAGrupoGrupo10,0CA CE MACA Grupo CE MAGrupo0,0CACEGrupo50 50FIGURA 24: Comparação das 8 variáveis químicas dos solos 0,5 do cerrado, campo e mata. Al=alumínio solúvel,740 40H+Al=íon hidrogênio+alumínio, m=índice <strong>de</strong> saturação <strong>de</strong>0,4alumínio, (t)=capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca catiônica efetiva,30 3020 2010 1000CA CA CE CE MAGrupo6(T)=capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca catiônica a pH 7.0, SB=soma <strong>de</strong> bases trocáveis, K=potássio, v=índice <strong>de</strong> saturação <strong>de</strong>5bases, Prem=fósforo remanescente, MO=matéria orgânica. CA = campo; CE = cerrado; MA = mata. Os boxplots que4apresentaram apenas as medianas para os três grupos foram excluídos.321CA CE MAGrupo0,30,20,10,0CA CE MAGrupoEm relação às características físicas, o cerrado e a mata apresentaram solos maisarenosos, enquanto o campo se <strong>de</strong>stacou pela predominância <strong>de</strong> partículas siltosas(Fig.25).42


Silte (dag/kg)Areia (dag/kg)Argila (dag/kg)Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________80706090807060353025504030205040302010201510510CA CE MAGrupo0CA CE MAGrupo0CA CE MAGrupoFIGURA 25: Comparação das variáveis físicas dos solos do cerrado, campo e mata. CA = campo; CE =cerrado; MA = mata.A tabela no Apêndice C mostra as correlações entre as variáveis físico-químicasdo solo. A Análise Discriminante apontou diferenças entre campo, cerrado e mata ciliar.Após a retirada <strong>de</strong> um outlier no campo, o Wilk’s λ foi 0,007, com p < 0,001, o queexclui a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar diferenças entre os grupos quando na verda<strong>de</strong> elasnão existem.Os autovalores foram 24,16 e 5,06 para a primeira e a segunda funçõesdiscriminantes respectivamente (Tab.2). A primeira função concentrou 82,67% do po<strong>de</strong>r<strong>de</strong> discriminação total, cerca <strong>de</strong> cinco vezes maior do que a segunda função, queconcentrou 17,33%. Os coeficientes <strong>de</strong> correlação canônica (R*) são altos, seaproximando do valor máximo (igual a 1), o que indica fortes associações entre osgrupos e as funções canônicas.TABELA 2: Autovalores, porcentagem <strong>de</strong> explicação e correlação canônica das duas funçõesdiscriminantes.Autovalor % Relativa R*Função 1 24,163 82,67 0,980Função 2 5,065 17,33 0,914Na Tabela 3 estão representados os valores médios das variáveis edáficas <strong>de</strong>cada grupo. Uma análise <strong>de</strong>ssa tabela permite observar que o campo apresentou o pHmenos ácido e as maiores médias <strong>de</strong> matéria orgânica, umida<strong>de</strong> e silte. A porcentagem<strong>de</strong> areia e teor <strong>de</strong> fósforo remanescente foram maiores na mata ciliar e no cerrado,ficando o cerrado com as maiores médias <strong>de</strong> potássio e a mata com os maiores valores43


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________médios <strong>de</strong> alumínio, H + Al, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca catiônica e índice <strong>de</strong> saturação <strong>de</strong>alumínio. Os valores médios resultantes da análise confirmam os boxplots, das Figuras23 e 24.TABELA 3: Média das variáveis edáficas para cada grupo na Análise Discriminante. Grupos: CE =Cerrado; MA = Mata; CA = Campo. Variáveis: Al=alumínio solúvel, H+Al=íon hidrogênio+alumínio,m=índice <strong>de</strong> saturação <strong>de</strong> alumínio, (t)=capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca catiônica efetiva, (T)=capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trocacatiônica a pH 7.0, SB=soma <strong>de</strong> bases trocáveis, K=potássio, v=índice <strong>de</strong> saturação <strong>de</strong> bases,Prem=fósforo remanescente, MO=matéria orgânica. Os valores em negrito representam as médias maissignificativas.GrupoVariávelCA CE MAPh 5,018 4,783 4,167K 21,455 49,083 22,833Ca 0,173 0,108 0,125Mg 0,1 0,133 0,1Al 2,018 1,85 2,95H+Al 9,809 8,083 16,217SB 0,327 0,375 0,308(t) 2,345 2,225 3,258(T) 10,145 8,467 16,525V 3,609 4,442 1,867M 85,345 83,275 90,625MO 4,682 2,258 3,775Prem 17,027 34,292 34,775Areia 31,909 68,583 67,5Silte 54,545 17,333 26Argila 13,545 14,083 6,5Umida<strong>de</strong> 0,242 0,056 0,047No entanto, apenas as médias não po<strong>de</strong>m explicar a distinção entre os grupos,porque não dizem nada a respeito das relações <strong>de</strong> cada variável com o eixo. Para isso,são utilizados os coeficientes estruturais ou padronizados (Tab. 4). A primeira função,que separa o campo do conjunto cerrado/mata, foi fortemente influenciada pelasvariáveis SB, v e silte. Para a segunda função, que separa a mata do cerrado inserindo ocampo em posições intermediárias, as variáveis discriminantes mais significativas44


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________foram o potássio, a areia e também o silte. As <strong>de</strong>mais variáveis foram excluídas porserem fortemente correlacionadas.TABELA 4: Coeficientes padronizados da Análise Discriminante. Os valores em negrito significam asvariáveis que mais contribuem para o cálculo dos “escores” <strong>de</strong> cada função.Função DiscriminanteVariável1 2Ph 0,766 0,802K -0,436 1,158Ca . .Mg . .Al . .H+AL . .SB -2,283 -0,325(t) . .(T) . .V 2,104 -0,976M . .MO . .Prem . .Areia 1,256 -2,84Silte 2,376 -2,993Argila . .Umida<strong>de</strong> 1,129 0,099A posição dos grupos (cerrado, mata e campo) no espaço discriminante po<strong>de</strong> servisualizada em um diagrama bidimensional (Fig.26), on<strong>de</strong> é possível notar que os trêsgrupos estão relativamente bem separados.45


DISC2Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________543210-1-2-3-4CEMAMAMAMAMA MAMAMA MACE CECECECECE CEMAMACECE-10 -5 0 5 10DISC1FIGURA 26: Distribuição dos grupos no espaço discriminante <strong>de</strong> acordo com as características dossolos. Mata Ciliar (●), Cerrado (●), Campo (●). O comprimento dos eixos é proporcional ao percentual <strong>de</strong>variação a eles associados.CACACACACACACACACANa PCA, os três primeiros autovalores foram significativos e explicam cerca <strong>de</strong>85% da variância. No entanto, somente os dois primeiros componentes foramanalisados, por somarem mais <strong>de</strong> 70% da variância.TABELA 5: Autovalores e porcentagem da variância explicada por cada componente.Autovalor %Componente 1 6,877 40,45Componente 2 5,159 30,34Componente 3 2,466 14,5As cargas dos componentes representam a correlação <strong>de</strong> Pearson entre cadavariável e os eixos dos componentes. A análise <strong>de</strong>ssas cargas indica que no primeiroeixo as variáveis mais relevantes foram o Al, H+Al, (t), (T), m, v e pH. Enquanto queno segundo eixo, as principais variáveis foram a Umida<strong>de</strong> do solo, Silte, MO, Areia ePrem (Tab.6).46


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________TABELA 6: Peso das variáveis em cada eixo da PCA. Os valores em negrito significam as variáveis significativas.VariávelCargas dos Componentes1 2Ph 0,728 -0,555K 0,677 0,18Ca 0,144 -0,619Mg 0,611 0,142Al -0,872 0,067H+AL -0,898 0,117SB 0,439 -0,366(t) -0,815 0,013(T) -0,89 0,112V 0,893 -0,236M -0,865 0,255MO -0,608 -0,692Prem 0,23 0,913Areia 0,247 0,942Silte -0,358 -0,88Argila 0,305 -0,575Umida<strong>de</strong> -0,164 -0,907As correlações entre cada variável e os dois primeiros componentes ou eixos daPCA, assim como a distribuição das parcelas no espaço bidimensional <strong>de</strong>finido poresses componentes ou eixos po<strong>de</strong>m ser visualizados nas Figuras 27A e 27B. O primeirocomponente tem caráter químico e separa as parcelas <strong>de</strong> mata das parcelas <strong>de</strong> cerrado,enquanto as parcelas <strong>de</strong> campo encontraram-se distribuídas entre os dois grupos. A mataapresenta maiores teores <strong>de</strong> alumínio em relação ao cerrado, que possui pH menosácido, índice <strong>de</strong> saturação <strong>de</strong> bases e potássio relativamente mais elevados.O segundo componente possui características físicas e separa o campo doconjunto formado pela mata e pelo cerrado. A mata e o cerrado apresentaram solos comtextura mais grosseira, com maiores percentuais <strong>de</strong> areia em relação ao silte e argila, aopasso que o campo caracterizou-se por umida<strong>de</strong> <strong>de</strong> solo elevada e maiores teores <strong>de</strong>matéria orgânica e silte.47


Factor(2)PCA2Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________(A)(B)1,0PR AREIA20,50,0-0,5ISAHAL CTC7ALCTCMOCAARGILASBTKMGPHISB10-1-2-3MAT3P1MAT3P4MAT3P3MAT3P2CAT2P22MAT2P3MAT2P4MAT2P1 MAT2P2CAT1P8MAT1P2MAT1P4MAT1P3MAT1P1CAT1P3 CAT2P16CAT1P13CAT1P18CET2P1 CET2P2CET3P4 CET2P4CET3P2 CET3P3 CET2P3CET3P1CAT3P13CAT2P4CAT3P18CAT3P3CAT3P8CET1P2 CET1P1 CET1P4CET1P3SILTEUMIDADE-1,0-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0Factor(1)-4-3 -2 -1 0 1 2 3PCA1FIGURA 27: (A) PCA mostrando as correlações entre as variáveis físico-químicas e os dois primeiros componentes.(B) Dispersão das parcelas com relação aos dois primeiros componentes da PCA. Mata Ciliar (●), Cerrado (●),Campo (●).Variáveis: Al=alumínio solúvel, H+Al=íon hidrogênio+alumínio, m=índice <strong>de</strong> saturação <strong>de</strong>alumínio, (t)=capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca catiônica efetiva, (T)=capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca catiônica a pH 7.0, SB=soma<strong>de</strong> bases trocáveis, K=potássio, v=índice <strong>de</strong> saturação <strong>de</strong> bases, Prem=fósforo remanescente,MO=matéria orgânica.Os resultados obtidos com a Análise Discriminante apresentaram algumassimilarida<strong>de</strong>s com os resultados da PCA. Para checar a coerência entre essas duasanálises e assegurar a melhor escolha entre as duas, os “escores” das parcelas obtidos naAnálise Discriminante foram correlacionados aos “escores” obtidos na PCA (Fig.28).Foram encontradas correlações significativas entre o primeiro eixo da PCA e o segundoeixo Discriminante, bem como entre o segundo eixo da PCA e o primeiro eixoDiscriminante. Dessa forma, po<strong>de</strong>mos concluir que esses eixos apresentam praticamentea mesma informação, permitindo-nos utilizar os resultados <strong>de</strong> apenas uma das análisescom segurança. Em função da Análise Discriminante omitir os coeficientespadronizados das variáveis redundantes, optamos pela utilização dos resultados da PCA.48


PCA2PCA1Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________(A)2(B)rs = -0,786 p < 0,001 rs = 0,757 p < 0,001310-1-2MA MAMAMAMAMAMAMA CECE CECE CE CEMA MACECEMACEMACACACACACACACACACA210-1CACACACAMAMAMAMACACA MA CAMA MAMACAMACACECACACECE CECECECECECECECECE-3CA-2MAMAMA-4-10 -5 0 5 10DISC1-3-4-3-2-101DISC2FIGURA 28: Correlações entre os escores da Análise Discriminante e da PCA. (A) Eixo 2 da PCA e Eixo 1 daAnálise Discriminante. (B) Eixo 1 da PCA e Eixo 2 da Análise Discriminante. Mata Ciliar (●), Cerrado (●), Campo(●).2345No que tange à relação entre o solo e a vegetação, o escalonamentomultidimensional (NMDS) indicou uma solução tridimensional. O terceiro eixo, queexplica 44% da variância total, claramente distingue a mata ciliar do cerrado, enquantoo campo está situado entre esses dois grupos. Já o segundo eixo, que explica 27% davariância total, agrupou as parcelas <strong>de</strong> cerrado e <strong>de</strong> mata separando-as do campo (Tab.7e Fig.29). Agrupamentos semelhantes foram encontrados na Análise Discriminante e naPCA aplicadas às características edáficas.TABELA 7: Po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> explicação <strong>de</strong> cada eixo do NMDS.R 2EixoPercentual <strong>de</strong> Explicação1 0,1052 0,2753 0,44449


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________M AT2P1M AT1P1 M AT2P4M AT1P2M AT2P2M AT1P4M AT1P3CAT2P22Cor193032M AT2P3M AT3P1M AT3P3M AT3P2CAT1P8M AT3P4IIICAT1P18CAT2P4CAT3P8CAT2P16CAT3P3CAT1P3CAT3P13CAT1P13CAT3P18CET3P2CET3P1CET2P2CET1P2CET3P4CET1P1CET3P3CET2P3CET2P4CET1P4CET1P3CET2P1FIGURA 29: Distribuição das parcelas no espaço bidimensional formado pelo segundo e terceiro eixos da NMDS.( ) Cerrado ( ) Mata Ciliar ( ) Campo.IIA representação gráfica das parcelas no espaço tridimensional <strong>de</strong>finido pelos trêsprimeiros Eixos da NMDS po<strong>de</strong> ser observada na Figura 30, on<strong>de</strong> é possível visualizar aseparação das três fitofisionomias com base na composição florística.50


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________IIIIIIIIIIFIGURA 30: Distribuição espacial das parcelas no espaço tridimensional <strong>de</strong>finido pelos três primeiros eixos daNMDS, <strong>de</strong>stacando o segundo e terceiro eixos que apresentaram o maior po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> explicação. ( ) Cerrado ( ) MataCiliar ( ) Campo.O estresse foi estabilizado e diferiu significativamente das configuraçõesrandomizadas do conjunto <strong>de</strong> dados (Teste <strong>de</strong> Monte Carlo), comprovando suaconsistência (p=0,0196) (Tab.8).TABELA 8: Teste <strong>de</strong> Permutação <strong>de</strong> Monte Carlo.Stress nos dadosStress nos dados reaisrandomizadosTeste <strong>de</strong> Monte CarloEixos Mínimo Médio Máximo Mínimo Médio Máximo p valor1 35.021 51.006 56.054 49.121 54.600 56.061 0,01962 18.383 21.240 39.568 28.446 31.503 42.155 0,01963 12.366 13.490 29.737 18.745 23.431 43.114 0,01964 9.053 10.478 26.480 14.005 18.597 44.168 0,0196Para tentar explicar as similarida<strong>de</strong>s florísticas encontradas os escores do NMDSforam correlacionados aos escores da PCA e da Análise Discriminante (Fig.31). Osresultados <strong>de</strong>monstram que a configuração das parcelas no espaço do NMDS estácorrelacionada à configuração das parcelas no espaço do PCA e da AnáliseDiscriminante (Tab.9). Ou seja, os dados edáficos, obtidos através da PCA e da AnáliseDiscriminante po<strong>de</strong>m explicar as semelhanças florísticas resultantes do NMDS.51


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________TABELA 9: Matriz <strong>de</strong> coeficientes <strong>de</strong> correlação <strong>de</strong> Spearman entre os eixos edáficos e florísticos.Matriz <strong>de</strong> Correlação <strong>de</strong> SpearmanDISC1 DISC2 PCA1 PCA2 MDS1 MDS2 MDS3DISC1 1DISC2 0,332 1PCA1 0,330 0,757 1PCA2 -0,786 -0,138 -0,075 1MDS1 -0,080 0,101 0,388 0,278 1MDS2 0,766 0,264 0,315 -0,619 0,164 1MDS3 -0,259 -0,789 -0,737 0,099 -0,066 -0,228 1O segundo eixo da NMDS separa o campo do conjunto formado pela mata ciliare cerrado. Esse eixo está fortemente correlacionado ao eixo 2 da PCA (Fig.31A), quesepara as parcelas com base em características físicas do solo. Nesse eixo, o campoencontra-se isolado das outras parcelas em função <strong>de</strong> sua elevada umida<strong>de</strong>, matériaorgânica e proporção <strong>de</strong> silte. Ou seja, essas características físicas do solo conferem aocampo uma composição florística singular. No gráfico da Figura 31A é possívelobservar as parcelas <strong>de</strong> cerrado agrupadas com as parcelas <strong>de</strong> mata e ambas separadasdas parcelas <strong>de</strong> campo.Por outro lado, o terceiro eixo da NMDS separa bem as parcelas da mata ciliardas parcelas <strong>de</strong> cerrado. Esse eixo está fortemente correlacionado ao eixo 1 da PCA(Fig.31B), que separa as parcelas com base em características químicas do solo. Nesseeixo, as parcelas <strong>de</strong> mata e <strong>de</strong> cerrado são bem distintas e essa separação parece serfortemente influenciada pela quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alumínio no solo, pH e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trocacatiônica. Isso significa que essas diferenças químicas no solo po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>terminar oestabelecimento <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s com estrutura e composição florística totalmentedistintas, tais como o cerrado e a mata ciliar. No gráfico da Figura 31B é possívelobservar as parcelas <strong>de</strong> cerrado separadas das parcelas <strong>de</strong> mata ciliar e o campolocalizado em posições intermediárias.52


MDS2MDS3Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________(A) rs = -0,619 p < 0,001(B) rs = -0,737 p < 0,0011,51,51,00,50,0-0,5CACA CA CA CACA CA CACA-1,0-4 -3 -2 -1 0 1 2PCA2CACAMACECECECE CECE MACE MAMAMACECE MA MACE MAMAMA MA MA1,00,50,0-0,5CAMAMAMA MA MA MAMAMAMAMA MACAMACA CACACACA CACACACACECE CECE CECE CE CECECECE-1,0CE-3 -2 -1 0 1 2 3PCA1FIGURA 31: Correlações entre os escores do NMDS e os escores da PCA. (A) Eixo 2 da PCA e Eixo 2 do NMDS.(B) Eixo 1 da PCA e Eixo 3 do MDS. Mata Ciliar (●), Cerrado (●), Campo (●).9. Discussão9.1. As curvas espécie-abundânciaAs curvas espécie/abundância são típicas <strong>de</strong> ambientes em sucessão e adominância <strong>de</strong> poucas espécies no campo sugere condições ambientais restritivas(Magurran 2004). Sabe-se que a área on<strong>de</strong> hoje se encontra o campo foi por décadasqueimada e utilizada para cultivo e pastagem, ativida<strong>de</strong>s que perduraram atérecentemente, quando a área foi <strong>de</strong>sapropriada e os programas <strong>de</strong> combate a incêndiosforam implementados. Nesse contexto, é esperado que o campo esteja em início <strong>de</strong>processo sucessional, com maior representativida<strong>de</strong> das espécies tolerantes às novascondições ambientais. Por outro lado, as inundações periódicas também po<strong>de</strong>m causardiminuição da abundância e riqueza em espécies, refletindo a falta <strong>de</strong> adaptação <strong>de</strong>muitas espécies às condições <strong>de</strong> alagamento. As inundações funcionam portanto, comoum filtro que seleciona espécies capazes <strong>de</strong> sobreviver nessas condições (Cianciaruso etal. 2005).53


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________9.2. A cobertura <strong>de</strong> gramíneasAs ocorrências das gramíneas Urochloa <strong>de</strong>cumbens e Andropogon bicornis estãoassociadas a solos mais úmidos. Isso po<strong>de</strong> refletir afinida<strong>de</strong> por umida<strong>de</strong> elevada ouindicar que essas espécies estão contribuindo para aumentar a umida<strong>de</strong> no solo. Poroutro lado, estudos comprovam que as gramíneas, assim como as espécies lenhosas,po<strong>de</strong>m ser eficientes na retirada <strong>de</strong> umida<strong>de</strong> do solo, diminuindo o teor <strong>de</strong> água nascamadas superficiais, especialmente se a textura for arenosa (James et al. 2003). Como atextura dos solos do campo foi predominantemente siltosa, po<strong>de</strong> ser que a retirada <strong>de</strong>água pela cobertura <strong>de</strong> gramíneas não tenha sido suficiente para reduzirsignificativamente a umida<strong>de</strong>, pois as partículas mais finas como o silte po<strong>de</strong>m retermais água no solo. Além disso, a maior adição <strong>de</strong> matéria orgânica causada por essasgramíneas po<strong>de</strong> contribuir ainda mais para o aumento da umida<strong>de</strong>. Em outras palavras,as gramíneas estão <strong>de</strong> fato associadas a altas umida<strong>de</strong>s e isso po<strong>de</strong> ser um resultado <strong>de</strong>sua ineficiência na retirada <strong>de</strong> água do solo aliada aos elevados teores <strong>de</strong> silte e matériaorgânica, criando um círculo vicioso que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>slocar a trajetória sucessional emdireção a outro climax.Por outro lado, a espécie <strong>de</strong> Poaceae não i<strong>de</strong>ntificada <strong>de</strong>monstrou maiorafinida<strong>de</strong> por ambientes mais secos. O fato <strong>de</strong> altas coberturas <strong>de</strong>ssa gramínea estaremassociadas a outras espécies do cerrado e também a cupinzeiros, que po<strong>de</strong>m modificar adinâmica da água no solo (Abbadie et al. 1992), po<strong>de</strong>ria caracterizá-la como umaespécie bioindicadora <strong>de</strong> baixa umida<strong>de</strong>. Essa possibilida<strong>de</strong> se torna ainda mais concretaquando são encontradas correlações negativas, praticamente exclu<strong>de</strong>ntes, entre acobertura <strong>de</strong>ssa espécie e a <strong>de</strong> Urochloa <strong>de</strong>cumbens e Andropogon bicornis.Em conjunto, as gramíneas indicam que o campo mantém manchas <strong>de</strong> solo maisbem drenados ou <strong>de</strong> cota altimétrica mais elevada, em meio a uma matriz <strong>de</strong> solosinundáveis, propiciando mistura <strong>de</strong> espécies com afinida<strong>de</strong>s elevadas até baixas porumida<strong>de</strong>.Os resultados sugerem que a riqueza em espécies diminui com a cobertura <strong>de</strong>Andropogon bicornis e Urochloa <strong>de</strong>cumbens e não diretamente com a umida<strong>de</strong>.Entretanto, é possível que essas duas espécies <strong>de</strong> gramíneas sejam tolerantes aosencharcados e <strong>de</strong>ssa forma caracterizem ambientes excessivamente úmidos e situadosacima do limite <strong>de</strong> tolerância das espécies potencialmente colonizadoras, mesmo as da54


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________mata ciliar. Isso sugere que apenas um pequeno número <strong>de</strong> espécies po<strong>de</strong> colonizaressas áreas alagadiças (Munhoz et al. 2008). Essa possibilida<strong>de</strong> é reforçada peladominância <strong>de</strong> Ludwigia nervosa e Sida linifolia nas parcelas cobertas por Andropogonbicornis. Segundo Munhoz (2007) e Araújo (2002), essas duas espécies são típicas <strong>de</strong>ambientes alagadiços, saturados <strong>de</strong> água durante boa parte do ano, ocorrendo emcampos úmidos e veredas. Além disso, uma espécie <strong>de</strong> pteridófita, Pityrogrammacalomelanos, pô<strong>de</strong> ser amostrada em parcelas com 100% <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong> Andropogonbicornis, o que reafirma a umida<strong>de</strong> excessiva dos locais on<strong>de</strong> esta gramínea éencontrada.Estudos como os <strong>de</strong> Araújo et al. (2002), Sampaio et al. (2000) e Silva (2001)revelaram padrões semelhantes <strong>de</strong> diminuição da riqueza em áreas alagadiças,geralmente caracterizadas por uma flora específica. Ferreira 1997 encontrou umaumento na riqueza <strong>de</strong> espécies com a redução da intensida<strong>de</strong> e duração do alagamentoem florestas <strong>de</strong> igapó na Amazônia (Ferreira 1997). Zeilhofer (1999) i<strong>de</strong>ntificou regiõescobertas por gramíneas sobre solos com drenagem <strong>de</strong>ficiente no Pantanal do MatoGrosso e Hall (1946) classificou três comunida<strong>de</strong>s no vale do Tennessee <strong>de</strong> acordo coma tolerância às inundações: tolerantes, mo<strong>de</strong>radamente tolerantes e intolerantes. Po<strong>de</strong> serque as áreas cobertas pelas gramíneas no campo correspondam a regiões comtopografias mais rebaixadas, on<strong>de</strong> a duração e a freqüência das inundações é maior.Nesse caso, a comunida<strong>de</strong> vegetal estabelecida será composta predominantemente porespécies tolerantes aos encharcamentos (Ferreira 1999).É importante lembrar que outros fatores, além do excesso <strong>de</strong> umida<strong>de</strong>, tambémpo<strong>de</strong>m inibir o estabelecimento <strong>de</strong> diversas espécies <strong>de</strong> plantas sob a cobertura <strong>de</strong>gramíneas. Geralmente, as gramíneas são eficientes na captação <strong>de</strong> recursos(Zimmerman 2000) e em alguns casos, como Urochloa <strong>de</strong>cumbens, po<strong>de</strong>m reduzirsignificativamente a luminosida<strong>de</strong> ao nível do solo ou inibir o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>outras espécies através da liberação <strong>de</strong> compostos alelopáticos (Barbosa et al. 2009).9.3. Efeitos da distância em relação às bordasA riqueza em espécies também está correlacionada à distância em relação àsbordas da mata ciliar e do cerrado, embora esse efeito possa ser indiretamenteinfluenciado pela cobertura <strong>de</strong> gramíneas. Os resultados indicaram que a riqueza é55


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________maior próximo à mata ciliar, on<strong>de</strong> as espécies <strong>de</strong> Andropogon bicornis e Urochloa<strong>de</strong>cumbens estão ausentes. Talvez o maior sombreamento nessa região tenha impedido oestabelecimento das espécies <strong>de</strong> Andropogon bicornis e Urochloa <strong>de</strong>cumbens criandocondições <strong>de</strong> umida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quadas à sobrevivência <strong>de</strong> outras espécies.9.4. Origem e síndromes <strong>de</strong> dispersão no campoA maioria das espécies presentes no campo é típica <strong>de</strong> cerrado, sugerindo umapossível trajetória sucessional em direção a essa fitofisionomia. Nesse sentido, adistância em relação à fonte <strong>de</strong> propágulos não parece ser uma barreira <strong>de</strong> colonizaçãopara essas espécies, pois elas po<strong>de</strong>m ser encontradas em toda a extensão do campo,muitas vezes associadas à Poaceae não i<strong>de</strong>ntificada, que se estabelece em áreas commelhor drenagem do solo. Por outro lado, as espécies típicas <strong>de</strong> mata ciliar são maisabundantes próximo às bordas da mata, on<strong>de</strong> há o predomínio <strong>de</strong> espécies arbóreas emrelação às arbustivas e conseqüente aumento na altura média dos indivíduos. Tudo issosugere uma frente <strong>de</strong> expansão da mata em direção ao campo, possivelmenterelacionada à chuva <strong>de</strong> sementes.O percentual <strong>de</strong> zoocoria ten<strong>de</strong> a ser maior próximo às bordas da mata, talvezem função do aumento no número <strong>de</strong> espécies típicas <strong>de</strong>sse local. As espécieszoocóricas per<strong>de</strong>m expressão no cerrado e no campo, embora ainda continuem a serpredominantes no primeiro caso. Diversos estudos falam sobre a importância daanemocoria na colonização <strong>de</strong> áreas abertas (Saïd 2001, Oliveira & Moreira 1992).Segundo Saïd, a redução na pressão <strong>de</strong> pastagem permite o estabelecimento <strong>de</strong> espéciesanemocóricas, heliófilas, geralmente herbáceas e tolerantes ao estresse das condiçõesiniciais (Saïd 2001). E <strong>de</strong> fato, no campo, as espécies anemocóricas, em sua maioriaherbáceas, ganham representativida<strong>de</strong>. Já no cerrado, o percentual <strong>de</strong> espéciesautocóricas aumenta e, apesar <strong>de</strong>stas espécies serem ineficientes na dispersão a longasdistâncias (Vieira et al. 2002), po<strong>de</strong>m ser encontradas em toda a extensão do campo.Isso sugere que as fontes <strong>de</strong> propágulos já estão estabelecidas no campo e/ou quealguma forma <strong>de</strong> dispersão secundária estaria levando as sementes a distâncias maioresdo que elas seriam capazes <strong>de</strong> alcançar sem ajuda externa.56


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________9.5. Os solos e a vegetaçãoOs fatores edáficos influenciam fortemente a comunida<strong>de</strong> vegetal e a dinâmicada sucessão (Davidson 1962; Moreno et al. 2008; Ruggiero et al. 2002; Oliveira-Filho1989,1994,2001,2005; Rodrigues 2007; Botrel 2002). O quartzito, rocha predominantena região da Serra do Cipó, apresenta gran<strong>de</strong> resistência ao intemperismo e forma soloscom alta proporção <strong>de</strong> areia e baixa fertilida<strong>de</strong> (Resen<strong>de</strong> 2007). Na área <strong>de</strong> estudo, <strong>de</strong>uma forma geral, as três fitofisionomias apresentaram solos distróficos (SBT < 50%),com alta concentração <strong>de</strong> alumínio, chegando algumas vezes a níveis suficientes paraserem <strong>de</strong>nominados “alumínicos” (ISA ≥ 50% e Al > 4cmol/dm 3 ), um padrão também<strong>de</strong>scrito para outras áreas <strong>de</strong> cerrado. (Goodland & Ferri 1979; Moreno 2008; Ruggieroet al. 2002).As partículas <strong>de</strong> solo, tanto orgânicas quanto inorgânicas, têm cargaspredominantemente negativas em sua superfície (Resen<strong>de</strong> 2007). Os cátions mineraisadsorvem-se às cargas negativas <strong>de</strong> superfície das partículas orgânicas e inorgânicas,não sendo perdidos quando o solo é lavado pela água. Dessa forma, esses cátionsoferecem uma reserva <strong>de</strong> nutrientes disponível às raízes das plantas. Os nutrientesminerais adsorvidos no solo po<strong>de</strong>m ser substituídos por outros cátions através <strong>de</strong> umprocesso conhecido como troca catiônica. Sendo assim, quanto mais cátions o solopu<strong>de</strong>r adsorver e trocar, maior será sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca catiônica. Ao seremabsorvidos pelas raízes das plantas, os nutrientes são substituídos por íons hidrogênio(H + ) originários da água da chuva e dos ácidos orgânicos liberados durante a<strong>de</strong>composição da matéria orgânica. A substituição dos cátions presentes na superfíciedas partículas pelo hidrogênio mantém o balanço eletrostático da solução do solo, ouseja, não há sobra <strong>de</strong> cargas elétricas (Tonhasca 2005). Porém, a concentração do íonhidrogênio afeta a disponibilida<strong>de</strong> dos nutrientes (K + , Mg 2+ , Ca 2+ , Mn 2+ ) no solo, namedida em que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>slocá-los do complexo <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> cátions e <strong>de</strong>ixá-lossusceptíveis à lixiviação (Taiz & Zeiger 2004). O aumento da concentração <strong>de</strong> íonshidrogênio com a lixiviação provoca a elevação da aci<strong>de</strong>z do solo e com isso, oalumínio (Al 3+ ) passa a se solubilizar. O alumínio solúvel, por sua vez, também <strong>de</strong>slocaos nutrientes do complexo <strong>de</strong> troca (Ruggiero et al. 2002, Boyer 1973) e contribui aindamais para a aci<strong>de</strong>z do solo. Esse elemento é tóxico para as plantas em altasconcentrações (Tonhasca 2005), mas outros estudos têm afirmado que as altas57


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________concentrações <strong>de</strong> alumínio no solo não limitam o <strong>de</strong>senvolvimento da vegetação nocerrado (Haridasan 1992).Na mata e no cerrado, os solos apresentaram textura grosseira, com maioresteores <strong>de</strong> areia, o que reflete seu material <strong>de</strong> origem, o quartzito. No caso da mata, atextura arenosa também po<strong>de</strong> ser reflexo do transporte <strong>de</strong> materiais no leito do rio. Poroutro lado, o campo apresentou elevadas proporções <strong>de</strong> silte, o que po<strong>de</strong> ser resultado<strong>de</strong> uma possível topografia rebaixada, que faz com que ele receba sedimentos,geralmente finos como o silte, carreados das partes mais altas. No entanto, sob a ação dointemperismo, as partículas <strong>de</strong> silte ten<strong>de</strong>m a se transformar em argila (Resen<strong>de</strong> 2007).Por que então gran<strong>de</strong> parte do silte que compõe os solos do campo ainda não setransformou em argila? Nos períodos chuvosos, o campo permanece encharcado, muitasvezes com a formação <strong>de</strong> uma lâmina d’água a níveis que po<strong>de</strong>m chegar a 1 metro <strong>de</strong>altura acima do nível do solo. Em condições <strong>de</strong> excesso <strong>de</strong> água, o ambiente é <strong>de</strong>redução e conseqüente anoxia do solo (Ponnamperuma 1972). O oxigênio é consumidopela respiração <strong>de</strong> raízes e (micro)organismos do solo, geralmente <strong>de</strong>saparecendo umdia após o encharcamento (Ponnamperuma 1972). Nessas condições <strong>de</strong> aeração<strong>de</strong>ficiente, o ambiente se torna ina<strong>de</strong>quado à sobrevivência e ativida<strong>de</strong> dosmicroorganismos, resultando na <strong>de</strong>saceleração do intemperismo biológico (Resen<strong>de</strong>2007) e na conseqüente manutenção das elevadas proporções <strong>de</strong> silte em relação àargila. Além disso, os solos mais siltosos possuem maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retenção <strong>de</strong>umida<strong>de</strong> (Jacobsen & Adams 1958), o que contribuiria para o maior acúmulo e maiortempo <strong>de</strong> retenção <strong>de</strong> água no campo. A maior umida<strong>de</strong> do campo em relação à mata eao cerrado também po<strong>de</strong> estar ligada à maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> matéria orgânica. A matériaorgânica retém até seis vezes o seu peso em água (Resen<strong>de</strong> 2007). As gramíneasincorporam mais matéria orgânica no solo do que as florestas e o encharcamentoperiódico impe<strong>de</strong> a <strong>de</strong>composição completa <strong>de</strong>ssa matéria orgânica, que passa a seacumular no solo, retendo mais umida<strong>de</strong> (Ponnamperuma 1972).Os alagamentos afetam a dinâmica dos processos edáficos e a comunida<strong>de</strong>microbiológica do solo (An 2008, Entray 2008, Maharning 2009, Unger 2009). SegundoPonnamperuma 1972, sob condições <strong>de</strong> anoxia a <strong>de</strong>composição da matéria orgânica éfeita por organismos anaeróbios facultativos ou obrigatórios, que operam com menosenergia e <strong>de</strong> forma mais lenta do que os organismos aeróbios. Em solos bem drenados,os principais produtos finais da <strong>de</strong>composição são o CO 2 , nitrato, sulfato e húmus. Já na58


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________<strong>de</strong>composição anaeróbia, são liberados CO 2 , hidrogênio, amônia e metano(Ponnamperuma 1972).Então em solos alagados, além das menores taxas <strong>de</strong><strong>de</strong>composição, uma série <strong>de</strong> compostos intermediários é formada, alterando toda adinâmica da matéria orgânica (Nascimento et al. 2010). Portanto, os alagamentosperiódicos no campo fazem com que a <strong>de</strong>composição da matéria orgânica seja lenta enão resulte em compostos <strong>de</strong> maior estabilida<strong>de</strong>, como o húmus. Pouco húmus, somadoao baixo teor <strong>de</strong> argila explicaria a menor capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca catiônica observada nocampo.Por outro lado, no campo, o alagamento po<strong>de</strong>ria ter <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado umaseqüência <strong>de</strong> redução que começou com a utilização do oxigênio como receptor final <strong>de</strong>elétrons por organismos aeróbios. Quando a concentração do oxigênio chega próximo azero, outros componentes passam a ser reduzidos por anaeróbios facultativos ouobrigatórios, que se tornam predominantes após a anoxia. Entre esses componentesestão os íons H + , que após reduzidos se transformam em H 2 (Ponnamperuma 1972) . Aconseqüente queda na concentração <strong>de</strong> íons H + po<strong>de</strong>ria resultar na formação <strong>de</strong> óxidos<strong>de</strong> alumínio <strong>de</strong>nominados gipsita [Al(OH) 3 ], um elemento colói<strong>de</strong>, ou seja, uma argila,capaz <strong>de</strong> elevar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca nos solos do campo.O fósforo remanescente é um índice que possibilita <strong>de</strong>terminar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>retenção <strong>de</strong> fósforo por um solo (Cagliari 2010). A gipsita é um forte adsorvente dofósforo e, se chegou a ser formada no campo através da precipitação do alumínio,po<strong>de</strong>ria explicar porque essa fitofisionomia apresentou as menores concentrações <strong>de</strong>fósforo remanescente. Por outro lado, estudos revelam que o aumento da umida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixao filme <strong>de</strong> água ao redor dos colói<strong>de</strong>s mais espesso, diminuindo a interação íon-colói<strong>de</strong>e aumentando a difusivida<strong>de</strong> do fósforo no solo (Marcolan 2006). Outros estudosmostram que os ácidos orgânicos têm a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diminuir a adsorção do fósforopor oxidróxidos <strong>de</strong> alumínio como a gipsita, porque competem com ele pelos mesmossítios <strong>de</strong> adsorção (Mesquita & Torrent 1993). O aumento da difusivida<strong>de</strong> do fósforopela umida<strong>de</strong> e a diminuição <strong>de</strong> sua adsorção pela matéria orgânica aumentariam adisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fósforo para as plantas. Nesse caso, seriam necessárias análises dabiomassa vegetal para compreen<strong>de</strong>r melhor a dinâmica do fósforo nos solos do campo.Portanto, <strong>de</strong> uma maneira geral, um conjunto <strong>de</strong> fatores está contribuindo para amanutenção das condições atuais do campo (Apêndice D). O relevo mais rebaixadofavorece o encharcamento, o que inibe a <strong>de</strong>composição da matéria orgânica e o processo59


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________<strong>de</strong> envelhecimento do solo, que levaria à formação <strong>de</strong> argila. Com a <strong>de</strong>composição domaterial orgânico comprometida não há formação <strong>de</strong> húmus e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trocacatiônica diminui. O alagamento gera a anoxia do solo, favorecendo os organismosanaeróbios, que utilizam os íons H+ como aceptores finais <strong>de</strong> elétrons. A diminuição daconcentração <strong>de</strong>sses íons em solução aumenta o pH do solo e acaba precipitando oalumínio, que por isso também apresenta concentrações menores. Esse precipitado <strong>de</strong>alumínio, <strong>de</strong>nominado gipsita, é um forte adsorvente <strong>de</strong> fósforo e confere ao solo maiorpotencial <strong>de</strong> retenção <strong>de</strong>ste elemento, o que po<strong>de</strong> explicar os menores valores <strong>de</strong> fósfororemanescente encontrados nesse ambiente.No cerrado, o solo arenoso aliado ao relevo levemente aci<strong>de</strong>ntado favorece adrenagem da água e causa um déficit hídrico. Nesse ambiente, a produção <strong>de</strong> biomassa émenor do que na mata e não existem condições abióticas que dificultem o processo <strong>de</strong><strong>de</strong>composição da matéria orgânica. Sendo assim, com menor produção e maior<strong>de</strong>composição, é esperado que o cerrado apresente menores quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> matériaorgânica, o que também <strong>de</strong>sfavorece a retenção <strong>de</strong> umida<strong>de</strong> no solo. Com menos húmuse um solo arenoso, o cerrado também possui menos elementos colói<strong>de</strong>s no solo, o quepo<strong>de</strong> explicar porque esse ambiente apresentou a menor capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca catiônica.Na mata ciliar, apesar da textura arenosa, a proximida<strong>de</strong> do rio aumenta aumida<strong>de</strong> do solo. Nesse ambiente, a maior taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição é compensada pelamaior taxa <strong>de</strong> produção por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo, o que acaba levando ao acúmulo <strong>de</strong>matéria orgânica no solo e contribuindo para a maior retenção <strong>de</strong> umida<strong>de</strong> (Resen<strong>de</strong>2007). Esse acúmulo <strong>de</strong> matéria orgânica ou húmus, po<strong>de</strong> explicar a maior capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> troca catiônica encontrada na mata ciliar. O pH muito ácido aumenta a solubilida<strong>de</strong>do alumínio (Al 3+ ) e o alumínio solúvel compete pelos sítios <strong>de</strong> troca nos elementoscolói<strong>de</strong>s do solo, <strong>de</strong>ixando os nutrientes expostos à lixiviação. Além disso, o alumíniosolúvel ainda compromete a absorção dos nutrientes na medida em que inibe a divisãocelular nas raízes, levando à redução do sistema radicular (Haridasan 1982; Boyer1973). Desse modo, a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nutrientes no solo e a absorção pelas plantasficam comprometidas, quer seja pela baixa solubilida<strong>de</strong> dos nutrientes ou pelo excesso<strong>de</strong> alumínio solúvel.Quando a concentração das bases K, Mg e Ca é elevada, a soma <strong>de</strong> basestrocáveis e o índice <strong>de</strong> saturação <strong>de</strong> bases também será elevada. Por outro lado, quandoo pH se torna ácido, com elevadas concentrações <strong>de</strong> H + , o alumínio se torna solúvel e60


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________aumenta a concentração do íon Al 3+ . Os íons hidrogênio e alumínio <strong>de</strong>slocam os outroscátions dos sítios <strong>de</strong> troca nos elementos colói<strong>de</strong>s e aumentam o índice <strong>de</strong> saturação poralumínio. Uma vez adsorvidos nos sítios <strong>de</strong> troca acessíveis ao potássio, sãodificilmente <strong>de</strong>slocados do complexo sortivo por ele (Boyer 1973). Nessascircunstâncias, se o potássio não for aproveitado pelas plantas, ficará susceptível àlixiviação, assim como os outros cátions. Assim, quando os índices <strong>de</strong> saturação poralumínio são elevados, as concentrações <strong>de</strong> potássio e <strong>de</strong> outros cátions serão reduzidas.A matéria orgânica também parece ter um papel fundamental na dinâmica <strong>de</strong> nutrientes<strong>de</strong>sse solo. Quando a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> matéria orgânica é maior, como por exemplo, nocampo e na mata, ocorre um aumento na concentração <strong>de</strong> alumínio solúvel. Com maisalumínio solúvel, as outras bases (K, Mg e Ca) acabam sendo lixiviadas ou absorvidaspelas plantas. Portanto, nos locais mais pobres em matéria orgânica, estarão as maioresconcentrações <strong>de</strong> bases trocáveis, como por exemplo, no cerrado. Essa maiorconcentração <strong>de</strong> bases trocáveis nos solos do cerrado também po<strong>de</strong> ser explicada pelotransporte <strong>de</strong> materiais oriundos das partes mais altas. Estudos recentes <strong>de</strong>screveram umcontexto semelhante <strong>de</strong> relações entre as variáveis edáficas, com maior saturação <strong>de</strong>alumínio em solos arenosos, on<strong>de</strong> a concentração <strong>de</strong> bases trocáveis era menor e o pHmais ácido (Oliveira-Filho 2007).A dominância <strong>de</strong> umas poucas espécies no campo e o gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong> espéciesraras sugere condições inóspitas do campo, geradas pelos alagamentos periódicos e/oupela competição com as gramíneas. Mas a presença <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> espécies<strong>de</strong> cerrado nesse campo po<strong>de</strong> indicar microtopografias um pouco mais elevadas, e porisso, mais bem drenadas, favoráveis às espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas. Porsua vez, o sombreamento causado por essas plantas <strong>de</strong>sfavoreceriam as gramíneasAndropogon bicornis e Urochloa <strong>de</strong>cumbens. Em áreas alagáveis, as plantas sãodistribuídas <strong>de</strong> acordo com suas tolerâncias à inundação ou saturação <strong>de</strong> água,resultando em uma zonação <strong>de</strong> espécies (Odland 2002, Zeilhofer 1999). Também épossível supor que as espécies lenhosas estejam modificando as condições <strong>de</strong> excesso<strong>de</strong> umida<strong>de</strong> no solo através dos processos <strong>de</strong> evapotranspiração (Cooper et al. 2006,Chapin III et al. 2002; Hopkins 1992; Holl et al. 2000). Nesse caso, o aumento da<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies lenhosas, significa maior biomassa <strong>de</strong> raízes e folhas econseqüente aumento da perda <strong>de</strong> água para a atmosfera. Além disso, na medida em queas espécies arbustivas e arbóreas se estabelecem, a maior altura e complexida<strong>de</strong> das61


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________copas alimenta a turbulência do ar, contribuindo para o aumento da evapotranspiração(Chapin III et al. 2002). Se as espécies lenhosas forem mais eficientes na retirada <strong>de</strong>umida<strong>de</strong> do solo do que as gramíneas, existiria a possibilida<strong>de</strong> do campo se tornar maispermeável à colonização por espécies do cerrado ou da mata ciliar.A maior abundância <strong>de</strong> espécies arbóreas e típicas <strong>de</strong> mata ciliar próximo àsbordas da mata sugere uma frente <strong>de</strong> expansão em direção ao campo. Por outro lado, asespécies <strong>de</strong> cerrado, geralmente pouco tolerantes ouintolerantes à umida<strong>de</strong> excessiva(Oliveira-Filho 1989; Ratter 1992), estão distribuídas em manchas ao longo do campo,associadas à espécie <strong>de</strong> Poaceae não i<strong>de</strong>ntificada, indicadora <strong>de</strong> solos secos e/ou melhordrenados. Diversos estudos têm enfatizado a importância da topografia na distribuição dasespécies (Oliveira-Filho 2001, 1994, 2007, 2005) e muitos têm encontrado um padrãosemelhante <strong>de</strong> distribuição insular <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> cerrado em meio ao campo alagável,associadas a microtopografias mais elevadas e com características físico-químicas do solodiferentes (Dubs 1992; Furley 1992; Zeilhofer 1999). Após se estabelecerem, as árvoresdo cerrado e também da mata formam uma estrutura vertical que po<strong>de</strong> servir comopoleiros para aves, facilitando a chegada <strong>de</strong> muitas espécies ornitocóricas ao local (Saïd2001, Holl et al. 2000). Nesse contexto, tais manchas po<strong>de</strong>riam iniciar um processo <strong>de</strong>nucleação (Holl et al. 2000; Nepstad et al. 1990), a partir do qual se daria a colonizaçãodo campo por espécies <strong>de</strong> cerrado menos tolerantes ao alagamento. Entretanto, a matriz<strong>de</strong> solos encharcados, com <strong>de</strong>nsas coberturas <strong>de</strong> Andropogon bicornis e Urochloa<strong>de</strong>cumbens representa uma barreira ao estabelecimento <strong>de</strong>sses potenciais colonizadores,mantendo o campo em um estado arrastado <strong>de</strong> sucessão, provavelmente com processos<strong>de</strong> nucleação esporadicamente abortados durante períodos <strong>de</strong> umida<strong>de</strong> excessiva. Noentanto, como discutido anteriormente, quando manchas <strong>de</strong> espécies arbustivo-arbóreasse estabelecem em solos mais secos no meio do campo, po<strong>de</strong>m sombrear as gramíneasna borda (Hopkins 1992; Holl et al. 2000), além <strong>de</strong> aumentar a evapotranspiração(Cooper et al. 2006). Com a morte das gramíneas, a adição <strong>de</strong> matéria orgânica diminuie conseqüentemente a retenção <strong>de</strong> umida<strong>de</strong> no solo, bem como todos os aspectosinerentes à competição com elas por recursos limitados. O que nos restaria saber é seessa redução na umida<strong>de</strong> seria suficiente para permitir a expansão das manchas <strong>de</strong>cerrado pelo campo, afinal, mesmo que as espécies lenhosas sejam mais eficientes naretirada <strong>de</strong> água do solo, a topografia rebaixada continuará favorecendo os62


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________encharcamentos nos períodos chuvosos e a textura siltosa continuará dificultando adrenagem dos solos.De qualquer forma, a freqüência e a duração dos alagamentos atuais, associadosà topografia, <strong>de</strong>finem a zonação das espécies no campo, selecionando espéciestolerantes em locais mais encharcados e espécies intolerantes provavelmente em locaismais secos.Com isso, cabe refletir se as flutuações nas condições ambientais estão causandoflutuações efêmeras na composição <strong>de</strong> espécies e até que ponto essas flutuações sãodirecionais e cumulativas. Ou seja, será que a comunida<strong>de</strong> atual do campo constitui umafase <strong>de</strong> equilíbrio com zonações discretas causadas por diferentes ótimos em relação aonível da água? Ou será que se trata <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> em transição, afetada porfatores alogênicos (alagamentos) e autogênicos (interação entre as espécies e entre elase o ambiente) que levarão a mudanças direcionais em sua composição e estrutura?A ação combinada das características físicas e químicas do solo, das sutisdiferenças <strong>de</strong> topografia, dos alagamentos periódicos e da expressão da vegetação noambiente controla o processo sucessional no campo hoje (Fig.39). Os resultados obtidospermitem levantar três cenários possíveis. O campo po<strong>de</strong> ser sucedido pelo cerrado, pelamata ciliar ou manter a mesma estrutura e composição.É possível que o campo inundável funcione como um filtro ambiental,restringindo o número <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> cerrado capazes <strong>de</strong> se estabelecer. Nesse contexto,parecem existir manchas com espécies <strong>de</strong> cerrado menos tolerantes à umida<strong>de</strong> excessivainseridas no campo alagável. Essas manchas po<strong>de</strong>m representar micro-relevos maiselevados e por isso menos sujeitos ao encharcamento e atingidos pelas inundações commenos freqüência e intensida<strong>de</strong>. As espécies lenhosas po<strong>de</strong>riam funcionar comopoleiros e fornecer alimento para aves e morcegos, além <strong>de</strong> criar condições menosestressantes em relação ao campo coberto por gramíneas (Nepstad et al. 1990). Com oaumento da evapotranspiração e conseqüente redução da umida<strong>de</strong> do solo, surge apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas espécies se expandirem pelo campo. Caso a sucessão siga essatrajetória, uma zona <strong>de</strong> tensão po<strong>de</strong>rá se estabelecer nos limites com a mata ciliar e essaborda po<strong>de</strong> se movimentar em direção a uma das duas fitofisionomias ou permanecerestável (Hopkins 1992). Muitos estudos <strong>de</strong>screvem o po<strong>de</strong>r do fogo como um elemento<strong>de</strong>terminante na dinâmica <strong>de</strong>ssas bordas (Hopkins 1992; Ratter 1992). Sem a atuação dofogo, as matas se expan<strong>de</strong>m em direção ao cerrado, sombreando e excluindo espécies63


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________adaptadas a alta luminosida<strong>de</strong> típicas <strong>de</strong>sse ambiente (Hopkins 1992). Geralmente ofogo termina on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gramíneas diminui, ou seja, próximo à borda da mata,raramente atingindo a serrapilheira(Hopkins 1992). Contudo, quando o incêndioultrapassa os limites da borda, exclui as espécies <strong>de</strong> mata, que são predominantementefanerógamas e não apresentam estratégias <strong>de</strong> sobrevivência ao fogo. Dessa forma,favorecido pela passagem do fogo, o cerrado se expan<strong>de</strong> em direção à mata ciliar. Nocampo, a umida<strong>de</strong> do solo po<strong>de</strong> atuar <strong>de</strong> maneira semelhante ao fogo nas fronteirasentre as duas fitofisionomias, favorecendo ora a mata ciliar ora o cerrado. Em períodoschuvosos, a umida<strong>de</strong> elevada po<strong>de</strong> comprometer a sobrevivência <strong>de</strong> espécies típicas <strong>de</strong>cerrado, adaptadas a ambientes secos e bem drenados (Oliveira-Filho 1989). Por outrolado, nos períodos <strong>de</strong> estiagem o estresse hídrico po<strong>de</strong> afetar negativamente as espécies<strong>de</strong> mata ciliar, geralmente adaptadas a umida<strong>de</strong>s mais altas (Tonhasca 2005). Sendoassim, a umida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> também exercer um importante papel na dinâmica <strong>de</strong>ssas bordas,favorecendo a expansão da mata ciliar sobre o cerrado e vice-versa.Entretanto, mesmo com a redução da umida<strong>de</strong> excessiva em função do aumentoda evapotranspiração, as condições ainda po<strong>de</strong>riam permanecer acima dos limites <strong>de</strong>tolerância para a maioria das espécies <strong>de</strong> cerrado. Nesse caso, as espécies <strong>de</strong> mata ciliarpo<strong>de</strong>riam ser favorecidas e a expansão da borda, aparentemente visível hoje, po<strong>de</strong>riaseguir em direção ao campo. Essa expansão envolveria as manchas <strong>de</strong> cerrado sensustricto,que po<strong>de</strong>riam se manter ou não no interior da mata, como observado por Furley(1992) e por Pennington et al. (2000), que <strong>de</strong>screvem manchas <strong>de</strong> cerrado inseridas nafloresta Amazônica <strong>de</strong>terminadas por diferenças edáficas.Uma terceira alternativa, que parece mais provável, seria um “campo sujo” comvegetação mais tolerante à umida<strong>de</strong>, formada por uma matriz <strong>de</strong> monocotiledôneastípicas <strong>de</strong> áreas periodicamente alagadas (como Andropogon bicornis) e herbáceas <strong>de</strong>mata e <strong>de</strong> cerrado. Sobre essa matriz seriam encontradas, espaçadamente ou empequenos grupos, lenhosas da mata e do cerrado. Este cenário se baseia nascaracterísticas que mais distinguem o campo em sucessão da mata e do cerrado: acamada superficial do solo predominantemente siltosa e o fato <strong>de</strong>sse solo permanecerúmido ou mesmo encharcado por mais tempo. O elevado percentual <strong>de</strong> silte nos solosdo campo sugere taxas reduzidas <strong>de</strong> intemperismo, provavelmente <strong>de</strong>vido aosalagamentos periódicos, que retardariam a formação <strong>de</strong> argila a partir do silte (obs. pess.Cristiane Valéria <strong>de</strong> Oliveira). Como esse processo é irreversível, os níveis <strong>de</strong> umida<strong>de</strong>64


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________não parecem ter sido drasticamente reduzidos num passado remoto, o que seria esperadocaso vegetação <strong>de</strong> maior porte com elevada capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evapotranspiração tivesse seestabelecido em altas <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s. Assim, o elevado percentual <strong>de</strong> silte parece guardar amemória <strong>de</strong> um solo on<strong>de</strong> inundações periódicas associadas a topografia mais baixa edrenagem insuficiente <strong>de</strong>sfavoreceriam o a<strong>de</strong>nsamento <strong>de</strong> arvores e arbustos da mataciliar e do cerrado. Nessa paisagem, além <strong>de</strong> pequenas diferenças na topografia e texturado solo, a alternância <strong>de</strong> secas periódicas e inundações favorece temporariamenteespécies com diferentes tolerâncias e habilida<strong>de</strong>s competitivas. Zeilhofer (1999)<strong>de</strong>screveu um mosaico ambiental no Pantanal Mato-Grossense, on<strong>de</strong> relevos maiselevados, com maior teor <strong>de</strong> argila ou areia e pouco ou quase nunca sujeitos aalagamentos, suportam espécies <strong>de</strong> cerrado e <strong>de</strong> mata em meio a campos associados asolos com baixo teor <strong>de</strong> argila e sujeitos a alagamentos mais intensos.Se o distúrbio que um dia afetou o campo teve duração e intensida<strong>de</strong> suficientepara ultrapassar seus limites bióticos e abióticos <strong>de</strong> recuperação, essa comunida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ter entrado em um estágio arrastado <strong>de</strong> sucessãoou simplesmente estar caminhandopara um climax alternativo. Nesse caso, após o distúrbio, as condições iniciais (“base <strong>de</strong>atração”), po<strong>de</strong>m ter empurrado o sistema em direção a um novo estado alternativoestável (“atrator”), no qual ele ten<strong>de</strong>rá a se manter (Walker et al. 2004).10. ConclusãoA topografia rebaixada leva a uma série <strong>de</strong> conseqüências ambientais queconferem ao campo características edáficas singulares e distintas do cerrado e da mataciliar circundantes. Como conseqüência, sua diversida<strong>de</strong> florística também seriacomposta por elementos exclusivos, geralmente herbáceos, arbustivos e graminói<strong>de</strong>s.No entanto, o campo apresenta heterogeneida<strong>de</strong> ambiental, com topografiaspossivelmente mais elevadas inseridas como manchas na matriz <strong>de</strong> campo inundável.Isso permite o estabelecimento <strong>de</strong> espécies oriundas das outras duas fitofisionomias,muitas vezes <strong>de</strong> porte arbustivo e arbóreo. Impulsionado ou não pelo histórico <strong>de</strong>exploração, é provável que o campo mantenha essa paisagem como um estadoalternativo estável ao longo dos anos, a menos que intervenções sejam feitas buscandolançar esse sistema em outra base <strong>de</strong> atração <strong>de</strong>sejável.65


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Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________APÊNDICE A - Análises Multivariadas1. Por que a Análise Discriminante?A Análise Discriminante foi aplicada aos dados edáficos por ser uma técnica queavalia as diferenças entre dois ou mais grupos com respeito a diversas variáveissimultaneamente. Como resultado, a análise gera uma ou mais equações, chamadas“funções discriminantes”, que combinam as características <strong>de</strong> um caso e permitemclassificá-lo como pertencente a algum grupo. As características usadas para distinguirentre os grupos são chamadas “variáveis discriminantes”. É importante mencionar que onúmero máximo <strong>de</strong> funções é igual ao número <strong>de</strong> grupos menos um e o número <strong>de</strong>casos <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r o número <strong>de</strong> variáveis em mais do que dois (Klecka 1980).A Análise Discriminante trabalha com alguns pressupostos e um <strong>de</strong>les é a nãolinearida<strong>de</strong> nas relações entre as variáveis discriminantes, ou seja, duas variáveisaltamente correlacionadas não po<strong>de</strong>m ser usadas simultaneamente. Essa restrição estáassociada a certos requerimentos matemáticos da análise, mas sobretudo a aspectosintuitivos. Uma variável significativamente correlacionada com outra se tornaredundante, porque não agrega novas informações. Assim como as variáveisredundantes, as variáveis com baixo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> discriminação complicam a análise, além<strong>de</strong> aumentar as chances <strong>de</strong> erro nas classificações. Uma maneira <strong>de</strong> eliminar as variáveis<strong>de</strong>snecessárias é o uso do método conhecido como “stepwise”, que seleciona para aanálise, as variáveis mais significativas. Uma “stepwise” po<strong>de</strong> começar selecionando avariável individual que fornece a melhor discriminação univariada (Foward).Posteriormente, essa variável é pareada com todas as outras para localizar a combinaçãoque produz a melhor discriminação. A variável que constituiu o melhor pareamento éselecionada e as duas são novamente pareadas com todas as outras e a terceira melhorvariável é também selecionada. Esse procedimento continua até que todas as variáveisdiscriminantes possíveis tenham sido selecionadas. O método <strong>de</strong> “stepwise” tambémpo<strong>de</strong> trabalhar <strong>de</strong> forma inversa, quando todas as variáveis são selecionadasinicialmente e as menos significativas vão sendo eliminadas a cada etapa (Backward).Se consi<strong>de</strong>rarmos as variáveis como eixos que <strong>de</strong>finem um espaço n-dimensional, cada caso seria um ponto nesse espaço com coor<strong>de</strong>nadas quecorrespon<strong>de</strong>m aos seus valores em cada uma das variáveis. Nesse contexto, cada grupo78


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________seria um conjunto <strong>de</strong> pontos concentrados em alguma porção <strong>de</strong>sse espaço. Paracaracterizar a posição típica <strong>de</strong> um grupo, po<strong>de</strong>-se utilizar o “centrói<strong>de</strong>”, um pontoimaginário cujas coor<strong>de</strong>nadas são as médias do grupo em cada variável. Se os pontos“centrói<strong>de</strong>s” são distintos, os grupos diferem em seu comportamento em relação àsvariáveis discriminantes.A contribuição das variáveis individuais são <strong>de</strong>terminadas através <strong>de</strong>coeficientes. Os coeficientes não padronizados revelam a contribuição absoluta <strong>de</strong> umavariável para o cálculo do escore discriminante. Por outro lado, os coeficientespadronizados po<strong>de</strong>m ser usados para <strong>de</strong>screver a importância relativa <strong>de</strong> cada variável.Isso é feito através da leitura da magnitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses coeficientes, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando seusinal, ou seja, quanto maior a magnitu<strong>de</strong>, maior é a contribuição <strong>de</strong> uma variável. Noentanto, os coeficientes padronizados são calculados levando em consi<strong>de</strong>ração acontribuição simultânea <strong>de</strong> todas as outras variáveis. Isso gera uma limitação, porque seduas variáveis estiverem altamente correlacionadas, po<strong>de</strong>m dividir sua contribuição parao cálculo do escore e conseqüentemente seus coeficientes padronizados se tornammenores do que quando apenas uma <strong>de</strong>las é utilizada. Ou então, os coeficientespadronizados po<strong>de</strong>riam ser maiores, mas com sinais opostos, <strong>de</strong> modo que acontribuição <strong>de</strong> uma anularia a contribuição oposta da outra.Para saber o quanto uma variável está relacionada a uma função po<strong>de</strong>-se avaliaros “coeficientes estruturais” Os coeficientes estruturais são correlações bivariadas e setornam mais eficazes do que os coeficientes padronizados na interpretação das funçõesdiscriminantes porque não são afetados pelas relações com as outras variáveis. Amagnitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse coeficiente varia <strong>de</strong> -1 a +1. Quando os valores são próximos a 1, afunção está bem correlacionada à variável, ao passo que valores próximos a zero,indicam que a função e a variável estão muito pouco correlacionadas.O po<strong>de</strong>r discriminante <strong>de</strong> cada função é <strong>de</strong>terminado pelos autovalores. Aprimeira função, que apresenta o maior autovalor possui o maior po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>discriminação, seguida pela segunda função, que possui o segundo maior autovalor eassim sucessivamente. No entanto, esses valores não po<strong>de</strong>m ser interpretadosdiretamente. É preciso comparar a magnitu<strong>de</strong> relativa para saber quanto do po<strong>de</strong>rdiscriminante total, cada função possui. Essas são as “porcentagens relativas”, quepermitem fazer comparações entre as funções.79


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________As “correlações canônicas”, simbolizadas por r*, representam o grau <strong>de</strong> relaçãoentre os grupos e as funções discriminantes. Os valores variam <strong>de</strong> zero a um, com sinaissempre positivos. Quando estão próximos a zero indicam baixa correlação, enquantovalores próximos a 1 indicam uma forte relação entre os grupos e a funçãodiscriminante. Ainda que a primeira função tenha sempre as maiores “porcentagensrelativas”, po<strong>de</strong> estar pobremente relacionada aos grupos, apresentando baixas“correlações canônicas”. Se os grupos não são distintos em relação às variáveisanalisadas, todas as correlações serão baixas, porque não há como criar discriminaçãoon<strong>de</strong> ela não existe. Portanto, a avaliação conjunta da porcentagem relativa e dacorrelação canônica permite <strong>de</strong>terminar quantas funções são necessárias e o quanto elassão importantes para explicar as diferenças entre os grupos, que no caso <strong>de</strong>ste estudosão: campo, cerrado e mata ciliar.O teste <strong>de</strong> Wilk, também chamado <strong>de</strong> U, é uma mensuração multivariada <strong>de</strong>diferenças entre grupos em relação a diversas variáveis. Valores <strong>de</strong> λ próximos a zero<strong>de</strong>monstram alta discriminação entre os grupos, ou seja, os pontos “centrói<strong>de</strong>s” estãobem distantes e separados em relação à dispersão dos pontos <strong>de</strong>ntro dos grupos. Quandoos valores <strong>de</strong>λ se aproximam <strong>de</strong> 1, o valor máximo, a discriminação diminuiprogressivamente. Quando o λ chega a zero, significa que os pontos “centrói<strong>de</strong>s” sãoidênticos, ou seja, não há diferenças entre os grupos.A Tolerância mínima para inclusão utilizada neste estudo foi <strong>de</strong> 0,001 e ométodo selecionado foi o “stepwise”, com direção invertida (backward). Dessa forma,todas as variáveis foram inicialmente consi<strong>de</strong>radas e aquelas que não se a<strong>de</strong>quavam,como as variáveis altamente correlacionadas ou com baixo po<strong>de</strong>r discriminante, foramsendo eliminadas a cada etapa.A Análise Discriminante nos permitiu observar a existência <strong>de</strong> três possíveisgrupos com base nas características físico-químicas do solo: cerrado, mata e campo.2. Por que a Análise dos Componentes Principais?A PCA é uma técnica <strong>de</strong> análise multivariada que transforma um conjunto <strong>de</strong>variáveis correlacionadas, e portanto, <strong>de</strong> alguma forma redundantes, em um conjuntomenor <strong>de</strong> variáveis teóricas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes chamadas Componentes Principais.80


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________Um componente principal é <strong>de</strong>terminado <strong>de</strong> forma a se obter a menor soma <strong>de</strong>resíduos possível. Um resíduo é a distância entre o valor observado e o valor esperado,representado por uma reta <strong>de</strong> regressão, portanto, se as distâncias <strong>de</strong> cada caso foremsomadas, o resultado será a soma total <strong>de</strong> resíduos. Nesse contexto, o componenteprincipal é a melhor reta que passa pelos pontos, na medida em que minimiza a somatotal <strong>de</strong> resíduos (distância perpendicular entre o ponto e a reta). O primeirocomponente do PCA contém o máximo da variância nos dados e isso significa dizer queele está correlacionado com algumas ou muitas das variáveis observadas. O segundocomponente, que não está correlacionado ao primeiro, contém o máximo da variânciaobservada nos dados que não foi explicada pelo primeiro componente. E <strong>de</strong>ssa forma,cada novo componente terá progressivamente menor quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> variância explicada,porque conterá o máximo <strong>de</strong> variância que não foi explicada pelos componentesanteriores, ou seja, contêm apenas a variância trivial.Embora uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> componentes possa ser criada nessa análise,apenas os primeiros serão importantes o suficiente para explicar a maioria da variâncianos dados.Da forma similar à Análise Discriminante, os autovalores representam aquantida<strong>de</strong> da variância explicada por cada componente e po<strong>de</strong> ser usado como critériopara <strong>de</strong>terminar o número <strong>de</strong> componentes relevantes para a interpretação. O maiorautovalor representa a variância explicada pelo primeiro componente, o segundo maiorautovalor correspon<strong>de</strong> à variância explicada pelo segundo componente e assimsucessivamente. Usualmente, componentes com autovalores menores do que 1 são<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rados na interpretação, porque contêm uma variância menor que acontribuição <strong>de</strong> uma variável individual. Os autovalores associados a cada componentepo<strong>de</strong>m ser graficamente visualizados nos “screeplots”.A soma <strong>de</strong> todos os autovalores é igual ao número <strong>de</strong> variáveis na análise,porque cada variável contribui com uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> variância para a analise. Portanto,se o primeiro autovalor for dividido pelo número <strong>de</strong> variáveis, o resultado será aproporção <strong>de</strong> variância explicada pelo primeiro componente ou eixo. Os cálculos sãorepetidos para todos os outros componentes e na maioria das vezes, um componentepassa a ser interessante quando seu percentual <strong>de</strong> explicação está acima <strong>de</strong> 10% davariância dos dados. A soma <strong>de</strong>sses valores fornece as porcentagens cumulativas, quetambém po<strong>de</strong>m ser usadas como critério <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> componentes. Usualmente, os81


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________componentes são consi<strong>de</strong>rados até que a porcentagem cumulativa da variância explicadaseja no mínimo 70% ou 80%. Desse modo, os componentes restantes, que somamjuntos 30% ou 20% das variância explicada, se tornam irrelevantes e poucoinformativos para a interpretação.De um modo geral, para minimizar os efeitos da subjetivida<strong>de</strong> implícitos nessescritérios, a análise combinada parece ser uma alternativa razoável. Ou seja, serãointerpretados os componentes com autovalores acima <strong>de</strong> 1, com proporção <strong>de</strong> variânciaexplicada acima <strong>de</strong> 10% e porcentagem cumulativa acima <strong>de</strong> 70% ou 80%.Os “factor loadings” são coeficientes que me<strong>de</strong>m as correlações entre asvariáveis observadas e os componentes principais. Portanto, assim como os coeficientespadronizados e estruturais da Análise Discriminante, os “factor loadings” funcionamcomo uma leitura do quanto uma variável está relacionada a um componente. Stevensdiscutiu em seu trabalho técnicas para testar a significância dos “factor loadings”. Emsuas conclusões, basicamente um “factor loadings” po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado alto esignificativo se o seu valor absoluto estiver acima <strong>de</strong> 0,40 (Stevens 1986).A PCA nos permitiu i<strong>de</strong>ntificar as semelhanças entre as parcelas com base nasvariáveis físico-químicas do solo.3. Por que o Escalonamento Multidimensional?O Escalonamento Multidimensional (NMDS) é um método <strong>de</strong> escolha para umarepresentação gráfica da comunida<strong>de</strong> baseado em uma matriz <strong>de</strong> similarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> espécies.O NMDS apresenta vantagens em relação às outras técnicas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nação porser menos sensível às espécies raras ou valores zero, ou espécies raras (Clarke 1993;Peterson 2001). As etapas iniciais <strong>de</strong>vem passar pela estandardização dos dados,seguida pela transformação. A seqüência <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong> y 0.5 , y 0.25 , log y,presença/ausência, segue da menor para a maior contribuição <strong>de</strong> espécies raras.Contudo, antes <strong>de</strong> realizar o teste, também é necessário escolher o coeficiente <strong>de</strong>similarida<strong>de</strong>. No caso <strong>de</strong>ste estudo, o coeficiente escolhido foi o Bray-Curtis por suaampla utilização e confiabilida<strong>de</strong>.A NMDS trabalha com a proximida<strong>de</strong> entre duas amostras. Uma proximida<strong>de</strong> éum número que indica o quanto duas amostras são similares ou diferentes (Kruskal82


Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó______________________________________________________________________1978). Partindo <strong>de</strong>ssa proximida<strong>de</strong> entre as amostras, o resultado é um mapa imperfeito<strong>de</strong> suas localizações relativas em três dimensões. Inicialmente, as posições das amostrasno espaço são inteiramente arbitrárias e então o algoritmo começa a refinar as posiçõesrelativas <strong>de</strong>ssas amostras até atingir a configuração i<strong>de</strong>al. A intenção é mover asamostras até posições relativas que sejam o mais semelhante possível às distâncias <strong>de</strong>similarida<strong>de</strong> (Clarke 1993). Em outras palavras, os dados <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> precisam serrepresentados em uma configuração espacial <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> modo que as distâncias entreesses pontos correspondam o máximo possível às proximida<strong>de</strong>s entre as amostras(Scholten 1997). A coerência entre as proximida<strong>de</strong>s e as distâncias relativas dasamostras no espaço é refletida por um coeficiente <strong>de</strong> estresse. O estresse igual a zeroindica uma configuração espacial perfeita, on<strong>de</strong> a distância entre os pontos no espaço éigual à distância <strong>de</strong> similarida<strong>de</strong> entre as parcelas. Se o estresse é < 0,05, a configuraçãooferece uma excelente representação dos dados, com probabilida<strong>de</strong> mínima <strong>de</strong> erro. Seo estresse é < 0,1 a or<strong>de</strong>nação é boa, ainda com pouco risco <strong>de</strong> erro. Se o estresse é


Eugênia Kelly Luciano Batista______________________________________________________________________configuração dos pontos no espaço, sendo aferido a ela o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> explicação, medidoatravés dos coeficientes <strong>de</strong> correlação.A utilização <strong>de</strong>ssa técnica nos permitiu explicar as similarida<strong>de</strong>s florísticasencontradas utilizando as variáveis físico-químicas do solo.84


APÊNDICE B - Tabela FlorísticaFAMÍLIA ESPÉCIE SD (Primária) PORTE HABITATAcanthaceae Ruellia sp * * *Anacardiaceae Anacardium humile A.St.-Hil. Zoocoria 2,3,6,8,21,25,30 Herb CETapirira guianensis Aubl. Zoocoria (Av.) 2,3,6,10,17 Arbo CE/MAAnnonaceae Annona tomentosa R.E.Fr. Zoocoria 8 Herb CEDuguetia fufuracea (A.St.-Hil.) Saff. Zoocoria 2,3,6,9,11,21,25 Herb/Arbu CEApocynaceae Aspidosperma tomentosum Mart. Anemocoria 3,6,7,8,9,25 Arbu/Arbo CEAraliaceae Schefflera macrocarpa (Cham. & Schltdl.) Frodin Zoocoria (Av.) 13,25 Arbu/Arbo CEAsteraceae Ageratum sp. * * *Baccharis triplinervia DC. Anemocoria Herb CE/MAChromolaena cf chaseae (B.L.Rob.) R.M.King & H.Rob. Anemocoria Herb CEChromolaena cf maximilianii (Schrad. Ex DC.) R.M.King & H.Rob. Anemocoria Herb CEChrysolaena cf herbacea (Vell.) H.Rob. Anemocoria Herb CEElephantopus sp * * *Eremanthus incanus (Less.) Less. Anemocoria Arbu/Arbo CELessingianthus sp * * *Lepidaploa sp * * *Vernonanthura cf ferruginea (Less.) H.Rob. Anemocoria Arbu CE/MAVernonanthura cf membranacea (Gardner) H.Rob. Anemocoria 17 Arbu CEVernonanthura cf phosphorica (Vell.)H.Rob. Anemocoria 21 Arbu CE/MAVernonanthura cf puberula (Less.) H.Rob. Anemocoria Arbu/Arbo MAVernonanthura sp * * *Bignoniaceae Anemopaegma glaucum Mart. ex DC. Anemocoria 7,8 Arbu CEJacaranda caroba (Vell.) DC. Anemocoria 2,7,9,17 Arbu CEZeyheria montana Mart. Anemocoria 2,7,8,9,21 Arbu/Arbo CEHandroanthus ochraceus (Cham.) Mattos Anemocoria 3,6,7,8,9,13,21,25,30 Arbu/Arbo CEBoraginaceae Varronia curassavica Jacq. Autocorica Herb CE85


FAMÍLIA ESPÉCIE SD (Primária) PORTE HABITATCalophyllaceae Calophyllum brasiliense Cambess. Zoocoria (Av., Mt. e Mo.)/Autocoria 5,14,25 Arbo CECaryocaraceae Caryocar brasiliense Cambess. Zoocoria (Av. e Mo.) 2,3,5,8,13,17,21,25 Arbo CECelastraceae Plenckia populnea Reissek Anemocoria 2,6,7,8,21,25 Arbu/Arbo CE/MAChrysobalanaceae Hirtella gracilipes (Hook.f.) Prance Zoocoria 11,25 Arbu/Arbo CE/MAHirtella racemosa Lam. Zoocoria Arbu/Arbo MAClusiaceae Garcinia brasiliensis Mart. Zoocoria (Av.) Arbo MAKielmeyera coriacea Mart. & Zucc. Anemocoria 6,7,8,9,13,21,25 Arbu/Arbo CEKielmeyera sp * * *Combretaceae Terminalia glabrescens Mart. Anemocoria 21 Arbo MAConnaraceae Rourea induta Planch Zoocoria (Av.) 2,3,6,13,30 Arbu CEConvolvulaceae Evolvulus cf alopecuroi<strong>de</strong>s Mart. Anemocoria Herb CEDilleniaceae Davilla elliptica A.St.-Hil. Zoocoria/Autocoria 2,6,8,9,21,30 Arbu CEDavilla rugosa Poir. Autocoria 2,3,9,17 Arbu CEDoliocarpus cf <strong>de</strong>ntatus (Aubl.) Standl. Autocoria 11 Cipó MAEbenaceae Diospyros hispida A.DC. Zoocoria 2,3,6,17,21,25,30 Arbu/Arbo CEErythroxylaceae Erythroxylum <strong>de</strong>ciduum A.St.-Hil. Zoocoria 8,30 Arbu/Arbo MAErythroxylum sp * * *Erythroxylum tortuosum Mart. Zoocoria 2,6,17,21 Arbu/Arbo CEEuphorbiaceae Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg. Zoocoria (Av.) 4,5 Arbo MACroton antisyphiliticus Mart. Autocoria 8,30 Herb CE/MACroton campestris A.St.-Hil. Autocoria 8 Herb CECroton sp1 * * *Croton sp2 * * *Manihot tripartita (Spreng.) Müll.Arg. Zoocoria/Autocoria 2,9 Herb/Arbu CEMaprounea brasiliensis A.St.-Hil. Autocoria Arbu/Arbo CEMaprounea guianensis Aubl. Autocoria 3,8,17,25 Arbo MA86


FAMÍLIA ESPÉCIE SD (Primária) PORTE HABITATSebastiania hispida (Mart.) Pax ex Engl. Autocoria Arbu CEFabaceae Aeschynomene sp * * *Andira humilis Mart. Ex Benth. Zoocoria 21 Herb/Arbu CEBauhinia longifolia (Bong.) Steud. Anemocoria/Autocoria 10,11 Arbo MABauhinia sp * * *Calliandra macrocephala Benth. Autocoria Herb/Arbu CECanavalia sp * * *Copaifera langsdorffii Desf. Zoocoria (Av. e Mt.) 2,3,5,17,25 Arbo CE/MADesmodium barbatum (L.)Benth. Zoocoria Herb CEEriosema strictum Benth. Autocoria Herb CEHymenaea stignocarpa Mart. ex Hayne Zoocoria 2,3,6,8,25 Arbo CEInga striata Benth. Zoocoria Arbo MALeptolobium dasycarpum Vogel Anemocoria/Autocoria 8,9,13,25 Arbu/Arbo CEMachaerium brasiliense Vogel Anemocoria 14,25 Arbo MAMachaerium opacum Vogel Anemocoria 8,12,25 Arbo CEMimosa sp * * *Plathymenia reticulata Benth. Anemocoria 2,3,5,20,22 Arbo CE/MAPterodon emarginatus Vogel Anemocoria Arbo MASenna macranthera (DC. ex Collad.) H.S.Irwin & Barneby Autocoria Arbo CE/MASenna rugosa (G.Don) H.S.Irwin & Barneby Autocoria 3,7,8,9,21,22 Arbu CEStryphno<strong>de</strong>ndron adstringens (Mart.) Coville Zoocoria (Mt.)/Autocoria 3,8,13,17,20,21,25 Arbo CEStylosanthes sp * * *Tachigali cf aurea Tul. Anemocoria Arbo CETachigali rubiginosa (Mart. ex Benth.) Zarucchi & Pipoly Anemocoria Arbo MAVatairea macrocarpa (Benth.) Ducke Anemocoria 3,6,20,22 Arbo CELamiaceae Aegiphila integrifolia (Jacq.) Mol<strong>de</strong>nke Zoocoria Arbu/ArboCE/MA87


FAMÍLIA ESPÉCIE SD (Primária) PORTE HABITATAegiphila lhotzkiana Cham. Zoocoria 1,2,3,8 Arbu/Arbo CEEriope hypenioi<strong>de</strong>s Mart. ex Benth. Autocoria 21,30 Herb CEHypti<strong>de</strong>ndron asperrimum (Spreng.) Harley Zoocoria Arbo MAHyptis crenata Pohl ex Benth. Autocoria 8,21 Herb CEHyptis sp * * *Salvia sp * * *Vitex cf cymosa Bertero ex Spreng. Zoocoria 11,25 Arbu/Arbo MAVitex polygama Cham. Zoocoria Arbo CE/MALauraceae Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez Zoocoria (Av.) 14,19 Arbo MALoganiaceae Strychnos sp * * *Lythraceae Cuphea pseudovaccinium A.St.-Hil. Zoocoria Herb CELafoensia pacari A.St.-Hil. Anemocoria/Autocoria 5,6,9,17,20,25 Arbo CE/MAMalpighiaceae Byrsonima coccolobifolia Kunth Zoocoria (Av. e Mt.) 3,6,12,13,17,21,25 Arbu/Arbo CEHeteropterys byrsonimiifolia A.Juss. Anemocoria 2,3,8,9,25 Arbu/Arbo CE/MAHeteropterys sp * * *Malvaceae Sida linifolia Cav. Autocoria 2,9 Herb CESida rhombifolia L. Autocoria 2,9 Herb CESida sp * * *Urena sp * * *Melastomataceae Miconia albicans (Sw.) Triana Zoocoria (Av.) 3,6,8,13,17,21,25 Arbu CEMiconia pauci<strong>de</strong>ns DC. Zoocoria 21 Arbu CEMiconia rubiginosa (Bonpl.) DC. Zoocoria 17 Arbu/Arbo CEMiconia sp * * *Miconia stenostachya DC. Zoocoria 21 Arbu CETibouchina sp1 *Tibouchina sp2 * * *88


FAMÍLIA ESPÉCIE SD (Primária) PORTE HABITATTibouchina sp3 * * *Menispermaceae Cissampelos ovalifolia DC. Zoocoria/Autocoria 2,3,8,30 Herb CEMoraceae Brosimum gaudichaudii Trécul Zoocoria 2,8,11,25 Arbu/Arbo CEMyrsinaceae Cybianthus <strong>de</strong>tergens Mart. Zoocoria (Av.) 8,13 Arbu CEMyrsine coriacea (Sw.) R.Br. ex Roem. & Schult. Zoocoria Arbu/Arbo CE/MAMyrsine gardneriana A.DC. Zoocoria Arbo MAMyrsine guianensis (Aubl.) Kuntze Zoocoria 8,25 Arbu/Arbo CEMyrtaceae Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O.Berg Zoocoria (Av.) 15 Arbo MACampomanesia pubescens (DC.) O.Berg. Zoocoria (Mt.) 2,3,6,8,15,30 Herb/Arbu CEEugenia aurata O.Berg Zoocoria (Av. e Mt.) 2,3,6,15,17,21,30 Arbu/Arbo CEEugenia brasiliensis Lam. Zoocoria (Av. e Mt.) 15 Arbo MAEugenia dysenterica DC. Zoocoria (Av. e Mt.) 18,25 Arbu/Arbo CEEugenia florida DC. Zoocoria (Av. e Mt.) 12,15,19,25 Arbo MAEugenia hiemalis Cambess. Zoocoria 2,21 Arbo MAEugenia punicifolia (Kunth) DC. Zoocoria (Av. e Mt.) 1,3,8,15,21,30 Arbu/Arbo CE/MAEugenia son<strong>de</strong>riana O.Berg Zoocoria Arbu/Arbo CE/MAEugenia sp * * *Myrceugenia alpigena (DC.) Landrum Zoocoria 29 Arbu CEMyrcia guianensis (Aubl.) DC. Zoocoria (Av.) 3,6,15,30 Arbu/Arbo CE/MAMyrcia tomentosa (Aubl.) DC. Zoocoria (Av.) 2,15,17 Arbu/Arbo CE/MAMyrcia splen<strong>de</strong>ns (Sw.) DC. Zoocoria (Av. e Mt.) 15 Arbu/Arbo CE/MAMyrciaria <strong>de</strong>licatula (DC.) O.Berg Zoocoria 30 Arbu/Arbo MAMyrciaria floribunda (H.West ex Willd.) O.Berg Zoocoria (Av. e Mt.) 11,15,17,25 Arbu/Arbo MAPimenta pseudocaryophyllus (Gomes) Landrum Zoocoria Arbu/Arbo MAPlinia trunciflora (O.Berg) Kausel Zoocoria 27 Arbo MAPsidium firmum O.Berg Zoocoria 30 Herb/Arbu CE89


FAMÍLIA ESPÉCIE SD (Primária) PORTE HABITATPsidium guineense Sw. Zoocoria (Mt.) 15,21 Arbu/Arbo CE/MAPsidium rufum Mart. ex DC. Zoocoria 30 Arbu/Arbo CE/MASiphoneugena <strong>de</strong>nsiflora O.Berg Zoocoria (Av. e Mt.) 15 Arbo MANyctaginaceae Guapira graciliflora (Mart. ex Schmidt) Lun<strong>de</strong>ll Zoocoria 8,13 Arbu/Arbo CE/MAGuapira opposita (Vell.) Reitz Zoocoria (Av. e Mt.) 28 Arbu/Arbo MANeea theifera Oerst. Zoocoria (Av.)/Autocoria 2,6,8,9,13,17,25 Arbu/Arbo CEOchnaceae Ouratea hexasperma (A.St.-Hil.) Baill. Zoocoria (Av.) 8,13 Arbo MAOuratea sp * * *Onagraceae Ludwigia nervosa (Poir.) H.Hara Anemocoria 7 Arbu CEPeraceae Pera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill. Zoocoria (Av.)/Autocoria 6,17,23,25 Arbu/Arbo CE/MAPlantaginaceae Scoparia dulcis L. Anemocoria/Autocoria 30 Herb CEProteaceae Roupala montana Aubl. Anemocoria/Autocoria 2,6,9,13,14,20,21,25 Arbo CE/MAPteridaceae Pityrogramma calomelanos (L.) Link * Herb *Rubiaceae Amaioua guianensis Aubl. Zoocoria 2,17 Arbo MABorreria poaya (A.St.-Hil.) DC. Autocoria 7 Herb CEFaramea cyanea Müll.Arg. Zoocoria (Av.) 24 Arbu/Arbo MAPalicourea rigida Kunth Zoocoria (Av.) 2,3,6,8,13,17,21,30 Arbu CEPsychotria capitata Ruiz & Pav. Zoocoria 2,16,21 Herb/Arbu MAPsychotria officinalis (Aubl.) Raeusch. ex Sandwith Zoocoria Arbu MARutaceae Dictyoloma van<strong>de</strong>llianum A.Juss. Anemocoria Arbo MAZanthoxylum rhoifolium Lam. Zoocoria/Autocoria 12,14,17 Arbo MASalicaceae Casearia <strong>de</strong>candra Jacq. Zoocoria 11,25 Arbu/Arbo MACasearia sylvestris Sw. Zoocoria (Av.) 6,10,11,17 Arbu/Arbo CE/MASapindaceae Matayba mollis Radlk. Zoocoria Arbu/Arbo CE/MASapotaceae Micropholis gardneriana (A.DC.) Pierre Zoocoria Arbu/Arbo MA90


FAMÍLIA ESPÉCIE SD (Primária) PORTE HABITATPouteria torta (Mart.) Radlk. Zoocoria 2,3,6,17,21,25 Arbu/Arbo CE/MASiparunaceae Siparuna guianensis Aubl. Zoocoria 2,14,17 Arbo CE/MASolanaceae Cestrum sp * * *Violaceae Hybanthus atropurpureus (A.St.-Hil.) Taub. Autocoria 26 Arbu MAVochysiaceae Callisthene sp * * *Qualea dichotoma (Mart.) Warm. Anemocoria 2,3,12 Arbo CE/MAQualea grandiflora Mart. Anemocoria 3,8,9,13,20,21,25 Arbo CEQualea multiflora Mart. Anemocoria 3,8,13,17,20,25 Arbo CE/MAQualea parviflora Mart. Anemocoria 3,9,13,17,20,25 Arbo CEQualea sp1 * * *Qualea sp2 * * *Qualea sp3 * * *Fontes/Referências: 1.Martins & Batalha (2006); 2.Batalha & Mantovani (1999); 3.Weiser & Godoy (2001); 4.Faustino & Machado (2006); 5.EMBRAPA; 6.Jardim &Batalha (2009); 7.Tannus et al. (2006); 8.Passos (2009); 9.Batalha et al. (1997); 10.Fernan<strong>de</strong>s (2009); 11.Ramos (2009); 12.Saravy et al. (2003); 13.Kutschenko (2009);14.Aquino & Barbosa (2009); 15.Gressler (2006); 16.Lessa & Costa (2010); 17.Corrêa et al. (2007); 18.Vasconcelos (2006); 19.Vale (2008); 20.Camilotti (2006); 21.Ishara(2010); 22.Costa et al. (2004); 23.Francisco et al. (2007); 24.Melo et al. (2003); 25.Luz et al. (2008); 26.Rosero-Lasprilla (1997); 27.Schuch (2005); 28.Portal Unicamp;29.Lima & Bruni (2004); 30.Silva et al. (2009).91


APÊNDICE C - Correlação entre as variáveis físico-químicas do solopH 1pH K Ca Mg Al H+Al SB (t) (T) v m MO P-rem Areia Silte Argila Umida<strong>de</strong>K 0,088 1Ca 0,395 -0,117 1Mg 0,239 0,546 0,025 1Al -0,776 -0,138 -0,176 -0,406 1H+Al -0,775 -0,222 -0,217 -0,307 -0,88 1SB 0,302 0,511 -0,604 0,506 -0,219 -0,199 1(t) -0,673 -0,051 -0,009 -0,3 0,953 -0,859 0,006 1(T) -0,763 -0,203 -0,186 -0,273 0,873 0,998 -0,16 0,862 1v 0,795 0,367 0,501 0,485 -0,821 -0,883 0,553 -0,693 -0,862 1m -0,782 -0,341 -0,536 -0,468 0,842 0,808 -0,57 0,703 0,781 -0,967 1MO -0,188 -0,42 0,182 -0,341 0,608 0,624 -0,04 0,66 0,626 -0,5 0,487 1P-rem -0,276 0,242 -0,257 0,367 -0,228 -0,12 0,018 -0,266 -0,112 0,092 -0,126 -0,577 1Areia -0,371 0,288 -0,304 0,375 -0,15 -0,043 0,005 -0,216 -0,039 0,016 -0,05 -0,586 0,948 1Silte 0,217 -0,47 0,257 -0,396 0,283 0,238 -0,075 0,342 0,235 -0,194 0,212 0,771 -0,838 -0,914 1Argila 0,406 0,426 0,119 0,047 -0,186 -0,337 0,191 -0,123 -0,335 0,358 -0,308 -0,107 -0,43 -0,427 0,108 1Umida<strong>de</strong> 0,465 -0,179 0,445 -0,077 -0,07 -0,091 0,322 0,039 -0,084 0,212 -0,185 0,388 -0,768 -0,746 0,648 0,453 1Variáveis: H+Al=íon hidrogênio+alumínio, SB=soma <strong>de</strong> bases trocáveis, (t)=capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca catiônica efetiva, (T)=capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca catiônica a pH 7.0, v=índice <strong>de</strong>saturação <strong>de</strong> bases, m=índice <strong>de</strong> saturação <strong>de</strong> alumínio, MO=matéria orgânica, Prem=fósforo remanescente.92


APÊNDICE D - Esquema da dinâmica no campoRiqueza <strong>de</strong> espéciesBioindicadores <strong>de</strong>ambientes secos:Poaceae eCupinzeiropH ácidoRIOCIPÓO aumento nonúmero <strong>de</strong> íonshidrogênio solubilizao alumínio (Al 3+ ) eeleva suasconcentrações nosoloAlta riqueza <strong>de</strong> espéciesÚmidoAreiaAdição <strong>de</strong>matériaorgânica namataO alumínio solúvelcompete pelos sítios<strong>de</strong> troca nos colói<strong>de</strong>s einterfere nadisponibilida<strong>de</strong> eabsorção dosnutrientes pelas raízesAlagamentoperiódicoAnoxiainibe a<strong>de</strong>composição damatéria orgânica e atransformação do silteem argilaMuita produção <strong>de</strong>matéria orgânica econdições<strong>de</strong>sfavoráveis à<strong>de</strong>composiçãoAdição <strong>de</strong>matériaorgânica nocampoMuito úmidoSilteMenos húmus+Solo siltosoMenor CTCGramíneasaumentam aretenção <strong>de</strong>umida<strong>de</strong>Umida<strong>de</strong>favorece adominância dasgramíneasBaixa riqueza <strong>de</strong> espéciesO pH do solo aumenta porqueos elétrons exce<strong>de</strong>ntes darespiração dos organismos são<strong>de</strong>scarregados em compostosque reduzem e reagem com oíon hidrogêniopH menos ácido resulta emmais íons hidroxila, quereagem com o alumínio solúvele formam a gibbsitaEntrada esedimentação<strong>de</strong> partículasfinas (silte)vindas daspartes maisaltasSecoAreiaBaixaprodutivida<strong>de</strong> epouca produção <strong>de</strong>matéria orgânicaAlta riqueza <strong>de</strong> espéciesAdição <strong>de</strong>matériaorgânica nocerradoMenos húmus+Solo arenosoMenor CTCAlta produtivida<strong>de</strong>e muita produção<strong>de</strong> matériaorgânicaMais húmusMaior CTCAl 3+ [Al(OH) 3 ]A gibbsita é um forteadsorvente do fósforoPouco fósforo em solução(remanescente)93

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