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Vigilância epidemiológica - Governo do Paraná

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Guia de VigilânciaEpidemiológica


© 2005. Ministério da SaúdeTo<strong>do</strong>s os direitos reserva<strong>do</strong>s. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fontee que não seja para venda ou qualquer fim comercial.A coleção institucional <strong>do</strong> Ministério da Saúde pode ser acessada na íntegra na Biblioteca Virtual <strong>do</strong> Ministérioda Saúde: www.saude.gov.br/bvsSérie A. Normas e Manuais Técnicos1. ed. 1985; 2. ed. 1986; 3. ed. 1992; 4. ed. 1998; 5. ed. 20026ª edição ampliada – 2005 – Tiragem: 2.000 exemplaresEdição e distribuiçãoMINISTÉRIO DA SAÚDESecretaria de Vigilância em SaúdeDepartamento de Vigilância EpidemiológicaProdução: Núcleo de ComunicaçãoEndereçoEsplanada <strong>do</strong>s Ministérios, Bloco GEdifício Sede <strong>do</strong> Ministério da Saúde, 1º andarCEP: 70.058-900, Brasília/DFE-mail: svs@saude.gov.brEndereço eletrônico: www.saude.gov.br/svsProdução editorialCopidesque/revisão: Napoleão Marcos de AquinoProjeto gráfico: Fabiano Camilo, Sabrina LopesDiagramação: Edite Damásio da Silva, Sabrina Lopes (revisão)Impresso no Brasil / Printed in BrazilFicha CatalográficaBrasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.Guia de vigilância epidemiológica / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. – 6. ed. – Brasília :Ministério da Saúde, 2005.816 p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos)ISBN 85-334-1047-61. Vigilância epidemiológica. 2.Saúde pública. I. Título. II. Série.NLM WA 105Catalogação na fonte – Editora MS – OS 2005/1082Títulos para indexaçãoEm inglês: Guide to Epidemiological SurveillanceEm espanhol: Guía de Vigilancia Epidemiológica


Ministério da SaúdeSecretaria de Vigilância em SaúdeDepartamento de Vigilância EpidemiológicaGuia de VigilânciaEpidemiológica6ª ediçãoSérie A. Normas e Manuais TécnicosBrasília - DF2005


Equipe de elaboraçãoEditoresJarbas Barbosa da Silva JúniorMinistério da Saúde, Secretaria de Vigilância em SaúdeMaria da Glória TeixeiraUniversidade Federal da Bahia, Instituto de Saúde ColetivaMaria da Conceição Nascimento CostaUniversidade Federal da Bahia, Instituto de Saúde ColetivaSusan Martins PereiraUniversidade Federal da Bahia, Instituto de Saúde ColetivaExpedito LunaMinistério da Saúde, Secretaria de Vigilância em SaúdeEduar<strong>do</strong> Hage CarmoMinistério da Saúde, Secretaria de Vigilância em SaúdeEstela Maria Ramos <strong>do</strong> NascimentoSecretaria de Saúde <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> da Bahia, Diretoria de Informação e Comunicação em SaúdeMaria Adelaide MillingtonMinistério da Saúde, Secretaria de Vigilância em SaúdeFernan<strong>do</strong> BarrosMinistério da Saúde, Secretaria de Vigilância em SaúdeGerson Oliveira PennaUniversidade de Brasília, Núcleo de Medicina TropicalSecretaria de Vigilância em Saúde / MS7


Elabora<strong>do</strong>res e colabora<strong>do</strong>resDepartamento de Vigilância EpidemiológicaColabora<strong>do</strong>r: Ricar<strong>do</strong> Gadelha de Abreu.Coordenação de Vigilância das Doenças deTransmissão Respiratória e ImunopreveníveisElabora<strong>do</strong>res: Fernan<strong>do</strong> Ribeiro de Barros; Marcia Lopes de Carvalho; Giselle HentzyMoraes; Lícia Kamila Melo; Luciane Zapellini Daufenbach; Tatiana Miranda Lanzieri;Teresa Cristina Vieira Segatto; Tochie Massuda; Maria Glória Vicente; Neuma TerezinhaRosseto Hidalgo; Paulo Neves Baptista Filho; Marilda M. Siqueira; Sara Jany Medeiros daSilva; Zirlei Matos Silva; Lúcia Regina Ferraz; Lúcia Helena Berto; Tânia Maria Ibelli Vaz;Silvana Tadeu Casagrande; Maria Selma Soares.Colabora<strong>do</strong>res: Anita Gomes Car<strong>do</strong>so; Carmo Elias de Andrade Melles; Vera Lúcia Simonsen;Maria Cristina Brandileone; Édson Elias da Silva; José Cerbino Neto; Maria SaletParise; Maria Carolina Q. Pereira; Marlene Benfica Mattos; Marília Mattos Bulhões; NauraInês Backes Gomes Gandin; Rosane Martins Will; Sandra Solange Leite Campos; MariaMazarello Franco Vilaça; Hilda Guimarães de Freitas; João Lima Filho.Coordenação de Vigilância das DoençasTransmitidas por Vetores e AntropozoonosesElabora<strong>do</strong>res: Ana Nilce Silveira Maia Elkhoury; Marcia Leite de Sousa; Wagner AlexandreCosta; Waneska Alexandra Alves; Fan Hui Wen; Marcelo Santalucia; Vera Lúcia Carvalhoda Silva; Zouraide Guerra Antunes Costa; Emanuel Carvalho Martins; Camila Sihler;Mauro Rosa Elkhoury; Lucia Regina Montebello Pereira; Marcelo Yoshito Wada; RoselyCerqueira de Oliveira; Márcio Costa Vinhaes; Antonia Lins Fernandes Carlos; Maria deLourdes Simões Arsky; Aderbal Henry Strugo Arruda; Francisco Anilton Araujo; Ricar<strong>do</strong>Vianna; Wanderson Kleber de Oliveira.Colabora<strong>do</strong>res: João Carlos Pinto Dias; Maria Gloria Teixeira; Roozevelt Ramos Bonfim.Coordenação de Vigilância das Doenças Transmitidas por VetoresElabora<strong>do</strong>res: Ronal<strong>do</strong> Santos <strong>do</strong> Amaral; Maria José Rodrigues de Menezes; Maria AparecidaHonório Tolentino; Tibério César de Morais Dantas; Helen Selma de Abreu Freitas;João Batista Furta<strong>do</strong> Vieira; Maria de Fátima Costa Lopes.Colabora<strong>do</strong>res: Steven K. Ault; Hélio Tadashi Yamada; Norma Helen Medina; GilbertoFontes; Eliana Rocha.Gerência Técnica de Doenças Emergentes e ReemergentesElabora<strong>do</strong>res: Vera Lúcia Gattás; Antonio Silva Lima Neto; Alessandra Araújo Siqueira;Dráurio Barreira Cravo Neto.8 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sistema de Informação de Agravos de NotificaçãoElabora<strong>do</strong>res: Carla Magda Allan Santos Domingues; Carolina Novaes Carvalho; Eduar<strong>do</strong>Marques Macário; Ruth Glatt.Coordenação de Vigilância dasDoenças de Transmissão Hídrica e AlimentarElabora<strong>do</strong>res: Rejane Maria de Souza Alves; Greice Madeleine Ikeda <strong>do</strong> Carmo; CristianePenaforte <strong>do</strong> Nascimento Dimech; Moacir Gerolomo; Maria Lucilia Nandi Benatto.Programa Nacional de Eliminação da HanseníaseElabora<strong>do</strong>res: Rosa Castália França Ribeiro Soares; Sandra de Sousa Ribeiro Petrus; MagdaLevantezi; Vera Lúcia Gomes Andrade.Colabora<strong>do</strong>res: Danielle Bandeira Costa de Sousa; Marleide Aurélio da Silva; MarcosCunha Lopes Virmond; Maurício Lisboa Nobre; Isabela Maria Fernandes Goulart; MariaEugênia Noviski Gallo; Adgine Freitas Dantas.Programa Nacional de Controle da TuberculoseElabora<strong>do</strong>res: Cláudio Sérgio Romano; Elza Ferreira Noronha; Joseney Santos; Rui RafaelDurlacher.Programa Nacional de Hepatites ViraisElabora<strong>do</strong>res: Gerusa Maria Figueire<strong>do</strong>; João Eduar<strong>do</strong> Pereira; Katia Biscuola de Campos.Coordenação Geral <strong>do</strong> Programa Nacional de ImunizaçõesElabora<strong>do</strong>res: Marilía Ferraro Rocha; Marly Galdino de Almeida; Márcia Vieira Leite Nascimento;Neusa Gueths; José Evoide Moura; Sâmia Abdul Samad; Sirlene de Fátima Pereira.Colabora<strong>do</strong>res: Maria de Lourdes de Sousa Maia; Vânia Blois de Souza; Andreia de PáduaCareli Dantas; Angela Maria Pinheiro Galvão; Heliana Raimunda de Mace<strong>do</strong>.Programa Geral de Laboratórios de Saúde PúblicaElabora<strong>do</strong>res:Lúcia Regina Ferraz; Lúcia Helena Berto; Maria Selma Soares; Denise SantosCorreia de Oliveira; Maria Adelaide Millington; Geane Maria Oliveira; Marlene BenficaMatos; Rômulo Henrique da Cruz; Suely Esashika.Colabora<strong>do</strong>res: Maria Cristina C. Brandileone; Edson Elias da Silva; Tânia Mara Ibelli Vaz;Dália <strong>do</strong>s Prazeres Rodrigues; Miyoko Jacob; Marilda Men<strong>do</strong>nça Siqueira; Terezinha Paiva;Wyller Alencar Mello; Regina Moreira; Manoel <strong>do</strong> Carmo Pereira Soares; Clara Yoshida;Martha Maria Pereira; Elizabeth S. Travassos da Rosa; Ivani Bisordi Ferreira; Akeme Suzuki;Albert Ko; Maria Luiza Carrieri; Leon Rabinovtch; Cláudio Mafia; Márcio Galvão; ElviraMendes <strong>do</strong> Nascimento; Simone Berger Calic; Eliana Furta<strong>do</strong>; Cor Jésus Fontes; Arman<strong>do</strong>Schubach; Mitermayer Galvão Reis; Elizabeth Salbé; Hermann Schatzmayr; Iray Rocco;José Marcos Sócrates; Marly Tenório; Alzira Paiva de Almeida.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS9


Coordenação Geral <strong>do</strong> Programa Nacional de Controle da MaláriaElabora<strong>do</strong>res: Carlos José Mangabeira da Silva; Edmar Cabral da Silva; Carmen LuciaMuricy; Cor Jesús Fernades Fontes; José Lázaro de Brito Ladislau; Lubélia Sá Freire da Silva;Maria da Paz Luna Pereira; Pedro Luiz Tauil; Roseli La Corte <strong>do</strong>s Santos; Rui Moreira Braz.Coordenação Geral <strong>do</strong> Programa Nacional de Controle da DengueElabora<strong>do</strong>res: Pedro Vasconcelos; Sueli Rodrigues; Elizabeth Salbe; Hermann Schatzmayr;Rita Nogueira; Iray Rocco; José Marcos Sócrates; Marly Tenório; Ana Cristina da RochaSimplício; Paulo Cesar da Silva; Giovanini Evelim Coelho; João Bosco Siqueira Junior;Suely Esashika.Diretoria Técnica <strong>do</strong> Programa Nacional de DST/AidsElabora<strong>do</strong>res: Ana Lúcia R. Vasconcelos; Carmen Correia de Barros Dhalia; CristineFerreira; Denise Arakaki Sanchez; Fabio Moherdaui; Maria Fernanda Sardella AlvimHilton; Eduar<strong>do</strong> Campos de Oliveira; Gerson Fernan<strong>do</strong> Mendes Pereira; Leidijany CostaPaz; Pedro Chequer; Ricar<strong>do</strong> Pio Marins.10 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


AgradecimentosAs várias edições deste Guia têm si<strong>do</strong> fruto de um trabalho coletivo que envolve profissionaise dirigentes das áreas técnicas afins <strong>do</strong> Ministério da Saúde. Os editores têm o papel decoordenar este processo e revisar os capítulos com vistas a imprimir certa uniformidade àpublicação, além de elaborar capítulos sobre temas específicos. Assim, centenas de profissionaisvêm participan<strong>do</strong> ativamente desta construção, de mo<strong>do</strong> que parte <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>sdas edições anteriores permanecem nas edições seguintes. Nesse senti<strong>do</strong>, os editores desta6ª edição expressam o seu reconhecimento e agradecem o empenho e contribuições deto<strong>do</strong>s os autores e colabora<strong>do</strong>res.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS11


ApresentaçãoO Brasil vem acumulan<strong>do</strong> importantes vitórias na área de vigilância epidemiológica, prevençãoe controle de <strong>do</strong>enças, a exemplo da erradicação da poliomielite e eliminação <strong>do</strong>sarampo. Apesar <strong>do</strong>s desafios ainda presentes, há no cenário mundial o reconhecimento deque nosso país situa-se entre os que têm avança<strong>do</strong> na consolidação das atividades essenciaisde Saúde Pública, ten<strong>do</strong> inclusive, neste campo, contribuí<strong>do</strong> com as experiências exitosasna Região das Américas.Certamente, a consciente participação <strong>do</strong>s profissionais de saúde tem representa<strong>do</strong>papel vital para o alcance deste reconhecimento. Para tanto, um <strong>do</strong>s instrumentos tem si<strong>do</strong>a constante atualização <strong>do</strong>s conhecimentos que propiciam o avanço técnico das ações devigilância e controle de <strong>do</strong>enças transmissíveis.A presente publicação sintetiza grande parte deste conhecimento de forma clara paraque as ações preconizadas pelo Sistema Único de Saúde nesta área sejam executadas pelossistemas locais com eficiência e efetividade, com vistas ao aperfeiçoamento contínuo <strong>do</strong>Sistema Nacional de Vigilância em Saúde e cumpre uma das missões mais importantesda esfera federal de gestão <strong>do</strong> Sistema Único de Saúde: disponibilizar para toda a rede deserviços informações e procedimentos, à luz <strong>do</strong> atual esta<strong>do</strong> da arte, com vistas à promoçãoe proteção da saúde coletiva, bem como à prevenção de <strong>do</strong>enças que colocam em riscoindivíduos ou grupos populacionais.Assim, tenho grande alegria em oferecer a to<strong>do</strong>s os profissionais da rede de serviços<strong>do</strong> SUS a 6ª edição <strong>do</strong> Guia de Vigilância Epidemiológica produzi<strong>do</strong> pelo Ministério daSaúde/Secretaria de Vigilância em Saúde.Saraiva FelipeMinistro de Esta<strong>do</strong> da SaúdeSecretaria de Vigilância em Saúde / MS13


IntroduçãoA Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) <strong>do</strong> Ministério da Saúde tem a satisfação de apresentaraos profissionais que integram o Sistema Nacional de Vigilância em Saúde mais umaedição, revisada e ampliada, <strong>do</strong> Guia de Vigilância Epidemiológica.Este manual objetiva orientar os profissionais de saúde por meio de informações sistematizadassobre as ações de investigação epidemiológica e as medidas de prevenção e controledas <strong>do</strong>enças transmissíveis. Assim, procura-se melhorar a condição de saúde de nossapopulação pela eliminação e/ou atenuação <strong>do</strong>s riscos associa<strong>do</strong>s à rápida disseminação oupersistência com grande impacto sobre a morbimortalidade que as mesmas apresentam.O Guia de Vigilância Epidemiológica tem se constituí<strong>do</strong> em importante instrumentode divulgação das normas e procedimentos de vigilância e controle de <strong>do</strong>enças transmissíveisde interesse para o Sistema Nacional de Vigilância em Saúde. Essa ação, atribuiçãoespecífica <strong>do</strong> Ministério da Saúde, é essencial para assegurar a padronização de procedimentosem to<strong>do</strong> o país e permitir a a<strong>do</strong>ção das medidas capazes de prevenir e controlar as<strong>do</strong>enças transmissíveis.De sua elaboração participaram técnicos e dirigentes da SVS e das secretarias esta duaise municipais de Saúde, bem como consultores especialistas em cada tema específico, queincorporaram aos conteú<strong>do</strong>s das edições anteriores os atuais conhecimentos técnico-científicos.Além disso, as normas e procedimentos indica<strong>do</strong>s consideram a capacidade operacionale os recursos disponíveis nos sistemas locais de saúde.Esperamos que a ampla utilização <strong>do</strong> Guia contribua com seu permanente aperfeiçoamento,auxilian<strong>do</strong> o processo coletivo de construção de um sistema de vigilânciaem saúde capaz de responder aos desafios postos pelo complexo perfil epidemiológico daatualidade.Jarbas Barbosa da Silva JúniorSecretário de Vigilância em SaúdeMinistério da SaúdeSecretaria de Vigilância em Saúde / MS15


CAPÍTULO 1Vigilânciaepidemiológica


Vigilância EpidemiológicaBases históricas e conceituaisAs primeiras intervenções estatais no campo da prevenção e controle de <strong>do</strong>enças, desenvolvidassob bases científicas modernas, datam <strong>do</strong> início <strong>do</strong> século XX e foram orientadaspelo avanço da era bacteriológica e pela descoberta <strong>do</strong>s ciclos epidemiológicos dealgumas <strong>do</strong>enças infecciosas e parasitárias. Essas intervenções consistiram na organizaçãode grandes campanhas sanitárias com vistas ao controle de <strong>do</strong>enças que comprometiam aatividade econômica, a exemplo da febre amarela, peste e varíola. As campanhas valiamsede instrumentos precisos para o diagnóstico de casos, combate a vetores, imunizaçãoe tratamento em massa com fármacos, dentre outros. O modelo operacional baseava-seem atuações verticais, sob forte inspiração militar, e compreendia fases bem estabelecidas– preparatória, de ataque, de consolidação e de manutenção.A expressão vigilância epidemiológica passou a ser aplicada ao controle das <strong>do</strong>ençastransmissíveis na década de 50, para designar uma série de atividades subseqüentes à etapade ataque da campanha de erradicação da malária, vin<strong>do</strong> a designar uma de suas fasesconstitutivas. Originalmente, significava “a observação sistemática e ativa de casos suspeitosou confirma<strong>do</strong>s de <strong>do</strong>enças transmissíveis e de seus contatos”. Tratava-se, portanto, davigilância de pessoas, com base em medidas de isolamento ou quarentena, aplicadas individualmente,e não de forma coletiva.Na década de 60, o programa de erradicação da varíola também instituiu uma fase devigilância epidemiológica, subseqüente à de vacinação em massa da população. Simultaneamente,o programa disseminou a aplicação de novos conceitos que se firmavam no âmbitointernacional e não se vinculavam à prévia realização de uma fase de ataque. Pretendia-se,mediante busca ativa de casos de varíola, a detecção precoce de surtos e o bloqueio imediatoda transmissão da <strong>do</strong>ença. Essa meto<strong>do</strong>logia foi fundamental para o êxito da erradicaçãoda varíola em escala mundial e serviu de base para a organização de sistemas nacionais devigilância epidemiológica.A vigilância epidemiológica foi o tema central da 21ª Assembléia Mundial de Saúderealizada em 1968, na qual se estabeleceu a abrangência <strong>do</strong> conceito, que permitia aplicaçãoa varia<strong>do</strong>s problemas de saúde pública, além das <strong>do</strong>enças transmissíveis, a exemplodas malformações congênitas, envenenamentos na infância, leucemia, abortos, acidentes,<strong>do</strong>enças profissionais, comportamentos como fatores de risco, riscos ambientais, utilizaçãode aditivos, dentre outros.No Brasil, a Campanha de Erradicação da Varíola (CEV) − 1966-73 − é reconhecidacomo marco da institucionalização das ações de vigilância no país, ten<strong>do</strong> fomenta<strong>do</strong> eapoia<strong>do</strong> a organização de unidades de vigilância epidemiológica na estrutura das secretariasestaduais de saúde. O modelo da CEV inspirou a Fundação Serviços de Saúde Pública(FSESP) a organizar, em 1969, um sistema de notificação semanal de <strong>do</strong>enças selecionadase disseminar informações pertinentes em um boletim epidemiológico de circulação quinzenal.Tal processo fundamentou a consolidação, nos níveis nacional e estadual, de basestécnicas e operacionais que possibilitaram o futuro desenvolvimento de ações de impactono controle de <strong>do</strong>enças evitáveis por imunização. O principal êxito relaciona<strong>do</strong> a esse esfor-1Secretaria de Vigilância em Saúde / MS19


Vigilância Epidemiológicaço foi o controle da poliomielite no Brasil, na década de 1980, que abriu perspectivas para aerradicação da <strong>do</strong>ença no continente americano, finalmente alcançada em 1994.Por recomendação da 5ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1975, o Ministérioda Saúde instituiu o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE), por meiode legislação específica (Lei nº 6.259/75 e Decreto nº 78.231/76). Esses instrumentos legaistornaram obrigatória a notificação de <strong>do</strong>enças transmissíveis selecionadas, constantes de relaçãoestabelecida por portaria. Em 1977, o Ministério da Saúde elaborou o primeiro Manualde Vigilância Epidemiológica, reunin<strong>do</strong> e compatibilizan<strong>do</strong> as normas técnicas então utilizadaspara a vigilância de cada <strong>do</strong>ença, no âmbito de progra mas de controle específicos.O atual Sistema Único de Saúde (SUS) incorporou o SNVE, definin<strong>do</strong> em seu textolegal (Lei nº 8.080/90) a vigilância epidemiológica como “um conjunto de ações queproporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatoresdeterminantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendare a<strong>do</strong>tar as medidas de prevenção e controle das <strong>do</strong>enças ou agravos”. Além deampliar o conceito, as ações de vigilância epidemiológica passaram a ser operacionalizadasnum contexto de profunda reorganização <strong>do</strong> sistema de saúde brasileiro, caracterizada peladescentralização de responsabilidades e integralidade da prestação de serviços. O Anexo 1deste capítulo traz maiores informações sobre a atual organização <strong>do</strong> SNVE.Por sua vez, as profundas mudanças no perfil epidemiológico das populações, no qualse observa declínio das taxas de mortalidade por <strong>do</strong>enças infecciosas e parasitárias e crescenteaumento das mortes por causas externas e <strong>do</strong>enças crônico-degenerativas, têm propicia<strong>do</strong>a discussão da incorporação de <strong>do</strong>enças e agravos não-transmissíveis ao escopo de atividadesda vigilância epidemiológica. Iniciativas nesta direção estão sen<strong>do</strong> a<strong>do</strong>tadas tanto peloMinistério da Saúde/SVS como por algumas secretarias estaduais e municipais de saúde.Propósitos e funçõesPor propósito, a vigilância epidemiológica deve fornecer orientação técnica permanentepara os profissionais de saúde que têm a responsabilidade de decidir sobre a execução de açõesde controle de <strong>do</strong>enças e agravos, tornan<strong>do</strong> disponíveis, para esse fim, informações atualizadassobre a ocorrência dessas <strong>do</strong>enças e agravos, bem como <strong>do</strong>s fatores que a condicionam,numa área geográfica ou população definida. Subsidiariamente, a vigilância epidemiológicaconstitui-se importante instrumento para o planejamento, organização e operacionalização<strong>do</strong>s serviços de saúde, bem como a norma tização das atividades técnicas correlatas.A operacionalização da vigilância epidemiológica compreende um ciclo de funçõesespecíficas e intercomplementares, desenvolvidas de mo<strong>do</strong> contínuo, permitin<strong>do</strong> conhecer,a cada momento, o comportamento da <strong>do</strong>ença ou agravo seleciona<strong>do</strong> como alvo das ações,de forma que as medidas de intervenção pertinentes possam ser desencadeadas com oportunidadee eficácia. São funções da vigilância epidemiológica:• coleta de da<strong>do</strong>s;• processamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s;20 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Vigilância Epidemiológica• análise e interpretação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s processa<strong>do</strong>s;• recomendação das medidas de controle apropriadas;• promoção das ações de controle indicadas;• avaliação da eficácia e efetividade das medidas a<strong>do</strong>tadas;• divulgação de informações pertinentes.As competências de cada nível <strong>do</strong> sistema de saúde (municipal, estadual e federal)abarcam to<strong>do</strong> o espectro das funções de vigilância epidemiológica, porém com graus deespecificidade variáveis. As ações executivas são inerentes ao nível municipal e seu exercícioexige conhecimento analítico da situação de saúde local, mas cabe aos níveis nacional eestadual conduzir as ações de caráter estratégico e longo alcance.A eficiência <strong>do</strong> SNVE depende <strong>do</strong> desenvolvimento harmônico das funções reali zadasnos diferentes níveis. Quanto mais capacitada e eficiente for a instância local, mais oportunamentepodem ser executadas as medidas de controle. Os da<strong>do</strong>s e informações aí produzi<strong>do</strong>sserão mais consistentes, possibilitan<strong>do</strong> melhor compreensão <strong>do</strong> quadro sanitário estaduale nacional e, conseqüentemente, o planejamento adequa<strong>do</strong> da ação governamental.Nesse contexto, as intervenções oriundas <strong>do</strong>s níveis estadual e federal tenderão a tornar-seseletivas, voltadas para questões emergenciais ou que, por sua transcendência, requeremavaliação complexa e abrangente, com parti cipação de especialistas e centros de referência,inclusive internacionais.A atual orientação para o desenvolvimento <strong>do</strong> SNVE estabelece, como prioridade,o fortalecimento <strong>do</strong>s sistemas municipais de vigilância epidemiológica, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de autonomiatécnico-gerencial para enfocar os problemas de saúde própri os de suas respectivasáreas de abrangência.1Coleta de da<strong>do</strong>s e informaçõesO cumprimento das funções de vigilância epidemiológica depende da disponibilidadede da<strong>do</strong>s que sirvam para subsidiar o processo de produção de informação para a ação.A qualidade da informação depende, sobretu<strong>do</strong>, da adequada coleta de da<strong>do</strong>s gera<strong>do</strong>s nolocal onde ocorre o evento sanitário (da<strong>do</strong> coleta<strong>do</strong>). É também nesse nível que os da<strong>do</strong>sdevem primariamente ser trata<strong>do</strong>s e estrutura<strong>do</strong>s para se constituírem em um poderosoinstrumento – a informação –, capaz de subsidiar um processo dinâmico de planejamento,avaliação, manutenção e aprimoramento das ações.A coleta de da<strong>do</strong>s ocorre em to<strong>do</strong>s os níveis de atuação <strong>do</strong> sistema de saúde. A forçae o valor da informação (da<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>) dependem da precisão com que o da<strong>do</strong> é gera<strong>do</strong>.Portanto, os responsáveis pela coleta devem ser prepara<strong>do</strong>s para aferir a qualidade <strong>do</strong> da<strong>do</strong>obti<strong>do</strong>. Tratan<strong>do</strong>-se, por exemplo, da notificação de <strong>do</strong>enças transmissíveis, é fundamentala capacitação para o diagnóstico de casos e a realização de investigações epidemiológicascorrespondentes.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS21


Vigilância EpidemiológicaOutro aspecto relevante refere-se à representatividade <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, em relação à magnitude<strong>do</strong> problema existente. Como princípio organizacional o sistema de vigi lância deveabranger o maior número possível de fontes gera<strong>do</strong>ras, cuidan<strong>do</strong>-se de assegurar a regularidadee oportunidade da transmissão <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s. Geralmente, não é possível nem necessárioconhecer a totalidade <strong>do</strong>s casos. A partir de fontes selecionadas e confiáveis pode-se acompanharas tendências da <strong>do</strong>ença ou agravo, com o auxílio de estimativas de subenumeraçãode casos.O fluxo, periodicidade e tipos de da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s devem corresponder às neces sidadesde utilização previamente estabelecidas, com base em indica<strong>do</strong>res adequa<strong>do</strong>s às característicaspróprias de cada <strong>do</strong>ença ou agravo sob vigilância. A prioridade de conhecimento <strong>do</strong>da<strong>do</strong> sempre será concedida à instância responsável pela execução das medidas de controle.Quan<strong>do</strong> for necessário o envolvimento de outro nível <strong>do</strong> sistema, o fluxo deverá ser suficientementerápi<strong>do</strong> para que não ocorra atraso na a<strong>do</strong>ção de medidas de controle.Tipos de da<strong>do</strong>sOs da<strong>do</strong>s e informações que alimentam o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológicasão os seguintes:Da<strong>do</strong>s demográficos, ambientais e socioeconômicosOs da<strong>do</strong>s demográficos permitem quantificar grupos populacionais, com vistas à definiçãode denomina<strong>do</strong>res para o cálculo de taxas. Da<strong>do</strong>s sobre o número de habitantes, nascimentose óbitos devem ser discrimina<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> características de sua distribuição porsexo, idade, situação <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio, escolaridade, ocupação, condições de saneamento, etc.A disponibilidade de indica<strong>do</strong>res demográficos e socioeconômicos é primordial para acaracterização da dinâmica populacional e das condições gerais de vida, às quais se vinculamos fatores condicionantes da <strong>do</strong>ença ou agravo sob vigilância. Da<strong>do</strong>s sobre aspectos climáticose ecológicos também podem ser necessários para a compreensão <strong>do</strong> fenômeno analisa<strong>do</strong>.Da<strong>do</strong>s de morbidadeSão os da<strong>do</strong>s mais utiliza<strong>do</strong>s em vigilância epidemiológica, por permitirem a detecçãoimediata ou precoce de problemas sanitários. Correspondem à distribuição de casos segun<strong>do</strong>a condição de porta<strong>do</strong>res de infecções ou patologias específicas, como também de seqüelas.Trata-se, em geral, de da<strong>do</strong>s oriun<strong>do</strong>s da notificação de casos e surtos, da produçãode serviços ambulatoriais e hospitalares, de investigações epidemiológicas, da busca ativade casos, de estu<strong>do</strong>s amostrais e de inquéritos, entre outras formas.Seu uso apresenta dificuldades relacionadas à representatividade e abrangência <strong>do</strong>ssistemas de informações disponíveis, à possibilidade de duplicação de registros e a deficiênciasde méto<strong>do</strong>s e critérios de diagnóstico utiliza<strong>do</strong>s. Merecem, por isso, cuida<strong>do</strong>s especiaisna coleta e análise.22 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Vigilância EpidemiológicaO SNVE deve estimular, cada vez mais, a utilização <strong>do</strong>s sistemas e bases de da<strong>do</strong>sdisponíveis, vincula<strong>do</strong>s à prestação de serviços, para evitar a sobreposição de sistemas deinformação e a conseqüente sobrecarga aos níveis de assistência direta à população. Asdeficiências qualitativas próprias desses sistemas tendem a ser superadas à medida que seintensificam a crítica e o uso <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s produzi<strong>do</strong>s.Da<strong>do</strong>s de mortalidadeSão de fundamental importância como indica<strong>do</strong>res da gravidade <strong>do</strong> fenômeno vigia<strong>do</strong>,sen<strong>do</strong> ainda, no caso particular de <strong>do</strong>enças de maior letalidade, mais váli<strong>do</strong>s <strong>do</strong>que os da<strong>do</strong>s de morbidade, por se referirem a fatos vitais bem marcantes e razoavelmenteregistra<strong>do</strong>s. Sua obtenção provém de declarações de óbitos, padronizadas e processadasnacionalmente. Essa base de da<strong>do</strong>s apresenta variáveis graus de cobertura entre as regiões<strong>do</strong> país, algumas delas com subenumeração elevada de óbitos. Além disso, há proporçãosignificativa de registros sem causa definida, o que impõe cautela na análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s demortalidade.Atrasos na disponibilidade desses da<strong>do</strong>s dificultam sua utilização na vigilância epidemiológica.A disseminação eletrônica de da<strong>do</strong>s tem contribuí<strong>do</strong> muito para facilitar oacesso a essas informações. Consideran<strong>do</strong> tais fatos, os sistemas locais de saúde devem serestimula<strong>do</strong>s a utilizar de imediato as informações das declarações de óbito.1Notificação de surtos e epidemiasA detecção precoce de surtos e epidemias ocorre quan<strong>do</strong> o sistema de vigilância epidemiológicalocal está bem estrutura<strong>do</strong>, com acompanhamento constante da situação geralde saúde e da ocorrência de casos de cada <strong>do</strong>ença e agravo sujeito à notificação. Essa práticapossibilita a constatação de qualquer indício de elevação <strong>do</strong> número de casos de umapatologia, ou a introdução de outras <strong>do</strong>enças não incidentes no local e, conseqüentemente,o diagnóstico de uma situação epidêmica inicial para a a<strong>do</strong>ção imediata das medidas decontrole. Em geral, esses fatos devem ser notifica<strong>do</strong>s aos níveis superiores <strong>do</strong> sistema paraque sejam alertadas as áreas vizinhas e/ou para solicitar colaboração, quan<strong>do</strong> necessária.Fontes de da<strong>do</strong>sA informação para a vigilância epidemiológica destina-se à tomada de decisões – informaçãopara a ação. Este princípio deve reger as relações entre os responsáveis pela vigilânciae as diversas fontes que podem ser utilizadas para o fornecimento de da<strong>do</strong>s. Dentreessas, a principal é a notificação, ou seja, a comunicação da ocorrência de determinada<strong>do</strong>ença ou agravo à saúde feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou qualquercidadão, para fins de a<strong>do</strong>ção de medidas de intervenção pertinentes.Historicamente, a notificação compulsória tem si<strong>do</strong> a principal fonte da vigilância epidemiológica,a partir da qual, na maioria das vezes, se desencadeia o processo informaçãodecisão-ação.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS23


Vigilância EpidemiológicaA listagem das <strong>do</strong>enças de notificação nacional (Anexo 1) é estabelecida pelo Ministérioda Saúde entre as consideradas de maior relevância sanitária para o país. Os da<strong>do</strong>scorrespondentes compõem o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).Esta<strong>do</strong>s e municípios podem adicionar à lista outras patologias de interesse regional ou local,justificada a sua necessidade e defini<strong>do</strong>s os mecanismos operacionais correspondentes.Entende-se que só devem ser coleta<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s para efetiva utilização no aprimoramentodas ações de saúde, sem sobrecarregar os serviços com o preenchimento desnecessário deformulários.Dada a natureza específica de cada <strong>do</strong>ença ou agravo à saúde, a notificação deve seguirum processo dinâmico, variável em função das mudanças no perfil epidemiológico, <strong>do</strong>sresulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s com as ações de controle e da disponibilidade de novos conhecimentoscientíficos e tecnológicos. As normas de notificação devem adequar-se, no tempo e no espaço,às características de distribuição das <strong>do</strong>enças consideradas, ao conteú<strong>do</strong> de informaçãorequeri<strong>do</strong>, aos critérios de definição de casos, à periodicidade da transmissão <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, àsmodalidades de notificação indicadas e à representatividade das fontes de notificação.Os parâmetros para a inclusão de <strong>do</strong>enças e agravos na lista de notificação compulsóriadevem obedecer os seguintes critérios:Magnitude – aplicável a <strong>do</strong>enças de elevada freqüência, que afetam grandes contingentespopulacionais e se traduzem por altas taxas de incidência, prevalência, mortalidadee anos potenciais de vida perdi<strong>do</strong>s;Potencial de disseminação – representa<strong>do</strong> pelo eleva<strong>do</strong> poder de transmissão da <strong>do</strong>ença,por meio de vetores ou outras fontes de infecção, colocan<strong>do</strong> sob risco a saúde coletiva;Transcendência – expressa-se por características subsidiárias que conferem relevânciaespecial à <strong>do</strong>ença ou agravo, destacan<strong>do</strong>-se: severidade, medida por taxas de leta lidade, dehospitalização e de seqüelas; relevância social, avaliada, subjetivamente, pelo valor imputa<strong>do</strong>pela sociedade à ocorrência da <strong>do</strong>ença e que se manifesta pela sensação de me<strong>do</strong>, repulsaou indignação; e relevância econômica, avaliada por prejuízos decorrentes de restriçõescomerciais, redução da força de trabalho, absenteísmo escolar e laboral, custos assistenciaise previdenciários, etc.;Vulnerabilidade – medida pela disponibilidade concreta de instrumentos específicosde prevenção e controle da <strong>do</strong>ença, propician<strong>do</strong> a atuação efetiva <strong>do</strong>s serviços de saúdesobre os indivíduos e coletividades;Compromissos internacionais – relativos ao cumprimento de metas continentais oumundiais de controle, de eliminação ou de erradicação de <strong>do</strong>enças, previstas em acor<strong>do</strong>sfirma<strong>do</strong>s pelo governo brasileiro com organismos internacionais. Esses compromissos incluemobrigações assumidas por força <strong>do</strong> Regulamento Sanitário Internacional, estabeleci<strong>do</strong>no âmbito da Organização Mundial da Saúde, que ainda exige a notificação compulsória<strong>do</strong>s casos de cólera, febre amarela e peste. Entretanto, este regulamento está sen<strong>do</strong> objetode revisão e, possivelmente, os Esta<strong>do</strong>s-Membros da OMS passarão a notificar eventos inusita<strong>do</strong>sque possam ter repercussões internacionais;Ocorrência de epidemias, surtos e agravos inusita<strong>do</strong>s à saúde – são situações emergenciaisem que se impõe a notificação imediata de to<strong>do</strong>s os casos suspeitos, com o objetivo24 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Vigilância Epidemiológicade delimitar a área de ocorrência, elucidar o diagnóstico e deflagrar medidas de controleaplicáveis. Mecanismos próprios de notificação devem ser instituí<strong>do</strong>s com base na apresentaçãoclínica e epidemiológica <strong>do</strong> evento.No processo de seleção das <strong>do</strong>enças notificáveis, esses critérios devem ser considera<strong>do</strong>sem conjunto, embora o atendimento a apenas alguns deles possa ser suficiente paraincluir determinada <strong>do</strong>ença. Por outro la<strong>do</strong>, nem sempre podem ser aplica<strong>do</strong>s de mo<strong>do</strong>linear, sem considerar a factibilidade de implementação das medidas decorrentes da notificação,as quais dependem de condições operacionais objetivas de funcionamento da redede prestação de serviços de saúde.O caráter compulsório da notificação implica responsabilidades formais para to<strong>do</strong> cidadão,e uma obrigação inerente ao exercício da medicina, bem como de outras profissõesna área da saúde. Mesmo assim, sabe-se que a notificação nem sempre é realizada, o queocorre por desconhecimento de sua importância e, também, por descrédito nas ações quedela devem resultar. A experiência tem evidencia<strong>do</strong> que o funcionamento de um sistema denotificação é diretamente proporcional à capacidade de se demonstrar o uso adequa<strong>do</strong> dasinformações recebidas, de forma a conquistar a confiança <strong>do</strong>s notificantes.O sistema de notificação deve estar permanentemente volta<strong>do</strong> para a sensibilização<strong>do</strong>s profissionais e das comunidades, visan<strong>do</strong> melhorar a quantidade e qualidade <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>scoleta<strong>do</strong>s mediante o fortalecimento e ampliação da rede. Todas as unidades de saúde (públicas,privadas e filantrópicas) devem fazer parte <strong>do</strong> sistema, bem como os profissionais desaúde e mesmo a população em geral. Não obstante, essa cobertura universal idealizada nãoprescinde <strong>do</strong> uso inteligente da informação, que pode basear-se em da<strong>do</strong>s muito restritospara a tomada de decisões oportunas e eficazes.Aspectos que devem ser considera<strong>do</strong>s na notificação:• notificar a simples suspeita da <strong>do</strong>ença. Não se deve aguardar a confirmação <strong>do</strong> casopara se efetuar a notificação, pois isto pode significar perda da oportunidade de intervireficazmente;• a notificação tem de ser sigilosa, só poden<strong>do</strong> ser divulgada fora <strong>do</strong> âmbito médicosanitárioem caso de risco para a comunidade, respeitan<strong>do</strong>-se o direito de anonimato<strong>do</strong>s cidadãos;• o envio <strong>do</strong>s instrumentos de coleta de notificação deve ser feito mesmo na ausênciade casos, configuran<strong>do</strong>-se o que se denomina notificação negativa, que funcionacomo um indica<strong>do</strong>r de eficiência <strong>do</strong> sistema de informações.1Além da notificação compulsória, o Sistema de Vigilância Epidemiológica pode definir<strong>do</strong>enças e agravos como de notificação simples. O Sinan, descrito no terceiro capítulodeste Guia, é o principal instrumento de coleta <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s de notificação compulsória.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS25


Vigilância EpidemiológicaOutras bases de da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>ssistemas nacionais de informaçãoO registro rotineiro de da<strong>do</strong>s sobre saúde, deriva<strong>do</strong>s da produção de serviços ou desistemas de informação específicos, constitui valiosa fonte de informação sobre a ocorrênciade <strong>do</strong>enças e agravos sob vigilância epidemiológica. Com a progressiva implementaçãode recursos informacionais no setor saúde, esses da<strong>do</strong>s tendem a tornar-se cada vez maisacessíveis por meios eletrônicos, sen<strong>do</strong> de primordial importância para os agentes responsáveispelas ações de vigilância, em to<strong>do</strong>s os níveis. Seu uso para a vigilância epidemiológicadeve ser estimula<strong>do</strong>, objetivan<strong>do</strong> aprimorar a qualidade <strong>do</strong> registro e compatibilizar as informaçõesoriundas de diferentes fontes.LaboratóriosOs resulta<strong>do</strong>s laboratoriais vincula<strong>do</strong>s à rotina da vigilância epidemiológica complementamo diagnóstico de confirmação de casos e, muitas vezes, servem como fonte deconhecimento de casos que não foram notifica<strong>do</strong>s. Também devem ser incorpora<strong>do</strong>s osda<strong>do</strong>s decorrentes de estu<strong>do</strong>s epidemiológicos especiais, realiza<strong>do</strong>s pelos laboratórios desaúde pública em apoio às ações de vigilância.Entretanto, o uso <strong>do</strong> laboratório como fonte de detecção de casos tem si<strong>do</strong> restrito aalgumas <strong>do</strong>enças, em situações especiais. Há necessidade de se organizar um sistema integra<strong>do</strong>de resulta<strong>do</strong>s das análises realizadas para diagnóstico das <strong>do</strong>enças sob vigilância,abrangen<strong>do</strong>, inicialmente, a rede de laboratórios centrais de saúde pública nos esta<strong>do</strong>s (Lacens)e também a rede de hemocentros, onde é realizada a triagem sorológica de <strong>do</strong>a<strong>do</strong>resde sangue. Complementarmente, esse sistema deve ser progressivamente estendi<strong>do</strong> a outroslaboratórios públicos e priva<strong>do</strong>s.Investigação epidemiológicaOs acha<strong>do</strong>s de investigações epidemiológicas de casos e de surtos complementam asinformações da notificação no que se refere a fontes de infecção e mecanismos de transmissão,dentre outras variáveis. Também podem possibilitar a descoberta de novos casos nãonotifica<strong>do</strong>s.Imprensa e populaçãoMuitas vezes, informações oriundas da imprensa e da própria comunidade são fontesimportantes de da<strong>do</strong>s, deven<strong>do</strong> ser sempre consideradas para a realização da investigaçãoperti nente. Podem ser o primeiro alerta sobre a ocorrência de uma epidemia ou agravo inusita<strong>do</strong>,principalmente quan<strong>do</strong> a vigilância em determinada área é insuficientemente ativa.26 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Vigilância EpidemiológicaFontes especiais de da<strong>do</strong>sEstu<strong>do</strong>s epidemiológicosAlém das fontes regulares de coleta de da<strong>do</strong>s e informações para analisar, <strong>do</strong> pontode vista epidemiológico, a ocorrência de eventos sanitários, pode ser necessário, em determina<strong>do</strong>momento ou perío<strong>do</strong>, recorrer diretamente à população ou aos serviços para obterda<strong>do</strong>s adicionais ou mais representativos, que podem ser coleta<strong>do</strong>s por inquérito, levantamentoepidemiológico ou investigação.Inquérito epidemiológico – estu<strong>do</strong> seccional, geralmente <strong>do</strong> tipo amostral, leva<strong>do</strong>a efeito quan<strong>do</strong> as informações existentes são inade quadas ou insuficientes em virtude dediversos fatores, dentre os quais se podem destacar: notificação imprópria ou deficiente;mudança no comportamento epidemiológico de determinada <strong>do</strong>ença; dificuldade na avaliaçãode coberturas vacinais ou eficácia de vacinas; necessidade de avaliação da eficácia dasmedidas de controle de um programa; descoberta de agravos inusita<strong>do</strong>s.Levantamento epidemiológico – estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> com base nos da<strong>do</strong>s existentes nosregistros <strong>do</strong>s serviços de saúde ou de outras instituições. Não é um estu<strong>do</strong> amostral e destina-sea coletar da<strong>do</strong>s para complementar informações já existentes. A recuperação de sérieshistóricas, para análises de tendências, e a busca ativa de casos, para aferir a eficiência <strong>do</strong>sistema de notificação, são exemplos de levantamentos epidemiológicos.Investigação epidemiológica – méto<strong>do</strong> de trabalho utiliza<strong>do</strong> para esclarecer a ocorrênciade <strong>do</strong>enças transmissíveis ou de agravos inusita<strong>do</strong>s à saúde, a partir de casos isola<strong>do</strong>sou relaciona<strong>do</strong>s entre si. Consiste em um estu<strong>do</strong> de campo realiza<strong>do</strong> a partir de casos notifica<strong>do</strong>s(clinicamente declara<strong>do</strong>s ou suspeitos) e seus contatos. Destina-se a avaliar as implicaçõesda ocorrência para a saúde coletiva, ten<strong>do</strong> como objetivos: confirmar o diagnóstico,determinar as características epidemiológicas da <strong>do</strong>ença, identificar as causas <strong>do</strong> fenômenoe orientar as medidas de controle. Por ser uma atividade de fundamental importância parao processo de decisão-ação da vigilância epidemiológica, exigin<strong>do</strong> conhecimento e competênciaprofissional, os procedimentos para sua realizaçao encontram-se detalha<strong>do</strong>s em roteiroespecífico no segun<strong>do</strong> capítulo deste Guia.A expressão “investigação epidemiológica” aqui utilizada tem o senti<strong>do</strong> restrito deimportante diagnóstico da vigilância epidemiológica, diferente de uma ampla conotaçãocomo sinônimo da pesquisa científica em epidemiologia. Para diferenciar, na vigilância epidemiológicacostuma ser denominada como “investigação epidemiológica de campo”.1Sistemas sentinelasNem sempre o processo de decisão-ação necessita da totalidade de casos (notificaçãouniversal) para o desencadeamento das estratégias de intervenção, pois isto se vincula àapresentação clínica e epidemiológica das <strong>do</strong>enças e agravos e, principalmente, aos instrumentosde controle disponíveis e indica<strong>do</strong>s para cada situação específica. Para intervir emdetermina<strong>do</strong>s problemas de saúde pode-se lançar mão de sistemas sentinelas de informaçõescapazes de monitorar indica<strong>do</strong>res-chave na população geral ou em grupos especiaisque sirvam de alerta precoce para o sistema de vigilância.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS27


Vigilância EpidemiológicaExistem vários tipos destes sistemas, como, por exemplo, a organização de redesconstituídas de fontes sentinelas de notificação especializadas, já bastante utilizadas para oacompanhamento e vigilância da situação de câncer. Outra técnica baseia-se na ocorrênciade evento sentinela, que é a detecção de <strong>do</strong>ença prevenível, incapacidade ou morte inesperadacuja ocorrência serve como sinal de alerta de que a qualidade terapêutica ou prevençãodeve ser questionada. Entende-se que todas as vezes em que isto ocorra o sistema devigilância deve ser aciona<strong>do</strong> para que o evento seja investiga<strong>do</strong> e as medidas de prevençãoa<strong>do</strong>tadas.A instituição de unidades de saúde sentinelas tem si<strong>do</strong> muito utilizada no Brasil para avigilância das <strong>do</strong>enças infecciosas e parasitárias que demandam internamento hospitalar. Omonitoramento de grupos-alvos, através de exames periódicos, é de grande valor na área deprevenção de <strong>do</strong>enças ocupacionais. Mais recentemente, tem-se trabalha<strong>do</strong> no desenvolvimentoda vigilância de espaços geográficos delimita<strong>do</strong>s em centros urbanos, denomina<strong>do</strong>vigilância de áreas sentinelas.Diagnóstico de casosA credibilidade <strong>do</strong> sistema de notificação depende, em grande parte, da capacidade<strong>do</strong>s serviços locais de saúde – responsáveis pelo atendimento <strong>do</strong>s casos – diagnos ticaremcorretamente as <strong>do</strong>enças e agravos. Para isso, os profissionais deverão estar tecnicamentecapacita<strong>do</strong>s e dispor de recursos complementares para a confirmação da suspeita clínica. Acorreta e oportuna realização <strong>do</strong> diagnóstico e tratamento assegura a confiança da populaçãoem relação aos serviços, contribuin<strong>do</strong> para a eficiência <strong>do</strong> sistema de vigilância.NormatizaçãoA definição de normas técnicas é imprescindível para a uniformização de procedimentose a comparação de da<strong>do</strong>s e informações produzi<strong>do</strong>s pelo sistema de vigilância.Essas normas devem primar pela clareza e constar de manuais, ordens de serviço, materiaisinstrucionais e outros, disponíveis nas unidades <strong>do</strong> sistema.Tem especial importância a definição de caso de cada <strong>do</strong>ença ou agravo, visan<strong>do</strong> padronizaros critérios diagnósticos para a entrada e classificação final <strong>do</strong>s casos no sis tema.Em geral, os casos são classifica<strong>do</strong>s como suspeitos, compatíveis ou confirma<strong>do</strong>s (laboratorialmenteou por outro critério), o que pode variar segun<strong>do</strong> a situação epidemio lógicaespecífica de cada <strong>do</strong>ença.Definições de caso devem ser modificadas ao longo <strong>do</strong> tempo, por alterações na epidemiologiada própria <strong>do</strong>ença, para atender necessidades de ampliar ou reduzir a sensi bilidadeou especificidade <strong>do</strong> sistema, em função <strong>do</strong>s objetivos de intervenção e, ainda, paraadequarem-se às etapas e metas de um programa especial de controle. Como exemplo, oprograma de erradicação da poliomielite a<strong>do</strong>tou, ao longo de seu curso, diferentes critériospara definir caso suspeito, compatível, provável ou confirma<strong>do</strong>.As normas técnicas devem estar compatibilizadas em to<strong>do</strong>s os níveis <strong>do</strong> sistema de28 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Vigilância Epidemiológicavigilância, para possibilitar a realização de análises consistentes, qualitativa e quantita ti vamente.Nesse senti<strong>do</strong>, a adaptação das orientações de nível central, para atender reali dadesestaduais diferenciadas, não deve alterar as definições de caso, entre outros itens que exigempadronização. O mesmo deve ocorrer com as <strong>do</strong>enças e agravos de notificação estadualexclusiva, em relação às normas de âmbito municipal.Retroalimentação <strong>do</strong> sistema1Um <strong>do</strong>s pilares <strong>do</strong> funcionamento <strong>do</strong> sistema de vigilância, em qualquer de seus níveis,é o compromisso de responder aos informantes, de forma adequada e oportuna. Fundamentalmente,essa resposta – ou retroalimentação – consiste no retorno regular de infor maçõesàs fontes produtoras, demonstran<strong>do</strong> a sua contribuição no processo. O conteú<strong>do</strong> dainformação fornecida deve corresponder às expectativas criadas nas fontes, poden<strong>do</strong> variardesde a simples consolidação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s até análises epidemiológicas complexas correlacionadascom ações de controle. A credibilidade <strong>do</strong> sistema depende de que os profis sionaisde saúde e as lideranças comunitárias se sintam participantes e contribuintes.A retroalimentação <strong>do</strong> sistema materializa-se na disseminação periódica de informes epidemiológicossobre a situação local, regional, estadual, macrorregional ou nacional. Essa funçãodeve ser estimulada em cada nível de gestão, valen<strong>do</strong>-se de meios e canais apropria<strong>do</strong>s. A organizaçãode boletins informativos, destina<strong>do</strong>s a dirigentes com poder de decisão, pode auxiliar naobtenção de apoio institucional e material para a investigação e controle de eventos sanitários.Além de motivar os notificantes, a retroalimentação <strong>do</strong> sistema propicia a coleta desubsídios para reformular normas e ações nos seus diversos níveis, asseguran<strong>do</strong> a continuidadee aperfeiçoamento <strong>do</strong> processo.Avaliação <strong>do</strong>s sistemas de vigilância epidemiológicaO sistema de vigilância epidemiológica mantém-se eficiente quan<strong>do</strong> seu funcionamentoé aferi<strong>do</strong> regularmente, para correções de rumo oportunas. A avaliação <strong>do</strong> sistemapresta-se, ainda, para demonstrar os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s com a ação desenvolvolvida, quejustifiquem os recursos investi<strong>do</strong>s em sua manutenção.Expressa-se a importância de um problema de saúde pública pelos seus indica<strong>do</strong>resde morbidade, mortalidade, incapacidade e custos atribuí<strong>do</strong>s. Nesse senti<strong>do</strong>, o reconhecimentoda função de vigilância decorre, em última análise, da capacidade demonstrada eminfor mar com precisão, a cada momento, a situação epidemiológica de determinada <strong>do</strong>ençaou agravo, as tendências esperadas, o impacto das ações de controle efetivadas e a indicaçãode outras medidas necessárias. Os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> conjunto de ações desenvolvidas no sistemasão também medi<strong>do</strong>s pelos benefícios sociais e econômicos decorrentes, em termos devidas poupadas, casos evita<strong>do</strong>s, custos assistenciais reduzi<strong>do</strong>s, etc. Informações como essasdevem ser contrapostas às despesas operacionais <strong>do</strong> sistema.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS29


Vigilância EpidemiológicaA manutenção em funcionamento de um sistema de vigilância envolve variadas ecomplexas atividades, que devem ser acompanhadas e avaliadas continuamente, com vistasa aprimorar a qualidade, eficácia, eficiência e efetividade das ações.Avaliações periódicas devem ser realizadas em to<strong>do</strong>s os níveis, com relação aos seguintesaspectos, entre outros: atualidade da lista de <strong>do</strong>enças e agravos manti<strong>do</strong>s no sistema;pertinência das normas e instrumentos utiliza<strong>do</strong>s; cobertura da rede de notificaçãoe participação das fontes que a integram; funcionamento <strong>do</strong> fluxo de informações; abrangência<strong>do</strong>s tipos de da<strong>do</strong>s e das bases informacionais utilizadas; organização da <strong>do</strong>cumentaçãocoletada e produzida; investigações realizadas e sua qualidade; informes analíticosproduzi<strong>do</strong>s, em quantidade e qualidade; retroalimentação <strong>do</strong> sistema, quanto a iniciativase instrumentos emprega<strong>do</strong>s; composição e qualificação da equipe técnica responsável; interaçãocom as instâncias responsáveis pelas ações de controle; interação com a comunidadecientífica e centros de referência; condições administrativas de gestão <strong>do</strong> sistema; e custosde operação e manutenção.As medidas quantitativas de avaliação de um sistema de vigilância epidemiológica incluemsensibilidade, especificidade, representatividade e oportunidade; e as qualitativas,simplicidade, flexibilidade e aceitabilidade.Sensibilidade é a capacidade de o sistema detectar casos; especificidade expressa acapacidade de excluir os “não-casos”. A representatividade diz respeito à possibilidade deo sistema identificar to<strong>do</strong>s os subgrupos da população onde ocorrem os casos. A oportunidaderefere-se à agilidade <strong>do</strong> fluxo <strong>do</strong> sistema de informação.A simplicidade deve ser utilizada como princípio orienta<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s sistemas de vigilância,ten<strong>do</strong> em vista facilitar a operacionalização e reduzir os custos. A flexibilidadese traduz pela capacidade de adaptação <strong>do</strong> sistema a novas situações epidemiológicas ouoperacionais (inserção de outras <strong>do</strong>enças, atuação em casos emergenciais, implantação denormas atualizadas, incorporação de novos fatores de risco, etc.), com pequeno custo adicional.A aceitabilidade se refere à disposição de indivíduos, profissionais ou orga nizações,participarem e utilizarem o sistema. Em geral, a aceitação está vinculada à importância <strong>do</strong>problema e à interação <strong>do</strong> sistema com os órgãos de saúde e a sociedade em geral (participaçãodas fontes notificantes e retroalimentação).PerspectivasUma das características <strong>do</strong>s sistemas de vigilância epidemiológica é estar permanentementeacompanhan<strong>do</strong> o desenvolvimento científico e tecnológico por meio da articulaçãocom a sociedade científica e formação de comitês técnicos assessores. Essa articulaçãoé importante por possibilitar a atualização dinâmica das suas práticas mediante a incorporaçãode novas meto<strong>do</strong>logias de trabalho, avanços científicos e tecnológicos de prevenção(imunobiológicos, fármacos, testes diagnósticos, etc.) e aprimoramento das estratégias operacionaisde controle. A rápida evolução das ferramentas computacionais, aliadas à redução<strong>do</strong>s seus custos, vem possibilitan<strong>do</strong> o desenvolvimento de sistemas de informações mais30 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Vigilância Epidemiológicaagéis que contribuem significativamente para tornar mais oportunas as intervenções nestecampo da saúde pública.A atual política de descentralização <strong>do</strong> sistema de saúde está proporcionan<strong>do</strong> um saltoqualitativo para a reorganização <strong>do</strong>s sistemas locais de vigilância epidemiológica (Anexo1). As secretarias estaduais estão, cada vez mais, deixan<strong>do</strong> de desempenhar o papel de executoraspara assumir as responsabilidades de coordenação, supervisão e monitoramentodas ações.Os profissionais de saúde têm como desafio atual trabalhar para o desenvolvimentoda consciência sanitária <strong>do</strong>s gestores municipais <strong>do</strong>s sistemas de saúde, para que passem apriorizar as ações de saúde pública e trabalhem na perspectiva de desenvolvimento da vigilânciada saúde, que tem como um <strong>do</strong>s seus pilares de atuação a vigilância epidemiológicade problemas de saúde prioritários, em cada espaço geográfico.Nesta perspectiva, descreve-se no Anexo 2 deste capítulo o novo modelo de organização<strong>do</strong> sistema de vigilância epidemiológica, com a definição das principais atribuições dastrês esferas de governo.1Secretaria de Vigilância em Saúde / MS31


Vigilância EpidemiológicaAnexo 1Portaria nº 2.325/GM Em, 8 de dezembro de 2003Define a relação de <strong>do</strong>enças denotificação compulsória parato<strong>do</strong> o território nacional.O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso de suas atribuições, e ten<strong>do</strong> em vistao disposto no art. 8º, inciso I, <strong>do</strong> Decreto nº 78.231, de 12 de agosto de 1976, e na Portaria nº95/2001 <strong>do</strong> Ministério da Saúde, que regulamentam a notificação compulsória de <strong>do</strong>ençasno País, e ainda consideran<strong>do</strong> a necessidade de regulamentar os fluxos e a periodicidadedessas informações,RESOLVE:Art. 1º Os casos suspeitos ou confirma<strong>do</strong>s das <strong>do</strong>enças constantes no Anexo I destaPortaria são de notificação compulsória às Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde e aoMinistério da Saúde.Parágrafo único. A ocorrência de agravo inusita<strong>do</strong> à saúde, independentemente deconstar desta relação, deverá também ser notificada imediatamente às autoridades sanitáriasmencionadas no caput deste artigo.Art. 2º A definição de caso, o fluxo e instrumentos de notificação para cada <strong>do</strong>ençarelacionada no Anexo I desta Portaria deverão obedecer à padronização definida pela Secretariade Vigilância em Saúde <strong>do</strong> Ministério da Saúde – SVS/MS.Art. 3º Os gestores municipais e estaduais <strong>do</strong> Sistema Único de Saúde poderão incluiroutras <strong>do</strong>enças e agravos no elenco de <strong>do</strong>enças de notificação compulsória, em seu âmbitode competência, de acor<strong>do</strong> com o quadro epidemiológico local.Parágrafo único. A inclusão de outras <strong>do</strong>enças e agravos deverá ser definida conjuntamenteentre os gestores estaduais e municipais e a SVS/MS.Art. 4º Fica delegada competência ao Secretário de Vigilância em Saúde para editarnormas regulamenta<strong>do</strong>ras desta Portaria.Art. 5º Fica revogada a Portaria nº 1.943/GM, de 18 de outubro de 2001, publicada noDOU nº 204, Seção 1, pág. 35, de 24 de outubro de 2001.Art. 6º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.HUMBERTO COSTA32 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Vigilância EpidemiológicaAnexo I. Lista nacional de agravos de notificação compulsóriaBotulismoCarbúnculo ou “antraz”CóleraCoquelucheLeishmaniose tegumentar americanaLeishmaniose visceralLeptospiroseMaláriaDengueDifteriaDoença de Chagas (casos agu<strong>do</strong>s)Doenças meningocócicas e outras meningitesMeningite por Haemophilus influenzaePestePoliomieliteParalisia flácida agudaEsquistossomose (em área não-endêmica)Febre amarelaFebre <strong>do</strong> NiloFebre maculosaRaiva humanaRubéolaSíndrome da rubéola congênitaSarampoFebre tifóideHanseníaseHantavirosesHepatites viraisSífilis congênitaSíndrome da imunodeficiência adquirida (aids)Síndrome respiratória aguda graveTétanoInfeccção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV)em gestantes e crianças expostas ao risco de transmissão verticalTularemiaTuberculoseVaríola1Secretaria de Vigilância em Saúde / MS33


Vigilância EpidemiológicaAnexo 2O Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE) compreende o conjunto articula<strong>do</strong>de instituições <strong>do</strong> setor público e priva<strong>do</strong>, componente <strong>do</strong> Sistema Único de Saúde(SUS), que, direta ou indiretamente, notifica <strong>do</strong>enças e agravos, presta serviços a grupospopulacionais ou orienta a conduta a ser tomada para o controle <strong>do</strong>s mesmos.Reorganização <strong>do</strong> Sistema de Vigilância Epidemiológica: desde a implantação <strong>do</strong> SUS,o SNVE vem passan<strong>do</strong> por profunda reorganização operacional, para ade quar-se aos princípiosde descentralização e de integralidade da atenção à saúde. Esse processo foi bastanteimpulsiona<strong>do</strong> a partir das Portarias nº 1.399/GM, de 15/12/99, e nº 950, de 23/12/99. Estesinstrumentos legais instituíram o repasse fun<strong>do</strong>-a-fun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s recursos <strong>do</strong> governo federalpara o desenvolvimento das atividades de epidemiologia, vigilância e controle de <strong>do</strong>enças,rompen<strong>do</strong> os mecanismos de repasses conveniais e por produção de serviços. Além disso,estabeleceu os requisitos e atividades mínimas de responsabilidade municipal, a definição<strong>do</strong> teto de recursos financeiros e a transferência de recursos humanos <strong>do</strong>s níveis federal eestadual para o municipal.A definição <strong>do</strong> teto financeiro para esta<strong>do</strong>s e municípios considerou: diferenças epidemiológicasregionais e operacionais (três diferentes estratos); valores diferen cia<strong>do</strong>s, de acor<strong>do</strong>com a extensão territorial <strong>do</strong> município; e acréscimo de um valor fixo per capita para osmunicípios que assumem a gestão das ações de vigilância e controle de <strong>do</strong>enças. As referidasportarias estabelecem as competências da União, esta<strong>do</strong>s, Distrito Federal e municípios;as condições para certificação <strong>do</strong>s diferentes níveis, na gestão das ações de epidemiologia econtrole de <strong>do</strong>enças; a PPI (Programação Pactuada Integrada) como eixo de negociação dasações desta área, a forma de repasse fun<strong>do</strong>-a-fun<strong>do</strong>, a partir da certificação <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s emunicípios; descentralizam as atividades de controle de endemias, anterior mente sob a responsabilidadeexecutiva da Funasa; e recomendam a articulação <strong>do</strong>s serviços de vigilânciaepidemiológica com o Programa Saúde da Família, entre outras disposições.São reconhecidas as dificuldades existentes nos municípios para assegurar o plenodesenvolvimento de um sistema de vigilância epidemiológica sensível e efetivo. Há insuficiênciade recursos humanos, resistências institucionais ao processo de descentra lização,incipiente capacidade instalada para diagnóstico, investigação e implementação de açõesde controle e, ainda, limitações <strong>do</strong>s recursos disponíveis para o setor saúde. Não obstante,os instrumentos legais específicos instituí<strong>do</strong>s representam importante avanço no SUS, porpropiciar a capacitação e ampliação das equipes de profissionais que atuam em vigilânciaepidemiológica, elevan<strong>do</strong> a capacidade da análise de informações e execução das ações <strong>do</strong>smunicípios, conferin<strong>do</strong> maior agilidade ao desencadeamento de ações decorrentes.Os resulta<strong>do</strong>s das estratégias a<strong>do</strong>tadas poderão ser maximiza<strong>do</strong>s pela atuação competentedas Comissões Bipartites e <strong>do</strong>s Conselhos Sociais de cada sistema local de saúde.Além disso, a flexibilidade parcial <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s recursos <strong>do</strong> Teto Financeiro de Epidemiologiae Controle de Doenças pode propiciar a construção de modelos de gestão, pauta<strong>do</strong>s noconceito de vigilância à saúde, com vistas a impulsionar o processo de atenção integral àsaúde da população brasileira.34 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


CAPÍTULO 22Investigaçãoepidemiológica decasos e epidemias


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasA ocorrência de casos novos de uma <strong>do</strong>ença (transmissível ou não) ou agravo (inusita<strong>do</strong>ou não), passíveis de prevenção e controle pelos serviços de saúde, indica que a populaçãoestá sob risco e pode representar ameaças à saúde que precisam ser detectadase controladas ainda em seus estágios iniciais. Uma das possíveis explicações para que talsituação se concretize encontra-se no controle inadequa<strong>do</strong> de fatores de risco, por falhasna assistência à saúde e/ou medidas de proteção, tornan<strong>do</strong> imperativa a necessidade de seuesclarecimento para que sejam a<strong>do</strong>tadas as medidas de prevenção e controle pertinentes.Nestas circunstâncias, a investigação epidemiológica de casos e epidemias constitui atividadeobrigatória de qualquer sistema local de vigilância epidemiológica.A investigação epidemiológica deve ser iniciada imediatamente após a notificação decasos isola<strong>do</strong>s ou agrega<strong>do</strong>s de <strong>do</strong>enças/agravos, quer sejam suspeitos, clinicamente declara<strong>do</strong>sou mesmo contatos, para os quais, as autoridades sanitárias considerem necessáriodispor de informações complementares.2Investigação epidemiológica é um trabalho de campo, realiza<strong>do</strong> a partir de casos notifica<strong>do</strong>s(clinicamente declara<strong>do</strong>s ou suspeitos) e seus contatos, que tem por principaisobjetivos: identificar a fonte de infecção e o mo<strong>do</strong> de transmissão; os grupos expostosa maior risco e os fatores de risco; bem como confirmar o diagnóstico e determinar asprincipais características epidemiológicas. O seu propósito final é orientar medidasde controle para impedir a ocorrência de novos casos.A necessidade de uma resposta rápida, para que as medidas de controle possam serinstituídas, muitas vezes determina que alguns procedimentos utiliza<strong>do</strong>s não apresentem origor necessário para o estabelecimento de uma relação causal. Portanto, embora a investigaçãoepidemiológica de campo apresente diversas semelhanças com a pesquisa epidemiológica,distingue-se desta principalmente por duas diferenças importantes:• as investigações epidemiológicas de campo iniciam-se, com freqüência, sem hipóteseclara. Geralmente, requerem o uso de estu<strong>do</strong>s descritivos para a formulação dehipóteses que posteriormente deverão ser testadas por meio de estu<strong>do</strong>s analíticos −na maioria das vezes, estu<strong>do</strong>s de caso-controle;• quan<strong>do</strong> ocorrem problemas agu<strong>do</strong>s que implicam em medidas imediatas de proteçãoà saúde da comunidade, a investigação de campo deve restringir a coleta <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s eagilizar sua análise, com vistas ao desencadeamento imediato das ações de controle.A gravidade <strong>do</strong> evento representa um fator que condiciona a urgência no curso da investigaçãoepidemiológica e na implementação de medidas de controle. Em determinadas situações,especialmente quan<strong>do</strong> a fonte e o mo<strong>do</strong> de transmissão já são evidentes, as ações decontrole devem ser instituídas durante ou até mesmo antes da realização da investigação.A orientação <strong>do</strong> tratamento <strong>do</strong>s pacientes e, principalmente, a definição e adequaçãodas medidas de controle, que devem ser a<strong>do</strong>tadas em tempo hábil, ou seja, antes que oevento atinja maiores dimensões, dependem fundamentalmente das informações coletadasdurante a investigação. Assim, esta atividade da vigilância epidemiológica deve ser entendi-Secretaria de Vigilância em Saúde / MS37


Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemiasda como um desafio para a resolução de um problema de saúde individual, de algum mo<strong>do</strong>relaciona<strong>do</strong> a outros indivíduos da comunidade e que, portanto, pode estar representan<strong>do</strong>sério risco à população.Uma investigação epidemiológica envolve o exame <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente e de seus contatos, comdetalhamento da história clínica e de da<strong>do</strong>s epidemiológicos, além da coleta de amostraspara laboratório (quan<strong>do</strong> indicada), busca de casos adicionais, identificação <strong>do</strong>(s) agente(s)infeccioso(s) quan<strong>do</strong> se tratar de <strong>do</strong>ença transmissível, determinação de seu mo<strong>do</strong> de transmissãoou de ação, busca de locais contamina<strong>do</strong>s ou de vetores e identificação de fatoresque tenham contribuí<strong>do</strong> para a ocorrência <strong>do</strong>s casos. O exame cuida<strong>do</strong>so <strong>do</strong> caso e de seuscomunicantes é fundamental, pois, dependen<strong>do</strong> da enfermidade, pode-se identificar suasformas iniciais e instituir rapidamente o tratamento (com maior probabilidade de sucesso)ou proceder o isolamento, visan<strong>do</strong> evitar a progressão da <strong>do</strong>ença na comunidade.Pode-se dizer, de mo<strong>do</strong> sintético, que uma investigação epidemiológica de campo consistena repetição das etapas listadas a seguir, até que os objetivos sejam alcança<strong>do</strong>s:• consolidação e análise de informações já disponíveis;• conclusões preliminares a partir dessas informações;• apresentação das conclusões preliminares e formulação de hipóteses;• definição e coleta das informações necessárias para testar as hipóteses;• reformulação das hipóteses preliminares, caso não sejam confirmadas, e comprovaçãoda nova conjectura, caso necessária;• definição e a<strong>do</strong>ção de medidas de prevenção e controle, durante to<strong>do</strong> o processo.De mo<strong>do</strong> geral, quan<strong>do</strong> da suspeita de <strong>do</strong>ença transmissível de notificação compulsória,o profissional da vigilância epidemiológica deve buscar responder várias questõesessenciais para o controle da <strong>do</strong>ença. Dentre elas, destacam-se:Investigação epidemiológicaQuestões a serem respondidasTrata-se realmente de casos da <strong>do</strong>ença que se suspeita?Quais são os principais atributos individuais <strong>do</strong>s casos?A partir <strong>do</strong> quê ou de quem foi contraída a <strong>do</strong>ença?Como o agente da infecção foi transmiti<strong>do</strong> aos <strong>do</strong>entes?Outras pessoas podem ter si<strong>do</strong> infectadas/afetadasa partir da mesma fonte de infecção?A quem os casos investiga<strong>do</strong>s podem ter transmiti<strong>do</strong>a <strong>do</strong>ença?Que fatores determinaram a ocorrência da <strong>do</strong>ença oupodem contribuir para que os casos possam transmitira <strong>do</strong>ença a outras pessoas?Durante quanto tempo os <strong>do</strong>entes podem transmitir a <strong>do</strong>ença?Como os casos encontram-se distribuí<strong>do</strong>s no espaçoe no tempo?Como evitar que a <strong>do</strong>ença atinja outras pessoas ouse dissemine na população?Informações produzidasConfirmação <strong>do</strong> diagnósticoIdentificação de características biológicas,ambientais e sociaisFonte de infecçãoMo<strong>do</strong> de transmissãoDeterminação da abrangência da transmissãoIdentificação de novos casos/contatos/comunicantesIdentificação de fatores de riscoDeterminação <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeDeterminação de agregação espacial e/outemporal <strong>do</strong>s casosMedidas de controle38 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasO profissional responsável pela investigação epidemiológica deve estar atento paraorientar seu trabalho na perspectiva de buscar respostas às questões acima referidas. Deveentender, ainda, que muitos passos desta atividade são realiza<strong>do</strong>s de mo<strong>do</strong> simultâneo e quea ordem aqui apresentada deve-se apenas a razões didáticas.Investigação de casos de uma <strong>do</strong>ençaEm geral, os pacientes que apresentam quadro clínico compatível com <strong>do</strong>ença incluídana lista de notificação compulsória, ou algum agravo inusita<strong>do</strong>, necessitam de atenção especialtanto da rede de assistência à saúde quanto <strong>do</strong>s serviços de vigilância epidemiológica, osquais devem ser prontamente disponibiliza<strong>do</strong>s. Salientam-se, portanto, os procedimentos aseguir descritos.Assistência médica ao paciente − primeira providência a ser tomada no senti<strong>do</strong> deminimizar as conseqüências <strong>do</strong> agravo para o indivíduo. Quan<strong>do</strong> a <strong>do</strong>ença for de transmissãopessoa a pessoa, o tratamento contribui para reduzir o risco de transmissão. Portanto,dependen<strong>do</strong> da magnitude <strong>do</strong> evento, a equipe de vigilância epidemiológica deve buscararticulação com os responsáveis pela rede de assistência à saúde, para que seja organiza<strong>do</strong>o atendimento à população.Qualidade da assistência − verificar se os casos estão sen<strong>do</strong> atendi<strong>do</strong>s em unidadede saúde com capacidade para prestar assistência adequada e oportuna, de acor<strong>do</strong> com ascaracterísticas clínicas da <strong>do</strong>ença.Proteção individual − quan<strong>do</strong> necessário, a<strong>do</strong>tar medidas de isolamento, consideran<strong>do</strong>a forma de transmissão da <strong>do</strong>ença (entérica, respiratória, reversa, etc.).Proteção da população − logo após suspeita diagnóstica, a<strong>do</strong>tar as medidas de controlecoletivas específicas para cada tipo de <strong>do</strong>ença.2Os fundamentos de uma investigação de campo são aplica<strong>do</strong>s tanto para o esclarecimentoda ocorrência de casos como de epidemias. Várias etapas são comuns a ambassituações, sen<strong>do</strong> que para a segunda alguns procedimentos complementares são necessários.Para facilitar o trabalho <strong>do</strong>s profissionais, apresenta-se em primeiro lugaro roteiro de investigação de casos, com as atividades comuns a qualquer investigaçãoepidemiológica de campo, inclusive de epidemias. Posteriormente, são descritas asetapas específicas para esta última situação.Roteiro de investigação de casosNeste item, são descritas de forma sucinta as várias etapas de uma investigação epidemiológica.Embora apresentadas em seqüência, algumas delas são desenvolvidas paralela esimultaneamente, visto tratar-se de um processo dinâmico.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS39


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasEtapa 1. Coleta de da<strong>do</strong>s sobre os casosEm geral, as unidades de saúde dispõem de formulários padroniza<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Sinan(Ficha de Investigação Epidemiológica) para a maioria das <strong>do</strong>enças incluídas no sistemade vigilância epidemiológica (ver como exemplo a Ficha Epidemiológica de Dengue noAnexo 1).Quan<strong>do</strong> se tratar de evento inusita<strong>do</strong>, uma ficha de investigação especial deverá serelaborada, consideran<strong>do</strong>-se as características clínicas e epidemiológicas da <strong>do</strong>ença/agravo suspeito.O preenchimento desta ficha deve ser muito cuida<strong>do</strong>so, registran<strong>do</strong>-se com o máximode exatidão possível as informações de to<strong>do</strong>s os seus campos. O investiga<strong>do</strong>r poderá acrescentarnovos itens que considere relevantes. O espaço reserva<strong>do</strong> para “observações” deve ser utiliza<strong>do</strong>para anotar informações adicionais que possam ajudar no esclarecimento <strong>do</strong> evento.Da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s mediante entrevista com o paciente, familiares, médicos e outros informantes:Identificação <strong>do</strong> paciente − nome, idade, sexo, esta<strong>do</strong> civil, profissão, local de trabalhoe de residência, com ponto de referência;Anamnese e exame físico − data de início <strong>do</strong>s primeiros sintomas, história da moléstiaatual, antecedentes mórbi<strong>do</strong>s, antecedentes vacinais, mudanças de hábitos nos diasantecedentes aos sintomas e da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> exame físico;Suspeita diagnóstica − na pendência de da<strong>do</strong>s complementares para firmar o diagnóstico,devem ser formuladas as principais suspeitas visan<strong>do</strong> possibilitar a definição demedidas de controle preliminares e a solicitação de exames laboratoriais;Meio ambiente − depende <strong>do</strong> tipo de <strong>do</strong>ença investigada. Por exemplo, se a suspeitafor uma <strong>do</strong>ença de veiculação hídrica são essenciais as informações sobre o sistema de abastecimentoe o tratamento de água, bem como o destino de resíduos líqui<strong>do</strong>s, sóli<strong>do</strong>s e lixo,alagamentos, chuvas; em outros casos, podem estar envolvi<strong>do</strong>s insetos vetores, inseticidase pesticidas, etc.;Exames laboratoriais − devem ser solicita<strong>do</strong>s com vistas ao esclarecimento <strong>do</strong> diagnóstico<strong>do</strong> paciente, fontes de contaminação, veículo de transmissão e pesquisa de vetores,conforme cada situação.É importante salientar que embora os exames laboratoriais representem importantecontribuição para a conclusão diagnóstica, em muitas ocasiões não se faz necessário aguardaros seus resulta<strong>do</strong>s para dar início às medidas de controle.Etapa 2. Busca de pistasEsta é uma etapa essencial da investigação epidemiológica, pois visa buscar subsídiosque permitirão responder a várias das questões formuladas. Cabe ao investiga<strong>do</strong>r, consideran<strong>do</strong>os da<strong>do</strong>s já coleta<strong>do</strong>s nas etapas anteriores, estabelecer que outras informações são importantespara o esclarecimento <strong>do</strong> evento, sen<strong>do</strong> relevante para este raciocínio identificar:• fontes de infecção (a exemplo de água, alimentos, ambiente insalubre, etc.);40 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias• perío<strong>do</strong> de incubação <strong>do</strong> agente;• mo<strong>do</strong>s de transmissão (respiratória, sexual, vetorial, etc.);• faixa etária, sexo, raça e grupos sociais mais acometi<strong>do</strong>s (características biológicase sociais);• presença de outros casos na localidade (abrangência da transmissão);• possibilidade da existência de vetores liga<strong>do</strong>s à transmissão da <strong>do</strong>ença;• fatores de risco: época em que ocorreu (estação <strong>do</strong> ano); ocupação <strong>do</strong> indivíduo; situaçãode saneamento na área de ocorrência <strong>do</strong>s casos (fonte de suprimento de água,destino <strong>do</strong>s dejetos e <strong>do</strong> lixo, etc.); outros aspectos relevantes das condições de vidanas áreas de procedência <strong>do</strong>s casos (hábitos alimentares, aspectos socioeconômicos,etc.); potenciais riscos ambientais (físicos, químicos, biológicos, etc.).2As equipes de outras áreas devem ser acionadas para troca de informações e complementaçãode da<strong>do</strong>s a serem utiliza<strong>do</strong>s nas análises (parciais e final), no senti<strong>do</strong> de permitiruma caracterização mais abrangente <strong>do</strong> evento e orientar os passos seguintes da investigação.Ou seja, a avaliação dessas e de outras variáveis, em seu conjunto, fornecerão aspistas que contribuirão para a identificação <strong>do</strong> problema e a tomada de medidas mais específicasorientadas para o seu controle.Etapa 3. Busca ativa de casosO propósito desta etapa é identificar casos adicionais (secundários ou não) ainda nãonotifica<strong>do</strong>s ou aqueles oligossintomáticos que não buscaram atenção médica, e tem comofinalidade:• tratar adequadamente esses casos;• determinar a magnitude e extensão <strong>do</strong> evento;• ampliar o espectro das medidas de controle.Para isso, deve-se identificar e proceder a investigação de casos similares no espaçogeográfico onde houver suspeita da existência de contatos e/ou fonte de contágio ativa. Estabusca de casos pode ser restrita a um <strong>do</strong>micílio, rua ou bairro e/ou ser realizada em todasas unidades de saúde (centros, postos de saúde, consultórios, clínicas privadas, hospitais,laboratórios, etc.), ou ainda ultrapassar as barreiras geográficas de municípios ou esta<strong>do</strong>s,conforme as correntes migratórias ou características <strong>do</strong>s veículos de transmissão.Etapa 4. Processamento e análises parciais <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sNa medida em que se dispor de novos da<strong>do</strong>s/informações, deve-se sempre procederanálises parciais visan<strong>do</strong> definir o passo seguinte, até que a conclusão da investigação e asmedidas de controle tenham se mostra<strong>do</strong> efetivas. A consolidação, análise e interpretação<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s disponíveis devem considerar as características de pessoa, tempo, lugar e osaspectos clínicos e epidemiológicos, para a formulação de hipóteses quanto ao diagnósticoclínico, fonte de transmissão, potenciais riscos ambientais e efetividade das medidas decontrole a<strong>do</strong>tadas até o momento.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS41


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasQuan<strong>do</strong> a investigação não se referir a casos isola<strong>do</strong>s, os da<strong>do</strong>s colhi<strong>do</strong>s deverão serconsolida<strong>do</strong>s em tabelas, gráficos, mapas da área em estu<strong>do</strong>, fluxos de pacientes e outros.Essa disposição fornecerá uma visão global <strong>do</strong> evento, permitin<strong>do</strong> a avaliação de acor<strong>do</strong>com as variáveis de tempo, espaço e pessoas (quan<strong>do</strong>? onde? quem?), possível relação causal(por quê?), e deverá ser comparada com a informação referente a perío<strong>do</strong>s semelhantesde anos anteriores.Uma vez processa<strong>do</strong>s, os da<strong>do</strong>s deverão ser analisa<strong>do</strong>s criteriosamente. Quanto maisoportuna e adequada for a análise, maior será a efetividade desta atividade, pois orientarácom mais precisão o processo de decisão-ação.Etapa 5. Encerramento de casosNesta etapa da investigação epidemiológica, as fichas epidemiológicas de cada casodevem ser analisadas visan<strong>do</strong> definir qual critério (clínico-epidemiológico-laboratorial; clínico-laboratorial;clínico-epidemiológico) foi ou será emprega<strong>do</strong> para o diagnóstico final,consideran<strong>do</strong> as definições de caso específicas para cada <strong>do</strong>ença, de acor<strong>do</strong> com as instruçõesconstantes neste Guia.Etapa 6. Relatório finalOs da<strong>do</strong>s da investigação deverão ser sumariza<strong>do</strong>s em um relatório que inclua a descrição<strong>do</strong> evento (todas as etapas da investigação), destacan<strong>do</strong>-se:• causa da ocorrência, indican<strong>do</strong>, inclusive, se houve falhas da vigilância epidemiológicae/ou <strong>do</strong>s serviços de saúde e quais providências foram a<strong>do</strong>tadas para sua correção;• se as medidas de prevenção implementadas em curto prazo estão sen<strong>do</strong> executadas;• descrição das orientações e recomendações, a médio e longo prazos, a serem instituídastanto pela área de saúde quanto de outros setores;• alerta às autoridades de saúde <strong>do</strong>s níveis hierárquicos superiores, nas situações quecoloquem sob risco outros espaços geopolíticos.Em situações de eventos inusita<strong>do</strong>s, após a coleta <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s primeiros casos,deve-se padronizar o conjunto de manifestações clínicas e evidências epidemiológicas,definin<strong>do</strong>-se o que será considera<strong>do</strong> como “caso”.Este <strong>do</strong>cumento deverá ser envia<strong>do</strong> aos profissionais que prestaram assistência médicaaos casos, bem como aos participantes da investigação clínica e epidemiológica, representantesda comunidade, autoridades locais, administração central <strong>do</strong>s órgãos responsáveispela investigação e controle <strong>do</strong> evento.Investigação de surtos e epidemiasOs primeiros casos de uma epidemia, em uma determinada área, sempre devem sersubmeti<strong>do</strong>s à investigação em profundidade. A magnitude, extensão, natureza <strong>do</strong> evento,42 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemiasforma de transmissão e tipo de medidas de controle indicadas (individuais, coletivas ouambientais) são alguns elementos que orientam a equipe sobre a necessidade de investigarto<strong>do</strong>s ou apenas uma amostra <strong>do</strong>s casos.O principal objetivo da investigação de uma epidemia ou surto de determinada <strong>do</strong>ençainfecciosa é identificar formas de interromper a transmissão e prevenir a ocorrência denovos casos. As epidemias também devem ser encaradas como experimentos naturais, cujainvestigação permite a identificação de novas questões a serem objeto de pesquisas, e seusresulta<strong>do</strong>s poderão contribuir para o aprimoramento das ações de controle.É essencial a detecção precoce de epidemias/surtos para que as medidas de controlesejam a<strong>do</strong>tadas oportunamente, de mo<strong>do</strong> que grande número de casos e óbitos possam serpreveni<strong>do</strong>s. Além da prevenção de novos casos e surtos, a investigação desse tipo de eventopode contribuir para a descoberta de novos agentes, novas <strong>do</strong>enças e novos tratamentos,além de ampliar o conhecimento sobre novas <strong>do</strong>enças e as já conhecidas e fazer com que apopulação passe a ter mais confiança no serviço público de saúde.2Epidemia – elevação <strong>do</strong> número de casos de uma <strong>do</strong>ença ou agravo, em determina<strong>do</strong>lugar e perío<strong>do</strong> de tempo, caracterizan<strong>do</strong> de forma clara um excesso em relação àfreqüência esperada.Surto – tipo de epidemia em que os casos se restringem a uma área geográfica pequena ebem delimitada ou a uma população institucionalizada (creches, quartéis, escolas, etc.).Planejamento <strong>do</strong> trabalho de campoAntes de iniciar o trabalho de investigação, os profissionais da vigilância epidemiológicadeverão procurar apreender o conhecimento disponível acerca da <strong>do</strong>ença que se suspeitaestar causan<strong>do</strong> a epidemia, e ainda:• verificar o material e equipamentos necessários para realizar a investigação;• prever a necessidade de viagens, insumos e outros recursos que dependam de aprovaçãode terceiros, para as devidas providências;• definir, junto aos superiores, seus papéis no processo de investigação (executor, assessorda equipe local, líder da investigação, etc.);• constituir equipes multiprofissionais, se necessário. Nestes casos, o problema e asatividades específicas a serem desenvolvidas deverão ser discuti<strong>do</strong>s previamente emconjunto, bem como as respectivas atribuições;• a equipe deve partir para o campo com informações acerca <strong>do</strong> encaminhamentode pacientes para tratamento (unidades básicas e de maior complexidade, quan<strong>do</strong>indica<strong>do</strong>), material para coleta de amostras biológicas, roteiro de procedimentode coletas, procedimentos para transporte de amostras, laboratórios de referências,dentre outras.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS43


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasRoteiro de investigação de epidemia ou surtoEtapa 1. Confirmação <strong>do</strong> diagnóstico da <strong>do</strong>ençaQuan<strong>do</strong> da ocorrência de uma epidemia, torna-se necessário verificar se a suspeitadiagnóstica inicial enquadra-se na definição de caso suspeito ou confirma<strong>do</strong> da <strong>do</strong>ençaem questão, à luz <strong>do</strong>s critérios defini<strong>do</strong>s pelo sistema de vigilância epidemiológica (videcapítulos específicos deste Guia). Para isso, deve-se proceder, imediatamente, as etapas 1e 2 apresentadas no roteiro de investigação de casos, pois os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s nestas etapasservirão tanto para confirmar a suspeita diagnóstica como para fundamentar os demaispassos da investigação da epidemia.Deve-se estar atento para que, na definição de caso, não seja incluída uma exposiçãoou fator de risco que se deseja testar.Em geral, no início da investigação, emprega-se uma definição de caso mais sensível,que abrange casos confirma<strong>do</strong>s e prováveis (e até mesmo os possíveis), a fim de facilitar aidentificação, a extensão <strong>do</strong> problema e os grupos populacionais mais atingi<strong>do</strong>s, processoque pode levar a hipóteses importantes. Somente quan<strong>do</strong> as hipóteses se tornarem maisclaras o investiga<strong>do</strong>r utilizará uma definição mais específica e restrita. Neste caso, por teremsi<strong>do</strong> excluí<strong>do</strong>s os “falsos-positivos”, será possível testar hipóteses aplican<strong>do</strong> o instrumentalda epidemiologia analítica.Para <strong>do</strong>enças incluídas no Sistema de Vigilância Epidemiológica utilizam-se as definiçõespadronizadas encontradas nos itens específicos deste Guia. Quan<strong>do</strong> se tratar de agravoinusita<strong>do</strong>, após a coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicos, estabelece-se uma definiçãode “caso” com sensibilidade suficiente para identificar o maior número de suspeitos. Estadefinição também poderá ser aperfeiçoada no decorrer da investigação, quan<strong>do</strong> já se dispuserde mais informações sobre as manifestações clínicas da <strong>do</strong>ença, área de abrangência<strong>do</strong> evento, grupos de risco, etc.De acor<strong>do</strong> com a suspeita, um plano diagnóstico deve ser defini<strong>do</strong> para orientar a coletade material para exames laboratoriais, envolven<strong>do</strong>, a depender da <strong>do</strong>ença, amostra proveniente<strong>do</strong>s indivíduos (fezes, sangue, líquor, etc.) e <strong>do</strong> ambiente (água, vetores, mechas, etc.).Etapa 2. Confirmação da existência de epidemia ou surtoO processo de confirmação de uma epidemia ou surto envolve o estabelecimento <strong>do</strong>diagnóstico da <strong>do</strong>ença e <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> epidêmico − o qual diz respeito a uma situação dinâmicae transitória, ainda que possa ser prolongada, caracterizada pela ocorrência de um númeroinfreqüente de casos em da<strong>do</strong> momento e lugar. Consideran<strong>do</strong>-se que freqüência inusitada,tempo e lugar são aspectos fundamentais para estabelecer fidedignamente um esta<strong>do</strong>epidêmico, torna-se imprescindível conhecer a freqüência habitual (nível endêmico) dessescasos naquele lugar e perío<strong>do</strong>. A confirmação decorre da comparação <strong>do</strong>s coeficientes deincidência (ou <strong>do</strong> número de casos novos) da <strong>do</strong>ença no momento da ocorrência <strong>do</strong> eventoinvestiga<strong>do</strong> com aqueles usualmente verifica<strong>do</strong>s na mesma população (ver Anexo 2).44 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasQuan<strong>do</strong> <strong>do</strong> diagnóstico de uma epidemia, faz-se importante observar os cuida<strong>do</strong>s necessáriospara o descarte de uma série de outras circunstâncias que não uma epidemia, asquais podem explicar porque o número de casos da <strong>do</strong>ença superou o valor espera<strong>do</strong>, taiscomo:• mudanças na nomenclatura da <strong>do</strong>ença;• alteração no conhecimento da <strong>do</strong>ença que resulte no aumento da sensibilidadediagnóstica;• melhoria <strong>do</strong> sistema de notificação;• variação sazonal;• implantação ou implementação de programa de saúde que resulte no aumento dasensibilidade de detecção de casos.2Breve análise da tendência temporal da <strong>do</strong>ença deve ser realizada imediatamente, paraque se disponha de uma síntese de sua história natural (a <strong>do</strong>ença vinha apresentan<strong>do</strong> tendênciaestacionária, ascendente, descendente ou com oscilação periódica?).Etapa 3. Caracterização da epidemiaAs informações disponíveis devem ser organizadas de forma a permitir analisar algumascaracterísticas e responder questões relativas à sua distribuição no tempo, lugar epessoa. Por exemplo:Relativas ao tempo− Qual o perío<strong>do</strong> de duração da epidemia?− Qual o perío<strong>do</strong> provável de exposição?Como o perío<strong>do</strong> de incubação das <strong>do</strong>enças é variável, a curva epidêmica (representaçãográfica da distribuição <strong>do</strong>s casos ocorri<strong>do</strong>s durante o perío<strong>do</strong> epidêmico, de acor<strong>do</strong>com a data <strong>do</strong> início da <strong>do</strong>ença) expressa a dispersão <strong>do</strong>s perío<strong>do</strong>s de incubação indivi duais,em torno de uma média na qual a maioria <strong>do</strong>s casos está agrupada (ver Anexos 3 e 4). Umaspecto importante a ser considera<strong>do</strong> na construção desta curva é a escolha <strong>do</strong> intervalo detempo adequa<strong>do</strong> para o registro <strong>do</strong>s casos. Na escolha desse intervalo, um critério útil é queo mesmo se situe entre 1/8 e 1/4 <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de incubação da <strong>do</strong>ença em questão.Relativas ao lugar (distribuição espacial)− Qual a distribuição geográfica pre<strong>do</strong>minante? Bairro de residência, escola, localde trabalho ou outra?A análise espacial permite identificar se o surto/epidemia afeta uniformemente toda aárea, ou se há locais que concentram maior número de casos e de maior risco. Por exemplo,quan<strong>do</strong> a distribuição apresenta uma concentração <strong>do</strong>s mesmos em determina<strong>do</strong> ponto,isto sugere que a água, alimento ou outras fontes comuns, possam ser os possíveis veículosde transmissão.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS45


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasRelativas às pessoas− Quais são os grupos etários e sexo mais atingi<strong>do</strong>s?− Quais são os grupos, segun<strong>do</strong> o sexo e idade, expostos a maior risco de a<strong>do</strong>ecer?− Que outras características distinguem os indivíduos afeta<strong>do</strong>s da população geral?A descrição <strong>do</strong>s casos deve considerar as características individuais (sexo, idade, etnia,esta<strong>do</strong> imunitário, esta<strong>do</strong> civil), atividades (trabalho, esporte, práticas religiosas, costumes,etc.) e condições de vida (estrato social, condições ambientais, situação econômica).A caracterização de uma epidemia é muito útil para a elaboração de hipóteses comvistas à identificação das fontes e mo<strong>do</strong>s de transmissão, além de auxiliar na determinaçãode sua duração.Etapa 4. Formulação de hipóteses preliminaresEmbora, na realidade, o desenvolvimento de conjecturas ocorra desde o momentode conhecimento da epidemia, a leitura das informações relativas à pessoa, tempo e lugarpossibilita a formulação de hipóteses mais consistentes e precisas.As hipóteses devem ser testáveis, uma vez que esta avaliação constitui uma das etapasda investigação epidemiológica.Hipóteses provisórias são elaboradas com base nas informações obtidas anteriormente(análise da distribuição segun<strong>do</strong> características de pessoa, tempo e lugar) e na análise dacurva epidêmica, já que esta representa um fato biológico a partir <strong>do</strong> qual pode-se extrairuma série de conclusões, tais como: se a disseminação da epidemia ocorreu por veículocomum, por transmissão pessoa a pessoa ou por ambas as formas; provável perío<strong>do</strong> de exposição<strong>do</strong>s casos às fontes de infecção; perío<strong>do</strong> de incubação; provável agente causal.Pela curva epidêmica <strong>do</strong> evento pode-se perceber se o perío<strong>do</strong> de exposição foi curtoou longo, se a epidemia está em ascensão ou declínio e se tem perío<strong>do</strong>s (dias, meses) deremissão e recrudescimento de casos, dentre outras informações.No contexto da investigação de uma epidemia, as hipóteses são formuladas com vistasa determinar a fonte de infecção, o perío<strong>do</strong> de exposição <strong>do</strong>s casos à mesma, o mo<strong>do</strong> detransmissão, a população exposta a um maior risco e o agente etiológico.De maneira geral, a hipótese relativa à fonte de infecção e mo<strong>do</strong> de transmissão podeser comprovada quan<strong>do</strong>:• a taxa de ataque para expostos for maior que para não expostos e a diferença entreelas, estatisticamente significante;• nenhum outro mo<strong>do</strong> de transmissão pode determinar a ocorrência de casos commesma distribuição geográfica e etária.Avaliação de hipóteses – quan<strong>do</strong> as evidências epidemiológicas, clínicas, laboratoriaise ambientais são suficientes para apoiar as hipóteses, torna-se desnecessário o seu testeformal pois os fatos estabeleci<strong>do</strong>s são suficientes. Entretanto, quan<strong>do</strong> as circunstâncias são46 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemiasmenos evidentes, deve-se lançar mão da epidemiologia analítica cuja característica principalé a utilização de um grupo de comparação. Nesta circunstância podem ser emprega<strong>do</strong>sos estu<strong>do</strong>s tipo caso-controle. Ressalte-se que estas estratégias são também utilizadas para orefinamento de hipóteses inicialmente não bem fundamentadas ou quan<strong>do</strong> da necessidadede estu<strong>do</strong>s adicionais.Etapa 5. Análises parciaisEm cada etapa da investigação e com periodicidade definida de acor<strong>do</strong> com a magnitudee gravidade <strong>do</strong> evento (diária, semanal, mensal), deve-se realizar os seguintes procedimentos:• consolidação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s disponíveis, de acor<strong>do</strong> com as características de pessoa,tempo e lugar;• análises preliminares <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicos;• discussão das análises com outros profissionais;• formulação de hipóteses quanto ao diagnóstico clínico, fonte de transmissão e potenciaisriscos ambientais;• identificação de informações adicionais, necessárias para a elucidação das hipóteseslevantadas e a continuidade da investigação;• identificação de informações adicionais, necessárias para a avaliação da efetividadedas medidas de controle a<strong>do</strong>tadas;• definição de outras medidas de controle, quan<strong>do</strong> necessárias.2Etapa 6. Busca ativa de casosObjetiva reconhecer e proceder a investigação de casos similares no espaço geográficoonde haja suspeita da existência de contatos e/ou fonte de contágio ativa, cuja abrangência,conforme descrito na investigação de caso, é mais ou menos ampla em função <strong>do</strong>sda<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s nas etapas anteriores. Caso necessário, as equipes de outras áreas devemser acionadas para troca de informações e complementação de da<strong>do</strong>s a serem utiliza<strong>do</strong>snas análises (parciais e final), visan<strong>do</strong> caracterizar o evento e orientar os novos passos dainvestigação.Etapa 7. Busca de da<strong>do</strong>s adicionaisQuan<strong>do</strong> necessário, pode-se conduzir uma investigação minuciosa de to<strong>do</strong>s os casos oude amostra representativa <strong>do</strong>s mesmos, visan<strong>do</strong> esclarecer/fortalecer as hipóteses iniciais.Etapa 8. Análise finalOs da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s são consolida<strong>do</strong>s em tabelas, gráficos, mapas da área em estu<strong>do</strong> efluxos de pacientes. Essa disposição fornece uma visão global <strong>do</strong> evento, permitin<strong>do</strong> a avaliaçãode acor<strong>do</strong> com as variáveis de tempo, espaço, pessoa (quan<strong>do</strong>? onde? quem?) e a relaçãocausal (por quê?) que deverá ser compara da com perío<strong>do</strong>s semelhantes de anos anteriores.É importante lembrar que em situações epidêmicas, além das freqüências simples,torna-se necessário calcular os indica<strong>do</strong>res epidemiológicos (coeficientes de incidência,Secretaria de Vigilância em Saúde / MS47


Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemiasletalidade e mortalidade). Uma vez processa<strong>do</strong>s, os da<strong>do</strong>s deverão ser analisa<strong>do</strong>s criteriosamente.Quanto mais oportuna e adequada for a análise, maiores serão as possibilidades deprecisão, sob bases firmes, <strong>do</strong> processo de decisão-ação.Caso as informações não sejam suficientes para uma conclusão sobre o mecanismocausal <strong>do</strong> evento, em algumas situações deve-se proceder ou sugerir a realização de pesquisaepidemiológica (caso-controle, prevalência) capaz de verificar a existência de associaçõesou mesmo testar as hipóteses levantadas.Etapa 9. Medidas de controleLogo após a identificação das fontes de infecção, mo<strong>do</strong> de transmissão e populaçãoexposta a eleva<strong>do</strong> risco de infecção, devem ser recomendadas as medidas adequadas decontrole, bem como um relatório circunstancia<strong>do</strong>, a ser amplamente divulga<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s osprofissionais de saúde envolvi<strong>do</strong>s no processo.Na realidade, quan<strong>do</strong> se conhece a fonte de um surto/epidemia, as medidas de controledevem ser imediatamente implementadas, pois este é o objetivo primordial da maioriadas investigações epidemiológicas. As medidas podem ser direcionadas para qualquer eloda cadeia epidemiológica, quer seja o agente, fonte ou reservatórios específicos, visan<strong>do</strong>interromper a cadeia de transmissão ou reduzir a susceptibilidade <strong>do</strong> hospedeiro.Etapa 10. Relatório finalOs da<strong>do</strong>s da investigação devem ser sumariza<strong>do</strong>s em relatório que contenha a descrição<strong>do</strong> evento (todas as etapas da investigação), incluin<strong>do</strong> tabelas e gráficos, e as principaisconclusões e recomendações, das quais destacam-se:• situação epidemiológica atual <strong>do</strong> agravo;• causa da ocorrência, indican<strong>do</strong>, inclusive, se houve falhas da vigilância epidemiológicae/ou <strong>do</strong>s serviços de saúde e que providências foram ou serão a<strong>do</strong>tadas para adevida correção;• se as medidas de prevenção implementadas a curto prazo estão sen<strong>do</strong> executadas;• descrição das orientações e recomendações, a médio e longo prazos, a serem instituídastanto pela área de saúde quanto por outros setores;• alerta às autoridades de saúde <strong>do</strong>s níveis hierárquicos superiores, naquelas situaçõesque coloquem sob risco outros espaços geopolíticos.Etapa 11. DivulgaçãoO relatório deve ser envia<strong>do</strong> aos profissionais que prestaram assistência médica aoscasos, aos participantes da investigação clínica e epidemiológica, aos representantes da comunidade,às autoridades locais e à administração central <strong>do</strong>s órgãos responsáveis pelainvestigação e controle <strong>do</strong> evento. Sempre que possível, quan<strong>do</strong> se tratar de surto ou agravoinusita<strong>do</strong>, deve-se divulgar, por boletins, um resumo da investigação.48 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasCaracterísticas da investigação de surtosde <strong>do</strong>ença transmitida por alimento (DTA)Os surtos de <strong>do</strong>ença transmitida por alimento (DTA) possuem características que demandamprocedimentos especiais. Muitas vezes, é difícil estabelecer a etiologia da <strong>do</strong>ença,pois em geral estes surtos são produzi<strong>do</strong>s por vários agentes etiológicos e se expressam porvariadas manifestações clínicas. Por esta razão, diferentemente das outras <strong>do</strong>enças tambémimportantes para o Sistema de Vigilância Epidemiológica, não há definições de casos preestabelecidas.A notificação de casos só se torna obrigatória quan<strong>do</strong> da suspeita de ocorrênciade surto.Os propósitos fundamentais desta investigação são determinar as circunstâncias nasquais o surto foi produzi<strong>do</strong> e obter informações que possam orientar as medidas necessáriaspara evitar novos casos. As atividades desenvolvidas envolvem, basicamente, comensais,definição de caso e coleta de amostras clínicas, bromatológicas e toxicológicas, alémda inspeção sanitária. Como em outras situações epidêmicas, os da<strong>do</strong>s devem ser continuamenteanalisa<strong>do</strong>s para possibilitarem, paralelamente à investigação, a a<strong>do</strong>ção de medidas deprevenção e controle (processo informação-decisão-ação).O DTA será registra<strong>do</strong> no formulário Inquérito Coletivo de Surto de Doença Transmitidapor Alimento, disponível no Sinan.Investigações deste tipo de evento envolvem, obrigatoriamente, desde o primeiro momento,as vigilâncias epidemiológica e sanitária, e na maioria das vezes profissionais deoutros setores, tais como <strong>do</strong> Ministério da Agricultura, da indústria de alimentos (empresasprodutoras, fornece<strong>do</strong>ras e distribui<strong>do</strong>ras) e de companhias de abastecimento de água,dentre outros.As seguintes orientações devem ser feitas no momento da notificação:• evitar que os alimentos suspeitos continuem a ser consumi<strong>do</strong>s ou vendi<strong>do</strong>s;• guardar sob refrigeração todas as sobras de alimentos, na forma em que se encontramacondiciona<strong>do</strong>s, até a chegada <strong>do</strong> grupo encarrega<strong>do</strong> da investigação;• preservar as embalagens e respectivos acondicionamentos, quan<strong>do</strong> a suspeita estiverrelacionada a produtos industrializa<strong>do</strong>s;• orientar os <strong>do</strong>entes a não se automedicarem, mas, sim, a procurarem o serviço desaúde.2Planejamento das atividadesPor se tratar de evento muitas vezes grave, súbito e de curta duração, é essencial orápi<strong>do</strong> e adequa<strong>do</strong> planejamento das atividades a serem desenvolvidas, logo que se tenha oconhecimento da suspeita, atentan<strong>do</strong>-se especificamente para:• avaliar o quadro clínico <strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes, principalmente <strong>do</strong>s mais graves, visan<strong>do</strong> a obtençãode informações que orientem as hipóteses diagnóstica e terapêutica;• providenciar o meio de transporte (se necessário), os formulários e o material necessárioà coleta de amostras;Secretaria de Vigilância em Saúde / MS49


Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias• constituir uma equipe para participar da investigação e discutir, conjuntamente, sobreo problema e as atividades a serem desencadeadas;• informar a ocorrência <strong>do</strong> surto ao laboratório de referência para que prepare-se parareceber e processar as amostras;• iniciar rapidamente a investigação e coletar as amostras antes que os <strong>do</strong>entes recebammedicação e os alimentos suspeitos sejam descarta<strong>do</strong>s;• informar nível hierárquico superior.Em surtos de grande magnitude, a investigação pode ser feita por amostragem. Naimpossibilidade de realizar tal procedimento, deve-se entrevistar o maior número possívelde comensais.Roteiro da investigação de DTAA meto<strong>do</strong>logia da investigação epidemiológica é a mesma apresentada para os casos eepidemias. A seguir, detalhamos informações e procedimentos específicos para as etapas deeventos relaciona<strong>do</strong>s à toxiinfecção alimentar.Etapas 1 e 2Confirmação <strong>do</strong> diagnóstico da <strong>do</strong>ença e existência <strong>do</strong> surto: diagnosticar a <strong>do</strong>ençae identificar o(s) agente(s) etiológico(s) − obter da<strong>do</strong>s sobre os comensais (<strong>do</strong>entes e não<strong>do</strong>entes), alimentos ingeri<strong>do</strong>s (tipo, procedência, manipulação, acondicionamento), definiçãode caso para o evento específico (consideran<strong>do</strong> quadro clínico, perío<strong>do</strong> de incubação,tempo e lugar), coleta de amostras clínicas (de <strong>do</strong>entes, não <strong>do</strong>entes, manipula<strong>do</strong>res usuaise não usuais), inspeção sanitária (inspeção da cozinha e de manipula<strong>do</strong>res) e coleta deamostras bromatológicas e toxicológicas.Em seguida, verificar:• duração <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de incubação;• sintomas pre<strong>do</strong>minantes;• taxa de ataque global no grupo afeta<strong>do</strong>;• circunstâncias que envolveram o acidente.Para a identificação <strong>do</strong> agente causal, pode-se lançar mão de duas estratégias:• reduzir ao mínimo a lista de alimentos suspeitos, consideran<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>samente suaqualidade e as circunstâncias: bom meio de cultura (leite, cremes, etc.); exposição atemperatura ambiente; manipulação inadequada; oportunidades de contaminação;tempo transcorri<strong>do</strong> entre a manipulação e o consumo; procedência, etc;• realizar inquérito epidemiológico individual entre <strong>do</strong>entes e não <strong>do</strong>entes, incluin<strong>do</strong>coleta de material para exames (única possibilidade para se fazer diagnóstico laboratorialna ausência de sobras de alimentos).Confirmação da existência <strong>do</strong> surto – as DTA podem apresentar-se tanto sob a formade um surto resultante de exposição maciça comum de curta duração (partilhamento de50 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemiasrefeição em situações especiais: casamentos, aniversários, reuniões, etc.) ou como exposiçãomaciça comum prolongada (provocada por partida de alimento contamina<strong>do</strong>, acidentecom rede de abastecimento de água, etc.).Recomenda-se que sejam investiga<strong>do</strong>s:• os estabelecimentos onde o alimento suspeito foi prepara<strong>do</strong> e consumi<strong>do</strong>, particularmente:❯ o cardápio <strong>do</strong> dia em que ocorreu o surto;❯ a procedência e méto<strong>do</strong> de preparação <strong>do</strong>s alimentos constantes <strong>do</strong> cardápio;❯ os méto<strong>do</strong>s de armazenamento <strong>do</strong>s alimentos de fácil decomposição (antes e depoisde cozi<strong>do</strong>s);❯ a procedência <strong>do</strong>s alimentos servi<strong>do</strong>s;❯ a higiene e saúde <strong>do</strong>s manipula<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s alimentos;❯ a presença no corpo <strong>do</strong>s emprega<strong>do</strong>s de lesões nas mãos ou em qualquer partedescoberta ou processos supurativos da rinofaringe;❯ a evidência da presença de insetos e roe<strong>do</strong>res.2• as pessoas que estavam ou supunha-se estar presentes quan<strong>do</strong> os alimentos suspeitosforam servi<strong>do</strong>s e consumi<strong>do</strong>s (anotar da<strong>do</strong>s na ficha específica):❯ identificar os alimentos ingeri<strong>do</strong>s até 48 horas antes <strong>do</strong> aparecimento <strong>do</strong>s sintomas(na suspeita de febre tifóide, este perío<strong>do</strong> deve ser de 7-21 dias);❯ verificar os da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicos.• os pacientes hospitaliza<strong>do</strong>s ou atendi<strong>do</strong>s por médico particular:❯ obter da<strong>do</strong>s relativos a sintomas, laboratoriais e diagnóstico e tratamento.Etapas 3 e 4Caracterização da epidemia e formulação de hipóteses preliminares:• identificar a população acometida e/ou sob risco, de acor<strong>do</strong> com a característica <strong>do</strong>evento: comensais, não comensais, população que utiliza a mesma fonte de abastecimentode água, rastreamento da rede de distribuição <strong>do</strong>(s) alimento(s) suspeito(s),identificação <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res deste(s) alimento(s) segun<strong>do</strong> o local de ocorrênciae registro <strong>do</strong>s casos diagnostica<strong>do</strong>s consideran<strong>do</strong> a data de aparecimento <strong>do</strong>s sintomas,dentre outros;• a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s, formular hipóteses consideran<strong>do</strong> os fatores de riscoassocia<strong>do</strong>s ao surto e a possível fonte de infecção;• coletar amostras para exames laboratoriais (bromatológicos, toxicológicos, bacteriológicos)<strong>do</strong>s indivíduos (casos e não casos) e <strong>do</strong> ambiente, orientadas pelas hipótesesinicialmente formuladas.Etapas 5, 6 e 7Análise parcial, busca ativa de casos e de da<strong>do</strong>s adicionais:• verificar se as hipóteses formuladas estão consistentes com os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s e seSecretaria de Vigilância em Saúde / MS51


Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemiasas medidas de controle e tratamento a<strong>do</strong>tadas são consonantes com a possível fontede infecção, mo<strong>do</strong> de transmissão, possível agente causal, etc. Após esta análise preliminar,determinar se há necessidade de se realizar busca ativa de casos, de acor<strong>do</strong>com as orientações <strong>do</strong>s roteiros de investigação de casos e epidemias;• contatar com a pessoa/instituição responsável pela organização <strong>do</strong> evento (se a suspeitaocorreu em casamento, aniversário, confraternização, seminário, etc.) ou comos organismos responsáveis pelo abastecimento de água e/ou produção, armazenamentoe distribuição <strong>do</strong>s alimentos suspeitos.Teste de hipótese – dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> tipo, magnitude e abrangência <strong>do</strong> evento, muitasvezes faz-se necessário realizar um estu<strong>do</strong> de caso-controle para testar as hipóteses. Nestassituações, deve-se:• definir caso e não-caso: não incluir os fatores de risco que se deseja testar na definiçãode caso;• determinar o tamanho da amostra (pode ser calcula<strong>do</strong> no Epi-info);• definir o instrumento de coleta de informações (que pode ser a Ficha Individualde Investigação de DTA, disponível no Sinan. Pode-se acrescentar, caso necessário,variáveis específicas ao evento);• definir e fazer treinamento rápi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>res, para padronizar a coleta deinformações;• realizar o processamento e análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s;• interpretar os resulta<strong>do</strong>s.Quan<strong>do</strong> o nível local não dispuser de profissional capacita<strong>do</strong> para desenvolver estetipo de estu<strong>do</strong>, deve-se buscar apoio nos níveis hierárquicos superiores.Etapa 8Medidas de prevenção e controle:• evitar que os alimentos suspeitos continuem a ser consumi<strong>do</strong>s, distribuí<strong>do</strong>s e comercializa<strong>do</strong>s;• analisar e avaliar a cadeia alimentar envolvida, identifican<strong>do</strong> pontos críticos para ocontrole;• orientar quanto à mudança no processo de manipulação, produção, acondicionamento,armazenamento e/ou conservação <strong>do</strong> alimento;• manter a educação continuada <strong>do</strong>s profissionais envolvi<strong>do</strong>s no processo de produçãoe serviços;• estimular a implantação e implementação de normas e rotinas referentes ao assunto;• estabelecer e estimular um fluxo sistemático com outras instituições integrantes <strong>do</strong>processo, tais como Secretaria de Agricultura, universidades, Secretaria de Educação,Ação Social, Meio Ambiente, etc.;• garantir o acesso da população às informações e conhecimentos necessários à prevençãoe controle <strong>do</strong>s surtos de DTA;52 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias• manter as unidades de saúde ou demais serviços informadas sobre o andamento dainvestigação;• repassar informações ao público;• estimular a notificação de surtos de DTA.Etapa 9Processamento e análise final, relatório final e divulgação.2Secretaria de Vigilância em Saúde / MS53


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasAnexo 1EpidemiológicosDa<strong>do</strong>s de ResidênciaDa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> CasoDa<strong>do</strong>s GeraisUnidade de Saúde (ou outra fonte notifica<strong>do</strong>ra)Nome <strong>do</strong> Paciente| | || | | | | |SINANRepública Federativa <strong>do</strong> BrasilMinistério da SaúdeNºSISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃOFICHA DE INVESTIGAÇÃO DENGUE1 Tipo de Notificação2 Data da Notificação2- Individual3 Município de Notificação45 Agravo79 (ou) Idade D - dias 10 Sexo M - MasculinoM - mesesF - Feminino| |A - anosI - Ignora<strong>do</strong>13DENGUENúmero <strong>do</strong> Cartão SUS| | | | | | | | | | | | | |15 Logra<strong>do</strong>uro (rua, avenida,...)20 Município de Residência21 Bairro11 Raça/Cor1-Branca 2-Preta 3-Amarela4-Parda 5-Indígena 9-Ignora<strong>do</strong>14 Nome da mãeCódigo (IBGE)Distrito| | | | | |Código (IBGE)| | | | | |Da<strong>do</strong>s Complementares <strong>do</strong> CasoCódigo (CID10)A 9 0| | | | | |Código (IBGE)| | | | | |Código| | | | |6 Data <strong>do</strong>s Primeiros Sintomas| | | | | |8 Data de Nascimento| | | | | |12 Escolaridade (em anos de estu<strong>do</strong> concluí<strong>do</strong>s)1-Nenhuma 2-De 1 a 3 3-De 4 a 7 4-De 8 a 115-De 12 e mais 6- Não se aplica 9-Ignora<strong>do</strong>17 Complemento (apto., casa, ...)18 Ponto de Referência19 UFCódigo22 CEP23 (DDD) Telefone24 Zona1 - Urbana 2 - Rural25 País (se residente fora <strong>do</strong> Brasil)3 - Urbana/Rural 9 - Ignora<strong>do</strong>| | |26 Data da Investigação 27 Ocupação / Ramo de Atividade Econômica| | | || | |28 Deslocamento (datas e locais frequenta<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong> de 15 dias anteriores ao início de sinais e sintomas)Data Município UF País16 Número| | | | - | |Código| ||AntecedentesClínicosDa<strong>do</strong>s29 Teve Dengue Antes? 30 Caso Sim 31 Vacina<strong>do</strong> Contra Febre Amarela? 32 Data da Última Dose1 - Sim 2 - Não 9 - Ignora<strong>do</strong> Ano| | |1- Sim 2- Não 9- Ignora<strong>do</strong>| | | || | |Sinais e Sintomas33 Febre 34 Data de Início da Febre 35 Duração da Febre em Dias36 Prova <strong>do</strong> Laço1- Sim 2- Não 9- Ignora<strong>do</strong>|| | | | | | || 1 - Positiva 2 - Negativa 3 - Não Realizada37 Outros Sinais e Sintomas CefaléiaDor Retro-Orbitária MialgiaArtralgia Diarréia1- Sim 2- Não 9- Ignora<strong>do</strong> Exantema ProstraçãoNáuseas/Vômitos Outros:__________________38 Manifestações Hemorrágicas EspontâneasEpistaxePetéquiasGengivorragiaMetrorragiaHematúriaSangramento Gastrointestinal1- Sim 2- Não 9- Ignora<strong>do</strong>Outros:_________________________39 Derrame Cavitário1 - Sim 2 - Não 9 - Ignora<strong>do</strong> Ascite Derrame Pleural Derrame PericárdicoDengue40 Sinais de Alerta e/ou Gravidade1- Sim 2- Não 9- Ignora<strong>do</strong>41 Data <strong>do</strong> Choque ou Hipotensão||| | |Dor Ab<strong>do</strong>minal IntensaHepatomegalia DolorosaMiocarditeHipotensão Arterial/Postural Manifestações NeurológicasChoque HipovolêmicoInsuficiência HepáticaOutros:_______________________CENEPI 02.4 30/05/0154 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasAtendimento42 Ocorreu Hospitalização?1 - Sim 2 - Não 9 - Ignora<strong>do</strong>46 Nome <strong>do</strong> Hospital48 Endereço <strong>do</strong> Hospital43 Data da Internação 44 UF 45 Município <strong>do</strong> Hospital| | | | | | ||47(DDD) Telefone| | | | | | | | |<strong>do</strong> LaboratórioDa<strong>do</strong>sConclusão49 Data da Coleta53 Data da Coleta54 Hematócrito (menor)55Sorologia57 Data da Coleta (1ª Amostra)60Isolamento Viral62 Colheu Material63 Tipo de Material Soro 1ª Amostra 64 Resulta<strong>do</strong>1 - Sim1 - SimSoro 2ª Amostra 1 - Sorotipo 1 2 - Sorotipo 22 - Não2 - NãoTeci<strong>do</strong>s3 - Sorotipo 3 4 - Sorotipo 49 - Ignora<strong>do</strong>9 - Ignora<strong>do</strong>5 - Não Detecta<strong>do</strong>Patologia65 Histopatologia66 Imunohistoquímica1 - Compatível 2 - Negativo 3 - Não Realiza<strong>do</strong>1 - Positivo 2 - Negativo 3 - Não Realiza<strong>do</strong>PCROutro67 Tipo de Amostra68 Resulta<strong>do</strong>69 Tipo de Amostra1 - Soro 2 - Teci<strong>do</strong>s1 - Soro 2 - Teci<strong>do</strong>s 1 - Positivo 2 - Negativo Téc. Utilizada_____________________________71Classificação Final1 - Dengue Clássico 4 - Síndrome <strong>do</strong> Choque de Dengue2 - Dengue com Complicações 5 - Descarta<strong>do</strong>3 - Febre Hemorrágica <strong>do</strong> Dengue - FHD73 No Caso de FHD Especificar61 Data <strong>do</strong> Resulta<strong>do</strong> (2ª Amostra)72 Critério de Confirmação/Descarte1 - Grau I 2 - Grau II 3 - Grau III 4 - Grau IVLocal Provável de Infecção (no perío<strong>do</strong> de 15 dias)74 UF 75 País 76 Município77 Bairro78|| | | | | | || | | | | | || | | | | | |Data <strong>do</strong> Resulta<strong>do</strong> (1ª Amostra)| | | | | | |Distrito50 Hematócrito (maior)58 Data da Coleta (2ª Amostra) 59 Resulta<strong>do</strong>| | | | | | || | | | | | |51 Data da Coleta1 - Reagente2 - Não Reagente3 - Inconclusivo4 - Não Realiza<strong>do</strong>IgG52 Plaquetas (maior)| | | %| | | | | | | | | | | |Data da Coleta56 Plaquetas (menor)| | | %| | | | | | | | | | | |IgMS1S2Títulos1: | | | |70 Resulta<strong>do</strong>79 Doença Relacionada ao Trabalhomm 3_________________________1: | | | |_________________________1 - Positivo 2 - Negativo1 - Laboratório 2 - Vinculo-Epidemiológico1 - Sim 2 - Não 9 - Ignora<strong>do</strong>mm 3280 Evolução <strong>do</strong> Caso1 - Cura 2 - Óbito 9 - Ignora<strong>do</strong>Observações:81 Data <strong>do</strong> Óbito82 Data <strong>do</strong> Encerramento| | | | | | | | | | | | | |Investiga<strong>do</strong>r83Município/Unidade de Saúde84 Cód. da Unid. de Saúde| | | | | |85 Nome 86 Função87 AssinaturaDengueCENEPI 02.4 30/05/01Secretaria de Vigilância em Saúde / MS55


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasAnexo 2Como calcular o nível endêmico de uma <strong>do</strong>ençae diagnosticar a ocorrência de uma epidemiaUm <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>s para a verificação de ocorrência de uma epidemia é oDiagrama de Controle, que consiste na representação gráfica da distribuição da médiamensal e desvio-padrão <strong>do</strong>s valores da freqüência (incidência ou casos) observada, em umperío<strong>do</strong> de tempo (habitualmente 10 anos). A construção deste diagrama pode ser feita daseguinte forma:• verificar se a distribuição <strong>do</strong> número de casos/incidência da <strong>do</strong>ença, registra<strong>do</strong> mensalmentedurante os últimos anos (geralmente dez anos ou mais), apresenta grandesvariações;• excluir os da<strong>do</strong>s referentes a anos epidêmicos;• calcular a média aritmética e os desvios-padrão (pode ser calcula<strong>do</strong> no programaExcel) de cada distribuição mensal das incidências registradas no perío<strong>do</strong> seleciona<strong>do</strong>;• observar que os valores compreendi<strong>do</strong>s entre aqueles correspondentes à média decada mês acresci<strong>do</strong>s de 1,96 desvios-padrão e aqueles de cada média mensal menos1,96 desvio-padrão, (distribuição normal), correspondem ao nível endêmico da<strong>do</strong>en ça, ou seja, o limite de variação esperada para cada mês;• representar graficamente (diagrama curvilinear) a distribuição das médias e desvios-padrãoda incidência (diagrama de controle);• observar que quan<strong>do</strong> os valores observa<strong>do</strong>s ultrapassam os <strong>do</strong> limite máximo davariação esperada, diz-se que está ocorren<strong>do</strong> uma epidemia. Desta maneira, quan<strong>do</strong>uma <strong>do</strong>ença deixa de ocorrer em determinada área, o registro de um único casopode configurar uma epidemia ou surto.Para exemplificar, são apresenta<strong>do</strong>s os cálculos necessários à construção <strong>do</strong> diagramade controle, utilizan<strong>do</strong>-se os da<strong>do</strong>s da Tabela 1, que contém a incidência mensal de <strong>do</strong>ençameningocócica por 100 mil habitantes no Brasil, de 1983 a 2000.A Tabela 1 e o diagrama apresentam a incidência média mensal, os limites superiores<strong>do</strong> diagrama de controle e a incidência mensal observada para a <strong>do</strong>ença em 1994.56 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasTabela 1. Coeficiente de incidência da <strong>do</strong>ença meningocócica. Brasil, 1983-2000Meses 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00Jan 0,08 0,08 0,06 0,11 0,15 0,12 0,14 0,24 0,22 0,2 0,22 0,29 0,27 0,28 0,34 0,28 0,23 0,24Fev 0,08 0,07 0,05 0,08 0,11 0,11 0,13 0,16 0,17 0,19 0,23 0,21 0,23 0,28 0,26 0,22 0,22 0,16Mar 0,1 0,07 0,05 0,1 0,17 0,14 0,15 0,2 0,18 0,25 0,29 0,27 0,37 0,33 0,31 0,29 0,24 0,2Abr 0,08 0,08 0,06 0,07 0,15 0,18 0,17 0,18 0,19 0,22 0,36 0,28 0,28 0,31 0,31 0,25 0,25 0,18Mai 0,12 0,11 0,07 0,1 0,17 0,17 0,24 0,25 0,21 0,23 0,36 0,31 0,39 0,36 0,36 0,35 0,29 0,25Jun 0,11 0,09 0,06 0,11 0,16 0,22 0,27 0,26 0,23 0,25 0,31 0,41 0,47 0,43 0,43 0,43 0,36 0,262Jul 0,11 0,11 0,07 0,17 0,17 0,3 0,31 0,3 0,3 0,29 0,36 0,49 0,49 0,53 0,48 0,45 0,33 0,3Ago 0,11 0,1 0,07 0,15 0,12 0,29 0,27 0,28 0,28 0,29 0,34 0,44 0,45 0,5 0,42 0,33 0,28 0,28Set 0,09 0,08 0,06 0,12 0,13 0,17 0,2 0,32 0,28 0,28 0,3 0,4 0,43 0,38 0,4 0,31 0,24 0,32Out 0,08 0,1 0,07 0,13 0,15 0,15 0,2 0,28 0,3 0,29 0,29 0,32 0,37 0,38 0,3 0,31 0,23 0,28Nov 0,09 0,09 0,06 0,12 0,13 0,17 0,19 0,24 0,21 0,2 0,24 0,31 0,32 0,3 0,28 0,27 0,2 0,24Dez 0,06 0,07 0,05 0,1 0,11 0,17 0,15 0,22 0,2 0,21 0,22 0,27 0,27 0,26 0,29 0,23 0,19 0,22Meses Média Desvio-padrão Limite máximo espera<strong>do</strong> Limite mínimo espera<strong>do</strong>Jan 0,1472727 0,0638891 0,2724954 0,0220501Fev 0,1254545 0,0562785 0,2357605 0,0151486Mar 0,1545455 0,073941 0,2994698 0,0096211Abr 0,1380000 0,0873863 0,3092771 -0,0332771Mai 0,1845455 0,0844232 0,3500149 0,019076Jun 0,1881818 0,0850668 0,3549128 0,0214509Jul 0,2263636 0,1015158 0,4253346 0,0273927Ago 0,2090909 0,0982298 0,4016213 0,0165605Set 0,1845455 0,0963705 0,3734316 -0,0043407Out 0,1854545 0,0902622 0,3623685 -0,0296413Nov 0,1581818 0,0633748 0,2823964 0,0339672Dez 0,1418182 0,0664557 0,2720714 0,011565Secretaria de Vigilância em Saúde / MS57


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasDiagrama de controle da <strong>do</strong>ença meningocócica, no perío<strong>do</strong> 1983-1993.Brasil, 19940,50,450,40,35Casos /100 mil hab.0,30,250,20,150,10,050Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez1994 Média Limite máximo espera<strong>do</strong>58 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasAnexo 3*Classificação das epidemias deacor<strong>do</strong> com sua progressão no tempoExposição maciça comum de curta duração (epidemia explosiva) – quan<strong>do</strong> os casosaparecem em rápida sucessão e curto perío<strong>do</strong> de tempo, a epidemia surge, aumenta deintensidade e declina, sugerin<strong>do</strong> a existência de um veículo comum de transmissão e umaexposição simultânea de vários susceptíveis. A duração máxima de to<strong>do</strong> o surto incluiu-seno perío<strong>do</strong> máximo de incubação (ex. surto de intoxicação alimentar). No caso de transmissãopor veículo comum, devem ser identifica<strong>do</strong>s os seguintes perío<strong>do</strong>s ou datas: pico<strong>do</strong> surto, início, fim e duração da epidemia e perío<strong>do</strong> provável de exposição <strong>do</strong>s casos àsfontes de infecção.2Representação esquemática de curvas epidêmicasa) Exposição maciça comum de curta duraçãob) Exposição maciça comum prolongada(mais de 1 ano)perío<strong>do</strong> deincubaçãomáximoc) Exposição maciça comumseguida de casos secundáriosd) Exposição múltipla – epidemia prolongadaExposição maciça comum prolongada – embora também seja de fonte única, a exposição<strong>do</strong>s indivíduos à mesma é prolongada. A curva é menos abrupta que a anterior e oevento, em geral, excede um perío<strong>do</strong> de incubação (intoxicação por uma partida de alimentocontamina<strong>do</strong>; acidente com a rede de distribuição de água, etc.).Exposição maciça comum seguida de casos secundários – quan<strong>do</strong> nas situações anterioresocorrem casos secundários, em forma de uma segunda onda tardia. Assim, a curvaapresenta, como características, o prolongamento no tempo e o aspecto bimodal. A duraçãototal <strong>do</strong> surto excede um perío<strong>do</strong> de incubação.*Reproduzi<strong>do</strong> de Rojas RA. Epidemiologia, volume I, p. 79-80.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS59


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasExposição múltipla (epidemias progressivas ou prolongadas) – devi<strong>do</strong> a fatorescomo difusibilidade, curto perío<strong>do</strong> de incubação e abundância de formas clínicas e inaparentesconstituin<strong>do</strong>-se em vários focos de propagação, o surto se estende até que se esgoteo número de susceptíveis. Logo, sua duração excede em muito o perío<strong>do</strong> de incubação. Acurva pode apresentar várias ondas epidêmicas e, às vezes, o perío<strong>do</strong> transcorri<strong>do</strong> entre asondas é compatível com o perío<strong>do</strong> de incubação da <strong>do</strong>ença (surtos de infecções respiratórias,cólera, sarampo, varíola, etc.).Determinação <strong>do</strong> provável perío<strong>do</strong> deexposição <strong>do</strong>s casos em surto por veículo comumMéto<strong>do</strong> <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> médio de incubação – identifica-se a data <strong>do</strong> pico da epidemiae a partir da mesma calcula-se retrospectivamente, com base no perío<strong>do</strong> médio de incubação,o dia provável de exposição.Méto<strong>do</strong> <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> máximo e mínimo de incubação – identificam-se as datas <strong>do</strong>primeiro e último caso da epidemia e, a partir das mesmas calcula-se retrospectivamente,com base, respectivamente, no perío<strong>do</strong> mínimo e máximo de incubação, o perío<strong>do</strong> provávelde exposição. Esse méto<strong>do</strong> só pode ser aplica<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> a duração da epidemia for,aproximadamente, igual ou menor que a diferença entre o perío<strong>do</strong> máximo e mínimo deincubação.60 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasAnexo 4*Exemplo de análise e interpretação de curva epidêmicaDe acor<strong>do</strong> com o gráfico, observa-se que o número de atendimentos por diarréia nasunidades de saúde de Paulo Afonso começou a elevar-se a partir da última semana de marçode 1988, atingin<strong>do</strong> as freqüências mais altas no mês de abril e só voltan<strong>do</strong> a reduzir-seapós a primeira semana de maio. A média diária desses atendimentos, que era de 6,6 + 4,3no mês de fevereiro, alcançou rapidamente 45,7 + 3,9 entre 19 e 31 de maio. Os casos estavamdistribuí<strong>do</strong>s em todas as faixas etárias e atingiam ambos os sexos.A curva observada permite deduzir que a epidemia teve início no final de março de1988, estenden<strong>do</strong>-se por to<strong>do</strong> o mês de abril e reduzin<strong>do</strong> de intensidade após a primeirasemana de maio. Seu início foi abrupto, acometen<strong>do</strong> rapidamente eleva<strong>do</strong> número de pessoas,perduran<strong>do</strong> por mais de um mês, o que caracteriza uma epidemia maciça e prolongadade fonte possivelmente comum.2Distribuição <strong>do</strong>s atendimentos por gastroenterite nas unidades desaúde da 10ª Diretoria Regional, 1º de fevereiro a 31 de maio de 198880Número de casos7060504030Início deenchimentoFechamentoda 1 a adutaEnchimentoda zona rural,Glória/BAFechamentoda 2 a adutaEnchimentoda zona rural,Paulo Afonso/BACuSO 420100Fevereiro Março Abril Maio*Reproduzi<strong>do</strong> de: Teixeira et al., Boletim da Oficina Panamericana, 114 (6), 1993.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS61


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasAnexo 5*Procedimentos para coleta, conservação,acondicionamento e transporte de amostras biológicasTipo de amostra Técnica de coleta ConservaçãoSecreção dasfossas nasaisFezesFeridassuperficiaisSecreçãode orofaringeVômitoUrinaSangueUmedecer o swab em solução salina estéril. Introduzir em ambasas narinas e ,com movimentos giratórios suaves, colher o materialda mucosa nasal e colocar o swab em meio de transporte paramaterial biológicoPara cultura, utilizar a técnica de swab fecal ou retal em meiode transporte (Cary Blair ou Stuart), ou ainda utilizar a técnica deimpregnação das fezes em papel-filtro, segun<strong>do</strong> Wold e KeltererFezes in natura para exame direto e coloração de Gram:utilizar um frasco limpo e seco ou frasco próprio forneci<strong>do</strong>pelo laboratório. Coletar em torno de 1g de fezes ou menosda metade e fechar firmemente após a coletaAs margens e superfícies das lesões devem ser descontaminadas,tanto quanto possível, com álcool a 70% e/ou solução fisiológicaestéril.Proceder nova limpeza com solução fisiológica.Coletar o material purulento localiza<strong>do</strong> na parte mais profunda daferida utilizan<strong>do</strong>-se, de preferência, aspira<strong>do</strong> com seringa e agulha.Os swab (menos recomenda<strong>do</strong>) será utiliza<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> osprocedimentos acima cita<strong>do</strong>s não forem possíveis de realizaçãoUsar um abaixa<strong>do</strong>r de língua e, com um swab estéril, esfregarsobre as amígdalas e faringe posterior, evitan<strong>do</strong> tocar na línguaou bochechasProcurar o material nas áreas com hiperemia, próximas aospontos de supuração, ou remover o pus. Passar o swab firmementesobre as áreas citadas ou amígdalas e faringe posteriorColetar 5g <strong>do</strong> espécime durante a fase aguda da <strong>do</strong>ença,em frasco estéril de boca largaColetar o jato médio da 1ª micção <strong>do</strong> dia ou com intervalo de2 a 3 horas após a higiene íntima. Para pacientes sem controleda micção (crianças), usar saco coletor após a higiene préviaA antissepsia da pele deve ser rigorosa. Coletar 3 amostras comintervalo de 30 minutos entre cada uma, sen<strong>do</strong> a quantidade desangue de 10 a 20 ml, para adulto, e de 3 a 5 ml, para criançaAnotar em cada frasco o horário da coleta e o número da amostraUtilizar meto<strong>do</strong>logia tradicional, inoculan<strong>do</strong> na proporção de10% de sangue para frasco conten<strong>do</strong> meio de culturaMeio de transporte adequa<strong>do</strong> −Meio de Stuart ou AmiesQuan<strong>do</strong> colocada em meio de transporte,encaminhar, se possível, em até 48 horasem temperatura ambiente. Acima destetempo, sob refrigeração em até 7 dias.No caso de amostras refrigeradas, respeitaras especificidades de cada agente. O papelfiltrodeve ser acondiciona<strong>do</strong> em invólucroplástico, perfeitamente veda<strong>do</strong> (a amostrasó é válida enquanto o papel-filtro estiverúmi<strong>do</strong>)Enviar as amostras in naturaao laboratório em até 2 horasO material coleta<strong>do</strong> deve ser encaminha<strong>do</strong>ao laboratório imediatamente, em meiode transporte adequa<strong>do</strong> (meio de Stuartou Amies)Encaminhar o material imediatamenteao laboratório, em meio de transporteadequa<strong>do</strong> (Stuart ou Amies)Transportar imediatamente ao laboratório.Se a demora for inevitável, refrigerar a4ºC para evitar o crescimento de outrasbactériasEncaminhar imediatamenteao laboratório, sob refrigeraçãoInocular a 35º-37º C por 24 horasou enviar ao laboratório imediatamente*Reproduzi<strong>do</strong> <strong>do</strong> Manual de Doenças Transmitidas por Alimentos − Funasa/Cenepi62 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasObservações1. O material colhi<strong>do</strong> deve ser representativo <strong>do</strong> processo infeccioso, deven<strong>do</strong>-se evitarcontaminações e procurar o melhor sítio de coleta.2. A coleta deve ser realizada na fase aguda da <strong>do</strong>ença e, sempre que possível, antes daadministração de antibióticos.3. Feridas: não é recomendada a cultura das lesões secas e crostas, a menos que nãoseja possível a obtenção de exsudato.4. As amostras biológicas devem ser acondicionadas em recipiente adequa<strong>do</strong>, rotuladas,identificadas, colocadas em sacos plásticos lacra<strong>do</strong>s (fita adesiva) e transportadaspara o laboratório em caixas isotérmicas com gelo embala<strong>do</strong> ou em temperaturaambiente, dependen<strong>do</strong> da amostra e meto<strong>do</strong>logia empregada. Lembrar que oslaboratórios com condições de processar as amostras devem a<strong>do</strong>tar a meto<strong>do</strong>logiaconvencional e dar continuidade ao procedimento laboratorial. As amostras devemvir acompanhadas da ficha de investigação epidemiológica (2ª via ou cópia) e daficha de remessa de amostras biológicas, devidamente preenchidas.2Coleta e conservação de amostras para toxicologia clínicaToxologia clínicaDosagem de metais pesa<strong>do</strong>sTipo de amostra Técnica de coleta ConservaçãoSangueUrinaPara chumbo: 8ml de sangue totalhepariniza<strong>do</strong> e isento de coáguloPara cobre e zinco: 2ml de soro ouplasma sem hemólisePara mercúrio: urina de 24 horas(de preferência) ou aproximadamente200ml de urina matinal-4ºC no freezer, até 60 dias8ºC na geladeira, até 8 dias0,1g de persulfato de potássio para cada100ml de urina. Conservar por 8 diasExposição aos inseticidas <strong>do</strong> grupo organofosfora<strong>do</strong>s e carbamatosDeterminação das atividades de colinesterase sangüíneaTipo de amostra Técnica de coleta ConservaçãoMéto<strong>do</strong> Ellman, G.L. e colabora<strong>do</strong>resSangueEmprego de kit (triagem)Aproximadamente 5ml de sanguepara a separação de soro sem hemóliseMéto<strong>do</strong> Ellman modifica<strong>do</strong> por OliveiraSilva/FiocruzAproximadamente 5ml de sanguecoleta<strong>do</strong>s em presença de heparina-20ºC no freezer, até a análiseProcedimento no laboratório de referência:separar o plasma <strong>do</strong>s eritrócitose adicionar tampão de lise aos mesmos.Conservar congela<strong>do</strong> por até 3 diasExposição aos inseticidas <strong>do</strong> grupo <strong>do</strong>s piretróidesTipo de amostra Técnica de coleta ConservaçãoSangueMeto<strong>do</strong>logia por cromotografia líquidaAproximadamente 10ml de sanguecoleta<strong>do</strong>s em presença de heparina-20ºC no freezer, até a análiseSecretaria de Vigilância em Saúde / MS63


Investigação Epidemiológica de Casos e EpidemiasColeta de amostras bromatológicas e toxicológicasQualquer quantidade da amostra <strong>do</strong> alimento efetivamente consumi<strong>do</strong> é significativa,uma vez que não se constitui em amostra com fins de análise fiscal.A distribuição de microrganismos em lotes ou porções individualizadas no alimentonão é homogênea. Além disso, as condições de acondicionamento, conservação, transportee manuseio podem variar de unidade para unidade da amostra e interferir na presença e/oumanifestação <strong>do</strong> agente. Para avaliar a qualidade de alimentos, são estabelecidas quantidadesmínimas, representativas ou não. No que se refere às amostras relacionadas com a DTA,nem sempre é possível cumprir estas orientações.Na impossibilidade de se coletar determinada quantidade de alimentos, existem algumasalternativas; tais como:• coletar produtos envolvi<strong>do</strong>s no preparo <strong>do</strong>s alimentos;• examinar os utensílios (panela, conchas, colher, etc.) utiliza<strong>do</strong>s no preparo <strong>do</strong>s alimentos,caso não tenham si<strong>do</strong> lava<strong>do</strong>s. Recolher esse material em sacos plásticosesteriliza<strong>do</strong>s ou de primeiro uso.Em determinadas situações (como na suspeita de botulismo), na ausência de restos dealimento efetivamente consumi<strong>do</strong> a amostra coletada pode ser a própria embalagem vazia.A toxina pode estar presente nas paredes internas e ser retirada para análise por enxugadura.Outra unidade <strong>do</strong> mesmo lote pode não apresentar a toxina botulínica.A coleta da água para consumo humano, ofertada no local de produção <strong>do</strong> alimentosuspeito, deve ser efetuada para comprovar se os padrões físico-químicos e biológicos estãoadequa<strong>do</strong>s à legislação vigente.64 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


CAPÍTULO 33Sistemas deinformação emsaúde e vigilânciaepidemiológica


Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância EpidemiológicaA informação é instrumento essencial para a tomada de decisões. Nesta perspectiva,representa imprescindível ferramenta à vigilância epidemiológica, por constituir fator desencadea<strong>do</strong>r<strong>do</strong> processo “informação-decisão-ação”, tríade que sintetiza a dinâmica desuas atividades que, como se sabe, devem ser iniciadas a partir da informação de um indícioou suspeita de caso de alguma <strong>do</strong>ença ou agravo.Da<strong>do</strong> − é defini<strong>do</strong> como “um valor quantitativo referente a um fato ou circunstância”,“o número bruto que ainda não sofreu qualquer espécie de tratamento estatístico”, ou“a matéria-prima da produção de informação”.Informação − é entendida como “o conhecimento obti<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s”, “o da<strong>do</strong>trabalha<strong>do</strong>” ou “o resulta<strong>do</strong> da análise e combinação de vários da<strong>do</strong>s”, o que implicaem interpretação, por parte <strong>do</strong> usuário. É “uma descrição de uma situação real, associadaa um referencial explicativo sistemático”.3Não se deve perder de vista que a informação em saúde é o esteio para a gestão <strong>do</strong>sserviços, pois orienta a implantação, acompanhamento e avaliação <strong>do</strong>s modelos de atençãoà saúde e das ações de prevenção e controle de <strong>do</strong>enças. São também de interesse da<strong>do</strong>s/informaçõesproduzi<strong>do</strong>s extra-setorialmente, caben<strong>do</strong> aos gestores <strong>do</strong> Sistema a articulaçãocom os diversos órgãos que os produzem, de mo<strong>do</strong> a complementar e estabelecer um fluxoregular de informação em cada nível <strong>do</strong> setor saúde.Oportunidade, atualidade, disponibilidade e cobertura são características que determinama qualidade da informação, fundamentais para que to<strong>do</strong> o Sistema de Vigilância Epidemiológicaapresente bom desempenho. Dependem da concepção apresentada pelo Sis temade Informação em Saúde (SIS), e sua sensibilidade para captar o mais preco cemente possívelas alterações que podem ocorrer no perfil de morbimortalidade de uma área, e também daorganização e cobertura das atividades desenvolvidas pela vigilância epidemiológica.Entende-se sistema como o “conjunto integra<strong>do</strong> de partes que se articulam para umafinalidade comum.” Para sistema de informação existem várias definições, tais como:• “conjunto de unidades de produção, análise e divulgação de da<strong>do</strong>s que atuam integradase articuladamente com o propósito de atender às demandas para o qual foiconcebi<strong>do</strong>”;• “reunião de pessoas e máquinas, com vistas à obtenção e processamento de da<strong>do</strong>sque atendam à necessidade de informação da instituição que o implementa”;• “conjunto de estruturas administrativas e unidades de produção, perfeitamente articuladas,com vistas à obtenção de da<strong>do</strong>s mediante o seu registro, coleta, processamento,análise, transformação em informação e oportuna divulgação”.Em síntese, um sistema de informação deve disponibilizar o suporte necessário paraque o planejamento, decisões e ações <strong>do</strong>s gestores, em determina<strong>do</strong> nível decisório (municipal,estadual e federal), não se baseie em da<strong>do</strong>s subjetivos, conhecimentos ultrapassa<strong>do</strong>sou conjecturas.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS67


Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância EpidemiológicaO SIS é parte <strong>do</strong>s sistemas de saúde; como tal, integra suas estruturas organizacionaise contribui para sua missão. É constituí<strong>do</strong> por vários sub-sistemas e tem como propósitogeral facilitar a formulação e avaliação das políticas, planos e programas de saúde, subsidian<strong>do</strong>o processo de tomada de decisões. Para tanto, deve contar com os requisitos técnicose profissionais necessários ao planejamento, coordenação e supervisão das atividadesrelativas à coleta, registro, processamento, análise, apresentação e difusão de da<strong>do</strong>s e geraçãode informações.Um de seus objetivos básicos, na concepção <strong>do</strong> Sistema Único de Saúde (SUS), é possibilitara análise da situação de saúde no nível local toman<strong>do</strong> como referencial microrregiõeshomogêneas e consideran<strong>do</strong>, necessariamente, as condições de vida da população na determinação<strong>do</strong> processo saúde-<strong>do</strong>ença. O nível local tem, então, responsabilidade não apenascom a alimentação <strong>do</strong> sistema de informação em saúde mas também com sua organizaçãoe gestão. Deste mo<strong>do</strong>, outro aspecto de particular importância é a concepção <strong>do</strong> sistema deinformação, que deve ser hierarquiza<strong>do</strong> e cujo fluxo ascendente <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s ocorra de mo<strong>do</strong>inversamente proporcional à agregação geográfica, ou seja, no nível local faz-se necessáriodispor, para as análises epidemiológicas, de maior número de variáveis.Felizmente, os atuais recursos <strong>do</strong> processamento eletrônico estão sen<strong>do</strong> amplamenteutiliza<strong>do</strong>s pelos sistemas de informação em saúde, aumentan<strong>do</strong> sua eficiência na medidaem que possibilitam a obtenção e processamento de um volume de da<strong>do</strong>s cada vez maior,além de permitirem a articulação entre diferentes subsistemas.Entre os sistemas nacionais de informação em saúde existentes, alguns se destacam emrazão de sua maior relevância para a vigilância epidemiológica:Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)O mais importante sistema para a vigilância epidemiológica foi desenvolvi<strong>do</strong> entre1990 e 1993, visan<strong>do</strong> sanar as dificuldades <strong>do</strong> Sistema de Notificação Compulsória de Doenças(SNCD) e substituí-lo, ten<strong>do</strong> em vista o razoável grau de informatização disponível nopaís. O Sinan foi concebi<strong>do</strong> pelo Centro Nacional de Epidemiologia, com o apoio técnico <strong>do</strong>Datasus e da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte para ser opera<strong>do</strong> a partir das unidadesde saúde, consideran<strong>do</strong> o objetivo de coletar e processar da<strong>do</strong>s sobre agravos de notificaçãoem to<strong>do</strong> o território nacional, desde o nível local. Mesmo que o município não disponhade microcomputa<strong>do</strong>res em suas unidades, os instrumentos deste sistema são preenchi<strong>do</strong>sneste nível e o processamento eletrônico é feito nos níveis centrais das secretarias municipaisde saúde (SMS), regional ou secretarias estaduais (SES). É alimenta<strong>do</strong>, principalmente,pela notificação e investigação de casos de <strong>do</strong>enças e agravos constantes da lista nacional de<strong>do</strong>enças de notificação compulsória, mas é faculta<strong>do</strong> a esta<strong>do</strong>s e municípios incluir outrosproblemas de saúde regionalmente importantes. Por isso, o número de <strong>do</strong>enças e agravoscontempla<strong>do</strong>s pelo Sinan, vem aumentan<strong>do</strong> progressivamente desde seu processo de implementação,em 1993, sem relação direta com a compulsoriedade nacional da notificação,expressan<strong>do</strong> as diferenças regionais de perfis de morbidade registradas no Sistema.68 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância EpidemiológicaNo Sinan, a entrada de da<strong>do</strong>s ocorre pela utilização de alguns formulários padroniza<strong>do</strong>s:Ficha Individual de Notificação (FIN) − é preenchida para cada paciente, quan<strong>do</strong> dasuspeita de problema de saúde de notificação compulsória (Portaria GM nº 2.325, de 8 dedezembro de 2003) ou de interesse nacional, estadual ou municipal, e encaminhada pelasunidades assistenciais aos serviços responsáveis pela informação e/ou vigilância epidemiológica.É também utilizada para a notificação negativa.Notificação negativa − é a notificação da não-ocorrência de <strong>do</strong>enças de notificaçãocompulsória na área de abrangência da unidade de saúde. Indica que os profissionaise o sistema de vigilância da área estão alertas para a ocorrência de tais eventos.3A notificação de surtos também deve ser feita por esse instrumento, obedecen<strong>do</strong> osseguintes critérios:• casos epidemiologicamente vincula<strong>do</strong>s de agravos inusita<strong>do</strong>s. Sua notificação deveestar consoante com a abordagem sindrômica, de acor<strong>do</strong> com as seguintes categorias:síndrome diarréica aguda, síndrome ictérica aguda, síndrome hemorrágicafebril aguda, síndrome respiratória aguda, síndrome neurológica aguda e síndromeda insuficiência renal aguda, dentre outras;• casos agrega<strong>do</strong>s, constituin<strong>do</strong> uma situação epidêmica de <strong>do</strong>enças não constantesda lista de notificação compulsória;• casos agrega<strong>do</strong>s das <strong>do</strong>enças constantes da lista de notificação compulsória, mas cujovolume de notificações operacionalmente inviabiliza o seu registro individualiza<strong>do</strong>.Ficha Individual de Investigação (FII) − na maioria das vezes, configura-se comoroteiro de investigação, distinto para cada tipo de agravo, deven<strong>do</strong> ser utiliza<strong>do</strong>, preferencialmente,pelos serviços municipais de vigilância ou unidades de saúde capacitadas paraa realização da investigação epidemiológica. Esta ficha, como referi<strong>do</strong> no tópico sobre investigaçãode surtos e epidemias, permite obter da<strong>do</strong>s que possibilitam a identificação dafonte de infecção e mecanismos de transmissão da <strong>do</strong>ença. Os da<strong>do</strong>s, gera<strong>do</strong>s nas áreas deabrangência <strong>do</strong>s respectivos esta<strong>do</strong>s e municípios, devem ser consolida<strong>do</strong>s e analisa<strong>do</strong>sconsideran<strong>do</strong> aspectos relativos à organização, sensibilidade e cobertura <strong>do</strong> próprio sistemade notificação, bem como os das atividades de vigilância epidemiológica.Além dessas fichas, o sistema também possui planilha e boletim de acompanhamentode surtos, reproduzi<strong>do</strong>s pelos municípios, e os boletins de acompanhamento de hanseníasee tuberculose, emiti<strong>do</strong>s pelo próprio sistema.A impressão, distribuição e numeração desses formulários é de responsabilidade <strong>do</strong>esta<strong>do</strong> ou município. O sistema conta, ainda, com módulos para cadastramento de unidadesnotifica<strong>do</strong>ras, população e logra<strong>do</strong>uros, dentre outros.A Figura 1 traz o fluxo de informação defini<strong>do</strong> pelo Ministério da Saúde. Após o preenchimento<strong>do</strong>s referi<strong>do</strong>s formulários, as fontes notifica<strong>do</strong>ras deverão encaminhá-los paraSecretaria de Vigilância em Saúde / MS69


Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológicao primeiro nível informatiza<strong>do</strong>. A partir daí, os da<strong>do</strong>s serão envia<strong>do</strong>s para os níveis hierárquicossuperiores por meio magnético (arquivos de transferência gera<strong>do</strong>s pelo Sistema).Figura 1. Fluxo de informação <strong>do</strong> SinanUnidadesambulatoriaisde saúdeHospitaisOutras fontesMunicipalSecretaria municipal de saúdeRegional de saúdeEstadualSecretaria estadual de saúdeMinistério da SaúdeNacionalOs agravos e <strong>do</strong>enças relaciona<strong>do</strong>s no Quadro 1 devem ser prontamente notifica<strong>do</strong>sàs Secretarias Estaduais de Saúde, as quais deverão informar tal fato imediatamente à Secretariade Vigilância em Saúde, por meio <strong>do</strong> correio eletrônico notifica@saude.gov.br ou àsáreas técnicas <strong>do</strong> Ministério da Saúde responsáveis por seu acompanhamento, sem prejuízo<strong>do</strong> registro das notificações pelos procedimentos rotineiros <strong>do</strong> Sinan.Quadro 1. Agravos de notificação imediata via fax, telefone ou e-mail,além da digitação e transferência imediata por meio magnético, no SinanCaso suspeito deFebre hemorrágica <strong>do</strong> dengueHantaviroseParalisia flácida agudaPesteRaiva humanaVaríolaTularemiaBotulismoCarbúnculo ou antrazCóleraDifteriaDoença meningocócicaFebre amarelaCaso confirma<strong>do</strong> deSurto, agregação de casosou agregação de óbitos porPoliomieliteTétano neonatalSarampoAgravos inusita<strong>do</strong>sDoenças de etiologia não esclarecidaFebre hemorrágica ou etiologia não esclarecidaPropõe-se, de maneira geral, que as fichas individuais de notificação sejam preenchidaspelos profissionais de saúde nas unidades assistenciais, as quais devem manter uma segundavia arquivada pois a original é remetida para o serviço de vigilância epidemiológicaresponsável pelo desencadeamento das medidas de controle necessárias. Este, por sua vez,70 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológicaalém dessa incumbência, deve encaminhar os formulários para o setor de digitação das secretariasmunicipais, para que posteriormente os arquivos de transferência sejam envia<strong>do</strong>spor meio magnético às secretarias estaduais e, em seguida, ao Ministério da Saúde, conformeperiodicidade definida na Figura 2.Figura 2. Periodicidade para envio <strong>do</strong>s arquivos de transferência <strong>do</strong> SinanSecretaria municipal de saúdeSemanalRegional de saúdeSemanalSecretaria de esta<strong>do</strong> da saúde1º ao 3º dia útil15º ao 18º dia útilMinistério da Saúde3Casos de hanseníase e tuberculose, além <strong>do</strong> preenchimento da ficha de notificação/investigação,devem constar <strong>do</strong> boletim de acompanhamento, visan<strong>do</strong> a atualização de seuacompanhamento até o encerramento para avaliação da efetividade <strong>do</strong> tratamento, de acor<strong>do</strong>com as seguintes orientações:• o primeiro nível informatiza<strong>do</strong> deve emitir o Boletim de Acompanhamento de Hanseníasee Tuberculose, encaminhan<strong>do</strong>-o às unidades para complementação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s;• os meses propostos para a alimentação da informação são, no mínimo: janeiro, abril,julho e outubro, para a tuberculose; janeiro e julho, para a hanseníase;• cabe ao 1º nível informatiza<strong>do</strong> emitir o boletim de acompanhamento para os municípiosnão-informatiza<strong>do</strong>s;• após retornar das unidades os boletins devem ser analisa<strong>do</strong>s criticamente e as correçõesdevem ser solicitadas de imediato à unidade de saúde;• a digitação das informações na tela de acompanhamento e arquivamento <strong>do</strong>s boletinsdeve ser realizada no 1º nível informatiza<strong>do</strong>.O encerramento das investigações referentes aos casos notifica<strong>do</strong>s como suspeitos e/ou confirma<strong>do</strong>s deve ocorrer até o prazo máximo de 60 dias da data de notificação, exceto:Sarampo e rubéolaGestante HIV+ e criança expostaLeishmaniose tegumentar americanae leishmaniose visceralSíndrome da rubéola congênitaHepatites viraisHanseníaseTuberculose30 dias da data de notificação540 dias da data <strong>do</strong> parto/nascimento da criança exposta180 dias da data de notificação180 dias da data de nascimento da criança240 dias da data de notificaçãoA partir da data <strong>do</strong> diagnóstico, 270 dias para os casospaucibacilares (PB) e 540 dias para os casos multibacilares (MB)Para os casos que aban<strong>do</strong>nam o tratamento:PB − 2 anos após a data <strong>do</strong> diagnósticoMB − 4 anos após a data <strong>do</strong> diagnóstico270 dias para os casos em tratamento de esquema I e IR360 dias para os casos em tratamento de esquema II e 50 dias paraos casos em tratamento de esquema III, após a data <strong>do</strong> diagnóstico,conforme normas <strong>do</strong> Manual Técnico para Controle da TuberculoseSecretaria de Vigilância em Saúde / MS71


Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância EpidemiológicaPreconiza-se que em todas as instâncias os da<strong>do</strong>s aporta<strong>do</strong>s pelo Sinan sejam consolida<strong>do</strong>se analisa<strong>do</strong>s e que haja uma retroalimentação <strong>do</strong>s níveis que o precederam, além desua redistribuição, segun<strong>do</strong> local de residência <strong>do</strong>s pacientes objetos das notificações. Nonível federal, os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Sinan são processa<strong>do</strong>s, analisa<strong>do</strong>s juntamente com aqueles quechegam por outras vias e divulga<strong>do</strong>s pelo Boletim Epidemiológico <strong>do</strong> SUS e informes epidemiológicoseletrônicos, disponibiliza<strong>do</strong>s no site www.saude.gov.br.Ao contrário <strong>do</strong>s demais sistemas, em que as críticas de consistência são realizadasantes <strong>do</strong> seu envio a qualquer outra esfera de governo, a necessidade de desencadeamentoimediato de uma ação faz com que, nesse caso, os da<strong>do</strong>s sejam remeti<strong>do</strong>s o mais rapidamentepossível, fican<strong>do</strong> a sua crítica para um segun<strong>do</strong> momento − quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> encerramento<strong>do</strong> caso e, posteriormente, o da análise das informações para divulgação. No entanto,apesar desta peculiaridade, esta análise é fundamental para que se possa garantir uma basede da<strong>do</strong>s com qualidade, não poden<strong>do</strong> ser relegada a segun<strong>do</strong> plano, ten<strong>do</strong> em vista que osda<strong>do</strong>s já foram encaminha<strong>do</strong>s para os níveis hierárquicos superiores.A partir da alimentação <strong>do</strong> banco de da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Sinan, pode-se calcular a incidência,prevalência, letalidade e mortalidade, bem como realizar análises de acor<strong>do</strong> com ascaracterísticas de pessoa, tempo e lugar, particularmente no que tange às <strong>do</strong>ençastransmissíveis de notificação obrigatória, além de outros indica<strong>do</strong>res epidemiológicose operacionais utiliza<strong>do</strong>s para as avaliações local, municipal, estadual e nacional.As informações da ficha de investigação possibilitam maior conhecimento acerca dasituação epidemiológica <strong>do</strong> agravo investiga<strong>do</strong>, fontes de infecção, mo<strong>do</strong> de transmissão eidentificação de áreas de risco, dentre outros importantes da<strong>do</strong>s para o desencadeamentodas atividades de controle. A manutenção periódica da atualização da base de da<strong>do</strong>s<strong>do</strong> Sinan é fundamental para o acompanhamento da situação epidemiológica <strong>do</strong>s agravosincluí<strong>do</strong>s no Sistema. Da<strong>do</strong>s de má qualidade, oriun<strong>do</strong>s de fichas de notificação ou investigaçãocom a maioria <strong>do</strong>s campos em branco, inconsistências nas informações (casos comdiagnóstico laboratorial positivo, porém encerra<strong>do</strong> como critério clínico) e duplicidade deregistros, entre outros problemas freqüentemente identifica<strong>do</strong>s nos níveis estadual ou federal,apontam para a necessidade de uma avaliação sistemática da qualidade da informaçãocoletada e digitada no primeiro nível hierárquico de entrada de da<strong>do</strong>s no Sistema, quetorna possível a obtenção de da<strong>do</strong>s confiáveis, indispensáveis para o cálculo de indica<strong>do</strong>resextremamente úteis, tais como as taxas de incidência, letalidade, mortalidade e coeficientede prevalência, entre outros.Roteiros para a realização da análise da qualidade da base de da<strong>do</strong>s e cálculos <strong>do</strong>sprincipais indica<strong>do</strong>res epidemiológicos e operacionais estão disponíveis para os agravos denotificação compulsória, bem como toda a <strong>do</strong>cumentação necessária para a correta utilização<strong>do</strong> Sistema (dicionário de da<strong>do</strong>s e instrucionais de preenchimento das fichas Manualde Normas e Rotinas e Operacional).Para que o Sinan se consolide como a principal fonte de informação de morbidadepara as <strong>do</strong>enças de notificação compulsória, faz-se necessário garantir tanto a cobertura72 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológicacomo a qualidade das informações. Sua utilização plena, em to<strong>do</strong> o território nacional,possivelmente possibilitará a obtenção <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s indispensáveis ao cálculo <strong>do</strong>s principaisindica<strong>do</strong>res necessários para o monitoramento dessas <strong>do</strong>enças, geran<strong>do</strong> instrumentos paraa formulação e avaliação das políticas, planos e programas de saúde, subsidian<strong>do</strong> o processode tomada de decisões e contribuin<strong>do</strong> para a melhoria da situação de saúde da população.Indica<strong>do</strong>res são variáveis susceptíveis à mensuração direta, produzi<strong>do</strong>s com periodicidadedefinida e critérios constantes. A disponibilidade de da<strong>do</strong>s, simplicidade técnica,uniformidade, sinteticidade e poder discriminatório são requisitos básicos parasua elaboração. Os indica<strong>do</strong>res de saúde refletem o esta<strong>do</strong> de saúde da população dedeterminada comunidade.3Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM)Cria<strong>do</strong> em 1975, este sistema iniciou sua fase de descentralização em 1991, dispon<strong>do</strong>de da<strong>do</strong>s informatiza<strong>do</strong>s a partir de 1979.Seu instrumento padroniza<strong>do</strong> de coleta de da<strong>do</strong>s é a Declaração de Óbito (DO), impressaem três vias coloridas, cuja emissão e distribuição para os esta<strong>do</strong>s, em séries prénumeradas,é de competência exclusiva <strong>do</strong> Ministério da Saúde. Para os municípios, a distribuiçãofica a cargo das secretarias estaduais de saúde, deven<strong>do</strong> as secretarias municipaisse responsabilizarem por seu controle e distribuição entre os profissionais médicos e instituiçõesque a utilizem, bem como pelo recolhimento das primeiras vias em hospitais ecartórios.O preenchimento da DO deve ser realiza<strong>do</strong> exclusivamente por médicos, exceto emlocais onde não existam, situação na qual poderá ser preenchida por oficiais de Cartóriosde Registro Civil, assinada por duas testemunhas. A obrigatoriedade de seu preenchimento,para to<strong>do</strong> óbito ocorri<strong>do</strong>, é determinada pela Lei Federal n° 6.015/73. Em tese, nenhumsepultamento deveria ocorrer sem prévia emissão da DO. Mas, na prática, sabe-se da ocorrênciade sepultamentos irregulares, em cemitérios clandestinos (e eventualmente mesmoem cemitérios oficiais), o que afeta o conhecimento <strong>do</strong> real perfil de mortalidade, sobretu<strong>do</strong>nas regiões Norte e Nordeste.O registro <strong>do</strong> óbito deve ser feito no local de ocorrência <strong>do</strong> evento. Embora o local deresidência seja a informação comumente mais utilizada, na maioria das análises <strong>do</strong> setorsaúde a ocorrência é fator importante no planejamento de algumas medidas de controle,como, por exemplo, no caso <strong>do</strong>s acidentes de trânsito e <strong>do</strong>enças infecciosas que exijam aa<strong>do</strong>ção de medidas de controle no local de ocorrência. Os óbitos ocorri<strong>do</strong>s fora <strong>do</strong> localde residência serão redistribuí<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> fechamento das estatísticas, pelas secretariasestaduais e Ministério da Saúde, permitin<strong>do</strong>, assim, o acesso aos da<strong>do</strong>s tanto por ocorrênciacomo por residência <strong>do</strong> faleci<strong>do</strong>.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS73


Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância EpidemiológicaO SIM constitui importante elemento para o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica,tanto como fonte principal de da<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> há falhas de registro de casosno Sinan, quanto como fonte complementar, por também dispor de informaçõessobre as características de pessoa, tempo e lugar, assistência prestada ao paciente,causas básicas e associadas de óbito, extremamente relevantes e muito utilizadas nodiagnóstico da situação de saúde da população.As informações obtidas pela DO também possibilitam o delineamento <strong>do</strong> perfil demorbidade de uma área, no que diz respeito às <strong>do</strong>enças mais letais e às <strong>do</strong>enças crônicasnão sujeitas à notificação compulsória, representan<strong>do</strong>, praticamente, a única fonte regularde da<strong>do</strong>s. Para as <strong>do</strong>enças de notificação compulsória, a utilização eficiente desta fonte deda<strong>do</strong>s depende da verificação rotineira da presença desses agravos no banco de da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>SIM. Deve-se também checar se as mesmas constam no Sinan, bem como a evolução <strong>do</strong>caso para óbito.O fluxo da declaração de óbito é apresenta<strong>do</strong> na Figura 3 e o acesso às suas informaçõesconsolidadas para os níveis nacional, regional, estadual e municipal é disponibiliza<strong>do</strong>em CD-ROM. A SVS também disponibiliza essas informações na internet, pelo site www.datasus.gov.br.Figura 3. Fluxo da Declaração de ÓbitoHospitalCartório deRegistro CivilPreenchePreenche o <strong>do</strong>cumento1 a via1 a via2 a via2 a via3 a via3 a viaEncaminhaFamíliaEncaminhaArquivaSecretariade SaúdeCartório deRegistro CivilSecretariade SaúdeArquivaFonte: SVS/MS, Portaria nº 20, de 3 de outubro de 200374 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância EpidemiológicaUma vez preenchida a DO, quan<strong>do</strong> se tratar de óbitos por causas naturais, ocorri<strong>do</strong>sem estabelecimento de saúde, a primeira via (branca) será da secretaria municipal de saúde(SMS); a segunda (amarela) será entregue aos familiares <strong>do</strong> faleci<strong>do</strong>, para registro emCartório de Registro Civil e emissão da Certidão de Óbito (fican<strong>do</strong> retida no cartório); aterceira (rosa) ficará arquivada no prontuário <strong>do</strong> faleci<strong>do</strong>. Nos óbitos de causas naturaisocorri<strong>do</strong>s fora <strong>do</strong> estabelecimento de saúde, mas com assistência médica, o médico quefornecer a DO deverá levar a primeira e terceira vias para a SMS, entregan<strong>do</strong> a segunda paraos familiares <strong>do</strong> faleci<strong>do</strong>. Nos casos de óbitos de causas naturais, sem assistência médica, emlocais que disponham de Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), estes serão responsáveispela emissão da DO, obedecen<strong>do</strong> o mesmo fluxo <strong>do</strong>s hospitais. Em lugares onde não existaSVO, um médico da localidade deverá preencher a DO obedecen<strong>do</strong> o fluxo anteriormentereferi<strong>do</strong> para óbitos ocorri<strong>do</strong>s fora <strong>do</strong> estabelecimento de saúde, com assistência médica.Nos óbitos por causas naturais em localidades sem médicos, o responsável pelo faleci<strong>do</strong>,acompanha<strong>do</strong> de duas testemunhas, comparecerá ao Cartório de Registro Civil onde serápreenchida a DO. A segunda via deste <strong>do</strong>cumento ficará retida no cartório e a primeira eterceira vias serão recolhidas pela secretaria municipal de saúde. Nos óbitos por causas acidentaisou violentas, o médico legista <strong>do</strong> Instituto Médico-Legal (IML) deverá preencher aDO (nos locais onde não exista IML um perito é designa<strong>do</strong> para tal finalidade), seguin<strong>do</strong>-seo mesmo fluxo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> para os hospitais.As SMS realizarão a busca ativa dessas vias em to<strong>do</strong>s os hospitais e cartórios, evitan<strong>do</strong>a perda de registro de óbitos no SIM, com conseqüente perfil irreal da mortalidade da suaárea de abrangência. Nas SMS, as primeiras vias são digitadas e enviadas em disquetes paraas Regionais, que fazem o consolida<strong>do</strong> de sua área e o enviam para as secretarias estaduaisde saúde, que consolidam os da<strong>do</strong>s estaduais e os repassam para o Ministério da Saúde.3Em to<strong>do</strong>s os níveis, sobretu<strong>do</strong> no municipal, que está mais próximo <strong>do</strong> evento, deveser realizada a crítica <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, buscan<strong>do</strong> a existência de inconsistências como, porexemplo, causas de óbito exclusivas de um sexo sen<strong>do</strong> registradas em outro, causasperinatais em adultos, registro de óbitos fetais com causas compatíveis apenas comnasci<strong>do</strong>s vivos e idade incompatível com a <strong>do</strong>ença.A análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> SIM permite a construção de importantes indica<strong>do</strong>res para odelineamento <strong>do</strong> perfil de saúde de uma região. Assim, a partir das informações contidasnesse Sistema, pode-se obter a mortalidade proporcional por causas, faixa etária, sexo, localde ocorrência e residência e letalidade de agravos <strong>do</strong>s quais se conheça a incidência, bemcomo taxas de mortalidade geral, infantil, materna ou por qualquer outra variável contida naDO, uma vez que são disponibilizadas várias formas de cruzamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s. Entretanto,em muitas áreas, o uso dessa rica fonte de da<strong>do</strong>s é prejudicada pelo não preenchimento corretodas DO, com omissão de da<strong>do</strong>s como, por exemplo, esta<strong>do</strong> gestacional ou puerperal, oupelo registro excessivo de causas mal definidas, prejudican<strong>do</strong> o uso dessas informações nasdiversas instâncias <strong>do</strong> sistema de saúde. Estas análises devem ser realizadas em to<strong>do</strong>s os níveis<strong>do</strong> sistema, sen<strong>do</strong> subsídios fundamentais para o planejamento de ações <strong>do</strong>s gestores.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS75


Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância EpidemiológicaSistema de Informações sobre Nasci<strong>do</strong>s Vivos (Sinasc)O número de nasci<strong>do</strong>s vivos constitui relevante informação para o campo da saúdepública, pois possibilita a constituição de indica<strong>do</strong>res volta<strong>do</strong>s para a avaliação de riscos àsaúde <strong>do</strong> segmento materno-infantil, a exemplo <strong>do</strong>s coeficientes de mortalidade infantil ematerna, nos quais representa o denomina<strong>do</strong>r. Antes da implantação <strong>do</strong> Sinasc, em 1990,esta informação só era conhecida no Brasil por estimativas realizadas a partir da informaçãocensitária. Atualmente, são disponibiliza<strong>do</strong>s pela SVS, no site www.datasus.gov.br,da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Sinasc referentes aos anos de 1994 em diante. Entretanto, até o presente momento,só pode ser utiliza<strong>do</strong> como denomina<strong>do</strong>r, no cálculo de alguns indica<strong>do</strong>res, em regiõesonde sua cobertura é ampla, substituin<strong>do</strong> deste mo<strong>do</strong> as estimativas censitárias.O Sinasc tem como instrumento padroniza<strong>do</strong> de coleta de da<strong>do</strong>s a Declaração de Nasci<strong>do</strong>Vivo (DN), cuja emissão, a exemplo da DO, é de competência exclusiva <strong>do</strong> Ministérioda Saúde. Tanto a emissão da DN como o seu registro em cartório serão realiza<strong>do</strong>s nomunicípio de ocorrência <strong>do</strong> nascimento. Deve ser preenchida nos hospitais e outras instituiçõesde saúde que realizam parto, e nos Cartórios de Registro Civil, na presença de duastestemunhas, quan<strong>do</strong> o nascimento ocorre em <strong>do</strong>micílio sem assistência de profissional desaúde. Desde 1992 sua implantação ocorre de forma gradual. Atualmente, vem apresentan<strong>do</strong>em muitos municípios um volume maior de registros <strong>do</strong> que o publica<strong>do</strong> nos anuários<strong>do</strong> IBGE, com base nos da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Cartórios de Registro Civil.A DN deve ser preenchida para to<strong>do</strong>s os nasci<strong>do</strong>s vivos no país, o que, segun<strong>do</strong> conceitodefini<strong>do</strong> pela OMS, corresponde a “to<strong>do</strong> produto da concepção que, independentemente <strong>do</strong>tempo de gestação ou peso ao nascer, depois de expulso ou extraí<strong>do</strong> <strong>do</strong> corpo da mãe, respireou apresente outro sinal de vida tal como batimento cardíaco, pulsação <strong>do</strong> cordão umbilicalou movimentos efetivos <strong>do</strong>s músculos de contração voluntária, estan<strong>do</strong> ou não desprendidaa placenta”. A obrigatoriedade desse registro é também dada pela Lei n° 6.015/73. No caso degravidez múltipla, deve ser preenchida uma DN para cada criança nascida viva.É sabida a ocorrência de uma proporção razoável de subnotificação de nascimentos,estimada em até 35% para alguns esta<strong>do</strong>s, em 1999, particularmente nas regiões Norte eNordeste − que nesse ano apresentaram cobertura média em torno de 80% <strong>do</strong> número denasci<strong>do</strong>s vivos estima<strong>do</strong> para cada região, motivo que levou as áreas responsáveis pelasestatísticas vitais a realizarem uma busca ativa nas unidades emissoras de DNs. Entretanto,nesse mesmo perío<strong>do</strong>, a captação de nascimentos pelo Sinasc encontrava-se igual ou superiora 100% em relação às estimativas demográficas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste,com índices mínimos de 87%, 90% e 96% em três esta<strong>do</strong>s. Tais da<strong>do</strong>s revelam progressivamelhoria da cobertura desse sistema, o que favorece sua utilização como fonte de da<strong>do</strong>spara a confecção de alguns indica<strong>do</strong>res.Igualmente à DO, os formulários de Declaração de Nasci<strong>do</strong> Vivo são pré-numera<strong>do</strong>s,impressos em três vias coloridas e distribuí<strong>do</strong>s às SES pela SVS/MS. As SES encarregavamse,até recentemente, e sua distribuição aos estabelecimentos de saúde e cartórios. Apesarda preconização de que as SMS devem assumir esse encargo, isto ainda não está acontecen<strong>do</strong>em to<strong>do</strong> o território nacional.76 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância EpidemiológicaO fluxo recomenda<strong>do</strong> pelo Ministério da Saúde para a DN (Figura 4) tem a mesmalógica que orienta o da DO.Figura 4. Fluxo da Declaração de Nasci<strong>do</strong> VivoHospitalCartório deRegistro CivilDN − 1 a viaPreenche o <strong>do</strong>cumentoFamília2 a via3 a via1 a via2 a via3 a via3CartórioArquivaEncaminhaArquivaSecretariade SaúdeSecretariade SaúdeUnidadede SaúdeFonte: SVS/MS, Portaria nº 20, de 3 de outubro de 2003Nos partos ocorri<strong>do</strong>s em estabelecimentos de saúde, a primeira via (branca) da DNpreenchida será para a SMS; a segunda (amarela) deverá ser entregue ao responsável pelacriança, para a obtenção da Certidão de Nascimento no Cartório de Registro Civil, ondeficará retida; a terceira (rosa) será arquivada no prontuário da puérpera. Para os partos<strong>do</strong>miciliares com assistência médica, a primeira via deverá ser enviada para a SMS e a segundae terceira vias entregues ao responsável, que utilizará a segunda via para registro <strong>do</strong>nascimento em cartório e a terceira para apresentação em unidade de saúde onde realizara primeira consulta da criança. Nos partos <strong>do</strong>miciliares sem assistência médica, a DN serápreenchida no Cartório de Registro Civil, que reterá a primeira via, a ser recolhida pelaSMS, e a segunda, para seus arquivos. A terceira via será entregue ao responsável, que adestinará à unidade de saúde <strong>do</strong> primeiro atendimento da criança.Também nesses casos as primeiras vias da DN deverão ser recolhidas ativamente pelassecretarias municipais de saúde, que após digitá-las envia o consolida<strong>do</strong> para as SES, ondeos da<strong>do</strong>s são processa<strong>do</strong>s e distribuí<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> o município de residência e, a seguir, envia<strong>do</strong>spara o MS, que os reagrupa por esta<strong>do</strong>s de residência, sen<strong>do</strong> disponibiliza<strong>do</strong>s pelaSVS através <strong>do</strong> site www.datasus.gov.br e em CD-ROM. Em to<strong>do</strong>s os níveis <strong>do</strong> sistema, osda<strong>do</strong>s deverão ser critica<strong>do</strong>s. As críticas realizadas visam detectar possíveis erros de preenchimentoda Declaração de Nasci<strong>do</strong> Vivo ou da digitação de da<strong>do</strong>s. Sua validação é feitapelo cruzamento de variáveis para verificação de consistência, como, por exemplo, o peso<strong>do</strong> bebê com o tempo de gestação ou a idade da mãe com a paridade.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS77


Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância EpidemiológicaA utilização <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s deste sistema para o planejamento e tomada de decisões nastrês esferas de governo ainda é incipiente. Na maioria das vezes, como denomina<strong>do</strong>r parao cálculo de taxas como as de mortalidade infantil e materna, por exemplo. Apesar disso,alguns indica<strong>do</strong>res vêm sen<strong>do</strong> propostos − a grande maioria voltada à avaliação de risco damortalidade infantil e a qualidade da rede de atenção à gravidez e ao parto.Entre os indica<strong>do</strong>res de interesse para a atenção à saúde materno-infantil, são imprescindíveisas informações contidas na DN: proporção de nasci<strong>do</strong>s vivos de baixo peso,proporção de nascimentos prematuros, proporção de partos hospitalares, proporção denasci<strong>do</strong>s vivos por faixa etária da mãe, valores <strong>do</strong> índice Apgar no primeiro e quinto minutos,número de consultas pré-natal realizadas para cada nasci<strong>do</strong> vivo, dentre outros. Alémdesses, podem ainda ser calcula<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res clássicos volta<strong>do</strong>s à caracterização geral deuma população, como a taxa bruta de natalidade e a taxa de fecundidade geral.Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS)O SIH/SUS, que possui da<strong>do</strong>s informatiza<strong>do</strong>s desde 1984, não foi concebi<strong>do</strong> sob alógica epidemiológica, mas sim com o propósito de operar o sistema de pagamento deinternação <strong>do</strong>s hospitais contrata<strong>do</strong>s pelo Ministério da Previdência. Posteriormente, foiestendi<strong>do</strong> aos hospitais filantrópicos, universitários e de ensino e aos hospitais públicosmunicipais, estaduais e federais. Nesse último caso, somente aos da administração indiretae de outros ministérios.Reúne informações de cerca de 70% <strong>do</strong>s internamentos hospitalares realiza<strong>do</strong>s nopaís, tratan<strong>do</strong>-se, portanto, de grande fonte das enfermidades que requerem internação,importante para o conhecimento da situação de saúde e gestão de serviços. Ressalte-se suagradativa incorporação à rotina de análise e informações de alguns órgãos de vigilânciaepidemiológica de esta<strong>do</strong>s e municípios.Seu instrumento de coleta de da<strong>do</strong>s é a Autorização de Internação Hospitalar (AIH),atualmente emitida pelos esta<strong>do</strong>s a partir de uma série numérica única definida anualmenteem portaria ministerial. Este formulário contém, entre outros, os da<strong>do</strong>s de atendimento,com os diagnósticos de internamento e alta (codifica<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com a CID), informaçõesrelativas às características de pessoa (idade e sexo), tempo e lugar (procedência <strong>do</strong>paciente) das internações, procedimentos realiza<strong>do</strong>s, valores pagos e da<strong>do</strong>s cadastrais dasunidades de saúde, que permitem sua utilização para fins epidemiológicos.As séries numéricas de AIHs são mensalmente fornecidas pelo Ministério da Saúdeàs secretarias estaduais de saúde (Figura 5), de acor<strong>do</strong> com o quantitativo anual estipula<strong>do</strong>para o esta<strong>do</strong>, que desde o início de 1995 é equivalente ao máximo de 9% da populaçãoresidente (estimada pelo IBGE). Quan<strong>do</strong> se trata de município em gestão plena <strong>do</strong> sistema,a cota de AIH definida pela Programação Pactuada e Integrada (PPI) é repassada diretamentepelo Ministério da Saúde para o município. O banco de da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r envia asinformações para o Datasus, com cópia para a secretaria estadual de saúde. Nos municípiosem gestão plena de atenção básica, é o esta<strong>do</strong> que faz a gestão da rede hospitalar.78 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância EpidemiológicaFigura 5. Fluxo básico de Autorização de Internação Hospitalar (AIH)Paciente éexamina<strong>do</strong>Lau<strong>do</strong> éencaminha<strong>do</strong>Órgão emissorEmiteEncaminhaHospital3DigitaEncaminhaSecretaria Municipal de SaúdeMinistério da SaúdeCritica, analisa e glosaEncaminhaEncaminhaSecretaria Estadual de SaúdeOs números de AIHs têm validade de quatro meses, não sen<strong>do</strong> mais aceitos pelo sistema.Tal regra permite certa compensação temporal naqueles esta<strong>do</strong>s em que a sazonalidadeda ocorrência de <strong>do</strong>enças influencia fortemente o número de internações.O banco de da<strong>do</strong>s, correspondente ao cadastro de todas as unidades presta<strong>do</strong>ras deserviços hospitalares ao SUS credenciadas, é permanentemente atualiza<strong>do</strong> sempre que hácredenciamento, descredenciamento ou qualquer modificação de alguma característica daunidade de saúde.Os da<strong>do</strong>s produzi<strong>do</strong>s por este Sistema são amplamente disponibiliza<strong>do</strong>s pelo site www.datasus.gov.br e pela BBS (Bulletin Board System) <strong>do</strong> Ministério da Saúde, além de CD-ROM com produção mensal e anual consolidadas. Os arquivos disponibiliza<strong>do</strong>s podem serde <strong>do</strong>is tipos: o “movimento”, em que constam to<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s, e o “reduzi<strong>do</strong>”, em que nãoaparecem os relativos aos serviços profissionais.O SIH/SUS foi desenvolvi<strong>do</strong> para propiciar a elaboração de alguns indica<strong>do</strong>res deavaliação de desempenho de unidades, além <strong>do</strong> acompanhamento <strong>do</strong>s números absolutosrelaciona<strong>do</strong>s à freqüência de AIHs e que vêm sen<strong>do</strong> cada vez mais utiliza<strong>do</strong>s pelos gestorespara uma primeira aproximação da avaliação de cobertura de sua rede hospitalar, e até paraa priorização de ações de caráter preventivo.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS79


Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância EpidemiológicaEntre suas limitações encontram-se a cobertura <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s (que depende <strong>do</strong> grau deutilização e acesso da população aos serviços da rede pública própria, contratada e conveniadaao SUS), ausência de críticas informatizadas, possibilidade das informações poucoconfiáveis sobre o endereço <strong>do</strong> paciente, distorções decorrentes de falsos diagnósticos emenor número de internamentos que o necessário, em função das restrições de recursosfederais – problemas que podem resultar em vieses nas estimativas.Contu<strong>do</strong>, ao contrário <strong>do</strong> que ocorre nos bancos de da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s sistemas descritos anteriormente,os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> SIH/SUS, não podem ser corrigi<strong>do</strong>s após terem si<strong>do</strong> envia<strong>do</strong>s,mesmo após investiga<strong>do</strong>s e confirma<strong>do</strong>s erros de digitação, codificação ou diagnóstico. OSistema também não identifica reinternações e transferências de outros hospitais, o que,eventualmente leva a duplas ou triplas contagens de um mesmo paciente.Apesar de todas as restrições, essa base de da<strong>do</strong>s é de extrema importância para oconhecimento <strong>do</strong> perfil <strong>do</strong>s atendimentos na rede hospitalar. Adicionalmente, não podeser desprezada a agilidade <strong>do</strong> Sistema. Os da<strong>do</strong>s por ele aporta<strong>do</strong>s tornam-se disponíveisaos gestores em menos de um mês, e cerca de <strong>do</strong>is meses para a disponibilização <strong>do</strong> consolida<strong>do</strong>Brasil. Para a vigilância epidemiológica, avaliação e controle de ações, esta é umaimportante qualidade para o estímulo à sua análise rotineira.Sistema de Informações Ambulatoriais <strong>do</strong> SUS (SIA/SUS)Em 1991, o SIA/SUS foi formalmente implanta<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> o território nacional comoinstrumento de ordenação <strong>do</strong> pagamento <strong>do</strong>s serviços ambulatoriais (públicos e convenia<strong>do</strong>s),viabilizan<strong>do</strong> aos gestores apenas a informação <strong>do</strong> gasto por natureza jurídica <strong>do</strong>presta<strong>do</strong>r. O total de consultas e exames realiza<strong>do</strong>s era forneci<strong>do</strong> por outro sistema, definalidade puramente estatística, cujo <strong>do</strong>cumento de entrada de da<strong>do</strong>s era o Boletim deServiços Produzi<strong>do</strong>s (BSP) e o único produto resultante, a publicação Inamps em Da<strong>do</strong>s.Embora tenha sofri<strong>do</strong> algumas alterações com vistas a um melhor controle e consistênciade da<strong>do</strong>s, o SIA/SUS pouco mu<strong>do</strong>u desde sua implantação. Por obedecer à lógica de pagamentopor procedimento, não registra o CID <strong>do</strong>(s) diagnóstico(s) <strong>do</strong>s pacientes e não podeser utiliza<strong>do</strong> como informação epidemiológica, ou seja, seus da<strong>do</strong>s não permitem delinear osperfis de morbidade da população, a não ser pela inferência a partir <strong>do</strong>s serviços utiliza<strong>do</strong>s.Entretanto, como sua unidade de registro de informações é o procedimento ambulatorialrealiza<strong>do</strong>, desagrega<strong>do</strong> em atos profissionais, outros indica<strong>do</strong>res operacionais podemser importantes como complemento das análises epidemiológicas, por exemplo: número deconsultas médicas por habitante/ano; número de consultas médicas por consultório; númerode exames/terapias realiza<strong>do</strong>s pelo quantitativo de consultas médicas.Desde julho de 1994 as informações relacionadas a esse sistema estão disponíveis nosite www.datasus.gov.br e por CD-ROM.Ressalte-se como importante módulo o cadastramento de unidades ambulatoriaiscontratadas, conveniadas e da rede pública própria <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s e municípios, bem como asinformações sobre profissionais por especialidade.80 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância EpidemiológicaQuan<strong>do</strong> da análise de seus da<strong>do</strong>s, deve-se atentar para as questões relativas à cobertura,acesso, procedência e fluxo <strong>do</strong>s usuários <strong>do</strong>s serviços de saúde.Outras importantes fontes de da<strong>do</strong>sA depender das necessidades <strong>do</strong>s programas de controle de algumas <strong>do</strong>enças, outrossistemas de informação complementares foram desenvolvi<strong>do</strong>s pelo Cenepi, tais como oFAD (Sistema de informação da febre amarela e dengue), que registra da<strong>do</strong>s de infestaçãopelo Aedes aegypti, a nível municipal, e outros da<strong>do</strong>s operacionais <strong>do</strong> programa.Outros sistemas de informação que também podem ser úteis à vigilância epidemiológica,embora restritos a uma área de atuação muito específica, quer por não terem umaabrangência nacional ou por não serem utiliza<strong>do</strong>s em to<strong>do</strong>s os níveis de gestão, são:Sistema de Informação da Atenção Básica (Siab) – sistema de informação territorializa<strong>do</strong>que coleta da<strong>do</strong>s que possibilitam a construção de indica<strong>do</strong>res populacionais referentesa áreas de abrangência bem delimitadas, cobertas pelo Programa de Agentes Comunitáriosde Saúde e Programa Saúde da Família.Sua base de da<strong>do</strong>s possui três blocos: o cadastramento familiar (indica<strong>do</strong>res sociodemográficos<strong>do</strong>s indivíduos e de saneamento básico <strong>do</strong>s <strong>do</strong>micílios); o acompanhamentode grupos de risco (menores de <strong>do</strong>is anos, gestantes, hipertensos, diabéticos, pessoas comtuberculose e pessoas com hanseníase); e o registro de atividades, procedimentos e notificações(produção e cobertura de ações e serviços básicos, notificação de agravos, óbitos ehospitalizações).Os níveis de agregação <strong>do</strong> SIAB são: microárea de atuação <strong>do</strong> agente comunitário desaúde (território onde residem cerca de 150 famílias), área de abrangência da equipe deSaúde da Família (território onde residem aproximadamente mil famílias), segmento, zonasurbana e rural, município, esta<strong>do</strong>, regiões e país. Assim, o Sistema possibilita a microlocalizaçãode problemas de saúde como, por exemplo, a identificação de áreas com baixascoberturas vacinais ou altas taxas de prevalência de <strong>do</strong>enças (como tuberculose e hipertensão),permitin<strong>do</strong> a espacialização das necessidades e respostas sociais e constituin<strong>do</strong>-se emimportante ferramenta para o planejamento e avaliação das ações de vigilância da saúde.Sistema de Informações de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) – instrumentode políticas federais, focalizadas e compensatórias. Atualmente, encontra-se implanta<strong>do</strong>em aproximadamente 1.600 municípios considera<strong>do</strong>s de risco para a mortalidade infantil.Disponibiliza informações sobre o programa de recuperação de crianças desnutridase gestantes sob risco nutricional.Sistema de Informações <strong>do</strong> Programa Nacional de Imunização (SI-PNI) – implanta<strong>do</strong>em to<strong>do</strong>s os municípios brasileiros, fornece da<strong>do</strong>s relativos à cobertura vacinal de rotinae, em campanhas, taxa de aban<strong>do</strong>no e controle <strong>do</strong> envio de boletins de imunização. Além <strong>do</strong>módulo de avaliação <strong>do</strong> PNI, este Sistema dispõe de um subsistema de estoque e distribuiçãode imunobiológicos para fins gerenciais.3Secretaria de Vigilância em Saúde / MS81


Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância EpidemiológicaSistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano(Siságua) – fornece informações sobre a qualidade da água para consumo humano,proveniente <strong>do</strong>s sistemas público e priva<strong>do</strong>, e soluções alternativas de abastecimento. Objetivacoletar, transmitir e disseminar da<strong>do</strong>s gera<strong>do</strong>s rotineiramente, de forma a produzirinformações necessárias à prática da vigilância da qualidade da água de consumo humano(avaliação da problemática da qualidade da água e definição de estratégias para prevenir econtrolar os processos de sua deterioração e transmissão de enfermidades) por parte dassecretarias municipais e estaduais de saúde, em cumprimento à Portaria nº 36/90, <strong>do</strong> Ministérioda Saúde.Além das informações decorrentes <strong>do</strong>s sistemas descritos existem outras grandes basesde da<strong>do</strong>s de interesse para o setor saúde, com padronização e abrangência nacionais. Entreelas destacam-se: Cadernos de Saúde e Rede Interagencial de Informação para a Saúde/Ripsa, da qual um <strong>do</strong>s produtos é o IDB/Indica<strong>do</strong>res e Da<strong>do</strong>s Básicos para a Saúde (acessovia www.datasus.gov.br ou www.saude.gov.br), além daquelas disponibilizadas pelo IBGE(particularmente no que se refere ao Censo Demográfico, à Pesquisa Brasileira por Amostragemde Domicílios – Pnad e Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000). É tambémimportante verificar outros bancos de da<strong>do</strong>s de interesse à área da saúde, como os <strong>do</strong> Ministério<strong>do</strong> Trabalho (Relação Anual de Informações Sociais/Rais) e os <strong>do</strong> Sistema Federalde Inspeção <strong>do</strong> Trabalho (informações sobre riscos ocupacionais por atividade econômica),bem como fontes de da<strong>do</strong>s resultantes de estu<strong>do</strong>s e pesquisas realiza<strong>do</strong>s por instituiçõescomo o Ipea e relatórios e outras publicações de associações de empresas que atuam no setormédico supletivo (medicina de grupo, segura<strong>do</strong>ras, autogestão e planos de administração).A maioria <strong>do</strong>s sistemas de informação ora apresenta<strong>do</strong>s possui manual instrucional emodelos <strong>do</strong>s instrumentos de coleta (fichas e declarações) para implantação e utilização emcomputa<strong>do</strong>r – disponibiliza<strong>do</strong>s pela Secretaria de Vigilância em Saúde.A utilização <strong>do</strong>s sistemas de informações de saúde e de outras fontes de da<strong>do</strong>s, pelosserviços de saúde e instituições de ensino e pesquisa, dentre outras, pode ser viabilizada viaInternet, propician<strong>do</strong> o acesso a da<strong>do</strong>s nas seguintes áreas:• demografia – informações sobre população, mortalidade e natalidade;• morbidade – morbidade hospitalar e ambulatorial, registros especiais, seguro social,acidentes de trânsito, de trabalho, etc.; meio ambiente: saneamento básico, abastecimentode água, destino <strong>do</strong>s dejetos e lixo, poluição ambiental, condições de habitação,estu<strong>do</strong> de vetores;• recursos de saúde e produção de serviços – recursos físicos, humanos, financeiros,produção na rede de serviços básicos de saúde e em outras instituições de saúde,vigilância sanitária; no âmbito <strong>do</strong>cumental e administrativo: legislação médico-sanitária,referências bibliográficas e sistemas administrativos.Existem outros da<strong>do</strong>s necessários ao município e não coleta<strong>do</strong>s regularmente, quepodem ser obti<strong>do</strong>s mediante de inquéritos e estu<strong>do</strong>s especiais, de forma eventual e localizada.Contu<strong>do</strong>, é preciso haver racionalidade na definição <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s a serem coleta<strong>do</strong>s,82 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológicaprocessa<strong>do</strong>s e analisa<strong>do</strong>s no SIS, para evitar desperdício de tempo, recursos e descrédito nosistema de informação, tanto pela população como pelos técnicos.Divulgação das informaçõesA retroalimentação <strong>do</strong>s sistemas deve ser considerada um <strong>do</strong>s aspectos fundamentaispara o contínuo processo de aperfeiçoamento, gerência e controle da qualidade <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s.Tal prática deve ocorrer nos seus diversos níveis, de forma sistemática, com periodicidadepreviamente definida, de mo<strong>do</strong> a permitir a utilização das informações quan<strong>do</strong> da tomadade decisão e nas atividades de planejamento, definição de prioridades, alocação de recursose avaliação <strong>do</strong>s programas desenvolvi<strong>do</strong>s. Adicionalmente, a divulgação das informaçõesgeradas pelos sistemas assume valor inestimável como instrumento de suporte ao controlesocial, prática que deve ser estimulada e apoiada em to<strong>do</strong>s os níveis e que deve definir os instrumentosde informação, tanto para os profissionais de saúde como para a comunidade.3Perspectivas atuaisDesde 1992, a SVS vem desenvolven<strong>do</strong>, de forma descentralizada, uma política de estímuloao uso da informação e da informática como subsídio à implantação <strong>do</strong> SUS no país.Para isso, a<strong>do</strong>tou iniciativas junto aos esta<strong>do</strong>s e municípios, visan<strong>do</strong> a descentralização <strong>do</strong>uso <strong>do</strong> SIM, Sinan e Sinasc, financiou cursos de informação, epidemiologia e informática, edivulgou os programas EPI-Info e Epimap.Este processo vem avançan<strong>do</strong>, particularmente, a partir da implantação da NormaOperacional Básica <strong>do</strong> Sistema Único de Saúde (NOB 01/96) e da instituição da transferênciade recursos, fun<strong>do</strong> a fun<strong>do</strong>, para o desenvolvimento de atividades na área de epidemiologia(Portaria MS nº 1.399/99).Considerações finaisA compatibilidade das principais bases de da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s diversos sistemas de informaçõesem saúde, com vistas à sua utilização conjunta, é meta há algum tempo buscada pelos profissionaisque trabalham com a informação no setor saúde. A uniformização de conceitos edefinições <strong>do</strong> Sinan, Sinasc e SIM é exemplo das iniciativas a<strong>do</strong>tadas no senti<strong>do</strong> de obter acompatibilização destes sistemas que, entretanto, até o momento ainda não foi totalmenteatingida.A necessidade de integração <strong>do</strong>s bancos de da<strong>do</strong>s, para maior dinamização das açõesde vigilância epidemiológica por meio da utilização <strong>do</strong>s sistemas nacionais de informaçõesdescritos, apresenta-se como pré-requisito para o melhor desenvolvimento de uma políticade informação e informática para o SUS.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS83


CAPÍTULO 44Sistema de vigilânciaepidemiológicade eventos adversospós-vacinais


Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-VacinaisAs vacinas previnem o a<strong>do</strong>ecimento e a morte de milhões de pessoas a cada ano, representan<strong>do</strong>a intervenção com melhor custo-benefício. Apesar disso, cerca de <strong>do</strong>is milhõesde crianças morrem anualmente por <strong>do</strong>enças imunopreveníveis que pode riam ser evitadaspela utilização de vacinas de baixo custo. No começo <strong>do</strong> século XX, de cada 1 mil criançasnascidas 160 morriam de uma causa infecciosa antes <strong>do</strong>s 5 anos.As vacinas, como to<strong>do</strong> produto farmacêutico, não são isentas de efeitos colaterais oueventos adversos. Como significativa proporção da população é vacinada a cada ano, hácerto número de eventos adversos após a vacinação – tanto apenas coincidentes como comrelação causal com a vacina.O grande impacto que um evento adverso pós-vacinal pode causar na sociedade deveseao fato de que as vacinas geralmente são utilizadas em pessoas saudáveis, principal mentecrianças. Deste mo<strong>do</strong>, qualquer reação, por mais leve que seja ou apenas associada temporalmente(coincidente), causa grande repercussão.Diante da redução expressiva na ocorrência de <strong>do</strong>enças imunopreveníveis, os eventosadversos passaram a ter maior destaque, conseqüentes ao aumento progressivo <strong>do</strong> uso deimunobiológicos em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. Entende-se por evento adverso toda situação clínicaocorrida em tempo variável após a utilização de produtos imunobiológicos, respeitan<strong>do</strong>-seum diagnóstico diferencial adequa<strong>do</strong>, o afastamento de situação coincidentes e a plausibilidadebiológica <strong>do</strong> evento. De mo<strong>do</strong> geral, podem ser locais ou sistêmicos, leves, modera<strong>do</strong>sou graves, categoriza<strong>do</strong>s em:• relação à vacina (tipos de cepas, substâncias estabiliza<strong>do</strong>ras e/ou conserva<strong>do</strong>ras,manipulação, conservação e administração);• relação aos vacina<strong>do</strong>s (fatores predisponentes e/ou imunologicamente idiossincráticos).4Apesar <strong>do</strong> constante aperfeiçoamento <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s de produção e purificação das vacinas,estas são constituídas, em sua maioria, por agentes infecciosos atenua<strong>do</strong>s ou inativa<strong>do</strong>sou por algum <strong>do</strong>s seus produtos ou componentes, podem induzir a eventos adversos.Diversos países mantêm sistemas de vigilância e investigação de eventos adversos pósvacinais,consideran<strong>do</strong> que o monitoramento adequa<strong>do</strong> e a investigação oportuna e competentesão de fundamental importância para a manutenção da confiança nos programas deimunizações, uma vez que ao cumprirem os seus objetivos orientam, quan<strong>do</strong> necessárias, atomada de medidas, como a retirada de um produto <strong>do</strong> calendário vacinal, ou alterações naposologia ou faixa etária, entre outras.No Brasil, o registro da chegada da primeira vacina data de 1805, trazida pelo marquêsde Barbacena, sob a forma de vírus vacínico da varíola no braço <strong>do</strong>s escravos. Em 1925, oBCG, já utiliza<strong>do</strong> mundialmente, começa a ser utiliza<strong>do</strong> e produzi<strong>do</strong> no país, bem comoa vacina contra a febre amarela, em 1937 – mas só em mea<strong>do</strong>s de 1987 inicia-se a sistematização<strong>do</strong> registro de eventos adversos. No início <strong>do</strong>s anos 90, a Organização Mundialda Saúde recomenda a notificação e investigação de eventos adversos pós-vacinais. Em1992, o Programa Nacional de Imunizações implantou oficialmente este sistema, que gradativamenteaprimora<strong>do</strong> conta a partir de 2000 com o Sistema Informatiza<strong>do</strong> de EventosSecretaria de Vigilância em Saúde / MS87


Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-VacinaisAdversos Pós-Vacinais, que permite uma análise mais rápida e contempla maior número devariáveis quanto à reatogenicidade <strong>do</strong>s produtos usa<strong>do</strong>s pelo Programa Nacional de Imunizações.Objetivos <strong>do</strong> Sistema• Identificar os eventos adversos pós-vacinação.• Identificar eventos novos e/ ou raros.• Acompanhar a investigação <strong>do</strong>s eventos adversos.• Promover uma investigação capaz de estabelecer ou descartar a relação de causalidadecom a vacina.• Identificar os fatores de risco e/ou condições que potencializem eventos adversos.• Fornecer da<strong>do</strong>s que possibilitem uma avaliação descritiva e/ou analítica da ocorrência<strong>do</strong>s eventos adversos.• Sinalizar a necessidade de estu<strong>do</strong>s mais elabora<strong>do</strong>s para melhor interpretar os da<strong>do</strong>sda vigilância e investigação de eventos adversos pós-vacinais.Notificação e investigação <strong>do</strong>s eventos adversos:atribuições <strong>do</strong>s diferentes níveis <strong>do</strong> sistema de saúdeTo<strong>do</strong>s os eventos ocorri<strong>do</strong>s após a aplicação de um produto imunobiológico utiliza<strong>do</strong>pelo Programa Nacional de Imunizações, devem ser notifica<strong>do</strong>s, desde que respeitadas aplausi bi lidade biológica da ocorrência, o diagnóstico diferencial abrangente e descartadasas condições concomitantemente ocorridas ao uso da vacina mas sem qualquer relação coma mesma. No Manual de Vigilância de Eventos Adversos, 1998 (em revisão), encontram-sedefinições de caso para os eventos adversos específicos ou não para cada vacina.O fluxo de informação deve obedecer as seguintes orientações:Nível local• A unidade de saúde deverá identificar, investigar inicialmente e notificar a Coordenaçãode Imunizações e/ou serviço de vigilância <strong>do</strong> município.• A<strong>do</strong>tar as condutas clínicas pertinentes e avaliar a necessidade de ampliar a investigação.• Consolidar e analisar os casos notifica<strong>do</strong>s.Nível municipal• Receber as notificações das unidades de saúde.• Notificar de imediato os casos graves (fluxo imediato) ao nível regional ou estadual.• Promover a investigação das notificações recebidas, analisan<strong>do</strong> e estabelecen<strong>do</strong> acon duta adequada, no âmbito de sua competência.88 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinais• Detectar e notificar a ocorrência de surtos de eventos adversos.• Consolidar e avaliar os da<strong>do</strong>s municipais.• Repassar cópias das fichas e consolida<strong>do</strong> para as regionais de saúde (quan<strong>do</strong> houver)ou secretarias estaduais de saúde, até o quinto dia útil de cada mês.• Promover a capacitação e atualização <strong>do</strong>s recursos humanos.Nível regional (quan<strong>do</strong> houver)• Receber, analisar e consolidar os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s municípios de sua área de abrangência.• Notificar de imediato os casos graves (fluxo imediato) ao nível estadual.• Assessorar os municípios na investigação <strong>do</strong>s casos, quan<strong>do</strong> necessário.• Detectar e notificar a ocorrência de surtos de eventos adversos.• Repassar cópias das fichas e consolida<strong>do</strong> para as secretarias estaduais de saúde, até odécimo dia útil de cada mês.• Promover a capacitação e atualização <strong>do</strong>s recursos humanos.4Nível estadual• Receber, consolidar e analisar as notificações regionais ou municipais.• Notificar de imediato os casos graves (fluxo imediato) ao nível nacional.• Garantir, através <strong>do</strong>s Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie),os mecanismos necessários para a investigação, acompanhamento e elucidação deeventos adversos graves ou inusita<strong>do</strong>s, associa<strong>do</strong>s temporalmente às aplicaçõesde imunobiológicos (Instrução Normativa nº 2, de 24 de setembro de 2002).• Assessorar as regionais ou os municípios na investigação <strong>do</strong>s casos, quan<strong>do</strong> necessário.• Detectar e notificar a ocorrência de surtos de eventos adversos.• Consolidar e analisar os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>.• Repassar o consolida<strong>do</strong> para o nível nacional até o décimo quinto dia útil de cadamês.• Promover a capacitação e atualização <strong>do</strong>s recursos humanos e/ou colaborar, nestaárea, com as regio nais e municípios.Nível nacional• Estabelecer as diretrizes gerais para vigilância de eventos adversos pós-vacinação.• Receber e analisar os consolida<strong>do</strong>s estaduais.• Garantir, através <strong>do</strong>s Crie, apoio técnico aos esta<strong>do</strong>s, participan<strong>do</strong> inclusive da investigaçãoepidemiológica de campo, quan<strong>do</strong> necessário.• Elaborar e manter atualiza<strong>do</strong>s os protocolos de investigação <strong>do</strong>s eventos adversos.• A<strong>do</strong>tar medidas imediatas frente à ocorrência de surtos de eventos adversos.• Realizar supervisões sistemáticas aos esta<strong>do</strong>s.• Promover e colaborar, com os esta<strong>do</strong>s, na capacitação e atualização <strong>do</strong>s recursoshumanos.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS89


Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-VacinaisAnexo 1Descrição, tempo decorrente entre aplicaçãoe evento, freqüência, conduta e exames paracada vacina <strong>do</strong> Calendário Básico de VacinaçãoVacinaEventosadversosTempodecorrenteFreqüênciadas <strong>do</strong>sesCondutaExameDor1º dia1/2 a 5Aumenta com arepetição das <strong>do</strong>sesNotificar e investigar reaçõesmuito intensas ou “surtos”-Edema,eritemaIdem1/4 a 1/3Aumentam com arepe tição das <strong>do</strong>sesIdem -Edemaacentua<strong>do</strong>Idem Menos de1/50 Idem -TétanoDifteriaFebre 24/48 horas 1/14 a 1/200 Idem -Febre alta Idem Rara Notificar e investigar -ReaçãoanafiláticaMenos de 2horas, geralmentenos primeiros30 minutos1/100 mila 1/150 milNotificar e investigar.Contra-indica <strong>do</strong>sessubseqüentes-Síndrome deGuillain-BarréSemanasExtremamenteraraNotificar e investigarTratamento especializa<strong>do</strong>Contra-indica<strong>do</strong>ses subseqüentesInvestigaçãoclínica elaboratorialespecializadaNeuropatiaperiféricaHoras asemanas0,4/1milhãoNotificar e investigar. Avaliaçãoneurológica. Contra-indica<strong>do</strong>ses subseqüentesIdemRubor, calor, <strong>do</strong>r,endurecimentolocalDe 24 a48 horasDe 1/3 a 1/2Notificar reações maisintensas ou “surtos”-FebreNas primeiras48 horas1/330Notificar e investigarTratamento: ver Anexo 2-DTP (I)Febre maior ouigual a 39,5ºCSonolênciaNas primeiras48 horasOcorre nas primeiras24 horas1/330Não contra-indica<strong>do</strong>ses subseqüentesRecomenda-seantitérmico profilático1/3 - --Tratamento: ver Anexo 2ChoropersistenteInicia-se entre2 a 8 horas,prolongan<strong>do</strong>-seaté 48 horasapós a vacina1/100Recomenda-setratamento sintomáticoObservarNão contra-indica<strong>do</strong>ses subseqüentesNotificar e investigar a existênciade relação com outras causas-90 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-VacinaisVacinaEventos adversosTempodecorrenteFreqüênciadas <strong>do</strong>sesCondutaExameIrritabilidadeNas primeiras24 horas1/2Não há necessidade de notificare investigarNão contra-indica <strong>do</strong>ses subseqüentes-Vômito Idem 1/15 Idem -Anorexia Idem 1/5 Idem -Notificar e investigarEpisódio hipotônicohiporresponsivo(EHH)Nas primeiras48 horas,prin ci palmentenas primeiras6 horas apósa vacina1/1.750Tratamento de suporteAvaliar o EHH e o risco de adquirircoqueluche. Utilizar nas <strong>do</strong>ses subseqüentesa dupla infantil DT ou a DTP,de preferência acelular, se disponível,com as precauções indicadasAlertar os pais quanto àscom plicações da coquelucheClínico, paradiagnósticodiferencial4DTP (II)EncefalopatiaNos primeiros7 dias1/110 milNotificar e investigarTratamento a cargo <strong>do</strong> neurologistaContra-indica as <strong>do</strong>ses subseqüentesde DPT. Completar o esquema coma DT (dupla infantil)Alertar os pais quanto àscom plicações da coquelucheExameneurológicoInvestigaçãoclínica elaboratorialespecializadaConvulsãoAté 72 horas,quase semprenas primeiras12 horas1/1.750Notificar e investigarTratamento: ver Anexo 2Continuar esquema com DTou DPT ou DTaP, caso disponível,com precauções (avaliar riscos)Administrar antitérmico profiláticoe alertar os pais quanto ao riscoda coquelucheNo caso deconvulsõesde mais de 15minutos, exameneu rológicoe investigaçãoclínica e laboratorialAnafilaxiaGeralmente nosprimeiros 30minaté 2 horasExtremamenterara- ClínicoReaçõesimunoalérgicasMais de2 horas até diasapós a aplicaçãoda vacina-Notificar e investigarTratamento: ver Anexo 2Não contra-indica <strong>do</strong>ses subseqüentesClínico, paradiagnósticodiferencialArdência, eritema,hiperestesia,enduração1º dia RarosNotificar e investigar reaçõesintensas e “surtos”. Não contraindica<strong>do</strong>ses subseqüentes-Linfadenopatiaregional- Rara Idem -Resposta local imune - Rara Idem -Trípliceviral (I)Febre baixa, cefaléia,irritabilidade, conjuntiviteou manifestaçõescatarrais5-12 dias1/25a 1/200Idem -Febre alta5-12 dias1/6,7a 1/20IdemExame clínicoExantema 7-10 dias 1/20 Idem IdemLinfadenopatias 7-21 dias 1/100 Idem IdemSecretaria de Vigilância em Saúde / MS91


Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-VacinaisVacinaEventos adversosTempodecorrenteFreqüênciadas <strong>do</strong>sesCondutaExameMeningite2-3 semanasDesde 1/1 milaté 1/1 milhãoconforme a cepa<strong>do</strong> compo nentecaxumbaNotificar e investigar. Tratamentosintomático. Contra-indica <strong>do</strong>sesubseqüenteInvestigaçãoclínica elaboratorialespecializadaTrípliceviral (II)Pan-encefalitePúrpuratrombocitopênicaEm média,5 a 7 anosAté 2 meses0,7/1 milhãoDe 1/30 mila 1/1 milhãoNotificar e investigar. Tratamentocom neurologista. Contra-indica<strong>do</strong>se subseqüenteNotificar e investigarTratamento a cargo de especialistaContra-indica <strong>do</strong>se subseqüenteIdemIdemUrticária local - Muito raraNotificar e investigar. Tratamento:ver Anexo 2. Aplicar <strong>do</strong>se subseqüente,se necessária, com precauções-ReaçãoanafiláticaNos primeiros30 min até2 horas1/2,1 milhõesNotificar e investigar. Contraindica<strong>do</strong>se subseqüente.-Trípliceviral (III)Articulares -Em crianças:1/333Em mulheresadultas: 1/6,7Parotidite 10-14 dias -Notificar e investigar. Tratamentosintomático. Contra-indica <strong>do</strong>sessubseqüentesNotificar e investigar. Tratamentosintomático. Não contra-indica<strong>do</strong>ses subseqüentesInvestigaçãoclínica, paradiagnósticodiferencialIdemOrquite,pancreatite- RarasNotificação e investigação: desnecessárias.Tratamento sinto mático.Não há contra-indicação para <strong>do</strong>sessubseqüentesIdemDor1º dia1/3,5a 1/33,3Notificar e investigar. Contra-indica<strong>do</strong>se subseqüente-Enduração Idem 1/12,5 Idem -Hepatite BFebreIdem1/16,9a 1/100Idem -Mal-estar, cefaléia,astenia, mialgia,artralgiaIdem -Não é necessário notificar e in vestigar.Tratamento sintomático. Nãocontra-indica <strong>do</strong>ses subseqüentesClínico, paradescartarintercorrênciainfecciosaLocal (<strong>do</strong>r, abcesso) 1º dia - - -Febre, mialgia,cefaléia6 dias 1/20 Idem -FebreamarelaReaçãoanafiláticaNos primeiros30 min até2 horasEncefalite -1/1 milhãoGeralmente empessoas com alergiaa proteí nas <strong>do</strong>ovo de galinha1/17 milhão (USA).No Brasil não hárelatoNotificar e investigar.Contra-indica <strong>do</strong>ses subseqüentesNotificar e investigar.Contra-indica <strong>do</strong>ses subseqüentes.Tratamento da encefalite-Investigaçãoclínica e laboratorialparaafastar outrosdiagnósticosVisceralização30 dias apósvacinaçãoRaro. EminvestigaçãoNotificar -92 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-VacinaisVacinaEventosadversosTempodecorrenteFreqüênciadas <strong>do</strong>sesCondutaExameÚlcera comdiâmetro maiorque 1cmMaiorfreqüêncianos 6 primeirosmesesO risco médiodescrito paraefeitos locais eregionais (úlcera,abcesso e linfadenopatiaregionalsupurada) é de0,387 por milvacina<strong>do</strong>sNotificar e investigar. No caso denão cicatrização até seis mesesapós a aplicação da vacina, Isoniazida,na <strong>do</strong>se de 10mg/kg/dia, <strong>do</strong>semáxima de 400mg, até a regressãocompleta da lesãoGarantir limpeza local e nãousar pomadas, antibióticosou anti-sépticos-AbcessossubcutâneosfriosNos primeiros3 mesesIdemNotificar, investigar e acompanhar.Isoniazida na <strong>do</strong>se de 10mg/kg/dia,<strong>do</strong>se máxima de 400mg/dia, até aregressão completa da lesão-4AbcessossubcutâneosquentesPodem ocorrerprecocemente,até o 15º diaIdemNotificar, investigar e acompanhar.Conduta indicada para qualquerprocesso infeccioso agu<strong>do</strong> de pele-BCG (I)Lesõeslocais eregionaisLinfadenopatiaregional nãosupuradaLinfadenopatiaregionalsupuradaEm média nostrês primeirosmesesEm média,nos trêsprimeirosmesesIdemIdemNotificar, investigar e acompanharNão puncionar e não administrarIsoniazidaNotificar, investigar e acompanharIsoniazida na <strong>do</strong>se de 10mg/kg/dia,<strong>do</strong>se máxima de 400mg/dia, até odesaparecimento da supuração ediminuição significativa <strong>do</strong> tamanho<strong>do</strong> gânglio. Na presença degânglios, não fazer incisão; nãofazer exérese--Normalmente não se faz nadaReaçãoquelóideApós acicatrização-Em situação especial, indicam-secirurgia e radioterapia superficial,para diminuir a probabilidadede formação de quelóide apósa cirurgia-Reação lupóideTardiaMenos de 1por 10 milhõesde vacina<strong>do</strong>sNotificar, investigar e acompanharEsquema tríplice com:Isoniazida: 10mg/kg/diaRifampicina: 10mg/kg/diaEtambutol: 25mg/kg/dia,durante 2 meses, segui<strong>do</strong> de:Isoniazida: 10mg/kg/diaRifampicina: 10mg/kg/dia,durante 4 mesesBiópsia defragmentosde peleExamebacteriológicodireto,cultura,tipificaçãoe examehistológicoSecretaria de Vigilância em Saúde / MS93


Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-VacinaisVacinaEventosadversosTempodecorrenteFreqüênciadas <strong>do</strong>sesCondutaExameBCG (II)Lesõesresultantes dedisseminaçãoLesõesgeneralizadasEm geral,no decorrer<strong>do</strong> 1º ano1,9 por milhãode vacina<strong>do</strong>sIdemObs.: o esquema acima deveser prescrito por um perío<strong>do</strong>mínimo de 6 mesesExamebacteriológico:- direto- cultura- tipificação- exame histopatológico- exame radiológicoTodas as <strong>do</strong>sesAnti-póliooralPoliomieliteassociadaà vacinaVacina<strong>do</strong>:4-40 diasComunicantede vacina<strong>do</strong>:4-85 diasapós avacinaçãoVacina<strong>do</strong>s:1 caso/4,4 a 6,7milhões de <strong>do</strong>sesadministradasComunicantes:1 caso/6,7 a 15,5milhões de <strong>do</strong>sesadministradasNa 1ª <strong>do</strong>seVacina<strong>do</strong>s:1 caso/670 mil<strong>do</strong>ses administradasComunicantes:1 caso/milhãode <strong>do</strong>sesadministradasNotificar e investigarTratamento de suporteEncaminhar aosCentros de ReferênciaNo caso de imunodeficiência,continuar a vacinaçãocom vacina inativadaFezes:colher 2 amostras nosprimeiros 15 dias apóso início da deficiênciamotora, obser van<strong>do</strong>um intervalo mínimode 24 horas da 1ªpara a 2ª coletaEletroneuromiografiaSoroanti-rábicoReaçãoanafiláticaNos primeiros30 minutosaté 2 horasRaroTo<strong>do</strong>s os casos deverão sernotifica<strong>do</strong>s e investiga<strong>do</strong>sSubstituir o soro heterólogopor imunoglobulina humanaanti-rábica-94 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-VacinaisAnexo 2Conduta frente a alguns eventosadversos comuns a vários imunobiológicosAs vacinas situam-se entre os produtos de maior segurança de uso. Entretanto, é possívelque haja reações, até mesmo graves, com a sua utilização. A orientação a seguir destina-seaos serviços de rotina de imunização, com os seus recursos habituais. Não é impositiva,deven<strong>do</strong> ser adaptada às circunstâncias operacionais e à experiência e treinamentode cada grupo.Manifestações locaisPodem ocorrer após a aplicação de qualquer vacina. Os casos de abscesso geralmenteencontram-se associa<strong>do</strong>s com infecção secundária e erros na técnica de aplicação.4Notificação e investigaçãoNotificar e investigar os casos com abscessos ou outras reações locais muito intensas(edema e/ou vermelhidão extensos, limitação de movimentos acentuada e dura<strong>do</strong>ura);também notificar o aumento exagera<strong>do</strong> de determinadas reações locais associadas eventualmentea erros de técnica ou a lote vacinal (“surtos”).CondutaTratamento• Analgésico, se necessário;• Compressas frias ou quentes: é prática comum em nosso país a aplicação local decompressas frias ou quentes, para alívio da <strong>do</strong>r e/ou inflamação. Embora sua eficácianão tenha si<strong>do</strong> validada em estu<strong>do</strong>s controla<strong>do</strong>s, seu emprego não é contra-indica<strong>do</strong>.Observação: o Programa Nacional de Imunizações, em seu Manual de Capacitaçãode Pessoal da Sala de Vacinação, recomenda apenas o uso de compressas frias paratratamento de eventos locais;• Os abscessos devem ser submeti<strong>do</strong>s à avaliação médica, para conduta apropriada.Contra-indicação para <strong>do</strong>ses subseqüentesNão há.FebrePode ocorrer logo após a aplicação da vacina (como na vacina tríplice DPT, vacinameningocócica B/C) ou alguns dias depois (como na vacina contra o sarampo). É possívelque se deva a alguma infecção intercorrente ou desidratação. A criança deve ser examinadaquan<strong>do</strong> a febre for alta ou fugir <strong>do</strong> padrão espera<strong>do</strong> para o tipo de vacina aplicada.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS95


Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-VacinaisNotificação e investigaçãoNotificar e investigar se detectada com intensidade e freqüência acima <strong>do</strong> espera<strong>do</strong>,associadas eventualmente a lotes (“surtos”).CondutaTratamentoManter a criança em repouso, em ambiente bem ventila<strong>do</strong>, administrar água e outroslíqui<strong>do</strong>s apropria<strong>do</strong>s, tais como o leite materno e terapia de reidratação oral (TRO). Administrarantitérmico, se necessário, de 6/6 horas. Quan<strong>do</strong> a febre for decorrente da vacinação,o quadro é benigno e autolimita<strong>do</strong>. Não aplicar gelo, álcool ou clisteres gela<strong>do</strong>s.Antitérmicos: de preferência paracetamol, 15mg/kg, via oral. Nos casos de febre muitoalta, dipirona, 15mg/kg/<strong>do</strong>se, via oral ou intramuscular. Evitar aspirina.Antitérmico profilático: utilizá-lo quan<strong>do</strong> na <strong>do</strong>se anterior houve febre elevada ouconvulsão febril.Administrar no momento da vacinação e repetir de 6/6 horas durante 24 a 48 horas.Usar de preferência o paracetamol, na <strong>do</strong>se já indicada.Ficar atento para a possibilidade de infecção intercorrente, que pode necessitar de tratamentoapropria<strong>do</strong>.Contra-indicação para <strong>do</strong>ses subseqüentesNão há. Considerar a conveniência de antitérmico profilático.Convulsão febrilAs convulsões febris são observadas geralmente entre os 6 meses a 6 anos de idade,com maior freqüência entre os 12 e 18 meses, incidin<strong>do</strong> em cerca de 3% da populaçãoinfantil. São geralmente de curta duração. Podem, entretanto, ocorrer crises múltiplas eprolongadas, circunstâncias em que a pesquisa de <strong>do</strong>ença neurológica, especialmente meningite,é obrigatória. Deve-se oferecer repetidamente às crianças com febre, sobretu<strong>do</strong> nosdias muito quentes, água, leite materno e outros líqui<strong>do</strong>s apropria<strong>do</strong>s; bem como mantê-lasem ambiente ventila<strong>do</strong> e longe <strong>do</strong> sol ou de outras fontes de calor.Notificação e investigaçãoNotificar e investigar to<strong>do</strong>s os casos.CondutaTratamento• Colocar o paciente em decúbito lateral e Trendelenburg;• Aspirar secreções;• Afrouxar as roupas;• Proteger a língua <strong>do</strong> paciente, com gaze <strong>do</strong>brada entre os dentes;• Aplicar anticonvulsivante: o medicamento de escolha para a terapêutica inicial éo Diazepan, administra<strong>do</strong> por via intravenosa, lentamente, na <strong>do</strong>se de 0,3mg/kg.96 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-VacinaisO qual não deve ser aplica<strong>do</strong> caso a crise tenha cessa<strong>do</strong> espontaneamente. Podetambém ser utilizada a via retal, na <strong>do</strong>se de 0,5mg/kg. Dose máxima: 10mg/<strong>do</strong>se. Édroga de meia-vida curta, com pequeno perío<strong>do</strong> de ação terapêutica. Fenobarbital– a ser utiliza<strong>do</strong> como alternativa inicial, quan<strong>do</strong> não houver diazepínico disponível,ou para dar continuidade ao tratamento. Sua atividade é dura<strong>do</strong>ura, por ter meiavidaprolongada. Dose de ataque: 15mg/kg, por via intramuscular;• Oxigênio úmi<strong>do</strong>, se necessário (cianose, mesmo após aspiração);• É comum a criança <strong>do</strong>rmir após a crise, mesmo sem medicação; não se deve acordá-la.Contra-indicação para <strong>do</strong>ses subseqüentesQuan<strong>do</strong> a convulsão for associada à vacina tríplice DTP, completar o esquema vacinalcom a dupla infantil DT, ou, se a avaliação <strong>do</strong> caso e a situação epidemiológica o indicar,com a vacina tríplice, de preferência acelular (DTaP), se disponível, com administração deantitérmico profilático e demais precauções indicadas.4Reações de hipersensibilidadeGraves: choque anafilático (anafilaxia, reação anafilática)São reações que ocorrem menos de 2 horas após a aplicação da vacina (ou medicamento),geralmente na primeira meia hora, sen<strong>do</strong> extremamente raras em associação comas vacinações, embora possam ocorrer. Contra-indicam <strong>do</strong>ses subseqüentes com qualquerum <strong>do</strong>s componentes vacinais <strong>do</strong> agente imunizante que provocou o choque anafilático.O choque anafilático caracteriza-se por alterações <strong>do</strong> tônus muscular, paralisia parcialou completa, palidez, cianose, resposta diminuída ou ausente aos estímulos, depressão ouperda <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de consciência, alterações cardiovasculares com hipotensão ou choque,alterações respiratórias e, às vezes, parada cardíaca.A reação anafilática induzida pela aplicação de vacina pode estar associada com:• reações ao ovo de galinha, como a vacina de febre amarela;• reação à gelatina, usada como estabiliza<strong>do</strong>r em algumas vacinas, como a tríplice viral;• reação a alguns antibióticos (por exemplo, kanamicina) conti<strong>do</strong>s em algumas vacinas;• reação a alguns <strong>do</strong>s componentes <strong>do</strong> próprio imunógeno.As manifestações podem ser:• Dermatológicas (pruri<strong>do</strong>, angioedema, urticária generalizada e/ou eritema);• Cardiocirculatórias (hipotensão, arritmias, choque, etc.);• Respiratórias (edema de laringe, com estri<strong>do</strong>r, dificuldade respiratória, tosse, dispnéia,sibilos, etc.);• Neurológicas (síncope, convulsão, alteração da consciência, etc.).Notificação e investigaçãoNotificar e investigar to<strong>do</strong>s os casos.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS97


Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-VacinaisCondutaTratamentoToda unidade que aplique vacinas (ou medicamentos) deve ter um estojo de reanimaçãopermanente, com os medicamentos dentro <strong>do</strong> prazo de validade.É preciso que o pessoal médico e de enfermagem esteja treina<strong>do</strong> em relação às condutaspara tratamento <strong>do</strong> choque anafilático.A rapidez <strong>do</strong> tratamento é fundamental, deven<strong>do</strong> ser feito no local <strong>do</strong> primeiro atendimento,pelo menos inicialmente:• adrenalina, 0,01ml/kg, via subcutânea (em caso de choque intramuscular) até 3 vezes,com intervalos de 20 minutos, se necessário;• prometazina, 0,5-1mg/kg, via intramuscular;• acesso venoso;• hidrocortisona, 5mg/kg/<strong>do</strong>se, via intravenosa, poden<strong>do</strong> ser repetida a cada 4 ou 6horas;• manter as vias aéreas permeáveis;• O 2 sob máscara ou ambú ou entubação, segun<strong>do</strong> indica<strong>do</strong> e possível;• expansores de volume nos choques hipovolêmicos;• encaminhar para unidade hospitalar. Alguns pacientes podem apresentar um segun<strong>do</strong>episódio até 24 horas após a recuperação <strong>do</strong> primeiro; por esse motivo, to<strong>do</strong>s osque apresentarem crise grave devem permanecer hospitaliza<strong>do</strong>s por 36 horas nomínimo.Contra-indicação para <strong>do</strong>ses subseqüentesSim, de to<strong>do</strong>s os componentes vacinais <strong>do</strong> imunobiológico causa<strong>do</strong>r.Reações moderadas (urticária,pruri<strong>do</strong> cutâneo, exantema, petéquias)São reações que envolvem apenas um sítio/sistema, ocorren<strong>do</strong> mais de duas horasapós a vacinação.Notificação e investigaçãoNotificar e investigar to<strong>do</strong>s os casos.CondutaTratamentoAnti-histamínicos via oral, no caso de urticária ou exantema pruriginoso. No caso demanifestações petequiais e/ou purpúricas generalizadas, encaminhar a unidade hospitalarpara avaliação por especialista; nas reações locais, apenas observação.Contra-indicação para <strong>do</strong>ses subseqüentesNão há, mas devem ser aplicadas com precauções.98 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-VacinaisReação local grave, consistente com reação tipo ArthusNotificação e investigaçãoSim.CondutaTratamento sintomático.Contra-indicação para <strong>do</strong>ses subseqüentesNão administrar <strong>do</strong>se de reforço até dez anos após a última <strong>do</strong>se.Alergia ao timerosal (merthiolate)Usa<strong>do</strong> como preservativo de várias vacinas, como DTP, DT, dT, TT, meningocócicaB/C, etc., o timerosal pode provocar dermatite de contato mediada por células (hipersensibilidadetardia). Caso alguém tenha alergia cutânea ao timerosal, pode apresentar discretoaumento <strong>do</strong> processo inflamatório local nos primeiros dias após a vacinação.4Notificação e investigaçãoDesnecessárias.CondutaTratamentoDesnecessário.Contra-indicação para <strong>do</strong>ses subseqüentesNão há. Orientar a família.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS99


Sistema de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-VacinaisTabela de eventos adversosCódigo Nome <strong>do</strong> evento adverso Descrição3 Abscesso frio Tumoração no local de aplicação com flutuação, SEM sinais inflamatórios evidentes2 Abscesso quente Tumoração no local de aplicação com flutuação, COM sinais inflamatórios (edema, calor, rubor e <strong>do</strong>r)23 Artralgia Dor nas articulações45 Artrite Dor nas articulações, associada com inflamação das mesmas – inchaço, vermelhidão e calor39 Ataxia Alteração da marcha. Deve ser avaliada por um profissional habilita<strong>do</strong>57 Atrofia no local da aplicação Retração da pele no local da aplicação50 Cefaléia Dor de cabeça54 Cefaléia e vômito Dor de cabeça e vômito28 Choque anafilático Hipotensão ou choque associa<strong>do</strong> à urticária , edema de face, laringoespasmo12 Convulsão afebril Alteração <strong>do</strong> nível de consciência acompanhada de contrações musculares involuntárias. Em crianças menores, podem ocorrer sem contrações evidentes. Sem associação com febre11 Convulsão febril Alteração <strong>do</strong> nível de consciência acompanhada de contrações musculares involuntárias. Em crianças menores, podem ocorrer sem contrações evidentes. Sempre acontecem após perío<strong>do</strong> febril52 Dificuldade de deambular Dificuldade para caminhar. Deve ser avaliada por profissional habilita<strong>do</strong>29 Dor, rubor e calor Tipo de reação no local de aplicação35 Encefalite Inflamação <strong>do</strong> encéfalo (cérebro) diagnosticada por profissional habilita<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> afastadas outras causas conhecidas mediante realização de exames complementares36 EncefalopatiaDistúrbio <strong>do</strong> sistema nervoso central não explica<strong>do</strong> por outra causa além da vacinação, ocorrida nos primeiros 7 dias (geralmente nas primeiras 72h) após aplicação da DTP Assemelha-seclinicamente à encefalite, mas sem evidência de reação inflamatória9 Enduração Tipo de reação com endurecimento no local de aplicação13 Episódio hipotônico hiporresponsivo Palidez ou cianose perioral, hipotonia(“flacidez”) e diminuição de resposta a estímulos de curta duração17 Exantema Erupção cutânea generalizada com ou sem pruri<strong>do</strong>10 Febre maior ou igual a 39,5°C Verificada com termômetro58 Granuloma Tipo de reação com formação de “caroço” no local de aplicação (diagnóstico histopatológico)56 Icterícia Coloração amarelada da pele e mucosas, mais evidente nos olhos41 Lesões generalizadas Lesões semelhantes às da tuberculose, decorrentes da disseminação <strong>do</strong> BCG nos órgãos6 Linfadenomegalia maior que 3 cm não supurada Aumento <strong>do</strong>s gânglios linfáticos (“ínguas”) SEM flutuação ou supuração5 Linfadenomegalia maior que 3 cm supurada Aumento <strong>do</strong>s gânglios linfáticos (“ínguas”) COM flutuação ou supuração7 Linfadenomegalia não supurada Aumento <strong>do</strong>s gânglios linfáticos (“ínguas”) SEM flutuação ou supuração8 Linfadenomegalia supurada Aumento <strong>do</strong>s gânglios linfáticos (“ínguas”) COM flutuação ou supuração22 Meningite asséptica Inflamação das meninges com culturas <strong>do</strong> LCR negativas53 Mialgia Dor muscular42 Mielite Inflamação da medula espinhal com diagnóstico por profissional habilita<strong>do</strong> e realização de exames complementares14 Nódulo Tipo de reação com caroço palpável no local da aplicação46 Orquite Inflamação <strong>do</strong>s testículos49 Osteomielite Infecção <strong>do</strong> aparelho ósteoarticular47 Outros eventos Sem definição – Usar campo de resumo clínico para especificar o evento43 Pancreatite Inflamação <strong>do</strong> pâncreas diagnostica<strong>do</strong> por profissional habilita<strong>do</strong> e realização de exames complementares26 Paralisia de membros inferiores Paralisação das pernas. Deve ser avaliada por profissional habilita<strong>do</strong>55 Paresia Diminuição de força de membros ou de um grupo muscular. Deve ser avaliada por profissional habilita<strong>do</strong>15 Parestesia Alteração de sensibilidade na pele (formigamento, <strong>do</strong>rmência). Deve ser avaliada por profissional habilita<strong>do</strong>21 Parotidite Inflamação das parótidas – região submandibular – normalmente acompanhada de febre e mal-estar38 Poliomielite associada à vacinaParalisia flácida aguda que ocorre entre 4-40 dias após a aplicação da vacina, sen<strong>do</strong> constatada seqüela após 60 dias <strong>do</strong> início <strong>do</strong> quadro. Nos casos de comunicantes <strong>do</strong>s vacina<strong>do</strong>s, o perío<strong>do</strong>é de 4-85 dias48 Polirradiculite (síndrome de Guillain-Barré)Inflamação das raízes nervosas da medula espinhal, caracterizada por <strong>do</strong>r nos MMII e paralisia ascendente. Deve ser diagnosticada por profissional habilita<strong>do</strong> e realização de examescomplementares18 Púrpura trombocitopênica Presença de manchas violáceas na pele, de tamanhos varia<strong>do</strong>s ( puntiformes a equimoses), acompanhada da diminuição <strong>do</strong> número de plaquetas no sangue27 Quelóide Cicatriz elevada e disforme no local da aplicação32 Reação de Arthus Reação de hipersensibilidade local importante51 Reação de hipersensibilidade após 2h Urticária localizada ou disseminada, edema de face, laringoespasmo20 Reação de hipersensibilidade até 2h Urticária localizada ou disseminada, edema de face, laringoespasmo4 Úlcera maior que 01cm Formação de lesão ulcerada maior que 1cm no local da aplicação24 Visceralização Quadro de disseminação <strong>do</strong> vírus vacinal da FA com quadro semelhante ao da <strong>do</strong>ença por vírus selvagem. Deve ser avaliada por profissional habilita<strong>do</strong> e realização de exames complementares1 Outras reações locais Sem definição – Usar campo de resumo clínico para especificar o evento25 Febre menor que 39,5°C Verificada com termômetro54 Cefaléia / mialgia / mal-estar Sintomas inespecíficos associa<strong>do</strong>s que podem ocorrer após a aplicação de algumas vacinas100 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


CAPÍTULO 5Acidentes poranimais peçonhentos


Acidentes por Animais PeçonhentosAcidentes ofídicosCaracterísticas clínicas e epidemiológicasDescriçãoNo Brasil, quatro tipos de acidente são considera<strong>do</strong>s de interesse em saúde: botrópico,crotálico, laquético e elapídico. Acidentes por serpentes não-peçonhentas são relativamentefreqüentes, porém não determinam acidentes graves e, por isso, são considera<strong>do</strong>s de menorimportância médica.O envenenamento causa<strong>do</strong> pela inoculação de toxinas, através de aparelho inocula<strong>do</strong>r(presas) de serpentes, pode determinar alterações locais (na região da picada) e sistêmicas.Agentes causaisA presença de fosseta loreal, órgão termorregula<strong>do</strong>r localiza<strong>do</strong> entre o olho e a narina,caracteriza o grupo de serpentes peçonhentas de interesse médico no Brasil, onde seincluem os gêneros Bothrops (jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca), Crotalus (cascavel) e Lachesis(surucucu, pico-de-jaca); como exceção de serpente peçonhenta, o gênero Micrurus(coral verdadeira) não possui fosseta loreal.O gênero Bothrops representa o grupo mais importante de serpentes peçonhentas, commais de 60 espécies encontradas em to<strong>do</strong> o território brasileiro (incluin<strong>do</strong> os gêneros Bothriopsise Bothrocophias). As principais espécies são: B. atrox – o ofídio mais encontra<strong>do</strong>na Amazônia, principalmente em beiras de rios e igarapés; B. erythromelas – abundante nasáreas litorâneas e úmidas da região Nordeste; B. jararaca – tem grande capacidade adaptativa,ocupa e coloniza tanto áreas silvestres como agrícolas e periurbanas, sen<strong>do</strong> a espécie maiscomum da região Sudeste; B. jararacussu – é a espécie que pode alcançar o maior comprimento(até 1,8m) e que produz a maior quantidade de veneno dentre as serpentes <strong>do</strong> gênero,pre<strong>do</strong>minante nas regiões Sul e Sudeste; B. moojeni – principal espécie <strong>do</strong>s cerra<strong>do</strong>s, capazde se adaptar aos ambientes modifica<strong>do</strong>s, com comportamento agressivo e porte avantaja<strong>do</strong>;e B. alternatus – vive em campos e outras áreas abertas, da região Centro-Oeste à Sul.As serpentes <strong>do</strong> gênero Crotalus são identificadas pela presença de guizo ou chocalhona extremidade caudal. São representadas no Brasil por uma única espécie (C. durissus),com ampla distribuição geográfica, desde os cerra<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil central, regiões áridas esemi-áridas <strong>do</strong> Nordeste, até os campos e áreas abertas <strong>do</strong> Sul, Sudeste e Norte.Para o gênero Lachesis, é também identificada uma única espécie (L. muta), habitanteda floresta Amazônica e <strong>do</strong>s remanescentes da Mata Atlântica, que pode alcançar até 3,5mde comprimento.O gênero Micrurus é o representante da família Elapidae no Brasil, onde se incluemas najas asiáticas e africanas. Com cerca de 22 espécies, apresenta ampla distribuição geográficano país. Os hábitos fossorais, os reduzi<strong>do</strong>s tamanhos da aber tura bucal e das presasinocula<strong>do</strong>ras de veneno e a baixa agressividade justificam o pequeno número de acidentesregistra<strong>do</strong>s por este gênero.5Secretaria de Vigilância em Saúde / MS103


Acidentes por Animais PeçonhentosDiversos gêneros de serpentes consideradas não-peçonhentas ou de menor importânciamédica são encontra<strong>do</strong>s em to<strong>do</strong> o país, sen<strong>do</strong> também causa comum de acidentes:Phylodrias (cobra-verde, cobra-cipó), Oxyrhopus (falsa-coral), Waglerophis (boipeva), Helicops(cobra d’água), Eunectes (sucuri) e Boa (jibóia), dentre outras.Mecanismo de açãoOs venenos ofídicos podem ser classifica<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com suas atividades fisio patológicas,cujos efeitos são observa<strong>do</strong>s em nível local (região da picada) e sistêmico.Atividade Veneno EfeitosInflamatória agudaBotrópico e laquéticoLesão en<strong>do</strong>telial e necrose no local da picadaLiberação de media<strong>do</strong>res inflamatóriosCoagulante Botrópico, laquético e crotálico Incoagulabilidade sangüíneaHemorrágicaNeurotóxicaMiotóxica“Neurotóxica” vagalBotrópico, laquéticoCrotálico e elapídicoCrotálicoLaquéticoSangramentos na região da picada (equimose)e a distância (gengivorragia, hematúria etc.)Bloqueio da junção neuromuscular (paralisiade grupos musculares)Rab<strong>do</strong>miólise (mialgia generalizada,mioglobinúria)Estimulação colinérgica (vômitos, <strong>do</strong>rab<strong>do</strong>minal, diarréia, hipotensão, choque)Susceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade é universal e a gravidade depende da quantidade de veneno inoculada.Pode haver casos de picada em que não ocorre envenenamento (“picada seca”).Nessas circunstâncias, não há indicação de soroterapia. Não existe imunidade adquirida.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasNa maioria <strong>do</strong>s casos, o reconhecimento das manifestações clínicas e a história epidemiológica<strong>do</strong> acidente permitem o diagnóstico <strong>do</strong> tipo de envenenamento. O diagnós ticopor meio da identificação <strong>do</strong> animal é pouco freqüente.Acidente botrópicoManifestações locais – evidenciam-se nas primeiras horas após a picada, com a presençade edema, <strong>do</strong>r e equimose na região atingida, que progride ao longo <strong>do</strong> membroacometi<strong>do</strong>. As marcas de picada nem sempre são visíveis, assim como o sangramento nospontos de inoculação das presas. Bolhas com conteú<strong>do</strong> seroso ou sero-hemorrágico podemsurgir na evolução e dar origem à necrose cutânea. As principais complicações locais sãodecorrentes da necrose e da infecção secundária, que podem levar à amputação e/ou déficitfuncional <strong>do</strong> membro.104 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Acidentes por Animais PeçonhentosManifestações sistêmicas – sangramentos em pele e mucosas são comuns (gengivorragia,equimoses a distância <strong>do</strong> local da picada), hematúria, hematêmese e hemorragiaem outras cavidades pode determinar risco ao paciente. Hipotensão pode ser decorrente deseqüestro de líqui<strong>do</strong> no membro pica<strong>do</strong> ou hipovolemia conseqüente a sangramentos, quepodem contribuir para a instalação de insuficiência renal aguda.Acidente crotálicoManifestações locais – não se evidenciam alterações significativas. A <strong>do</strong>r e o edema sãousualmente discretos e restritos ao re<strong>do</strong>r da picada; eritema e parestesia são comuns.Manifestações sistêmicas – o aparecimento das manifestações neuroparalíticas temprogressão craniocaudal, inician<strong>do</strong>-se por ptose palpebral, turvação visual e oftalmoplegia.Distúrbios de olfato e paladar, além de ptose mandibular e sialorréia, podem ocorrer com opassar das horas. Raramente a musculatura da caixa torácica é acometida, o que ocasiona insuficiênciarespiratória aguda. Essas manifestações neurotóxicas regridem lentamente, porémsão totalmente reversíveis. Pode haver gengivorragia e outros sangramentos discretos. Progressivamente,surgem mialgia generalizada e escurecimento da cor da urina (cor de “cocacola”ou “chá-preto”). A insuficiência renal aguda é a principal complicação e causa de óbito.5Acidente laquéticoAs manifestações, tanto locais como sistêmicas, são indistinguíveis <strong>do</strong> quadro desencadea<strong>do</strong>pelo veneno botrópico. A diferenciação clínica se faz quan<strong>do</strong>, nos acidentes laquéticos,estão presentes alterações vagais como náuseas, vômitos, cólicas ab<strong>do</strong>minais, diarréia,hipotensão e choque.Acidente elapídicoManifestações locais – <strong>do</strong>r e parestesia na região da picada são discretos, não haven<strong>do</strong>lesões evidentes.Manifestações sistêmicas – fácies miastênica ou neurotóxica (comum ao acidente crotálico)constitui a expressão clínica mais comum <strong>do</strong> envenenamento por coral verdadeira,complicação decorrente da progressão da paralisia da face para os músculos respiratórios.Acidentes por serpentes não-peçonhentasA maioria das picadas causa apenas traumatismo local. Nos acidentes por Phylodrias(cobra-verde, cobra-cipó) e Clelia (muçurana, cobra-preta), pode haver manifestações locaiscomo edema, <strong>do</strong>r e equimose na região da picada, porém sem gravidade.Diagnóstico diferencialAs histórias clínica e epidemiológica permitem a diferenciação <strong>do</strong>s tipos de envene namento,mesmo que a serpente não seja identificada. Apenas nas áreas onde há superposiçãona distribuição geográfica de serpentes <strong>do</strong> gênero Bothrops e Lachesis, o diagnóstico diferencialde acidente botrópico e laquético somente é possível com a identificação <strong>do</strong> animalou presença de manifestações vagais.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS105


Acidentes por Animais PeçonhentosDiagnóstico laboratorialNão existe exame laboratorial para determinar o tipo de envenenamento ofídico, sen<strong>do</strong>o diagnóstico eminentemente clínico-epidemiológico.Nos acidentes botrópicos, laquéticos e crotálicos, exames de coagulação devem serrealiza<strong>do</strong>s para a confirmação diagnóstica e avaliação da eficácia da soroterapia. O tempode coagulação (TC), simples e de fácil execução, pode ser feito nos locais que não dispõemde laboratório (ver técnica no Anexo 1).TratamentoO tratamento é feito com a aplicação <strong>do</strong> soro (antiveneno) específico para cada tipo deacidente, de acor<strong>do</strong> com a gravidade <strong>do</strong> envenenamento.A aplicação <strong>do</strong>s soros deve ser por via intravenosa, poden<strong>do</strong> ser diluí<strong>do</strong>s ou não, emsolução fisiológica ou glicosada.Acidente Soro GravidadeNº deampolasAntibotrópico (SAB)Leve: quadro local discreto, sangramento em pele ou mucosas;pode haver apenas distúrbio na coagulação2 a 4BotrópicoLaquéticoAntibotrópicolaquético(SABL)Antibotrópicolaquético(SABL)Modera<strong>do</strong>: edema e equimose evidentes, sangramento sem comprometimento<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> geral; pode haver distúrbio na coagulaçãoGrave: alterações locais intensas, hemorragia grave, hipotensão, anúria 125 a 8Modera<strong>do</strong>: quadro local presente, pode haver sangramentos, semmanifestações vagais10Grave: quadro local intenso, hemorragia intensa com manifestações vagais 20Leve: alterações neuroparalíticas discretas; sem mialgia,escurecimento da urina ou oligúriaModera<strong>do</strong>: alterações neuroparalíticas evidentes, mialgia e mioglobinúria(urina escura) discretas5CrotálicoAnticrotálico (SAC)10Grave: alterações neuroparalíticas evidentes,mialgia e mioglobinúria intensas, oligúria20ElapídicoAntielapídico (SAE)Considerar to<strong>do</strong>s os casos potencialmente gravespelo risco de insuficiência respiratória10Devi<strong>do</strong> à natureza heteróloga, a administração <strong>do</strong>s soros pode causar reações de hipersensibilidadeimediata. No entanto, testes de sensibilidade cutânea não são recomenda<strong>do</strong>spois, além de terem baixo valor preditivo, retardam o início da soroterapia.Durante a infusão e nas primeiras horas após a administração <strong>do</strong> soro, o paciente deveser rigorosamente monitora<strong>do</strong> para a detecção precoce da ocorrência de reações, tais comourticária, náuseas/vômitos, rouquidão e estri<strong>do</strong>r laríngeo, broncoespasmo, hipotensão echoque. Uma vez diagnosticada a reação, a soroterapia deve ser interrompida e posteriormentereinstituída após tratamento da anafilaxia.106 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Acidentes por Animais PeçonhentosReações tardias (<strong>do</strong>ença <strong>do</strong> soro) podem ocorrer uma a quatro semanas após a soroterapia,com urticária, febre baixa, artralgia e adenomegalia.Não há evidências de que fármacos (antiinflamatórios, heparina) neutralizem os efeitos<strong>do</strong>s venenos. O único tratamento medicamentoso efetivo pode ser realiza<strong>do</strong> no acidenteelapídico, utilizan<strong>do</strong>-se anticolinesterásico (neostigmina). Dose de ataque: 0,25mg/kg adultosou 0,05mg/kg crianças, via intravenosa. Manutenção: 0,05 a 1mg, via intravenosa a cada4 horas, precedida de atropina, via intravenosa (0,5mg/kg adultos, 0,05mg/kg).A hidratação en<strong>do</strong>venosa deve ser iniciada precocemente, para prevenir a insuficiênciarenal aguda.Aspectos epidemiológicosO número de notificações de ofidismo vem aumentan<strong>do</strong> ano a ano. Em 2003, porexemplo, foram registra<strong>do</strong>s 25.478 acidentes, corresponden<strong>do</strong> à incidência de 15 casos por100 mil habitantes. Verifica-se, no entanto, significativa variação por região, com coeficientesmais eleva<strong>do</strong>s nas regiões Norte e Centro-Oeste (Tabela 1).5Tabela 1. Incidência de acidentes ofídicos por regiões. Brasil, 2003Região Nº de casos Incidência (100 mil hab.)Norte 7.073 54,8Nordeste 6.117 12,8Sudeste 6.840 9,5Sul 2.741 10,9Centro-Oeste 2.627 22,6Brasil 25.478 15,0Observação: 80 casos sem informação.Uma vez que nem sempre é pos sível identificar a serpente causa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> acidente, odiagnóstico <strong>do</strong> tipo de envenenamento é basea<strong>do</strong> em critérios clínicos e epidemiológicos.Assim, <strong>do</strong>s quatro gêneros de serpentes peçonhentas verifica-se o pre<strong>do</strong> mínio <strong>do</strong> acidentebotrópico, que corresponde a 87,5% <strong>do</strong>s casos ofídicos notifica<strong>do</strong>s no país, segui<strong>do</strong>s pelocrotálico (9,2%), laquético (2,7%) e elapídico (0,6%), com peque nas variações de acor<strong>do</strong>com a região e distribuição geográfica das serpentes.Poucos casos são diagnostica<strong>do</strong>s como acidentes por serpentes não-peçonhentas,provavelmente em vista da não utilização de soro específico. Por outro la<strong>do</strong>, 18,9% <strong>do</strong>saci dentes ofídicos notifica<strong>do</strong>s em 2003 foram diagnostica<strong>do</strong>s como acidente por serpentenão identificada. Consideran<strong>do</strong>-se a existência de marcadas diferenças na apresentação clínica<strong>do</strong>s envenenamentos ofídicos no país, não se justifica essa elevada proporção de casosignora<strong>do</strong>s.A distribuição <strong>do</strong>s acidentes ao longo <strong>do</strong> ano não ocorre de maneira uniforme, verifican<strong>do</strong>-seum incremento no número de casos nas épocas de calor e chuvas, que coincidemSecretaria de Vigilância em Saúde / MS107


Acidentes por Animais Peçonhentoscom o perío<strong>do</strong> de maior atividade humana no campo, o que na maioria <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s correspondeao perío<strong>do</strong> de janeiro a abril (Gráfico 1). Deste mo<strong>do</strong>, o acidente ofídico acomete,com maior freqüência, adultos jovens <strong>do</strong> sexo masculino durante o trabalho na zona rural.Gráfico 1. Distribuição mensal <strong>do</strong>s acidentes ofídicos, por macrorregião.Brasil, 2003900800700600Número de casos5004003002001000Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov DezN NE SE S COO reconhecimento <strong>do</strong>s perío<strong>do</strong>s de maior risco, da<strong>do</strong> pela característica sazonalidadena ocorrência destes acidentes, tem importância não apenas para preparar os serviços e osprofissionais de saúde para o aumento na demanda de casos mas também para estabelecerestratégias de distribuição e controle <strong>do</strong>s estoques de soros específicos nos locais de atendimento,bem como fortalecer as ações de prevenção por meio de atividades de educação emsaúde.A maioria <strong>do</strong>s acidentes é classificada como leve e a letalidade geral é relativamentebaixa (0,5%). O tempo decorri<strong>do</strong> entre o acidente, atendimento e tipo de envenenamentopode elevar a letalidade em até oito vezes esta taxa, como no envenenamento crotálico,quan<strong>do</strong> o atendimento é realiza<strong>do</strong> mais de 6 a 12 horas após o acidente (4,7%). Por outrola<strong>do</strong>, a freqüência de seqüelas, relacionada a complicações locais, é bem mais elevada, situadaem 10% nos acidentes botrópicos, associada a fatores de risco como o uso de torniquete,picada em extremidades (de<strong>do</strong>s de mãos e pés) e retar<strong>do</strong> na administração da soroterapia.108 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Acidentes por Animais PeçonhentosEscorpionismoCaracterísticas clínicas e epidemiológicasDescriçãoEnvenenamento causa<strong>do</strong> pela inoculação de toxinas através de aparelho inocula<strong>do</strong>r (ferrão)de escorpiões, poden<strong>do</strong> determinar alterações locais (na região da picada) e sistêmicas.Agentes causaisNo Brasil, os escorpiões de importância médica são representa<strong>do</strong>s pelo gênero Tityus,com várias espécies descritas: T. serrulatus (escorpião-amarelo) – com ampla distribuiçãodesde a Bahia ao Paraná e região central <strong>do</strong> país, representa a espécie de maior interessepela facilidade de reprodução partenogenética, adaptação ao meio urbano e maior potencialde gravidade de envenenamento; T. bahiensis (escorpião-marrom) – encontra<strong>do</strong> emto<strong>do</strong> o país, com exceção da região Norte; T. stigmurus – espécie mais comum <strong>do</strong> Nordeste;T. cambridgei (escorpião-preto) e T. metuendus – encontra<strong>do</strong>s na Amazônia.São animais carnívoros e alimentam-se principalmente de insetos, como grilos e baratas.Apresentam hábitos noturnos, esconden<strong>do</strong>-se durante o dia sob pedras, troncos, <strong>do</strong>rmentesde trilhos, entulhos, telhas ou tijolos. Muitas espécies vivem em áreas urbanas, ondeencontram abrigo dentro ou próximo das casas, onde dispõem de farta alimentação. Podemsobreviver vários meses sem alimento ou água, o que dificulta sobremaneira seu controle.5Mecanismo de açãoO veneno escorpiônico, independentemente da espécie, estimula canais de sódio emterminações nervosas, levan<strong>do</strong> à estimulação de nervos periféricos sensitivos, motores e <strong>do</strong>sistema nervoso autônomo.Susceptibilidade e imunidadeApesar da intensidade das manifestações clínicas ser dependente da quantidade de venenoinoculada, em geral os adultos apresentam quadro local benigno, enquanto as criançasconstituem o grupo mais susceptível ao envenenamento sistêmico grave.A susceptibilidade é universal e não existe imunidade adquirida após o acidente escorpiônico.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasNa maioria <strong>do</strong>s casos, o reconhecimento das manifestações clínicas e a história epidemiológica<strong>do</strong> acidente permitem o diagnóstico <strong>do</strong> tipo de envenenamento. O diagnós ticoetiológico, quan<strong>do</strong> há identificação <strong>do</strong> animal, é pouco freqüente.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS109


Acidentes por Animais PeçonhentosManifestações locais – a <strong>do</strong>r, de instalação imediata, é o principal sintoma, poden<strong>do</strong>se irradiar para o membro e ser acompanhada de parestesia, eritema e su<strong>do</strong>rese loca lizadaao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> ponto de picada. Tem duração de até 24 horas, embora o quadro mais intensoocorra nas primeiras horas após o acidente.Manifestações sistêmicas – após intervalo de minutos até poucas horas (duas a três),podem surgir, em crianças, manifestações sistêmicas como su<strong>do</strong>rese profusa, agitação psicomotora,tremores, náuseas, vômitos, sialorréia, hipertensão ou hipotensão arterial, arritmiacardíaca, insuficiência cardíaca congestiva, edema pulmonar agu<strong>do</strong> e choque. A presençadessas manifestações impõe a suspeita <strong>do</strong> diagnóstico de escorpionismo, mesmo naausência de história de picada ou identificação <strong>do</strong> animal.Diagnóstico diferencialNos casos de impossibilidade de obtenção da história de picada e/ou identificação <strong>do</strong>agente causal, o diagnóstico diferencial deve ser feito com acidente por aranha <strong>do</strong> gêneroPhoneutria, que provoca quadros local e sistêmico semelhantes ao <strong>do</strong> escorpionismo.Diagnóstico laboratorialO diagnóstico é eminentemente clínico-epidemiológico e não existe exame laboratorialpara confirmação.Os seguintes exames complementares são úteis no acompanhamento de pacientes commanifestações sistêmicas:• eletrocardiograma – taqui ou bradicardia sinusal, extra-sístoles ventriculares, distúrbiosna repolarização ventricular, presença de ondas U proeminentes, alterações semelhantesàs observadas no infarto agu<strong>do</strong> <strong>do</strong> miocárdio e bloqueio na conduçãoventricular;• radiografia de tórax – aumento da área cardíaca e sinais de edema pulmonar agu<strong>do</strong>.A ecocardiografia evidencia, nas formas graves, hipocinesia <strong>do</strong> septo interventriculare de parede, às vezes associada à regurgitação mitral;• bioquímica – creatinofosfoquinase e sua fração MB elevadas, hiperglicemia, hiperamilasemia, hipopotassemia e hiponatremia.TratamentoNa maioria <strong>do</strong>s casos, onde há somente o quadro local, o tratamento é sintomático econsiste no alívio da <strong>do</strong>r por infiltração de anestésico sem vasoconstritor (li<strong>do</strong>caína a 2%)ou analgésico sistêmico, como dipirona, na <strong>do</strong>sagem de 10mg/kg.O tratamento específico consiste na administração de soro antiescorpiônico (SAEsc)ou antiaracnídico (SAA) aos pacientes com formas moderadas e graves, mais freqüentesnas crianças picadas por T. serrulatus.A aplicação <strong>do</strong>s soros deve, como os soros antiofídicos, ser feita pela via intravenosa,bem como os cuida<strong>do</strong>s na administração perante a possibilidade de reações alérgicas.110 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Acidentes por Animais PeçonhentosAcidente Soro GravidadeLeve: <strong>do</strong>r e parestesia localNº deampolas-EscorpiônicoAntiescorpiônico(SAEsc)ou antiaracnídico(SAA)Moderada: <strong>do</strong>r local intensa associada a uma ou maismanifestações: náuseas, vômitos, su<strong>do</strong>rese, sialorréia,agitação, taquipnéia e taquicardiaGrave: além das acima citadas, presença de uma oumais das seguintes manifestações: vômitos profusose incoercíveis, su<strong>do</strong>rese profusa, sialorréia intensa,prostração, convulsão, coma, bradicardia, insuficiênciacardíaca, edema pulmonar agu<strong>do</strong> e choque2 a 34 a 6Pacientes com manifestações sistêmicas, especialmente crianças (casos modera<strong>do</strong>s egraves), devem ser manti<strong>do</strong>s em regime de observação continuada das funções vitais,objetivan<strong>do</strong> o diagnóstico e tratamento precoces das complicações.5A bradicardia sinusal associada a baixo débito cardíaco e o bloqueio AV total devemser trata<strong>do</strong>s com atropina (0,01 a 0,02mg/kg). A hipertensão arterial persistente, associadaou não a edema pulmonar agu<strong>do</strong>, é tratada com o emprego de nifedipina (0,5mg/kg)sublingual. Nos pacientes com edema pulmonar agu<strong>do</strong>, além das medidas convencionaisde tratamento deve ser considerada a necessidade de ventilação artificial mecânica, dependen<strong>do</strong>da evolução clínica. O tratamento da insuficiência cardíaca e <strong>do</strong> choque é complexoe geralmente necessita <strong>do</strong> emprego de infusão venosa contínua de <strong>do</strong>pamina e/ou <strong>do</strong>butamina(2,5 a 20 μg/kg/min).Aspectos epidemiológicosA distribuição <strong>do</strong> escorpionismo ao longo <strong>do</strong> ano não ocorre de maneira uniforme,verifican<strong>do</strong>-se um incremento no número de casos nas épocas de calor e chuvas, que coincidemcom o perío<strong>do</strong> de maior atividade biológica <strong>do</strong>s escorpiões.De caráter pre<strong>do</strong>minantemente urbano, sua ocorrência tem se eleva<strong>do</strong> nos últimosanos, particularmente nos esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Nordeste, atingin<strong>do</strong> mais de 21.022 acidentes em2003 e taxa de incidência de 12 casos por 100 mil habitantes.A maioria <strong>do</strong>s acidentes é classificada como leve e não requer soroterapia, poden<strong>do</strong>ser tratada na unidade de saúde mais próxima <strong>do</strong> local de ocorrência. Em que pese a baixaletalidade (0,2%), crianças abaixo de 14 anos têm risco mais eleva<strong>do</strong> de evoluir para óbito(3,2%). Em 2003, foram registra<strong>do</strong>s 48 óbitos, a quase totalidade em menores de 14 anos(Figura 1).Secretaria de Vigilância em Saúde / MS111


Acidentes por Animais PeçonhentosFigura 1. Percentual acumula<strong>do</strong> de óbitos por escorpianismo. Brasil, 2003100,090,0%95,897,9100,080,070,093,860,050,040,043,877,130,020,010,04,20,0< 1 ano 1 a 4 5 a 9 10 a 14 15 a 19 20 a 34 35 a 40 50 a 64 65 a 79 80 e +No caso <strong>do</strong> escorpionismo, o tempo entre o acidente e o início de manifestações sistêmicasgraves é bem mais curto <strong>do</strong> que para os acidentes ofídicos. Deste mo<strong>do</strong>, criançaspicadas por T. serrulatus, ao apresentar os primeiros sinais e sintomas de envenenamentosistêmico, devem receber o soro específico o mais rapidamente possível, bem como cuida<strong>do</strong>spara a manutenção das funções vitais.AraneísmoCaracterísticas clínicas e epidemiológicasDescriçãoEnvenenamento causa<strong>do</strong> pela inoculação de toxinas através de aparelho inocula<strong>do</strong>r(quelíceras) de aranhas, poden<strong>do</strong> determinar alterações locais (na região da picada) e sistêmicas.Apesar <strong>do</strong> grande número de aranhas encontradas na natureza, poucas são consideradasde importância médica.Agentes causaisAs aranhas peçonhentas de interesse médico no Brasil são representadas pelos gênerosLoxosceles (aranha-marrom), Phoneutria (armadeira) e Latrodectus (viúva-negra), queapresentam aspectos biológicos e distribuição geográfica bastante distintos.O gênero Loxosceles é encontra<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> o país, mas sua importância é mais destacadana região Sul, particularmente no Paraná, onde vem proliferan<strong>do</strong> de maneira significativana última década. Várias são as espécies descritas e as principais causa<strong>do</strong>ras de acidentessão: Loxosceles intermedia, L. laeta e L. gaucho. Podem atingir 1cm de corpo e até 3cm deenvergadura de pernas. Constroem teias irregulares em fendas de barrancos, sob cascas de112 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Acidentes por Animais Peçonhentosárvores, telhas e tijolos, atrás de quadros e móveis e em vestimentas, geralmente ao abrigoda luz; não são agressivas e picam somente quan<strong>do</strong> comprimidas contra o corpo.Outras aranhas bastante comuns no peri<strong>do</strong>micílio, como as representantes da famíliaLycosidae (aranha-de-grama, aranha-de-jardim) e as caranguejeiras, não representamproblema de saúde. Eventualmente, podem ocasionar picada <strong>do</strong>lorosa, porém semrepercussão sistêmica.Mecanismo de açãoDe acor<strong>do</strong> com as atividades fisiopatológicas, os efeitos <strong>do</strong>s venenos das aranhas deinteresse médico são distintos, tanto em nível local como sistêmico.Atividade Veneno Efeitos5Dermonecrótica Loxosceles Necrose cutânea no local da picadaHemolítica Loxosceles Hemólise intravascularSobre terminações nervosasPhoneutria, LatrodectusLocal: <strong>do</strong>r, edema, su<strong>do</strong>reseSistêmico: contraturas musculares,intoxicação adrenérgica/colinérgicaAspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasLoxoscelismoManifestações locais – a picada é usualmente pouco <strong>do</strong>lorosa, poden<strong>do</strong> passar desapercebida;após algumas horas, tornam-se evidentes <strong>do</strong>r, eritema e edema na região da picada,com equimose central, áreas de palidez (placa marmórea) e, eventualmente, bolhascom conteú<strong>do</strong> sero-hemorrágico; à palpação, nota-se área endurada. A lesão cutânea podeevoluir com necrose seca e úlcera.Manifestações sistêmicas – acompanhan<strong>do</strong> o quadro local, queixas inespecíficas comomal-estar, cefaléia, febre e exantema são comumente referidas pelos pacientes. A presençade hemólise intravascular caracteriza a chamada forma cutâneo-visceral <strong>do</strong> loxoscelismo,observada na minoria <strong>do</strong>s casos, em geral nas primeiras 72 horas após a picada. Os casosgraves podem evoluir com insuficiência renal aguda.FoneutrismoManifestações locais – a <strong>do</strong>r irradiada e de início imediato é o sintoma mais característico,poden<strong>do</strong> ser bastante intensa nas primeiras três a quatro horas após a picada; oquadro pode ser acompanha<strong>do</strong> por edema e su<strong>do</strong>rese no local e parestesia ao longo <strong>do</strong>membro. As marcas <strong>do</strong>s pontos de inoculação podem ou não ser visualizadas.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS113


Acidentes por Animais PeçonhentosManifestações sistêmicas – em associação ao quadro local, os pacientes podem apresentartaquicardia, hipertensão arterial, agitação psicomotora e vômitos. Crianças podemapresentar manifestações graves, como su<strong>do</strong>rese profusa, sialorréia, priapismo, hipo tensão,choque e edema pulmonar agu<strong>do</strong>, que podem eventualmente levar a óbito.LatrodectismoManifestações locais – geralmente o quadro se inicia com <strong>do</strong>r local de pequena intensidade,evoluin<strong>do</strong> com sensação de queimação; observa-se pápula eritematosa e su<strong>do</strong>reselocalizada.Manifestações sistêmicas – são mais freqüentemente observadas alterações moto ras,como <strong>do</strong>r irradiada e contrações espasmódicas <strong>do</strong>s membros inferiores, contra turas muscularesintermitentes, tremores, <strong>do</strong>r com rigidez ab<strong>do</strong>minal (que pode simular ab<strong>do</strong>meagu<strong>do</strong>) e fácies latrodectísmica, caracterizada por contratura facial e trismo <strong>do</strong>s masseteres.Outras manifestações, menos freqüentes, incluem opressão precordial, taquicardia e hipertensãoarterial, náuseas, vômitos, sialorréia e priapismo.Diagnóstico diferencialOs quadros de <strong>do</strong>r local observa<strong>do</strong>s nos acidentes por Phoneutria e escorpiônicos sãoindistinguíveis. Nesses casos, mesmo que o agente não seja identifica<strong>do</strong>, é realiza<strong>do</strong> o tratamentosintomático; se houver indicação de soroterapia, deve ser utiliza<strong>do</strong> o soro antiaracnídicoque contém frações que neutralizam os venenos de Tityus, Phoneutria e Loxosceles.Diagnóstico laboratorialNão existe diagnóstico específico para o loxoscelismo. Na forma cutâneo-visceral, asalterações laboratoriais podem ser subclínicas, com anemia aguda e hiperbilirrubinemiaindireta; elevação <strong>do</strong>s níveis séricos de uréia e creatinina é observada somente quan<strong>do</strong> háinsuficiência renal aguda.Da mesma forma, as alterações laboratoriais no latrodectismo são inespecíficas, sen<strong>do</strong>descritos distúrbios hematológicos (leucocitose, linfopenia), bioquímicos (hiperglicemia,hiperfosfatemia), <strong>do</strong> sedimento urinário (albuminúria, hematúria, leucocitúria) e eletrocardiográficas(fibrilação atrial, bloqueios, diminuição de amplitude <strong>do</strong> QRS e da onda T,inversão da onda T, alterações <strong>do</strong> segmento ST e prolongamento <strong>do</strong> intervalo QT).As alterações laboratoriais <strong>do</strong> foneutrismo são semelhantes às <strong>do</strong> escorpionismo, notadamenteaquelas decorrentes de comprometimento cardiovascular.TratamentoAlém de calor local e analgésico sistêmico, o tratamento sintomático para a <strong>do</strong>r nofoneutrismo inclui infiltração anestésica local ou troncular com li<strong>do</strong>caína a 2% ou similar,sem vasoconstritor (3-4ml em adultos e 1-2ml em crianças). Haven<strong>do</strong> recorrência da <strong>do</strong>r,pode ser necessária nova infiltração, em geral em intervalos de 60 min. Caso não haja respostasatisfatória ao anestésico, recomenda-se o uso de meperidina 50-100mg (crianças:1mg/kg) via intramuscular. A soroterapia tem indicação restrita, conforme a gravidade <strong>do</strong>114 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Acidentes por Animais Peçonhentosacidente, sen<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> o soro antiaracnídico que contém frações que neutralizam o venenode Tityus, Phoneutria e Loxosceles.No loxoscelismo, a limitação ao uso de antiveneno se deve ao diagnóstico tardio, muitasvezes realiza<strong>do</strong> já com a necrose cutânea delimitada. Nesse caso, medidas de suporte,como uso de antissépticos, lavagem com KMnO 4(permanganato de potássio) a 1:40 mil ecurativos locais são recomenda<strong>do</strong>s até que ocorram a remoção da escara e o acompanhamentocirúrgico para o manejo da úlcera e correção da cicatriz.O soro antilatrodéctico encontra-se em fase experimental, não sen<strong>do</strong> disponível parauso de rotina. Desta forma, o tratamento medicamentoso <strong>do</strong> latrodectismo inclui, além deanalgésicos sistêmicos:• benzodiazepínicos <strong>do</strong> tipo diazepan: 5-10mg (crianças: 1-2mg), via intravenosa, acada 4 horas, se necessário;• gluconato de cálcio 10%: 10-20ml (crianças: 1mg/kg), via intravenosa, a cada 4 horas,se neces sário;• clorpromazina: 25-50mg (crianças: 0,55mg/kg/<strong>do</strong>se), via intramuscular, a cada 8 horas,se necessário.5Aspectos epidemiológicosAcidente Soro GravidadeNº deampolasLeve: <strong>do</strong>r local, edema, eritema, su<strong>do</strong>rese, piloreção -FoneutrismoAntiaracnídico(SAA)Moderada: <strong>do</strong>r local intensa, su<strong>do</strong>rese, vômitosocasionais, agitação psicomotora, hipertensão arterialGrave: su<strong>do</strong>rese profusa, sialorréia, vômitos pro fusos,priapismo, choque, edema pulmonar agu<strong>do</strong>2 a 45 a 10LoxoscelismoAntiloxoscélico(SALox) ouantiaracnídico(SAA)Leve: aranha identificada, lesão incaracterística,ausência de comprometimento sistêmicoModerada: independentemente da identificação <strong>do</strong> agente,lesão sugestiva ou característica, manifestações sistêmicasinespecíficas (exantema, febre), ausência de hemóliseGrave: lesão característica, manifestações clínicase/ou evidências laboratoriais de hemólise intravascular-5*10**Recomenda-se a associação com prednisona (adultos: 40mg/dia; crianças: 1mg/kg/dia) durante 5 dias.A epidemiologia <strong>do</strong>s acidentes aracnídicos é bastante distinta, a depender <strong>do</strong>s trêstipos de envenenamento. Dos 15.038 casos registra<strong>do</strong>s em 2003 (incidência: 8,9 acidentespor 100 mil habitantes), o loxoscelismo foi responsável por 49,6% das notificações, en quantoo foneutrismo respondeu por 11,9% e o latrodectismo por 0,4%. Boa parte <strong>do</strong>s registrosnão fornece informações sobre o tipo de envenenamento, com cerca de 33,6% sem identificação<strong>do</strong> tipo de acidente.Diferentemente <strong>do</strong>s acidentes ofídicos e escorpiônicos, o pico de ocorrência <strong>do</strong> fonoeutrismose concentra nos meses de abril e maio, pelo menos na região Sudeste, que concentra aSecretaria de Vigilância em Saúde / MS115


Acidentes por Animais Peçonhentosmaioria das notificações. Uma vez que 90% <strong>do</strong>s casos são considera<strong>do</strong>s acidentes leves, a freqüência<strong>do</strong> uso de soro antiaracnídico é baixa, poden<strong>do</strong>, em sua grande maioria, ser trata<strong>do</strong>sem unidades de saúde não especializadas. Na vigência de mani festações sistêmicas, onde hánecessidade de soroterapia, o tratamento deve ser feito em ambiente hospitalar com recursospara o monitoramento das funções vitais e suporte de terapia intensiva, se necessário.Os acidentes por Loxosceles ocorrem com maior freqüência no verão, com sazonalidadesemelhante à <strong>do</strong>s acidentes ofídicos e escorpiônicos. As causas para o incrementoda popu lação de aranhas no Paraná e, conseqüentemente, <strong>do</strong>s acidentes neste esta<strong>do</strong> nãoestão bem definidas. É possível que, além de condições ambientais (umidade, temperatura),a adaptação ao meio intra<strong>do</strong>miliciar possa ter facilita<strong>do</strong> a disseminação desses animais,mais notadamente no município de Curitiba. A importância <strong>do</strong> loxoscelismo nessa unidadefederada levou, inclusive, à produção <strong>do</strong> soro antiloxoscélico pelo Centro de Produçãoe Pesquisa em Imunobiológicos (CPPI), da Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Saúde <strong>do</strong> Paraná, hojedistribuí<strong>do</strong> para to<strong>do</strong> o país.Os da<strong>do</strong>s epidemiológicos <strong>do</strong> latrodectismo são escassos, por serem acidentes de baixaincidência e restritos à faixa litorânea da região Nordeste. Não há óbitos registra<strong>do</strong>s poreste gênero de aranha. Por outro la<strong>do</strong>, a eficácia <strong>do</strong> soro antilatrodéctico, importa<strong>do</strong> daArgentina, na redução da intensidade e duração das manifestações sistêmicas de algunscasos motivou o desenvolvimento de pesquisas para viabilizar a produção <strong>do</strong> antivenenoespecífico. No momento, sua utilização encontra-se em fase experimental.Acidentes por lonomia e outras lagartasCaracterísticas clínicas e epidemiológicasDescriçãoEnvenenamento causa<strong>do</strong> pela penetração de cerdas de lagartas (lepidópteros) na pele,ocorren<strong>do</strong>, assim, a inoculação de toxinas que podem determinar alterações locais e, nosenvenenamentos pelo gênero Lonomia, manifestações sistêmicas.Agentes causaisSão considera<strong>do</strong>s de importância médica os acidentes causa<strong>do</strong>s por insetos pertencentesa ordem Lepi<strong>do</strong>ptera, na sua forma larvária. Popularmente conhecidas como taturana,oruga, ruga, lagarta-de-fogo, apresentam grande variedade morfológica. As principais famíliasde lepidópteros causa<strong>do</strong>ras de acidentes são a Megalopygidae e a Saturniidae.Os representantes da família Megalopygidae (megalopigídeos) apresentam cerdaspontiagudas, curtas e que contêm as glândulas de veneno, entremeadas por outras longas,coloridas e inofensivas. Já as lagartas da família Saturniidae (saturnídeos) têm “espinhos”ramifica<strong>do</strong>s e pontiagu<strong>do</strong>s de aspecto arbóreo, com tonalidades esverdeadas, mimetizan<strong>do</strong>,muitas vezes, as plantas que habitam. Nesta família se inclui o gênero Lonomia, causa<strong>do</strong>r deacidentes hemorrágicos.116 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Acidentes por Animais PeçonhentosAlimentam-se durante a noite, permanecen<strong>do</strong> no tronco durante o dia. Os megalopigídeossão solitários, enquanto os saturnídeos têm hábitos gregários, fazen<strong>do</strong> com que oacidente ocorra, geralmente, com várias lagartas, principalmente em crianças que, ao subirno tronco das árvores, terminam por entrar em contato com as mesmas.Os lepidópteros têm ampla distribuição em to<strong>do</strong> o país. As lagartas <strong>do</strong> gênero Lonomiavêm adquirin<strong>do</strong>, na última década, maior relevância em função <strong>do</strong> aumento na populaçãode insetos, com duas espécies descritas: L. obliqua, encontrada pre<strong>do</strong>minantemente na regiãoSul, São Paulo e Minas Gerais, e L. achelous, identificada no Pará, Amapá e Maranhão. Éo único grupo responsável por manifestações sistêmicas, caracterizadas por sangramentos.Mecanismo de açãoNão se conhece exatamente como agem os venenos das lagartas. Atribui-se ação aoslíqui<strong>do</strong>s da hemolinfa e da secreção das espículas, ten<strong>do</strong> a histamina como um <strong>do</strong>s principaiscomponentes.O veneno de Lonomia provoca um distúrbio na coagulação sangüínea, com <strong>do</strong>is mecanismosdescritos. Os extratos de cerdas de L. obliqua indicam atividade procoagulante <strong>do</strong>veneno por ativação de um ou mais fatores de coagulação (fator X e protrombina). Já parao veneno de L. achelous é descrita intensa ação fibrinolítica e quadro semelhante ao de coagulaçãointravascular disseminada, cujo resulta<strong>do</strong> final se traduz por consumo <strong>do</strong>s fatoresde coagulação e conseqüente incoagulabilidade sangüínea.5Susceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade é universal e a gravidade depende da quantidade de veneno inoculada.Pode haver acidentes em que ocorrem somente alterações locais; nessas circunstânciasnão há indicação de soroterapia e o tratamento pode ser feito com sintomáticos. Não existeimunidade adquirida após o envenenamento.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasManifestações locais – independentemente <strong>do</strong> gênero ou família <strong>do</strong> lepidóptero causa<strong>do</strong>r<strong>do</strong> acidente, o quadro local é indistinguível e se caracteriza por <strong>do</strong>r imediata emqueimação, irradiada para o membro, com área de eritema e edema na região <strong>do</strong> contato;eventualmente, pode-se evidenciar lesões puntiformes eritematosas nos pontos de inoculaçãodas cerdas. Adenomegalia regional <strong>do</strong>lorosa é comumente referida. Embora raro, podehaver evolução com bolhas e necrose cutânea superficial. Os sintomas normalmente regridemem 24 horas, sem maiores complicações.Manifestações sistêmicas – são somente observadas nos acidentes por Lonomia einstalam-se algumas horas após o acidente, mesmo após a regressão <strong>do</strong> quadro local. Chamaa atenção a presença de queixas inespecíficas, como cefaléia, mal-estar, náuseas e <strong>do</strong>rSecretaria de Vigilância em Saúde / MS117


Acidentes por Animais Peçonhentosab<strong>do</strong>minal, que muitas vezes estão associadas ou mesmo antecedem o aparecimento desangramentos. Dentre as manifestações hemorrágicas, são mais comumente observadasgengivorragia, equimoses de aparecimento espontâneo ou provoca<strong>do</strong>s por traumatismo/venopunção, epistaxe e, em outros sítios que podem determinar maior gravidade, hematúria,hematêmese e hemoptise. Insuficiência renal aguda e hemorragia intracraniana têmsi<strong>do</strong> associa<strong>do</strong>s a óbitos.Diagnóstico diferencialSe o agente causal não for identifica<strong>do</strong> e houver somente manifestações locais, não épossível fazer o diagnóstico diferencial de acidente por Lonomia e outros lepidópteros.Na situação de um paciente com história de contato com lagarta, sem sangramentoou alteração na coagulação, recomenda-se observação clínica e controle laboratorialdurante as primeiras 24 horas após o acidente, perío<strong>do</strong> em que pode haver o surgimento<strong>do</strong> quadro hemorrágico e/ou alteração da coagulação. Neste caso, está indicadaa soroterapia específica.Diagnóstico laboratorialCerca de 50% <strong>do</strong>s pacientes acidenta<strong>do</strong>s por Lonomia apresentam distúrbio na coagulaçãosangüínea, com ou sem sangramentos. O tempo de coagulação, a exemplo <strong>do</strong>s acidentesofídicos, é ferramenta útil na detecção desses casos e no acompanhamento apóssoroterapia. A reversão da incoagulabilidade sangüínea costuma ocorrer 24 horas após aadministração <strong>do</strong> antiveneno específico, poden<strong>do</strong> o controle ser realiza<strong>do</strong> pelas provas decoagulação, como tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial ativada e tempode trombina, que, em geral, estão alteradas na admissão e mantêm um perfil semelhantena recuperação pós-soro. Não há alteração na contagem de plaquetas, a não ser nos casosgraves. Hemólise subclínica pode ser detectada. Uréia e creatinina se elevam na vigênciade insuficiência renal aguda. Caso o paciente apresente torpor, rebaixamento <strong>do</strong> nível deconsciência e coma, recomenda-se a realização de tomografia computa<strong>do</strong>rizada de crâniopara a detecção de eventual sangramento intracraniano.TratamentoO tratamento <strong>do</strong> quadro local é realiza<strong>do</strong> com medidas sintomáticas que envolvemlavagem e compressas da região com água fria ou gelada, analgésicos e anti-histamínicossistêmicos e infiltração local com anestésico <strong>do</strong> tipo li<strong>do</strong>caína a 2%.Nos acidentes com manifestações hemorrágicas, o paciente deve ser manti<strong>do</strong> em repouso,evitan<strong>do</strong>-se intervenções traumáticas, como injeções intramusculares, punções emanipulações cirúrgicas até a normalização da coagulopatia.O soro antilonômico (SALon) encontra-se disponível para aplicação, conforme a gravidade<strong>do</strong> envenenamento.118 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Acidentes por Animais PeçonhentosAcidente Soro GravidadeLeve: quadro local apenas, sem sangramento ou distúrbiona coagulaçãoNº deampolas-lonômicoAntilonômico(SALon)Moderada: quadro local presente ou não, presença de distúrbiona coagulação, sangramento em pele e/ou mucosas5Grave: independente <strong>do</strong> quadro local, presença desangramento em vísceras ou complicações com riscode morte ao paciente10A aplicação é por via intravenosa e os cuida<strong>do</strong>s em relação às reações adversas sãoos mesmos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s na administração <strong>do</strong>s demais soros antipeçonhentos, uma vez que aprodução das imunoglobulinas específicas se faz por meio da imunização de cavalos comextratos de cerdas de lagartas.5Aspectos epidemiológicosA notificação <strong>do</strong>s acidentes por lepidópteros depende da importância <strong>do</strong>s envenenamentospor Lonomia, os quais, por sua vez, adquiriram magnitude significativa nos últimosanos. Os da<strong>do</strong>s disponíveis, no entanto, não refletem a real incidência desses casos. Em2003, foram registra<strong>do</strong>s 291 acidentes por Lonomia e 820 por outras lagartas, principalmenteem Santa Catarina, Rio Grande <strong>do</strong> Sul e Paraná. Mas esta<strong>do</strong>s que nunca haviamregistra<strong>do</strong> casos anteriormente, como Maranhão e Minas Gerais, passaram a notificar acidenteshemorrágicos.Nos esta<strong>do</strong>s das regiões Sul e Sudeste, a sazonalidade no registro <strong>do</strong>s acidentes é bastantemarcada, com pre<strong>do</strong>mínio de outubro a abril. São acidentes característicos da zonarural. Sen<strong>do</strong> as lagartas polífagas, cuja alimentação é baseada em folhas, freqüentementesão en contradas em árvores frutíferas como goiabeira, ameixeira, abacateiro etc., além deplan tas nativas. O grupo etário pediátrico é o mais acometi<strong>do</strong>, com ligeira pre<strong>do</strong>minânciano sexo masculino, fato relaciona<strong>do</strong> às circunstâncias em que os acidentes ocorrem. Já oscasos graves e óbitos têm si<strong>do</strong> registra<strong>do</strong>s em i<strong>do</strong>sos com patologias prévias. Outros fatoresde risco para gravidade envolvem a quantidade e intensidade <strong>do</strong> contato com as lagartas e apresença de traumatismos que podem levar a hemorragia maciça ou em órgão vital.Vigilância epidemiológicaObjetivosReduzir a incidência <strong>do</strong>s acidentes por animais peçonhentos por meio da promoçãode ações de educação em saúde;Diminuir a gravidade, a freqüência de seqüelas e a letalidade mediante o uso adequa<strong>do</strong>da soroterapia.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS119


Acidentes por Animais PeçonhentosDefinição de casoPaciente com evidências clínicas compatíveis com envenenamento por animal peçonhento,com ou sem a identificação <strong>do</strong> animal causa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> acidente.O diagnóstico etiológico é realiza<strong>do</strong> quan<strong>do</strong>, além das alterações decorrentes <strong>do</strong> envenenamento, o animal causa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> acidente é leva<strong>do</strong> pelo paciente ou familiares e identifica<strong>do</strong>.Entretanto, para efeito de tratamento e de vigilância epidemiológica, são considera<strong>do</strong>s confirma<strong>do</strong>sto<strong>do</strong>s os casos que se enquadrem na definição acima constante.NotificaçãoAgravo de interesse nacional, to<strong>do</strong> acidente por animal peçonhento atendi<strong>do</strong> na unidadede saúde deve ser notifica<strong>do</strong>, independentemente <strong>do</strong> paciente ter si<strong>do</strong> ou não submeti<strong>do</strong>à soroterapia.Existe uma ficha específica de investigação <strong>do</strong> Sinan que se constitui instrumento fundamentalpara o estabelecimento de normas de atenção ao paciente e distribuição de sorosantipeçonhentos, de acor<strong>do</strong> com as características regionais na ocorrência <strong>do</strong>s acidentes.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteTo<strong>do</strong> paciente deve receber atendimento por profissional médico para avaliação e indicação<strong>do</strong> tratamento indica<strong>do</strong>. Recomenda-se que to<strong>do</strong>s aqueles submeti<strong>do</strong>s à soroterapiasejam hospitaliza<strong>do</strong>s para monitorar o aparecimento de reações, avaliar a eficácia da soroterapia(mediante parâmetros para verificar a neutralização <strong>do</strong>s efeitos <strong>do</strong> envenenamento)e a ocorrência de complicações locais e sistêmicas, em especial a insu ficiência renal aguda.As unidades de saúde que aplicam soros devem contar com materiais e medicamentosessenciais para a intervenção em caso de reação alérgica ao antiveneno, bem como para aabordagem inicial das complicações.Qualidade da assistênciaO diagnóstico precoce e o tratamento adequa<strong>do</strong> são fatores fundamentais para o prognóstico<strong>do</strong> paciente. Assim, o profissional de vigilância epidemiológica deve verificar se asequipes de assistência estão capacitadas para realizar o diagnóstico e aplicar corretamente asoroterapia, e se as unidades de saúde dispõem de antivenenos em quantidade adequada epara to<strong>do</strong>s os tipos de envenenamento.O paciente deve ser avalia<strong>do</strong> minuciosamente para se evitar a administração desnecessáriade soro nos casos de acidente sem envenenamento ou por animal nãopeçonhento.120 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Acidentes por Animais PeçonhentosA inoculação de pequena quantidade de veneno pode determinar o aparecimento insidioso<strong>do</strong>s sintomas. Deste mo<strong>do</strong>, indica-se a observação mínima de 6 a 12 horas em to<strong>do</strong>sos casos cujas manifestações clínicas não sejam evidentes à admissão.Proteção individual para evitar acidentes• Não andar descalço: o uso de sapatos, botinas sem elásticos, botas ou perneiras evita80% <strong>do</strong>s acidentes.• Olhar sempre com atenção o local de trabalho e os caminhos a percorrer.• Usar luvas de couro nas atividades rurais e de jardinagem.• Não colocar as mãos em tocas ou buracos na terra, ocos de árvores, cupinzeiros,entre espaços situa<strong>do</strong>s em montes de lenha ou entre pedras, usar antes um pedaçode pau, enxada ou foice.• No amanhecer e no entardecer, evitar a aproximação da vegetação muito próxima aochão, grama<strong>do</strong>s ou até mesmo jardins, pois é nesse momento que as serpentes estãoem maior atividade.• Usar calça<strong>do</strong>s e luvas nas atividades de jardinagem e ao manusear materiais de construção.• Examinar calça<strong>do</strong>s e roupas pessoais, de cama e banho, antes de usá-las.5Proteção da população• Não depositar ou acumular material inútil junto à habitação, como lixo, entulhos emateriais de construção; manter sempre a calçada limpa ao re<strong>do</strong>r da casa.• Evitar trepadeiras encostadas à casa, folhagens entran<strong>do</strong> pelo telha<strong>do</strong> ou mesmopelo forro.• Controlar o número de roe<strong>do</strong>res existentes na área: sua diminuição pode evitar aaproximação de serpentes peçonhentas que deles se ali mentam.• Não montar acampamento junto a plantações, pastos ou matos, áreas onde normalmentehá roe<strong>do</strong>res e maior número de serpentes.• Não fazer piquenique às margens <strong>do</strong>s rios ou lagoas, deles manten<strong>do</strong> distância se gura,e não se encostar a barrancos durante pescarias.• Afastar as camas das paredes e evitar pendurar roupas fora de armários.• Limpar regularmente móveis, cortinas, quadros, cantos de parede e terrenos baldios.• Vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos, forros, meia-canas e rodapés.• Utilizar telas, vedantes ou sacos de areia em portas, janelas e ralos.• Manter limpos os locais próximos das residências, jardins, quintais, paióis e celeiros.• Combater a proliferação de insetos, principalmente baratas e cupins, pois são ali mentospara escorpiões.• Preservar os preda<strong>do</strong>res naturais de escorpiões, como seriemas, corujas, sapos, lagartixase galinhas.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS121


Acidentes por Animais PeçonhentosInvestigaçãoConsiste na obtenção detalhada de da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> acidente, mediante o preenchimento da fichade investigação de caso, com o objetivo de determinar o tipo de envenenamento ocorri<strong>do</strong>,a gravidade das manifestações clínicas e a soroterapia instituída. A investigação deve serrealizada em to<strong>do</strong>s os casos confirma<strong>do</strong>s, independentemente da aplicação de antiveneno.Roteiro de investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos <strong>do</strong>s itens da ficha de investigação de caso <strong>do</strong> Sinan, relativosaos da<strong>do</strong>s gerais, de residência e notificação individual.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicos• Anotar, na ficha de investigação, da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s antecedentes epidemiológicos e clínicos,para determinar o tipo de acidente compatível com o quadro clínico-epidemiológico.• Verificar a compatibilidade entre o tipo e quantidade de soro administra<strong>do</strong> e o diagnósticoe gravidade <strong>do</strong> envenenamento.• Acompanhar a evolução após a soroterapia, para identificar a ocorrência de complicaçõese eventual óbito.Análise de da<strong>do</strong>sA análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s objetiva proporcionar conhecimentos atualiza<strong>do</strong>s sobre característicasepidemiológicas <strong>do</strong>s acidentes, no que diz respeito, principalmente, à distribuiçãoda incidência por áreas geográficas, tipos de envenenamento, sazonalidade, grupos etários,utilização de soros, letalidade, eficiência da distribuição e aplicação <strong>do</strong>s soros e possíveisfalhas na assistência médica no diagnóstico e tratamento <strong>do</strong>s casos.Os casos ocorrem pre<strong>do</strong>minantemente na zona rural, o que determina diferenças naincidência <strong>do</strong>s acidentes nas unidades federadas. O conhecimento sobre as áreas de maiorrisco e a distribuição geográfica das serpentes peçonhentas causa<strong>do</strong>ras de acidentes permiteestratégias para a organização da assistência médica e planejamento das ações de vigilância,incluin<strong>do</strong> a distribuição de soros compatível com o perfil epidemiológico <strong>do</strong>s acidentes.No caso <strong>do</strong> ofidismo, o grupo etário mais acometi<strong>do</strong> é composto por adultos jovens(entre 15 e 40 anos), com pre<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> sexo masculino, devi<strong>do</strong> à maior exposição aotrabalho agrícola. A letalidade é mais elevada nos extremos de idade (crianças abaixo de 7anos e maiores de 65 anos), o que indica a necessidade de maior atenção a esses grupos. Damesma forma, a letalidade é variável de acor<strong>do</strong> com o tipo de envenenamento, apresentan<strong>do</strong>o acidente crotálico taxa três a quatro vezes maior que o botrópico, apesar deste ser oacidente de maior freqüência em to<strong>do</strong> o país.Os envenenamento por T. serrulatus são mais comuns em crianças abaixo de 14 anos.De mo<strong>do</strong> geral, as manifestações sistêmicas e os óbitos são descritos precocemente, o quereflete a importância <strong>do</strong> pronto atendimento aos acidenta<strong>do</strong>s, para a redução da letalidade,complicações e seqüelas.122 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Acidentes por Animais PeçonhentosEncerramento de casoAs fichas epidemiológicas devem ser analisadas visan<strong>do</strong> definir, a partir <strong>do</strong> diagnóstico,a evolução de cada caso, consideran<strong>do</strong> as seguintes alternativas:Cura completa – paciente que, após soroterapia, apresenta evolução sem complicaçõeslocais ou sistêmicas;Cura com seqüelas – nos acidentes ofídicos e no loxoscelismo, independentemente dasoroterapia, podem ocorrer complicações em decorrência de infecção ou necrose extensa.Deste mo<strong>do</strong>, registra-se com alguma freqüência déficit funcional ou amputa ção <strong>do</strong> membroacometi<strong>do</strong> em acidentes ofídicos. Lesão renal irreversível também determina a ocorrênciade seqüelas. Para o escorpionismo e foneutrismo, usualmente a resolução <strong>do</strong> quadro se fazsem seqüelas, que só ocorrem devi<strong>do</strong> a complicações de procedimentos invasivos, geralmenteem pacientes que necessitaram de hospita lização em unidade de terapia intensiva;Óbito – quan<strong>do</strong> relaciona<strong>do</strong> diretamente ao envenenamento, conseqüente a complicaçõesou a reações adversas à soroterapia.5Relatório finalA elaboração <strong>do</strong>s relatórios deve ser feita sistematicamente, em to<strong>do</strong>s os níveis <strong>do</strong> sistema,e sua periodicidade depende da situação epidemiológica e da organização <strong>do</strong> fluxode informações.Instrumentos disponíveis para controleNão existem medidas específicas para controle da população <strong>do</strong>s animais peçonhentos.Por serem animais silvestres, são proibi<strong>do</strong>s sua captura e transporte não autoriza<strong>do</strong>slegalmente. Portanto, a única garantia para que não haja acidentes é a prevenção de suaocorrência.Vigilância ambientalOs animais peçonhentos podem estar presentes em vários tipos de ambiente. No casode serpentes, há espécies que vivem em ambientes florestais e outras em áreas abertas, comocampos cerra<strong>do</strong>s e caatingas, o que torna inviável o monitoramento de sua presença nanatureza. A diversidade de hábitos alimentares é grande e várias espécies alimentam-se deinvertebra<strong>do</strong>s, como moluscos, minhocas e artrópodes, ao passo que outras se alimentamde vertebra<strong>do</strong>s, como peixes, anfíbios, lagartos, serpentes, aves e mamíferos. Ressalte-secomo de importância no meio periurbano a presença de roe<strong>do</strong>res, que aumenta a proximidade<strong>do</strong>s ofídios ao homem.A proteção de preda<strong>do</strong>res naturais de serpentes, como as emas, siriemas, gaviões, gambáse cangambás, e a manutenção de animais <strong>do</strong>mésticos como galinhas e gansos próximosàs habitações, em geral afastam as serpentes.O crescimento da população <strong>do</strong>s escorpiões e de aranhas <strong>do</strong> gênero Loxosceles no meiourbano dificulta o controle desses animais, principalmente na periferia das cidades, ondeSecretaria de Vigilância em Saúde / MS123


Acidentes por Animais Peçonhentosencontram alimento farto, constituí<strong>do</strong> por baratas e outros insetos. Inseticidas e outrosprodutos tóxicos não têm ação na eliminação <strong>do</strong>s animais no ambiente.Apesar de não serem bem conheci<strong>do</strong>s os fatores que acarretam mudanças no padrãodas populações de animais peçonhentos em determina<strong>do</strong> meio, como é o caso de Loxoscelese Lonomia no Sul <strong>do</strong> país, desequilíbrios ecológicos ocasiona<strong>do</strong>s por desmatamentos, usoindiscrimina<strong>do</strong> de agrotóxicos e outros produtos químicos em lavouras, e alterações climáticasocorridas ao longo de vários anos, certamente têm participação no incremento <strong>do</strong>sacidentes e, conseqüentemente, importância em termos de saúde pública.Ações de educação em saúdeAs estratégias de atuação junto às comunidades expostas ao risco de acidentes deveincluir, além das noções de prevenção <strong>do</strong>s acidentes, medidas de orientação para a não realizaçãode práticas caseiras e alternativas no manejo <strong>do</strong>s pacientes, tais como:• o uso de torniquete ou garrote, embora ainda bastante difundi<strong>do</strong>, tem si<strong>do</strong> associa<strong>do</strong>a complicações locais nos acidentes botrópicos e laquéticos, por favorecer aconcentração de veneno e agravar a isquemia na região da picada;• sucção e incisão no local da picada propiciam, além de infecção cutânea, a ocorrênciade hemorragia, não ten<strong>do</strong> nenhuma eficácia na redução da absorção <strong>do</strong> veneno;• a colocação de substâncias como alho, esterco, borra de café e outros produtos permanecemcomo práticas ainda fortemente arraigadas na população. A crença nessasmedidas provoca o retar<strong>do</strong> no encaminhamento <strong>do</strong> paciente para a unidade desaúde, que é feito tardiamente para a administração <strong>do</strong> soro, muitas vezes quan<strong>do</strong> oindivíduo já apresenta complicações;• medicamentos fitoterápicos e outras terapias alternativas não encontram respal<strong>do</strong>na literatura científica para o tratamento <strong>do</strong>s acidentes por animais peçonhentos,deven<strong>do</strong>-se desestimular o seu uso.Organização da distribuição <strong>do</strong>s soros antipeçonhentosDesde a implantação <strong>do</strong> Programa Nacional de Controle <strong>do</strong>s Acidentes por AnimaisPeçonhentos, em 1986, to<strong>do</strong>s os soros antipeçonhentos produzi<strong>do</strong>s no Brasil são adquiri<strong>do</strong>spelo Ministério da Saúde e distribuí<strong>do</strong>s às secretarias estaduais de saúde, que, por suavez, definem os pontos estratégicos para atendimento <strong>do</strong>s acidentes e utilização correta eracional <strong>do</strong>s antivenenos. O diagnóstico correto e a terapêutica adequada são condiçõesessenciais para o bom prognóstico <strong>do</strong>s casos.Deste mo<strong>do</strong>, é preocupação constante <strong>do</strong> Ministério da Saúde garantir o acesso gratuitoe universal ao tratamento soroterápico. Para tanto, as análises epidemiológicas das sérieshistóricas <strong>do</strong>s acidentes ocorri<strong>do</strong>s no Brasil têm si<strong>do</strong> fundamentais para o planejamentodessa distribuição .Assim, considera-se a marcada sazonalidade na ocorrência <strong>do</strong>s acidentes em determinadasregiões, o que orienta a aquisição destes imunobiológicos junto aos laboratóriosprodutores e a distribuição racional <strong>do</strong>s estoques aos esta<strong>do</strong>s. Além disso, as estratégiasde distribuição de soros devem levar em conta o mapeamento das áreas de maior registro124 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Acidentes por Animais Peçonhentosde casos, visan<strong>do</strong> minimizar as distâncias entre os locais de ocorrência <strong>do</strong>s acidentes e asunidades de saúde.O acompanhamento da distribuição geográfica <strong>do</strong>s animais e <strong>do</strong>s acidentes permitedefinir estratégias para a organização da assistência médica e planejamento das ações devigilância, incluin<strong>do</strong> a distribuição de soros antiofídicos compatível com o perfil epidemiológico<strong>do</strong>s acidentes.5Secretaria de Vigilância em Saúde / MS125


Acidentes por Animais PeçonhentosAnexoTécnica para determinação <strong>do</strong> tempo de coagulação (TC)• Retirar o sangue com seringa plástica, cuida<strong>do</strong>samente, evitan<strong>do</strong> a formação de coáguloe dificuldade de escoamento <strong>do</strong> flui<strong>do</strong>.• Colocar 1ml em cada um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is tubos de vidro (13x100mm), que devem estarsecos e limpos.• Colocar os tubos em banho-maria a 37ºC.• A partir <strong>do</strong> 5º minuto, e a cada minuto, retirar sempre o mesmo tubo para leitura.• Inclinar o tubo até a posição horizontal: se o sangue escorrer pela parede, recolocar otubo no banho-maria (o movimento deve ser suave, para evitar falso encurtamento<strong>do</strong> tempo).• Referir o valor <strong>do</strong> TC naquele minuto em que o sangue não mais escorrer pela paredeinterna <strong>do</strong> tubo, quan<strong>do</strong> inclina<strong>do</strong>.• Confirmar o resulta<strong>do</strong> com o segun<strong>do</strong> tubo, que permaneceu em repouso no banhomaria.Até 9 minTempoResulta<strong>do</strong>Normal10 a 30 min Prolonga<strong>do</strong>Acima de 30 minIncoagulávelObservação: os valores <strong>do</strong> TC variam pouco em função <strong>do</strong> diâmetro <strong>do</strong> tubo emprega<strong>do</strong>,mas sofrem variações com o volume <strong>do</strong> sangue adiciona<strong>do</strong>, com o número de inclinações<strong>do</strong> tubo e com a temperatura <strong>do</strong> banho.126 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


CAPÍTULO 66Doenças


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança ExpostaAIDSCID 10: B20 a B24DescriçãoA aids é uma <strong>do</strong>ença emergente, que representa um <strong>do</strong>s maiores problemas de saúdeda atualidade em virtude de seu caráter pandêmico e gravidade.Os infecta<strong>do</strong>s pelo HIV evoluem para grave disfunção <strong>do</strong> sistema imunológico, à medidaque vão sen<strong>do</strong> destruí<strong>do</strong>s os linfócitos T CD4+, uma das principais células-alvo <strong>do</strong>vírus. A contagem de linfócitos T CD4+ é importante marca<strong>do</strong>r dessa imunodeficiência,sen<strong>do</strong> utilizada tanto na avaliação <strong>do</strong> tratamento e prognóstico quanto em uma das definiçõesde caso de aids, com fim epidemiológico.A história natural da aids vem sen<strong>do</strong> alterada, consideravelmente, pela terapia anti-retroviral(ARV) que retarda a evolução da infecção, até o seu estádio final, em que surgem asmanifestações defini<strong>do</strong>ras de aids. Juntamente com as campanhas de prevenção, os ARV parecemestar contribuin<strong>do</strong> para a estabilização <strong>do</strong> crescimento da epidemia de aids no Brasil.A transmissão vertical, uma das prioridades <strong>do</strong> Programa Nacional de DST e Aids(PN-DST/Aids), também vem sen<strong>do</strong> reduzida com a instituição <strong>do</strong> tratamento/quimioprofilaxiada gestante/parturiente e criança exposta, que além da quimioprofilaxia com o AZTserá alimentada desde o nascimento com fórmula infantil 1 .6ASinonímiaSida, aids, <strong>do</strong>ença causada pelo HIV, síndrome da imunodeficiência adquirida.Infecção pelo HIV e aidsCaracterísticas clínicas e epidemiológicasAgentes etiológicosHIV-1 e HIV-2, retrovírus com genoma RNA, da família Lentiviridae. Pertencem aogrupo <strong>do</strong>s retrovírus citopáticos e não-oncogênicos, necessitan<strong>do</strong>, para multiplicar-se, deuma enzima denominada transcriptase reversa, responsável pela transcrição <strong>do</strong> RNA viralpara uma cópia DNA, que pode então integrar-se ao genoma <strong>do</strong> hospedeiro. Bastante hábeisno meio externo, estes vírus são inativa<strong>do</strong>s por uma variedade de agentes físicos (calor)e químicos (hipoclorito de sódio, glutaraldeí<strong>do</strong>). Em condições experimentais controladas,as partículas virais intracelulares parecem sobreviver no meio externo por até no máximoum dia, enquanto que partículas virais livres podem sobreviver por 15 dias em temperaturaambiente, ou até 11 dias a 37ºC.1Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Guia prático depreparo de alimentos para crianças menores de 12 meses que não podem ser amamentadas. Brasília: Ministério daSaúde, 2004. www.aids.gov.br/final/biblioteca/guia_nutricao/aids_versao_internete.pdfSecretaria de Vigilância em Saúde / MS129


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança ExpostaReservatórioO homem.Mo<strong>do</strong> de transmissão e transmissibilidadeO HIV pode ser transmiti<strong>do</strong> pelo sangue (via parenteral e vertical), esperma, secreçãovaginal (via sexual) e leite materno (via vertical).O indivíduo infecta<strong>do</strong> pode transmitir o HIV durante todas as fases da infecção, riscoesse proporcional à magnitude da viremia, principalmente na infecção aguda e <strong>do</strong>ençaavançada.Além <strong>do</strong>s estádios clínicos acima menciona<strong>do</strong>s, os processos infecciosos e inflamatóriosfavorecem a transmissão <strong>do</strong> HIV. Cite-se, em primeiro lugar, a presença das <strong>do</strong>ençassexualmente transmissíveis – DST. As que cursam com úlcera – como a sífilis, o herpesgenital e o cancro mole – estão associadas com o aumento no risco de infecção pelo HIVcerca de 8 a 18 vezes mais. As DST não ulcerativas, tais como gonorréia, infecção por clamídiae tricomoníase, bem como outras infecções freqüentes <strong>do</strong> trato genital inferior, como,por exemplo, a vaginose bacteriana e candidíase, e processos inflamatórios, como vaginitesquímicas causadas por espermicidas e outras substâncias, também aumentam o risco deadquirir e/ou transmitir o HIV. As cervicites, além <strong>do</strong> processo inflamatório adjacente, cursamquase que invariavelmente com a presença de ectopias, o que lhes confere solução decontinuidade entre o ambiente vaginal e a circulação sangüínea, favorecen<strong>do</strong> a aquisiçãoe/ou transmissão <strong>do</strong> HIV. Igualmente, as verrugas genitais causam friabilidade da mucosaou pele infectada, levan<strong>do</strong> à formação de microfissuras e, portanto, a maior risco de aquisiçãoe/ou transmissão <strong>do</strong> HIV.Durante a gestação há maior concentração <strong>do</strong> HIV no flui<strong>do</strong> cérvico-vaginal, o quepotencialmente aumenta o risco de transmissão sexual desse vírus.Outros fatores de risco associa<strong>do</strong>s aos mecanismos de transmissão <strong>do</strong> HIV são:Tipo de prática sexual – relações sexuais desprotegidas, durante o perío<strong>do</strong> menstrualou que ocasionam sangramento, e sexo anal desprotegi<strong>do</strong> (receptivo e/ou insertivo) sãosituações que propiciam aumento <strong>do</strong> risco de transmissão <strong>do</strong> HIV.Utilização de sangue ou seus deriva<strong>do</strong>s, não testa<strong>do</strong>s ou trata<strong>do</strong>s inadequadamente;e recepção de órgãos ou sêmen de <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res não tria<strong>do</strong>s e testa<strong>do</strong>s – essas práticas, emdescumprimento às normas de triagem, acondicionamento e controle de qualidade, estãohoje praticamente banidas no Brasil.Reutilização de seringas e agulhas – o compartilhamento de agulhas e seringas entreos usuários de drogas injetáveis aumenta muito a transmissão <strong>do</strong> HIV.Transmissão ocasionada por acidente com material biológico, sem a utilização deequipamentos de proteção individual (EPI) – durante a manipulação com instrumentosperfurocortantes contamina<strong>do</strong>s com sangue e secreções de pacientes porta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> HIV,por profissionais da área da saúde. Estima-se que o risco médio de contrair o HIV após umaexposição percutânea ao sangue contamina<strong>do</strong> seja de aproximadamente 0,3%. Nos casos de130 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Expostaexposição de mucosas, de aproximadamente 0,1%. Os fatores de risco identifica<strong>do</strong>s comofavorece<strong>do</strong>res desse tipo de contaminação são profundidade e extensão <strong>do</strong> ferimento, presençade sangue visível no instrumento que produziu o ferimento, procedimento que envolveagulha instalada diretamente na veia ou artéria de indivíduo infecta<strong>do</strong> e, finalmente,o paciente, fonte da infecção, apresentar evidências de imunodeficiência avançada (sinaisclínicos da <strong>do</strong>ença, carga viral elevada, CD4 baixo).Transmissão vertical – detalhada no tópico Gestante/HIV positiva e criança exposta.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoO tempo entre a exposição ao HIV e o aparecimento <strong>do</strong>s sintomas na fase aguda é decinco a 30 dias. O perío<strong>do</strong> de latência clínica, após a infecção aguda e até o desenvolvimentoda imunodeficiência é longo. Não há consenso sobre o conceito desse perío<strong>do</strong> em aids.Susceptibilidade e vulnerabilidadeA susceptibilidade é geral, em vista <strong>do</strong>s vários mo<strong>do</strong>s de transmissão e transmissibilidade.Vulnerabilidade, para os não infecta<strong>do</strong>s, significa ter pouco ou nenhum controle sobreo risco de adquirir o HIV ou outra DST; e para os infecta<strong>do</strong>s ou afeta<strong>do</strong>s pela <strong>do</strong>ença, terpouco ou nenhum acesso a cuida<strong>do</strong>s e suportes apropria<strong>do</strong>s.6AMatriz de risco e vulnerabilidadeOcorrência freqüente de comportamento de risco e alta vulnerabilidade:• presidiários• usuários de drogas injetáveis• profissionais <strong>do</strong> sexo• caminhoneiros• garimpeirosOcorrência freqüente de comportamento de risco e vulnerabilidade variável, segun<strong>do</strong>o grupo considera<strong>do</strong>:• homo/bissexuais masculinos (homens que fazem sexo com homens – HSH)Ocorrência variável de comportamento de risco segun<strong>do</strong> o grupo considera<strong>do</strong>, masalta vulnerabilidade:• crianças e a<strong>do</strong>lescentes• mulheres• índios• segmentos populacionais de baixa renda• efetivos militares e conscritos das Forças ArmadasSecretaria de Vigilância em Saúde / MS131


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança ExpostaAspectos clínicos e laboratoriaisDiagnóstico pós-exposiçãoA <strong>do</strong>ença pode ou não ter expressão clínica logo após a infecção, sen<strong>do</strong> importanteque o profissional saiba conduzir a investigação laboratorial após a suspeita de risco deinfecção pelo HIV. Assim, deve-se atentar para o fato de que, com os testes atualmente disponíveis,o tempo necessário para que a sorologia anti-HIV se torne positiva é de seis a 12semanas após a aquisição <strong>do</strong> vírus, com perío<strong>do</strong> médio de aproximadamente <strong>do</strong>is meses.Esse tempo, compreendi<strong>do</strong> entre a aquisição da infecção e a detecção da soroconversão, échama<strong>do</strong> de janela imunológica ou biológica. Os testes utiliza<strong>do</strong>s apresentam, geralmente,níveis de até 95% de soroconversão nos primeiros seis meses após a transmissão.Soroconversão – é a positivação da sorologia para o HIV. Acontece quan<strong>do</strong> o sistemaimunológico produz anticorpos em quantidades detectadas pelos testes sorológicos.Manifestações clínicasInfecção aguda – esta fase da <strong>do</strong>ença é também chamada de síndrome da infecçãoretroviral aguda ou infecção primária, manifestan<strong>do</strong>-se clinicamente em cerca de 50% a90% <strong>do</strong>s pacientes. O diagnóstico desta fase é pouco realiza<strong>do</strong>, em vista <strong>do</strong> baixo índice desuspeição, sen<strong>do</strong>, em sua maioria, retrospectivo. A infecção aguda caracteriza-se tanto porviremia elevada quanto por resposta imune intensa e rápida queda na contagem de linfócitosT CD4+ de caráter transitório. Existem evidências de que, nessa fase de infecção, aimunidade celular desempenha papel fundamental no controle da viremia pelo HIV.Os sintomas aparecem durante o pico da viremia e da atividade imunológica. As manifestaçõesclínicas podem variar desde um quadro gripal até uma síndrome similar à mononucleose.Os pacientes podem apresentar sintomas de infecção viral como febre, adenopatia,faringite, mialgia, artralgia, rash cutâneo maculopapular eritematoso; ulceraçõesmucocutâneas, envolven<strong>do</strong> mucosa oral, esôfago e genitália; hiporexia, adinamia, cefaléia,fotofobia, hepatoesplenomegalia, perda de peso, náuseas e vômitos. Alguns podem aindaapresentar candidíase oral, neuropatia periférica, meningoencefalite asséptica e síndromede Guillain-Barré.Os sintomas duram, em média, 14 dias, sen<strong>do</strong> o quadro clínico autolimita<strong>do</strong>.Após a resolução da fase aguda ocorre a estabilização da viremia em níveis variáveis(set points), defini<strong>do</strong>s pela velocidade da replicação e clareamento viral. O set point é fatorprognóstico de evolução da <strong>do</strong>ença. A queda progressiva da contagem de linfócitos T CD4+está diretamente relacionada à velocidade da replicação viral e progressão para a aids.Fase assintomática – a infecção precoce pelo HIV, também conhecida como fase assintomática,pode durar de alguns meses a alguns anos e seus sintomas clínicos são mínimosou inexistentes. Os exames sorológicos para o HIV são reagentes e a contagem delinfócitos T CD4+ pode estar estável ou em declínio. Alguns pacientes podem apresentarlinfoadenopatia generalizada persistente, “flutuante” e in<strong>do</strong>lor.132 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança ExpostaFase sintomática inicial – nessa fase, o porta<strong>do</strong>r da infecção pelo HIV pode apresentarsinais e sintomas inespecíficos de intensidade variável, além de processos oportunísticosde menor gravidade, que por definição não são defini<strong>do</strong>res de aids, conheci<strong>do</strong>s como ARC– complexo relaciona<strong>do</strong> à aids. São indicativos de ARC: candidíase oral; testes de hipersensibilidadetardia negativos e a presença de mais de um <strong>do</strong>s seguintes sinais e sintomas, comduração superior a 1 mês, sem causa identificada: linfadenopatia generalizada, diarréia,febre, astenia su<strong>do</strong>rese noturna e perda de peso superior a 10%. Há uma elevação da cargaviral e a contagem de linfócitos T CD4+ já se encontra abaixo de 500 cel/mm 3 .Aids/<strong>do</strong>enças oportunísticas – uma vez agravada a imunodepressão, o porta<strong>do</strong>r dainfecção pelo HIV apresenta infecções oportunísticas (IO) causadas por microrganismosnão considera<strong>do</strong>s usualmente patogênicos, ou seja, incapazes de desencadear a <strong>do</strong>ença empessoas com sistema imune normal. No entanto, microrganismos normalmente patogênicostambém podem, eventualmente, ser causa<strong>do</strong>res de IO. Nessa situação, para seremconsideradas oportunísticas, as infecções necessariamente assumem caráter de maior gravidadeou agressividade.As <strong>do</strong>enças oportunísticas associadas à aids são várias, poden<strong>do</strong> ser causadas por vírus,bactérias, fungos, protozoários e certas neoplasias:• vírus – citomegalovirose, herpes simples, leucoencefalopatia multifocal progressiva;• bactérias – micobacterioses (tuberculose e complexo Mycobacterium avium-intracellulare),pneumonias (S. pneumoniae), salmonelose;• fungos – pneumocistose, candidíase, criptococose, histoplasmose;• protozoários – toxoplasmose, criptosporidiose, isosporiose.6AOs tumores mais freqüentemente associa<strong>do</strong>s são sarcoma de Kaposi, linfomas não-Hodgkin, neoplasias intra-epiteliais anal e cervical. É importante assinalar que o câncer decolo <strong>do</strong> útero compõe o elenco de <strong>do</strong>enças indicativas de aids em mulher.Alterações neurológicas induzidas pelo HIV – além da ação primária sobre linfócitose macrófagos, o HIV apresenta um neurotropismo bastante acentua<strong>do</strong>, levan<strong>do</strong>, freqüentemente,ao aparecimento de síndromes neurológicas específicas, particularmente nasfases mais avançadas da infecção. As manifestações neurológicas mais freqüentes são asneuropatias periféricas, a mielopatia vacuolar e um quadro de atrofia cerebral e demênciaprogressiva, todas relacionadas com a ação <strong>do</strong> HIV e <strong>do</strong> próprio sistema imune no teci<strong>do</strong>nervoso central e periférico.À medida que a infecção se agrava, a carga viral se eleva e a contagem de linfócitos TCD4+ diminui de forma significativa, poden<strong>do</strong>, no estágio mais avança<strong>do</strong>, chegar a valoresabaixo de 50 cels/mm 3 .Diagnóstico diferencialEntenden<strong>do</strong>-se o grande polimorfismo da <strong>do</strong>ença, o diagnóstico diferencial deveráconsiderar sua fase. Assim, na fase aguda, em virtude da inespecificidade de sintomas, deve-Secretaria de Vigilância em Saúde / MS133


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Expostase pensar em <strong>do</strong>enças virais <strong>do</strong> tipo mononucleose. Na fase de <strong>do</strong>ença deve-se analisar oquadro clínico apresenta<strong>do</strong> e o órgão acometi<strong>do</strong>. Por exemplo, meningites bacterianas paraafecções <strong>do</strong> sistema nervoso central; pneumonias para <strong>do</strong>enças <strong>do</strong> trato respiratório etc.Diagnóstico sorológico da infecção pelo HIVA fim de maximizar o grau de confiabilidade na emissão <strong>do</strong>s lau<strong>do</strong>s e minimizar aocorrência <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s falso-negativos ou falso-positivos, o Ministério da Saúde estabelecea obrigatoriedade de um conjunto de procedimentos seqüencia<strong>do</strong>s (Portaria nº 59/GM, de 28/1/03, Ministério da Saúde).Em indivíduos com mais de 2 anos os testes visam detectar anticorpos anti-HIV.Para menores de 2 anos, consideran<strong>do</strong> a possibilidade de anticorpos maternos, os testesvisam a detecção <strong>do</strong> RNA, DNA viral ou cultura <strong>do</strong> vírus positiva.Fluxograma para detecção de anticorpos anti-HIV, em indivíduos com mais de 2 anosAmostra(soro ou plasma)Etapa IEIA 1(-)Amostra negativapara HIV(+)/(Ic)EIA 2 e IFI ou IBEIA 2 (-)e IFI (-)ou IB (-)EIA 2 (-)/(Ic)e IFI (+)/(I)ou IB (+)/(I)EIA 2 (+)/(Ic)e IFI (-)/(I)ou IB (-)/(I)EIA 2 (+)e IFI (+)ou IB (+)Etapa IIAmostra negativapara HIV -1Amostra positivapara HIV-1/HIV*Coletar nova amostrae repetir a Etapa 1Western Blot(-)Amostra negativapara HIV-1(1)Amostraindeterminada para HIV-1(+)Amostra positivapara HIV-1Etapa IIIInvestigar soroconversãoe/ou pesquisar HIV-2Coletar nova amostrae repetir Etapa 1LegendaEIA – Ensaio imunoenzimáticoIFI – Imunofluorescência indiretaIB – imunoblotIc – InconclusivoI – Indetermina<strong>do</strong>(-) Não-reagente(+) Reagente*De acor<strong>do</strong> com o ensaio realiza<strong>do</strong> (IFI ou IB)134 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança ExpostaFluxograma para utilização de testes de quantificação de RNA visan<strong>do</strong> a detecçãoda infecção pelo HIV em indivíduos com idade entre 2 meses e 18 anos, nasci<strong>do</strong>sde mães infectadas pelo HIV-2 2MãeCriança com idade de 2 a 24 meses (1 o teste)Detectável 2 Abaixo <strong>do</strong> limite de detecção 1Repetir teste imediatamente com nova amostra 4(2 o teste)Repetir o teste após 2 meses(2 o teste)Detectável 2Criança infectada 3Abaixo <strong>do</strong> limiteAbaixo <strong>do</strong> limiteDetectávelde detecção 1 2 de detecção 1Repetir após 2 meses(3 o teste)Repetir o testeimediatamente comnova amostra (3 o teste)Criança provavelmentenão infectada 16ADetectável 2Abaixo <strong>do</strong> limiteAbaixo <strong>do</strong> limiteDetectávelde detecção 1 2 de detecção 1Criança infectada 3Criança provavelmenteCriança provavelmenteCriança infectadanão infectada 1 3 não infectada 11Manter o acompanhamento clínico nas crianças consideradas como provavelmente não infectadas, de acor<strong>do</strong>com as recomendações estabelecidas, e fazer sorologia anti-HIV aos 18 meses de idade. Caso a criança tenha si<strong>do</strong>amamentada, o presente algoritmo deve ser inicia<strong>do</strong> 2 meses após a suspensão <strong>do</strong> aleitamento materno, visan<strong>do</strong>minimizar a ocorrência de resulta<strong>do</strong>s falso-negativos.2Este fluxograma foi elabora<strong>do</strong> para o uso de testes de detecção quantitativa de RNA e o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exame deveexpressar o valor de carga viral encontra<strong>do</strong> na amostra. Valores até 10 mil cópias/ml sugerem resulta<strong>do</strong>s falso-positivos,deven<strong>do</strong> ser cuida<strong>do</strong>samente analisa<strong>do</strong>s dentro <strong>do</strong> contexto clínico, demandan<strong>do</strong> nova determinação emum intervalo de quatro semanas.3Avaliar a necessidade de tratamento consideran<strong>do</strong> os parâmetros clínicos e laboratoriais, de acor<strong>do</strong> com as recomendaçõesestabelecidas em seção específica <strong>do</strong> texto.4Para garantir a qualidade <strong>do</strong>s procedimentos e consideran<strong>do</strong> a possibilidade de contaminação e/ou troca de amostra,bem como a necessidade de confirmação <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> obti<strong>do</strong>, recomenda-se a coleta de nova amostra e apriorização da repetição <strong>do</strong> teste no menor tempo possível.2Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Guia de tratamentoclínico da infecção pelo HIV em crianças. Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de DSTe Aids. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS135


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança ExpostaOs critérios indica<strong>do</strong>s para exclusão da infecção, aplicam-se às crianças que não estejamsen<strong>do</strong> amamentadas pela mãe HIV positiva. A amamentação, em qualquer perío<strong>do</strong>, éconsiderada como nova exposição ao HIV. Se ocorrer, a criança deve ser submetida a novarotina de diagnóstico da infecção pelo HIV.É importante enfatizar que mesmo com o processamento adequa<strong>do</strong> das amostras desangue e a correta execução técnica de todas as etapas da reação sorológica no laboratório,é fundamental que o processo de aconselhamento, antes e depois <strong>do</strong> teste, sejafeito de forma cuida<strong>do</strong>sa, para que o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exame seja corretamente interpreta<strong>do</strong>,tanto pelo profissional de saúde quanto pelo paciente, geran<strong>do</strong> atitudes que visema promoção da saúde e/ou a prevenção da infecção pelo HIV nos indivíduos testa<strong>do</strong>s,conforme o diagnóstico obti<strong>do</strong> a partir de suas avaliações clínica e laboratorial.TratamentoA abordagem clínico-terapêutica <strong>do</strong> HIV tem se torna<strong>do</strong> cada vez mais complexa, emvirtude da velocidade <strong>do</strong> conhecimento acerca deste agente.O tratamento objetiva prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida, pela reduçãoda carga viral e reconstituição <strong>do</strong> sistema imunológico, e é garanti<strong>do</strong> pelo SistemaÚnico de Saúde, por meio de ampla rede de serviços.Para oferecer e garantir o alcance desses objetivos, o Ministério da Saúde, por meio <strong>do</strong>Programa Nacional de DST e Aids, instituiu o Comitê Assessor para Terapia Anti-retroviralem Adultos e A<strong>do</strong>lescentes Infecta<strong>do</strong>s pelo HIV, o Comitê Assessor para Terapia Anti-retroviralem Crianças Infectadas pelo HIV e o Comitê Assessor para Recomendações daProfilaxia da Transmissão Vertical <strong>do</strong> HIV e Terapia Anti-retroviral em Gestantes, que sereúne periodicamente para definir as diretrizes <strong>do</strong> tratamento para HIV/aids, disponibilizadasno site www.aids.gov.br.Aspectos epidemiológicosNa primeira metade da década de 80, a epidemia HIV/aids manteve-se basicamenterestrita às regiões metropolitanas <strong>do</strong> Sudeste e Sul <strong>do</strong> país, ten<strong>do</strong> como principais vias detransmissão a sexual (entre homens que fazem sexo com homens) e a sangüínea (por transfusãode sangue e hemoderiva<strong>do</strong>s e uso de drogas injetáveis). Nesse perío<strong>do</strong>, a velocidadede seu crescimento de incidência e taxas de mortalidade eram elevadas, a estrutura assistencialencontrava-se em fase de implantação/implementação e foram priorizadas medidasdirigidas à melhoria da qualidade e controle <strong>do</strong> sangue e seus deriva<strong>do</strong>s. Como conseqüênciaimediata dessas medidas, observou-se drástica diminuição de casos de aids entrehemofílicos e transfundi<strong>do</strong>s.Nos últimos anos da década de 80 e início <strong>do</strong>s anos 90, a epidemia assume outro perfil.A transmissão heterossexual passou a ser a principal via de transmissão <strong>do</strong> HIV, a qual vemapresentan<strong>do</strong> maior tendência de crescimento em anos recentes, acompanhada de expressivaparticipação das mulheres na dinâmica da epidemia e de um importante percentual de136 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Expostacasos por transmissão materno-infantil. Observa-se, ainda, nos últimos anos, um desigualprocesso de interiorização, com maiores ritmos de crescimento nos municípios pequenos(menos de 50 mil habitantes), e a pauperização da epidemia, que ten<strong>do</strong> início nos estratossociais de maior instrução atualmente cresce nos de menor escolaridade.A partir de 1996, com a distribuição universal e gratuita de anti-retrovirais, vem-seregistran<strong>do</strong> redução na velocidade de crescimento da incidência e taxas de mortalidade da<strong>do</strong>ença.É importante ressaltar que a epidemia de aids no Brasil é, de fato, o somatório de subepidemiasmicrorregionais, em interação permanente, devi<strong>do</strong> aos diferentes momentos deintrodução <strong>do</strong> HIV no território nacional, às diferentes condições de vida das populaçõesatingidas, às distintas composições das populações regionais, aos padrões de mobilidade dapopulação e à diversidade de arranjos e padrões de comportamento sexual.Vigilância epidemiológicaA vigilância epidemiológica da aids, além de se basear em informações fornecidas pelanotificação de casos (Sinan) e óbitos (SIM), possui <strong>do</strong>is sistemas particulares: Sistema deControle de Exames Laboratoriais (Sicel) e Sistema de Controle Logístico de Medicamentos(Siclom).6AObjetivosO componente de vigilância epidemiológica <strong>do</strong> Programa tem como propósito acompanhara tendência temporal e espacial da <strong>do</strong>ença, infecções e comportamentos de risco,visan<strong>do</strong> orientar suas ações.Definição de caso com fins epidemiológicosEntende-se por caso de aids o indivíduo que se enquadra nas definições a<strong>do</strong>tadas peloMinistério da Saúde: infecção avançada pelo HIV com repercussão no sistema imunitário,com ou sem ocorrência de sinais e sintomas causa<strong>do</strong>s pelo próprio HIV ou conseqüentesa <strong>do</strong>enças oportunistas (infecções e neoplasias). Os critérios para a caracterização de casosde aids estão descritos na publicação Critérios de definição de casos de aids em adultos ecrianças 3 e suas definições estão abaixo resumidas.Definição de caso de aids em adultos (13 anos ou mais) – CID 10: B24Notas explicativas:• testes de triagem para detecção de anticorpos anti-HIV – várias gerações de ensaiopor imunoabsorbância liga<strong>do</strong> à enzima (Enzyme Linked Immunosorbent Assay,Elisa), ensaio imunoenzimático (Enzyme Immuno Assay, EIA), ensaio imunoenzimáticocom micropartículas (Microparticle Enzyme Immuno Assay, Meia) e ensaioimunoenzimático com quimioluminiscência;3Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Critérios dedefinição de casos de aids em adultos e crianças/Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, ProgramaNacional de DST e Aids. Brasília: Ministério da Saúde, 2003. 56p.il. (Série Manuais nº 60).Secretaria de Vigilância em Saúde / MS137


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança ExpostaQuadro 1. Resumo <strong>do</strong>s critérios de definição de caso de aids em indivíduoscom 13 anos ou mais, para fins de vigilância epidemiológicaCritério CDC adapta<strong>do</strong>Existência de <strong>do</strong>is testes de triagem reagentes ou um confirmatório para detecção de anticorpos anti-HIV+Evidência de imunodeficiência: diagnóstico de pelo menos uma <strong>do</strong>ença indicativa de aidse/ouContagem de linfócitos T CD4+


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta• escala de sinais, sintomas e <strong>do</strong>enças no critério Rio de Janeiro/Caracas – <strong>do</strong>is pontos:anemia e/ou linfopenia e/ou trombocitopenia; astenia (mais de 1 mês, excluída atuberculose como causa básica); caquexia ( perda involuntária de + de 10% <strong>do</strong> pesocorporal, excluída a tuberculose como causa básica); dermatite persistente; diarréia(mais de 1 mês); febre (=/+ 1 mês,excluída a tuberculose como causa básica); linfadenopatia(<strong>do</strong>is ou mais sítios) e tosse persistente (excluída a tuberculose como causabásica). Cinco pontos: candi<strong>do</strong>se oral ou leucoplasia pilosa; disfunção <strong>do</strong> sistemanervoso central; herpes zoster em indivíduos com até 60 anos de idade e tuberculosepulmonar, pleural ou de linfono<strong>do</strong>s localiza<strong>do</strong>s numa única região. Dez pontos: outrasformas de tuberculose e sarcoma de Kaposi;• investigação epidemiológica inconclusiva – aquela em que, após a busca em prontuários,o caso não puder ser descarta<strong>do</strong> ou enquadra<strong>do</strong> num <strong>do</strong>s critérios principais,pelo não-registro de da<strong>do</strong>s clínicos/laboratoriais;• data <strong>do</strong> diagnóstico na ficha de notificação/investigação é aquela em que o indivíduose enquadra em um <strong>do</strong>s critérios de definição de caso de aids, ou seja, tenha evidênciaclínica e laboratorial, exceto no critério óbito. Nesse caso, é igual à <strong>do</strong> óbito.6ADefinição de caso de aids em crianças (menores de 13 anos)Quadro 2. Resumo <strong>do</strong>s critérios de definição de caso de aids em indivíduosmenores de 13 anos de idade, para fins de vigilância epidemiológicaCritério CDC adapta<strong>do</strong>Evidência laboratorial da infecção pelo HIV em crianças, para fins de vigilância epidemiológica+Evidência de imunodeficiência:Diagnóstico de pelo menos duas <strong>do</strong>enças indicativas de aids de caráter levee/ouDiagnóstico de pelo menos uma <strong>do</strong>ença indicativa de aids de caráter modera<strong>do</strong> ou gravee/ouContagem de linfócitos T CD4+ menor <strong>do</strong> que o espera<strong>do</strong> para a idade atualouCritério excepcional óbitoMenção de Aids/Sida (ou termos equivalentes) em algum <strong>do</strong>s campos da Declaração de Óbito+Investigação epidemiológica inconclusivaouMenção de infecção pelo HIV (ou termos equivalentes) em algum <strong>do</strong>s camposda Declaração de Óbito, além de <strong>do</strong>ença(s) associada(s) à infecção pelo HIV+Investigação epidemiológica inconclusivaSecretaria de Vigilância em Saúde / MS139


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança ExpostaNotas explicativasEvidência laboratorial da infecção pelo HIV em crianças, para fins epidemiológicos:• para as crianças expostas ao HIV por transmissão vertical, considera-se criança infectadaaquela que apresente RNA ou DNA viral detectável acima de mil cópias/mlem duas amostras (testes de carga viral) obtidas em momentos diferentes. Apesarda possibilidade da realização desses testes após duas semanas de vida, o Ministérioda Saúde preconiza que as amostras testadas sejam coletadas após o segun<strong>do</strong> mês,devi<strong>do</strong> ao aumento de sensibilidade observa<strong>do</strong> a partir dessa idade;• crianças com 18 meses ou mais, expostas ao HIV por transmissão vertical, serão consideradasinfectadas pelo HIV quan<strong>do</strong> uma amostra de soro for reativa em <strong>do</strong>is testesde triagem ou um confirmatório para pesquisa de anticorpos anti-HIV;• em crianças de qualquer idade, cuja exposição ao HIV tenha si<strong>do</strong> outra forma detransmissão que não a vertical, o diagnóstico laboratorial de infecção será confirma<strong>do</strong>quan<strong>do</strong> uma amostra de soro for reativa em <strong>do</strong>is testes de triagem ou umconfirmatório para pesquisa de anticorpos anti-HIV.A definição da gravidade das <strong>do</strong>enças, sinais e/ou sintomas corresponde às categoriasda classificação clínica <strong>do</strong> Centers for Disease Control and Prevention (CDC 1994), ten<strong>do</strong>-seincluí<strong>do</strong> a tuberculose como morbidade de gravidade moderada e excluída a coccidioi<strong>do</strong>micosepela pouca expressão epidemiológica no país.Doenças, sinais e sintomas de caráter leve – aumento crônico de parótida; dermatitepersistente; esplenomegalia; hepatomegalia; linfadenopatia e infecções persistentes ou recorrentesde vias aéreas superiores (otite média ou sinusite).Doenças, sinais e sintomas de caráter modera<strong>do</strong> – anemia (mais de 30 dias); candi<strong>do</strong>seoral resistente a tratamento (mais de 2 meses em maiores de 6 meses de idade); diarréiapersistente ou crônica; febre (mais de 1 mês); gengivo-estomatite herpética recorrente(2 episódios em 1 ano); hepatite; herpes simples em brônquios, pulmões ou trato gastrintestinalantes de 1 mês de idade; herpes zoster (2 episódios em um ano ou mais de 1 dermátomo);infecção por citomegalovírus antes de 1 mês de idade; leiomiossarcoma; meningitebacteriana, pneumonia ou sepse; miocardiopatia; nefropatia; linfopenia; neutropenia (maisde 1 mês); nocardiose; pneumonia linfóide intersticial; toxoplasmose antes de 1 mês deidade; trombocitopenia (mais de 1 mês); tuberculose pulmonar; varicela.Doenças, sinais e sintomas de caráter grave – candi<strong>do</strong>se de esôfago; traquéia, brônquiosou pulmões; citomegalovirose em qualquer local que não fíga<strong>do</strong>, baço e linfono<strong>do</strong>sem maiores de 1 mês; criptococose pulmonar; criptosporidiose, com diarréia (mais de 1mês); encefalopatia determinada pelo HIV; herpes simples em brônquios, pulmões ou tratogastrintestinal; herpes simples mucocutâneo (mais de 1 mês) em crianças com mais de 1mês de idade; histoplasmose disseminada (em órgãos que não exclusivamente pulmões oulinfono<strong>do</strong>s cervicais/hilares; infecções bacterianas graves múltiplas e recorrentes (2 episódiosem 2 anos, confirmadas bacteriologicamente); isosporidiose intestinal crônica (maisde 1 mês); leucoencefalopatia multifocal progressiva; linfoma não-Hodgkin de células B;140 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Expostalinfoma primário de cérebro; pneumonia por Pneumocystis carinii; qualquer micobacteriosedisseminada em órgãos que não o pulmão, pele ou linfono<strong>do</strong>s cervicais/hilares (excetotuberculose ou hanseníase); sarcoma de Kaposi; sepse recorrente por Salmonella não-tifóide;síndrome da emaciação; toxoplasmose cerebral em crianças com mais de 1 mês de idadee tuberculose disseminada ou extrapulmonar.Contagem de linfócitos T CD4+ defini<strong>do</strong>ra de imunodeficiência de acor<strong>do</strong> com aidade – inferior a 12 meses de idade:


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança ExpostaMedidas de controle e prevençãoPrevenção da transmissão sexualComo o maior número de indivíduos com HIV+/aids no país apresenta, como principalvia de transmissão, a sexual, o PN-DST/Aids tem prioriza<strong>do</strong> ações que enfatizam comoprincipal estratégia de prevenção o uso <strong>do</strong> preservativo masculino e feminino nas relaçõessexuais. Seu uso é recomenda<strong>do</strong> em todas as relações sexuais e deve constituir o principalinsumo nas ações de atenção básica, nas clínicas de DST, nas ações das organizações dasociedade civil, nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) e nos serviços que atendempacientes HIV/aids.O uso de outros insumos, tais como os microbicidas, encontra-se em estu<strong>do</strong>s, e aindanão foram valida<strong>do</strong>s. Alguns ensaios evidenciaram taxas elevadas de transmissão <strong>do</strong> HIVnas suas usuárias, em virtude das irritações e microfissuras causadas na mucosa vaginal ecervical, portanto não constituem estratégias recomendadas para a prevenção <strong>do</strong> HIV.Em relação ao preservativo feminino, recomenda-se que as ações dirigidas às mulhereso a<strong>do</strong>tem, prioritariamente, como insumo nas intervenções com profissionais <strong>do</strong> sexo emulheres soropositivas.Prevenção da transmissão sangüíneaInjeções e instrumentos perfurocortantes – recomendações específicas devem serseguidas quan<strong>do</strong> da realização de procedimentos que envolvam a manipulação de materialperfurocortante; tais como:• máxima atenção durante a realização <strong>do</strong>s procedimentos;• jamais utilizar os de<strong>do</strong>s como anteparo;• as agulhas não devem ser reencapadas, entortadas, quebradas ou retiradas da seringacom as mãos;• não utilizar agulhas para fixar papéis;• to<strong>do</strong> material perfurocortante (agulhas, scalp, lâminas de bisturi, vidrarias, entre outros),mesmo que estéril, deve ser despreza<strong>do</strong> em recipientes com tampa e resistentesà perfuração;• os recipientes específicos para descarte de material não devem ser preenchi<strong>do</strong>s acima<strong>do</strong> limite de 2/3 de sua capacidade total, e devem ser coloca<strong>do</strong>s sempre próximos<strong>do</strong> local onde o procedimento é realiza<strong>do</strong>;• to<strong>do</strong> lixo proveniente de serviços de saúde deve, obrigatoriamente, ser reco lhi<strong>do</strong>para incineração. Caso o município não disponha desse serviço, proceder conformeorientação da vigilância sanitária local.Transfusão de sangue e hemoderiva<strong>do</strong>sTo<strong>do</strong> <strong>do</strong>a<strong>do</strong>r deve ser cuida<strong>do</strong>samente tria<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> afasta<strong>do</strong>s os que apresentem riscode infecção pelo HIV; e to<strong>do</strong> sangue aceito para ser transfundi<strong>do</strong> deverá ser obrigatoriamentetesta<strong>do</strong> para a detecção de anticorpos anti-HIV. Essas medidas aumentam a segurançada transfusão mas não eliminam totalmente seu risco, em virtude <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de “janela142 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Expostaimunológica”. A conscientização <strong>do</strong>s <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res, no senti<strong>do</strong> de auto-avaliar os riscos de infecçãopelo HIV a que possam ter si<strong>do</strong> submeti<strong>do</strong>s, evitan<strong>do</strong> ser identifica<strong>do</strong>s, constitui amelhor medida de prevenção da transmissão <strong>do</strong> HIV por essa via.Doação de sêmen e órgãosEm tipo de transmissão <strong>do</strong> HIV deve ser preveni<strong>do</strong>, à semelhança <strong>do</strong> acima menciona<strong>do</strong>,pela triagem cuida<strong>do</strong>sa e testagem <strong>do</strong>s <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res. No caso <strong>do</strong> sêmen, há a possibilidadede seu armazenamento por determina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong>, para utilização posterior quan<strong>do</strong> novatestagem <strong>do</strong> <strong>do</strong>a<strong>do</strong>r for negativa. Evita-se, assim a utilização <strong>do</strong> sêmen de <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res em“janela imunológica”.Prevenção da transmissão vertical <strong>do</strong> HIVVer tópico Gestante HIV positiva e criança exposta.Ações de educação em saúdeAs ações de educação em saúde para a prevenção <strong>do</strong> HIV/aids são orientadas a partirde avaliação das tendências e características da epidemia, em cada local, e das condiçõeseconômicas, sociais e culturais <strong>do</strong>s grupos mais afeta<strong>do</strong>s. Nesse senti<strong>do</strong>, devem ser considera<strong>do</strong>sos seguintes aspectos:• a epidemia não atinge de maneira uniforme toda a população e sua distribuição é distintanas diferentes regiões <strong>do</strong> país, apresentan<strong>do</strong>, inclusive, diferenças significativasem uma mesma região, tanto nos aspectos sociais quanto nas vias de transmissão;• os grupos devem ser considera<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> critérios de vulnerabilidade e risco;• a participação <strong>do</strong>s grupos sociais é de fundamental importância para a mudança depráticas, atitudes e comportamentos.6AAs ações devem ser dirigidas aos indivíduos, aos grupos específicos e à populaçãoem geral, consideran<strong>do</strong> os aspectos relaciona<strong>do</strong>s à situação de risco e vulnerabilidade, influenciadapor fatores individuais (biológicos ou não), sociais, econômicos, institucionaise culturais.As ações de educação em saúde pautam-se pelas intervenções voltadas, prioritária masnão exclusivamente, para grupos mais vulneráveis, tais como profissionais <strong>do</strong> sexo, usuáriosde drogas injetáveis (UDI), homens que fazem sexo com homens (HSH), pessoas quevivem com porta<strong>do</strong>res de HIV/aids, população prisional e caminhoneiros. Essas ações sãodesenvolvidas por veiculação de campanhas de massa para toda a população, por ações específicasde intervenções na comunidade, baseadas no trabalho de pares, em consonância àpremissa <strong>do</strong> protagonismo no desenvolvimento das ações de prevenção.Preconizam-se ações sistemáticas, continuadas e complementares (informação, orientaçãoe disponibilização de insumos tais como preservativos, seringas e gel lubrificante).Esses princípios se aplicam tanto às intervenções que pretendem interferir no comportamentosexual (oferta de insumos para práticas seguras) quanto no uso de drogas, em quea perspectiva de redução de danos é o pressuposto básico para a intervenção. As ações deSecretaria de Vigilância em Saúde / MS143


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Expostaredução de danos destinadas aos usuários de drogas injetáveis, que não querem ou nãopodem interromper seu uso de drogas em curto prazo, são feitas disponibilizan<strong>do</strong> seringase agulhas para evitar compartilhamento entre os usuários. Essas ações buscam vincular osusuários às unidades que promovem atividades de promoção à saúde, a partir <strong>do</strong>s programasde atenção básica e serviços específicos de prevenção, como os centros de testagem eaconselhamento.Estratégias de prevençãoAs estratégias de prevenção vêm sen<strong>do</strong> aprimoradas com o avanço <strong>do</strong> conhecimentocientífico na área e a elevação da consciência sanitária da sociedade sobre a questão, apósmais de vinte anos de convivência com esta epidemia. Atualmente, são conduzidas de acor<strong>do</strong>com as seguintes diretrizes:• promoção de mudanças de comportamento mediante disponibilização de informaçãoqualificada sobre os meios de transmissão, prevenção e percepção de risco;• estabelecimento de modelos de intervenção que permitam considerar os diversosgrupos populacionais quanto à tomada de consciência em relação à sua situaçãode vulnerabilidade e risco, consideran<strong>do</strong> os aspectos culturais, contextos sociais evalores relativos aos grupos envolvi<strong>do</strong>s;• desenvolvimento de intervenções baseadas no trabalho com indivíduos que compartilhampráticas semelhantes, e agentes comunitários de saúde que incentivem asmudanças de práticas, atitudes, valores e crenças em relação às DST/aids;• fortalecimento de redes sociais visan<strong>do</strong> participação nas atividades de promoção dasações de prevenção e de suporte social aos grupos mais vulneráveis, e promoção dediscussão com o propósito de criar alternativas para o enfrentamento da epidemia,em cada situação específica;• desenvolvimento de parcerias com organizações não-governamentais, associaçõescomunitárias e de classe, visan<strong>do</strong> ampliar a abrangência das ações de prevenção àinfecção pelo HIV;• criação de mecanismos institucionais para ampliar a participação <strong>do</strong> setor empresarial,empresas privadas e outros agentes sociais na luta contra a aids;• distribuição de insumos (preservativos masculinos e femininos, gel lubrificante,agulhas e seringas) de prevenção e programas de redução de danos;• substituição <strong>do</strong> leite materno por leite artificial para as crianças, filhas(os) de mãesporta<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> HIV (risco de transmissão vertical). Contra-indica-se o aleitamentocruza<strong>do</strong> (amamentação por outra mulher) e o uso <strong>do</strong> leite materno com pasteurização<strong>do</strong>miciliar.144 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança ExpostaGestante HIV positiva e criança expostaMo<strong>do</strong> de transmissãoVertical – o concepto filho de mulher porta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> HIV pode adquirir esse vírusdurante a gestação, trabalho de parto e parto, pelo contato com o sangue e/ou a secreçãovaginal, e pelo leite materno (pós-parto).Vários estu<strong>do</strong>s têm evidencia<strong>do</strong> que a maioria <strong>do</strong>s casos de transmissão materno-infantil(vertical) <strong>do</strong> HIV (cerca de 65%) ocorre durante o trabalho de parto e no parto propriamentedito, e que os 35% restantes ocorrem intra-útero, principalmente nas últimassemanas de gestação. O aleitamento materno representa risco adicional de transmissão, quese renova a cada exposição (mamada), de 7% a 22%.Parenteral e sexual – a mãe adquire a infecção pelo sangue e/ou esperma, conformeespecifica<strong>do</strong> anteriormente.6APerío<strong>do</strong> de incubaçãoVer tópico no Capítulo Aids.Aspectos clínicos e laboratoriaisVer tópico no Capítulo Aids.Manifestações clínicasVer tópico no Capítulo Aids.Diagnóstico diferencialVer tópico no Capítulo Aids.Diagnóstico laboratorial• Para a gestante – ver fluxograma no tópico Diagnóstico sorológico da infecção peloHIV, no Capítulo Aids.• Para a parturiente não testada durante o pré-natal, há a possibilidade de testagem,no momento <strong>do</strong> parto, com teste rápi<strong>do</strong> anti-HIV para a<strong>do</strong>ção de medidas preventivasda transmissão vertical. Os testes rápi<strong>do</strong>s são de simples execução e os resulta<strong>do</strong>spodem ser conferi<strong>do</strong>s em 15 minutos. Podem ser utiliza<strong>do</strong>s sangue total(uma gota da polpa digital) ou soro. Não obstante sua praticidade, não substituemos testes diagnósticos preconiza<strong>do</strong>s. São exames de triagem para situações em quehá necessidade de pronta tomada de decisão: o início ou não de ações profiláticas datransmissão vertical, como no momento <strong>do</strong> parto. Nas parturientes com resulta<strong>do</strong>“reagente”, faz-se necessária a coleta de uma amostra de sangue para a confirmaçãoSecretaria de Vigilância em Saúde / MS145


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta<strong>do</strong> diagnóstico no pós-parto imediato, conforme o fluxo preconiza<strong>do</strong> pela PortariaMinisterial nº 59/GM/MS, de 28/1/03.No momento, está sen<strong>do</strong> finalizada a avaliação de um algoritmo de triagem utilizan<strong>do</strong>apenas teste rápi<strong>do</strong>, com resulta<strong>do</strong>s promissores. Esta e qualquer outra atualizaçãonessas normas estarão disponíveis no site www.aids.gov.br.Figura 1. Fluxograma para uso de teste rápi<strong>do</strong> para HIV em parturientes 1Parturiente, sem sorologia anti-HIVTeste reagenteTeste rápi<strong>do</strong> mediante seuconsentimento verbalTeste não-reagente1. Iniciar quimioprofilaxia conforme esquema para redução datransmissão vertical <strong>do</strong> HIV2. Coletar e encaminhar a amostra de sangue para esclarecimento<strong>do</strong> diagnóstico, garantin<strong>do</strong> a confirmação <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> teste,o mais rápi<strong>do</strong> possível3. Proceder a inibição mecânica da lactação logo após o parto (efaixamento das mamas) e considerar a utilização <strong>do</strong> inibi<strong>do</strong>r delactação (b)4. Orientar a mulher quanto ao preparo da fórmula infantil5. Notificar a ocorrência ao Núcleo de Vigilância Epidemiológicada maternidade, se houver, ou à Vigilância Epidemiológica <strong>do</strong>municípioApós confirmação <strong>do</strong> diagnóstico6. Inibir em definitivo a lactação. Manten<strong>do</strong> o enfaixamentoou medican<strong>do</strong> a mulher com 2 comprimi<strong>do</strong>s de cabergolina(0,5mg) – <strong>do</strong>se única, com hexa hidro benzoato de estradiol,1 ampola de 5mg (1ml), IM, de 12/12 horas (duas tomadas)7. Encaminhar a mulher para avaliação e acompanhamento clínicos,laboratoriais e terapêuticos, em serviço especializa<strong>do</strong>s paraporta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> HIV8. Encaminhar o recém-nasci<strong>do</strong> para acompanhamento clínico elaboratorial especializa<strong>do</strong> em serviço de infectologia pediátricaNão medicar (a)(a) Investigar a condição clínicoepidemiológicae, se necessário,encaminhar a mulher para realizaçãode sorologia (conforme determina aPortaria nº 59/GM/MS, de 28/1/03)(b) Mediante seu consentimento livree esclareci<strong>do</strong>, e quan<strong>do</strong> as evidênciasepidemiológicas apontam para aremota possibilidade de vir a ser esseum resulta<strong>do</strong> falso-positivo• Para a criança: ver fluxograma no tópico Diagnóstico sorológico da infecção peloHIV, no Capítulo Aids.ObservaçãoOs critérios indica<strong>do</strong>s para exclusão da infecção aplicam-se às crianças que não estejamsen<strong>do</strong> amamentadas pela mãe HIV positiva. A amamentação, em qualquer perío<strong>do</strong>,é considerada como nova exposição ao HIV e, se acontecer, a criança deve sersubmetida a nova rotina de diagnóstico da infecção pelo HIV.1Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Recomendaçõespara a profilaxia da transmissão materno-infantil <strong>do</strong> HIV e terapia anti-retroviral em gestantes/Secretaria de Vigilânciaem Saúde, Programa Nacional de DST e Aids – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.146 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança ExpostaTratamentoCrianças infectadas pelo HIV – até o momento não está clara a indicação de tratamentode pacientes com infecção aguda recente (< 6 meses). Pacientes HIV+, com infecçãocrônica estabelecida (> 6 meses), devem ser trata<strong>do</strong>s, conforme presença de sinais clínicosindicativos de imunodeficiência e/ou parâmetros laboratoriais (contagem de célulasT-CD4+ e carga viral). Atualmente, indica-se tratamento anti-retroviral potente, com a associaçãode 3 ou mais drogas por tempo indetermina<strong>do</strong>, e monitoramento periódico daeficácia clínico-laboratorial e de sinais de toxicidade aos medicamentos. Para maiores esclarecimentos,consultar o Guia de tratamento clínico da infecção pelo HIV em crianças 2 .Gestantes – vale ressaltar que alguns medicamentos estão contra-indica<strong>do</strong>s em virtude<strong>do</strong> potencial efeito teratogênico, como o Efavirenz e Hidroxiuréia. Outros ARV, quan<strong>do</strong>administra<strong>do</strong>s juntos, promovem efeitos adversos graves no concepto, como a didanosina eestavudina, não deven<strong>do</strong>, por isso, ser utiliza<strong>do</strong>s na gestação. Mulheres HIV+ que engravidamem uso de Tarv devem ser avaliadas e informadas sobre os potenciais riscos/benefíciosda manutenção, modificação ou suspensão <strong>do</strong> tratamento no tocante à evolução da suaprópria <strong>do</strong>ença e os potenciais efeitos adversos da Tarv sobre a criança, deven<strong>do</strong> os casosser individualmente analisa<strong>do</strong>s.6AProfilaxia da transmissão verticalAs gestantes porta<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> HIV deverão receber, a partir da 14ª semana, a zi<strong>do</strong>vudinaoral (AZT) e outros anti-retrovirais (ARV), se necessário. Ou seja, as gestantes serãoavaliadas clínica e laboratorialmente (níveis de CD4+ e carga viral) para essa indicação. Azi<strong>do</strong>vudina intravenosa deverá ser dada a todas as parturientes desde o início <strong>do</strong> trabalhode parto, e mantida até a ligadura <strong>do</strong> cordão umbilical. A zi<strong>do</strong>vudina solução oral (xarope)deverá ser administrada para to<strong>do</strong>s os recém-nasci<strong>do</strong>s expostos ao HIV, durante 6 semanas(42 dias), deven<strong>do</strong> ter início até oito horas de vida. As crianças cujas mães não receberamo AZT intravenoso deverão receber o AZT oral nas duas primeiras horas de vida. Os ARVvêm sen<strong>do</strong> disponibiliza<strong>do</strong>s, gratuitamente, na rede pública de saúde desde 1994.A avaliação <strong>do</strong>s níveis de carga viral materna definirá qual a via de parto mais adequadacomo medida profilática da transmissão vertical, ou seja:• níveis de carga viral ≥ 1 mil cópias/ml (aferida na idade gestacional ≥ 34 semanas) oudesconhecida: parto por operação cesariana eletiva;• ao contrário, níveis de carga viral


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança ExpostaOperação cesariana eletiva é aquela realizada antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong> trabalho de parto,encontran<strong>do</strong>-se as membranas amnióticas ainda íntegras.Aspectos epidemiológicosNo final da década de 80, a freqüência de casos de aids entre mulheres cresceu consideravelmente,quan<strong>do</strong> a transmissão heterossexual passou a ser a principal via de transmissão.A razão homem/mulher com aids passou de 28:1, em 1985, para 2:1, em 2000.A feminização da aids é reflexo <strong>do</strong> comportamento sociossexual da população, associa<strong>do</strong>a aspectos de vulnerabilidade biológica da mulher. Entre os indivíduos com mais de 8anos de escolaridade, observa-se diminuição no número de casos <strong>do</strong> sexo masculino, o quenão acontece, com igual intensidade, no feminino. A mulher considera-se menos expostaao risco, talvez por sua entrada mais tardia na dinâmica da epidemia, não se enquadran<strong>do</strong>nos denomina<strong>do</strong>s “grupos de risco” da fase inicial. A faixa etária que concentra os maiorespercentuais de casos de aids em mulheres é a de 25-34 anos, ou seja, são atingidas em plenaidade reprodutiva.Como conseqüência, vem-se observan<strong>do</strong> o aumento da transmissão vertical. Atualmentea quase totalidade de casos de aids em menores de 13 anos tem transmissão verticalcomo fonte de infecção.Um estu<strong>do</strong> tailandês (Protocolo 076 <strong>do</strong> Aids Clinical Trial Group) demonstrou quea probabilidade desse tipo de transmissão, sem o uso de zi<strong>do</strong>vudina (AZT), foi de 25,5%,enquanto que em gestantes e conceptos que usaram um esquema terapêutico foi de 8,3%, oque significou redução de 67,5% de infecções pelo HIV nos recém-nasci<strong>do</strong>s. Depois desseestu<strong>do</strong>, vários outros, não controla<strong>do</strong>s e observacionais, confirmaram o benefício <strong>do</strong> AZTna redução da transmissão vertical <strong>do</strong> HIV, inclusive quan<strong>do</strong> a intervenção é realizadatardiamente na gestação e, mesmo, quan<strong>do</strong> administra<strong>do</strong> apenas para o recém-nasci<strong>do</strong>,antes de 48 horas após o nascimento. O estu<strong>do</strong> demonstrou, ainda, que as intervençõesprofiláticas com AZT, realizadas durante o parto e puerpério, podem reduzir em cerca de50% a probabilidade de transmissão materno-infantil <strong>do</strong> HIV. Posteriormente, o uso deoutros anti-retrovirais vem sen<strong>do</strong> incorpora<strong>do</strong> às recomendações de terapia anti-retroviral(TARV) em gestantes, ten<strong>do</strong> em vista a ampla comprovação de que o uso de TARV combinada(AZT e outros ARV) é capaz de reduzir, significativamente, a carga viral <strong>do</strong> HIV paraníveis indetectáveis, levan<strong>do</strong> as taxas de transmissão materno-infantil para níveis inferioresa 3%, segun<strong>do</strong> alguns estu<strong>do</strong>s.148 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança ExpostaVigilância epidemiológicaObjetivosConhecer, o mais precocemente possível, o esta<strong>do</strong> sorológico de gestantes, parturientes,nutrizes e crianças expostas, para promover o início oportuno da terapêutica e/ou profilaxiada transmissão vertical.Acompanhar o perfil epidemiológico da infecção pelo HIV nesses grupos populacionais,para o estabelecimento, acompanhamento e avaliação de impacto das medidas deprevenção, controle e tratamento.Avaliar a operacionalização <strong>do</strong> protocolo de profilaxia da transmissão vertical, visan<strong>do</strong>o aprimoramento da implementação dessas ações e, conseqüentemente, a obtenção demaior impacto na redução da transmissão vertical.Em nível nacional, a cobertura da testagem para a infecção <strong>do</strong> HIV, durante o pré-natal,está abaixo de 50%, sen<strong>do</strong> ainda menor nas gestantes mais vulneráveis para a infecçãopelo HIV, em decorrência de fatores como baixa adesão ao pré-natal e/ou captação tardia.NotificaçãoA notificação compulsória de gestantes HIV+ e crianças expostas está prevista na Portarianº 993/2000, <strong>do</strong> Ministério da Saúde.6AObserve-se que, diferentemente das infecções por HIV nos outros grupos populacionais,a simples suspeita de exposição, tanto em gestantes quanto em conceptos,deve ser notificada e investigada, em virtude <strong>do</strong>s benefícios <strong>do</strong> tratamento precoce noprognóstico da criança.Momentos para notificação – pré-natal, parto e acompanhamento da criança, evitan<strong>do</strong>assim a oportunidade perdida. Deve ser realizada pelo profissional de saúde que estiveratenden<strong>do</strong> o caso, em quaisquer <strong>do</strong>s três momentos.Definição de casoGestantes, parturientes e nutrizes infectadas – para efeito de notificação e investigação,considera-se como infectada toda gestante, parturiente ou nutriz que apresentar resulta<strong>do</strong>de exame laboratorial para HIV reativo (considerar o primeiro resulta<strong>do</strong> reagente).Criança exposta• To<strong>do</strong>s os conceptos de mães soropositivas ou que tenham suspeita de infecção peloHIV.• Todas as crianças que tenham si<strong>do</strong> amamentadas por mulheres infectadas ou quetenham suspeita de infecção pelo HIV. Neste caso, a notificação/investigação deveráconter da<strong>do</strong>s da nutriz.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS149


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança ExpostaPrimeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadas frente àidentificação de infecção pelo HIV nesses indivíduosAssistência médica às gestantes/parturientese puérperas e à criança verticalmente exposta ao HIVA primeira ação diz respeito ao oferecimento no pré-natal <strong>do</strong> teste anti-HIV, comaconselhamento pré e pós-teste para todas as gestantes; para as parturientes, no momento<strong>do</strong> parto e para as nutrizes, quan<strong>do</strong> for o caso.As mulheres porta<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> HIV devem ser aconselhadas a não amamentar. E a lactaçãodeve ser inibida nas puérperas comprovadamente HIV+.A fórmula infantil deverá ser instituída para to<strong>do</strong>s os recém-nasci<strong>do</strong>s expostos ao HIV.O seguimento da mulher HIV+ e da criança exposta ao HIV deverá ser garanti<strong>do</strong>:• em serviço de tocoginecologia/pediatria, credencia<strong>do</strong> para atendimento <strong>do</strong>par mãe HIV+ e seu filho (SAE - materno-infantil);• seguimento da mulher HIV+ e de sua criança, respectivamente num SAEadultoe SAE-infantil.Prevenção da transmissão vertical <strong>do</strong> HIVVários são os fatores associa<strong>do</strong>s ao aumento <strong>do</strong> risco de transmissão <strong>do</strong> HIV, da mãepara filho: virais – carga viral, genotipo e fenótipo viral, diversidade circulante e resistênciaviral; maternos – esta<strong>do</strong> clínico e imunológico; presença de DST e outras co-infecções, esta<strong>do</strong>snutricionais; comportamentais – uso de drogas e prática sexual desprotegida; obstétricos– duração de ruptura das membranas amnióticas, via <strong>do</strong> parto, presença de hemorragiaintraparto; inerentes ao recém-nasci<strong>do</strong> – prematuridade, baixo peso ao nascer; aleitamentomaterno.Dentre esses, os mais fortemente associa<strong>do</strong>s à transmissão vertical <strong>do</strong> HIV são a cargaviral elevada e a ruptura prolongada das membranas amnióticas. Sen<strong>do</strong> assim, a promoçãode intervenções que reduzam a carga viral materna e que propiciem a realização rápida<strong>do</strong> parto, com adequada assistência ao binômio mãe/filho, contribuem sobremaneira paraa redução desse mo<strong>do</strong> de transmissão. As normas preconizadas para essas intervençõesencontram-se disponíveis no site www.aids.gov.br e na publicação Recomendações paraprofilaxia da transmissão vertical <strong>do</strong> HIV e terapia anti-retroviral em gestantes, <strong>do</strong> PN-DST/Aids.150 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança ExpostaInvestigação epidemiológicaEncontra-se descrita no tópico Roteiro da investigação epidemiológica, no CapítuloAids, deven<strong>do</strong>-se, entretanto, atentar para os seguintes aspectos:• registrar os da<strong>do</strong>s de identificação e residência da gestante/parturiente, mãe dacriança exposta ou nutriz, nos casos em que a fonte de infecção for amamentaçãocruzada por mulher soropositiva para o HIV;• identificar a evidência laboratorial – informar o momento em que foi realizada acoleta <strong>do</strong> material no qual se evidenciou o diagnóstico laboratorial da infecção peloHIV, na gestante/parturiente/mãe/nutriz da criança exposta (considerar o primeiroresulta<strong>do</strong> reagente);• para fins de vigilância epidemiológica, o caso deverá ser notifica<strong>do</strong> mesmo comresulta<strong>do</strong>s reagentes de testes de triagem, sem a necessidade de se aguardar confirmaçãolaboratorial para seu envio.Avaliação <strong>do</strong> protocolo da profilaxia no pré-natal – registrar o momento em quefoi inicia<strong>do</strong> o pré-natal; se a gestante, anteriormente à gravidez, já preenchia critério dedefinição de caso de aids; se foi indicada profilaxia e, caso não tenha si<strong>do</strong>, quais foram osmotivos.Avaliação <strong>do</strong> protocolo da profilaxia no parto – informar sobre o uso da profilaxiano pré-natal, condições clínicas da gestante no momento <strong>do</strong> parto, uso da profilaxia noparto e início da profilaxia na criança.Avaliação <strong>do</strong> protocolo da profilaxia na criança e acompanhamento – anotar osda<strong>do</strong>s de identificação da criança (nome, data de nascimento e sexo), a exposição ao aleitamentomaterno ou cruza<strong>do</strong> e a conclusão ou não da profilaxia e diagnóstico laboratorial(carga viral e sorologia). Também deve ser registrada a ocorrência de óbito se relaciona<strong>do</strong>à aids em crianças em acompanhamento.Análise da avaliação – a análise desses últimos três itens possibilitará aos responsáveispela vigilância epidemiológica a verificação <strong>do</strong> impacto das ações implantadas a cada caso(binômio mãe/filho), bem como detectar possíveis entraves e promover as correções paraatingir o resulta<strong>do</strong> espera<strong>do</strong>: a redução da transmissão vertical <strong>do</strong> HIV.Encerramento de casos – o caso se encerra com o conhecimento <strong>do</strong> status sorológicoda criança. Não se faz necessário aguardar o desfecho <strong>do</strong> caso para o envio <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s. Essasinformações serão solicitadas pelo setor responsável pela vigilância epidemiológica deaids, quan<strong>do</strong> a criança completar 18 meses. Se os resulta<strong>do</strong>s da 1ª e 2ª cargas virais foremconcordantes, não mais se precisa aguardar 18 meses para o encerramento <strong>do</strong> caso, pois jáse tem ou não a evidência laboratorial <strong>do</strong> HIV.• Infecta<strong>do</strong> – quan<strong>do</strong> existirem <strong>do</strong>is resulta<strong>do</strong>s de cargas virais detectáveis ou sorologiaapós os 18 meses reagente.• Não-infecta<strong>do</strong> – quan<strong>do</strong> existirem <strong>do</strong>is resulta<strong>do</strong>s de cargas virais indetectáveis ousorologia aos 18 meses não-reagente.• Indetermina<strong>do</strong> – quan<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s laboratoriais forem inconclusivos.6ASecretaria de Vigilância em Saúde / MS151


Aids/Gestante HIV Positiva e Criança Exposta• Perda de seguimento – quan<strong>do</strong> o serviço perde contato com a criança, antes de seestabelecer a conclusão <strong>do</strong> diagnóstico laboratorial.• Óbito – quan<strong>do</strong> ocorri<strong>do</strong> durante o perío<strong>do</strong> de acompanhamento, antes da definição<strong>do</strong> status viral ou sorológico da criança, independente se o óbito estava ou nãorelaciona<strong>do</strong> à aids.Medidas de controleOrientações geraisVer tópico Medidas de controle e prevenção, no Capítulo Aids.Medidas específicas para a prevenção da transmissão verticalIncluem ações de educação em saúde e devem ter início na atenção ao pré-natal, quan<strong>do</strong>se esclarece à gestante os benefícios <strong>do</strong> diagnóstico precoce <strong>do</strong> HIV. Nesse senti<strong>do</strong>, osserviços de pré-natal e de saúde da mulher devem disponibilizar o acesso ao teste anti-HIVe promover ações de aconselhamento pré e pós-teste.Essas ações devem ser conduzidas e acompanhadas de informações complementaresem todas as atividades de promoção à saúde da mulher. A disponibilização de preservativosmasculinos e femininos faz parte de to<strong>do</strong> o processo educativo, inclusive das açõesdirigidas aos casais soro-discordantes. Nesses casos, o trabalho de grupo, acompanha<strong>do</strong>por profissional de saúde, tem si<strong>do</strong> recomenda<strong>do</strong>, pois a troca de experiências e a interaçãofavorecem hábitos de vida mais saudáveis.Em relação ao recém-nato de mãe HIV positiva, deve-se dispor de meios e condiçõesde acesso ao leite artificial, garantin<strong>do</strong>-se a substituição <strong>do</strong> leite materno e/ou o acesso ao leitematerno pasteuriza<strong>do</strong>, oferta<strong>do</strong>s por bancos de leite cadastra<strong>do</strong>s e controla<strong>do</strong>s pelo MS.152 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Antraz ou CarbúnculoANTRAZ OU CARBÚNCULOCID 10: A22Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoToxiinfecção aguda que, em geral, acomete a pele sob as formas de lesão bolhosa epústula maligna, produzida pelo contato com animais (bovino, caprino, eqüino e outros)com a mesma <strong>do</strong>ença. As formas viscerais são raras, embora graves, representadas pelocarbúnculo pulmonar, gastrintestinal e neuromeníngeo.SinonímiaAnthrax, na língua inglesa. No Brasil, a confluência de furúnculos, que é um diagnósticodiferencial da toxiinfecção causada pelo Bacillus anthracis, é denominada carbúnculoou antraz. Na vigência desta furunculose multifocal, a suspeita de antraz só deve ser levantadaquan<strong>do</strong> houver história epidemiológica compatível.6AAgente etiológicoBacilo móvel, grampositivo encapsula<strong>do</strong>, forma<strong>do</strong>r de esporos denomina<strong>do</strong>s Bacillusanthracis.ReservatórioAnimais herbívoros, <strong>do</strong>mésticos e selvagens. O solo contamina<strong>do</strong> também representaum reservatório, pois quan<strong>do</strong> se expõem ao ar as formas vegetativas esporulam e os esporosde B. anthracis, que resistem a situações ambientais adversas e à desinfecção, podempermanecer viáveis durante muitos anos. Este bacilo é comensal <strong>do</strong> solo, em várias partes<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. A proliferação bacteriana e o número de esporos no solo aumentam quan<strong>do</strong>de inundações ou outras circunstâncias ecológicas. A terra também pode ser contaminadapor aves de rapina, que disseminam o germe de uma zona para outra, após alimentar-se decadáver de animal infecta<strong>do</strong> pelo B. anthracis e em esta<strong>do</strong> de putrefação.A pele, couro seco ou processa<strong>do</strong>, provenientes de animais infecta<strong>do</strong>s, podem albergaresporos durante anos e são fômites que transmitem a infecção pelo mun<strong>do</strong>.VetoresAventa-se a possibilidade de transmissão por insetos hematófagos que tenham se alimenta<strong>do</strong>de animais infecta<strong>do</strong>s.Mo<strong>do</strong> de transmissãoA maneira mais comum de contaminação é o manuseio de produtos tais como lã, couro,osso e pêlo, provenientes de animais infecta<strong>do</strong>s. Em casos mais raros, a <strong>do</strong>ença tambémSecretaria de Vigilância em Saúde / MS153


Antraz ou Carbúnculopode ser contraída por ingestão de alimento contamina<strong>do</strong> (carne de animais infecta<strong>do</strong>s)ou por inalação <strong>do</strong>s esporos. Outra forma de se adquirir a <strong>do</strong>ença é pela picada de insetoshematófagos, comuns em regiões endêmicas. É bem pouco provável ocorrer a transmissãodireta da <strong>do</strong>ença de um indivíduo infecta<strong>do</strong> para um sadio.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoVaria de um a sete dias, sen<strong>do</strong> em média de <strong>do</strong>is a três dias. É possível se estender poraté 60 dias.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeOs objetos e o solo contamina<strong>do</strong>s podem permanecer infectantes durante décadas. Atransmissão de pessoa a pessoa é muito rara.Susceptibilidade e imunidadeIndeterminadas. Existem da<strong>do</strong>s de infecção não manifesta em pessoas que mantémcontato freqüente com o agente infeccioso. Podem surgir segun<strong>do</strong>s ataques, raras vezesidentifica<strong>do</strong>s.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasCutânea – lesão na pele que evolui, durante um perío<strong>do</strong> de <strong>do</strong>is a seis dias, <strong>do</strong> estágiode pápula para vesícula e pústula, progredin<strong>do</strong> para cicatriz negra profunda.Inalatória – inicia com febre, cefaléia, vômitos, tontura, fraqueza, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal e<strong>do</strong>r torácica, progride com piora <strong>do</strong> quadro respiratório e evidência radiológica de expansão<strong>do</strong> mediastino.Intestinal – inicia com náusea, vômito e mal-estar, com progressão rápida para diarréiasanguinolenta, ab<strong>do</strong>me agu<strong>do</strong> ou sepsis.Orofaringe – lesão de mucosa, na cavidade oral ou da orofaringe, adenopatia cervical,edema e febre.Na forma cutânea, após o perío<strong>do</strong> de incubação, aparece pápula inflamatória, seguidade formação vesicular que logo exsuda e transforma-se em pústula com porção central decor amarela, evoluin<strong>do</strong> para o negro, com formação de escara. Dois a três dias após o inícioda lesão, esta já apresenta o aspecto característico de escara in<strong>do</strong>lor, seca, com centro negroe borda edemaciada e inflamada, acompanhada de adenopatia satélite (para os linfono<strong>do</strong>sregionais), febre discreta (37ºC a 38ºC) e bom esta<strong>do</strong> geral. Pode haver evolução espontâneapara cicatrização e cura, porém em alguns casos não trata<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> há comprometimentoda resistência, pode disseminar-se para os gânglios linfáticos regionais e a correntesangüínea, com conseqüente septicemia.154 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Antraz ou CarbúnculoNas infecções respiratórias (carbúnculo por inalação), os sintomas iniciais são discretos,inespecíficos e assemelham-se aos de uma infecção comum das vias aéreas superiores.Ao término de três a cinco dias, aparecem os sintomas agu<strong>do</strong>s de insuficiência respiratória,sinais radiológicos sugestivos de exsuda<strong>do</strong> pleural, febre e choque, que evolui rapidamentepara a morte.O carbúnculo intestinal é raro e mais difícil de ser identifica<strong>do</strong>, exceto quan<strong>do</strong> sob aforma de surtos epidêmicos explosivos, <strong>do</strong> tipo causa<strong>do</strong> por intoxicação alimentar. As manifestaçõesclínicas são mal-estar ab<strong>do</strong>minal, segui<strong>do</strong> de febre, sinais de septicemia e morte.Diagnóstico diferencialFurunculose cutânea causada pelo Staphylococcus e/ou Streptococcus, dermatite pustulosacontagiosa (enfermidade vírica de Orf).Diagnóstico laboratorialIsolamento <strong>do</strong> Bacillus anthracis no sangue, lesões ou secreções mediante esfregaçosou inoculações em animais. Em teci<strong>do</strong>s, pela histologia. Também pode ser identifica<strong>do</strong> porimunofluorescência.6ATratamentoQuadro 1. Esquema para profilaxia pós-exposição com ciprofloxacinaVia de administraçãoDosesAdultoCiprofloxacina Oral 500mg, 2 vezes ao diaCriança (


Antraz ou Carbúnculo2ª escolha: DoxiciclinaAdultoVia de administraçãoDosesDoxiciclina oral Oral 100mg, 2 vezes ao diaCriança (


Antraz ou Carbúnculode expansão <strong>do</strong> mediastino e história de exposição a material, animal ou produtosanimais contamina<strong>do</strong>s pelo B. anthracis.• Indivíduo com quadro de náusea, vômito e mal-estar, com progressão rápida paradiarréia sanguinolenta, ab<strong>do</strong>me agu<strong>do</strong> ou sepsis; e história de exposição a material,animal ou produtos animais contamina<strong>do</strong>s pelo B. anthracis.• Indivíduo com quadro de lesão em mucosa oral ou da orofaringe, adenopatia cervical,edema, febre e história de exposição a material, animal ou produtos animaiscontamina<strong>do</strong>s pelo B. anthracis.Confirma<strong>do</strong>Critério clínico laboratorial – indivíduo com infecção pelo B. anthracis confirmadalaboratorialmente.Critério clínico-epidemiológico – indivíduo com exposição a material, animal ou produtosanimais contamina<strong>do</strong>s pelo B. anthracis; e quadro clínico compatível com a <strong>do</strong>ença.Descarta<strong>do</strong>Casos suspeitos cujos exames laboratoriais identificaram outro agente.6ANotificaçãoA ocorrência de casos suspeitos desta <strong>do</strong>ença requer imediata notificação e investigação,por se tratar de <strong>do</strong>ença grave e sob vigilância. Mesmo casos isola<strong>do</strong>s impõem aa<strong>do</strong>ção imediata de medidas de controle, visto tratar-se de evento inusita<strong>do</strong>. Por ser <strong>do</strong>ençapassível de uso indevi<strong>do</strong> como arma biológica em ataques terroristas, to<strong>do</strong> caso suspeitodeve ser prontamente comunica<strong>do</strong> por telefone, fax ou e-mail às autoridades sanitáriassuperiores.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasToda pessoa exposta a material supostamente contamina<strong>do</strong> com Bacillus anthracisdeve ser atendida em unidade de saúde de referência. Mesmo antes da confirmação laboratorialda contaminação e início <strong>do</strong>s sintomas <strong>do</strong>s indivíduos expostos, deve-se orientá-lose mantê-los sob monitoramento. Caso alguém passe a apresentar sinais e sintomas compatíveiscom a <strong>do</strong>ença, realizar coleta de material de nasofaringe (swab nasal) de to<strong>do</strong>s osindivíduos expostos e encaminhar para laboratório de referência.O material supostamente contamina<strong>do</strong> também deve ser envia<strong>do</strong> ao laboratório dereferência, para a realização de testes segun<strong>do</strong> as seguintes diretrizes de biossegurança:• Para a pessoa que localizou um material suspeito❯ não tocar, não agitar, não tentar limpar ou recolher o material suspeito❯ evitar olhar muito próximo, cheirar, provar, espirrar ou tossir❯ desligar aparelhos de climatização, condiciona<strong>do</strong>res, exaustores e ventila<strong>do</strong>resde ar❯ fechar as janelas e portas e sair <strong>do</strong> local, manten<strong>do</strong> o mesmo isola<strong>do</strong>, sem permissãode entrada de pessoas e/ou animaisSecretaria de Vigilância em Saúde / MS157


Antraz ou Carbúnculo❯ demarcar a área a ser descontaminada com material desinfetante❯ contactar a secretaria de saúde <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, ou a Agência Nacional de VigilânciaSanitária, quan<strong>do</strong> se tratar de ocorrência em áreas de terminais aquaviários, portos,aeroportos, estações, passagens de fronteiras e terminais alfandega<strong>do</strong>s• Recomendações importantes em caso de contato com o material suspeito❯ lavar imediatamente as mãos, com água corrente abundante e sabão❯ não esfregar as mãos antes de molhá-las❯ não escovar as mãos durante a lavagem❯ procurar imediata orientação em uma unidade de saúde• Coleta, recolhimento (se for o caso), acondicionamento, transporte e descontaminação<strong>do</strong> material❯ verificar se os procedimentos básicos foram a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s corretamente; caso contrário,a<strong>do</strong>tá-los❯ avaliar a situação da área suspeita de contaminação❯ a<strong>do</strong>tar estratégias específicas, relacionadas ao recolhimento, coleta, transporte edescontaminação, de acor<strong>do</strong> com o descrito nos Anexos 1 a 5 deste capítuloEssas atividades devem ser realizadas por equipe competente e capacitada, que deveatender aos seguintes requisitos:• nenhum profissional envolvi<strong>do</strong> pode ser porta<strong>do</strong>r de ferimentos, queimaduras,imunodeficiências ou imunossupressões;• não usar relógios e adereços (anéis, brincos, colares, entre outros);• usar os equipamentos de proteção individual preconiza<strong>do</strong>s no Anexo 1 deste capítulo;• usar respira<strong>do</strong>res alternativos e cuida<strong>do</strong>s especiais, quan<strong>do</strong> porta<strong>do</strong>res de pêlos faciais(barba, bigode e costeletas);• após os procedimentos, realizar higiene pessoal completa: banho com água correnteabundante e sabão.Assistência médica ao pacienteA<strong>do</strong>tar medidas junto às unidades de referência para acompanhamento adequa<strong>do</strong> aos<strong>do</strong>entes e a to<strong>do</strong>s os indivíduos expostos sem proteção ao suposto material contamina<strong>do</strong>.Qualidade da assistênciaVerificar se as unidades de referência estão seguin<strong>do</strong> as orientações para a quimioprofilaxiae tratamento.Confirmação diagnósticaGarantir a coleta e transporte <strong>do</strong>s espécimes para diagnóstico laboratorial, de acor<strong>do</strong>com as normas técnicas constantes <strong>do</strong> Anexo 1 deste capítulo.158 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Antraz ou CarbúnculoProteção da populaçãoDescarte adequa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s materiais supostamente contamina<strong>do</strong>s e quimioprofilaxia <strong>do</strong>sexpostos.InvestigaçãoA investigação deve iniciar-se imediatamente após a notificação da existência de materialsupostamente contamina<strong>do</strong> ou de um ou mais casos da <strong>do</strong>ença, para permitir que asmedidas de controle possam ser a<strong>do</strong>tadas em tempo oportuno.Para o material supostamente contamina<strong>do</strong>, seguir as orientações descritas anteriormente,complementadas com as <strong>do</strong>s Anexos 1 a 5 deste capítulo.Roteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos da Ficha de Notificação <strong>do</strong> Sinan, relativos aos da<strong>do</strong>s gerais,notificação individual e residência. Não se dispõe de ficha epidemiológica de investigaçãopara este agravo no Sinan, deven<strong>do</strong>-se elaborar uma específica para este fim, conten<strong>do</strong>campos que coletem as principais características clínicas e epidemiológicas da <strong>do</strong>ença.6AColeta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPara confirmar a suspeita de exposição• Anotar na ficha de investigação elaborada os da<strong>do</strong>s sobre o tipo de material (couro,pó branco, etc.), dia da exposição, etc. Uma pequena história (anamnese) deve serfeita para maior riqueza de detalhes.• Investigar minuciosamente:❯ a fidedignidade das informações;❯ se outras pessoas identificá-las podem ter entra<strong>do</strong> em contato com o supostomaterial contamina<strong>do</strong>;❯ a abrangência da população acometida;❯ a provável proveniência <strong>do</strong> material supostamente contamina<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> se tratarde contaminação intencional;❯ nos casos de contaminação por animais ou seus produtos, qual a proveniência,abrangência da disseminação <strong>do</strong> agente e vínculo com a ocupação <strong>do</strong>s indivíduosacometi<strong>do</strong>s.Análise de da<strong>do</strong>sA análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da investigação deve permitir a avaliação da magnitude da provávelcontaminação e a adequação das medidas a<strong>do</strong>tadas, principalmente quanto à quimioprofilaxia,tratamento <strong>do</strong>s casos e risco de eventos semelhantes virem a acontecer.Como a <strong>do</strong>ença não tem grande poder de disseminação e, mesmo quan<strong>do</strong> se apresentaSecretaria de Vigilância em Saúde / MS159


Antraz ou Carbúnculosob a forma de surtos, o número de acometi<strong>do</strong>s é limita<strong>do</strong>, as análises <strong>do</strong>s eventos devemser feitas caso a caso, descreven<strong>do</strong> as ocorrências. Desde o início <strong>do</strong> processo o investiga<strong>do</strong>rdeve analisar as informações para verificar se decorre de <strong>do</strong>ença profissional, contaminaçãoacidental ou intencional – análises que devem alimentar o processo de decisão dasautoridades sanitárias.Observar se todas as informações necessárias para o encerramento <strong>do</strong>s casos e <strong>do</strong>evento (epidemia ou casos isola<strong>do</strong>s) foram coleta<strong>do</strong>s durante a investigação e se as mesmasforam criteriosamente registradas e analisadas.Relatório finalAs informações coletadas devem ser sistematizadas em um relatório final, sejam decasos isola<strong>do</strong>s, surtos e, principalmente, quan<strong>do</strong> houver suspeita de que a contaminaçãopossa ter si<strong>do</strong> intencional.Dentre as principais conclusões, devem-se destacar:• local de transmissão <strong>do</strong>(s) caso(s) e distribuição <strong>do</strong>s casos segun<strong>do</strong> espaço, pessoa etempo em situações de surtos;• mo<strong>do</strong> de transmissão (contato com animais, contaminação intencional, caso importa<strong>do</strong>,etc.);• situação de risco para a ocorrência de novos casos e medidas de controle a<strong>do</strong>tadas;• critérios de confirmação e descarte <strong>do</strong>s casos.Instrumentos disponíveis para controleImunizaçãoA vacina contra o carbúnculo ou antraz contém um filtra<strong>do</strong> purifica<strong>do</strong> de cultura <strong>do</strong>Bacillus anthracis. O Brasil não dispõe desta vacina e a produção mundial, por sua vez, émuito limitada.O esquema de vacinação é de 6 <strong>do</strong>ses de 0,5ml, administradas por via subcutânea em0, 2 e 4 semanas e, posteriormente, no 6º, 12º e 18º meses. Embora existam evidências deque esta vacina proteja contra as formas cutânea (pele) e inalatória da <strong>do</strong>ença, tal proteçãoé temporária e, além <strong>do</strong> mais, exige reforços anuais de revacinação.Recomendações para a vacinação – a vacina é indicada somente quan<strong>do</strong> existe riscode infecção defini<strong>do</strong>. Exemplos de grupos de pessoas que estão sob risco de infecção são:técnicos de laboratório que trabalham com o bacilo e militares envolvi<strong>do</strong>s em guerras comuso de arma biológica.A vacinação de civis e da população em geral não é recomendada pelas seguintesrazões:• o esquema para conferir a proteção adequada é longo (18 meses). Portanto, esta vacinanão está indicada para a população em situações que exigem proteção imediata,como um ataque de bioterrorismo;160 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Antraz ou Carbúnculo• o tempo de proteção conferida pela vacina é muito curto, exigin<strong>do</strong> a aplicação dereforços anuais.Ações de educação em saúdeOs indivíduos expostos ou sob risco de exposição devem ser comunica<strong>do</strong>s e orienta<strong>do</strong>sa buscar informações nas unidades de saúde de referência, para serem submeti<strong>do</strong>s àquimioprofilaxia e/ou tratamento quan<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>. Em áreas de exposição profissional,alertar sobre as formas de se adquirir a <strong>do</strong>ença. Quan<strong>do</strong> houver suspeita de ataque de bioterrorismo,utilizar os meios de comunicação para orientar a população como proceder noscasos de identificação de material suspeito, de acor<strong>do</strong> com as normas descritas.6ASecretaria de Vigilância em Saúde / MS161


Antraz ou CarbúnculoAnexo 1Equipamentos de proteção individual para omanuseio de material com suspeição de B. anthracisGrupo 1No caso de coleta/recolhimento de material suspeito conti<strong>do</strong> em envelope, caixa ouqualquer outro recipiente, mas sem indícios de contaminação aparente <strong>do</strong> meio externo, éindica<strong>do</strong> o uso de:• máscara de proteção facial;• óculos de proteção ou protetor facial;• luvas descartáveis de látex;• avental descartável.Grupo 2Quan<strong>do</strong> o material suspeito se apresentar de forma residual e localizada, em ambientenão exposto a correntes de ar, seja desprovi<strong>do</strong> (ou sem uso) de sistema de climatização,condiciona<strong>do</strong>r de ambiente, exaustor ou ventila<strong>do</strong>r de ar, orienta-se, para quem o coletar erecolher, as seguintes proteções:• macacão descartável em não-teci<strong>do</strong> ou Tyvek, com capuz;• luvas de borracha nitrílica ou luvas emborrachadas sobrepostas a uma de látex descartável;• máscara de proteção facial;• óculos de proteção;• botas de borracha.Grupo 3No caso <strong>do</strong> material suspeito apresentar indicativo de suspensão ou dispersão no ambiente,orienta-se, para quem o coletar e recolher, as seguintes proteções:• macacão emborracha<strong>do</strong> ou de PVC, com capuz e elástico;• luvas de borracha nitrílica, sobrepostas a uma de látex descartável;• botas de borracha;• respira<strong>do</strong>r facial inteiro.162 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Antraz ou CarbúnculoTabela de especificações <strong>do</strong>s equipamentos de proteção individual (EPI)EPIEspecificaçãoAventalBotas de borrachaLuvas tipo 1Luvas tipo 2Luvas tipo 3Macacão não-teci<strong>do</strong> com capuzMacacão Tyvek com capuzMacacão nitrílico com capuzMacacão emborracha<strong>do</strong>com capuzMáscara de proteção facialÓculos de proteçãoProtetor facialProtetor para barbaRespira<strong>do</strong>r facial inteiroDescartável, com mangas compridas, punho em malha ou elástico,gramatura 50g/m 2 , resistente à esterilização por calor úmi<strong>do</strong>, rasgos etração, alta drapeabilidade, hipoalergênico, não inflamável, com 90%de eficiência na filtração de bactériasConfeccionadas em borracha natural resistente a agentes químicosConfeccionadas em látex, descartável, não-estérilConfeccionadas em borracha nitrílica, descartável, não-estérilConfeccionadas em borracha natural resistente a agentes químicos,com característica antiderrapanteDescartável, com mangas compridas, confecciona<strong>do</strong> em material nãoteci<strong>do</strong>,gramatura 60g/m 2 , punho de malha ou elástico, com capuzconten<strong>do</strong> ajustes ao re<strong>do</strong>r da face, resistente a tração e rasgos, altadrapeabilidade, hipoalergênico, não-inflamável, com 90% de eficiênciana filtração de bactérias. Abertura frontal por zíper ou velcroDescartável, com mangas compridas, confecciona<strong>do</strong> em Tyvek, punhode malha ou elástico, com capuz conten<strong>do</strong> ajustes ao re<strong>do</strong>r da face,resistente à tração e rasgos com abertura frontal por zíper ou velcroCom mangas compridas, confecciona<strong>do</strong> em borracha nitrílica, ajustesno punho e no capuz ao re<strong>do</strong>r da face, resistente a agentes químicos,tração e rasgos, com abertura frontal por zíper ou velcroCom mangas compridas, confecciona<strong>do</strong> em poliuretano/PVC, ajustesno punho e no capuz ao re<strong>do</strong>r da face, resistente a agentes químicos,tração e rasgos, com abertura frontal por zíper ou velcroTipo respira<strong>do</strong>r, para partículas, sem manutenção, N95, com eficáciana filtração de 95% de partículas de até 0,3μ (usada para ações contraa tuberculose)Obs: essa máscara, dependen<strong>do</strong> das condições de conservação, poderáser reutilizada. Pode ser adquirida com válvula especial, para facilitar arespiração ou nãoFlexível, em PVC incolor, leve, com adaptação perfeita ao nariz paraconforto em uso prolonga<strong>do</strong>; com lentes em policarbonato, resistentea impactos, antiembaçante, contra riscos e proteção antiUV. Pode serusa<strong>do</strong> em combinação a óculos com lentes de prescriçãoCom ampla proteção lateral, com ajustes de tensão para posicionamento<strong>do</strong> visor. Visor em policarbonato, incolor, que fornece proteção a impactose resistência a calor, antiembaçante. Pode ser usa<strong>do</strong> em combinaçãoa óculos com lentes de prescrição e óculos de proteçãoDescartável, confecciona<strong>do</strong> em polipropileno, com ajustes em elásticoConfecciona<strong>do</strong> em silicone, com ajustes de tensão para posicionamentona face. Visor com lentes em policarbonato, que fornece proteção aimpactos, antiembaçante. Equipa<strong>do</strong> com duplo cartucho conten<strong>do</strong> filtrosN100, P100 ou R100, que oferecem uma eficácia de 99,97% na filtraçãode partículas com 0,3μ (o esporo <strong>do</strong> B. anthracis tem diâmetro de 2 a 6μ)6ASecretaria de Vigilância em Saúde / MS163


Antraz ou CarbúnculoAnexo 2Coleta, recolhimento eacondicionamento <strong>do</strong> material suspeito• Coletar o material suspeito e colocá-lo em embalagem plástica, com fechamentohermético, lacrar, rotular adequadamente e incluir a inscrição “RISCO BIOLÓGI-CO”. Acondicionar em embalagens específicas (kit) para transporte de amostras infecciosas,conforme disposto na Portaria MS nº 1.985, de 25 de outubro de 2001.• As amostras devem ser embaladas em três camadas: um receptáculo impermeáveldentro <strong>do</strong> qual se encontra a amostra; um segun<strong>do</strong> recipiente resistente, à prova defiltração, conten<strong>do</strong> material absorvente entre as suas paredes; e receptáculo interno,a ponto de garantir a absorção de to<strong>do</strong> o líqui<strong>do</strong> em caso de vazamento, ou seja, umaembalagem externa destinada a proteger contra fatores externos, tais como impactosfísicos e água durante o transporte.• Encaminhar para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) da unidade federada.Observação: caso haja necessidade de encaminhamento da(s) amostra(s) para laboratóriode referência, caberá ao Lacen receptor proceder o envio, de acor<strong>do</strong> com o fluxo deamostras biológicas e não-biológicas defini<strong>do</strong> pela Coordenação Geral de Laboratórios daSecretaria de Vigilância em Saúde/MS.Para agilização da remessa, deverão ser a<strong>do</strong>tadas medidas junto às instituições públicase privadas envolvidas no transporte de cargas.164 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Antraz ou CarbúnculoAnexo 3Descontaminação de superfícies contaminadas por B. anthracisPara a operacionalização <strong>do</strong>s procedimentos de descontaminação de superfícies recomenda-sea utilização de equipamentos de proteção individual constantes <strong>do</strong> Anexo 1.A equipe que executou a coleta e recolhimento <strong>do</strong> material suspeito, a partir de definiçãoestratégica local, quan<strong>do</strong> devidamente capacitada, poderá proceder às operações dedescontaminação de superfícies.Procedimentos de descontaminação:SuperfíciesMéto<strong>do</strong> I (aplica<strong>do</strong> para grupos 1 e 2 de proteção individual)Esfregar com pano limpo, gaze ou algodão embebi<strong>do</strong> em solução preparada a partir de produtosdesinfetantes (Grupo A - Anexo 4)6AAguardar o tempo de contato recomenda<strong>do</strong> para a substância e/ou produto utiliza<strong>do</strong>Secar com papel-toalhaEsfregar com pano limpo, compressa, gaze ou algodão embebi<strong>do</strong> em álcool a 70% e aguardar secarAcondicionar os papéis-toalha, gaze e algodão utiliza<strong>do</strong>s em sacos plásticos de cor branca, leitosa, comsímbolo de risco biológicoLacrar os sacos plásticos de forma a não permitir o derramamento de seu conteú<strong>do</strong>, mesmo se vira<strong>do</strong>s parabaixo. Uma vez fecha<strong>do</strong>s, precisam ser manti<strong>do</strong>s íntegros até o processamento ou destino final <strong>do</strong> resíduobiológico (aterro sanitário ou incineração)• Méto<strong>do</strong> I. Este méto<strong>do</strong> é composto de três estágios, a saber:Estágio 1: Desinfecção preliminar• Cobrir o material suspeito com papel-toalha.• Colocar a solução desinfetante (Grupo A – Anexo 4), na quantidade de 1 a 1,5 litrospor metro quadra<strong>do</strong> de área atingida, embeben<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o papel-toalha.• Deixar em contato por 2 horas.• Remover os papéis-toalha, o resíduo <strong>do</strong> material suspeito e o excesso da soluçãodesinfetante utilizan<strong>do</strong> papel toalha.• Acondicionar os papéis-toalha utiliza<strong>do</strong>s em sacos plásticos de cor branca leitosacom símbolo de risco biológico.• Lacrar os sacos plásticos de forma a não permitir o derramamento de seu conteú<strong>do</strong>,mesmo se vira<strong>do</strong>s para baixo. Uma vez fecha<strong>do</strong>s, precisam ser manti<strong>do</strong>s íntegrosaté o processamento ou destino final <strong>do</strong> resíduo biológico (aterro sanitário ou incineração).Secretaria de Vigilância em Saúde / MS165


Antraz ou CarbúnculoEstágio 2: Limpeza• Esfregar pano limpo ou escova embebi<strong>do</strong>s em água quente sobre as superfícies, comvistas à retirada <strong>do</strong>s resíduos.• Secar, preferencialmente, com papel-toalha e promover seu descarte como resíduobiológico.• Acondicionar os papéis-toalha em sacos plásticos de cor branca, leitosa, com símbolode risco biológico.• Lacrar os sacos plásticos de forma a não permitir o derramamento de seu conteú<strong>do</strong>,mesmo se vira<strong>do</strong>s para baixo. Uma vez fecha<strong>do</strong>s, precisam ser manti<strong>do</strong>s íntegros atéo processamento ou destino final <strong>do</strong> resíduo biológico.Estágio 3: Desinfecção final• Aplicar a solução desinfetante (Grupo B – Anexo 4) na proporção de 500ml (meiolitro) por metro quadra<strong>do</strong> de área atingida com tempo de contato de 2 horas.• Retirar to<strong>do</strong> o excesso da solução desinfetante com papel-toalha.• Acondicionar os papéis toalha em sacos plásticos de cor branca, leitosa, com símbolode risco biológico.• Lacrar os sacos plásticos de forma a não permitir o derramamento de seu conteú<strong>do</strong>,mesmo se vira<strong>do</strong>s para baixo. Uma vez fecha<strong>do</strong>s, precisam ser manti<strong>do</strong>s íntegros atéo processamento ou destino final <strong>do</strong> resíduo biológico.• Méto<strong>do</strong> II. Descontaminação por fumigação: é recomenda<strong>do</strong> para os casos emque houver indícios de que o material contamina<strong>do</strong> por B. anthracis foi submeti<strong>do</strong>à suspensão ou dispersão no ambiente.❯ Estimar o volume da área a ser tratada;❯ Antes de iniciar-se o procedimento de fumigação o ambiente deverá ser prepara<strong>do</strong>,com a vedação (material adesivo/fita) de portas, janelas, frestas ou quaisqueroutras fontes de circulação de ar;❯ Os equipamentos de proteção individual deverão apresentar-se de acor<strong>do</strong> com odisposto no Anexo 5.• Fumigação com equipamento específico: os ambientes podem ser fumiga<strong>do</strong>s poraquecimento da solução desinfetante.❯ Para cada 25-30m3, utilizar solução de 4 litros de água conten<strong>do</strong> 400ml de formaldeí<strong>do</strong>a 10%, a ser aplicada por equipamento de fumigação;❯ O tempo de fumigação deverá ser realiza<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com as especificações estabelecidaspelo fabricante <strong>do</strong> aparelho fumiga<strong>do</strong>r;❯ A descontaminação completa por fumigação <strong>do</strong> ambiente exposto ao materialsuspeito deverá ocorrer por um perío<strong>do</strong> de tempo maior que 12 horas, em temperaturaacima de 18ºC e com umidade relativa superior a 70%;❯ O ambiente somente poderá ser aberto após 12 horas <strong>do</strong> início da fumigação,quan<strong>do</strong> deverá ser retira<strong>do</strong> o material utiliza<strong>do</strong> para a vedação e submeti<strong>do</strong> com-166 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Antraz ou Carbúnculoplementarmente à limpeza e desinfecção da área. Recomenda-se, como produtosde desinfecção de mobiliários e equipamentos, o álcool a 70%, por 10 minutos(em 3 aplicações), e para teto, piso e paredes, o hipoclorito de sódio a 1% por 10minutos ou formulações pertencentes à categoria de desinfetantes hospitalares(devidamente registra<strong>do</strong>s na Anvisa), cuja diluição e tempo de exposição deverãoatender às especificações de rotulagem.Descontaminação de equipamentosde proteção individual e outros materiais• Equipamentos de proteção individual: os EPI não descartáveis, utiliza<strong>do</strong>s nas etapasde coleta, recolhimento e descontaminação, após o uso deverão ser submeti<strong>do</strong>sa processo de descontaminação com produtos <strong>do</strong> Grupo D (Anexo 4), caso toleremos tratamentos recomenda<strong>do</strong>s ou submeti<strong>do</strong>s à esterilização por calor úmi<strong>do</strong> a121ºC por 30 minutos.Observação: os EPI descartáveis deverão ser coloca<strong>do</strong>s em sacos plásticos autoclaváveis,lacra<strong>do</strong>s e submeti<strong>do</strong>s à esterilização por calor úmi<strong>do</strong> a 121ºC por 30 minutos,para posterior descarte.6A• Equipamentos e outros materiais (panos, roupas, utensílios, etc.): equipamentos,bem como outros materiais utiliza<strong>do</strong>s na coleta, recolhimento e descontaminação,deverão, sempre que possível, ser incinera<strong>do</strong>s ou submeti<strong>do</strong>s à esterilização por calorúmi<strong>do</strong> a 121ºC por 30 minutos. Os que não puderem ser autoclava<strong>do</strong>s, devemser imersos em formaldeí<strong>do</strong> com concentração e tempo de exposição indicada noGrupo D (Anexo 4) ou fumiga<strong>do</strong>s conforme o estágio III <strong>do</strong> Anexo 3.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS167


Antraz ou CarbúnculoAnexo 4Grupos de produtos desinfetantesGrupo A• Hipoclorito de sódio: este é o agente químico de escolha, exceto quan<strong>do</strong> se trata desuperfícies de corrosão.❯ Concentração recomendada: 1% (10 mil ppm (mg/l) ) de cloro ativoPreparo da solução: para um volume de 10 litros, colocar 1 litro de solução de hipocloritode sódio a 10% de cloro ativo (comercial) e completar com águaTempo de exposição: 1 hora• Formaldeí<strong>do</strong> a 10%❯ Tempo de exposição: 2 horas• Glutaraldeí<strong>do</strong> a 4% (pH de 8-8,5)❯ Tempo de exposição: 2 horasGrupo B• Áci<strong>do</strong> peracético a 1%: agente químico de escolha, excetuan<strong>do</strong> superfícies de corrosão❯ Tempo de exposição: 2 horas• Formaldeí<strong>do</strong> a 10%❯ Tempo de exposição: 2 horas• Glutaraldeí<strong>do</strong> a 4% (pH de 8-8,5)❯ Tempo de exposição: 2 horas• Peróxi<strong>do</strong> de hidrogênio a 3%❯ Tempo de exposição: 2 horasGrupo C (fumigação)• Formaldeí<strong>do</strong> a 10%Grupo D• Hipoclorito de sódio a 0,5%❯ Concentração recomendada: 0,5% (5 mil ppm (mg/l) ) de cloro ativo❯ Preparo da solução: para um volume de 10 litros, colocar 500ml de solução dehipoclorito de sódio a 10% de cloro ativo (comercial) e completar com água❯ Tempo de exposição: 2 horas• Formaldeí<strong>do</strong> a 4%❯ Tempo de exposição: acima de 8 horas• Glutaraldeí<strong>do</strong> a 2% (pH de 8-8,5)❯ Tempo de exposição: acima de 8 horas168 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Antraz ou CarbúnculoAnexo 5Descontaminação de superfícies e ambientesLocalDescontaminaçãoGrupo<strong>do</strong> produtoSituaçãoEPISuperfícieque entrou emcontato comB. anthracisMéto<strong>do</strong> IGrupos A e BMaterial suspeito conti<strong>do</strong>em envelope, caixa ouqualquer outro recipiente,não haven<strong>do</strong> indícios decontaminação aparente<strong>do</strong> meio externoMáscara de proteção facialtipo respira<strong>do</strong>r valvula<strong>do</strong>para partículas, sem manutenção,N95Óculos de proteção ouprotetor facial, em acrílicoLuvas de látex paraprocedimentosAvental descartável commangas compridas, punhoem malha, gramatura 506ASuperfícieque entrou emcontato comB. anthracisMéto<strong>do</strong> IGrupos A e BNo caso <strong>do</strong> material suspeitose apresentar exposto, deforma residual e localizada,em ambientes:• não expostos a correntesde ar; desprovi<strong>do</strong>s de sistemade climatização, condiciona<strong>do</strong>rde ambiente, exaustor ouventila<strong>do</strong>r de ar, ou• presença, porém semfuncionamento, de sistemade climatização, condiciona<strong>do</strong>rde ambiente, exaustore ventila<strong>do</strong>r de arMacacão descartávelgramatura 50, com capuze elástico ou macacão emnão-teci<strong>do</strong>, Tyvek comcapuz e elásticoLuvas de borracha nitrílicaou luva emborrachadasobreposta a uma de látex(luva de procedimentos)Máscara de proteção facialtipo respira<strong>do</strong>r valvula<strong>do</strong>,sem manutenção, N95Óculos de proteção ouprotetor facial, em acrílico,incolorBotas de borrachaMacacão emborracha<strong>do</strong>ou de PVC, com capuze elásticoAmbientesfecha<strong>do</strong>sexpostosMéto<strong>do</strong> IIGrupo CNo caso <strong>do</strong> material suspeitoapresentar indicativo desuspensão ou dispersão noambienteLuvas de borracha nitrílica,com luvas de látex (deprocedimentos)Botas de borrachaRespira<strong>do</strong>r facial inteiro,com filtro N100, P100ou R100Secretaria de Vigilância em Saúde / MS169


BotulismoBOTULISMOCID 10: A05.1Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoDoença neuroparalítica grave, não contagiosa, resultante da ação de uma potente toxinaproduzida pela bactéria Clostridium botulinum. Há três formas de botulismo: botulismoalimentar, botulismo por ferimentos e botulismo intestinal. Embora o local de produção datoxina botulínica seja diferente em cada uma delas, todas as formas caracterizam-se pelasmanifestações neurológicas e/ou gastrointestinais.O botulismo apresenta elevada letalidade e deve ser considera<strong>do</strong> uma emergênciamédica e de saúde pública. Para minimizar o risco de morte e seqüelas, é essencial que odiagnóstico seja feito rapidamente e que o tratamento seja instituí<strong>do</strong> precocemente atravésdas medidas gerais de urgência. Quan<strong>do</strong> causa<strong>do</strong> pela ingestão de alimentos contamina<strong>do</strong>s,é considera<strong>do</strong> como <strong>do</strong>ença transmitida por alimento. A notificação de um caso suspeito éconsiderada como surto.Agente etiológicoO Clostridium botulinum é um bacilo gram-positivo, anaeróbio, esporula<strong>do</strong> e sua formavegetativa produz 8 tipos de toxina (A, B, C1, C2, D, E, F e G). As toxinas patogênicaspara o homem são as <strong>do</strong>s tipos A, B, E e F, sen<strong>do</strong> as mais freqüentes a A e a B.ReservatórioOs esporos <strong>do</strong> Clostridium botulinum são amplamente distribuí<strong>do</strong>s na natureza, emsolos e sedimentos de lagos e mares. São identifica<strong>do</strong>s em produtos agrícolas como legumes,vegetais e mel e em intestinos de mamíferos, peixes e vísceras de crustáceos.Mo<strong>do</strong> de transmissãoO mo<strong>do</strong> de transmissão tem importância na apresentação clínica e nas ações de vigilânciaepidemiológica.Botulismo alimentarOcorre por ingestão de toxinas presentes em alimentos previamente contamina<strong>do</strong>s eque foram produzi<strong>do</strong>s ou conserva<strong>do</strong>s de maneira inadequada. Os alimentos mais comumenteenvolvi<strong>do</strong>s são: conservas vegetais, principalmente as artesanais (palmito, picles, pequi);produtos cárneos cozi<strong>do</strong>s, cura<strong>do</strong>s e defuma<strong>do</strong>s de forma artesanal (salsicha, presunto,carne frita conservada em gordura – “carne de lata”); pesca<strong>do</strong>s defuma<strong>do</strong>s, salga<strong>do</strong>s e fermenta<strong>do</strong>s;queijos e pasta de queijos e, raramente, em alimentos enlata<strong>do</strong>s industrializa<strong>do</strong>s.170 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


BotulismoBotulismo por ferimentosOcasiona<strong>do</strong> pela contaminação de ferimentos com Clostridium botulinum, que emcondições de anaerobiose assume a forma vegetativa e produz toxina in vivo. As principaisportas de entrada para os esporos são úlceras crônicas com teci<strong>do</strong> necrótico, fissuras, esmagamentode membros, ferimentos em áreas profundas mal vascularizadas ou, ainda, aquelesproduzi<strong>do</strong>s por agulhas em usuários de drogas injetáveis e lesões nasais ou sinusais emusuários de drogas inalatórias. É uma das formas mais raras de botulismo.Botulismo intestinalResulta da ingestão de esporos presentes no alimento, seguida da fixação e multiplicação<strong>do</strong> agente no ambiente intestinal, onde ocorre a produção e absorção de toxina. Aausência da microbiota de proteção permite a germinação de esporos e a produção de toxinana luz intestinal. Ocorre com maior freqüência em crianças com idade entre 3 e 26semanas – motivo pelo qual foi inicialmente denomina<strong>do</strong> botulismo infantil. Em adultos,são descritos alguns fatores predisponentes como cirurgias intestinais, acloridria gástrica,<strong>do</strong>ença de Crohn e/ou uso de antibióticos por tempo prolonga<strong>do</strong>, que levaria à alteração daflora intestinal.6BEmbora raros, são descritos casos de botulismo acidental associa<strong>do</strong>s ao uso terapêuticoou estético da toxina botulínica e à manipulação de material contamina<strong>do</strong> emlaboratório (transmissão pela via inalatória ou contato com a conjuntiva).Perío<strong>do</strong> de incubaçãoBotulismo alimentar – pode variar de duas horas a 10 dias, com média de 12h a 36h.Quanto maior a concentração de toxina no alimento ingeri<strong>do</strong>, menor o perío<strong>do</strong> de incubação.Botulismo por ferimento – pode variar de 4 a 21 dias, com média de 7 dias.Botulismo intestinal – o perío<strong>do</strong> não é conheci<strong>do</strong> devi<strong>do</strong> a impossibilidade de determinaro momento da ingestão de esporos.Quan<strong>do</strong> ocorre a ingestão de esporos ou a contaminação de ferimentos, o perío<strong>do</strong>de incubação é maior porque a <strong>do</strong>ença só tem início após a transformação <strong>do</strong> Clostridiumbotulinum da forma esporulada para a forma vegetativa, que se multiplica e libera toxina.Perío<strong>do</strong>s de incubação curtos sugerem maior gravidade e maior risco de letalidade.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeNão há relato de transmissão interpessoal, apesar de haver excreção da toxina botulínicae esporos da bactéria por semanas ou meses nas fezes de lactentes com botulismointestinal.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS171


BotulismoAspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasAs manifestações clínicas <strong>do</strong> botulismo serão descritas de acor<strong>do</strong> com o mo<strong>do</strong> detransmissão.Botulismo alimentarA <strong>do</strong>ença se caracteriza por instalação súbita e progressiva. Os sinais e sintomas iniciaispodem ser gastrointestinais e/ou neurológicos. As manifestações gastrointestinais mais comunssão: náuseas, vômitos, diarréia e <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal e podem anteceder ou coincidir comos sintomas neurológicos. Os primeiros sintomas neurológicos podem ser inespecíficos, taiscomo cefaléia, vertigem e tontura. O quadro neurológico propriamente dito se caracterizapor uma paralisia flácida motora descendente, associa<strong>do</strong> a comprometimento autonômicodissemina<strong>do</strong>. Os principais sinais e sintomas neurológicos são: visão turva, ptose palpebral,diplopia, disfagia, disartria e boca seca. Eles começam no território <strong>do</strong>s nervos cranianos eevoluem no senti<strong>do</strong> descendente. Esta particularidade distingue o botulismo da síndromede Guillain-Barré, que é uma paralisia flácida ascendente.Com a evolução da <strong>do</strong>ença, a fraqueza muscular pode se propagar de forma descendentepara os músculos <strong>do</strong> tronco e membros, o que pode ocasionar dispnéia, insuficiên ciarespiratória e tetraplegia flácida. A fraqueza muscular nos membros é tipicamente simétrica,acometen<strong>do</strong> com maior intensidade os membros superiores. Uma característica importanteno quadro clínico <strong>do</strong> botulismo é a preservação da consciência. Na maioria <strong>do</strong>scasos também não há comprometimento da sensibilidade, o que auxilia no diagnósticodiferencial com outras <strong>do</strong>enças neurológicas. O botulismo pode apresentar progressão poruma a duas semanas e estabilizar-se por mais duas a três semanas, antes de iniciar a fase derecuperação, com duração variável, que depende da formação de novas sinapses e restauraçãoda função. Nas formas mais graves, o perío<strong>do</strong> de recuperação pode durar de seis mesesa um ano, embora os maiores progressos ocorram nos primeiros três meses após o início<strong>do</strong>s sintomas.Botulismo por ferimentosO quadro clínico é semelhante ao <strong>do</strong> botulismo alimentar; entretanto, os sinais e sintomasgastrointestinais não são espera<strong>do</strong>s e pode ocorrer febre decorrente de contaminaçãosecundária <strong>do</strong> ferimento. O botulismo por ferimento deve ser lembra<strong>do</strong> nas situações emque não se identifica uma fonte alimentar, especialmente em casos isola<strong>do</strong>s da <strong>do</strong>ença. Ferimentosou cicatrizes nem sempre são encontra<strong>do</strong>s e focos ocultos, como em mucosa nasal,seios da face e pequenos abscessos em locais de injeção, devem ser investiga<strong>do</strong>s, especialmenteem usuários de drogas.Botulismo intestinalNas crianças, o aspecto clínico <strong>do</strong> botulismo intestinal varia de quadros com constipaçãoleve à síndrome de morte súbita. Manifesta-se inicialmente por constipação e irri-172 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Botulismotabilidade, segui<strong>do</strong>s de sintomas neurológicos caracteriza<strong>do</strong>s por dificuldade de controle<strong>do</strong>s movimentos da cabeça, sucção fraca, disfagia, choro fraco, hipoatividade e paralisiasbilaterais descendentes, que podem progredir para comprometimento respiratório. Casosleves caracteriza<strong>do</strong>s apenas por dificuldade alimentar e fraqueza muscular discreta têm si<strong>do</strong>descritos. Em adultos, suspeita-se de botulismo intestinal na ausência de fontes prováveis detoxina botulínica, como alimentos contamina<strong>do</strong>s, ferimentos ou uso de drogas. O botulismointestinal tem duração de duas a seis semanas, com instalação progressiva <strong>do</strong>s sintomaspor uma a duas semanas, seguida de recuperação em três a quatro semanas.ComplicaçõesDesidratação e pneumonia por aspiração podem ocorrer precocemente, antes mesmoda suspeita de botulismo ou <strong>do</strong> primeiro atendimento no serviço de saúde. Infecções respiratóriaspodem ocorrer em qualquer momento da hospitalização, sen<strong>do</strong> a longa permanênciasob assistência ventilatória e os procedimentos invasivos considera<strong>do</strong>s importantesfatores de risco.6PatogeniaA toxina botulínica absorvida no trato gastrointestinal ou no ferimento dissemina-sepor via hematogênica até as terminações nervosas, mais especificamente para a membranapré-sináptica da junção neuromuscular, bloquean<strong>do</strong> a liberação da acetilcolina (neurotransmissorresponsável pela contração muscular). Com isso, haverá falha na transmissãode impulsos nas junções das fibras nervosas, resultan<strong>do</strong> em paralisia flácida <strong>do</strong>s músculosque estes nervos controlam. O dano causa<strong>do</strong> na membrana pré-sináptica pela toxina é permanente.A recuperação depende da formação de novas terminações neuromusculares. Poreste motivo, a recuperação clínica é prolongada, poden<strong>do</strong> variar de 1 a 12 meses.BDiagnóstico clínicoA anamnese, exame físico e neurológico <strong>do</strong> paciente são imprescindíveis para o diagnóstico<strong>do</strong> botulismo.AnamnesePara a investigação das <strong>do</strong>enças neurológicas que se manifestam por fraqueza musculardescendente, faz-se necessário realizar anamnese cuida<strong>do</strong>sa, buscan<strong>do</strong> identificar fatoresde risco específicos para botulismo. Deve-se avaliar o início e a progressão <strong>do</strong>s principaissinais e sintomas neurológicos apresenta<strong>do</strong>s.Na suspeita de botulismo alimentar, também devem ser verifica<strong>do</strong>s: alimentos ingeri<strong>do</strong>snos últimos três dias e, quan<strong>do</strong> possível, até 10 dias; tempo decorri<strong>do</strong> entre a ingestão eo aparecimento da <strong>do</strong>ença; existência de outros casos e fonte comum de ingestão.Identificar outros fatores de risco, como ferimentos, imunização e infecções virais recentes,picada de insetos, viagens, exposição a agentes tóxicos, medicamentos e uso de drogasen<strong>do</strong>venosas.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS173


BotulismoExame físico geralDe forma geral, prevalecem os sinais e sintomas neurológicos, sen<strong>do</strong> estes os primeirose mais importantes acha<strong>do</strong>s ao se examinar o paciente. Sinais de desidratação, distensãoab<strong>do</strong>minal e dispnéia podem estar presentes. Não há febre, a menos que haja uma complicaçãoinfecciosa. No botulismo por ferimento pode ocorrer febre secundária à infecção daferida por outras bactérias. A freqüência cardíaca é normal ou baixa, se não houver hipotensão(presente nas formas graves, com disfunção autonômica).Exame neurológicoAvaliar – nível de consciência; déficit de força muscular nos membros e comprometimentoda musculatura ocular, facial e bulbar.Verificar – movimentos da língua e <strong>do</strong> palato; movimentos da face; reflexos profun<strong>do</strong>s(aquileu, patelar, bicipital, tricipital, estilo-radial); sensibilidade; comprometimento <strong>do</strong> sistemanervoso autônomo; acuidade visual e preservação da audição.Diagnóstico eletrofisiológicoA eletroneuromiografia permite identificar se a lesão no sistema nervoso periféricolocaliza-se na raiz, nos plexos, no nervo, no músculo ou na junção neuromuscular. Destaforma, este exame é de grande valor no diagnóstico de botulismo ao demonstrar o comprometimentoda junção neuromuscular, mais especificamente da membrana pré-sinápticacausada pela toxina botulínica. Além disso, o exame auxilia no diagnóstico diferencial comoutras <strong>do</strong>enças com quadros clínicos semelhantes (Quadro 1).Diagnóstico diferencialExistem muitas <strong>do</strong>enças neurológicas que podem manifestar-se com fraqueza muscularsúbita e paralisia flácida aguda. O Quadro 1 mostra os principais critérios utiliza<strong>do</strong>s paradiferenciá-las <strong>do</strong> botulismo.Além destas, existem outras <strong>do</strong>enças menos comuns que também devem ser consideradasno diagnóstico diferencial: <strong>do</strong>ença de Lyme, neuropatia diftérica, neuropatias tóxicasalimentares, neuropatia por metais pesa<strong>do</strong>s e agentes industriais e outros quadros neurológicose/ou psiquiátricos (meningoencefalites, acidente vascular cerebral, traumatismo cranioencefálico,transtornos conversivos (histeria), hipopotassemia, intoxicação por atropina,bela<strong>do</strong>na, metanol, monóxi<strong>do</strong> de carbono, fenotiazínicos e envenenamento por curare).Por ser uma <strong>do</strong>ença <strong>do</strong> sistema nervoso periférico, o botulismo não está associa<strong>do</strong> asinais de envolvimento <strong>do</strong> sistema nervoso central. A presença das manifestações abaixorelacionadas, em indivíduo previamente normal, é argumento contra a possibilidade desta<strong>do</strong>ença:• movimentos involuntários;• diminuição <strong>do</strong> nível de consciência;• ataxia;• crises epilépticas (convulsões);174 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Botulismo• espasticidade, hiperreflexia profunda, presença de clônus ou sinal de Babinski esinais de liberação piramidal nos membros acometi<strong>do</strong>s por fraqueza;• assimetria significativa da força muscular;• déficit sensitivo.Quadro 1. Diagnóstico diferencial de botulismoCondição Fraqueza muscular Sensibilidade Características <strong>do</strong> líquorBotulismoInicia pela facedescendente e simétricaNormalNormalDissociaçãoproteíno-citológicaSíndrome deGuillain-BarréO envolvimento daface é menos comumque no botulismoAscendente e simétricaEm alguns casospode haverdéficit sensitivoHiperproteinorraquiaCelularidade normalou discretamente elevada(≤ 50 células/mm 3 )Na primeira semanapode ser normal6Síndrome deMüller-Fisher(varianteda síndromede Guillain-Barré)Fraqueza simétrica da faceDiplegia facialPtose palpebralDificuldade de mastigaçãoe de deglutiçãoNão há comprometimento demembros superiores e inferioresParestesias oudiminuição dasensibilidade daface e da línguaDissociaçãoproteíno-citológicaHiperproteinorraquiaCelularidade normal oudiscretamente elevada(≤ 50 células/mm 3 )BMiasteniagravisFlutuante no transcorrer<strong>do</strong> dia, piora com atividadefísica e melhora com repousoA maioria <strong>do</strong>s casos se iniciapor ptose palpebral e diplopiaNormalNormalDiagnóstico laboratorialO diagnóstico laboratorial é basea<strong>do</strong> na análise de amostras clínicas e bromatológicas(casos de botulismo alimentar). Os exames laboratoriais podem ser realiza<strong>do</strong>s por váriastécnicas, sen<strong>do</strong> a mais comum a detecção da toxina botulínica por meio de bioensaio emcamun<strong>do</strong>ngos. Em casos de botulismo por ferimentos e botulismo intestinal, realiza-setambém o isolamento de Clostridium botulinum através de cultura das amostras. Estes examessão realiza<strong>do</strong>s em laboratório de referência nacional e a seleção de amostras de interessee oportunas para o diagnóstico laboratorial varia de acor<strong>do</strong> com a forma de botulismo(Anexo 1).TratamentoO êxito da terapêutica <strong>do</strong> botulismo está diretamente relaciona<strong>do</strong> à precocidade comque é iniciada e às condições <strong>do</strong> local onde será realizada. O tratamento deve ser realiza<strong>do</strong>em unidade hospitalar que disponha de terapia intensiva (UTI). Observa-se significativaSecretaria de Vigilância em Saúde / MS175


Botulismoredução da letalidade quan<strong>do</strong> o paciente é trata<strong>do</strong> nessas unidades. Basicamente, o tratamentoda <strong>do</strong>ença apóia-se em <strong>do</strong>is conjuntos de ações: tratamento de suporte e tratamentoespecífico.Tratamento de suporteAs medidas gerais de suporte e monitorização cardiorrespiratória são as condutasmais importantes no tratamento <strong>do</strong> botulismo.A disfagia, regurgitação nasal, comprometimento <strong>do</strong>s movimentos da língua, palatoe, principalmente, da musculatura respiratória são sinais indicativos de gravidade e exigematenção re<strong>do</strong>brada e ação imediata para evitar broncoaspiração e insuficiência respiratória.Nesses casos, a assistência ventilatória é essencial para evitar o óbito, poden<strong>do</strong> ser necessáriapor quatro (toxina tipo B) a oito semanas (tipo A) ou mais se houver complicações.O tratamento de suporte baseia-se fundamentalmente nos seguintes procedimentos:• assistência ventilatória pode ser necessária para cerca de 30% a 50% <strong>do</strong>s casos. Parase indicar a entubação traqueal num paciente com botulismo, não é necessário esperarque a PCO 2esteja elevada ou que a saturação de O 2diminua, pois a espera detais sinais pode representar maior risco de instalação da insuficiência respiratória.Os critérios para indicação de entubação são essencialmente clínicos. Para indicá-la,pode-se basear em:❯ cuida<strong>do</strong>sa avaliação da capacidade <strong>do</strong> paciente em garantir a permeabilidadedas vias aéreas superiores. As paralisias podem causar asfixia e obstruçõesrespiratórias altas (observar a mobilidade da língua e <strong>do</strong> palato, disfonia edisfagia);❯ capacidade vital (aferida por espirômetro): em geral, a entubação é indicadaquan<strong>do</strong> a capacidade vital é menor que 12 ml/kg;• traqueostomia nem sempre é necessária, deven<strong>do</strong> ter sua indicação avaliada caso acaso;• lavagens gástricas, enemas e laxantes podem ser úteis nos casos de botulismo alimentarcom o objetivo de eliminar a toxina <strong>do</strong> aparelho digestivo, exceto naquelesem que houver íleo paralítico;• hidratação parenteral e reposição de eletrólitos, além de alimentação por meio desondas, devem ser mantidas até que a capacidade de deglutição seja recuperada.• outros procedimentos rotineiros em UTI também devem ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s.Nota: aminoglicosídeos e tetraciclinas podem piorar a evolução <strong>do</strong> botulismo, especialmenteem crianças, devi<strong>do</strong> à redução da entrada de cálcio no neurônio, potencializan<strong>do</strong>o bloqueio neuromuscular.Tratamento específicoVisa eliminar a toxina circulante e sua fonte de produção, o Clostridium botulinum,pelo uso <strong>do</strong> soro antibotulínico (SAB) e de antibióticos. Antes de iniciar o tratamento específico,todas as amostras clínicas para exames diagnósticos devem ser coletadas.176 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


BotulismoO soro antibotulínico atua contra a toxina circulante, que ainda não se fixou no sistemanervoso. Por isso, recomenda-se que o tratamento com SAB seja realiza<strong>do</strong> o mais precocementepossível (até sete dias); caso contrário, poderá não mais ser eficaz. Apresenta-se emforma de soro heterólogo, eqüino, geralmente em apresentação bi ou trivalente (contra ostipos A e B ou A, B e E de toxina botulínica). A <strong>do</strong>se é uma ampola de antitoxina botulínicabi ou trivalente por via intravenosa, diluída em solução fisiológica a 0,9%, na proporção de1:10, para infundir em aproximadamente uma hora.A solicitação <strong>do</strong> SAB para as unidades de tratamento deve ser feita pelo médico quediagnosticou o caso ou pelo pessoal de vigilância epidemiológica sempre que a mesma foracionada inicialmente. A liberação <strong>do</strong> soro estará condicionada ao preenchimento da fichade notificação <strong>do</strong> caso suspeito, com sua prescrição e relatório sucinto.A indicação da antitoxina deve ser criteriosa, pois não é isenta de riscos uma vez que9% a 20% das pessoas tratadas podem apresentar reações de hipersensibilidade. O testecutâneo de sensibilidade antes <strong>do</strong> uso de soros heterólogos foi excluí<strong>do</strong> da rotina, conformenormas <strong>do</strong> Programa Nacional de Imunização da Secretaria de Vigilância em Saúde <strong>do</strong>Ministério da Saúde (PNI/SVS/MS).Nos casos de botulismo por ferimento, recomenda-se o uso de penicilina cristalina na<strong>do</strong>se de 10 a 20 milhões de UI/dia, para adultos, e 300 mil UI/kg/dia, para crianças, em <strong>do</strong>sesfracionadas de 4/4 horas, via intravenosa, por 7 a 10 dias. O metronidazol também podeser utiliza<strong>do</strong> na <strong>do</strong>se de 2g/dia, para adultos, e 15mg/kg/dia, para crianças, via intravenosa,de 6/6 horas.O desbridamento cirúrgico deve ser realiza<strong>do</strong> nos casos de botulismo por ferimento,preferencialmente após o uso <strong>do</strong> SAB, mesmo quan<strong>do</strong> a ferida tem bom aspecto.No botulismo intestinal em menores de um ano de idade, acredita-se que a lise debactérias na luz intestinal, provocada pelo antibiótico, pode piorar a evolução da <strong>do</strong>ençapor aumento <strong>do</strong>s níveis de toxina circulante. Em adultos esse efeito não tem si<strong>do</strong> descritomas deve ser considera<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> a porta de entrada para a <strong>do</strong>ença for o trato digestivo. OSAB e a antibioticoterapia não estão indica<strong>do</strong>s para crianças menores de um ano de idadecom botulismo intestinal.No botulismo alimentar a indicação de antibióticos ainda não está bem estabelecida.6BPrognósticoUm tratamento de suporte meticuloso pode resultar em completa recuperação. A letalidade<strong>do</strong> botulismo diminui de forma considerável quan<strong>do</strong> a assistência médica <strong>do</strong>s pacientesé prestada em unidades de terapia intensiva. Mortes precoces geralmente resultamde falha em reconhecer a gravidade da <strong>do</strong>ença e retar<strong>do</strong> em iniciar a terapia. Quan<strong>do</strong> ocorremapós a segunda semana, resultam de complicações, como as associadas à ventilaçãoprolongada.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS177


BotulismoAspectos epidemiológicosA distribuição <strong>do</strong> botulismo é mundial, com casos esporádicos ou surtos familiares,em geral relaciona<strong>do</strong>s à produção e a conservação de alimentos de maneira inadequada.Raramente ocorrem surtos envolven<strong>do</strong> produtos processa<strong>do</strong>s comercialmente. Os casos debotulismo infantil têm si<strong>do</strong> notifica<strong>do</strong>s na Ásia, Austrália, Europa, América <strong>do</strong> Norte eAmérica <strong>do</strong> Sul. A incidência e a distribuição real não é precisa, porque os profissionais desaúde, em poucas ocasiões, suspeitam de botulismo. Ele pode ser responsável por 5% <strong>do</strong>scasos de morte súbita em lactentes.Vigilância epidemiológicaObjetivos• Detectar precocemente os casos, visan<strong>do</strong> promover a assistência adequada e reduzira morbidade e letalidade da <strong>do</strong>ença.• Caracterizar o surto por tempo, lugar e pessoa.• Identificar a fonte de contaminação e o mo<strong>do</strong> de transmissão.• Propor medidas de prevenção e controle, em tempo oportuno, para impedir a ocorrênciade novos casos.• Avaliar as medidas de controle implantadas.Definição de casoCaso suspeito de botulismo alimentar e botulismo por ferimentosIndivíduo que apresente paralisia flácida aguda, simétrica e descendente, com preservação<strong>do</strong> nível de consciência caracteriza<strong>do</strong> por um ou mais <strong>do</strong>s seguintes sinais e sintomas:visão turva, diplopia, ptose palpebral, boca seca, disartria, disfagia ou dispnéia.Nota: A exposição a alimentos potencialmente suspeitos para presença da toxinabotulínica nos últimos dez dias ou história de ferimentos nos últimos 21 dias reforça asuspeita.Caso suspeito de botulismo intestinal• Criança menor de um ano com paralisia flácida aguda de evolução insidiosa e progressivaque apresente um ou mais <strong>do</strong>s seguintes sintomas: constipação, sucção fraca,disfagia, choro fraco, dificuldade de controle <strong>do</strong>s movimentos da cabeça.• Adulto que apresente paralisia flácida aguda, simétrica e descendente, com preservação<strong>do</strong> nível de consciência caracteriza<strong>do</strong> por um ou mais <strong>do</strong>s seguintes sinaise sintomas: visão turva, diplopia, ptose palpebral, boca seca, disartria, disfagia oudispnéia na ausência de fontes prováveis de toxina botulínica, como alimentos contamina<strong>do</strong>s,ferimentos ou uso de drogas.178 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


BotulismoNota: A exposição a alimentos com risco para presença de esporo de C. botulinum (ex.mel, xaropes de milho) reforça a suspeita em menores de um ano.Caso confirma<strong>do</strong> por critério laboratorial• Caso suspeito no qual foi detectada toxina botulínica em amostra clínica e/ou noalimento efetivamente consumi<strong>do</strong>.• Caso suspeito no qual foi isola<strong>do</strong> o Clostridium botulinum produtor de toxinas, emfezes ou material obti<strong>do</strong> <strong>do</strong> ferimento.Caso confirma<strong>do</strong> por critério clínico-epidemiológicoCaso suspeito com vínculo epidemiológico com o caso confirma<strong>do</strong> e/ou história deconsumo de alimento com risco para a presença da toxina botulínica nos últimos dez diase/ou eletroneuromiografia compatível com botulismo e/ou ferimento em condições de anaerobiosenos últimos 21 dias.NotificaçãoO botulismo é <strong>do</strong>ença de notificação compulsória desde a publicação da Portaria MS nº1.943, de 18 de outubro de 2001. Devi<strong>do</strong> à gravidade da <strong>do</strong>ença e à possibilidade de ocorrênciade outros casos resultantes da ingestão da mesma fonte de alimentos contamina<strong>do</strong>s, umcaso é considera<strong>do</strong> surto e emergência de saúde pública. A suspeita de um caso de botulismoexige notificação e investigação imediatas à vigilância epidemiológica local. O técnico querecebeu a notificação deve, inicialmente, verificar a consistência das informações. Uma vezcaracterizada a suspeita de botulismo, comunicar imediatamente tal fato aos níveis hierárquicossuperiores e áreas envolvidas na investigação, inician<strong>do</strong> o planejamento das ações.6BPrimeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteO tratamento <strong>do</strong> paciente com botulismo deve ser realiza<strong>do</strong> em unidade hospitalar.As medidas gerais de suporte e monitorização cardiorrespiratória são as condutas maisimportantes no tratamento. A terapia de suporte deve ser instituída imediatamente, fican<strong>do</strong>a indicação <strong>do</strong> tratamento específico (administração de soro antibotulínico) condicionadaà avaliação médica.Qualidade da assistênciaO tratamento deve ser realiza<strong>do</strong> em unidade hospitalar que disponha de unidade deterapia intensiva (UTI). A partir <strong>do</strong> aprimoramento <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s com os pacientes críticos,observa-se significativa redução da letalidade.Proteção <strong>do</strong>s indivíduos para evitar novas exposiçõesNo caso de botulismo de transmissão alimentar, to<strong>do</strong>s os alimentos suspeitos de ocasionarcasos deverão:Secretaria de Vigilância em Saúde / MS179


Botulismo• deixar de ser consumi<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> recolhi<strong>do</strong>s imediatamente ou guarda<strong>do</strong>s sob refrigeração,na forma em que se encontram acondiciona<strong>do</strong>s, até a chegada <strong>do</strong> grupoencarrega<strong>do</strong> pela investigação;• ser preserva<strong>do</strong>s nas embalagens originais, quan<strong>do</strong> a suspeita estiver relacionada aprodutos industrializa<strong>do</strong>s.Confirmação diagnósticaColetar amostras clínicas de to<strong>do</strong> caso suspeito antes da administração <strong>do</strong> soro antibotulínico.Na suspeita de botulismo alimentar deve-se coletar to<strong>do</strong>s os alimentos suspeitos.A investigação epidemiológica orientará quais amostras deverão ser enviadas para análiselaboratorial.InvestigaçãoTo<strong>do</strong> caso suspeito de botulismo deve ser investiga<strong>do</strong> imediatamente, visan<strong>do</strong> impedira ocorrência de novos casos.Roteiro da investigação epidemiológicaA atividade de campo deve ser integrada entre vigilância epidemiológica, vigilânciasanitária, laboratório, assistência e outras áreas que se fizerem necessárias. A cooperaçãoe o intercâmbio de informações entre as áreas envolvidas são fatores essenciais para a boaqualidade da investigação.A coordenação da investigação deve, preferencialmente, ser delegada a um profissionalda vigilância epidemiológica, que terá a responsabilidade de informar e acionar os demaismembros da equipe.Os serviços devem estar organiza<strong>do</strong>s para providenciar imediatamente o meio detransporte, formulários e material para coleta de amostras, garantin<strong>do</strong> disponibilidade parao uso imediato, inclusive aos sába<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>mingos e feria<strong>do</strong>s.Identificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação epidemiológica relativos a da<strong>do</strong>sgerais, notificação individual e residência.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPara confirmar a suspeita diagnóstica• Preencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação epidemiológica de botulismo;• Observar, com atenção, se o caso notifica<strong>do</strong> enquadra-se na definição de caso debotulismo, a fim de evitar a notificação inadequada de casos;• Obter informações detalhadas <strong>do</strong> próprio paciente (quan<strong>do</strong> possível), <strong>do</strong>s familiares,da equipe médica e/ou <strong>do</strong> prontuário;• Investigar a história alimentar nos últimos dez dias (quan<strong>do</strong> possível) para identificaralimentos de risco;• Verificar a história prévia de ferimentos e uso de drogas injetáveis e inalatórias.180 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


BotulismoPara identificação e determinação da extensão da área de ocorrência de casos• Realizar busca ativa de casos, sobretu<strong>do</strong> de sintomatologia leve, entre aqueles queconsumiram os mesmos alimentos que os casos suspeitos, nas unidades de saúdeque atendem à população circunvizinha à residência <strong>do</strong>s casos e nos hospitais comunidade de terapia intensiva;• Informar a população acerca da ocorrência de casos suspeitos de botulismo e sintomassugestivos da <strong>do</strong>ença, para que procure imediatamente as unidades de saúde;• Quan<strong>do</strong> a fonte da contaminação for um alimento de larga distribuição, seja de origemindustrial ou artesanal, toda a área de distribuição <strong>do</strong> alimento suspeito deveráser rastreada no intuito de buscar novos casos suspeitos e interromper o consumo <strong>do</strong>alimento envolvi<strong>do</strong>.Coleta e remessa de material para exameAssegurar coleta oportuna, acondicionamento e transporte de amostras clínicas e/oubromatológicas e encaminhamento ao Laboratório Central de Saúde Pública. Ver mais detalhesno tópico Diagnóstico laboratorial.Análise de da<strong>do</strong>sApós a investigação individual de cada caso, deve-se avaliar os antecedentes epidemiológicose resulta<strong>do</strong>s laboratoriais para a classificação <strong>do</strong> botulismo segun<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> detransmissão e critério de confirmação. A identificação <strong>do</strong>s fatores de risco permite determinaras medidas de prevenção e controle específicas para o surto.Para surtos que envolvem maior número de pessoas, utilizar também os formulários emeto<strong>do</strong>logia de investigação de surtos de <strong>do</strong>enças transmitidas por alimentos.6BEncerramento de casosOs casos de botulismo devem ser encerra<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com os seguintes critérios:Critério laboratorial• Detecção de toxina botulínica em amostra clínica e/ou no alimento efetivamenteconsumi<strong>do</strong>.• Isolamento <strong>do</strong> Clostridium botulinum produtor de toxinas, em fezes ou material obti<strong>do</strong><strong>do</strong> ferimento.Critério clínico-epidemiológicoPresença de vínculo epidemiológico com o caso confirma<strong>do</strong> e/ou história de consumode alimento com risco para a presença da toxina botulínica nos últimos dez dias e/ou eletroneuromiografiacompatível com botulismo e/ou ferimento em condições de anaerobiosenos últimos 21 dias.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS181


BotulismoÓbitosIndivíduo que foi a óbito com quadro clínico compatível com botulismo, com confirmaçãoclínico-epidemiológica e/ou clínico-laboratorial.Relatório finalAlém da ficha de notificação, todas as informações obtidas durante a investigação deverãoser consolidadas em um relatório final com o seguinte conteú<strong>do</strong>: da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> caso (idade,sexo, ocupação, local de residência), data da notificação e investigação; data de início<strong>do</strong>s sintomas; perío<strong>do</strong> de incubação; curva epidêmica; história alimentar e outros fatores deexposição; sinais e sintomas; tratamento realiza<strong>do</strong>; amostras coletadas e exames realiza<strong>do</strong>s;resulta<strong>do</strong>s laboratoriais; fonte de transmissão; classificação final e evolução.Instrumentos disponíveis para controleAções de educação em saúdeOrientar a população sobre o preparo, conservação e consumo adequa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s alimentosassocia<strong>do</strong>s a risco de a<strong>do</strong>ecimento.Estratégias de prevençãoOrientar as medidas iniciais de prevenção e controle, de acor<strong>do</strong> com o mo<strong>do</strong> de transmissãoe resulta<strong>do</strong>s da investigação <strong>do</strong> caso.Nos casos de transmissão alimentar, deve-se eliminar a permanência da fonte atravésda interrupção <strong>do</strong> consumo, distribuição e comercialização <strong>do</strong>s alimentos suspeitos.ImunizaçãoA imunização, realizada com toxóide botulínico polivalente, é recomendada apenas apessoas com atividade na manipulação <strong>do</strong> microrganismo.182 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


BotulismoRoteiro de investigação epidemiológica <strong>do</strong> botulismoNotificação de casos suspeitosAtenção médica/ da<strong>do</strong>s clínicosInvestigaçãoColeta deamostras clínicasResulta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s examesColeta de da<strong>do</strong>s clínicos eepidemiológicos em conjuntocom a vigilância sanitáriaSuspeita de botulismopor ferimentosSuspeita debotulismo alimentarSuspeita debotulismo intestinal6BDiagnósticoExamesbromatológicosCasodescarta<strong>do</strong>Caso confirma<strong>do</strong>clínico-epidemiológicoou clínico-laboratorialDeterminar aextensão da áreade ocorrênciaNúcleo familiarOcorrência disseminadaAções de controlee de intervenção davigilância sanitáriaSecretaria de Vigilância em Saúde / MS183


BotulismoAnexo 1Normas para procedimentos laboratoriais1. Amostras clínicas oportunas e deinteresse para o diagnóstico laboratorialA coleta de amostras clínicas (soro, lava<strong>do</strong> gástrico, fezes/conteú<strong>do</strong> intestinal, exsudatode ferimento) deve ser realizada o mais precocemente possível e anteceder a administração<strong>do</strong> soro antibotulínico (SAB), para evitar que a toxina ativa seja neutralizada antesda coleta. A coleta tardia pode impedir a detecção de toxina, pois esta vai sen<strong>do</strong> absorvidapelos teci<strong>do</strong>s em função <strong>do</strong> tempo.A seleção de amostras varia de acor<strong>do</strong> com o mo<strong>do</strong> de transmissão <strong>do</strong> botulismo(Quadro 1). O momento e quantidade de material necessário para o diagnóstico laboratorialestão especifica<strong>do</strong>s no Quadro 2.Quadro 1. Tipo de amostras para o diagnóstico laboratorial de acor<strong>do</strong> como mo<strong>do</strong> de transmissãoAmostrasBotulismoalimentarBotulismointestinalBotulismopor ferimentoPara detecção de toxina botulínicaSoroSimSimSimFezes ou conteú<strong>do</strong> intestinalSimSimNão*Lava<strong>do</strong> gástricoSimNãoNão*Exsudato <strong>do</strong> ferimentoNãoNãoSimPara cultura <strong>do</strong>Clostridium botulinumSoroNãoNãoNãoFezes ou conteú<strong>do</strong> intestinalNãoSimNão*Lava<strong>do</strong> gástricoNãoNãoNão*Exsudato <strong>do</strong> ferimentoNãoNão 1Sim*Se houver suspeita ou possibilidade <strong>do</strong> ferimento estar localiza<strong>do</strong> no trato gastrointestinal, incluir acoleta destas amostras.Obs.: com exceção das amostras de soro, as demais também podem ser usadas para cultura <strong>do</strong>Clostridium botulinum.184 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


BotulismoQuadro 2. Perío<strong>do</strong> máximo de tempo, após o início <strong>do</strong>s sintomas, para acoleta oportuna de amostras clínicas e quantidade mínima necessária parao diagnóstico de laboratórioAmostras Perío<strong>do</strong> máximo para coleta TotalSoro 8 dias 11mlFezes/conteú<strong>do</strong> intestinalCom diarréia inicialCom constipação intestinalSem alteração <strong>do</strong> trânsito intestinal3 dias6 dias4 dias15g15g15gLava<strong>do</strong> gástrico/vômito 3 dias 15gObs.: sempre que possível, coletar as amostras em quantidades superiores às indicadas para o diagnósticoespecífico.62. Amostras bromatológicas de interesse paradiagnóstico laboratorial de botulismo alimentarBPrioritárias e oportunas• Quan<strong>do</strong> há suspeita de botulismo alimentar as amostras bromatológicas devem sercoletadas e enviadas o mais precocemente possível ao laboratório central de saúdepública;• Coletar todas as sobras e restos <strong>do</strong>s produtos efetivamente consumi<strong>do</strong>s;• Evitar a transferência das sobras ou restos (ou ambos) para outro recipiente, mesmoque se encontre em condições precárias de integridade física ou de presença desujidades. Caso não existam sobras ou restos, coletar o recipiente vazio que as continhamoriginalmente;• Nas amostras bromatológicas é comum encontrar formas esporuladas <strong>do</strong> Clostridiumbotulinum, em especial no mel. É importante salientar que neste alimento, devi<strong>do</strong>ao alto conteú<strong>do</strong> de açúcar e baixa atividade de água, o esporo não tem condiçõesde germinar e, portanto, não há produção de toxina.ComplementaresNa ausência absoluta de amostras de alimentos não consumi<strong>do</strong>s, coletar outras quepertençam ao mesmo lote (amostras industrializadas) ou que tenham si<strong>do</strong> produzidas nomesmo local e data e pela mesma pessoa ou grupo de pessoas (amostras artesanais ou <strong>do</strong>mésticas).Secretaria de Vigilância em Saúde / MS185


Botulismo3. Cuida<strong>do</strong>s básicos para o acondicionamento e transportede amostras clínicas e bromatológicas para o laboratório• Coletar as amostras com assepsia e em condições de segurança para o técnico responsável.• Acondicionar as amostras em recipientes limpos, de preferência esteriliza<strong>do</strong>s e hermeticamentefecha<strong>do</strong>s. Caso seja amostra de alimento contida em uma embalagem,não transferir para outro recipiente, coletar to<strong>do</strong> o conjunto.• Quan<strong>do</strong> a amostra estiver contida em frascos de vidro ou similares que podem quebrardurante o transporte, protegê-los com auxílio de algodão, tiras plásticas combolhas de ar, caixas de papelão próprias para o envio de pequenas amostras ou outrodispositivo. Vedar ou tampar o recipiente que contém a amostra, garantin<strong>do</strong> que nãoocorrerá vazamento <strong>do</strong> produto.• Conservar e transportar as amostras sob refrigeração a 4ºC-8ºC, pois a toxina botulínicaé termolábil, poden<strong>do</strong> ser inativada em temperaturas acima da ambiental.Importante: a única exceção cabe aos casos de botulismo por ferimento, cujas amostrasdevem ser enviadas em temperatura ambiente. O tempo de transporte não deveultrapassar 48h.• Todas as amostras devem ser enviadas ao laboratório identificadas com os seguintesda<strong>do</strong>s: nome <strong>do</strong> paciente, tipo de amostra (soro, fezes, alimento, etc.) e finalidade<strong>do</strong> exame (determinação de toxina botulínica, cultura). Cada amostra deve ter umformulário de encaminhamento, determina<strong>do</strong> por cada laboratório central de saúdepública.• O laboratório deve ser avisa<strong>do</strong> <strong>do</strong> envio da amostra, que deverá ser recebida de imediato,inspecionada e armazenada de forma adequada até o seu encaminhamentopara o laboratório de referência de botulismo.186 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


CóleraCÓLERACID 10: A00Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoDoença infecciosa intestinal aguda, causada pela enterotoxina <strong>do</strong> Vibrio cholerae. Podese apresentar de forma grave, com diarréia aquosa e profusa, com ou sem vômitos, <strong>do</strong>rab<strong>do</strong>minal e cãibras. Esse quadro, quan<strong>do</strong> não trata<strong>do</strong> prontamente, pode evoluir para desidratação,aci<strong>do</strong>se e colapso circulatório, com choque hipovolêmico e insuficiência renal.Entretanto, freqüentemente a infecção é assintomática ou oligossintomática, com diarréialeve. A acloridria gástrica agrava o quadro clínico da <strong>do</strong>ença. A infecção produz aumentode anticorpos e confere imunidade por tempo limita<strong>do</strong> (em torno de seis meses).6Agente etiológicoO Vibrio cholerae O1, biotipo clássico, ou El Tor (sorotipos Inaba, Ogawa ou Hikogima)e o O139, também conheci<strong>do</strong> como Bengal. Bacilo gram-negativo, com flagelo polar,aeróbio ou anaeróbio facultativo, produtor de en<strong>do</strong>toxina.Acreditava-se que entre to<strong>do</strong>s os sorogrupos conheci<strong>do</strong>s apenas o O1 era patogênico.Em março de 1993, contu<strong>do</strong>, o Vibrio cholerae O139 foi identifica<strong>do</strong> como responsável poruma epidemia no sul da Ásia. Sorogrupos não O1 <strong>do</strong> Vibrio cholerae já foram identifica<strong>do</strong>sem to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, saben<strong>do</strong>-se que podem ocasionar patologias extra-intestinais oudiarréias com desidratação severa semelhante à cólera. No entanto, só estavam associa<strong>do</strong>sa casos isola<strong>do</strong>s ou surtos muito limita<strong>do</strong>s. O Vibrio cholerae O139 foi o primeiro Vibriocholerae não O1 identifica<strong>do</strong> como responsável por grande epidemia, com considerávelmortalidade. As enterotoxinas elaboradas são similares para o grupo e ocasionam quadrosclínicos muito semelhantes. A resistência <strong>do</strong> biotipo El Tor é maior, o que lhe dá condiçõesde sobreviver por mais tempo no meio ambiente. Multiplica-se melhor e mais rápi<strong>do</strong> emmeios de cultura, além de apresentar menor susceptibilidade aos agentes químicos e maiortendência à endemização.CReservatórioO principal é o homem. Estu<strong>do</strong>s sugerem a existência de reservatórios ambientais,como plantas aquáticas e frutos <strong>do</strong> mar. Nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, Itália e Austrália alguns surtosisola<strong>do</strong>s foram relaciona<strong>do</strong>s ao consumo de frutos <strong>do</strong> mar crus ou mal cozi<strong>do</strong>s, sugerin<strong>do</strong>a existência de reservatórios ambientais.Mo<strong>do</strong> de transmissãoOcorre principalmente pela ingestão de água ou alimentos contamina<strong>do</strong>s por fezes ouvômitos de <strong>do</strong>ente ou porta<strong>do</strong>r. Os alimentos e utensílios podem ser contamina<strong>do</strong>s pelaSecretaria de Vigilância em Saúde / MS187


Cóleraágua, pelo manuseio ou por moscas. A elevada ocorrência de assintomáticos (porta<strong>do</strong>rsadio), em relação aos <strong>do</strong>entes, torna importante seu papel na cadeia de transmissão da<strong>do</strong>ença. A contaminação pessoa a pessoa é também importante na cadeia epidemiológica.A variedade El Tor persiste na água por muito tempo, o que aumenta sua probabilidadede manter a transmissão e circulação. Alguns autores demonstraram, para a produção deinfecção, a necessidade de inóculo igual ou maior que 10 3 vibriões em alimentos e maior <strong>do</strong>que 10 6 na água.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoPode variar de algumas horas a 5 dias. Na maioria <strong>do</strong>s casos, de 2 a 3 dias.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeOcorre enquanto houver a eliminação <strong>do</strong> Vibrio cholerae nas fezes, o que geralmenteacontece até poucos dias após a cura. Para fins de vigilância, o padrão aceito é de 20 dias.Alguns indivíduos podem permanecer porta<strong>do</strong>res sadios por meses ou até anos, o que osreveste de particular importância porque podem ser responsáveis pela introdução da <strong>do</strong>ençaem área indene.Alguns <strong>do</strong>entes tornam-se porta<strong>do</strong>res crônicos, eliminan<strong>do</strong> o Vibrio cholerae de formaintermitente por meses e até anos.Susceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade é variável e aumenta com fatores que diminuem a acidez gástrica(acloridria, gastrectomia, uso de alcalinizantes e outros). A infecção produz aumento deanticorpos e confere imunidade por tempo limita<strong>do</strong> – em torno de seis meses. Em áreasendêmicas, as repetidas infecções tendem a incrementar a produção da IgA secretora eproduzir constantes estímulos à resposta imunológica, capaz de manter a imunidade localde longa duração. Esse mecanismo pode explicar a resistência demonstrada pelos adultosnessas áreas.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasDoença infecciosa intestinal aguda, causada pela enterotoxina <strong>do</strong> Vibrio cholerae, manifesta-sede forma variada, desde infecções inaparentes até diarréia profusa e grave. Além dadiarréia, podem ocorrer vômitos, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal e, nas formas graves, cãibras, desidrataçãoe choque. A febre não é manifestação comum. Nos casos graves mais típicos (menos de 10%<strong>do</strong> total) o início é súbito, com diarréia aquosa, abundante e incoercível, com inúmeras dejeçõesdiárias. A diarréia e os vômitos, nesses casos, determinam uma extraordinária perdade líqui<strong>do</strong>s, que pode ser da ordem de 1 a 2 litros por hora. Esse quadro, quan<strong>do</strong> não trata<strong>do</strong>188 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Cóleraprontamente, pode evoluir para desidratação, aci<strong>do</strong>se, colapso circulatório, com choque hipovolêmicoe insuficiência renal. Mais freqüentemente, a infecção é assintomática ou oligossintomática,com diarréia leve. A acloridria gástrica agrava o quadro clínico da <strong>do</strong>ença.ComplicaçõesAs complicações na cólera decorrem, fundamentalmente, da depleção hidrosalinaimposta pela diarréia e pelos vômitos e ocorrem mais freqüentemente nos indivíduos i<strong>do</strong>sos,diabéticos ou com patologia cardíaca prévia. A desidratação não corrigida levará auma deterioração progressiva da circulação, da função renal e <strong>do</strong> balanço hidreletrolítico,produzin<strong>do</strong> dano a to<strong>do</strong>s os sistemas <strong>do</strong> organismo. Em conseqüência, sobrevém choquehipovolêmico, necrose tubular renal, íleo paralítico, hipocalemia (levan<strong>do</strong> a arritmias), hipoglicemia(com convulsão e coma em crianças). O aborto é comum no 3º trimestre degestação, em casos de choque hipovolêmico. As complicações podem ser evitadas com adequadahidratação precoce.6Diagnóstico diferencialCom todas as diarréias agudas.Diagnóstico laboratorialO Vibrio cholerae pode ser isola<strong>do</strong> a partir da cultura de amostras de fezes de <strong>do</strong>entesou porta<strong>do</strong>res assintomáticos. A coleta <strong>do</strong> material pode ser feita por swab retal ou fecal,fezes in natura ou em papel de filtro. O méto<strong>do</strong> de coleta de amostras biológicas pode servisto no Anexo I. O diagnóstico laboratorial da cólera só deve ser utiliza<strong>do</strong> para a investigaçãode to<strong>do</strong>s os casos suspeitos quan<strong>do</strong> a área for considerada livre de circulação <strong>do</strong> agente.Em outra situação, deverá ser utiliza<strong>do</strong> em conjunto com o critério clínico-epidemiológico,que correlaciona as variáveis clínicas e epidemiológicas <strong>do</strong>s casos de diarréia, sen<strong>do</strong> capazde definir o diagnóstico, sem investigação laboratorial.CTratamentoO tratamento fundamenta-se na reposição rápida e completa da água e eletrólitos perdi<strong>do</strong>spelas fezes e vômitos. Os líqui<strong>do</strong>s deverão ser administra<strong>do</strong>s por via oral ou parenteral,conforme o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> paciente.Formas leves e moderadas – hidratação oral com soro de reidratação oral (SRO).Formas graves – hidratação venosa e oral + antibioticoterapia.Antibioticoterapia – Drogas de escolha e posologiaMenores de 8 anos Sulfametoxasol (50mg/kg/dia) + Trimetroprim (10mg/kg/dia) 12/12h – 3 dias8 anos ou mais Tetraciclina 500mg 6/6h – 3 diasGestantes e nutrizes Ampicilina 500mg 6/6h – 3 diasFonte: Manual Integra<strong>do</strong> de Prevenção e Controle de Cólera – CNPC/Funasa/MSSecretaria de Vigilância em Saúde / MS189


CóleraManejo <strong>do</strong> paciente com diarréiaPrimeiro avalie o esta<strong>do</strong> de hidratação <strong>do</strong> seu pacienteA B C1. ObserveEsta<strong>do</strong> geralOlhosLágrimasSedeBem alertaNormalPresentesBebe normalIrrita<strong>do</strong>, intranqüiloFun<strong>do</strong>sAusentesSedento, bebe rápi<strong>do</strong> e avidamenteComatoso, hipotônicoMuito fun<strong>do</strong>s e secosAusentesBebe mal ou não é capaz de beber2. ExploreSinal dapregaPulsoEnchimentocapilar (1)Desaparece rapidamenteCheioNormal (até 3 seg.)Desaparece lentamenteRápi<strong>do</strong>, débilPrejudica<strong>do</strong> (de 3 a 5 seg.)Desaparece muito lentamente (mais de 2 seg.)Muito débil ou ausenteMuito prejudica<strong>do</strong> (mais de 5 seg.)3. DecidaNão tem sinais dedesidrataçãoSe apresenta <strong>do</strong>is ou mais sinais,tem desidrataçãoSe apresenta <strong>do</strong>is ou mais sinais, incluin<strong>do</strong>pelo menos um “sinal”, tem desidratação grave4. Trate Use Plano AUse Plano BPese o paciente se possívelUse Plano CPese o pacientePlano APara prevenir a desidratação no <strong>do</strong>micílioPlano BPara tratar a desidratação por via oralPlano CPara tratar a desidratação graveExplique as três regras para o manejoadequa<strong>do</strong> da diarréia no <strong>do</strong>micílio:1. Dar mais líqui<strong>do</strong> <strong>do</strong> que habitualmente,para prevenir a desidratação:• O paciente deve tomar líqui<strong>do</strong>scaseiros (água de arroz, soro caseiro,chás, sucos e sopas) ou sais de reidratação• Oral (SRO), após cada evacuaçãodiarréica2. Manter a alimentação habitualpara prevenir a desnutrição:• Continuar o aleitamento materno• Se a criança não mamar, continuarcom leite habitual• Manter a dieta normal para ascrianças maiores de 4 meses, quecomem alimentos sóli<strong>do</strong>s, e tambémpara os adultos1. Administrar SROQuantidade aproximada de SRO para asprimeiras 4 horas:• A quantidade de solução ingeridadependerá da sede <strong>do</strong> paciente• O SRO deverá ser da<strong>do</strong> continuamente,até que desapareçam ossinais de desidratação• Apenas como orientação inicial, opaciente deverá receber 50 a 100ml/kgno perío<strong>do</strong> de 4 a 6 horas2. Observar o paciente continua mentedurante a reidratação e ajudar a famíliaa dar soro oral3. Durante a reidratação, reavaliar opaciente. Usar o “quadro para avaliação<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de hidratação <strong>do</strong> paciente”:• Se não apresentar sinais de desidratação,use o Plano A• Se continuar desidrata<strong>do</strong>, repetir oPlano B por mais 2 horas e reavaliar opacienteTratamento para pacientes menores de 5 anosFase rápidaSolução (1:1)Metade de soroglicosa<strong>do</strong> a 5%e metade desoro fisiológicoVolumetotalTempo deadministração100ml/kg 2 horasAvaliar o paciente continuamente, assim quepuder beber, iniciar o SRO, manten<strong>do</strong> a hidrataçãopor via venosa.Fase de manutenção e reposiçãoVolume paramanutenção(SG a 5%) 4:1 (SF)100ml/kg/24 horas+ +Volume parareposição(SG a 5%) 1:1 (SF)50ml/kg/24 horas+ +KCL a 10% 2ml/100mlA seguir, identificar outros problemasPerguntar se tem sangue nas fezesEm caso positivo e com comprometimento <strong>do</strong>esta<strong>do</strong> geral:• Tratar o paciente durante 5 dias com Sulfametoxasol(SMX) com Trimetropim (TPM); crianças:50mg SMX/kg de peso dividi<strong>do</strong> em duas <strong>do</strong>ses,a cada 12 horasAdultos: 800mg de SMX a cada 12 horas• Ensinar ao responsável pelo paciente comoadministrar líqui<strong>do</strong>s e manter a alimentaçãodescrita no Plano A• Controlar o paciente após 2 dias• Se houver sangue nas fezes, após 2 dias de tratamentocom SMX, troque a medicação para áci<strong>do</strong>nalidixico:Crianças: 60mg/kg/dia a cada 6 horas durante 5 diasAdultos: 1g, a cada 8 horas, durante 5 dias• Em áreas endêmicas de amebíase, se persistirsangue nas fezes após o tratamento acima, substituira medicação para MetronidazolCrianças: 30mg/kg dia dividi<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>ses a cada8 horas, durante 5 diasAdultos: 750mg a cada 8 horas, durante 5 dias(para os casos mais graves, continuar o tratamentoaté completar 10 dias)Perguntar quan<strong>do</strong> começou a diarréiaQuan<strong>do</strong> tiver pelo menos 14 dias de evolução:• Referir o paciente ao hospital:- Se é menor de seis meses- Se apresentar desidratação, neste caso hidrate-oprimeiro e, em seguida, refira-o ao hospital• Quan<strong>do</strong> não tiver condições de referência, ensinarao responsável como administrar os líqui<strong>do</strong>se continuar alimentan<strong>do</strong> o paciente conforme oPlano A• Garantir a ingestão calórica dan<strong>do</strong>, se possível,seis refeições ao dia• Marcar a volta <strong>do</strong> paciente após 5 dias:Se continuar a diarréia, mande-o a um serviço desaúdeSe a diarréia parou, oriente ao responsável para:continuar com a alimentação habitual e dar umarefeição adicional ao dia, até que o paciente recupereo esta<strong>do</strong> nutricional190 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Cólera6C3. Se o paciente não melhorar em <strong>do</strong>is diasou se apresentar qualquer um <strong>do</strong>s sinaisabaixo, leva-lo ao serviço de saúde:Sinais de perigo• Piora da diarréia• Recusa de alimentos• Vômitos repeti<strong>do</strong>s• Febre• Muita sede• Sangue nas fezesOs pacientes devem receber soro oral (SRO)no <strong>do</strong>micílio se:• Se o paciente evoluirpara desi dratação comchoque, passar para oPlano C4. Aproveitar a permanência<strong>do</strong> paciente ou acompanhanteno serviço desaúde para ensinar a:• Reconhecer os sinais dedesidratação• Preparar e administraro SRO• Praticar medidas de higienepessoal e <strong>do</strong>miciliar•Estiverem desidrata<strong>do</strong>s e receberem alta•Não puderem voltar ao serviço de saúde•Vierem de áreas afetadas por cóleraIdadeMenoresde 1 anoQuantidade de(SRO) que deveingerir após cadaevacuação diarréica50 – 100ml1 – 10 anos 100 – 200mlTratamento para pacientes maiores de 5 anosFase rápidaTempo deadministraçãoVolumeTotalSolução1º Soro fisiológico 30ml/kg 30 minutos2 horas e30 minutos70ml/kg2º Ringer lactatoou solução polieletrolíticaAvaliar o paciente continuamente. Se não estivermelhoran<strong>do</strong>, aumentar a velocidade de infusãoFase de manutenção• Quan<strong>do</strong> o paciente puder beber (geralmente em2 a 3 horas), iniciar o SRO manten<strong>do</strong>-se a hidrataçãopor via en<strong>do</strong>venosa com 20ml/kg/dia• Observar o paciente durante, pelo menos, 6horas• Retirar a via en<strong>do</strong>venosa somente quan<strong>do</strong> opaciente puder ingerir o SRO suficiente para manter-sehidrata<strong>do</strong>• A quantidade de SRO necessária varia de umpaciente para outro, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> volume dasevacuações• Lembrar que a quantidade de SRO a ser ingeridaé maior nas primeiras 24 horas <strong>do</strong> tratamento, especialmentenos pacientes com desidratação grave• Como orientação, considerar a quantidade médiade SRO necessária para estes pacientes, entre 250-500ml (SRO/kg de peso/24horas)Quantidadede (SRO)para levar ao<strong>do</strong>micílio1 envelopepor dia2 envelopespor diaOs pacientes desidrata<strong>do</strong>sdeverão permanecerna unidade de saúde atéa completa reidratação.Os pacientes desidrata<strong>do</strong>s deverão permanecerno serviço de saúde até que não haja risco deretorno da desidrataçãoMaioresde 10 anosTu<strong>do</strong> o que quiser4 envelopespor diaFonte: Adapta<strong>do</strong> <strong>do</strong> cartaz Manejo <strong>do</strong> Paciente com Diarréia, <strong>do</strong> Ministério da SaúdeObservar se tem desnutrição graveSe a criança tiver desnutrição grave (utilizar paradiagnóstico o Cartão da Criança).• Em caso de desnutrição, iniciar a reidratação eapós encaminhar a um serviço de saúde.• Entregar ao responsável• Marcar a volta <strong>do</strong> paciente após 5 dias:Se continuar a diarréia, mande-o a um serviçode saúde;Se a diarréia parou, orientar o responsável paracontinuar com a alimentação habitual e dar umarefeição adicional ao dia, até que o pacienterecupere o esta<strong>do</strong> nutricionalVerificar temperaturaSe a temperatura for de 39°C ou mais:• Investigar outras causas além da diarréia, porexemplo, pneumonia, otite, amigdalite, faringite,infecção urinária, malária em áreas endêmicas etratar apropriadamente conforme as normasUso de medicamento em crianças com diarréia• Antibióticos devem ser usa<strong>do</strong>s somente paracasos de diarréia com sangue (desinteria) ecomprometimento <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> geral, ou em casosde cólera graveEm outras condições são ineficazes e não devemser prescritos• Antiparasitários devem ser usa<strong>do</strong>s somentepara:- Amebíase, quan<strong>do</strong> o tratamento da desinteriapor Shiguella fracassou, ou em casos que se identificaramnas fezes trofozoítos de E. histo liticaengloban<strong>do</strong> hemácias- Giardíase, quan<strong>do</strong> a diarréia durar 14 dias oumais e forem identifica<strong>do</strong>s cistos ou trofozoítosnas fezes ou aspira<strong>do</strong> intestinalAntidiarréicos e antieméticos nuncadevem ser usa<strong>do</strong>sSecretaria de Vigilância em Saúde / MS191


CóleraA observação <strong>do</strong>s sinais e sintomas é fundamental para classificar o paciente quantoao seu esta<strong>do</strong> de hidratação no decorrer da diarréia de qualquer etiologia, inclusive a causadapela cólera, com a finalidade de identificar o grau de desidratação e decidir o plano dereposição. O paciente que inicia seu tratamento com reposição venosa, devi<strong>do</strong> à gravidadeda desidratação, ao passar para a hidratação oral deve ficar sob constante avaliação clínica,consideran<strong>do</strong>, inclusive, a possibilidade de seu retorno à reidratação en<strong>do</strong>venosa.A hospitalização prolongada é desnecessária e deve ser evitada. Os pacientes em reidrataçãooral podem receber alta desde que a ingesta seja suficiente para repor as perdas.No momento da alta, os pacientes devem ser provi<strong>do</strong>s com <strong>do</strong>is ou mais envelopes de SROe devidamente instruí<strong>do</strong>s com pertinência ao seu preparo e uso, alimentação adequada eingestão de líqui<strong>do</strong>s.A experiência demonstra que alguns pacientes que não apresentavam sinais e sintomasde desidratação no momento da primeira avaliação, mas mesmo com históriade diarréia aquosa e abundante eram libera<strong>do</strong>s para o <strong>do</strong>micílio após receberem osenvelopes de SRO, retornavam ao serviço após 3 a 4 horas apresentan<strong>do</strong> desidrataçãograve. Assim, deve-se iniciar a administração da solução de SRO na própria unidadede saúde, por um perío<strong>do</strong> mínimo de 4 horas antes da liberação. Esses casos devemser avalia<strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>samente, tanto na história clínica quanto no exame físico.Aspectos epidemiológicosAté 1991, o Brasil era uma área indene para cólera. A epidemia que atingiu o país, apartir daquele ano, faz parte da progressão da sétima pandemia iniciada em 1961, com umfoco epidêmico em Sulawesi, ex-Célebes (In<strong>do</strong>nésia), que se espalhou por países da Ásia,Oriente Médio, África e regiões da Europa, com eventuais acha<strong>do</strong>s nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,desde a década de 1970. O biotipo El Tor, isola<strong>do</strong> por Gotschlich, em 1906, advin<strong>do</strong> de peregrinosprovenientes de Meca, examina<strong>do</strong>s na estação de quarentena de El Tor, no Egito, éo responsável pela atual pandemia de cólera. Essa pandemia atingiu o continente sul-americanopelo litoral <strong>do</strong> Peru, em janeiro de 1991, estenden<strong>do</strong>-se, em seguida, por to<strong>do</strong> aquelepaís e para o Brasil, atingin<strong>do</strong> finalmente 14 países da América <strong>do</strong> Sul.Esta <strong>do</strong>ença, apesar de to<strong>do</strong> o conhecimento acumula<strong>do</strong>, continua impon<strong>do</strong> desafiosnão apenas em função das características de seu agente mas, principalmente, pela vulnerabilidadede grande parcela da população mundial, sobreviven<strong>do</strong> em condições de pobrezaextrema.A introdução da cólera em nosso país aconteceu pela selva amazônica, no Alto Solimões.A partir daí, alastrou-se progressivamente pela região Norte, seguin<strong>do</strong> o curso <strong>do</strong> rioSolimões/Amazonas e seus afluentes, principal via de deslocamento de pessoas na região.Posteriormente, atingiu as regiões Nordeste e Sudeste, através <strong>do</strong>s principais eixos ro<strong>do</strong>viá-192 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Cólerarios. Sua chegada em áreas indenes e com precárias condições de vida teve quase sempre característicasexplosivas. Desde então, passou-se a observar uma alternância de perío<strong>do</strong>s desilêncio epidemiológico e recrudescimento da epidemia. Atualmente, o comportamento dacólera sugere um padrão endêmico, defini<strong>do</strong> pela ocorrência regular de casos e flutuaçõescíclicas de maior ou menor gravidade, na dependência de condições locais que favoreçama circulação <strong>do</strong> Vibrio cholerae.O registro de casos é maior nos perío<strong>do</strong>s mais secos <strong>do</strong> ano, quan<strong>do</strong> a baixa <strong>do</strong> volumede água nos reservatórios e mananciais proporciona a concentração de vibriões. Emalgumas áreas, as condições socioeconômicas e ambientais favorecem a instalação e rápidadisseminação <strong>do</strong> Vibrio cholerae. Assim, a deficiência <strong>do</strong> abastecimento de água tratada,destino inadequa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s dejetos, alta densidade populacional e carências de habitação, higiene,alimentação e educação favorecem a ocorrência da <strong>do</strong>ença.Nas áreas epidêmicas, o grupo etário mais atingi<strong>do</strong> é o de maiores de 15 anos. Nasáreas endêmicas, a faixa mais jovem. A incidência pre<strong>do</strong>mina no sexo masculino, por maiorexposição à contaminação ambiental. Os indica<strong>do</strong>res de morbidade, mortalidade e letalidadesão diferencia<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com as condições socioeconômicas, densidade populacional,meios de transporte, acesso aos serviços de saúde e outras situações de risco.Desde a sua introdução no país, em 1991, os coeficientes de incidência de cóleraaumentaram progressivamente até 1993, ano em que apresentou o maior valor (39,8 casos/100mil habitantes), com 670 óbitos e letalidade de 1,11%. A partir de então, observousesensível redução <strong>do</strong> risco, principalmente após 1995, sugerin<strong>do</strong> a tendência de endemizaçãoda <strong>do</strong>ença. No perío<strong>do</strong> de 1991 a 2001 atingiu todas as regiões <strong>do</strong> país, produzin<strong>do</strong>um total de 168.598 casos e 2.035 óbitos, com registro de grandes epidemias na regiãoNordeste.Apesar da intensidade com que a <strong>do</strong>ença atingiu principalmente a região Nordeste,entre os anos de 1992 a 1994, os esforços <strong>do</strong> sistema de saúde conseguiram reduzir drasticamenteesses valores a partir de 1995, com o registro, em 2001, de somente sete casosconfirma<strong>do</strong>s (quatro no Ceará e um em Pernambuco, Alagoas e Sergipe). Em 2002 e 2003não foram detecta<strong>do</strong>s casos confirma<strong>do</strong>s. Em 2004 a cólera recrudesceu no país, com aconfirmação de 21 casos no agreste de Pernambuco, em abril (Figura 1).A taxa de letalidade, em casos graves de cólera sem tratamento adequa<strong>do</strong>, pode atingir50%; porém, quan<strong>do</strong> este é instituí<strong>do</strong> correta e precocemente, pode cair para menos de 2%.No perío<strong>do</strong> de 1991 a 2004 a letalidade oscilou em torno de 1,3%, apresentan<strong>do</strong> maiorespercentuais desde então. Este aumento observa<strong>do</strong>, no entanto, não parece estar liga<strong>do</strong> auma deterioração <strong>do</strong> atendimento ao paciente, mas a uma subnotificação importante decasos (Figura 1).Nesta fase atual, em que a cólera encontra-se sob controle no país, é importante intensificarestu<strong>do</strong>s que permitam a precoce detecção da presença <strong>do</strong> Vibrio cholerae O1 toxigênico,bem como avaliar as características genéticas das cepas eventualmente encontradas.Para alcançar tal objetivo faz-se importante realizar o mapeamento e pesquisa de ambientesreconhecidamente favoráveis à sobrevivência <strong>do</strong> agente, além <strong>do</strong> aprofundamento de estu<strong>do</strong>sacerca <strong>do</strong> comportamento <strong>do</strong> agente frente a alterações ambientais.6CSecretaria de Vigilância em Saúde / MS193


CóleraO envolvimento das equipes técnicas de vigilância epidemiológica e ambiental <strong>do</strong>s trêsníveis de governo é vital para o desenvolvimento das atividades de prevenção e controle,com a realização da investigação de casos suspeitos, envolven<strong>do</strong> a coleta de amostras clínicase da água e <strong>do</strong> meio ambiente, principalmente nos mananciais que abastecem os sistemasde captação da água para consumo humano. A monitorização das <strong>do</strong>enças diarréicasagudas (MDDA) representa a mais importante estratégia para a detecção precoce de casosde cólera. A manutenção <strong>do</strong> sistema de vigilância epidemiológica integra<strong>do</strong> e o fortalecimento<strong>do</strong> sistema de vigilância de controle da qualidade da água para consumo humanosão as principais ações para garantir que a <strong>do</strong>ença se mantenha sob controle no país.Vigilância epidemiológicaObjetivos• Reduzir a incidência e a letalidade.• Impedir ou dificultar a propagação da <strong>do</strong>ença.• Controlar surtos.Definição de casoSuspeitoEm áreas sem evidência de circulação <strong>do</strong> V. cholerae patogênico (sorogrupos O1 eO139):• qualquer indivíduo, independente de faixa etária, proveniente de áreas com ocorrênciade casos de cólera, que apresente diarréia aquosa aguda até o décimo dia desua chegada (tempo correspondente a duas vezes o perío<strong>do</strong> máximo de incubaçãoda <strong>do</strong>ença);• comunicantes <strong>do</strong>miciliares de caso suspeito, defini<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com o item anterior,que apresentem diarréia;• qualquer indivíduo com diarréia, independente de faixa etária, que coabite com pessoasque retornaram de áreas endêmicas ou epidêmicas há menos de 30 dias (tempocorrespondente ao perío<strong>do</strong> de transmissibilidade <strong>do</strong> porta<strong>do</strong>r soma<strong>do</strong> ao <strong>do</strong>bro <strong>do</strong>perío<strong>do</strong> de incubação da <strong>do</strong>ença);• to<strong>do</strong> indivíduo com mais de 10 anos de idade que apresente diarréia súbita, líquida eabundante. A presença de desidratação rápida, aci<strong>do</strong>se e colapso circulatório reforçaa suspeita. Em locais onde a sensibilidade e a capacidade operacional <strong>do</strong> sistema devigilância epidemiológica permitam, esse limite deverá ser modifica<strong>do</strong> para maioresde 5 anos (especificamente áreas de risco ainda sem casos).Em áreas com evidência de circulação <strong>do</strong> V. cholerae patogênico (V. cholerae O1) jáisola<strong>do</strong> em pelo menos cinco amostras de casos autóctones ou de amostras ambientais:• qualquer indivíduo que apresente diarréia aguda, independente de faixa etária.194 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


CóleraFigura 1. Cólera. Número de casos confirma<strong>do</strong>s de cólera e coeficientede letalidade. Brasil, 1991-2004*70.000%3,0060.0002,50Número de casos50.00040.00030.0002,001,5020.00010.0001,000,506Casos01991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 20042.103 37.572 60.340 51.324 4.954 1.017 3.044 2.745 4.759 733 7 - - 210CLetalidade1,57 1,23 1,11 1,06 1,94 2,52 1,77 1,42 1,95 2,73 - - - -Fonte: Coveh/CGDT/Devep/SVS/MS*Da<strong>do</strong>s preliminaresConfirma<strong>do</strong>Critério laboratorial – indivíduo com diarréia, que apresente isolamento de Vibriocholerae nas fezes ou vômitos.Critério clínico-epidemiológicoEm áreas sem evidência de circulação <strong>do</strong> Vibrio cholerae:• qualquer indivíduo, com 5 ou mais anos de idade, proveniente de área com circulaçãode Vibrio cholerae, que apresente diarréia aquosa aguda até o décimo diade sua chegada. Este caso será considera<strong>do</strong> caso importa<strong>do</strong> para a região ondefoi atendi<strong>do</strong>, desde que tenha si<strong>do</strong> afastada laboratorialmente outra etiologia, eautóctone para a região da qual procedeu.Em áreas com circulação <strong>do</strong> Vibrio cholerae:• qualquer indivíduo, com 5 ou mais anos de idade, que apresente diarréia aguda,desde que não haja diagnóstico clínico e/ou laboratorial de outra etiologia;• menores de 5 anos de idade que apresentem diarréia aguda e história de contatocom caso de cólera, num prazo de dez dias, desde que não haja diagnóstico clínicoe/ou laboratorial de outra patologia.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS195


CóleraObservaçãopaciente adulto, proveniente de área de circulação <strong>do</strong> Vibrio cholerae, com apenasum exame laboratorial negativo para esta bactéria e sem isolamento de outro agenteetiológico, não descarta o caso por se dever considerar a intermitência na eliminação<strong>do</strong> Vibrio cholerae e a possibilidade de ter ocorri<strong>do</strong> coleta e/ou transporte inadequa<strong>do</strong>da amostra.O critério clínico-epidemiológico é da maior importância para a vigilância epidemiológica,pois permite avaliar a magnitude <strong>do</strong> evento, monitorar e a<strong>do</strong>tar medidas de controleda <strong>do</strong>ença, conferin<strong>do</strong> maior agilidade ao processo diagnóstico, aumentan<strong>do</strong> a sensibilidade<strong>do</strong> sistema de detecção de casos, diminuin<strong>do</strong> os custos operacionais <strong>do</strong> laboratório eliberan<strong>do</strong>-o para o desempenho de outras atividades.Esse tipo de diagnóstico é feito por meioda avaliação de um caso suspeito, no qual sãocorrelacionadas variáveis clínicas e epidemiológicas capazes de definir a confirmação <strong>do</strong>caso sem diagnóstico laboratorial. Nessa situação, um exame laboratorial com resulta<strong>do</strong>negativo para cólera não descarta o caso, a menos que tenha si<strong>do</strong> identifica<strong>do</strong> outro agenteetiológico.Descarta<strong>do</strong> – serão considera<strong>do</strong>s descarta<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os casos que não se enquadremnas definições de confirma<strong>do</strong>s.Em áreas onde há evidência de circulação <strong>do</strong> Vibrio cholerae não se faz necessáriaa coleta de material para exame de laboratório de to<strong>do</strong>s os casos suspeitos. Essesexames são feitos por amostragem (de acor<strong>do</strong> com a situação epidemiológica local).Nessa situação, cabe ao laboratório monitorar a circulação <strong>do</strong> Vibrio cholerae, avaliara resistência aos antibióticos e detectar a introdução de novos sorotipos em casosautóctones ou importa<strong>do</strong>s.Importa<strong>do</strong> – é o caso em que a infecção ocorreu em área diferente daquela onde foidiagnostica<strong>do</strong>, trata<strong>do</strong> ou teve sua evolução. Essa situação muda o fluxo da notificação, quedeve ser feita para o local de procedência, acompanhada de ficha de investigação epidemiológicajá iniciada, para ser completada no que se refere à(s) fonte(s) de infecção e outrasinformações epidemiológicas relevantes.Do ponto de vista da vigilância epidemiológica, o caso importa<strong>do</strong> somente merece serespecifica<strong>do</strong> como tal em áreas de risco silenciosa ou de baixa incidência, pela pouca probabilidadede se contrair a <strong>do</strong>ença nesse local ou por se tratar de caso índice, o qual exigeinvestigação especial para a implantação das medidas de controle.Porta<strong>do</strong>r – indivíduo que, sem os sinais e sintomas ou com forma subclínica, eliminao vibrião por determina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong>. É de particular importância para a vigilância epidemiológicaporque, muitas vezes, é o responsável pela introdução da epidemia em área indene emanutenção da endemia.196 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


CóleraNotificaçãoA ocorrência de casos suspeitos de cólera requer imediata notificação e investigaçãopor ser potencialmente grave e poder se manifestar sob a forma de surto, o que impõe aa<strong>do</strong>ção de medidas imediatas de controle. Por se tratar de <strong>do</strong>ença de notificação internacional,os primeiros casos de uma área devem ser prontamente comunica<strong>do</strong>s por telefone,fax ou e-mail às autoridades sanitárias superiores.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao paciente − a maioria <strong>do</strong>s casos (sem desidratação ou com desidrataçãoleve a moderada) pode ser tratada no nível ambulatorial. Os casos graves deverãoser hospitaliza<strong>do</strong>s. Os pacientes com fatores de risco associa<strong>do</strong>s (diabetes, hipertensãoarterial sistêmica, cardiopatias, crianças com desnutrição grave, dentre outros), i<strong>do</strong>sos,gestantes, desacompanha<strong>do</strong>s, residentes em locais distantes, e aqueles sem tolerância oralplena, devem permanecer em observação até a remissão <strong>do</strong> quadro. Se necessário, realizara internação.Qualidade da assistência − o diagnóstico e o tratamento precoce <strong>do</strong>s casos de cólerasão fatores fundamentais para a recuperação <strong>do</strong> paciente. Além disso, contribuem para aredução da contaminação <strong>do</strong> meio ambiente e identificação <strong>do</strong>s comunicantes. Assim, osprofissionais da vigilância devem verificar se as equipes de assistência estão capacitadaspara realizar estes procedimentos corretamente e se as unidades de saúde dispõem de insumospara to<strong>do</strong>s os casos. O início da terapêutica independe <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s de exames laboratoriais.O paciente suspeito, ou com cólera confirmada, deverá obrigatoriamente iniciarseu tratamento no local onde receber o primeiro atendimento.Proteção individual − seguir as normas de precauções entéricas para casos hospitaliza<strong>do</strong>sou ambulatoriais, com desinfecção concorrente de fezes, vômitos, vestuário, roupade cama e desinfecção terminal. Orientar os pacientes quanto aos cuida<strong>do</strong>s com fezes evômitos no <strong>do</strong>micílio.Confirmação diagnóstica − a equipe de vigilância deve orientar ou coletar materialpara o diagnóstico laboratorial, de acor<strong>do</strong> com os procedimentos constantes no Anexo I.Proteção da população − em situações de surto, iniciar imediatamente a distribuiçãode sais de reidratação oral, hipoclorito de sódio a 2,5%, quan<strong>do</strong> indica<strong>do</strong> para tratamento daágua no nível <strong>do</strong>miciliar, bem como ações de educação em saúde para alerta à população.Investigação − é o passo seguinte à notificação <strong>do</strong> caso suspeito e deve ser feita o maisrápi<strong>do</strong> possível. O tempo decorri<strong>do</strong> entre a notificação e a investigação deve ser medi<strong>do</strong>para se avaliar a agilidade <strong>do</strong> sistema de vigilância epidemiológica.6CRoteiro da investigação epidemiológicaA meto<strong>do</strong>logia de investigação epidemiológica é clara, simples e fácil de ser assimiladapor profissionais de saúde. Visa responder às perguntas básicas de uma investigação decampo de <strong>do</strong>ença transmissível de veiculação hídrica: quem foi afeta<strong>do</strong>; quan<strong>do</strong> ocorreramos casos; onde se localizaram e de que maneira foram contamina<strong>do</strong>s.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS197


CóleraA investigação de to<strong>do</strong>s os casos suspeitos e confirma<strong>do</strong>s só deve ser realizada em áreassilenciosas, ou por ocasião <strong>do</strong> início da epidemia. Com a progressão <strong>do</strong> processo epidêmicoe o conseqüente aumento <strong>do</strong> número de casos, a investigação epidemiológica completadeve ser feita na medida em que os limites operacionais o permitam, sen<strong>do</strong> imprescindível,contu<strong>do</strong>, a coleta <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicos mínimos, para caracterização <strong>do</strong>scasos e monitoramento ambiental.Identificação <strong>do</strong> paciente − preencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação epidemiológica<strong>do</strong> Sinan relativos a da<strong>do</strong>s gerais, notificação individual e residência.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPara confirmar a suspeita diagnóstica• Caracterizar clinicamente o caso: evolução <strong>do</strong>s sintomas; características da diarréiae <strong>do</strong> vômito; grau de desidratação. Deve-se observar se teve início a reidratação oralcom líqui<strong>do</strong>s habitualmente disponíveis no <strong>do</strong>micílio <strong>do</strong> paciente, com soro caseiroou sais de reidratação oral industrializa<strong>do</strong>.• Se indicada a investigação laboratorial, coletar e encaminhar a amostra de fezes ao laboratório,caso este procedimento ainda não tenha si<strong>do</strong> efetua<strong>do</strong> por profissionais daunidade de saúde (verificar se as amostras estão sen<strong>do</strong> adequadamente coletadas).Para identificação da área de transmissão• Verificar a história <strong>do</strong>s pacientes, com ênfase nos deslocamentos efetua<strong>do</strong>s para áre asatingidas pela cólera, locais de alimentação e condições de saneamento no trabalho eambiente <strong>do</strong>miciliar.• Reconstituir as atividades <strong>do</strong>s pacientes nos 10 dias que precederam o início <strong>do</strong>ssintomas: história de deslocamentos no município (urbano/rural), esta<strong>do</strong> e país, etempo de permanência. Verificar se a área de estadia <strong>do</strong>s casos é de ocorrência decólera.• História de contato com caso compatível com cólera.• Realizar levantamento das fontes de abastecimento de água e qual o tratamento dispensa<strong>do</strong>.• Verificar a situação da disposição <strong>do</strong>s dejetos e lixo.Para determinação da extensão da área de transmissão• Realizar levantamento de diarréia, no local de ocorrência de casos suspeitos de cólera,visan<strong>do</strong> verificar se há aumento da incidência, principalmente nos maiores decinco anos.• Busca ativa nas áreas de provável procedência❯ em áreas atingidas: no <strong>do</strong>micílio (contatos), na comunidade (quarteirão, bairro,rua ou toda a comunidade, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> tamanho da área de ocorrência, distribuição<strong>do</strong>s casos e capacidade operacional), nos serviços de saúde, farmácias ecurandeiras, por meio de entrevistas com lideranças locais;❯ em áreas silenciosas: a inexistência de casos em determinada área nem sempre198 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Cólerasignifica que a <strong>do</strong>ença não esteja ocorren<strong>do</strong>. A falta de conhecimento sobre a<strong>do</strong>ença, a ocorrência de oligossintomáticos e o difícil acesso da população aosserviços de saúde contribuem para a existência de áreas silenciosas;❯ em áreas de risco deve ser feita a busca ativa de casos, visan<strong>do</strong> detectar precocementea ocorrência de surtos e desencadear as medidas de controle apropriadas.• Coleta de amostras ambientais❯ colocar mechas para coleta de amostras ambientais, principalmente nas coleçõesde água onde deságuam esgotos (ver procedimento no Anexo 2).Determinação das fontes de infecção• Procedência da água de consumo e cuida<strong>do</strong>s com o tratamento.• Procedência de alimentos que são ingeri<strong>do</strong>s crus (frutas, legumes e verduras).• Procedência e situação de higiene <strong>do</strong> acondicionamento e distribuição de pesca<strong>do</strong>s.• Investigar indivíduos que manipulam alimentos, principalmente quan<strong>do</strong> o surto forresultante de provável fonte alimentar comum (restaurantes ou refeitórios).• Investigar prováveis porta<strong>do</strong>res sadios.6Essas informações, dentre outras, orientarão a coleta de amostras para diagnósticolaboratorial da fonte de contaminação.CColeta e remessa de material para exames − coletar material clínico, de alimentos e<strong>do</strong> ambiente, o mais precocemente possível, consideran<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s das investigaçõesrealizadas e as orientações técnicas <strong>do</strong> laboratório (ver Anexo 2).Análise de da<strong>do</strong>s − os da<strong>do</strong>s da investigação deverão ser analisa<strong>do</strong>s passo a passo, demo<strong>do</strong> a subsidiar o processo de decisão sobre as medidas de controle a serem a<strong>do</strong>tadas. Assim,logo que se obtenha indícios de qual seja a fonte de infecção e a abrangência da populaçãosob risco deve-se iniciar imediatamente as medidas capazes de impedir a ocorrência denovos casos, principalmente nas situações de surtos, casos esporádicos em área de circulaçãoestabelecida e casos importa<strong>do</strong>s (visan<strong>do</strong> a reduzir o risco de circulação <strong>do</strong> agente).Ao final da investigação, os da<strong>do</strong>s devem permitir o acompanhamento da incidênciae as análises de tendência da <strong>do</strong>ença. De acor<strong>do</strong> com a magnitude de cada evento ousituação endêmica da área, a análise deverá contemplar: distribuição semanal <strong>do</strong>s casos eóbitos, por sexo, faixa etária e procedência; coeficientes de incidência e mortalidade; taxasde letalidade; distribuição <strong>do</strong>s casos segun<strong>do</strong> a evolução, critério de confirmação e tipo deatendimento, etc.É importante observar que, dentre outras informações, a análise e interpretação <strong>do</strong>sda<strong>do</strong>s requer o conhecimento de da<strong>do</strong>s populacionais, geográficos, demográficos, situaçãode saneamento básico, cobertura <strong>do</strong>s serviços, qualidade da atenção aos pacientes, condiçõessocioeconômicas e culturais da população.Para facilitar a interpretação e análise, os da<strong>do</strong>s devem ser consolida<strong>do</strong>s em tabelas egráficos, utilizan<strong>do</strong>-se variáveis de pessoa, tempo e lugar.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS199


CóleraNas áreas epidêmicas, o grupo etário mais atingi<strong>do</strong> é o de maiores de 15 anos, compre<strong>do</strong>mínio no sexo masculino, devi<strong>do</strong> à maior mobilidade e, conseqüentemente, maiorexposição <strong>do</strong>s homens adultos às fontes de infecção. Nas áreas endêmicas, observa-se maiorincidência nas faixas etárias mais jovens, em função da imunidade que vai sen<strong>do</strong> adquiridaà medida que o vibrião circula. A distribuição <strong>do</strong>s casos de acor<strong>do</strong> com a ocupação poderáindicar os grupos profissionais expostos a maior risco.A distribuição <strong>do</strong>s casos por dia, semana epidemiológica, mês ou ano permitirá a análiseda evolução temporal da <strong>do</strong>ença. Algumas variações sazonais têm si<strong>do</strong> observadas em determinadasregiões, como o recrudescimento da epidemia em perío<strong>do</strong>s de seca e/ou no iníciodas chuvas, o que pode permitir, inclusive, uma previsão de novos surtos nessas áreas.Em algumas áreas, o conjunto de condições socioeconômicas e culturais pode favorecera instalação e rápida disseminação <strong>do</strong> V. cholerae.A análise da distribuição <strong>do</strong>s casos, de acor<strong>do</strong> com as áreas de ocorrência, proporcionaráo conhecimento <strong>do</strong> comportamento da cólera em to<strong>do</strong>s os níveis e subsidiará o planejamento,contribuin<strong>do</strong> para o direcionamento espacial das medidas de controle.Encerramento de casos − as fichas epidemiológicas de cada caso devem ser analisadaspara definir o critério utiliza<strong>do</strong> para o diagnóstico, consideran<strong>do</strong> as seguintes alternativas:• Confirma<strong>do</strong> por critério clínico-laboratorial – isolamento <strong>do</strong> Vibrio cholerae O1 ouO139 em amostra clínica <strong>do</strong> paciente;• Confirma<strong>do</strong> por critério clínico-epidemiológico – paciente com quadro clínico decólera, exame laboratorial negativo ou não realiza<strong>do</strong>, mas que estabeleceu vínculoepidemiológico;• Óbitos – óbitos não acompanha<strong>do</strong>s também podem ser confirma<strong>do</strong>s pelo critérioclínico-epidemiológico, desde que existam fortes evidências epidemiológicas aliadasao quadro clínico que resultou em morte;• Caso descarta<strong>do</strong> – to<strong>do</strong>s os casos que não preencham os requisitos apresenta<strong>do</strong>s nositens anteriores.Relatório final − deverá conter a descrição das etapas da investigação, principais resulta<strong>do</strong>s,medidas de controle a<strong>do</strong>tadas e conclusões e recomendações a curto e médio prazospara a prevenção de novos casos e futuros eventos.Instrumentos disponíveis para controleEm regiões onde a infra-estrutura de saneamento é adequada e existe um sistema ativode vigilância epidemiológica das diarréias, capaz de detectar precocemente os primeiros casos,a disseminação da cólera é facilmente controlada e, em geral, a circulação não se estabelece.Entretanto, quan<strong>do</strong> o Vibrio cholerae é introduzi<strong>do</strong> em áreas com precárias condiçõessanitárias, o risco de circulação é bastante eleva<strong>do</strong>, principalmente quan<strong>do</strong> não existe umbom sistema de abastecimento de água potável para as comunidades.Assim, o principal instrumento para o controle da cólera é prover as populações sobrisco de adequada infra-estrutura de saneamento (água, esgotamento sanitário e coleta e200 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Cólera6CFluxograma de investigação de casos suspeitos de cóleraCaso suspeito• Caracterizaçãoclínica <strong>do</strong> caso• Hidratação• Coleta de materialpara exame e envioao laboratório• Notificaçãoimediata à vigilânciaepidemiológica• Verificar se já éárea com circulação<strong>do</strong> Vibrio choleraeDesencadeiainvestigaçãoPara identificaçãoda área detransmissão(visita <strong>do</strong>miciliare à comunidade)Para determinaçãoda extensão datransmissãoPara determinaçãoda provável fontede infecçãoCom casosregistra<strong>do</strong>sHistória de contatocom casoconfirma<strong>do</strong>História <strong>do</strong>deslocamentoCondições desaneamentono <strong>do</strong>micílioCondições desaneamentono trabalhoUrbana ou ruralVerificar otrajeto duranteos últimos10 dias queantecederamos sintomasEm trânsitoDentro da própriaárea de ocorrênciarural ou urbanaDe área urbana<strong>do</strong> mesmomunicípiopara área rurale vice-versaProceder comonovo caso suspeitoIdentificação da fonte de contaminaçãoColeta de água para exame bacteriológicoIdentificação da fonte de contaminaçãoColeta de material para exame bacteriológicoInvestigaçãode contatosÁguaEfluentesAlimentosSintomáticoEducaçãoem saúdeAssintomáticoVerificar se é damesma área deprocedência decasos anterioresDiscutir informaçõescom equipe técnica(saneamento, vigilânciaambiental,educação em saúde,laboratório)Investigar a fonteprovável de infecçãocaso aindanão seja conhecidaDe ummunicípio/esta<strong>do</strong>Em trânsito – videorigem <strong>do</strong> casoVigilância de novos casos dediarréia nos próximos 30 dias,por meio da monitorizaçãodas <strong>do</strong>enças diarréicas (MDDA)Identificação da fonte de contaminaçãoColeta de água para exame bacteriológicoVigilânciaambientalA<strong>do</strong>ção demedidaspertinentesSaneamentoEducaçãoem saúdeVigilânciasanitáriaSecretaria de Vigilância em Saúde / MS201


Cóleradisposição de lixo), o que exige investimentos sociais <strong>do</strong> poder público. Todavia, na vigênciade casos isola<strong>do</strong>s ou surtos, alternativas emergenciais para a prevenção desta <strong>do</strong>ençapodem e devem ser a<strong>do</strong>tadas pelo setor saúde, por meio de sua rede de assistência à saúde,vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental. Por exemplo, ações restritas de tratamentode água e destino <strong>do</strong>s dejetos. Atividades de educação em saúde devem ser prontamenteimplementadas para reduzir o risco de transmissão e letalidade. Algumas destas alternativassão listadas a seguir.Vigilância sanitáriaOferta de água de boa qualidade e em quantidade suficiente:• tratamento <strong>do</strong>miciliar com hipoclorito de sódio;Volume de águaDosagemHipoclorito de sódio a 2,5%Medida práticaTempo de contato1.000 litros 100ml 2 copinhos de café (descartáveis)200 litros 15ml 1 colher de sopa20 litros 2ml 1 colher de chá30 minutos1 litro 0,045ml 2 gotasFonte: Manual Integra<strong>do</strong> de Prevenção e Controle da Cólera/CNPC/Funasa/MS• em caso de água turva antes da cloração, recomenda-se que a mesma seja mantidaem repouso, para decantação das partículas em suspensão, as quais irão depositar-seno fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> recipiente. Após este processo, deve-se separar a parte superior, maisclara, em outro recipiente. Em seguida, filtrá-la;• outros produtos à base de cloro, autoriza<strong>do</strong>s para o tratamento da água e registra<strong>do</strong>sno Ministério da Saúde, poderão ser utiliza<strong>do</strong>s desde que se observe atentamente asorientações contidas no rótulo;• a ebulição (fervura) da água, durante 1 ou 2 minutos, constitui um méto<strong>do</strong> de desinfecçãoeficaz mas pouco acessível, na prática, às condições da maior parte da população.É um procedimento oneroso, a ser recomenda<strong>do</strong> em situações de urgência ena falta de outro méto<strong>do</strong> de desinfecção;• o acondicionamento da água já tratada deve ser feito em recipientes higieniza<strong>do</strong>s,preferencialmente de boca estreita, para evitar posterior contaminação pela introduçãode utensílios (canecos, conchas, etc.) para a retirada da água;❯ articulação com empresas de abastecimento, visan<strong>do</strong> buscar soluções paraaumentar a oferta, para as comunidades com intermitência de fluxo;❯ articulação com órgãos governamentais para a resolução <strong>do</strong> problema a médioprazo;• tratamento <strong>do</strong>s dejetos e disposição adequada <strong>do</strong> lixo (estudar alternativas parareduzir a contaminação ambiental, consultan<strong>do</strong> técnicos da área de engenharia sanitária);202 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Cólera• promover a vigilância de indivíduos sintomáticos, mediante orientações para isolamentoentérico em <strong>do</strong>micílio;• promover a vigilância de meios de transporte e terminais portuários, aeroportuários,ro<strong>do</strong>viários e ferroviários;• promover medidas que visem à redução <strong>do</strong> risco de contaminação de alimentos, emespecial no comércio ambulante;• definir procedimentos com vistas a garantir a qualidade <strong>do</strong>s processos de limpeza edesinfecção, em especial para serviços de saúde e área de preparo de alimentos;• promover atividades de educação em saúde para garantir o acesso da população aosconhecimentos e informações necessárias à prevenção e controle da <strong>do</strong>ença.As medidas sanitárias a serem a<strong>do</strong>tadas deverão considerar as condições ambientais(fatores bióticos e abióticos) que possam favorecer a sobrevivência <strong>do</strong> V. cholerae nas áreasem questão.Vigilância epidemiológica e ambientalÉ de fundamental importância que as equipes de vigilância epidemiológica locaisimplantem ou implementem a MDDA em sua área de abrangência, acompanhan<strong>do</strong> seucomportamento no tempo e sua distribuição por faixa etária. Uma elevação <strong>do</strong> número decasos de diarréia, em determina<strong>do</strong> local e perío<strong>do</strong> e na faixa etária de maiores de 15 anos, ésugestiva de surto de cólera. A participação <strong>do</strong> laboratório é necessária para a confirmação<strong>do</strong>s primeiros casos.A monitorização ambiental de pontos estratégicos é outra medida que deve ser imediatamentea<strong>do</strong>tada, com vistas à detecção precoce da circulação <strong>do</strong> V. cholerae. Consistena coleta periódica <strong>do</strong> material de meio ambiente para a realização <strong>do</strong> diagnóstico laboratorial,atividade que deverá ser coordenada pela vigilância ambiental.6CÁrea de circulação <strong>do</strong> Vibrio choleraeAquela onde já foi isola<strong>do</strong> o Vibrio cholerae O1 em, pelo menos, cinco amostras(clínicas, autóctones e/ou ambientais).Algumas áreas têm um risco potencial que deve ser considera<strong>do</strong> com especial atenção.Entre elas, encontram-se localidades situadas ao longo de eixos ro<strong>do</strong>viários ou ferroviários,áreas periportuárias, locais com populações assentadas abaixo <strong>do</strong> ponto de despejos de esgotamentossanitários ou as margens de coleções hídricas que recebam esgotos.Área de risco para cóleraLocal ou região onde o conjunto de condições socioeconômicas e ambientais favorecea instalação e rápida disseminação <strong>do</strong> Vibrio cholerae.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS203


CóleraÉ necessário delimitar o micro ou macroambiente e os locais de suposta circulaçãode V. cholerae para definir o caráter e abrangência das ações preventivas/assistenciais desaúde pública. A delimitação dessas áreas deve ser definida em nível local, não precisan<strong>do</strong>,necessariamente, obedecer aos limites impostos por fronteiras político-administrativas. Aárea de risco pode ser uma única residência, rua ou bairro, etc.Fatores ambientais, populacionais e de serviços que devem ser considera<strong>do</strong>s para adefinição e delimitação de áreas de risco:• ausência, deficiência ou intermitência <strong>do</strong> abastecimento de água;• destino e tratamento inadequa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s dejetos;• ausência ou deficiência de coleta, transporte, destino ou tratamento <strong>do</strong> lixo;• solos baixos e alagadiços que permitem a contaminação da água por materiais fecais(principalmente em áreas sujeitas a ciclos de cheias e secas);• densidade populacional elevada e baixa renda per capita;• populações confinadas (presídios, asilos, orfanatos, hospitais psiquiátricos, quartéis,etc.);• hábitos higiênicos pessoais inadequa<strong>do</strong>s, que propiciam a contaminação fecal/oral;• pólos receptores de movimentos migratórios;• eventos com grandes aglomerações populacionais (festas populares, feiras, romarias,etc.);• déficit na oferta de serviços de atenção à saúde;• difícil acesso à informação/analfabetismo;• áreas periportuárias, ribeirinhas e ao longo de eixos ro<strong>do</strong>ferroviários.A delimitação da área de risco é feita após a associação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s referentes ao isolamento<strong>do</strong> agente etiológico e os fatores acima menciona<strong>do</strong>s. Sua identificação e delimitaçãoé importante para priorizar o desenvolvimento das ações de controle e deve ser redefinidaà medida que novos fatores e áreas de circulação sejam identifica<strong>do</strong>s.Deve-se atentar para o fato de que o uso da vigilância epidemiológica, de forma corretae coordenada no nível local, proporciona as informações necessárias para a otimização<strong>do</strong>s recursos disponíveis para a prevenção e controle da <strong>do</strong>ença.Ações de educação em saúdeExistem várias estratégias de trabalho que buscam estimular o indivíduo, os grupos oua comunidade a assumir consciente, criativa e criticamente a responsabilidade sobre suascondições de saúde. O maior enfoque deverá ser da<strong>do</strong> à ação participativa, cujos componentesbásicos devem ser trabalha<strong>do</strong>s com bastante flexibilidade, haja vista que no desenvolvimento<strong>do</strong> processo os mesmos podem ocorrer isola<strong>do</strong>s, articula<strong>do</strong>s ou concomitantes,consideran<strong>do</strong>-se a dinâmica da realidade social.Após o levantamento da situação de cólera, os da<strong>do</strong>s devem ser cuida<strong>do</strong>samente analisa<strong>do</strong>se discuti<strong>do</strong>s. Este é o momento da troca de informações (saber técnico versus saberpopular) entre a equipe de saúde e a comunidade, quan<strong>do</strong> se espera atingir uma percepçãoreal da situação.204 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


CóleraÉ vital realizar o registro detalha<strong>do</strong> e o processamento de to<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s e informaçõesobti<strong>do</strong>s, para a obtenção de uma análise criteriosa da percepção <strong>do</strong> grupo sobreas situações que tais informações definem, visan<strong>do</strong> à validação ou não das conclusõesresultantes.As vivências da situação, observação e visitas realizadas na localidade, bem como aanálise sobre os tipos de serviços ofereci<strong>do</strong>s, suas fontes de recursos e mecanismos de participaçãoda comunidade, além da utilização de da<strong>do</strong>s epidemiológicos e de bibliografiassobre cólera, são instrumentos utiliza<strong>do</strong>s para trabalhar as informações e ampliar o conhecimento<strong>do</strong> grupo sobre a situação político-social da cólera no nível local.São de vital importância a participação da comunidade, como produtora e administra<strong>do</strong>radas ações realizadas, e a parceria e apoio da equipe de saúde. O assumir responsabilidadesdeve ser um aprendiza<strong>do</strong> contínuo, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> exercício da participação através<strong>do</strong>s seus grupos organiza<strong>do</strong>s e/ou a organizar, a exemplo de grupos de trabalho, comitês,comissões, escolas, igrejas, dentre outros.Medidas inócuas no controle e prevenção da cóleraGeralmente, quan<strong>do</strong> ocorre um surto de cólera, por pânico da população ou, mais freqüentemente,por autoridades e profissionais desinforma<strong>do</strong>s, há pressões para a implementaçãode algumas medidas que jamais devem ser a<strong>do</strong>tadas, pois sabidamente não resultamem benefícios individuais ou coletivos, dentre as quais destacam-se:Imunização − desde 1973, a Organização Mundial da Saúde aboliu <strong>do</strong> RegulamentoSanitário Internacional a necessidade de apresentação <strong>do</strong> Certifica<strong>do</strong> de Vacinação paraCólera por parte <strong>do</strong>s viajantes internacionais. Essa medida levou em conta que:• as vacinas disponíveis apresentam baixa eficácia e curta duração da imunidade;• muitas vacinas não têm a potência testada e/ou requerida;• geralmente, as vacinas somente induzem imunidade após decorri<strong>do</strong>s 7 a 14 dias desua aplicação;• a vacinação não altera a severidade da <strong>do</strong>ença e não reduz a taxa de infecções assintomáticas;• a vacinação não previne a introdução da cólera nem sua propagação em um determina<strong>do</strong>país;• a vacinação dá uma falsa impressão de segurança às pessoas vacinadas e o sentimentode realização e satisfação às autoridades de saúde que, conseqüentemente,negligenciam as precauções mais efetivas.6CQuimioprofilaxia − são totalmente inócuas as tentativas de combate à cólera pelaquimioprofilaxia de massa e de contatos <strong>do</strong>miciliares, pois mostrou-se ineficaz para contera propagação da epidemia, por várias razões, entre as quais se destacam:• impossibilidade de tratar, sob supervisão e simultaneamente, to<strong>do</strong>s os contatos outoda a população de uma mesma área e, em seguida, mantê-la isolada para evitar ainfecção;• curta duração <strong>do</strong> efeito <strong>do</strong> antibiótico;Secretaria de Vigilância em Saúde / MS205


Cólera• o fato de o meio ambiente permanecer contamina<strong>do</strong> por tempo superior ao perío<strong>do</strong>de proteção conferida pelo antibiótico;• a dificuldade de persuadir as pessoas assintomáticas para que tomem os antibióticos.Além disso, a administração de antibióticos pode determinar:• alteração da flora intestinal de indivíduos sadios, aumentan<strong>do</strong> sua susceptibilidadeà infecção pelo V. cholerae;• surgimento de cepas resistentes de V. cholerae e de outras bactérias.É importante ressaltar que a quimioprofilaxia desvia a atenção e os recursos, que deveriamestar volta<strong>do</strong>s para medidas de vigilância e controle realmente eficazes. Em váriospaíses, para<strong>do</strong>xalmente, tem contribuí<strong>do</strong> para o surgimento de cepas resistentes aos antibióticos,privan<strong>do</strong>, assim, os <strong>do</strong>entes graves de um tratamento adequa<strong>do</strong>.Restrições à circulação de pessoas e merca<strong>do</strong>rias (cordão ou barreira sanitária) −essas medidas não impedem a propagação da cólera de um país para outro ou de umaregião para outra de um mesmo país. É impossível identificar e isolar to<strong>do</strong>s os viajantesinfecta<strong>do</strong>s, pois a grande maioria não apresentará sintomas.Por outro la<strong>do</strong>, a execução de um “cordão sanitário” implica na instalação de múltiplospostos de controle e de restrição à circulação (barreiras). Essas atividades absorvemrecursos humanos e materiais importantes, que melhor seriam utiliza<strong>do</strong>s se direciona<strong>do</strong>sàs medidas eficazes.Essas medidas restritivas geram grave impacto à economia <strong>do</strong> país ou região afetada,encorajan<strong>do</strong> a dissimulação da verdade acerca <strong>do</strong>s surtos de cólera. A colaboração entreas autoridades locais, nacionais e internacionais, engajadas conjuntamente no esforço decombater a epidemia, fica, dessa forma, fortemente comprometida.A realização de eventos que congregam grande número de pessoas, como festas populares,religiosas, feiras, etc., dificilmente pode ser desencorajada devi<strong>do</strong> aos fortes componentessociais, culturais e econômicos envolvi<strong>do</strong>s. As ações de prevenção realmente eficazes,nesses casos, são aquelas que visam garantir o destino adequa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s dejetos humanose <strong>do</strong> lixo, o abastecimento de água potável em quantidade suficiente e o uso de medidas dehigiene no preparo e conservação de alimentos.Deve ser assegura<strong>do</strong> o acesso dessa população aos serviços de saúde, os quais podemser reforça<strong>do</strong>s com equipes móveis, treinadas no manejo de casos de diarréia e cólera, bemcomo de outras <strong>do</strong>enças freqüentes nesses eventos e daquelas prevalentes na região.Equipes adicionais de educação em saúde, vigilância epidemiológica, vigilância ambiental,vigilância sanitária e outras também devem ser deslocadas para trabalhar nesses locais.206 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


CóleraAnexo 1Coleta de amostras de material clínicoInstrumento Méto<strong>do</strong> Transporte e viabilidade da amostraSwab retalSwab fecalIntroduzir o swab na ampola retal comprimin<strong>do</strong>-o,em movimentos rotatóriossuaves, em toda a exten são da ampolaInocular no meio de transporte Cary-Blair ou em 10-20ml de água pepto nadaalcalina (pH entre 8,4 – 8,6)Recolher parte das fezes com o auxíliode um swabIntroduzir o swab no meio de trans porteCary- Blair ou água pepto nada alcalinaProcessar as amostras acondici onadas em meiode Cary-Blair, de 24 a 72 horas após a coleta, semantidas em temperatura ambiente (no caso detemperatura ambi ente acima de 30 graus, colocaro meio de Cary-Blair em recipiente com água emtemperatura natural) ou em até 7 dias semantidas sob refrigeração (entre 4º a 8ºC)Processar as amostras acondicio nadas em tubosde água pepto nada alcalina até 12 horas apósa coletaO meio de transporte Cary-Blair conserva, poraté quatro semanas, numerosos tipos de bactérias,inclusive vibriões. No entanto, como o swab, retalou fecal, contém outros microrganismos da floranormal, recomenda-se processá-lo de 24 a 72horas após a coleta (a 30ºC) ou em até sete diasse manti<strong>do</strong> sob refrigeração (4º a 8ºC)As amostras coletadas por swab devem sersemeadas de imediato se não forem acondicionadasno meio de transporte apropria<strong>do</strong>6CFezesin naturaPapel de filtroRecolher entre 3 a 5 gramas de fezes,diarréicas ou não, em recipi ente deboca larga, limpo e/ou esteriliza<strong>do</strong> (nãoutilizar substân cias químicas)Evitar recolher amostras fecais contidasnas roupas, superfície de cama ou chãoUtilizar tiras de papel de filtro, tipo xaropeou mata-borrão (2,5cm de largurapor 6,5cm de compri mento)Espalhar as fezes diarréicas ou emulsionadasem água em 2/3 de uma dassuperfícies <strong>do</strong> papel, com o auxílio deum fragmento de madeira ou outromaterial disponívelAcondicionar as tiras de papel de filtroem invólucros plásticos, per feitamenteveda<strong>do</strong>sA semeadura deve ser realizadaimediatamente após a coletaColher a amostra, tampar e observar a umidade(a amostra só é válida enquanto o papel de filtrose mantiver úmi<strong>do</strong>)Observações:• As amostras devem ser colhidas antes da administração de antibióticos ao paciente.• Qualquer amostra enviada ao laboratório deve ser previamente rotulada e acompanhadada ficha de encaminhamento de amostras para análise, de vidamente preenchida.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS207


CóleraAnexo 2Monitoração <strong>do</strong> meio ambienteRoteiro para coleta de material <strong>do</strong> ambienteInstrumento Méto<strong>do</strong> de coleta ProcedimentoMecha - Swab MooreResíduos líqui<strong>do</strong>s:Manter a mecha sub mersa no localpor 48 horasRetirar, com cuida<strong>do</strong>, e introduzirem frasco com boca larga, estéril,com tampa, conten<strong>do</strong> 300ml deAPA 3 vezes concen tradaEnviar rapidamente ao laboratório(idealmente, de 2 a 6 horas)Resiste, no máximo, até 24 horassob refrigeraçãoObservação: Os pontos de coleta são defini<strong>do</strong>s pelo nível local, de acor<strong>do</strong> com a investigação<strong>do</strong>s possíveis pontos de contaminação. O número de amostras e a periodicidadedependem da capacidade operacional <strong>do</strong> labo ratório.208 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


CoquelucheCOQUELUCHECID 10: A37Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoDoença infecciosa aguda, transmissível, de distribuição universal. Compromete especificamenteo aparelho respiratório (traquéia e brônquios) e se caracteriza por paroxismosde tosse seca. Ocorre sob as formas endêmica e epidêmica. Em lactentes, pode resultar emnúmero eleva<strong>do</strong> de complicações e até em morte.Agente etiológicoBordetella pertussis. Bacilo gram-negativo, aeróbio, não-esporula<strong>do</strong>, imóvel e pequeno,provi<strong>do</strong> de cápsula (formas patogênicas) e de fímbrias.6ReservatórioO homem é o único reservatório natural. Não foi demonstrada a existência de porta<strong>do</strong>rescrônicos; entretanto, podem ocorrer casos oligossintomáticos, com pouca importânciana disseminação da <strong>do</strong>ença.CMo<strong>do</strong> de transmissãoA transmissão se dá, principalmente, pelo contato direto de pessoa <strong>do</strong>ente com pessoasusceptível, através de gotículas de secreção da orofaringe, eliminadas por tosse, espirro ouao falar. Pode ocorrer a transmissão por objetos recentemente contamina<strong>do</strong>s com secreções<strong>do</strong> <strong>do</strong>ente, porém é pouco freqüente, pela dificuldade <strong>do</strong> agente sobreviver fora <strong>do</strong>hospedeiro.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoEm média, de cinco a dez dias, poden<strong>do</strong> variar de uma a três semanas e, raramente,até 42 dias.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadePara efeito de controle, considera-se que o perío<strong>do</strong> de transmissão se estende de cincodias após o contato com um <strong>do</strong>ente (final <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de incubação) até três semanas apóso início <strong>do</strong>s acessos de tosse típicos da <strong>do</strong>ença (fase paroxística). Em lactentes menores deseis meses, o perío<strong>do</strong> de transmissibilidade pode prolongar-se por até 4-6 semanas após oinício da tosse. A maior transmissibilidade da <strong>do</strong>ença ocorre na fase catarral.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS209


CoquelucheSusceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade é geral. O indivíduo torna-se imune nas seguintes situações:• após adquirir a <strong>do</strong>ença: imunidade dura<strong>do</strong>ura, mas não permanente;• após receber vacinação básica (mínimo de três <strong>do</strong>ses) com DTP ou DTPa: imunidadepor alguns anos. Em média, de 5 a 10 anos após a última <strong>do</strong>se da vacina, aproteção pode ser pouca ou nenhuma.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasA coqueluche evolui em três fases sucessivas:Fase catarral – inicia com manifestações respiratórias e sintomas leves (febre poucointensa ou ausente, mal-estar geral, coriza e tosse seca) e dura de 1 a 2 semanas. A freqüênciae a intensidade <strong>do</strong>s acessos de tosse aumentam gradualmente até o surgimento das crisesde tosse paroxística.Fase paroxística – geralmente afebril ou com febre baixa. Em alguns casos, ocorremvários picos de febre no decorrer <strong>do</strong> dia. Apresenta como manifestação típica os paroxismosde tosse seca, que se caracterizam por crise de tosse súbita incontrolável, rápida e curta(cerca de 5 a 10 tossidas, em uma única expiração). Durante estes acessos, o paciente nãoconsegue inspirar, apresenta protusão da língua, congestão facial e, eventualmente, cianoseque pode ser seguida de apnéia e vômitos. A seguir, ocorre uma inspiração profunda atravésda glote estreitada, que pode dar origem ao som denomina<strong>do</strong> de “guincho”. O númerode episódios de tosse paroxística pode chegar a 30 em 24 horas, manifestan<strong>do</strong>-se maisfreqüentemente à noite. A freqüência e a intensidade <strong>do</strong>s episódios de tosse paroxísticaaumentam nas duas primeiras semanas; depois, diminuem paulatinamente. Nos intervalos<strong>do</strong>s paroxismos o paciente passa bem. Esta fase dura de 2 a 6 semanas.Fase de convalescença – os paroxismos de tosse desaparecem e dão lugar a episódiosde tosse comum. Esta fase persiste por 2 a 6 semanas e em alguns casos pode se prolongarpor até 3 meses. Infecções respiratórias de outra natureza, que se instalam durante a convalescençada coqueluche, podem provocar o reaparecimento transitório <strong>do</strong>s paroxismos.Em indivíduos não adequadamente vacina<strong>do</strong>s ou vacina<strong>do</strong>s há mais de 5 anos, acoqueluche nem sempre se apresenta sob a forma clássica acima descrita, poden<strong>do</strong>manifestar-se sob formas atípicas, com tosse persistente, porém sem paroxismos e oguincho característico.Os lactentes jovens (principalmente os menores de 6 meses) constituem o grupo deindivíduos particularmente propenso a apresentar formas graves, muitas vezes letais, de coqueluche.Nessas crianças, a <strong>do</strong>ença manifesta-se através de paroxismos clássicos, algumasvezes associa<strong>do</strong>s a cianose, su<strong>do</strong>rese e vômitos. Também podem estar presentes episódiosde apnéia, parada respiratória, convulsões e desidratação decorrente <strong>do</strong>s episódios repe-210 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Coquelucheti<strong>do</strong>s de vômitos. Estes bebês exigem hospitalização, isolamento, vigilância permanente ecuida<strong>do</strong>s especializa<strong>do</strong>s.Complicações• Respiratórias – pneumonia e otite média por Bordetella pertussis, pneumonias poroutras etiologias, ativação de tuberculose latente, atelectasia, bronquiectasia, enfisema,pneumotórax, ruptura de diafragma.• Neurológicas – encefalopatia aguda, convulsões, coma, hemorragias intra-cerebrais,hemorragia subdural, estrabismo e surdez.• Outras – hemorragias subconjuntivais, epistaxe, edema de face, úlcera <strong>do</strong> frênulolingual, hérnias (umbilicais, ingüinais e diafragmáticas), conjuntivite, desidrataçãoe/ou desnutrição.Diagnóstico diferencialDeve ser feito com as infecções respiratórias agudas, como traqueobronquites, bronquiolites,adenoviroses, laringites, etc.6Outros agentes também podem causar a síndrome coqueluchóide, dificultan<strong>do</strong> odiagnóstico diferencial, entre os quais Bordetella parapertussis, Mycoplasma pneumoniae,Chlamydia trachomatis, Chlamydia pneumoniae e Adenovírus (1, 2, 3 e 5). A Bordetellabronchiseptica e a Bordetella avium são patógenos de animais que raramenteacometem o homem (exceto quanto imunodeprimi<strong>do</strong>s).CDiagnóstico laboratorialDiagnóstico específicoRealiza<strong>do</strong> mediante o isolamento da Bordetella pertussis através de cultura de materialcolhi<strong>do</strong> de nasorofaringe com técnica adequada (ver normas e procedimentos no Anexo 3).Exames complementaresPara auxiliar na confirmação ou descarte <strong>do</strong>s casos suspeitos, pode-se realizar os seguintesexames:• leucograma – no perío<strong>do</strong> catarral, pode ocorrer uma linfocitose relativa e absoluta,geralmente acima de 10 mil linfócitos/mm3. Os leucócitos totais no final desta faseatingem um valor, em geral, superior a 20 mil leucócitos/mm 3 . No perío<strong>do</strong> paroxístico,o número de leucócitos pode elevar-se para 30 mil ou 40 mil/mm3, associa<strong>do</strong>a uma linfocitose de 60% a 80%. Nos lactentes e nos pacientes com quadro clínicomais leve, a linfocitose pode estar ausente.• raios X de tórax – recomenda-se em menores de 4 anos, para auxiliar no diagnósticodiferencial e/ou presença de complicações. É característica a imagem de “coraçãoborra<strong>do</strong>” ou “franja<strong>do</strong>”, porque as bordas da imagem cardíaca não são nítidas, devi<strong>do</strong>aos infiltra<strong>do</strong>s pulmonares.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS211


CoquelucheTratamentoA eritromicina (de preferência o estolato) é o antimicrobiano de escolha para o tratamentoda coqueluche, visto ser mais eficiente e menos tóxico. Este antibiótico é capaz deerradicar o agente <strong>do</strong> organismo em um ou <strong>do</strong>is dias quan<strong>do</strong> seu uso for inicia<strong>do</strong> duranteo perío<strong>do</strong> catarral ou início <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> paroxístico, promoven<strong>do</strong>, assim, a diminuição <strong>do</strong>perío<strong>do</strong> de transmissibilidade da <strong>do</strong>ença. No entanto, tem-se isola<strong>do</strong> Bordetella pertussis depacientes até 7 dias após o início <strong>do</strong> uso da eritromicina.Dose indicada – 40 a 50 mg/kg/dia (máxima de 2 gramas/dia), por via oral, divididaem 4 <strong>do</strong>ses iguais, durante 14 dias.No caso de intolerância à eritromicina, pode-se usar sulfametoxazol+trimetoprim(SMZ+TMP), por via oral, de 12 em 12 horas, durante 10 dias, na seguinte <strong>do</strong>sagem:• crianças – 40mg (SMZ)/kg/dia e 8mg (TMP)/kg/dia. Com a ressalva de que a segurançae a eficácia de SMZ+TMP nos menores de 2 meses não está bem definida.• adultos e crianças com mais de 40 kg – 800mg (SMZ)/dia e 160mg (TMP)/dia de12 em 12 horas.A imunoglobulina humana não tem valor terapêutico comprova<strong>do</strong>.Alguns cuida<strong>do</strong>s gerais importantesNos episódios de tosse paroxística, a criança deve ser colocada em lateral ou decúbitode drenagem para evitar a aspiração de vômitos e/ou de secreção respiratória. Seocorrer cianose, deve-se aspirar delicadamente a secreção nasal e oral. Na presença deapnéia, aspirar delicadamente as secreções. Há indicação <strong>do</strong> uso de oxigênio. Estimularmanualmente a respiração e, caso não obtenha resposta, utilizar ambu.Aspectos epidemiológicosEm populações aglomeradas, condição que facilita a transmissão, a incidência da coqueluchepode ser maior na primavera e no verão, porém em populações dispersas nemsempre se observa esta sazonalidade. Não existe uma distribuição geográfica preferencialnem característica individual que predisponha à <strong>do</strong>ença, a não ser presença ou ausência deimunidade específica.A morbidade da coqueluche no país já foi elevada. No início da década de 80 eram notifica<strong>do</strong>smais de 40 mil casos anuais e o coeficiente de incidência era superior a 30/100 milhabitantes. Este número caiu abruptamente a partir de 1983, manten<strong>do</strong>, desde então, tendênciadecrescente. Em 1990, foram notifica<strong>do</strong>s 15.329 casos, resultan<strong>do</strong> em um coeficientede incidência de 10,64/100 mil habitantes, a maior taxa observada na década. Em 1995,registraram-se 3.798 casos (coeficiente de incidência de 2,44/100 mil habitantes) e, a partirde então, o número de casos anuais não excedeu 2 mil, manten<strong>do</strong>-se com coeficiente de212 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Coquelucheincidência em torno de 1/100 mil habitantes. Nos últimos três anos, o número de casos nãochegou a 1.000/ano e o coeficiente de incidência manteve-se inferior a 0,05/1.000 habitantes(Gráfico 1). Desde a instituição <strong>do</strong> Programa Nacional de Imunizações, em 1973, quan<strong>do</strong> avacina tríplice bacteriana (DTP) passou a ser preconizada para crianças menores de 7 anos,observa-se um declínio na incidência da coqueluche, muito embora as coberturas vacinaisiniciais não fossem elevadas. A partir <strong>do</strong>s anos noventa, a cobertura foi se elevan<strong>do</strong>, principalmentea partir de 1998, resultan<strong>do</strong> em importante modificação no perfil epidemiológicodesta <strong>do</strong>ença (Gráfico 1). Entretanto, nos últimos anos, surtos de coqueluche vêm sen<strong>do</strong>registra<strong>do</strong>s, principalmente em populações indígenas.O grupo de menores de um ano concentra quase 50% <strong>do</strong> total de casos (Gráfico 2)e apresenta o maior coeficiente de incidência (Gráfico 3). Isto se deve, provavelmente, àgravidade <strong>do</strong> quadro clínico nesta faixa etária, o que, por sua vez, leva à maior procura <strong>do</strong>sserviços de saúde e maior número de casos diagnostica<strong>do</strong>s.A letalidade da <strong>do</strong>ença é também mais elevada no grupo de crianças menores de umano, particularmente naquelas com menos de seis meses de idade, que concentram quaseto<strong>do</strong>s os óbitos por coqueluche.6Gráfico 1. Coeficiente de incidência da coqueluche¹ e cobertura vacinal pela DTP².Brasil, 1980-2003³CCasos /100 mil hab.5045403530252015105100908070605040302010Cobertura (%)080 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03Ano0Coeficiente de incidênciaCobertura vacinalFonte: ¹Ministério da Saúde/SVS/Devep/CGDT/Cover; ²Ministério da Saúde/SVS/Devep/CGPNI;³Da<strong>do</strong>s sujeitos a revisão.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS213


CoquelucheGráfico 2. Número de casos de coqueluche, por grupo de idade. Brasil, 1992-20037.0006.0005.000Número de casos4.0003.0002.0001.000091 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03Ano< 1 ano 1 - 4 anos 5 - 14 anos > 15 anosFonte: Ministério da Saúde/SVS/Devep/CGDT/Cover. Da<strong>do</strong>s sujeitos a revisão.Gráfico 3. Coeficiente de incidência da coqueluche, por grupo de idade.Brasil, 1982-2003Casos /100 mil hab.1.0001001010,10,0182 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03< 1 ano 1 - 4 anos 5 - 14 anos > 15 anosFonte: Ministério da Saúde/SVS/Devep/CGDT/Cover. Da<strong>do</strong>s sujeitos a revisão.214 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


CoquelucheVigilância epidemiológicaA coqueluche é uma <strong>do</strong>ença de notificação compulsória em to<strong>do</strong> o território nacionale sua investigação laboratorial é obrigatória nos surtos e nos casos atendi<strong>do</strong>s nas unidadessentinelas previamente determinadas, a fim de identificar a circulação da Bordetella pertussis(Anexos 1 e 2).Objetivos• Acompanhar a tendência temporal da <strong>do</strong>ença, para detecção precoce de surtos eepidemias, visan<strong>do</strong> a<strong>do</strong>tar medidas de controle pertinentes.• Aumentar o percentual de isolamento em cultura, com envio de 100% das cepasisoladas para o laboratório de referência nacional, para estu<strong>do</strong>s moleculares e deresistência bacteriana a antimicrobianos.Definição de casoSuspeito• To<strong>do</strong> indivíduo, independente da idade e esta<strong>do</strong> vacinal, que apresente tosse seca há14 dias ou mais, associada a um ou mais <strong>do</strong>s seguintes sintomas:❯ tosse paroxística – tosse súbita incontrolável, com tossidas rápidas e curtas(5 a 10) em uma única expiração;❯ guincho inspiratório;❯ vômitos pós-tosse.• To<strong>do</strong> indivíduo, independente da idade e esta<strong>do</strong> vacinal, que apresente tosse seca há14 dias ou mais e tenha história de contato com caso confirma<strong>do</strong> como coqueluchepelo critério clínico.6CConfirma<strong>do</strong>• Critério laboratorial – to<strong>do</strong> caso suspeito de coqueluche com isolamento de Bordetellapertussis.• Critério epidemiológico – to<strong>do</strong> caso suspeito que teve contato com caso confirma<strong>do</strong>como coqueluche pelo critério laboratorial, entre o início <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> catarral atétrês semanas após o início <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> paroxístico da <strong>do</strong>ença (perío<strong>do</strong> de transmissibilidade).• Critério clínico – to<strong>do</strong> caso suspeito de coqueluche cujo hemograma apresente leucocitose(acima de 20 mil leucócitos/mm3) e linfocitose absoluta (acima de 10 millinfócitos/mm3), desde que sejam obedecidas as seguintes condições: resulta<strong>do</strong> decultura negativa ou não realizada; inexistência de vínculo epidemiológico (vide itemacima); não confirmação de outra etiologia.Descarta<strong>do</strong>Caso suspeito que não se enquadra em nenhuma das situações descritas anteriormente.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS215


CoquelucheNotificaçãoTo<strong>do</strong> caso suspeito deve ser notifica<strong>do</strong> através <strong>do</strong> Sistema de Informação de Agravosde Notificação (Sinan). Os casos atendi<strong>do</strong>s nas unidades sentinelas previamente determinadasdevem ser notifica<strong>do</strong>s imediatamente pelo meio mais rápi<strong>do</strong> possível ao serviço devigilância local, a fim de se proceder a coleta de material para a realização de cultura paraa Bordetella pertussis.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteHospitalização <strong>do</strong>s casos graves. Crianças com menos de um ano quase sempre evoluempara quadros graves. A grande maioria <strong>do</strong>s casos pode ser tratada ambulatorialmente.Qualidade da assistênciaPara crianças com menos de um ano pode se tornar necessária a indicação de assistênciaventilatória (oxigenação e broncoaspiração), drenagem de decúbito, hidratação e/ounutrição parenteral. Nesta situação, verificar se os casos estão sen<strong>do</strong> atendi<strong>do</strong>s em unidadede saúde com capacidade para prestar atendimento adequa<strong>do</strong> e oportuno.Proteção individual para evitar disseminação da bactériaOs <strong>do</strong>entes com coqueluche devem ser manti<strong>do</strong>s em isolamento respiratório durantecinco dias após o início <strong>do</strong> tratamento antimicrobiano apropria<strong>do</strong>. Nos casos não submeti<strong>do</strong>sa antibioticoterapia, o tempo de isolamento deve ser de três semanas.Confirmação diagnósticaColetar material para diagnóstico laboratorial de acor<strong>do</strong> com as orientações constantes<strong>do</strong> Anexo 3.Proteção da populaçãoLogo que se tenha conhecimento da suspeita de caso(s) de coqueluche deve-se desencadearum bloqueio vacinal seletivo nas áreas onde o paciente esteve no perío<strong>do</strong> de transmissibilidade,com vistas a aumentar a cobertura vacinal com a DTP. É importante lembrarque a vacina DTP é indicada para crianças de 2 meses a 6 anos completos. Deve-se realizara quimioprofilaxia conforme indica<strong>do</strong> no tópico Controle <strong>do</strong>s comunicantes.InvestigaçãoO caso suspeito atendi<strong>do</strong> nas unidades sentinelas previamente determinadas deve serimediatamente investiga<strong>do</strong>, a fim de se garantir a coleta oportuna de material para a realizaçãode cultura de Bordetella pertussis.A ficha de investigação da coqueluche, no Sistema de Informação de Agravos de Notificação(Sinan), contém os elementos essenciais a serem coleta<strong>do</strong>s em uma investigação derotina. To<strong>do</strong>s os campos desta ficha devem ser criteriosamente preenchi<strong>do</strong>s, mesmo quan-216 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Coqueluche<strong>do</strong> a informação for negativa. Outros itens e observações podem ser incluí<strong>do</strong>s, conforme asnecessidades e peculiaridades de cada situação.Roteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos <strong>do</strong>s itens da ficha de investigação epidemiológica relativosaos da<strong>do</strong>s gerais, notificação individual e da<strong>do</strong>s de residência.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPara confirmar a suspeita diagnóstica• Anotar na ficha de investigação os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s antecedentes epidemiológicos e clínicos❯ Observar com atenção se o caso notifica<strong>do</strong> enquadra-se na definição de caso suspeitode coqueluche;❯ Acompanhar a evolução <strong>do</strong> caso e o resulta<strong>do</strong> da cultura de Bordetella pertussis.6Para identificação da área de transmissão• Verificar se no local de residência, creche ou na escola há indícios de outros casossuspeitos. Quan<strong>do</strong> não se identificar casos nestes locais, interrogar sobre deslocamentose permanência em outras áreas.CEstes procedimentos devem ser feitos mediante entrevista com o paciente, familiaresou responsáveis, bem como com lideranças da comunidade.Para determinação da extensão da área de transmissão• Busca ativa de casos❯ Após a identificação <strong>do</strong> possível local de transmissão, iniciar imediatamente abusca ativa de outros casos, casa a casa, na creche, escola, local de trabalho e emunidades de saúde.Investigação de comunicantesDefine-se como comunicante qualquer pessoa exposta a um caso de coqueluche, entreo início <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> catarral até três semanas após o início <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> paroxístico da<strong>do</strong>ença (perío<strong>do</strong> de transmissibilidade).• A investigação de comunicantes deve ser feita na residência, creche, escola e outroslocais que possibilitaram o contato íntimo com o caso.• Identificar os comunicantes com tosse.• Coletar material de nasofaringe <strong>do</strong>s comunicantes com tosse, a fim de realizar culturade Bordetella pertussis (Anexo 3).• Verificar a situação vacinal <strong>do</strong>s comunicantes, consideran<strong>do</strong> <strong>do</strong>ses registradas naSecretaria de Vigilância em Saúde / MS217


Coqueluchecaderneta de vacinação e, se necessário, atualizar o esquema vacinal <strong>do</strong>s menores desete anos com a vacina DTP.• Preencher os campos referentes aos da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s comunicantes na ficha de investigaçãoda coqueluche.• Manter a área sob vigilância até 42 dias após a identificação <strong>do</strong> último caso (perío<strong>do</strong>máximo de incubação observa<strong>do</strong>).Coleta e remessa de material para exames• Rotineiramente, deve-se coletar material de nasofaringe <strong>do</strong>s casos suspeitos atendi<strong>do</strong>snas unidades sentinelas previamente determinadas, a fim de identificar a circulaçãoda Bordetella pertussis.AtençãoPriorizar os casos em que a antibioticoterapia ainda não foi instituída ou que estão emuso de antimicrobiano há menos de 3 dias.• Em situações de surto de síndrome coqueluchóide, deve-se coletar material de nasofaringepara realização de cultura. Na impossibilidade de coletar material de to<strong>do</strong>sos casos, o que sobrecarregaria a vigilância e o laboratório, selecionar uma amostraadequada de pacientes, consideran<strong>do</strong>:❯ tempo da <strong>do</strong>ença – coletar espécime clínico de casos em fase aguda da <strong>do</strong>ença,ou seja, com menos de quatro semanas de evolução;❯ tempo de uso de antibiótico – priorizar os casos em que a antibioticoterapia aindanão foi instituída ou que estão em uso de antimicrobiano há menos de três dias;❯ distribuição <strong>do</strong>s casos – coletar casos de pontos distintos, como, por exemplo,diferentes creches, aldeias, salas de aula, etc.• É de responsabilidade <strong>do</strong>s profissionais da vigilância epidemiológica e/ou <strong>do</strong>s laboratórioscentrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo proceder a coleta dematerial para exame, de acor<strong>do</strong> com a organização de cada local.• É fundamental que a coleta seja feita por pessoal devidamente treina<strong>do</strong>.AtençãoNão se deve aguardar os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames para a instituição <strong>do</strong> tratamento, desencadeamentodas medidas de controle e outras atividades da investigação, embora sejamimprescindíveis para confirmar os casos e nortear o encerramento das investigações.Análise de da<strong>do</strong>sA análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s tem como objetivo proporcionar conhecimentos atualiza<strong>do</strong>s sobrecaracterísticas epidemiológicas no que diz respeito, principalmente, a distribuição daincidência por áreas geográficas e grupos etários, taxa de letalidade e eficiência <strong>do</strong>s programasde vacinação, bem como a detecção de possíveis falhas operacionais da atividade218 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Coqueluchede controle da <strong>do</strong>ença na área. Portanto, quan<strong>do</strong> da ocorrência de surtos faz-se necessáriosistematizar as informações em tabelas e gráficos, consideran<strong>do</strong> critérios de confirmação <strong>do</strong>diagnóstico, proporção de casos em vacina<strong>do</strong>s, padrões de distribuição da <strong>do</strong>ença e coberturavacinal. A consolidação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, consideran<strong>do</strong>-se as características de pessoa, tempoe lugar, permitirá uma caracterização detalhada da situação epidemiológica.Encerramento de casosAs fichas de investigação de cada caso devem ser analisadas consideran<strong>do</strong>-se as seguintesalternativas utilizadas para o diagnóstico:• critério laboratorial – o isolamento da Bordetella pertussis classifica o caso comoconfirma<strong>do</strong>;• critério epidemiológico – o vínculo epidemiológico <strong>do</strong> caso suspeito com outroscasos confirma<strong>do</strong>s de coqueluche pelo critério laboratorial classifica o diagnósticocomo caso confirma<strong>do</strong>;• critério clínico – caso suspeito de coqueluche com resulta<strong>do</strong> de hemograma comleucocitose (acima de 20 mil leucócitos/mm3) e linfocitose absoluta (acima de 10 millinfócitos/mm3), com resulta<strong>do</strong> de cultura negativa ou não realizada, mesmo sem ademonstração de vínculo epidemiológico com outro caso confirma<strong>do</strong> laboratorialmente,desde que não se confirme outra etiologia, classifica o diagnóstico como casoconfirma<strong>do</strong>;• descarta<strong>do</strong> – caso suspeito não confirma<strong>do</strong> por nenhum <strong>do</strong>s critérios descritos anteriormente.6CRelatório finalAs investigações de surtos devem ser sumarizadas em um relatório com as principaisconclusões, dentre as quais destacam-se:• se o surto foi decorrente de falhas vacinais;• que ações de prevenção foram a<strong>do</strong>tadas e quais as que devem ser mantidas a curto emédio prazos na área;• avaliação da magnitude <strong>do</strong> problema e da adequação das medidas a<strong>do</strong>tadas, visan<strong>do</strong>impedir a continuidade de transmissão da <strong>do</strong>ença;• condições <strong>do</strong> programa de imunização na área, principalmente com referência àmanutenção de elevadas e homogêneas coberturas vacinais, conservação e aplicaçãoda vacina utilizada;• avaliação da situação da vigilância da <strong>do</strong>ença na área;• medidas a<strong>do</strong>tadas para superar os problemas <strong>do</strong> programa de imunização, quan<strong>do</strong>pertinentes;• medidas a<strong>do</strong>tadas em relação à vigilância: busca ativa de casos, definição de fluxode vigilância para a área, definição de conduta para identificação e investigação deoutros surtos e capacitação de pessoal para coleta e transporte de material.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS219


CoquelucheQuan<strong>do</strong> a <strong>do</strong>ença manifestar-se apenas sob a forma endêmica, a cada final de anodeve-se elaborar um relatório conten<strong>do</strong> informações sobre o desempenho operacional davigilância epidemiológica (Anexo 4), tendência temporal, distribuição espacial da <strong>do</strong>ença,cobertura vacinal em menores de um ano e homogeneidade.Instrumentos disponíveis para controleImunizaçãoA medida de controle da coqueluche, de interesse prático em saúde pública, é a vacinação<strong>do</strong>s suscetíveis na rotina da rede básica de saúde.A vacina contra a coqueluche deve ser aplicada mesmo em crianças com históricoanterior da <strong>do</strong>ença. A DTP (tríplice bacteriana) ou DTPa (tríplice acelular) é recomendadaaté a idade de seis anos (6 anos, 11 meses e 29 dias), sen<strong>do</strong> que a vacinacombinada DTP+Hib é preconizada para os menores de um ano, pelo Ministérioda Saúde.Considera-se pessoa adequadamente vacinada quem recebeu três <strong>do</strong>ses de vacinaDTP (contra difteria, tétano e coqueluche) ou DTP+Hib (contra difteria, tétano e coqueluchee infecções graves causadas pelo Haemophilus influenzae), a partir de <strong>do</strong>is meses devida, com intervalo de, pelo menos, 30 dias entre as <strong>do</strong>ses (o ideal é intervalo de <strong>do</strong>is meses)e com 1º reforço aplica<strong>do</strong> no prazo de 6 a 12 meses após a 3ª <strong>do</strong>se e o 2º reforço com 4-6anos de idade.• Vacina DTP (contra difteria, tétano e coqueluche)❯ A eficácia da vacina DTP varia de acor<strong>do</strong> com o componente, a saber: 80%-90%para difteria; 75%-80% para coqueluche e 100% para tétano. A imunidade conferidapela vacina não é permanente e decresce com o tempo. Em média, de 5 a 10anos após a última <strong>do</strong>se da vacina a proteção pode ser pouca ou nenhuma.❯ Deve ser aplicada por via intramuscular, a partir de <strong>do</strong>is meses de idade até 6 anoscompletos. É conservada entre +2ºC e +8ºC, conforme orientação <strong>do</strong> ProgramaNacional de Imunizações (vide Manual de Procedimentos para Vacinação)❯ Contra-indicações: crianças com quadro neurológico em atividade; reação anafiláticaapós o recebimento de qualquer <strong>do</strong>se da vacina; história de hipersensibilidadeaos componentes da vacina; encefalopatia nos primeiros sete dias após aaplicação de uma <strong>do</strong>se anterior desse produto ou outro com componente pertussis;convulsões até 72 horas após a administração da vacina; colapso circulatório,com choque ou episódio hipotônico-hiporresponsivo até 48 horas após a administraçãoda vacina (vide Manual de Procedimentos para Vacinação).❯ Eventos adversos: a maioria <strong>do</strong>s eventos pós-vacinação com DTP são de caráterbenigno e ocorrem nas primeiras 48 horas após a aplicação da vacina. São co-220 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Coqueluchemuns reações locais (vermelhidão, calor, endurecimento e edema, acompanha<strong>do</strong>sou não de <strong>do</strong>r) e sistêmicas (febre, irritabilidade e sonolência, por exemplo). Menosfreqüentemente, podem ocorrer reações como choro persistente e inconsolável,episódio hipotônico-hiporresponsivo e convulsão (vide Manual de VigilânciaEpidemiológica <strong>do</strong>s Eventos Adversos Pós-Vacinação).• Vacina tetravalente – DTP+Hib (contra difteria, tétano, coqueluche e infecçõesgraves causadas pelo Haemophilus influenzae)❯ De acor<strong>do</strong> com o calendário nacional de vacinação (Portaria MS nº 597, de8/4/04), é indicada a aplicação de três <strong>do</strong>ses da vacina tetravalente nas criançasmenores de um ano. Esta vacina deve ser conservada entre +2ºC e +8ºC, poden<strong>do</strong>ser utilizada por cinco dias após a reconstituição (vide Nota Técnica Introduçãoda Vacina Tetravalente, da Coordenação Geral <strong>do</strong> Programa Nacional de Imunizações);❯ Deve ser aplicada por via intramuscular profunda, sen<strong>do</strong> que a via subcutâneadeve ser utilizada em crianças com trombocitopenia ou distúrbios de sangramento(vide Nota Técnica Introdução da Vacina Tetravalente).❯ Contra-indicações – reação anafilática grave ao mesmo produto ou qualquer deseus componentes; encefalopatia nos primeiros sete dias após a aplicação de uma<strong>do</strong>se anterior desse produto ou outro com componente pertussis; convulsões até72 horas após a administração da vacina; colapso circulatório; com choque oucom episódio hipotônico-hiporresponsivo até 48 horas após a administração davacina; quadro neurológico em atividade (vide Nota Técnica Introdução da VacinaTetravalente).❯ Eventos adversos – os sintomas locais mais freqüentes relata<strong>do</strong>s nas primeiras48 horas são <strong>do</strong>r, eritema, edema e/ou calor e enduração. Os sintomas sistêmicosrelata<strong>do</strong>s em igual perío<strong>do</strong> desaparecem espontaneamente, dentre os quais febre,perda de apetite, agitação, vômito, choro persistente, mal-estar geral e irritabilidade.Menos freqüentemente, pode ocorrer sonolência, choro prolonga<strong>do</strong> e incontrolável,convulsões e síndrome hipotônica-hiporresponsiva. Relatos de reaçõesalérgicas, incluin<strong>do</strong> as anafiláticas, são raros (vide Nota Técnica Introdução da VacinaTetravalente).6C• Vacina DTPa (contra difteria, tétano e coqueluche acelular)❯ Esta vacina está disponível somente nos Centros de Referência de ImunobiológicosEspeciais (Crie) e é indicada para crianças de 2 meses a 6 anos completos (6anos, 11 meses e 29 dias) que apresentaram os seguintes eventos adversos após orecebimento de qualquer uma das <strong>do</strong>ses da vacina DTP: convulsão nas primeiras72 horas ou episódio hipotônico-hiporresponsivo nas primeiras 48 horas (videManual de Procedimentos para Vacinação).Secretaria de Vigilância em Saúde / MS221


Coqueluche❯ Deve ser aplicada por via intramuscular, a partir de <strong>do</strong>is meses de idade até 6 anoscompletos. É conservada entre +2ºC e +8ºC, conforme orientação <strong>do</strong> ProgramaNacional de Imunizações (vide Manual de Procedimentos para Vacinação).❯ Contra-indicações – reação anafilática após o recebimento de qualquer <strong>do</strong>se davacina acelular ou celular (DTP); história de hipersensibilidade aos componentesda vacina; ocorrência de encefalopatia nos primeiros sete dias após a administraçãoda vacina acelular ou da celular (DTP) (vide Manual de Procedimentos paraVacinação).❯ Eventos adversos – os eventos adversos locais e sistêmicos leves das vacinas acelularessão os mesmos das vacinas celulares, porém com menor freqüência e intensidade.Raramente, pode ocorrer febre > 40ºC; convulsões febris, choro com 3horas ou mais de duração e episódios hipotônico-hiporresponsivos (vide Manual<strong>do</strong>s Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais).• Recomendações para vacinação❯ Rotina – o Ministério da Saúde preconiza a administração de três <strong>do</strong>ses da vacinaDTP+Hib, a partir de 2 meses de vida, com intervalo de 60 dias entre as<strong>do</strong>ses. Doses subseqüentes da vacina DTP deverão ser aplicadas aos 15 meses (1ºreforço) e aos 4-6 anos de idade (2º reforço).Esquema recomenda<strong>do</strong> para as vacinas DTP+Hib e DTPVacina Dose Idade Intervalo entre as <strong>do</strong>ses1ª <strong>do</strong>se 2 meses 8 semanasDTP+Hib2ª <strong>do</strong>se 4 meses 8 semanas3ª <strong>do</strong>se 6 meses 8 semanasDTP1º reforço 15 meses 6 a 12 meses2º reforço 4-6 anosapós a 3ª <strong>do</strong>seFonte: Ministério da Saúde. Portaria nº 597, de 8/4/04.❯ Casos isola<strong>do</strong>s e surtos – proceder a vacinação seletiva da população susceptível,visan<strong>do</strong> aumentar a cobertura vacinal na área de ocorrência <strong>do</strong>s casos.Controle da fonte de infecçãoMedidas gerais para pacientes hospitaliza<strong>do</strong>sIsolamento – recomenda-se isolamento tipo respiratório por gotículas durante o perío<strong>do</strong>de transmissibilidade, a fim de reduzir o risco da transmissão para outras criançasexpostas. Especial atenção deve ser dada aos lactentes, a fim de evitar o contágio.Quarto privativo – enquanto o paciente estiver transmitin<strong>do</strong> a bactéria. Pode havercompartilhamento com mais de um paciente com o mesmo diagnóstico. O quarto deve sermanti<strong>do</strong> com a porta fechada.222 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


CoquelucheLavagem de mãos – deve ser feita antes e após o contato com o paciente, após a retiradadas luvas, de máscara e quan<strong>do</strong> houver contato com materiais utiliza<strong>do</strong>s pelo paciente.Uso de máscara – recomenda-se o uso de máscara comum para to<strong>do</strong>s os que entramno quarto. Após o uso, deve ser descartada em recipiente apropria<strong>do</strong> e o indivíduo develavar as mãos.Transporte <strong>do</strong> paciente – deve ser limita<strong>do</strong> ao mínimo possível e, quan<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>, opaciente deverá usar máscara comum.Limpeza e desinfecção – recomenda-se desinfecção concorrente e terminal <strong>do</strong>s objetoscontamina<strong>do</strong>s com as secreções nasofaríngeas. A solução indicada é o hipoclorito de sódioa 1%. Após a desinfecção, os objetos devem ser enxagua<strong>do</strong>s em água corrente. Objetos demetal podem ser desinfeta<strong>do</strong>s com álcool etílico a 70%.Medidas gerais para pacientes não hospitaliza<strong>do</strong>sOs pacientes não hospitaliza<strong>do</strong>s devem ser afasta<strong>do</strong>s de suas atividades habituais (creche,escola, trabalho):• por pelo menos cinco dias após o início de tratamento com antimicrobiano;• nos casos não submeti<strong>do</strong>s à antibioticoterapia o tempo de afastamento deve ser detrês semanas após o início <strong>do</strong>s paroxismos.6CControle <strong>do</strong>s comunicantesVacinaçãoOs comunicantes íntimos, familiares e escolares, menores de sete anos não vacina<strong>do</strong>s,inadequadamente vacina<strong>do</strong>s ou com situação vacinal desconhecida deverão receber uma<strong>do</strong>se da vacina contra a coqueluche e orientação de como proceder para completar o esquemade vacinação.ImportantePara os menores de um ano, indica-se a vacina DTP+Hib; para as crianças com idadeentre 1 ano e 6 anos completos (6 anos, 11 meses e 29 dias), a vacina DTP.Quimioprofilaxia – indicações• Comunicantes íntimos menores de 1 ano, independente da situação vacinal e deapresentar quadro de tosse.• Comunicantes íntimos menores de 7 anos não vacina<strong>do</strong>s, com situação vacinal desconhecidaou que tenham toma<strong>do</strong> menos de 4 <strong>do</strong>ses da vacina DTP ou DTPa.• Comunicantes adultos que trabalham em profissões que envolvem o contato diretoe freqüente com menores de 1 ano ou imunodeprimi<strong>do</strong>s devem, após o início <strong>do</strong>uso <strong>do</strong> antimicrobiano, ser submeti<strong>do</strong>s a quimioprofilaxia e afasta<strong>do</strong>s das atividadesjunto às crianças por 5 dias.• Comunicantes adultos que residam com menores de 1 ano.• Comunicantes íntimos que são pacientes imunodeprimi<strong>do</strong>s.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS223


CoquelucheMedicamentos indica<strong>do</strong>s para a quimioprofilaxia• O medicamento de escolha é a eritromicina (de preferência o estolato), na <strong>do</strong>sede 40 a 50 mg/kg/dia (máximo de 2 gramas/dia), dividida em 4 <strong>do</strong>ses iguais, durante10 dias.• No caso de intolerância à eritromicina pode-se usar sulfametoxazol+trimetoprim(SMZ+TMP), por via oral, de 12 em 12 horas, durante 10 dias, na seguinte <strong>do</strong>sagem:❯ crianças: 40mg (SMZ)/kg/dia e 8mg (TMP)/kg/dia. Com a ressalva de que asegurança e a eficácia de SMZ+TMP nos menores de 2 meses não está bemdefinida;❯ adultos e crianças com mais de 40 kg: 800mg (SMZ)/dia e 160mg (TMP)/dia, de 12 em 12 horas.A imunoglobulina humana não tem valor profilático ou terapêutico comprova<strong>do</strong>.Ações de educação em saúdeAs pessoas devem ser informadas quanto a importância da vacinação como medida deprevenção e controle da coqueluche. Deve-se dar ênfase à necessidade de se administrar onúmero de <strong>do</strong>ses preconiza<strong>do</strong> pelo calendário vigente.Também deve ser ressaltada a importância da procura aos serviços de saúde se foremobservadas as manifestações que caracterizam a definição de caso suspeito de coqueluche.224 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


CoquelucheAnexo 1Fluxograma da vigilância da coqueluche – 1ª parteCaso suspeitoCaso isola<strong>do</strong>SurtoAtendi<strong>do</strong> emunidade sentinela?6NãoSimNotificaçãoInvestigaçãolaboratorial*NotificaçãoimediataInvestigaçãoimediataCPreenchimentoda Ficha deInvestigaçãoEpidemiológicaColeta desecreçãonasofaríngea<strong>do</strong> caso pararealizar culturaVacinaçãoseletiva com DTPou DTP+HiB,na área deresidência, escola,creche, trabalhoBusca ativade outroscasos na área deresidência, escola,creche, trabalhoInvestigação<strong>do</strong>s comunicantesColeta de secreção nasofaríngeade comunicantes com tosseVerificar situação <strong>do</strong>s comunicantese vacinar, se necessárioRealizar quimioprofilaxia<strong>do</strong>s comunicantes, conformeorienta<strong>do</strong> no Guia*OpcionalManter área sobvigilância por 42 diasSecretaria de Vigilância em Saúde / MS225


CoquelucheAnexo 2Fluxograma da vigilância da coqueluche – 2ª parteCaso suspeitoCaso isola<strong>do</strong>SurtoNotificaçãoimediataInvestigaçãoimediataPreenchimentoda Ficha deInvestigaçãoEpidemiológicaColeta de secreçãonasofaríngea<strong>do</strong>s casos pararealizar culturaVacinação seletivacom DTPou DTP+HiB,na áreaBusca ativade outroscasos na áreaInvestigação <strong>do</strong>scomunicantesElaboração derelatório finalColeta de secreção nasofaríngeade comunicantes com tosseVerificar situação <strong>do</strong>s comunicantese vacinar, se necessárioRealizar quimioprofilaxia<strong>do</strong>s comunicantes,conforme orienta<strong>do</strong> no GuiaManter área sobvigilância por 42 dias226 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


CoquelucheAnexo 3Diagnóstico laboratorial da coqueluchePelo seu alto grau de especificidade, a técnica da cultura para o isolamento da Bordetellapertussis da secreção nasofaríngea é considerada como “padrão-ouro” para o diagnósticolaboratorial da coqueluche, embora sua sensibilidade seja variável. Como a Bordetellapertussis apresenta um tropismo pelo epitélio respiratório cilia<strong>do</strong>, a cultura deve ser feita apartir da secreção nasofaríngea. A coleta <strong>do</strong> espécime clínico deve ser realizada antes <strong>do</strong>início da antibioticoterapia ou, no máximo, até 3 dias após seu início.Em condições ideais, a probabilidade de crescimento da bactéria é em torno de 60% a76%. Interferem no crescimento bacteriano nas culturas:• uso de antimicrobianos;• coleta realizada após a fase aguda, pois é raro o crescimento após a 4ª semana da<strong>do</strong>ença;• uso de swab com algodão não alginata<strong>do</strong>, pois este material interfere no crescimentoda Bordetella pertussis;• coleta e transporte inadequa<strong>do</strong>s.6CEm relação aos testes sorológicos, até o momento não se dispõem de testes adequa<strong>do</strong>snem padroniza<strong>do</strong>s. Os novos méto<strong>do</strong>s em investigação apresentam limitações na interpretação,sensibilidade, especificidade e reprodutibilidade.É importante salientar que o isolamento e detecção de antígenos, produtos bacterianosou seqüências genômicas de Bordetella pertussis são aplicáveis ao diagnóstico da faseaguda.1. Coleta de secreção nasofaríngea• Realizar preferencialmente na fase aguda da <strong>do</strong>ença.• Realizar antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong> tratamento com antimicrobiano ou, no máximo, atétrês dias após instituição.• Utilizar swab fino com haste flexível, estéril e alginata<strong>do</strong>.• Retirar os tubos com meio de transporte da geladeira e deixá-los atingir a temperaturaambiente.• Coletar o material de uma narina.• Utilizar um tubo de ensaio com meio de transporte específico (Regan-Lowe),com antibiótico.• Identificar o tubo com o nome e idade, indican<strong>do</strong> se é caso suspeito ou comunicante,bem como a data e horário da coleta.• Introduzir o swab na narina até encontrar resistência na parede posterior da nasofaringe.Manter o swab em contato com a nasofaringe por cerca de 10 segun<strong>do</strong>se, em seguida, retirá-lo.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS227


Coqueluche• Após a coleta, estriar o swab na superfície levemente inclinada <strong>do</strong> tubo (+ 2cm)e, a seguir, introduzir na base <strong>do</strong> meio de transporte.Atenção• O swab deve permanecer dentro <strong>do</strong> respectivo tubo.2. Transporte <strong>do</strong> material coleta<strong>do</strong>• O material deverá ser encaminha<strong>do</strong> ao laboratório imediatamente após a coleta,em temperatura ambiente. Cada espécime clínico deverá ser acompanha<strong>do</strong> daficha de encaminhamento de amostra ou de cópia da ficha de investigação epidemiológicada coqueluche, conforme definição no âmbito estadual. Se a opção fora ficha de investigação epidemiológica, deve-se anotar se o material (espécimeclínico) é <strong>do</strong> caso ou de comunicante.• Na impossibilidade <strong>do</strong> envio imediato após a coleta, incubar em estufa bacteriológicacom umidade à temperatura de 35ºC a 37ºC por um perío<strong>do</strong> máximo de48 horas. Encaminhar, em seguida, à temperatura ambiente.• Se o perío<strong>do</strong> de transporte <strong>do</strong> material pré-incuba<strong>do</strong> exceder 4 horas ou se atemperatura ambiente local for elevada (> 35ºC), recomenda-se o transporte sobrefrigeração, à temperatura de 4ºC.Atenção• Os tubos com meio de transporte que não forem utiliza<strong>do</strong>s no mesmo dia devemser manti<strong>do</strong>s na geladeira até o momento da coleta.• Verificar, sempre, o prazo de validade <strong>do</strong> meio de transporte antes de utilizá-lo.• Estabelecer com o laboratório uma rotina referente ao envio de amostras (horárioe local de entrega de material), fluxo de resulta<strong>do</strong>s e avaliação periódica da qualidadedas amostras enviadas, bem como outras questões pertinentes.Meio de transporte com antibiótico228 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


CoquelucheAnexo 4Indica<strong>do</strong>res operacionais da vigilância da coquelucheNº Indica<strong>do</strong>r Cálculo1 Percentual de casos investiga<strong>do</strong>sNº de casos investiga<strong>do</strong>sX 100Nº de casos notifica<strong>do</strong>s pelas unidades sentinelas2Percentual de casos investiga<strong>do</strong>soportunamente (investigaçãorealizada nas primeiras 72 horasapós a notificação)Nº de casos investiga<strong>do</strong>s em 72 horasX 100Nº de casos notifica<strong>do</strong>s pelas unidades sentinelas3Percentual de casos notifica<strong>do</strong>scom coleta oportuna de materialpara cultura (amostra de secreçãode nasofaringe coletada ematé três dias após o início daantibioticoterapia)Nº de casos com coleta de material oportunaX 100Nº de casos notifica<strong>do</strong>s pelas unidades sentinelas6CSecretaria de Vigilância em Saúde / MS229


CoquelucheAnexo 5Ficha de encaminhamento de espécime clínicopara diagnóstico laboratorial da coqueluche230 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DengueDENGUECID 10: A90Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoDoença febril aguda, que pode ser de curso benigno ou grave, dependen<strong>do</strong> da formacomo se apresente: infecção inaparente, dengue clássico (DC), febre hemorrágica da dengue(FHD) ou síndrome <strong>do</strong> choque da dengue (SCD). Atualmente, é a mais importantearbovirose que afeta o ser humano e constitui sério problema de saúde pública no mun<strong>do</strong>.Ocorre e dissemina-se especialmente nos países tropicais, onde as condições <strong>do</strong> meio ambientefavorecem o desenvolvimento e a proliferação <strong>do</strong> Aedes aegypti, principal mosquitovetor.6Agente etiológicoÉ um vírus RNA. Arbovírus <strong>do</strong> gênero Flavivirus, pertencente à família Flaviviridae.São conheci<strong>do</strong>s quatro sorotipos: 1, 2, 3 e 4.DReservatórioA fonte da infecção e reservatório vertebra<strong>do</strong> é o ser humano. Foi descrito na Ásia e naÁfrica um ciclo selvagem envolven<strong>do</strong> macacos.VetoresSão mosquitos <strong>do</strong> gênero Aedes. A espécie Aedes aegypti é a mais importante na transmissãoda <strong>do</strong>ença e também pode ser transmissora da febre amarela urbana. O Aedes albopictus,já presente nas Américas, com ampla dispersão nas regiões Sudeste e Sul <strong>do</strong> Brasil,é o vetor de manutenção da dengue na Ásia mas até o momento não foi associa<strong>do</strong> à transmissãoda dengue nas Américas.Mo<strong>do</strong> de transmissãoA transmissão se faz pela picada <strong>do</strong>s mosquitos Aedes aegypti, no ciclo ser humano-Aedes aegypti-ser humano. Após um repasto de sangue infecta<strong>do</strong>, o mosquito está apto atransmitir o vírus depois de 8 a 12 dias de incubação extrínseca. A transmissão mecânicatambém é possível, quan<strong>do</strong> o repasto é interrompi<strong>do</strong> e o mosquito, imediatamente, se alimentanum hospedeiro susceptível próximo. Não há transmissão por contato direto de um<strong>do</strong>ente ou de suas secreções com pessoa sadia, nem por intermédio de água ou alimento.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoVaria de 3 a 15 dias, sen<strong>do</strong> em média de 5 a 6 dias.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS231


DenguePerío<strong>do</strong> de transmissibilidadeO perío<strong>do</strong> de transmissibilidade da <strong>do</strong>ença compreende <strong>do</strong>is ciclos: um intrínseco,que ocorre no ser humano, e outro extrínseco, que ocorre no vetor.A transmissão <strong>do</strong> ser humano para o mosquito ocorre enquanto houver presença devírus no sangue <strong>do</strong> ser humano (perío<strong>do</strong> de viremia). Este perío<strong>do</strong> começa um dia antes <strong>do</strong>aparecimento da febre e vai até o 6º dia da <strong>do</strong>ença.No mosquito, após um repasto de sangue infecta<strong>do</strong>, o vírus vai se localizar nas glândulassalivares da fêmea <strong>do</strong> mosquito, onde se multiplica depois de 8 a 12 dias de incubação.A partir deste momento, é capaz de transmitir a <strong>do</strong>ença e assim permanece até o final desua vida (6 a 8 semanas).Imunidade e susceptibilidadeA susceptibilidade ao vírus da dengue é universal. A imunidade é permanente para ummesmo sorotipo (homóloga). Entretanto, a imunidade cruzada (heteróloga) existe temporariamente.A fisiopatogenia da resposta imunológica à infecção aguda por dengue pode serprimária e secundária. A resposta primária ocorre em pessoas não expostas anteriormenteao flavivírus, e o título <strong>do</strong>s anticorpos se eleva lentamente. A resposta secundária ocorre empessoas com infecção aguda por dengue, mas que tiveram infecção prévia por flavivírus, eo título de anticorpos se eleva rapidamente, atingin<strong>do</strong> níveis altos.A susceptibilidade, em relação à FHD, não está totalmente esclarecida. Três teoriasmais conhecidas tentam explicar sua ocorrência:• teoria de Rosen – relaciona o aparecimento de FHD à virulência da cepa infectante,de mo<strong>do</strong> que as formas mais graves sejam resultantes de cepas extremamente virulentas;• teoria de Halstead – relaciona a FHD com infecções seqüenciais por diferentes sorotipos<strong>do</strong> vírus da dengue, após um perío<strong>do</strong> de 3 meses a 5 anos. Nessa teoria, aresposta imunológica, na segunda infecção, é exacerbada, o que resulta numa formamais grave da <strong>do</strong>ença;• teoria integral de multicausalidade – tem si<strong>do</strong> proposta por autores cubanos, segun<strong>do</strong>a qual se aliam vários fatores de risco às teorias de infecções seqüenciais e devirulência da cepa. A interação desses fatores de risco promoveria condições para aocorrência da FHD:❯ fatores individuais – menores de 15 anos e lactentes, adultos <strong>do</strong> sexo feminino,raça branca, bom esta<strong>do</strong> nutricional, presença de enfermidades crônicas (diabetes,asma brônquica, anemia falciforme), preexistência de anticorpos, intensidadeda resposta imune anterior;❯ fatores virais – sorotipos circulantes e virulência das cepas;❯ fatores epidemiológicos – existência de população susceptível, circulação simultâneade <strong>do</strong>is ou mais sorotipos, presença de vetor eficiente, alta densidade vetorial,intervalo de tempo calcula<strong>do</strong> entre 3 meses e 5 anos entre duas infecçõespor sorotipos diferentes, seqüência das infecções (DEN-2 secundário aos outrossorotipos), ampla circulação <strong>do</strong> vírus.232 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DengueAspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasA infecção por dengue causa uma <strong>do</strong>ença cujo espectro inclui desde formas oligo ouassintomáticas, até quadros com hemorragia e choque, poden<strong>do</strong> evoluir para óbito.Dengue clássico (DC) – a primeira manifestação é a febre alta (39° a 40°C), de inícioabrupto, seguida de cefaléia, mialgia, prostração, artralgia, anorexia, astenia, <strong>do</strong>r retroorbital,náuseas, vômitos, exantema, pruri<strong>do</strong> cutâneo. Hepatomegalia <strong>do</strong>lorosa pode ocorrer,ocasionalmente, desde o aparecimento da febre. Alguns aspectos clínicos dependem daidade <strong>do</strong> paciente. Desse mo<strong>do</strong>, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal generalizada tem si<strong>do</strong> observada mais freqüentementeentre crianças e manifestações hemorrágicas como petéquias, epistaxe, gengivorragiae metrorragia têm si<strong>do</strong> relatadas mais freqüentemente entre adultos, ao fim <strong>do</strong>perío<strong>do</strong> febril. A <strong>do</strong>ença tem duração de 5 a 7 dias, mas o perío<strong>do</strong> de convalescença podeser acompanha<strong>do</strong> de grande debilidade física, e prolongar-se por várias semanas.Febre hemorrágica da dengue (FHD) – os sintomas iniciais são semelhantes aos <strong>do</strong>DC, porém há um agravamento <strong>do</strong> quadro no terceiro ou quarto dias de evolução, comaparecimento de manifestações hemorrágicas e colapso circulatório. A fragilidade capilaré evidenciada pela positividade da prova <strong>do</strong> laço*. Outras manifestações hemorrágicas incluempetéquias, equimoses, epistaxe, gengivorragia, hemorragia em diversos órgãos (gastrintestinal,intracraniana, etc.) e hemorragia espontânea pelos locais de punção venosa.Nos casos graves de FHD, o choque geralmente ocorre entre o 3º e 7º dias de <strong>do</strong>ença, geralmenteprecedi<strong>do</strong> por <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal. O choque é decorrente <strong>do</strong> aumento de permeabilidadevascular, seguida de hemoconcentração e falência circulatória. É de curta duração e podelevar a óbito em 12 a 24 horas ou à recuperação rápida, após terapia antichoque apropriada.Caracteriza-se por pulso rápi<strong>do</strong> e fraco, com diminuição da pressão de pulso e arterial,extremidades frias, pele pegajosa e agitação. Alguns pacientes podem ainda apresentar manifestaçõesneurológicas, como convulsões e irritabilidade.6D*A prova <strong>do</strong> laço, que não pode ser realizada com garrote ou torniquete, consiste emse obter, através <strong>do</strong> esfigmomanômetro, o ponto médio entre a pressão arterial máximae mínima <strong>do</strong> paciente, manten<strong>do</strong>-se esta pressão por 5 minutos; quan<strong>do</strong> positiva,aparecem petéquias sob o aparelho ou abaixo <strong>do</strong> mesmo. Se o número de petéquiasfor de 20 ou mais por polegada (um quadra<strong>do</strong> com 2,5 cm de la<strong>do</strong>), a prova é consideradafortemente positiva.A Organização Mundial da Saúde definiu um critério de classificação das formas deFHD, em 4 categorias, de acor<strong>do</strong> com o grau de gravidade:• Grau I – febre acompanhada de sintomas inespecíficos, em que a única manifestaçãohemorrágica é a prova <strong>do</strong> laço positiva;• Grau II – além das manifestações constantes <strong>do</strong> Grau I, somam-se hemorragiasespontâneas (sangramentos de pele, petéquias, epistaxe, gengivorragia e outras);Secretaria de Vigilância em Saúde / MS233


Dengue• Grau III – colapso circulatório com pulso fraco e rápi<strong>do</strong>, diminuição da pressãoarterial ou hipotensão, pele pegajosa e fria e inquietação;• Grau IV – choque profun<strong>do</strong>, com pressão arterial e pulso imperceptíveis (síndrome<strong>do</strong> choque da dengue).O Anexo 2 apresenta um roteiro para o diagnóstico e manejo clínico <strong>do</strong> paciente comdengue.Diagnóstico diferencialDengue clássico (DC) – a dengue tem um amplo espectro clínico, mas as principais<strong>do</strong>enças a serem consideradas no diagnóstico diferencial são gripe, rubéola, sarampo e outrasinfecções virais, bacterianas e exantemáticas. Além das <strong>do</strong>enças citadas, outros agravosdevem ser considera<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com a situação epidemiológica da região.Febre hemorrá gica da dengue (FHD) – no início da fase febril, o diagnóstico diferencialdeve ser feito com outras infecções virais e bacterianas e, a partir <strong>do</strong> 3º ou 4º dias,com choque en<strong>do</strong>tóxico decorrente de infecção bacteriana ou meningococcemia. Outras<strong>do</strong>enças com as quais deve-se fazer o diagnóstico diferencial são leptospirose, febre amarela,malária, hepatite infecciosa, influenza, bem como outras febres hemorrágicas, transmitidaspor mosquitos ou carrapatos.Diagnóstico laboratorialExames específicos – isolamento <strong>do</strong> agente ou méto<strong>do</strong>s sorológicos que demonstrama presença de anticorpos da classe IgM, em única amostra de soro, ou o aumento <strong>do</strong> títulode anticorpos IgG (conversão so rológica) em amostras pareadas (ver normas e procedimentosno Anexo 1).Exames inespecíficos – hematócrito e plaquetometria são os mais importantes parao diagnóstico e acompanhamento <strong>do</strong>s pacientes com manifestações hemorrágicas e parapacientes em situações especiais: gestante, i<strong>do</strong>so (>65 anos), hipertensão arterial, diabetemelito, asma brônquica, <strong>do</strong>ença hematológica ou renal crônicas, <strong>do</strong>ença severa <strong>do</strong> sistemacardiovascular, <strong>do</strong>ença áci<strong>do</strong>-péptica ou <strong>do</strong>ença auto-imune. Suas interpretações são descritasno Anexo 2.TratamentoDengue clássico – o tratamento é sintomático (analgésicos e antipiréticos) e pode serfeito no <strong>do</strong>micílio, com orientação para retorno ao serviço de saúde após 48 a 72 horas <strong>do</strong>início <strong>do</strong>s sintomas. Indica-se hidratação oral com aumento da ingesta de água, sucos, chás,soros caseiros, etc. Não devem ser usa<strong>do</strong>s medicamentos com ou deriva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> áci<strong>do</strong> acetilsalicílicoe antiinflamatórios não hormonais, por aumentar o risco de hemorragias.Febre hemorrá gica da dengue – existe uma progressão <strong>do</strong> dengue clássico para a FHD,e a conduta frente ao paciente depende <strong>do</strong>s sinais clínicos e evolução da hemoconcentração.Para facilitar o tratamento desta enfermidade, um roteiro de manejo <strong>do</strong> paciente com suspeitadesta forma da <strong>do</strong>ença encontra-se descrito no Anexo 2.234 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DengueAspectos epidemiológicosTem si<strong>do</strong> observa<strong>do</strong> um padrão sazonal de incidência coincidente com o verão, devi<strong>do</strong>à maior ocorrência de chuvas e aumento da temperatura nessa estação. É mais comum nosnúcleos urbanos, onde é maior a quantidade de cria<strong>do</strong>uros naturais ou resultantes da ação<strong>do</strong> ser humano. Entretanto, a <strong>do</strong>ença pode ocorrer em qualquer localidade desde que existapopulação humana susceptível, presença <strong>do</strong> vetor e o vírus seja introduzi<strong>do</strong>.Nas Américas – a dengue tem si<strong>do</strong> relatada nas Américas há mais de 200 anos. Nadécada de 50, a FHD foi descrita, pela primeira vez, nas Filipinas e Tailândia. Após a décadade 60, a circulação <strong>do</strong> vírus da dengue intensificou-se nas Américas. A partir de 1963,houve circulação comprovada <strong>do</strong>s sorotipos 2 e 3 em vários países. Em 1977, o sorotipo 1foi introduzi<strong>do</strong> nas Américas, inicialmente pela Jamaica. A partir de 1980, foram notificadasepidemias em vários países, aumentan<strong>do</strong> consideravelmente a magnitude <strong>do</strong> problema.Cabe citar: Brasil (1982/1986-2002), Bolívia (1987), Paraguai (1988), Equa<strong>do</strong>r (1988), Peru(1990) e Cuba (1977/1981). A FHD afetou Cuba em 1981, evento de extrema importânciana história da dengue nas Américas. Essa epidemia foi causada pelo sorotipo 2, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> oprimeiro relato de febre hemorrágica da dengue ocorri<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> Sudeste Asiático e PacíficoOcidental. O segun<strong>do</strong> surto ocorreu na Venezuela, em 1989.No Brasil – há referências de epidemias desde o século XIX. No século passa<strong>do</strong> há relatosem 1916, em São Paulo, e em 1923, em Niterói, no Rio de Janeiro, sem diagnóstico laboratorial.A primeira epidemia, <strong>do</strong>cumentada clínica e laboratorialmente, ocorreu em 1981-1982, emBoa Vista/Roraima, causada pelos sorotipos 1 e 4. Em 1986, ocorreram epidemias no Rio deJaneiro e algumas capitais da região Nordeste. Desde então, a dengue vem ocorren<strong>do</strong> no Brasilde forma continuada, intercalan<strong>do</strong>-se com a ocorrência de epidemias, geralmente associadascom a introdução de novos sorotipos em áreas anteriormente indenes. Na epidemia de 1986,identificou-se a ocorrência da circulação <strong>do</strong> sorotipo DEN1, inicialmente no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio deJaneiro, disseminan<strong>do</strong>-se, a seguir, para outros seis esta<strong>do</strong>s até 1990. Nesse ano, foi identificadaa circulação de um novo sorotipo, o DEN 2, também no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro.Durante a década de noventa, ocorreu aumento significativo da incidência, reflexo daampla dispersão <strong>do</strong> Aedes aegypti no território nacional. A presença <strong>do</strong> vetor associada àmobilidade da população levou à disseminação <strong>do</strong>s sorotipos 1 e 2 para 20 <strong>do</strong>s 27 esta<strong>do</strong>s<strong>do</strong> país. Entre os anos de 1990 e 2000, várias epidemias foram registradas, sobretu<strong>do</strong> nosgrandes centros urbanos das regiões Sudeste e Nordeste <strong>do</strong> Brasil, responsáveis pela maiorparte <strong>do</strong>s casos notifica<strong>do</strong>s. As regiões Centro-Oeste e Norte foram acometidas mais tardiamente,pois as epidemias de dengue só foram registradas a partir da segunda metade dadécada de 90. A maior incidência da <strong>do</strong>ença foi observada em 2002, quan<strong>do</strong> foram registra<strong>do</strong>scerca de 790 mil casos.A circulação <strong>do</strong> sorotipo 3 <strong>do</strong> vírus foi identificada, pela primeira vez, em dezembro de2000, também no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro e, posteriormente, no esta<strong>do</strong> de Roraima, em novembrode 2001. Desde o início da epidemia de 2002 observava-se a rápida dispersão <strong>do</strong> sorotipo3 para outros esta<strong>do</strong>s: no primeiro semestre de 2004, por exemplo, 23 <strong>do</strong>s 27 esta<strong>do</strong>s<strong>do</strong> país já apresentavam a circulação simultânea <strong>do</strong>s sorotipos 1, 2 e 3 <strong>do</strong> vírus da dengue.6DSecretaria de Vigilância em Saúde / MS235


DengueCasos notifica<strong>do</strong>s por região e incidência de dengue. Brasil, 1986-20031.000Casos notifica<strong>do</strong>s x 1 milIncidência (100 mil hab.)500800400600300400200200100086 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03N NE SE S CO Incidência0Fonte: CGPNCD/Diges/SVS/MSVigilância epidemiológicaObjetivos• Evitar a ocorrência das infecções pelo vírus da dengue em áreas livres de circulação.• Detectar precocemente as epidemias.• Controlar as epidemias em curso.• Reduzir o risco de transmissão da dengue nas áreas endêmicas.• Reduzir a letalidade de FHD/SCD, mediante diagnóstico precoce e tratamento oportunoe adequa<strong>do</strong>.Definição de casoCaso suspeito de dengue clássico – paciente que tenha <strong>do</strong>ença febril aguda, com duraçãomáxima de 7 dias, acompanhada de pelo menos <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s seguintes sintomas: cefaléia,<strong>do</strong>r retroorbital, mialgia, artralgia, prostração, exantema. Além desses sintomas, deve teresta<strong>do</strong> nos últimos quinze dias em área onde esteja ocorren<strong>do</strong> transmissão de dengue outenha a presença de Aedes aegypti.Caso suspeito de FHD – é to<strong>do</strong> caso suspeito de dengue clássico que também apresentemanifestações hemorrágicas, varian<strong>do</strong> desde prova <strong>do</strong> laço positiva até fenômenos maisgraves como hematêmese, melena e outros. A ocorrência de manifestações hemorrágicas,acrescidas de sinais e sintomas de choque cardiovascular (pulso arterial fino e rápi<strong>do</strong> ou236 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Dengueausente, diminuição ou ausência de pressão arterial, pele fria e úmida, agitação), levam àsuspeita de síndrome de choque.Caso confirma<strong>do</strong> de dengue clássico – é o caso confirma<strong>do</strong> laboratorialmente. No cursode uma epidemia, a confirmação pode ser feita através de critério clínico-epidemiológico,exceto nos primeiros casos da área, que deverão ter confirmação laboratorial.Caso confirma<strong>do</strong> de FHD – é o caso em que to<strong>do</strong>s os critérios abaixo estão presentes:• febre ou história de febre recente, com duração de 7 dias ou menos;• trombocitopenia (< = 100 mil/mm 3 );• tendências hemorrágicas evidenciadas por um ou mais <strong>do</strong>s seguintes sinais: prova<strong>do</strong> laço positiva, petéquias, equimoses ou púrpuras e sangramentos de mucosas, <strong>do</strong>trato gastrointestinal e outros;• extravasamento de plasma, devi<strong>do</strong> ao aumento de permeabilidade capilar, manifesta<strong>do</strong>por: hematócrito apresentan<strong>do</strong> um aumento de 20% <strong>do</strong> valor basal (valor <strong>do</strong>hematócrito anterior à <strong>do</strong>ença) ou valores superiores a: 45% em crianças; 48% emmulheres e 54% em homens; ou queda <strong>do</strong> hematócrito em 20%, após o tratamento;ou presença de derrame pleural, ascite e hipoproteinemia;• confirmação laboratorial específica.6DCaso de dengue com complicações – é to<strong>do</strong> caso que não se enquadre nos critérios deFHD e a classificação de dengue clássico é insatisfatória, dada a gravidade <strong>do</strong> quadro clínico-laboratorialapresenta<strong>do</strong>. Nessa situação, a presença de um <strong>do</strong>s itens a seguir caracterizao quadro: alterações neurológicas; disfunção cardiorrespiratória; insuficiência hepática;plaquetopenia igual ou inferior a 50 mil/mm 3 ; hemorragia digestiva; derrames cavitários;leucometria global igual ou inferior a 1 mil/mm 3 ; óbito.Caso descarta<strong>do</strong>• Caso suspeito com diagnóstico laboratorial negativo (2 resulta<strong>do</strong>s negativos, amostraspareadas IgM), desde que se comprove que as amostras foram coletadas e transportadasadequadamente.• Caso suspeito de dengue com diagnóstico laboratorial de outra entidade clínica.• Caso suspeito, sem exame laboratorial, cujas investigações clínica e epidemiológicasão compatíveis com outras patologias.NotificaçãoPor ser uma <strong>do</strong>ença de notificação compulsória, to<strong>do</strong> caso suspeito e/ou confirma<strong>do</strong>deve ser comunica<strong>do</strong> ao Serviço de Vigilância Epidemiológica, o mais rapidamente possível.Este deverá informar, imediatamente, o fato à equipe de controle vetorial local para aa<strong>do</strong>ção das medidas necessárias ao combate <strong>do</strong> vetor. Em situações epidêmicas, a coleta eo fluxo <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s devem permitir o acompanhamento da curva epidêmica, com vistas aodesencadeamento e avaliação das medidas de controle.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS237


DenguePrimeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAtenção médica ao paciente – o atendimento <strong>do</strong>s pacientes <strong>do</strong>entes deve ser desloca<strong>do</strong>para as unidades básicas, onde deverão ter a oferta de pelo menos duas consultas, umainicial e outra 48 a 72 horas após. Só deverão ser referencia<strong>do</strong>s para as unidades de emergência,ou de maior complexidade, os pacientes que necessitarem de hidratação venosa eobservação continuada. Os pacientes que apresentarem piora <strong>do</strong>s sinais e sintomas devempermanecer sob tratamento e observação rigorosa nas 24 horas seguintes, pois apresentamrisco de desenvolver síndrome de choque da dengue.Qualidade da assistência – verificar se os casos estão sen<strong>do</strong> atendi<strong>do</strong>s em unidadesde saúde com capacidade para prestar atendimento adequa<strong>do</strong> e oportuno. Considerar a necessidadede adequação da rede para prestar atendimento, inclusive proven<strong>do</strong> infra-estruturapara realizar hematócrito, contagem de plaquetas e hidratação venosa. Na maioria dasvezes, os pacientes que apresentam a forma clássica da <strong>do</strong>ença não necessitam de cuida<strong>do</strong>shospitalares. Entretanto, os pacientes que venham a desenvolver quadros graves ou FHD,principalmente segui<strong>do</strong>s de choque, demandam internamento em unidades de saúde demaior complexidade.Proteção individual para evitar circulação viral – se o paciente estiver em centro urbanoinfesta<strong>do</strong> por Aedes aegypti, é recomendável que sua residência possua tela nas portase janelas. Não é necessário isolamento, uma vez que a infecção não se transmite de pessoa apessoa, nem por meio <strong>do</strong>s flui<strong>do</strong>s, secreções orgânicas ou fômites.Confirmação diagnóstica – a depender da situação epidemiológica, coletar materialpara diagnóstico laboratorial, de acor<strong>do</strong> com as orientações <strong>do</strong> Anexo I.Proteção da população – logo que se tenha conhecimento da suspeita de casos de dengue,deve-se organizar ações de bloqueio na área provável de transmissão, visan<strong>do</strong> a diminuiçãoda população adulta de mosquitos. A a<strong>do</strong>ção de medidas de controle não deve aguardarresulta<strong>do</strong>s de exames laboratoriais para confirmação <strong>do</strong>s casos suspeitos.A integração das atividades de vigilância epidemiológica e controle vetorial é de fundamentalimportância para o sucesso <strong>do</strong> controle da <strong>do</strong>ença. É necessário que o repasse deinformações da localização <strong>do</strong>s casos suspeitos para a vigilância entomológica ocorra daforma mais ágil possível, viabilizan<strong>do</strong> ações de bloqueio em momento oportuno.Ações de esclarecimento à população, através de meios de comunicação de massa (rádioe televisão), visitas <strong>do</strong>miciliares pelos agentes de endemias/saúde e palestras nas comunidadesdevem ser organizadas. Conhecimento sobre o ciclo de transmissão, gravidade da<strong>do</strong>ença e situação de risco devem ser veiculadas, assim como medidas de proteção individual,como o uso de repelentes e telas nas portas e janelas.Investigação – envolve uma seqüência de ações diferenciadas, de acor<strong>do</strong> com a situaçãoepidemiológica <strong>do</strong> município.Roteiro da investigação epidemiológicaA depender da situação entomológica e de circulação prévia <strong>do</strong> vírus da dengue emcada área, fazem-se necessárias condutas de vigilância e controle diferenciadas, que exigemroteiros e condutas de investigação específicos.238 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DengueÁrea não infestada (Fluxograma 1) – o objetivo da vigilância epidemiológica (VE)é impedir a introdução <strong>do</strong> Aedes, procuran<strong>do</strong> detectar precocemente os focos (vigilânciaentomológica), debelá-los em tempo hábil e fazer a vigilância de casos suspeitos, de acor<strong>do</strong>com as definições de caso preconizadas.• Notificar os casos, de acor<strong>do</strong> com o fluxo estabeleci<strong>do</strong> para o esta<strong>do</strong>.• Solicitar a coleta de sangue e encaminhar ao laboratório de referência para confirmaçãolaboratorial.• Investigar o caso para detectar o local provável de infecção; no caso de suspeita deautoctonia, solicitar à equipe de controle vetorial pesquisa de Aedes aegypti na área.• Preencher a ficha de investigação de dengue, enviá-la ao nível hierárquico superiore encerrar o caso.Área infestada sem transmissão de dengue (Fluxograma 2) – o objetivo da VE émonitorar os índices de infestação predial, acompanhan<strong>do</strong> as atividades das equipes decontrole, com vistas a conhecer a distribuição geográfica <strong>do</strong> vetor e seus ín dices de infestação,identifican<strong>do</strong> as áreas de maior risco para a introdução <strong>do</strong> vírus e acionan<strong>do</strong> asmedidas pertinen tes, detectan<strong>do</strong> oportunamente os casos e determinan<strong>do</strong> o local provávelde infecção.Nesta situação, recomenda-se implementar a vigilância das febres agudas exantemáticase a vigilância sorológica (realizar sorologia de dengue em pacientes com suspeita inicialde rubéola e/ou sarampo, que tiveram resulta<strong>do</strong> sorológico negativo para ambos).Quan<strong>do</strong> houver suspeita de dengue, proceder a notificação e investigação imediata deto<strong>do</strong>s os casos suspeitos.6DÁrea com história prévia de transmissão de dengue (Fluxogramas 3 e 4) – o objetivoé detectar precocemente a circulação viral, nos perío<strong>do</strong>s não-epidêmicos; e diminuir onúmero de casos e o tempo de duração da epidemia nos perío<strong>do</strong>s epidêmicos.• Perío<strong>do</strong>s não-epidêmicos❯ Notificar, de acor<strong>do</strong> com o fluxo estabeleci<strong>do</strong> para o esta<strong>do</strong>.❯ Investigar os casos suspeitos, com a busca ativa de casos no local de residência,trabalho, passeio, etc., <strong>do</strong> paciente suspeito.❯ Coletar material para sorologia de to<strong>do</strong>s os pacientes suspeitos e concluir os casos.Atentar para as normas e procedimentos de coleta, de acor<strong>do</strong> com o Anexo 1.❯ Realizar monitoramento viral, conforme rotina estabelecida pela vigilância epidemiológicamunicipal/estadual e pelo Lacen.Manter as medidas de combate ao vetor e desenvolver atividades educativas e departicipação comunitária.❯ Investigar imediatamente os óbitos notifica<strong>do</strong>s para a identificação e correção<strong>do</strong>s seus fatores determinantes.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS239


DengueFluxograma 1. Município não-infesta<strong>do</strong> por Aedes aegyptiCaso suspeito de dengueAtenção médicaColeta de sanguepara confirmaçãolaboratorialLaboratóriode referênciaNotificação imediata pelo meio decomunicação mais rápi<strong>do</strong> ao nívelhierárquico imediatamente superiorProceder a investigaçãoepidemiológicaConfirmação diagnósticaDefinir localprovável de infecçãoInformar às autoridades desaúde a área de procedênciaEncerramento <strong>do</strong> casoFicha de investigaçãoepidemiológicaSolicitar pesquisa deA. aegypti em tornopara confirmar se a áreaestá livre <strong>do</strong> vetor240 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DengueFluxograma 2. Município infesta<strong>do</strong> porém sem transmissão de dengueCaso(s) suspeito(s) de dengueMedidasde controleNotificação imediata pelo meiode comunicação mais rápi<strong>do</strong>disponível ao nível hierárquicoimediatamente superiorAtençãomédicaProceder ainvestigação epidemiológicaIntensificaçãoColeta de sanguepara confirmaçãolaboratorialResulta<strong>do</strong>Comunicar ao setorresponsável pelasmedidas de controleBusca ativade casosDefinirlocal provávelde infecçãoConfirmaçãodiagnósticaEm áreas com altosíndices de infestaçãopredial, realizar asseguintes atividades:tratamento focal,tratamento por UBVe eliminação decria<strong>do</strong>uros potenciaisEducaçãoem saúdePlano de açãopara educaçãoe comunicaçãopara acomunidadee profissionaisNão hácasos suspeitosHá casossuspeitosCasoconfirma<strong>do</strong>Casodescarta<strong>do</strong>Enviar paralaboratóriode referênciaALERTA DE EPIDEMIAEncerramento<strong>do</strong> caso6DSecretaria de Vigilância em Saúde / MS241


DengueFluxograma 3. Município com epidemia de dengueOrganização da Atenção MédicaGarantir atençãomédica oportunae padronizada– Utilizar o Guiade Manejo ClínicoDivulgaçãodas característicasclínicas, epidemiológicase laboratoriaisda <strong>do</strong>ençaDivulgar asunidades de referênciapara casos gravesPerío<strong>do</strong> epidêmico de dengueExecutar o plano de contingênciaVigilância epidemiológicaReorganizar o fluxo deinformação, para garantiro acompanhamento diárioou semanal da curvaAnálise ágil e sistemáticada distribuição espacial<strong>do</strong>s casos, para orientaras medidas de controleAcompanhamento<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>resDefinir os critérios paracoleta de amostras paraexame laboratorialIntensificarcombate ao vetor• Tratamento focal• Tratamentopor UBV• Eliminação decria<strong>do</strong>uros potenciaisEducaçãoem saúdePlano eestratégia de açãopara educação/comunicaçãoem saúdeServiçosde saúdeComunidade242 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Dengue6Fluxograma 4. Município com transmissão endêmica de dengueTransmissão endêmica de dengueNotificação aonível hierárquicoimediatamente superiorAtenção médica aoscasos diagnostica<strong>do</strong>sVigilância epidemiológicaColeta de sangue paracontrole laboratorialAcompanhamentoda curva epidêmicaEnviar para laboratóriode referênciaMedidas de controle• Tratamento focal• Tratamento por UBV• Eliminação de cria<strong>do</strong>urospotenciaisEducaçãoem saúdeResulta<strong>do</strong>Resulta<strong>do</strong>Análise com ênfasepara distribuição espacialpara orientar a a<strong>do</strong>çãodas medidas de controleMonitoramentolaboratorial para verificação<strong>do</strong>s sorotipos circulantesAnálise <strong>do</strong> impactodas medidas de controleDSecretaria de Vigilância em Saúde / MS243


Dengue• Perío<strong>do</strong>s epidêmicosNotificar, de acor<strong>do</strong> com o fluxo estabeleci<strong>do</strong> para o esta<strong>do</strong>.Recomenda-se a realização da sorologia em apenas uma amostra <strong>do</strong>s pacientes comdengue clássico, pois a confirmação da maioria <strong>do</strong>s casos será feita pelo critério clínicoepidemiológicoapós a confirmação laboratorial da circulação viral na área. Em geral, temseestabeleci<strong>do</strong> que se colha um a cada dez pacientes com suspeita de dengue. A coleta éobrigatória para 100% <strong>do</strong>s casos suspeitos de FHD e para os casos de dengue grave. Atentarpara as normas e procedimentos de coleta, de acor<strong>do</strong> com o Anexo 1.Realizar monitoramento viral, conforme rotina estabelecida pela vigilância epidemiológicaestadual/Lacen, e investigar imediatamente os óbitos notifica<strong>do</strong>s para a identificaçãoe correção <strong>do</strong>s seus fatores determinantes.A<strong>do</strong>tar, concomitantemente, as seguintes medidas:• organizar imediatamente a atenção médica pela rede básica de saúde;• capacitar os profissionais de saúde, de acor<strong>do</strong> com a necessidade, no diagnóstico etratamento da <strong>do</strong>ença, nas suas diversas apresentações clínicas;• disponibilizar o protocolo de atendimento padroniza<strong>do</strong> para toda a rede;• divulgar as unidades de referência para casos graves;• intensificar o combate ao Aedes;• incrementar as atividades de educação em saúde e mobilização social;• reorganizar o fluxo de informação para garantir o acompanhamento da curva epidêmica;analisar a distribuição espacial <strong>do</strong>s casos para orientar as medidas de controle;acompanhar os indica<strong>do</strong>res epidemiológicos (taxa de ataque, índices de mortalidadee letalidade) para conhecer a magnitude da epidemia e a qualidade da assistênciamédica.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosCasos de dengue clássico – no perío<strong>do</strong> não-epidêmico, preencher to<strong>do</strong>s os campos<strong>do</strong>s itens da ficha de investigação epidemiológica <strong>do</strong> Sinan, relativos aos da<strong>do</strong>s gerais, notificaçãoindividual e da<strong>do</strong>s de residência, exames laboratoriais e conclusão <strong>do</strong> caso. Duranteepidemias, o município pode a<strong>do</strong>tar o preenchimento apenas da notificação, não preenchen<strong>do</strong>a ficha de investigação. Essa medida visa garantir a oportunidade da notificação edeve, obrigatoriamente, ser acordada com a secretaria estadual de saúde.Casos de dengue com complicações e FHD – sempre preencher a ficha de investigação,com especial atenção para os campos referentes aos exames laboratoriais e conclusão<strong>do</strong> caso. Consultar o prontuário <strong>do</strong>s casos e o médico assistente para completar as informaçõessobre exames laboratoriais inespecíficos realiza<strong>do</strong>s (principalmente plaquetas e hematócrito).Verificar e anotar se foi realizada a prova <strong>do</strong> laço e qual foi o resulta<strong>do</strong>.Busca ativa de casos graves – deve ser realizada busca ativa de casos suspeitos de FHDnas unidades de saúde, não deven<strong>do</strong> se aguardar apenas a notificação passiva. Quan<strong>do</strong> oevento estiver ocorren<strong>do</strong> em um grande centro urbano, além desta busca deve-se alertar osserviços de emergências para a possibilidade de FHD e solicitar a notificação imediata <strong>do</strong>s244 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Denguecasos suspeitos ao serviço de vigilância. Este alerta facilita a busca ativa e a mensuração damagnitude da ocorrência de casos graves.Medidas de controleVigilância entomológica – as atividades de rotina têm como principal função reduziros cria<strong>do</strong>uros <strong>do</strong> mosquito, empregan<strong>do</strong>-se preferencialmente méto<strong>do</strong>s mecânicos. Os larvicidas,quan<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>s, devem ser emprega<strong>do</strong>s somente nos recipientes que não possamser removi<strong>do</strong>s, destruí<strong>do</strong>s, descarta<strong>do</strong>s, cobertos ou manipula<strong>do</strong>s de forma que se tornemincapazes de permitir a reprodução <strong>do</strong> vetor. As ações de rotina, além de contribuir para aredução da infestação por Aedes aegypti, podem evitar a sua reintrodução em outras áreas.• Determinação e/ou acompanhamento <strong>do</strong>s níveis de infestação vetorial – as atividadesde vigilância entomológica devem ser executadas rotineiramente em toda aárea urbana <strong>do</strong> município, com a finalidade de levantar os índices (predial, Breteau,recipientes, etc.) para monitoramento das ações executadas e possíveis redirecionamentosnecessários. Perío<strong>do</strong>s de circulação endêmica constituem momento idealpara a a<strong>do</strong>ção de medidas visan<strong>do</strong> impedir epidemias futuras. A meta estabelecidapara os índices de infestação não podem ser superiores a 1% (zero é o ideal).• Intensificação <strong>do</strong> combate ao vetor – as atividades de emergência devem ser tomadasem caso de surtos e epidemias. Nessas situações, as aplicações de inseticidaa ultra baixo volume são utilizadas para interromper a transmissão (eliminação defêmeas infectadas), deven<strong>do</strong> ser programadas para repetições semanais. As ações derotina (visita casa a casa, mobilização da população, mutirões de limpeza) devem serreavaliadas e reiniciadas imediatamente. Naquelas situações onde a situação epidemiológica(surto ou epidemia) indique ações que venham a ultrapassar a capacidadeoperativa <strong>do</strong> município, deve ser solicita<strong>do</strong> apoio ao nível estadual. Outras açõesde controle estão especificadas no tópico Instrumentos disponíveis para controle. Asavaliações entomoepidemiológicas deverão ser consideradas para paralisar as atividadesde aspersão de inseticida a ultra baixo volume.6DVigilância epidemiológica• Acompanhar sistematicamente a evolução temporal da incidência de casos em cadaárea da cidade e confrontar com os índices de infestação vetorial.• Organizar discussões conjuntas com as equipes de controle de vetores e de vigilância,visan<strong>do</strong> a a<strong>do</strong>ção de medidas capazes de reduzir (impedir) a circulação viral emmomento oportuno.• Alertar os níveis hierárquicos superiores quan<strong>do</strong> houver risco de epidemias.• Implantar vigilância ativa de casos e <strong>do</strong> vírus em função da ocorrência de inúmerasinfecções oligossintomáticas e <strong>do</strong>s problemas de subnotificação e sub-registro decasos. Para isso, deve-se definir unidades sentinelas em cada área da cidade e fazercoleta de material de indivíduos com suspeita de dengue, para isolamento e/ou sorologia.Este procedimento permitirá o monitoramento da circulação viral e poderádetectar mais precocemente a introdução de um novo sorotipo na cidade.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS245


Dengue• Investigar qual o local provável de infecção, verifican<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>samente a possibilidadede ser caso autóctone.Risco de urbanização de febre amarelaA atual situação de dispersão e a elevada densidade <strong>do</strong> Aedes aegypti aumentam o riscode reurbanização da febre amarela. Atualmente, um <strong>do</strong>s principais objetivos da VE <strong>do</strong> país éo de impedir esta ocorrência, a partir da detecção oportuna de casos suspeitos. A conduta aser a<strong>do</strong>tada frente a casos suspeitos deve seguir as orientações detalhadas no capítulo sobrefebre amarela.Análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sA análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s das investigações deve permitir a avaliação da magnitude <strong>do</strong> problemae orientar/avaliar as medidas a<strong>do</strong>tadas. Deve ser feita sistematicamente, em to<strong>do</strong>s osníveis <strong>do</strong> sistema, e sua periodicidade dependerá da situação epi demiológica e da organização<strong>do</strong> fluxo de informações. É preciso considerar os da<strong>do</strong>s referentes à distribuição, densidade<strong>do</strong> vetor e ocorrência de casos, para que as informações possam subsidiar a análise dasituação epidemiológica e otimizar o uso <strong>do</strong>s recursos de controle disponíveis.Os da <strong>do</strong>s referentes aos casos devem ser consolida<strong>do</strong>s, agrupa<strong>do</strong>s e ordena<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong>características de pessoa, tempo, lugar, possibilitan<strong>do</strong> avaliação de tendência da <strong>do</strong>ençae comparação com igual perío<strong>do</strong> em anos anteriores (se for o caso). As tabelas devem seratualizadas periodicamente, bem como as curvas endêmica e epidêmica, para que forneçamuma visão global <strong>do</strong> evento e permitam o acompanhamento sis temático de sua evolução.Nos relatórios, empregar linguagem clara e acessível, visan<strong>do</strong> a sua divulgação para a população,imprensa e dirigentes <strong>do</strong>s órgãos de saúde.Encerramento de casosOs da<strong>do</strong>s de notificação, junto com os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames laboratoriais e, nos casosem que foram indica<strong>do</strong>s, a investigação epidemiológica, trarão os subsídios para o diagnósticofinal, consideran<strong>do</strong> as alternativas constantes da definição de caso.Instrumentos disponíveis para controleNão existem medidas de controle específicas direcionadas ao homem, uma vez quenão há disponibilização de nenhuma vacina ou drogas antivirais. A notificação <strong>do</strong>s casossuspeitos, a investigação <strong>do</strong> local prová vel de infecção e a busca ativa de casos são elementosfundamentais. Atualmente, o único elo da cadeia epidemiológica da <strong>do</strong>ença que é vulnerávelé o mosquito, por meio da redução da densidade vetorial.Controle vetorialA única garantia para que não exista a dengue é a ausência <strong>do</strong> vetor. Embora não estejadetermina<strong>do</strong> o limite abaixo <strong>do</strong> qual se possa ter a certeza de que não ocorrerão surtos de246 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Denguedengue, este nível deve ser bem próximo de zero. Dessa forma, em áreas com Aedes, o monitoramento<strong>do</strong> vetor deve ser realiza<strong>do</strong> rotineiramente para conhecer as áreas infestadas edesencadear as medidas de controle:• manejo ambiental: mudanças no meio ambiente que impe çam ou minimizem a propagação<strong>do</strong> vetor, evitan<strong>do</strong> ou des truin<strong>do</strong> os cria<strong>do</strong>uros potenciais <strong>do</strong> Aedes;• melhoria de saneamento básico;• participação comunitária, no senti<strong>do</strong> de evitar a infestação <strong>do</strong>miciliar <strong>do</strong> Aedes,através da redução de cria<strong>do</strong>uros po tenciais <strong>do</strong> vetor (saneamento <strong>do</strong>miciliar);• controle químico: consiste em tratamento focal (elimina lar vas), perifocal (em pontosestratégicos de difícil acesso) e por ultra baixo volume (elimina ala<strong>do</strong>s) com usorestrito em epidemias.Educação em saúde, comunicação e mobilização socialÉ necessário promover a comunicação e a mobilização social para que a sociedade adquiraconhecimentos sobre como evitar a dengue, participan<strong>do</strong> efetivamente da eliminaçãocontínua <strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>uros potenciais <strong>do</strong> mosquito.A população deve ser informada sobre a <strong>do</strong>ença (mo<strong>do</strong> de transmissão, quadro clínico,tratamento, etc.), sobre o vetor (seus hábitos, cria<strong>do</strong>uros <strong>do</strong>miciliares e naturais) e sobreas medidas de prevenção e controle para que possa a<strong>do</strong>tar um novo comportamento frenteao problema, promoven<strong>do</strong> ações de controle da <strong>do</strong>ença. Devem ser utiliza<strong>do</strong>s os meios decomunicação de massa por seu grande alcance e eficácia, além da produção e distribuiçãode material que contemple as especificidades de cada área a ser trabalhada. Para fortalecera consciência individual e coletiva, devem ser desenvolvidas estratégias de alcance nacionalpara sensibilizar os forma<strong>do</strong>res de opinião para a importância da comunicação e da mobilizaçãosocial no controle da dengue; para envolver a sociedade em ações de parceria com osgestores <strong>do</strong>s três níveis; e para enfatizar a responsabilidade <strong>do</strong> governo em cada nível, e dasociedade como um to<strong>do</strong>, por meio de suas instituições, organizações e representações.6DSecretaria de Vigilância em Saúde / MS247


DengueAnexo 1Normas para procedimentos laboratoriaisO diagnóstico específico <strong>do</strong>s pacientes com suspeita de dengue é indica<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong>com a situação epidemiológica de cada área. A seguir, descreve-se os exames laboratoriaisdisponíveis, sua interpretação e as normas de coleta <strong>do</strong>s espécimes.Exames específicosA comprovação laboratorial das infecções pelo vírus da dengue pode ser feita por meiode isolamento viral, méto<strong>do</strong>s sorológicos, detecção de antígenos virais e/ou áci<strong>do</strong>s nucléicosvirais ou por diagnóstico histopatológico.• Sorologia – é o méto<strong>do</strong> de escolha para a confirmação laboratorial na rotina. Existemvárias técnicas, sen<strong>do</strong> o Elisa de captura de IgM (MAC-Elisa) o méto<strong>do</strong> de escolha,pois detecta infecções atuais ou recentes. A sua realização requer, na maioria<strong>do</strong>s casos, somente uma amostra de soro. Baseia-se na detecção de anticorpos IgMespecíficos aos 4 sorotipos <strong>do</strong> vírus da dengue. O anticorpo IgM antidengue desenvolve-serapidamente após o quinto dia <strong>do</strong> início da <strong>do</strong>ença, na maioria <strong>do</strong>s casos, etanto as primoinfecções quanto as infecções secundárias estimulam a produção destesanticorpos, tornan<strong>do</strong>-os detectáveis. A detecção <strong>do</strong>s anticorpos IgM <strong>do</strong> vírus dadengue é de extrema importância tanto para o diagnóstico de casos suspeitos quantopara subsidiar os profissionais no processo de decisão-ação da vigilância epidemiológica.• Isolamento viral – é o méto<strong>do</strong> mais específico para a determi nação <strong>do</strong> vírus responsávelpela infecção. A coleta de amos tra deverá ser feita, de preferência, na primeirasemana da <strong>do</strong>ença, durante o perío<strong>do</strong> de vi remia, que em média é de 6 dias. O idealé coletar o material até o 5º dia <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s sintomas. A coleta das amostras paraessa técnica deverá ser orientada pela vigilância epidemiológica, respeitan<strong>do</strong>-se acapacidade <strong>do</strong>s laboratórios de referência.Outras técnicas também são utilizadas no diagnóstico sorológico <strong>do</strong> vírus da dengue,incluin<strong>do</strong> as de inibição de hemaglutinação (HI), fixação de complemento (FC) e neutralização(N), que exigem amostras pareadas <strong>do</strong> soro de casos suspeitos e cuja confirmação émais demorada.• Detecção de antígenos virais e/ou áci<strong>do</strong> nucléico viral – gradativamente essas técnicasestão sen<strong>do</strong> incorporadas na rotina <strong>do</strong>s laboratórios e muitas vezes selam odiagnóstico em situações em que não é possível fazê-lo pelas técnicas habituais. Podemser detecta<strong>do</strong>s antígenos ou áci<strong>do</strong> nucléico viral no sangue, teci<strong>do</strong>s humanos emosquitos, mediante os seguintes méto<strong>do</strong>s:• Reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa (RT-PCR) – permite adetecção de quantidades reduzidas de áci<strong>do</strong> nucléico viral presente nos espécimes,248 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Denguepela amplificação <strong>do</strong> c-DNA obti<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> RNA viral utilizan<strong>do</strong> sondas (primers)tipo-específicos de vírus da dengue e seus sorotipos. A sensibilidade, especificidadee a rápida detecção de quantidades mínimas de material genético em amostrasde paciente fazem <strong>do</strong> RT-PCR um excelente méto<strong>do</strong> de diagnóstico de infecçãopor vírus de dengue. Os resulta<strong>do</strong>s falso-positivos geralmente estão relaciona<strong>do</strong>scom a manipulação inadequada das amostras. O sucesso desse méto<strong>do</strong> depende, emparte, da preservação <strong>do</strong> espécime clínico, sen<strong>do</strong> recomenda<strong>do</strong> mantê-lo na menortemperatura possível.• Imunofluorescência – a técnica de anticorpos fluorescentes baseia-se na união imunológicade um anticorpo marca<strong>do</strong> com um fluorocromo ao seu antígeno homólogo.No méto<strong>do</strong> indireto, o uso de anticorpos monoclonais permite identificar e caracterizaros isolamentos de dengue. Devi<strong>do</strong> à alta especificidade da reação Ag-Ac, atécnica da IF é bastante utilizada.• Imunohistoquímica – esse méto<strong>do</strong> permite a detecção de antígenos virais em cortesde teci<strong>do</strong>s fixa<strong>do</strong>s em formalina e embloca<strong>do</strong>s em parafina. Cora<strong>do</strong>s pela enzima(fosfatase alcalina ou peroxidase) marcada com anticorpo específico. Essa técnicadeve ser adaptada à infecção viral suspeita, após diagnóstico histopatológico prévio.• Hibridização in situ – é possível detectar os genomas virais específicos usan<strong>do</strong> sondasradiativas (radioisótopos) ou não radiativas (enzimas), inclusive em materiaisconserva<strong>do</strong>s por muitos anos.• Diagnóstico histopatológico – realiza<strong>do</strong> a partir de coleta de material post-mortem.As lesões anatomopatológicas podem ser encontradas no fíga<strong>do</strong>, rins, baço, coraçãoe linfono<strong>do</strong>s.6DO rótulo das amostras deve conter, obrigatoriamente: nome completo <strong>do</strong> paciente,data da coleta e natureza da amostra.A confia bilidade <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s testes laboratoriais depende <strong>do</strong>s cui da<strong>do</strong>s durantea coleta, manuseio, acondicionamento e envio das amostras (ver Quadro 1).Exames inespecíficosOs exames inespecíficos devem ser solicita<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com a classificação clínica(Anexo 2).Grupo AHematócrito, hemoglobina, plaquetas e leucograma: recomenda<strong>do</strong> para pacientes quese enquadrem nas seguintes situações: gestantes; i<strong>do</strong>sos (> 65 anos); hipertensão arterial,diabete melito, DPOC, <strong>do</strong>enças hematológicas crônicas (principalmente anemia falciforme),<strong>do</strong>ença renal crônica, <strong>do</strong>ença severa <strong>do</strong> sistema cardiovascular, <strong>do</strong>ença áci<strong>do</strong>-pépticae <strong>do</strong>enças auto-imunes.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS249


DengueGrupo BHematócrito, hemoglobina, plaquetas e leucograma: obrigatório para to<strong>do</strong>s os pacientesdeste grupo.Grupos C e D• Hematócrito, hemoglobina, plaquetas, leucograma e outros conforme necessidade(gasometria, eletrólitos, transaminases, albumina, raios X de tórax, ultra-sonografiade ab<strong>do</strong>me);• Uréia, creatinina, glicose, eletrólitos, provas de função hepática, líquor, urina, etc:orienta<strong>do</strong>s pela história e evolução clínica.Alterações observadas• Hemograma – a conta gem de leucócitos é variável, poden<strong>do</strong> ocorrer desde leucopeniaaté leucocitose leve. A linfocitose com atipia linfocitária é um acha<strong>do</strong> comum.• Coagulograma – aumento nos tempos de pro trombina, tromboplastina parcial etrombina. Diminuição de fibri nogênio, protrombina, fator VIII, fator XII, antitrombinae antiplasmina.• Bioquímica – albuminúria e discreto aumento <strong>do</strong>s testes de função hepática: aminotransferaseaspartato sérica/AST (conhecida anteriormente por transaminase glutâmico-oxalacética/TGO)e aminotransferase alanina sérica/ALT (conhecida anteriormentepor transaminase glutâ mico pirúvica/TGP).250 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DengueQuadro 1. Coleta, rotulagem, conservação e transporte de amostras únicas paradiagnóstico laboratorial de dengueTipo dediagnósticoTipo de materialQuantidadePerío<strong>do</strong>da coletaRecipienteArmazenamento/conservaçãoTransporteIsolamentoviralSangueObtençãoda amostra:punção venosaou punçãointracardíaca(óbito)Crianças2-5mlAdultos10ml1º-5º diada <strong>do</strong>ençaTubo estérilde plásticocom tampade rosca ouà vácuo-70ºCno freezerou nitrogêniolíqui<strong>do</strong>Nitrogêniolíqui<strong>do</strong> ougelo secoe menosde 24 horasapós a coletaIsolamentoviralTeci<strong>do</strong>(fíga<strong>do</strong>, rins,coração, baço,linfono<strong>do</strong>s)Obtençãoda amostra:necropsia ouviscerotomia ouusan<strong>do</strong> agulhade biópsiaFragmentode 1cmLogo após oóbito. Menosde 12 horas,máximo de 24horasFrascoestéril deplástico ouvidro comtampa derosca-70ºCno freezerou nitrogêniolíqui<strong>do</strong>Nitrogêniolíqui<strong>do</strong> ougelo secoe menosde 24 horasapós a coleta6SorológicoSangueObtençãoda amostra:punção venosaou punçãointracardíaca(óbito)Crianças2-5mlAdultos10mlS1 = (1º-5º)dias da <strong>do</strong>ençaS2 = (14º-21º)dias após S1S = amostraúnica após o 5ºdia da <strong>do</strong>ençaTubo estérilde plásticoou vidrocom tampade rosca ouà vácuo-20ºCno freezerNitrogêniolíqui<strong>do</strong> ougelo secoe menosde 24 horasapós a coletaDHistopatologiaou imunohistoquímicaou técnicasmolecularesTeci<strong>do</strong>Obtençãoda amostra:necropsia ouviscerotomia ouusan<strong>do</strong> agulhade biópsia-Logo após oóbito ou menosde oito horas,máximo de12 horasFrascoestéril deplástico ouvidrocom tampade roscaTemperaturaambiente,em formalinatamponadaTemperaturaambiente eaté 24 horasSecretaria de Vigilância em Saúde / MS251


DengueAnexo 2Assistência médica aos pacientes com suspeita de dengueTo<strong>do</strong>s os indivíduos com <strong>do</strong>ença febril com suspeita diagnóstica de dengue devem sersubmeti<strong>do</strong>s à avaliação clínica e classifica<strong>do</strong>s em um <strong>do</strong>s seguintes grupos <strong>do</strong> fluxogramade diagnóstico e conduta <strong>do</strong>s pacientes, apresenta<strong>do</strong> a seguir.A presença de sinais de alerta (Quadro 1) indica a possibilidade de gravidade <strong>do</strong> quadroclínico.Quadro 1. Sinais de alerta na dengueDor ab<strong>do</strong>minal intensa e contínuaVômitos persistentesHipotensão posturalHipotensão arterialPressão diferencial < 20 mmHg (PA convergente)Hepatomegalia <strong>do</strong>lorosaHemorragias importantesExtremidades frias, cianosePulso rápi<strong>do</strong> e finoAgitação e/ou letargiaDiminuição da diureseDiminuição repentina da temperatura corpórea ou hipotermiaAumento repentino <strong>do</strong> hematócrito252 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DengueDiagnóstico e conduta <strong>do</strong> paciente com suspeita de dengueA dengue é uma <strong>do</strong>ença dinâmica, o que permite que o paciente possa evoluir de um estágio a outro, durante o curso da <strong>do</strong>ença. To<strong>do</strong> caso suspeito com hipótese diagnóstica de dengue deveser notifica<strong>do</strong> à vigilância epidemiológica. Caso suspeito de dengue: paciente com <strong>do</strong>ença febril aguda, com duração máxima de até sete dias, acompanhada de pelo menos <strong>do</strong>is<strong>do</strong>s seguintes sintomas: cefaléia, <strong>do</strong>r retroorbitária, mialgia, artralgia, prostração ou exantema associa<strong>do</strong>s a história epidemiológica compatívelGrupos C e D*Grupo BGrupo ASintomatologia• Presença de algum sinal de alerta e/ou• Choque• Manifestações hemorrágicas ausentes ou presentesObs: iniciar a hidratação imediatamente, independente <strong>do</strong> local de atendimentoSintomatologia• Manifestações hemorrágicas induzidas(prova <strong>do</strong> laço) ou espontâneas semrepercussão hemodinâmica.• Ausência de sinais de alertaSintomatologia• Ausência de manifestações hemorrágicas espontâneas ouinduzidas (prova <strong>do</strong> laço)• Ausência de sinais de alertaExames complementares• Específico: obrigatório• Inespecíficos: hematócrito, hemoglobina, plaquetas, leucograma e outros,conforme necessidade (gasometria, eletrólítos, transaminases, albumina,RX de tórax, ultra-sonografia)Altera<strong>do</strong>NormalCom hipotensão ou choque (grupo D)Sem hipotensão (Grupo C)Exames complementaresEspecífico• Em perío<strong>do</strong> não-epidêmico: para to<strong>do</strong>s os casos• Em perío<strong>do</strong> epidêmico, por amostragem (conforme orientaçãoda vigilância)Inespecífico (recomenda<strong>do</strong>)• Hematócrito, hemoglobinas, plaquetas para pacientes emsituações especiais 1 : gestante, i<strong>do</strong>so (>65 anos), hipertensãoarterial, diabete melito, asma brônquica, <strong>do</strong>ença hematológicaou renal crônicas, <strong>do</strong>ença severa <strong>do</strong> sistema cardiovascular,<strong>do</strong>ença áci<strong>do</strong>-péptica ou <strong>do</strong>ença auto-imuneConduta• Hidratação EV imediata (fase de expansão):20ml/kg/hora com solução salina isotônicasob supervisão médica (até 3 vezes)• Reavaliação clínica (cada 15-30 minutos)e hematócrito após 2 horas• SintomáticosConduta• Leito de observação ou hospitalar• Hidratação EV imediata: 25ml/kg em4 horas, sen<strong>do</strong> 1/3 deste volume naforma de solução salina isotônica• Reavaliação clínica e de hematócritoapós 4 horas e de plaquetas após 12 horas• SintomáticosHematócrito aumenta<strong>do</strong> em Hematócrito aumenta<strong>do</strong> ematé 10% acima <strong>do</strong> valor basal mais de 10% acima <strong>do</strong> valorou, na ausência deste, asbasal ou, na ausência deste,seguintes faixas de valores os seguintes valores• Crianças: > 38% e < 42% • Crianças: > 42%• Mulheres: > 40% e < 44% • Mulheres: > 44%• Homens: > 45% e < 50% • Homens: > 50%e/oue/ou• Plaquetopenia entre 50 e • Plaquetopenia100 mil cel/mm 3 e/ou> 50 cel/mm 3• Leucopenia < 1mil cel/mm 3Altera<strong>do</strong>Normal ou não realiza<strong>do</strong>Melhora?Melhora clínica e laboratorial?SIM NÃOSIM NÃOAvaliar hemoconcentraçãoEm quedaHematócritoem ascensão ouhipoalbuminemiaRepetirconduta(até 3 vezes)Etapa de manutenção,com 25ml/kgem 8 e 12 horasAvaliar sangramentose coagulopatiasde consumoConduta• Leito de observação• Hidratação oral supervisionadaou parenteral:80ml/kg/dia, sen<strong>do</strong> 1/3<strong>do</strong> volume infundi<strong>do</strong> nasprimeiras 4 a 6 horas e naforma de solução salinaisotônica• Reavaliação clínica e dehematócrito após a etapade hidrataçãoConduta• Tratamento ambulatorial• Hidratação oral rigorosa(80ml/kg/dia), como orienta<strong>do</strong>para o Grupo A• Analgésicos e antitérmicos• Orientar sobre sinais dealerta• Retorno para reavaliaçãoclínico-laboratorial em 24horas e reestadiamentoConduta• Tratamento ambulatorial• Hidratação oral: 60 a 80 ml/kg/dia; um terço deste volume comSRO e o restante em líqui<strong>do</strong>s caseiros (água, sucos naturais,chás, etc.)• Analgésicos e antitérmicos: dipirona, paracetamol. Reavaliarmedicamentos de uso contínuo• Orientar sobre sinais de alerta 2• NÃO UTILIZAR SALICILATOS• Não há subsídio científico que dê suporte clínico ao uso deantiinflamatórios não hormonais ou corticóides• Avaliar risco de sangramento• Pacientes em situações especiais devem ser reavalia<strong>do</strong>s no primeirodia sem febre. Para os outros pacientes, reavaliar sempreque possível no mesmo perío<strong>do</strong>Expansor plasmático• Albumina:3ml/kg/hora• Substitutos artificiaisMelhora?Melhora clínicae laboratorial?SIM NÃONÃOSIMMelhora?SIM NÃOHiperhidratação?Verificar sinais de ICCSIM NÃOConcentra<strong>do</strong> dehemácias e avaliaçãode especialistasReestadiarNÃOSIMTratamentoambulatorialRetorno em24 horasMelhora?DiuréticosObservações:• Em vigência de hemorragia visceral importante, sobretu<strong>do</strong> no sistema nervoso central, associa<strong>do</strong>à plaquetopenia


DifteriaDIFTERIACID 10: A36Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoDoença transmissível aguda, toxiinfecciosa, imunoprevenível, causada por bacilo toxigênicoque freqüentemente se aloja nas amígdalas, faringe, laringe, nariz e, ocasionalmente,em outras mucosas e na pele. É caracterizada por placas pseu<strong>do</strong>membranosas típicas.SinonímiaCrupe.Agente etiológicoCorynebacterium diphtheriae, bacilo gram-positivo, produtor da toxina diftérica,quan<strong>do</strong> infecta<strong>do</strong> por um fago.ReservatórioO próprio <strong>do</strong>ente ou o porta<strong>do</strong>r, sen<strong>do</strong> este último mais importante na disseminação<strong>do</strong> bacilo, por sua maior freqüência na comunidade e por ser assintomático. A via respiratóriasuperior e a pele são locais habitualmente coloniza<strong>do</strong>s pela bactéria.Mo<strong>do</strong> de transmissãoA transmissão se dá pelo contato direto de pessoa <strong>do</strong>ente ou porta<strong>do</strong>res com pessoasusceptível, através de gotículas de secreção respiratória, eliminadas por tosse, espirro ou aofalar. A transmissão por fômites é pouco freqüente, mas pode ocorrer.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoEm geral, de 1 a 6 dias, poden<strong>do</strong> ser mais longo.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeEm média, até duas semanas após o início <strong>do</strong>s sintomas. A antibioticoterapia adequadaerradica o bacilo diftérico da orofaringe, de 24 a 48 horas após a sua introdução, na maioria<strong>do</strong>s casos.O porta<strong>do</strong>r pode eliminar o bacilo por 6 meses ou mais, motivo pelo qual torna-seextremamente importante na disseminação da difteria.254 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DifteriaSusceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade é geral. A imunidade pode ser naturalmente adquirida pela passagemde anticorpos maternos via transplacentária, que protegem o bebê nos primeirosmeses de vida, ou através de infecções inaparentes atípicas que conferem imunidade emdiferentes graus, dependen<strong>do</strong> da maior ou menor exposição <strong>do</strong>s indivíduos. A imunidadetambém pode ser adquirida ativamente, através da vacinação com toxóide diftérico.• A proteção conferida pelo soro antidiftérico (SAD) é temporária e de curta duração(em média, duas semanas).• A <strong>do</strong>ença normalmente não confere imunidade permanente, deven<strong>do</strong> o <strong>do</strong>ente continuarseu esquema de vacinação após a alta hospitalar.6Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasA presença de placas pseu<strong>do</strong>membranosas branco-acinzentadas, aderentes, que se instalamnas amígdalas e invadem estruturas vizinhas, é a manifestação clínica típica. Essasplacas podem se localizar na faringe, laringe e fossas nasais, sen<strong>do</strong> menos freqüentementeobservadas na conjuntiva, pele, conduto auditivo, vulva, pênis (pós-circuncisão) e cordãoumbilical.Clinicamente, a <strong>do</strong>ença manifesta-se por comprometimento <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> geral <strong>do</strong> paciente,que pode apresentar-se prostra<strong>do</strong> e páli<strong>do</strong>; a <strong>do</strong>r de garganta é discreta, independentementeda localização ou quantidade de placas existentes, e a febre normalmente não émuito elevada, varian<strong>do</strong> entre 37,5ºC a 38,5°C, embora temperaturas mais altas não afastemo diagnóstico.Nos casos mais graves há intenso edema <strong>do</strong> pescoço, com grande aumento <strong>do</strong>s gânglioslinfáticos dessa área (pescoço taurino) e edema periganglionar nas cadeias cervicaise submandibulares. Dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> tamanho e localização da placa pseu<strong>do</strong>membranosa,pode ocorrer asfixia mecânica aguda no paciente, o que muitas vezes exige imediata traqueostomiapara evitar a morte.O quadro clínico produzi<strong>do</strong> pelo bacilo não-toxigênico também determina a formaçãode placas características, embora não se observe sinais de toxemia ou a ocorrência decomplicações. No entanto, as infecções causadas pelos bacilos não-toxigênicos têm importânciaepidemiológica por disseminar o Corynebacterium diphtheriae.DFormas clínicasFaringoamigdaliana ou faringotonsilar (angina diftérica) – é a forma clínica maiscomum. Nas primeiras horas da <strong>do</strong>ença observa-se discreto aumento de volume das amígdalas,além da hiperemia de toda a faringe. Em seguida, ocorre a formação das pseu<strong>do</strong>-Secretaria de Vigilância em Saúde / MS255


Difteriamembranas caraterísticas, aderentes e invasivas, constituídas por placas esbranquiçadas ouamarelo-acinzentadas, eventualmente de cor cinzento-escura ou negra, que se tornam espessase com bordas bem definidas. Essas placas estendem-se pelas amígdalas recobrin<strong>do</strong>ase, freqüentemente, invadem as estruturas vizinhas, poden<strong>do</strong> ser observadas nos pilaresanteriores, úvula, palato mole e retrofaringe, adquirin<strong>do</strong> aspecto necrótico. O esta<strong>do</strong> geral<strong>do</strong> paciente agrava-se com a evolução da <strong>do</strong>ença, em virtude da progressão das pseu<strong>do</strong>membranase da absorção cada vez maior de toxina.Difteria hipertóxica (difteria maligna) – denominação dada aos casos graves, intensamentetóxicos, que desde o início apresentam importante comprometimento <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>geral. Observa-se a presença de placas de aspecto necrótico que ultrapassam os limites dasamígdalas, comprometen<strong>do</strong> as estruturas vizinhas. Há um aumento importante <strong>do</strong> volume<strong>do</strong>s gânglios da cadeia cervical e edema periganglionar pouco <strong>do</strong>loroso à palpação, caracterizan<strong>do</strong>o pescoço taurino.Nasal (rinite diftérica) – é mais freqüente em lactentes, sen<strong>do</strong>, na maioria das vezes,concomitante à angina diftérica. Desde o início observa-se secreção nasal serossanguinolenta,geralmente unilateral, poden<strong>do</strong> ser bilateral, que provoca lesões nas bordas <strong>do</strong> narize no lábio superior.Laríngea (laringite diftérica) – na maioria <strong>do</strong>s casos a <strong>do</strong>ença inicia-se na região daorofaringe, progredin<strong>do</strong> até a laringe. É uma forma bastante comum no Brasil. Os sintomasiniciais, além <strong>do</strong>s que são vistos na faringe diftérica, são: tosse, rouquidão, disfonia e dificuldaderespiratória progressiva, poden<strong>do</strong> evoluir para insuficiência respiratória aguda. Emcasos raros, pode haver comprometimento isola<strong>do</strong> da laringe, o que dificulta o diagnóstico.Cutânea – apresenta-se sob a forma de úlcera arre<strong>do</strong>ndada, com exsudato fibrinopurulentoe bordas bem demarcadas e, embora profunda, não alcança o teci<strong>do</strong> celular subcutâneo.Devi<strong>do</strong> a pouca absorção da toxina pela pele, a lesão ulcerada de difteria podetornar-se subaguda ou crônica e raramente é acompanhada de repercussões cutâneas. Noentanto, seu porta<strong>do</strong>r constitui-se reservatório e dissemina<strong>do</strong>r <strong>do</strong> bacilo diftérico, daí suaimportância na cadeia epidemiológica da <strong>do</strong>ença.Outras localizações – apesar de raro, o bacilo diftérico pode acometer a vagina (ulceraçõese corrimento purulento), o ouvi<strong>do</strong> (processo inflamatório exsudativo <strong>do</strong> duto auditivoexterno) e conjuntiva ocular (a infecção pode ser inaparente ou manifestar-se sob aforma de conjuntivite aguda, com eventual formação da membrana).ComplicaçõesAs complicações podem ocorrer desde o início da <strong>do</strong>ença até, na maioria <strong>do</strong>s casos, asexta ou oitava semana, quan<strong>do</strong> os sintomas iniciais já desapareceram. Seu estabelecimentopode estar relaciona<strong>do</strong> com localização e extensão da membrana; quantidade de toxina absorvida;esta<strong>do</strong> imunitário <strong>do</strong> paciente; demora no diagnóstico e início <strong>do</strong> tratamento.As principais complicações da difteria são:Miocardite – é responsável pelo maior número de óbitos a partir da 2ª semana da<strong>do</strong>ença. É decorrente da ação direta da toxina no miocárdio ou, ainda, pela intoxicação <strong>do</strong>sistema de condução cardíaco. Os sinais e sintomas mais freqüentemente encontra<strong>do</strong>s são:256 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Difteriaalterações de freqüência e ritmo, hipofonese de bulhas, hepatomegalia <strong>do</strong>lorosa, aparecimentode sopro e sinais de ICC. As alterações eletrocardiográficas mais encontradas são alteraçãode repolarização, extra-sistolias, taquicardia ou bradicardia, distúrbio de conduçãoA-V e corrente de lesão.Neurite – são alterações transitórias, decorrentes da ação da exotoxina no sistemanervoso periférico, ocasionan<strong>do</strong> as neurites periféricas. As manifestações geralmente sãotardias, ocorren<strong>do</strong> entre a segunda e a sexta semana de evolução, mas podem aparecer algunsmeses depois. A forma de apresentação mais comum e mais característica é a paralisia<strong>do</strong> véu <strong>do</strong> palatino, com desvio unilateral da úvula, ocasionan<strong>do</strong> voz anasalada, engasgos eregurgitação de alimentos pelo nariz, poden<strong>do</strong> ocorrer broncoaspiração. Em alguns casos,observa-se paresia ou paralisia bilateral e simétrica das extremidades, com hiporreflexia.Também pode ocorrer paralisia <strong>do</strong> diafragma, geralmente tardia, causan<strong>do</strong> insuficiênciarespiratória. A paralisia <strong>do</strong>s músculos oculares determinan<strong>do</strong> diplopia e estrabismo tambémpode ser observada.Renais – de acor<strong>do</strong> com a gravidade <strong>do</strong> caso, pode-se detectar a presença de albuminúriaem diferentes proporções. Na difteria grave, pode se instalar uma nefropatia tóxicacom importantes alterações metabólicas e, mais raramente, insuficiência renal aguda. Geralmente,quan<strong>do</strong> há miocardite, pode ocorrer também insuficiência renal grave.PrognósticoDepende <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> imunitário <strong>do</strong> paciente, da precocidade <strong>do</strong> diagnóstico e da instituição<strong>do</strong> tratamento. Os fatores associa<strong>do</strong>s ao mau prognóstico são:• tempo da <strong>do</strong>ença sem instituição de tratamento – pior se acima de três dias;• presença de edema periganglionar;• presença de manifestações hemorrágicas;• presença de placas extensas na orofaringe;• miocardite precoce;• presença de insuficiência renal.6DEm geral, a difteria é uma <strong>do</strong>ença grave que necessita de assistência médico-hospitalarimediata e isolamento.Diagnóstico diferencialO diagnóstico diferencial da difteria deverá ser feito com as patologias descritas aseguir:• difteria cutânea – impetigo, ectima, eczema, úlceras;• difteria nasal – rinite estreptocócica, rinite sifilítica, corpo estranho nasal;• difteria amigdaliana ou faríngea – amigdalite estreptocócica, angina monocítica,angina de Plaut Vicent, agranulocitose;• difteria laríngea – crupe viral, laringite estridulosa, epiglotite aguda, inalação decorpo estranho.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS257


DifteriaDiagnóstico laboratorialRealiza<strong>do</strong> mediante a identificação e isolamento <strong>do</strong> Corynebacterium diphtheriae atravésde cultura de material colhi<strong>do</strong> com técnica adequada das lesões existentes (ulcerações,criptas das amígdalas), exsudatos de orofaringe e de nasofaringe, que são as localizaçõesmais comuns, ou de outras lesões cutâneas, conjuntivas, genitália externa, etc. (ver normase procedimentos no Anexo 1), mesmo sem as provas de toxigenicidade. A bacterioscopianão tem valor no diagnóstico da difteria, devi<strong>do</strong> à baixa especificidade <strong>do</strong> méto<strong>do</strong>.TratamentoTratamento específicoA medida terapêutica na difteria é a administração <strong>do</strong> soro antidiftérico (SAD), quedeve ser feito em unidade hospitalar e cuja finalidade é inativar a toxina circulante o maisrapidamente possível e possibilitar a circulação de excesso de anticorpos, em quantidadesuficiente para neutralizar a toxina produzida pelos bacilos.AtençãoO soro antidiftérico não tem ação sobre a toxina já impregnada no teci<strong>do</strong>. Por isso,sua administração deve ser feita o mais precocemente possível, frente a uma suspeitaclínica bem fundamentada.Como o soro antidiftérico tem origem heteróloga (soro heterólogo de cavalo), sua administraçãopode causar reações alérgicas. Deste mo<strong>do</strong>, faz-se necessária a realização deprovas de sensibilidade antes <strong>do</strong> seu emprego. Caso a prova seja positiva, deverá ser feita adessensibilização. As <strong>do</strong>ses <strong>do</strong> SAD não dependem <strong>do</strong> peso e da idade <strong>do</strong> paciente e sim dagravidade e <strong>do</strong> tempo da <strong>do</strong>ença. O SAD deve ser feito preferencialmente por via en<strong>do</strong>venosa(EV), diluí<strong>do</strong> em 100ml de soro fisiológico em <strong>do</strong>se única.Esquema de administração <strong>do</strong> SADForma clínicaLeve (nasal, cutânea, amigdaliana)Laringoamigdaliana ou mistaGraves ou tardias (4 dias de <strong>do</strong>ença)Dosagem40 mil UI, EV60 mil a 80 mil UI, EV80 mil a 120 mil UI, EVAdministração <strong>do</strong> SADA administração <strong>do</strong> soro antidiftérico deve ser sempre precedida da prova intradérmicade sensibilidade, da seguinte forma:• diluir 0,1ml <strong>do</strong> SAD a 1:1 mil de soro fisiológico ou soro glicosa<strong>do</strong> a 5%, e fazer ainjeção intradérmica (com agulha de insulina) na região interna <strong>do</strong> antebraço; após20 minutos, realizar a leitura;• reação (+) = nódulo eritematoso maior ou igual a 3cm de diâmetro.258 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DifteriaCaso a prova intradérmica seja positiva, o soro deverá ser administra<strong>do</strong> com as seguintesprecauções:• injetar um anti-histamínico 15 minutos antes da aplicação <strong>do</strong> soro: 1 ampola de 2mlde prometazina/fenergan tem 50mg. Recomenda-se:para crianças: 0,5mg/kg/<strong>do</strong>se, via intramuscular;para adultos: 100-1.000mg/dia, via intramuscular;• manter sempre à mão adrenalina milesimal, injetan<strong>do</strong> de 0,5 a 1ml, via intramuscular,caso sobrevenham sintomas de choque anafilático (palidez, dispnéia intensa,hipotensão, edema de glote, convulsões, etc.);• a aplicação <strong>do</strong> soro deverá ser feita segun<strong>do</strong> o esquema de dessensibilização a seguir,usan<strong>do</strong>-se injeções em séries de antitoxina, em diluições decrescentes (SG a 5% ouSF), com intervalos de 15 minutos:Esquema de dessensibilização ao SAD6Nº da <strong>do</strong>se*Diluição <strong>do</strong>SAD em SFVolume de cada injeçãoVia deadministração1 1:1.000 0,1ml ID2 1:1.000 0,3ml ID3 1:1.000 0,6ml SC4 1:100 0,1ml SCD5 1:100 0,3ml SC6 1:100 0,6ml SC7 1:10 0,1ml SC8 1:10 0,3ml SC9 1:10 0,6ml SC10 Não diluí<strong>do</strong> 0,1ml SC11 Não diluí<strong>do</strong> 0,3ml SC12 Não diluí<strong>do</strong> 0,6ml IM13 Não diluí<strong>do</strong> 1,0ml IM*Intervalo entre as <strong>do</strong>ses: 15 minutos• antibioticoterapia – o uso de antibiótico deve ser considera<strong>do</strong> como medida auxiliarda terapia específica, objetivan<strong>do</strong> interromper a produção de exotoxina peladestruição <strong>do</strong>s bacilos diftéricos e sua disseminação.ImportanteMesmo ante o risco indica<strong>do</strong> por uma prova de sensibilidade positiva, não se devehesitar na administração <strong>do</strong> soro antidiftérico, consideran<strong>do</strong>-se as medidas de precauçãoacima explicadas.Pode-se utilizar eritromicina ou penicilina G cristalina ou penicilina G procaína, coma mesma eficácia, durante 14 dias, conforme orientação a seguir:Secretaria de Vigilância em Saúde / MS259


Difteria• eritromicina – deve ser administrada por via oral, na <strong>do</strong>se de 40 a 50mg/kg/dia(<strong>do</strong>se máxima de 2g/dia);• penicilina G cristalina – deve ser administrada por via en<strong>do</strong>venosa, na <strong>do</strong>se de 100mil a 150 mil UI/kg/dia, em frações iguais de 6/6 horas;• penicilina G procaína – deve ser administrada por via intramuscular, na <strong>do</strong>se de 50mil UI/kg/dia (<strong>do</strong>se máxima de 1.200.000UI/dia), em duas frações iguais de 12/12horas.Observação• Quan<strong>do</strong> houver melhora <strong>do</strong> quadro, a penicilina G cristalina pode ser substituídapela penicilina G procaína para completar os 14 dias de tempo total de tratamento.• A clindamicina constitui boa alternativa à eritromicina e às penicilinas, na <strong>do</strong>se de 20a 40mg/kg/dia, em frações iguais de 8/8 horas, por via en<strong>do</strong>venosa, durante 14 dias.Tratamento sintomáticoO tratamento geral ou de suporte consiste em repouso no leito, manutenção <strong>do</strong> equilíbriohidreletrolítico (gotejamento en<strong>do</strong>venoso de soro glicofisiológico, com acréscimo deglicose a 25% ou 50% para aumentar a oferta calórica), dieta leve, nebulização ou vaporização.Proceder a aspiração das secreções com freqüência. Não haven<strong>do</strong> aceitação <strong>do</strong>salimentos e <strong>do</strong>s líqui<strong>do</strong>s por via oral, deve-se administrá-los por sonda nasogástrica.Estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s no Brasil apontam que a carnitina exerce efeito protetor sobre omiocárdio, desde que sua administração seja iniciada antes de decorri<strong>do</strong>s cinco dias desdeo início da <strong>do</strong>ença. A <strong>do</strong>se recomendada é de 100mg/kg/dia (máximo de 3g/dia), por viaoral, em duas ou três frações iguais de 12/12 horas ou de 8/8 horas, durante quatro dias.Segun<strong>do</strong> os estu<strong>do</strong>s, a carnitina propicia redução da incidência de miocardite e redução damorbimortalidade, estan<strong>do</strong> seu uso indica<strong>do</strong> como coadjuvante no tratamento da difteria.Como a carnitina não está comercializada no Brasil, médicos com experiência clínicacom o seu uso orientam o preparo <strong>do</strong> xarope a 10%, dissolven<strong>do</strong>-se 100g de DL-carnitinaem 100ml de água destilada quente e completan<strong>do</strong>-se o volume de 1.000ml com xaropesimples. Nessa fórmula há 500mg/5ml <strong>do</strong> princípio ativo (Sakane, 2002).Tratamento das complicações diftéricasA observação <strong>do</strong> paciente com difteria deve ser contínua.Insuficiência respiratória – o agravamento precoce da insuficiência respiratória constituiindicação de traqueostomia. A paralisia da musculatura respiratória (diafragma e músculosintercostais) exige, eventualmente, a instalação de aparelhos de respiração assistida.Observação: quan<strong>do</strong> houver comprometimento respiratório alto, nos casos leves e modera<strong>do</strong>sde laringite, pode ser tentada a dexametasona em <strong>do</strong>se inicial de 0,6mg/kg, seguidapor 0,4mg/kg/dia, por via en<strong>do</strong>venosa, em frações iguais de 6/6 horas, como medida antiedematosa;porém, caso o paciente continue com sinais progressivos de obstrução alta ou sejá se apresentar ao médico com quadro de insuficiência respiratória alta estabelecida, a traqueostomiadeve ser feita sem demora, evitan<strong>do</strong>-se que o paciente apresente hipóxia severa.260 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DifteriaMiocardite – a terapêutica para esta complicação baseia-se no repouso absoluto noleito, durante pelo menos três semanas, na restrição de sódio e no emprego de cardiotônicose diuréticos. Deve ser realiza<strong>do</strong> eletrocardiograma.Polineurites – a cura costuma ser espontânea, em tempo variável, mas o paciente deveser manti<strong>do</strong> interna<strong>do</strong> e em observação constante.Insuficiência renal aguda – tratamento conserva<strong>do</strong>r, diálise peritoneal.Aspectos epidemiológicosA difteria ocorre durante o ano to<strong>do</strong> e pode afetar todas as pessoas não imunizadas,de qualquer idade, raça ou sexo. Observa-se um aumento de sua incidência nos meses frios(outono e inverno), quan<strong>do</strong> é mais comum a ocorrência de infecções respiratórias devidas,principalmente, à aglomeração em ambientes fecha<strong>do</strong>s, que facilitam a transmissão <strong>do</strong> bacilo.Contu<strong>do</strong>, essa diferença não é importante para as regiões que não apresentam grandesoscilações sazonais de temperatura ou onde a população mantém alto índice de aglomeraçãodurante to<strong>do</strong> o ano.É uma <strong>do</strong>ença infecciosa de importância nos países <strong>do</strong> Terceiro Mun<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> raraquan<strong>do</strong> coberturas vacinais homogêneas são obtidas em mais de 80% da população. É maisfreqüente a ocorrência da <strong>do</strong>ença em áreas com baixas condições socioeconômicas e sanitárias,onde a aglomeração de pessoas é maior. Comumente, estas áreas apresentam baixacobertura vacinal e, portanto, não é obti<strong>do</strong> impacto no controle da transmissão da <strong>do</strong>ença.O número de casos de difteria notifica<strong>do</strong>s no Brasil vem decrescen<strong>do</strong> progressivamente,provavelmente em decorrência <strong>do</strong> aumento da utilização da vacina DTP. Em 1990, foramnotifica<strong>do</strong>s 640 casos, com coeficiente de incidência de 0,45/100 mil habitantes, númeroque foi progressivamente decain<strong>do</strong> até atingir 56 casos em 1999 (coeficiente de incidênciade 0,03/100 mil habitantes) e 58 casos em 2000 (coeficiente de incidência de 0,03/100 milhabitantes). Nos anos subseqüentes, o número de casos não ultrapassou 50 por ano e ocoeficiente de incidência por 100 mil habitantes manteve-se em torno de 0,03. Em 2003,confirmaram-se 40 casos da <strong>do</strong>ença, com coeficiente de incidência de 0,02/100 mil habitantes.A cobertura vacinal com a DTP vem se elevan<strong>do</strong> neste perío<strong>do</strong>, passan<strong>do</strong> de 66%,em 1990, para 95%, em 2003.A letalidade esperada varia de 5% a 10%, atingin<strong>do</strong> 20% em certas situações. No Brasil,este indica<strong>do</strong>r tem apresenta<strong>do</strong> elevações e diminuições, sen<strong>do</strong> de 8,6%, 18,8% e 22%, em2000, 2001 e 2002, respectivamente.6DSecretaria de Vigilância em Saúde / MS261


DifteriaCoeficiente de incidência¹ da difteria e cobertura vacinal pela DTP².Brasil, 1980-2003³0,451000,400,350,300,250,200,150,100,05908070605040302010080 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 030Coeficiente de incidência por 100 mil hab. Cobertura vacinal (%)Fonte: ¹Ministério da Saúde/SVS/Devep/CGDT/Cover; ²Ministério da Saúde/SVS/Devep/CGPNI.³Da<strong>do</strong>s sujeitos a revisãoVigilância epidemiológicaA difteria é uma <strong>do</strong>ença de notificação e investigação obrigatória em to<strong>do</strong> o territórionacional (Anexo 1).Objetivos• Investigar to<strong>do</strong>s os casos suspeitos e confirma<strong>do</strong>s com vistas à a<strong>do</strong>ção de medidas decontrole pertinentes para evitar a ocorrência de novos casos.• Aumentar o percentual de isolamento em cultura, com envio de 100% das cepasisoladas para o laboratório de referência nacional, para estu<strong>do</strong>s moleculares e deresistência bacteriana a antimicrobianos.• Acompanhar a tendência da <strong>do</strong>ença, para detecção precoce de surtos e epidemias.Definição de casoSuspeitoToda pessoa que, independente da idade e esta<strong>do</strong> vacinal, apresenta quadro agu<strong>do</strong> deinfecção da orofaringe, com presença de placas aderentes ocupan<strong>do</strong> as amígdalas, com ou262 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Difteriasem invasão de outras áreas da faringe (pálato e úvula) ou outras localizações (ocular, nasal,vaginal, pele, etc.), com comprometimento <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> geral e febre moderada.Confirma<strong>do</strong>Critério laboratorial• To<strong>do</strong> caso suspeito com isolamento <strong>do</strong> Corynebacterium diphtheriae e provas detoxigenicidade positiva, ou• To<strong>do</strong> caso suspeito com isolamento <strong>do</strong> Corynebacterium diphtheriae mesmo semprovas de toxigenicidade positiva.Critério epidemiológicoTo<strong>do</strong> caso suspeito de difteria:• com resulta<strong>do</strong> de cultura negativo ou exame não realiza<strong>do</strong>, mas que seja comunicantede um outro caso confirma<strong>do</strong> laboratorial ou clinicamente; ou• com resulta<strong>do</strong> de cultura negativo ou exame não realiza<strong>do</strong>, mas que seja comunicanteíntimo de porta<strong>do</strong>r, indivíduo no qual se isolou o Corynebacterium diphtheriae.6Critério clínicoQuan<strong>do</strong> for observa<strong>do</strong>:• placas comprometen<strong>do</strong> pilares ou úvula, além das amígdalas;• placas suspeitas na traquéia ou laringe;• simultaneamente, placas em amígdalas, toxemia importante, febre baixa desde oinício <strong>do</strong> quadro e evolução, em geral, arrastada;• miocardite ou paralisia de nervos periféricos, que pode aparecer desde o início<strong>do</strong>s sintomas sugestivos de difteria ou até semanas após.DCritério anatomopatológico (necropsia)Quan<strong>do</strong> a necropsia comprovar:• placas comprometen<strong>do</strong> pilares ou úvula, além das amígdalas;• placas na traquéia e/ou laringe.Morte pós-clínica compatívelÓbito de paciente em curso de tratamento de amigdalite aguda e no qual se constatamiocardite.Descarta<strong>do</strong>Caso suspeito não confirma<strong>do</strong> por nenhum <strong>do</strong>s critérios descritos anteriormente.NotificaçãoTo<strong>do</strong> caso suspeito deve ser notifica<strong>do</strong> imediatamente, para desencadeamento da investigaçãoe a<strong>do</strong>ção das medidas de controle pertinentes, bem como incluí<strong>do</strong> no Sistema deInformação de Agravos de Notificação (Sinan).Secretaria de Vigilância em Saúde / MS263


DifteriaPrimeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteHospitalização imediata.Qualidade da assistênciaVerificar se os casos estão sen<strong>do</strong> atendi<strong>do</strong>s em unidade de saúde com capacidade paraprestar atendimento adequa<strong>do</strong> e oportuno.Proteção individual para evitar disseminação da bactériaOs <strong>do</strong>entes com difteria devem ser manti<strong>do</strong>s em isolamento respiratório durante 14dias após a introdução da antibioticoterapia apropriada. Os fômites devem receber cuida<strong>do</strong>sapropria<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> as normas de biossegurança. O ideal é suspender as medidasrelativas às precauções respiratórias somente quan<strong>do</strong> duas culturas de secreções obtidasde nasofaringe, em meios específicos, forem negativas para Corynebacterium diphtheriae.Inclusive nos <strong>do</strong>entes com difteria cutânea, é considerada obrigatória a realização de duasculturas de material colhi<strong>do</strong> das lesões cutâneas pelo menos 24 horas depois de completadaa antibioticoterapia.Confirmação diagnósticaColetar material para diagnóstico laboratorial de acor<strong>do</strong> com as orientações constantes<strong>do</strong> Anexo 1.Proteção da populaçãoLogo que se tenha conhecimento da suspeita de casos de difteria deve-se desencadearum bloqueio vacinal seletivo com DTP e/ou dT nas áreas onde o paciente esteve no perío<strong>do</strong>de transmissibilidade. Coletar material de comunicantes para pesquisa de porta<strong>do</strong>res einiciar a quimioprofilaxia <strong>do</strong>s comunicantes íntimos. É importante lembrar que a vacinaDTP é indicada para crianças de 2 meses a 6 anos completos e a dT para pessoas com seteanos ou mais.InvestigaçãoDevi<strong>do</strong> ao curto perío<strong>do</strong> de incubação e alta transmissibilidade, a investigação <strong>do</strong>s casose <strong>do</strong>s comunicantes deverá ter início imediatamente após a notificação <strong>do</strong> caso suspeitode difteria.ImportanteVisan<strong>do</strong> a detecção precoce de outros casos, é importante desencadear busca ativa, ouseja, ir na comunidade, escola, local de trabalho e perguntar se há casos de “amigdalite”,além de verificar se nos serviços de emergência e internação apareceram casoscom clínica compatível com difteria, pois a instituição da terapêutica específica (SADe antibiótico), o mais precocemente possível, diminui a letalidade da difteria.264 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DifteriaRoteiro da investigação epidemiológicaA ficha de investigação da difteria, preconizada pelo Sinan, contém os elementos essenciaisa serem coleta<strong>do</strong>s em uma investigação de rotina. To<strong>do</strong>s os seus campos devemser criteriosamente preenchi<strong>do</strong>s, mesmo quan<strong>do</strong> a informação for negativa. Outros itense observações podem ser incluí<strong>do</strong>s, conforme as necessidades e peculiaridades de cadasituação.Identificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação epidemiológica <strong>do</strong> Sinan relativosaos da<strong>do</strong>s gerais, notificação individual e da<strong>do</strong>s de residência.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPara confirmar a suspeita diagnósticaAnotar na ficha de investigação da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s antecedentes epidemiológicos e da<strong>do</strong>s clínicos:• preencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação de difteria;• observar, com atenção, se o caso notifica<strong>do</strong> enquadra-se na definição de caso dedifteria, a fim de evitar a notificação inadequada de casos;• anotar da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> prontuário <strong>do</strong> paciente, entrevistar a equipe de assistência, o própriopaciente (quan<strong>do</strong> possível) e familiares;• acompanhar a evolução <strong>do</strong> paciente e o resulta<strong>do</strong> das culturas de Corynebacteriumdiphtheriae.6DPara identificação da área de transmissão• Verificar se no local de residência, de trabalho, na creche, na escola, etc. há indíciosde outros casos suspeitos.• Estes procedimentos devem ser feitos mediante entrevista com o paciente, familiaresou responsáveis, bem como com lideranças da comunidade.Para determinação da extensão da área de transmissãoApós a identificação <strong>do</strong> possível local de transmissão, iniciar imediatamente a buscaativa de outros casos, casa a casa, na creche, na escola, no local de trabalho e em unidadesde saúde.Investigação de comunicantesComunicantes são aquelas pessoas que tiveram contato íntimo com o caso suspeitode difteria, estan<strong>do</strong>, portanto, sob o risco de adquirir a <strong>do</strong>ença, quer sejam mora<strong>do</strong>res<strong>do</strong> mesmo <strong>do</strong>micílio ou não.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS265


Difteria• A investigação de comunicantes deve ser feita na residência, creche, escola, orfanatos,quartéis e outros locais que possibilitaram o contato íntimo com o caso.• Assim, além <strong>do</strong>s comunicantes <strong>do</strong>miciliares, devem ser considera<strong>do</strong>s os colegas damesma classe, os que usam o mesmo meio de transporte ou aqueles que brincamjuntos e/ou utilizam o mesmo quintal. Se o paciente residir em quartéis, orfanatosou passar a maior parte <strong>do</strong> tempo em creches ou similares, as outras pessoas <strong>do</strong>mesmo ambiente devem ser consideradas como comunicantes.To<strong>do</strong>s os comunicantes de um caso suspeito de difteria deverão ser submeti<strong>do</strong>s a umexame clínico e ficar sob vigilância por um perío<strong>do</strong> mínimo de 7 dias.• Comunicante <strong>do</strong>miciliar – para to<strong>do</strong>s os que compartilham o mesmo <strong>do</strong>micíliodeve-se coletar material de naso e orofaringe e de lesão de pele, bem como iniciar oucompletar o esquema vacinal.• Orfanatos e creches – quan<strong>do</strong> o caso passar a maior parte <strong>do</strong> tempo em instituições,todas as pessoas (outras crianças/trabalha<strong>do</strong>res) que mantêm maior contato com omesmo devem ser tratadas como comunicantes <strong>do</strong>miciliares.• Escolas e pré-escolares – quan<strong>do</strong> o caso passar a maior parte <strong>do</strong> tempo na escola,todas as pessoas (outras crianças/professores/trabalha<strong>do</strong>res) que mantêm maiorcontato com o mesmo caso devem ser tratadas como comunicantes <strong>do</strong>miciliares.Outros contatos devem ser vacina<strong>do</strong>s conforme o indica<strong>do</strong> para os comunicantes<strong>do</strong>miciliares.• Deve-se realizar contatos com a direção visan<strong>do</strong> descobrir faltosos e solicitar comunicaçãoimediata de novos casos nos próximos 15 dias. Orientar o diretor paratransmitir aos alunos e pais a necessidade de consultar um médico frente a qualquersintoma suspeito (febre, placa na garganta, etc.).Na investigação <strong>do</strong>s comunicantes é indispensável:• preencher os campos da ficha de investigação da difteria referentes aos comunicantes;• coletar material de naso e orofaringe e de lesão de pele <strong>do</strong>s comunicantes, a fim derealizar cultura de Corynebacterium diphtheriae;• verificar a situação vacinal <strong>do</strong>s comunicantes, consideran<strong>do</strong> as <strong>do</strong>ses registradas nacaderneta de vacinação e, se necessário, iniciar ou atualizar o esquema vacinal coma DTP, DTP+Hib ou dT, de acor<strong>do</strong> com as orientações a seguir:História vacinalMenores de 7 anos< 1ano > 1 ano7 anos ou maisNão vacina<strong>do</strong>sIniciar o esquemacom DTP+HibIniciar o esquemacom DTPIniciar o esquema com dTVacinação incompletaCompletar o esquemacom DTP+HibCompletar oesquema com DTPCompletar o esquema com a dTVacinação completaAplicar uma <strong>do</strong>se de DTP como reforço,se esta foi feita há mais de cinco anosAplicar uma <strong>do</strong>se de dT comoreforço, se a última <strong>do</strong>se foiaplicada há mais de 5 anos266 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DifteriaColeta e remessa de material para exames (Anexo 2)• Deve-se retirar material das lesões existentes (ulcerações, criptas das amígdalas), exsudatosde orofaringe e de nasofaringe, que são as localizações mais comuns, ou deoutras lesões cutâneas, conjuntivas, genitália externa, etc., por meio de swab estéril,antes da administração de qualquer terapêutica antimicrobiana.• Deve-se realizar cultura separada <strong>do</strong> material de nasofaringe ou da via oral e de lesãode pele.• Na coleta <strong>do</strong> material da orofaringe, não remover a pseu<strong>do</strong>membrana, pois sua remoçãoacelera a absorção da toxina e leva a sangramento.• A coleta deve ser efetuada antes da administração de antibióticos, mas deverá sersempre feita.• É de responsabilidade <strong>do</strong>s profissionais da vigilância epidemiológica e/ou <strong>do</strong>s laboratórioscentrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo proceder estascoletas, de acor<strong>do</strong> com a organização de cada local.AtençãoNão se deve aguardar os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames para o desencadeamento das medidasde controle e outras atividades da investigação, embora sejam imprescindíveis para aconfirmação de casos e nortear o encerramento das investigações.6DAnálise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sA investigação deve permitir a avaliação da magnitude <strong>do</strong> problema e da adequaçãodas medidas a<strong>do</strong>tadas visan<strong>do</strong> impedir a transmissão da <strong>do</strong>ença, bem como indicar as açõesde prevenção que devem ser mantidas a curto e médio prazos na área.Encerramento de casosAs fichas de investigação de cada caso devem ser analisadas visan<strong>do</strong> definir o critérioutiliza<strong>do</strong> para o diagnóstico, consideran<strong>do</strong> as seguintes alternativas:Critério laboratorial – o isolamento <strong>do</strong> Corynebacterium diphtheriae com prova detoxigenicidade positiva ou não classifica o caso suspeito como confirma<strong>do</strong>.Critério epidemiológico – classifica o diagnóstico como caso confirma<strong>do</strong>:• o vínculo epidemiológico <strong>do</strong> caso suspeito com outros casos confirma<strong>do</strong>s de difteriapelo critério laboratorial ou clínico;• o vínculo epidemiológico <strong>do</strong> caso suspeito com comunicante íntimo (sintomáticoou não) em que foi isola<strong>do</strong> o Corynebacterium diphtheriae.Critério clínico – classifica o diagnóstico como caso confirma<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> for observa<strong>do</strong>:• placas comprometen<strong>do</strong> pilares ou úvula, além das amígdalas;• placas suspeitas na traquéia ou laringe;• simultaneamente, placas em amígdalas, toxemia importante, febre baixa desde o iní-Secretaria de Vigilância em Saúde / MS267


Difteriacio <strong>do</strong> quadro e evolução, em geral, arrastada;• miocardite ou paralisia de nervos periféricos, que pode aparecer desde o início <strong>do</strong>ssintomas sugestivos de difteria ou até semanas após.Critério anatomopatológico – classifica o diagnóstico como caso confirma<strong>do</strong> quan<strong>do</strong>a necropsia comprovar:• placas comprometen<strong>do</strong> pilares ou úvula, além das amígdalas;• placas na traquéia e/ou laringe.Morte pós-clínica compatível – classifica o diagnóstico como caso confirma<strong>do</strong> quan<strong>do</strong>for a óbito paciente em curso de tratamento de amigdalite aguda e no qual se constatamiocardite.Descarta<strong>do</strong> – caso suspeito não confirma<strong>do</strong> por nenhum <strong>do</strong>s critérios descritos anteriormente.Análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sA análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s pela vigilância tem como objetivo proporcionar conhecimentosatualiza<strong>do</strong>s sobre características epidemiológicas no que diz respeito, principalmente,a distribuição de sua incidência por áreas geográficas e grupos etários, taxas deletalidade, eficiência <strong>do</strong>s programas de vacinação, bem como a detecção de possíveis falhasoperacionais da atividade de controle da <strong>do</strong>ença na área, sen<strong>do</strong>, portanto, necessárias açõesvisan<strong>do</strong> a obtenção de da<strong>do</strong>s sobre confirmação <strong>do</strong> diagnóstico, proporção de casos emvacina<strong>do</strong>s, padrões de distribuição da <strong>do</strong>ença e cobertura vacinal.A consolidação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s consideran<strong>do</strong> as características de pessoa, tempo e lugarpermitirá uma caracterização detalhada da situação da <strong>do</strong>ença.Instrumentos disponíveis para controleImunizaçãoA vacinação com o toxóide diftérico é a medida de controle mais importante da difteria.O emprego sistemático desta vacina, com altas coberturas vacinais ao longo <strong>do</strong> tempo,além de diminuir a incidência de casos clínicos determina importante redução <strong>do</strong> númerode porta<strong>do</strong>res, induzin<strong>do</strong> a chamada “imunidade coletiva”.Os indivíduos adequadamente imuniza<strong>do</strong>s neutralizarão a toxina produzida pelo bacilodiftérico, responsável pelas manifestações clínicas da <strong>do</strong>ença. A vacinação normalmenteé feita de forma sistemática, com aplicação de rotina <strong>do</strong> imunobiológico pelos serviçosde saúde, ou em forma de campanhas de vacinação ou, ainda, de bloqueio, realizada dianteda ocorrência de um caso suspeito da <strong>do</strong>ença.268 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DifteriaConsidera-se adequadamente vacina<strong>do</strong>:• quem recebeu três <strong>do</strong>ses de vacina DTP (contra difteria, tétano e coqueluche) ouDTP+Hib (contra difteria, tétano e coqueluche e infecções graves causadas pelo Haemophilusinfluenzae) ou DT (dupla infantil), a partir de <strong>do</strong>is meses de vida, comintervalo de, pelo menos, 30 dias entre as <strong>do</strong>ses (o ideal é o intervalo de <strong>do</strong>is meses)e com 1º reforço aplica<strong>do</strong> no prazo de 6 a 12 meses após a 3ª <strong>do</strong>se e o 2º reforço com4-6 anos de idade;• quem recebeu três <strong>do</strong>ses da vacina dT (dupla adulto) a partir de 7 anos de idade,com intervalo de, pelo menos, 30 dias entre as <strong>do</strong>ses (o ideal é o intervalo de <strong>do</strong>ismeses).Vacina DTP (contra difteria, tétano e coqueluche)• A eficácia da vacina DTP varia de acor<strong>do</strong> com o componente, a saber: 80%-90% paradifteria; 75%-80% para coqueluche e 100% para tétano. A imunidade conferida pelavacina não é permanente e decresce com o tempo. Daí a necessidade de aplicar uma<strong>do</strong>se de reforço com a dT a cada dez anos. Em média de 5 a 10 anos após a última<strong>do</strong>se da vacina, a proteção pode ser pouca ou nenhuma.• Deve ser aplicada por via intramuscular, a partir de <strong>do</strong>is meses de idade até 6 anoscompletos. É conservada entre +2ºC e +8ºC, conforme orientação <strong>do</strong> Programa Nacionalde Imunizações (vide Manual de Procedimentos para Vacinação).• Contra-indicações: crianças com quadro neurológico em atividade; reação anafiláticaapós o recebimento de qualquer <strong>do</strong>se da vacina; história de hipersensibilidadeaos componentes da vacina; encefalopatia nos primeiros sete dias após a aplicaçãode uma <strong>do</strong>se anterior desse produto ou outro com componente pertussis; convulsõesaté 72 horas após a administração da vacina; colapso circulatório, com choque ouepisódio hipotônico-hiporresponsivo até 48 horas após a administração da vacina(vide Manual de Procedimentos para Vacinação).• Eventos adversos: a maioria <strong>do</strong>s eventos pós-vacinação com DTP são de caráter benignoe ocorrem nas primeiras 48 horas após a aplicação da vacina. São comuns reaçõeslocais (vermelhidão, calor, endurecimento e edema, acompanha<strong>do</strong>s ou não de<strong>do</strong>r) e sistêmicas (febre, irritabilidade e sonolência, por exemplo). Menos freqüentemente,podem ocorrer reações como choro persistente e inconsolável, episódiohipotônico-hiporresponsivo e convulsão (vide Manual de Vigilância Epidemiológica<strong>do</strong>s Eventos Adversos Pós-Vacinação).6DVacina tetravalente – DTP+Hib (contra difteria, tétano, coqueluchee infecções graves causadas pelo Haemophilus influenzae)• De acor<strong>do</strong> com o calendário nacional de vacinação (Portaria MS nº 597, de 8/4/04),é indicada a aplicação de três <strong>do</strong>ses da vacina tetravalente nos menores de um anode idade. Esta vacina deve ser conservada entre +2ºC e +8ºC, poden<strong>do</strong> ser utilizadapor cinco dias após a reconstituição (vide Nota Técnica Introdução da Vacina Tetravalente).Secretaria de Vigilância em Saúde / MS269


Difteria• Deve ser aplicada por via intramuscular profunda, na região <strong>do</strong> vasto lateral; a viasubcutânea deve ser utilizada em crianças com trombocitopenia ou distúrbios desangramento (vide Nota Técnica Introdução da Vacina Tetravalente).• Contra-indicações: reação anafilática grave ao mesmo produto ou qualquer de seuscomponentes; encefalopatia nos primeiros sete dias após a aplicação de uma <strong>do</strong>seanterior desse produto ou outro com componente pertussis; convulsões até 72 horasapós a administração da vacina; colapso circulatório, com choque ou episódiohipotônico-hiporresponsivo até 48 horas após a administração da vacina; quadroneurológico em atividade (vide Nota Técnica Introdução da Vacina Tetravalente).• Eventos adversos: os sintomas locais mais freqüentes relata<strong>do</strong>s dentro das primeiras48 horas são <strong>do</strong>r, eritema, edema e/ou calor e enduração. Os sintomas sistêmicos relata<strong>do</strong>sem igual perío<strong>do</strong> desapareceram espontaneamente, dentre os quais febre, perdade apetite, agitação, vômito, choro persistente, mal-estar geral e irritabilidade. Menosfreqüentemente, pode ocorrer sonolência, choro prolonga<strong>do</strong> e incontrolável, convulsõese síndrome hipotônica-hiporresponsiva. Relatos de reações alérgicas, incluin<strong>do</strong>as anafiláticas, são raros (vide Nota Técnica Introdução da Vacina Tetravalente).Vacina DTPa (contra difteria, tétano e coqueluche acelular)• Esta vacina está disponível somente nos Centros de Referência de ImunobiológicosEspeciais (Crie) e é indicada para as crianças de 2 meses a 6 anos completos (6 anos,11 meses e 29 dias) que apresentaram os seguintes eventos adversos após o recebimentode qualquer uma das <strong>do</strong>ses da vacina DTP: convulsão nas primeiras 72 horasou episódio hipotônico-hiporresponsivo nas primeiras 48 horas (vide Manual deProcedimentos para Vacinação).• Deve ser aplicada por via intramuscular, a partir de <strong>do</strong>is meses de idade até 6 anoscompletos. É conservada entre +2ºC e +8ºC, conforme orientação <strong>do</strong> Programa Nacionalde Imunizações (vide Manual de Procedimentos para Vacinação).• Contra-indicações: reação anafilática após o recebimento de qualquer <strong>do</strong>se da vacinaacelular ou celular (DTP); história de hipersensibilidade aos componentes da vacina;ocorrência de encefalopatia nos primeiros sete dias após a administração da vacinaacelular ou da celular (DTP) (vide Manual de Procedimentos para Vacinação).• Eventos adversos: os eventos adversos locais e sistêmicos leves das vacinas acelularessão os mesmos das vacinas celulares, porém com menor freqüência e intensidade.Raramente, pode ocorrer febre > 4oºC; convulsões febris, choro com 3 horas oumais de duração e episódios hipotônico-hiporresponsivos (vide Manual <strong>do</strong>s Centrosde Referência de Imunobiológicos Especiais).Vacina dT (dupla adulto – contra difteria e tétano)• Aplica-se por via intramuscular, a partir de 7 anos completos. É conservada entre+2ºC e +8ºC, conforme orientação <strong>do</strong> Programa Nacional de Imunizações (vide Manualde Normas e Procedimentos <strong>do</strong> Programa Nacional de Imunizações).270 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DifteriaRecomendações para vacinaçãoRotina para menores de 7 anos – o Ministério da Saúde preconiza a administração detrês <strong>do</strong>ses da vacina DTP+Hib, a partir de 2 meses de vida, com intervalo de 60 dias entre as<strong>do</strong>ses. Doses subseqüentes da vacina DTP deverão ser aplicadas aos 15 meses (1º reforço) eaos 4-6 anos de idade (2º reforço).Esquema recomenda<strong>do</strong> para as vacinas DTP+Hib e DTPVacina Dose Idade Intervalo entre as <strong>do</strong>ses1ª <strong>do</strong>se 2 meses 8 semanasDTP+Hib2ª <strong>do</strong>se 4 meses 8 semanasDTP3ª <strong>do</strong>se 6 meses 8 semanas1º reforço 15 meses 6 a 12 meses após a 3ª <strong>do</strong>se2º reforço 4-6 anos6Rotina para pessoas com 7 anos ou mais – a vacina dT deve ser administrada a partirde sete anos completos. O esquema preconiza<strong>do</strong> para os que não têm história de vacinaçãoprévia contra a difteria (DTP ou DTPa ou DT ou dT) é a administração de três <strong>do</strong>ses comintervalo de <strong>do</strong>is meses entre elas (intervalo mínimo de 30 dias) e uma <strong>do</strong>se de reforço acada 10 anos. Nas pessoas com vacinação prévia contra a difteria (DTP ou DTPa ou DT oudT) deve-se completar o esquema, ou seja, considerar as <strong>do</strong>ses (comprovadas) aplicadasanteriormente e nunca reiniciar o esquema (ver Portaria MS nº 597, de 8/4/04).DCasos isola<strong>do</strong>s e surtos – proceder a vacinação seletiva da população susceptível, visan<strong>do</strong>aumentar a cobertura vacinal na área de ocorrência <strong>do</strong>s casos.Vacinação de bloqueioLogo após a identificação de um caso suspeito de difteria, deve ser feita a visita <strong>do</strong>miciliare, de acor<strong>do</strong> com cada situação, visita à escola, creche, local de trabalho, etc. paravacinação de to<strong>do</strong>s os contatos não vacina<strong>do</strong>s, inadequadamente vacina<strong>do</strong>s ou com esta<strong>do</strong>vacinal desconheci<strong>do</strong>, de acor<strong>do</strong> com as seguintes orientações:• administrar uma <strong>do</strong>se da vacina DTP ou DTP+Hib ou dupla tipo adulto, conformea idade e esta<strong>do</strong> vacinal, e orientar como completar o esquema de vacinação;• as crianças e adultos com esquema de vacinação em dia só deverão receber uma <strong>do</strong>sede reforço se a última <strong>do</strong>se de vacina foi aplicada há mais de 5 anos;• a ocorrência de um surto exige, além da vacinação imediata <strong>do</strong>s comunicantes comsituação vacinal inadequada (medida que procura diminuir o número de susceptíveis),uma investigação da ocorrência e situação vacinal da população sob risco, comconseqüente extensão da vacinação a to<strong>do</strong>s os expostos.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS271


DifteriaControle da fonte de infecçãoMedidas gerais para pacientes hospitaliza<strong>do</strong>sIsolamento – recomenda-se isolamento tipo respiratório por gotículas durante 14 diasapós a introdução da antibioticoterapia. O ideal é suspender as medidas relativas às precauçõesrespiratórias somente quan<strong>do</strong> duas culturas de secreções obtidas da narina e dafaringe, em meios específicos, forem negativas.Quarto privativo – o paciente com difteria deve ser manti<strong>do</strong> em aposento exclusivoou compartilha<strong>do</strong> por mais de um paciente com o mesmo diagnóstico. A porta <strong>do</strong> quartodeve ser mantida fechada.Lavagem de mãos – deve ser feita antes e após o contato com o paciente após o manuseiode materiais utiliza<strong>do</strong>s pelo mesmo e após retirada das luvas e máscara.Uso de máscara – recomenda-se o uso de máscara comum para to<strong>do</strong>s os que entramno quarto. Após o uso, deve ser descartada em recipiente apropria<strong>do</strong> e o indivíduo develavar as mãos.Limpeza e desinfecção – recomenda-se desinfecção concorrente e terminal <strong>do</strong>s objetoscontamina<strong>do</strong>s com as secreções nasofaríngeas. A solução indicada é o hipoclorito desódio a 1%. Após a desinfecção, os objetos devem ser enxagua<strong>do</strong>s em água corrente. Objetosde metal podem ser desinfeta<strong>do</strong>s com álcool etílico a 70%.Vacinação <strong>do</strong> caso pós-altaComo a difteria nem sempre confere imunidade e a reincidência não é incomum, os<strong>do</strong>entes serão considera<strong>do</strong>s susceptíveis e, portanto, deverão ser vacina<strong>do</strong>s logo após a alta,conforme orientação a seguir:Esquema recomenda<strong>do</strong>História vacinalMenores de 7 anos< 1ano > 1 ano7 anos ou maisNão vacina<strong>do</strong>sIniciar o esquemacom DTP+HibIniciar o esquemacom DTPIniciar o esquemacom dTVacinação incompletaCompletar o esquemacom DTP+HibCompletar oesquema com DTPCompletar oesquema com a dTVacinação completaAplicar uma <strong>do</strong>se de DTP como reforçoAplicar uma <strong>do</strong>sede dT como reforçoControle <strong>do</strong>s comunicantesVacinação <strong>do</strong>s comunicantes• Os comunicantes <strong>do</strong>miciliares e escolares, adultos ou crianças, não vacina<strong>do</strong>s, inadequadamentevacina<strong>do</strong>s ou com situação vacinal desconhecida deverão receberuma <strong>do</strong>se da vacina DTP (em crianças menores de 7 anos) ou de dT (em criançascom 7 anos ou mais e adultos) e serem orienta<strong>do</strong>s como proceder para completar oesquema de vacinação.272 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Difteria• Nos comunicantes, adultos ou crianças, que receberam há mais de cinco anos o esquemabásico ou <strong>do</strong>se(s) de reforço, deverá ser administrada um <strong>do</strong>se de reforço deDTP (em crianças menores de 7 anos) ou de dT (em crianças com 7 anos ou mais eadultos).Pesquisa de porta<strong>do</strong>res entre os comunicantes• Coletar material de naso e orofaringe e de lesão de pele <strong>do</strong>s comunicantes, a fim derealizar cultura de Corynebacterium diphtheriae. Consideran<strong>do</strong> o curto perío<strong>do</strong> deincubação da <strong>do</strong>ença (1-6 dias) e visan<strong>do</strong> garantir uma margem de segurança, recomenda-sea coleta de material de pessoas que tiveram contato com o caso (suspeitoou confirma<strong>do</strong>) nos últimos 10-14 dias.• Comunicantes que trabalhem em profissões que envolvam a manipulação de alimentos,ou contato freqüente com grande número de crianças nos grupos de maiorrisco ou com pessoas imunodeprimidas. Recomenda-se o afastamento de seus locaisde trabalho até que se tenha o resulta<strong>do</strong> da cultura. Se positivo, o afastamento deveráser de 48 horas após a administração <strong>do</strong> antibiótico (ver item Quimioprofilaxia <strong>do</strong>sporta<strong>do</strong>res, no tópico Controle <strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>res).• Os comunicantes com resulta<strong>do</strong> da cultura positivo deverão ser reexamina<strong>do</strong>s paraconfirmar se são porta<strong>do</strong>res ou caso de difteria, e devem ser trata<strong>do</strong>s ou receber aquimioprofilaxia conforme o parecer <strong>do</strong> médico que os reexaminou.• Comunicantes não vacina<strong>do</strong>s, inadequadamente vacina<strong>do</strong>s ou com esta<strong>do</strong> vacinaldesconheci<strong>do</strong>, nos quais não se coletou material para realização da cultura, recomenda-sea quimioprofilaxia.• Se por motivos operacionais não for possível coletar material de to<strong>do</strong>s os comunicantes,recomenda-se priorizar: os que têm contato com crianças (professores, atendentesde creche, etc.); pessoas que apresentam diminuição da imunidade; manipula<strong>do</strong>resde alimentos; pessoas não vacinadas, inadequadamente vacinadas ou comesta<strong>do</strong> vacinal desconheci<strong>do</strong>.6DAtençãoTo<strong>do</strong>s os comunicantes susceptíveis deverão ser manti<strong>do</strong>s em observação durante 7dias, conta<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong> momento da exposição.O soro antidiftérico não deve ser administra<strong>do</strong> com finalidade profilática.Controle <strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>resSão porta<strong>do</strong>res de difteria aqueles que alojam o Corynebacterium diphtheriae na nasofaringeou na pele (no caso da difteria cutânea), sem apresentarem sintomatologia.A identificação <strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>res de difteria é extremamente importante para o controleda disseminação da <strong>do</strong>ença, uma vez que esses casos são mais freqüentes <strong>do</strong> que os de difte-Secretaria de Vigilância em Saúde / MS273


Difteriaria clínica e responsáveis pela transmissão da maioria <strong>do</strong>s casos de difteria na comunidade.Para que se diagnostique o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> porta<strong>do</strong>r nos comunicantes de um paciente comdifteria é necessário coletar amostras das secreções nasais, de orofaringe e de lesões de pelede to<strong>do</strong>s os comunicantes, para realização <strong>do</strong> exame laboratorial indica<strong>do</strong> (cultura). Caso oresulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exame seja positivo, fica caracteriza<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong> de porta<strong>do</strong>r, que pode ou nãoevoluir para difteria.Vacinação <strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>res• Os porta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Corynebacterium diphtheriae, menores e maiores de 7 anos e adultosnão vacina<strong>do</strong>s, inadequadamente vacina<strong>do</strong>s ou com situação vacinal desconhecidadeverão receber uma <strong>do</strong>se da vacina DTP ou DTP+Hib (em crianças menoresde 7 anos) ou de dT (em crianças com 7 anos ou mais e adultos) e serem orienta<strong>do</strong>scomo proceder para completar o esquema de vacinação.• Nos comunicantes, adultos ou crianças, que receberam há mais de 5 anos o esquemabásico ou <strong>do</strong>se(s) de reforço, deverá ser administrada um <strong>do</strong>se de reforço de DTP (emcrianças menores de 7 anos) ou de dT (em crianças com 7 anos ou mais e adultos).Quimioprofilaxia <strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>resMedicamento de escolha – eritromicina, de acor<strong>do</strong> com a orientação a seguir:• crianças: 40 a 50mg/kg/dia (máxima de 2 gramas/dia), dividida em 4 <strong>do</strong>ses iguais,durante 7 dias, por via oral;• adultos: 500mg, de 6/6 horas, durante 7 dias, por via oral.Medicamento alternativo – penicilina G benzatinaDevi<strong>do</strong> às dificuldades operacionais para o uso da eritromicina, em função da <strong>do</strong>seindicada, tempo de uso e o fato da pessoa não apresentar sintomas, a penicilina G benzatinaconstitui alternativa para a eritromicina.A penicilina G benzatina deve ser aplicada em unidades de saúde adequadas para atendera ocorrência de um possível choque anafilático.Recomenda-se a aplicação em <strong>do</strong>se única, por via intramuscular, nos seguintes esquemas:• crianças com menos de 30kg: 600 mil UI;• adultos e crianças com 30 kg ou mais: 1.200 mil UI.Controle <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de porta<strong>do</strong>r – duas semanas depois de completa<strong>do</strong> o esquema comantibiótico, deverá ser colhida nova amostra de secreção da orofaringe para cultura em meiosapropria<strong>do</strong>s para Corynebacterium diphtheriae. Se o resulta<strong>do</strong> for positivo, deverá ser feitotratamento adicional com eritromicina, durante dez dias. Se não houver resposta, outrosantimicrobianos ativos contra o bacilo diftérico (clindamicina, rifampicina, quinolona, porexemplo) deverão ser utiliza<strong>do</strong>s, supon<strong>do</strong>-se ou confirman<strong>do</strong>-se ter havi<strong>do</strong> (o que é raro)resistência à eritromicina.274 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DifteriaAtençãoÉ fundamental o desencadeamento de bloqueio vacinal na área de residência, local detrabalho, escola ou creche de ocorrência <strong>do</strong> caso e/ou de identificação de porta<strong>do</strong>res.Ações de educação em saúdeAs pessoas devem ser informadas quanto a importância da vacinação como medida deprevenção e controle da difteria. Deve-se dar ênfase a necessidade de administrar o númerode <strong>do</strong>ses preconiza<strong>do</strong> pelo calendário vigente.Cabe ressaltar que toda população sob risco deve ser alertada para procurar os serviçosde saúde caso observe manifestações clínicas compatíveis com a definição de casosuspeito de difteria.6DSecretaria de Vigilância em Saúde / MS275


DifteriaAnexo 1Vigilância epidemiológica da difteriaCaso suspeitoNotificação imediataColeta de material para culturaInvestigação imediataPreenchimento daFicha de InvestigaçãoEpidemiológicaVacinação seletivacom DTP ouDTP+HiB, na áreade residência, escola,creche, trabalhoBusca ativa deoutros casos na áreade residência, escola,creche, trabalhoInvestigação<strong>do</strong>s comunicantesColeta de secreção naso eorofaríngea e de lesões de peleVerificar situação <strong>do</strong>scomunicantes e vacinar, se necessárioRealizar quimioprofilaxia <strong>do</strong>scomunicantes, conforme orienta<strong>do</strong> no Guia276 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DifteriaAnexo 2Diagnóstico laboratorial da difteriaA técnica da cultura para o isolamento <strong>do</strong> Corynebacterium diphtheriae das lesõesexistentes é considerada como “padrão-ouro” para o diagnóstico laboratorial da difteria.Em relação à pesquisa da toxigenicidade da cepa, que é de interesse clínico e epidemiológico,a mesma poderá ser feita tanto in vivo quanto in vitro, sen<strong>do</strong> a prova de Elek oteste mais utiliza<strong>do</strong>.A bacterioscopia não tem valor diagnóstico para a difteria devi<strong>do</strong> a baixa especificidade<strong>do</strong> méto<strong>do</strong>. A visualização <strong>do</strong> Corynebacterium diphtheriae é dificultada pela presençade diversos agentes próprios da flora natural ou patogênica; além disso, o bacilo diftéricopode apresentar-se com morfologia alterada, dificultan<strong>do</strong> sua caracterização.6Coleta de secreção nasofaríngeaMaterial necessário• 2 swabs descartáveis, estéreis (1 para nariz e outro para garganta)• 2 tubos com meio de cultura PAI (1 para nariz e outro para garganta). Na impossibilidadede se utilizar este meio, pode-se utilizar o de Loeffler• 1 abaixa<strong>do</strong>r de língua descartável• Óculos• Máscaras descartáveis• Luvas descartáveis• Sacos plásticos• Fita crepe• Etiquetas para identificação <strong>do</strong>s tubosDCondições para a coleta• Observar as condições <strong>do</strong> meio de transporte, principalmente sua data de validade.O meio deve ser amarelo claro, com consistência firme e sem áreas liquefeitas ouressecadas.• Antes de iniciar a coleta, deve-se observar se o algodão que veda os tubos não estámolha<strong>do</strong> e se as demais características <strong>do</strong>s meios encontram-se adequadas. Contrariamente,os meios devem ser inutiliza<strong>do</strong>s.• Os swabs utiliza<strong>do</strong>s não deverão apresentar sinais de violação da embalagem, umidade<strong>do</strong> algodão ou qualquer outra anormalidade que possa indicar contaminação.Verificar, sempre, o prazo de validade na embalagem.Procedimento de coleta• A coleta <strong>do</strong> material deverá ser realizada na suspeita de caso(s) de difteria.• A coleta deverá ser realizada preferencialmente antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong> tratamento comSecretaria de Vigilância em Saúde / MS277


Difteriaantimicrobiano, mas deverá ser sempre feita.• Retirar os meios de transporte da geladeira e deixá-los atingir a temperatura ambiente.• Identificar um tubo como nariz e outro como garganta.• Introduzir um swab na narina <strong>do</strong> paciente até a nasofaringe e girá-lo. Com o mesmoswab, fazer idêntico procedimento na outra narina• O segun<strong>do</strong> swab será utiliza<strong>do</strong> para coletar ao re<strong>do</strong>r da superfície da garganta, passan<strong>do</strong>ao re<strong>do</strong>r da mesma, pelas amígdalas e úvula. Caso verifique-se a presençade placa pseu<strong>do</strong>membranosa, o swab deve ser passa<strong>do</strong> cautelosamente ao re<strong>do</strong>r damesma, toman<strong>do</strong>-se o cuida<strong>do</strong> de não removê-la. A remoção da pseu<strong>do</strong>membranaleva ao aumento da absorção de toxina.• A coleta em casos suspeitos não deverá ser realizada em <strong>do</strong>micílio, mas sim no hospitale sob acompanhamento médico.• Uma coleta adequada evita grande número de bactérias da microbiota normal daorofaringe, o que aumenta consideravelmente a positividade <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>.• O material deve ser semea<strong>do</strong> imediatamente no meio de transporte.Transporte <strong>do</strong> material coleta<strong>do</strong>Meio de transporte• O meio de transporte utiliza<strong>do</strong> é o PAI.• O meio PAI deve ser armazena<strong>do</strong> em geladeira, evitan<strong>do</strong>-se colocá-lo na porta.• O prazo de validade <strong>do</strong> meio é de 3 meses a partir da data de fabricação.• Os tubos com o meio PAI devem ser acondiciona<strong>do</strong>s em sacos plásticos fecha<strong>do</strong>spara se evitar a entrada de umidade.• O swab deve ser armazena<strong>do</strong> em temperatura ambiente, em local seco.Procedimentos para transporte <strong>do</strong> espécime coleta<strong>do</strong>• Passar o swab em toda a extensão (superfície) <strong>do</strong> meio, giran<strong>do</strong>-o e fazen<strong>do</strong> o movimentode zig-zag, a partir da base até o ápice.• Encaminhar o material coleta<strong>do</strong> ao laboratório em temperatura ambiente, imediatamenteapós a coleta. Na impossibilidade <strong>do</strong> encaminhamento imediato após a coleta,incubar em temperatura de 37ºC por um perío<strong>do</strong> máximo de 24 horas. Encaminhar,em seguida, em temperatura ambiente.• Prender os <strong>do</strong>is tubos com fita crepe e identificá-los com nome <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente e/ou comunicante,idade, data e hora da coleta.• Encaminhar os tubos com a ficha de encaminhamento de amostra (Anexo 3) oucópia da ficha de investigação epidemiológica, conforme definição da coordenaçãoestadual da vigilância.278 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DifteriaRecomendações adicionais• Por ser <strong>do</strong>ença de transmissão respiratória, é necessário o uso de máscaras, comvistas a conferir proteção ao profissional que realiza a coleta. A máscara deverá serutilizada tanto para a coleta de caso(s) suspeito(s) quanto de comunicantes.• Não deverá ser feita nenhuma improvisação <strong>do</strong> material. É imprescindível que omeio de transporte e swab estejam obedecen<strong>do</strong> rigorosamente as condições de usono momento da coleta.• A coleta deverá ser feita com técnica adequada e correta para a obtenção de bonsresulta<strong>do</strong>s.• To<strong>do</strong> material descartável utiliza<strong>do</strong> na coleta deverá ser acondiciona<strong>do</strong> em sacoplástico, veda<strong>do</strong> com fita crepe, identifica<strong>do</strong> como contamina<strong>do</strong> e recolhi<strong>do</strong> no lixohospitalar.Quadro resumo6Tipo dematerialÉpoca da coleta Indicação Coleta e transporte Tipo de exameExsudatosde oro enasofaringeTão logo se suspeitede difteria e, preferencialmente,antesda administraçãode antibióticosConfirmação<strong>do</strong> diagnósticoou pesquisade porta<strong>do</strong>resNa coleta de material danasofaringe, introduzir oswab e girá-lo, retiran<strong>do</strong>-oO material deve ser semea<strong>do</strong>em meio PAI ou Loeffler deimediatoO transporte <strong>do</strong> material semea<strong>do</strong>ao laboratório deve ser feitoem temperatura ambienteCultura paraisolamento eidentificação<strong>do</strong> CorynebacteriumdiphtheriaeDExsudatosde lesõesde peleTão logo se suspeitede difteria e, preferencialmente,antesda administraçãode antibióticosNo momento emque se estiver pesquisan<strong>do</strong>porta<strong>do</strong>resConfirmação<strong>do</strong> diagnósticoou pesquisade porta<strong>do</strong>resO material deve sersemea<strong>do</strong> em meio PAIou Loeffler de imediato.O transporte <strong>do</strong> materialsemea<strong>do</strong> ao laboratóriodeve ser feito emtemperatura ambienteCultura paraisolamento eidentificação<strong>do</strong> CorynebacteriumdiphtheriaeOrientações para coleta e transportede material para diagnóstico da difteria1. Coleta de secreção de nasofaringe• A coleta <strong>do</strong> material deverá ser realizada na suspeita de caso(s) de difteria.• A coleta deverá ser realizada preferencialmente antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong> tratamento comantimicrobiano, mas deverá ser sempre feita.• Retirar os meios de transporte da geladeira e deixá-los atingir a temperatura ambiente.• Identificar um tubo como nariz e outro como garganta.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS279


Difteria• Introduzir um swab na narina <strong>do</strong> paciente até a nasofaringe e girá-lo. Com o mesmoswab, fazer idêntico procedimento na outra narina.• O segun<strong>do</strong> swab será utiliza<strong>do</strong> para coletar ao re<strong>do</strong>r da superfície da garganta,passan<strong>do</strong> ao re<strong>do</strong>r da mesma, pelas amígdalas e úvula. Caso verifique-se a presençade placa pseu<strong>do</strong>membranosa, o swab deve ser passa<strong>do</strong> cautelosamente aore<strong>do</strong>r da mesma, tornan<strong>do</strong>-se o cuida<strong>do</strong> de não removê-la. A remoção da pseu<strong>do</strong>membranaleva ao aumento da absorção de toxina.• O material deve ser semea<strong>do</strong> imediatamente no meio de transporte.Atenção• Os swabs não devem permanecer dentro <strong>do</strong>s respectivos tubos.2. Transporte em meio PAIColetar das duas narinas e semear no meio PAI, no tubo indica<strong>do</strong>. Exemplo:Coletar da garganta e semear no meio PAI, no tubo indica<strong>do</strong>. Exemplo:3. Identificação <strong>do</strong>s tubos• Identificar os tubos como nariz e outro como garganta, com da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> paciente,segun<strong>do</strong> preconiza<strong>do</strong> pela vigilância e laboratório.• Anotar a data e hora da coleta <strong>do</strong> espécime clínico.4. Envio <strong>do</strong> espécime clínico para o laboratório• Os tubos com material coleta<strong>do</strong> deverão ser encaminha<strong>do</strong>s imediatamente aolaboratório, em temperatura ambiente.• Na impossibilidade <strong>do</strong> encaminhamento imediato, incubar os tubos em estufa atemperatura de 37ºC, por um perío<strong>do</strong> máximo de 24 horas, e encaminhá-los, emseguida, em temperatura ambiente.280 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


DifteriaAnexo 3Ficha de encaminhamento de espécime clínicopara cultura de Corynebacterium diphtheriae6DSecretaria de Vigilância em Saúde / MS281


Doença de ChagasDOENÇA DE CHAGASCID 10: B57Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoDoença infecciosa, causada por protozooário flagela<strong>do</strong>, de curso clínico crônico, quese caracteriza por fase inicial aguda, com sinais ou sintomas quase sempre inespecíficos,quan<strong>do</strong> presentes, e que pode evoluir para a fase crônica, com comprometimento cardíaco(cardiopatia chagásica) ou digestivo (megaesôfago e megacólon). Outras manifestações clínicassão bastante raras, como a meningoencefalite chagásica.Agente etiológicoÉ o Trypanosoma cruzi, protozoário flagela<strong>do</strong> da ordem Kinetoplastida, família Trypanosamatidae,caracteriza<strong>do</strong> pela presença de um flagelo e uma única mitocondria. No sangue<strong>do</strong>s vertebra<strong>do</strong>s, o Trypanosoma cruzi se apresenta sob a forma de trypomastigota e,nos teci<strong>do</strong>s, como amastigotas. Nos invertebra<strong>do</strong>s (insetos vetores) ocorre um ciclo coma transformação <strong>do</strong>s tripomastigotas sangüíneos em epimastigotas, que depois se diferenciamem trypomastigotas metacíclicos, que são as formas infectantes acumuladas nas fezes<strong>do</strong> inseto.ReservatórioAlém <strong>do</strong> homem, mamíferos <strong>do</strong>mésticos e silvestres têm si<strong>do</strong> naturalmente encontra<strong>do</strong>sinfecta<strong>do</strong>s pelo Trypanosoma cruzi, tais como gato, cão, porco <strong>do</strong>méstico, rato<strong>do</strong>méstico, macaco de cheiro, sagüi, tatu, gambá, cuíca, morcego, dentre outros. Os maisimportantes são aqueles que coabitam ou estão muito próximos <strong>do</strong> homem, como o cão, orato, o gambá, o tatu e até mesmo o porco <strong>do</strong>méstico, encontra<strong>do</strong> associa<strong>do</strong> com espéciessilvestres na Amazônia. As aves e animais de “sangue frio” (lagartos, sapos, outros) sãorefratários à infecção.VetoresDas mais de 120 espécies conhecidas, 48 foram identificadas no Brasil, das quais 30 jácapturadas no ambiente <strong>do</strong>miciliar. Dessas, cinco têm especial importância na transmissãoda <strong>do</strong>ença ao homem. Por ordem de importância: Triatoma infestans, T. brasiliensis, Panstrongylusmegistus, T. pseu<strong>do</strong>maculata e T. sordida. Outros, como T. rubrovaria, no RioGrande <strong>do</strong> Sul, e Rhodnius neglectus, em Goiás, com a eliminação <strong>do</strong> T. infestans, vêm colonizan<strong>do</strong>a habitação e tendem a assumir, também, algum papel na transmissão <strong>do</strong>miciliarda <strong>do</strong>ença de Chagas. Outras espécies, por razões diversas, devem ser consideradas. Entreessas, deve-se fazer referência ao T. vitticeps, pelas altas taxas de infecção natural (EspíritoSanto, Rio Grande <strong>do</strong> Sul e Minas Gerais), R.nasatus, pela freqüência com que é captura<strong>do</strong>,282 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Doença de Chagasem áreas localizadas (CE e RN), e R. prolixus, pelo fato de ser a principal espécie em algunspaíses (Colômbia, Venezuela) e por ter si<strong>do</strong> identifica<strong>do</strong> em focos naturais (macaubeiras),no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Tocantins. Na Amazônia, as espécies mais importantes são R. pictipes, R.robustus, P. geniculatus, P. lignarius e T. maculata. Ainda, podemos citar R. prolixus nasGuianas e Suriname, R. prolixus, T. dimidiata e R. pallescens na América Central e T. barberi,T. dimidiata e T. phyllosoma no México.Mo<strong>do</strong> de transmissãoA transmissão natural, ou primária, da <strong>do</strong>ença de Chagas é a vetorial, que ocorre atravésdas fezes <strong>do</strong>s triatomíneos, também conheci<strong>do</strong>s como “barbeiros” ou “chupões”. Esses,ao picar os vertebra<strong>do</strong>s, em geral defecam após o repasto, eliminan<strong>do</strong> formas infectantesde trypomastigotas metacíclicos, presentes em suas fezes, e que penetram pelo orifício dapicada ou por solução de continuidade deixada pelo ato de coçar.A eliminação <strong>do</strong> T. infestans, espécie estritamente <strong>do</strong>miciliar, e a diminuição da densidadetriatomínica <strong>do</strong>miciliar, por outras espécies de triatomíneos, reduziu significativamentea transmissão vetorial que, na década de 70, se estimava ser responsável por 80%das infecções humanas. A transmissão transfusional ganhou grande importância epidemiológicanas duas últimas décadas, em função da migração de indivíduos infecta<strong>do</strong>s paraos centros urbanos e da ineficiência no controle das transfusões, nos bancos de sangue. Atransmissão congênita ocorre, mas muitos <strong>do</strong>s conceptos têm morte prematura, não sesaben<strong>do</strong>, com precisão, qual a influência dessa forma de transmissão na manutenção daendemia. Ocorrem ainda a transmissão acidental em laboratório e a transmissão pelo leitematerno, ambas de pouca significância epidemiológica. Sugere-se a hipótese de transmissão,por via oral, em alguns surtos episódicos. Recentemente, foram relata<strong>do</strong>s no Paranácasos da <strong>do</strong>ença de Chagas na forma aguda, conseqüentes à transmissão por via oral apósingestão de cal<strong>do</strong> de cana contamina<strong>do</strong> com fezes de barbeiros.6DPerío<strong>do</strong> de incubaçãoQuan<strong>do</strong> existe sintomatologia, na fase aguda, esta costuma aparecer 5 a 14 dias após apicada <strong>do</strong> inseto vetor. Quan<strong>do</strong> adquirida por transfusão de sangue, o perío<strong>do</strong> de incubaçãovaria de 30 a 40 dias. Em geral, as formas crônicas da <strong>do</strong>ença se manifestam mais de 10anos após a infecção inicial.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeA infecção só passa de pessoa a pessoa através <strong>do</strong> sangue ou placenta. A maioria <strong>do</strong>sindivíduos com infecção pelo T. cruzi alberga o parasito nos teci<strong>do</strong>s e sangue, durante todaa vida, o que significa que devem ser excluí<strong>do</strong>s das <strong>do</strong>ações de sangue e de órgãos.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS283


Doença de ChagasAspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasA <strong>do</strong>ença de Chagas apresenta distintas formas clínicas, poden<strong>do</strong> ser classificada daseguinte maneira:Forma agudaAparenteInaparenteForma crônicaIndeterminadaCardíaca• Síndrome de arritmias• Síndrome de insuficiência cardíaca• Síndrome tromboembólicaDigestiva• Síndrome de megaesôfago• Síndrome de megacólonForma mistaOutros megasForma nervosaForma congênitaDentre estas destacam-se, por sua importância epidemiológica, as formas agudas (indíciode transmissão ativa), indeterminadas (mais freqüentes), cardíacas e digestiva (gravidadeclínica). Estima-se que as formas agudas aparentes se manifestam em 3% <strong>do</strong>s casos,em área endêmica; as formas indeterminadas, em 50%; as formas cardíacas, em 30% e asdigestivas em 7% a 8%.Fase agudaQuan<strong>do</strong> aparente, corresponde aos fenômenos clínicos que se estabelecem nos primeirosdias ou meses da infecção inicial, sen<strong>do</strong> diagnosticada pelo encontro <strong>do</strong> parasito nosangue periférico. É caracterizada por uma miocardite, na maioria das vezes, só traduzíveleletrocardiograficamente. As manifestações gerais são de febre (pouco elevada), mal-estargeral, cefaléia, astenia, hiporexia, edema, hipertrofia de linfono<strong>do</strong>s. Freqüentemente, ocorrehepatoesplenomegalia. Às vezes, agrava-se numa forma meningoencefálica, principalmentenos primeiros meses ou anos de vida.Quan<strong>do</strong> existe porta de entrada aparente, ela pode ser ocular (sinal de Romaña) oucutânea (chagoma de inoculação). O sinal de Romaña é um edema bipalpebral (que, às284 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Doença de Chagasvezes, se expande à face), elástico in<strong>do</strong>lor, de início geralmente brusco, coloração róseovioláceadas pálpebras, congestão conjuntival, enfartamento <strong>do</strong>s linfono<strong>do</strong>s satélites (préauriculares,parotídeos ou submaxilares) e, com menos freqüência, secreção conjuntival edacrioadenite. O chagoma de inoculação é uma formação cutânea, ligeiramente saliente,arre<strong>do</strong>ndada, eritematosa, dura, incolor, quente e circundada por edema elástico, assemelhan<strong>do</strong>-sea um furúnculo que não supura mas que às vezes pode exulcerar. É acompanha<strong>do</strong>de linfono<strong>do</strong>s satélites.As alterações eletrocardiográficas estão na dependência <strong>do</strong> maior ou menor acometimento<strong>do</strong> coração, e as principais são: alargamento <strong>do</strong> espaço PR, alterações primáriasde onda T (baixa voltagem, bifasismo ou inversão), extra-sístoles ventriculares. Em casosmuito graves: bloqueio intraventricular (BRD) e desnivelamento de S-T com alterações deT. Em geral, as alterações eletrocardiográficas são reversíveis, passada essa fase da <strong>do</strong>ença.Os exames de raios X de tórax pode mostrar imagem cardíaca discretamente aumentada,logo no início <strong>do</strong> diagnóstico; acha<strong>do</strong> que pode ser observa<strong>do</strong> apenas após algunsdias de <strong>do</strong>ença.6Fase crônicaForma indeterminada – passada a fase aguda aparente ou inaparente, o indivíduoalberga uma infecção assintomática que pode nunca se manifestar ou se expressar clinicamenteanos ou décadas mais tarde, em uma das formas crônicas.Forma cardíaca – é a mais importante forma de limitação ao <strong>do</strong>ente chagásico e a principalcausa de morte. Pode apresentar-se sem sintomatologia, mas com alterações eletrocardiográficas(principalmente bloqueio completo de ramo direito), como uma síndrome deinsuficiência cardíaca progressiva, insuficiência cardíaca fulminante ou com arritmias gravese morte súbita. Seus sinais e sintomas são: palpitação, dispnéia, edema, <strong>do</strong>r precordial,dispnéia paroxística noturna, tosse, tonturas, desmaios, acidentes embólicos, extra-sistolias,des<strong>do</strong>bramento de segunda bulha, sopro sistólico, hipofonese de segunda bulha.As principais alterações eletrocardiográficas são: bloqueio completo <strong>do</strong> ramo direito(BCRD), hemibloqueio anterior esquer<strong>do</strong> (HBAE), bloqueio AV <strong>do</strong> primeiro, segun<strong>do</strong> eterceiro graus, extra-sístoles ventriculares, sobrecarga de cavidades cardíacas, alterações darepolarização ventricular, dentre outras.Os raios X de tórax revelam cardiomegalia global discreta, moderada ou acentuada,aumento isola<strong>do</strong> <strong>do</strong> ventrículo esquer<strong>do</strong>, aumento biventricular, congestão vascular pulmonar,etc.Forma digestiva – caracteriza-se por alterações ao longo <strong>do</strong> trato digestivo, ocasionadaspor lesões <strong>do</strong>s plexos nervosos (destruição neuronal simpática), com conseqüentesalterações da motilidade e de morfologia, ao nível <strong>do</strong> trato digestivo, sen<strong>do</strong> o megaesôfagoe o megacólon as manifestações mais comuns. São sinais e sintomas <strong>do</strong> megaesôfago: disfagia(sintoma mais freqüente e <strong>do</strong>minante), regurgitação, epigastralgia ou <strong>do</strong>r retroesternal,odinofagia (<strong>do</strong>r à deglutição), soluço, ptialismo (excesso de salivação), emagrecimento (poden<strong>do</strong>chegar à caquexia), hipertrofia das parótidas. O megacólon se caracteriza por constipaçãointestinal (instalação lenta e insidiosa), meteorismo, distensão ab<strong>do</strong>minal, fecaloma.DSecretaria de Vigilância em Saúde / MS285


Doença de ChagasOs exames radiológicos são importantes no diagnóstico da forma digestiva. No caso<strong>do</strong> megaesôfago há 4 grupos de alterações que vão desde uma simples dificuldade de seuesvaziamento até as <strong>do</strong>licomegaesôfago, que correspondem àqueles com grande volume,alonga<strong>do</strong>, atônico, <strong>do</strong>bran<strong>do</strong>-se sobre a cúpula diafragmática, produzin<strong>do</strong> sombra paracardíacadireita ao simples exame de tórax. O megacólon é classifica<strong>do</strong> em três grupos, deacor<strong>do</strong> com a capacidade de exoneração <strong>do</strong> meio de contraste, quan<strong>do</strong> se realiza o enemaopaco.Forma mista – o paciente pode ter associação da forma cardíaca com a digestiva etambém apresentar mais de um mega.Forma nervosa e de outros megas – apesar de aventadas, não parecem ser manifestaçõesimportantes destas infecções.Forma congênita – sobressaem, dentre os sinais clínicos, a hepatomegalia e esplenomegalia,presentes em to<strong>do</strong>s os casos, icterícia, equimoses e convulsões decorrentes dahipoglicemia. Não há relato de ocorrência de febre.Diagnóstico clínico-epidemiológico e/ou laboratorialDiagnóstico diferencialFase aguda – no que diz respeito às manifestações gerais, deve-se fazer diagnósticodiferencial com a febre tifóide, leishmaniose visceral, esquistossomose mansônica aguda,mononucleose infecciosa e toxoplasmose, dentre outras enfermidades febris. O sinal deRomaña deve ser diferencia<strong>do</strong> de múltiplas manifestações oculares, a exemplo das conjuntivites,edema de Quincke, celulite orbitária, etc. O chagoma de inoculação pode ser confundi<strong>do</strong>com furunculose. A forma meningoencefálica comporta diagnóstico diferencialcom as determinadas por outras etiologias.Fase crônica – a miocardiopatia chagásica tem que ser diferenciada de muitas outrascardiopatias. Os da<strong>do</strong>s epidemiológicos, a idade <strong>do</strong> paciente, os exames sorológicos, eletrocardiográficose radiológicos, em geral, permitem a perfeita caracterização dessa entidadeclínica.Forma digestiva – diferenciar de megas causa<strong>do</strong>s por outras etiologias.Forma congênita – diferenciar da sífilis e da toxoplasmose.Diagnóstico laboratorialParasitológico – dentre as diversas técnicas, a mais simples é a da microscopia diretasobre gota fresca de sangue, examinada entre lâmina e lamínula, com ocular 10 e objetiva40. O exame deve ser minucioso e abarcar toda a lamínula, sen<strong>do</strong> positivo quan<strong>do</strong> se encontrao parasito (geralmente em movimentação serpenteante entre as hemácias e leucócitos)com sua forma alongada, grande cinetoplasto e flagelo muito móvel. Diante da suspeitaclínica, se negativo o primeiro exame, deve-se repeti-lo por três ou quatro vezes ao dia, durantevários dias. Também se pode usar a técnica de gota espessa corada, como empregadapara malária, mas que é bem menos sensível que o exame a fresco. A propósito, não muito286 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Doença de Chagasraramente tem ocorri<strong>do</strong> o diagnóstico ocasional de <strong>do</strong>ença de Chagas aguda (DCA) peloacha<strong>do</strong> <strong>do</strong> parasito em esfregaços cora<strong>do</strong>s para contagem diferencial de leucócitos e emhemogramas de pacientes febris. Desde os anos 1960, o diagnóstico parasitológico diretoda DCA vem sen<strong>do</strong> aperfeiçoa<strong>do</strong> com procedimentos de enriquecimento, sen<strong>do</strong> mais empregadasas técnicas de microhematócrito (centrifugação e exame <strong>do</strong> creme leucocitário)e de Strout (centrifugação <strong>do</strong> soro após retirada <strong>do</strong> coágulo). Cabe ainda mencionar que autilização de técnicas moleculares modernas, como a de PCR, permite detectar com grandesensibilidade e especificidade frações <strong>do</strong> DNA <strong>do</strong> parasito. Mesmo poden<strong>do</strong> ser positivastambém na fase crônica, revelam-se úteis como auxílio diagnóstico de DCA – especialmentenos casos congênitos.Méto<strong>do</strong>s imunológicosHemaglutinação indireta – a interpretação <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> varia de acor<strong>do</strong> com o pontode corte determina<strong>do</strong> pelo fabricante <strong>do</strong>s kits.Imunofluorescência indireta (IFI) – o resulta<strong>do</strong> da imunofluorescência indireta énormalmente expresso em diluições são consideradas como positivas reações a partir dadiluição de 1:80.Ensaio imunoenzimático (Elisa) – consiste na reação de anticorpos presentes nos soroscom antígenos solúveis e purifica<strong>do</strong>s de T. cruzi obti<strong>do</strong>s a partir de cultura in vitro (ouantígenos recombinantes de T. cruzi). Esse antígeno é adsorvi<strong>do</strong> em microplacas e os sorosdiluí<strong>do</strong>s (controle <strong>do</strong> teste e das amostras) são adiciona<strong>do</strong>s posteriormente. Os anticorposespecíficos presentes no soro vão se fixar aos antígenos. A visualização da reação ocorrequan<strong>do</strong> adicionada uma anti-imunoglobulina marcada com a enzima peroxidase, que seligará aos anticorpos específicos caso estejam presentes, geran<strong>do</strong> um produto colori<strong>do</strong> quepoderá ser medi<strong>do</strong> por espectrofotometria. O resulta<strong>do</strong> considera<strong>do</strong> sororreagente é aqueleque apresente o valor da densidade ótica igual ou superior ao ponto de corte (Cut-Off)<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> controle negativo.As sorologias que detectam IgM (imunofluorescência e hemaglutinação), também sãoutilizadas para diagnóstico da fase aguda; entretanto, só se deve firmar o diagnóstico de formaaguda com o encontro de parasito no sangue periférico. Na fase crônica, utiliza-se maisfreqüentemente os méto<strong>do</strong>s de detecção de anticorpos circulantes (IgG). Dentre os cita<strong>do</strong>s,os mais utiliza<strong>do</strong>s são o Elisa, a imunofluorescência e a hemaglutinação indireta.Testes moleculares – reação em cadeia de polimerase – PCR (amplificação <strong>do</strong> DNA<strong>do</strong> parasita), ainda não disponível na rede de laboratórios de saúde pública, utilizada apenasem situações especiais.6DTratamentoTo<strong>do</strong> indivíduo com infecção chagásica deve ter acesso a um serviço médico capaz defazer os diagnósticos clínico, laboratorial e epidemiológico e identificar a fase da <strong>do</strong>ença,para definição <strong>do</strong> tratamento adequa<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> necessário. O manejo clínico <strong>do</strong> pacientechagásico, particularmente das formas cardíacas, é importante, pois quan<strong>do</strong> bem conduzi<strong>do</strong>e inicia<strong>do</strong> precocemente pode resultar na elevação da expectativa de sobrevivência.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS287


Doença de ChagasTratamento específicoObjetiva suprimir a parasitemia e, conseqüentemente, seus efeitos patogênicos ao organismo.Esse tratamento está indica<strong>do</strong> na fase aguda da <strong>do</strong>ença, em casos congênitos, nareativação da parasitemia por imunossupressão (aids e outras <strong>do</strong>enças imunossupressoras),transplanta<strong>do</strong> que recebeu órgão de <strong>do</strong>a<strong>do</strong>r infecta<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> a supressão da parasitemiaou a prevenção <strong>do</strong> seu aparecimento tem ação benéfica para os pacientes. Não está indicadapara casos crônicos pois os pacientes não se beneficiam clinicamente, visto que nesta fasea parasitemia não tem importância significativa na evolução da <strong>do</strong>ença e, mesmo em altas<strong>do</strong>ses, não se consegue, com segurança, curas parasitológicas. Está contra-indica<strong>do</strong> paragestantes porque, além de não impedir a infecção congênita, as drogas podem causar danosao concepto.Esquema terapêutico: benznidazol – 8mg/kg/dia, em duas tomadas diárias, durante60 dias.Efeitos colaterais: cefaléias, tonturas, anorexia, perda de peso, dermatites, lassidão,depleção das células da série vermelha.Tratamento sintomáticoFormas cardíacas – o manejo da cardiopatia chagásica exige um conhecimento específicodas respostas que as drogas utilizadas na prática cardiológica apresentam neste tipode <strong>do</strong>ente. Vale ressaltar que o início precoce e o tratamento bem conduzi<strong>do</strong> beneficiamsignificativamente o prognóstico de muitos pacientes, poden<strong>do</strong> aumentar a sobrevivênciae melhorar a sua qualidade de vida, permitin<strong>do</strong> o desenvolvimento das atividades habituaisdesde que não impliquem em grandes esforços físicos. As drogas utilizadas são as mesmasque se usam em outras cardiopatias: cardiotônicos, diuréticos, antiarrítmicos, vasodilata<strong>do</strong>res,etc. Em alguns casos, indica-se a implantação de marca-passo, com resulta<strong>do</strong>s bastantesatisfatórios na prevenção da morte súbita.Formas digestivas – dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> estágio em que a <strong>do</strong>ença é diagnosticada, indica-semedidas mais conserva<strong>do</strong>ras (uso de dietas, laxativos ou lavagens). Em estágios mais avança<strong>do</strong>s,impõe-se a dilatação ou correção cirúrgica <strong>do</strong> órgão afeta<strong>do</strong>.Aspectos epidemiológicosA <strong>do</strong>ença de Chagas, primitivamente uma zoonose, passou a constituir problema depatologia humana, ou seja, uma antropozoonose, a partir da <strong>do</strong>miciliação <strong>do</strong>s vetores, desloca<strong>do</strong>sde seus ecótopos silvestres originais pela ação <strong>do</strong> homem sobre o ambiente.A transmissão natural ocorre pela contaminação da pele ou mucosas e pelas fezes <strong>do</strong>svetores – insetos hematófagos estritos, da família Triatominae (Hemiptera: Reduviidae),conheci<strong>do</strong>s genericamente por triatomíneos e, vulgarmente, por barbeiro, chupão, fincão,procotó – com formas infectantes de T. cruzi. Os mecanismos secundários de transmissãosão por via transfusional sangüínea, materno-infantil (transplacentária ou por aleitamento),por via oral, transplante de órgãos e transmissão acidental, mais freqüente pela manipu-288 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Doença de Chagaslação de material contamina<strong>do</strong> em laboratório. Entre essas outras “possibilidades” de veiculaçãoda <strong>do</strong>ença, tem especial importância epidemiológica a transmissão por transfusão desangue, que pode levar a <strong>do</strong>ença para áreas sem transmissão natural, inclusive para grandescentros populacionais, e a transmissão congênita, que pode representar o risco mais dura<strong>do</strong>urode produção de novos casos e de manutenção da endemia chagásica.A distribuição espacial da <strong>do</strong>ença, limitada ao continente americano – por isso é tambémchamada de tripanosomíase americana – depende da distribuição <strong>do</strong>s vetores e, alémdisso, da distribuição da pobreza e das condições por ela geradas, que determinam o convívio<strong>do</strong> homem com o vetor, no ambiente <strong>do</strong>miciliar. A casa mal construída, mal acabadaou mal conservada e a desinformação são algumas dessas condições, expressão da precáriasituação de sobrevivência das populações sob risco. Então, em acréscimo aos determinantesde natureza biológica ou ecológica, aqueles de natureza econômica e social estão na origemda produção da <strong>do</strong>ença de Chagas.6Vigilância epidemiológicaObjetivos• Manter erradica<strong>do</strong> o Triatoma infestans e sob controle as outras espécies importantesna transmissão humana.• Investigação epidemiológica de casos agu<strong>do</strong>s, de transmissão vetorial, transfusionalou transplacentária, visan<strong>do</strong> a a<strong>do</strong>ção de medidas de controle adequadas.• Monitoramento da presença <strong>do</strong> vetor nos <strong>do</strong>micílios (vigilância entomológica).• Monitoramento da infecção na população humana, através de inquéritos sorológicosperiódicos.DDefinição de casoForma agudaSuspeitoTo<strong>do</strong> paciente residente em área caracterizada como provável de estar infestada portriatomíneo e que apresente sinal de Romaña ou chagoma de inoculação.To<strong>do</strong> paciente residente em área de transmissão ativa da <strong>do</strong>ença e que apresente febrecom mais de uma semana de duração.To<strong>do</strong> paciente, com febre, que tenha si<strong>do</strong> submeti<strong>do</strong> à transfusão de sangue ou hemoderiva<strong>do</strong>ssem o devi<strong>do</strong> controle de qualidade.To<strong>do</strong> paciente com clínica sugestiva e com exame parasitológico direto negativo ounão realiza<strong>do</strong>.Confirma<strong>do</strong>To<strong>do</strong> caso suspeito com:Secretaria de Vigilância em Saúde / MS289


Doença de Chagas• parasitológico direto positivo com ou sem sintomas;• acha<strong>do</strong>s necroscópicos positivos.Confirma<strong>do</strong> de formas crônicasIndeterminada – indivíduo que apresente duas ou mais sorologias positivas, ou xenodiagnósticopositivo, para T. cruzi, sem manifestações clínicas.Cardíaca – indivíduo que apresente duas ou mais sorologias positivas e/ ou xenodiagnósticopositivo para T. cruzi, com manifestações clínicas de miocardiopatia chagásica.Digestiva – indivíduo com duas ou mais sorologias positivas e/ou xenodiagnósticopositivo para T. cruzi, que apresente algum tipo de mega.Mista – indivíduo com duas ou mais sorologias positivas e/ou xenodiagnóstico positivopara T. cruzi, que apresente algum tipo de mega e manifestações de miocardiopatia.Congênita – recém-nasci<strong>do</strong>, filho de mãe chagásica, com hepatoesplenomegalia, parasitono sangue periférico e/ou reações sorológicas que detectam IgM positivas.NotificaçãoTo<strong>do</strong>s os casos agu<strong>do</strong>s, independente da forma de transmissão devem ser notifica<strong>do</strong>se investiga<strong>do</strong>s imediatamente, mediante instrumentos <strong>do</strong> Sinan.As principais fontes de conhecimento de casos são:• laboratórios, através de quaisquer exames hemoscópicos para diagnóstico parasitológico;• serviços de hemoterapia, pelo diagnóstico sorológico na triagem de <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res desangue;• serviços de assistência médica ambulatorial e hospitalar;• inquéritos sorológicos;• declaração de óbito.No atual estágio avança<strong>do</strong> de controle alcança<strong>do</strong> pelo país, a investigação de casosagu<strong>do</strong>s da <strong>do</strong>ença de Chagas, que venham a ser conheci<strong>do</strong>s, torna-se indispensável paradeterminar a origem e o mecanismo de transmissão. Sen<strong>do</strong> o caso resultante de transmissãovetorial, impõe-se uma investigação entomológica que forneça da<strong>do</strong>s sobre a espéciede vetor envolvida e extensão <strong>do</strong> foco de infestação <strong>do</strong>miciliar. Uma vez confirma<strong>do</strong> que atransmissão ocorreu por via transfusional, deve ser identifica<strong>do</strong> o serviço de hemoterapiaque forneceu o sangue, com o objetivo de evitar a ocorrência de novos casos.A investigação de surtos, acontecimento raro em <strong>do</strong>ença de Chagas, é impositiva paradeterminar a fonte comum de infecção, quase sempre alimento contamina<strong>do</strong> por fezes detriatomíneos.Os casos crônicos não são de notificação compulsória.290 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Doença de ChagasPrimeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadas frente a um caso agu<strong>do</strong>Assistência médica ao pacienteTo<strong>do</strong> caso suspeito de forma aguda da <strong>do</strong>ença de Chagas deve ser interna<strong>do</strong>, visan<strong>do</strong>instituir tratamento específico.Qualidade da assistência médicaA evolução clínica da forma aguda da <strong>do</strong>ença de Chagas é muito variada, poden<strong>do</strong> serbenigna ou apresentar manifestações de cardiopatia e meningoencefalite, razão pela qual seindica internamento, se possível em hospitais de referência. Por outro la<strong>do</strong>, o tratamentoespecífico necessita de acompanhamento, devi<strong>do</strong> aos efeitos colaterais e monitoramentoda parasitemia.Proteção da populaçãoSe a transmissão ocorreu por via transfusional, solicitar à vigilância sanitária inspeçãoda instituição responsável e a<strong>do</strong>ção das medidas pertinentes. Em caso de transmissão vetorial,realizar imediatamente pesquisa entomológica no <strong>do</strong>micílio e área de residência <strong>do</strong>caso, visan<strong>do</strong> a a<strong>do</strong>ção das medidas de controle da população de triatomíneos.Confirmação diagnósticaA <strong>do</strong>ença de Chagas só é confirmada mediante exame laboratorial, o que impõe queos profissionais <strong>do</strong>s serviços de vigilância verifiquem se foram providencia<strong>do</strong>s a coleta e oenvio de material, conforme detalha<strong>do</strong> no Anexo I. Como a investigação só está indicadapara casos agu<strong>do</strong>s, os exames de eleição são pesquisa de T. cruzi em sangue periférico esorologia para detecção de IgM.6DInvestigaçãoA inespecificidade <strong>do</strong>s sinais e sintomas, quan<strong>do</strong> presente, na fase aguda da <strong>do</strong>ença deChagas faz pouco freqüente a suspeita clínica. Não obstante, para que medidas de controlesejam tomadas com oportunidade, a detecção e investigação de casos agu<strong>do</strong>s pela vigilânciaepidemiológica são importantes, seja por transmissão vetorial como transfusional, para aa<strong>do</strong>ção de medidas de controle.Roteiro da investigaçãoepidemiológica de <strong>do</strong>ença de Chagas agudaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação epidemiológica <strong>do</strong> Sinan, relativosaos da<strong>do</strong>s gerais, notificação individual e da<strong>do</strong>s de residência.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS291


Doença de ChagasColeta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPara confirmação da suspeita diagnósticaAnotar na ficha de investigação os da<strong>do</strong>s da história e manifestações clínicas.Como, em geral, as suspeitas de <strong>do</strong>ença de Chagas aguda se referem a casos com manifestaçõesclínicas e os <strong>do</strong>entes são hospitaliza<strong>do</strong>s, deve-se consultar o prontuário e entrevistaro médico assistente para anotar as informações clínicas sobre o paciente, as quaisservirão para definir se o quadro apresenta<strong>do</strong> é compatível com a <strong>do</strong>ença.Sugere-se que se faça cópia da anamnese, exame físico e da evolução <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente, comvistas ao enriquecimento das análises e também para que possam servir como instrumentode aprendizagem <strong>do</strong>s profissionais <strong>do</strong> nível local.Acompanhar a evolução <strong>do</strong>s pacientes e os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames laboratoriais específicos.Para identificação da forma de transmissãoRelato <strong>do</strong> paciente, ou familiares, de estadia ou residência em área de provável existênciade triatomíneos, ou <strong>do</strong> indivíduo ser submeti<strong>do</strong> à transfusão de sangue, nos 30 dias queantecederam o início <strong>do</strong>s sintomas, orienta quanto à suspeita da forma de transmissão.Para identificação e delimitação da área de transmissão, quan<strong>do</strong> se tratarde transmissão vetorialVerificar se o local de residência corresponde a uma área de provável infestação detriatomíneos transmissores da <strong>do</strong>ença. Caso o paciente não resida em área de prováveltransmissão, verificar seus deslocamentos para caracterizar se houve permanência em localcom esta característica.Lembrar que a identificação da área onde se deu a transmissão é de fundamental importânciapara nortear a continuidade <strong>do</strong> processo de investigação.Observe-se que, mesmo em áreas onde o Programa de Controle da Doença de Chagasjá tenha elimina<strong>do</strong> o vetor, pode-se ter transmissão eventual pelo aparecimento de triatomíneosque surgem nos <strong>do</strong>micílios vin<strong>do</strong>s de matas próximas, mesmo que não se encontreindício de colonização no intra ou peri<strong>do</strong>micílio.Para determinação da extensão da área de transmissãoCaptura e identificação de triatomíneos: fazer pesquisa de triatomíneos em 100% <strong>do</strong>s<strong>do</strong>micílios da área, visan<strong>do</strong> delimitar qual o raio de transmissão ativa. Identificar as espéciese a<strong>do</strong>tar as medidas de rociamento indicadas.Coleta e remessa de material para examesLogo após a suspeita clínica de <strong>do</strong>ença de Chagas, coletar material <strong>do</strong> caso e de outrossuspeitos que forem encontra<strong>do</strong>s durante a busca ativa, encaminhan<strong>do</strong> para exame, deacor<strong>do</strong> com as normas técnicas apresentadas no Anexo 1.Encaminhar, para exame <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> gastrointestinal, alguns espécimes de triatomíneoscaptura<strong>do</strong>s.292 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Doença de ChagasDeve-se aguardar os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames para iniciar o tratamento específico <strong>do</strong>paciente. Só devem ser submeti<strong>do</strong>s à terapêuticos, <strong>do</strong>entes com diagnóstico confirma<strong>do</strong>,devi<strong>do</strong> à toxicidade das drogas.Inspeção em unidades de hemoterapiaNa suspeita de transmissão transfusional, notificar imediatamente ao órgão de vigilânciasanitária e acompanhar os resulta<strong>do</strong>s das inspeções e medidas a<strong>do</strong>tadas.Análise de da<strong>do</strong>s e relatório finalEm geral, os casos agu<strong>do</strong>s diagnostica<strong>do</strong>s ocorrem de forma isolada e a análise se restringeà conclusão <strong>do</strong> diagnóstico, tratamento a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> e encerramento <strong>do</strong> caso. Importanteregistrar, no relatório, as medidas de controle a<strong>do</strong>tadas tanto pela vigilância epidemiológicacomo sanitária, quan<strong>do</strong> pertinente.Vigilância entomológicaA presença de focos silvestres nos quais o T. cruzi se mantém em circulação, entreanimais hospedeiros, veiculada por diversas espécies de triatomíneos, determina a necessidadede uma vigilância entomológica de caráter permanente para se manter a <strong>do</strong>ença deChagas sob controle.Cabe aqui caracterizar, ao menos, quatro diferentes situações, em função <strong>do</strong> comportamentodas espécies de triatomíneos presentes e da pressão de infestação ou reinfestaçãoexistente na área sob vigilância:• presença exclusiva de espécie de triatomíneo, completamente <strong>do</strong>miciliada;• presença de triatomíneo, estritamente <strong>do</strong>micilia<strong>do</strong>, e de espécies nativas, sem conhecidacapacidade de invasão de ecótopos artificiais;• presença de triatomíneo, estritamente <strong>do</strong>micilia<strong>do</strong>, e de espécies nativas, com conhecidacapacidade invasiva de ecótopos artificiais;• presença de espécies nativas, presentes em ecótopos artificiais e naturais.6DAlém disso, outras variáveis devem ser consideradas:• a existência ou não de localidades próximas com infestação <strong>do</strong>miciliar;• a densidade das populações silvestres de triatomíneos, de ecótopos naturais existentes,sua proximidade das casas e a relação que com eles tem a população humana;• mudanças que venham a se processar, ou estejam se processan<strong>do</strong>, no ambiente natural,pela ação <strong>do</strong> homem.O conhecimento e análise de to<strong>do</strong> esse conjunto de condições vão implicar a definição<strong>do</strong> tipo e extensão da vigilância a ser exercida.Para uma situação, por exemplo, onde se observa a presença exclusiva de uma espéciede vetor introduzida – T. rubrofasciata, em área urbana –, uma vez elimina<strong>do</strong> o vetor nãohá, ao menos teoricamente, qualquer possibilidade de reinfestação das casas e a vigilânciaSecretaria de Vigilância em Saúde / MS293


Doença de Chagasentomológica seria dispensável. Por outro la<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> presentes espécies nativas comreconheci<strong>do</strong> potencial de <strong>do</strong>miciliação, em alta densidade, em grande número de ecótopossilvestres próximos às casas, e com os quais a população mantém estreita relação, a vigilânciaentomológica deve ser a mais atenta possível.Inquéritos sorológicosInquéritos sorológicos para determinação da infecção no homem, como parte davigilância epidemiológica, servem ao monitoramento da situação e ao esclarecimento dequestões, ou acontecimentos, em que importa determinar o grau de risco de transmissão,tais como: infestação peri<strong>do</strong>miciliar, por diferentes espécies de vetor; infestação intra<strong>do</strong>miciliarresidual, com baixa densidade populacional de triatomíneos, e infestação intra<strong>do</strong>micilarrecente, por espécies de vetor de hábitos até então silvestres.Além disso, inquéritos sorológicos podem estar indica<strong>do</strong>s para a detecção de outros casos,a partir <strong>do</strong> conhecimento de caso agu<strong>do</strong> ou da infecção em triatomíneos <strong>do</strong>micilia<strong>do</strong>s.Instrumentos disponíveis para controleNão se dispõe de vacina que permita a proteção de susceptíveis. Não se pode pretendero esgotamento das fontes de infecção desde que as drogas existentes são comprovadamenteeficazes apenas nos casos de infecção recente, e também porque são muitos osreservatórios animais de T. cruzi. Então, por limites determina<strong>do</strong>s pela tecnologia disponível,ou por particularidades da própria epidemiologia da <strong>do</strong>ença de Chagas, to<strong>do</strong> controleda transmissão natural depende da intervenção sobre o vetor; enquanto que a transmissãotransfusional, <strong>do</strong> controle de qualidade <strong>do</strong> sangue transfundi<strong>do</strong>.Controle vetorialControle químico – a outra forma é pelo emprego, regular e sistemático, de inseticidasde ação residual nas habitações sabidamente infestadas por triatomíneos. Portanto,faz-se necessária a realização de pesquisa entomológica antes de se iniciar o rociamentodas habitações.Os objetivos <strong>do</strong> controle químico variam de acor<strong>do</strong> com as espécies e o estágio de<strong>do</strong>miciliação <strong>do</strong> vetor. Se a espécie é estritamente <strong>do</strong>miciliar, o objetivo é sua completaeliminação, como é o caso <strong>do</strong> T. infestans, cuja proposta hoje é a de eliminá-lo em to<strong>do</strong>sos países que compõem o Cone Sul. No caso <strong>do</strong> Panstrongylus megistus, T. brasiliensis,T.pseu<strong>do</strong>maculata, e T. sordida, o controle a ser alcança<strong>do</strong> é a manutenção <strong>do</strong>s intra<strong>do</strong>micílioslivres de colônias, visto que a existência de focos silvestres possibilita a reinfestaçãodas habitações. Com relação às outras espécies existentes, o objetivo é prevenir a colonização<strong>do</strong>s <strong>do</strong>micílios, através de rigorosa vigilância entomológica.Melhoria ou substituição de habitações – a transmissão vetorial pode ser controladaatravés da melhoria ou substituição de habitações de má qualidade, que propiciam a <strong>do</strong>miciliaçãoe permanência <strong>do</strong>s triatomíneos no habitat humano (casas de pau a pique, de sopa-294 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Doença de Chagaspo, de a<strong>do</strong>be sem reboco, etc.), por casas de paredes rebocadas, sem frestas, que dificultema colonização <strong>do</strong>s vetores. Prioriza-se a melhoria de habitações onde se encontram espéciesnativas, presentes, em alta densidade, em ecótopos naturais, em especial o T. brasiliensis eo T.pseu<strong>do</strong>maculata.Controle biológico – o uso de inibi<strong>do</strong>res <strong>do</strong> crescimento, feromônios, microrganismospatógenos e esterilização induzida está sen<strong>do</strong> estuda<strong>do</strong>, mas a utilização sistemáticadesses méto<strong>do</strong>s ainda não é, até aqui, aplicável na prática.Controle da transmissão transfusionalBasicamente, consiste na fiscalização das unidades de hemoterapia, para que se faça ocontrole de qualidade <strong>do</strong> sangue a ser transfundi<strong>do</strong> através da triagem sorológica de to<strong>do</strong>sos <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res de sangue com, pelo menos, duas técnicas de alta sensibilidade. Esta triagemdeve ser feita não só para a <strong>do</strong>ença de Chagas como para todas as outras <strong>do</strong>enças transmitidaspelo sangue (aids, sífilis, malária em áreas endêmicas e hepatites virais).Outra forma indicada, mas que não tem ti<strong>do</strong> boa aceitação, por modificar a coloração<strong>do</strong> sangue, é a de se adicionar violeta de genciana, na concentração de 1:4.000, no sangue,24 horas antes deste ser transfundi<strong>do</strong>, visto que este produto elimina os parasitos.6Controle de outras formas de transmissãoA transmissão em laboratório deve ser prevenida através de rigoroso uso das normasde biossegurança. A transmissão pelo leite materno, apesar de descrita na década de 30,não tem si<strong>do</strong> diagnosticada e, possivelmente, não tem muito significa<strong>do</strong> epidemiológico.Não existe forma de prevenção da forma congênita.DAções de educação em saúdeA prevenção e controle de <strong>do</strong>enças implica na a<strong>do</strong>ção de medidas efetivas, entre asquais ressaltam as ações educativas. To<strong>do</strong> esse processo requer a participação ativa da população,de mo<strong>do</strong> a permitir a apropriação de conhecimentos visan<strong>do</strong> a transformação darealidade socio sanitária.Em relação à <strong>do</strong>ença de Chagas, a população e os serviços de saúde devem participarde discussões sobre formas de prevenção, tratamento e controle, inclusive sobre mecanismosque facilitem o acesso às informações, e o entendimento sobre as relações sociais deconvivência, com fatores predisponentes e facilita<strong>do</strong>res para a instalação de <strong>do</strong>enças.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS295


Doença de ChagasAnexo 1Coleta e conservação de materialpara diagnóstico da <strong>do</strong>ença de ChagasTipo dediagnósticoTipo dematerialQuantidadeNº deamostrasMéto<strong>do</strong>Perío<strong>do</strong>da coletaRecipienteArmazenamento/conservaçãoTransporteSorológicoSangue5-10ml(mínimo 2ml de soro)1ImunofluorescênciaIndireta/IFIHemaglutinaçãoindireta(HAI) ou ElisaFase aguda(IgM)Fase crônica(IgG, Igtotal)Tubo devidro ou deplástico estérile com tampa(melhor seEpen<strong>do</strong>rf®)Sangue total:2ºC a 8ºCSoro:-20ºCGelo secoou reciclávelNitrogêniolíqui<strong>do</strong>ParasitológicoSangue2 gotas 11-5ml 1Gota espessaou esfregaçofinoConcentração:QBC oucremeleucocitárioFase agudaFase agudaDuas lâminaspara esfregaçoTubo de vidroou plástico,sem tampa(melhor setubo capilarde micromatócrito)Exame a frescoé mais eficientePara secagemestocar emsuporte demadeiraNão precisa,pois deve serfeito imediatamenteapós acoletaApós a secagem,anexare embrulhara lâminajunto como papel identificatório-Observações:1. O diagnóstico de infecção crônica (IgG) deve ser feito por, no mínimo, duas técnicasde princípios diferentes, na mesma amostra de soro. O diagnóstico sorológico deforma aguda (IgM) pode ser feito por exame único.2. Nos casos de inquérito sorológico (humanos e de reservatórios), é recomendávelo uso de papel-filtro com amostras duplicadas, poden<strong>do</strong> ser transportadas em dispositivode madeira para estocar lâminas, sacos plásticos ou envelope de papel. Opapel-filtro pode ser estoca<strong>do</strong> em temperatura ambiente com sílica gel e/ou na geladeirano máximo por 60 dias. A sensibilidade depende da técnica empregada e oscilaentre 90%-97%.3. A lâmina pode ser fixada através <strong>do</strong> calor (flambagem) e corada (pelo méto<strong>do</strong> deGiemsa) para caracterização <strong>do</strong> Trypanossoma.4. Deve-se deixar coagular o sangue e retrair-se o coágulo. Os flagela<strong>do</strong>s concentramno soro, que pode ser centrifuga<strong>do</strong> para se obter maior concentração.296 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Esquistossomose MansônicaESQUISTOSSOMOSE MANSÔNICACID 10: B65Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoA esquistossomose mansônica é uma <strong>do</strong>ença infecciosa parasitária, causada por umtrematódeo (Schistosoma mansoni) que vive na corrente sangüínea <strong>do</strong> hospedeiro definitivo,cuja evolução clínica pode variar desde formas assintomáticas até as extremamentegraves. A magnitude de sua prevalência e a severidade das formas clínicas complicadasconferem à esquistossomose uma grande transcendência.Agente etiológicoO agente etiológico é o Schistosoma mansoni, trematódeo digenético, da família Schistosomatidae,gênero Schistosoma.ReservatórioO homem é o principal reservatório. Os roe<strong>do</strong>res selvagens, primatas, marsupiais, sãoexperimentalmente infecta<strong>do</strong>s pelo S. mansoni, o camun<strong>do</strong>ngo e o hamster são excelenteshospedeiros. No Brasil, foram encontra<strong>do</strong>s naturalmente infecta<strong>do</strong>s alguns roe<strong>do</strong>res,marsupiais, carnívoros silvestres e ruminantes. Ainda não está bem definida a participaçãodesses animais na transmissão da <strong>do</strong>ença.6EVetoresHospedeiros intermediáriosA transmissão da <strong>do</strong>ença, numa região, depende da existência <strong>do</strong>s hospedeiros intermediários.No Brasil, as três espécies, por ordem de importância, envolvidas na transmissãoda <strong>do</strong>ença são: Biomphalaria glabrata, Biomphalaria straminea e Biomphalaria tenagophila.A distribuição conhecida <strong>do</strong> B. glabrata abrange 16 esta<strong>do</strong>s (Alagoas, Bahia, Espírito Santo,Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande <strong>do</strong>Norte, Rio Grande <strong>do</strong> Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Sergipe) e o Distrito Federal. A B. stramineatem distribuição conhecida mais extensa, estan<strong>do</strong> presente, praticamente, em todasas bacias hidrográficas <strong>do</strong> território brasileiro. Ocorre em 23 esta<strong>do</strong>s (Acre, Alagoas, Amazonas,Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso <strong>do</strong> Sul,Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande <strong>do</strong> Norte, Rio Grande<strong>do</strong> Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins) e no Distrito Federal.A B. tenagophila é amplamente encontrada no sul <strong>do</strong> país, embora possa ser detectada emmenor extensão em outras regiões. Hoje, sua distribuição alcança 11 esta<strong>do</strong>s (Bahia, Goiás,Mato Grosso, Mato Grosso <strong>do</strong> Sul, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo,Paraná, Rio Grande <strong>do</strong> Sul e Santa Catarina) e o Distrito Federal.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS297


Esquistossomose MansônicaMo<strong>do</strong> de transmissãoOs ovos <strong>do</strong> S. mansoni são elimina<strong>do</strong>s pelas fezes <strong>do</strong> hospedeiro infecta<strong>do</strong> (homem).Na água, estes eclodem, liberan<strong>do</strong> larvas ciliadas denominadas miracídios, que infectam ohospedeiro intermediário (caramujo). Após quatro a seis semanas, aban<strong>do</strong>nam o caramujo,na forma de cercárias que ficam livres nas águas naturais.O contato humano com águas que contêm cercárias, devi<strong>do</strong> a atividades <strong>do</strong>mésticastais como lavagem de roupas e louças, de lazer, banhos em rios e lagoas; e de atividadesprofissionais, cultivo de arroz irriga<strong>do</strong>, alho, juta, etc., é a maneira pela qual o indivíduoadquire a esquistossomose.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoEm média, de duas a seis semanas após a infecção.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeA partir de cinco semanas após a infecção o homem pode excretar ovos viáveis de S.mansoni nas fezes, permanecen<strong>do</strong> assim durante muitos anos. Os caramujos infecta<strong>do</strong>sliberam cercárias durante toda a sua vida, que varia de semanas até três meses.Susceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade humana é universal. A imunidade absoluta é desconhecida; no entanto,a diminuição da intensidade da infecção e da incidência, observada em i<strong>do</strong>sos residentesem áreas endêmicas, tem si<strong>do</strong> atribuída ao desenvolvimento de resistência contrao agente. Apesar disso, o desenvolvimento de imunidade, como conseqüência à infecção,ainda não está bem defini<strong>do</strong>.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasCaracterísticas clínicasA esquistossomose mansônica é uma <strong>do</strong>ença de evolução crônica, de gravidade variada,causada por um verme trematódeo – Schistosoma mansoni – que, no homem, habita osvasos sangüíneos <strong>do</strong> fíga<strong>do</strong> e intestino.Classificação clínicaA maioria das pessoas infectadas pode permanecer assintomática, dependen<strong>do</strong> da intensidadeda infecção; a sintomatologia clínica corresponde ao estágio de desenvolvimento<strong>do</strong> parasito no hospedeiro. O conhecimento completo da evolução da <strong>do</strong>ença, soma<strong>do</strong> àscaracterísticas epidemiológicas, serve para o estabelecimento de bases para o seu controle.Clinicamente, a esquistossomose pode ser classificada em:298 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Esquistossomose MansônicaFase agudaDermatite cercariana – corresponde à fase de penetração das larvas (cercárias) atravésda pele. Varia desde quadro assintomático até apresentação de quadro clínico de dermatiteurticariforme, com erupção papular, eritema, edema e pruri<strong>do</strong>, poden<strong>do</strong> durar até 5dias após a infecção.Esquistossomose aguda ou febre de Katayama – após três a sete semanas de exposiçãopode aparecer quadro caracteriza<strong>do</strong> por alterações gerais que compreendem: febre,anorexia, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal e cefaléia. Com menor freqüência, o paciente pode referir diarréia,náuseas, vômitos e tosse seca. Ao exame físico, pode ser encontra<strong>do</strong> hepatoesplenomegalia.Laboratorialmente, o acha<strong>do</strong> da eosinofilia elevada é bastante sugestivo, quan<strong>do</strong> associa<strong>do</strong>a da<strong>do</strong>s epidemiológicos.Fase crônicaEsquistossomose crônica – inicia-se a partir <strong>do</strong>s 6 meses após a infecção, poden<strong>do</strong> durarvários anos. Nela, podem surgir os sinais de progressão da <strong>do</strong>ença para diversos órgãos,poden<strong>do</strong> atingir graus extremos de severidade, como hipertensão pulmonar e portal, ascite,ruptura de varizes <strong>do</strong> esôfago. As manifestações clínicas variam, dependen<strong>do</strong> da localizaçãoe intensidade <strong>do</strong> parasitismo, da capacidade de resposta <strong>do</strong> indivíduo ou <strong>do</strong> tratamento instituí<strong>do</strong>.Apresenta-se por qualquer das seguintes formas:Tipo I ou forma intestinal – caracteriza-se por diarréias repetidas que podem sermucossangüinolentas, com <strong>do</strong>r ou desconforto ab<strong>do</strong>minal. Porém, pode apresentar-se assintomática;Tipo II ou forma hepatointestinal – caracteriza-se pela presença de diarréias e epigastralgia.Ao exame físico, o paciente apresenta hepatomegalia, poden<strong>do</strong>-se notar, à palpação,nodulações que nas fases mais avançadas dessa forma clínica, correspondem a áreas defibrose decorrentes de granulomatose periportal ou fibrose de Symmers;Tipo III ou forma hepatoesplênica compensada – caracteriza-se pela presença dehepatoesplenomegalia. As lesões perivasculares intra-hepáticas são em quantidade suficientepara gerar transtornos na circulação portal, com certo grau de hipertensão que provocacongestão passiva <strong>do</strong> baço. Nessa fase, inicia-se a formação de circulação colateral e devarizes <strong>do</strong> esôfago, com o comprometimento <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> geral <strong>do</strong> paciente;Tipo IV ou forma hepatoesplênica descompensada – inclui as formas mais gravesde esquistossomose mansônica, responsáveis pelo obituário por essa causa específica. Caracteriza-sepor fíga<strong>do</strong> volumoso ou já contraí<strong>do</strong> pela fibrose perivascular, esplenomegaliaavantajada, ascite, circulação colateral, varizes <strong>do</strong> esôfago, hematêmese, anemia acentuada,desnutrição e quadro de hiperesplenismo.6EPodem ser consideradas, ainda, como formas particulares, as formas pulmonar e cardiopulmonar,verificadas em estágios avança<strong>do</strong>s da <strong>do</strong>ença. Pre<strong>do</strong>mina uma arteriolite obstrutivaque ocasiona cor pulmonale crônica, insuficiência cardíaca direta e perturbaçõesrespiratórias severas. Dentre as formas ectópicas a mais grave é a neuroesquistossomose(mielorradiculite esquistosssomótica), cuja prevalência nas áreas endêmicas tem si<strong>do</strong> su-Secretaria de Vigilância em Saúde / MS299


Esquistossomose Mansônicabestimada. O diagnóstico é difícil, mas a suspeita clínica e epidemiólogica conduz, comsegurança, ao diagnóstico presuntivo. O seu diagnóstico e a terapêutica precoce previnema evolução para quadros incapacitantes e óbitos.Complicações – a principal complicação da esquistossomose mansônica é a hipertensãoportal nos casos avança<strong>do</strong>s, que se caracteriza por hemorragias, ascites, edemas einsuficiência hepática severa. Estes casos, a despeito <strong>do</strong> tratamento, quase sempre evoluempara óbito.Diagnóstico diferencialA esquistossomose pode ser confundida com diversas <strong>do</strong>enças, em função das diferentesmanifestações que ocorrem durante sua evolução.Dermatite cercariana – seu quadro clínico pode ser confundi<strong>do</strong> com manifestaçõesexantemáticas como sarampo, rubéola, escarlatina e dermatites causadas por outros tiposde cercárias de aves aquáticas.Esquistossomose aguda ou toxêmica – o diagnóstico diferencial deve ser feito comoutras <strong>do</strong>enças infecciosas agudas, tais como febre tifóide, malária, hepatite viral anictérica,estrongiloidíase, amebíase, mononucleose, tuberculose miliar e ancilostomose aguda.Esquistossomose crônica – nessa fase, a <strong>do</strong>ença pode ser confundida com amebíase,estrongiloidíase, giardiase e demais parasitoses, além de outras afecções que cursam comhepatoesplenomegalia, tais como calazar, leucemia, linfoma, salmonelose prolongada, esplenomegaliatropical e cirroses.Para se chegar ao diagnóstico da esquistossomose são muito importantes não somenteos resulta<strong>do</strong>s laboratoriais mas também os da<strong>do</strong>s epidemiológicos, como história de banhosem águas com caramujos e procedência <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente. A esquistossomose aguda, porexemplo, é mais freqüente em pessoas que não vivem em áreas endêmicas.Diagnóstico laboratorialO diagnóstico é feito mediante a realização <strong>do</strong> exame parasitológico de fezes, preferencialmenteatravés <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> Kato-Katz. Este méto<strong>do</strong> permite a visualização e contagem<strong>do</strong>s ovos por grama de fezes, fornecen<strong>do</strong> um indica<strong>do</strong>r seguro para se avaliar a intensidadeda infecção e a eficácia <strong>do</strong> tratamento. O teste da reação em cadeia da polimerase (PCR-Polymerase Chain Reaction) e os testes sorológicos possuem sensibilidade ou especificidadesuficiente e seriam úteis principalmente em áreas de baixa prevalência da <strong>do</strong>ença, ou empacientes com baixa parasitemia e/ou imunodeprimi<strong>do</strong>s, a exemplo da aids, mas não estãodisponíveis na rotina. A ultra-sonografia hepática é de auxílio no diagnóstico da fibrosede Symmers. A biópsia retal ou hepática, apesar de não indicada para utilização na rotina,pode ser útil em casos suspeitos, na presença de exame parasitológico de fezes negativo.300 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Esquistossomose MansônicaTratamentoA importância <strong>do</strong> tratamento reside não só no fato de curar a <strong>do</strong>ença ou diminuir acarga parasitária <strong>do</strong>s pacientes, bem como impedir sua evolução para formas graves. Existemtrabalhos demonstran<strong>do</strong> que a quimioterapia também reduz a hepatoesplenomegaliapreviamente instalada. To<strong>do</strong> caso confirma<strong>do</strong> deve ser trata<strong>do</strong>, a não ser que haja contraindicaçãomédica. Nas áreas de baixa prevalência com transmissão focal e nas áreas indenesestá indicada a verificação de cura no 4° mês ao término <strong>do</strong> tratamento, com três amostrascolhidas em dias sucessivos. Em caso de persistência da positividade <strong>do</strong> exame, o tratamentodeve ser repeti<strong>do</strong>.Existem duas drogas disponíveis para o tratamento da esquistossomose mansônica:oxamniquine e praziquantel. Os <strong>do</strong>is medicamentos se equivalem quanto à eficácia e segurança.Atualmente, o praziquantel é a droga de escolha, em função <strong>do</strong> menor custo/tratamento.A <strong>do</strong>sagem recomendada para o praziquantel é de 60mg/kg para crianças até 15anos e 50mg/kg para adultos, ambos em <strong>do</strong>se única. O medicamento é apresenta<strong>do</strong> emcomprimi<strong>do</strong>s de 600mg, divisível em duas partes iguais, de mo<strong>do</strong> a facilitar a adequação da<strong>do</strong>se. O oxamniquine é recomenda<strong>do</strong> na <strong>do</strong>sagem de 15mg/kg para adultos e 20mg/kg paracrianças até 15 anos, ambos em <strong>do</strong>se única. Existem duas apresentações: cápsulas de 250mge suspensão conten<strong>do</strong> 50mg por cada ml.6Efeitos colaterais – tonturas, náuseas, vômitos, cefaléia, sonolência. Esses efeitos sãocomuns aos <strong>do</strong>is medicamentos, sen<strong>do</strong> a tontura mais freqüente com oxamniquine e náusease vômitos com praziquantel.EContra-indicações – nos seguintes casos é contra-indicada a utilização das drogas quecompõem o arsenal terapêutico antiesquistossomótico:• durante a gestação;• durante a fase de amamentação (se o risco/benefício compensar o tratamento damulher nutriz, esta só deve amamentar a criança 24 horas após a administração damedicação);• criança menor de 2 anos (não deve ser tratada devi<strong>do</strong> à imaturidade hepática);• desnutrição ou anemia acentuada;• infecções agudas ou crônicas intercorrentes;• insuficiência hepática grave (fase descompensada da forma hepatoesplênica);• insuficiência renal ou cardíaca descompensada;• esta<strong>do</strong>s de hipersensibilidade e <strong>do</strong>enças <strong>do</strong> colágeno;• história de epilepsia (convulsão) ou de <strong>do</strong>ença mental (com uso de medicamentosanticonvulsivantes ou neurolépticos);• qualquer <strong>do</strong>ença associada que seja mais grave ou incapacitante <strong>do</strong> que a própriaesquistossomose;• adulto com mais de 70 anos (somente se na avaliação médica o risco/benefício compensaro tratamento).Secretaria de Vigilância em Saúde / MS301


Esquistossomose MansônicaAspectos epidemiológicosA esquistossomose mansônica é uma endemia mundial, ocorren<strong>do</strong> em 52 países e territórios,principalmente na América <strong>do</strong> Sul, Caribe, África e Leste <strong>do</strong> Mediterrâneo, ondeatinge as regiões <strong>do</strong> Delta <strong>do</strong> Nilo, além de países como Egito e Sudão. No Brasil, a transmissãoocorre em 19 esta<strong>do</strong>s, numa faixa contínua ao longo <strong>do</strong> litoral, desde o Rio Grande<strong>do</strong> Norte até a Bahia, na região Nordeste, alcançan<strong>do</strong> o interior <strong>do</strong> Espírito Santo e MinasGerais, no Sudeste. De forma localizada, está presente nos esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Ceará, Piauí e Maranhão,no Nordeste; Pará, na região Norte; Goiás e Distrito Federal, no Centro-Oeste; SãoPaulo e Rio de Janeiro, no Sudeste; Paraná, Santa Catarina e Rio Grande <strong>do</strong> Sul, na regiãoSul. Atualmente, as prevalências mais elevadas são encontradas nos esta<strong>do</strong>s de Alagoas,Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais, Bahia, Paraíba e Espírito Santo. Os esta<strong>do</strong>s indenessofrem fluxo migratório de pessoas oriundas de áreas endêmicas; em conseqüência, devemestruturar um sistema de vigilância epidemiológica e malacológica para evitar a introduçãoda <strong>do</strong>ença.Figura 1. Áreas endêmicas e focais da esquistossomose mansônica. Brasil, 2004Faixa de prevalência(%) por município> 155-15< 5não-endêmicoFonte: GT-Esquistossomose/CDTV/CGDT/SVS/MS302 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Esquistossomose MansônicaVigilância epidemiológicaObjetivosEvitar a ocorrência de formas graves e óbitos; reduzir a prevalência da infecção e impedira expansão geográfica da endemia. A fim de se evitar a instalação de focos urbanos, éimportante manter a vigilância ativa nas periferias das áreas urbanas, em virtude <strong>do</strong> grandefluxo migratório para as cidades.Definição de casoSuspeitoTo<strong>do</strong> indivíduo residente e/ou procedente de área endêmica para esquistossomose,com quadro clínico sugestivo das formas agudas, crônicas, ectópicas ou assintomático comhistória de contato com as coleções de águas onde existe o caramujo eliminan<strong>do</strong> cercárias.To<strong>do</strong> suspeito deve ser submeti<strong>do</strong> a exame parasitológico de fezes.6Confirma<strong>do</strong>Critério clínico-laboratorial – to<strong>do</strong> indivíduo residente e/ou procedente de área endêmicapara esquistossomose, com quadro clínico compatível, com história de exposiçãoa águas onde existe o caramujo eliminan<strong>do</strong> cercárias e que apresente ovos viáveis de S.mansoni nas fezes. A realização de biópsia retal ou hepática, quan<strong>do</strong> indicada, pode auxiliarna confirmação diagnóstica, embora seja mais indica<strong>do</strong>, na rotina, a repetição de váriosexames de fezes. To<strong>do</strong> caso confirma<strong>do</strong> deve ser trata<strong>do</strong>, a não ser que haja contra-indicaçãomédica.EDescarta<strong>do</strong>Caso suspeito ou notifica<strong>do</strong> sem confirmação laboratorial.NotificaçãoÉ <strong>do</strong>ença de notificação compulsória nas áreas não-endêmicas conforme a PortariaMS/GM nº 2.325, de 8/12/03.Entretanto, é recomendável que sejam notificadas todas as formas graves na área endêmicae to<strong>do</strong>s os casos de esquistossomose diagnostica<strong>do</strong>s na área endêmica com focosisola<strong>do</strong>s (Pará, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Distrito Federale Rio Grande <strong>do</strong> Sul).Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteTratamento ambulatorial e acompanhamento de cura (três exames de fezes em diassucessivos no quarto mês após o tratamento). A internação hospitalar é indicada nas formasclínicas graves.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS303


Esquistossomose MansônicaQualidade da assistênciaVerificar se os casos com confirmação laboratorial (coproscopia positiva para S. mansoni)foram investiga<strong>do</strong>s, trata<strong>do</strong>s e acompanha<strong>do</strong>s; e se foram orientadas e a<strong>do</strong>tadas asmedidas de educação em saúde e de proteção ambiental (saneamento básico).Proteção individual para evitar a propagação da transmissãoTratamento de todas as pessoas infectadas ou reinfectadas positivas para S. mansoniao exame laboratorial.Confirmação diagnósticaLaboratorial (presença de ovos de S. mansoni nas fezes).Proteção da populaçãoBusca ativa periódica, sistemática e prolongada de casos, investigação e exames <strong>do</strong>scontatos para detecção da(s) fonte(s) de infecção, a<strong>do</strong>ção de medidas de educação em saúdee ambiental comunitária.InvestigaçãoConsiste na obtenção detalhada de da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> caso, mediante o preenchimento da fichade investigação de caso, com o objetivo, principalmente, de determinar o local ou locais derisco e onde possivelmente ocorreu a transmissão <strong>do</strong> caso, visan<strong>do</strong> o direcionamento dasações e controle. A investigação deve ser realizada em to<strong>do</strong>s os casos notifica<strong>do</strong>s nas áreasindenes vulneráveis e nas áreas focais em vias de eliminação; nas áreas endêmicas, somentenos casos de forma grave notifica<strong>do</strong>s. Uma vez concluída a investigação, o caso deverá serclassifica<strong>do</strong> como autóctone se a transmissão ocorreu no mesmo município onde foi investiga<strong>do</strong>;importa<strong>do</strong>, se a transmissão ocorreu em outro município diferente daquele em quefoi investiga<strong>do</strong>; e indetermina<strong>do</strong> se o local da transmissão é inconclusivo ou descarta<strong>do</strong> secaso suspeito ou notifica<strong>do</strong> não tiver confirmação laboratorial.Roteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos <strong>do</strong>s itens da ficha de investigação epidemiológica <strong>do</strong> Sinanrelativos aos da<strong>do</strong>s gerais, notificação individual e da<strong>do</strong>s de residência.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPara confirmar a suspeita diagnóstica – anotar, na ficha de investigação, da<strong>do</strong>s dahistória e manifestações clínicas.Para identificação da área de transmissão – verificar o local de procedência <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente,efetuar exame coproscópico <strong>do</strong>s conviventes e pesquisa malacológica, com identificação<strong>do</strong>s caramujos nas coleções hídricas existentes.Para determinação da extensão da área de transmissão – observar as condições lo-304 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Esquistossomose Mansônicacais que favorecem a instalação de focos de transmissão da <strong>do</strong>ença, quais sejam: a distribuiçãogeográfica <strong>do</strong>s caramujos hospedeiros intermediários (B. glabrata, B. straminea e B.tenagophila); os movimentos migratórios de caráter transitório ou permanente de pessoasoriundas das áreas endêmicas. Tanto em áreas rurais quanto urbanas a investigação deve serconduzida para identificar os locais de transmissão visan<strong>do</strong> à eliminação.Conduta frente a um surto – a ocorrência de surtos de esquistossomose é rara e,geralmente, só acontece quan<strong>do</strong> um grupo (escolares, recrutas, turistas, etc.) residente emárea indene viaja para área endêmica e, inadvertidamente, entra em contato com coleçõeshídricas contaminadas com cercárias e desenvolve a forma aguda da <strong>do</strong>ença. Nestes casos,to<strong>do</strong> o grupo deve ser examina<strong>do</strong> parasitologicamente, investiga<strong>do</strong> e os casos positivos trata<strong>do</strong>se acompanha<strong>do</strong>s para verificação de cura.Análise de da<strong>do</strong>sOs da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s pela vigilância epidemiológica deverão ser analisa<strong>do</strong>s quanto aodesempenho das medidas de vigilância e controle, permitin<strong>do</strong> acompanhar a evolução detendência da <strong>do</strong>ença. A análise deverá levar em consideração, entre outras, as seguintes variáveis:faixa etária, sexo, distribuição geográfica, número de ovos por grama de fezes, etc.6Encerramento de casosConfirma<strong>do</strong> por critério laboratorial – qualquer caso suspeito que apresenta ovos deS. mansoni nas fezes.Óbitos – não ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> feito exame parasitológico de fezes, considerar caso confirma<strong>do</strong>aquele com acha<strong>do</strong> de ovos de S. mansoni no exame histopatológico.Caso descarta<strong>do</strong> – caso notifica<strong>do</strong> mas cujo resulta<strong>do</strong> laboratorial não foi confirma<strong>do</strong>ou teve como diagnóstico outra <strong>do</strong>ença.EInstrumentos disponíveis para controleControle de hospedeiros intermediáriosAs ações dirigidas aos hospedeiros intermediários, abaixo listadas, são de naturezacomplementar e têm indicação nas seguintes situações: levantamento de áreas ainda nãotrabalhadas; investigação e controle de focos; e áreas bem delimitadas de altas prevalências.• Pesquisa de coleções hídricas, para determinação <strong>do</strong> seu potencial de transmissão.• Medidas de saneamento ambiental, para dificultar a proliferação e o desenvolvimento<strong>do</strong>s hospedeiros intermediários, bem como impedir que o homem infecta<strong>do</strong> contamineas coleções de águas com ovos de S. mansoni;• Tratamento químico de cria<strong>do</strong>uros de importância epidemiológica;• Controle biológico <strong>do</strong>s moluscos com espécies competi<strong>do</strong>ras. Esta medida, emboradesejável, na prática ainda não tem se mostra<strong>do</strong> eficaz.Nota: estas ações devem ser realizadas em parceria com os órgãos e com participaçãoda comunidade.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS305


Esquistossomose MansônicaAções de educação em saúdeA educação em saúde deve preceder e acompanhar todas as atividades de controle eser baseada em estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s comportamentos das populações em risco. A orientação dapopulação, quanto às maneiras pelas quais se previne as <strong>do</strong>enças transmissíveis, é fatorindispensável para o sucesso de qualquer campanha profilática. Realizada pelos agentes desaúde e por profissionais das unidades básicas, tem como público-alvo a população geral eescolares das localidades localizadas nas áreas endêmicas. Para tanto, utiliza várias técnicaspedagógicas e meios de comunicação de massa.As ações de educação em saúde e a mobilização comunitária são muito importantesno controle da esquistossomose, basicamente para promover atitudes e práticas que modificamas condições favorece<strong>do</strong>ras e mantene<strong>do</strong>ras da transmissão.Estratégias de prevençãoA esquistossomose é, fundamentalmente, uma <strong>do</strong>ença resultante da ausência ou precariedadede saneamento básico.Controle <strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>res• Identificação <strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>res de S. mansoni, por meio de inquéritos coproscópicos acada <strong>do</strong>is anos, deve fazer parte da programação de trabalho das secretarias municipaisde saúde das áreas endêmicas.• Quimioterapia específica <strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>res, visan<strong>do</strong> reduzir a carga parasitária e impediro aparecimento de formas graves.Para o diagnóstico e tratamento <strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>res faz-se necessária a participação dasequipes <strong>do</strong> Programa Saúde da Família (PSF), que devem atuar em conjunto com os agentesde saúde encarrega<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Programa de Controle da Esquistossomose, por exemplo,no tratamento <strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>res e nas orientações sobre educação em saúde para as pessoasexpostas ao risco de contrair esquistossomose.A coproscopia para a detecção <strong>do</strong>s indivíduos infecta<strong>do</strong>s pelo S. mansoni e o conseqüentetratamento são medidas dirigidas de maneira direta e mais imediata ao objetivo principal<strong>do</strong> Programa: controlar a morbidade, especialmente prevenin<strong>do</strong> a evolução para as formasgraves da <strong>do</strong>ença. Essas ações de diagnóstico e tratamento devem ser viabilizadas, incorporadase integradas à rotina <strong>do</strong>s serviços de atenção primária à saúde (rede básica de saúde).Saneamento ambientalAs ações de saneamento ambiental são reconhecidas como as de maior eficácia paraas modificações de caráter permanente das condições de transmissão da esquistossomosee incluem: coleta e tratamento de dejetos, abastecimento de água potável, instalações hidráulicase sanitárias, aterros para eliminação de coleções hídricas que sejam cria<strong>do</strong>uros demoluscos, drenagens, limpeza e retificação de margens de córregos e canais, construções depequenas pontes, etc. Essas ações deverão ser simplificadas e de baixo custo, a fim de seremrealizadas em todas as áreas necessárias.306 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre AmarelaFEBRE AMARELACID 10: A95Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoDoença infecciosa febril aguda, transmitida por vetores, que possui <strong>do</strong>is ciclos epidemiológicosdistintos (silvestre e urbano). Reveste-se da maior importância epidemio lógica,por sua gravidade clínica e eleva<strong>do</strong> potencial de disseminação em áreas urbanas.Agente etiológicoVírus RNA. Vírus da febre amarela, arbovírus pertencente ao gênero Flavivirus, famíliaFlaviviridae.6HospedeirosNa febre amarela urbana (FAU) o homem é o único hospedeiro com importância epidemiológica.Na febre amarela silvestre (FAS) os primatas não-humanos (macacos) são os prin cipaishospedeiros <strong>do</strong> vírus amarílico, sen<strong>do</strong> o homem um hospedeiro acidental.FVetores reservatóriosO mosquito da espécie Aedes aegypti é o principal transmissor da febre amarela urbana.Na febre amarela silvestre, os transmissores são mosquitos, com hábitos estritamentesilvestres, sen<strong>do</strong> os <strong>do</strong>s gêneros Haemagogus e Sabethes os mais im portantes na AméricaLatina. No Brasil, a espécie Haemagogus janthinomys é a que se destaca na transmissão <strong>do</strong>vírus. Devi<strong>do</strong> a persistência <strong>do</strong> vírus em seu organismo por tempo mais longo <strong>do</strong> que nosmacacos, os mosquitos seriam os verdadeiros reservatórios, além de vetores.Mo<strong>do</strong> de transmissãoPicada <strong>do</strong>s mosquitos transmissores infecta<strong>do</strong>s.Não há transmissão de pessoa a pessoa.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoTrês a seis dias após a picada <strong>do</strong> mosquito infec ta<strong>do</strong>.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeA viremia humana dura, no máximo, sete dias, e vai desde 24-48 horas antes <strong>do</strong> aparecimento<strong>do</strong>s sintomas a três a cinco dias após o início da <strong>do</strong>ença, perío<strong>do</strong> em que o homempode infectar os mosquitos transmissores. Uma vez infecta<strong>do</strong>, o mosquito pode transmitiro vírus amarílico durante toda a sua vida.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS307


Febre AmarelaSusceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade é universal. A infecção confere imunidade permanente. Nas zonasendêmicas, são comuns as infecções leves e inaparentes. Os filhos de mães imunes podemapresentar imunidade passiva e transitória durante seis meses. A imunidade conferida pelavacina dura em torno de 10 anos.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasO quadro clínico típico é caracteriza<strong>do</strong> por manifestações de insuficiência hepática erenal, ten<strong>do</strong> em geral apresentação bifásica, com um perío<strong>do</strong> inicial prodrômico (infecção)e um toxêmico que surge após uma aparente remissão e, em muitos casos, evolui para óbitoem aproximadamente uma semana.Perío<strong>do</strong> de infecção – dura cerca de três dias, tem início súbito e sintomas geraiscomo febre, calafrios, cefalalgia, lombalgia, mialgias generalizadas, prostração, náuseas evômitos.Remissão – caracteriza-se pelo de clínio da temperatura e diminuição <strong>do</strong>s sintomas,provocan<strong>do</strong> uma sensação de melhora no paciente. Dura pou cas horas, no máximo um a<strong>do</strong>is dias.Perío<strong>do</strong> toxêmico – reaparecem a febre, a diarréia e os vômitos com aspecto de borrade café. Caracteriza-se pela instalação de quadro de insuficiência hepato-renal representa<strong>do</strong>por icterícia, oligúria, anúria e albuminúria, acompanha<strong>do</strong> de manifestações hemorrágicas(gengivorragias, epistaxes, otorragias, hematêmese, melena, hematúria, sangramentosem locais de punção venosa) e prostração intensa, além de comprometimento <strong>do</strong> sensório,com obnubilação mental e torpor, com evolução para coma e morte. O pulso torna-semais lento, apesar da temperatura elevada. Essa dissociação pulso-temperatura é conhecidacomo sinal de Faget.Diagnóstico diferencialAs formas leve e moderada da febre amarela são de difícil diagnóstico diferencial poispodem ser confundidas com outras <strong>do</strong>enças infecciosas que atingem os sistemas respiratório,digestivo e urinário. As formas graves, com quadro clínico clássico ou fulminante, devemser diferenciadas de malária por Plasmodium falciparum, leptospirose, além de formasfulminantes de hepatites. Devem ser lembradas, ainda, as febres hemorrágicas de etiologiaviral, como dengue hemorrágico e septicemias.Diagnóstico laboratorialRealiza<strong>do</strong> mediante isolamento <strong>do</strong> vírus amarílico em amostras de sangue ou de teci<strong>do</strong>hepático, por detecção de antígeno em teci<strong>do</strong> (imunofluorescência e imunoperoxidase)e por sorologia (ver normas e procedimentos no Anexo 1).308 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre AmarelaTratamentoNão existe tratamento específico. É apenas sintomático, com cuida<strong>do</strong>sa assistência aopaciente que, sob hospitalização, deve permanecer em repouso, com reposição de líqui<strong>do</strong>se das perdas sangüíneas, quan<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>. Nas formas graves, o paciente deve ser atendi<strong>do</strong>numa unidade de terapia intensiva, o que reduz as complicações e a letalidade.Aspectos epidemiológicosA febre amarela apresenta <strong>do</strong>is ciclos epidemiologicamente distintos: febre amarelasilvestre (FAS) e febre amarela urbana (FAU).A forma silvestre é endêmica nas regiões tropicais da África e das Américas. Em geral,apresenta-se sob a forma de surtos com intervalos de 5 a 7 anos, alterna<strong>do</strong>s por perío<strong>do</strong>scom menor número de registros. Na população humana, o aparecimento de casos é precedi<strong>do</strong>de epizootias. No Brasil, a partir <strong>do</strong> desaparecimento da forma urbana em 1942, sóhá ocorrência de casos de febre amarela silvestre e até 1999 os focos endêmicos estavamsitua<strong>do</strong>s nos esta<strong>do</strong>s das regiões Norte, Centro-Oeste e área pré-amazônica <strong>do</strong> Maranhão,além de registros esporádicos na parte oeste de Minas Gerais.Nos surtos ocorri<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong> de 2000/2003, observou-se uma expansão da circulaçãoviral no senti<strong>do</strong> Leste e Sul <strong>do</strong> país, detectan<strong>do</strong>-se sua presença em áreas silenciosashá várias décadas, o que impôs uma redefinição das áreas de risco. Além da ampliação daárea de transição foi estabelecida uma nova área, denominada de indene de risco potencial,onde há maior risco para circulação <strong>do</strong> vírus, contígua à área de transição e com ecossistemassemelhantes, compreenden<strong>do</strong> municípios <strong>do</strong> sul de Minas Gerais e da Bahia e a regiãocentro-norte <strong>do</strong> Espírito Santo (Figura 1).O número anual de notificações de FAS é muito variável. No perío<strong>do</strong> entre 1980 e2003, foram diagnostica<strong>do</strong>s 657 casos, <strong>do</strong>s quais 337 evoluíram para óbito (Figura 2), oque corresponde a uma letalidade média de 51,3%, com uma variação de 22,9% a 100%.Todas as unidades federadas da região Norte vêm registran<strong>do</strong> casos, sen<strong>do</strong> responsáveis por39,9% das notificações <strong>do</strong> país, nas duas últimas décadas.Esta <strong>do</strong>ença acomete com maior freqüência o sexo masculino e a faixa etária maisatingida situa-se acima <strong>do</strong>s 15 anos, em função da maior exposição profissional, relacionadaà penetração em zonas silvestres da área endêmica de FAS. Um outro grupo de riscosão as pessoas não vacinadas que residem próximas aos ambientes silvestres, onde circulao vírus, além de turistas e migrantes que adentram estes ambientes. A maior freqüência da<strong>do</strong>ença ocorre nos meses de janeiro a abril, perío<strong>do</strong> com maior índice pluviométrico, quan<strong>do</strong>a densidade vetorial é elevada, coincidin<strong>do</strong> com a época de maior atividade agrícola.A febre amarela urbana não ocorre no país desde 1942. Enquanto o Aedes aegyptiencontrava-se erradica<strong>do</strong>, havia uma relativa segurança quanto à não possibilidade de reurbanização<strong>do</strong> vírus amarílico. Entretanto, a reinfestação de extensas áreas <strong>do</strong> nosso territóriopor este vetor, inclusive já presente em muitos <strong>do</strong>s centros urbanos das áreas endêmicas,epizoóticas e enzoóticas, coloca a população brasileira sob o risco de reestabelecer este ciclo6FSecretaria de Vigilância em Saúde / MS309


Febre Amarela<strong>do</strong> vírus. Recentemente, o diagnóstico de casos infecta<strong>do</strong>s em área de transmissão próximaao Distrito Federal, deman<strong>do</strong>u a execução de ampla campanha vacinal em função da presençade Aedes aegypti em centros urbanos <strong>do</strong> DF, inclusive da capital federal.Considera-se como potenciais fatores de risco para a reurbanização da febre amarelano Brasil:• expansão territorial da infestação <strong>do</strong> Aedes aegypti já detectada em 3.794 municípios,distribuí<strong>do</strong>s por todas as unidades federadas;• áreas com Aedes aegypti superpostas a áreas de circulação <strong>do</strong> vírus amarílico;• presença <strong>do</strong> Aedes albopictus em esta<strong>do</strong>s das regiões endêmicas e de transição;• áreas urbanas infestadas por Aedes aegypti próximas de áreas endêmicas para febreamarela silvestre;• intenso processo migratório rural-urbano, levan<strong>do</strong> à possibilidade de importação<strong>do</strong> vírus amarílico <strong>do</strong>s ambientes silvestres para os urbanos.Figura 1. Áreas de risco de febre amarela silvestre. Brasil, 2003*Áreas Esta<strong>do</strong>s PopulaçãoÁrea endêmica 12 29.327.171 hab.Área de transição parcialmente 7 22.347.837 hab.Área indene 8 e parcialmente 7 109.660.162 hab.Área de risco potencial parcialmente 3 4.777.348 hab.*Redefinidas a partir de estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> em 2003310 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre AmarelaFigura 2. Número de casos e de óbitos e taxa de letalidade de febre amarelasilvestre. Brasil, 1982-2003100Nº de casos Taxa de letalidade (%)1008080606040402020082 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 0306Taxa 87,5 100 62,2 71,4 88,9 87,5 53,9 33,3 50 53,3 58,3 22,9 27,8 50 86,7 100 44,1 37,3 47,1 46,9 40 35,9Óbito 21 6 28 5 8 14 14 3 1 8 7 19 6 2 13 3 15 28 40 15 6 23Cura 3 0 17 2 1 2 12 6 1 7 5 64 13 2 2 0 19 47 45 32 9 40Fonte: SVS/MSVigilância epidemiológicaFObjetivosReduzir a incidência da febre amarela silvestre e impedir a transmissão urbana mediantea detecção precoce da circulação viral e a<strong>do</strong>ção das medidas de controle pertinentes.A <strong>do</strong>ença é de notificação e investigação obrigatória, cuja finalidade é identificar a áreade transmissão e confirmar se o caso é de FAU ou FAS, visan<strong>do</strong> definir as populações sobrisco para prevenir a ocorrência de novos casos.Definição de casoSuspeitoIndivíduo com quadro febril agu<strong>do</strong> (até 7 dias), de início súbito, com icterícia, resi denteou procedente de área de risco para febre amarela ou de locais com ocorrência de epizootiasem primatas não-humanos ou isolamento de vírus em mosquitos, nos últimos 15 dias,sem comprovação de ser vacina<strong>do</strong> contra a febre amarela (solicitar apresentação <strong>do</strong> cartãode vacina).ObservaçãoEm situações de surto recomenda-se adequar a definição de caso suspeito, tornan<strong>do</strong>amais sensível para detectar o maior número possível de casos, levan<strong>do</strong> em conta oamplo espectro clínico da febre amarela.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS311


Febre AmarelaConfirma<strong>do</strong>Critério clínico-laboratorial – to<strong>do</strong> caso suspeito que apresente pelo menos uma dasseguintes condições:• isolamento <strong>do</strong> vírus da FA;• detecção de anticorpos <strong>do</strong> tipo IgM pela técnica de Mac-Elisa em indivíduos nãovacina<strong>do</strong>s ou com aumento de 4 vezes ou mais nos títulos de anticorpos <strong>do</strong> tipo IgG,pela técnica de inibição da hemaglutinação (IH) ou IgG-Elisa;• acha<strong>do</strong>s histopatológicos compatíveis;• detecção de genoma viral.Também será considera<strong>do</strong> caso confirma<strong>do</strong> o indivíduo assintomático ou oligossintomáticoorigina<strong>do</strong> de busca ativa que não tenha si<strong>do</strong> vacina<strong>do</strong> e que apresente sorologia(MAC-Elisa) positiva para FA.Critério clínico-epidemiológico – to<strong>do</strong> caso suspeito de febre amarela que evoluiupara óbito em menos de 10 dias sem confirmação laboratorial, no início ou curso de surtoou epidemia, em que outros casos já tenham si<strong>do</strong> comprova<strong>do</strong>s laboratorialmente.Descarta<strong>do</strong>Caso suspeito com diagnóstico laboratorial negativo, desde que se comprove que asamostras foram coletadas e transportadas adequadamente; ou caso suspeito com diagnósticoconfirma<strong>do</strong> de outra <strong>do</strong>ença.NotificaçãoA ocorrência de casos suspeitos de febre amarela requer imediata notificação e investigaçãopor se tratar de <strong>do</strong>ença grave. Um caso pode significar a existência de um surto, oque impõe a a<strong>do</strong>ção imediata de medidas de controle. Por ser uma <strong>do</strong>ença de notificaçãocompulsória internacional, to<strong>do</strong> caso suspeito deve ser prontamente comunica<strong>do</strong> por telefone,fax ou e-mail às autoridades sanitárias superiores.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteHospitalização imediata <strong>do</strong>s pacientes.Qualidade da assistênciaVerificar se os casos estão sen<strong>do</strong> atendi<strong>do</strong>s em unidade de saúde com capacidade paraprestar atendimento adequa<strong>do</strong> e oportuno. Na maioria das vezes, estes pacientes necessitamde cuida<strong>do</strong>s permanentes e contínuos, demandan<strong>do</strong> internamento em unidades de saúdede maior complexidade, inclusive em unidade de terapia intensiva.312 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre AmarelaProteção individual para evitar circulação viralSe o paciente estiver em centro urbano infesta<strong>do</strong> por Aedes aegypti, seu quarto deveráser tela<strong>do</strong>. Recomenda-se, ainda, o uso <strong>do</strong> mosquiteiro, para reduzir o risco de urbanizaçãoda <strong>do</strong>ença. Não é necessário outro tipo de isolamento, uma vez que a infecção não se transmitede pessoa a pessoa, nem por meio <strong>do</strong>s flui<strong>do</strong>s, secreções orgânicas ou fômites.Confirmação diagnósticaColetar material para diagnóstico laboratorial, de acor<strong>do</strong> com as orientações <strong>do</strong>Anexo 1.Proteção da populaçãoLogo que se tenha conhecimento da suspeita de caso(s) de febre amarela, deve-se organizarum bloqueio vacinal nas áreas onde o paciente esteve no perío<strong>do</strong> de viremia, privilegian<strong>do</strong>as populações expostas ao risco de transmissão, não sen<strong>do</strong> necessário aguardarresulta<strong>do</strong>s de exames laboratoriais para a confirmação <strong>do</strong>s casos suspeitos.As informações sobre a cobertura vacinal da área endêmica, quan<strong>do</strong> disponíveis, sãoimportantes para o processo de decisão quanto à extensão inicial e seletividade <strong>do</strong> bloqueio.Em áreas consideradas indenes, situadas próximas às enzoóticas e epizoóticas, o que caracterizaum território de expansão de circulação viral, a vacinação de bloqueio sempre deveráser extensa e indiscriminada, caso não se tenha informações de campanhas anteriores.Devem ser organizadas ações de esclarecimento à população, utilizan<strong>do</strong>-se os meios decomunicação de massa, bem como visitas <strong>do</strong>miciliares e palestras nas comunidades. Tambémé importante veicular conhecimentos sobre o ciclo de transmissão da <strong>do</strong>ença, gravidadee esclarecimentos da situação de risco.6FInvestigaçãoImediatamente após a notificação de um ou mais casos de febre amarela, deve-se iniciara investigação epidemiológica para permitir que as medidas de controle pos sam sera<strong>do</strong>tadas em tempo oportuno. O instrumento de coleta de da<strong>do</strong>s, a ficha de investigaçãoepidemiológica disponível no Sinan, contém os elementos essenciais a serem coleta<strong>do</strong>s emuma investigação de rotina. To<strong>do</strong>s os seus campos devem ser criteriosamente preenchi<strong>do</strong>s,mesmo quan<strong>do</strong> a informação for negativa. Outros itens e observações podem ser incluí<strong>do</strong>s,conforme as necessidades e peculiaridades de cada situação.É imprescindível que os profissionais que irão participar das investigações tenhamsi<strong>do</strong> vacina<strong>do</strong>s pelo menos dez dias antes de se deslocarem para a provável área detransmissão.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS313


Febre AmarelaRoteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação epidemiológica relativos aos da<strong>do</strong>sgerais, notificação individual e da<strong>do</strong>s de residência.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPara confirmação da suspeita diagnósticaAnotar na ficha de investigação epidemiológica os da<strong>do</strong>s da história e manifestaçõesclínicas.• Como, em geral, quan<strong>do</strong> se suspeita de FA os <strong>do</strong>entes são hospitaliza<strong>do</strong>s, deve-seconsultar o prontuário e entrevistar o médico assistente para completar as infor maçõesclínicas sobre o paciente. Estas informações servirão para definir se o quadroapresenta<strong>do</strong> é compatível com a <strong>do</strong>ença.• Sugere-se que se faça uma cópia da anamnese (história clínica), exame físico e daevolução <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente, com vistas ao enriquecimento das análises e também para quepossam servir como instrumentos de aprendizagem <strong>do</strong>s profissionais <strong>do</strong> nível local;• Verificar se o paciente foi vacina<strong>do</strong> previamente contra a febre amarela e registrar adata da vacinação, para saber se o mesmo encontrava-se protegi<strong>do</strong>. Esta informaçãoé também utilizada como subsídio para a escolha <strong>do</strong>s exames laboratoriais.• Acompanhar a evolução <strong>do</strong>s pacientes e os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames laboratoriais específicos.Para identificação da área de transmissãoVerificar se o local de residência corresponde a uma área de provável transmissão <strong>do</strong>vírus amarílico. Investigar minuciosamente:• deslocamentos <strong>do</strong> caso, de familiares e/ou amigos (considerar to<strong>do</strong>s aqueles que antecederam15 dias <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s sintomas, inclusive os de curta duração) para caracterizarse houve permanência em local de provável circulação viral;• notícias de mortes de macacos naquele perío<strong>do</strong>, bem como averiguar esta ocorrênciaem anos anteriores.Estes procedimentos devem ser feitos mediante entrevista com o paciente, familiaresou responsáveis, bem como com lideranças da comunidade. Tais da<strong>do</strong>s, que serão anota<strong>do</strong>sna ficha de investigação e folhas anexas, permitirão identificar o provável local de transmissão<strong>do</strong> vírus amarílico e verificar se trata-se de área enzoótica, epizoótica, endê mica ouindene.Quan<strong>do</strong> o paciente residir em área reconhecidamente endêmica, enzoótica ou epizoótica,a caracterização <strong>do</strong> local de transmissão é facilitada. Entretanto, a história <strong>do</strong>s deslocamentosde to<strong>do</strong>s os casos suspeitos permitirá definir com maior grau de certeza o localprovável de infecção. Importante observar que mesmo a permanência de poucas horas emlocal de risco pode resultar em infecção.314 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre AmarelaNotificação de caso(s) suspeito(s)InvestigaçãoIndeneColeta de da<strong>do</strong>s clínicos eepidemiológicos <strong>do</strong> pacienteAtenção médica/Da<strong>do</strong>s clínicosEndêmica(enzoótica/epizoótica)Determinação daextensão da áreade transmissãoColeta de materialBusca ativa deepizootias ecoleta de vetoressilvestresInvestigar Aedesaegypti em centrosurbanos próximosBusca ativade casosEnvio aolaboratórioUrbanaIdentificar áreade transmissãoSilvestre(área de expansão)Medidasde controle Medidasimediatasde controleEnvio paralaboratóriode referênciaVigilância decasos febrisLevantamentosorológicoVigilânciaativa de casossintomáticos eoligossintomáticosInquéritossorológicosIdentificação denovos suspeitosResulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exameEducaçãoem saúdeIsolamento comtelagem <strong>do</strong> localonde o pacientese encontraRoteiro de investigação epidemiológica da febre amarelaBloqueioNegativo PositivoProteger comtelas o ambienteonde o pacienteestá interna<strong>do</strong>Verificar se aárea de transmissãoé a mesma <strong>do</strong>caso índiceNão SimEducaçãoem saúdeEncerrar o caso Avaliar seas açõesdesenvolvidasestão sen<strong>do</strong>suficientespara o controleda situaçãoAçõesemergenciaisde combate aoAedes aegyptiVacinaçãoem massaRedimensionar asações de controle6FSecretaria de Vigilância em Saúde / MS315


Febre AmarelaLembrar que a identificação da área onde se deu a transmissão é de fundamental importânciapara nortear a continuidade <strong>do</strong> processo de investigação e a extensão dasmedidas de controle imediatas.Para determinação da extensão da área de transmissãoBusca ativa de casos humanos• Após a identificação <strong>do</strong> possível local de transmissão, iniciar imediatamente buscaativa de outros casos humanos, casa a casa e em unidades de saúde. Além daquelescom sinais e sintomas evidentes de febre amarela, deve-se considerar os óbitos comquadro sugestivo da <strong>do</strong>ença, ocorri<strong>do</strong>s nos dias anteriores na comunidade e os oligossintomáticos,inclusive to<strong>do</strong>s os indivíduos da área que apresentaram febre (vigilânciade casos febris), com ou sem outras manifestações clínicas, pois os resulta<strong>do</strong>s<strong>do</strong>s exames laboratoriais irão esclarecer o diagnóstico.• Na suspeita de transmissão urbana, o procedimento é o mesmo e a delimitação dabusca também se baseia na área onde se suspeitou ter havi<strong>do</strong> a transmissão.• Recomenda-se, quan<strong>do</strong> possível, a realização de inquérito sorológico em indiví duossem sintomatologia, residentes na área de ocorrência <strong>do</strong>s casos suspei tos, para detecçãode IgM (casos agu<strong>do</strong>s).• Preferencialmente, inclui-se neste inquérito os indivíduos suspeitos de terem si<strong>do</strong>expostos à infecção, excluin<strong>do</strong>-se os vacina<strong>do</strong>s há mais de 10 dias e há menos de10 anos. Estes inquéritos devem ser organiza<strong>do</strong>s rapidamente, bus can<strong>do</strong>-se apoiotécnico e logístico de profissionais <strong>do</strong>s níveis hierárquicos superiores e laboratóriosde referência. O percentual de positividade dará uma idéia da magnitude <strong>do</strong> surtoe a análise individual de to<strong>do</strong>s os casos positivos, encon tra<strong>do</strong>s neste levantamento,indicará se to<strong>do</strong>s procedem da área de transmissão delimitada no início da investigação.Estes resulta<strong>do</strong>s servirão como mais um elemento para avaliar se as medidasde controle a<strong>do</strong>tadas são suficientes ou precisam ser redimensionadas.Captura e identificação de mosquitos transmissores• Em áreas silvestres – equipe treinada em pesquisa de vetores silvestres deve serdeslocada para a(s) área(s) de ocorrência, visan<strong>do</strong> proceder a captura de vetores silvestres(Haemagogus, Sabethes e Aedes albopictus). Os espécimens coleta<strong>do</strong>s devemser envia<strong>do</strong>s ao laboratório de referência, atenden<strong>do</strong> aos procedimentos técnicosindica<strong>do</strong>s no Anexo 1 para identificação e posterior isolamento <strong>do</strong> vírus amarílico.• Em áreas urbanas – pesquisar se existe infestação de Aedes aegypti e Aedes albopictusem localidade ou centro urbano próximo à ocorrência de casos, visan <strong>do</strong> identificara extensão <strong>do</strong> risco de ocorrência de febre amarela. Identificar se no local dehospitalização existe a presença deste vetor e, em caso afirmativo, proteger com telaso local de permanência <strong>do</strong>(s) paciente(s) e instituir ações emergenciais e intensas decombate vetorial.316 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre AmarelaBusca ativa de morte de macacosA morte de macacos é sugestiva da circulação <strong>do</strong> vírus amarílico; por esta razão, acomprovação deste evento sentinela na área de procedência <strong>do</strong>(s) caso(s) pode auxiliar nadelimitação das áreas de risco. Se houver condições de coletar amostras de macacos vivosou mortos (fragmentos de fíga<strong>do</strong>, rins, baço, gânglios linfáticos, cérebro, pulmões ou suprarenais),este procedimento deve ser realiza<strong>do</strong> por equi pes treinadas, com observância <strong>do</strong>scuida<strong>do</strong>s de biossegurança.Coleta e remessa de material para exames• Logo após a suspeita clínica de febre amarela, coletar material de to<strong>do</strong>s os casos(óbitos, formas graves ou oligossintomáticas), de acor<strong>do</strong> com as normas técnicasapresentadas no Anexo 1, observan<strong>do</strong>-se criteriosamente todas as recomendações.• É da responsabilidade <strong>do</strong>s profissionais da vigilância epidemiológica e/ou <strong>do</strong>s laboratórioscentrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo proceder a estas coletas.Não se deve aguardar os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames para o desencadeamento das medidasde controle e outras atividades da investigação, embora sejam imprescindíveis para a confirmaçãode casos e para nortear o encerramento das investigações.Atentar para a interpretação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s de sorologias, consideran<strong>do</strong> as datas de coletae dias de aparecimento <strong>do</strong>s sintomas, necessidade de amostras pareadas se não for <strong>do</strong>sagemde IgM e o esta<strong>do</strong> vacinal <strong>do</strong> paciente, que pode levar a resulta<strong>do</strong>s falso-positivos.Análise de da<strong>do</strong>sA análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da investigação deve permitir a avaliação da magnitude <strong>do</strong> problema,da adequação das medidas a<strong>do</strong>tadas logo de início visan<strong>do</strong> impedir a transmissão humanae indicar as ações de prevenção que devem ser mantidas a curto e médio prazos naárea, incluin<strong>do</strong> o combate ao vetor urbano da <strong>do</strong>ença, quan<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>.Desde o início <strong>do</strong> processo, faz-se necessária a análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s que estão sen<strong>do</strong> coleta<strong>do</strong>s,para alimentar a tomada de decisão sobre as atividades de investigação e as ações decon trole. Esta análise, como referi<strong>do</strong> anteriormente, deve ser orientada para a identificação<strong>do</strong> local de transmissão, fonte de infecção (animais silvestres) e vetores envolvi<strong>do</strong>s na transmissão,dimensionamento da real magnitude <strong>do</strong> episódio (incidência e letalidade), extensãoda área de transmissão e populações sob risco que devem ser incluídas nas medidas decontrole, bem como identificar se a área de transmissão está incluída nos limites das áreasenzóoticas, epizoóticas e de transição.Para isso, o profissional deve interpretar passo a passo os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s, de mo<strong>do</strong> aque possa ir definin<strong>do</strong> as medidas de controle imediatas, as atividades para dar continuidadeà investigação em cada momento e as alterações das medidas a<strong>do</strong>tadas de acor<strong>do</strong> com aevolução <strong>do</strong> evento e da investigação.A consolidação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, consideran<strong>do</strong> as características de pessoa, tempo e, principalmente,de área geográfica, permitirá uma caracterização detalhada <strong>do</strong> episódio para avaliaçãoda necessidade de extensão das medidas de prevenção em curto e médio prazos.6FSecretaria de Vigilância em Saúde / MS317


Febre AmarelaEncerramento de casoAs fichas de investigação epidemiológica, de cada caso, devem ser analisadas visan<strong>do</strong>definir qual o critério utiliza<strong>do</strong> para o diagnóstico, consideran<strong>do</strong> as seguintes alternativas:Confirma<strong>do</strong> por critério clínico-laboratorial (isolamento viral, sorologia e histopatologia)– o isolamento ou lau<strong>do</strong> histopatológico positivo sela o caso como confir ma<strong>do</strong>.Os testes sorológicos devem ser interpreta<strong>do</strong>s consideran<strong>do</strong>-se positivo IgM em qualquertitulação, ou elevação de no mínimo quatro vezes os títulos de anticorpos IgG;Confirma<strong>do</strong> por critério clínico-epidemiológico – verificar se existe vínculoepidemio lógico entre o caso suspeito e outros casos confirma<strong>do</strong>s, o que sela o diagnósticode febre amarela;Óbitos – também serão considera<strong>do</strong>s confirma<strong>do</strong>s os óbitos de pacientes que apresentaremmanifestações clínicas de febre amarela, procedentes de área endêmica e onde hácomprovação laboratorial de circulação viral;Caso descarta<strong>do</strong> – caso notifica<strong>do</strong> mas cujos resulta<strong>do</strong>s de exames laboratoriais, adequadamentecoleta<strong>do</strong>s e transporta<strong>do</strong>s, foram negativos ou tiveram como diagnóstico outra<strong>do</strong>ença.Observar se to<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s necessários ao encerramento <strong>do</strong>s casos e <strong>do</strong> evento (epidemiaou caso isola<strong>do</strong>) foram coleta<strong>do</strong>s durante a investigação, deven<strong>do</strong> estar criteriosamenteregistra<strong>do</strong>s e analisa<strong>do</strong>s. O prazo máximo para encerramento de caso é de sessenta dias.Relatório finalOs da<strong>do</strong>s da investigação deverão ser sumariza<strong>do</strong>s em um rela tório com as principaisconclusões, das quais destacam-se:• se o caso foi decorrente de falhas de vacinação, principalmente de baixa coberturavacinal na área, ou conservação inadequada da vacina, o que impõe a a<strong>do</strong>ção demedidas de aprimoramento <strong>do</strong>s serviços de saúde no território;• se o indivíduo foi infecta<strong>do</strong> acidentalmente, por ser turista ou um novo habitanteda área, e se não tinha conhecimento de que deveria ser vacina<strong>do</strong> 10 dias antes <strong>do</strong>deslocamento para a área endêmica;• se a área era considerada indene e/ou que medidas especiais de vacinação para aproteção de todas as populações sob risco foram e ainda devem ser a<strong>do</strong>tadas e/ouestendidas;• descrição das situações em que houve proximidade da área de circulação viral comcentros urbanos infesta<strong>do</strong>s pelo Aedes aegypti, ou se os pacientes foram desloca<strong>do</strong>spara hospitais situa<strong>do</strong>s nestes centros, quais as medidas a<strong>do</strong>tadas para evitar atransmissão e se foi da<strong>do</strong> o alerta <strong>do</strong> risco de urbanização às autoridades estaduais enacionais. Lembrar que nas atuais condições de infestação <strong>do</strong> país pelo Aedes aegyptipodem ser indicadas amplas campanhas vacinais emergenciais, nestas situações.A atual situação epidemiológica da febre amarela no Brasil exige uma vigilância ativade casos visan<strong>do</strong> identificar precocemente qualquer suspeita de urbanização. Toda suspeitada <strong>do</strong>ença impõe uma investigação bastante criteriosa, para que se possa confirmar ou não318 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre Amarelase houve transmissão urbana, pois falhas na coleta de informações podem levar a falsasconclusões.Admite-se que houve ocorrência de transmissão urbana quan<strong>do</strong> o caso preencher umou os <strong>do</strong>is critérios abaixo:• confirmação de caso de febre amarela em ambiente urbano infesta<strong>do</strong> com Aedesaegypti, em indivíduo que não reside nem se deslocou para ambiente silvestre;• evidência de que no centro urbano houve permanência de indivíduos comdiagnós tico de febre amarela silvestre, com aparecimento de novos casos.Caso algum desses critérios seja preenchi<strong>do</strong>, alertar os dirigentes <strong>do</strong> nível nacional <strong>do</strong>Sistema Único de Saúde.Instrumentos disponíveis para controleImunizaçãoA vacina contra febre amarela produzida no Brasil desde 1937, pelo Instituto de Tecnologiaem Imunobiológicos Bio-Manguinhos, é da cepa 17DD, sen<strong>do</strong> constituída por vírusvivos atenua<strong>do</strong>s deriva<strong>do</strong>s de uma amostra africana <strong>do</strong> vírus amarílico selvagem denominadaAsibi.A conservação da vacina é de vital importância para a manutenção de sua qualidadeimunogênica. Deverá obedecer rigorosamente as seguintes regras:• na instância central ou regional deverá ser conservada a –20°C em freezer ou câmarafria negativa;• na sala de vacinação a conservação é feita em geladeira, com temperatura que variaentre +2°C a +8°C;• a vacina reconstituída deve ser mantida em temperatura de +2°C a +8°C, preferencialmentea +2°C. Após a diluição, deverá ser utilizada em até quatro horas. O diluentedeverá estar na mesma temperatura da vacina e coloca<strong>do</strong> na geladeira nomínimo 6 horas ou um dia antes de ser utiliza<strong>do</strong>;• a faixa etária inicial é a partir de 9 meses, sem limite de idade. Em situações de epidemiasrecomenda-se a vacinação a partir de 6 meses, por via subcutânea, em <strong>do</strong>seúnica de 0,5ml e reforço de 10 em 10 anos.6FEventos adversos – os eventos adversos mais comuns são mal-estar, cefaléia, <strong>do</strong>resmusculares e febre baixa, o que ocorre em 2% a 5% <strong>do</strong>s vacina<strong>do</strong>s, por volta <strong>do</strong> 5° ao 10ºdia. Estas reações duram de 1 a 2 dias. Foram descritos raros casos de encefalite pós-vacinal,geralmente em menores de 6 meses. Reações de hipersensibilidade imediata como erupção,urticária, angiodema e choque anafilático podem ocorrer de 30 minutos até 2 horas após aadministração <strong>do</strong> imunobiológico, porém são incomuns (incidência


Febre Amarelahá o registro de 4 casos e 3 óbitos ocorri<strong>do</strong>s em 1996 e 1998. No Brasil, foram notifica<strong>do</strong>s4 casos com 4 óbitos no perío<strong>do</strong> de 1999 a 2003. O pequeno número de casos avalia<strong>do</strong>s ea ampla utilização desta vacina no mun<strong>do</strong>, associa<strong>do</strong>s aos da<strong>do</strong>s de estu<strong>do</strong>s destes casos,apontam para uma predisposição individual ainda não conhecida, muito difícil de ser identificadapreviamente ao uso da vacina.Imunidade – os anticorpos protetores aparecem entre o sétimo e décimo dia após aaplicação, razão pela qual a imunização deve ocorrer dez dias antes de se ingressar em áreade transmissão. Uma só <strong>do</strong>se confere imunidade no perío<strong>do</strong> mínimo de dez anos.Contra-indicação – para criança menores de 6 meses de idade; pessoas com históriade reação anafilática após ingestão de ovo e seus deriva<strong>do</strong>s; indivíduos com <strong>do</strong>ença infecciosaaguda em esta<strong>do</strong> febril (acima de 38,5°); porta<strong>do</strong>res de imunodeficiência congênita ouadquirida, neoplasia maligna e pacientes sintomáticos infecta<strong>do</strong>s pelo vírus HIV; pacientesem terapêutica imunodepressora (quimioterapia, radioterapia), uso de corticóide em <strong>do</strong>seselevadas, esta<strong>do</strong>s de imunodepressão ou adiamento de <strong>do</strong>is anos após transplante de medulaóssea.Gestação – não é recomendada a administração da vacina em gestantes, exceto emsitua ções de emergência epidemiólogica, vigência de surtos ou epidemias ou viagem paraárea de risco.Observações: a administração da vacina poderá ser feita simultânea com outras vacinasvivas ou com intervalo mínimo de duas semanas para aplicação. Não são contra-indicadasvacinação recente contra poliomielite, exposição recente ao sarampo ou rubéola ealergia que não tenha si<strong>do</strong> de natureza anafilática.Recomendações para a vacinação – a vacina contra a febre amarela objetiva conferirproteção individual e coletiva, bloquean<strong>do</strong> a propagação geográfica da <strong>do</strong>ença, na prevençãode epidemias.Deverá estar disponível de forma permanente nos serviços de saúde da rede pública.A partir de 2004, foi instituída no calendário de vacinação da criança, <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente e <strong>do</strong>i<strong>do</strong>so, de acor<strong>do</strong> com a Portaria MS nº 597, de 8/4/04.É recomendada para toda a população a partir <strong>do</strong>s 9 meses de idade, tanto as residentesnas áreas de risco de transmissão quanto as que eventualmente se exponham ao riscode a<strong>do</strong>ecer de febre amarela (motoristas, agricultores, turistas, caminhoneiros, pesca<strong>do</strong>res,caça<strong>do</strong>res, garimpeiros).Na área indene, a vacinação também se inicia a partir <strong>do</strong>s 9 meses de idade e deve serdirecionada à população que se dirige esporadicamente e/ou freqüentemente às áreas derisco. A vacina deve ser aplicada, no mínimo, 10 dias antes <strong>do</strong> deslocamento.Estratégias recomendadas pelo PNI/MS para o alcance da cobertura de 100% de formahomogênea: vacinação de rotina nas unidades de saúde; vacinação por equipes móveis naszonas urbana e rural; utilizar as campanhas de multivacinação e, diante de risco de febreamarela urbana, desencadear campanha de vacinação em massa e ações emergenciais decombate ao Aedes aegypti. Na zona rural, realizar a vacinação casa a casa e monitoramentorápi<strong>do</strong> de cobertura.320 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre AmarelaA vacinação de bloqueio é realizada diante de um caso humano suspeito, de epizootiasou de confirmação da circulação viral em vetores silvestres, numa área de abrangência de30 km ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> caso.Controle vetorialEvitar o acesso de mosquitos transmissores urbanos ou silvestres ao <strong>do</strong>ente mediantetelagem <strong>do</strong> seu local de permanência, pois pode se constituir em fonte de infecção.A<strong>do</strong>tar ações emergenciais de eliminação <strong>do</strong> Aedes aegypti, principalmente no ambienteonde os casos estão interna<strong>do</strong>s. Fortalecer as ações de combate vetorial nos municípiossitua<strong>do</strong>s próximos às áreas de transmissão, visan<strong>do</strong> reduzir os índices de infestação parazero.Ações de educação em saúdeAs populações devem ser informadas quanto ao risco da ocorrência de febre amarelamediante técnicas pedagógicas disponíveis e meios de comunicação de massa, alertan<strong>do</strong>quanto à importância de vacinar crianças e adultos. Devem ser implementadas estratégiasespeciais para conscientizar os indivíduos que se deslocam para áreas de risco quanto àimportância da imunização prévia (10 dias antes).6Estratégias de prevenção da reurbanização da febre amarela• Estabelecimento de imunidade coletiva em áreas infestadas por Aedes aegypti.• Proteção individual das pessoas que vivem ou adentram áreas enzoóticas ou epizoóticas.• Eliminação <strong>do</strong> Aedes aegypti em cada território ou manutenção de índices de infestaçãomuito próximos de zero (vide capítulo de dengue).• Isolamento de casos suspeitos durante o perío<strong>do</strong> de viremia em áreas infestadas peloAedes aegypti.• Identificação precoce de casos para pronta intervenção da vigilância epidemiológica.• Vigilância laboratorial das enfermidades que fazem diagnóstico diferencial com febreamarela.• Vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras: exigência <strong>do</strong> certifica<strong>do</strong> internacionalde vacina, com menos de dez anos da última <strong>do</strong>se aplicada para viajantesprocedentes de países ou área endêmica de febre amarela.FSecretaria de Vigilância em Saúde / MS321


Febre AmarelaAnexo 1Normas para procedimentos laboratoriaisO diagnóstico específico de cada paciente com suspeita de febre amarela é da maiorimportância para a vigilância epidemiológica, tanto em casos isola<strong>do</strong>s quanto em situaçõesde surtos, muito embora após a confirmação laboratorial de alguns casos em determinadaárea possa se proceder a confirmação pelo critério clínico-epidemiológico, de acor<strong>do</strong> comas orientações <strong>do</strong> tópico Definição de caso. A seguir, descreve-se os exames laboratoriaisdisponíveis, sua interpretação e as normas de coleta <strong>do</strong>s espécimes.Isolamento e identificação viral – realiza<strong>do</strong> através de inoculação <strong>do</strong> material <strong>do</strong>paciente e/ou animal (sangue, deriva<strong>do</strong>s ou teci<strong>do</strong>s infecta<strong>do</strong>) em camun<strong>do</strong>ngos recémnasci<strong>do</strong>s,mosquitos ou cultivos celulares. Uma vez isola<strong>do</strong>, o vírus é identifica <strong>do</strong> através<strong>do</strong>s testes de fixação de complemento e de imunofluorescência indireta.Detecção de antígenos virais e/ou áci<strong>do</strong>s nucléicos virais – realiza<strong>do</strong> através de imunofluorescência,imunohistoquímica, hibridização “in situ” e reação em cadeia da polimerasecom transcrição reversa (RT-PCR), seguida de sequenciamento nucleotídico, sen<strong>do</strong>usa<strong>do</strong>s para identificação da amostra viral isolada <strong>do</strong>s espécimes clínicos e de lotes de mosquitos.Estes testes são utiliza<strong>do</strong>s com freqüência e na maioria das vezes selam o diagnósticoem situações em que não é possível fazê-lo pelas técnicas habituais.Diagnóstico histopatológico – realiza<strong>do</strong> a partir de coleta de material post-mortem.As lesões anatomopatológicas podem ser encontradas no fíga<strong>do</strong>, rins, baço, coração e linfono<strong>do</strong>s.As maiores alterações encontram-se no fíga<strong>do</strong> e rins.Testes sorológicos – são complementares ao isolamento <strong>do</strong> vírus e utiliza<strong>do</strong>s comoalternativas ao diagnóstico:• MAC-Elisa – é bastante sensível e detecta anticorpos específicos da classe IgM. Estesanticorpos desenvolvem-se rapidamente a partir <strong>do</strong> 5º dia da infecção e geralmentepode persistir por 60 a 90 dias após o início da <strong>do</strong>ença. Em área sem flavivírus, esteexame, quan<strong>do</strong> positivo, é indicativo de FA. É o teste de eleição para triagem decasos, por ser sensível e dispensar coleta de duas amostras. Deve-se ressaltar quea vacina contra a febre amarela também induz a formação de anticorpos IgM. Porisso, é importante a informação sobre o esta<strong>do</strong> vacinal <strong>do</strong> paciente, inclusive a datada última <strong>do</strong>se de vacina recebida;• Inibição da hemaglutinação (IH) – apesar de pouco específico, é ideal para estu<strong>do</strong>ssoroepidemiológicos pois detecta anticorpos da classe IgG e IgM, que aparecemna primeira semana após o início da <strong>do</strong>ença e persistem por longo tempo(provavelmente toda a vida). A limitação deste teste deve-se à necessidade de obter322 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre Amareladuas amostras de sangue, coletadas com intervalo de 15 dias. Pode ocorrer reaçõescruzadas com outros flavivírus, dificultan<strong>do</strong> a interpretação. A IH não é boa paraavaliar resposta à vacina e é frequentemente negativa em pessoas que demonstramsoroconversão pelo teste de neutralização;• Fixação de complemento (FC) – menos sensível, mais específico que a IH, porémsó detecta os anticorpos tardios (produzi<strong>do</strong>s a partir da 2ª semana após o início da<strong>do</strong>ença) e declinam após 6 a 12 meses após a infecção, poden<strong>do</strong> persistir em títulosmodera<strong>do</strong>s, por perío<strong>do</strong>s mais prolonga<strong>do</strong>s (pelo menos <strong>do</strong>is anos);• Neutralização (TN) – é o mais específico, detecta anticorpos que aparecem precocemente(1ª semana) e permanecem por muitos anos (provavelmente toda a vida).O resulta<strong>do</strong> deste teste é sugestivo para FA ao demonstrar a presença de anticorposnos soros iniciais ou aumento <strong>do</strong> título de anticorpos específicos em pares de sorosobti<strong>do</strong>s na fase aguda da <strong>do</strong>ença e na de convalescença. Os anticorpos neutralizantessão protetores e se caracterizam pela capacidade de reduzir ou eliminar a infectividade<strong>do</strong> vírus. As técnicas usadas para detecção <strong>do</strong>s anticorpos neutralizantes incluemo PRNT (Plaque Reduction Neutralization Test), o teste de neutralização por reduçãoem placa de lise em cultura celular e o teste de proteção de camun<strong>do</strong>ngos. Atualmente,o PRNT é a técnica padrão para avaliação de resposta à vacina antiamarílica.Nos três últimos testes, o diagnóstico está relaciona<strong>do</strong> ao aumento de quatro vezes oumais no título de anticorpos específicos, entre amostras de soro colhidas nas fases aguda ede convalescença da enfermidade. As amostras devem ser analisadas simultaneamente secoletadas com intervalo de 14 a 21 dias.6FObservações:• Os fragmentos de teci<strong>do</strong>s de um mesmo paciente para exames anatomopatológicospodem ser acondiciona<strong>do</strong>s em um único frasco.• To<strong>do</strong> o material deverá ser envia<strong>do</strong> devidamente identifica<strong>do</strong> e acompanha<strong>do</strong> de cópiada ficha de investigação epidemiológica, que servirá para orientar os técnicos <strong>do</strong>laboratório quanto aos exames indica<strong>do</strong>s, de acor<strong>do</strong> com o perío<strong>do</strong> que antecedeu asuspeita da infecção.• A informação sobre história vacinal <strong>do</strong>s casos suspeitos é muito importante parasubsidiar a análise adequada <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s de testes sorológicos.• Não coletar teci<strong>do</strong>s para exame histopatológico em pacientes vivos, devi<strong>do</strong> ao riscode sangramento.• Lembrar que o perfeito acondicionamento das amostras para remessa é de fundamentalimportância para o êxito <strong>do</strong>s procedimentos laboratoriais.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS323


Febre AmarelaColeta e conservação de material para diagnóstico de febre amarelaTipo dediagnósticoTipo de materialQuantidadeNº deamostrasPerío<strong>do</strong>da coletaRecipienteArmazenamento/conservaçãoTransporteIsolamentoviralSangueObtençãoda amostra:punção venosaou punção intracardíaca(óbito)Crianças:2-5mlAdulto:10ml11 o -5 o diada <strong>do</strong>ençaTubo estérilde plásticocom tampade roscacom vácuo-70 o Cno freezer ou nitrogêniolíqui<strong>do</strong>Nitrogêniolíqui<strong>do</strong> ougelo secoe menosde 24 horasapós a coletaIsolamentoviralTeci<strong>do</strong> (fíga<strong>do</strong>s,rins, coração,baço, linfono<strong>do</strong>s,cérebro)Obtençãoda amostra:necropsia ouviscerotomia ouusan<strong>do</strong> agulhade biópsiaFragmentode 1cm1Logo apóso óbito.Menos de12 horas,máximo de24 horasFrascoestéril deplástico ouvidro comtampa derosca-70 o Cno freezerou nitrogêniolíqui<strong>do</strong>Nitrogêniolíqui<strong>do</strong> ougelo seco emenos de24 horasapós a coletaSorológicoSangueObtenção daamostra: punçãovenosa ou punçãointracardíaca(óbito)Crianças:2-5mlAdulto:10ml1S1 = após o5 o dia da<strong>do</strong>ençaS2 = 14-21dias após S1S = amostraúnica apóso 5 o dia da<strong>do</strong>ençaTubo estérilde plásticoou vidrocom tampade roscacom vácuo-20 o Cno freezerGeloxou geloHistopatologiaou imunohistoquímicoou técnicasmolecularesTeci<strong>do</strong> (fíga<strong>do</strong>s,rins, coração,baço, linfono<strong>do</strong>s,cérebro)Obtençãoda amostra:necropsia ouviscerotomia ouusan<strong>do</strong> agulhade biópsia- AmostraLogo apóso óbito oumenos deoito horas,máximo de12 horasFrascoestéril deplástico ouvidro comtampa deroscaTemperaturaambiente, emformalina tamponadaa 10%Temperaturaambiente eaté 24 horas324 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre <strong>do</strong> Nilo OcidentalFEBRE DO NILO OCIDENTALCID 10: A92.3Aspectos clínicos e epidemiológicosDescriçãoInfecção viral que pode transcorrer de forma subclínica ou com sintomatologia dedistintos graus de gravidade, que variam desde uma febre passageira a uma encefalite grave.A <strong>do</strong>ença se manifesta de forma mais severa em adultos com idade acima de 50 anos.Agente etiológicoO vírus da febre <strong>do</strong> Nilo Ocidental pertence ao gênero Flavivirus da família Flaviviridae,comumente encontra<strong>do</strong> na África, Ásia Ocidental e Oriente Médio e, mais recentemente,na Europa e América <strong>do</strong> Norte e Central. Faz parte <strong>do</strong> complexo da família dasencefalites japonesas, como St.Louis, Rocio, Murray e Valley, Ilhéus.6ReservatórioO vírus pode infectar humanos, aves, cavalos e outros mamíferos. Seu principal reservatórioe amplifica<strong>do</strong>r são algumas espécies de aves. Somente elas estão em condições deatuar como reservatório, já que têm uma viremia alta e prolongada, servin<strong>do</strong>, assim, comofonte de infecção para os vetores.FVetoresA competência vetorial está diretamente ligada à abundância <strong>do</strong> vetor no local, alémda prática da antropofilia e ornitofilia.O principal gênero de mosquito identifica<strong>do</strong> como vetor <strong>do</strong> vírus da febre <strong>do</strong> Nilo Ocidentalé o Culex. Entretanto, outras espécies de mosquitos já foram encontradas infectadascom o vírus. Das espécies infectadas, o Culex pipiens parece ser a mais importante nos Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s. Neste gênero, algumas espécies sobrevivem ao inverno, o que permite manter atransmissão mesmo em baixas temperaturas. No Brasil, a espécie que mais se assemelha aoCulex pipiens é o Culex quiquefasciatus. Além disso, o Aedes albopictus, espécie amplamentedistribuída em nosso país, também é considerada vetor potencial, além <strong>do</strong> Anopheles.Mo<strong>do</strong> de transmissãoO vírus <strong>do</strong> Nilo Ocidental pode ser transmiti<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> um mosquito infecta<strong>do</strong> picaum humano ou animal para se alimentar. Os mosquitos se infectam quan<strong>do</strong> fazem o repastoem aves infectadas, as quais podem circular o vírus em seu sangue por alguns dias.O vírus se replica no intestino <strong>do</strong>s insetos, sen<strong>do</strong> armazena<strong>do</strong> nas glândulas salivares <strong>do</strong>smesmos. Além disso, a transmissão pode ocorrer, mais raramente, através da transfusãosangüínea ou transplante de órgãos, além <strong>do</strong> aleitamento materno. Não há evidências deque a gestação esteja sob algum risco.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS325


Febre <strong>do</strong> Nilo OcidentalNão ocorre transmissão de pessoa para pessoa.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoVaria de 3 a 14 dias.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeNas aves, varia de 3 a 7 dias.Susceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade varia entre as espécies. Aves e mamíferos são as espécies mais acometidaspela <strong>do</strong>ença. No ser humano, indivíduos com idade superior a 50 anos têm apresenta<strong>do</strong>quadro mais grave da <strong>do</strong>ença. Outras espécies de animais, como répteis e roe<strong>do</strong>res,podem se infectar com o vírus.ImunidadeA <strong>do</strong>ença pode conferir imunidade dura<strong>do</strong>ura.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasAs infecções pelo vírus <strong>do</strong> Nilo Ocidental normalmente geram uma infecção clinicamenteinaparente, sen<strong>do</strong> que 20% <strong>do</strong>s casos desenvolvem uma <strong>do</strong>ença leve (febre <strong>do</strong> NiloOcidental). Os primeiros sinais e/ou sintomas da forma leve da <strong>do</strong>ença são: <strong>do</strong>ença febril deinício abrupto, freqüentemente acompanhada de mal-estar, anorexia, náusea, vômito, <strong>do</strong>rnos olhos, <strong>do</strong>r de cabeça, mialgia, exantema máculo-papular e linfoadenopatia.Aproximadamente, uma em cada 150 infecções resulta em <strong>do</strong>ença neurológica severa(encefalite <strong>do</strong> Nilo Ocidental), cujo maior fator de risco é a idade avançada. A encefalite émais comumente relatada <strong>do</strong> que a meningite e apresenta-se com febre, fraqueza, sintomasgastrointestinais e alteração no “padrão mental”. Podem apresentar exantema máculo-papularou morbiliforme envolven<strong>do</strong> pescoço, tronco, braços e pernas, segui<strong>do</strong> de fraquezamuscular severa e paralisia flácida. São incluídas as apresentações neurológicas como ataxiae sinais extrapiramidais, anormalidades <strong>do</strong>s nervos cranianos, mielite, neurite ótica, polirradiculitee convulsão. Existe descrição de miocardite, pancreatite e hepatite fulminante.Diagnóstico diferencialDengue, leptospirose, febre maculosa, meningites e outras encefalites.Diagnóstico laboratorialO teste diagnóstico mais eficiente é a detecção de anticorpos IgM para o vírus <strong>do</strong> NiloOcidental em soro ou líqui<strong>do</strong> cefalorraquideano (LCR) coleta<strong>do</strong> até o oitavo dia <strong>do</strong> início326 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre <strong>do</strong> Nilo Ocidentalda <strong>do</strong>ença, utilizan<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> de captura de anticorpos IgM (EIA). Pacientes recentementevacina<strong>do</strong>s ou infecta<strong>do</strong>s com outro Flavivírus (ex: febre amarela, dengue, encefalitejaponesa) podem apresentar resulta<strong>do</strong> de IgM-EIA positivo.Outras provas, como a hemaglutinação, PCR e isolamento <strong>do</strong> vírus, também são comumenteusadas.Outros acha<strong>do</strong>s importantesEntre pacientes <strong>do</strong>s recentes surtos, observou-se que:• pode ocorrer anemia;• a contagem de leucócitos apresenta-se geralmente normal ou com linfocitopenia;• o exame <strong>do</strong> LCR mostra pleocitose linfocítica com proteínas elevadas e glicose normal;• a tomografia computa<strong>do</strong>rizada <strong>do</strong> cérebro apresenta-se normal e em um terço <strong>do</strong>spacientes a imagem por ressonância magnética apresenta aumento das leptomeningese/ou da área periventricular.6TratamentoO tratamento é de suporte, freqüentemente envolven<strong>do</strong> hospitalização, flui<strong>do</strong> intravenoso,suporte respiratório e prevenção de infecção secundária para os pacientes com a<strong>do</strong>ença em sua forma severa.Aspectos epidemiológicosFA infecção cerebral denominada febre <strong>do</strong> Nilo Ocidental foi identificada pela primeiravez na Uganda, em 1937. Na década de 50, verificou-se em Israel a primeira epidemia,sen<strong>do</strong> reconhecida como o vírus <strong>do</strong> Nilo Ocidental, causa<strong>do</strong>r de uma meningoencefalite severa.Subseqüentemente, sua presença foi novamente identificada em Israel, bem como naÍndia, Egito e outros países da África. Em 1974, ocorreu na África <strong>do</strong> Sul a maior epidemiaconhecida causada por este agente. Na década de 90, ocorreram surtos nos seguintes países:Argélia (1994), Romênia (1996-1997), República Checa (1997), República Democrática <strong>do</strong>Congo (1998), Rússia (1999) e Israel (2000). Nos EUA, a <strong>do</strong>ença vem ocorren<strong>do</strong> desde 1999e em 2002 foram registra<strong>do</strong>s 4.156 casos, com 284 óbitos; em 2003, ocorreram 9.862 casos,com 264 óbitos, sen<strong>do</strong> o vírus isola<strong>do</strong> em 40 esta<strong>do</strong>s e no Distrito de Columbia; e em 2004ocorreram 2.539 casos, com 100 óbitos. No Canadá, em 2002 (até novembro), ocorreram75 casos e 2 óbitos.Vigilância epidemiológicaEm situações onde se desconhece a atividade <strong>do</strong> vírus da febre <strong>do</strong> Nilo Ocidental,deve-se implementar um sistema de vigilância para casos de encefalites de etiologia desco-Secretaria de Vigilância em Saúde / MS327


Febre <strong>do</strong> Nilo Ocidentalnhecida, tanto em humanos como em aves e mamíferos.A vigilância deve ser realizada de forma a detectar o mais precocemente possível a circulaçãoviral na área, evitar a ocorrência da infecção em áreas livres e prevenir a circulaçãoem humanos. Assim, a estruturação deve obedecer os seguintes tipos de vigilância:Vigilância em aves• O aparecimento de aves mortas, sem etiologia definida, é fator de alerta para a vigilância.• Implantação de pontos sentinelas de vigilância de aves mortas em zoológicos, parquese praças.• Realização de inquéritos sorológicos em aves residentes e migratórias, para tentativade isolamento viral.Vigilância entomológica• Inquéritos entomológicos em áreas em que ocorrem mortes de aves, objetivan<strong>do</strong> omonitoramento das espécies presentes na área e a determinação <strong>do</strong> índice de infestaçãopara a tomada de decisão.• Tentativa de isolamento viral em mosquitos.Vigilância em cavalosEnvio de amostras de cérebros de eqüinos que vierem a óbito com suspeita de raiva etiveram diagnóstico laboratorial negativo.Nota: este material deve ser encaminha<strong>do</strong> para diagnóstico das encefalites eqüinas <strong>do</strong>Leste, Oeste e Venezuelana, além da febre <strong>do</strong> Nilo Ocidental.Vigilância em humanosRealização <strong>do</strong> diagnóstico diferencial com as meningites virais, utilizan<strong>do</strong> como critériode inclusão pessoas adultas com idade acima de 50 anos.Vigilância sentinela• A utilização de animais como sentinelas tem si<strong>do</strong> prática utilizada em áreas onde játenha si<strong>do</strong> detectada a circulação viral.• Aves <strong>do</strong>mésticas (galinhas), sorologicamente negativas, devem ser introduzidas naárea e, periodicamente, realiza<strong>do</strong>s testes para averiguação de positividade nestesanimais.Definição de casoDefine-se caso suspeito como sen<strong>do</strong> qualquer pessoa com sintomas clínicos, comofebre e manifestações neurológicas graves (de meningite a encefalite) de etiologia desconhecida.328 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre <strong>do</strong> Nilo OcidentalDefine-se caso provável como sen<strong>do</strong> um caso suspeito que preenche um ou mais <strong>do</strong>sseguintes critérios:• demonstração de anticorpos IgM no soro contra o vírus <strong>do</strong> Nilo Ocidental, no ensaioimunoenzimático Elisa;• demonstração de eleva<strong>do</strong> título de anticorpos IgG específicos para o vírus <strong>do</strong> NiloOcidental em soro da fase de convalescência (triagem por Elisa ou inibição de hemoaglutinaçãoe confirmação pelo teste de PRNT).Define-se caso confirma<strong>do</strong> como um caso provável que preenche um ou mais <strong>do</strong>sseguintes critérios:• isolamento <strong>do</strong> vírus <strong>do</strong> Nilo Ocidental ou demonstração <strong>do</strong> antígeno viral ou seqüênciasgenômicas <strong>do</strong> vírus <strong>do</strong> Nilo Ocidental em teci<strong>do</strong>s, soro, líqui<strong>do</strong> cefalorraquidianoe outras secreções orgânicas;• demonstração de soroconversão (aumento de quatro vezes ou mais no título de anticorpos)<strong>do</strong> vírus <strong>do</strong> Nilo Ocidental no teste de PRNT em amostras séricas ou pareadasde líqui<strong>do</strong> cefalorraquidiano (fase aguda ou de convalescência);• demonstração de anticorpos IgM para o vírus <strong>do</strong> Nilo Ocidental em amostra <strong>do</strong>líqui<strong>do</strong> cefalorraquidiano na fase aguda por MAC-Elisa.6A detecção de anticorpos IgM específicos para o vírus <strong>do</strong> Nilo Ocidental e/ou anticorposIgG (por Elisa) em uma única amostra sérica ou de líqui<strong>do</strong> cefalorraquidiano deve serconfirmada por uma das outras técnicas precedentes.FMedidas de controleComo proteção individual, recomenda-se o uso de repelentes e evitar exposição aosvetores, principalmente ao amanhecer e entardecer. Uso de telas em janelas e portas podemser recomendadas. Ênfase deve ser dada ao controle integra<strong>do</strong> <strong>do</strong>s vetores, visan<strong>do</strong> ao controlelarvário, o que inclui:• redução <strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>uros: eliminar to<strong>do</strong>s os recipientes descartáveis que possam acumularágua. Atenção especial deve ser dada aos pneus;• manejo ambiental: alterações no meio ambiente que reduzam os cria<strong>do</strong>uros potenciaisde Aedes e de Culex;.• melhoria de saneamento básico: mosquitos <strong>do</strong> gênero Culex criam-se em fossas eremansos de rios ou lagoas poluídas;• controle químico e biológico <strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>uros que não possam ser descarta<strong>do</strong>s. Ocontrole químico de mosquitos adultos deve ser reserva<strong>do</strong> para as situações de surto,com objetivo de bloqueio da transmissão.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS329


Febre Maculosa BrasileiraFEBRE MACULOSA BRASILEIRACID 10: A77.0Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoA febre maculosa brasileira (FMB) é uma <strong>do</strong>ença infecciosa febril aguda, de gravidadevariável, poden<strong>do</strong> cursar desde formas assintomáticas até formas graves, com elevada taxade letalidade. É causada por uma bactéria <strong>do</strong> gênero Rickttesia (R. rickettsii), transmitidapor carrapatos, caracterizan<strong>do</strong>-se por ter início brusco, com febre elevada, cefaléia e/oumialgia intensa e/ou prostração, seguida de exantema máculo-papular pre<strong>do</strong>minantementenas regiões palmar e plantar, que pode evoluir para petéquias, equimoses e hemorragias.Pacientes não trata<strong>do</strong>s precocemente podem evoluir para formas graves e, destes, cerca de80% evoluem para óbito.Agente etiológicoRickettsia rickettsii, bactéria gram-negativa intracelular obrigatória.ReservatórioNo Brasil, o principal reservatório da Rickettsia rickettsii é o carrapato da espécie Amblyommacajennense. Entretanto, qualquer espécie de carrapato pode ser potencialmentereservatório, como ocorre com o Haemaphysalis leporis-palustris (carrapato <strong>do</strong> coelho) e oAmblyomma cooperi, possível transmissor da <strong>do</strong>ença para os cães.A participação <strong>do</strong>s eqüídeos no ciclo de transmissão é discutível, haven<strong>do</strong> evidênciasde que além de transporta<strong>do</strong>res de carrapatos potencialmente infecta<strong>do</strong>s podem atuarcomo sentinelas, semelhantemente ao cão. Supõe-se que a capivara (Hydrochaeris capibara)poderia também estar envolvida neste ciclo, mas é importante ressaltar que não existemestu<strong>do</strong>s que comprovem ser este roe<strong>do</strong>r um reservatório silvestre de Rickettsia. Um <strong>do</strong>sfatores que poderiam justificar sua importância na ecologia e epidemiologia da <strong>do</strong>ençaseria a sua grande área corporal, que viabilizaria a alimentação de centenas/milhares deixodídeos.VetoresNo Brasil, os carrapatos da espécie Amblyomma cajennense são os principais vetoresda R. rickettsii causa<strong>do</strong>ra da febre maculosa brasileira. São popularmente conheci<strong>do</strong>s como“carrapato-estrela”, “carrapato-de-cavalo” ou “ro<strong>do</strong>leiro”; suas ninfas (estádio entre a faselarvar e a adulta), por “vermelhinhos”; e as larvas, por “carrapatinhos” ou “micuins”.330 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre Maculosa BrasileiraMo<strong>do</strong> de transmissãoA febre maculosa brasileira é geralmente adquirida pela picada de carrapato infecta<strong>do</strong>e a transmissão ocorre se o artrópode permanecer aderi<strong>do</strong> ao hospedeiro por, no mínimo,4-6 horas. A <strong>do</strong>ença não se transmite de pessoa a pessoa.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoDe 2 a 14 dias.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeOs carrapatos permanecem infecta<strong>do</strong>s durante toda a vida, em geral 18 meses. A partirde um carrapato infecta<strong>do</strong>, outros podem tornar-se infecta<strong>do</strong>s, através de transmissãovertical (transovariana), transmissão estádio-estádio (transestadial) ou transmissão atravésda cópula, além da possibilidade de alimentação simultânea de carrapatos infecta<strong>do</strong>s comnão-infecta<strong>do</strong>s em animais com suficiente rickettsemia.6Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasA <strong>do</strong>ença pode ser de difícil diagnóstico, sobretu<strong>do</strong> em sua fase inicial, mesmo entreprofissionais bastante experientes. Por ser <strong>do</strong>ença multissistêmica, a febre maculosa podeapresentar um curso clínico variável, desde quadros clássicos a formas atípicas sem exantema.O início geralmente é abrupto e os sintomas são inicialmente inespecíficos, incluin<strong>do</strong> febre(em geral elevada), cefaléia, mialgia intensa, mal-estar generaliza<strong>do</strong>, náuseas e vômitos.Em geral, entre o segun<strong>do</strong> e o sexto dia da <strong>do</strong>ença surge o exantema máculo-papular,de evolução centrípeta pre<strong>do</strong>minan<strong>do</strong> nos membros inferiores, poden<strong>do</strong> acometer regiãopalmar e plantar em 50% a 80% <strong>do</strong>s pacientes. Embora seja o sinal clínico mais importante,o exantema pode estar ausente, o que pode dificultar e retardar o diagnóstico e tratamento,determinan<strong>do</strong>, assim, maior número de óbitos. Nos casos graves, o exantema vai se transforman<strong>do</strong>em petequial e, posteriormente, em hemorrágico, constituí<strong>do</strong> principalmentepor equimoses ou sufusões. No paciente não trata<strong>do</strong>, as equimoses tendem à confluência,poden<strong>do</strong> evoluir para necrose, principalmente nos lóbulos das orelhas, escroto e extremidades.Nos casos graves é comum a presença de:• edema de membros inferiores;• hepatoesplenomegalia;• diarréia e <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal;• manifestações renais com azotemia pré-renal caracterizada por oligúria e insuficiênciarenal aguda;• manifestações gastrointestinais como náusea, vômito, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal e diarréia;• manifestação pulmonar com tosse, edema pulmonar e alterações radiológicas incluin<strong>do</strong>infiltra<strong>do</strong> alveolar, pneumonia intersticial e derrame pleural;FSecretaria de Vigilância em Saúde / MS331


Febre Maculosa Brasileira• manifestações neurológicas como cefaléia, déficit neurológico, meningite/meningoencefalitecom líquor claro;• manifestações hemorrágicas como petéquias, sangramento mucocutâneo, digestivoe pulmonar.Se não trata<strong>do</strong>, o paciente pode evoluir para um estágio de torpor e de confusãomental, com freqüentes alterações psicomotoras, chegan<strong>do</strong> ao coma profun<strong>do</strong>. Icterícia econvulsões podem ocorrer em fase mais avançada da <strong>do</strong>ença. A letalidade desta forma da<strong>do</strong>ença, quan<strong>do</strong> não tratada chega a 80%.Diagnóstico diferencialO diagnóstico precoce é muito difícil, principalmente durante os primeiros dias da<strong>do</strong>ença, quan<strong>do</strong> as manifestações clínicas também podem sugerir leptospirose, dengue, hepatiteviral, salmonelose, encefalite, malária ou pneumonia por Mycoplasma pneumoniae.Com o surgimento <strong>do</strong> exantema, pode ocorrer confusão com meningococcemia, sepsispor estafilococos e por gram-negativos, viroses exantemáticas (enteroviroses, mononucleoseinfecciosa, rubéola, sarampo), outras rickettsioses <strong>do</strong> grupo <strong>do</strong> tifo, ehrlichioses,borrelioses (<strong>do</strong>ença de Lyme símile), febre purpúrica brasileira, farmacodermia e <strong>do</strong>ençasreumatológicas como lupus, entre outras.Embora o exantema seja um importante e fundamental acha<strong>do</strong> clínico, sua presençanão deve ser considerada a única condição para fortalecer a suspeita diagnóstica.Diagnóstico laboratorialExames inespecíficosHemograma – são comuns a anemia e trombocitopenia. A redução <strong>do</strong> número de plaquetasé um acha<strong>do</strong> comum e auxilia no diagnóstico. Os leucócitos podem estar normais,aumenta<strong>do</strong>s ou diminuí<strong>do</strong>s, poden<strong>do</strong> apresentar desvio para a esquerda ou não.Enzimas – creatinoquinase (CK), desidrogenase lática (LDH), transaminases/aminotransferases(TGP/ALT e TGO/AST) e bilirrubinas estão geralmente aumentadas.Exames específicosPesquisa indireta através de méto<strong>do</strong>s imunológicosReação de imunofluorescência indireta (IFI) – é o méto<strong>do</strong> sorológico mais utiliza<strong>do</strong>para o esclarecimento diagnóstico das rickettsioses, sen<strong>do</strong> considera<strong>do</strong> padrão-ouro e omais disponível na rotina laboratorial. A IFI é uma reação de alta sensibilidade e especificidadeque pode ser utilizada para a pesquisa de imunoglobulinas específicas da classe IgMe da classe IgG. Em geral, os anticorpos são detecta<strong>do</strong>s entre o 7 o e o 10 o dia de <strong>do</strong>ença.Títulos de anticorpos superiores ou iguais a 1:64, em uma única amostra, ou uma diferençade quatro vezes no título de anticorpos observada em duas amostras pareadas de soro, coletadasde 2 a 4 semanas entre elas, são os requisitos para confirmação diagnóstica atravésda sorologia.332 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre Maculosa BrasileiraÉ pertinente lembrar que o resulta<strong>do</strong> deve ser interpreta<strong>do</strong> dentro de um contextoclínico e epidemiológico. Assim, a presença de um resulta<strong>do</strong> sorológico positivo pela IFI,na ausência de um quadro clínico, não nos autoriza dizer que se trata de febre maculosapois existem outras Rickettsiias não-patogênicas <strong>do</strong> grupo da febre maculosa que podemdeterminar reação cruzada.Pesquisa direta da Rickettsia através de histopatologia/imunohistoquímica – a partirde amostras de teci<strong>do</strong>s obtidas por meio de biópsia de pele e das petéquias de pacientesinfecta<strong>do</strong>s, em especial os graves, ou material de necropsia como fragmentos de pele comlesões, pulmão, fíga<strong>do</strong>, baço, coração, músculos e cérebro. To<strong>do</strong>s esses espécimes clínicosdevem ser encaminha<strong>do</strong>s ao laboratório de referência para rickettsioses.Técnicas de biologia molecular: reação de polimerase em cadeia (PCR)Isolamento – o isolamento <strong>do</strong> agente etiológico é feito a partir <strong>do</strong> sangue e/ou fragmentosde teci<strong>do</strong>s (pele, pulmão) obti<strong>do</strong>s por meio de biópsia, além <strong>do</strong> próprio carrapatoretira<strong>do</strong> <strong>do</strong> paciente. As amostras de teci<strong>do</strong> deverão ser imersas, preferencialmente, eminfusão cérebro-coração (Brain Hearth Infusion – BHI) e encaminhadas ao laboratório embaixas temperaturas, em recipiente estéril. Na impossibilidade de BHI, o material poderáser acondiciona<strong>do</strong> em solução fisiológica estéril. Em relação ao vetor eventualmente coleta<strong>do</strong><strong>do</strong> paciente, o mesmo deverá ser acondiciona<strong>do</strong> em frasco seco estéril, sem BHI ouqualquer outra solução e encaminha<strong>do</strong> ao laboratório em baixas temperaturas.Este procedimento é limita<strong>do</strong>, pois além de ser realiza<strong>do</strong> sob condições de biossegurançaNB3 não permite o diagnóstico precoce.Todas as amostras deverão ser encaminhadas imediatamente em isopor com gelo comumou em gelo seco ou balão de nitrogênio líqui<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> não puder ser encaminha<strong>do</strong>,o material deverá ser armazena<strong>do</strong> a menos 70ºC.Os tubos deverão estar devidamente identifica<strong>do</strong>s (tipo de amostra, data da coleta dematerial). Nos recipientes conten<strong>do</strong> vetor artrópode, deverão constar informações sobresua origem (nome <strong>do</strong> paciente) e data da coleta. Encaminhar ficha com informações clínico-epidemiológicase laboratoriais correspondentes às amostras enviadas <strong>do</strong> paciente.6FLaboratórios credencia<strong>do</strong>s para o envio de amostras clínicasLaboratório de Hantavírus e Rickettsioses da Fundação Oswal<strong>do</strong> Cruz – Fiocruz/RJEsta<strong>do</strong>s: Rio de Janeiro, Bahia, Distrito Federal e GoiásLaboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais – Lacen/MGEsta<strong>do</strong>s: Minas Gerais e Espírito SantoLaboratório Central de Saúde Pública de São Paulo – Lacen/SPEsta<strong>do</strong>s: São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso <strong>do</strong> SulSecretaria de Vigilância em Saúde / MS333


Febre Maculosa BrasileiraOs demais esta<strong>do</strong>s encaminharão suas amostras clínicas para o laboratório de referêncianacional, localiza<strong>do</strong> no Laboratório de Hantavírus e Rickettsioses da Fundação Oswal<strong>do</strong>Cruz – Fiocruz/RJ.Normas para coleta, conservação e encaminhamento de espécimes clínicosTipo dematerialExamesFase de coletaQuantidadee recipienteConservação e transporteSangueSorologia1ª amostra: a partir<strong>do</strong> 1º contato como paciente2ª amostra: de 2 a 4semanas após a datada primeira coleta10ml em tubo seco(sem anticoagulante)Após retração <strong>do</strong> coágulo emtemperatura ambiente, colocarem geladeira (4-8ºC) por nomáximo 24 horasEncaminhar ao laboratório dereferência em caixa de isoporcom geloCultura(isolamento)Início <strong>do</strong>s sintomas,antes da antibioticoterapia,ou se jáiniciada, com até48 horas de seu uso2ml em tubo secoe transferir o coágulopara um flaconetecom tampa de roscacom 1ml de meiode transporte (BHI)Encaminhar ao laboratóriode referência no prazo máximode 8 horas, em isopor com geloInício <strong>do</strong> aparecimentoda lesão depele (exantema,petéquias), preferencialmenteantes <strong>do</strong>início da antibioticoterapiaCulturaTeci<strong>do</strong>s (isolamento)PeleAmostrasde fíga<strong>do</strong>,pulmão, pele,rim, baço(colhidas emImunohistoquímicanecropsia)*Necropsia efetuadaidealmente antes decompletar 24 horasapós o óbitoColocar o fragmentode pele em flaconetecom tampa de roscacom 1ml de meiode transporte BHIBlocos de parafinaconten<strong>do</strong> quantidaderepresentativa dasamostras coletadas.Enviar, junto comlau<strong>do</strong> de necropsia,os acha<strong>do</strong>s macroe microscópicosCaso não seja possível, congelarem freezer a menos 70ºC ou emnitrogênio líqui<strong>do</strong>. Após o congelamento,transportar em isoporcom gelo secoAcondicionar os blocos de parafinaem embalagem que permitatransporte sem danificá-los, emtemperatura ambiente (no máximoaté 40ºC).*As amostras colhidas em necropsia, preferencialmente, já devem ter si<strong>do</strong> submetidas a processamento histológico(bloco de parafina).TratamentoA droga de escolha para pacientes com sinais e sintomas clínicos da FMB é a <strong>do</strong>xiciclina,que deve ser utilizada em casos leves e modera<strong>do</strong>s de manejo ambulatorial. Nos casosmais severos, que requerem internação e utilização de antibioticoterapia por via en<strong>do</strong>venosa,o cloranfenicol é a escolha.Quan<strong>do</strong> da suspeita de FBM, o tratamento com antibióticos deve ser inicia<strong>do</strong> imediatamente,não se deven<strong>do</strong> esperar a confirmação laboratorial <strong>do</strong> caso. Se o paciente é trata<strong>do</strong>entre os primeiros 4-5 dias da <strong>do</strong>ença, a febre geralmente regride dentro de 24-72 horasdepois <strong>do</strong> uso apropria<strong>do</strong> de antibióticos.Não é recomendada a antibioticoterapia profilática para pessoas não <strong>do</strong>entes que tenhamsi<strong>do</strong> recentemente picadas por carrapatos, pois apenas contribui para atrasar o início<strong>do</strong>s primeiros sintomas, caso venham a desenvolver a <strong>do</strong>ença.334 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre Maculosa BrasileiraO esquema terapêutico indica<strong>do</strong> está apresenta<strong>do</strong> no quadro a seguir.Quadro 1. Antibioticoterapia recomendadaAdultosDoxiciclina100mg de 12 em 12 horas, por via oral500mg de 6/6 horas, por via oral manten<strong>do</strong>-se por três dias após o término da febreCloranfenicolEm casos graves, recomenda-se 1,0g (um grama) por via en<strong>do</strong>venosa, a cada 6 horas,até a recuperação da consciência e melhora <strong>do</strong> quadro clínico geral, manten<strong>do</strong>-se omedicamento por mais de sete dias, por via oral, na <strong>do</strong>se de 500mg de 6/6 horasCloranfenicolDoxiciclinaCrianças50 a 100 mg/kg/dia, de 6/6 horas, até a recuperação da consciência e melhora<strong>do</strong> quadro clínico geral, nunca ultrapassan<strong>do</strong> 2g por dia, por via oral ou venosa,dependen<strong>do</strong> das condições <strong>do</strong> pacientePeso menor que 45kg: 4mg/kg/dia, dividi<strong>do</strong>s em duas <strong>do</strong>ses6Aspectos epidemiológicosNo Brasil, a ocorrência da febre maculosa tem si<strong>do</strong> registrada em Minas Gerais, SãoPaulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e, mais recentemente, em Santa Catarina. No perío<strong>do</strong>de 1995-2003, foram registra<strong>do</strong>s 263 casos da <strong>do</strong>ença, com taxa de letalidade de 28%.Em Minas Gerais, neste perío<strong>do</strong>, temos o registro de 106 casos com freqüência maiorno sexo masculino (76%), na faixa etária de 15 a 30 anos, letalidade média de 18% e maiorincidência no mês de outubro. Esta sazonalidade parece ter relação com o ciclo evolutivo<strong>do</strong>s carrapatos, já que as formas infectantes (ninfa e adulta) são mais encontradas neste perío<strong>do</strong>.As regiões com maior número de casos no esta<strong>do</strong> são os vales <strong>do</strong> Rio Doce, Mucurie Jequitinhonha, localiza<strong>do</strong>s na região nordeste de Minas Gerais.Em São Paulo, neste mesmo perío<strong>do</strong> foram registra<strong>do</strong>s 83 casos com maior freqüênciano sexo masculino (73%), na faixa etária de 20-30 anos e letalidade média de 47%. As regiõesde Campinas e Pedreira têm apresenta<strong>do</strong> o maior número de casos no esta<strong>do</strong>.No Rio de Janeiro, no perío<strong>do</strong> de 1980-2003, foram registra<strong>do</strong>s 57 casos, com taxa deletalidade de 23%. No esta<strong>do</strong>, os casos têm ocorri<strong>do</strong> com maior freqüência na região deBarra <strong>do</strong> Piraí.No Espírito Santo, tem ocorri<strong>do</strong> surtos nos municípios de Pancas, Barra de São Franciscoe Nova Venécia.Em Santa Catarina, a partir de outubro de 2003 até abril/2004 foram notifica<strong>do</strong>s 11casos da <strong>do</strong>ença, ocorri<strong>do</strong>s na região <strong>do</strong> médio Vale <strong>do</strong> Itajaí, sem registro de óbitos.FSecretaria de Vigilância em Saúde / MS335


Febre Maculosa BrasileiraVigilância epidemiológicaNo Brasil, a febre maculosa brasileira foi incluída na lista de <strong>do</strong>enças de notificaçãocompulsória em outubro de 2001, conforme Portaria MS nº 1.943, de 18/10/01.ObjetivosA vigilância da FMB compreende a vigilância epidemiológica e ambiental <strong>do</strong>s vetores,reservatórios e hospedeiros e tem como objetivos:• detectar e tratar precocemente os casos suspeitos, visan<strong>do</strong> a redução da letalidade;• investigar e controlar surtos, mediante a<strong>do</strong>ção de medidas de controle;• conhecer a distribuição da <strong>do</strong>ença segun<strong>do</strong> lugar, tempo e pessoa;• identificar e investigar os locais prováveis de infecção;• recomendar e a<strong>do</strong>tar medidas de controle e prevenção.Definição de casoSuspeitoPaciente com febre de início súbito, mialgia e/ou prostração intensa, poden<strong>do</strong> haverum ou mais <strong>do</strong>s seguintes sinais e sintomas:• cefaléia;• exantema maculopapular, que surge por volta <strong>do</strong> terceiro a quinto dia de evolução,atingin<strong>do</strong>, inclusive, palmas das mãos e plantas <strong>do</strong>s pés;• manifestações hemorrágicas.Deve ainda ser investigada e considerada a história de picada de carrapatos e/ou decontato com animais <strong>do</strong>mésticos e/ou silvestres.Confirma<strong>do</strong>Paciente com quadro clínico compatível com a <strong>do</strong>ença, com resulta<strong>do</strong> positivo aoexame laboratorial, como se segue:• reação de imunofluorescência indireta positiva (em duas amostras, com diferençade títulos de, no mínimo, quatro vezes superior entre as mesmas); e/ou• reação de imunofluorescência indireta (em amostra única) com títulos de IgG igualou maior a 1:64 ou com qualquer título de IgM; e/ou• imunohistoquímica de teci<strong>do</strong>s positiva para Rickettsias; e/ou• PCR positivo; e/ou• cultura (isolamento) bacteriana positiva.Descarta<strong>do</strong>• Caso suspeito com diagnóstico laboratorial negativo;• Caso suspeito sem da<strong>do</strong>s suficientes para a classificação como confirma<strong>do</strong>;• Caso suspeito com diagnóstico confirma<strong>do</strong> para outra <strong>do</strong>ença.336 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre Maculosa BrasileiraNotificaçãoTo<strong>do</strong> caso suspeito de febre maculosa requer imediata notificação e investigação, porse tratar de <strong>do</strong>ença grave. Um caso pode significar a existência de um surto, o que impõe aimediata a<strong>do</strong>ção de medidas de controle.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteOs casos devem ser atendi<strong>do</strong>s em unidade de saúde com capacidade para prestar atendimentoadequa<strong>do</strong> e oportuno. Na maioria das vezes, estes pacientes necessitam de cuida<strong>do</strong>spermanentes e contínuos, demandan<strong>do</strong>, eventualmente, internamento em unidades desaúde de maior complexidade, inclusive em unidade de terapia intensiva.Medidas universais para evitar a circulação bacterianaOs cuida<strong>do</strong>s iniciais requeri<strong>do</strong>s são os de qualquer enfermidade de caráter infecciososem causa definida. Entretanto, após o diagnóstico laboratorial não se requer a proteçãoindividual, pois a <strong>do</strong>ença não se transmite de pessoa a pessoa.6Coleta de amostras para o diagnóstico laboratorialAs amostras devem ser coletadas, preferencialmente, antes <strong>do</strong> uso de antibióticos, excetopara sorologia, quan<strong>do</strong> podem ser colhidas em qualquer tempo. A coleta deve ser realizadalogo após a suspeita clínica de febre maculosa e de acor<strong>do</strong> com as normas técnicas, deven<strong>do</strong>ser encaminhada ao laboratório central de saúde pública – Lacen, devidamente identificadae acompanhada de solicitação e cópia da ficha de investigação epidemiológica preenchidapara orientar o laboratório no processo de investigação e identificação <strong>do</strong> agente.FInvestigaçãoA investigação de casos de FMB deve ser iniciada imediatamente após a notificação,para permitir que as medidas de controle e prevenção de novos casos possam ser a<strong>do</strong>tadasem tempo oportuno. Cabe à equipe de investigação confirmar a existência de amostras ouencaminhar providências quanto à coleta <strong>do</strong>s espécimes clínicos necessários para o diagnósticolaboratorial, de acor<strong>do</strong> com as normas estabelecidas.Roteiro da investigação epidemiológicaO instrumento de coleta de da<strong>do</strong>s é a ficha de investigação epidemiológica, padronizadapara utilização em to<strong>do</strong> o país. To<strong>do</strong>s os seus campos deverão ser criteriosamentepreenchi<strong>do</strong>s, mesmo quan<strong>do</strong> a informação for negativa, e alguns campos obrigatoriamenteinforma<strong>do</strong>s ao nível federal.Passos da investigação:• identificação completa <strong>do</strong> paciente, sua residência e local de atendimento;• coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicos – deve-se levantar da<strong>do</strong>s junto ao pacientee familiares, consultar o prontuário e, se possível, entrevistar o médico assistenteSecretaria de Vigilância em Saúde / MS337


Febre Maculosa Brasileirapara completar as informações clínicas e definir se o quadro apresenta<strong>do</strong> é compatívelcom a <strong>do</strong>ença;• identificação da área de transmissão – deve-se verificar se o local de residência, trabalhoou lazer correspondem às áreas de provável transmissão da febre maculosa,observan<strong>do</strong> se existe:❯ alta infestação de carrapatos na área;❯ criação de animais <strong>do</strong>mésticos, como cães, cavalos, e presença de animaissilvestres (capivaras) na área;• determinação da extensão da área de transmissão – na vigência de um número maiorde casos, deverá ser feita uma investigação epidemiológica para tentar chegar aosmecanismos causais de transmissão da <strong>do</strong>ença e extensão da área de transmissão;• implementação, quan<strong>do</strong> pertinente, de coleta de carrapatos em humanos, cães e noseqüídeos, a fim de que se possa tentar uma caracterização das espécies de carrapatosexistentes e, se possível, o isolamento de Rickettsias circulantes;• encerramento de casos – o caso é considera<strong>do</strong> encerra<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> momento emque to<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s epidemiológicos e clínicos levanta<strong>do</strong>s forem suficientes para oestabelecimento <strong>do</strong> critério diagnóstico utiliza<strong>do</strong>;• consolidação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s: considerar os aspectos relativos a pessoa, tempo e, principalmente,área geográfica envolvi<strong>do</strong>s;• análise de da<strong>do</strong>s – é de fundamental importância que a análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da investigaçãopermita uma avaliação da magnitude <strong>do</strong> problema, da adequação das medidasa<strong>do</strong>tadas desde o início, visan<strong>do</strong> impedir o aparecimento de novos casos, e das açõesde prevenção que devem ser mantidas na área, a curto e médio prazos, incluin<strong>do</strong> ocombate ao vetor, quan<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>. Esta análise deve ser orientada para identificação<strong>do</strong> local de transmissão, fonte de infecção e vetores envolvi<strong>do</strong>s na transmissão;dimensionamento da real magnitude <strong>do</strong> episódio (incidência e letalidade); extensãoda área de transmissão e populações sob risco;• interpretação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s – deve ser feita de mo<strong>do</strong> a definir as medidas decontrole imediatas, as atividades de continuidade das investigações e as alteraçõesdas medidas a<strong>do</strong>tadas, de acor<strong>do</strong> com a evolução <strong>do</strong> evento e da investigação;• relatório final – a qualidade <strong>do</strong> relatório final, conten<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s confiáveis, será relevantepara melhor compreensão da <strong>do</strong>ença e da situação epidemiológica da febremaculosa no Brasil, que exige uma vigilância ativa de casos visan<strong>do</strong> identificar precocementenovas áreas de transmissão. Deverá analisar as condições de ocorrência<strong>do</strong>s casos e apresentar sugestões e orientações para a população e autoridades locaissobre o risco <strong>do</strong> aparecimento de novos casos.Inquérito sorológico humanoA realização de inquérito sorológico está indicada apenas em alguns casos, comoocorrência de surtos e na tentativa de ajudar na detecção de anticorpos específicos contra aRickettsia <strong>do</strong> grupo da febre maculosa em determinada área geográfica afetada. Porém, esseprocedimento terá valor apenas epidemiológico.338 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre Maculosa BrasileiraFluxograma de investigação epidemiológica da febre maculosaCaso suspeito de febre maculosa brasileiraAtenção médica /da<strong>do</strong>s clínicosNotificarInvestigarBusca ativa de casosColher espécimesclínicos paraexame laboratoriale iniciar coletade da<strong>do</strong>sCasos suspeitos6NegativoPositivoInvestigar com detalheso local provável de infecçãoIniciar tratamentoAcompanharevoluçãoDescartaro casoInvestigaroutrosagravosAvaliarnecessidadede inquéritosorológicoem humanosFoco antigoTransmissãoem árearural/silvestreFoco novoProvável transmissão noperi e/ou intra<strong>do</strong>micílioFEducaçãoem saúdePesquisa entomológica ede possíveis reservatóriosCura clínicaÓbitoMedidasde proteçãoindividualMedidasde proteçãocoletivaPositivapresença <strong>do</strong>vetor no perie/ou intra<strong>do</strong>micílioNegativaausência <strong>do</strong>vetor no perie/ou intra<strong>do</strong>micílioEncerraro casoEncerraro casoControle vetorialSecretaria de Vigilância em Saúde / MS339


Febre Maculosa BrasileiraMedidas de prevenção e controleAções da vigilância epidemiológica e ambientalAções específicas para a área rural(com foco ou fora <strong>do</strong> foco), localizadas em áreas de produção• Criar bovinos separa<strong>do</strong>s de eqüídeos;• Equipe de zoonoses – deve estar capacitada para atuar a contento e trabalhar a questãoda educação e saúde. Deverá intervir junto aos proprietários de animais, fazendeiros,carroceiros, peões e clubes eqüestres, fornecen<strong>do</strong> informações e definin<strong>do</strong>ações preventivas quanto ao controle de carrapatos;• Os banhos, com carrapaticidas, deverão levar em conta a epidemiologia das fasesparasitárias e não-parasitárias, o que permitirá diminuir o número de banhos/ano ea diminuição dessas fases;• Os carrapaticidas comercialmente encontra<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong> possuem posologiapara bovinos. Assim, em eqüinos, os banhos deverão ser realiza<strong>do</strong>s com intervalosde, no máximo, 10 dias, na época compreendida entre abril e outubro, perío<strong>do</strong> larvale de ninfas, estágios mais sensíveis aos produtos químicos.Ações a serem a<strong>do</strong>tadas pela vigilância epidemiológica e ambientalem áreas urbanas de cidades com confirmação de casos de febre maculosa• Promover capacitações freqüentes para profissionais de saúde, alertan<strong>do</strong> para a importância<strong>do</strong> diagnóstico precoce e diferencial com outras <strong>do</strong>enças.• Informar a população sobre a circulação sazonal <strong>do</strong> carrapato, como forma educativae preventiva (respeitan<strong>do</strong> o ano biológico <strong>do</strong> carrapato e, conseqüentemente,a ocorrência <strong>do</strong>s casos). O mês de março seria a época ideal para o início destasatividades, pois antecede ao perío<strong>do</strong> de alta incidência da população de carrapatos e,conseqüentemente, ao aparecimento <strong>do</strong>s casos da enfermidade. Assim, nesse perío<strong>do</strong>,toda a população deve ser informada da enfermidade e tu<strong>do</strong> que for pertinenteao controle <strong>do</strong> carrapato, para que, ao chegar o mês de abril, no qual a incidência da<strong>do</strong>ença começa a aumentar, possa tomar medidas de prevenção.• Orientar a população como se proteger, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> o uso de barreiras físicas quan<strong>do</strong>for se expor a áreas com possibilidade de existir carrapatos, conforme descrito:❯ usar roupas claras e com mangas compridas, para facilitar a visualização decarrapatos;❯ usar calças compridas, inserin<strong>do</strong> a parte inferior por dentro de botas, preferencialmentede cano longo e vedadas com fita adesiva de dupla face;examinar o próprio corpo a cada três horas, a fim de verificar a presença decarrapatos. Quanto mais rápi<strong>do</strong> os mesmos forem retira<strong>do</strong>s, menor a chancede infecção;❯ retirar os carrapatos (caso sejam encontra<strong>do</strong>s no corpo) preferencialmentecom o auxílio de uma pinça (de sobrancelhas ou pinça cirúrgica auxiliar);340 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre Maculosa Brasileira❯ não esmagar o carrapato com as unhas, pois o mesmo pode liberar as bactériase contaminar partes <strong>do</strong> corpo com lesões.• Locais públicos conhecidamente infesta<strong>do</strong>s por carrapatos devem ser obriga<strong>do</strong>s(pela vigilância sanitária) a informar seus freqüenta<strong>do</strong>res, por meio de placas, dapresença de carrapatos e das formas de proteção.• A limpeza e capina de lotes não construí<strong>do</strong>s, bem como a de áreas públicas comcobertura vegetal, devem adequadamente ser planejadas.Para o controle em áreas de ocorrência de foco, a equipe de zoonoses deve ser acionadapara orientar as medidas específicas a serem implementadas, tais como informações quantoao ciclo <strong>do</strong> carrapato, transmissão da <strong>do</strong>ença e atividades que devem ser realizadas.Ações de educação em saúdeLogo após a suspeição de um caso ou surto devem ser iniciadas as medidas de esclarecimentoà população, mediante visitas <strong>do</strong>miciliares e palestras nas comunidades, visan<strong>do</strong>repassar conhecimentos sobre o ciclo de transmissão da <strong>do</strong>ença, gravidade e medidas deprevenção.A maioria das ações exige participação das populações expostas, sen<strong>do</strong> da maior importânciao repasse de informações quanto ao risco de ocorrência de febre maculosa. Devemser divulgadas mediante técnicas pedagógicas disponíveis e meios de comunicação demassa, alertan<strong>do</strong> quanto à importância da <strong>do</strong>ença e méto<strong>do</strong>s de prevenção.Os hospitais e profissionais de saúde da região deverão ser alerta<strong>do</strong>s da ocorrência da<strong>do</strong>ença, a fim de que possam estar atentos para o diagnóstico precoce e de outros possíveiscasos <strong>do</strong> agravo.6FControle vetorialOs relatos da transmissão da febre maculosa no Brasil apontam o Amblyomma cajennensecomo sen<strong>do</strong> o principal vetor.O ciclo biológico <strong>do</strong> Amblyomma cajennense exige três hospedeiros para completá-lo,como se segue:• inicia-se com a fêmea adulta ingurgitada (telógena) realizan<strong>do</strong> a ovipostura de aproximadamenteseis mil ovos, poden<strong>do</strong> chegar a oito mil ovos (destes 85% a 99% férteis);• esses ovos ficam incuba<strong>do</strong>s por 60 a 70 dias e transformam-se em larvas (“micuins”)que podem ficar no solo por até seis meses sem se alimentar;• a larva, após encontrar um hospedeiro definitivo, realiza a sucção (perío<strong>do</strong> de alimentação)durante cinco dias. Retorna ao solo e transforma-se em ninfa (“vermelhinho”),em torno de 25 dias. Pode permanecer por um perío<strong>do</strong> de até um ano àespera de um hospedeiro;• ao encontrar outro hospedeiro, realiza a sucção por cinco a sete dias. Cai novamenteno solo e muda para o estágio adulto, diferencian<strong>do</strong>-se em machos e fêmeas (ro<strong>do</strong>leirosou carrapatos-estrela), e aí permanece aguardan<strong>do</strong> novos hospedeiros por umSecretaria de Vigilância em Saúde / MS341


Febre Maculosa Brasileiraperío<strong>do</strong> de até 24 meses. Isto significa que o ciclo completo <strong>do</strong> Amblyomma cajennensepode se completar em um perío<strong>do</strong> de até três anos e meio.A importância <strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong> ciclo <strong>do</strong> carrapato deve-se à necessidade de sepropor medidas de controle eficazes e no tempo adequa<strong>do</strong>. Ações efetivas de controle nãoserão estabelecidas em prazo menor que três anos, uma vez que a dinâmica populacional<strong>do</strong>s carrapatos permite sua sobrevivência, por longos perío<strong>do</strong>s, sem alimentação.O Amblyomma tem características próprias, a considerar:• a larva pode ficar até seis meses no campo, sem se alimentar; a ninfa, até um ano e aforma adulta, até <strong>do</strong>is anos, no meio ambiente;• esta alta resistência é responsável pela ocorrência de casos de febre maculosa no perío<strong>do</strong>de outubro de um ano a abril <strong>do</strong> ano seguinte, mesmo sen<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> chuvoso,época na qual seria esperada baixa infestação pelas larvas e ninfas;• esta espécie não requer especificidade de hospedeiro. Portanto, pode alimentar-seem eqüídeos, bovinos, caprinos, homens, aves silvestres, cães, gatos, etc. De mo<strong>do</strong>geral, à medida que os carrapatos evoluem nas fases de seu ciclo de vida a tendênciaé que seu hospedeiro aumente em porte.A transmissão da febre maculosa pela forma adulta <strong>do</strong> carrapato é menos comum,pois as pessoas o retiram rapidamente <strong>do</strong> corpo, devi<strong>do</strong> à <strong>do</strong>r no momento da picada. Paraque ocorra a transmissão da <strong>do</strong>ença é necessária a permanência <strong>do</strong> mesmo por um perío<strong>do</strong>de pelo menos seis horas, fixa<strong>do</strong> ao corpo <strong>do</strong> hospedeiro, o que normalmente ocorre nasformas de larva e ninfa, sem que o hospedeiro se dê conta de sua presença.Fato importante que normalmente explica o ressurgimento da febre maculosa em índiceseleva<strong>do</strong>s nos últimos anos é o relativo aumento das fontes de alimentação <strong>do</strong> Amblyommacajennense, principalmente eqüídeos, nas áreas rurais e periurbanas. Em funçãoda crise econômica e social, tem-se observa<strong>do</strong> grande aumento das populações de eqüídeosnas áreas periurbanas, decorrente da disponibilidade de mão-de-obra não especializadaque busca na ocupação de carroceiro seu mo<strong>do</strong> de sobrevivência.O aumento da densidade bovina nas propriedades rurais e a criação conjunta de bovinose eqüídeos promovem a oferta de boa alimentação ao carrapato, com conseqüenteexpansão de suas populações. O grande desconhecimento <strong>do</strong> ciclo <strong>do</strong> carrapato, pelapopulação em geral e pelos profissionais da saúde em particular, não lhe impõe o devi<strong>do</strong>controle.O cavalo, apesar de ser a principal espécie de alimentação <strong>do</strong> Amblyomma cajennense,constitui apenas 1% <strong>do</strong> total de animais, enquanto o boi representa 95% a 98% <strong>do</strong>s animais,na maioria das propriedades rurais. Assim sen<strong>do</strong>, o carrapato <strong>do</strong> cavalo passa a se alimentarnos bovinos, pela maior disponibilidade <strong>do</strong>s mesmos, além de poder infestar outrosanimais.A partir da identificação das áreas de risco e ocorrência comprovada de casos, a vigilânciaepidemiológica deverá atuar enfaticamente. As áreas de risco relacionam-se, principalmente,com a presença e disponibilidade <strong>do</strong>s vetores e reservatórios.342 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre Maculosa BrasileiraFatores ambientais para risco• Meses <strong>do</strong> ano onde a população de vetores, em suas fases parasitárias jovens, estãono ambiente em maior proporção (abril a outubro).• Alterações no ambiente silvestre, principalmente sua invasão pelas populações humanas.• Influência climática, determinan<strong>do</strong> a dinâmica das populações <strong>do</strong> carrapato.Fatores socioeconômicos, culturais e sanitários de risco• Proximidade <strong>do</strong> homem com animais no meio urbano, tais como cavalos e cachorros.• Desconhecimento da biologia <strong>do</strong> carrapato e da Rickettsia.• Presença de indivíduos sensíveis à infecção por Rickettsias.• Intensificação <strong>do</strong> uso da terra e <strong>do</strong>s sistemas de produção.• Hábitos ocupacionais da população, além <strong>do</strong> aumento <strong>do</strong> turismo rural.• Controle inadequa<strong>do</strong> <strong>do</strong> vetor.• Aumento <strong>do</strong> número de carroceiros na zona urbana.6FSecretaria de Vigilância em Saúde / MS343


Febre Purpúrica BrasileiraFEBRE PURPÚRICA BRASILEIRACID 10: A48.4Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoÉ uma <strong>do</strong>ença infecciosa emergente de caráter agu<strong>do</strong> e elevada letalidade. Em geral,apresenta-se sob forma de surtos, atingin<strong>do</strong> crianças. Tem largo espectro clínico: uma simplesinfecção conjuntival pode ou não evoluir, em uma ou duas semanas, para síndromeséptica, com aparecimento de petéquias e púrpuras.Agente etiológicoHaemophilus influenzae, biogrupo aegyptius. Bactéria gram-negativa, sob a forma debacilos finos e retos.ReservatórioO homem, que também é a fonte de infecção (pessoas com conjuntivite causada peloagente).Mo<strong>do</strong> de transmissãoContato direto pessoa a pessoa, que esteja com conjuntivite; ou indireto, por intermediaçãomecânica (insetos, toalhas, mãos).Perío<strong>do</strong> de incubaçãoO intervalo de tempo entre o início da conjuntivite e a febre é, em média, de 7 a 16 dias(varian<strong>do</strong> de 1 a 60 dias).Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadePossivelmente, enquanto durar a conjuntivite.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasDoença infecciosa aguda, com manifestações clínicas sistêmicas, que acomete criançasapós conjuntivite, com sinais e sintomas que seguem uma certa cronologia em curto espaçode tempo: início com febre alta (acima de 38,5ºC), taquicardia, erupção cutânea maculardifusa, tipo petéquias, púrpuras e outras sufusões hemorrágicas e hipotensão sistólica.Ocorrem, também manifestações digestivas tais como náuseas, vômitos, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal,enterorragias e diarréia, bem como mialgias, sinais de insuficiência renal (oligúria e anúria),344 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre Purpúrica Brasileiraplaquetopenia, leucopenia com linfocitose ou leucocitose com linfocitopenia. Observa-seagitação, sonolência, cefaléia e convulsão. A cianose e taquidispnéia, conseqüente à aci<strong>do</strong>se,faz parte da progressão da <strong>do</strong>ença.Essa enfermidade, em geral, evolui de um a três dias, ou seja, é um quadro grave fulminante,com choque séptico e coagulação intravascular disseminada (CIVD), cuja letalidadevaria de 40% a 90%. Quan<strong>do</strong> o paciente sobrevive, pode vir a apresentar gangrenas, com ousem mutilações.A natureza sistêmica e fulminante da febre purpúrica brasileira (FPB) deve estar associadaà liberação de toxinas pela bactéria. A conjuntivite, que a precede, também é conhecidacomo conjuntivite bacteriana e olho roxo.Diagnóstico diferencialMeningococcemia, septicemias por gram-negativos, dengue hemorrágica, febre maculosatifo exantemático, febre hemorrágica argentina e boliviana e outras febres hemorrágicas.6Diagnóstico laboratorialÉ feito através de exames:• específicos – cultura de sangue, material da conjuntiva, <strong>do</strong> líquor e de raspa<strong>do</strong> delesão de pele. Reação de contra-imunoeletroforese <strong>do</strong> soro e <strong>do</strong> líquor;• inespecíficos – hemograma, coagulograma, provas de função renal.TratamentoAntibioticoterapia: ampicilina, 200mg/kg/dia, 6/6/hs, via intravenosa; ou amoxicilina50mg/kg/dia, 8/8hs, via oral, por sete dias, associada ou não ao cloranfenicol, 100mg/kg/dia, via intravenosa, 6/6 hs, por sete dias. O paciente deve ser interna<strong>do</strong> com to<strong>do</strong>s os cuida<strong>do</strong>sde suporte e, se desenvolver CIVD, usar hidrocortisona. Em caso de choque séptico,internar em unidade de terapia intensiva e não usar hidrocortisona.FAspectos epidemiológicosDoença descrita pela primeira vez em 1984, no município de Promissão, em São Paulo,onde ocorreram 10 óbitos com quadro semelhante ao da meningococcemia. Concomitantemente,observou-se quadro semelhante em Londrina, com 13 casos e sete óbitos,e outros em cidades próximas a Promissão. Desse perío<strong>do</strong> até hoje, já se tem registro daenfermidade em mais de 15 municípios de São Paulo e em áreas <strong>do</strong> Mato Grosso e MatoGrosso <strong>do</strong> Sul. Fora <strong>do</strong> Brasil, os únicos casos descritos ocorreram em novembro de 1986,na região Central da Austrália (Alice-Springs). O agente etiológico foi isola<strong>do</strong> <strong>do</strong> sanguede casos clínicos em 1986. Anteriormente, o Haemophilus influenzae, biogrupo aegyptius,nunca havia si<strong>do</strong> associa<strong>do</strong> a <strong>do</strong>ença invasiva até o aparecimento da FPB.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS345


Febre Purpúrica BrasileiraVigilância epidemiológicaObjetivos• Detectar precocemente surtos de conjuntivite, causa<strong>do</strong>s por Haemophilus influenzaeaegyptius, nas áreas de ocorrência da <strong>do</strong>ença, visan<strong>do</strong> a a<strong>do</strong>ção das medidas decontrole indicadas.• Diagnosticar e tratar os casos, visan<strong>do</strong> reduzir a morbidade e letalidade.Definição de casoSuspeitoCriança que teve ou está com conjuntivite e desenvolve quadro agu<strong>do</strong> de febre, acompanha<strong>do</strong>de algum outro sinal de toxemia (palidez perioral, vômitos, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal, alterações<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de consciência).Confirma<strong>do</strong>Critério clínico-laboratorial – quadro febril agu<strong>do</strong> em criança, com isolamento, nosangue ou no líquor, de Haemophilus influenzae aegyptius; ou quadro febril agu<strong>do</strong>, com manifestaçõeshemorrágicas, em pele ou mucosa digestiva, com antecedente de conjuntivitepurulenta, contra-imunoeletroforese e culturas negativas para meningococo e outras bactérias,para as quais estes exames tenham si<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>s. Presença de Haemophilus influenzaeaegyptius em conjuntiva, ou da<strong>do</strong>s epidemiológicos da área, como ocorrência de surtosde conjuntivite (município, escolas, creches, grupamentos familiares) com identificação deHaemophilus aegyptius, cepa invasora.Critério clínico-epidemiológico – <strong>do</strong>ença aguda em criança procedente de área deocorrência da <strong>do</strong>ença, caracterizada por febre igual ou superior a 38,5 o C, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal evômitos, petéquias e/ou púrpuras, sem evidência de meningite, com antecedente de conjuntivite(em familiares) e, ainda, sem antecedente de ocorrência de <strong>do</strong>ença meningocócicana área de abrangência <strong>do</strong> caso.Descarta<strong>do</strong>Caso suspeito que não se enquadre nas definições de caso confirma<strong>do</strong> ou que confirmediagnóstico de outra <strong>do</strong>ença.NotificaçãoPor se tratar de agravo inusita<strong>do</strong>, é <strong>do</strong>ença de notificação compulsória e investigaçãoobrigatória. A notificação deve ser feita pelo meio de comunicação mais rápi<strong>do</strong> disponível(e-mail, fax, telefone) e também pelo Sinan (ficha de notificação).346 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre Purpúrica BrasileiraPrimeiras medidas a serem tomadasAssistência médica ao pacienteHospitalização imediata de to<strong>do</strong>s os casos suspeitos de acometimento sistêmico.Qualidade da assistênciaObservar se os casos estão sen<strong>do</strong> atendi<strong>do</strong>s em unidade de saúde com capacidadepara prestar atendimento adequa<strong>do</strong> e oportuno. Na maioria das vezes, estes pacientes necessitamde cuida<strong>do</strong>s permanentes e contínuos, demandan<strong>do</strong> internamento em serviços desaúde de maior complexidade, inclusive em unidade de terapia intensiva.Proteção individual para evitar circulação bacterianaNão há indicação para isolamento; entretanto, devem ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s com assecreções conjuntivais e sangue <strong>do</strong>s pacientes que contêm o agente.Confirmação diagnósticaAntes <strong>do</strong> uso de antibióticos, a equipe de assistência deve fazer encaminhamento dasamostras de sangue, da secreção conjuntival e <strong>do</strong> líquor para cultura, raspa<strong>do</strong> de lesõespetequiais em pele. As amostras devem ser encaminhadas ao laboratório, acompanhadasde solicitação médica e ficha epidemiológica devidamente preenchida, com informaçõessobre os da<strong>do</strong>s clínicos e a suspeita diagnóstica para orientar o laboratório no processo deinvestigação e identificação <strong>do</strong> agente.6FProteção da populaçãoLogo após a suspeição <strong>do</strong> primeiro caso, deve-se iniciar as medidas de esclarecimentoà população, mediante visitas <strong>do</strong>miciliares e palestras nas comunidades, visan<strong>do</strong> repassarconhecimentos sobre o ciclo de transmissão da <strong>do</strong>ença, gravidade e medidas de prevenção.InvestigaçãoA investigação de um ou mais casos de FPB deve ter início imediatamente após a notificação,para permitir que as medidas de controle possam ser a<strong>do</strong>tadas em tempo oportuno.Esta investigação deve conter os elementos essenciais a serem coleta<strong>do</strong>s em uma investigaçãode rotina de <strong>do</strong>ença transmissível.Roteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacienteNão se dispõe de ficha epidemiológica de investigação no Sinan, deven<strong>do</strong>-se elaboraruma específica para este fim, com campos que coletem os da<strong>do</strong>s das principais característicasclínicas e epidemiológicas da <strong>do</strong>ença.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS347


Febre Purpúrica BrasileiraColeta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPara confirmar a suspeita diagnóstica – em geral, quan<strong>do</strong> se suspeita de FPB os<strong>do</strong>entes são hospitaliza<strong>do</strong>s, deven<strong>do</strong>-se consultar o prontuário e entrevistar o médico assistentepara completar as informações clínicas sobre o paciente. Essas informações servirãopara ajudar a definir se o quadro apresenta<strong>do</strong> é compatível com a <strong>do</strong>ença.O encaminhamento de material para diagnóstico laboratorial, acompanha<strong>do</strong> de fichaconten<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s sobre o caso, é fundamental para auxiliar no resulta<strong>do</strong> da investigação.Na vigência de óbito, tentar a realização de necropsia, coletan<strong>do</strong> líqui<strong>do</strong>s de flui<strong>do</strong>scorporais logo após o mesmo, para se tentar isolar o agente.Os hospitais, profissionais de saúde da região e comunidade deverão ser alerta<strong>do</strong>s daocorrência da <strong>do</strong>ença, a fim de que possam estar atentos para o diagnóstico precoce depossíveis outros casos.Para identificação e determinação da extensão da área de transmissão – fazer buscaativa casa a casa, creches e escolas, na área de procedência de casos de conjuntivites, com ousem manifestações sistêmicas. Em situações de surtos de conjuntivite, solicitar à populaçãoa busca ativa das unidades de saúde, que deverão estar alertadas para a necessidade de notificaçãoimediata, a cada caso suspeito, e articulação com o serviço de vigilância.Coleta e remessa de material para examesLogo após a suspeita clínica de FPB, coletar material de to<strong>do</strong>s os casos, sen<strong>do</strong> da responsabilidade<strong>do</strong>s profissionais da vigilância epidemiológica e/ou <strong>do</strong>s laboratórios centraisviabilizar, orientar ou mesmo proceder a estas coletas.Encerramento de casosA partir da análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s anota<strong>do</strong>s na investigação e consideran<strong>do</strong>-se a definiçãode caso, anota-se o critério utiliza<strong>do</strong> para a confirmação <strong>do</strong> diagnóstico ou descarte <strong>do</strong>(s)mesmo(s).Análise de da<strong>do</strong>s e relatório finalÉ de fundamental importância que a análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da investigação permita umaavaliação da magnitude <strong>do</strong> problema e da adequação das medidas a<strong>do</strong>tadas, logo de início,visan<strong>do</strong> impedir o aparecimento de novos casos e indicar as ações de prevenção que devemser mantidas a curto e médio prazos na área.Desde o início <strong>do</strong> processo, o investiga<strong>do</strong>r deve analisar os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s para alimentaro processo de decisão das atividades de investigação e as ações de controle. Estaanálise, como referi<strong>do</strong> anteriormente, deve ser orientada para identificação <strong>do</strong> local e mo<strong>do</strong>de transmissão, além de dimensionar a real magnitude <strong>do</strong> episódio (incidência e letalidade),a extensão da área de transmissão e as populações sob risco que devem ser alertadaspara o problema.348 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre Purpúrica BrasileiraMedidas de controleNas áreas de ocorrência dessa <strong>do</strong>ença, deve-se acompanhar os casos de conjuntivite e,em situações de surtos, notificar os casos suspeitos da FPB. Quan<strong>do</strong> se observar número decasos de conjuntivite superior ao mês anterior, iniciar a coleta de secreção de conjuntivasde pacientes acometi<strong>do</strong>s (pelo menos de 20) para diagnóstico <strong>do</strong> agente (laboratório dereferência) por meio da realização <strong>do</strong>s exames laboratoriais específicos.Tratamento das conjuntivites – com colírio de cloranfenicol a 0,5% (1 gota em cadaolho, de 3/3 horas, durante 7 dias). Quan<strong>do</strong> constatada a ocorrência de conjuntivite pelacepa invasora <strong>do</strong> Haemophilus aegyptius, administrar rifampicina na <strong>do</strong>se de 20mg/kg/dia,durante 4 dias (tomada única), e repetir a cultura da secreção após o término <strong>do</strong> tratamento.Acompanhar o paciente até a negativação da cultura. Não há indicação para isolamento<strong>do</strong>s casos FPB. A aglomeração favorece a transmissão da conjuntivite. Medidas de higienedevem ser informadas, principalmente nas situações de risco de ocorrência tanto de conjuntivitecomo da FPB.6FSecretaria de Vigilância em Saúde / MS349


Febre TifóideFEBRE TIFÓIDECID 10: A01.0Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoDoença bacteriana aguda, de distribuição mun dial, associada a baixos níveis socioeconômicos,principalmente, com situações de precárias condições de saneamento, higienepessoal e ambiental. Com tais características, praticamente encontra-se eliminada em paísesonde estes problemas foram supera<strong>do</strong>s. No Brasil, a febre tifóide ocorre sob a formaendêmica, com superposição de epidemias, especialmente nas regiões Norte e Nordeste,refletin<strong>do</strong> as condições de vida de suas populações.Agente etiológicoA Salmonella typhi, bactéria gram-negativa da família Enterobacteriaceae. O tempo desobrevida deste agente varia de acor<strong>do</strong> com o meio em que se encontra, e o conhecimentodesta informação é importante para o controle da <strong>do</strong>ença.Tempo de sobrevida <strong>do</strong> agente nos diferentes meios:• água – em condições ótimas, a sobrevida nunca ultrapassa 3 a 4 semanas. Entretanto,varia consideravelmente com a temperatura (temperaturas mais baixas levama uma maior sobrevida), com a quantidade de oxigênio disponível (as salmonelassobrevivem melhor em meio rico em oxigênio) e com o material orgânico (águaspoluídas, mas não a ponto de consumir to<strong>do</strong> o oxigênio, são melhores para a sobrevida<strong>do</strong> agente);• esgoto – em condições experimentais, quase 40 dias;• água <strong>do</strong> mar – não é um bom meio, sen<strong>do</strong> necessária uma altíssima contami nação;• ostras, mariscos e outros moluscos – sobrevida demonstrada de até 4 semanas;• leite, creme e outros laticínios – constituem um excelente meio, chegan<strong>do</strong> a perduraraté por <strong>do</strong>is meses na manteiga, por exemplo;• carnes e enlata<strong>do</strong>s – são raros os casos adquiri<strong>do</strong>s através destes alimentos, provavelmenteporque o processo de preparo <strong>do</strong>s mesmos é suficiente para eliminar aSalmonella. Mas, uma vez preparada a carne ou aberta a lata, a sobrevida <strong>do</strong> agenteé maior <strong>do</strong> que a vida útil destes alimentos.Ostras e outros moluscos, assim como leite e deriva <strong>do</strong>s, são os principais alimentos responsáveispela transmis são da febre tifóide. Praticamente to<strong>do</strong>s os alimentos, quan<strong>do</strong>manipula<strong>do</strong>s por porta<strong>do</strong>res, podem veicular a Sal monella typhi.ReservatórioO homem (<strong>do</strong>ente ou porta<strong>do</strong>r).350 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre TifóideMo<strong>do</strong> de transmissãoOcorre, principalmente, de forma indireta através da ingestão de água e alimentos,em especial o leite e deriva<strong>do</strong>s, contamina<strong>do</strong>s com fezes ou urina de paciente ou porta<strong>do</strong>r.A contaminação de alimentos geralmente acontece pela manipulação por porta<strong>do</strong>res ouoligossintomáticos, razão pela qual a febre tifóide é também conhecida como a <strong>do</strong>ença dasmãos sujas. Raramente as moscas participam da transmissão. O congelamento não destróia bactéria, de mo<strong>do</strong> que sorvetes, por exemplo, podem ser veículos de transmissão. Todavia,só uma grande concentração de bactérias – inoculo – torna possível a infecção. Porisso, não se costuma verificar com muita freqüência surtos de febre tifóide após enchentes,quan<strong>do</strong> provavelmente há maior diluição <strong>do</strong> agente etiológico no meio ambiente e menorpossibilidade de sua ingestão em número suficiente para causar a <strong>do</strong>ença. A carga bacterianainfectante, experimentalmente estimada, é de 106 a 109 bactérias. Infecções subclínicaspodem ocorrer com a ingestão de um número bem menor de bactérias.Em geral, a febre tifóide transmitida por alimentos ocorre quan<strong>do</strong> nestes são encontradasbactérias em quantidade suficiente para sobreviver aos processos a que são submeti<strong>do</strong>squan<strong>do</strong> de sua produção. A concentração de bactérias necessárias para causar a <strong>do</strong>ença é denominadade <strong>do</strong>se infectante mínima (DIM). Nesse particular, a Salmonella typhi inclui-seno grupo das bactérias que necessitam de DIM. considerada baixa para produzir a <strong>do</strong>ença,ou seja, 102/ml. Por outro la<strong>do</strong>, alguns alimentos possuem características específicas queinfluenciam de mo<strong>do</strong> significativo na proliferação e sobrevivência <strong>do</strong> agente etiológico dafebre tifóide. Por exemplo, sabe-se que o crescimento desta bactéria se dá em meios com pHentre 4,5 a 7,8, valores que também correspondem à faixa <strong>do</strong> pH de alguns alimentos, taiscomo leite (6,5-6,7), manteiga (6,1-6,4), queijo (4,9-5,9) e pesca<strong>do</strong> (6,6-6,8).Fatores extrínsecos aos alimentos, com destaque para aqueles relaciona<strong>do</strong>s com o meioambiente, tais como temperatura e umidade existentes nos sítios de conservação, armazenamento,produção, comercialização e forma de consumo, também interferem de mo<strong>do</strong>significativo no crescimento e viabilidade das Salmonella typhi.6FClassificação de alguns alimentos, segun<strong>do</strong>risco de contaminação pela Salmonella typhiAlto risco – leite cru, moluscos, mexilhões, ostras, pesca<strong>do</strong>s crus, hortaliças, legumese frutas não lavadas.Médio risco – alimentos intensamente manipula<strong>do</strong>s logo após o cozimento ou requenta<strong>do</strong>se massas.Baixo risco – alimentos cozi<strong>do</strong>s ou assa<strong>do</strong>s que são consumi<strong>do</strong>s imediatamente, verdurasfervidas e alimentos secos.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoFreqüentemente, de 1 a 3 semanas (em média, 2 semanas), a depender da <strong>do</strong>se infectante.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS351


Febre TifóidePerío<strong>do</strong> de transmissibilidadeA transmissão ocorre enquanto os bacilos estiverem sen<strong>do</strong> elimina<strong>do</strong>s nas fezes ouurina, o que geralmente se dá desde a primeira semana da <strong>do</strong>ença até o fim da convalescença.Após essa fase o perío<strong>do</strong> varia, dependen<strong>do</strong> de cada situação. Sabe-se que cerca de 10%<strong>do</strong>s pacientes continuam eliminan<strong>do</strong> bacilos até 3 meses após o início da <strong>do</strong>ença e que 2%a 5% (geralmente mulheres adultas) transformam-se em porta<strong>do</strong>res crônicos após a cura, oque os torna de extrema importância por seu potencial de disseminação da <strong>do</strong>ença. Tantoentre os <strong>do</strong>entes quanto entre os porta<strong>do</strong>res, a eliminação da Salmonella typhi costuma serintermitente.Susceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade é geral e maior nos indivíduos com acloridria gástrica. A imunidadeadquirida após a infecção ou vacinação não é definitiva.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasA sintomatologia clínica clássica consiste em febre alta, <strong>do</strong>res de cabeça, mal-estargeral, falta de apetite, bradicar dia relativa (dissociação pulso-temperatura), esplenomegalia,manchas rosadas no tronco (roséola tífica – raramente observada), obstipação intestinal oudiarréia e tosse seca. Atualmente, o quadro clássico completo é de obser vação rara, sen<strong>do</strong>mais freqüente aquele em que a febre é a manifestação mais expressiva, acompanhada poralguns <strong>do</strong>s de mais sinais e sintomas cita<strong>do</strong>s anteriormente. Nas crianças, a <strong>do</strong>ença costumaser mais benigna que nos adultos e a diarréia é mais freqüente. Como, apesar de ser aguda,a <strong>do</strong>ença evolui gradualmente, a pessoa afetada muitas ve zes é medicada com antimicrobianossimplesmente por estar apresen tan<strong>do</strong> uma febre de etiologia não conhecida. Dessa forma,o qua dro clínico fica mascara<strong>do</strong> e a <strong>do</strong>ença deixa de ser dia gnosticada precocemente.A salmonelose septicêmica é uma sín drome em cuja etiologia está implicada a associaçãode salmo nelose com espécies de Schistosoma (no Brasil, o Schistosoma mansoni). Nessacondição, o quadro clínico caracteriza-se por fe bre prolongada (vários meses), acompanhadade su<strong>do</strong>rese e ca lafrios. Observa-se ainda anorexia, perda de peso, palpitações, epistaxe,episódios freqüentes ou esporádicos de diarréia, au mento <strong>do</strong> volume ab<strong>do</strong>minal, edema <strong>do</strong>smembros inferiores, pa lidez, manchas hemorrágicas e hepatoesplenomegalia. A Salmonellatyphi não é o agente mais freqüentemente associa<strong>do</strong> à salmonelose septicêmica prolongada.A bacteremia recorrente por Salmonella é uma das condições clínicas marca<strong>do</strong>ra dasíndrome da imunodeficiência adquirida (Aids). Em regiões onde a Salmonella typhi éendêmica, a incidência de febre tifóide pode ser de 25 a 60 vezes maior entre indivíduosHIV positivos que em soronegativos. Os HIV positivos assintomáticos podem apresentar<strong>do</strong>ença semelhante ao imunocompetente e boa resposta ao tratamento usual.Doentes com aids (<strong>do</strong>ença definida) podem apresentar febre tifóide particularmentegrave e com tendência a recaídas.352 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre TifóideA hemorragia intestinal, principal complicação da febre tifóide, é causada pela ulceraçãodas placas de Peyer, que às vezes leva à perfuração intestinal. Todavia, quan<strong>do</strong> a febretifóide evolui com bacteremia, qualquer órgão pode ser afeta<strong>do</strong>. Outras complicações menosfreqüentes são re tenção urinária, pneumonia e colecistite.Diagnóstico diferencialA febre tifóide tem manifestações clínicas semelhantes a de várias outras <strong>do</strong>enças entéricascomo, por exemplo, a Salmonella paratyphi A, B, C, e mesmo de diversas etiologiascomo a Yersinia enterocolítica, que pode produzir uma enterite com febre, diarréia, vômito,<strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal e adenite mesentérica. Há também outras <strong>do</strong>enças que apresentam febreprolongada e devem ser consideradas, tais como pneumonias, tuberculoses (pulmonar, miliar,intestinal, meningoencefalite e peritonite), meningoencefalites, septicemia por agentespiogênicos, colecistite aguda, peritonite bacteriana, forma toxêmica de esquistossomosemansônica, mononucleose infecciosa, febre reumática, <strong>do</strong>ença de Hodgkin, abscesso hepático,abscesso subfrênico, apendicite aguda, infecção <strong>do</strong> trato urinário, leptospirose, malária,toxoplasmose, <strong>do</strong>ença de Chagas aguda e en<strong>do</strong>cardite bacteriana.6Diagnóstico laboratorialBaseia-se, primordial mente, no isolamento e identificação <strong>do</strong> agente etiológico, nasdife rentes fases clínicas, a partir <strong>do</strong> sangue (hemocultura), fezes (coprocultura), aspira<strong>do</strong>medular (mielocultura) e urina (urocultura).Hemocultura – apresenta maior positividade nas duas semanas iniciais da <strong>do</strong>ença(75% aproximadamente), deven<strong>do</strong> o sangue ser colhi<strong>do</strong>, de preferência, antes que o pacientetenha toma<strong>do</strong> antibiótico. Recomenda-se a coleta de 2 a 3 amostras, não haven<strong>do</strong>necessidade de intervalos maiores que 30 minutos entre as mesmas.Coprocultura – a pesquisa da Salmonella typhi nas fezes é indi cada a partir da segundaaté a quinta semanas da <strong>do</strong>ença, bem como no estágio de convalescença e pesquisa deporta<strong>do</strong>res. No esta<strong>do</strong> de convalescença, é indicada a coleta de amostras <strong>do</strong> material comintervalos de 24 horas. No caso de porta<strong>do</strong>res assintomáticos, particularmente aqueles envolvi<strong>do</strong>sna manipulação de alimentos, recomenda-se a coleta de 7 amostras seqüenciadas.Mielocultura – trata-se <strong>do</strong> exame mais sensível (90% de sensibilidade). Tem tambéma vantagem de se apresentar positiva mesmo na vigência de antibioticoterapia prévia. Asdesvantagens são o desconforto para o <strong>do</strong>ente e a necessidade de pessoal médico com treinamentoespecífico para o procedimento de punção lombar.Urocultura – tem valor diagnóstico limita<strong>do</strong> e a positividade máxima ocorre na terceirasemana de <strong>do</strong>ença.FO méto<strong>do</strong> de reação de Widal: embora ainda muito utiliza<strong>do</strong> em nosso meio, é passívelde inúmeras críticas quanto à sua padronização, cepa de Salmonella envolvida e possívelinterferência de vacinação prévia. Atualmente, não é indica<strong>do</strong> para fins de vigilânciaepidemiológica, pois não é suficiente para confirmar ou descartar um caso.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS353


Febre TifóideTratamentoO paciente deve ser trata<strong>do</strong> no nível ambulatorial, pois só excepcionalmente necessitade internação.Tratamento específicoDrogas de primeira escolha• Cloranfenicol – <strong>do</strong>seAdultos: 50mg /kg/dia, dividida em 4 tomadas (6/6 horas) até a <strong>do</strong>se máxima de4g/dia.Crianças: 50mg/kg/dia, dividida em 4 tomadas (6/6 horas) até a <strong>do</strong>se máxima de3g/dia.A via de administração preferencial é a oral. Quan<strong>do</strong> os <strong>do</strong>entes tornam-se afebris, oque em geral ocorre a partir <strong>do</strong> quinto dia de tratamento, as <strong>do</strong>ses <strong>do</strong> cloranfenicol devemser reduzidas para 2g/dia (adultos) e 30mg/kg/dia (crianças). O tratamento é manti<strong>do</strong> por15 dias após o último dia de febre, perfazen<strong>do</strong> um máximo de 21 dias. Nos <strong>do</strong>entes comimpossibilidade de administração por via oral, utilizar a via parenteral.Efeitos colaterais – há possibilidade de toxicidade medular que pode se manifestarsob a forma de anemia (<strong>do</strong>se-dependente) ou mesmo anemia aplástica (reação idiossincrásica)– a qual, felizmente, é rara.Quanto à resistência da Salmonella typhi ao cloranfenicol, apesar de amplamente discutidana literatura, não parece ser problema no Brasil até o momento. Os insucessos terapêuticosnão devem ser atribuí<strong>do</strong>s à re sistência bacteriana, sem comprovação laboratoriale sem antes afastar outras causas.Drogas de segunda escolha• Ampicilina – <strong>do</strong>seAdultos: 1 mil a 1.500mg/<strong>do</strong>se, via oral, em 4 tomadas (6/6 horas) até a <strong>do</strong>se máximade 6 g/dia.Crianças: 100mg/kg/dia, via oral, dividida em 4 tomadas (6/6 horas).A administração oral é preferível à parenteral. A duração <strong>do</strong> tratamento é de 14 dias.• Sulfametoxazol + trimetoprima – <strong>do</strong>seAdultos: 800 a 1.600mg de sulfametoxazol/trimetoprima, via oral, dividida em 2tomadas (12/12 horas).Crianças: 30 a 50 mg/kg/dia de sulfametoxazol/trimetoprima, por via oral, divididaem 2 tomadas (12/12 horas).A duração <strong>do</strong> tratamento é de 14 dias.• Amoxicilina –<strong>do</strong>seAdultos: 3g/dia, via oral, dividida em 3 tomadas (8/8 horas) até a <strong>do</strong>se máxima de 4g.Crianças: 100mg/kg/dia, via oral, dividida em 3 tomadas (8/8 horas).354 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre TifóideA duração <strong>do</strong> tratamento é de 14 dias. Com o uso deste antimicrobiano, pode havermaior freqüência de intolerância gastrointestinal.• Quinolonas – há pelo menos duas quinolonas com eficácia comprovada contra aSalmonella typhi: a ciprofloxacina e a ofloxacina. São drogas pouco tóxicas, mas têmcomo principal desvantagem a contra-indicação para uso em crianças e gestantes e,como fator limitante, o preço eleva<strong>do</strong>. Em nosso país, estão particularmente indicadaspara casos comprova<strong>do</strong>s de resistência bacteriana aos antimicrobianos tradicionalmenteutiliza<strong>do</strong>s. Provavelmente são as melhores opções para os porta<strong>do</strong>res deHIV ou aids.❯ Ciprofloxacina – <strong>do</strong>se: 500mg/<strong>do</strong>se, via oral, em duas tomadas (12/12 horas)durante 10 dias. Caso não seja possível a via oral, utilizar a en<strong>do</strong>venosa na <strong>do</strong>sede 200mg, de 12/12 horas.❯ Ofloxacina – <strong>do</strong>se: 400mg/<strong>do</strong>se, via oral, em duas tomadas (12/12 horas) ou 200a 400mg/<strong>do</strong>se, via oral, em 3 tomadas (8/8 horas).A duração <strong>do</strong> tratamento é de 10 a 14 dias.6• Ceftriaxona – trata-se de uma droga com boa atividade contra a Salmonella typhi,constituin<strong>do</strong>-se em outra alternativa ao tratamento.Os pacientes devem receber adequa<strong>do</strong> tratamento de suporte. Atentar para o aparecimentode complicações graves como hemorragia e perfuração intestinal, pois, para aúltima, a indicação cirúrgica é imediata.F• Tratamento específico para o esta<strong>do</strong> de porta<strong>do</strong>r – ampicilina ou amoxicilina nasmesmas <strong>do</strong>ses e freqüência para tratamento <strong>do</strong> caso clínico.Sete dias após o término <strong>do</strong> tratamento, iniciar a coleta de três coproculturas, com intervalode 30 dias entre cada uma. Caso uma delas seja positiva, essa série pode ser suspensa e oindivíduo deve ser novamente trata<strong>do</strong>, de preferência com quinolona (ciprofloxacina, 500mg,via oral, de 12/12 horas durante 4 semanas) e esclareci<strong>do</strong> quanto ao risco que re presenta paraos seus comunicantes íntimos e para a comuni dade em geral. O tempo ideal de tratamentopara porta<strong>do</strong>res crônicos ainda não está bem defini<strong>do</strong>. Pacientes com litíase biliar ou anomaliasbiliares, que não respondem ao tratamento com antimicrobianos, devem ser colecistectomiza<strong>do</strong>s.Na salmonelose septicêmica prolongada, as salmonelas têm nos helmintos umlocal favorável para sua proliferação. De mo<strong>do</strong> geral, o tratamento antiesquistossomótico, aoerradicar a helmintíase, faz cessar a septicemia e promove a cura da salmonelose.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS355


Febre TifóideAspectos epidemiológicosA febre tifóide não apresenta sazonalidade ou outras alterações cíclicas que tenhamimportância prática, bem como distribuição geográfica espe cial. Sua ocorrência está diretamenterelacionada às condições de saneamento existentes e aos hábitos indivi duais. Emáre as endêmicas, acomete com maior freqüência indivíduos de 15 a 45 anos e sua taxa deata que diminui com a idade. No Brasil, nas últimas décadas, constata-se uma ten dênciade declínio nos coeficientes de morbimortalidade por febre tifóide. Entretanto, estes da<strong>do</strong>sdevem ser vistos com cautela quanto à sua representatividade e fidedignidade, pelasseguintes razões:• 20% <strong>do</strong> total de óbitos têm causa básica ignorada;• dificuldades quanto ao diagnóstico laboratorial necessário para a identificação <strong>do</strong>agente etiológico;• precariedades <strong>do</strong> sistema de informação (comparan<strong>do</strong>-se os da<strong>do</strong>s de febre tifóidede fontes distintas, observam-se disparidades entre eles).Estes indica<strong>do</strong>res apresentam importantes variações quan<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>s por regiõese unidades da Federação. As regiões Norte e Nordeste registram sempre números maiseleva<strong>do</strong>s devi<strong>do</strong> à precariedade de suas condições sanitárias, onde menos de 50% de suapopulação dispõe de algum tipo de abastecimento de água.Vigilância epidemiológicaObjetivos• Reduzir a incidência e a letalidade.• Impedir ou dificultar a propagação da <strong>do</strong>ença.• Controlar surtos.Definição de casoSuspeitoIndivíduo com febre persistente, acompanhada ou não de um ou mais <strong>do</strong>s seguintessinais e sintomas: cefaléia, mal-estar geral, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal, anorexia, dissociação pulso-temperatura,constipação ou diarréia, tosse seca, roséolas tíficas (manchas rosadas no tronco– acha<strong>do</strong> raro) e esplenomegalia.Confirma<strong>do</strong>Critério clínico-laboratorial – indivíduo que apresente acha<strong>do</strong>s clínicos compatíveiscom a <strong>do</strong>ença e houver isolamento da Salmonella typhi ou detecção pela técnica de PCR.Critério clínico-epidemiológico – indivíduo com quadro clinicamente compatível eepidemiologicamente associa<strong>do</strong> com um caso confirma<strong>do</strong> por critério laboratorial.356 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre TifóidePorta<strong>do</strong>rIndivíduo que, após ter a <strong>do</strong>ença na forma clínica ou subclínica, continua eliminan<strong>do</strong>bacilos por vários meses. Tem particular importância para a vigilância epidemiológica porquemantém a endemia, poden<strong>do</strong> dar origem a surtos epidêmicos.Descarta<strong>do</strong>Caso que não preenche os requisitos postula<strong>do</strong>s para a sua confirmação.NotificaçãoA notificação é feita por meio de instrumentos padroniza<strong>do</strong>s: ficha individual de notificaçãoe ficha de investigação da febre tifóide <strong>do</strong> Sistema de Informação Nacional de Agravosde Notificação (Sinan). Do completo preenchimento destes instrumentos depende arepresentatividade <strong>do</strong> sistema, ou seja, a sua capacidade de descrever com relativa exatidãoa ocorrência <strong>do</strong> evento no tempo e no espaço e segun<strong>do</strong> atributos <strong>do</strong> indivíduo e da população.Da agilidade da execução da notificação depende a oportunidade da intervenção, que éo intervalo entre a ocorrência de um evento e o cumprimento das etapas previstas no sistema:notificação, identificação de tendências e desencadeamento das medidas de controle.Apesar da importância desta fonte de da<strong>do</strong>s, a exemplo de outras <strong>do</strong>enças existe grandesubnotificação da febre tifóide no país. As razões são várias e incluem:• inúmeros casos da <strong>do</strong>ença não são diagnostica<strong>do</strong>s;• dificuldades de acesso aos serviços de saúde;• não reconhecimento <strong>do</strong> caso suspeito;• uso precoce de antimicrobianos em situações clínicas indefinidas.6FPrimeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteO tratamento é sempre ambulatorial. Só excepcionalmente, quan<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> pacienteestá muito comprometi<strong>do</strong>, indica-se a internação.Qualidade da assistênciaÉ importante que a rede assistencial esteja preparada para prestação de uma assistênciaadequada ao paciente, principalmente para uma pronta atuação em caso de aparecimentode complicações.Proteção individual• O isolamento <strong>do</strong> paciente não é necessário.• Orienta-se a a<strong>do</strong>ção de medidas de precauções entéricas – nas unidades assistenciais,além das medidas básicas de higiene, recomenda-se a utilização de luvas paraa manipulação de material contamina<strong>do</strong> e de batas, caso haja a possibilidade decontaminação.• Desinfecção <strong>do</strong>s objetos que tiveram contato com excretas.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS357


Febre Tifóide• Tratamento clínico adequa<strong>do</strong>.• Autocuida<strong>do</strong> <strong>do</strong> paciente volta<strong>do</strong> para a sua higiene pessoal, especialmente a lavagemdas mãos.• O paciente deve ser afasta<strong>do</strong> das atividades habituais até a cura, quan<strong>do</strong> oferecerrisco de disseminação.• Orientação sobre a importância <strong>do</strong> saneamento (<strong>do</strong>miciliar e peri<strong>do</strong>miciliar) pelaincorporação de hábitos saudáveis para a superação <strong>do</strong>s fatores de risco.Confirmação diagnósticaColetar material para diagnóstico laboratorial.Proteção da população• Destino adequa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s dejetos e águas servidas.• Destino adequa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s resíduos sóli<strong>do</strong>s.• Proteção <strong>do</strong>s mananciais de água para consumo humano e garantia de potabilizaçãoadequada.• Cuida<strong>do</strong>s com os alimentos em todas as fases, da produção ao consumo, principalmenteaqueles mais implica<strong>do</strong>s com o agravo.• Orientar pacientes, porta<strong>do</strong>res e convalescentes sobre os cuida<strong>do</strong>s de higiene pessoal.• Realizar vigilância <strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>res e garantir o afastamento <strong>do</strong>s mesmos de atividadesque envolvam a manipulação de alimentos.InvestigaçãoTem por objetivo obter informa ções sobre as características epidemiológicas da <strong>do</strong> ença,definir as tendências <strong>do</strong> seu comportamento e permi tir a proposição de alternativas parasua prevenção e controle.Roteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos relativos a da<strong>do</strong>s gerais, notificação individual e residênciaconstantes da ficha de in vestigação epidemiológica <strong>do</strong> Sinan.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPara confirmar a suspeita diagnóstica• Anotar na ficha de investigação os da<strong>do</strong>s da história e manifestações clínicas.• Caracterizar clinicamente o caso.• Verificar se já foi coleta<strong>do</strong> e encaminha<strong>do</strong> material para exame diagnóstico (fezes,sangue, urina), observan<strong>do</strong> se houve uso prévio de antibiótico.• Hospitalizar o paciente, se necessário; sugere-se fazer uma cópia <strong>do</strong> prontuário coma anamnese, exame físico e evolução <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente, com vistas ao enriquecimento das358 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre Tifóideanálises e também para que as informações possam servir como instrumento deaprendizagem <strong>do</strong>s profissionais <strong>do</strong> nível local.• Determinar as prováveis fontes de infecção.• Acompanhar a evolução <strong>do</strong>s pacientes e os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames laboratoriais específicos.Para identificação da área de transmissão• Pesquisar a existência de casos semelhantes no <strong>do</strong>micílio, local de trabalho, de estu<strong>do</strong>,etc.• Proceder a busca ativa de casos na área.• Identificar os comunicantes e, entre esses, pesquisar porta<strong>do</strong> res mediante realizaçãode coprocultura.Muitas vezes, os porta<strong>do</strong>res trabalham em condi ções adequadas de higiene, mas acontaminação ocorre por quebra aciden tal e momentânea das normas.A contaminação pode, também ocorrer através de porta<strong>do</strong>r que não é manipula<strong>do</strong>rhabitual de alimentos.Na evidência de um caso isola<strong>do</strong> será muito difícil estabelecer a fonte de contaminação,mas não se deve dei xar de examinar e submeter a testes laboratoriais to<strong>do</strong>s oscomunicantes.Para determinação da extensão da área de transmissão – diante da ocorrência de umcaso ou surto de febre tifóide, faz-se ne cessário estabelecer, criteriosamente, a cronologia edistribuição geográfica. Pela cronologia pode-se observar duas situações relativas à distribuição<strong>do</strong>s casos: muitas vezes, os porta<strong>do</strong>res trabalham em condi ções adequadas de higiene,mas a contaminação ocorre por quebra aciden tal e momentânea das normas; a contaminaçãopode também ocorrer através de porta<strong>do</strong>r que não é manipula<strong>do</strong>r ha bitual de alimentos.Na evidência de um caso isola<strong>do</strong> será muito difícil estabelecer a fonte de contaminação,mas não se deve dei xar de examinar e submeter a testes laboratoriais to<strong>do</strong>s os comu nicantes.• Grande aglomeração de casos em um curto perío<strong>do</strong> de tempo, sugerin<strong>do</strong> intensacontaminação por fonte única, provavel mente circulação hídrica: dirigir a observaçãopara as fontes de abastecimento de água ou locais disponíveis onde a populaçãose abastece.• Pequenos aglomera<strong>do</strong>s de casos distribuí<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong> tempo, sugerin<strong>do</strong> contaminaçãode alimentos por porta<strong>do</strong>res: a atenção deve ser dirigida para alimentos esua manipulação. No en tanto, quan<strong>do</strong> a contaminação através de alimentos manipula<strong>do</strong>spor porta<strong>do</strong>res se faz num único momento, fica difícil a distinção com a distribuição<strong>do</strong>s casos por contaminação hí drica.6FPode-se esclarecer, com maior facilidade, a origem da contaminação a partir da distribuiçãogeográfica <strong>do</strong>s casos, utilizan<strong>do</strong>-se um mapa da localidade, consideran<strong>do</strong>, a seguir,os atributos pessoais <strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS359


Febre TifóideColeta e remessa de material para examesDeve ser providenciada a coleta de amostras clínicas, de água e alimentos suspeitoso mais precocemente possível. É da responsabilidade <strong>do</strong>s profissionais da vigilância epidemiológicae/ou <strong>do</strong>s laboratórios centrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmoproceder estas coletas.Não se deve aguardar os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames para o desencadeamento das medidasde controle e outras atividades da investigação, embora sejam imprescindíveis para aconfirmação de casos e nortear o encerramento das investigações.Análise de da<strong>do</strong>sOs da<strong>do</strong>s deverão ser analisa<strong>do</strong>s de mo<strong>do</strong> a permitir o acompanhamento da tendênciada <strong>do</strong>ença. Essa aná lise compreende os seguintes aspectos principais:• distribuição semanal e anual de casos e óbitos;• coeficiente de incidência por atributos pessoais (idade, sexo e outros) e área geográfica;• letalidade por grupos etários e área geográfica;• percentual de casos notifica<strong>do</strong>s que foram investiga<strong>do</strong>s;• percentual de casos de febre tifóide diagnostica<strong>do</strong>s por laboratório.Encerramento de casosAs fichas epidemiológicas de cada caso devem ser analisadas visan<strong>do</strong> definir qual ocritério utiliza<strong>do</strong> para o diagnóstico, consideran<strong>do</strong> as seguintes alternativas:• Confirma<strong>do</strong> por critério clínico-laboratorial – caso que preencha os requisitospostula<strong>do</strong>s na definição de caso confirma<strong>do</strong>.• Confirma<strong>do</strong> por critério clínico-epidemiológico – caso que preencha os requisitospostula<strong>do</strong>s na definição de caso confirma<strong>do</strong>.• Óbito – será considera<strong>do</strong> óbito por febre tifóide aquele em que os acha<strong>do</strong>s clínicosforem compatíveis com a <strong>do</strong>ença e houver isolamento da Salmonella typhi ou detecçãopela técnica de PCR; ou o caso clinicamente compatível e epidemiologicamenteassocia<strong>do</strong>, ou seja, com forte vínculo com um caso confirma<strong>do</strong> por critério laboratorial.• Caso descarta<strong>do</strong> – caso notifica<strong>do</strong> como febre tifóide que, após investigação epidemiológica,não tenha preenchi<strong>do</strong> os requisitos para a confirmação pelo critériolaboratorial ou clínico-epidemiológico.Relatório finalDeverá conter uma descrição das etapas da investigação e ações desenvolvidas, bemcomo apontar as conclusões e recomendações pertinentes para a prevenção de eventos futuros.360 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre TifóideInstrumentos disponíveis para controleImunizaçãoA vacina contra a febre tifóide não é a principal arma para seu controle. Esta <strong>do</strong>ençaexige a concentração de esforços nas medidas de higiene individual e na melhoria <strong>do</strong> saneamento.A vacina, portanto, não apresenta valor prático para o con trole de surtos, nãosen<strong>do</strong> também recomendada em situações de calami dade. A experiência tem demonstra<strong>do</strong>que quanto maior a diluição das salmonelas, menor o risco de adquirir a <strong>do</strong>ença. Esse fatoparece estar de acor<strong>do</strong> com a observação geral de que, embora temida pelas autoridadessanitárias durante as enchentes, a febre tifóide não costuma produzir surtos nessas ocasiões,provavelmente em razão da maior diluição de bactéria no meio hídrico.Além disso, sabe-se que a vacina atualmente disponível não possui um alto poderimunogênico e que esta imunidade é de curta duração, sen<strong>do</strong> indicada apenas para pessoassujeitas a exposições excepcionais, como os trabalha<strong>do</strong>res que entram em contato comesgotos; para aqueles que ingressem em zonas de alta endemicidade, como por ocasião deviagem; e para quem vive em áreas onde a incidência é comprovadamente alta. Com a exceçãode recrutas, não há recomendação atual da vacina contra a febre tifóide em massa ourotineiramente, em populações circunscritas.6Atualmente, utilizam-se <strong>do</strong>is tipos de vacina contra a febre tifóide:• a vacina composta de bactéria viva atenuada, apresentada em frasco uni<strong>do</strong>se conten<strong>do</strong>três cápsulas;• a vacina polissacarídica, apresentada em frasco de uma, 20 ou 50 <strong>do</strong>ses (depende <strong>do</strong>laboratório produtor).FO esquema básico de vacinação, quan<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>, compreende:• vacina contra febre tifóide composta de bactéria viva atenuada – corresponde a uma<strong>do</strong>se, ou seja, três cápsulas, a partir <strong>do</strong>s cinco anos de idade. Cada cápsula é administradavia oral, sob supervisão, em dias alterna<strong>do</strong>s – no primeiro, terceiro e no quintodias. A cada cinco anos é feita uma <strong>do</strong>se de reforço;• vacina polissacarídica – consiste de uma <strong>do</strong>se de 0,5 ml, subcutânea, a partir <strong>do</strong>s <strong>do</strong>isanos de idade. Nas situações de exposição contínua, revacinar a cada <strong>do</strong>is anos.Eventos adversos pós-vacinação:• vacina contra a febre tifóide composta de bactéria viva atenuada – desconforto ab<strong>do</strong>minal,náuseas, vômitos, febre, <strong>do</strong>r de cabeça e erupções cutâneas;• vacina polissacarídica – febre, <strong>do</strong>r de cabeça e eritema no local da aplicação.Reações locais e sistêmicas são relativamente comuns, manifestan<strong>do</strong>-se nas primeiras24 horas e regredin<strong>do</strong> geralmente nas primeiras 48 horas depois da aplicação da vacina.As vacinas contra a febre tifóide são conservadas entre +2ºC e +8ºC. O congelamentoprovoca a perda de potência.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS361


Febre TifóideAções de educação em saúdeDestacar os hábitos de higiene pessoal, principalmente a lavagem correta das mãos.Este as pecto é fundamental entre pessoas que manipulam alimentos e trabalham na atençãode pacientes e crianças. Observar cuida<strong>do</strong>s na preparação, manipulação, armazenamentoe distribuição de alimentos, bem como na pasteurização ou ebulição <strong>do</strong> leite e produtoslác teos. As moscas podem transportar mecanicamente para os ali mentos as bactérias presentesnas dejeções <strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes e porta <strong>do</strong>res, embora não desempenhem papel importantena propaga ção da <strong>do</strong>ença. Faz-se necessário proteger os alimentos <strong>do</strong> seu contato, a<strong>do</strong>tarcuida<strong>do</strong>s com relação ao lixo, telar portas e jane las, etc.Estratégias de prevençãoMedidas de saneamento – sen<strong>do</strong> a febre tifóide uma <strong>do</strong>ença de veiculação hídrica,seu controle está intimamente relaciona<strong>do</strong> ao desenvolvimento de adequa<strong>do</strong> sistema desaneamento básico, principalmente de fornecimento de água em quantidade suficiente, deboa qualidade, e à adequada manipulação <strong>do</strong>s alimentos. Não haven<strong>do</strong> rede pública de águae esgoto, a população deve ser ori entada sobre como proceder em relação ao abastecimentode água e destino de dejetos.Sistema público de abastecimento de água• Caso não haja desinfecção <strong>do</strong> sistema, proceder sua imedi ata implantação manten<strong>do</strong>a <strong>do</strong>sagem mínima de 0,2mg/l de cloro resi dual livre nas pontas da rede de distribuição.• Realizar a limpeza e desinfecção <strong>do</strong>s reservatórios de distri buição, sempre que necessário.• Manter pressão positiva na rede de distribuição de água.• Reparar possíveis pontos de contaminação (rachaduras, ca nalizações abertas, etc).• Realizar, periodicamente, análise bacteriológica da água.Sistema individual de abastecimento de água (poços, cister nas, minas, etc.)• Proceder a limpeza e desinfecção <strong>do</strong> sistema, fazen<strong>do</strong> a desinfecção da água.• Orientar sobre como realizar a proteção sanitária dessas fontes de abastecimento deágua.Medidas gerais• Proceder a limpeza e desinfecção periódica das caixas de água de instituições públicas(escolas, creches, hospitais, centros de saúde, asilos, presídios, etc.), a cada seismeses ou com intervalo menor, se necessário.• Orientar a população para proceder a limpeza e desinfecção das caixas de água <strong>do</strong>miciliares,a cada seis meses ou com intervalo menor, se necessário.• Em locais onde a água for considerada suspeita, orientar a população para ferver ouclorar a água.362 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Febre TifóideMedidas referentes aos dejetos• Proceder a limpeza e reparo de fossas, se necessário.• Orientar a população quanto ao uso correto de fossas sépticas e poços absorventes,em locais provi<strong>do</strong>s de rede de água.Medidas referentes aos alimentos – alguns procedimentos devem ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s paraevitar a transmissão da febre tifóide a partir da ingestão de alimentos contamina<strong>do</strong>s. Dentreeles, destacam-se:• a origem da matéria-prima ou <strong>do</strong> produto alimentício (datas de produção e validadedevem ser conhecidas);• o armazenamento <strong>do</strong> alimento deve ocorrer em condições que lhe confira proteçãocontra sua contaminação e reduza, ao mínimo, a incidência de danos e deteriorização;• a manipulação <strong>do</strong> alimento deve ocorrer em ambientes saudáveis e por indivíduospossui<strong>do</strong>res de bons hábitos de higiene e que não estejam com <strong>do</strong>ença infectocontagiosa;• o preparo deverá envolver processos e condições que excluam toda e qualquer possibilidadeda presença de Salmonella typhi no alimento pronto para consumo;• os utensílios e equipamentos que interagem com os alimentos devem estar cuida<strong>do</strong>samentehigieniza<strong>do</strong>s para evitar a contaminação <strong>do</strong> produto;• a conservação <strong>do</strong> produto alimentício acaba<strong>do</strong> e pronto para consumo deve ocorrerem ambientes especiais (refrigeração), para que sejam mantidas as suas característicase não seja facultada a proliferação de microrganismos;• o alimento pronto para consumo deverá ser armazena<strong>do</strong> e transporta<strong>do</strong> em condiçõestais que excluam a possibilidade de sua contaminação.6FSecretaria de Vigilância em Saúde / MS363


HanseníaseHANSENÍASECID 10: A30Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoDoença crônica granulamatosa, proveniente de infecção causada pelo Mycobacteriumleprae. Este bacilo tem a capacidade de infectar grande número de indivíduos (alta infectividade),no entanto poucos a<strong>do</strong>ecem (baixa patogenicidade), propriedades estas que não sãofunção apenas de suas características intrínsecas, mas que dependem, sobretu<strong>do</strong>, de sua relaçãocom o hospedeiro e grau de endemicidade <strong>do</strong> meio, entre outros. O <strong>do</strong>micílio é aponta<strong>do</strong>como importante espaço de transmissão da <strong>do</strong>ença, embora ainda existam lacunasde conhecimento quanto aos prováveis fatores de risco implica<strong>do</strong>s, especialmente aquelesrelaciona<strong>do</strong>s ao ambiente social. O alto potencial incapacitante da hanseníase está diretamenterelaciona<strong>do</strong> ao poder imunogênico <strong>do</strong> Mycobacterium leprae. A hanseníase pareceser uma das mais antigas <strong>do</strong>enças que acomete o homem. As referências mais remotas datamde 600 a.C. e procedem da Ásia, que, juntamente com a África, podem ser consideradaso berço da <strong>do</strong>ença. A melhoria das condições de vida e o avanço <strong>do</strong> conhecimento científicomodificaram significativamente esse quadro e, hoje, a hanseníase tem tratamento e cura.Agente etiológicoBacilo álcool-áci<strong>do</strong> resistente, Mycobacterium leprae. É um parasita intracelular obrigatórioque apresenta afinidade por células cutâneas e por células <strong>do</strong>s nervos periféricos.ReservatórioO homem é reconheci<strong>do</strong> como a única fonte de infecção, embora tenham si<strong>do</strong> identifica<strong>do</strong>sanimais naturalmente infecta<strong>do</strong>s – o tatu, o macaco mangabei e o chimpanzé. Os<strong>do</strong>entes multibacilares sem tratamento – hanseníase virchowiana e hanseníase dimorfa– são capazes de eliminar grande quantidade de bacilos para o meio exterior (carga bacilarde cerca de 10 milhões de bacilos presentes na mucosa nasal).Mo<strong>do</strong> de transmissãoA principal via de eliminação <strong>do</strong>s bacilos é a aérea superior, sen<strong>do</strong> que o trato respiratórioé a mais provável via de entrada <strong>do</strong> Mycobacterium leprae no corpo. O trato respiratóriosuperior <strong>do</strong>s pacientes multibacilares (virchowianos e dimorfos) é a principal via deeliminação <strong>do</strong> Mycobacterium leprae encontrada no meio ambiente.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoA hanseníase apresenta longo perío<strong>do</strong> de incubação; em média, de <strong>do</strong>is a sete anos. Háreferência a perío<strong>do</strong>s mais curtos, de sete meses, como também de mais de dez anos.364 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


HanseníasePerío<strong>do</strong> de transmissibilidadeOs <strong>do</strong>entes paucibacilares (indetermina<strong>do</strong>s e tuberculóides) não são considera<strong>do</strong>s importantescomo fonte de transmissão da <strong>do</strong>ença, devi<strong>do</strong> à baixa carga bacilar. Os pacientesmultibacilares, no entanto, constituem o grupo contagiante, assim se manten<strong>do</strong> enquantonão se iniciar o tratamento específico.Susceptibilidade e imunidadeComo em outras <strong>do</strong>enças infecciosas, a conversão de infecção em <strong>do</strong>ença dependede interações entre fatores individuais <strong>do</strong> hospedeiro, ambientais e <strong>do</strong> próprio M. leprae.Devi<strong>do</strong> ao longo perío<strong>do</strong> de incubação, é menos freqüente na infância. Contu<strong>do</strong>, em áreasmais endêmicas, a exposição precoce, em focos <strong>do</strong>miciliares, aumenta a incidência de casosnessa faixa etária. Embora acometa ambos os sexos, observa-se pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> sexomasculino, em uma relação de <strong>do</strong>is para um.6Aspectos clínicos e laboratoriaisDiagnósticoClínicoOs aspectos morfológicos das lesões cutâneas e classificação nas quatro formas clínicaspodem ser utiliza<strong>do</strong>s nas áreas com profissionais especializa<strong>do</strong>s e em investigação científica.Entretanto, a ampliação da cobertura de diagnóstico e tratamento impõe a a<strong>do</strong>ção daclassificação operacional, baseada no número de lesões (Quadro 1).HDiferencialAs seguintes dermatoses podem se assemelhar a algumas formas e reações de hanseníasee exigem segura diferenciação: eczemátides, nevo acrômico, pitiríase versicolor, vitiligo,pitiríase rósea de Gilbert, eritema solar, eritrodermias e eritemas difusos vários, psoríase,eritema polimorfo, eritema no<strong>do</strong>so, eritemas anulares, granuloma anular, lúpus eritematoso,farmacodermias, fotodermatites polimorfas, pelagra, sífilis, alopécia areata (pelada),sarcoi<strong>do</strong>se, tuberculose, xantomas, hemoblastoses, esclerodermias, neurofibromatose deVon Recklinghausen.LaboratorialExame baciloscópico – pode ser utiliza<strong>do</strong> como exame complementar para a classificação<strong>do</strong>s casos em MB e PB. Baciloscopia positiva indica hanseníase multibacilar, independentemente<strong>do</strong> número de lesões.Exame histopatológico – indica<strong>do</strong> como suporte na elucidação diagnóstica e em pesquisas.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS365


HanseníaseQuadro 1. Sinopse para classificação das formas clínicas da hanseníaseCaracterísticasClínicas Baciloscópicas Formas clínicasClassificação operacionalvigente para a rede públicaÁreas de hipo ou anestesia, parestesias, manchashipocrômicas e/ou eritemohipocrômicas, com ousem diminuição da su<strong>do</strong>rese e rarefação de pêlosPlacas eritematosas, eritemato-hipocrômicas,bem delimitadas, hipo ou anestésicas, comcomprometimento de tronco nervosoNegativaNegativaIndeterminada(HI)Tuberculóide(HT)Paucibacilar (PB)até 5 lesões de peleLesões pré-foveolares (eritematosas planas como centro claro). Lesões foveolares (eritematopigmentaresde tonalidade ferruginosa ou pardacenta),apresentan<strong>do</strong> alterações de sensibilidadeEritema e infiltração difusos, placas eritematosasinfiltradas e de bordas mal definidas, tubérculose nódulos, madarose, lesões das mucosas,com alteração de sensibilidadePositiva (bacilose globiasou com rarosbacilos) ounegativaPositiva (bacilosabundantes eglobias)Dimorfa (HD)Virchowiana(HV)Multibacilar (MB)mais de 5 lesõesde peleNotas:• Na hanseníase virchowiana, afora as lesões dermatológicas e das mucosas, ocorrem também lesões viscerais.• As manifestações neurológicas são comuns a todas as formas clínicas. Na hanseníase indeterminada, não hácomprometimento de troncos nervosos, não ocorren<strong>do</strong> problemas motores. Na hanseníase tuberculóide, o comprometimento<strong>do</strong>s nervos é mais precoce e intenso.• Os casos não classifica<strong>do</strong>s quanto à forma clínica serão considera<strong>do</strong>s para fins de tratamento como multibacilares.TratamentoO tratamento <strong>do</strong> paciente com hanseníase é indispensável para curá-lo e fechar a fontede infecção, interrompen<strong>do</strong> assim a cadeia de transmissão da <strong>do</strong>ença, sen<strong>do</strong> portanto estratégicono controle da endemia e para eliminar a hanseníase. O quantitativo <strong>do</strong>s medicamentosutiliza<strong>do</strong>s é calcula<strong>do</strong> com base no número de casos, pela equipe técnica <strong>do</strong> ProgramaNacional de Eliminação da Hanseníase, conjuntamente com a assistência farmacêutica,garantin<strong>do</strong> o tratamento de to<strong>do</strong>s os pacientes.O tratamento é eminentemente ambulatorial. Nos serviços básicos de saúde, administra-seuma associação de medicamentos, a poliquimioterapia (PQT/OMS). A regularidade<strong>do</strong> tratamento é fundamental para a cura <strong>do</strong> paciente. A prevenção de incapacidades éatividade primordial durante o tratamento e, em alguns casos, até mesmo após a alta, sen<strong>do</strong>parte integrante <strong>do</strong> tratamento <strong>do</strong> paciente com hanseníase. Para o paciente, o aprendiza<strong>do</strong><strong>do</strong> auto-cuida<strong>do</strong> é arma valiosa para evitar seqüelas.Na tomada mensal de medicamentos é feita uma avaliação <strong>do</strong> paciente, para acompanhara evolução de suas lesões de pele e comprometimento neural, verifican<strong>do</strong>-se se hápresença de neurites ou esta<strong>do</strong>s reacionais. Quan<strong>do</strong> necessárias, são orientadas técnicasde prevenção de incapacidades e deformidades, bem como os auto-cuida<strong>do</strong>s que devemdiariamente ser realiza<strong>do</strong>s, para evitar as complicações da <strong>do</strong>ença, sen<strong>do</strong> verificada suacorreta realização.366 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


HanseníaseO encaminhamento da pessoa com hanseníase para uma unidade de referência somenteestá indica<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> houver necessidade de cuida<strong>do</strong>s especiais – no caso de intercorrênciasgraves (efeitos colaterais e para qualquer alteração no esquema terapêutico padrão)ou para correção cirúrgica. Nestes casos, após a realização <strong>do</strong> procedimento indica<strong>do</strong>,ela deve retornar para o acompanhamento rotineiro em sua unidade básica.Não é eticamente recomendável tratar o paciente com hanseníase com um só medicamento.Tratamento quimioterápicoA PQT/OMS mata o bacilo, tornan<strong>do</strong>-o inviável e evita a evolução da <strong>do</strong>ença, prevenin<strong>do</strong>as incapacidades e deformidades por ela causadas, levan<strong>do</strong> à cura. O bacilo mortoé incapaz de infectar outras pessoas, rompen<strong>do</strong> a cadeia epidemiológica da <strong>do</strong>ença. Assimsen<strong>do</strong>, logo no início <strong>do</strong> tratamento a transmissão da <strong>do</strong>ença é interrompida e, se realiza<strong>do</strong>de forma completa e correta, garante a cura da <strong>do</strong>ença.A PQT/OMS é constituída pelo conjunto <strong>do</strong>s seguintes medicamentos: rifampicina,dapsona e clofazimina, com administração associada.Essa associação evita a resistência medicamentosa <strong>do</strong> bacilo que ocorre, com freqüência,quan<strong>do</strong> se utiliza apenas um medicamento, impossibilitan<strong>do</strong> a cura da <strong>do</strong>ença.É administrada através de esquema-padrão, de acor<strong>do</strong> com a classificação operacional<strong>do</strong> <strong>do</strong>ente em paucibacilar e multibacilar. A informação sobre a classificação <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente éfundamental para se selecionar o esquema de tratamento adequa<strong>do</strong> ao seu caso.Para crianças com hanseníase, a <strong>do</strong>se <strong>do</strong>s medicamentos <strong>do</strong> esquema-padrão é ajustadade acor<strong>do</strong> com a idade. Já no caso de pessoas com intolerância a um <strong>do</strong>s medicamentos<strong>do</strong> esquema-padrão, são indica<strong>do</strong>s esquemas alternativos.A alta por cura é dada, após a administração <strong>do</strong> número de <strong>do</strong>ses preconiza<strong>do</strong>, peloesquema terapêutico.6HEsquema paucibacilar (PB) – Pacientes com até 5 lesões de peleNeste caso, é utilizada uma combinação da rifampicina e dapsona, acondicionadasnuma cartela, no seguinte esquema:• medicação:rifampicina – uma <strong>do</strong>se mensal de 600mg (2 cápsulas de 300mg) com administraçãosupervisionada;dapsona – uma <strong>do</strong>se mensal de 100mg supervisionada e uma <strong>do</strong>se diária autoadministrada;• duração <strong>do</strong> tratamento – 6 <strong>do</strong>ses mensais supervisionadas de rifampicina;• critério de alta – 6 <strong>do</strong>ses supervisionadas em até 9 meses (Figura 1).Secretaria de Vigilância em Saúde / MS367


HanseníaseFigura 1. Cartela (PB)Dose mensalsupervisionadaDapsonaDose diáriaauto-administradaRifampicinaDapsonaEsquema multibacilar (MB) – Pacientes com mais de 5 lesões de peleAqui é utilizada uma combinação da rifampicina, dapsona e clofazimina, acondicionadasnuma cartela, no seguinte esquema:• medicação:rifampicina: uma <strong>do</strong>se mensal de 600mg (2 cápsulas de 300mg) com administraçãosupervisionada;dapsona: uma <strong>do</strong>se mensal de 100mg supervisionada e uma <strong>do</strong>se diária autoadministrada;clofazimina: uma <strong>do</strong>se mensal de 300mg (3 cápsulas de 100mg) com administraçãosupervisionada e uma <strong>do</strong>se diária de 50mg auto-administrada.• duração <strong>do</strong> tratamento: 12 <strong>do</strong>ses mensais supervisionadas de rifampicina;• critério de alta: 12 <strong>do</strong>ses supervisionadas em até 18 meses (Figura 2).Figura 2. Cartela (MB)Dose mensalsupervisionadaDapsonaClofaziminaRifampicinaDose diáriaauto-administradaDapsonaClofaziminaCasos multibacilares que iniciam o tratamento, com numerosas lesões e/ou extensasáreas de infiltração cutânea, poderão apresentar regressão mais lenta das lesões depele. A maioria desses <strong>do</strong>entes continuará melhoran<strong>do</strong> após a conclusão <strong>do</strong> tratamentocom 12 <strong>do</strong>ses. É possível, no entanto, que alguns demonstrem pouca melhora e, porisso, poderão necessitar de até 12 <strong>do</strong>ses adicionais de PQT.368 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


HanseníaseEsquema de tratamento para criançasPara crianças com hanseníase, as <strong>do</strong>ses de medicamentos <strong>do</strong>s esquemas paucibacilar emultibacilar são ajustadas de acor<strong>do</strong> com os seguintes quadros:Paucibacilar (Figura 3)Idade em anosDapsona (DDS) diáriaauto-administradaDDS mensalsupervisionadaRifampicina (RFM)mensal supervisionada0-56-1425mg50-100mg25mg50-100mg150-300mg300-450mgFigura 3. Cartela (PB) para criançasDose mensalsupervisionadaDapsona(50mg)6Medicação diáriaauto-administradaRifampicina(150mg)Rifampicina(300mg)Dapsona(50mg)HMultibacilar (Figura 4)Idadeem anosDapsona (DDS)diária autoadministradaDapsona (DDS)supervisionadaRifampicina(RFM) mensalsupervisionadaClofaziminaAuto-administradaSupervisonadamensal0-56-1425mg50-100mg25mg50-100mg50-300mg300-450mg100mg/semana150mg/semana100mg150-200mgFigura 4. Cartela (MB) para criançasDapsona(50mg)Dose mensalsupervisionadaClofazimina(50mg)Medicação diáriaauto-administradaRifampicina(150mg)Rifampicina(300mg)Dapsona(50mg)Clofazimina(150mg)Secretaria de Vigilância em Saúde / MS369


HanseníaseEsquema alternativoMedicamentoRifampicinaOfloxacinaMinociclinaClassificaçãoPB, lesão única sem envolvimento de tronco nervoso 1600mg, em <strong>do</strong>se única, supervisionada400mg, em <strong>do</strong>se única, supervisionada100mg, em <strong>do</strong>se única, supervisionada1Este esquema é conheci<strong>do</strong> como ROM (rifampicina, ofloxacina e minociclina) e deve ser usa<strong>do</strong>exclusivamente para tratar pacientes PB com lesão única, sem envolvimento de troncos nervosos.É recomenda<strong>do</strong> somente para uso em centros de referência.Prevenção e tratamento de incapacidades físicasAs atividades de prevenção e tratamento de incapacidades não devem ser dissociadas<strong>do</strong> tratamento PQT/OMS. Desenvolvidas durante o acompanhamento de cada caso, devemser integradas na rotina <strong>do</strong>s serviços da unidade de saúde, de acor<strong>do</strong> com o seu grau decomplexidade.A a<strong>do</strong>ção de atividades de prevenção e tratamento de incapacidades será baseada nasinformações obtidas através da avaliação neurológica, no diagnóstico da hanseníase. Estas informaçõesreferem-se ao comprometimento neural ou às incapacidades físicas identificadas,as quais merecem especial atenção ten<strong>do</strong> em vista suas conseqüências na vida econômica esocial <strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>res de hanseníase, ou mesmo suas eventuais seqüelas naqueles já cura<strong>do</strong>s.Durante o tratamento PQT/OMS, e em alguns casos após a alta, o profissional de saúdedeve ter uma atitude de vigilância em relação ao potencial incapacitante da <strong>do</strong>ença,visan<strong>do</strong> diagnosticar precocemente e tratar adequadamente as neurites e reações, a fim deprevenir incapacidades e evitar que as mesmas evoluam para deformidades.Duração <strong>do</strong> tratamento e critério de altaO esquema de administração da <strong>do</strong>se supervisionada deve ser o mais regular possível:de 28 em 28 dias. Porém, se o contato não ocorrer na unidade de saúde no dia agenda<strong>do</strong>,a medicação precisa ser dada mesmo que no <strong>do</strong>micílio, pois a garantia da administraçãoda <strong>do</strong>se supervisionada e da entrega <strong>do</strong>s medicamentos indica<strong>do</strong>s para a automedicação éimprescindível para o tratamento adequa<strong>do</strong>.A duração <strong>do</strong> tratamento PQT/OMS deve obedecer aos prazos estabeleci<strong>do</strong>s: de 6 <strong>do</strong>sesmensais supervisionadas de rifampicina, tomadas em até 9 meses, para os casos paucibacilares,e de 12 <strong>do</strong>ses mensais supervisionadas de rifampicina, tomadas em até 18 meses,para os casos multibacilares.A assistência regular ao paciente paucibacilar, na unidade de saúde ou <strong>do</strong>micílio, éessencial para completar o tratamento em 6 meses. Se, por algum motivo, houver a interrupçãoda medicação, ela poderá ser retomada em até 3 meses, com vistas a completar otratamento no prazo de até 9 meses.Já em relação ao porta<strong>do</strong>r da forma multibacilar, que mantiver regularidade no tratamentosegun<strong>do</strong> o esquema preconiza<strong>do</strong>, o mesmo completar-se-á em 12 meses. Haven<strong>do</strong> ainterrupção da medicação está indica<strong>do</strong> o prazo de 6 meses para continuidade ao tratamentoe para que o mesmo possa ser completa<strong>do</strong> em até 18 meses.370 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


HanseníaseConsidera-se uma pessoa de alta, por cura, aquela que completa o esquema de tratamentoPQT nos seguintes prazos:• esquema paucibacilar (PB) – 6 <strong>do</strong>ses mensais supervisionadas de rifampicina, ematé 9 meses; mais a sulfona auto-administrada;• esquema multibacilar (MB) – 12 <strong>do</strong>ses mensais supervisionadas de rifampicina, ematé 18 meses, mais a sulfona auto-administrada e a clofazimina auto-administradae supervisionada.O paciente que tenha completa<strong>do</strong> o tratamento PQT/OMS não deverá mais ser considera<strong>do</strong>como caso de hanseníase, mesmo que permaneça com alguma seqüela da <strong>do</strong>ença.Deverá, porém, continuar a ser assisti<strong>do</strong> pelos profissionais da unidade de saúde, especialmentenos casos de intercorrências pós-alta: reações e monitoramento neural. Em caso dereações pós-alta, o tratamento PQT/OMS não deverá ser reinicia<strong>do</strong>.Durante o tratamento quimioterápico deve haver preocupação com a prevenção de incapacidadese deformidades, bem como o atendimento às possíveis intercorrências. Nestescasos, se necessário, o paciente será encaminha<strong>do</strong> para unidades de referência, para recebero tratamento adequa<strong>do</strong>. Sua internação somente está indicada em intercorrências graves,como efeitos colaterais graves <strong>do</strong>s medicamentos, esta<strong>do</strong>s reacionais graves ou necessidadede correção cirúrgica de deformidades físicas. A internação deve ser feita em hospitaisgerais e, após a alta hospitalar, deverá ser dada continuidade ao tratamento na unidade desaúde a qual está vincula<strong>do</strong>.Efeitos colaterais <strong>do</strong>s medicamentos e condutasComo os medicamentos em geral, aqueles utiliza<strong>do</strong>s na poliquimioterapia e no tratamento<strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s reacionais também podem provocar efeitos colaterais. No entanto, ostrabalhos bem controla<strong>do</strong>s, publica<strong>do</strong>s na literatura disponível, permitem afirmar que o tratamentoPQT/OMS raramente precisa ser interrompi<strong>do</strong> em virtude de efeitos colaterais.A equipe da unidade básica precisa estar sempre atenta para essas situações, deven<strong>do</strong>,na maioria das vezes, encaminhar a pessoa à unidade de referência para receber o tratamentoadequa<strong>do</strong>.A seguir, serão apresenta<strong>do</strong>s os possíveis efeitos colaterais <strong>do</strong>s medicamentos utiliza<strong>do</strong>sna PQT/OMS e no tratamento <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s reacionais, bem como as principais condutasa serem a<strong>do</strong>tadas para combatê-los. O diagnóstico desses efeitos colaterais é fundamentalmentebasea<strong>do</strong> nos sinais e sintomas por eles provoca<strong>do</strong>s.6HEfeitos colaterais <strong>do</strong>s medicamentos utiliza<strong>do</strong>s na PQTEfeitos colaterais da rifampicinaCutâneos – rubor de face e pescoço, pruri<strong>do</strong> e rash cutâneo generaliza<strong>do</strong>;Gastrointestinais – diminuição <strong>do</strong> apetite e náuseas. Ocasionalmente, podem ocorrervômitos, diarréias e <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal leve;Secretaria de Vigilância em Saúde / MS371


HanseníaseHepáticos – mal-estar, perda <strong>do</strong> apetite, náuseas, poden<strong>do</strong> ocorrer também icterícia.São descritos <strong>do</strong>is tipos de icterícias: a leve ou transitória e a grave, com danos hepáticosimportantes. A medicação deve ser suspensa e o paciente encaminha<strong>do</strong> à unidade dereferência se as transaminases e/ou bilirrubinas aumentarem mais de duas vezes o valornormal;Hematopoéticos – trombocitopenia, púrpuras ou sangramentos anormais, comoepistaxes. Podem também ocorrer hemorragias gengivais e uterinas. Nestes casos, o pacientedeve ser encaminha<strong>do</strong> ao hospital;Anemia hemolítica – tremores, febre, náuseas, cefaléia e às vezes, choque, poden<strong>do</strong>também ocorrer icterícia leve.Raramente ocorre uma síndrome “pseu<strong>do</strong>gripal” quan<strong>do</strong> o paciente apresenta: febre,calafrios, astenia, mialgias, cefaléia, <strong>do</strong>res ósseas. Este quadro pode evoluir com eosinofilia,nefrite intersticial, necrose tubular aguda, trombocitopenia, anemia hemolítica e choque.Esta síndrome muito rara se manifesta a partir da 2ª ou 4ª <strong>do</strong>se supervisionada, devi<strong>do</strong> àhipersensibilidade por formação de anticorpos anti-rifampicina, quan<strong>do</strong> o medicamento éutiliza<strong>do</strong> em <strong>do</strong>se intermitente.A coloração avermelhada da urina não deve ser confundida com hematúria.A secreção pulmonar avermelhada não deve ser confundida com escarros hemoptóicos.A pigmentação conjuntival não deve ser confundida com icterícia.Efeitos colaterais da clofaziminaCutâneos – ressecamento da pele, que pode evoluir para ictiose, alteração na coloraçãoda pele e suor. Nas pessoas de pele escura, a cor pode se acentuar; nas pessoas claras, apele pode ficar com uma coloração avermelhada ou adquirir um tom acinzenta<strong>do</strong>, devi<strong>do</strong>à impregnação e ao ressecamento. Estes efeitos ocorrem mais acentuadamente nas lesõeshansênicas e regridem, muito lentamente, após a suspensão <strong>do</strong> medicamento;Gastrointestinais – diminuição da peristalse e <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal, devi<strong>do</strong> ao depósito decristais de clofazimina nas submucosas e linfono<strong>do</strong>s intestinais, resultan<strong>do</strong> na inflamaçãoda porção terminal <strong>do</strong> intestino delga<strong>do</strong>. Estes para-efeitos poderão ser encontra<strong>do</strong>s commaior freqüência na utilização de <strong>do</strong>ses de 300mg/dia por perío<strong>do</strong>s prolonga<strong>do</strong>s, superioresa 90 dias.Efeitos colaterais da dapsonaCutâneos – síndrome de Stevens-Johnson, dermatite esfoliativa ou eritrodermia;Hepáticos – icterícias, náuseas e vômitos;Hemolíticos – tremores, febre, náuseas, cefaléia, às vezes choque, poden<strong>do</strong> tambémocorrer icterícia leve, metaemoglobinemia, cianose, dispnéia, taquicardia, cefaléia, fadiga,desmaios, náuseas, anorexia e vômitos.Outros efeitos colaterais raros podem ocorrer, tais como insônia e neuropatia motoraperiférica.372 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


HanseníaseEfeitos colaterais <strong>do</strong>s medicamentos utiliza<strong>do</strong>s nos episódios reacionaisEfeitos colaterais da tali<strong>do</strong>mida• teratogenicidade;• sonolência, edema unilateral de membros inferiores, constipação intestinal, securade mucosas e, mais raramente, linfopenia;• neuropatia periférica, não comum entre nós, pode ocorrer em <strong>do</strong>ses acumuladasacima de 40g, sen<strong>do</strong> mais freqüente em pacientes acima de 65 anos de idade.Efeitos colaterais <strong>do</strong>s corticosteróides• hipertensão arterial;• disseminação de infestação por Strongyloides stercoralis;• disseminação de tuberculose pulmonar;• distúrbios metabólicos: redução de sódio e potássio, aumento das taxas de glicose nosangue, alteração no metabolismo <strong>do</strong> cálcio, levan<strong>do</strong> à osteoporose e à síndrome deCushing;• gastrointestinais: gastrite e úlcera péptica;• outros efeitos: agravamento de infecções latentes, acne cortisônica e psicoses.6Condutas gerais em relação aos efeitos colaterais <strong>do</strong>s medicamentosA equipe de saúde deve estar sempre atenta para a possibilidade de ocorrência de efeitoscolaterais <strong>do</strong>s medicamentos utiliza<strong>do</strong>s na PQT e no tratamento <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s reacionais,deven<strong>do</strong> realizar imediatamente a conduta adequada.Condutas no caso de náuseas e vômitos incontroláveis• suspender o tratamento;• encaminhar o paciente para a unidade de referência;• solicitar exames complementares, para realizar diagnóstico diferencial com outrascausas;• investigar e informar à unidade de referência se estes efeitos ocorrem após a ingestãoda <strong>do</strong>se supervisionada de rifampicina, ou após as <strong>do</strong>ses auto-administradas dedapsona.HCondutas no caso de icterícia• suspender o tratamento se houver alteração das provas de função hepática, com valoressuperiores a duas vezes os normais;• encaminhar o paciente à unidade de referência;• fazer a avaliação da história pregressa: alcoolismo, hepatite e outras <strong>do</strong>enças hepáticas;• solicitar exames complementares necessários para realizar diagnóstico diferencial;• investigar se a ocorrência deste efeito está relacionada com a <strong>do</strong>se supervisionada derifampicina ou com as <strong>do</strong>ses auto-administradas de dapsona.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS373


HanseníaseCondutas no caso de anemia hemolítica• suspender o tratamento;• encaminhar o paciente à unidade de referência ou ao hematologista para avaliação econduta;• investigar se a ocorrência deste efeito está relacionada com a <strong>do</strong>se supervisionada derifampicina ou com as <strong>do</strong>ses auto-administradas de dapsona.Condutas no caso de metaemoglobinemia• leve – suspender o medicamento e encaminhar o paciente para unidade de referência;observar, pois geralmente ela desaparece, gradualmente, com a suspensão <strong>do</strong>medicamento;• grave – encaminhar para internação hospitalar.Condutas no caso de síndrome pseu<strong>do</strong>gripal• suspender a rifampicina imediatamente, encaminhar o paciente para unidade de referênciae avaliar a gravidade <strong>do</strong> quadro;• nos quadros leves, administrar anti-histamínico, antitérmico e deixar o paciente sobobservação por, pelo menos, 6 horas;• nos casos modera<strong>do</strong>s e graves, encaminhar o paciente à unidade de referência paraadministrar corticosteróides (hidrocortisona, 500mg/250ml de soro fisiológico –30 gotas/minuto, via intravenosa) e, em seguida, (prednisona via oral, com reduçãoprogressiva da <strong>do</strong>se até a retirada completa.Condutas no caso de efeitos cutâneos provoca<strong>do</strong>s pela clofazimina – prescrever aaplicação diária de óleo mineral ou creme de uréia, após o banho, e orientar para evitar aexposição solar, a fim de minimizar esses efeitos.Condutas no caso de farmacodermia leve até síndrome de Stevens-Johnson, dermatiteesfoliativa ou eritrodermia provoca<strong>do</strong>s pela dapsona – interromper definitivamenteo tratamento com a dapsona e encaminhar o paciente à unidade de referência.Condutas no caso de efeitos colaterais provoca<strong>do</strong>s pelos corticosteróides• observar as precauções ao uso de corticosteróides;• encaminhar imediatamente à unidade de referência.Ao referenciar a pessoa em tratamento para outro serviço, envie, por escrito, todas asinformações disponíveis: quadro clínico, tratamento PQT, resulta<strong>do</strong>s de exames laboratoriais(baciloscopia e outros) número de <strong>do</strong>ses tomadas, se apresentou episódiosreacionais, qual o tipo, se apresentou ou apresenta efeito colateral a alguma medicação,causa provável <strong>do</strong> quadro, etc.374 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


HanseníaseSituações especiaisHanseníase e gravidezAs alterações hormonais da gravidez causam diminuição da imunidade celular, fundamentalna defesa contra o Mycobacterium leprae. Portanto, é comum que os primeiros sinaisde hanseníase, em uma pessoa já infectada, apareçam durante a gravidez e no puerpério,quan<strong>do</strong> também podem ocorrer os esta<strong>do</strong>s reacionais e os episódios de recidivas.A gestação, nas mulheres porta<strong>do</strong>ras de hanseníase, tende a apresentar poucas complicações,exceto pela anemia, comum em <strong>do</strong>enças crônicas.A gravidez e o aleitamento materno não contra-indicam a administração <strong>do</strong>s esquemasde tratamento poliquimioterápico da hanseníase, que são seguros tanto para a mãe comopara a criança. Algumas drogas são excretadas pelo leite, mas não causam efeitos adversos.Os recém-nasci<strong>do</strong>s, porém, podem apresentar a pele hiperpigmentada pela clofazimina,ocorren<strong>do</strong> a regressão gradual da pigmentação após a parada da PQT/OMS.Hanseníase e tuberculoseEm vista da alta incidência de tuberculose no país recomenda-se especial atenção aosseus sinais e sintomas, antes e durante o tratamento de hanseníase, a fim de evitar cepas deMycobacterium tuberculosis resistentes à rifampicina.Na vigência de tuberculose e hanseníase, a rifampicina deve ser administrada na <strong>do</strong>serequerida para tratar tuberculose, ou seja, 600mg/dia. Os demais medicamentos (clofaziminae dapsona) permanecem em igual <strong>do</strong>se ao esquema padrão PQT/OMS.Hanseníase e aidsA rifampicina na <strong>do</strong>se utilizada para tratamento da hanseníase (600mg/mês) não interferenos inibi<strong>do</strong>res de protease utiliza<strong>do</strong>s no tratamento de pacientes com aids. Portanto,o esquema PQT/OMS padrão não deve ser altera<strong>do</strong> nesses <strong>do</strong>entes.6HAcompanhamento das intercorrências pós-altaO acompanhamento <strong>do</strong>s casos pós-alta consiste no atendimento às possíveis intercorrênciasque possam ocorrer com as pessoas que já concluiram o tratamento PQT/OMS.As pessoas que apresentarem intercorrências pós-alta deverão ser tratadas na unidadebásica de saúde, por profissional de saúde capacita<strong>do</strong>, ou em uma unidade de referênciaambulatorial, por médico treina<strong>do</strong>. Somente os casos graves, bem como os queapresentarem reações reversas graves, deverão ser encaminha<strong>do</strong>s para hospitalização.É importante diferenciar um quadro de esta<strong>do</strong> reacional de um caso de recidiva. Nocaso de esta<strong>do</strong>s reacionais, a pessoa deverá receber tratamento anti-reacional, sem reiniciar,porém, o tratamento PQT/OMS. No caso de recidiva, o tratamento PQT/OMSdeve ser reinicia<strong>do</strong>.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS375


HanseníaseÉ considera<strong>do</strong> um caso de recidiva aquele que completar com êxito o tratamento PQT/OMS e que depois venha, eventualmente, desenvolver novos sinais e sintomas da <strong>do</strong>ença.A maior causa de recidivas é o tratamento PQT/OMS inadequa<strong>do</strong> ou incorreto. O tratamento,portanto, deverá ser repeti<strong>do</strong> integralmente, de acor<strong>do</strong> com a classificação paucibacilarou multibacilar. Deve haver a administração regular <strong>do</strong>s medicamentos pelo tempoestipula<strong>do</strong> no esquema.Nos paucibacilares, muitas vezes é difícil distinguir a recidiva da reação reversa. Noentanto, é fundamental que se faça a identificação correta da recidiva. Quan<strong>do</strong> se confirmaruma recidiva, após exame clínico e baciloscópico, a classificação <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente deve ser criteriosamentereexaminada para que se possa reiniciar o tratamento PQT/OMS adequa<strong>do</strong>.Nos multibacilares, a recidiva pode manifestar-se como uma exacerbação clínica daslesões existentes e com o aparecimento de lesões novas. Quan<strong>do</strong> se confirmar a recidiva, otratamento PQT/OMS deve ser reinicia<strong>do</strong>.No caso de recidiva, a suspensão da quimioterapia dar-se-á quan<strong>do</strong> a pessoa em tratamentotiver completa<strong>do</strong> as <strong>do</strong>ses preconizadas, independente da situação clínica e baciloscópica,e significa, também, a saída <strong>do</strong> registro ativo, já que não mais será computada nocoeficiente de prevalência.Características Reação adversa RecidivaIntervalode tempoOcorre geralmente durante a quimioterapiaou dentro de seis meses após completa<strong>do</strong>o tratamentoOcorre, normalmente, muito depois<strong>do</strong> término da quimioterapia, em geraldepois de um intervalo de um anoAparecimento Súbito e inespera<strong>do</strong> Lento e insidiosoDistúrbiossistêmicosLesões antigasPodem vir acompanha<strong>do</strong>sde febre e mal-estarAlgumas, ou todas, se tornam eritematosas,brilhantes e consideravelmente inchadas,com infiltraçãoGeralmente, não vêm acompanha<strong>do</strong>sde febre e mal-estarAlgumas podem apresentar bordaseritematosasLesões novas Em geral, várias Poucas, ex.: hansenomas, placas, etc.UlceraçãoMuitas vezes as lesões se agravame ficam ulceradasRaramente há ulceraçõesRegressão Com descamação Não há descamaçãoEnvolvimento<strong>do</strong>s nervosResposta aoscorticosteróidesMuitos nervos podem estar envolvi<strong>do</strong>srapidamente ocorren<strong>do</strong> <strong>do</strong>r, alteraçãoda sensibilidade e perturbações motorasExcelentePode ocorrer em um único nervo.Perturbações motoras ocorremmuito lentamenteNão pronunciadaFonte: Adaptação <strong>do</strong> Manual para o Controle da Lepra, OMS, 2ª ed.376 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


HanseníaseEpisódios reacionais ou esta<strong>do</strong>s reacionais ou reações hansênicasSão reações <strong>do</strong> sistema imunológico <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente ao Mycobacterium leprae. Apresentamseatravés de episódios inflamatórios agu<strong>do</strong>s e subagu<strong>do</strong>s. Podem acometer tanto os casospaucibacilares como os multibacilares.Os esta<strong>do</strong>s reacionais ocorrem, principalmente, durante os primeiros meses <strong>do</strong> tratamentoquimioterápico da hanseníase, mas também podem ocorrer antes ou depois <strong>do</strong>mesmo, nesse caso após a cura <strong>do</strong> paciente. Quan<strong>do</strong> ocorrem antes <strong>do</strong> tratamento, podeminduzir ao diagnóstico da <strong>do</strong>ença. Os principais fatores potencialmente desencadeantes <strong>do</strong>sepisódios reacionais são a gestação, as infecções concorrentes e o estresse físico ou psicológico.Os esta<strong>do</strong>s reacionais são a principal causa de lesões <strong>do</strong>s nervos e de incapacidadesprovocadas pela hanseníase. Portanto, é importante que o diagnóstico <strong>do</strong>s mesmos sejafeito precocemente, para se dar início imediato ao tratamento, visan<strong>do</strong> prevenir essas incapacidades.O diagnóstico <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s reacionais é realiza<strong>do</strong> através <strong>do</strong> exame físico, dermatoneurológico<strong>do</strong> paciente.A identificação <strong>do</strong>s mesmos não contra-indica o início <strong>do</strong> tratamento (PQT/OMS).Se os esta<strong>do</strong>s reacionais aparecerem durante o tratamento, este não deve ser interrompi<strong>do</strong>,mesmo porque reduz significativamente a freqüência e a gravidade <strong>do</strong>s mesmos. Se foremobserva<strong>do</strong>s após o tratamento, não é necessário reiniciá-lo.Deve-se ficar atento para que os esta<strong>do</strong>s reacionais pós-alta, comuns nos esquemasde tratamento quimioterápico de curta duração, não sejam confundi<strong>do</strong>s com os casos derecidiva da <strong>do</strong>ença.Os esta<strong>do</strong>s reacionais ou reações hansênicas podem ser de <strong>do</strong>is tipos: reação tipo 1 oureação reversa e reação tipo 2.• Reação tipo 1 ou reação reversa – quadro clínico que se caracteriza por apresentarnovas lesões dermatológicas (manchas ou placas), infiltração, alterações de cor eedema nas lesões antigas, bem como <strong>do</strong>r ou espessamento <strong>do</strong>s nervos (neurites).• Reação tipo 2 – sua manifestação clínica mais freqüente é o eritema no<strong>do</strong>so hansênico(ENH), que se caracteriza por apresentar nódulos vermelhos e <strong>do</strong>lorosos,febre, <strong>do</strong>res articulares, <strong>do</strong>r e espessamento nos nervos e mal-estar generaliza<strong>do</strong>.Geralmente, as lesões antigas permanecem sem alteração.6HA seguir, será apresenta<strong>do</strong> um quadro síntese das reações hansênicas (tipos 1 e 2) emrelação à classificação operacional da hanseníase: os casos paucibacilares e multibacilares.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS377


HanseníaseEpisódios reacionaisTipo 1 – Reação reversaTipo 2 – Eritema no<strong>do</strong>sohansênico (ENH)Formas clínicas Paucibacilar MultibacilarInícioCausaManifestações clínicasComprometimentosistêmicoFatores associa<strong>do</strong>sHematologiaEvoluçãoAntes <strong>do</strong> tratamento PQT ounos primeiros 6 meses <strong>do</strong> tratamentoPode ser a primeira manifestação da <strong>do</strong>ençaProcesso de hiper-reatividadeimunológica, em resposta aoantígeno (bacilo ou fragmento bacilar)Aparecimento de novas lesões que podemser eritemato-infiltradas (aspecto erisipelóide)Reagudização de lesões antigasDor espontânea nos nervos periféricos.Aumento ou aparecimentode áreas hipo ou anestésicasNão é freqüenteEdema de mãos e pésAparecimento bruscode mão em garra e pé caí<strong>do</strong>Pode haver leucocitoseLentaPodem ocorrer seqüelas neurológicase complicações, como abcesso de nervoPode ser a primeira manifestaçãoda <strong>do</strong>ençaPode ocorrer durante ou após otratamento com PQTProcesso de hiper-reatividade imunológica,em resposta ao antígeno (baciloou fragmento bacilar)As lesões preexistentes permaneceminalteradasHá aparecimento brusco de nóduloseritematosos, <strong>do</strong>lorosos à palpaçãoou até mesmo espontaneamente,que podem evoluir para vesículas,pústulas, bolhas ou úlcerasÉ freqüenteApresenta febre, astenia, mialgias,náuseas (esta<strong>do</strong> toxêmico) e <strong>do</strong>rarticularEdema de extremidadesIrite, epistaxes, orquite, linfadeniteNeurite. Comprometimento gradual<strong>do</strong>s troncos nervososLeucocitose, com desvio à esquerda,e aumento de imunoglobulinasAnemiaRápidaO aspecto necrótico pode sercontínuo, durar meses e apresentarcomplicações gravesSe o esta<strong>do</strong> reacional for identifica<strong>do</strong> no diagnóstico da hanseníase, deve-se iniciar otratamento PQT/OMS juntamente com o tratamento para a reação.Se o esta<strong>do</strong> reacional for identifica<strong>do</strong> durante o tratamento PQT/OMS, deve-se mantê-loe iniciar o tratamento específico para a reação.Se o esta<strong>do</strong> reacional for identifica<strong>do</strong> no pós-alta, o tratamento PQT/OMS não deveser reinicia<strong>do</strong>: deve-se fazer apenas o tratamento para a reação.O tratamento <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s reacionais é geralmente ambulatorial, deven<strong>do</strong> ser prescritoe supervisiona<strong>do</strong> por médico.Em casos de esta<strong>do</strong>s reacionais graves, avaliar a necessidade de internação hospitalar,principalmente na primeira semana <strong>do</strong> tratamento.378 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


HanseníaseMedidas recomendadas para tratamento da reação Tipo 1 – reação reversa• Se o <strong>do</strong>ente estiver sob tratamento quimioterápico, mantenha-o sem modificação,exceto se apresentar efeitos colaterais graves.• Prescrever corticosteróide: prednisona – 1 a 2mg/kg/dia, conforme avaliação clínica.• Manter a <strong>do</strong>se inicial da prednisona até a regressão clínica <strong>do</strong> quadro reacional.• Reduzir a <strong>do</strong>se <strong>do</strong> medicamento, em intervalos fixos e quantidade predeterminada,conforme avaliação clínica e tabela a seguir:Exemplo da utilização de prednisona para tratamento de esta<strong>do</strong>s reacionais,em <strong>do</strong>ente com 60 kg e com episódio reacional:60mg/diaaté a regressão clínica50mg/dia40mg/dia30mg/dia625mg/dia20mg/dia15 dias15mg/dia10mg/dia5mg/dia• Retornar à <strong>do</strong>se imediatamente anterior, em caso de agravamento <strong>do</strong> quadro clínico.HDevem ser tomadas algumas precauções na utilização da prednisona: registrar o peso, apressão arterial e a taxa de glicose no sangue, para controle e observação <strong>do</strong>s efeitos colaterais<strong>do</strong> medicamento; fazer o tratamento antiparasitário, com medicamento específicopara Strongyloides stercoralis, prevenin<strong>do</strong> a disseminação sistêmica desse parasita.Exemplo: tiabendazol na <strong>do</strong>se de 50mg/kg/dia, durante 2 dias, ou 1,5 g/<strong>do</strong>se única.Medidas recomendadas para tratamento da reação Tipo 2 – eritema no<strong>do</strong>sohansênico (ENH)Como previsto na Lei nº 10.651, de 16/4/2003, para utilizar-se a tali<strong>do</strong>mida no tratamentode hanseníase em mulheres em idade fértil faz-se necessário orientar sobre os efeitosteratogênicos da droga e assegurar a contracepção.• Se o <strong>do</strong>ente estiver sob tratamento poliquimioterápico, mantenha-o sem modificação,exceto se estiver apresentan<strong>do</strong> efeitos colaterais graves.• Prescrever tali<strong>do</strong>mida: de 100 a 400mg/dia, conforme a intensidade <strong>do</strong> quadro.• Manter a <strong>do</strong>se inicial até a regressão clínica <strong>do</strong> quadro reacional.• Em casos com comprometimento neural, introduzir corticosteróides, segun<strong>do</strong> o esquemajá referi<strong>do</strong>, imobilizar o segmento afeta<strong>do</strong> e programar ações de prevençãode incapacidades.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS379


Hanseníase• Deverá ser indicada a utilização da prednisona – no mesmo esquema estabeleci<strong>do</strong>na reação Tipo 1 – quan<strong>do</strong> ocorrer reação Tipo 2 nas seguintes situações:❯ mulheres em idade fértil;❯ comprometimento neural;❯ irite ou iri<strong>do</strong>ciclite;❯ orquiepididimite;❯ mãos e pés reacionais;❯ nefrite;❯ eritema no<strong>do</strong>so necrotizante;❯ vasculite (fenômeno de Lúcio).Deve-se levar em consideração a gravidade intrínseca de cada quadro clínico e a necessidadede outras medidas terapêuticas, tal como encaminhamento para cirurgia.Casos de cronicidade da reação Tipo 2, subintrante ou com complicações graves, devemser encaminha<strong>do</strong>s para centro de referência.Aspectos epidemiológicosA hanseníase é <strong>do</strong>ença de notificação compulsória em to<strong>do</strong> o território nacional, sen<strong>do</strong>objeto de atuação na saúde pública devi<strong>do</strong> à sua magnitude, e potencial incapacitante epor acometer a faixa etária economicamente ativa.Seu potencial incapacitante deve ser combati<strong>do</strong> com PQT/OMS adequada e instituiçãode técnicas de prevenção de incapacidades.No Brasil, apesar da redução na taxa de prevalência observada, de 19 para 4,52 <strong>do</strong>entesem cada 10 mil habitantes, no perío<strong>do</strong> de 1985 a 2003, a hanseníase ainda constitui problemade saúde pública que exige uma vigilância resolutiva.Desde 1985, o país vem reestruturan<strong>do</strong> suas ações voltadas para este problema. Em1999, ratificou o compromisso de eliminar a hanseníase até 2005, quan<strong>do</strong> se objetiva alcançaro índice nacional de menos de um <strong>do</strong>ente em cada 10 mil habitantes e, até 2010,sustentar os níveis de eliminação nos esta<strong>do</strong>s e conquistá-los em cada município.O mapa e os gráficos a seguir ilustram o grau de endemicidade das diferentes unidadesfederadas e macrorregiões e a série histórica referente à prevalência e detecção de casosnovos de hanseníase no perío<strong>do</strong>.Em que pesem to<strong>do</strong>s os esforços realiza<strong>do</strong>s para se alcançar a eliminação da hanseníaseainda é necessário buscar impactar sua transmissão, observada na taxa de detecção anualde casos novos.380 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


HanseníasePrevalência de hanseníase segun<strong>do</strong> unidades da Federação. Brasil, 2005**Da<strong>do</strong>s até 31/3/2004Fonte: Sinan/SUS/ATDS/SES/IBGEMuito alto: 10 a 20 casos/10 mil hab.Alto: 5 a 10 casos/10 mil hab.Médio: 1 a 5 casos/10 mil hab.Baixo: < 1 caso/10 mil hab.Hanseníase – coeficientes anuais de detecção e prevalência (por 10 mil hab.).Brasil, 1985-20036203152,521051,510,5H085 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03Prevalência 16,4 17,1 17,0 18,0 18,1 18,5 17,1 15,4 13,0 10,5 8,8 6,7 5,5 4,8 5,1 4,7 4,3 4,4 4,5Detecção 1,42 1,34 1,42 1,84 1,89 1,89 2,05 2,31 2,17 2,15 2,30 2,54 2,82 2,60 2,52 2,47 2,73 2,69 2,77Fonte: SVS/MS0Coeficientes de prevalência e de detecção da hanseníase segun<strong>do</strong> macrorregião.Brasil, 2003*MacrorregiãoPrevalênciaDetecçãoNº Coef./10 mil Nº Coef./10 milBrasil 79.908 4,52 49.026 2,77Norte 15.764 11,44 10.488 7,61Nordeste 33.234 6,73 17.380 3,52Sudeste 18.079 2,40 10.917 1,45Centro-Oeste 10.783 8,75 8.057 6,54Fonte: Sinan/ATDS/SES*Da<strong>do</strong>s atualiza<strong>do</strong>s em 31/3/2004Secretaria de Vigilância em Saúde / MS381


HanseníaseVigilância epidemiológicaObjetivos• Detectar e tratar precocemente os casos novos, para interromper a cadeia de transmissãoe prevenir as incapacidades físicas.• Realizar exames dermatoneurológicos de to<strong>do</strong>s os contatos de casos de hanseníasecom o objetivo de detectar novos casos e iniciar o tratamento o mais precocementepossível, evitan<strong>do</strong> a ocorrência de novos casos.• Reduzir a morbidade da <strong>do</strong>ença para menos de 1 <strong>do</strong>ente por 10 mil habitantes –meta de eliminação proposta pela OMS.Os objetivos <strong>do</strong> Programa Nacional de Eliminação da Hanseníase são:• eliminar a hanseníase como problema de saúde pública até 2005, descentralizan<strong>do</strong>os serviços de diagnóstico e tratamento para a rede básica de saúde, amplian<strong>do</strong> oacesso e promoven<strong>do</strong> a universalização da cura.• ampliar o acesso ao diagnóstico e tratamento nos municípios de maior endemicidade,para acelerar o processo de eliminação da hanseníase.• promover e apoiar o processo de educação permanente, habilitan<strong>do</strong> os profissionaisde saúde para as ações de diagnóstico, tratamento e acompanhamento da hanseníase.• mobilizar a sociedade civil para a promoção <strong>do</strong> conhecimento sobre os sinais iniciaisda hanseníase e <strong>do</strong>s locais de acesso ao diagnóstico e tratamento.• assegurar, nas unidades de saúde, tratamento completo para as formas paucibacilarese multibacilares.• ampliar a oferta de procedimentos de reabilitação física aos pacientes porta<strong>do</strong>res deincapacidades/deformidades decorrentes da <strong>do</strong>ença.Definição de casoUma pessoa que apresente uma ou mais de uma das seguintes características e querequer poliquimioterapia:• lesão(ões) de pele, com alteração de sensibilidade;• acometimento de nervo(s) com espessamento neural;• baciloscopia positiva.NotificaçãoConcluí<strong>do</strong> o diagnóstico da <strong>do</strong>ença, o caso deve ser notifica<strong>do</strong> ao órgão de vigilânciaepidemiológica hierarquicamente superior, através de uma ficha de notificação/investigação<strong>do</strong> Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan).Descoberta de casosA descoberta de casos de hanseníase pode ocorrer por detecção passiva ou ativa.382 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


HanseníaseA detecção passiva acontece na própria unidade de saúde, durante as atividades geraisde atendimento à população. Nessas situações há uma busca sistemática de porta<strong>do</strong>res da<strong>do</strong>ença, pela equipe da unidade de saúde.Há duas situações onde pode ocorrer a detecção passiva: na demanda espontânea dapopulação para os serviços da unidade de saúde, em que poderá haver casos com sinaise sintomas dermatológicos e/ou neurológicos, e nos encaminhamentos feitos por outrasunidades de saúde, para confirmação diagnóstica da <strong>do</strong>ença - casos com suspeita de hanseníase.Nestas situações é realiza<strong>do</strong> o exame dermatoneurológico, para confirmar ou não odiagnóstico de hanseníase.Entende-se por detecção ativa de casos de hanseníase a busca sistemática de <strong>do</strong>entes,pela equipe da unidade de saúde, por meio das seguintes atividades:• investigação epidemiológica de um caso conheci<strong>do</strong> (exame de contatos);• exame das pessoas que demandam espontaneamente os serviços gerais de unidadede saúde por outros motivos que não sinais e sintomas dermatológicos ou neurológicos;• exame de grupos específicos – em prisões, quartéis, escolas, de pessoas que se submetema exames periódicos, etc.;• mobilização da comunidade adstrita à unidade, principalmente em áreas de alta prevalênciada <strong>do</strong>ença, para que as pessoas demandem os serviços de saúde sempre queapresentarem sinais e sintomas suspeitos.6Em todas essas situações deve ser realiza<strong>do</strong> o exame dermatoneurológico para o diagnósticode hanseníase.Visan<strong>do</strong> o diagnóstico precoce, deve-se intensificar a busca ativa de <strong>do</strong>entes através <strong>do</strong>exame de to<strong>do</strong>s os contatos <strong>do</strong> caso diagnostica<strong>do</strong> e das outras formas de detecção ativa.Existem condições importantes para que o diagnóstico da hanseníase seja feito precocemente,referentes à população, às unidades de saúde e aos profissionais de saúde:• a população deve conhecer os sinais e sintomas da <strong>do</strong>ença e deve estar informadade que a hanseníase tem cura. Deve estar informada, também, sobre o tratamento eestar motivada a buscá-lo nas unidades de saúde de seu município;• as unidades de saúde devem ter seus serviços organiza<strong>do</strong>s para desenvolver as atividadesde controle da hanseníase, garantin<strong>do</strong> o acesso da população aos mesmos;• os profissionais de saúde devem estar capacita<strong>do</strong>s para reconhecer os sinais e sintomasda <strong>do</strong>ença, isto é, para diagnosticar e tratar os casos de hanseníase;• os profissionais de saúde devem estar capacita<strong>do</strong>s para realizar ações de promoçãode saúde.HA descoberta de casos novos implica o cumprimento <strong>do</strong>s seguintes passos: suspeiçãodiagnóstica da hanseníase, confirmação diagnóstica, tratamento poliquimioterápico <strong>do</strong>caso e investigação epidemiológica (exame de contatos) <strong>do</strong> caso identifica<strong>do</strong>.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS383


HanseníasePrimeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência ao pacienteTratamento específico – o tratamento da hanseníase é eminentemente ambulatorial.O esquema terapêutico utiliza<strong>do</strong> é a PQT/OMS. Os medicamentos devem estar disponíveisem todas as unidades de saúde de municípios endêmicos. A alta por cura é dada após aadministração <strong>do</strong> número de <strong>do</strong>ses preconizadas, segun<strong>do</strong> o esquema terapêutico administra<strong>do</strong>.Prevenção e tratamento de incapacidades físicas – to<strong>do</strong>s os casos de hanseníase, independentementeda forma clínica, deverão ser avalia<strong>do</strong>s quanto ao grau de incapacidadeno momento <strong>do</strong> diagnóstico e, no mínimo, uma vez por ano, inclusive na alta por cura.Toda atenção deve ser dada ao diagnóstico precoce <strong>do</strong> comprometimento neural. Para tanto,os profissionais de saúde e pacientes devem ser orienta<strong>do</strong>s para uma atitude de vigilância<strong>do</strong> potencial incapacitante da hanseníase. Tal procedimento deve ter em vista o tratamentoadequa<strong>do</strong> para cada caso e a prevenção de futuras deformidades. Essas atividades não devemser dissociadas <strong>do</strong> tratamento quimioterápico, estan<strong>do</strong> integradas na rotina <strong>do</strong>s serviçosde acor<strong>do</strong> com o grau de complexidade <strong>do</strong>s mesmos.Roteiro para investigação epidemiológicaA partir <strong>do</strong> diagnóstico de um caso de hanseníase deve ser feita, de imediato, a suainvestigação epidemiológica.Algumas características de um caso suspeito:• uma ou mais lesões de pele com alteração de sensibilidade;• perda de sensibilidade nas mãos ou pés;• um ou mais nervos periféricos espessa<strong>do</strong>s;• nervos <strong>do</strong>lori<strong>do</strong>s;• câimbra e/ou formigamento.Para a descoberta de casos é fundamental que se divulgue junto à população os sinaise sintomas da <strong>do</strong>ença e a existência de tratamento e cura para a hanseníase. Os materiaiseducativos e os meios de comunicação devem utilizar linguagem compreensívelà comunidade, consideran<strong>do</strong> a sua realidade sociocultural.A investigação epidemiológica tem o objetivo de romper a cadeia epidemiológica da<strong>do</strong>ença, procuran<strong>do</strong> identificar a fonte de contágio <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente e descobrir novos casos dehanseníase entre as pessoas que com ele convivem no mesmo <strong>do</strong>micílio (contatos intra<strong>do</strong>miciliares<strong>do</strong> <strong>do</strong>ente), bem como prevenir a contaminação de outras pessoas. As pessoasque vivem com o <strong>do</strong>ente de hanseníase correm maior risco de serem contaminadas <strong>do</strong> que apopulação em geral. Por isso, a vigilância de contatos intra<strong>do</strong>miciliares é muito importante.Considera-se como contato intra<strong>do</strong>miciliar toda e qualquer pessoa que resida ou tenharesidi<strong>do</strong> com o <strong>do</strong>ente nos últimos cinco anos.384 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


HanseníaseA vigilância de contatos, portanto, compreende a busca sistemática de novos casos dehanseníase entre as pessoas que convivem com o <strong>do</strong>ente, a fim de que sejam a<strong>do</strong>tadas medidasde prevenção em relação às mesmas: o diagnóstico e o tratamento precoces.Uma vez identifica<strong>do</strong>s, os contatos <strong>do</strong> porta<strong>do</strong>r de hanseníase devem ser submeti<strong>do</strong>sao exame dermatoneurológico e se o diagnóstico de hanseníase for confirma<strong>do</strong> devem recebero tratamento específico.Os contatos devem receber informações sobre a <strong>do</strong>ença e sobre a necessidade de ficarematentos ao aparecimento de seus sinais e sintomas, deven<strong>do</strong>, neste caso, procurar aunidade de saúde.Vacinação BCG (bacilo de Calmette-Guërin)Recomendações• A aplicação de duas <strong>do</strong>ses da vacina BCG-ID a to<strong>do</strong>s os contatos intra<strong>do</strong>miciliares<strong>do</strong>s casos de hanseníase, independentemente de serem PB ou MB.• A aplicação da 1ª <strong>do</strong>se da vacina está condicionada à realização <strong>do</strong> exame dermatoneurológico;se já existir a cicatriz por BCG-ID, essa deve ser considerada comoprimeira <strong>do</strong>se, independente da época em que foi aplicada.• A vacina BCG será administrada na <strong>do</strong>se de 0,1ml, sem necessidade de prova tuberculínicaprévia.• A aplicação da vacina será efetuada por via intradérmica, no braço direito, na alturada inserção inferior <strong>do</strong> músculo deltóide. Essa localização permite a fácil verificaçãoda cicatriz e limita as reações ganglionares à região axilar.• A segunda <strong>do</strong>se deverá ser feita seis meses após a aplicação da primeira, próximo aolocal da 1ª aplicação, para mais fácil reconhecimento.• To<strong>do</strong> contato deve receber orientação no senti<strong>do</strong> de que não se trata de vacina específicapara a hanseníase e que, prioritariamente, esta é destinada ao grupo de risco,contatos intra<strong>do</strong>miciliares. Em alguns casos, o aparecimento de sinais clínicos dehanseníase logo após a vacinação pode estar relaciona<strong>do</strong> com o aumento da respostaimunológica, em indivíduo anteriormente infecta<strong>do</strong>.6HAnálise de da<strong>do</strong>sPara a operacionalização e eficácia da vigilância epidemiológica da hanseníase na obtençãoe fornecimento de informações fidedignas e atualizadas sobre a <strong>do</strong>ença, seu comportamentoepidemiológico e atividades de controle faz-se necessário um sistema de informaçãoefetivo e ágil.O sistema de informação é componente fundamental da vigilância epidemiológica,subsidian<strong>do</strong>-a na tomada de decisão de planejamento das atividades de controle da <strong>do</strong>ença,bem como na sua execução: informação – decisão – ação.Cada unidade de saúde deve manter um arquivo organiza<strong>do</strong> com a definição <strong>do</strong> fluxodas informações, atribuição de responsabilidades, prazos e periodicidade.As informações geradas são úteis para o diagnóstico e análise da situação de saúde dapopulação e para o processo de planejamento (identificação de prioridades, programaçãoSecretaria de Vigilância em Saúde / MS385


Hanseníasede atividades, alocação de recursos, avaliação das ações). Portanto, é necessário que to<strong>do</strong>sos profissionais de saúde, bem como a comunidade, tenham acesso a essas informações.Acompanhamento de casosInformações relativas ao acompanhamento <strong>do</strong>s casos são úteis para a avaliação da efetividade<strong>do</strong> tratamento e para o monitoramento da prevalência da <strong>do</strong>ença. Essas informaçõesdevem ser registradas nas unidades de saúde (no prontuário <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente e na ficha deacompanhamento <strong>do</strong> caso) e enviadas ao órgão de vigilância epidemiológica hierarquicamentesuperior através de relatório de acompanhamento <strong>do</strong> caso. O fluxo e a periodicidadeno envio dessas informações devem ser estabeleci<strong>do</strong>s pela unidade federada, em conformidadecom os procedimentos preconiza<strong>do</strong>s para o sistema de informação.A partir dessas informações, são construí<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res epidemiológicos e operacionaisindispensáveis à análise epidemiológica da <strong>do</strong>ença, acompanhamento, avaliação operacional<strong>do</strong> programa de controle da hanseníase e planejamento de suas ações.É importante atentar para uma organização específica que possibilite a verificação, nomínimo, semanal <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s relativos ao seguimento das pessoas porta<strong>do</strong>ras da <strong>do</strong>ença e deseus contatos.Os faltosos devem ser precocemente identifica<strong>do</strong>s para os procedimentos de busca,bem como os contatos intra<strong>do</strong>miciliares para exames dermatoneurológicos.As pessoas que já completaram o tratamento, segun<strong>do</strong> as normas técnicas, devem serretiradas <strong>do</strong> registro ativo através da alta por cura.Deve ser dada saída administrativa aos <strong>do</strong>entes paucibacilares que aban<strong>do</strong>naram otratamento e que tenham permaneci<strong>do</strong> no registro ativo por pelo menos 2 anos a contar dadata <strong>do</strong> início <strong>do</strong> diagnóstico; e aos <strong>do</strong>entes multibacilares que aban<strong>do</strong>naram o tratamento,e tenham permaneci<strong>do</strong> no registro ativo por pelo menos 4 anos a contar da data de início<strong>do</strong> diagnóstico.O setor de vigilância epidemiológica, no âmbito municipal, deve ser comunica<strong>do</strong> dessesprocedimentos.Outro aspecto importante é a busca de informações sobre os óbitos ocorri<strong>do</strong>s dentreos porta<strong>do</strong>res da hanseníase, que devem ser registra<strong>do</strong>s no prontuário e retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong> registroativo – alta por óbito.Além disso, devem ser pesquisa<strong>do</strong>s os múltiplos fichamentos para serem retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong>sistema (alta por múltiplo fichamento).Já aqueles cujo diagnóstico de hanseníase foi errôneo devem ser considera<strong>do</strong>s comoalta por erro diagnóstico.Os transferi<strong>do</strong>s para acompanhamento em outra unidade devem ser registra<strong>do</strong>s comotransferência. As transferências não são consideradas como altas para o Sinan, uma vezque o paciente permanecerá em tratamento e continuará sen<strong>do</strong> computa<strong>do</strong> dentro da prevalêncianacional.386 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


HanseníaseIndica<strong>do</strong>resIndica<strong>do</strong>res são aproximações quantifica<strong>do</strong>ras de um determina<strong>do</strong> fenômeno. Podemser usa<strong>do</strong>s para ajudar a descrever determinada situação e para acompanhar mudanças outendências em um perío<strong>do</strong> de tempo. Os indica<strong>do</strong>res de saúde permitem a comparabilidadeentre diferentes áreas ou diferentes momentos e fornecem subsídios ao planejamento dasações de saúde. Os indica<strong>do</strong>res da endemia hansênica constam na Portaria GM nº 1.073 de26 de setembro de 2000.Classificação <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>resPodem ser classifica<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>is grandes grupos, de acor<strong>do</strong> com o tipo de avaliação aque se destinam: epidemiológicos e operacionais.Indica<strong>do</strong>res epidemiológicosMedem a magnitude ou transcendência <strong>do</strong> problema de saúde pública. Referem-se,portanto, à situação verificada na população ou no meio ambiente num da<strong>do</strong> momentoou determina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong>. Ex: coeficiente de detecção de casos e proporção de casos comdeformidades detecta<strong>do</strong>s no ano.6Indica<strong>do</strong>res operacionaisMedem o trabalho realiza<strong>do</strong>, seja em função da qualidade ou quantidade. Ex: proporçãode casos multibacilares que completaram PQT, entre os que deveriam ter completa<strong>do</strong>.Notas• To<strong>do</strong>s os indica<strong>do</strong>res lista<strong>do</strong>s devem ser calcula<strong>do</strong>s utilizan<strong>do</strong>-se da<strong>do</strong>s de casos residentesna unidade federada, independente <strong>do</strong> local de detecção e/ou tratamento.• Além <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res de nível nacional lista<strong>do</strong>s, outros devem ser utiliza<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong>a necessidade de acompanhamento e avaliação <strong>do</strong> programa de controle eeliminação da hanseníase em nível local, regional, municipal e estadual, tais como:proporção de examina<strong>do</strong>s, entre os contatos intra<strong>do</strong>miciliares, de casos novos detecta<strong>do</strong>sno ano; proporção de casos, detecta<strong>do</strong>s no ano, submeti<strong>do</strong>s à baciloscopia;proporção de casos novos, detecta<strong>do</strong>s no ano, com baciloscopia positiva; proporçãode casos novos, diagnostica<strong>do</strong>s no ano, com grau de capacidade física varia<strong>do</strong>.HO planejamento das atividades de controle da hanseníase é um instrumento de sistematizaçãode nível operativo que perpassa todas as ações, que vão <strong>do</strong> diagnóstico situacional,estratégia de intervenção e monitorização à avaliação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s.O conhecimento de da<strong>do</strong>s básicos é indispensável ao planejamento. Dentre outros,destacam-se:• população alvo (da unidade de saúde, município ou esta<strong>do</strong>);• número de casos de hanseníase em registro ativo;• número de contatos intra<strong>do</strong>miciliares de casos novos;• casos de hanseníase com incapacidades físicas.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS387


HanseníaseIndica<strong>do</strong>res epidemiológicosIndica<strong>do</strong>res* Construção Utilidade Parâmetros1. Coeficiente dedetecção anualde casos novos,por 10 mil hab.Casos novos residentesdiagnostica<strong>do</strong>s no anoPopulação total residenteem 1/7/anoX 10 milDeterminar atendência secularda endemia e medira intensidade dasatividades dedetecção <strong>do</strong>s casosHiperendêmico: > 4,0/10 mil hab.Muito alto: 4,0 – 2,0/10 mil hab.Alto: 2,0 – 1,0/10 mil hab.Médio: 1,0 – 0,2/10 mil hab.Baixo: < 0,2/10 mil hab.2. Coeficiente dedetecção anualde casos novos,na população de0 a 14 anos, por10 mil hab.Casos novos residentes,com 0 a 14 anos de idade,diagnostica<strong>do</strong>s no anoPopulação residente, com idadeentre 0 e 14 anos, em 1/7/anoX 10 milDeterminar atendência secularda endemiaHiperendêmico: > 1,0/10 mil hab.Muito alto: 1,0 – 0,5/10 mil hab.Alto: 0,5 – 0,25/10 mil hab.Médio: 0,25 – 0,05/10 mil hab.Baixo: < 0,05/10 mil hab.3. Coeficientede prevalênciapor 10 mil hab.Casos existentes residentes(em registro ativo) em 31/12/anoPopulação total residente em31/12/anoX 10 milMedir amagnitudeda <strong>do</strong>ençaHiperendêmico: > 20,0/10 mil hab.Muito alto: 20,0 – 0,0/10 mil hab.Alto: 10,0 – 5,0/10 mil hab.Médio: 5,0 – 1,0/10 mil hab.Baixo: < 1,0/10 mil hab.4. Proporção decasos com incapacidadesfísicas,entre os casosnovos detecta<strong>do</strong>s eavalia<strong>do</strong>s no ano**Casos novos residentes,diagnostica<strong>do</strong>s no ano, comgrau de incapacidade física IICasos novos residentes,diagnostica<strong>do</strong>s no ano, com graude incapacidade física avalia<strong>do</strong>X 100Estimar aefetivi dade dasatividades para adetecção precocede casos; estimara endemia ocultaAlto: > 10%Médio: 5-10%Baixo: < 5%5. Proporção decura<strong>do</strong>s no ano,com incapacidadesfísicas***Casos paucibacilares/multibacilares,cura<strong>do</strong>s no ano, com grau deincapacidade IIX 100Casos paucibacilares/multibacilares,cura<strong>do</strong>s no ano, com grau de incapacidadeavalia<strong>do</strong> por ocasião da curaAvaliar atranscendência da<strong>do</strong>ença. Subsidiara política de açãopara seqüelasProgramar insumospara a prevençãoe tratamento dasincapacidadespós-altaAlto: > 10%Médio: 10-5%Baixo: < 5%Fonte: Sinan/SES*To<strong>do</strong>s os indica<strong>do</strong>res devem ser calcula<strong>do</strong>s utilizan<strong>do</strong>-se da<strong>do</strong>s de casos residentes, independentemente <strong>do</strong> localde detecção e tratamento.*Indica<strong>do</strong>r utiliza<strong>do</strong> somente quan<strong>do</strong> o percentual de casos, com grau de incapacidade avalia<strong>do</strong> (ver indica<strong>do</strong>resoperacionais), for maior ou igual a 75%.***Esse indica<strong>do</strong>r deve ser construí<strong>do</strong> separadamente, para casos paucibacilares e multibacilares. Deve ser utiliza<strong>do</strong>somente quan<strong>do</strong> o percentual de casos, com grau de incapacidade avalia<strong>do</strong>, for maior ou igual a 75%.388 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


HanseníaseIndica<strong>do</strong>res operacionaisIndica<strong>do</strong>res* Construção Utilidade Parâmetros1. Proporção de casosnovos, diagnostica<strong>do</strong>sno ano, que iniciarampoliquimioterapiapadrão OMSCasos novos diagnostica<strong>do</strong>s queiniciaram PQT no anoTotal de casos novos diagnostica<strong>do</strong>s no anoX 100Medir a qualidade<strong>do</strong> atendimento<strong>do</strong>s serviços desaúdeBom: > 98%Regular: 90 – 98%Precário: < 90%2. Proporção de casosnovos, diagnostica<strong>do</strong>s noano, com grau de incapacidadefísica avalia<strong>do</strong>Casos novos, diagnostica<strong>do</strong>s no ano,com grau de incapacidade avalia<strong>do</strong>Total de casos novos diagnostica<strong>do</strong>s no anoX 100Medir a qualidade<strong>do</strong> atendimento<strong>do</strong>s serviços desaúdeBom: > 90%Regular: 75 – 90%Precário: < 75%3. Proporção de curaentre casos novos,diagnostica<strong>do</strong>s nosanos das coortes**Casos novos diagnostica<strong>do</strong>s nos anos das coortese cura<strong>do</strong>s até 31/12/ano de avaliaçãoTotal de casos diagnostica<strong>do</strong>s nos anos das coortesX 100Avaliar aefetividade <strong>do</strong>stratamentosBom: > 90%Regular: 75 – 90%Precário: < 75%4. Proporção de casoscura<strong>do</strong>s no ano comgrau de incapacidadefísico avalia<strong>do</strong>Casos cura<strong>do</strong>s no ano com grau deincapacidade física avalia<strong>do</strong> por ocasião da curaTotal de casos cura<strong>do</strong>s no anoX 100Medir aqualidade <strong>do</strong>atendimento <strong>do</strong>sserviços de saúdeBom: > 90%Regular: 75 – 90%Precário: < 75%65. Proporção de aban<strong>do</strong>node tratamentoentre os casos novosdiagnostica<strong>do</strong>s nosanos das coortes**Casos novos, diagnostica<strong>do</strong>s nos anos das coortesque aban<strong>do</strong>naram o tratamento ou estão emsituação ignorada em 31/12 <strong>do</strong> ano de avaliaçãoTotal de casos novos diagnostica<strong>do</strong>s nosanos das coortesX 100Medir acapacidade<strong>do</strong>s serviços emassistir aos casosde hanseníaseBom: > 10%Regular: 10 – 25%Precário: > 25%6. Percentagem deaban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> tratamentona prevalência<strong>do</strong> perío<strong>do</strong>Casos existentes residentes (em registro ativo)não atendi<strong>do</strong>s no ano de avaliação + saídasadministrativas no ano de avaliaçãoTotal de casos existentes residentes (em registroativo) em 31/12 <strong>do</strong> ano de avaliação + totalde saídas <strong>do</strong> registro ativo no ano de avaliaçãoX 100Medir acapacidade<strong>do</strong>s serviços emassistir aos casosde hanseníaseBom: < 10%Regular: 10 – 25%Precário: > 25%H7. Percentagem deexamina<strong>do</strong>s entre oscontatos intra<strong>do</strong>miciliaresde casos novosdiagnostica<strong>do</strong>s no anoContatos intra<strong>do</strong>miciliares de casos novosdiagnostica<strong>do</strong>s no ano, que foram examina<strong>do</strong>sTotal de contatos intra<strong>do</strong>miciliares decasos novos diagnostica<strong>do</strong>s no anoX 100Avaliar aexecução da atividadede vigilânciade contatosBom: ≥ 75%Regular: 50 – 75%Precário: < 50%8. Proporção de municípioscom ações decontrole implantadasNúmero de municípios com ações decontrole implantadasNúmero total de municípiosX 100Medir a coberturaterritorial dasações de controleBom: ≥ 75%Regular: 75 – 60%Precário: < 60%9. Proporção da populaçãocoberta pelas açõesde controle**População coberta pelas ações de controlePopulação total residenteX 100Medir a coberturapopulacional dasações de controleBom: ≥ 90%Regular: 75 – 90%Precário: < 75%10. Proporção deunidades de saúdeda rede básica quedesenvolvem açõese controleNúmero de centros de saúde, postos de saúde eunidades de saúde da família, cadastra<strong>do</strong>s no SUS,que desenvolvem ações de controle da hanseníaseNúmero total de centros de saúde, postos de saúdee unidades de saúde da família cadastra<strong>do</strong>s no SUSX 100Medir a coberturainstitucional dasações de controleA definirFonte: Sinan/SES*To<strong>do</strong>s os indica<strong>do</strong>res devem ser calcula<strong>do</strong>s para casos residentes, independentemente <strong>do</strong> local de detecçãoe tratamento.**Nos níveis municipal e estadual, esses indica<strong>do</strong>res devem ser calcula<strong>do</strong>s separadamente para casos paucibacilarese multibacilares.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS389


HanseníaseFicha de NotificaçãoHanseníaseInstruções de PreenchimentoFicha de Notificação/Investigação – Sinan Win<strong>do</strong>wsN o - Anotar o número da notificação atribuí<strong>do</strong> pela unidade de saúde para identificação<strong>do</strong> caso (Ex.: nº <strong>do</strong> registro na unidade de saúde, nº <strong>do</strong> prontuário). CAMPO DEPREENCHIMENTO OBRIGATÓRIO.1 - Este campo identifica o tipo de notificação, informação necessária à digitação. Nãoé necessário preenchê-lo.2 - Anotar a data da notificação: data de preenchimento da ficha de notificação/investigação.CAMPO DE PREENCHIMENTO OBRIGATÓRIO.3 - Preencher com o nome completo <strong>do</strong> município, ou código correspondente segun<strong>do</strong>cadastro <strong>do</strong> IBGE, onde está localizada a unidade de saúde (ou outra fontenotifica<strong>do</strong>ra) que realizou a notificação. CAMPO DE PREENCHIMENTO OBRI-GATÓRIO.4 - Preencher com o nome completo da unidade de saúde (ou outra fonte notifica<strong>do</strong>ra),ou código correspondente segun<strong>do</strong> cadastro estabeleci<strong>do</strong> pelo Sinan, que realizoua notificação <strong>do</strong> caso. CAMPO DE PREENCHIMENTO OBRIGATÓRIO.5 - Nome <strong>do</strong> agravo/<strong>do</strong>ença, ou código corespondente estabeleci<strong>do</strong> pelo Sinan (CID10), que está sen<strong>do</strong> notifica<strong>do</strong>.6 - Anotar a data em que foi realiza<strong>do</strong> o diagnóstico <strong>do</strong> caso. CAMPO DE PREEN-CHIMENTO OBRIGATÓRIO.7 - Preencher com o nome completo <strong>do</strong> paciente (sem abreviações).8 - Preencher com a data de nascimento <strong>do</strong> paciente (dia/mês/ano), de forma completa.9 - Anotar a idade <strong>do</strong> paciente somente se a data de nascimento for desconhecida (Ex.20 dias = 20; 3 meses = 3 M; 26 anos = 26 A.OBS.: Se a data de nascimento não for preenchida, a idade será CAMPO DE PREEN-CHIMENTO OBRIGATÓRIO.10 - Preencher segun<strong>do</strong> a categoria referente ao sexo <strong>do</strong> paciente (M = masculino; F= feminino e I = ignora<strong>do</strong>).11 - Preencher com o código correspondente à cor ou raça declarada pela pessoa:1) Branca; 2) Preta; 3) Amarela (compreenden<strong>do</strong>-se nesta categoria a pessoa que sedeclarou de raça amarela); 4) Parda (incluin<strong>do</strong>-se nesta categoria a pessoa que se390 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Hanseníasedeclarou mulata, cabocla, cafuza, mameluca ou mestiça de preto com pessoa de outracor ou raça); 5) Indígena (consideran<strong>do</strong>-se nesta categoria a pessoa que se declarouindígena ou índia).12 - Preencher com o código correspondente ao número de anos de estu<strong>do</strong> concluí<strong>do</strong>s.A classificação é obtida em função da série e <strong>do</strong> grau que a pessoa está freqüentan<strong>do</strong>ou freqüentou, consideran<strong>do</strong> a última série concluída com aprovação. A correspondênciaé feita de forma que cada série concluída com aprovação correspondaa um ano de estu<strong>do</strong>. (Ex.: paciente cursou 4 anos, porém não concluiu o último ano;portanto, deverá ser incluí<strong>do</strong> na categoria de 1 a 3). Este campo não se aplica parapaciente com idade inferior a 7 anos.13 - Preencher com o nº <strong>do</strong> cartão único <strong>do</strong> Sistema Único de Saúde – SUS.14 - Preencher com o nome completo da mãe <strong>do</strong> paciente (sem abreviações).15 - Anotar o tipo (avenida, rua, travessa, etc.), nome completo ou código correspondente<strong>do</strong> logra<strong>do</strong>uro da residência <strong>do</strong> paciente. Se o paciente for indígena, anotar onome da aldeia.16 - Anotar o nº <strong>do</strong> logra<strong>do</strong>uro da residência <strong>do</strong> paciente (Ex.: nº 575).17 - Anotar o complemento <strong>do</strong> logra<strong>do</strong>uro (Ex.: Bloco B, Apto 402, Lote 25, Casa 14,etc.).18 - Anotar o ponto de referência para localização da residência <strong>do</strong> paciente (perto dapadaria <strong>do</strong> João, por exemplo).19 - Anotar a sigla da unidade federada da residência <strong>do</strong> paciente (Ex.: DF).20 - Anotar o nome <strong>do</strong> município (ou código correspondente segun<strong>do</strong> cadastro <strong>do</strong>IBGE) da residência <strong>do</strong> paciente.- Anotar o nome <strong>do</strong> distrito de residência <strong>do</strong> paciente.21 - Anotar o nome <strong>do</strong> bairro (ou código correspondente segun<strong>do</strong> cadastro <strong>do</strong> Sinan)de residência <strong>do</strong> paciente.22 - Anotar o código de endereçamento postal <strong>do</strong> logra<strong>do</strong>uro (avenida, rua, travessa)da residência <strong>do</strong> paciente (Ex.: CEP: 70.036-030).23 - Anotar o número <strong>do</strong> telefone <strong>do</strong> paciente.24 - Zona de residência <strong>do</strong> paciente por ocasião da notificação (Ex.: 1 = área comcaracterística estritamente urbana; 2 = área com característica estritamente rural; 3 =área rural com aglomeração populacional que se assemelha a uma área urbana).25 - Anotar o nome <strong>do</strong> país de residência quan<strong>do</strong> o paciente notifica<strong>do</strong> residir emoutro país.26 - Informar a atividade exercida pelo paciente no setor formal, informal ou autônomoou sua última atividade exercida quan<strong>do</strong> o paciente for desemprega<strong>do</strong>. O ramode atividade econômica <strong>do</strong> paciente refere-se às atividades econômicas desenvolvidas6HSecretaria de Vigilância em Saúde / MS391


Hanseníasenos processos de produção <strong>do</strong> setor primário (agricultura e extrativismo); secundário(indústria) ou terciário (serviços e comércio).27 - Nº DE LESÕES CUTÂNEAS – Registrar o nº de lesões de pele com alteração desensibilidade existentes no paciente por ocasião <strong>do</strong> diagnóstico.28 - Nº DE TRONCOS NERVOSOS ACOMETIDOS – Registrar o nº de troncosnervosos espessa<strong>do</strong>s examina<strong>do</strong>s por ocasião <strong>do</strong> diagnóstico.29 - FORMA CLÍNICA – Anotar o nº correspondente à classificação clínica, segun<strong>do</strong>classificação de Madrid, <strong>do</strong> caso por ocasião <strong>do</strong> diagnóstico.30 - AVALIAÇÃO DA INCAPACIDADE NO DIAGNÓSTICO – Anotar o nº correspondenteao grau de incapacidade física resultante da avaliação por ocasião <strong>do</strong>diagnóstico, segun<strong>do</strong> normas técnicas vigentes.31 - CLASSIFICAÇÃO OPERACIONAL – Anotar o nº correspondente da classificaçãooperacional <strong>do</strong> caso para fins de tratamento, atribuída por ocasião <strong>do</strong> diagnóstico,segun<strong>do</strong> normas técnicas vigentes.32 - MODO DE ENTRADA – Anotar o nº correspondente ao mo<strong>do</strong> de entrada <strong>do</strong>caso de hanseníase no registro ativo.1) CASO NOVO – Indivíduo que apresenta uma ou mais das seguintes características,requeren<strong>do</strong> terapia e virgem de tratamento:• lesão(ões) de pele com alteração de sensibilidade;• acometimento de nervo(s) com espessamento neural;• baciloscopia positiva.2) TRANSFERÊNCIA DO MESMO MUNICÍPIO – Paciente que transferiutratamento de outra unidade de saúde <strong>do</strong> mesmo município.3) TRANSFERÊNCIA DE OUTRO MUNICÍPIO (mesma UF) – Pacienteque transferiu tratamento de outra unidade de saúde localizada em outro municípioda mesma unidade federada.4) TRANSFERÊNCIA DE OUTRO ESTADO – Paciente que transferiu tratamentode outra unidade de saúde localizada em outra unidade federada.5) TRANSFERÊNCIA DE OUTRO PAÍS – Paciente que transferiu tratamentode outra unidade de saúde localizada em outro país.6) RECIDIVA – Indivíduo que apresenta sinais de atividade clínica da <strong>do</strong>ençaapós alta por cura.7) OUTROS REINGRESSOS – Situações em que o paciente recebeu algumtipo de alta e retorna requeren<strong>do</strong> tratamento específico, exceto recidiva. Ex.: casos quereceberam alta estatística (saída administrativa) em anos anteriores e reapareceramcom a <strong>do</strong>ença em atividade; casos considera<strong>do</strong>s equivocadamente como faleci<strong>do</strong>s;casos multibacilares trata<strong>do</strong>s erroneamente como paucibacilares, que receberam altapor cura no passa<strong>do</strong> e se reapresentaram <strong>do</strong>entes à unidade de saúde.392 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Hanseníase33 - MODO DE DETECÇÃO DO CASO NOVO – Anotar o número correspondenteao mo<strong>do</strong> de detecção <strong>do</strong> caso novo (este campo deve ser preenchi<strong>do</strong> somente quan<strong>do</strong>o MODO DE ENTRADA for CASO NOVO):1) ENCAMINHAMENTO – Caso encaminha<strong>do</strong> por outra unidade, instituiçõesde saúde, consultório médico, agente de saúde, colabora<strong>do</strong>res voluntários,etc. para confirmação clínica <strong>do</strong> diagnóstico e/ou início de tratamento.2) DEMANDA ESPONTÂNEA – Caso novo que se apresentou voluntariamenteà unidade de saúde devi<strong>do</strong> a sinais e/ou sintomas de hanseníase.3) EXAME DE COLETIVIDADE – Caso novo diagnostica<strong>do</strong> a partir deexame clínico realiza<strong>do</strong> para detecção de casos de hanseníase em pessoas pertencentesa grupos organiza<strong>do</strong>s ou não da comunidade, como escolas, fábricas, recrutasmilitares, empresas, campanhas, etc.4) EXAME DE CONTATOS – Caso novo diagnostica<strong>do</strong> a partir de exameclínico <strong>do</strong>s contatos intra<strong>do</strong>miciliares de caso de hanseníase (vigilância de contatos).5) OUTROS MODOS – Caso novo diagnostica<strong>do</strong> em outras situações, porexemplo, acha<strong>do</strong> casual em consulta médica por outros motivos, exame para fins deatesta<strong>do</strong>, exame admissional, check-up, etc.34 - BACILOSCOPIA – Anotar o número correspondente ao resulta<strong>do</strong> da baciloscopiaou a sua não realização, por ocasião <strong>do</strong> diagnóstico.35 - DATA DO INÍCIO DO TRATAMENTO – Registrar o dia, mês e ano <strong>do</strong> início<strong>do</strong> tratamento específico (esquema terapêutico inicial).36 - ESQUEMA TERAPÊUTICO INICIAL – Anotar o número correspondente aoesquema terapêutico inicial instituí<strong>do</strong> por ocasião <strong>do</strong> diagnóstico.37 - Nº DE CONTATOS REGISTRADOS – Registrar o número de pessoas que residemcom o paciente por ocasião <strong>do</strong> diagnóstico (ou residiram nos últimos 5 anos).38 - DOENÇA RELACIONADA AO TRABALHO – Informar se o paciente adquiriu a<strong>do</strong>ença em decorrência <strong>do</strong> processo de trabalho, determinada pelos ambientes e ou condiçõesinadequadas de trabalho (contaminação acidental, exposição ou contato direto).Observações: informar as observações necessárias para complementar a investigação.39 - Informar o nome <strong>do</strong> município/unidade de saúde responsável por esta investigação.40 - Informar o código da unidade de saúde responsável por esta investigação.41 - Informar o nome completo <strong>do</strong> responsável por esta investigação. Ex.: Mário Joséda Silva.42 - Informar a função <strong>do</strong> responsável por esta investigação. Ex.: enfermeiro.43 - Registrar a assinatura <strong>do</strong> responsável por esta investigação.6HSecretaria de Vigilância em Saúde / MS393


HanseníaseEducação em saúdeO processo educativo nas ações de controle da hanseníase deve contar com a participação<strong>do</strong> paciente (ou de seus representantes), familiares e comunidade nas decisões quelhes digam respeito, bem como na busca ativa de casos e no diagnóstico precoce, prevençãoe tratamento de incapacidades físicas, combate ao eventual estigma e manutenção <strong>do</strong> pacienteno meio social. Esse processo deve ter como referência as experiências municipaisde controle social.Na assistência ao paciente com hanseníase, deve-se discutir, sempre que necessário,todas as questões inerentes à sua <strong>do</strong>ença, que o seu tratamento regular levará a cura,estimulan<strong>do</strong>-o sempre, na prática <strong>do</strong> auto-cuida<strong>do</strong>.No momento da cura, deve-se orientar o paciente sobre a possibilidade <strong>do</strong> surgimentode episódios reacionais, mesmo após essa alta, quan<strong>do</strong> deve procurar imediatamentea atenção <strong>do</strong> serviço de saúde para evitar seqüelas. Orientar, sempre, o paciente naprática <strong>do</strong> auto-cuida<strong>do</strong>.O Ministério da Saúde coordenará, dan<strong>do</strong> apoio às demais instituições, um programanacional, sistematiza<strong>do</strong> e contínuo, de divulgação de massa (extensiva e intensiva), garantin<strong>do</strong>informação e esclarecimentos à população sobre a hanseníase, dentro de um programaglobal de saúde, caben<strong>do</strong> a cada unidade federada e municípios desenvolver o seupróprio processo de educação e comunicação.O Programa Nacional de Eliminação da Hanseníase e as secretarias estaduais e municipaisda saúde encaminharão <strong>do</strong>cumentos informativos sobre a hanseníase, para as diversasentidades e meios de comunicação de massa, visan<strong>do</strong> maximizar os conhecimentoscientíficos atuais sobre a <strong>do</strong>ença, de mo<strong>do</strong> a evitar o uso de informações equivocadas e/outermos inadequa<strong>do</strong>s. Deve-se também estimular a produção de materiais de apoio no nívellocal, com a participação <strong>do</strong>s usuários e das organizações comunitárias, que subsidiem oprocesso educativo nas ações de controle da hanseníase.Sempre que se fizer necessário, visan<strong>do</strong> à construção e reconstrução <strong>do</strong> conhecimentoe devida compreensão <strong>do</strong> que é hanseníase, poderá ser feita sua relação com os termos existentesna terminologia popular, adequan<strong>do</strong>-a à clientela.394 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


HantavirosesHANTAVIROSESCID 10: A98.5Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoA hantavirose é uma <strong>do</strong>ença emergente que se manifesta sob diferentes formas, desde<strong>do</strong>ença febril aguda, cuja suspeita diagnóstica é baseada fundamentalmente em informaçõesepidemiológicas, até quadros pulmonares e cardiovasculares mais característicos ou,eventualmente, como uma febre hemorrágica com comprometimento renal.Inicialmente, a hantavirose <strong>do</strong> Novo Mun<strong>do</strong> foi descrita, apenas com o grande comprometimentopulmonar, receben<strong>do</strong> o nome de síndrome pulmonar por hantavírus (SPH).Posteriormente, foi relata<strong>do</strong> um comprometimento cardíaco importante, a partir da publicação<strong>do</strong>s primeiros casos da América <strong>do</strong> Sul, passan<strong>do</strong> a ser denominada síndrome cardiopulmonarpor hantavírus (SCPH), a qual tem si<strong>do</strong>, até o momento, a única forma graveprevalente nas Américas.6Agente etiológicoVírus <strong>do</strong> gênero Hantavirus da família Bunyaviridae, sen<strong>do</strong> o único bunyavírus quenão é um arbovírus.Estes vírus possuem envelope de dupla capa de lipídios, sen<strong>do</strong>, portanto, susceptíveisa muitos desinfetantes como lysol industrial, solução de hipoclorito de sódio a 2,5%, lisofórmio,detergentes e álcool etílico a 70%. Sua sobrevida, depois de elimina<strong>do</strong>s no meioambiente, ainda não é totalmente conhecida.Dentre os hantavírus identifica<strong>do</strong>s em infecções humanas, temos os que causam a febrehemorrágica com síndrome renal (FHSR) na Europa e na Ásia (Hantaan, Seoul, Dobrava,Puumala) e os que estão associa<strong>do</strong>s com a SCPH (Sin Nombre, Bayou, Black CreekCanal, Juquitiba, Castelo <strong>do</strong>s Sonhos, Araraquara, New York, Andes, Laguna Negra, Oran,Lechinguanas), além de outros identifica<strong>do</strong>s apenas em roe<strong>do</strong>res silvestres.HReservatórioOs roe<strong>do</strong>res silvestres são os reservatórios <strong>do</strong>s hantavírus. Cada tipo de vírus parece tertropismo, por determinada espécie de roe<strong>do</strong>r e somente a ela. Os hantavírus associa<strong>do</strong>s comos quadros de SCPH têm como reservatórios roe<strong>do</strong>res da subfamília Sigmo<strong>do</strong>ntinae. Já osvírus responsáveis por quadros de febre hemorrágica com síndrome renal estão associa<strong>do</strong>s aroe<strong>do</strong>res da subfamília Arvicolinae e Murinae. Provavelmente, os hantavírus evoluíram comos respectivos hospedeiros reservatórios, o que determinou esta especificidade.Dada a distribuição geográfica das espécies de roe<strong>do</strong>res encontradas com hantavírus,percebe-se que Bolomys lasiurus mostra-se amplamente dissemina<strong>do</strong> nos ambientes de cerra<strong>do</strong>e caatinga brasileiros. Nas áreas de Mata Atlântica as espécies Oligoryzomys nigripesSecretaria de Vigilância em Saúde / MS395


Hantavirosesou Ako<strong>do</strong>n cursor podem desempenhar importante papel na transmissão de hantavírus,enquanto que no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Maranhão foram identifica<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is tipos específicos de reservatórios:Holochilus sciureus e Oligoryzomys fornesi.No roe<strong>do</strong>r, a infecção pelo hantavírus não é letal, manten<strong>do</strong>-o como reservatório porlongo perío<strong>do</strong>, provavelmente por toda a vida. Os hantavírus são elimina<strong>do</strong>s em grandequantidade, principalmente na urina, saliva e fezes.Mo<strong>do</strong> de transmissãoA infecção humana ocorre mais freqüentemente pela inalação de aerossóis, forma<strong>do</strong>sa partir da urina, fezes e saliva de roe<strong>do</strong>res reservatórios. Outras formas de transmissão,para a espécie humana, foram também descritas:• percutânea, por meio de escoriações cutâneas ou mordeduras de roe<strong>do</strong>res;• contato <strong>do</strong> vírus com mucosa (conjuntival, da boca ou <strong>do</strong> nariz), por meio de mãoscontaminadas com excretas <strong>do</strong>s roe<strong>do</strong>res.A transmissão pessoa a pessoa foi descrita na Argentina, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> associada ao hantavírusAndes, tratan<strong>do</strong>-se, porém, de relato isola<strong>do</strong>.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoEm média, de 2 a 3 semanas, com variação de 4 a 55 dias.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeDesconheci<strong>do</strong> até o momento.Aspectos clínicos, laboratoriais e terapêuticosManifestações clínicas da SCPHFase febril/prodrômica – observa-se febre, tosse seca, mialgia, principalmente na região<strong>do</strong>rso-lombar, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal, náusea, vômito, astenia e cefaléia. Essa fase dura emmédia de 3 a 5 dias, poden<strong>do</strong> evoluir para a fase cardiopulmonar.Fase cardiopulmonar – caracteriza-se por insuficiência respiratória aguda grave echoque circulatório, apresentan<strong>do</strong> alta taxa de letalidade.As alterações laboratoriais mais relatadas nesta fase são: hemoconcentração (hematócrito> 45%), trombocitopenia (plaquetas < 150 mil cel/mm 3 ), leucocitose (leucócitos >12 mil cel/mm 3 ) com neutrofilia acentuada e desvio à esquerda e linfopenia relativa compresença de linfócitos atípicos. Há redução da atividade protrombínica e aumento <strong>do</strong> tempoparcial de tromboplastina, elevação <strong>do</strong>s níveis séricos de alanina aminotransferases outransaminase glutâmico-oxalacética (ALT-TGO) e desidrogenase lática (DHL). Observa-sehipoproteinemia e valores de fibrinogênio dentro da normalidade. Nos casos mais graves,pode ocorrer aumento nas concentrações da uréia e creatinina séricas, além de acentuadaaci<strong>do</strong>se metabólica. A hipoxemia é um acha<strong>do</strong> importante, que pode indicar o grau de gra-396 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Hantavirosesvidade <strong>do</strong> caso; esta, desde o início <strong>do</strong> quadro, pode refletir-se na saturação de O 2 inferior a90%. Na radiografia de tórax há presença de infiltra<strong>do</strong> intersticial nos campos pulmonares,com ou sem a presença de derrame pleural que, quan<strong>do</strong> presente, pode ser uni ou bilateral.Fase diurética – aumento da diurese espontânea define o início desta terceira fase,que se caracteriza por eliminação rápida de líqui<strong>do</strong> acumula<strong>do</strong> no espaço extravascular,resolução da febre e <strong>do</strong> choque.Fase de convalescença – pode durar duas semanas ou mais, com melhora progressiva<strong>do</strong>s sinais e sintomas e lenta recuperação das alterações hemodinâmicas e da função respiratória.Febre hemorrágica com síndrome renal (FHSR)Esta síndrome apresenta, de mo<strong>do</strong> geral, quadro clínico de início insidioso com febre,cefaléia, mialgia, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal, náuseas, vômitos, rubor facial, petéquias e hemorragiaconjuntival. Seguem-se hipotensão, taquicardia, oligúria e hemorragias severas, com evoluçãopara poliúria que, na maioria <strong>do</strong>s casos, antecipa o início da recuperação. Este quadroevolui, em média, por quatro semanas, <strong>do</strong> início até a convalescença.6Doença por hantavírus em criançasSinais e sintomas – início abrupto, febre elevada (38 o C a 40 o C), mialgias frequentes,principalmente nas extremidades, e <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal. Pode haver cefaléia e sintomas comonáuseas e vômitos. Essa sintomatologia, apesar de similar à descrita na fase prodrômica depaciente adulto, deve ter alguns aspectos considera<strong>do</strong>s como diferenciais, tais como febrealta constante, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal muito intensa que pode ser confundida como ab<strong>do</strong>me agu<strong>do</strong>e mialgias mais comumente nas extremidades inferiores.Acha<strong>do</strong>s laboratoriais – os acha<strong>do</strong>s mais comuns encontra<strong>do</strong>s têm si<strong>do</strong> linfócitosatípicos > 10%; plaquetas/mm 3 < 130 mil e contagem de leucócitos com valores normais oueleva<strong>do</strong>s com desvio à esquerda.HDiagnóstico diferencialDoenças de origem infecciosa – leptospirose influenza e parainfluenza, dengue, febreamarela e febre <strong>do</strong> Valle Rift, <strong>do</strong>enças por vírus Coxsackies, Adenovirus e Arenavirus (febrede Lassa), triquinelose, malária, pneumonias (virais, bacterianas, fúngicas e atípicas), septicemias,rickettsioses, histoplasmose, pneumocistose.Doenças não-infecciosas – ab<strong>do</strong>me agu<strong>do</strong> de etiologia variada, síndrome de angústiarespiratória (Sara), edema agu<strong>do</strong> de pulmão (cardiogênico), pneumonia intersticial porcolagenopatias (lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide); <strong>do</strong>ença pulmonar obstrutivacrônica (DPOC).Diagnóstico laboratorialElisa-IgM – méto<strong>do</strong> efetivo utiliza<strong>do</strong> no diagnóstico de hantanvirose. Cerca de 95%<strong>do</strong>s pacientes com SCPH têm IgM demonstrável em amostra de soro coletada após o início<strong>do</strong>s sintomas.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS397


HantavirosesElisa-IgG – méto<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> para verificar conversão sorológica em amostras pareadas,utiliza<strong>do</strong> em estu<strong>do</strong>s de soroprevalência.RT-PCR – méto<strong>do</strong> de diagnóstico molecular, útil para definir o genotipo viral e identificaçãoviral, utiliza<strong>do</strong> nos estu<strong>do</strong>s de epidemiologia molecular. É considera<strong>do</strong> diagnósticocomplementar.Imunohistoquímica – técnica que identifica antígenos específicos para hantavírus emfragmentos de órgãos. Particularmente utiliza<strong>do</strong> para o diagnóstico nos casos de óbito, emque não é possível a realização <strong>do</strong> diagnóstico sorológico, quan<strong>do</strong> se dispõe de fragmentosde órgãos, ou em estu<strong>do</strong>s retrospectivos, em que se usam espécimes conserva<strong>do</strong>s em formolou blocos de parafina.Em caso de óbito, é possível fazer o diagnóstico através <strong>do</strong> exame sorológico – Elisa– IgM (sangue <strong>do</strong> coração ou venoso) ou exame imunohistoquímico.A coleta de amostra deve ser feita logo após a suspeita <strong>do</strong> diagnóstico, pois o aparecimentode anticorpos ocorre no início <strong>do</strong>s sintomas. Os anticorpos da classe IgM podemser detecta<strong>do</strong>s até cerca de 60 dias após o início <strong>do</strong>s sintomas. Quan<strong>do</strong> em amostra única,não for possível definir o diagnóstico, uma segunda amostra deverá ser coletada. Se mesmoassim, não houver diagnóstico conclusivo, colher uma terceira amostra duas a três semanas(14 a 21 dias) após a primeira.TratamentoSCPH – a eficácia <strong>do</strong> tratamento clínico depende da instituição precoce de medidasgerais de suporte clínico, pois até o momento não existe terapêutica antiviral comprovadamenteeficaz contra a SCPH. São indicadas para manutenção das funções vitais, com ênfasena oxigenação e monitoramento rigoroso <strong>do</strong> paciente desde o início <strong>do</strong> quadro respiratório,inclusive com uso de ventilação assistida. A hipotensão deve ser controlada ministran<strong>do</strong>-seexpansores plasmáticos, deven<strong>do</strong>-se ter extremo cuida<strong>do</strong> na sobrecarga hídrica, evitan<strong>do</strong>-seo uso de drogas vasopressoras. Os distúrbios hidreletrolítico e áci<strong>do</strong>-básico devem ser corrigi<strong>do</strong>s,inclusive com assistência em unidade de terapia intensiva-UTI, nos casos mais graves.Recomenda-se o isolamento <strong>do</strong> paciente em condições de proteção com barreiras(avental, luvas e máscara <strong>do</strong>tadas de filtros N95).Se houver necessidade de transferência de um paciente para UTI, o mesmo deve sertransporta<strong>do</strong> em condições que assegurem estabilidade hemodinâmica; parâmetros ventilatóriosadequa<strong>do</strong>s, com oxigenoterapia; acesso venoso, evitan<strong>do</strong>-se a administração excessivade líqui<strong>do</strong>s por via en<strong>do</strong>venosa, e controle <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> cardiovascular. Estas medidas sãorecomendadas também para crianças.Condutas com gestantes com SCPHAs gestantes devem ser seguidas durante o perío<strong>do</strong> de gravidez, parto e puerpério e acriança, após o nascimento. Todas as técnicas disponíveis (IgM, IgG, RT-PCR) devem serfeitas em diferentes momentos para que se possa obter o maior número possível de informações.No caso de óbito materno e/ou fetal, a realização de necrópsia completa é fundamental.398 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


HantavirosesNo que se refere às mães com SCPH e em lactação, recomenda-se suspender a amamentação,controlar a criança com to<strong>do</strong> o suporte laboratorial e solicitar RT-PCR <strong>do</strong> leitematerno.FHSR – recomenda-se as mesmas medidas a<strong>do</strong>tadas para a SCPH, além de diáliseperitoneal ou hemodiálise para o tratamento da insuficiência renal aguda. A ribavirinamostrou-se eficaz no tratamento da FHSR, contribuin<strong>do</strong> para a queda da mortalidade pela<strong>do</strong>ença. Supõe-se que essa droga seja mais eficaz quan<strong>do</strong> empregada no início da fase prodrômica.Aspectos epidemiológicosA SCPH foi detectada pela primeira vez no su<strong>do</strong>este americano, na primavera de 1993,causada pelo hantavírus Sin Nombre. Na América <strong>do</strong> Sul, os primeiros casos foram diagnostica<strong>do</strong>sno esta<strong>do</strong> de São Paulo, no município de Juquitiba, em novembro de 1993. ASCPH ocorre desde o Canadá até o sul da Argentina, país que mais tem notifica<strong>do</strong> casos.A susceptibilidade é geral. Supõe-se que haja, em algumas regiões, um padrão de sazonalidadeem função da biologia <strong>do</strong>s roe<strong>do</strong>res silvestres.No Brasil, no perío<strong>do</strong> de novembro de 1993 a dezembro de 2003, foram confirma<strong>do</strong>s338 casos, <strong>do</strong>s quais 96,0%, confirma<strong>do</strong>s laboratorialmente. As regiões Sul, Sudeste eCentro-Oeste registraram 173 (51,2%), 116 (34,3%) e 36 (10,7%) casos, respectivamente,enquanto que o Nordeste (9) e Norte (4), juntos, detectaram apenas, 3,8% <strong>do</strong>s casos. Apesarda ocorrência da <strong>do</strong>ença em todas as regiões brasileiras, apenas onze esta<strong>do</strong>s registraramcasos, <strong>do</strong>s quais 84,6% <strong>do</strong> total no Paraná (91/26,9%), Santa Catarina (49/14,5%),Rio Grande <strong>do</strong> Sul (33/9,8%), São Paulo (59/17,5%) e Minas Gerais (54/16,0%). O MatoGrosso detectou 33 casos (9,8%), enquanto que o Maranhão (7), Pará (4), Goiás (3), RioGrande <strong>do</strong> Norte (1) e Bahia (1) notificaram, em conjunto, 4,8% das hantaviroses <strong>do</strong>s últimosdez anos.Metade <strong>do</strong>s indivíduos acometi<strong>do</strong>s (51,0%) eram residentes na área rural; cerca de65,0% exercia ocupação relacionada com atividades agrícolas e/ou de pecuária e 84,0%eram <strong>do</strong> sexo masculino. A faixa etária mais atingida foi a de 20-39 anos (intervalo de 8meses-66 anos), com 58,3% das ocorrências. Em 139 casos, a infecção ocorreu em ambientede trabalho. A taxa de letalidade no perío<strong>do</strong> foi de 44,7% e 95,7% <strong>do</strong>s pacientes foraminterna<strong>do</strong>s.6HVigilância epidemiológicaObjetivos• Detectar precocemente casos e/ou surtos.• Conhecer a história natural da SCPH no Brasil.• Identificar fatores de risco associa<strong>do</strong>s à <strong>do</strong>ença.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS399


Hantaviroses• Recomendar medidas de prevenção e controle.• Estudar a tendência da <strong>do</strong>ença.Definição de caso de SCPHSuspeito• Paciente com <strong>do</strong>ença febril, geralmente acima de 38°C, e mialgias, acompanhadasde um ou mais <strong>do</strong>s seguintes sinais e sintomas: calafrio, astenia, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal,alterações gastrointestinais, cefaléia, tosse seca, insuficiência respiratória aguda deetiologia não determinada ou edema pulmonar não-cardiogênico na primeira semanada <strong>do</strong>ença, ou• Paciente com enfermidade aguda apresentan<strong>do</strong> quadro de edema pulmonar nãocardiogênicocom evolução para óbito, ou• Paciente com <strong>do</strong>ença febril e história de exposição à mesma fonte de infecção de umou mais casos de hantavirose, confirma<strong>do</strong>(s) laboratorialmente.Confirma<strong>do</strong>Critério laboratorial – caso suspeito com os seguintes resulta<strong>do</strong>s de exames laboratoriais:• sorologia reagente para anticorpos séricos específicos para hantavírus da classe IgM,ou• soroconversão para anticorpos séricos específicos da classe IgG (aumento de quatrovezes ou mais no título de IgG, entre a primeira e segunda amostra), ou• imunohistoquímica de teci<strong>do</strong>s positiva (identificação de antígenos específicos contrahantavírus), ou• PCR positivo.Critério clínico-epidemiológico – indivíduo que tenha freqüenta<strong>do</strong> áreas conhecidasde transmissão de hantavírus ou exposição à mesma situação de risco de pacientes confirma<strong>do</strong>slaboratorialmente, apresentan<strong>do</strong>, obrigatoriamente, as seguintes alterações:• raios X de tórax com infiltra<strong>do</strong> intersticial bilateral nos campos pulmonares, com ousem presença de derrame pleural que pode, quan<strong>do</strong> presente, ser uni ou bilateral;• hemoconcentração (hematócrito > 45%);• trombocitopenia (plaquetas


HantavirosesMedidas a serem a<strong>do</strong>tadasRecomenda-se o isolamento <strong>do</strong> paciente em condições de proteção com barreiras(avental, luvas e máscaras <strong>do</strong>tadas de filtros N95).Assistência adequada ao paciente: por ser <strong>do</strong>ença aguda de curso rápi<strong>do</strong>, geralmentehá necessidade de internação em unidades de saúde de maior complexidade, inclusive comunidade de terapia intensiva (UTI), pois a sobrevivência <strong>do</strong> paciente depende da instituiçãoprecoce de medidas gerais de suporte clínico.Material para diagnóstico laboratorial: certificar-se de que houve a coleta de materialpara o diagnóstico laboratorial, de acor<strong>do</strong> com as normas técnicas apresentadas no Anexo1, bem como o devi<strong>do</strong> encaminhamento para o Lacen ou para o laboratório público dereferência.Investigação epidemiológica – iniciar o mais precocemente a possível investigação<strong>do</strong> caso suspeito com vistas à identificação <strong>do</strong> local provável de infecção (LPI) e os fatoresdeterminantes para a ocorrência da <strong>do</strong>ença.6Roteiro da investigação epidemiológicaA hantavirose é uma <strong>do</strong>ença emergente e ainda desconhecida para muitos profissionaisda rede de serviços de saúde. Em vista de seu grande potencial de infecção, é imprescindívela a<strong>do</strong>ção de medidas de segurança por parte <strong>do</strong>s profissionais responsáveis pela investigação,principalmente no que se refere à identificação <strong>do</strong>s locais prováveis de infecção.Coleta de da<strong>do</strong>s gerais e de antecedentes epidemiológicos• Preencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação epidemiológica <strong>do</strong> Sinan relativosaos da<strong>do</strong>s gerais, da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> caso e de residência, além <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s referentes àsatividades ou situações de risco nos últimos 60 dias anteriores ao início da <strong>do</strong>ença.• Na impossibilidade de o paciente fornecer os da<strong>do</strong>s, buscar as informações junto aosfamiliares, vizinhos e colegas de serviço.HColeta de da<strong>do</strong>s clínicos, de tratamento e laboratoriaisEm geral, quan<strong>do</strong> é notificada a suspeita de hantavirose, os <strong>do</strong>entes já estão hospitaliza<strong>do</strong>s;assim, deve-se levantar as informações <strong>do</strong> prontuário e entrevistar os profissionaisda área médica e de enfermagem para completar, na ficha epidemiológica, as informaçõesclínicas e os acha<strong>do</strong>s laboratoriais e radiológicos <strong>do</strong> paciente.Levantar informações sobre atendimento anterior em outro serviço ou no mesmo hospital.Busca ativa de comunicantesRealizar busca ativa de comunicantes <strong>do</strong> paciente junto à residência e ao local de trabalhoou de lazer, incluin<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os indivíduos com processo infeccioso inespecífico ecom sintomas respiratórios nos últimos 60 dias antes <strong>do</strong> aparecimento <strong>do</strong>s sintomas <strong>do</strong>caso índice. Para cada caso suspeito encontra<strong>do</strong>, coletar material para sorologia e preencheruma nova ficha de investigação epidemiológica.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS401


HantavirosesIdentificação <strong>do</strong> local provável de infecçãoDefine-se por local provável de infecção (LPI) o(s) local(is) que tenha(m) si<strong>do</strong>freqüenta<strong>do</strong>(s) pelo caso suspeito ou confirma<strong>do</strong>, nas últimas oito semanas (60 dias) antes<strong>do</strong> início <strong>do</strong>s primeiros sintomas. Esses locais devem apresentar condições favoráveis àpresença de roe<strong>do</strong>res silvestres (água, abrigo ou alimento), aliadas a outros fatores, taiscomo:• desmatamento, corte de árvores, aragem, plantio ou colheita em campo;• transporte, armazenagem e moagem de grãos;• limpeza de celeiros ou outras construções (tulhas, paióis e silos);• adentramento e/ou limpeza de residências ou qualquer habitação, desabitadas ounão ocupadas por algum perío<strong>do</strong>, com a presença de roe<strong>do</strong>res;• roças aban<strong>do</strong>nadas, faixas de capim não ocupadas;• mudanças temporárias no perfil agrícola que alterem a disponibilidade de alimentos(grãos) ou outros fenômenos naturais periódicos que aumentem a disponibilidadede alimentos para os roe<strong>do</strong>res silvestres, como a floração das taquaras;• fatores ambientais que provoquem o deslocamento de roe<strong>do</strong>res para dentro ou arre<strong>do</strong>resde habitações humanas, tais como desmatamentos, queimadas, enchentes,alagamentos e outras alterações climáticas.• exposição a ambiente silvestre em atividades profissionais ou de lazer.Recomenda-se aos profissionais de saúde que usem máscaras de pressão negativacom filtro N95 sempre que a investigação epidemiológica exigir que freqüentem locaiscom suspeita de contaminação por hantavírus, sejam ambientes fecha<strong>do</strong>s ou não,com sinais de infestação de roe<strong>do</strong>res e seus excretas.Encerramento da investigação epidemiológicaDe acor<strong>do</strong> com as informações levantadas, o investiga<strong>do</strong>r deve definir o LPI, bemcomo os fatores determinantes da infecção e a conclusão <strong>do</strong> caso suspeito, com sua confirmaçãoou descarte.Investigação ambientalCom a definição <strong>do</strong> LPI de qualquer caso humano, há necessidade de se conhecer afonte de infecção, ou seja, o roe<strong>do</strong>r reservatório. Em áreas onde ele não é conheci<strong>do</strong>, deve-serealizar as atividades de investigação ambiental/ecológica com vistas a determinar a espéciede roe<strong>do</strong>r que atua como reservatório <strong>do</strong> hantavírus.A vigilância ambiental tem por objetivos: identificar as espécies prevalentes de roe<strong>do</strong>ressilvestres, determinar as espécies de roe<strong>do</strong>res que podem ser os reservatórios e identificarnovas variantes virais, bem como a sua distribuição geográfica .A captura e manipulação de roe<strong>do</strong>res silvestres e a coleta de amostras são atividadesconsideradas de alto risco, que requerem o uso de equipamentos de proteção individual402 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


HantavirosesNB3. Portanto, devem ser realizadas por técnicos especificamente capacita<strong>do</strong>s e devidamentehabilita<strong>do</strong>s pelos serviços de referência da Secretaria de Vigilância em Saúde/MS. Éimportante ressaltar que as atividades que envolvam a captura de animais silvestres requeremautorização prévia <strong>do</strong> Ibama.Avaliação da extensão da área de transmissãoEm se confirman<strong>do</strong> o caso, deve-se determinar a magnitude da situação epidemiológica,ou seja, se é um caso isola<strong>do</strong> ou se está ocorren<strong>do</strong> um surto.Para tanto, deve-se realizar busca ativa de casos suspeitos no município ou, até mesmo,na região de procedência, em um perío<strong>do</strong> de até 60 dias anteriores ao caso índice, identifican<strong>do</strong>-sepacientes com manifestações clínicas compatíveis com a <strong>do</strong>ença. A busca deve atingirtodas as unidades de saúde (hospitais, clínicas, laboratórios, serviço de notificação de óbito).Para cada caso suspeito encontra<strong>do</strong>, coletar material, para diagnóstico sorológico, preenchera ficha de investigação epidemiológica e pesquisar áreas que apresentam risco de infecção.Análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s e relatório finalOs da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s pacientes (faixa etária, sexo, ocupação, etc.), da <strong>do</strong>ença, <strong>do</strong> tratamento(sinais e sintomas, acha<strong>do</strong>s laboratoriais, internação, evolução, etc.) e os fatores de riscodevem ser organiza<strong>do</strong>s em tabelas, gráficos e mapas. Taxas e estimativas de incidência, letalidade,mortalidade, dentre outras, são importantes para se conhecer a enfermidade.Informações a respeito da data <strong>do</strong>s primeiros sintomas, freqüência e distribuição <strong>do</strong>sprincipais sinais e/ou sintomas, área geográfica, forma de infecção, ocupação e evolução <strong>do</strong>caso serão úteis nas análises que permitirão definir o perfil epidemiológico <strong>do</strong>s indivíduosacometi<strong>do</strong>s e expostos, bem como o local ou locais de ocorrência da <strong>do</strong>ença, para que sepossa desenvolver as ações de prevenção e controle.Os relatórios parcial e final sobre casos de hantavirose, elabora<strong>do</strong>s a partir dessas análises,são essenciais não só para o acompanhamento da tendência da <strong>do</strong>ença mas tambémpara se instruir os profissionais e serviços de saúde, bem como direcionar as medidas indicadas.6HMedidas de prevenção e controleEm relação aos roe<strong>do</strong>resA estratégia de controle será definida com base no conhecimento prévio da biologiae <strong>do</strong> comportamento <strong>do</strong>s roe<strong>do</strong>res, de acor<strong>do</strong> com seus habitats em cada área (<strong>do</strong>miciliar,peri<strong>do</strong>miciliar ou silvestre).Desta forma, o controle pode abranger três linhas de ação:Anti-ratização• Eliminar to<strong>do</strong>s os resíduos, entulhos e objetos inúteis que possam servir para abrigos,tocas e ninhos de roe<strong>do</strong>res, bem como reduzir suas fontes de água e alimento.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS403


Hantaviroses• Armazenar insumos e produtos agrícolas (grãos, hortigranjeiros e frutas) em silosou tulhas situa<strong>do</strong>s a uma distância mínima de 30 metros <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio. O silo outulha deverá estar suspenso a uma altura de 40 cm <strong>do</strong> solo, com escada removível eratoeiras dispostas em cada suporte.• Os produtos armazena<strong>do</strong>s no interior <strong>do</strong>s <strong>do</strong>micílios devem ser conserva<strong>do</strong>s emrecipientes fecha<strong>do</strong>s e a 40 cm <strong>do</strong> solo.• Vedar fendas e quaisquer outras aberturas com tamanho superior a 0,5 cm, paraevitar a entrada de roe<strong>do</strong>res nos <strong>do</strong>micílios.• Remover diariamente, no perío<strong>do</strong> noturno, as sobras <strong>do</strong>s alimentos de animais <strong>do</strong>mésticos.• Caso não exista coleta regular, os lixos orgânico e inorgânico devem ser enterra<strong>do</strong>sseparadamente, respeitan<strong>do</strong>-se uma distância mínima de 30 metros <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio ede fontes de água.• Qualquer plantio deve sempre obedecer a uma distância mínima de 50 metros <strong>do</strong><strong>do</strong>micílio.• O armazenamento em estabelecimentos comerciais deve seguir as mesmas orientaçõespara o armazenamento em <strong>do</strong>micílio e em silos de maior porte.• Em locais onde haja coleta de lixo rotineira, os lixos orgânico e inorgânico devemser acondiciona<strong>do</strong>s em latões com tampa ou em sacos plásticos e manti<strong>do</strong>s sobresuporte de aproximadamente 1,5 metro de altura <strong>do</strong> solo.DesratizaçãoEm áreas rurais não é rotineiramente recomenda<strong>do</strong> o controle químico de roe<strong>do</strong>res,ten<strong>do</strong> em vista que as medidas de anti-ratização geralmente são suficientes. Se necessário,frente a uma alta infestação, a mesma só poderá ser feita nas áreas limite entre o <strong>do</strong>micílio/peri<strong>do</strong>micílio e peri<strong>do</strong>micílio/silvestre, sempre por profissionais especializa<strong>do</strong>s.Manejo ambientalAs medidas de prevenção e controle devem ser fundamentadas em manejo ambientalatravés, principalmente, de práticas de higiene e medidas corretivas no meio ambiente, taiscomo saneamento e melhoria nas condições de moradia, tornan<strong>do</strong> as habitações e os locaisde trabalho impróprios à instalação e à proliferação de roe<strong>do</strong>res (anti-ratização), associa<strong>do</strong>sàs desratizações focais (no <strong>do</strong>micílio e/ou no peri<strong>do</strong>micílio), quan<strong>do</strong> extremamentenecessário.Em relação à população em geralInformar os mora<strong>do</strong>res da região sobre a <strong>do</strong>ença, os roe<strong>do</strong>res envolvi<strong>do</strong>s e as viasde transmissão. Orientá-los sobre as medidas de prevenção e controle da hantavirose ea importância de procederem as ações de combate aos reservatórios para manter a árealivre da presença desses animais, como, por exemplo, roçar o terreno em volta da casa,dar destino adequa<strong>do</strong> aos entulhos existentes, manter alimentos estoca<strong>do</strong>s em recipientes404 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Hantavirosesfecha<strong>do</strong>s e à prova de roe<strong>do</strong>res, além de outras medidas de efeito imediato e necessárias àsituação específica.Em relação aos locais prováveis de infecção (LPI)• Limpeza e descontaminação <strong>do</strong> interior de ambientes <strong>do</strong>s supostos LPI, onde tenhamsi<strong>do</strong> diagnostica<strong>do</strong>s casos de hantavirose. Uma equipe especificamente treinadadeverá orientar e realizar esta atividade, sempre munida de equipamentos deproteção individual de nível de biossegurança 3, seguin<strong>do</strong> as normas de biossegurança.• Abrir as portas e janelas das residências, habitações, silos paióis, etc. para seremarejadas por, no mínimo, 30 minutos antes de ingressar no ambiente para procedera limpeza <strong>do</strong> local.• Umedecer pisos, paredes e utensílios no interior <strong>do</strong>s imóveis contamina<strong>do</strong>s, bemcomo roe<strong>do</strong>res mortos ou presença ou sinais de fezes e urina de ratos, com umasolução de água sanitária a 10% (1 litro de água sanitária + 9 litros de água) ou dedetergente. Aguardar, pelo menos, meia hora antes de iniciar a limpeza, que deve sersempre feita com o piso e locais bastante úmi<strong>do</strong>s.• Os alimentos e outros materiais com evidências de contaminação devem ser elimina<strong>do</strong>sem sacos plásticos resistentes, previamente molha<strong>do</strong>s com desinfetante eenterra<strong>do</strong>s a uma profundidade de 60 cm.• Utilizar luvas de borracha durante a manipulação de roe<strong>do</strong>res mortos e objetos oualimentos contamina<strong>do</strong>s. Ao término <strong>do</strong> trabalho, as luvas devem ser lavadas comsolução de desinfetante, antes de serem retiradas; e em seguida, lavar as mãos comágua e sabão.6HEm relação aos laboratórios de pesquisaTo<strong>do</strong>s os roe<strong>do</strong>res silvestres devem ser manipula<strong>do</strong>s como fontes potenciais de infecção.Roe<strong>do</strong>res de laboratório inocula<strong>do</strong>s ou expostos a sangue, componentes <strong>do</strong> sangue,teci<strong>do</strong>s e excretas de roe<strong>do</strong>res silvestres também devem ser considera<strong>do</strong>s potencialmenteinfecta<strong>do</strong>s por hantavírus. Tanto com animais silvestres como de laboratório, há risco detransmissão por aerossol de urina, fezes ou saliva, desde que estejam infecta<strong>do</strong>s com hantavírus.Em relação aos profissionais de vigilânciaAs habitações que tenham permaneci<strong>do</strong> fechadas por muito tempo deverão ser ventiladaspor, pelo menos, meia hora antes que pessoas entrem nas mesmas. Os técnicos queingressarem em locais fecha<strong>do</strong>s e passíveis de contaminação com excretas de roe <strong>do</strong>res devemfazê-lo, preferencialmente, com proteção respiratória usan<strong>do</strong> máscara ou respira<strong>do</strong>rescom filtros de alta eficiência N95.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS405


HantavirosesEm relação aos ecoturistas, pesquisa<strong>do</strong>res de fauna e flora,caça<strong>do</strong>res e pesca<strong>do</strong>resOs acampamentos devem ser monta<strong>do</strong>s longe de locais com presença de roe<strong>do</strong>res.Ninhos, escombros, lixões, acúmulos de lenha ou produtos agrícolas, palha ou outros materiaissão habitats preferenciais destes animais. Nesses acampamentos, os alimentos e resíduosdevem ser manti<strong>do</strong>s em recipientes fecha<strong>do</strong>s e à prova de ratos. E, quan<strong>do</strong> descarta<strong>do</strong>s,ser enterra<strong>do</strong>s a uma distância maior que 30m <strong>do</strong> acampamento. A água deve estarcontida em recipientes fecha<strong>do</strong>s e recomenda-se que seja fervida ou clorada (duas gotas deágua sanitária para cada litro d’água. Aguardar meia hora antes de consumir).406 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


HantavirosesAnexo 1Normas para procedimentos laboratoriaisTipo dediagnósticoTipo dematerialQuantidadeNº deamostrasPerío<strong>do</strong>da coletaRecipienteArmazenamento/conservaçãoTransporteElisa IgMElisa IgGSanguevenoso (soro)OBS:coágulosde sangue sãomuito úteispara o diagnóstico.Sangue <strong>do</strong>coração (emcaso de óbito)Médiade 5mlde sangueou de soroUmaamostraSe nãoconcluiro diagnóstico,colher atéduas a trêsamostras<strong>do</strong> pacientevivo1ª amostra:logo noprimeiroatendimentomédico.2ª amostra:nos primeirosdias deinternação.3ª amostra:2-3 semanasapós o início<strong>do</strong>s sintomasTubo seco(sem anticoagulante)Preferencialmenteem congela<strong>do</strong>res(freezers) a -20 o CEm geladeira, porum tempo máximode 24 horasCaixa deisopor, comgelo reciclável6PCRSoro, plasma,sangue, coágulo,ou biópsiade pulmãoEm caso deóbito, colherfragmentosde pulmão,rim, baçoe fíga<strong>do</strong>Médiade 5mloufragmentode teci<strong>do</strong>Mínimo1,5 cmpor teci<strong>do</strong>UmaamostraColher até o7º dia apóso início <strong>do</strong>ssintomasNecropsia:realizaraté 8 horasapós oóbitoTubocriogênico:plásticoresistente abaixíssimastemperaturasImediatamenteapós a coleta,colocar em congela<strong>do</strong>res(freezers)a -70 o C, ou emgelo seco ou nitrogêniolíqui<strong>do</strong>Caixa apropriadapara transportede materiais infectantes:recipientede alumínio comtampa plásticade rosca, suportepara o recipientede alumínio,algodão hidrófilo,caixa de isoporcom gelo seco ecaixa de papelãopara proteçãoexterna ao isoporHIHCMaterialde necropsia(fragmentos depulmão, baço,rim, linfono<strong>do</strong>,coração, pâncreas,glândulapituitária, cérebroe fíga<strong>do</strong>)Fragmentosde 1cm 2fixa<strong>do</strong> emformol tampona<strong>do</strong>a10% ou emblocos deparafinaUmaamostraNecropsia:realizar,preferencialmente,até 8horas após oóbitoFrascoconten<strong>do</strong>soluçãode formoltampona<strong>do</strong>a 10%.Bloco parafina<strong>do</strong>Não refrigerar!Conservar emtemperaturaambienteNão refrigerar!Transportar emtemperaturaambienteObservações quanto ao encaminhamento das amostras• As amostras de sangue e/ou coágulo e/ou soro a serem analisadas deverão ser encaminhadaspara o laboratório de referência em embalagens e condições apropriadas,constituídas basicamente de: amostra contida em tubo criogênico, com tampa derosca, envolto em algodão hidrófilo e plástico com bolhas de proteção; recipiente demetal com tampa de rosca com fechamento hermético para conter os tubos com asamostras; caixa de isopor com gelo seco, conten<strong>do</strong> suporte para o recipiente metálico.Embalagens comercialmente disponíveis.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS407


Hantaviroses• Quan<strong>do</strong> não for possível a utilização dessas embalagens, observar o mínimo desegurança. Utilizar frascos secos, de plástico resistente (de preferência criotubos;nunca utilizar frascos de vidro), com fechamento hermético, protegi<strong>do</strong>s com papeltoalha ou gaze. Cada frasco deve estar devidamente identifica<strong>do</strong> com nome <strong>do</strong> pacientee data da coleta <strong>do</strong> material. Cada amostra deverá ser acompanhada de fichade solicitação de exames, devidamente preenchida, conten<strong>do</strong> todas as informaçõesrelativas ao paciente (nome completo, idade, data <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s sintomas, data da coletada amostra, procedência, atividade ocupacional, contato com roe<strong>do</strong>res silvestresou seus excretas).• O transporte deverá ser feito em caixa de isopor conten<strong>do</strong> gelo seco em quantidadesuficiente para que as amostras cheguem ao laboratório ainda congeladas. Nãohaven<strong>do</strong> disponibilidade de gelo seco ou nitrogênio líqui<strong>do</strong>, o transporte de soropoderá ser feito em caixa de isopor conten<strong>do</strong> gelo reciclável, sempre se observan<strong>do</strong>os cuida<strong>do</strong>s para evitar acidentes com o material biológico e asseguran<strong>do</strong> que aquantidade de gelo seja suficiente para manter o material refrigera<strong>do</strong> até a chegadano laboratório. Neste caso, a amostra possivelmente não será adequada para a realizaçãode RT-PCR.• O envio de amostras para análise deverá ser comunica<strong>do</strong>, por telefone, ao laboratório,principalmente se a remessa for feita nos últimos dias da semana; é precisoplanejar a chegada e recepção <strong>do</strong>s materiais no laboratório em finais de semana e/ouferia<strong>do</strong>s, para não haver perda ou extravio de amostras.• O coágulo, retira<strong>do</strong> da amostra de sangue <strong>do</strong>s casos suspeitos de hantavirose (não deseus comunicantes), e que deve ser preserva<strong>do</strong> para realização de RT-PCR, deveráser encaminha<strong>do</strong> juntamente com a respectiva amostra de soro sempre em gelo secoou botijão de nitrogênio líqui<strong>do</strong>.408 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Hepatites ViraisHEPATITES VIRAISCID 10: B15 (Hepatite A); B16 (Hepatite B);B17.1 (Hepatite C); B17.8 (Hepatite D); B17.2 (Hepatite E)Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoAs hepatites virais são <strong>do</strong>enças provocadas por diferentes agentes etiológicos, comtropismo primário pelo fíga<strong>do</strong>, que apresentam características epidemiológicas, clínicas elaboratoriais distintas.A distribuição das hepatites virais é universal, sen<strong>do</strong> que a magnitude varia de regiãopara região, de acor<strong>do</strong> com os diferentes agentes etiológicos. No Brasil, esta variação tambémocorre.As hepatites virais têm grande importância para a saúde pública e para o individuo,pelo número de indivíduos atingi<strong>do</strong>s e pela possibilidade de complicações das formas agudase crônicas.6Agente etiológicoOs agentes etiológicos que causam hepatites virais mais relevantes <strong>do</strong> ponto de vistaclínico e epidemiológico são designa<strong>do</strong>s por letras <strong>do</strong> alfabeto (vírus A, vírus B, vírus C,vírus D e vírus E). Estes vírus têm em comum a predileção para infectar os hepatócitos(células hepáticas). Entretanto, divergem quanto às formas de transmissão e conseqüênciasclínicas advindas da infecção. São designa<strong>do</strong>s rotineiramente pelas seguintes siglas: vírusda hepatite A (HAV), vírus da hepatite B (HBV), vírus da hepatite C (HCV), vírus da hepatiteD (HDV) e vírus da hepatite E (HEV).Existem alguns outros vírus que também podem causar hepatite (ex: TTV, vírus G,SEV-V). Todavia, seu impacto clínico e epidemiológico é menor. No momento, a investigaçãodestes vírus está basicamente concentrada em centros de pesquisa.HReservatórioO homem é o único reservatório com importância epidemiológica. Os outros reservatóriosapresentam importância como modelos experimentais para a pesquisa básica emhepatites virais.O HAV tem reservatório também em primatas, como chimpanzés e sagüis. Experimentalmente,a marmota, o esquilo e o pato-de-pequim podem ser reservatórios para oHBV; já o chimpanzé, para o HBV, HCV e HEV. Relatos recentes de isolamento <strong>do</strong> HEVem suínos, bovinos, galinhas, cães e roe<strong>do</strong>res levantam a possibilidade de que esta infecçãoseja uma zoonose.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS409


Hepatites ViraisMo<strong>do</strong> de transmissãoQuanto às formas de transmissão, as hepatites virais podem ser classificadas em <strong>do</strong>isgrupos: o grupo de transmissão fecal-oral (HAV e HEV) tem seu mecanismo de transmissãoliga<strong>do</strong> a condições de saneamento básico, higiene pessoal, qualidade da água e <strong>do</strong>salimentos. A transmissão percutânea (inoculação acidental) ou parenteral (transfusão) <strong>do</strong>svírus A e E é muito rara, devi<strong>do</strong> ao curto perío<strong>do</strong> de viremia <strong>do</strong>s mesmos. O segun<strong>do</strong> grupo(HBV, HCV, e HDV) possui diversos mecanismos de transmissão, como o parenteral,sexual, compartilhamento de objetos contamina<strong>do</strong>s (agulhas, seringas, lâminas de barbear,escovas de dente, alicates de manicure), utensílios para colocação de piercing e confecçãode tatuagens e outros instrumentos usa<strong>do</strong>s para uso de drogas injetáveis e inaláveis. Hátambém o risco de transmissão através de acidentes perfurocortantes, procedimentos cirúrgicose o<strong>do</strong>ntológicos e hemodiálises sem as adequadas normas de biossegurança. Hoje,após a triagem obrigatória nos bancos de sangue (desde 1978 para a hepatite B e 1993 para ahepatite C), a transmissão via transfusão de sangue e hemoderiva<strong>do</strong>s é relativamente rara.A transmissão por via sexual é mais comum para o HBV que para o HCV. Na hepatiteC poderá ocorrer a transmissão principalmente em pessoa com múltiplos parceiros, coinfectadacom o HIV, com alguma lesão genital (DST), alta carga viral <strong>do</strong> HCV e <strong>do</strong>ençahepática avançada.Os vírus das hepatites B, C e D possuem também a via de transmissão vertical (damãe para o bebê). Geralmente, a transmissão ocorre no momento <strong>do</strong> parto, sen<strong>do</strong> a viatransplacentária incomum. A transmissão vertical <strong>do</strong> HBV ocorre em 70% a 90% <strong>do</strong>s casosde mães com replicação viral (HBeAg positivas); nos casos de mães sem replicação viral(HBeAg negativas) a probabilidade varia entre 30% a 50% – o que não altera a conduta aser a<strong>do</strong>tada para a criança (vacinação e imunoglobulina nas primeiras <strong>do</strong>ze horas de vida).Na hepatite C, a transmissão vertical é bem menos freqüente, poden<strong>do</strong> ocorrer em aproximadamente6% <strong>do</strong>s casos. Entretanto, se a mãe for co-infectada com o HIV, este percentualsobe para até 17%. A transmissão vertical não tem importância para os vírus A e E.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoVaria de acor<strong>do</strong> com o agente (Quadro 1).Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeVaria de acor<strong>do</strong> com o agente (Quadro 1).Hepatite B – a presença <strong>do</strong> HBsAg (assim como o HBV-DNA), que determina a condiçãode porta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> HBV (sintomático ou assintomático), indica a existência de risco detransmissão <strong>do</strong> vírus. Pacientes com HBeAg (marca<strong>do</strong>r de replicação viral) reagente têmmaior risco de transmissão <strong>do</strong> HBV <strong>do</strong> que pacientes HBeAg não-reagentes.Hepatite C – a presença <strong>do</strong> HCV-RNA, que determina a condição de viremia <strong>do</strong> HCV,indica o risco de transmissão da hepatite C. Alguns estu<strong>do</strong>s indicam que a carga viral <strong>do</strong>HCV é diretamente proporcional ao risco de transmissão <strong>do</strong> vírus. Em gestantes co-infectadaspelo HCV e HIV, a chance de transmissão vertical é maior <strong>do</strong> que em gestantesinfectadas apenas pelo HCV.410 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Hepatites ViraisQuadro 1. Principais características <strong>do</strong>s vírus que causam a hepatiteAgenteetiológicoGenomaMo<strong>do</strong> detransmissãoPerío<strong>do</strong> deincubaçãoPerío<strong>do</strong> de transmissibilidadeHAV RNA Fecal-oral15-45 dias(média de 30 dias)Desde duas semanas antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s sintomas atéo final da segunda semana da <strong>do</strong>ençaHBVDNASexual, parenteral,percutânea, vertical30-180 dias(média de 60a 90 dias)Duas a três semanas antes <strong>do</strong>s primeiros sintomas,se manten<strong>do</strong> durante a evolução clínica da <strong>do</strong>ença.O porta<strong>do</strong>r crônico pode transmitir o HBV durante anosHCVRNAParenteral,percutânea,vertical, sexual15-150 diasUma semana antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s sintomas e mantém-seenquanto o paciente apresentar HCV-RNA detectávelHDVRNASexual, parenteral,percutânea, vertical30-180 dias. Esteperío<strong>do</strong> é menorna superinfecçãoUma semana antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s sintomas da infecçãoconjunta (HBV e HDV). Na superinfecção não se conheceeste perío<strong>do</strong>HEV RNA Fecal-oral14-60 dias(média de 42 dias)Duas semanas antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s sintomas até o finalda segunda semana da <strong>do</strong>ençaSusceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade é universal. A infecção confere imunidade permanente e específicapara cada tipo de vírus.A imunidade conferida pelas vacinas contra a hepatite A e hepatite B é dura<strong>do</strong>ura eespecífica. Os filhos de mães imunes podem apresentar imunidade passiva e transitóriadurante os primeiros nove meses de vida.6Detecção de imunidade adquirida naturalmentePara a hepatite A – a imunidade adquirida naturalmente é estabelecida pela presença<strong>do</strong> anti-HAV IgG (ou anti-HAV total positivo com anti-HAV IgM negativo). Este padrãosorológico é indistinguível da imunidade vacinal.Para a hepatite B – a imunidade adquirida naturalmente é estabelecida pela presençaconcomitante <strong>do</strong> anti-HBs e anti-HBc IgG ou total. Eventualmente, o anti-HBc pode sero único indica<strong>do</strong>r da imunidade natural detectável sorologicamente, pois com o tempo onível de anti-HBs pode tornar-se indetectável. A ocorrência <strong>do</strong> anti-HBs como marca<strong>do</strong>risola<strong>do</strong> de imunidade contra o HBV adquirida naturalmente é possível, embora seja muitopouco freqüente. É aconselhável considerar a possibilidade de resulta<strong>do</strong> falso-positivo nestasituação e repetir os marca<strong>do</strong>res para esclarecimento <strong>do</strong> caso.Para a hepatite C – a pessoa infectada pelo vírus C apresenta sorologia anti-HCV reagentepor um perío<strong>do</strong> indefini<strong>do</strong>; porém, este padrão não distingue se houve resolução dainfecção e conseqüente cura ou se a pessoa continua porta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> vírus.HDetecção de imunidade pós-vacinalExistem disponíveis, no momento, vacinas contra a hepatite A e contra a hepatite B.Para a hepatite A – são susceptíveis à infecção pelo HAV pessoas sorologicamentenegativas para o anti-HAV IgG. A vacina contra a hepatite A induz à formação <strong>do</strong> anti-HAV IgG.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS411


Hepatites ViraisPara a hepatite B – são susceptíveis pessoas com perfil sorológico HBsAg, anti-HBce anti-HBs negativos concomitantemente. A vacina contra a hepatite B tem como imunizanteo HBsAg (produzi<strong>do</strong> por técnica <strong>do</strong> DNA recombinante) induzin<strong>do</strong>, portanto, àformação <strong>do</strong> anti-HBs, isoladamente.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasApós entrar em contato com o vírus da hepatite o indivíduo pode desenvolver umquadro de hepatite aguda, poden<strong>do</strong> apresentar formas clínicas oligo/assintomática ou sintomática.No primeiro caso, as manifestações clínicas estão ausentes ou são bastante levese atípicas, simulan<strong>do</strong> um quadro gripal. No segun<strong>do</strong>, a apresentação é típica, com os sinaise sintomas característicos da hepatite como febre, icterícia e colúria.A fase aguda (hepatite aguda) tem seus aspectos clínicos e virológicos limita<strong>do</strong>s aosprimeiros seis meses da infecção e a persistência <strong>do</strong> vírus após este perío<strong>do</strong> caracteriza acronificação da infecção. Apenas os vírus B, C e D têm potencial para desenvolver formascrônicas de hepatite. O potencial para cronificação varia em função de alguns fatores liga<strong>do</strong>saos vírus e outros liga<strong>do</strong>s ao hospedeiro. De mo<strong>do</strong> geral, a taxa de cronificação <strong>do</strong> HBVé de 5% a 10% <strong>do</strong>s casos em adultos. Todavia, esta taxa chega a 90% para menores de 1 anoe 20% a 50% para crianças de 1 a 5 anos. Pessoas com qualquer tipo de imunodeficiênciatambém têm maior chance de cronificação após uma infecção pelo HBV. Para o vírus C, ataxa de cronificação varia entre 60% a 90% e é maior em função de alguns fatores <strong>do</strong> hospedeiro(sexo masculino, imunodeficiências, mais de 40 anos). A taxa de cronificação <strong>do</strong> vírusD varia em função de aspectos liga<strong>do</strong>s ao tipo de infecção (co-infecção/ superinfecção) e detaxa de cronificação <strong>do</strong> HBV.Fase aguda (hepatite aguda)Os vírus hepatotrópicos apresentam uma fase aguda da infecção. No nosso meio, amaioria <strong>do</strong>s casos de hepatite aguda sintomática deve-se aos vírus A e B (na região Nortea co-infecção HBV/HDV também é importante causa de hepatite aguda sintomática). Ovírus C costuma apresentar uma fase aguda oligo/assintomática, de mo<strong>do</strong> que respondepor apenas pequena parte das hepatites agudas sintomáticas.Perío<strong>do</strong> prodrômico ou pré-ictérico – é o perío<strong>do</strong> após a fase de incubação <strong>do</strong> agenteetiológico e anterior ao aparecimento da icterícia. Os sintomas são inespecíficos comoanorexia, náuseas, vômitos, diarréia (ou raramente constipação), febre baixa, cefaléia, malestar,astenia e fadiga, aversão ao paladar e/ou olfato, mialgia, fotofobia, desconforto nohipocôndrio direito, urticária, artralgia ou artrite e exantema papular ou maculopapular.Fase ictérica – com o aparecimento da icterícia, em geral há diminuição <strong>do</strong>s sintomasprodrômicos. Existe hepatomegalia <strong>do</strong>lorosa, com ocasional esplenomegalia. Ocorrehiperbilirrubinemia intensa e progressiva, com aumento da <strong>do</strong>sagem de bilirrubinas totais,principalmente à custa da fração direta. A fosfatase alcalina e a gama-glutamil-transferase412 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Hepatites Virais(GGT) permanecem normais ou discretamente elevadas. Há alteração das aminotransferases,poden<strong>do</strong> variar de 10 a 100 vezes o limite superior da normalidade. Este nível retornaao normal no prazo de algumas semanas, porém se persistirem altera<strong>do</strong>s por um perío<strong>do</strong>superior a seis meses, deve-se considerar a possibilidade de cronificação da infecção.Fase de convalescença – perío<strong>do</strong> que se segue ao desaparecimento da icterícia, quan<strong>do</strong>retorna progressivamente a sensação de bem-estar. A recuperação completa ocorre apósalgumas semanas, mas a fraqueza e o cansaço podem persistir por vários meses.Fase crônica (hepatite crônica)Casos nos quais o agente etiológico permanece no hospedeiro após seis meses <strong>do</strong> inícioda infecção. Os vírus A e E não cronificam, embora o HAV possa produzir casos quese arrastam por vários meses. Os vírus B, C e D são aqueles que têm a possibilidade decronificar. Os indivíduos com infecção crônica funcionam como reservatórios <strong>do</strong> respectivovírus, ten<strong>do</strong> importância epidemiológica por serem os principais responsáveis pelaperpetuação da transmissão.Porta<strong>do</strong>r assintomático – indivíduos com infecção crônica que não apresentam manifestaçõesclínicas, que têm replicação viral baixa ou ausente e que não apresentam evidênciasde alterações graves à histologia hepática. Em tais situações, a evolução tende a serbenigna, sem maiores conseqüências para a saúde. Contu<strong>do</strong>, estes indivíduos são capazesde transmitir hepatite e têm importância epidemiológica na perpetuação da endemia.Hepatite crônica – indivíduos com infecção crônica que apresentam sinais histológicosde atividade da <strong>do</strong>ença (inflamação, com ou sem deposição de fibrose) e que <strong>do</strong> pontode vista virológico caracterizam-se pela presença de marca<strong>do</strong>res de replicação viral. Podemou não apresentar sintomas na dependência <strong>do</strong> grau de dano hepático (deposição de fibrose)já estabeleci<strong>do</strong>. Apresentam maior propensão para uma evolução desfavorável, comdesenvolvimento de cirrose e suas complicações. Eventualmente, a infecção crônica só édiagnosticada quan<strong>do</strong> a pessoa já apresenta sinais e sintomas de <strong>do</strong>ença hepática avançada(cirrose e/ou hepatocarcinoma).6HHepatite fulminanteEste termo é utiliza<strong>do</strong> para designar a insuficiência hepática no curso de uma hepatiteaguda. É caracterizada por comprometimento agu<strong>do</strong> da função hepatocelular, manifesta<strong>do</strong>por diminuição <strong>do</strong>s fatores da coagulação e presença de encefalopatia hepática no perío<strong>do</strong>de até 8 semanas após o início da icterícia. A mortalidade é elevada (40% e 80% <strong>do</strong>s casos).A etiologia da hepatite fulminante varia conforme as regiões geográficas. Nos paísesmediterrâneos, a maioria <strong>do</strong>s casos (45%) é de origem indeterminada e a hepatite A e Brepresentam 15% e 10% <strong>do</strong>s casos. Em contraste, a hepatite por paracetamol é a principalcausa na Inglaterra. Hepatite aguda C aparentemente não está associada a casos de hepatitefulminante. A co-infecção HBV/HDV pode ser uma causa em regiões endêmicas para os<strong>do</strong>is vírus. Na Índia, uma causa freqüente de hepatite fulminante entre mulheres grávidasé a hepatite por vírus E.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS413


Hepatites ViraisDiagnóstico diferencialO perfil epidemiológico da macrorregião e a sazonalidade orientam a lista de enfermidadesque devem ser consideradas no diagnóstico diferencial. No perío<strong>do</strong> prodrômicoos principais diagnósticos diferenciais são: mononucleose infecciosa (causada pelo vírusEpstein Barr), toxoplasmose, citomegalovírus e outras viroses. Nestas patologias, quan<strong>do</strong>há aumento de aminotransferases, geralmente são abaixo de 500UI. No perío<strong>do</strong> ictérico,temos algumas <strong>do</strong>enças infecciosas como leptospirose, febre amarela, malária e, mais incomum,dengue hemorrágica; para identificação <strong>do</strong> agente etiológico existem testes diagnósticosespecíficos para cada patologia citada. Temos também outras causas de hepatite comohepatite alcoólica, hepatite medicamentosa, hepatite auto-imune, hepatites reacionais outransinfecciosas (acompanham infecções gerais, como sepse), icterícias hemolíticas (comoanemia falciforme) e colestase extra-hepática por obstrução mecânica das vias biliares (tumores,cálculo de vias biliares, adenomegalias ab<strong>do</strong>minais).Diagnóstico laboratorialExames inespecíficosAminotransferases (transaminases – a aspartato aminotransferase (AST/TGO) e aalanino aminotransferase (ALT/TGP) são marca<strong>do</strong>res de agressão hepatocelular. Nas formasagudas, chegam a atingir, habitualmente, valores até 25 a 100 vezes acima <strong>do</strong> normal,embora alguns pacientes apresentem níveis bem mais baixos, principalmente na hepatiteC. Em geral, essas enzimas começam a elevar-se uma semana antes <strong>do</strong> início da icteríciae normalizam-se em cerca de três a seis semanas de curso clínico da <strong>do</strong>ença. Nas formascrônicas, na maioria das vezes não ultrapassam 15 vezes o valor normal e, por vezes, emindivíduos assintomáticos, é o único exame laboratorial sugestivo de <strong>do</strong>ença hepática.Bilirrubinas – elevam-se após o aumento das aminotransferases e, nas formas agudas,podem alcançar valores 20 a 25 vezes acima <strong>do</strong> normal. Apesar de haver aumento tantoda fração não-conjugada (indireta) quanto da conjugada (direta), esta última apresenta-sepre<strong>do</strong>minante. Na urina pode ser detectada precocemente, antes mesmo <strong>do</strong> surgimento daicterícia.Proteínas séricas – normalmente, não se alteram nas formas agudas. Nas hepatitescrônicas e cirrose, a albumina apresenta diminuição acentuada e progressiva.Fosfatase alcalina – pouco se altera nas hepatites por vírus, exceto nas formas colestáticas,quan<strong>do</strong> se apresenta em níveis eleva<strong>do</strong>s. Devi<strong>do</strong> à presença normalmente aumentadada fração osteoblástica dessa enzima durante o perío<strong>do</strong> de crescimento, esse aspecto deveser considera<strong>do</strong> no acompanhamento de crianças e a<strong>do</strong>lescentes.Gama-glutamiltransferase (GGT) – é a enzima mais relacionada aos fenômenos colestáticos,sejam intra e/ou extra-hepáticos. Em geral, há aumento nos níveis da GGT emicterícias obstrutivas, hepatopatias alcoólicas, hepatites tóxico-medicamentosas, tumoreshepáticos. Ocorre elevação discreta nas hepatites virais, exceto nas formas colestáticas.Atividade de protrombina – nas formas agudas benignas esta prova sofre pouca alteração,exceto nos quadros de hepatite fulminante. Nos casos de hepatite crônica, o alarga-414 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Hepatites Viraismento <strong>do</strong> tempo de protrombina indica a deterioração da função hepática e em associaçãocom alguns outros fatores clínicos e laboratoriais (encefalopatia, ascite, aumento de bilirrubina,queda da albumina) compõe a classificação de Child (um importante e prático meiode avaliar o grau de deterioração da função hepática, além de um marca<strong>do</strong>r prognóstico).Alfafetoproteína – não tem valor clínico na avaliação das hepatites agudas. A presençade valores eleva<strong>do</strong>s, ou progressivamente crescentes, em pacientes porta<strong>do</strong>res de hepatitecrônica, em geral indica o desenvolvimento de carcinoma hepatocelular, sen<strong>do</strong> por istoutilizada no screening deste tumor <strong>do</strong> fíga<strong>do</strong> em pacientes cirróticos (Obs: pacientes comhepatite crônica pelo HBV podem desenvolver carcinoma hepatocelular mesmo sem a presençade cirrose hepática).Hemograma – a leucopenia é habitual nas formas agudas, entretanto muitos casoscursam sem alteração no leucograma. A presença de leucocitose sugere intensa necrosehepatocelular ou a associação com outras patologias. Não ocorrem alterações significativasna série vermelha. A plaquetopenia pode ocorrer na infecção crônica pelo HCV.Provas específicasMarca<strong>do</strong>res sorológicos – em caso de hepatite aguda deve-se avaliar a faixa etária <strong>do</strong>paciente, a história pregressa de hepatites virais ou icterícia e a presença de fatores de risco,como o uso de drogas injetáveis, prática sexual não segura, contato com pacientes porta<strong>do</strong>resde hepatite. Estas informações auxiliarão na investigação. Contu<strong>do</strong>, deve-se lembrarque não é possível determinar a etiologia de uma hepatite aguda apenas com base em da<strong>do</strong>sclínicos e epidemiológicos (exceto em surtos de hepatite aguda pelo vírus A, que tenhamvínculo epidemiológico com um caso confirma<strong>do</strong> laboratorialmente). Respeitan<strong>do</strong>-se asressalvas já feitas, recomenda-se em caso de suspeita de hepatite aguda a pesquisa inicial<strong>do</strong>s marca<strong>do</strong>res sorológicos: anti-HAV IgM, HBsAg , anti-HBc (total) e anti-HCV* (casohaja justificativa com base na história clínica). A necessidade da pesquisa de marca<strong>do</strong>resadicionais poderia ser orientada pelos resulta<strong>do</strong>s iniciais. Faz parte das boas práticas<strong>do</strong> laboratório manter acondiciona<strong>do</strong>s os espécimes já examina<strong>do</strong>s por, pelo menos, duassemanas após a emissão <strong>do</strong> lau<strong>do</strong>, tempo necessário para elucidar eventuais dúvidas oucomplementar algum exame referente à amostra.6HHepatite AAnti-HAV IgM – a presença deste marca<strong>do</strong>r é compatível com infecção recente peloHAV, confirman<strong>do</strong> o diagnóstico de hepatite aguda A. Este marca<strong>do</strong>r surge precocementena fase aguda da <strong>do</strong>ença, começa a declinar após a segunda semana e desaparece após 3meses.Anti-HAV IgG – os anticorpos desta classe não permitem identificar se a infecção éaguda ou trata-se de infecção pregressa. Este marca<strong>do</strong>r está presente na fase de convalescençae persiste indefinidamente. É um importante marca<strong>do</strong>r epidemiológico por demonstrara circulação <strong>do</strong> vírus em determinada população.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS415


Hepatites ViraisQuadro 2. Interpretação <strong>do</strong>s marca<strong>do</strong>res sorológicos da hepatite AAnti-HAV total Anti-HAV IgM Interpretação( + ) ( + ) Infecção recente/hepatite aguda pelo HAV( + ) ( - ) Infecção passada ou imuniza<strong>do</strong> (ver história vacinal)( - ) ( - ) Ausência de contato com o vírus, indivíduo não-imune (susceptível)Hepatite BSão marca<strong>do</strong>res de triagem para a hepatite B: HBsAg e anti-HBc.HBsAg (antígeno de superfície <strong>do</strong> HBV) – primeiramente denomina<strong>do</strong> como antígenoAustrália. É o primeiro marca<strong>do</strong>r a surgir após a infecção pelo HBV, em torno de30 a 45 dias, poden<strong>do</strong> permanecer detectável por até 120 dias. Está presente nas infecçõesagudas e crônicas.Anti-HBc (anticorpos IgG contra o antígeno <strong>do</strong> núcleo <strong>do</strong> HBV) – é um marca<strong>do</strong>rque indica contato prévio com o vírus. Permanece detectável por toda a vida nos indivíduosque tiveram a infecção (mesmo naqueles que não cronificaram, ou seja, eliminaram o vírus).Representa importante marca<strong>do</strong>r para estu<strong>do</strong>s epidemiológicos.Quadro 3. Interpretação e conduta <strong>do</strong> screening sorológico para hepatite BHBsAg Anti-HBc Interpretação/conduta( + ) ( - ) Início de fase aguda ou falso positivo/Repetir sorologia após 15 dias( + ) ( + ) Hepatite aguda ou crônica/Solicitar anti-HBc IgM( - ) ( + ) Janela imunológica ou falso-positivo ou cura/ Solicitar anti-HBs( - ) ( - ) Não infecta<strong>do</strong>Anti-HBc IgM (anticorpos da classe IgM contra o antígeno <strong>do</strong> núcleo <strong>do</strong> HBV) – éum marca<strong>do</strong>r de infecção recente, portanto confirma o diagnóstico de hepatite B aguda.Pode persistir por até 6 meses após o início da infecção.Anti-HBs (anticorpos contra o antígeno de superfície <strong>do</strong> HBV) – indica imunidadecontra o HBV. É detecta<strong>do</strong> geralmente entre 1 a 10 semanas após o desaparecimento <strong>do</strong>HBsAg e indica bom prognóstico. É encontra<strong>do</strong> isoladamente em pacientes vacina<strong>do</strong>s.HBeAg (antígeno “e” <strong>do</strong> HBV) – é indicativo de replicação viral e, portanto, de altainfectividade. Está presente na fase aguda, surge após o aparecimento <strong>do</strong> HBsAg e podepermanecer por até 10 semanas. Na hepatite crônica pelo HBV, a presença <strong>do</strong> HBeAg indicareplicação viral e atividade da <strong>do</strong>ença (maior probabilidade de evolução para cirrose).Anti-HBe (anticorpo contra o antígeno “e” <strong>do</strong> HBV) – marca<strong>do</strong>r de bom prognósticona hepatite aguda pelo HBV. A soroconversão HBeAg para anti-HBe indica alta pro-*A solicitação <strong>do</strong> anti-HCV segue o racional de que caso se trate de uma hepatite aguda pelo HCV o primeiro testesorológico será negativo (janela imunológica) e o segun<strong>do</strong>, realiza<strong>do</strong> 3 a 6 meses após, será positivo, o que caracterizaum quadro agu<strong>do</strong> com soroconversão.416 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Hepatites Viraisbabilidade de resolução da infecção nos casos agu<strong>do</strong>s (ou seja, provavelmente o indivíduonão vai se tornar um porta<strong>do</strong>r crônico <strong>do</strong> vírus). Na hepatite crônica pelo HBV a presença<strong>do</strong> anti-HBe, de mo<strong>do</strong> geral, indica ausência de replicação <strong>do</strong> vírus, ou seja, menor atividadeda <strong>do</strong>ença e, com isso, menor chance de desenvolvimento de cirrose.Quadro 4. Resumo das definições de caso de hepatite viral por vírus B, a partir<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s sorológicosCondição de caso HBsAg Anti-HBc Anti-HBc IgM HBeAg Anti-HBe Anti-HBsSusceptível (-) (-) (-) (-) (-) (-)Incubação (+/-) (-) (-) (-) (-) (-)Hepatite B aguda (+) (+) (+) (+/-) (+/-) (-)Final da fase aguda/janela imunológica(-) (+) (-) (-) (+)Hepatite B fase crônica (+) (+) (-) (+/-) (+/-) (-)(-)6Hepatite B curada (-) (+) (-) (-) (+) (+)*Imuniza<strong>do</strong> por vacinação (-) (-) (-) (-) (-) (+)Legenda: (+) positivo (-) negativo*Em alguns casos de hepatite B curada, o anti-HBs não é detecta<strong>do</strong> por estar em baixos títulos.Nos casos de hepatite B (forma aguda, crônica ou fulminante) procedente de áreasconhecidas com circulação <strong>do</strong> HDV (região amazônica), será necessário investigarhepatite D (delta).HHepatite CAnti-HCV (anticorpos contra o vírus HCV) – é o marca<strong>do</strong>r de triagem para a hepatiteC. Indica contato prévio com o vírus, mas não define se a infecção é aguda, crônica ouse já foi curada.O diagnóstico de infecção aguda só pode ser feito com a viragem sorológica <strong>do</strong>cumentada,isto é, paciente inicialmente anti-HCV negativo que converte, tornan<strong>do</strong>-se anti-HCVpositivo e HCV-RNA positivo, detecta<strong>do</strong> por técnica de biologia molecular. A infecçãocrônica deve ser confirmada pela pesquisa de HCV-RNA.HCV-RNA (RNA <strong>do</strong> HCV) – é o primeiro marca<strong>do</strong>r a aparecer entre uma a duas semanasapós a infecção. É utiliza<strong>do</strong> para confirmar a infecção em casos crônicos, monitorara resposta ao tratamento e confirmar resulta<strong>do</strong>s sorológicos indetermina<strong>do</strong>s, em especialem pacientes imunossuprimi<strong>do</strong>s.Hepatite DO marca<strong>do</strong>r sorológico mais usa<strong>do</strong> é o anti-HDV (total).O vírus Delta é um vírus defectivo (incompleto) que não consegue, por si só, repro-Secretaria de Vigilância em Saúde / MS417


Hepatites Viraisduzir seu próprio antígeno de superfície, o qual seria indispensável para exercer sua açãopatogênica e se replicar nas células hepáticas. Desta forma, necessita da presença <strong>do</strong> vírusB, haven<strong>do</strong> duas possibilidades para a ocorrência da infecção pelo HDV:• Superinfecção – infecção pelo vírus delta em um porta<strong>do</strong>r crônico <strong>do</strong> HBV;• Co-infecção – infecção simultânea pelo HBV e Delta em indivíduo susceptível.Quadro 5. Interpretação sorológica da hepatite DFormas HBsAg AntiHBc Anti-HBcIgM AntiHDV total AntiHBsCo-infecção (+) (+) (+) (+)* (-)Superinfecção (+) (+) (-) (+)* (-)Cura (-) (+) (-) (+)** (+)*O antiHDIgM e IgG em altos títulos **O antiHD-IgG positivo em baixos títulosHepatite EA hepatite aguda E é sorologicamente caracterizada por eventual conversão sorológicapara anti-HEV ou detecção de anti-HEV IgM.Quadro 6. Interpretação sorológica da hepatite EAnti-HEV total Anti-HEV IgM Interpretação(+) / (-) (+) Infecção recente pelo HEV(+) (-) Exposição prévia pelo HEV(-) (-) Nunca teve contato com HEV (susceptível)Observação: na hepatopatia crônica, deve ser considerada a possibilidade de associação das infecçõespelo HBV e HCV, inclusive por apresentarem vias de infecção semelhantes.Detecção de porta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> HBV e HCV em <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res de sangue e hemodialisa<strong>do</strong>s –os marca<strong>do</strong>res realiza<strong>do</strong>s em banco de sangue devem ser repeti<strong>do</strong>s pois, apesar de utilizaro mesmo méto<strong>do</strong> <strong>do</strong>s exames para o diagnóstico clínico, o cut off emprega<strong>do</strong> é mais baixo,com o objetivo de aumentar a sensibilidade, o que proporciona a possibilidade de testesfalso-positivos. Esta estratégia visa garantir a segurança <strong>do</strong> receptor, pois objetiva evitarque bolsas de sangue provenientes de <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res positivos para os vírus B e/ou C, mas quetenham baixos títulos de seus marca<strong>do</strong>res sorológicos, sejam utilizadas. Contu<strong>do</strong>, propiciao aparecimento de um número maior de resulta<strong>do</strong>s falso-positivos. Torna-se necessário,por outro la<strong>do</strong>, que os indivíduos com resulta<strong>do</strong>s inicialmente positivos tenham investigaçãoclínica e sorológica para definição de seu verdadeiro esta<strong>do</strong> (positivo ou negativo).Indicação de provas diagnósticas para indivíduos sem sintomatologia – além dascircunstâncias citadas, diversas outras levam à necessidade de solicitar sorologia para marca<strong>do</strong>resde infecção pelos vírus das hepatites, dentre as quais destacam-se: monitoramentode pacientes hemofílicos e demais usuários crônicos de hemoderiva<strong>do</strong>s; exames de profis-418 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Hepatites Viraissionais vítimas de acidente com material biológico; exames pré-natais (hepatite B); examede população exposta e de contatos de casos e exames de <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res e receptores de órgãos.TratamentoHepatite agudaNão existe tratamento específico para as formas agudas. Se necessário, apenas tratamentosintomático para náuseas, vômitos e pruri<strong>do</strong>. Como norma geral, recomenda-serepouso relativo até a normalização das aminotransferases. Dieta pobre em gordura e ricaem carboidratos é de uso popular, porém seu maior benefício é ser mais agradável ao paladarao paciente anorético. De forma prática, deve ser recomenda<strong>do</strong> que o próprio pacientedefina sua dieta de acor<strong>do</strong> com seu apetite e aceitação alimentar. A única restrição estárelacionada à ingestão de álcool, que deve ser suspensa por no mínimo seis meses. Medicamentosnão devem ser administra<strong>do</strong>s sem a recomendação médica para que não agravem odano hepático. As drogas consideradas “hepatoprotetoras”, associadas ou não a complexosvitamínicos, não têm nenhum valor terapêutico.6Hepatite crônicaÉ necessária a realização de biópsia hepática para avaliar a indicação de tratamento específico.A biópsia por agulha é a preferida, pois permite a retirada de fragmentos de áreasdistantes da cápsula de Glisson (as áreas subcapsulares mostram muitas alterações inespecíficas).Além disso, a biópsia transcutânea é mais segura, dispensa anestesia geral e reduzo custo <strong>do</strong> procedimento. O procedimento deve ser realiza<strong>do</strong> com agulhas descartáveisapropriadas. O exame anátomo-patológico avalia o grau de atividade necro-inflamatória ede fibrose <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> hepático.As formas crônicas da hepatite B e C têm diretrizes clínico-terapêuticas definidaspor meio de portarias <strong>do</strong> Ministério da Saúde. Devi<strong>do</strong> à alta complexidade <strong>do</strong> tratamento,acompanhamento e manejo <strong>do</strong>s efeitos colaterais, deve ser realiza<strong>do</strong> em serviços especializa<strong>do</strong>s(média ou alta complexidade <strong>do</strong> SUS).O tratamento da hepatite B crônica está indica<strong>do</strong> nas seguintes situações:• HBsAg (+) por mais de seis meses;• HBeAg (+) ou HBV-DNA > 30 mil cópias/ml (fase de replicação);• ALT/TGP > duas vezes o limite superior da normalidade;• biópsia hepática com atividade inflamatória moderada a intensa (> A2) e/ou fibrosemoderada a intensa (> F1), segun<strong>do</strong> critério da Sociedade Brasileira dePatologia/Metavir.• ausência de contra-indicação ao tratamento.HO tratamento da hepatite C crônica está indica<strong>do</strong> nas seguintes situações:• anti-HCV (+) e HCV-RNA (+);• ALT/ TGP > 1,5 vez o limite superior da normalidade;Secretaria de Vigilância em Saúde / MS419


Hepatites Virais• biópsia hepática com atividade inflamatória moderada a intensa (> A2) e/ou fibrosemoderada a intensa (> F1), segun<strong>do</strong> critério da Sociedade Brasileira de Patologia/Metavir;• ausência de contra-indicação ao tratamento.Após a indicação <strong>do</strong> tratamento, deverá ser feito exame de genotipagem para definir otipo de tratamento (interferon convencional ou peguila<strong>do</strong>) e duração (6 ou 12 meses).Quadro 7. Tratamento das hepatites B e CSituação Droga Dose Via DuraçãoHepatite BcrônicaIFNouLMV5 MUI/dia ou 10MUI 3x/semana ou 100mg/diaSCVO4 meses12 mesesHepatite Ccrônica*(genótipo 1)INF peguila<strong>do</strong>+RBVInterferon peguila<strong>do</strong> α2a 180 μg/sem ouInterferon peguila<strong>do</strong> α2b 1,5μg/kg/sem+11-15mg/kg/dia (1 mil-1.200mg, em duas tomadas)SCVO12 meses12 mesesHepatite C crônica(genótipo 2 ou 3)IFN +RBVInterferon α2a ou α2b 3 MUI 3x/semana +11-15mg/kg/dia (800-1200mg em duas tomadas)SCVO6 meses6 mesesIFN: interferon; LMV-lamivudina; RBV: ribavirina; MUI: milhões de unidades internacionais.*Interferon pequila<strong>do</strong> indica<strong>do</strong> para pacientes com hepatite C – genótipo 1, virgens de tratamento e com fibrose≥ 2.O tratamento da hepatite delta é complexo, com resulta<strong>do</strong>s insatisfatórios na maioriadas vezes, e deve ser realiza<strong>do</strong> por serviços de referência (alta complexidade <strong>do</strong> SUS).PrognósticoHepatite A – geralmente após 3 meses o paciente já está recupera<strong>do</strong>. Apesar de nãohaver forma crônica da <strong>do</strong>ença, há a possibilidade de formas prolongadas e recorrentes,com manutenção das aminotransferases em níveis eleva<strong>do</strong>s por vários meses. A forma fulminante,apesar de rara (menos que 1% <strong>do</strong>s casos), apresenta prognóstico ruim. O quadroclínico é mais intenso à medida que aumenta a idade <strong>do</strong> paciente.Hepatite B – a hepatite aguda B normalmente tem bom prognóstico: o indivíduo resolvea infecção e fica livre <strong>do</strong>s vírus em cerca de 90% a 95% <strong>do</strong>s casos. As exceções ocorremnos casos de hepatite fulminante ( 30 mil cópias/ml). A presença destes marca<strong>do</strong>res determina maiordeposição de fibrose no fíga<strong>do</strong>, o que pode resultar na formação de cirrose hepática.Hepatite C – a cronificação ocorre em 60% a 90% <strong>do</strong>s casos, <strong>do</strong>s quais, em média,um quarto a um terço evolui para formas histológicas graves num perío<strong>do</strong> de 20 anos.420 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Hepatites ViraisEste quadro crônico pode ter evolução para cirrose e hepatocarcinoma, fazen<strong>do</strong> com que oHCV seja, hoje em dia, responsável pela maioria <strong>do</strong>s transplantes hepáticos no ocidente. Ouso concomitante de bebida alcoólica, em pacientes porta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> HCV, determina maiorpropensão para desenvolver cirrose hepática.Hepatite D – na superinfecção o índice de cronicidade é significativamente maior(80%) se compara<strong>do</strong> ao que ocorre na co-infecção (3%). Na co-infecção pode haver umataxa maior de casos de hepatite fulminante. Já a superinfecção determina, muitas vezes,uma evolução mais rápida para cirrose.Hepatite E – não há relato de evolução para a cronicidade ou viremia persistente. Emgestantes, porém, a hepatite é mais grave e pode apresentar formas fulminantes. A taxa demortalidade em gestantes pode chegar a 25%, especialmente no terceiro trimestre, poden<strong>do</strong>ocorrer em qualquer perío<strong>do</strong> da gestação. Também há referências de abortos e mortesintra-uterinas.6Aspectos epidemiológicosAs hepatites virais são um importante problema de saúde pública, apresentan<strong>do</strong> distribuiçãouniversal e magnitude que varia de região para região.A hepatite A apresenta alta prevalência nos países com precárias condições sanitáriase socioeconômicas. Para o Brasil, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) estimaque ocorram 130 casos novos/ano por 100 mil habitantes e que mais de 90% da populaçãomaior de 20 anos tenha ti<strong>do</strong> exposição ao vírus. Entretanto, em regiões que apresentammelhores condições de saneamento, estu<strong>do</strong>s têm demonstra<strong>do</strong> um acúmulo de susceptíveisem adultos jovens acima desta idade.Em relação ao HBV, alguns estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong> final da década de 80 e início de 90 sugeriramuma tendência crescente <strong>do</strong> HBV em direção às regiões Sul/Norte, descreven<strong>do</strong> trêspadrões de distribuição da hepatite B: alta endemicidade presente na região amazônica,alguns locais <strong>do</strong> Espírito Santo e oeste de Santa Catarina; endemicidade intermediária, nasregiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste e baixa endemicidade, na região Sul <strong>do</strong> país.No entanto, este padrão vem se modifican<strong>do</strong> com a política de vacinação contra oHBV iniciada sob a forma de campanha em 1989, no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Amazonas, e de rotina apartir de 1991, em uma seqüência de inclusão crescente de esta<strong>do</strong>s e faixas etárias maioresem função da endemicidade local. Assim, trabalhos mais recentes mostram que na região deLábrea, esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Amazonas, a taxa de porta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> HBV passou de 15,3%, em 1988, para3,7%, em 1998. Na região de Ipixuna, no mesmo esta<strong>do</strong>, esta queda foi de 18 para 7%. Noesta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Acre, estu<strong>do</strong> de base populacional em 12 de seus 24 municípios apresentou taxade HBsAg de 3,4%. Outros trabalhos também classificam a região Norte como de baixa oumoderada endemicidade, permanecen<strong>do</strong> com alta endemicidade a região sudeste <strong>do</strong> Pará.Na região Sul, a região oeste de Santa Catarina apresenta prevalência moderada e ooeste <strong>do</strong> Paraná, alta endemicidade.A região Sudeste como um to<strong>do</strong> apresenta baixa endemicidade, com exceção <strong>do</strong> sul <strong>do</strong>HSecretaria de Vigilância em Saúde / MS421


Hepatites ViraisEspírito Santo e <strong>do</strong> nordeste de Minas Gerais, onde ainda são encontradas altas prevalências.A região Centro-Oeste é de baixa endemicidade, com exceção <strong>do</strong> norte <strong>do</strong> Mato-Grosso, comprevalência moderada. O Nordeste como um to<strong>do</strong> está em situação de baixa endemicidade.Quanto à hepatite C, ainda não existem estu<strong>do</strong>s capazes de estabelecer sua real prevalênciano país. Com base em da<strong>do</strong>s da rede de hemocentros de pré-<strong>do</strong>a<strong>do</strong>res de sangue, em2002, a distribuição variou entre as regiões brasileiras: 0,62% no Norte; 0,55% no Nordeste;0,28% no Centro-Oeste; 0,43% no Sudeste e 0,46% no Sul. Um <strong>do</strong>s poucos estu<strong>do</strong>s de basepopulacional realiza<strong>do</strong> na região Sudeste revelou 1,42% de porta<strong>do</strong>res de anti-HCV nacidade de São Paulo.A hepatite delta concentra-se na Amazônia Ocidental, que apresenta uma das maioresincidências deste agente no mun<strong>do</strong>. No Acre, a prevalência de antidelta foi de 1,3% (Viana,2003). Nas regiões Sudeste, Nordeste e na Amazônia Oriental a infecção está ausente.Em relação ao HEV, apesar de o país apresentar condições sanitárias deficientes emmuitas regiões, ainda não foi descrita nenhuma epidemia pelo HEV. Alguns casos isola<strong>do</strong>stêm si<strong>do</strong> notifica<strong>do</strong>s, demonstran<strong>do</strong> que há circulação deste vírus.Vigilância epidemiológicaObjetivosObjetivo geralControlar as hepatites virais no Brasil.Objetivos específicos• Conhecer o comportamento epidemiológico das hepatites virais quanto ao agenteetiológico, pessoa, tempo e lugar.• Identificar os principais fatores de risco para as hepatites virais.• Ampliar estratégias de imunização contra as hepatites virais.• Detectar, prevenir e controlar os surtos de hepatites virais oportunamente.• Reduzir a prevalência de infecção das hepatites virais.• Avaliar o impacto das medidas de controle.Definição de casoSuspeitoSuspeita clínica/bioquímica• Sintomático ictérico❯ Indivíduo que desenvolveu icterícia subitamente (recente ou não), com ou sem sintomascomo febre, mal-estar, náuseas, vômitos, mialgia, colúria e hipocolia fecal.❯ Indivíduo que desenvolveu icterícia subitamente e evoluiu para óbito, sem outrodiagnóstico etiológico confirma<strong>do</strong>.422 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Hepatites Virais• Sintomático anictérico❯ Indivíduo sem icterícia, que apresente um ou mais sintomas como febre, malestar,náuseas, vômitos, mialgia e na investigação laboratorial apresente valoraumenta<strong>do</strong> das aminotransferases.• Assintomático❯ Indivíduo exposto a uma fonte de infecção bem <strong>do</strong>cumentada (na hemodiálise,em acidente ocupacional com exposição percutânea ou de mucosas, por transfusãode sangue ou hemoderiva<strong>do</strong>s, procedimentos cirúrgicos/o<strong>do</strong>ntológicos/colocaçãode “piercing”/tatuagem com material contamina<strong>do</strong>, por uso de drogasen<strong>do</strong>venosas com compartilhamento de seringa ou agulha).❯ Comunicante de caso confirma<strong>do</strong> de hepatite, independente da forma clínica eevolutiva <strong>do</strong> caso índice.❯ Indivíduo com alteração de aminotransferases no soro igual ou superior a trêsvezes o valor máximo normal destas enzimas, segun<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>.6Suspeito com marca<strong>do</strong>r sorológico reagente• Doa<strong>do</strong>r de sangue❯ Indivíduo assintomático <strong>do</strong>a<strong>do</strong>r de sangue, com um ou mais marca<strong>do</strong>res reagentespara hepatite. A,B, C, D ou E.• Indivíduo assintomático com marca<strong>do</strong>r reagente para hepatite viral A, B, C, D ou E.Caso confirma<strong>do</strong>Hepatite A• Indivíduo que preenche as condições de caso suspeito, no qual detecta-se o anticorpoda classe IgM contra o vírus A (anti HAV–IgM) no soro.• Indivíduo que preenche as condições de caso suspeito e apresente vínculo epidemiológicocom caso confirma<strong>do</strong> de hepatite A.HHepatite BIndivíduo que preenche as condições de suspeito e que apresente os marca<strong>do</strong>res sorológicosreagentes a seguir lista<strong>do</strong>s e/ou exame de biologia molecular positivos para hepatite B:• HBsAg reagente;• HBeAg reagente;• Anti-HBc IgM reagente;• DNA <strong>do</strong> HBV positivo;• DNA polimerase <strong>do</strong> HBV positiva;• Óbito em que se detecte antígenos ou DNA <strong>do</strong> vírus B em teci<strong>do</strong>.Hepatite C• Indivíduo que preenche as condições de suspeito, no qual detecta-se anti-HCV reagentee PCR positivo para o HCV.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS423


Hepatites Virais• Óbito em que se detecte antígeno ou RNA <strong>do</strong> vírus C em teci<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> não forpossível a coleta de soro.Hepatite D• Detecção de anticorpos contra o vírus D em indivíduo porta<strong>do</strong>r crônico <strong>do</strong> vírus dahepatite B.Hepatite E• Detecção de anticorpos da classe IgM (anti-HEV IgM) contra o vírus da hepatite E,em pacientes não-reagentes a marca<strong>do</strong>res de hepatites A e B agudas.Descarta<strong>do</strong>• Caso suspeito com diagnóstico laboratorial negativo (desde que amostras sejam coletadase transportadas oportuna e adequadamente);• Caso suspeito com diagnóstico confirma<strong>do</strong> de outra <strong>do</strong>ença;• Caso notifica<strong>do</strong> como hepatite viral que não cumpre os critérios de caso suspeito;• Indivíduos com marca<strong>do</strong>res sorológicos de infecção passada, porém cura<strong>do</strong>s nomomento da investigação:hepatite A – anti-HAV IgG reagente isoladamentehepatite B – anti-HBc (total) reagente + Anti-HBs reagenteshepatite C – anti-HCV reagente + RNA-HCV não detectávelEmbora indivíduos com marca<strong>do</strong>r sorológico indican<strong>do</strong> cura no momento da investigaçãosejam descarta<strong>do</strong>s no sistema de notificação, os comunicantes <strong>do</strong>s mesmosdevem ser investiga<strong>do</strong>s pois podem ter si<strong>do</strong> contamina<strong>do</strong>s durante o curso da <strong>do</strong>ençano passa<strong>do</strong>.Casos inconclusosSão aqueles que atendem aos critérios de suspeito, <strong>do</strong>s quais não foram coletadas e/outransportadas amostras oportunas ou adequadas ou não foi possível a realização <strong>do</strong>s testespara os marca<strong>do</strong>res sorológicos específicos.NotificaçãoÉ <strong>do</strong>ença incluída na lista de notificação compulsória e, portanto, to<strong>do</strong>s os casos suspeitosde hepatites virais devem ser notifica<strong>do</strong>s na ficha <strong>do</strong> Sinan e encaminha<strong>do</strong>s ao nívelhierarquicamente superior ou ao órgão responsável pela vigilância epidemiológica municipal,regional, estadual ou federal.As principais fontes notifica<strong>do</strong>ras são a comunidade, serviços de assistência médica,hemocentros e bancos de sangue, clínicas de hemodiálise, laboratórios, escolas, creches eoutras instituições. Além disso, casos podem ser captura<strong>do</strong>s no SIM, SIA/SIH e nos sistemasde informação das vigilâncias sanitária e ambiental.424 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Hepatites ViraisPrimeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteO atendimento pode ser feito em nível ambulatorial, sen<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>s para internação,de preferência em unidade de referência, apenas casos graves ou com hepatite crônica descompensada.Qualidade da assistênciaVerificar se os pacientes estão sen<strong>do</strong> orienta<strong>do</strong>s convenientemente, de acor<strong>do</strong> com avia de transmissão e gravidade da <strong>do</strong>ença.Proteção individual e coletivaEm situações de surtos de hepatite A ou E, que são de transmissão fecal-oral, logo noprimeiro caso dar alerta para os familiares e a comunidade, visan<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>s com a águade consumo, manipulação de alimentos e vetores mecânicos.Em situações em que se verifique, desde o início, aglomera<strong>do</strong> de casos de pacientesatendi<strong>do</strong>s em unidade de hemodiálise ou outra circunstância parecida, contatar a vigilânciasanitária para inspecionar os locais suspeitos.6Confirmação diagnósticaVerificar se o médico assistente solicitou exames específicos e inespecíficos (aminotransferases);caso necessário, orientar de acor<strong>do</strong> o Anexo 1, adiante apresenta<strong>do</strong>.InvestigaçãoImediatamente após a notificação de casos de hepatites virais deve-se iniciar a investigaçãoepidemiológica para permitir que as medidas de controle possam ser a<strong>do</strong>tadas emtempo oportuno. O instrumento de coleta de da<strong>do</strong>s, a ficha epidemiológica <strong>do</strong> Sinan, contémos elementos essenciais a serem coleta<strong>do</strong>s em uma investigação de rotina. To<strong>do</strong>s seuscampos devem ser criteriosamente preenchi<strong>do</strong>s, mesmo quan<strong>do</strong> a informação for negativa.Outros itens podem ser incluí<strong>do</strong>s no campo “observações”, conforme as necessidades epeculiaridades de cada situação.HRoteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação epidemiológica relativos aos da<strong>do</strong>sgerais, notificação individual e da<strong>do</strong>s de residência.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosAntecedentes epidemiológicos – caso importa<strong>do</strong>• Na investigação da hepatite D deve-se registrar no campo de observações da ficha deinvestigação se o paciente já esteve, principalmente, na região amazônica.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS425


Hepatites Virais• Na investigação da hepatite E deve-se investigar se o paciente esteve no exterior noperío<strong>do</strong> de <strong>do</strong>is meses antecedentes ao início <strong>do</strong>s sintomas.❯ Para confirmar a suspeita diagnóstica – acompanhar os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exameslaboratoriais, visan<strong>do</strong> fortalecer ou descartar a suspeita diagnóstica.❯ Para identificação e definição da extensão da área de transmissão das hepatitesde transmissão oral-fecal – iniciar buscan<strong>do</strong> história de contatos, comunicantes eoutros casos suspeitos e/ou confirma<strong>do</strong>s de hepatite, levantan<strong>do</strong> hipóteses sobrecomo ocorreu a transmissão.❯ Surtos de hepatites de transmissão pessoa a pessoa ou fecal-oral – investigar seos pacientes se expuseram a possíveis fontes de contaminação, particularmentede água de uso comum, refeições coletivas, uso de água de fonte não habitualpor grupo de indivíduos, etc. Fazer busca ativa de casos na comunidade e/ou nogrupo de participantes <strong>do</strong> evento coletivo, quan<strong>do</strong> for o caso.Verificar deslocamentos visan<strong>do</strong> estabelecer qual o provável local de aquisição da infecção.Alertar aos demais contatos e/ou seus responsáveis sobre a possibilidade de aparecimentode novos casos nas próximas semanas, recomendan<strong>do</strong>-se o pronto acompanhamentoclínico destes e a imediata (quan<strong>do</strong> possível) tomada de decisões referentes às medidasde prevenção e controle.• Para investigação de casos de hepatite de transmissão parenteral/sexual – investigaruso de sangue, hemocomponentes e hemoderiva<strong>do</strong>s principalmente se ocorreuantes de 1993; uso de drogas injetáveis, hábito de compartilhar seringas, etc. Nassituações em que se suspeite de contaminação coletiva, em unidades de hemodiálise,serviços o<strong>do</strong>ntológicos, ambientes ambulatoriais e hospitalares que não estão a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong>medidas de biossegurança, ou fornece<strong>do</strong>res de sangue ou hemocomponentes,avaliar a aplicação de medidas imediatas junto aos órgãos de vigilância sanitária.• Coleta e remessa de material para exame – verificar e/ou orientar os procedimentosde coleta e transporte de amostras para realização <strong>do</strong>s testes laboratoriais específicos,de acor<strong>do</strong> com as normas <strong>do</strong> Anexo 1.Análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sA avaliação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s é necessária para compreender a situação epidemiológica eorientar as medidas de controle e deve ser realizada sistematicamente pela equipe de vigilânciaepidemiológica. Consiste em descrever os casos segun<strong>do</strong> as características de pessoa(sexo, idade, etc.), lugar (local de residência, local de exposição, etc.) e tempo (data <strong>do</strong>início <strong>do</strong>s sintomas, data da exposição, etc.).Encerramento de casosAs fichas epidemiológicas de cada caso devem ser analisadas visan<strong>do</strong> definir qual ocritério utiliza<strong>do</strong> para o diagnóstico (clínico-laboratorial, clínico-epidemiológico, labora-426 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Hepatites Viraistorial), forma clínica, classificação etiológica e provável fonte ou mecanismo de infecção.Quan<strong>do</strong> a exposição estiver relacionada a procedimentos de saúde, tais como transfusão desangue, tratamento dentário, cirúrgico, etc., agregar as informações avaliadas pela vigilânciasanitária.Instrumentos disponíveis para o controleEm relação à fonte de infecçãoÁgua para consumo humano – a disponibilidade de água potável, em quantidadesuficiente nos <strong>do</strong>micílios, é a medida mais eficaz para o controle das <strong>do</strong>enças de veiculaçãohídrica, como as hepatites por vírus tipo A e E. Nos lugares onde não existe sistema públicode abastecimento de água potável, deve-se procurar, inicialmente, soluções alternativas juntoà comunidade para o uso e acondicionamento da água em depósitos limpos e tampa<strong>do</strong>s.Deve-se orientar a população quanto à utilização de produtos à base de cloro, fervura daágua e higiene <strong>do</strong>miciliar, tais como a limpeza e desinfecção da caixa d´água, em intervalosde 6 meses ou de acor<strong>do</strong> com a necessidade. Outra importante medida preventiva, dependeda existência de um sistema destina<strong>do</strong> ao escoamento e depósito de dejetos de origemhumana, que pode ser por meio de fossas sépticas adequadamente construídas e localizadas,ou de enterramento, conforme as instruções contidas no Manual de Saneamento daFundação Nacional de Saúde. É fundamental que se faça, concomitantemente, um trabalhoeducativo na comunidade, no senti<strong>do</strong> de valorizar o saneamento e o consumo de água deboa qualidade, para a prevenção de <strong>do</strong>enças de veiculação hídrica.Alimentos – o cuida<strong>do</strong> no preparo <strong>do</strong>s alimentos com boas práticas de higiene é essencial,a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong>-se medidas como lavagem rigorosa das mãos antes <strong>do</strong> preparo de alimentose antes de comer, além da desinfecção de objetos, bancada e chão. Para a ingestão dealimentos crus, como hortaliças e frutas, deve-se fazer a sanitização prévia. Pode-se utilizara imersão em solução de hipoclorito de sódio a 0,02% (200ppm) por 15 minutos. Alimentoscomo frutos <strong>do</strong> mar, carne, aves e peixes devem ser submeti<strong>do</strong>s ao cozimento adequa<strong>do</strong>.Profissionais da área da saúde – ao manipular pacientes infecta<strong>do</strong>s, durante exameclínico, procedimentos invasivos, exames diversos de líqui<strong>do</strong>s e secreções corporais, obedeceràs normas universais de biossegurança: lavar as mãos após exame de cada paciente;estar vacina<strong>do</strong> contra o vírus da hepatite B; usar luvas de látex, óculos de proteção e aventaldescartável durante procedimentos em que haja contato com secreções e líqui<strong>do</strong>s corporaisde pacientes infecta<strong>do</strong>s; no caso de cirurgiões (médicos e o<strong>do</strong>ntólogos), não realizar procedimentoscirúrgicos quan<strong>do</strong> tiverem solução de continuidade nas mãos, desinfectar/esterilizar,após uso em pacientes, to<strong>do</strong> instrumental e máquinas utilizadas.Manicures/pedicures e podólogos – devem utilizar alicates esteriliza<strong>do</strong>s (o ideal éque cada cliente tenha seu próprio material). Outros instrumentos, como palitos, devemser descartáveis.Porta<strong>do</strong>res – em hepatites com transmissão parenteral, sexual, vertical e percutânea(B C e D), os pacientes devem ser orienta<strong>do</strong>s em relação ao não compartilhamento de ob-6HSecretaria de Vigilância em Saúde / MS427


Hepatites Viraisjetos de uso pessoal como lâmina de barbear, escova de dente, alicates de unha. Deve-seutilizar “camisinha” nas relações sexuais e não compartilhar utensílios e materiais para colocaçãode piercing e tatuagem. Pessoas com passa<strong>do</strong> de hepatite viral não são candidatospara <strong>do</strong>ação de sangue.Comunicantes – em hepatites com transmissão fecal-oral (A e E) pode ser necessárioo isolamento/afastamento <strong>do</strong> paciente de suas atividades normais (principalmente se foremcrianças que freqüentam creches, pré-escolas ou escola) durante as primeiras duas semanasda <strong>do</strong>ença, e não mais que um mês após início da icterícia. Esta situação deve ser reavaliadae prolongada em surtos em instituições que abriguem crianças sem o controle esfincteriano(uso de fraldas), onde a exposição entérica é maior. Nestes casos de hepatite também sefaz necessária a disposição adequada de fezes, urina e sangue, com os devi<strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s dedesinfecção e máxima higiene.Os parceiros sexuais e comunicantes <strong>do</strong>miciliares susceptíveis devem ser investiga<strong>do</strong>s,através de marca<strong>do</strong>res sorológicos para o vírus da hepatite B, C ou D de acor<strong>do</strong> com ocaso índice, e vacina<strong>do</strong>s contra a hepatite B, se indica<strong>do</strong>. Iniciar imediatamente o esquemade vacinação contra a hepatite B nos não vacina<strong>do</strong>s ou completar esquema <strong>do</strong>s que nãocompletaram (não aguardar o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s marca<strong>do</strong>res sorológicos). Indica-se utilizarpreservativo de látex (camisinha) nas relações sexuais.Usuário de drogas injetáveis e inaláveis – pelo risco de transmissão de hepatites eoutras <strong>do</strong>enças, é recomendável não compartilhar agulhas, seringas, canu<strong>do</strong>s e cachimbospara uso de drogas, além de realizar vacinação contra a hepatite B e usar preservativos nasrelações sexuais.Filhos de mães HBsAg positivas – é recomendável a administração em locais diferentesde imunoglobulina contra o HBV e vacina contra a hepatite (nas primeiras 12 horasde vida). A segunda e terceira <strong>do</strong>ses da vacina devem seguir o calendário vacinal normal,isto é, aos trinta dias e aos seis meses de idade, respectivamente.Aleitamento materno – o HBsAg pode ser encontra<strong>do</strong> no leite materno de mãesHBsAg positivas; no entanto, a amamentação não traz riscos adicionais para os seus recém-nasci<strong>do</strong>s,desde que tenham recebi<strong>do</strong> a primeira <strong>do</strong>se da vacina e imunoglobulina nasprimeiras 12 horas de vida. Na hepatite C, embora o HCV tenha si<strong>do</strong> encontra<strong>do</strong> no colostroe no leite maduro, não há evidências conclusivas até o momento de que o aleitamentoacrescente risco à transmissão <strong>do</strong> HCV, exceto na ocorrência de fissuras e sangramentosnos mamilos.ImunizaçãoVacinação contra o vírus da hepatite A – está disponível nos Centros de Referênciapara Imunobiológicos Especiais (Crie), estan<strong>do</strong> indicada apenas para pessoas com hepatopatiascrônicas susceptíveis para a hepatite A, receptores de transplantes alogênico ouautólogos, após transplante de medula óssea, candidatos a receber transplantes autólogosde medula óssea, antes da coleta, e <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res de transplante alogênico de medula óssea apatologias que indicam esplectomia. A vacina só deve ser utilizada por maiores de um ano,conforme o laboratório produtor.428 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Hepatites ViraisA vacina da hepatite A é clinicamente bem tolerada e altamente imunogênica. Cerca de30 dias após a primeira <strong>do</strong>se, mais de 95% <strong>do</strong>s adultos desenvolvem anticorpos anti-HAV.O título mínimo necessário para a prevenção é de 10UI/ml de anti-HAV, considera<strong>do</strong> comosoroprotetor.A vacina contra a hepatite A é contra-indicada na ocorrência de hipersensibilidadeimediata (reação anafilática) após o recebimento de qualquer <strong>do</strong>se anterior ou de históriade hipersensibilidade aos componentes da vacina.Vacinação contra o vírus da hepatite B – a vacina disponível é constituída de antígenosde superfície <strong>do</strong> vírus B, obti<strong>do</strong>s por processo de DNA-recombinante, é eficaz, segura,e confere imunidade em cerca de 90% <strong>do</strong>s adultos e 95% das crianças e a<strong>do</strong>lescentes. Aimunogenicidade é reduzida em neonatos prematuros, indivíduos com mais de 40 anos,imunocomprometi<strong>do</strong>s, obesos, fumantes, etilistas, pacientes em programas de hemodiáliseou porta<strong>do</strong>res de cardiopatia, cirrose hepática ou <strong>do</strong>ença pulmonar crônica. A vacina éadministrada em três <strong>do</strong>ses, com os seguintes intervalos 0, 1 e 6 meses, por via muscular,no músculo deltóide em adultos e na região anterolateral da coxa em menores de 2 anos. Arevacinação é feita em caso de falha da imunização (títulos protetores < de 10UI/ml), queacontece em 5% a 10% <strong>do</strong>s casos.6O Programa Nacional de Imunizações normatiza a vacinação universal <strong>do</strong>s recémnasci<strong>do</strong>se a<strong>do</strong>lescentes (população menor que 20 anos) e também grupos populacionaismais vulneráveis, tais como profissionais de saúde, bombeiros, policiais militares, civis ero<strong>do</strong>viários envolvi<strong>do</strong>s em atividade de resgate, carcereiros de delegacias e penitenciárias,usuários de drogas injetáveis e inaláveis, pessoas em regime carcerário, pacientes psiquiátricos,homens que fazem sexo com homens, profissionais <strong>do</strong> sexo, populações indígenas(todas as faixas etárias), comunicantes <strong>do</strong>miciliares de porta<strong>do</strong>res de HBsAg positivos, pacientesem hemodiálise, politransfundi<strong>do</strong>s, talassêmicos, porta<strong>do</strong>res de anemia falciforme,porta<strong>do</strong>res de neoplasias, porta<strong>do</strong>res de HIV (sintomáticos e assintomáticos), porta<strong>do</strong>resde hepatite C e coleta<strong>do</strong>res de lixo hospitalar e <strong>do</strong>miciliar. Para pacientes imunocomprometi<strong>do</strong>s,com insuficiência hepática (fazen<strong>do</strong> hemodiálise) ou transplanta<strong>do</strong>s o volume decada <strong>do</strong>se deve ser <strong>do</strong>bra<strong>do</strong>.Não há contra-indicação à sua administração na gestação e nem trabalhos demonstran<strong>do</strong>danos ao feto de mulheres vacinadas na gestação. A vacinação não contra-indica oaleitamento materno, pois a vacina não contém partículas infecciosas <strong>do</strong> HBV.HImunoglobulina humana anti-hepatite BA imunoglobulina humana anti-hepatite tipo B (IGHAHB) é indicada para pessoasnão vacinadas após exposição ao vírus da hepatite B.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS429


Hepatites ViraisQuadro 8. Conduta na exposição ao HBVGrupos Imunobiológicos ObservaçõesVítimas de abuso sexualComunicantes sexuais de caso agu<strong>do</strong>de hepatite BRecém-nasci<strong>do</strong> de mãe sabidamenteHBsAg+Recém-nasci<strong>do</strong> (com peso < 2000gou < 34 semanas de gestação) de mãesabidamente HBsAg positivo recémnasci<strong>do</strong>de mãe simultaneamente HIVe HBsAg positivoIGHAHB + vacinaAplicar o mais precocemente possível, nomáximo 14 dias após exposiçãoAplicar o mais precocemente possível, nomáximo 14 dias após exposiçãoNas primeiras <strong>do</strong>ze horas após o nascimentoNas primeiras <strong>do</strong>ze horas após o nascimento.Esquema de quatro <strong>do</strong>ses da vacina (0, 1, 2e 6 meses)Quadro 9. Recomendações para profilaxia da hepatite B após exposição ocupacional amaterial biológico* (Recomendações conjuntas PNHV e PNI, pois inclui a necessidade detestagem para conhecimento <strong>do</strong> status sorológico <strong>do</strong>s profissionais que já foram vacina<strong>do</strong>s,uma vez que até 10% <strong>do</strong>s vacina<strong>do</strong>s podem não soroconverter para anti-HBs positivoapós o esquema vacinal completo).Situações vacinal esorológica <strong>do</strong> profissionalde saúde expostoNão vacina<strong>do</strong>Com vacinação incompletaPreviamente vacina<strong>do</strong>HBsAg positivoIGHAHB +iniciar vacinaçãoIGHAHB +completar vacinaçãoPaciente-fonteHBsAg negativoHBsAg desconheci<strong>do</strong>ou não testa<strong>do</strong>Iniciar vacinação Iniciar vacinação 1Completar vacinação Completar vacinação 1• Com resposta vacinalconhecida e adequada(≥ 10mUI/ml)Nenhumamedida específicaNenhumamedida específicaNenhuma medidaespecífica• Sem resposta vacinalapós a 1 a série (3 <strong>do</strong>ses)IGHAHB + 1 <strong>do</strong>se davacina contra hepatiteBIniciar nova sériede vacina (3 <strong>do</strong>ses)Iniciar nova sériede vacina (3 <strong>do</strong>ses) 2• Sem resposta vacinalapós 2 a série (6 <strong>do</strong>ses)IGHAHB (2x) 2Nenhuma medidaespecíficaIGHAHB (2x) 2• Resposta vacinaldesconhecidaTestar o profissionalde saúdeTestar o profissionalde saúdeSe resposta vacinaladequada: nenhumamedida específicaSe resposta vacinaladequada: nenhumamedida específicaSe resposta vacinaladequada: nenhumamedida específicaSe resposta vacinalinadequada: IGHAHB+ 1 <strong>do</strong>se da vacinacontra hepatiteSe resposta vacinalinadequada: fazernova série de vacinaçãoSe resposta vacinalinadequada: fazernova série de vacinação*Profissionais que já tiveram hepatite B estão imunes à reinfecção e não necessitam de profilaxia pós-exposição.Tanto a vacina quanto a imunoglobulina devem ser aplicadas dentro <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de 7 dias após o acidente, idealmente,nas primeiras 24 horas.430 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Hepatites Virais1- Uso associa<strong>do</strong> de imunoglobulina hiperimune está indica<strong>do</strong> se o paciente-fonte tiver alto risco para infecçãopelo HBV, como usuários de drogas injetáveis, pacientes em programas de diálise, contatos <strong>do</strong>miciliares e sexuaisde porta<strong>do</strong>res de HBsAg positivo, homens que fazem sexo com homens, heterossexuais com vários parceiros erelações sexuais desprotegidas, história prévia de <strong>do</strong>enças sexualmente transmissíveis, pacientes provenientes deáreas geográficas de alta endemicidade para hepatite B, pacientes provenientes de prisões e de instituições deatendimento a pacientes com deficiência mental.2- IGHAHB (2x) = 2 <strong>do</strong>ses de imunoglobulina hiperimune para hepatite B com intervalo de 1 mês entre as <strong>do</strong>ses.Esta opção deve ser indicada para aqueles que já fizeram 2 séries de 3 <strong>do</strong>ses da vacina mas não apresentaramresposta à vacina ou apresentem alergia grave à mesma.OBS.: na impossibilidade de saber o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> teste de imediato, iniciar a profilaxia como se o paciente apresentasseresposta vacinal inadequada.Ações de educação em saúdeÉ importante ressaltar que, além das medidas de controle específicas, faz-se necessárioo esclarecimento da comunidade quanto às formas de transmissão, tratamento e prevençãodas hepatites virais.O desconhecimento, eventualmente, pode também levar à a<strong>do</strong>ção de atitudes extremase inadequadas, como queima de casas e objetos de uso pessoal, nos locais onde ocorreramcasos de hepatites.Deve-se lembrar que o uso de bebida alcoólica e outras drogas pode tornar as pessoasmais vulneráveis em relação aos cuida<strong>do</strong>s à sua saúde. O trabalho preventivo/educativoque foca o uso de preservativos em relações sexuais, o não compartilhamento de instrumentospara o consumo de drogas, etc. deve ser intenso.6HSecretaria de Vigilância em Saúde / MS431


Hepatites ViraisAnexo 1Normas para procedimentos laboratoriaisColeta de amostras clínicas (marca<strong>do</strong>res virais)O sangue (para a separação <strong>do</strong> soro ou plasma) deverá ser coleta<strong>do</strong> assepticamente emtubo de coleta à vácuo (preferencialmente com gel separa<strong>do</strong>r) ou com o auxílio de seringasdescartáveis; neste último caso, verten<strong>do</strong> o conteú<strong>do</strong> para um tubo seco e estéril para aguardara coagulação. Em caso de utilização de plasma, o sangue deverá ser coleta<strong>do</strong> com ACDou EDTA. Nunca usar heparina como anticoagulante.Os tubos conten<strong>do</strong> o sangue deverão ser centrifuga<strong>do</strong>s a 2.500 rpm por 10 minutos, àtemperatura ambiente.O soro ou plasma deve ser acondiciona<strong>do</strong> em tubo de polipropileno, esteriliza<strong>do</strong> ehermeticamente fecha<strong>do</strong>, devidamente identifica<strong>do</strong>. No rótulo, colocar o nome completo,número de registro laboratorial e data de coleta.A tampa deve ser vedada e fixada com filme de parafina ou esparadrapo.Pode ser acondiciona<strong>do</strong> entre 2ºC e 8ºC por 72h. Para perío<strong>do</strong>s maiores, conservarentre -20ºC e -70ºC.Para transporte, o material deve ser embala<strong>do</strong> dentro de saco plástico transparentebem veda<strong>do</strong> (por um nó ou por elástico), que por sua vez será coloca<strong>do</strong> em um isopor oucaixa térmica conten<strong>do</strong> gelo reciclável ou gelo seco (a quantidade de gelo deverá correspondera, no mínimo, 1/3 <strong>do</strong> volume da embalagem). Usar, preferencialmente, gelo seco. Se nãofor possível, utilizar gelo embala<strong>do</strong> em sacos plásticos bem veda<strong>do</strong>s.Nunca congelar sangue total e não colocá-lo em contato direto com o gelo.Coleta para procedimentos de biologia molecular(HBV-DNA e HCV-RNA)O sangue (para a separação <strong>do</strong> soro ou plasma) deverá ser coleta<strong>do</strong> assepticamente emtubo de coleta à vácuo (preferencialmente com gel separa<strong>do</strong>r) ou com auxílio de seringasdescartáveis; neste último caso, verten<strong>do</strong> o conteú<strong>do</strong> para um tubo seco e estéril para aguardara coagulação. Caso se pretenda separar o plasma, este pode ser coleta<strong>do</strong> com ACD ouEDTA. Nunca usar heparina como anticoagulante. Os tubos conten<strong>do</strong> o sangue deverão sercentrifuga<strong>do</strong>s a 2.500 rpm por 10 minutos, à temperatura ambiente. A amostra deverá sercentrifugada e separada nas duas primeiras horas após a coleta.A amostra deve ser acondicionada em frasco novo e esteriliza<strong>do</strong> (fechar hermeticamentee vedar a tampa com filme de parafina ou esparadrapo). No rótulo, colocar identificaçãocompleta e data de coleta. Conservar as amostras entre -20ºC e -70ºC.432 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Hepatites ViraisEvitar congelamentos e descongelamentos sucessivos.Para transporte, os frascos devem ser acondiciona<strong>do</strong>s em recipientes veda<strong>do</strong>s (porexemplo, dentro de um saco plástico bem veda<strong>do</strong> por um nó ou elástico) e coloca<strong>do</strong>s dentrode caixa de isopor apropriada. Usar, preferencialmente, gelo seco.Coleta de material de necropsia ou de viscerotomia(hepatites fulminates)Coletar, preferencialmente, nas primeiras seis horas após o óbito (este prazo pode chegaraté 12 horas, porém o risco de autólise é maior nesta circunstância).Identificar e datar adequadamente os recipientes. É indispensável o nome <strong>do</strong> paciente,a data da coleta, a identificação <strong>do</strong> órgão/teci<strong>do</strong>. Caso, além <strong>do</strong> fíga<strong>do</strong>, outros órgãos sejamcoleta<strong>do</strong>s, devem ser acondiciona<strong>do</strong>s em frascos individualiza<strong>do</strong>s.Acondicionar os fragmentos em formol (preferencialmente tampona<strong>do</strong>) a 10% (utilizarsolução salina para diluir o formol). Manter a proporção aproximada de 1:10 entre osfragmentos e o volume de formol. Certificar-se de que o frasco está bem veda<strong>do</strong>. Manter aamostra sempre em temperatura ambiente.Em outro recipiente, rigorosamente estéril, acondicionar fragmentos para serem congela<strong>do</strong>sem nitrogênio líqui<strong>do</strong> (preferencialmente abaixo de -20ºC, caso não esteja disponívelcolocar em congela<strong>do</strong>r de geladeira).6Não colocar fixa<strong>do</strong>r ou outro conservante junto a essa amostra.HSecretaria de Vigilância em Saúde / MS433


Influenza (Gripe)INFLUENZA (gripe)CID 10: J10 a J11Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoA influenza ou gripe é uma infecção viral aguda <strong>do</strong> sistema respiratório que tem distribuiçãoglobal e elevada transmissibilidade. Classicamente, apresenta-se com início abruptode febre, mialgia e tosse seca. Em geral, tem evolução auto-limitada, de poucos dias. Suaimportância deve-se ao seu caráter epidêmico, caracteriza<strong>do</strong> por disseminação rápida emarcada morbidade nas populações atingidas.SinonímiaGripe.Agente etiológicoA <strong>do</strong>ença é causada pelos vírus Influenza da família <strong>do</strong>s Ortomixovirus. São vírus RNAde hélice única e subdividem-se em três tipos: A, B e C, de acor<strong>do</strong> com sua diversidade antigênica.Os <strong>do</strong>is primeiros, principalmente os vírus influenza A, são altamente transmissíveise mutáveis, causan<strong>do</strong> maior morbidade e mortalidade e, por isto, merecem destaqueem saúde pública.Os vírus da influenza A são classifica<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com os tipos de proteína que selocalizam em sua superfície, chamadas de hemaglutinina (H) e neuraminidase (N). A proteínaH está associada a infecção das células <strong>do</strong> trato respiratório superior, onde o vírus semultiplica, enquanto a proteína N facilita a saída das partículas virais <strong>do</strong> interior das célulasinfectadas. Nos vírus influenza A humanos estão caracteriza<strong>do</strong>s três subtipos de hemaglutininaimunologicamente distintos (H1, H2 e H3) e duas neuraminidases (N1 e N2).A nomenclatura <strong>do</strong>s vírus influenza definida pela Organização Mundial da Saúde(OMS) inclui o tipo de vírus influenza, a localização geográfica onde o vírus foi isola<strong>do</strong> pelaprimeira vez, o número de série que recebe no laboratório, o ano <strong>do</strong> isolamento e, entreparênteses, a descrição <strong>do</strong>s antígenos de superfície <strong>do</strong> vírus, ou seja, da hemaglutinina e daneuraminidase. Por exemplo, A/Sydney/5/97(H3N2).ReservatórioOs vírus influenza <strong>do</strong> tipo B infectam exclusivamente os seres humanos e os <strong>do</strong> tipo Cinfectam humanos e suínos. Os vírus influenza <strong>do</strong> tipo A são encontra<strong>do</strong>s em várias espéciesde animais, além <strong>do</strong>s seres humanos, tais como suínos, cavalos, mamíferos marinhose aves. As aves migratórias desempenham importante papel na disseminação natural da<strong>do</strong>ença entre distintos pontos <strong>do</strong> globo terrestre.434 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Influenza (Gripe)Mo<strong>do</strong> de transmissãoA influenza é uma <strong>do</strong>ença respiratória transmitida por meio de gotículas (< 10μl)expelidas pelo indivíduo <strong>do</strong>ente ao falar, espirrar e tossir. Em surtos, há evidências de disseminaçãoaérea por gotículas em aerossol. A transmissão também pode ocorrer por contatodireto ou indireto com secreções nasofaringeanas, destacan<strong>do</strong>-se aqui a importância dalavagem adequada das mãos no controle desta <strong>do</strong>ença. Apesar da transmissão inter-humanaser a mais comum, já foi <strong>do</strong>cumentada a transmissão direta <strong>do</strong> vírus para o homem, apartir de aves e suínos.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoEm geral, de um a quatro dias.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeUm indivíduo infecta<strong>do</strong> pode transmitir o vírus desde <strong>do</strong>is dias antes até cinco diasapós o início <strong>do</strong>s sintomas.6Susceptibilidade e imunidadeAcomete pessoas de todas as faixas etárias. Nos adultos sadios a recuperação geralmenteé rápida. Entretanto, complicações graves podem ocorrer nos i<strong>do</strong>sos e nos muitojovens, determinan<strong>do</strong> eleva<strong>do</strong>s níveis de morbimortalidade.A imunidade aos vírus da influenza resulta de infecção natural ou vacinação anteriorcom o vírus homólogo. Desta maneira, um hospedeiro que teve infecção com determinadacepa <strong>do</strong> vírus influenza terá pouca ou nenhuma resistência a uma nova infecção com a cepavariante <strong>do</strong> mesmo vírus. Isto explica, em parte, a grande capacidade deste vírus em causarfreqüentes epidemias nas populações atingidas.IAspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasClinicamente, a <strong>do</strong>ença inicia-se com a instalação abrupta de febre alta, em geral acimade 38ºC, seguida de mialgia, <strong>do</strong>r de garganta, prostração, calafrios, <strong>do</strong>r de cabeça e tosseseca. A febre é, sem dúvida, o sintoma mais importante e perdura em torno de três dias. Ossintomas sistêmicos são muito intensos nos primeiros dias da <strong>do</strong>ença. Com a progressãodesta, os sintomas respiratórios tornam-se mais evidentes e mantém-se em geral por três aquatro dias após o desaparecimento da febre. É comum a queixa de garganta seca, rouquidão,tosse seca e queimação retro-esternal ao tossir. Os pacientes apresentam a pele quentee úmida, olhos hiperemia<strong>do</strong>s e lacrimejantes. Há hiperemia das mucosas, com aumento desecreção nasal hialina.O quadro clínico em adultos sadios pode variar de intensidade. Nas crianças, a temperaturapode atingir níveis mais altos, sen<strong>do</strong> comum o acha<strong>do</strong> de aumento <strong>do</strong>s linfono<strong>do</strong>scervicais. Quadros de bronquite ou bronquiolite, além de sintomas gastrointestinais,Secretaria de Vigilância em Saúde / MS435


Influenza (Gripe)também podem fazer parte da apresentação clínica em crianças. Os i<strong>do</strong>sos quase semprese apresentam febris, às vezes sem outros sintomas, mas em geral a temperatura não atingeníveis tão altos.As complicações são mais comuns em i<strong>do</strong>sos e indivíduos debilita<strong>do</strong>s. As situações sabidamentede risco incluem <strong>do</strong>ença crônica pulmonar (asma e <strong>do</strong>ença pulmonar obstrutivacrônica – DPOC), cardiopatias (insuficiência cardíaca crônica), <strong>do</strong>ença metabólica crônica(diabetes, por exemplo), imunodeficiência ou imunodepressão, gravidez, <strong>do</strong>ença crônicarenal e hemoglobinopatias.As complicações pulmonares mais comuns são as pneumonias bacterianas secundárias,sen<strong>do</strong> mais freqüentes as provocadas pelos seguintes agentes infecciosos: Streptococcuspneumoniae, Staphylococcus e Haemophillus influenzae. Uma complicação incomum, emuito grave, é a pneumonia viral primária pelo vírus da influenza. Nos imunocomprometi<strong>do</strong>s,o quadro clínico é geralmente mais arrasta<strong>do</strong> e muitas vezes mais grave. Gestantes comquadro de influenza no segun<strong>do</strong> ou terceiro trimestres da gravidez estão mais propensas àinternação hospitalar.Dentre as complicações não-pulmonares em crianças, destaca-se a síndrome de Reye,que também está associada aos quadros de varicela. Esta síndrome caracteriza-se por encefalopatiae degeneração gordurosa <strong>do</strong> fíga<strong>do</strong>, após o uso <strong>do</strong> áci<strong>do</strong> acetilsalicílico, na vigênciade um destes <strong>do</strong>is quadros virais. Recomenda-se, portanto, que não sejam utiliza<strong>do</strong>smedicamentos <strong>do</strong> tipo áci<strong>do</strong> acetilsalicílico em crianças com síndrome gripal ou varicela.Outras complicações incluem miosite, miocardite, pericardite, síndrome <strong>do</strong> choquetóxico, síndrome de Guillain-Barré e, mais raramente, encefalite e mielite transversa.Diagnóstico diferencialÉ importante destacar que as características clínicas da gripe não são específicas e podemser similares àquelas causadas por outros vírus respiratórios que também ocorrem sob aforma de surtos e eventualmente circulam ao mesmo tempo, tais como rinovírus, vírus parainfluenza, vírus sincicial respiratório, coronavírus ou adenovírus. Apesar de os sintomas sistêmicosserem mais intensos na influenza que nas demais infecções que cursam com quadroclínico semelhante (daí a denominação de síndrome gripal para as infecções causadas porestes agentes), o diagnóstico definitivo dessas infecções apenas pela clínica torna-se difícil.Chama-se a atenção para o diagnóstico diferencial de casos de influenza grave (pneumoniaprimária) com possíveis casos de síndrome respiratória aguda grave (Sars).Diagnóstico laboratorialOs procedimentos apropria<strong>do</strong>s de coleta, transporte, processamento e armazenamentode espécimes clínicos são fundamentais no diagnóstico da infecção viral.O espécime preferencial para o diagnóstico laboratorial são as secreções da nasofaringe(SNF) obtidas por meio de aspira<strong>do</strong> de nasofaringe com auxílio de um coletor descartávelou por meio de swab combina<strong>do</strong> (oral + nasal). Estas amostras devem ser coletadas atéo quinto dia (preferencialmente até o terceiro) <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s sintomas e transportadas emgelo reciclável (não congelar) até o laboratório, para o devi<strong>do</strong> processamento.436 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Influenza (Gripe)A detecção <strong>do</strong> vírus influenza é realizada pelas técnicas de imunofluorescência (IF),de isolamento <strong>do</strong> agente em cultivos celulares/ovos embriona<strong>do</strong>s (considera<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> padrão)e de detecção por reação em cadeia da polimerase (PCR). Adicionalmente, o diagnósticopode ser estabeleci<strong>do</strong> através <strong>do</strong> exame de inibição de hemaglutinação (HI). Paraisso, coletar amostras pareadas de sangue durante a fase aguda e convalescente (15 dias deintervalo entre as duas colheitas).A IF é realizada nos laboratórios estaduais onde a vigilância da influenza está implantada,utilizan<strong>do</strong>-se um painel de soros que detecta, além da influenza, outros vírus respiratóriosde interesse (vírus respiratório sincicial, parainfluenza e adenovírus). A cultura e aPCR são realizadas nos três laboratórios de referência (Instituto Evandro Chagas/SVS/MS,Fiocruz/MS e Instituto A<strong>do</strong>lfo Lutz/SES/SP), que também procedem à caracterização antigênicae genômica <strong>do</strong>s vírus da influenza isola<strong>do</strong>s.Uma caracterização complementar para influenza é realizada em um <strong>do</strong>s laboratóriosde referência internacional da OMS. Para o vírus da influenza A, a tipagem completa éessencial para que o mesmo seja introduzi<strong>do</strong> na composição anual da vacina <strong>do</strong> hemisfériosul. Para efeito da vigilância epidemiológica, esse diagnóstico é realiza<strong>do</strong> apenas em algunspacientes atendi<strong>do</strong>s em unidades sentinelas.6TratamentoRecomenda-se repouso e hidratação adequada. Medicações antitérmicas podem serutilizadas, lembran<strong>do</strong>-se de evitar o uso de áci<strong>do</strong> acetil salicílico nas crianças. No caso decomplicações pulmonares graves, podem ser necessárias medidas de suporte intensivo.Em casos de internação por complicações secundárias ou por apresentações graves dainfecção, devem ser instituídas precauções contra a transmissão <strong>do</strong> vírus influenza atravésde gotículas respiratórias. Uma prática adequada de lavagem de mãos parece ser suficientepara impedir a transmissão por contato. Precauções contra a transmissão por aerossóisdevem ser a<strong>do</strong>tadas em caso de internação próxima a pacientes gravemente imunodeprimi<strong>do</strong>sou em infecções por cepas emergentes de influenza A com potencial pandêmico.Atualmente, há duas classes de drogas utilizadas no tratamento específico da influenza.Licenciadas há alguns anos, a amantadina e a rimantadina são drogas similares, com 70% a90% de eficácia na prevenção da <strong>do</strong>ença pelo vírus da influenza A em adultos jovens e crianças,caso sejam administradas profilaticamente durante o perío<strong>do</strong> de exposição ao vírus.Também podem reduzir a intensidade e a duração <strong>do</strong> quadro, se administradas terapeuticamente.Ressalta-se, porém, que nenhuma destas drogas demonstrou ser eficaz na diminuiçãodas complicações graves da influenza. Duas grandes limitações <strong>do</strong> uso dessa classe dedrogas são a ocorrência de efeitos colaterais no sistema nervoso central e no trato gastrointestinal(principalmente com o uso da amantadina) e a indução de resistência viral.Já o oseltamivir e o zanamivir fazem parte de uma nova classe de drogas chamadas deinibi<strong>do</strong>ras da neuraminidase e que podem ser utilizadas contra a infecção pelos vírus dainfluenza A e B. Estas drogas, se administradas até <strong>do</strong>is dias após o início <strong>do</strong>s sintomas, podemreduzir o tempo da <strong>do</strong>ença não complicada. No entanto, como as <strong>do</strong> grupo anterior,nenhuma das duas drogas desta classe foi eficaz em prevenir as complicações da influenza,ISecretaria de Vigilância em Saúde / MS437


Influenza (Gripe)haven<strong>do</strong> poucos da<strong>do</strong>s sobre a efetividade <strong>do</strong> zanamivir em indivíduos de alto risco paracomplicações da <strong>do</strong>ença. Uma limitação importante para o seu uso é o custo eleva<strong>do</strong> <strong>do</strong>tratamento e a existência de restrições ainda existentes para seu uso profilático.Aspectos epidemiológicosA gripe ocorre em âmbito mundial, como surto localiza<strong>do</strong> ou regional, em epidemiase, também, devasta<strong>do</strong>ras pandemias. O potencial pandêmico da influenza reveste-se degrande importância. No século passa<strong>do</strong> ocorreram três importantes pandemias de influenza(a Gripe Espanhola, entre 1918-20; a Gripe Asiática, entre 1957-60 e a de Hong Kong,entre 1968-72). Destaca-se ainda a ocorrência de uma pandemia em 1977/78 (Gripe Russa),que afetou primordialmente crianças e a<strong>do</strong>lescentes.Com os modernos meios de transporte, a propagação <strong>do</strong> vírus da influenza tornousemuito rápida e hoje o mesmo vírus pode circular ao mesmo tempo em várias partes <strong>do</strong>mun<strong>do</strong>, causan<strong>do</strong> epidemias quase simultâneas.Em anos epidêmicos, a taxa de ataque na comunidade atinge aproximadamente 15%,sen<strong>do</strong> ao re<strong>do</strong>r de 2% em anos não-epidêmicos. Em comunidades fechadas, este númerosobe para 40% a 70%, com taxa de ataque secundário em torno de 30%. Tanto a morbidadequanto a mortalidade, devi<strong>do</strong> à influenza e suas complicações, podem variar ano a ano,dependen<strong>do</strong> de fatores como as cepas circulantes, o grau de imunidade da população gerale da população mais susceptível, entre outros.Destaca-se ainda a ocorrência de transmissão direta <strong>do</strong> vírus da influenza aviária dealta patogenicidade (H5N1) ao homem, geran<strong>do</strong> surtos de elevada mortalidade. Esse fenômenofoi detecta<strong>do</strong> pela primeira vez em 1997, em Hong Kong, quan<strong>do</strong> 18 pessoas foramafetadas, das quais 6 morreram (letalidade de 33,3%). Novos episódios ocorreram em perío<strong>do</strong>smais recentes, destacan<strong>do</strong>-se os surtos verifica<strong>do</strong>s no Vietnã e na Tailândia entre dezembrode 2003 e abril de 2004, que afetaram um total de 33 pessoas. As taxas de letalidadeobservadas foram de, respectivamente, 45,4% e 70%. Este processo de transmissão se deuem meio a uma epizootia de influenza aviária de alta patogenicidade em países <strong>do</strong> sudesteasiático em proporções e extensão geográfica inusitadas.Também se verificaram, no perío<strong>do</strong> 2003/2004, episódios de transmissão direta deinfluenza aviária de baixa patogenicidade para o homem, com registro de surtos pela cepaH7 na Holanda, Canadá e Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.No Brasil, os da<strong>do</strong>s disponíveis no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológicada Influenza (Sivep-Gripe) demonstram, para o perío<strong>do</strong> 2000/2003, a ocorrênciade casos de síndrome gripal pre<strong>do</strong>minantemente em crianças na faixa etária de 0-4 anos(48,2%), seguida da faixa de 5-14 anos (25,4%) e de 15-24 anos (10,2%). As demais faixascontribuíram com 16,2%. Os principais vírus respiratórios detecta<strong>do</strong>s pelo méto<strong>do</strong> deimunofluorescência neste perío<strong>do</strong> foram o vírus sincicial respiratório (31%), influenza A(30,7%), parainfluenza 1, 2 e 3 (18,5%), adenovírus (16,8%) e influenza B (3%). Em 2004,até a semana epidemiológica nº 36 foram coletadas 1.168 amostras na rede sentinela, das438 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Influenza (Gripe)quais 366 (31,3%) foram positivas para vírus respiratórios pelo méto<strong>do</strong> da imunofluorescência.Destas, 152 foram positivas para influenza A, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> possível fazer a caracterizaçãoantigênica inicial de 23 (15%) dessas amostras, assim identificadas: influenza AH3N2 (67%), influenza B (20%) e influenza A H1N1 (13%).No ano de 2002 foram detecta<strong>do</strong>s e investiga<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is importantes surtos comunitáriosde influenza no país, nas cidades de Araraquara/SP e <strong>do</strong> extremo oeste de Santa Catarina,totalizan<strong>do</strong> aproximadamente 3 mil casos confirma<strong>do</strong>s (influenza B Hong Kong). Em2003, novo surto comunitário foi detecta<strong>do</strong> nas cidades de Pium e Araguacema/TO, coma confirmação de cerca de 500 casos (influenza A Tocantins H3N2). Em 2004, foram investiga<strong>do</strong>ssurtos de influenza em comunidades fechadas (presídios e abate<strong>do</strong>uros de aves)nos municípios de Marília e Araçatuba/SP e Francisco Beltrão e Almirante Tamandaré/PR,devi<strong>do</strong> à infecção por influenza A Fujian H3N2 e influenza A Korea H3N2.Vigilância epidemiológica6O Sistema de Vigilância da Influenza no Brasil é de implantação recente (a partir <strong>do</strong>ano 2000) e baseia-se em uma estratégia de vigilância sentinela que tem por função monitorara circulação das cepas e a carga de morbidade por síndrome gripal* nas cinco regiõesbrasileiras.Objetivos• Monitorar as cepas <strong>do</strong>s vírus da influenza que circulam nas cinco regiões brasileiras.• Avaliar o impacto da vacinação contra a <strong>do</strong>ença.• Acompanhar a tendência da morbidade e da mortalidade associadas à <strong>do</strong>ença.• Responder a situações inusitadas.• Produzir e disseminar informações epidemiológicas.IDefinição de caso suspeitoIndivíduo com <strong>do</strong>ença aguda (com duração máxima de 5 dias), apresentan<strong>do</strong> febre(ainda que referida) e pelo menos um sintoma respiratório (tosse ou <strong>do</strong>r de garganta), naausência de outros diagnósticos.Confirma<strong>do</strong>Caso suspeito com confirmação laboratorial e/ou caso suspeito com vínculo epidemiológicocom casos laboratorialmente confirma<strong>do</strong>s.Descarta<strong>do</strong>Caso suspeito em que o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exame foi negativo, em amostra adequadamente*Para definir síndrome gripal pode-se utilizar os seguintes códigos da 10ª Revisão da Classificação Internacionalde Doenças (CID 10): J00 (to<strong>do</strong>s) – Nasofaringite aguda (resfria<strong>do</strong> comum); J02.9 – Faringite aguda não especificada;J03.9 – Amigdalite aguda não especificada; J04.0 – Laringite aguda; J04.1 – Traqueíte aguda; J04.2 – Laringotraqueíteaguda; J06 (to<strong>do</strong>s) – Infecção aguda das vias aéreas superiores e não especificadas; J10 (to<strong>do</strong>s) –Influenza devida a vírus influenza identifica<strong>do</strong>; J11 (to<strong>do</strong>s) - Influenza devida a vírus influenza não identifica<strong>do</strong>.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS439


Influenza (Gripe)colhida e transportada, ou quan<strong>do</strong> for identifica<strong>do</strong> laboratorialmente outro agente etiológicoque não o vírus da influenza.NotificaçãoA influenza não é <strong>do</strong>ença de notificação compulsória. Os da<strong>do</strong>s da vigilância sentinelasão informa<strong>do</strong>s em um sistema de informação específico, através da Web, chama<strong>do</strong> deSivep-Gripe.No entanto, consideran<strong>do</strong> o potencial epidêmico desta <strong>do</strong>ença, qualquer suspeita desurto comunitário ou institucional (em particular os surtos com casos graves) deve ser comunicada(por telefone, fax, e/ou e-mail) à secretaria estadual de saúde e Coordenação deVigilância de Doenças de Transmissão Respiratória e Imunopreveníveis da SVS/MS.InvestigaçãoRecomenda-se a investigação de surtos pelas secretarias municipais e estaduais desaúde, se necessário com apoio <strong>do</strong> nível federal, com os seguintes objetivos:• confirmar a ocorrência <strong>do</strong> surto de síndrome gripal;• descrever o surto por tempo, pessoa e lugar;• caracterizar o processo de transmissão;• identificar e caracterizar o vírus respiratório;• monitorar os grupos de maior risco para complicações da <strong>do</strong>ença;• avaliar o impacto <strong>do</strong> surto na morbidade e na mortalidade;• avaliar a necessidade da a<strong>do</strong>ção de medidas emergenciais de controle;• recomendar medidas de prevenção e controle de surtos.Sugere-se realizar busca ativa de pessoas com síndrome gripal, utilizan<strong>do</strong> a definiçãode caso ou os códigos das CID descritos anteriormente. Os locais-alvo para a busca ativasão as unidades de saúde (centros de saúde, hospitais) <strong>do</strong> município, as unidades de ensino,creches, asilos, entre outras.Para padronizar as informações coletadas na busca ativa recomenda-se a utilização deum formulário que permita agregar os da<strong>do</strong>s por semana epidemiológica e que contenhaas seguintes variáveis: total de pessoas com síndrome gripal e total de pessoas, unidade desaúde por faixa etária (Anexo 1).Deve-se coletar amostras para análise laboratorial. Se o município onde estiver ocorren<strong>do</strong>o surto de síndrome gripal não pertencer à rede de vigilância da influenza, a secretariaestadual de saúde deve entrar em contato imediatamente com a Coordenação deVigilância de Doenças de Transmissão Respiratória e Imunopreveníveis (Cover) e com aCoordenação Geral de Laboratório (CGLAB) <strong>do</strong> Ministério da Saúde/SVS, com vistas apossibilitar a coleta, transporte e análise laboratorial das amostras.Sugere-se realizar estu<strong>do</strong> descritivo detalha<strong>do</strong> da população <strong>do</strong>ente ou pelo menos emuma amostra desta. Para isso, é importante a aplicação de um questionário padroniza<strong>do</strong> a todasas pessoas <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>. Este instrumento deve conter, entre outras, as seguintes variáveis:• demográficas (idade, sexo, endereço, ocupação);440 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Influenza (Gripe)• sinais e sintomas (febre, tosse, <strong>do</strong>r de garganta, <strong>do</strong>r no corpo, <strong>do</strong>r de ouvi<strong>do</strong>, <strong>do</strong>r nasarticulações, <strong>do</strong>r de cabeça, etc.);• uso da vacina contra a influenza;• participação em festas, shows (aglomera<strong>do</strong>), viagem recente;• contato com pessoas que a<strong>do</strong>eceram com síndrome gripal;• presença de <strong>do</strong>enças crônicas (diabetes, cardiopatas, renais crônicos, hipertensos,pneumopatas, etc.) e <strong>do</strong>enças imunosupressoras (aids, lúpus, etc.);• uso de medicamentos;• presença de alergia;• necessidade de hospitalização;• história de exposição a aves e suínos, principalmente cria<strong>do</strong>uros de aves, bem comorelato de contato com aves <strong>do</strong>entes ou mortas;• outras variáveis consideradas importante de acor<strong>do</strong> com as características <strong>do</strong> surto.Em situações de surto, orientações específicas deverão ser buscadas junto à SVS/MS.6Instrumentos disponíveis para controleImunizaçãoDesde 1999, o Ministério da Saúde implantou a vacinação contra gripe no Brasil, como objetivo de proteger os grupos de maior risco contra as complicações da influenza, ouseja, os i<strong>do</strong>sos e os porta<strong>do</strong>res de <strong>do</strong>enças crônicas (<strong>do</strong>enças pulmonares ou cardiovasculares,imunocomprometi<strong>do</strong>s, transplanta<strong>do</strong>s, dentre outros). É também recomendável avacinação de profissionais de saúde que atuam na assistência individual de casos de infecçãorespiratória e de trabalha<strong>do</strong>res de asilos e creches, como forma de reduzir o potencialde transmissão da <strong>do</strong>ença em comunidades fechadas e grupos mais vulneráveis à infecção.Outro grupo de risco são os trabalha<strong>do</strong>res de avicultura, cuja vacinação visa protegê-loscontra infecção cruzada com vírus da influenza aviária.A vacina é a melhor estratégia disponível para a prevenção da influenza e suas conseqüências,proporcionan<strong>do</strong> redução da morbidade, diminuição <strong>do</strong> absenteísmo no trabalhoe <strong>do</strong>s gastos com medicamentos para tratamento de infecções secundárias.A vacinação ocorre na forma de campanhas prolongadas, em geral duas semanas. Operío<strong>do</strong> para a realização dessas campanhas deve ser anterior ao perío<strong>do</strong> de maior circulação<strong>do</strong> vírus na população das diferentes regiões <strong>do</strong> país. Este imunógeno também encontra-sedisponível nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (Cries) <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s.A vacina é constituída por três tipos de cepas <strong>do</strong>s vírus influenza, cultiva<strong>do</strong>s em ovosembriona<strong>do</strong>s de galinha e posteriormente inativa<strong>do</strong>s e purifica<strong>do</strong>s. Contém ainda neomicina,gentamicina e o timerosal como conservantes. É composta por <strong>do</strong>is tipos de vírus deinfluenza A e um vírus de influenza B. Para conferir proteção adequada a vacina deve seradministrada a cada ano, já que sua composição também varia anualmente, em função dascepas circulantes.ISecretaria de Vigilância em Saúde / MS441


Influenza (Gripe)O esquema vacinal preconiza<strong>do</strong> pelo Ministério da Saúde varia conforme a faixa etáriada pessoa a ser vacinada, demonstra<strong>do</strong> na tabela a seguir:Idade Dose (ml) Nº de <strong>do</strong>ses6-35 meses 0,25ml 1-2*3-8 anos 0,5ml 1-2*> 9 anos e adultos 0,5ml 1*A segunda <strong>do</strong>se com intervalo de 4 a 6 semanas.Após a vacinação em adultos saudáveis, a detecção de anticorpos protetores ocorreentre 1 a 2 semanas e seu pico máximo é após 4 a 6 semanas.A imunidade obtida com a vacinação pode variar:• em i<strong>do</strong>sos, uma vez que a formação de anticorpos é modulada pela experiênciacumulativa através <strong>do</strong>s anos de estimulação repetitiva <strong>do</strong> sistema imunológico como vírus influenza;• em pacientes com câncer, pois a produção de anticorpos é menor <strong>do</strong> que em controlessadios. A soroconversão é de 24% a 71%, sen<strong>do</strong> a terapia antineoplásica ofator determinante da resposta mais baixa nesse grupo. As crianças que não estãoem quimioterapia há mais de quatro semanas e com linfócitos >1000/mm 3 possuemaltas taxas de soroconversão com o uso da vacina;• em transplanta<strong>do</strong>s, a imunização deve ser feita previamente à realização <strong>do</strong> procedimento.No transplante de rim a soroconversão ocorre em cerca de 50% <strong>do</strong>s casosum mês após a vacinação;• em porta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> HIV/aids, a vacina contra influenza produz títulos protetores deanticorpos em pessoas infectadas por HIV pouco sintomáticas e com contagensadequadas de linfócitos CD4. No entanto, nos pacientes com a <strong>do</strong>ença avançadae/ou contagem baixa de CD4 a vacina pode não induzir anticorpos protetores e umasegunda <strong>do</strong>se não melhora a resposta imunológica à mesma.A contra-indicação para esta vacina é a presença de reação de hipersensibilidade <strong>do</strong>tipo anafilática a proteínas <strong>do</strong> ovo de galinha e indivíduos com história pregressa de síndromede Guillain-Barré.Os eventos adversos mais freqüentemente associa<strong>do</strong>s temporalmente à vacina são locaise resolvi<strong>do</strong>s geralmente em 48 horas: <strong>do</strong>r leve no local da aplicação e eritema ocorren<strong>do</strong>em 10% a 64% <strong>do</strong>s vacina<strong>do</strong>s. Outras reações sistêmicas também podem estar presentestais como febre, astenia, mialgia e cefaléia que, geralmente se apresentam entre 6 a 12 horasapós a aplicação.Como a vacina é composta por vírus inativa<strong>do</strong>s, não tem o poder de provocar <strong>do</strong>ença.“Casos de gripe” eventualmente diagnostica<strong>do</strong>s em pessoas recentemente vacinadas podemser devi<strong>do</strong>s a infecção por outras cepas não presentes na vacina, a falhas de conversão sorológicaou a infecção por outros vírus respiratórios.442 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Influenza (Gripe)Anexo 1MINISTÉRIO DA SAÚDESECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDEVigilância de Síndrome GripalUnidade: _______________________________________________________________Município: ____________________________________________________ UF: ______Responsável pela informação: _______________________________________________Semana de ____/____/____ a ____/____/____6Faixa etária(em anos)< 4Consultas de síndrome gripalNúmero de consultasTotal de consultas da unidadeI5 a 1415 a 2425 a 5960 a 64> 65Idade ignoradaTotalSecretaria de Vigilância em Saúde / MS443


Leishmaniose Tegumentar AmericanaLEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANACID 10: B55.1Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoA leishmaniose tegumentar americana – LTA é uma <strong>do</strong>ença infecciosa, não-contagiosa,causada por protozoário <strong>do</strong> gênero Leishmania, de transmissão vetorial, que acometepele e mucosas; é primariamente uma infecção zoonótica, afetan<strong>do</strong> outros animais que nãoo homem, o qual pode ser envolvi<strong>do</strong> secundariamente.Agente etiológicoHá diferentes subgêneros e espécies de Leishmania, sen<strong>do</strong> as mais importantes noBrasil:Leishmania (Leishmania) amazonensis – distribuída pelas florestas primárias e secundáriasda Amazônia (Amazonas, Pará, Rondônia, Tocantins e su<strong>do</strong>este <strong>do</strong> Maranhão),particularmente em áreas de igapó e de floresta tipo “várzea”. Sua presença amplia-se para oNordeste (Bahia), Sudeste (Minas Gerais e São Paulo) e Centro-Oeste (Goiás).Leishmania (Viannia) guyanensis – aparentemente limitada ao norte da Bacia Amazônica(Amapá, Roraima, Amazonas e Pará) e estenden<strong>do</strong>-se pelas Guianas, é encontradaprincipalmente em florestas de terra firme – áreas que não se alagam no perío<strong>do</strong> de chuvas.Leishmania (Viannia) braziliensis – tem ampla distribuição, <strong>do</strong> sul <strong>do</strong> Pará ao Nordeste,atingin<strong>do</strong> também o centro-sul <strong>do</strong> país e algumas áreas da Amazônia Oriental. NaAmazônia, a infecção é usualmente encontrada em áreas de terra firme.Quanto ao subgênero Viannia, existem outras espécies de Leishmania recentementedescritas: L.(V) lainsoni, L.(V) naiffi, com poucos casos humanos no Pará; L.(V) shawi comcasos humanos encontra<strong>do</strong>s no Pará e Maranhão.ReservatórioVaria conforme a espécie da Leishmania:Leishmania (Leishmania) amazonensis – tem como hospedeiros naturais vários marsupiaise roe<strong>do</strong>res, tais como “rato-soiá” (Proechymis), além <strong>do</strong> Oryzomys que, às vezes,apresenta o parasita na pele sem lesões cutâneas.Leishmania (Viannia) guyanensis – vários mamíferos silvestres foram identifica<strong>do</strong>scomo hospedeiros naturais, tais como a preguiça (Choloepus didactilus), o tamanduá (Tamanduatetradactyla), marsupiais e roe<strong>do</strong>res. A infecção animal é geralmente inaparente,com parasitas encontra<strong>do</strong>s na pele e vísceras.Leishmania (Viannia) braziliensis – esta espécie de Leishmania foi identificada emroe<strong>do</strong>res silvestres como Bolomys lasiurus e Nectomys squamipes, no esta<strong>do</strong> de Pernambu-444 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Tegumentar Americanaco. É freqüente o encontro desta espécie em animais <strong>do</strong>mésticos como o cão (CE, BA, ES, RJe SP), eqüinos e mulas (CE, BA e RJ), albergan<strong>do</strong> em proporção expressiva o parasita.VetoresO vetor transmissor da LTA pode pertencer a várias espécies de flebotomíneos (conheci<strong>do</strong>como palha, cangalhinha, tatuquira, mulambinho, catuqui, etc.), de diferentes gêneros(Psycho<strong>do</strong>pigus, Lutzomyia), dependen<strong>do</strong> da localização geográfica. Assim como os reservatórios,os vetores também mudam de acor<strong>do</strong> com a espécie de Leishmania.Leishmania (Leishmania) amazonensis – seus principais vetores são Lutzomyia flaviscutellata,Lutzomyia reducta e Lutzomyia olmeca nociva (Amazonas e Rondônia), têmhábitos noturnos, vôo baixo e são pouco antropofílicos.Leishmania (Viannia) guyanensis – os vetores são Lutzomyia anduzei, Lutzomyiawhitmani e Lutzomyia umbratilis, que é o principal vetor, ten<strong>do</strong> o hábito de pousar duranteo dia em troncos de árvores e atacar o homem em grande quantidade, quan<strong>do</strong> perturba<strong>do</strong>.Leishmania (Viannia) braziliensis – em área silvestre, o único vetor demonstra<strong>do</strong>transmissor foi o Psycho<strong>do</strong>pigus wellcomei, encontra<strong>do</strong> na Serra <strong>do</strong>s Carajás, altamente antropofílico,pican<strong>do</strong> o homem mesmo durante o dia e com grande atividade na estação daschuvas. Em ambientes modifica<strong>do</strong>s, rural e peri<strong>do</strong>miciliar, são mais freqüentemente implicadasa Lutzomyia whitmani, Lutzomyia intermedia e Lutzomyia migonei.6Mo<strong>do</strong> de transmissãoPicada de insetos transmissores infecta<strong>do</strong>s. Não há transmissão de pessoa a pessoa.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoNo homem, em média de 2 meses, poden<strong>do</strong> apresentar perío<strong>do</strong>s mais curtos (duassemanas) e mais longos (<strong>do</strong>is anos), após a picada <strong>do</strong> flebotomíneo infecta<strong>do</strong>.LSusceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade é universal. A infecção e a <strong>do</strong>ença não conferem imunidade aopaciente.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasLesões cutâneasA apresentação cutânea da LTA, as lesões de pele, podem caracterizar a forma localizada(única ou múltipla), a forma disseminada (lesões muito numerosas em várias áreas <strong>do</strong>tegumento) e a forma difusa. Na maioria das vezes, a <strong>do</strong>ença apresenta-se como uma lesãoulcerada única.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS445


Leishmaniose Tegumentar AmericanaNas formas cutâneas localizadas e múltiplas, a lesão ulcerada franca é a mais comume se caracteriza por úlcera com bordas elevadas, em moldura. O fun<strong>do</strong> é granuloso, com ousem exsudação. Em geral, as úlceras são in<strong>do</strong>lores. Observam-se também outros tipos de lesõescomo úlcero-crostosa, impetigóide, ectimatóide, úlcero-vegetante, verrucosa-crostosa,tuberosa, linquenóide e outras. Nestas formas, na fase inicial, é freqüente a linfangite e/ouadenopatia satélite que poderia preceder a lesão de pele. Às vezes, no cordão linfático podemse desenvolver nódulos que ulceram, lembran<strong>do</strong> a esporotricose. Podem ser observadaspápulas na periferia das lesões. A forma cutânea disseminada caracteriza-se por lesõesulceradas pequenas, às vezes acneiformes, distribuídas por to<strong>do</strong> o corpo (disseminação hematogênica).A leishmaniose cutânea disseminada é rara, as lesões são eritematosas, sob aforma de pápulas, tubérculos, nódulos e infiltrações difusas e, menos freqüentemente, sob aforma tumoral. A infiltração pode envolver extensas áreas <strong>do</strong> tegumento e, quan<strong>do</strong> presentena face, confere ao paciente uma face típica conhecida como facieis leonina, confundin<strong>do</strong>se,por isso e pela grande área de infiltração cutânea, com a hanseníase virchowiana. Seuprognóstico é ruim, por não responder adequadamente à terapêutica.Lesões mucosasA apresentação mucosa da LTA é, na maioria das vezes, secundária às lesões cutâneas,surgin<strong>do</strong> geralmente meses ou anos após a resolução das lesões de pele. Às vezes, porém,não se identifica a porta de entrada, supon<strong>do</strong>-se que as lesões sejam originadas de infecçãosubclínica.São mais freqüentemente acometidas as cavidades nasais, seguidas da faringe, laringee cavidade oral. As queixas mais comuns no acometimento nasal são obstrução, epistaxes,rinorréia e crostas; da faringe, odinofagia; da laringe, rouquidão e tosse; da cavidade oral,ferida na boca. As lesões podem ser discretas, com poucos sintomas, daí a necessidade desempre se buscar a identificação de <strong>do</strong>ença em mucosas, incluin<strong>do</strong> o exame rotineiro dessasáreas.Ao exame clínico, pode-se observar infiltração, ulceração, perfuração <strong>do</strong> septo nasal,lesões úlcero-vegetantes, úlcero-crostosas ou úlcero-destrutivas. Poderá ocorrer destruiçãoparcial ou total da pirâmide nasal e outras estruturas acometidas na boca. Outras mucosas,como língua e órgãos genitais, são raramente atingidas.A presença de uma ou várias cicatrizes atróficas em pele ou história de úlcera cutâneacom evolução prolongada, ao la<strong>do</strong> das queixas acima referidas, reforça o diagnósticoclínico de leishmaniose mucosa. A ausência de cicatrizes não afasta a suspeita clínica deacometimento mucoso por leishmaniose, deven<strong>do</strong> ser investigadas outras <strong>do</strong>enças com odiagnóstico diferencial.A lesão mucosa associada ao comprometimento cutâneo da LTA pode ser concomitante(o acometimento mucoso a distância da lesão ativa de pele) ou contígua (o comprometimentomucoso ocorre por extensão da lesão de pele situada próxima de mucosas).O diagnóstico precoce, de qualquer lesão mucosa, é essencial para que a resposta terapêuticaseja mais efetiva e evitem-se as seqüelas deformantes e/ou funcionais.446 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Tegumentar AmericanaComprometimento de linfono<strong>do</strong>sPode ser primário (enfartamento de cadeia linfonodal preceden<strong>do</strong> a lesão de pele) ousecundário (enfartamento de cadeia de linfono<strong>do</strong>s na região da lesão de pele, após a identificaçãodesta) e raramente pode apresentar-se generaliza<strong>do</strong>.A classificação clínica da LTA, envolven<strong>do</strong> as diferentes formas e apresentaçõesda <strong>do</strong>ença, e seus respectivos agentes etiológicos está esquematizada no Anexo 1.Diagnóstico diferencialNas lesões cutâneas, devem ser excluídas as <strong>do</strong>enças que compõem o síndrome verrucosoconheci<strong>do</strong> como Plect, que são as iniciais de paracoccidioi<strong>do</strong>micose, leish maniose,esporotricose, cromomicose, tuberculose cutânea. Devem ainda ser afastadas as úlcerastraumáticas, úlceras de estase, úlceras tropicais, úlceras de membros inferiores por anemiafalciforme, piodermites, neoplasias cutâneas, sífilis. A hanseníase virchowiana deverá serincluída no diagnóstico diferencial, principalmente quan<strong>do</strong> se tratar de suspeita de leishmaniosecutânea difusa.Nas lesões mucosas, o diagnóstico diferencial deve ser feito com a paracoccidioi<strong>do</strong>micose,hanseníase virchowiana, rinoscleroma, sarcoi<strong>do</strong>se, bouba, sífilis terciária, granu lomamédio facial e neoplasias.6Diagnóstico laboratorialO diagnóstico laboratorial, na rede de saúde, baseia-se principalmente em examesparasitológicos (exame direto) e imunológicos (intradermorreação de Montenegro/IRM),poden<strong>do</strong>-se proceder em laboratórios de referência outros exames de maior complexidade,conforme esquema abaixo (ver normas e procedimentos no Anexo 2).LExames parasitológicos• Exame direto (esfregaço de lesão, imprint por aposição): diagnóstico de certeza peloencontro <strong>do</strong> parasito na sua forma amastigota.• Histopatológico❯ Hematoxilina eosina❯ Imunoperoxidase• Cultura em meios artificiais• Inoculação em animais experimentais (hamsters)Exames imunológicos• Intradermorreação de Montenegro (IRM): em áreas endêmicas, a IRM deve ser avaliadade forma criteriosa consideran<strong>do</strong> os acha<strong>do</strong>s clínicos.• Sorologia❯ Imunofluorescência indireta (IFI): a imunofluorescência não deve ser uti lizadacomo critério isola<strong>do</strong> para diagnóstico de LTA. Entretanto, pode ser consideradaSecretaria de Vigilância em Saúde / MS447


Leishmaniose Tegumentar Americanacomo critério adicional no diagnóstico diferencial com outras <strong>do</strong>enças, especialmentenos casos sem demonstração de qual quer agente etiológico.❯ Elisa: utiliza<strong>do</strong> como pesquisa em centros de referência.Caracterização das espécies de Leishmania• Anticorpos monoclonais.• Testes moleculares: a reação em cadeia de polimerase – PCR representa nova perspectivapara o diagnóstico da LTA. Entretanto, os seus resulta<strong>do</strong>s dependem de algumasvariáveis envolvidas, entre elas: área endêmica, tipo de amostra; alvo <strong>do</strong> DNAutiliza<strong>do</strong> para amplificação; méto<strong>do</strong> de extração <strong>do</strong> DNA, cuida<strong>do</strong>s de contaminação<strong>do</strong> material, etc.TratamentoA droga de primeira escolha é o antimonial pentavalente. Visan<strong>do</strong> padronizar o esquematerapêutico, a Organização Mundial da Saúde recomenda que a <strong>do</strong>se deste antimonialseja calculada em mg/Sb +5 /kg/dia (Sb +5 significan<strong>do</strong> antimônio pentavalente). Há <strong>do</strong>is tiposde antimoniais pentavalentes que podem ser utiliza<strong>do</strong>s, o antimoniato N-metilglucamina eo stibogluconato de sódio (este último não comercializa<strong>do</strong> no Brasil).O antimoniato N-metilglucamina apresenta-se comercialmente em frascos de 5ml quecontém 1,5g <strong>do</strong> antimoniato bruto, correspondente a 405mg de Sb +5 . Portanto, uma ampolacom 5ml tem 405mg de Sb +5 , e cada ml contém 81mg de Sb +5 .Este antimonial é indica<strong>do</strong> para o tratamento de todas as formas de LTA, embora asformas mucosas exijam maior cuida<strong>do</strong>, poden<strong>do</strong> apresentar respostas mais lentas e maiorpossibilidade de recidivas.Não haven<strong>do</strong> resposta satisfatória com o tratamento pelo antimonial pentavalente, asdrogas de segunda escolha são a anfotericina B e o isotionato de pentamidina.As lesões ulceradas podem sofrer contaminação secundária, razão pela qual devem serprescritos cuida<strong>do</strong>s locais, como limpeza com água e sabão e, se possível, compressas compermanganato de potássio (KMNO4), com diluição de 1/5 mil ml de água morna.Antimoniato-N-metil-glucaminaLesões cutâneas – nas formas cutânea localizada e disseminada, a <strong>do</strong>se recomendadavaria entre 10 a 20mg Sb +5 /kg/dia. Sugere-se 15mg Sb +5 /kg/dia, tanto para o adul to quantopara crianças, durante 20 dias segui<strong>do</strong>s. Nunca deve ser utilizada <strong>do</strong>se superior a 3 ampolas/diaou 15ml/dia para o adulto. Se não houver cicatrização completa no perío<strong>do</strong> de trêsmeses (12 semanas) após o término <strong>do</strong> tratamento, ou se neste mesmo perío<strong>do</strong> houver reativaçãoda lesão, o esquema deverá ser repeti<strong>do</strong>, prolongan<strong>do</strong>-se, desta vez, a duração da sériepara 30 dias. Em caso de falha terapêutica, utilizar uma das drogas de segunda escolha.Na forma difusa, a <strong>do</strong>se é de 20mg/Sb +5 /kg/dia, durante 20 dias segui<strong>do</strong>s. Na fase inicialpode responder ao antimonial, porém são freqüentes as múltiplas recidivas, sen<strong>do</strong> necessárioencaminhar o paciente para serviços especializa<strong>do</strong>s.448 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Tegumentar AmericanaLesões mucosas – em todas as formas de acometimento mucoso, a <strong>do</strong>se recomendadaé de 20mg/Sb +5 /kg/dia, durante 30 dias segui<strong>do</strong>s, de preferência em ambiente hospitalar. Senão houver cicatrização completa no perío<strong>do</strong> de três meses (12 sema nas) após o término<strong>do</strong> tratamento, ou se neste mesmo perío<strong>do</strong> houver reati va ção da lesão, o esquema deveráser repeti<strong>do</strong> apenas uma vez. Em caso de não-respos ta, utilizar uma das drogas de segundaescolha.Esquema terapêutico preconiza<strong>do</strong> para as diversas formas clínicas de LTA,segun<strong>do</strong> OMS e Ministério da SaúdeForma clínica Dose Tempo de duraçãoLeishmaniose cutânea10 - 20mg/Sb +5 /kg/dia(recomenda-se 15mg/Sb +5 /kg/dia)20 diasLeishmaniose difusa 20mg/Sb +5 /kg/dia 20 diasLeishmaniose mucosa 20mg/Sb +5 /kg/dia 30 dias6Mo<strong>do</strong> de aplicação – as aplicações devem ser feitas por via parenteral, intramuscularou intravenosa, com repouso após a aplicação.A via intramuscular apresenta grande inconveniente de <strong>do</strong>r local. Sugere-se, então,alternância <strong>do</strong>s locais de aplicação, preferin<strong>do</strong>-se a região glútea.Por via intravenosa, não há necessidade de diluição e a aplicação, com agulha fina(calibre 25x8) ou “scalp”, deve ser LENTA (duração de 5 minutos). Esta é a melhor via, poispermite a aplicação de <strong>do</strong>ses mais adequadas e não tem o inconveniente da <strong>do</strong>r local.Contra-indicação – não deve ser administra<strong>do</strong> em gestantes, cujo tratamento consisteem cuida<strong>do</strong>s locais, observação clínica e sorológica (se possível). Nas formas graves, cutâneasou mucosas, discutir a possibilidade de tratamento a partir <strong>do</strong> sexto mês, com <strong>do</strong>sesde antimônio mais baixas e controle laboratorial.Nos casos em que exista associação com outras <strong>do</strong>enças, tais como tuberculose, malária,esquistossomose, o tratamento das mesmas deve ser efetua<strong>do</strong> primeiramente.Há restrições para o tratamento de pacientes com idade acima de 50 anos, por ta<strong>do</strong>resde cardiopatias, nefropatias, hepatopatias e <strong>do</strong>ença de Chagas. Quan<strong>do</strong> for neces sária aadministração nos pacientes porta<strong>do</strong>res de uma dessas <strong>do</strong>enças, deverá ser feita rigorosaavaliação clínica antes <strong>do</strong> tratamento e reavaliações clínicas periódicas, com acompanhamentoeletrocardiográfico (ECG), duas vezes por semana, e exame bioquímico <strong>do</strong> sanguepara avaliação das funções renal (<strong>do</strong>sagem de uréia e creatinina) e hepática (<strong>do</strong>sa gem dastransaminases, bilirrubinas e fosfatase alcalina) e leucograma. To<strong>do</strong>s esses exames deverãoser realiza<strong>do</strong>s semanalmente, para orientação da conduta quanto à redução da <strong>do</strong>se ou utilizaçãode outra alternativa terapêutica.Efeitos colaterais – podem ocorrer um ou mais efeitos colaterais, na seguinte ordemde frequência: artralgia, mialgia, inapetência, náuseas, vômitos, plenitude gástrica, epigastralgia,pirose, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal, pruri<strong>do</strong>, febre, fraqueza, cefaléia, tontura, palpitação, insônia,nervosismo, choque pirogênico, edema e insuficiência renal aguda (IRA).LSecretaria de Vigilância em Saúde / MS449


Leishmaniose Tegumentar AmericanaEssas queixas são, geralmente, discretas ou moderadas e raramente exigem a suspensão<strong>do</strong> tratamento. Porém, nas <strong>do</strong>ses de 20mg/Sb +5 /kg/dia, o antimonial pode atingir o limiarde toxicidade, poden<strong>do</strong> levar a alterações cardíacas ou renais que obriguem a suspensão <strong>do</strong>tratamento. Por isso, deve-se proceder ao acompanhamento eletrocardiográfico prévio esemanal e avaliação da função renal em to<strong>do</strong>s os pacientes, especialmente naqueles acimade 50 anos.Algumas vezes, no início <strong>do</strong> tratamento, há uma exacerbação <strong>do</strong> quadro clínico com oaumento <strong>do</strong> infiltra<strong>do</strong>, eritema das lesões, aumento da secreção nasal e faríngea. Presume-seque isto decorra de uma resposta aos antígenos libera<strong>do</strong>s com a morte <strong>do</strong> parasita (reação<strong>do</strong> tipo Jarich-Herxheimer). Este quadro pode ocorrer com qualquer tratamento específico.Em casos de lesões de laringe e faringe, podem ocorrer edema e insuficiência respiratóriaaguda. Assim, é aconselhável que a medicação seja administrada por equipe especializada,em paciente hospitaliza<strong>do</strong>, e com possibilidade de realizar traqueostomia de urgência. Oscorticosteróides por via sistêmica podem ser utiliza<strong>do</strong>s nos quadros de hipersensibilidade.Recomendações – é recomendável a abstinência de bebidas alcoólicas durante o perío<strong>do</strong>de tratamento, devi<strong>do</strong> às alterações hepáticas. Também é recomendável o repousofísico durante o tratamento.Todas as reações adversas graves ou potencialmente graves abaixo descritas, devemser noti ficadas às autoridades sanitárias:❯ arritmias cardíacas e/ou outras manifestações de cardiotoxicidade;❯ insuficiência renal aguda ou elevação <strong>do</strong>s níveis séricos de uréia e creatinina e/ououtras manifestações de nefrotoxicidade;❯ icterícia e/ou elevação de enzimas hepáticas e/ou outras manifestações de hepatotoxicidade;❯ pancreatite aguda e/ou hiperamilasemia;❯ outras não citadas acima e que não tenham si<strong>do</strong> descritas anteriormente.Não há nenhum impedimento de que se notifiquem casos que não se encaixem naclassificação acima, apenas não é imperativo que tais notificações sejam feitas. Nadúvida, notifique.Tratamento para crianças – emprega-se o mesmo esquema terapêutico utiliza<strong>do</strong> parao tratamento de pacientes adultos.A via de administração (intramuscular ou intravenosa) deve ser decidida de acor<strong>do</strong>com a apresentação clínica, o esta<strong>do</strong> geral das crianças e as condições operacionais <strong>do</strong>sserviços.Anfotericina BÉ a droga de segunda escolha, empregada quan<strong>do</strong> não se obtém resposta ao tratamentocom antimonial ou na impossibilidade de seu uso. A anfotericina B é também a droga deescolha para o tratamento de pacientes grávidas.450 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Tegumentar AmericanaÉ importante esclarecer que a medicação deve ser feita sob vigilância, em serviçosespecializa<strong>do</strong>s, com o paciente hospitaliza<strong>do</strong>.Dose – 1mg/kg/dia em dias alterna<strong>do</strong>s, sem contu<strong>do</strong> ultrapassar a <strong>do</strong>se total de 50mgem cada aplicação. Deve ser administrada até atingir as seguintes <strong>do</strong>ses totais:❯ na forma cutânea: 1 a 1,5g;❯ na forma mucosa: 2,5 a 3g.Se necessário, esta <strong>do</strong>se total poderá ser elevada, desde que o paciente esteja sob vigilânciaclínica rigorosa, acompanhada das provas laboratoriais (uréia, creatinina e potássio)que permitam avaliar, principalmente, a função renal. O exame ECG também deverá serrealiza<strong>do</strong>.Realizar avaliação clínica e laboratorial e ECG ao iniciar o tratamento, com examesbioquímicos <strong>do</strong> sangue para avaliação das funções renal (uréia e creatinina) e hepática (<strong>do</strong>sagemde bilirrubinas, transaminases e fosfatase alcalina) e hemograma, seguin<strong>do</strong>-se reavaliaçõessemanais durante o tratamento.Em i<strong>do</strong>sos, a reavaliação da função renal e cardíaca deve ser feita duas vezes por semana.Mo<strong>do</strong> de aplicação – deve ser administrada por via intravenosa, gota a gota, lentamente(4 horas de infusão), utilizan<strong>do</strong>-se equipo em “Y”, onde a anfotericina B é diluída em250ml de soro glicosa<strong>do</strong> a 5%, alternan<strong>do</strong> sua administração com 250ml de soro glicosa<strong>do</strong>a 5% conten<strong>do</strong> 50 a 100mg de hidrocortisona, para a prevenção de efeitos colaterais. Aplicaseem dias alterna<strong>do</strong>s.Contra-indicação – é contra-indicada a administração da anfotericina B em cardiopatas,nefropatas e hepatopatas.Efeitos colaterais – são de ocorrência muito freqüente: febre, anorexia, náuseas, vômitose flebite, que podem ser atenua<strong>do</strong>s ou evita<strong>do</strong>s usan<strong>do</strong>-se antipiréticos, antieméticosou 50 a 100mg de hidrocortisona, acrescenta<strong>do</strong>s ao soro. A presença <strong>do</strong>s sintomas descritosnão contra-indica a administração <strong>do</strong> medicamento.Outros efeitos colaterais importantes que geralmente surgem no decorrer <strong>do</strong> tratamentosão hipopotassemia, insuficiência renal, anemia, leucopenia e alterações cardíacas.Recomendações – ratifica-se a necessidade de se fazer monitoramento laboratorialsemanal cardíaco (ECG), hepático (AST/ALT/FA) e renal (uréia/creatinina). Deve-se aindaproceder à <strong>do</strong>sagem de K+ sérico, fazen<strong>do</strong> a reposição via oral quan<strong>do</strong> indicada.6LIsotionato de pentamidinaÉ usada como medicamento alternativo, nos casos que não respondem aos antimoniaispentavalentes ou na impossibilidade de seu uso. Tem-se obti<strong>do</strong> bons resulta<strong>do</strong>s, combaixas <strong>do</strong>ses, na LTA causada pela L.(V.) guyanensis.Dose e mo<strong>do</strong> de aplicação – classicamente, a <strong>do</strong>se recomendada é de 4mg/kg/dia, porvia intramuscular profunda, de 2 em 2 dias, recomendan<strong>do</strong>-se não ultrapassar a <strong>do</strong>se totalde 2g. Após 1g de aplicação o paciente deve ser monitora<strong>do</strong> com rigorosidade, destacan<strong>do</strong>a necessidade de realizar exame de glicose (glicemia) semanalmente.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS451


Leishmaniose Tegumentar AmericanaDevi<strong>do</strong> ao medicamento ter ação no metabolismo da glicose, pode haver hipoglicemiaseguida de hiperglicemia, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu uso. O paciente deve ser orienta<strong>do</strong> a alimentar-seanteriormente e permanecer em repouso quinze minutos antes e após as injeções.Apresentação comercial – sob a forma de <strong>do</strong>is sais (isotionato de pentamidina e mesilatode pentamidina). No Brasil é comercializa<strong>do</strong> apenas o isotionato de penta midina, quese apresenta em frasco-ampola conten<strong>do</strong> 300mg/sal. O mesmo deve ser diluí<strong>do</strong> em 3ml deágua destilada para uso clínico em aplicações intramusculares profundas.Efeitos colaterais – as reações adversas mais freqüentes são <strong>do</strong>r, induração e abscessosestéreis no local da aplicação, além de náuseas, vômitos, tontura, adinamia, mialgias,cefaléia, hipotensão, lipotimias, síncope, hipoglicemia e hiperglicemia. O diabetes mellituspode se manifestar a partir da administração da <strong>do</strong>se total de 1g. O efeito diabetogênicopode ser cumulativo e <strong>do</strong>se-dependente.Recomendações – recomenda-se o acompanhamento clínico e a reavaliação de examebioquímico <strong>do</strong> sangue para avaliação das funções renal (<strong>do</strong>sagem de uréia e creatinina) ehepática (<strong>do</strong>sagem das transaminases, bilirrubinas e fosfatase alca lina), periodicamente, nocurso <strong>do</strong> tratamento, bem como <strong>do</strong>sagem da glicemia e acompanhamento eletrocardiográficoantes, durante e no final <strong>do</strong> tratamento. A glicemia deve ser acompanhada mensalmentedurante um perío<strong>do</strong> de seis meses, quan<strong>do</strong> ultrapassar a <strong>do</strong>se total de 1g.Contra-indicações – para gestantes, porta<strong>do</strong>res de diabetes, insuficiência renal, insuficiênciahepática, <strong>do</strong>enças cardíacas e em crianças com peso inferior a 8kg.Critérios de curaO critério de cura é clínico e recomenda-se fazer o acompanhamento mensal nos trêsprimeiros meses e, quan<strong>do</strong> cura<strong>do</strong> o paciente, bimensalmente, até completar 12 meses apóso término <strong>do</strong> tratamento.Forma cutânea – defini<strong>do</strong> pelo aspecto clínico das lesões: reepitelização das lesõesulceradas ou não, regressão total da infiltração e eritema, até 3 meses após a conclusão <strong>do</strong>esquema terapêutico.Forma mucosa – é também clínico, defini<strong>do</strong> pela regressão de to<strong>do</strong>s os sinais e comprova<strong>do</strong>pelo exame otorrinolaringológico, até 6 meses após a conclusão <strong>do</strong> esquema terapêutico.Na ausência <strong>do</strong> especialista, o clínico deve ser treina<strong>do</strong> para realizar, pelo menos,rinoscopia anterior. Nos locais onde não há clínico, o paciente deve ser encaminha<strong>do</strong> paraserviço de referência, para avaliação de cura.Acompanhamento regular – o paciente deve retornar mensalmente à consulta, durantetrês meses consecutivos após o término <strong>do</strong> esquema terapêutico, para ser avaliadaa cura clínica. Uma vez cura<strong>do</strong>, o mesmo deverá ser acompanha<strong>do</strong> de 2 em 2 meses atécompletar 12 meses após o tratamento.Situações que podem ser observadas• Tratamento regular da forma cutânea – defini<strong>do</strong> como aquele caso que utilizou 10a 20mg Sb +5 /kg/dia entre 20 a 30 dias, não ocorren<strong>do</strong> intervalo superior a 72 horasentre as <strong>do</strong>ses.452 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Tegumentar Americana• Tratamento regular da forma mucosa – caso que utilizou 20mg Sb +5 /kg/dia entre30 a 40 dias, não ocorren<strong>do</strong> intervalo superior a 72 horas entre as <strong>do</strong>ses.• Tratamento irregular da forma cutânea e mucosa – caso que ultrapassou o tempoprevisto para um tratamento regular ou que tenha ocorri<strong>do</strong> um intervalo superior a72 horas entre as <strong>do</strong>ses.• Falha terapêutica – caso que, mesmo ten<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> <strong>do</strong>is esquemas terapêuticosregulares, não apresentou remissão clínica.• Recidiva – reaparecimento de lesão no perío<strong>do</strong> inferior a um ano, após a cura clínica.• Aban<strong>do</strong>no – caso que não ten<strong>do</strong> recebi<strong>do</strong> alta não compareceu até 30 dias após oterceiro agendamento para avaliação da cura. O terceiro agendamento se refe re ao3º mês após o término <strong>do</strong> esquema terapêutico, perío<strong>do</strong> destina<strong>do</strong> ao acompanhamento<strong>do</strong> caso e à avaliação de cura.Condutas frente às situações que podem ser observadas• Tratamento regular – paciente que retornar mensalmente à consulta, durante trêsmeses após o término <strong>do</strong> esquema terapêutico, para ser avalia<strong>do</strong>. Poderá receber altano transcorrer deste perío<strong>do</strong> ou reiniciar o tratamento, durante ou ao final <strong>do</strong>s trêsmeses de observação.• Tratamento irregular – quan<strong>do</strong> o paciente utilizou mais de 50% das <strong>do</strong>ses preconizadas,observa-se as seguintes condutas:❯ cura clínica: alta;❯ melhora clínica: observação por até 3 meses, quan<strong>do</strong> será reavalia<strong>do</strong> paraalta; ou ao final deste perío<strong>do</strong>, persistin<strong>do</strong> os sinais clínicos, dar início anovo esquema terapêutico completo;❯ sem melhora clínica: reiniciar de imediato o esquema terapêutico;❯ caso o paciente tenha utiliza<strong>do</strong> menos de 50% das <strong>do</strong>ses prescritas, iniciarde imediato o esquema terapêutico completo, a não ser que se apresenteclinicamente cura<strong>do</strong>.• Aban<strong>do</strong>no – início <strong>do</strong> esquema terapêutico com antimonial pentavalente, a não serque se apresente clinicamente cura<strong>do</strong>.6LLeishmaniose tegumentar e HIV/AidsAs leishmanioses podem modificar a progressão da <strong>do</strong>ença pelo HIV e a imunodepressãocausada por este vírus facilita a progressão das leishmanioses.A avaliação <strong>do</strong> conjunto de manifestações clínicas das leishmanioses em pacientesporta<strong>do</strong>res de HIV indica não existir definição de um perfil clínico que possa ser indiscutivelmenteassocia<strong>do</strong> à co-infecção.Chamam a atenção os relatos de disseminação da <strong>do</strong>ença cutânea com envolvimentode órgãos raramente acometi<strong>do</strong>s em indivíduos imunocompetentes, em um processo conheci<strong>do</strong>como visceralização da leishmaniose tegumentar.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS453


Leishmaniose Tegumentar AmericanaQuadro 1. Condições em que deve ser oferecida a sorologia para o HIV em porta<strong>do</strong>resde leishmaniose tegumentarQualquer forma clínica sem exposição recente (durante o último ano) a uma área de transmissão de LTAForma disseminada com ou sem acometimento mucoso concomitanteForma mucosa com acometimento fora da cavidade nasalForma cutânea ou mucosa com acha<strong>do</strong> de parasitas em víscerasForma difusaQualquer forma clínica associada à reação de Montenegro negativaAcha<strong>do</strong> de amastigotas no exame direto de material obti<strong>do</strong> de lesões mucosasIsolamento em material de pele ou mucosas de espécies de leishmanias viscerotrópicasLeishmania (Leishmania) chagasi ou não descritas como causa<strong>do</strong>ras de lesões tegumentaresFalha terapêutica após o uso de antimonial pentavalente 1Recidiva tardia (mais de 6 meses após a cura clínica)Lesões cutâneas que aparecem após o diagnóstico de lesão mucosa em atividade1Ausência de cura clínica após duas tentativas de tratamento com antimoniato de meglumina (10 a 20mgSbV kg/dia por 20 a 30 dias), com perío<strong>do</strong> de observação de três meses após cada série de tratamento.Quadro 2. Condição em que porta<strong>do</strong>res de HIV/aids devem ser investiga<strong>do</strong>s paraleishmaniose tegumentarQualquer tipo de lesão cutânea ou mucosa de mais de duas semanas de evolução em pacientes expostos àárea de transmissão de leishmaniose tegumentar em qualquer época da vida. 11Deve ser considera<strong>do</strong> como área de transmissão, para fins de avaliação da exposição de risco, qualquermunicípio que tenha notifica<strong>do</strong> pelo menos um caso autóctone de leishmaniose tegumentar durante operío<strong>do</strong> em que o paciente esteve exposto.Aspectos terapêuticos e evolução – o critério de escolha das drogas utilizadas para aterapêutica das leishmanioses em pacientes porta<strong>do</strong>res de HIV não difere <strong>do</strong> preconiza<strong>do</strong>para os pacientes imunocompetentes. Consideran<strong>do</strong> que os pacientes com LTA co-infecta<strong>do</strong>scom o HIV são indivíduos que podem apresentar outras <strong>do</strong>enças oportunistas queos debilitam, a sua vulnerabilidade às reações adversas ao tratamento pode ser maior peloque se recomenda extremo cuida<strong>do</strong> no monitoramento adequa<strong>do</strong> da toxicidade medicamentosa.Um <strong>do</strong>s aspectos mais marcantes na evolução da leishmaniose, na presença deinfecção por HIV, é a tendência a recidivas. Por isso, o paciente deverá ser acompanha<strong>do</strong>mensalmente por 6 meses e, uma vez cura<strong>do</strong>, bimensalmente, até completar 12 meses apóso término <strong>do</strong> tratamento.454 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Tegumentar AmericanaAspectos epidemiológicosA leishmaniose tegumentar americana (LTA) apresenta-se em expansão geográfica.Nas últimas décadas, as análises de estu<strong>do</strong>s epidemiológicos da LTA têm sugeri<strong>do</strong> mudançasem seu comportamento epidemiológico. Inicialmente considerada zoonose de animaissilvestres que acometia ocasionalmente pessoas em contato com florestas, a LTA começa aocorrer em zonas rurais já praticamente desmatadas e em regiões periurbanas. Observasea coexistência de um duplo perfil epidemiológico, expresso pela manutenção de casosoriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s focos antigos ou de áreas próximas a eles, e pelo aparecimento de surtos epidêmicosassocia<strong>do</strong>s a fatores decorrentes <strong>do</strong> surgimento de atividades econômicas comogarimpos, expansão de fronteiras agrícolas e extrativismo, em condições ambientais altamentefavoráveis à transmissão da <strong>do</strong>ença.No perío<strong>do</strong> de 1985 a 2003, a LTA no Brasil vem apresentan<strong>do</strong> coeficientes de detecçãoque oscilam entre 10,45 a 21,23 por 100 mil habitantes. Ao longo desse perío<strong>do</strong>, observousetendência ao crescimento da endemia, registran<strong>do</strong>-se os coeficientes mais eleva<strong>do</strong>s nosanos de 1994 e 1995, quan<strong>do</strong> atingiram níveis de 22,83 e 22,94 por 100 mil habitantes, respectivamente.O ano de 1998 apresentou queda significativa neste coeficiente (13,47 por 100mil habitantes), fato que pode estar relaciona<strong>do</strong> a problemas operacionais naquele ano.Ao analisar a evolução da LTA nesse perío<strong>do</strong>, observa-se uma expansão geográfica,sen<strong>do</strong> que no início da década de 1980 foram registra<strong>do</strong>s casos autóctones em 19 unidadesfederadas. Nos últimos anos, to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s registraram autoctonia da <strong>do</strong>ença. A regiãoNordeste vem contribuin<strong>do</strong> com o maior número de casos (cerca de 37,2% <strong>do</strong> total registra<strong>do</strong>no perío<strong>do</strong>) e a região Norte com os coeficientes mais eleva<strong>do</strong>s (93,84 por 100 milhabitantes), seguidas pelas regiões Centro-Oeste (42,70 por 100 mil habitantes) e Nordeste(26,50 por 100 mil habitantes).A distribuição das densidades médias de casos de LTA por município, para os perío<strong>do</strong>sde 2000-2002, permitiu a identificação de regiões de influência da LTA, caracterizan<strong>do</strong>os circuitos de produção da <strong>do</strong>ença no país (Figura 1).6LSecretaria de Vigilância em Saúde / MS455


Leishmaniose Tegumentar AmericanaFigura 1. Circuitos de produção de casos de LTA (2000-2002) e casos de LTA pormunicípios. Brasil, 2003Fonte: Fiocruz/Ensp/Desp, SVS/MSCircuitos de LTA, 2000-2002Casos de LTA – 2003 (1 ponto = 5 casos)Vigilância epidemiológicaObjetivos• Diagnosticar e tratar precocemente os casos, com vistas a reduzir as deformidadesprovocadas pela <strong>do</strong>ença.• Em áreas de transmissão <strong>do</strong>miciliar, reduzir a incidência da <strong>do</strong>ença a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> medidasde controle pertinentes, após investigação <strong>do</strong>s casos.Definição de casoSuspeitoLeishmaniose cutânea – to<strong>do</strong> indivíduo com presença de úlcera cutânea, com fun<strong>do</strong>granuloso e bordas infiltradas em moldura.Leishmaniose mucosa – to<strong>do</strong> indivíduo com presença de úlcera na mucosa nasal, comperfuração ou perda <strong>do</strong> septo nasal, poden<strong>do</strong> atingir lábios e boca (palato e nasofaringe).456 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Tegumentar AmericanaConfirma<strong>do</strong>Critério clínico-laboratorial de leishmaniose cutânea e/ou mucosa – a confirmação<strong>do</strong>s casos clinicamente suspeitos deverá preencher, no mínimo, um <strong>do</strong>s seguintes critérios:• residência, procedência ou deslocamento em/para área com confirmação de transmissãoe encontro <strong>do</strong> parasito nos exames parasitológicos diretos e/ou indireto;• residência, procedência ou deslocamento em/para área com confirmação de transmissãoe intradermorreação de Montenegro (IRM) positiva;• residência, procedência ou deslocamento em/para área com confirmação de transmissãocom outros méto<strong>do</strong>s de diagnóstico positivo.Critério clínico-epidemiológico de leishmaniose cutânea e/ou mucosa – to<strong>do</strong> casocom suspeita clínica, sem acesso a méto<strong>do</strong>s de diagnóstico laboratorial e com residência,procedência ou deslocamento em área com confirmação de transmissão. Nas formas mucosas,considerar a presença de cicatrizes cutâneas como critério complementar para confirmação<strong>do</strong> diagnóstico.6Descarta<strong>do</strong>Caso suspeito com diagnóstico laboratorial negativo ou caso suspeito com diagnósticoconfirma<strong>do</strong> de outra <strong>do</strong>ença.Casos autóctones – são os casos confirma<strong>do</strong>s de LTA com provável infecção no localde residência.NotificaçãoÉ <strong>do</strong>ença de notificação compulsória; portanto, to<strong>do</strong> caso confirma<strong>do</strong> deve ser notifica<strong>do</strong>pelos serviços públicos, priva<strong>do</strong>s e filantrópicos, utilizan<strong>do</strong> a ficha de investigaçãoepidemiológica padronizada no Sinan.LPrimeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência ao pacienteTo<strong>do</strong> caso suspeito deve ser submeti<strong>do</strong> às investigações clínica e epidemiológica e aosméto<strong>do</strong>s auxiliares de diagnóstico. Caso seja confirma<strong>do</strong>, inicia-se o tratamento segun<strong>do</strong>normas técnicas e acompanha-se mensalmente (para avaliação da cura clínica) pelos trêsprimeiros meses e, uma vez cura<strong>do</strong>, bimensalmente, até completar 12 meses após o término<strong>do</strong> tratamento.InvestigaçãoApós a detecção de casos de LTA, a investigação epidemiológica faz-se necessária paraidentificar:• se a área é endêmica ou se é um novo foco;• se o caso é autóctone ou importa<strong>do</strong> (no segun<strong>do</strong>, informar ao serviço de saúde <strong>do</strong>local de origem);Secretaria de Vigilância em Saúde / MS457


Leishmaniose Tegumentar Americana• as características <strong>do</strong> caso (forma clínica, idade e sexo);• novos casos e caracterizá-los clínica e laboratorialmente.O instrumento de coleta de da<strong>do</strong>s e a ficha epidemiológica <strong>do</strong> Sinan, contém os elementosessenciais a serem coleta<strong>do</strong>s em uma investigação de rotina. To<strong>do</strong>s os seus camposdevem ser criteriosamente preenchi<strong>do</strong>s, mesmo quan<strong>do</strong> a informação for negativa (9- ignora<strong>do</strong>).Outros itens e observações podem ser incluí<strong>do</strong>s conforme as necessidades e peculiaridadesde cada situação.Roteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação epidemiológica <strong>do</strong> Sinan, relativosaos da<strong>do</strong>s gerais, notificação individual e da<strong>do</strong>s de residência.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPreencher os campos da ficha de investigação epidemiológica <strong>do</strong> Sinan rela tivos aosantecedentes epidemiológicos, da<strong>do</strong>s clínicos, laboratoriais e tratamento. Os da<strong>do</strong>s entomológicosdeverão ser preenchi<strong>do</strong>s após estu<strong>do</strong> na provável área de transmissão.• Para identificação da área de transmissão❯ Verificar se o local de residência corresponde a uma área de provável transmissãoda leishmaniose.❯ Investigar se houve deslocamento <strong>do</strong> caso, para áreas endêmicas, no perío<strong>do</strong> de 6meses anterior ao início <strong>do</strong>s sintomas.❯ Levantar se há conhecimento de outras pessoas com as mesmas manifestaçõesclínicas no local onde reside, no trabalho e outros.Estes procedimentos devem ser feitos mediante entrevista com o paciente, familiaresou responsáveis. Tais da<strong>do</strong>s, que serão anota<strong>do</strong>s na ficha de investigação, permitirão identificaro provável local de transmissão da leishmaniose.A detecção de casos de LTA pode ocorrer por meio de:❯ busca ativa de casos na área de foco;❯ visitas <strong>do</strong>miciliares <strong>do</strong>s profissionais <strong>do</strong> Pacs e PSF;❯ demanda espontânea à unidade de saúde;❯ encaminhamento de suspeitos.Quan<strong>do</strong> o paciente residir em área reconhecidamente endêmica, a caracterização <strong>do</strong>local de transmissão é facilitada. Entretanto, a história <strong>do</strong>s deslocamentos <strong>do</strong> paciente permitirádefinir os locais prováveis de infecção. Se o local provável de transmissão é o intra ouperi<strong>do</strong>micílio, é recomenda<strong>do</strong> solicitar a realização de estu<strong>do</strong> entomológico (captura e identificaçãode flebotomíneos) para ajudar na investigação e a<strong>do</strong>ção de medidas de controle.458 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Tegumentar AmericanaLembrar que a identificação da área onde se deu a transmissão é de fundamental importânciapara o processo de investigação e as medidas de controle, se indicadas.Encerramento de casoA ficha epidemiológica de cada caso deve ser analisada visan<strong>do</strong> definir qual o critérioutiliza<strong>do</strong> para o diagnóstico, consideran<strong>do</strong> as seguintes alternativas:Confirma<strong>do</strong> por critério clínico-laboratorial – encontro <strong>do</strong> parasito nos exames parasitológicosdiretos e/ou indiretos ou intradermorreação de Montenegro positiva ou outrosméto<strong>do</strong>s diagnósticos positivo.Confirma<strong>do</strong> por critério clínico-epidemiológico – verificar se a suspeita clínicaestá associada à residência, procedência ou ao deslocamento em área com confirmação detransmissão.6Evolução <strong>do</strong> casoPara a vigilância da leishmaniose tegumentar americana é de extrema importânciatratar e acompanhar os casos confirma<strong>do</strong>s e conhecer a evolução clínica <strong>do</strong>s mesmos, conformenormas técnicas, visan<strong>do</strong> reduzir a forma grave da <strong>do</strong>ença (forma mucosa) e evitardeformidades.Análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sA análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da investigação deve permitir a avaliação da magnitude, transcendênciae vulnerabilidade <strong>do</strong> problema e da indicação e/ou adequação das medidas decontrole, para reduzir o número de casos em áreas com transmissão <strong>do</strong>miciliar.Estes da<strong>do</strong>s são indispensáveis para a construção <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res necessários à análiseepidemiológica da <strong>do</strong>ença e ao acompanhamento e avaliação operacional das atividades decontrole, em cada nível de atuação.LDivulgação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sApós análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, os mesmos deverão ser amplamente divulga<strong>do</strong>s.Instrumentos disponíveis para controleAtuação na cadeia de transmissãoA diversidade de agentes, reservatórios, vetores e situações epidemiológicas, aliada aoconhecimento ainda insuficiente sobre vários desses aspectos, torna complexo o controledesta <strong>do</strong>ença.O propósito das medidas de prevenção é a redução <strong>do</strong> contato homem-vetor, atravésde medidas de proteção individual, controle de reservatórios e aplicação <strong>do</strong> inseticida,quan<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>s.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS459


Leishmaniose Tegumentar AmericanaEm virtude das características epidemiológicas peculiares da LTA, as estratégias decontrole devem ser flexíveis e distintas, adequadas a cada região ou foco particular.Para a seleção de estratégias, adequadas a cada região geográfica, deverá ser consideradaa análise epidemiológica <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s referentes a:• registro <strong>do</strong>s casos humanos quanto à forma clínica, sexo, idade e procedência;• estu<strong>do</strong>s entomológicos para definir as espécies vetoriais, sua dispersão, graus de antropofiliae exotilia, infecção natural;• estu<strong>do</strong>s parasitológicos para definir a espécie <strong>do</strong> agente etiológico circulante no foco;• estu<strong>do</strong>s ecológicos para determinação <strong>do</strong>s reservatórios animais envolvi<strong>do</strong>s; e• caracterização de um surto epidêmico.Proteção individualMeios mecânicos, através <strong>do</strong> uso de mosquiteiros simples ou impregna<strong>do</strong>s com deltametrina(em fase de experiência), telas finas em portas e janelas, uso de repelentes, usode camisas de manga comprida, calças compridas, meias e sapatos (de difícil aplicação nasregiões de clima quente e úmi<strong>do</strong>).Em áreas de risco para assentamento de populações humanas, tem si<strong>do</strong> sugerida umafaixa de segurança de 200 a 300 metros entre as residências e a floresta. Entretanto, umafaixa deste tipo teria que ser muito bem planejada para evitar erosão e outros problemasdecorrentes <strong>do</strong> desequilíbrio ambiental, no caso de desmatamento.Controle de reservatóriosEm pesquisas, a realização de inquéritos é necessária para melhor evidenciação <strong>do</strong>papel <strong>do</strong>s reservatórios no ambiente peri e intra<strong>do</strong>miciliar. Não se considera, atualmente, apossibilidade de controle <strong>do</strong>s reservatórios silvestres.A identificação de lesões nos prováveis reservatórios, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong>mésticos (cães e eqüídeos),demanda a realização de exames. Caso positivo, quan<strong>do</strong> autoriza<strong>do</strong> pelo proprietário,realizar a eutanásia <strong>do</strong> animal após avaliação.Vale destacar que não é recomendada como rotina a realização de inquéritos sorológicoscaninos em áreas com transmissão de LTA. É importante lembrar que a eutanásia emcães e eqüinos só é indicada em situações em que estes animais apresentem exames sorológicospositivos com presença de lesão cutânea e com autorização <strong>do</strong> seu proprietário.A geração, acondicionamento e destino inadequa<strong>do</strong> <strong>do</strong> lixo orgânico pela populaçãofavorecem a proliferação de reservatórios silvestres importantes (marsupiais e roe<strong>do</strong>res) daLTA. O lixo, portanto, deve ter destino adequa<strong>do</strong> para evitar a atração <strong>do</strong>s mesmos.Controle vetorialO emprego de inseticidas contra os flebótomos é factível em situações de transmissãoperi<strong>do</strong>miciliar, <strong>do</strong>miciliar (caracterizada pela notificação de um ou mais casos autóctonesde LTA em menores de dez anos, residentes em áreas urbanas ou periurbanas). Ressalte-seque a investigação epidemiológica <strong>do</strong> caso e a pesquisa entomológica indicarão o seu uso.Nas áreas florestais, este méto<strong>do</strong> é impraticável.460 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Tegumentar AmericanaA aplicação <strong>do</strong> inseticida, quan<strong>do</strong> indicada pela vigilância entomológica, deve ser realizadacom ação residual, sobre a superfície de paredes <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio e anexos <strong>do</strong>miciliares(abrigo de animais <strong>do</strong>mésticos, paióis, etc.). A aplicação espacial de inseticida não apresentarelação custo/benefício satisfatória, motivo pelo qual não é indicada.A escolha <strong>do</strong> grupo de inseticidas que pode ser usa<strong>do</strong> para tratamento residual deveobedecer a seguinte ordem de preferência: piretróides, carbamatos e organofosfora<strong>do</strong>s.A formulação <strong>do</strong> inseticida a ser utiliza<strong>do</strong> e a época mais adequada para sua aplicaçãodeverão ser orientadas pelos estu<strong>do</strong>s entomológicos sugeri<strong>do</strong>s anteriormente, consideran<strong>do</strong>,ainda, fatores biológicos, ambientais e climáticos.Não é indica<strong>do</strong> o uso indiscrimina<strong>do</strong> de controle químico. O serviço de ento mologiaé quem deverá indicar o seu uso, após estu<strong>do</strong> e confirmação de transmissão de LTAno peri e/ou intra<strong>do</strong>micílio.6As normas de biossegurança, bem como as de proteção individual, como uso de máscaras,luvas e roupas especiais, devem ser rigorosamente observadas quan<strong>do</strong> da utili zaçãode inseticidas.Medidas educativasAs atividades de educação em saúde devem estar inseridas em to<strong>do</strong>s os serviços quedesenvolvem ações de controle da LTA, requeren<strong>do</strong> o envolvimento efetivo das equipesmultiprofissionais e multiinstitucionais, com vistas ao trabalho articula<strong>do</strong> nas diferentesunidades de prestação de serviços através de:• capacitação das equipes, engloban<strong>do</strong> conhecimento técnico, aspectos psicológicos eprática profissional em relação à <strong>do</strong>ença e aos <strong>do</strong>entes;• a<strong>do</strong>ção de medidas preventivas, consideran<strong>do</strong> o conhecimento da <strong>do</strong>ença, atitudese práticas da população (clientela), relacionadas às condições de vida e trabalho daspessoas;• estabelecimento de relação dinâmica entre o conhecimento <strong>do</strong> profissional e a vivência<strong>do</strong>s diferentes estratos sociais, através da compreensão global <strong>do</strong> processosaúde/<strong>do</strong>ença, no qual intervêm fatores sociais, econômicos, políticos e culturais.LSecretaria de Vigilância em Saúde / MS461


Leishmaniose Tegumentar AmericanaInvestigação epidemiológica da leishmaniose tegumentar americanaCaso(s) suspeito(s) de leishmaniose cutâneaAtenção médica/da<strong>do</strong>s clínicosColeta de da<strong>do</strong>s clínicose epidemiológicos <strong>do</strong> pacienteInvestigaçãoExame laboratorialCaso confirma<strong>do</strong>Diagnóstico parasitológicoEsfregaço da lesãoAplicação da IRMIdentificar localprovável de infecçãoNegativo Positivo Positivo NegativoFoco antigoFoco novoAvaliar: clínica,epidemiologia e IRMNotificarAvaliação da clínicae epidemiologiaDescartar o casoTransmissão emárea silvestreProvável transmissão noperi e/ou intra<strong>do</strong>micílioIncompatívelCompatívelTratar Compatível IncompatívelInvestigaroutros agravosEducação em saúde Busca ativa de casosPesquisaentomológicaDescartar o casoInvestigaroutros agravosRegressão ereepitelização da lesãoAcompanhar – 1 a 3 mesesReativação ou nãofechamento da lesãoMedidasde proteçãoindividualMedidasde proteçãocoletivaCasos suspeitos PositivaEncaminharpara unidadede saúdepresença <strong>do</strong>vetor no perie/ou intra<strong>do</strong>micílioNegativaausência <strong>do</strong>vetor no perie/ou intra<strong>do</strong>micílioCura clínicaFazer 2º esquemaControlevetorialControle dereservatórioEncerrar o casoReativação ou nãofechamento da lesãoEncaminhar paracentro de referênciaAvaliar e se necessárioiniciar droga de 2ª escolha462 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Tegumentar AmericanaAnexo 1Leishmaniose tegumentar americana no Brasil – classificaçãoclínica e respectivos agentes etiológicos segun<strong>do</strong> Marzochi, M.Leishmaniose tegumentar americanaLeishmaniose cutâneaLeishmaniose mucosa(1) Forma cutânea única(2) Forma cutânea múltipla(3) Forma cutânea disseminada(4) Forma recidiva cútis(5) Forma cutânea difusa(6) Forma mucosa tardia(7) Forma mucosa concomitante(8) Forma mucosa contígua(9) Forma mucosa primária(10) Forma mucosa indeterminada6Leishmania braziliensis(1, 2, 3, 4)Leishmania amazonensis(1, 2, 3, 4, 5)Leishmania guyanensis(1, 2, 3)Leishmania braziliensis(6, 7, 8, 9, 10,)Leishmania amazonensis(8)Leishmania guyanensis(8)LSecretaria de Vigilância em Saúde / MS463


Leishmaniose Tegumentar AmericanaAnexo 2Normas para procedimentos laboratoriaisO diagnóstico laboratorial <strong>do</strong> paciente com suspeita de leishmaniose tegumentar americanaé da maior importância pois esta é uma <strong>do</strong>ença que tem diagnóstico diferencial comnumerosas outras dermatoses e o medicamento disponível para seu tratamento pode causarsérios efeitos colaterais. Embora a confirmação laboratorial seja imprescindível para o paciente,em determinadas áreas pode se proceder a confirmação pelo critério clínico-epidemiológico,de acor<strong>do</strong> com as orientações <strong>do</strong> tópico Definição de caso. A seguir, descrevem-seos exames laboratoriais disponíveis, sua interpretação e as normas de coleta <strong>do</strong>s espécimes.Destaca-se que o diagnóstico laboratorial baseia-se na evidenciação <strong>do</strong> parasito e emprovas imunológicas. O material pode ser a pele, mucosa ou linfono<strong>do</strong>s acometi<strong>do</strong>s.1. Exame parasitológicoA evidenciação <strong>do</strong> parasito é feita através de exames direto e indireto. Para a pesquisadireta, são utiliza<strong>do</strong>s os seguintes procedimentos: escarificação, biópsia com impressão poraposição e punção aspirativa. O exame parasitológico direto é o procedimento de primeiraescolha, por ser mais rápi<strong>do</strong>, de menor custo e fácil execução.O sucesso no acha<strong>do</strong> <strong>do</strong> parasito é inversamente proporcional ao tempo de evoluçãoda lesão cutânea, sen<strong>do</strong> rara após um ano. Lesões muito contaminadas também contribuempara diminuir a sensibilidade <strong>do</strong> méto<strong>do</strong>. Recomenda-se a coleta <strong>do</strong> material após assepsialocal com água e sabão e, se possível, com água destilada ou soro fisiológico.Escarificação – Pode ser realizada na borda da lesão ulcerada mais recente, sem secreçãopurulenta, ou na superfície da lesão não-ulcerada utilizan<strong>do</strong>-se um estilete descartável,lâmina de bisturi estéril ou palito de madeira, com extremidade em bisel, previamente esteriliza<strong>do</strong>.Com o material coleta<strong>do</strong>, realiza-se um esfregaço em lâmina. Na medida <strong>do</strong> possível,deve-se coletar material abundante para aumentar a possibilidade de positividade.Impressão por aposição – É realizada através da compressão <strong>do</strong> fragmento de teci<strong>do</strong>,obti<strong>do</strong> por biópsia, sobre uma lâmina microscópica, depois de retirada <strong>do</strong> sangue em umasuperfície absorvente (papel de filtro).Tanto o esfregaço como a impressão devem ser realiza<strong>do</strong>s sobre lâmina de vidro previamentedesengordurada e seca. O material coleta<strong>do</strong> deve ser fixa<strong>do</strong> em metanol, durante3 minutos, e cora<strong>do</strong> pelas técnicas de Giemsa ou Leishman.A punção aspirativa pode ser realizada utilizan<strong>do</strong>-se uma seringa de 5ml e agulha25x8, com 3ml de solução salina estéril. Em centros de referência, este procedimento podeser realiza<strong>do</strong> na investigação de comprometimento linfonodal primário.Histopatologia – A biópsia pode ser feita com “punch” de 4mm de diâmetro, ou emcunha, com o uso de bisturi. Nas lesões ulceradas, deve-se preferir a borda íntegra da lesão464 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Tegumentar Americanaque, em geral, mostra aspecto tumefeito e hiperêmico. O local a ser biopsia<strong>do</strong> deve ser limpocom água e sabão; a seguir, infiltra-se li<strong>do</strong>caína ou xilocaína a 2%, para anestesiar o local.O material retira<strong>do</strong> por biópsia deve ser fixa<strong>do</strong> em formol a 10%, em quantidade, aproximadamente,20 vezes maior que o volume <strong>do</strong> fragmento.Cultivo – é um méto<strong>do</strong> de confirmação etiológica que permite a definição da espéciede Leishmania envolvida.O parasita cresce relativamente bem em meios de cultivo, como o NNN e o LIT entre24°C e 26°C. Após o quinto dia, já podem ser encontradas formas promastigotas <strong>do</strong> parasito,deven<strong>do</strong>-se manter a cultura até um mês.Inoculação em animais de laboratório – o animal de escolha é o hamster (Mesocricetusauratus) e os locais de preferência são as extremidades, principalmente as patasposteriores. O inóculo deve ser obti<strong>do</strong> a partir de suspensão homogeneizada <strong>do</strong> materialde biópsia em solução salina estéril. As lesões no hamster desenvolvem-se tardiamente (apartir de um mês), sen<strong>do</strong> este méto<strong>do</strong> reserva<strong>do</strong> para pesquisas.62. Diagnóstico imunológicoIntradermorreação de Montenegro (IRM) – traduz a resposta de hipersensibilidadecelular retardada. A reação de Montenegro é realizada através da inoculação intradérmicade 0,1ml <strong>do</strong> antígeno padroniza<strong>do</strong> em 40mg N/ml, no antebraço esquer<strong>do</strong>, a mais ou menos2 a 3cm abaixo da <strong>do</strong>bra <strong>do</strong> cotovelo, de mo<strong>do</strong> a formar pequena elevação ou pápula. Aleitura deve ser feita após 48 a 72 horas. A reação é considerada positiva quan<strong>do</strong> a induraçãoresultante for maior ou igual a 5mm. É um teste de grande valor preditivo devi<strong>do</strong> à suasensibilidade, sen<strong>do</strong> positivo em mais de 90% <strong>do</strong>s casos de LTA. Nas áreas onde pre<strong>do</strong>minaa L.(L) amazonensis, a positividade pode ser mais baixa.Pode apresentar-se negativa nos seguintes casos:• nos primeiros 30 dias após o início das lesões, excepcionalmente se prolongan<strong>do</strong>;• nos casos de leishmaniose disseminada, positivan<strong>do</strong>-se no decorrer <strong>do</strong> trata mento;• na leishmaniose cutâneo-difusa;• na leishmaniose visceral;• em pacientes imunodeprimi<strong>do</strong>s.LA reação de Montenegro geralmente permanece positiva após o tratamento ou cicatrizaçãoda lesão cutânea tratada ou curada espontaneamente, negativan<strong>do</strong> nos indi víduosfraco-reatores e nos precocemente trata<strong>do</strong>s. Em áreas endêmicas, deve-se considerar leishmanioseanterior ou exposição ao parasito (infecção) sem <strong>do</strong>ença. Nas lesões mucosas, aresposta cutânea ao teste de Montenegro é mais intensa, poden<strong>do</strong> ocorrer até ulceração enecrose local.Imunofluorescência indireta (IFI) e teste imunoenzimático (Elisa) – os pacientescom LTA geralmente apresentam títulos de anticorpos baixos. Assim, não há indicação paraSecretaria de Vigilância em Saúde / MS465


Leishmaniose Tegumentar Americanautilização <strong>do</strong>s testes que expressam os níveis de anticorpos circulantes na rotina como critériode diagnóstico, pois não representam boa ferramenta para esse fim.As reações sorológicas de imunofluorescência indireta (IFI) e o ensaio imunoenzimático(Elisa) podem ser utiliza<strong>do</strong>s em centros de referência, com fins de pesquisa, e são úteisprincipalmente nos casos com lesões extensas e múltiplas e nas lesões mucosas.Após o tratamento e cura em ambas as formas de <strong>do</strong>ença, os títulos podem cair oudesaparecer em alguns meses.Coleta e conservação de material para diagnóstico laboratorial da leishmaniosetegumentar americanaTipo dediagnósticoTipo dematerialQuantidadePerío<strong>do</strong>da coletaRecipienteArmazenamento/conservaçãoTransporteParasitológicoSecreçãoda lesãoO suficientepara o esfregaçoe para colocar nomeio de culturaNa presença deúlcera cutâneae/ou mucosae/ou quadroclínico suspeito(forma mucosametastásica)Lâminaponta foscaou meio decultura apropria<strong>do</strong>paratransporteTemperaturaambienteou -4ºCPorta-lâminas ouem material quegaranta a integridadeda lâminaGelo secoou reciclávelNitrogênio líqui<strong>do</strong>IRMAplicaçãono ante braçode antígenode Montenegro0,1mlintradérmico(tipo tuberculina)Inocular emtemperaturaambienteLeitura em48 e 72 horasNa presença deúlcera cutâneae/ou mucosae/ou quadroclínico suspeito(forma mucosametastásica)Não se aplica Não se aplica Não se aplicaSorologiaSangueObtençãoda amostra:punçãovenosaCrianças:2-5mlAdultos:10mlNa presença deúlcera cutâneae/ou mucosae/ou quadroclínico suspeito(forma mucosametastásica)Tubo estérilde plásticoou vidro comtampa derosca comvácuo-4ºCGelo secoou reciclávelNitrogêniolíqui<strong>do</strong>Observações• Em situações em que a lesão cutânea e/ou mucosa apresente infecção secundária, amesma deverá ser tratada antes de se proceder a coleta para exame laboratorial.• Lembrar que o antígeno de Montenegro deverá ser acondiciona<strong>do</strong> em temperaturade 2ºC a 8ºC.• A necessidade de sorologia deve ser analisada criteriosamente, consi deran<strong>do</strong> a baixaresposta humoral que a <strong>do</strong>ença provoca.To<strong>do</strong> o material deverá ser envia<strong>do</strong> devidamente identifica<strong>do</strong> e acompanha<strong>do</strong> de informaçõesclínicas para orientar os técnicos <strong>do</strong> laboratório quanto aos exames. Lembrarque o perfeito acondicionamento das amostras para remessa é de funda mentalimportância para o êxito <strong>do</strong>s procedimentos laboratoriais.466 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose VisceralLEISHMANIOSE VISCERALCID 10: B55.0Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoA leishmaniose visceral (LV) foi primariamente uma zoonose, caracterizada como<strong>do</strong>en ça de caráter eminentemente rural. Mais recentemente, vem se expandin<strong>do</strong> para áreasurbanas de médio e grande porte e se tornou crescente problema de saúde pública no país eem outras áreas <strong>do</strong> continente americano, sen<strong>do</strong> uma endemia em franca expansão geográfica.É uma <strong>do</strong>ença crônica, sistêmica, caracterizada por febre de longa duração, perda depeso, astenia, adinamia e anemia, dentre outras manifestações. Quan<strong>do</strong> não tratada, podeevoluir para óbito em mais de 90% <strong>do</strong>s casos.6SinonímiaCalazar, esplenomegalia tropical, febre dundun, dentre outras denominações menosconhecidas.ReservatóriosNa área urbana, o cão (Canis familiaris) é a principal fonte de infecção. A enzootiacanina tem precedi<strong>do</strong> a ocorrência de casos humanos e a infecção em cães tem si<strong>do</strong> maisprevalente que no homem. No ambiente silvestre os reservatórios são as raposas (Dusicyonvetulus e Cer<strong>do</strong>cyon thous) e os marsupiais (Didelphis albiventris).LVetoresNo Brasil, duas espécies, até o momento, estão relacionadas com a transmissão da<strong>do</strong>ença, Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi. A primeira é considerada a principal espécietransmissora da L. (L.) chagasi mas a L. cruzi também foi incriminada como vetorano esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Mato Grosso <strong>do</strong> Sul. São insetos denomina<strong>do</strong>s flebotomíneos, conheci<strong>do</strong>spopularmente como mosquito palha, tatuquiras, birigui, entre outros.Em nosso país, a distribuição geográfica de L. longipalpis é ampla e parece estar emexpansão. Esta espécie é encontrada em quatro das cinco regiões geográficas: Nordeste,Norte, Sudeste e Centro-Oeste.A L. longipalpis adapta-se facilmente ao peri<strong>do</strong>micílio e a variadas temperaturas, poden<strong>do</strong>ser encontrada no interior <strong>do</strong>s <strong>do</strong>micílios e em abrigos de animais <strong>do</strong>mésticos. Háindício de que o perío<strong>do</strong> de maior transmissão da leishmaniose visceral ocorra durante elogo após a estação chuvosa, quan<strong>do</strong> há aumento da densidade populacional <strong>do</strong> inseto.A atividade <strong>do</strong>s flebotomíneos é crepuscular e noturna. No intra e peri<strong>do</strong>micílio, a L.longipalpis é encontrada, principalmente, próxima a uma fonte de alimento. Durante o dia,Secretaria de Vigilância em Saúde / MS467


Leishmaniose Visceralestes insetos ficam em repouso, em lugares sombrea<strong>do</strong>s e úmi<strong>do</strong>s, protegi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> vento e depreda<strong>do</strong>res naturais.Mo<strong>do</strong> de transmissãoNo Brasil, a forma de transmissão é através da picada <strong>do</strong>s vetores – L. longipalpis ouL. cruzi – infecta<strong>do</strong>s pela Leishmania (L.) chagasi. A transmissão ocorre enquanto houver oparasitismo na pele ou no sangue periférico <strong>do</strong> hospedeiro.Alguns autores admitem a hipótese da transmissão entre a população canina atravésda ingestão de carrapatos infecta<strong>do</strong>s e, mesmo, através de mordeduras, cópula e ingestão devísceras contaminadas, porém não existem evidências sobre a importância epidemiológicadestes mecanismos de transmissão para humanos ou na manutenção da enzootia.Não ocorre transmissão direta da leishmaniose visceral de pessoa a pessoa.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoÉ bastante variável tanto para o homem como para o cão; no homem, é de 10 dias a24 meses, com média entre 2 a 6 meses; no cão, varia de 3 meses a vários anos, com médiade 3 a 7 meses.Susceptibilidade e imunidadeCrianças e i<strong>do</strong>sos são mais susceptíveis. Existe resposta humoral detectada atravésde anticorpos circulantes, que parecem ter pouca importância como defesa. A Leishmaniaé um parasito intracelular obrigatório de células <strong>do</strong> sistema fagocitário mononuclear esua presença determina uma supressão reversível e específica da imunidade mediada porcélulas, o que permite a disseminação e multiplicação incontrolada <strong>do</strong> parasito. Só umapequena parcela de indivíduos infecta<strong>do</strong>s desenvolve sinais e sintomas da <strong>do</strong>ença. Após ainfecção, caso o indíviduo não desenvolva a <strong>do</strong>ença, observa-se que os exames que pesquisamimunidade celular ou humoral permanecem reativos por longo perío<strong>do</strong>. Isso requer apresença de antígenos, poden<strong>do</strong>-se concluir que a Leishmania ou alguns de seus antígenosestão presentes no organismo infecta<strong>do</strong> durante longo tempo, depois da infecção inicial.Esta hipótese apoia-se no fato de que indivíduos que desenvolvem alguma imunossupressãopodem apresentar quadro de leishmaniose visceral muito além <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> habitual deincubação.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasA infecção pela L.(L) chagasi caracteriza-se por um amplo espectro clínico, que podevariar desde manifestações clínicas discretas (oligossintomáticas) a moderadas e graves,que se não tratadas podem levar o paciente à morte.468 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose VisceralInfecçãoAs infecções inaparentes ou assintomáticas são aquelas em que não há evidência demanifestações clínicas. O diagnóstico, quan<strong>do</strong> feito, é pela coleta de sangue para exames sorológicos(imunofluorescência indireta/IFI ou enzyme linked immmunosorbent assay/Elisa)ou através da intradermorreação de Montenegro reativa. Os títulos de anticorpos em geralsão baixos e podem permanecer positivos por longo perío<strong>do</strong>. Vale a pena lembrar que ospacientes que apresentam cura clínica ou aqueles com leishmaniose tegumentar (formascutânea e mucosa) podem apresentar reatividade nos exames sorológicos e na intradermorreaçãode Montenegro. É importante destacar que os pacientes com infecção inaparente nãosão notifica<strong>do</strong>s e não devem ser trata<strong>do</strong>s.Leishmaniose visceralA suspeita clínica da leishmaniose visceral deve ser levantada quan<strong>do</strong> o paciente apresentarfebre e esplenomegalia associada ou não à hepatomegalia.Para facilitar sua compreensão e consideran<strong>do</strong> a evolução clínica da <strong>do</strong>ença, optou-seem dividi-la em perío<strong>do</strong>s: perío<strong>do</strong> inicial, perío<strong>do</strong> de esta<strong>do</strong> e perío<strong>do</strong> final.Perío<strong>do</strong> inicial – esta fase da <strong>do</strong>ença, também chamada de “aguda” por alguns autores,caracteriza o início da sintomatologia que pode variar de paciente para paciente, mas namaioria <strong>do</strong>s casos inclui febre com duração inferior a quatro semanas, palidez cutâneo-mucosae hepatoesplenomegalia. Em área endêmica, uma pequena proporção de indivíduos,geralmente crianças, pode apresentar quadro clínico discreto, de curta duração, aproximadamente15 dias, que freqüentemente evolui para cura espontânea (forma oligossintomática).A combinação de manifestações clínicas e alterações laboratoriais que melhor parececaracterizar a forma oligossintomática é: febre, hepatomegalia, hiperglobulinemia e velocidadede hemossedimentação alta.Perío<strong>do</strong> de esta<strong>do</strong> – caracteriza-se por febre irregular, geralmente associada a emagrecimentoprogressivo, palidez cutâneo-mucosa e aumento da hepatoesplenomegalia. Apresenta,no mais das vezes, um quadro clínico arrasta<strong>do</strong>, geralmente com mais de <strong>do</strong>is mesesde evolução, na maioria das vezes associa<strong>do</strong> a comprometimento <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> geral.Perío<strong>do</strong> final – caso não seja feito o diagnóstico e tratamento, a <strong>do</strong>ença evolui progressivamentepara o perío<strong>do</strong> final, com febre contínua e comprometimento mais intenso<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> geral. Instala-se a desnutrição (cabelos quebradiços, cílios alonga<strong>do</strong>s e pele seca)e edema <strong>do</strong>s membros inferiores, que pode evoluir para anasarca. Outras manifestações importantesincluem hemorragias (epistaxe, gengivorragia e petéquias), icterícia e ascite. Nestespacientes, o óbito geralmente é determina<strong>do</strong> por infecções bacterianas e/ou sangramentos.6LComplicações no curso evolutivo da <strong>do</strong>ençaAs complicações mais freqüentes da leishmaniose visceral são de natureza infecciosabacteriana. Dentre elas, destacam-se: otite média aguda, piodermites, infecções <strong>do</strong>s tratosurinário e respiratório. Caso estas infecções não sejam tratadas com antimicrobianos, opaciente poderá desenvolver um quadro séptico com evolução fatal. As hemorragias sãogeralmente secundárias à plaquetopenia, sen<strong>do</strong> a epistaxe e a gengivorragia as mais comu-Secretaria de Vigilância em Saúde / MS469


Leishmaniose Visceralmente encontradas. A hemorragia digestiva e a icterícia, quan<strong>do</strong> presentes, indicam gravidade<strong>do</strong> caso.Por ser uma <strong>do</strong>ença de notificação compulsória e com características clínicas de evoluçãograve, o diagnóstico deve ser feito de forma precisa e o mais precocemente possível. Asrotinas de diagnóstico, tratamento e acompanhamento <strong>do</strong>s pacientes necessitam ser implantadase/ou implementadas obrigatoriamente em todas as áreas com transmissão ou em riscode transmissão. Os níveis de complexidade de atendimento dentro <strong>do</strong> Sistema Único de Saúde(SUS) contemplam os três níveis de atendimento ao paciente: atendimento primário (postosde saúde), secundário (centros de saúde) e terciário (hospitais gerais e/ou de referência).O diagnóstico e tratamento <strong>do</strong>s pacientes deve ser realiza<strong>do</strong> precocemente e sempreque possível a confirmação parasitológica da <strong>do</strong>ença deve preceder o tratamento. Em situaçõesonde o diagnóstico sorológico e/ou parasitológico não estiver disponível ou na demorada liberação <strong>do</strong>s mesmos, o início <strong>do</strong> tratamento não deve ser posterga<strong>do</strong>.Diagnóstico diferencialMuitas entidades clínicas podem ser confundidas com a leishmaniose visceral, destacan<strong>do</strong>-se,entre elas, a enterobacteriose de curso prolonga<strong>do</strong> (associação de esquistossomosecom salmonela ou outra enterobactéria), cujas manifestações clínicas se superpõemperfeitamente ao quadro da leishmaniose visceral. Em muitas situações, esse diagnósticodiferencial só pode ser concluí<strong>do</strong> por provas laboratoriais, já que as áreas endêmicas sesuperpõem em grandes faixas <strong>do</strong> território brasileiro. Somam-se a essa entidade outras patologias(malária, brucelose, febre tifóide, esquistossomose hepatoesplênica, forma agudada <strong>do</strong>ença de Chagas, linfoma, mieloma múltiplo, anemia falciforme, etc.).Diagnóstico laboratorialO diagnóstico laboratorial, na rede básica de saúde, baseia-se principalmente em examesimunológicos e parasitológicos:Diagnóstico imunológico – pesquisa de anticorpos contra leishmaniaImunofluorescência indireta (Rifi) – o resulta<strong>do</strong> da imunofluorescência indireta énormalmente expresso em diluições. Considera-se como positivas as amostras reagentes apartir da diluição de 1:80. Nos títulos iguais a 1:40, com clínica sugestiva de leishmaniosevisceral, recomenda-se a solicitação de nova amostra em 30 dias.Ensaio imunoenzimático (Elisa) – o resulta<strong>do</strong> desse teste é expresso em unidadesde absorvância a um raio de luz, em uma reação com diluições fixas ou mais comumente,apenas como reagente ou não.IDRM – a intradermorreação de Montenegro, ou teste de leishmanina, ao contrário<strong>do</strong> que ocorre na leishmaniose tegumentar, é geralmente negativo durante o perío<strong>do</strong> deesta<strong>do</strong> da <strong>do</strong>ença, não sen<strong>do</strong> assim, utiliza<strong>do</strong> para o diagnóstico. Na maioria <strong>do</strong>s pacientes,torna-se positivo após a cura clínica em um perío<strong>do</strong> de seis meses a três anos após o término<strong>do</strong> tratamento.470 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose VisceralÉ importante observar que títulos variáveis <strong>do</strong>s exames sorológicos podem persistir positivospor longo perío<strong>do</strong>, mesmo após o tratamento. Assim, o resulta<strong>do</strong> de um teste positivo,na ausência de manifestações clínicas, não autoriza a instituição de terapêutica.Diagnóstico parasitológicoÉ o diagnóstico de certeza feito pelo encontro de formas amastigotas <strong>do</strong> parasito emmaterial biológico obti<strong>do</strong> preferencialmente da medula óssea, por ser um procedimentomais seguro, <strong>do</strong> linfono<strong>do</strong> ou <strong>do</strong> baço; no caso deste último, deve ser realiza<strong>do</strong> em ambientehospitalar e em condições cirúrgicas. A punção aspirativa esplênica é o méto<strong>do</strong> que oferecemaior sensibilidade (90%-95%) para demonstração <strong>do</strong> parasito (porém apresenta restriçõesquanto ao procedimento), seguida pelo aspira<strong>do</strong> de medula óssea, biópsia hepáticae aspiração de linfono<strong>do</strong>s. O material aspira<strong>do</strong> deverá ser examina<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> a seguinteseqüência:Exame direto – formas amastigotas <strong>do</strong> parasito podem ser visualizadas pelas coloraçõesde Giemsa ou Wright, Leishman, Panóptico. O encontro de parasitos no material examina<strong>do</strong>depende <strong>do</strong> número de campos observa<strong>do</strong>s (200 campos devem ser examina<strong>do</strong>santes de se considerar uma lâmina como negativa).Isolamento em meio de cultura (in vitro) – formas amastigotas <strong>do</strong> parasito, inoculadasem meios de cultura especiais conten<strong>do</strong> ágar e sangue de coelho, transformam-se emformas promastigotas. O clássico meio de NNN é o mais comumente emprega<strong>do</strong>. A utilizaçãode meio líqui<strong>do</strong> sobre o NNN, como o meio LIT ou de Schneider, aumenta e acelera apositividade da cultura. As culturas devem ser mantidas entre 24ºC-26ºC e observadas emmicroscopia óptica comum ou invertida, semanalmente, até 4 semanas. Os tubos positivosdevem ser encaminha<strong>do</strong>s para laboratórios de referência, para identificação da espécie.Isolamento em animais susceptíveis (in vivo) – a inoculação experimental em hamsters(Mesocricetus spp), de amostras de teci<strong>do</strong>s de pacientes com suspeita de leishmaniosevisceral, não tem valor prático no diagnóstico da <strong>do</strong>ença devi<strong>do</strong> ao seu tempo de positividade(1 a 3 meses).Novos méto<strong>do</strong>s de diagnóstico – o méto<strong>do</strong> <strong>do</strong> PCR (amplificação <strong>do</strong> DNA <strong>do</strong> parasito)constitui uma nova perspectiva para o diagnóstico da leishmaniose visceral, poisapresenta 94% de sensibilidade. Entretanto, seus resulta<strong>do</strong>s dependem de algumas variáveisenvolvidas, entre elas: área endêmica, tipo de amostra, alvo <strong>do</strong> DNA utiliza<strong>do</strong> para amplificação,méto<strong>do</strong> de extração <strong>do</strong> DNA, etc.6LTratamentoPrimeira escolhaA droga de primeira escolha é o antimonial pentavalente. Visan<strong>do</strong> padronizar o esquematerapêutico, a Organização Mundial da Saúde recomenda que a <strong>do</strong>se deste antimonialSecretaria de Vigilância em Saúde / MS471


Leishmaniose Visceralseja calculada em mg/Sb +5 /kg/dia (Sb +5 significan<strong>do</strong> antimônio pentavalente). Há <strong>do</strong>is tiposde antimoniais pentavalentes que podem ser utiliza<strong>do</strong>s, o antimoniato N-metilglucamina eo stibogluconato de sódio, porém este último não é comercializa<strong>do</strong> no Brasil. O antimoniatode N-metil glucamina apresenta-se comercialmente em frascos de 5ml que contêm 1,5g<strong>do</strong> antimoniato bruto, correspondente a 405mg de Sb +5 . Portanto, uma ampola com 5mltem 405mg de Sb +5 , e cada ml contém 81mg de Sb +5 . A <strong>do</strong>se recomendada para o tratamentoé de 20mg/kg/dia de Sb +5 durante 20 dias, poden<strong>do</strong> chegar a 30 dias e, no máximo, 40dias, utilizan<strong>do</strong> o limite máximo de 3 ampolas/dia.Mo<strong>do</strong> de aplicação – as aplicações devem ser feitas por via parenteral, intramuscularou en<strong>do</strong>venosa, com repouso após a aplicação. A via intramuscular apresenta o inconvenienteda <strong>do</strong>r local. Sugere-se, então, alternância <strong>do</strong>s locais de aplicação, preferin<strong>do</strong>-se aregião glútea. Por via en<strong>do</strong>venosa, não há necessidade de diluição e a aplicação, com agulhafina (calibre 25x8) ou “scalp” deve ser lenta (duração de 5 minutos). Esta é a melhor via, poispermite a aplicação de <strong>do</strong>ses mais adequadas e não tem o inconveniente da <strong>do</strong>r local.Contra-indicação – não deve ser administra<strong>do</strong> em gestantes, cujo tratamento consisteem cuida<strong>do</strong>s locais, observação clínica e sorológica, se possível. Nas formas graves,cutâ neas ou mucosas, discutir a possibilidade de tratamento a partir <strong>do</strong> sexto mês, com<strong>do</strong>ses mais baixas de antimônio e controle laboratorial. Nos casos em que exista associaçãocom outras <strong>do</strong>enças, tais como tuberculose, malária, esquistossomose, deve ser efetua<strong>do</strong>o tratamento destas patologias primeiramente ou utilizar a droga de segunda escolha. Hárestrições para o tratamento de pacientes com idade acima <strong>do</strong>s 50 anos, porta<strong>do</strong>res de cardiopatias,nefropatias, hepatopatias e <strong>do</strong>ença de Chagas. Quan<strong>do</strong> for necessária a administraçãonos pacientes porta<strong>do</strong>res de uma dessas <strong>do</strong>enças, deverá ser feita rigorosa avaliaçãoclínica antes <strong>do</strong> tratamento e reavaliações clínicas periódicas, com acompanhamento eletrocardiográfico,duas vezes por semana, e exame bioquímico <strong>do</strong> sangue para avaliaçãodas funções renal (<strong>do</strong>sagem de uréia e creatinina) e hepática (<strong>do</strong>sagem das transaminases,bilirrubinas e fosfatase alcalina) e leucograma. To<strong>do</strong>s esses exames deverão ser realiza<strong>do</strong>ssemanalmente, para orientação da conduta quanto à redução da <strong>do</strong>se ou utilização de outraalternativa terapêutica.Efeitos colaterais – podem ocorrer um ou mais efeitos colaterais, na seguinte ordemde freqüência: artralgia, mialgia, inapetência, náuseas, vômitos, plenitude gástrica, epigastralgia,pirose, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal, pruri<strong>do</strong>, febre, fraqueza, cefaléia, tontura, palpitação, insônia,nervosismo, choque pirogênico, edema e insuficiência renal aguda (IRA). Essas queixassão, geralmente, discretas ou moderadas e raramente exigem a suspensão <strong>do</strong> tratamento.Porém, nas <strong>do</strong>ses de 20mg/Sb +5 /kg/dia, o antimonial pode atingir o limiar de toxicidade,poden<strong>do</strong> levar a alterações cardíacas ou renais que obriguem a suspensão <strong>do</strong> tratamento.Por isso, deve-se proceder ao acompanhamento eletrocardiográfico prévio e semanal e avaliaçãoda função renal, especialmente em pacientes acima de 50 anos. É aconselhável quea medicação seja administrada por equipe especializada pois há possibilidade de realizarprocedimentos de urgência. Os corticóides por via sistêmica podem ser utiliza<strong>do</strong>s nos quadrosde hipersensibilidade.472 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose VisceralRecomendações – é recomendável a abstinência de bebidas alcoólicas durante o perío<strong>do</strong>de tratamento, devi<strong>do</strong> às alterações hepáticas. Também é recomendável o repousofísico durante o tratamento.Tratamento para crianças – emprega-se o mesmo esquema terapêutico utiliza<strong>do</strong> parao tratamento de pacientes adultos.Todas as reações adversas graves ou potencialmente graves abaixo descritas devem sernotificadas às autoridades sanitárias:• arritmias cardíacas e/ou outras manifestações de cardiotoxicidade;• insuficiência renal aguda ou elevação <strong>do</strong>s níveis séricos de uréia e creatinina e/ououtras manifestações de nefrotoxicidade;• icterícia e/ou elevação de enzimas hepáticas e/ou outras manifestações de hepatotoxicidade;• pancreatite aguda e/ou hiperamilasemia;• outras não citadas acima e que não tenham si<strong>do</strong> descritas anteriormente.6Não há nenhum impedimento de que se notifiquem casos que não se encaixem naclassificação acima, apenas não é imperativo que tais notificações sejam feitas. Nadúvida, notifique.Critérios de cura – os critérios de cura são essencialmente clínicos. O desaparecimentoda febre é precoce e acontece por volta <strong>do</strong> 5º dia de medicação; a redução da hepatoesplenomegaliaocorre nas primeiras semanas. Ao final <strong>do</strong> tratamento o baço geralmenteapresenta redução de 40% ou mais em relação à medida inicial. A melhora <strong>do</strong>s parâmetroshematológicos (hemoglobina e leucócitos) surgem a partir da segunda semana. As alteraçõesvistas na eletroforese de proteínas se normalizam lentamente, poden<strong>do</strong> levar meses.O ganho ponderal <strong>do</strong> paciente é visível, com retorno <strong>do</strong> apetite e melhora <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> geral.Nesta situação, o controle através de exame parasitológico ao término <strong>do</strong> tratamento é dispensável.O seguimento <strong>do</strong> paciente trata<strong>do</strong> deve ser feito aos 3, 6 e 12 meses após o tratamentoe na última avaliação, se permanecer estável, é considera<strong>do</strong> cura<strong>do</strong>. O aparecimentode eosinofilia ao final <strong>do</strong> tratamento ou ao longo <strong>do</strong>s seguimentos é sinal de bom prognóstico.As provas sorológicas não são indicadas para seguimento <strong>do</strong> paciente.LConceitos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s pelo Programade Controle da Leishmaniose VisceralTratamento regular – caso que utilizou 20 <strong>do</strong>ses de 20mg/Sb +5 /kg/dia de antimonialpentavalente em, no máximo, 30 dias, não ocorren<strong>do</strong> intervalos superiores a 72 horas entreas <strong>do</strong>ses.Tratamento irregular – caso que ultrapassou o tempo previsto para o tratamento regularou que tenha ocorri<strong>do</strong> intervalos superiores a 72 horas entre as <strong>do</strong>ses.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS473


Leishmaniose VisceralFalha terapêutica – caso em que não ocorreu cura clínica após a segunda série regularde tratamento com antimonial pentavalente.Aban<strong>do</strong>no de tratamento – caso que não completou 20 <strong>do</strong>ses de tratamento com antimonialpentavalente no tempo preestabeleci<strong>do</strong>, ou pacientes que não ten<strong>do</strong> recebi<strong>do</strong> altanão compareceram até 30 dias após o agendamento, para avaliação clínica.Recidiva – recrudescimento da sintomatologia, em até 12 meses após cura clínica. Éconsidera<strong>do</strong> caso novo o reaparecimento de sintomatologia após 12 meses de cura clínica,desde que não haja evidência de imunodeficiência.Condutas diante <strong>do</strong> aban<strong>do</strong>no de tratamentoQuan<strong>do</strong> houver a interrupção no tratamento, deve ser considera<strong>do</strong> o número de <strong>do</strong>ses, oesta<strong>do</strong> clínico atual e o tempo decorri<strong>do</strong> da última <strong>do</strong>se. Caso o paciente retorne antes de setedias de interrupção da droga, completar 20 <strong>do</strong>ses; após sete dias, considerar o que se segue:Retorno após 7 diasNúmero de <strong>do</strong>ses Clinicamente cura<strong>do</strong> Clinicamente <strong>do</strong>enteMenos de 10 Reiniciar tratamento Reiniciar tratamento10 ou mais Observar Reiniciar tratamentoSegunda escolhaEstão incluí<strong>do</strong>s nesta categoria o desoxicolato sódico de anfotericina B e suas formulaçõeslipossomais (anfotericina-B-lipossomal e anfotericina-B-dispersão coloidal) , as pentamidinas(sulfato e mesilato) e os imunomodula<strong>do</strong>res (interferon gama e GM-CSF). Comexceção das duas primeiras drogas, as demais encontram-se ainda em fase de investigação.O desoxicolato sódico de anfotericina B está disponível na rede e só deve ser administra<strong>do</strong>em hospitais de referência.Anfotericina BÉ a droga leishmanicida mais potente disponível comercialmente, atuan<strong>do</strong> nas formaspromastigotas e amastigotas <strong>do</strong> parasito, tanto in vitro quanto in vivo. Seu mecanismo de açãose dá através da ligação preferencial com esteres (ergosterol ou episterol) presentes na membranaplasmática da Leishmania. Tem si<strong>do</strong> demonstra<strong>do</strong> que <strong>do</strong>ses menores <strong>do</strong> medicamentopodem ser utilizadas sem prejuízo da eficácia e com conseqüente diminuição de toxicidade.No Brasil, a <strong>do</strong>se de 1mg/kg/dia durante 14 dias consecutivos (<strong>do</strong>se total de 14mg/kg) foiutilizada em 80 pacientes, com idades varian<strong>do</strong> de 6 meses a 19 anos, com índices de cura de97%. Nos casos de resposta insatisfatória aos antimoniais, a anfotericina B deve ser utilizadana <strong>do</strong>se total de 15 a 25mg/kg de peso administrada em dias alterna<strong>do</strong>s. Doses acima dasrecomendadas podem ser usadas em casos especiais (máximo de 3g de <strong>do</strong>se total).Em decorrência de sua baixa solubilidade, a anfotericina B mesma deve ser reconstituídaem 10ml de água destilada no momento <strong>do</strong> uso, poden<strong>do</strong> ser mantida em refrigeração(2ºC a 8ºC) por um perío<strong>do</strong> de até 7 dias. No momento da administração, a solução deverá474 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Visceralser diluída em soro glicosa<strong>do</strong> a 5% na proporção de 1mg para 10ml. Devi<strong>do</strong> ao risco deprecipitação, a anfotericina B não deve ser misturada a outros medicamentos ou soluçõesque contenham eletrólitos. Deve ser sempre administrada por via en<strong>do</strong>venosa, em infusãolenta (4-6 horas), com limite máximo de 50mg/<strong>do</strong>se/dia.Efeitos colaterais – são inúmeros e freqüentes, to<strong>do</strong>s <strong>do</strong>se-dependentes, sen<strong>do</strong> altamentetóxica para as células <strong>do</strong> en<strong>do</strong>télio vascular, causan<strong>do</strong> flebite, considerada um paraefeitocomum. Durante a infusão poderá ocorrer cefaléia, febre, calafrios, astenia, <strong>do</strong>resmusculares e articulares, vômitos e hipotensão. A infusão rápida (menos de 1 hora) é responsávelpela instalação de hiperpotassemia, determinan<strong>do</strong> alterações cardiovasculares, àsvezes com parada cardíaca caso a infusão seja muito rápida. Ao longo <strong>do</strong> tratamento poderãosurgir sobrecarga hídrica e hipopotassemia. Alterações pulmonares, como desconfortorespiratório, dispnéia e cianose também são descritas. Em caso de efeitos colaterais com ouso da anfotericina B o paciente pode ser medica<strong>do</strong> com uma dessas drogas (por exemplo, odiclofenaco, que deve ser administra<strong>do</strong> 2 horas antes <strong>do</strong> início da infusão). As complicaçõesrenais com o uso da anfotericina B são as mais importantes - graus varia<strong>do</strong>s de comprometimentorenal ocorrem em praticamente to<strong>do</strong>s os pacientes ao longo <strong>do</strong> tratamento. As alteraçõesrenais são totalmente reversíveis quan<strong>do</strong> a droga é usada nas <strong>do</strong>ses recomendadas.Novas formulações – atualmente, outras formulações tornaram-se disponíveis comercialmente:anfotericina-B-lipossomal e anfotericina-B-dispersão coloidal. A experiênciaacumulada com o uso da anfotericina-B-lipossomal no tratamento <strong>do</strong> calazar é maior <strong>do</strong>que aquela com a dispersão coloidal, que parece ser mais tóxica que a anterior. A anfotericinaB lipossomal é uma outra droga disponível, porém de custo eleva<strong>do</strong> o que impossibilitao seu uso na rotina <strong>do</strong> serviço. Está sen<strong>do</strong> indicada aos pacientes graves de leishmaniosevisceral, principalmente os que desenvolveram insuficiência renal ou toxicidade cardíacadurante o uso <strong>do</strong> antimoniato de N-metil-glucamina e de outras drogas de escolha nãoobten<strong>do</strong> melhora ou cura clínica. Para o tratamento de leishmaniose visceral, a <strong>do</strong>se recomendadaé de 3,0mg/kg/dia, durante 7 dias.6LSituações específicas que devem ser observadasLeishmaniose visceral em gestantesNo Brasil, a ocorrência de leishmaniose visceral durante a gravidez é considerada rara.O tratamento em pacientes no perío<strong>do</strong> gestacional teria dupla indicação: tratar a gestantee prevenir uma possível transmissão transplacentária. Devem ser feitas considerações importantesem relação às drogas disponíveis na atualidade e às possibilidades de efeitos teratogênicose toxicidade para o concepto. Os antimoniais pentavalentes atravessam a barreiraplacentária e podem impregnar teci<strong>do</strong>s nervosos no feto, levan<strong>do</strong> a síndromes severas deretar<strong>do</strong> mental. Portanto, está contra-indicada a utilização <strong>do</strong> antimonial pentavalente duranteos <strong>do</strong>is primeiros trimestres da gravidez. Não há contra-indicação de seu uso durantea amamentação. A anfotericina B é a droga de escolha para o tratamento da leishmaniosevisceral em pacientes grávidas. Recomenda-se a <strong>do</strong>se de 1mg/kg/dia, durante 14 dias consecutivos.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS475


Leishmaniose VisceralLeishmaniose visceral e HIV/AidsA tríade clássica da leishmaniose visceral é também a manifestação mais comum naco-infecção Leishmania/HIV: hepatoesplenomegalia, anemia, leucopenia (média de 2.300/ml), plaquetopenia, febre, adenopatia, astenia, emagrecimento. Certamente, como conseqüência<strong>do</strong> maior número de casos de co-infecção ocorrer em pacientes com menos de 200células CD4+/ml, outras infecções oportunistas são freqüentemente associadas. As mais relatadassão candidíase esofagiana, pneumonia por Pneumocystis carini; infecção por Mycobacteriumtuberculosis, toxoplasmose <strong>do</strong> sistema nervoso central e criptococose <strong>do</strong> sistemanervoso central. A leishmaniose visceral deve ser incluída no diagnóstico diferencial com<strong>do</strong>enças oportunistas como tuberculose disseminada, linfomas, salmoneloses, citomegalovírus,Toxoplasma gondii, Pneumocystis carinii, histoplasmose e coccidio<strong>do</strong>micose, entreoutras.Diagnóstico da co-infecção Leishmania/HIVOs testes convencionais de diagnóstico sorológico da leishmaniose visceral que oferecemsensibilidade em torno de 90% a 100% em pacientes imunocompetentes apresentamsensibilidade de 50% a 60% em pacientes com HIV. Quan<strong>do</strong> técnicas sorológicas foramassociadas, 20% <strong>do</strong>s pacientes co-infecta<strong>do</strong>s apresentaram resulta<strong>do</strong>s negativos em todas astécnicas utilizadas (imunofluorescência indireta, Elisa, Western Blot e contra-imunoeletroforese).Devi<strong>do</strong> ao grande número de parasitos em macrófagos circulantes observa<strong>do</strong>s nospacientes co-infecta<strong>do</strong>s, os méto<strong>do</strong>s para sua detecção têm se mostra<strong>do</strong> os mais sensíveis. Apunção de medula óssea é considera<strong>do</strong> o procedimento mais simples e menos arrisca<strong>do</strong>.Aspectos terapêuticos e evoluçãoO critério de escolha das drogas utilizadas para a terapêutica das leishmanioses empacientes porta<strong>do</strong>res de HIV não difere <strong>do</strong> preconiza<strong>do</strong> para os pacientes imunocompetentes.Consideran<strong>do</strong> que os pacientes com leishmaniose visceral co-infecta<strong>do</strong>s com o HIVsão indivíduos que podem apresentar outras <strong>do</strong>enças oportunistas que os debilitam, a suavulnerabilidade às reações adversas ao tratamento pode ser maior, pelo que se recomendaextremo cuida<strong>do</strong> no monitoramento adequa<strong>do</strong> da toxicidade medicamentosa. Um <strong>do</strong>s aspectosmais marcantes na evolução da leishmaniose na presença de infecção por HIV é atendência a recidivas. Sessenta por cento <strong>do</strong>s pacientes trata<strong>do</strong>s apresentam recidiva apósseis a nove meses e 90%, após 12 meses.Leishmaniose visceral e outras <strong>do</strong>enças tropicaisCom a expansão da leishmaniose visceral no Brasil, observa-se o aumento da freqüênciade sua associação com outras <strong>do</strong>enças tropicais. Nas regiões Nordeste, Sudeste e Norte,poderá haver associação com quadros de esquistossomose mansônica. Recomenda-seo tratamento inicial da esquistossomose com oxanminiquine ou praziquentel, nas <strong>do</strong>seshabituais. A seguir, procede-se o tratamento da leishmaniose visceral com a utilização deantimonial pentavalente nas <strong>do</strong>ses recomendadas anteriormente. Porém, em pacientes coma forma grave da esquistossomose mansônica, onde há hipertensão porta e volumosa he-476 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Visceralpatoesplenomegalia, a <strong>do</strong>se <strong>do</strong> antimonial deverá ser reduzida à metade, ou seja, 10mg/Sb +5 /kg/dia, por via intramuscular ou intravenosa, durante 30 a 40 dias consecutivos. Naregião Norte, esta associação poderá ocorrer com a malária (causada pelo Plasmodium vivaxou P. falciparum). Nestas circunstâncias, procede-se da mesma maneira, inician<strong>do</strong>-seo tratamento com os antimaláricos em suas <strong>do</strong>ses habituais e, posteriormente, o antimonialpentavalente, também nas <strong>do</strong>ses habituais. Nos casos de associação da leishmaniosevisceral com tuberculose e leishmaniose visceral com hanseníase, os pacientes deverão serreferencia<strong>do</strong>s para o serviço de atendimento terciário, para melhor seguimento.Quadro 1. Condições em que deve ser oferecida a sorologia para o HIV emporta<strong>do</strong>res de leishmaniose visceralQualquer forma clínica sem exposição recente (durante o último ano) a uma área de transmissãode leishmaniose visceralUso de drogas intravenosas6Forma clássica associada a ausência de anticorpos antiLeishmaniaAcha<strong>do</strong> de formas amastigotas no sangue periféricoEnvolvimento de órgãos raramente acometi<strong>do</strong>s na leishmaniose visceral 1Falha terapêutica 2 ou recidiva 3 após o uso de antimonial pentavalenteDesenvolvimento de infecções sugestivas de imunodeficiência após o uso de antimonial pentavalente 4Isolamento de espécies de leishmanias dermotrópicas ou leishmanias não descritas como causa<strong>do</strong>rasde acometimento visceral1- Acometimento de trato respiratório, esôfago, estômago, duodeno, pele, etc.; 2- Ausência de cura clínica apósduas tentativas de tratamento com antimoniato de meglumina (20mg de SbV/kg/dia por 30 dias); 3- Recrudescimentoda sintomatologia, em até 12 meses após cura clínica; 4- Herpes zoster, tuberculose miliar, etc.LQuadro 2. Condições em que porta<strong>do</strong>res de HIV/Aids devem ser investiga<strong>do</strong>spara leishmaniose visceralFebre associada à hepatomegalia, esplenomegalia ou citopenias em pacientes expostos à área detransmissão em qualquer perío<strong>do</strong>Usuários de drogas intravenosas em qualquer perío<strong>do</strong>Aspectos epidemiológicosNo Brasil, a leishmaniose visceral é uma <strong>do</strong>ença endêmica com registro de surtos freqüentes.Inicialmente, sua ocorrência estava limitada a áreas rurais e a pequenas localidadesurbanas mas atualmente encontra-se em franca expansão para grandes centros. A leishmaniosevisceral está distribuída em 19 esta<strong>do</strong>s da Federação, atingin<strong>do</strong> quatro das cincoregiões brasileiras. Nos últimos dez anos, a média anual de casos de leishmaniose visceralfoi de 3.383 casos; e a incidência, de 2,00 casos por 100 mil hab. (Figura 1).Secretaria de Vigilância em Saúde / MS477


Leishmaniose VisceralFigura 1. Número de casos de leishmaniose visceral. Brasil, 1984-2003*5.0004.5004.0003.5003.0002.5002.0001.5001.00050001984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 20022003CasosFonte: Covev/Devep/CGDT/SVS-MS*Da<strong>do</strong>s sujeitos a revisãoA <strong>do</strong>ença é mais freqüente em menores de 10 anos (54,4%), sen<strong>do</strong> 41% <strong>do</strong>s casosregistra<strong>do</strong>s em menores de 5 anos. O sexo masculino é proporcionalmente o mais afeta<strong>do</strong>(60%).A razão da maior susceptibilidade em crianças é explicada pelo esta<strong>do</strong> de relativa imaturidadeimunológica celular agrava<strong>do</strong> pela desnutrição, tão comum nas áreas endêmicas,além de maior exposição ao vetor no peri<strong>do</strong>micílio. Por outro la<strong>do</strong>, o envolvimento <strong>do</strong> adultotem repercussão significativa na epidemiologia da leishmaniose visceral, pelas formasfrustras (oligossintomáticas) ou assintomáticas, além das formas com expressão clínica.No Brasil, em função de sua ampla distribuição geográfica, a leishmaniose visceralapresenta aspectos geográficos, climáticos e sociais diferencia<strong>do</strong>s envolven<strong>do</strong> as regiõesNorte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Na década de 90, aproximadamente 90% <strong>do</strong>s casosnotifica<strong>do</strong>s ocorreram na região Nordeste. À medida que a <strong>do</strong>ença se expande paraas outras regiões e atinge áreas urbanas e periurbanas, esta situação vem se modifican<strong>do</strong>:em 2003, a região Nordeste apresenta 65% <strong>do</strong>s casos <strong>do</strong> país. Os da<strong>do</strong>s epidemiológicos<strong>do</strong>s últimos dez anos revelam a periurbanização e a urbanização da leishmaniose visceral,destacan<strong>do</strong>-se os surtos ocorri<strong>do</strong>s no Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Araçatuba(SP), Santarém (PA), Corumbá (MS), Teresina (PI), Natal (RN), São Luís (MA), Fortaleza(CE), Camaçari (BA) e, mais recentemente, as epidemias ocorridas nos municípios de TrêsLagoas (MS), Campo Grande (MS) e Palmas (TO). As áreas de transmissão da <strong>do</strong>ença noBrasil estão representadas na Figura 2.478 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose VisceralFigura 2. Distribuição de casos autóctones de leishmaniose visceral, por perío<strong>do</strong>.Brasil, 1984-20011984-20011996-20011 ponto = 1 caso1992-19956Fonte: Covev/Devep/CGDT/SVS-MSVigilância epidemiológicaLObjetivosA vigilância epidemiológica da leishmaniose visceral é um <strong>do</strong>s componentes <strong>do</strong> Programade Controle da Leishmaniose Visceral (PCLV), cujos objetivos são reduzir as taxasde letalidade e grau de morbidade através <strong>do</strong> diagnóstico e tratamento precoce <strong>do</strong>s casos,bem como diminuir os riscos de transmissão mediante controle da população de reservatóriose <strong>do</strong> agente transmissor. A vigilância da leishmaniose visceral compreende a vigilânciaentomológica de casos humanos e caninos. A análise da situação epidemiológica indicaráas ações de prevenção e controle a serem a<strong>do</strong>tadas.Dentre os objetivos da vigilância, destacam-se:• identificar as áreas vulneráveis e/ou receptivas para transmissão da leishmaniosevisceral;• avaliar a autoctonia referente ao município de residência;• investigar o local provável de infecção-LPI;• conhecer a presença, a distribuição e monitorar a dispersão <strong>do</strong> vetor;• dar condições para que os profissionais da rede de saúde possam diagnosticar e tratarprecocemente os casos;Secretaria de Vigilância em Saúde / MS479


Leishmaniose Visceral• dar condições para realização <strong>do</strong> diagnóstico e a<strong>do</strong>ção de medidas preventivas, decontrole e destino adequa<strong>do</strong> <strong>do</strong> reservatório canino;• investigar to<strong>do</strong>s os supostos óbitos de leishmaniose visceral;• monitorar a tendência da endemia, consideran<strong>do</strong> a distribuição no tempo e noespaço;• indicar as ações de prevenção de acor<strong>do</strong> com a situação epidemiológica;• desencadear e avaliar o impacto das ações de controle;• monitorar os eventos adversos aos medicamentos.Critérios para classificação de áreas paraa vigilância e controle da leishmaniose visceralA meto<strong>do</strong>logia proposta pelo PCLV para a definição de recomendações de vigilânciae controle da leishmaniose visceral partiu da classificação das áreas com transmissão e dasáreas sem transmissão de leishmaniose visceral no Brasil. O novo enfoque é incorporar osesta<strong>do</strong>s e municípios silenciosos, ou seja, sem ocorrência de casos humanos ou caninos da<strong>do</strong>ença, nas ações de vigilância e controle da mesma, visan<strong>do</strong>, assim, evitar ou minimizaros problemas referentes a este agravo em novas áreas.Através da análise epidemiológica realizada em cada esta<strong>do</strong> ou município, os profissionaisde saúde poderão identificar e classificar as diferentes áreas aqui apresentadas e apartir delas a<strong>do</strong>tar as recomendações propostas para a vigilância, monitoramento e controleda leishmaniose visceral.Para as áreas de transmissão foi utiliza<strong>do</strong> um indica<strong>do</strong>r (média de caso nos últimos 5anos), ten<strong>do</strong> como base os da<strong>do</strong>s de leishmaniose visceral envia<strong>do</strong>s pelas secretarias estaduaisde saúde referentes ao perío<strong>do</strong> de 1998 a 2002. Os pontos de cortes para estratificaçãodas áreas foram: média de 2,4 casos de leishmaniose visceral em 5 anos e média de 4,4 casosde leishmaniose visceral em 5 anos.Os municípios foram dividi<strong>do</strong>s em três classes de transmissão de leishmaniose visceral:municípios com média de casos menor que 2,4 estão classifica<strong>do</strong>s como de transmissãoesporádica; municípios com média de casos > 2,4 e < 4,4 estão classifica<strong>do</strong>s como detransmissão moderada; e municípios com média de casos > 4,4 estão classifica<strong>do</strong>s comode transmissão intensa.Os municípios com transmissão de leishmaniose visceral terão uma das classificaçõesacima referidas, porém os municípios de médio e grande porte, utilizan<strong>do</strong> o mesmo indica<strong>do</strong>racima referi<strong>do</strong>, poderão estratificar subáreas ou setores dentro <strong>do</strong> próprio município,permitin<strong>do</strong>, assim, trabalhar as ações de vigilância e controle específicas para cada situação.Destacamos que anualmente deverá ser feita uma análise para a reclassificação <strong>do</strong>smunicípios, lembran<strong>do</strong> que para a análise <strong>do</strong> número médio de casos deverão ser considera<strong>do</strong>sos últimos 5 anos.É importante evidenciar que as medidas de controle são distintas para cada situaçãoepidemiológica e adequadas a cada área a ser trabalhada, conforme detalhamento no Manualde Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral, 2003.480 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose VisceralConceitos básicos para definição dasáreas de transmissão de leishmaniose visceralÁreas de transmissão – setor, conjunto de setores ou município onde esteja ocorren<strong>do</strong>a transmissão de leishmaniose visceral. Entende-se por setor a estratificação realizadaquan<strong>do</strong> implementa<strong>do</strong> o Programa de Controle de Aedes aegypti – PEAa.Área sem casos ou silenciosas – municípios sem registro de casos autóctones de leishmaniosevisceral humana ou canina.Área com casos – municípios com registro de pelo menos um caso autóctone de leishmaniosevisceral humana.Áreas em processo de investigaçãoOs municípios com casos suspeitos humanos ou caninos deverão aguardar a conclusãoda investigação para serem classifica<strong>do</strong>s em uma das definições acima. Nestasituação, será classifica<strong>do</strong> como “área em investigação”.6Áreas vulneráveis – municípios sem casos autóctones de leishmaniose visceral humanamas que atendem um ou mais <strong>do</strong>s seguintes critérios estabeleci<strong>do</strong>s: são contíguos àquelescom casos de leishmaniose visceral; possuem fluxo migratório intenso ou fazem parte <strong>do</strong>mesmo eixo ro<strong>do</strong>viário <strong>do</strong>s municípios com casos de leishmaniose visceral.Áreas não-vulneráveis – municípios que não atendem nenhum <strong>do</strong>s critérios para asáreas vulneráveis.Áreas receptivas – municípios classifica<strong>do</strong>s como vulneráveis, nos quais após a realização<strong>do</strong> inquérito entomológico foi verificada a presença <strong>do</strong> L. longipalpis ou L. cruzi.Áreas não-receptivas – municípios classifica<strong>do</strong>s como vulneráveis, nos quais após arealização <strong>do</strong> inquérito entomológico foi verificada a ausência <strong>do</strong> L. longipalpis ou L. cruzi.Áreas com registro <strong>do</strong> primeiro caso autóctone de leishmaniose visceral – municípiosque registraram pela primeira vez a autoctonia da <strong>do</strong>ença em humanos.Áreas com transmissão esporádica – municípios cuja média de casos de leishmaniosevisceral nos últimos 5 anos é inferior ao Percentil 90, ou seja, 2,4 e < 4,4.Áreas com transmissão intensa – municípios cuja média de casos de leishmaniosevisceral nos últimos 5 anos está acima <strong>do</strong> Percentil 90, ou seja, > 4,4.Áreas em situação de surto – municípios com transmissão, independente de sua classificação,que apresentem um número de casos superior ao espera<strong>do</strong> ou municípios comtransmissão recente que apresentem <strong>do</strong>is ou mais casos.LSecretaria de Vigilância em Saúde / MS481


Leishmaniose VisceralClassificação de áreas para vigilância e controle da leishmaniose visceralClassificação de áreasde leishmaniose visceralÁreas comcasos de LVÁrea silenciosaou sem casos de LVÁrea comregistro <strong>do</strong>primeiro casoconfirma<strong>do</strong> deleishmaniosevisceral humanaÁreas comtransmissãoesporádicaÁreas comtransmissãomoderadae intensaÁreascom surtoÁreareceptivaVulnerávelÁrea nãoreceptivaNão vulnerávelVigilância entomológicaNo PCLV, o objetivo das investigações entomológicas é levantar as informações de caráterquantitativo e qualitativo sobre os flebotomíneos transmissores da leishmaniose visceral.Várias são as meto<strong>do</strong>logias que podem ser empregadas <strong>do</strong> ponto de vista operacional,tais como: a coleta manual com tubo de sucção tipo Castro, a coleta manual com captura<strong>do</strong>rmotoriza<strong>do</strong>, a coleta com armadilha adesiva, a coleta com armadilhas luminosas (modeloCDC ou similar) e as armadilhas com animais ou com feromônios, que nada mais são queuma otimização das meto<strong>do</strong>logias anteriores. Algumas considerações sobre as técnicas paracoleta de flebotomíneos estão descritas no Manual de Vigilância e Controle da LeishmanioseVisceral.Caberá as secretarias estaduais de saúde, por meio <strong>do</strong> núcleo de entomologia ou setorafim, a responsabilidade pela capacitação de recursos humanos, assessoria técnica para definiçãode estratégias, definição das áreas a serem trabalhadas, acompanhamento e/ou execuçãodas ações de investigação entomológica e avaliação <strong>do</strong> controle químico, entre outras.As secretarias municipais de saúde deverão colaborar com a secretaria estadual desaúde ou realizar integralmente as ações de vigilância entomológica, desde que tenham umserviço de entomologia organiza<strong>do</strong>, buscan<strong>do</strong> um trabalho integra<strong>do</strong> com o esta<strong>do</strong>, a fimde otimizar os recursos e a efetividade das ações de controle <strong>do</strong> vetor.Levantamento entomológicoO levantamento entomológico tem como objetivos:• verificar a presença de L. longipalpis e/ou L. cruzi em municípios sem casos humanosde leishmaniose visceral ou municípios silenciosos.• verificar a presença de L. longipalpis e/ou L. cruzi em municípios com transmissãoesporádica, moderada ou intensa e nos quais não tenham si<strong>do</strong> realizadas investigaçõesanteriores.482 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Visceral• conhecer a dispersão <strong>do</strong> vetor no município, a fim de apontar nos municípios semcasos autóctones de leishmaniose visceral as áreas receptivas para realização <strong>do</strong> inquéritoamostral canino e, nos municípios com transmissão da leishmaniose visceral,orientar as ações de controle <strong>do</strong> vetor.Meto<strong>do</strong>logiaUtiliza-se armadilha de isca luminosa. A unidade de pesquisa para a zona rural será alocalidade e para a zona urbana, os setores de zoneamento para o controle <strong>do</strong> Aedes aegypti.A coleta de flebótomos deverá ser realizada em to<strong>do</strong>s os setores/localidade <strong>do</strong> município,utilizan<strong>do</strong>-se de duas até dez armadilhas em cada setor/localidade. Cada armadilhadeverá ser instalada no peri<strong>do</strong>micílio, preferencialmente em abrigos de animais. As armadilhasdeverão ser expostas uma hora após o crepúsculo até o perío<strong>do</strong> matutino seguinte (depreferência, retirar antes das 7h), durante três noites consecutivas. Os <strong>do</strong>micílios seleciona<strong>do</strong>sdeverão ser, preferencialmente, aqueles sugestivos para a presença <strong>do</strong> vetor, tais comoresidências com peri<strong>do</strong>micílio que possua presença de plantas (árvores, arbustos), acúmulode matéria orgânica e presença de animais <strong>do</strong>mésticos (cães, galinhas, porcos, cavalos, cabritos,aves em geral, entre outros). As condições socioeconômicas e o tipo de moradia sãocritérios que podem ser leva<strong>do</strong>s em consideração para a seleção da unidade <strong>do</strong>miciliar.6Padronizou-se que a armadilha adesiva é um conjunto de cinco folhas confeccionadascom folhas de papel sulfite, tamanho ofício II ou A4, impregnadas com óleo derícino.Investigação entomológicaA investigação entomológica terá como objetivos:• verificar a presença de L. longipalpis e/ou L. cruzi em municípios com a ocorrênciade primeiro caso de leishmaniose visceral ou em situações de surto.• confirmar a área como de transmissão autóctone.LMeto<strong>do</strong>logiaUtilizam-se a coleta manual e a armadilha adesiva. A coleta manual deverá ser realizadacom o auxílio de um tubo de sucção (tipo aspira<strong>do</strong>r de Castro) ou aspira<strong>do</strong>res elétricos(6 volts) e uma fonte de luz (lanterna). Deverão ser pesquisadas as paredes <strong>do</strong> intra<strong>do</strong>micílio,especialmente <strong>do</strong>s <strong>do</strong>rmitórios. No peri<strong>do</strong>micílio, deverão ser pesquisa<strong>do</strong>s, principalmente,os anexos e os abrigos de animais. As coletas deverão ser realizadas, no mínimo,em três noites consecutivas em cada <strong>do</strong>micílio. O perío<strong>do</strong> mínimo de pesquisa será estabeleci<strong>do</strong>em 30 minutos/<strong>do</strong>micílio (15 minutos para a coleta no intra<strong>do</strong>micílio e 15 minutospara o peri<strong>do</strong>micílio), tempo que poderá ser aumenta<strong>do</strong> em função <strong>do</strong> tipo de habitação.A coleta manual deverá ser iniciada uma hora após o crepúsculo e prosseguir, se possível,até as 22h.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS483


Leishmaniose VisceralAs armadilhas adesivas para coleta deverão ser expostas de forma suspensa (tipo bandeirola)em um fio de náilon ou barbante. Deverão ser penduradas no intra<strong>do</strong>micílio, especialmenteno <strong>do</strong>rmitório; e no peri<strong>do</strong>micílio, preferencialmente em abrigos de animais,protegi<strong>do</strong>s da chuva. Deverá ser exposta, no mínimo, uma armadilha em cada ambiente. Otempo de exposição deverá ser de quatro dias. O perío<strong>do</strong> de exposição deverá ser inicia<strong>do</strong>uma hora após o crepúsculo, <strong>do</strong> primeiro dia até a manhã <strong>do</strong> quinto.O monitoramento objetiva conhecer a distribuição sazonal e abundância relativa dasespécies L. longipalpis e/ou L. cruzi, visan<strong>do</strong> estabelecer o perío<strong>do</strong> mais favorável para atransmissão da leishmaniose visceral e direcionar as medidas de controle químico <strong>do</strong> vetor.O monitoramento é recomenda<strong>do</strong> em municípios com transmissão moderada e/ouintensa. Deverão ser seleciona<strong>do</strong>s um ou mais municípios, de acor<strong>do</strong> com as regiões climáticase/ou topográficas. Saben<strong>do</strong>-se que a presença e a flutuação estacional das populaçõesde flebotomíneos, em determinada região geográfica, está ligada aos fatores climáticos(temperatura, umidade relativa <strong>do</strong> ar e índice pluviométrico) e aos fatores fisiográficos(composição <strong>do</strong> solo, altitude, relevo e tipo de vegetação).O desenvolvimento desta atividade é de responsabilidade <strong>do</strong> nível estadual.Meto<strong>do</strong>logiaUtiliza-se a armadilha de isca luminosa. Deverão ser seleciona<strong>do</strong>s dez <strong>do</strong>micílios, queserão os pontos de coleta no município. Em cada peri<strong>do</strong>micílio será instalada uma armadilha,preferencialmente disposta em abrigos de animais. As armadilhas deverão ser expostaspor 12 horas, inician<strong>do</strong>-se uma hora a partir <strong>do</strong> crepúsculo, durante quatro noites consecutivaspor mês.O <strong>do</strong>micílio escolhi<strong>do</strong> deverá ser preferencialmente aquele sugestivo para a presença<strong>do</strong> vetor, tais como residências com peri<strong>do</strong>micílio, presença de plantas (árvores, arbustos),acúmulo de matéria orgânica e presença de animais <strong>do</strong>mésticos (cães, galinhas, porcos, cavalos,cabritos, aves em geral, entre outros). As condições socioeconômicas e o tipo de moradiasão critérios que podem ser leva<strong>do</strong>s em consideração para a seleção da unidade <strong>do</strong>miciliar.Embora as pesquisas no ambiente intra<strong>do</strong>miciliar não estejam priorizadas pelo PCLV,sabe-se que este monitoramento também permite verificar a relação da abundância relativa<strong>do</strong> vetor no peri e intra<strong>do</strong>micílio, com a finalidade de orientar medidas de controle nestesambientes. Para tanto, as pesquisas no peri e intra<strong>do</strong>micílio deverão ser concomitantes.Vigilância no cãoDefinição de casoCaso canino suspeito – to<strong>do</strong> cão proveniente de área endêmica ou onde esteja ocorren<strong>do</strong>surto, com manifestações clínicas compatíveis com a leishmaniose visceral canina(LVC) (febre irregular, apatia, emagrecimento, descamação furfurácea e úlceras na pele,em geral no focinho, orelhas e extremidades, conjuntivite, paresia <strong>do</strong> trem posterior, fezessanguinolentas e crescimento exagera<strong>do</strong> das unhas).484 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose VisceralCaso canino confirma<strong>do</strong>• Critério laboratorial – cão com manifestações clínicas compatíveis de LVC e queapresente teste sorológico reagente e/ou exame parasitológico positivo;• Critério clínico-epidemiológico – cão proveniente de áreas endêmicas ou ondeesteja ocorren<strong>do</strong> surto e que apresente quadro clínico compatível de LVC sem aconfirmação <strong>do</strong> diagnóstico laboratorial.Cão infecta<strong>do</strong> – to<strong>do</strong> cão assintomático com sorologia reagente e/ou parasitológicopositivo em município com transmissão confirmada.Ações de vigilância• Alertar os serviços e a classe médica veterinária quanto ao risco da transmissão daleishmaniose visceral canina-LVC.• Divulgar à população informes sobre a ocorrência da LVC na região e alertar sobreos sinais clínicos e os serviços para o diagnóstico, bem como as medidas preventivaspara eliminação <strong>do</strong>s prováveis cria<strong>do</strong>uros <strong>do</strong> vetor.• Articular com o poder público responsável a implementação de ações de limpeza urbanaem terrenos, praças públicas, jardins e logra<strong>do</strong>uros, dentre outros, destinan<strong>do</strong>de maneira adequada a matéria orgânica recolhida.• Na suspeita clínica de cão, delimitar a área para investigação <strong>do</strong> foco. Define-se comoárea para investigação aquela que a partir <strong>do</strong> primeiro caso canino (suspeito ou confirma<strong>do</strong>)estiver circunscrita em um raio de, no mínimo, 100 cães a serem examina<strong>do</strong>s.Nesta área deverão ser desencadeadas a busca ativa de cães sintomáticos paracoleta de exame parasitológico e confirmação da identificação da espécie de Leishmania.Uma vez confirmada a L. chagasi, coletar material sorológico em to<strong>do</strong>s oscães da área, a fim de avaliar a prevalência canina e desencadear as demais medidas.6LMonitoramentoInquérito sorológico amostral – deverá ser realiza<strong>do</strong> nas seguintes situações:• municípios silenciosos e receptivos, isto é, onde a L. longipalpis já foi detectada masnão tenha si<strong>do</strong> confirmada a transmissão da leishmaniose visceral humana ou canina,com a finalidade de verificar ausência de enzootia;• municípios com transmissão moderada e intensa, o que permitirá avaliar as taxasdeprevalência em cada setor, a fim de identificar as áreas prioritárias a serem trabalhadas.O inquérito poderá ser realiza<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> ou em parte <strong>do</strong> município, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong>tamanho <strong>do</strong> mesmo e da distribuição <strong>do</strong> vetor. Deverá ser utilizada amostragem estratificadapor conglomera<strong>do</strong>s, onde o estrato é um setor <strong>do</strong> PEAa (setorização realizada quan<strong>do</strong>for implementa<strong>do</strong> o plano de erradicação <strong>do</strong> Aedes aegypti) e o conglomera<strong>do</strong>, o quarteirão.Para cada setor deverá ser calculada a amostra de cães, consideran<strong>do</strong>-se a prevalência esperadae o número de cães <strong>do</strong> setor. Para aqueles municípios que já tenham uma estimativa deSecretaria de Vigilância em Saúde / MS485


Leishmaniose Visceralprevalência conhecida, utilizar este valor como parâmetro. Caso contrário, utilizar a prevalênciade 2%. Setores com população canina inferior a 500 cães deverão ser agrupa<strong>do</strong>s comum ou mais setores contíguos, para o cálculo da amostra. Por outro la<strong>do</strong>, em municípioscom população inferior a 500 cães, deverá ser realiza<strong>do</strong> inquérito canino censitário. Verinformações mais detalhadas no Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral.Inquérito sorológico censitário – deverá ser realiza<strong>do</strong> nas seguintes situações:• zona urbana de município classifica<strong>do</strong> como silencioso e receptivo com populaçãocanina menor que 500 cães;• setores urbanos de municípios acima de 20 mil habitantes classifica<strong>do</strong>s como detransmissão moderada ou intensa;• zona rural de municípios em qualquer uma das situações de transmissão de leishmaniosevisceral.Este tipo de inquérito objetiva o controle através da identificação de cães infecta<strong>do</strong>s paraa realização da eutanásia, bem como avaliar a prevalência. Estes inquéritos deverão ser realiza<strong>do</strong>sanualmente, no perío<strong>do</strong> de agosto a novembro, por no mínimo 3 anos consecutivos,independente da notificação de novos casos humanos confirma<strong>do</strong>s de leishmaniose visceral.A fim de não sobrecarregar os laboratórios de saúde pública de referência para a realização<strong>do</strong>s exames, o planejamento das ações deverá ser realiza<strong>do</strong> em conjunto com asinstituições que compõem o Programa de Controle da leishmaniose visceral no esta<strong>do</strong>.Existem duas técnicas sorológicas recomendadas pelo Ministério da Saúde para avaliaçãoda soroprevalência em inquéritos caninos amostrais ou censitários, o Elisa e a imunofluorescênciaindireta (IFI). Entretanto, por estar ainda em fase de implantação, o Elisainicialmente está sen<strong>do</strong> recomenda<strong>do</strong> para a triagem de cães sorologicamente negativos e aRifi para a confirmação <strong>do</strong>s cães soro-reagentes ou indetermina<strong>do</strong>s ao teste Elisa, ou comotécnica diagnóstica de rotina.Os exames sorológicos poderão ser realiza<strong>do</strong>s nos laboratórios centrais estaduais (Lacens)ou nos laboratórios e centros de controle de zoonoses (CCZs) municipais. É importanterealizar periodicamente o controle de qualidade <strong>do</strong>s exames efetua<strong>do</strong>s. As amostrasde soro, a serem analisadas na referência nacional, devem ser impreterivelmente encaminhadaspelo Lacen.É importante ressaltar que em situações nas quais o proprietário <strong>do</strong> animal exija umacontraprova, esta deverá ser uma prova sorológica, realizada por um laboratório da rede.O perío<strong>do</strong> estima<strong>do</strong> para liberação <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> dependerá <strong>do</strong> tempo de deslocamentoda amostra até as referências, sen<strong>do</strong> a média esperada de 15 dias. Os resulta<strong>do</strong>s libera<strong>do</strong>spor este laboratório serão considera<strong>do</strong>s oficiais para fins de diagnóstico da infecção e da<strong>do</strong>ença.486 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose VisceralVigilância em humanosDefinição de casoCaso humano suspeito – to<strong>do</strong> indivíduo proveniente de área com ocorrência de transmissão,com febre e esplenomegalia, ou to<strong>do</strong> indivíduo de área sem ocorrência de transmissão,com febre e esplenomegalia, desde que descarta<strong>do</strong>s os diagnósticos diferenciais maisfreqüentes na região.Caso humano confirma<strong>do</strong>:• Critério clínico-laboratorial – a confirmação <strong>do</strong>s casos clinicamente suspeitos deverápreencher, no mínimo, um <strong>do</strong>s seguintes critérios:❯ encontro <strong>do</strong> parasito nos exames parasitológicos direto e/ou cultura;❯ imunofluorescência reativa com título de 1:80 ou mais, desde que excluí<strong>do</strong>s outrosdiagnósticos diferenciais.• Critério clínico-epidemiológico – paciente de área com transmissão de leishmaniosevisceral, com suspeita clínica sem confirmação laboratorial mas com respostafavorável ao teste terapêutico.6InfecçãoTo<strong>do</strong> indivíduo com exame sorológico reagente e/ou parasitológico positivo, sem manifestaçõesclínicas. Estes casos não devem ser notifica<strong>do</strong>s e/ou trata<strong>do</strong>s.NotificaçãoA leishmaniose visceral humana é uma <strong>do</strong>ença de notificação compulsória, portantoto<strong>do</strong> caso suspeito deve ser notifica<strong>do</strong> e investiga<strong>do</strong> pelos serviços de saúde através da fichade investigação padronizada pelo Sinan.A detecção de casos de leishmaniose visceral pode ocorrer através de:• demanda espontânea à unidade de saúde;• busca ativa de casos no local de transmissão;• visitas <strong>do</strong>miciliares <strong>do</strong>s profissionais <strong>do</strong> Pacs e PSF;• encaminhamento de suspeitos, através da rede básica de saúde.LInvestigação de casos humanos de leishmaniose visceralA investigação epidemiológica faz-se necessária para:• identificar se o caso é autóctone ou importa<strong>do</strong> (caso seja importa<strong>do</strong>, informar oserviço de vigilância epidemiológica estadual ou municipal <strong>do</strong> local provável de infecção);• verificar se a área é endêmica ou se é um novo local de transmissão;• conhecer as características epidemiológicas <strong>do</strong> caso (idade e sexo);• realizar busca ativa de casos novos e caracterizá-los clínica e laboratorialmente;• orientar medidas de controle, conforme a situação epidemiológica e a classificaçãoda área.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS487


Leishmaniose VisceralO instrumento de coleta de da<strong>do</strong>s, atualmente disponível no Sinan através da ficha deinvestigação epidemiológica, contém os elementos essenciais a serem coleta<strong>do</strong>s em uma investigaçãode rotina. To<strong>do</strong>s os campos desta ficha devem ser criteriosamente preenchi<strong>do</strong>s,mesmo quan<strong>do</strong> a informação for negativa. Outros itens e observações podem ser incluí<strong>do</strong>s,conforme as necessidades e peculiaridades de cada situação.Pelo fato de a ficha de investigação de casos de leishmaniose visceral não conter da<strong>do</strong>sreferentes ao vetor e ao reservatório, os mesmos, quan<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>s conforme critério declassificação da área, devem ser coleta<strong>do</strong>s e preenchi<strong>do</strong>s nas planilhas específicas. Estes da<strong>do</strong>s,após análise, irão orientar a a<strong>do</strong>ção de medidas de vigilância e controle. Vale ressaltarque estas informações também devem fazer parte <strong>do</strong> relatório da investigação <strong>do</strong> caso.Roteiro de investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> paciente – preencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação epidemiológica<strong>do</strong> Sinan relativos aos da<strong>do</strong>s gerais, notificação individual e da<strong>do</strong>s de residência.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicos – preencher os campos da ficha de investigaçãoepidemiológica <strong>do</strong> Sinan relativos aos antecedentes epidemiológicos, da<strong>do</strong>s clínicos,laboratoriais e tratamento.Caracterização <strong>do</strong> local provável de infecção - LPI – estabelecer o possível local deinfecção <strong>do</strong> caso, de acor<strong>do</strong> com a história epidemiológica e conhecimento de ocorrênciade outros casos em perío<strong>do</strong>s anteriores. A caracterização da área de transmissão é de fundamentalimportância para o processo de investigação e a<strong>do</strong>ção de medidas e controle. Noprocesso de caracterização <strong>do</strong> LPI deve-se:• investigar se o paciente se deslocou para áreas endêmicas no perío<strong>do</strong> de até 6meses anteriores ao início <strong>do</strong>s sintomas;• caracterizar a espécie de Leishmania, se for uma nova área de transmissão;• realizar busca ativa de casos humanos e caninos;• realizar levantamento entomológico, caso não tenha si<strong>do</strong> verificada a presença <strong>do</strong>vetor;• conhecer as características ambientais, sociais e econômicas.Classificação <strong>do</strong>s casos humanosCaso confirma<strong>do</strong> – caso suspeito que cumpriu um <strong>do</strong>s seguintes critérios de confirmação:critério clínico-laboratorial ou critério clínico-epidemiológico.Caso descarta<strong>do</strong> – caso suspeito com exames sorológicos e/ou parasitológicos negativos,sem resposta favorável ao teste terapêutico ou caso suspeito que após investigaçãoclínico-laboratorial confirma outro diagnóstico.Evolução <strong>do</strong> casoÉ de extrema importância para a vigilância da leishmaniose visceral tratar os casosconfirma<strong>do</strong>s e acompanhá-los durante toda a evolução clínica, conforme normas técnicas.Esta conduta visa reduzir a letalidade, recidiva, gravidade e outras complicações da <strong>do</strong>ençae/ou toxicidade <strong>do</strong> medicamento. Ressalta-se a necessidade de estruturar o serviço de saúde488 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Visceralpara acompanhar os pacientes até a cura clínica. Em situações de pacientes que não comparecemàs consultas agendadas durante o tratamento, faz-se necessária a busca <strong>do</strong>s faltosos,utilizan<strong>do</strong> estratégias locais.Investigação de óbitosAs fontes de informações para a investigação e monitoramento <strong>do</strong>s óbitos podem sero Sinan, o Sistema de Informações sobre Mortalidade − SIM e a notificação informal <strong>do</strong>serviço ou da comunidade.To<strong>do</strong>s os supostos óbitos de leishmaniose visceral devem ser investiga<strong>do</strong>s para quesuas causas sejam determinadas. Ver informações mais detalhadas no Manual de Vigilânciae Controle da Leishmaniose Visceral. Após a coleta de da<strong>do</strong>s (junto à família, comunidade,prontuário hospitalar, prontuário da unidade de saúde, profissionais que atenderam o paciente,entre outras), as informações devem ser consolidadas e o caso discuti<strong>do</strong> com to<strong>do</strong>sos profissionais envolvi<strong>do</strong>s, objetivan<strong>do</strong> a a<strong>do</strong>ção de medidas que possam corrigir as deficiênciase, conseqüentemente, reduzir a letalidade da leishmaniose visceral.6AtençãoTo<strong>do</strong>s os supostos óbitos por leishmaniose visceral devem ser investiga<strong>do</strong>s.Encerramento de casos humanosTo<strong>do</strong>s os casos devem ser encerra<strong>do</strong>s no Sinan, no perío<strong>do</strong> máximo de 180 dias. Osserviços de vigilância epidemiológica municipal e estadual deverão estar atentos para oencerramento de to<strong>do</strong>s os casos suspeitos de leishmaniose visceral.LAnálise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sA análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da investigação deve permitir a avaliação da magnitude e transcendência<strong>do</strong> problema, distribuição segun<strong>do</strong> pessoa, tempo e espaço. Assim, os da<strong>do</strong>scoleta<strong>do</strong>s no processo, além de permitir estabelecer a área e extensão da ocorrência <strong>do</strong>caso, devem indicar qual a possibilidade de continuidade da transmissão, probabilidade decontinuidade de aparecimento de novos casos, população sob risco e qual a extensão que asmedidas de controle devem assumir, dentre outras.Em áreas com transmissão, análises periódicas <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res epidemiológicos, operacionais,entomológicos, entre outros, devem ser realiza<strong>do</strong>s para avaliar a efetividade dasmedidas de controle e a progressão da situação epidemiológica, tais como redução ou elevaçãoda incidência, da letalidade; expansão ou limitação das áreas de transmissão, intervençõesambientais que possam estar contribuin<strong>do</strong> para o agravamento <strong>do</strong> problema, etc.(ver Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral).Em situações de surtos, os da<strong>do</strong>s devem ser analisa<strong>do</strong>s criteriosamente, permitin<strong>do</strong>melhor orientação e aprimoramento tanto nas medidas de prevenção e controle quanto nanecessidade de implementação das ações de diagnóstico e assistência.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS489


Leishmaniose VisceralDivulgação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sApós análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, os mesmos deverão ser amplamente divulga<strong>do</strong>s através deboletins epidemiológicos ou informativos, reuniões de avaliação, oficinas de trabalho, seminários,congressos e publicações científicas, por exemplo.Medidas preventivasDirigidas à população humana – medidas de proteção individual.Dirigidas ao vetor – saneamento ambiental.Dirigidas à população canina:• controle da população canina errante;• <strong>do</strong>ação de animais: fazer exame sorológico prévio;• uso de telas em canis individuais ou coletivos;• coleiras impregnadas com deltametrina a 4%.Instrumentos disponíveis para controleEm virtude das características epidemiológicas e <strong>do</strong> conhecimento ainda insuficientesobre os vários elementos que compõem a cadeia de transmissão da leishmaniose visceral,as estratégias de controle desta endemia ainda são pouco efetivas e estão centradas no diagnósticoe tratamento precoce <strong>do</strong>s casos, redução da população de flebotomíneos, eliminação<strong>do</strong>s reservatórios e atividades de educação em saúde.Vale destacar que as ações voltadas para o diagnóstico e tratamento <strong>do</strong>s casos e atividadeseducativas devem ocorrer em todas as situações priorizadas, lembran<strong>do</strong> que asdemais medidas de controle devem estar sempre integradas para que possam ser efetivas.Orientações dirigidas para o diagnósticoprecoce e tratamento adequa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s casos humanosDe acor<strong>do</strong> com a política de saúde vigente em nosso país, o controle da leishmaniosevisceral é de responsabilidade <strong>do</strong> SUS. Inicialmente, a execução das ações ficavam sob aresponsabilidade <strong>do</strong> governo federal. Com o processo de descentralização das endemias,as ações passaram a ser executadas pelos níveis estadual e/ou municipal, e para cada umade suas instâncias as atribuições estão estabelecidas na Portaria nº 1.399/GM, de 15/12/99,substituída recentemente pela Portaria/GM nº 172, de 15/6/04.As secretarias municipais de saúde, com o apoio das secretarias estaduais de saúde,têm a responsabilidade de organizar a rede básica de saúde para suspeitar, assistir, acompanhare/ou encaminhar para referência hospitalar os pacientes com leishmaniose visceral.Para tanto, faz-se necessário estabelecer um fluxo de referência e contra-referência, bem490 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Visceralcomo oferecer as condições necessárias para diagnosticar e tratar precocemente os casos deleishmaniose visceral. Este atendimento pode ser realiza<strong>do</strong> pela demanda passiva, registro ebusca ativa de casos em áreas de maior risco ou quan<strong>do</strong> indicadas pela vigilância epidemiológica,ou ainda onde o acesso da população à rede é dificulta<strong>do</strong> por diversos fatores.É importante que na fase de organização <strong>do</strong>s serviços de saúde para atendimento precoce<strong>do</strong>s pacientes seja viabiliza<strong>do</strong>:• identificar os profissionais e unidades de saúde de referência para o atendimento aospacientes, bem como para a execução <strong>do</strong>s exames laboratoriais;• capacitar os recursos humanos que irão compor a equipe multiprofissional das unidadesbásicas e/ou hospitalar responsáveis pelo atendimento e realização <strong>do</strong>s exameslaboratoriais;• sensibilizar to<strong>do</strong>s os profissionais da rede para a suspeita clínica;• suprir as unidades de saúde com materiais e insumos necessários para o diagnósticoclínico, laboratorial e tratamento, visan<strong>do</strong> melhorar a resolubilidade e contribuirpara o diagnóstico e tratamento precoce e, conseqüentemente, para a redução daletalidade;• integrar as equipes <strong>do</strong> Pacs e PSF;• estabelecer um fluxo de atendimento para os pacientes, integran<strong>do</strong> as ações de vigilânciae assistência;• oferecer condições necessárias para o acompanhamento <strong>do</strong>s pacientes em tratamento,evitan<strong>do</strong> o aban<strong>do</strong>no e as complicações da <strong>do</strong>ença;• aprimorar o sistema de informação e estar sempre divulgan<strong>do</strong>, informan<strong>do</strong> e atualizan<strong>do</strong>os profissionais de saúde sobre a situação epidemiológica da <strong>do</strong>ença, bemcomo sensibilizan<strong>do</strong>-os para a suspeita clínica;• realizar atividades de educação em saúde visan<strong>do</strong> a participação-ativa da comunidadepara buscar o atendimento precoce, bem como contribuir de forma participativanas medidas de controle da <strong>do</strong>ença (saneamento ambiental, controle vetorial, controle<strong>do</strong> reservatório, entre outras).6LAssistência ao pacienteTo<strong>do</strong> caso suspeito deve ser submeti<strong>do</strong> à investigação clínica, epidemiológica e aosméto<strong>do</strong>s auxiliares de diagnóstico. Caso seja confirma<strong>do</strong>, inicia-se o tratamento segun<strong>do</strong>procedimentos terapêuticos padroniza<strong>do</strong>s e acompanha-se o paciente mensalmente (paraavaliação da cura clínica).Os casos graves de leishmaniose visceral devem ser interna<strong>do</strong>s e trata<strong>do</strong>s em hospitaisde referência; e os leves ou intermediários devem ser assisti<strong>do</strong>s no nível ambulatorial, emunidades de saúde com profissionais capacita<strong>do</strong>s.Qualidade da assistênciaÉ comum o diagnóstico de pacientes com leishmaniose visceral em fase avançada, oque pode ser atribuí<strong>do</strong> a demora com que procuram os serviços de saúde e, por outro la<strong>do</strong>,a baixa capacidade de detecção <strong>do</strong>s casos pelos profissionais da rede básica de saúde. DesteSecretaria de Vigilância em Saúde / MS491


Leishmaniose Visceralmo<strong>do</strong>, o serviço de vigilância local deve estruturar as unidades de saúde promoven<strong>do</strong> acapacitação de profissionais para suspeitar, diagnosticar e tratar precocemente os casos,bem como organizar o serviço para agilizar o diagnóstico laboratorial e a assistência aopaciente. Deve ser defini<strong>do</strong>, estabeleci<strong>do</strong> e divulga<strong>do</strong> o fluxo das unidades de referência econtra-referência.Na área de transmissão intensa, bem como nas áreas cobertas pelo Pacs/PSF, é recomendadaa realização de busca ativa de casos, encaminhan<strong>do</strong> os suspeitos para atendimentomédico. Neste momento, to<strong>do</strong>s os profissionais de saúde devem ser alerta<strong>do</strong>s e sensibiliza<strong>do</strong>spara o problema e é importante que a população seja constantemente informada sobreos serviços disponíveis, bem como da necessidade de buscar atendimento precocemente.AtençãoEsta é uma área com transmissão de leishmaniose visceral, portanto to<strong>do</strong> pacientecom febre e esplenomegalia é um caso suspeito.Notifique, investigue e faça o diagnóstico e tratamento <strong>do</strong> paciente o mais precocementepossível ou o encaminhe para o serviço de referência.Atuação na cadeia de transmissãoOrientações dirigidas ao controle <strong>do</strong> vetorA indicação das atividades voltadas para o controle vetorial dependerão das característicasepidemiológicas e entomológicas de cada localidade.As recomendações propostas para cada área estão descritas conforme a classificaçãoepidemiológica, sen<strong>do</strong> importante salientar que as ações de controle deverão ser semprerealizadas de forma integrada.Controle químicoO controle químico por meio da utilização de inseticidas de ação residual é a medidade controle vetorial recomendada no âmbito da proteção coletiva. Dirigida apenas para oinseto adulto tem como objetivo evitar e/ou reduzir o contato entre o inseto transmissor e apopulação humana, conseqüentemente, diminuir o risco de transmissão da <strong>do</strong>ença.Quan<strong>do</strong> é recomenda<strong>do</strong> o controle químico?• Em áreas com registro de primeiro caso autóctone de leishmaniose visceral, imediatamenteapós a investigação entomológica.• Em áreas com transmissão moderada e intensa, se a curva de sazonalidade <strong>do</strong> vetorfor conhecida, a aplicação <strong>do</strong> inseticida de ação residual deverá ser realizada noperío<strong>do</strong> <strong>do</strong> ano em que se verifica aumento da densidade vetorial. Caso contrário, oprimeiro ciclo de tratamento deverá ser realiza<strong>do</strong> após o início <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> chuvosoe o segun<strong>do</strong>, 3 a 4 meses após o primeiro ciclo.492 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Visceral• Em áreas com surto de leishmaniose visceral, uma vez avaliada e delimitada a áreapara o controle químico, deverá ser imediatamente realiza<strong>do</strong> um ciclo de tratamentocom inseticida de ação residual. A programação de novo ciclo deverá estar de acor<strong>do</strong>com a curva de sazonalidade <strong>do</strong> vetor. Se conhecida, a aplicação <strong>do</strong> inseticida deação residual deverá ser realizada no perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> ano em que se verifica aumento dadensidade vetorial. Caso contrário, o primeiro ciclo de tratamento deverá ser realiza<strong>do</strong>ao final <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> chuvoso e 3 a 4 meses após o primeiro ciclo.Ciclo de borrifaçãoEntende-se por ciclo de borrifação o perío<strong>do</strong> necessário para cobrir a área delimitadaa ser borrifada no menor espaço de tempo. Para efeito de organização da atividade,inicialmente deverá ser considera<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> de 4 meses, tempo que pode ser reduzi<strong>do</strong>de acor<strong>do</strong> com a capacidade operacional <strong>do</strong> município.Onde deve ser feita a borrifação?• Nas paredes internas e externas <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio, incluin<strong>do</strong> o teto, quan<strong>do</strong> a altura destefor de até 3 metros.• Nos abrigos de animais ou anexos, quan<strong>do</strong> os mesmos forem feitos com superfíciesde proteção (parede) e possuam cobertura superior (teto).Qual produto deverá ser utiliza<strong>do</strong>?• Os produtos mais emprega<strong>do</strong>s no controle a esses vetores são a cipermetrina, naformulação pó molhável (PM), e a deltametrina, em suspensão concentrada (SC),usa<strong>do</strong>s, respectivamente, nas <strong>do</strong>ses de 125mg. i.a./m2 e de 25mg. i.a/m2. Atualmente,o Programa de Controle da Leishmaniose Visceral tem utiliza<strong>do</strong> alfacipermetrina,na formulação suspensão concentrada (SC), na <strong>do</strong>se de 40mg.ia/m 2 .Como deverão ser os ciclos de tratamento?• Segun<strong>do</strong> indicações obtidas em pesquisas operacionais, o efeito residual <strong>do</strong>s piretróidesem superfícies de parede tem duração aproximada de três meses (excetuan<strong>do</strong>as superfícies de madeira onde esse efeito poderá ser mais dura<strong>do</strong>uro). Sen<strong>do</strong>assim, é recomenda<strong>do</strong> que nas áreas selecionadas para controle químico, de acor<strong>do</strong>com a classificação epidemiológica, deverão ser realiza<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is ciclos de borrifaçãodurante o ano, com intervalo de três a quatro meses. O início <strong>do</strong> ciclo deverá seguiras orientações já descritas.Que tipo de equipamento deve ser usa<strong>do</strong>?• Para este tipo de aplicação são indica<strong>do</strong>s os equipamentos de compressão variável,tipo Hudson-X-Pert® ou Jacto® com capacidade de 10 litros, deven<strong>do</strong> ser revisa<strong>do</strong>spara evitar vazamentos e outros inconvenientes durante a aplicação.• O bico indica<strong>do</strong> para uso em saúde pública é o Tee Jet 8002E, que proporciona umavazão de 757ml e deposição uniforme nas laterais <strong>do</strong> leque de aplicação. Em decorrênciada erosão, os bicos que apresentarem vazão maior que 900ml/minuto devemser descarta<strong>do</strong>s.6LSecretaria de Vigilância em Saúde / MS493


Leishmaniose VisceralComo delimitar a área para o controle químico?• Na zona rural, o controle químico será realiza<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>micílios da localidadeonde ocorreu a transmissão.• Na zona urbana, para o controle deverá ser considerada a área de transmissão previamentedelimitada.Quais são os procedimentos de segurança?• Os cuida<strong>do</strong>s no manuseio, transporte e aplicação de praguicidas no controle de vetores,bem como os equipamentos de proteção individual-EPI, estão descritos noManual de Controle de Vetores – Procedimentos de Segurança, 2001.• Os agentes, deverão usar os EPI indica<strong>do</strong>s para cada tipo de atividade envolven<strong>do</strong>aplicações de praguicidas.Avaliação <strong>do</strong> controle químicoA avaliação das ações de operação de inseticidas para o controle <strong>do</strong> flebotomíneo éde fundamental importância, para verificar o impacto das ações realizadas, a persistência<strong>do</strong> inseticida nas superfícies tratadas e a efetividade <strong>do</strong> produto em relação a mortalidade<strong>do</strong> vetor. O méto<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> para este tipo de avaliação foi padroniza<strong>do</strong> pela OrganizaçãoMundial da Saúde (WHO, 1970). No entanto, por se tratar de uma atividade específica, estaatribuição deve ser de competência <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> este reunir as condições necessárias.Orientações dirigidas ao controle <strong>do</strong> reservatório caninoEutanásia de cãesA prática da eutanásia canina é recomendada a to<strong>do</strong>s os animais com sorologia positivae/ou parasitológico positivo.Para a realização da eutanásia, deve-se ter como base a Resolução nº 714, de 20 dejunho de 2002, <strong>do</strong> Conselho Federal de Medicina Veterinária, que dispõe sobre os procedimentose méto<strong>do</strong>s de eutanásia em animais e dá outras providências, dentre as quaismerecem destaque:• Os procedimentos de eutanásia são de exclusiva responsabilidade <strong>do</strong> médico veterinário,que dependen<strong>do</strong> da necessidade pode delegar esta prática a terceiros, que arealizará sob sua supervisão. Na localidade ou município onde não existir médicoveterinário, a responsabilidade será da autoridade sanitária local;• Os animais deverão ser submeti<strong>do</strong>s à eutanásia em ambiente tranqüilo e adequa<strong>do</strong>,longe de outros animais e <strong>do</strong> alojamento <strong>do</strong>s mesmos;• A eutanásia deverá ser realizada segun<strong>do</strong> a legislação municipal, estadual e federalno que se refere a compra e armazenamento de drogas, saúde ocupacional e eliminaçãode cadáveres e carcaças;• Para a realização da eutanásia são recomenda<strong>do</strong>s os barbitúricos, anestésicos inaláveis,dióxi<strong>do</strong> de carbono – CO 2 , monóxi<strong>do</strong> de carbono – CO e cloreto de potássio– KCl; para este último, será necessária anestesia geral prévia;494 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose Visceral• Os procedimentos de eutanásia, se mal emprega<strong>do</strong>s, estão sujeitos à legislação federalde crimes ambientais.Destino de cadáveresOs cadáveres de animais submeti<strong>do</strong>s à eutanásia ou que tiveram morte devi<strong>do</strong> à leishmaniosedeverão ser considera<strong>do</strong>s como resíduos de serviços de saúde. Portanto, o destinode seus cadáveres deverá obedecer o previsto na Resolução RDC nº 33, de 25 de fevereirode 2003, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que dispõe sobre o RegulamentoTécnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde.Segun<strong>do</strong> a resolução, os cadáveres de animais errantes ou <strong>do</strong>mésticos são considera<strong>do</strong>s<strong>do</strong> Grupo D (resíduos comuns), que são os gera<strong>do</strong>s nos serviços de saúde e que, porsuas características, não necessitam de procedimentos diferencia<strong>do</strong>s. O destino <strong>do</strong> cadáverdestes animais deverá ser valas comuns de aterros sanitários.Orientações dirigidas às atividades de educação em saúdeAs atividades de educação em saúde devem estar inseridas em to<strong>do</strong>s os serviços quedesenvolvem ações de controle da leishmaniose visceral, requeren<strong>do</strong> o envolvimento efetivodas equipes multiprofissionais e multiinstitucionais com vistas ao trabalho articula<strong>do</strong>nas diferentes unidades de prestação de serviços, através de:• divulgação à população sobre a ocorrência da leishmaniose visceral na região, alertan<strong>do</strong>sobre os sinais clínicos e os serviços para o diagnóstico e tratamento;• capacitação das equipes, engloban<strong>do</strong> o conhecimento técnico, os aspectos psicológicose a prática profissional em relação à <strong>do</strong>ença e aos <strong>do</strong>entes;• a<strong>do</strong>ção de medidas preventivas consideran<strong>do</strong> o conhecimento da <strong>do</strong>ença, atitudese práticas da população (clientela) relacionadas às condições de vida e trabalho daspessoas;• estabelecimento de relação dinâmica entre o conhecimento <strong>do</strong> profissional e a vivência<strong>do</strong>s diferentes estratos sociais através da compreensão global <strong>do</strong> processosaúde/<strong>do</strong>ença, no qual intervêm fatores sociais, ambientais, econômicos, políticos eculturais;• incorporação das atividades de educação em saúde voltadas à leishmaniose visceraldentro de um processo de educação continuada;• desenvolvimento de atividades de educação em saúde junto à comunidade;• estabelecimento de parcerias buscan<strong>do</strong> a integração institucional.6LRecomendações específicas para cada uma das classificaçõesdas áreas para vigilância e controle da leishmaniose visceralSerão apresenta<strong>do</strong>s fluxogramas relativos às recomendações específicas para cada umadas áreas, referentes as ações de vigilância e controle da leishmaniose visceral. Para maioresdetalhamentos, ver Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS495


Leishmaniose VisceralÁreas sem casos de leishmaniose visceralAs áreas sem casos de leishmaniose visceral humana ou canina podem apresentar umadas seguintes situações:Áreas sem casos de LVVulnerávelNão-vulnerávelReceptivaNão-receptivaA definição de cada uma das áreas acima está descrita no tópico Vigilância epidemiológica.Os municípios sem casos humano e canino de leishmaniose visceral são classifica<strong>do</strong>sem vulnerável ou não-vulnerável. Assim, deve-se considerar como vulnerável o que apresentarqualquer uma das seguintes situações:• municípios contíguos aos de casos humanos;• municípios que fazem parte <strong>do</strong> mesmo eixo ro<strong>do</strong>viário <strong>do</strong>s casos humanos;• municípios com fluxo migratório intenso.A confirmação <strong>do</strong> exame parasitológico é obrigatória apenas nas áreas sem casos humanos.496 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose VisceralVigilância e controle em áreas sem casos autóctones de leishmaniose visceralÁrea sem casos autóctones ou silenciosaVulnerávelNão-vulnerávelLevantamento entomológicoNão programada açãoBusca ativade cães comsuspeitaclínicaDesenvolveratividadesde educaçãoe saúdeTreinarprofissionaisparadiagnósticoprecoce etratamentoEutanásianos cãespositivosVigilânciae monitoramentoPrevalênciacanina 2%Cão importa<strong>do</strong>Saneamento ambientalControle da população canina erranteInquérito canino negativoVigilância emonitoramentoParasitológico negativo ououtra espécie de leishmaniaVigilância e monitoramentoEutanásia nos cães positivosVigilância e monitoramento6Busca ativade cães comsuspeita clínicaImplementação dasações de vigilânciaepidemiológicaRealizarinquéritocensitárioTreinar profissionaispara diagnósticoprecoce e tratamentoDesenvolveratividades de educaçãoem saúdeEutanásia noscães positivosLSeguir as recomendaçõesconforme resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong>inquérito censitárioÁreas com casos de leishmaniose visceralAs áreas com casos de leishmaniose visceral humana podem apresentar uma das seguintessituações:• ser um município com registro de primeiro caso autóctone;• ser um município com transmissão esporádica;• ser um município com transmissão moderada;• Ser um município com transmissão intensa;• ser um município com surto.A definição de cada uma das áreas referidas está descrita no tópico Vigilância Epidemiológica.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS497


Leishmaniose VisceralÁreas com casos de LVÁreas comprimeiro caso de LVTransmissão esporádicaTransmissãomoderada e intensaÁreas com surtoA partir da classificação <strong>do</strong>s municípios, são recomendadas as seguintes ações:Áreas com registro <strong>do</strong> primeiro caso autóctone de leishmaniose visceralVigilância e controle em áreas com registro <strong>do</strong> primeiro caso autóctone deleishmaniose visceralRegistro <strong>do</strong> primeiro casoautóctone de leishmaniose visceralAções referentesao caso humanoAções referentes ao vetorAções referentesao reservatório caninoDesenvolver atividadesde educação e saúdeNotificação einvestigaçãoRealizar investigaçãoentomológica no localde transmissãoSaneamentoambientalImplementaras ações paradiagnóstico,tratamento eacompanhamento<strong>do</strong>s pacientesBusca ativa decasos suspeitosno local detransmissãoInvestigar acausa <strong>do</strong> óbito,se for o casoPresençade vetorIndicação imediatade controlequímico no localde transmissãoProgramar <strong>do</strong>isnovos ciclosde borrifaçãoAusênciade vetorAvaliarmensalmenteaté o encontro<strong>do</strong> vetorBusca ativa de cãescom suspeita clínicaSorologiapositivaEutanásiaRealizar sorologiaSorologianegativaVigilância emonitoramentoCães comsorologia positivaEutanásiaInquérito censitáriocanino anual nolocal de transmissãoCães comsorologia negativaVigilância emonitoramentoControle da populaçãocanina erranteObservação: a confirmação <strong>do</strong> exame parasitológico canino é obrigatória apenas nasáreas sem casos humanos.Áreas com transmissão esporádica de leishmaniose visceralAções específicas referentes ao vetor – nos municípios com transmissão esporádica,as ações referentes ao vetor estão restritas ao conhecimento da espécie e a dispersão da população<strong>do</strong> vetor no município, que orientará a delimitação da área para a realização <strong>do</strong> inquéritocanino. Cabe salientar que nenhuma ação de controle químico deverá ser realizada.498 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leishmaniose VisceralVigilância e controle em áreas com transmissão esporádica de leishmaniose visceralÁreas com transmissão esporádicaAções referentesa casos humanosAções referentes ao vetorAções referentes aoreservatório caninoDesenvolver atividadesde educação em saúdeNotificaçãoe investigaçãoRealizar levantamentoentomológico nolocal de transmissãoSaneamentoambientalImplementaras ações paradiagnóstico,tratamento eacompanhamento<strong>do</strong>s pacientesBusca ativa de cãescom suspeita clínicaInquérito censitáriocanino anual nolocal de transmissãoControle da populaçãocanina erranteBusca ativa decasos suspeitosRealizar sorologiaCães comsorologiapositivaCães comsorologianegativa6Monitorare investigaróbitos de LVSorologiapositivaEutanásiaSorologianegativaVigilância emonitoramentoEutanásiaVigilância emonitoramentoObservação: a confirmação <strong>do</strong> exame parasitológico canino não será obrigatória emáreas com transmissão esporádica, moderada ou intensa.Áreas com transmissão moderada/intensa de leishmaniose visceralAções específicas referentes ao vetor – nos municípios com transmissão moderada/intensa, a presença <strong>do</strong> vetor e a dispersão da população <strong>do</strong> vetor no município devem serconhecidas, o que permite melhor direcionamento das ações de controle (vetor e reservatório).Caso estas informações não sejam possíveis, é indica<strong>do</strong> priorizar o levantamento entomológico.Destaque-se que o controle químico nestas áreas deverá ser programa<strong>do</strong> para o perío<strong>do</strong>propício <strong>do</strong> aumento <strong>do</strong> vetor.LSecretaria de Vigilância em Saúde / MS499


Leishmaniose VisceralVigilância e controle em áreas com transmissãomoderada e intensa de leishmaniose visceralÁreas com transmissão moderada e intensaAções referentesa casos humanosAçõesreferentes ao vetorAções referentesao reservatório caninoDesenvolver atividadesde educação em saúdeNotificaçãoe investigaçãoRealizar levantamentoentomológico nolocal de transmissãoIndicação decontrole químico naárea de transmissãoSaneamentoambientalImplementaras ações paradiagnóstico,tratamento eacompanhamento<strong>do</strong>s pacientesÁrea com casos humanos:inquérito censitário anualÁrea sem casos humanos:realizar inquérito amostralcanino anualmenteControle dapopulação canina erranteBusca ativa decasos suspeitosEutanásia decães positivosVigilância emonitoramentoMonitorar einvestigar óbitosde leishmaniosevisceralPrevalência canina >2%Eutanásia decães positivosVigilância emonitoramentoMantervigilânciaPrevalência canina


Leishmaniose VisceralAnexo 1Coleta e conservação de material paradiagnóstico da leishmaniose visceral humana e caninaTipo dediagnósticoTipo de material Quantidade Méto<strong>do</strong> RecipienteArmazenamento/conservaçãoTransporteSorológico(humanoou canino)Sangue5-10ml(mínimo 2mlde soro)Imunofluorescênciaindireta/IFI ou ElisaTubo de vidro oude plástico estérile com tampa (melhorse Epen<strong>do</strong>rf ® )Sangue total2ºC a 8ºCSoro -20ºCGelo secoou reciclável.Nitrogênio líqui<strong>do</strong>ParasitológicoAspira<strong>do</strong> de medula,linfono<strong>do</strong> ou baçoAspira<strong>do</strong> de medula,linfono<strong>do</strong> ou baçoou biópsia de fíga<strong>do</strong>-Esfregaço fino-Duas lâminaspara esfregaçoTubo de vidro oude plástico estérile com tampaLâminas fixadas e coradaspelos méto<strong>do</strong>sde Giemsa ou Wright,Leishman, PanópticoMeio de NNNa 24-26ºCApós a secagem,anexar e embrulhara lâmina junto com opapel identificatórioCaixa para transportede material biológico6Observação: para inquéritos sorológicos caninos pode ainda ser utilizada, em situaçõesexcepcionais, a coleta de sangue em papel de filtro (eluato) desde que seja criteriosamentea<strong>do</strong>tada a meto<strong>do</strong>logia abaixo descrita. É fundamental que cada amostra seja identificada,para evitar sua troca acidental.Material• Microlanceta descartável• Papel de filtro tipo qualitativo, 80 gramas• Papel celofane hidrófobo• Algodão• Solução antisséptica (álcool a 70%, álcool ioda<strong>do</strong>, etc.)LMéto<strong>do</strong>Colher a amostra de sangue através de punção da veia marginal auricular <strong>do</strong> cão, utilizan<strong>do</strong>microlancetas descartáveis e transferin<strong>do</strong> o material obti<strong>do</strong> por capilaridade paralâminas de papel de filtro. A área embebida deve ser de aproximadamente 3×3 centímetroscom distribuição homogênea no papel. Após secarem, cada folha de papel de filtro deve serseparada por lâminas de papel celofane, para evitar a contaminação das amostras de sangueque devem estar devidamente identificadas.Após a coleta <strong>do</strong> material descrito, o mesmo deve ser embala<strong>do</strong> em saco plástico econserva<strong>do</strong> à temperatura ambiente durante uma semana ou refrigera<strong>do</strong> a 4°C e envia<strong>do</strong>para o laboratório central <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> ou município. To<strong>do</strong> material envia<strong>do</strong> para o laboratóriodeve estar devidamente identifica<strong>do</strong>, constan<strong>do</strong> os seguintes da<strong>do</strong>s: identificação <strong>do</strong>animal (nome, idade e sexo), nome e endereço completo <strong>do</strong> proprietário e identificação <strong>do</strong>responsável pela colheita <strong>do</strong> material.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS501


LeptospiroseLEPTOSPIROSECID 10: A27Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoÉ uma <strong>do</strong>ença infecciosa febril de início abrupto, cujo espectro pode variar desde umprocesso inaparente até formas graves. Trata-se de zoonose de grande importância social eeconômica por apresentar elevada incidência em determinadas áreas, alto custo hospitalare perdas de dias de trabalho, bem como por sua letalidade, que pode chegar a até 40% <strong>do</strong>scasos mais graves. Sua ocorrência está relacionada às precárias condições de infra-estruturasanitária e alta infestação de roe<strong>do</strong>res infecta<strong>do</strong>s. As inundações propiciam a disseminaçãoe a persistência <strong>do</strong> agente causal no ambiente, facilitan<strong>do</strong> a eclosão de surtos.SinonímiaDoença de Weil, síndrome de Weil, febre <strong>do</strong>s pântanos, febre <strong>do</strong>s arrozais, febre outonal,<strong>do</strong>ença <strong>do</strong>s porqueiros, tifo canino e outras. Atualmente, evita-se a utilização dessestermos, pois são potencialmente passíveis de confusão.Agente etiológicoBactéria helicoidal (espiroqueta) aeróbica obrigatória <strong>do</strong> gênero Leptospira, <strong>do</strong> qual seconhecem atualmente sete espécies patogênicas, sen<strong>do</strong> a mais importante a L. interrogans.A unidade taxonômica básica é o sorovar (sorotipo). Mais de 200 sorovares já foram identifica<strong>do</strong>se cada um tem o(s) seu(s) hospedeiro(s) preferencial(ais), ainda que uma espécieanimal possa albergar um ou mais sorovares. Qualquer sorovar pode determinar as diversasformas de apresentação clínica no homem; em nosso meio, os sorovares Icterohaemorrhagiaee Copenhagen freqüentemente estão relaciona<strong>do</strong>s aos casos mais graves.Dentre os fatores liga<strong>do</strong>s ao agente etiológico, favorecen<strong>do</strong> a persistência <strong>do</strong>s focos deleptospirose, especial destaque deve ser da<strong>do</strong> ao eleva<strong>do</strong> grau de variação an tigênica, à capacidadede sobrevivência no meio ambiente (até 180 dias) e à ampla variedade de animaissusceptíveis que podem hospedar o microrganismo.ReservatóriosOs animais sinantrópicos, <strong>do</strong>mésticos e selvagens são os reservatórios essenciais paraa persistência <strong>do</strong>s focos da in fecção. Os seres humanos são apenas hospedeiros acidentais eterminais dentro da cadeia de transmissão.O principal reservatório é constituí<strong>do</strong> pelos roe<strong>do</strong>res sinantrópicos (<strong>do</strong>mésticos) dasespécies Rattus norvegicus (ratazana ou rato de esgoto), Rattus rattus (rato de telha<strong>do</strong> ourato preto) e Mus musculus (camun<strong>do</strong>ngo ou catita). Ao se infectarem, não desenvolvema <strong>do</strong>ença e tornam-se porta<strong>do</strong>res, albergan<strong>do</strong> a leptospira nos rins e eliminan<strong>do</strong>-a viva no502 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leptospirosemeio ambiente, contaminan<strong>do</strong>, desta forma, água, solo e alimentos. O Rattus norvegicus éo principal porta<strong>do</strong>r da Leptospira icterohaemorraghiae, uma das mais patogênicas para ohomem. Outros reservatórios de importância são caninos, suínos, bovinos, eqüinos, ovinose caprinos.Mo<strong>do</strong> de transmissãoA infecção humana re sulta da exposição direta ou indireta à urina de animais infecta<strong>do</strong>s.A penetração <strong>do</strong> microrganismo dá-se através da pele lesada ou das mu cosas da boca,narinas e olhos. Pode também ocorrer através da pele íntegra quan<strong>do</strong> imersa em água porlongo tempo. O contato com água e lama contamina das demonstra a importância <strong>do</strong> elo hídricona transmissão da <strong>do</strong>ença ao homem. Outras modalidades de transmissão relatadas,porém com pouca freqüência: contato com sangue, teci<strong>do</strong>s e órgãos de animais infecta<strong>do</strong>s,transmissão acidental em laboratórios e ingestão de água ou alimentos contamina<strong>do</strong>s.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoVaria de 1 a 30 dias (média entre 7 e 14 dias).6Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeOs animais infecta<strong>do</strong>s podem eliminar a leptospira através da urina durante meses,anos ou por toda a vida, segun<strong>do</strong> a espécie animal e o sorovar envolvi<strong>do</strong>. A transmissãointer-humana é muito rara, poden<strong>do</strong> ocorrer pelo contato com urina, sangue, secreções eteci<strong>do</strong>s de pessoas infectadas.Susceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade no homem é geral. A imunidade adquirida pós-infecção é sorovarespecífica,poden<strong>do</strong> um mesmo indivíduo apresentar a <strong>do</strong>ença mais de uma vez, sen<strong>do</strong> queo agente causal de cada episódio pertencerá a um sorovar diferente <strong>do</strong>(s) anterior(es).LAspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasA leptospirose humana apresenta manifestações clínicas muito variáveis, com diferentesgraus de severidade. A infecção pode ser assintomática, subclínica ou ocasionar quadrosclínicos leves, modera<strong>do</strong>s ou graves com alta letalidade.Clinicamente, a leptospirose apresenta-se sob duas formas:Forma anictérica (leve, moderada ou grave)Responsável por 90% a 95% <strong>do</strong>s casos, mas devi<strong>do</strong> às dificuldades inerentes à suspeitae à confirmação, não ultrapassam 45% nos registros oficiais.A <strong>do</strong>ença pode ser discreta, de início súbito com febre, cefaléia, <strong>do</strong>res musculares,anorexia, náuseas e vômitos. Tende a ser autolimitada e cura em poucos dias sem deixarSecretaria de Vigilância em Saúde / MS503


Leptospiroseseqüelas. É freqüentemente rotulada como “síndrome gripal”, “virose” ou outras <strong>do</strong>ençasque ocorrem na mesma época, como dengue ou influenza. Uma história de exposição diretaou indireta a coleções hídricas (incluídas água ou lama de enchentes) ou a outros materiaispassíveis de contaminação por leptospiras pode servir como alerta para o médico suspeitardesse diagnóstico.Infecção mais grave pode ocorrer, apresentan<strong>do</strong>-se classicamente como uma <strong>do</strong>ençafebril bifásica. A primeira fase, “septicêmica” ou “leptospirêmica”, inicia-se abruptamentecom febre alta, calafrios, cefaléia intensa, <strong>do</strong>res musculares e prostração. As mialgiasenvolvem caracteristicamente os músculos das panturrilhas, mas podem afetar tambémcoxas, regiões paravertebrais e ab<strong>do</strong>me, poden<strong>do</strong> até mesmo simular um ab<strong>do</strong>me agu<strong>do</strong>cirúrgico.Podem ocorrer anorexia, náuseas, vômitos, obstipação ou diarréia, artralgias, hiperemiaou hemorragia conjuntival, fotofobia e <strong>do</strong>r ocular, bem como hepatomegalia e, maisraramente, hemorragia digestiva (melena, enterorragia), esplenomegalia e pancreatite. Podemser também observa<strong>do</strong>s: epistaxe, <strong>do</strong>r torácica, tosse seca ou com expectoração hemoptóica,dispnéia e cianose. A hemoptise franca denota extrema gravidade e pode ocorrerde forma súbita, levan<strong>do</strong> ao óbito por asfixia. Distúrbios neurológicos como confusão, delírioe alucinações, sinais de irritação meníngea e outros podem estar presentes.A “fase septicêmica” dura de 4 a 7 dias, após a qual o paciente pode curar-se ou evoluircom recrudescimento da febre e sintomas gerais, com ou sem agravamento.As manifestações clínicas da “fase imune” iniciam-se geralmente na segunda semanada <strong>do</strong>ença e desaparecem em 1 a 3 semanas. Nesta fase, as manifestações neurológicasfreqüentemente apresentam um quadro de meningite, com cefaléia intensa, vômitos e sinaisde irritação meníngea. Menos freqüentemente ocorrem encefalite, paralisias focais,espasticidade, nistagmo, convulsões, distúrbios visuais de origem central, neurite periférica,paralisia de nervos cranianos, radiculite, síndrome de Guillain-Barré e mielite. Podemocorrer acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos ou meníngeos, com quadros graves dehipertensão intracraniana e coma.As manifestações mais comuns <strong>do</strong> envolvimento cardíaco (miocardite) são alteraçõeseletrocardiográficas e arritmias. Pode ocorrer comprometimento ocular com hiperemia ouhemorragia das conjuntivas, hemorragia intra-ocular e, mais tardiamente, uveíte. Algunspacientes apresentam alterações <strong>do</strong> volume e <strong>do</strong> sedimento urinário, porém a insuficiênciarenal aguda é rara na leptospirose anictérica.As lesões cutâneas são pouco freqüentes, ainda que bastante variadas: exantemas maculares,maculopapulares, eritematosos, urticariformes, petequiais ou hemorrágicos.Forma ictérica (moderada ou grave)Em alguns pacientes a “fase septicêmica” evolui como uma <strong>do</strong>ença ictérica grave comdisfunção renal, fenômenos hemorrágicos, alterações hemodinâmicas, cardíacas, pulmonarese de consciência (<strong>do</strong>ença de Weil), com taxas de letalidade entre 10% e 40%. O cursobifásico é raro e os sintomas e sinais que precedem a icterícia são mais intensos, destacan<strong>do</strong>-seas mialgias, sobretu<strong>do</strong> nas panturrilhas. A icterícia, de tonalidade alaranjada (icterí-504 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leptospirosecia rubínica), bastante intensa e característica, tem início entre o 3º e 7º dia da <strong>do</strong>ença. Adisfunção hepática é associada a maior incidência de complicações e a maior mortalidade,embora a insuficiência hepática não constitua importante causa de morte, diferentemente<strong>do</strong> que ocorre com a febre amarela.A insuficiência renal aguda (IRA) e a desidratação acometem na maioria <strong>do</strong>s pacientes.A forma oligúrica é menos freqüente que a forma não-oligúrica, mas está associada apior prognóstico. Diferentemente de outras formas de IRA, os níveis de potássio plasmáticoestão normais ou diminuí<strong>do</strong>s, raramente eleva<strong>do</strong>s.Os fenômenos hemorrágicos são freqüentes, poden<strong>do</strong> ocorrer na pele, nas mucosas ounos órgãos internos, sob a forma de petéquias, equimoses e sangramento nos locais de venopunção,e também em qualquer estrutura orgânica, inclusive no sistema nervoso central.As hemorragias gastrointestinais e pulmonares são os principais mecanismos implica<strong>do</strong>scom o óbito <strong>do</strong>s pacientes.O envolvimento cardíaco mais comum é a miocardite, com alterações eletrocardiográficas,arritmias e insuficiência cardíaca ou choque cardiogênico. Ao exame <strong>do</strong> ab<strong>do</strong>me,com freqüência há <strong>do</strong>r à palpação; constata-se hepatomegalia em aproximadamente 70%<strong>do</strong>s casos. A esplenomegalia é rara.6Nos últimos anos, têm si<strong>do</strong> descritos casos da forma pulmonar grave da leptospirose,com quadros respiratórios evoluin<strong>do</strong> para insuficiência respiratória aguda, com hemorragiapulmonar maciça ou síndrome de angústia respiratória <strong>do</strong> adulto. Muitasvezes precede o quadro de icterícia e insuficiência renal. O óbito pode ocorrer nasprimeiras 24 horas de internação.Convalescença e seqüelasAtrofia muscular e anemia são freqüentemente observadas por ocasião da alta <strong>do</strong> paciente.A convalescença dura de 1 a 2 meses, perío<strong>do</strong> no qual podem persistir a febre, a cefaléia,as mialgias e mal-estar geral por alguns dias. A leptospirúria pode continuar por umasemana ou eventualmente até vários meses após o desaparecimento <strong>do</strong>s sintomas. Os níveisde anticorpos, detecta<strong>do</strong>s pelos testes sorológicos, diminuem progressivamente mas emalguns casos podem permanecer eleva<strong>do</strong>s por vários meses, fato que não deve ser interpreta<strong>do</strong>como uma infecção prolongada, situação não descrita para a leptospirose humana.LDiagnóstico diferencialForma anictérica – “virose”, dengue, influenza, hantavirose, arboviroses, apendiciteaguda, sepse, febre tifóide, pneumonias da comunidade, malária, pielonefrite aguda, riquetsioses,toxoplasmose, meningites e outras.Forma ictérica – sepse com icterícia, hepatites virais agudas, febre tifóide com icterícia,febre amarela, malária grave (principalmente por P. falciparum), riquetsioses, colangite,colecistite aguda, cole<strong>do</strong>colitíase, síndrome hemolítico-urêmico grave com icterícia, síndromehepatorrenal, esteatose aguda da gravidez e outras.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS505


LeptospiroseDiagnóstico laboratorialExames específicosO méto<strong>do</strong> laboratorial de escolha de pende da fase evolutiva em que se encontra opaciente. Na fase aguda ou septicêmica, durante o perío<strong>do</strong> febril, as leptospiras podem servisuali zadas no sangue através de exame direto, de cultura em meios apropria<strong>do</strong>s ou a partirde inoculação em animais de laboratório. A cultura somente se finaliza (positiva ou negativa)após algu mas semanas, o que garante apenas um diagnóstico retrospectivo.Na fase imune, as lep tospiras podem ser encontradas na urina, cultivadas ou inoculadas.Pelas dificuldades inerentes à realização <strong>do</strong>s exames anteriormente cita<strong>do</strong>s, os méto<strong>do</strong>ssorológicos são consagradamente eleitos para o diagnóstico da leptospirose. Os maisutiliza<strong>do</strong>s em nosso meio são o teste Elisa-IgM, a macroaglutinação e a microaglutinação.Vide normas de coleta e interpretação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s no Anexo I.Exames inespecíficosSão relevantes para o diagnóstico e acompanhamento clínico da leptospirose: hemograma,coagulograma, transaminases, bilirrubinas, uréia, creatinina e eletrólitos, gasometria,ele mentos anormais e sedimentos no exame sumário de urina, raios X de tórax e eletrocardiograma.As alterações mais comuns são:• leucocitose, neutrofilia e desvio para a esquerda;• anemia hipocrômica;• aumento da velocidade de hemossedimentação (VHS);• plaquetopenia;• elevação das bilirrubinas, principalmente da fração direta que pode atingir com freqüêncianíveis eleva<strong>do</strong>s acima de 15mg/dl;• transaminases normais ou com aumentos de 3 a 5 vezes o valor da referência (geralmentenão ultrapassam 500 UI/dl), estan<strong>do</strong> a TGO (AST) usualmente mais elevadaque a TGP (ALT);• fosfatase alcalina e gama glutamiltransferase (Gama GT) elevadas;• atividade de protrombina diminuída ou tempo de protrombina aumenta<strong>do</strong>;• potássio sérico normal ou abaixo <strong>do</strong> normal, mesmo na vigência de insuficiênciarenal aguda;• uréia e creatinina elevadas;• baixa densidade urinária, proteinúria, hematúria microscópica e leucocitúria sãoacha<strong>do</strong>s freqüentes no exame sumário de urina;• líquor com xantocromia (nos casos ictéricos), pleocitose moderada (abaixo de 1 milcélulas/mm 3 ) linfomonocitária ou neutrofílica, comum na segunda semana da <strong>do</strong>ença,mesmo na ausência clínica da evidência de envolvimento meníngeo. Pode haverpre<strong>do</strong>mínio de neutrófilos, geran<strong>do</strong> confusão com meningite bacteriana inespecífica;• CK (creatinoquinase) e fração MB (CK-MB) poderão estar elevadas;• gasometria arterial mostran<strong>do</strong> aci<strong>do</strong>se metabólica e hipoxemia.506 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


LeptospiroseTratamentoAntibioticoterapiaPublicações anteriores têm enfatiza<strong>do</strong> seu efeito benéfico quan<strong>do</strong> iniciada até o 5º dia<strong>do</strong> início <strong>do</strong>s sintomas; porém, estu<strong>do</strong>s mais recentes sugerem sua eficácia, mesmo quan<strong>do</strong>iniciada mais tarde, no curso <strong>do</strong>s casos graves.A droga de escolha é a penicilina G cristalina (adultos: de 6 a 12 milhões de unidades/dia,divididas em 4 a 6 tomadas diárias, durante 7 a 10 dias; crianças: 50 mil a 100 milunidades/kg/dia pelo mesmo perío<strong>do</strong>).Como alternativas podem ser utilizadas a ampicilina (4 g/dia para adultos e 50 a 100mg/kg/dia para crianças), a tetraciclina (2 g/dia) ou a <strong>do</strong>xiciclina (100mg de 12/12horas)por igual perío<strong>do</strong>.Para os pacientes alérgicos à penicilina ou que apresentem lesão renal e icterícia, sugereseo uso <strong>do</strong> cloranfenicol (2g/dia para adultos e 50 a 100 mg/kg/dia para crianças).6Observação: a tetraciclina e a <strong>do</strong>xiciclina são contra-indicadas em gestantes, menoresde 9 anos e pacientes com insuficiência renal aguda ou insuficiência hepática.Medidas terapêuticas de suporteConstituem aspectos da maior relevância no atendimento de casos modera<strong>do</strong>s e gravese devem ser iniciadas precocemente na tentativa de evitar complicações da <strong>do</strong>ença, principalmenteas renais: reposição hidreletrolítica, assistência cardiorrespiratória, transfusõesde sangue e deriva<strong>do</strong>s, nutrição enteral ou parenteral, proteção gástrica, etc. O acompanhamento<strong>do</strong> volume urinário e da função renal são fundamentais para se indicar a instalaçãode diálise peritoneal precoce, o que reduz o dano renal e a letalidade da <strong>do</strong>ença.LAspectos epidemiológicosA lep tospirose apresenta distribuição universal. No Brasil, é uma <strong>do</strong>ença endêmica,tornan<strong>do</strong>-se epidêmica em perío<strong>do</strong>s chuvosos, principalmente nas capitais e áreas metropolitanas,devi<strong>do</strong> às enchentes associadas à aglomeração populacional de baixa renda emcondições inadequadas de saneamento e à alta infestação de roe<strong>do</strong>res infecta<strong>do</strong>s.Algumas profissões facilitam o contato com as leptospiras, como trabalha<strong>do</strong>res em limpezae desentupimento de esgotos, garis, cata<strong>do</strong>res de lixo, agricultores, veterinários, trata<strong>do</strong>resde animais, pesca<strong>do</strong>res, magarefes, laboratoristas, militares e bombeiros, dentre outras.Contu<strong>do</strong>, em nosso meio, a maior parte <strong>do</strong>s casos ainda ocorre entre pessoas que habitamou trabalham em locais com más condições de sanea mento e expostos à urina de roe<strong>do</strong>res.Em análise realizada para o perío<strong>do</strong> 2001 a 2003, no Brasil, o local provável de infecção (LPI)de 55% <strong>do</strong>s casos era o <strong>do</strong>micílio; de 32%, o ambiente de trabalho e de 13%, as situações delazer. Ao se observar apenas o meio rural/silvestre como LPI, observou-se que 54% <strong>do</strong>s casosocorreram no ambiente de trabalho, 28% no <strong>do</strong>micílio e 17% em situações de lazer.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS507


Número de casosLeptospiroseNo perío<strong>do</strong> de 1999 a 2003, foram confirma<strong>do</strong>s 14.334 casos de leptospirose, com umamédia anual de 2.866 casos, varian<strong>do</strong> entre 2.415 (2003) e 3.532 casos (2001). Nesse mesmoperío<strong>do</strong> foram informa<strong>do</strong>s 1.683 óbitos, numa média de 336 óbitos/ano. A taxa de letalidadefoi de 12% e o coeficiente médio de incidência de 1,7/100 mil hab. Entre os casos notifica<strong>do</strong>s,as maiores freqüências têm si<strong>do</strong> encontradas entre indivíduos <strong>do</strong> sexo masculino(81%) e na faixa etária de 20 a 49 anos, ainda que não exista uma predisposição de gêneroou idade para contrair a infecção.Do total de casos confirma<strong>do</strong>s, 77% foram hospitaliza<strong>do</strong>s, o que claramente demonstraque o sistema de vigilância sofre um importante grau de subnotificação, captan<strong>do</strong> principalmenteos casos modera<strong>do</strong>s e graves. A média de permanência no hospital foi de 7,5 dias.Casos confirma<strong>do</strong>s e coeficientes de incidência de leptospirose. Brasil, 1991-20036.0005.0004.0003.0002.0001.00043,532,521,510,5CI p / 100 mil hab.0 01991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003CasosC.I.3.014 2.094 1.728 2.893 4.293 5.579 3.298 3.449 2.436 3.493 3.532 2.455 2.4152 1,4 1,1 1,8 2,7 3,5 2 2,1 2 2 2 1,4 1,4Fonte: SVS/MSOs sintomas mais freqüentemente relata<strong>do</strong>s foram febre (92%), mialgia (87%), cefaléia(82%), icterícia (73%), náusea ou vômitos (70%), alterações respiratórias (37%), diarréia(34%), conjuntivite (26%), insuficiência renal (27%), hemorragia (17%), alterações cardíacas(11%) e meningismo (8,5%).As situações mais freqüentes de exposição foram aquelas relacionadas à ocorrência deenchentes, seguidas por contato com córregos ou cursos d’água, lavoura, lixo, esgoto e, emmenor escala, com limpeza de caixas d’água e outras situações.Vigilância epidemiológicaObjetivos• Monitorar a ocorrência de casos e surtos e determinar a sua distribuição espacial etemporal.508 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leptospirose• Reduzir a letalidade da <strong>do</strong>ença, mediante a garantia de diagnóstico e tratamentoprecoce e adequa<strong>do</strong>.• Identificar os sorovares circulantes em cada área.• Direcionar as medidas preventivas e de controle destinadas à população, ao meioambiente e aos reservatórios animais.Definição de casoSuspeito• Indivíduo com febre de início súbito, mialgias, cefaléia, mal-estar e/ou prostração,associa<strong>do</strong>s a um ou mais <strong>do</strong>s seguintes sinais e/ou sintomas: sufusão conjuntival ouconjuntivite, náuseas e/ou vômitos, calafrios, alterações <strong>do</strong> volume urinário, icterícia,fenômeno hemorrágico e/ou alterações hepáticas, renais e vasculares compatíveiscom leptospirose ictérica (síndrome de Weil) ou anictérica grave.• Indivíduo que apresente sinais e sintomas de processo infeccioso inespecífico comantecedentes epidemiológicos sugestivos nos últimos 30 dias anteriores à data deinício <strong>do</strong>s primeiros sintomas.6São considera<strong>do</strong>s como antecedentes epidemiológicos sugestivos:• exposição a enchentes, lama ou coleções hídricas potencialmente contaminadas;• exposição a esgoto e fossas;• atividades que envolvam risco ocupacional, como coleta de lixo, limpeza de córregos,trabalho em água ou esgoto, manejo de animais e agricultura em áreas alagadas,dentre outras;• presença de animais infecta<strong>do</strong>s (roe<strong>do</strong>res, cães, bovinos, etc.) nos locais freqüenta<strong>do</strong>spelo paciente.LConfirma<strong>do</strong>Critério clínico-laboratorial – presença de sinais e sintomas clínicos compatíveis, associa<strong>do</strong>sa um ou mais <strong>do</strong>s seguintes resulta<strong>do</strong>s de exames laboratoriais:• teste Elisa-IgM reagente (ou reação de macroaglutinação reagente, se disponível);• soroconversão na reação de microaglutinação, entendida como uma primeira amostra(fase aguda) não-reagente e uma segunda amostra (14-21 dias após, máximo até60 dias) com título maior ou igual a 1:200;• aumento de 4 vezes ou mais nos títulos de microaglutinação entre duas amostrassangüíneas coletadas com um intervalo de 14 a 21 dias (máximo de 60 dias);• quan<strong>do</strong> não houver disponibilidade de duas ou mais amostras, um título maior ouigual a 1:800 na microaglutinação confirma o diagnóstico;• isolamento da Leptospira (em sangue, líquor, urina ou teci<strong>do</strong>s) ou detecção de DNAde leptospira patogênica por PCR;• imunohistoquímica positiva para leptospirose em pacientes suspeitos que evoluírampara óbito.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS509


LeptospiroseCritério clínico-epidemiológico – to<strong>do</strong> caso suspeito que apresente sinais e/ou sintomasinespecíficos associa<strong>do</strong>s com alterações nas funções hepáticas e/ou renais e/ou vascularese antecedentes epidemiológicos (descritos nos critérios de definição de caso suspeito)que, por algum motivo, não tenha colhi<strong>do</strong> material para exames laboratoriais específicos ouestes tenham resulta<strong>do</strong> não-reagente com amostra única coletada antes <strong>do</strong> 7º dia de <strong>do</strong>ença.O resulta<strong>do</strong> negativo (não-reagente) de qualquer exame sorológico específico para aleptospirose (macroaglutinação, microaglutinação, Elisa-IgM, ou outros), com amostrasangüínea coletada antes <strong>do</strong> 7º dia <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s sintomas, não descarta o casosuspeito. Outra amostra sangüínea deverá ser coletada a partir <strong>do</strong> 7º dia <strong>do</strong> início <strong>do</strong>ssintomas, para auxiliar na interpretação <strong>do</strong> diagnóstico, conforme referi<strong>do</strong> anteriormente(lembrar que o pico de produção de anticorpos ocorre a partir <strong>do</strong> 14º dia <strong>do</strong>início <strong>do</strong>s sintomas).To<strong>do</strong> caso suspeito com o mesmo vínculo epidemiológico (mesmos fatores de risco)de um caso já confirma<strong>do</strong> por critério clínico-laboratorial que, por algum motivo, não tenhacolhi<strong>do</strong> material para exames laboratoriais específicos ou estes tenham resulta<strong>do</strong> nãoreagentecom amostra única coletada antes <strong>do</strong> 7º dia de <strong>do</strong>ença.Descarta<strong>do</strong>• Teste Elisa-IgM não-reagente, em amostra sangüínea coletada a partir <strong>do</strong> 7º dia deinício <strong>do</strong>s sintomas.• Reação de macroaglutinação não-reagente, em amostra sangüínea coletada a partir<strong>do</strong> 7º dia de início <strong>do</strong>s sintomas.• Duas reações de microaglutinação não-reagentes (ou reagentes sem apresentar soroconversãonem aumento de 4 vezes ou mais nos títulos), com amostras sangüíneascoletadas a partir <strong>do</strong> primeiro atendimento <strong>do</strong> paciente e com intervalo de 2 a 3semanas entre elas.NotificaçãoA leptospirose é uma <strong>do</strong>ença de notificação compulsória no Brasil. Tanto a ocorrênciade casos suspeitos isola<strong>do</strong>s como a de surtos devem ser notificadas, o mais rapidamentepossível, para o desencadeamento das ações de vigilância epidemiológica e controle.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteHospitalização imediata <strong>do</strong>s casos graves, visan<strong>do</strong> evitar complicações e diminuir aletalidade. Nos casos leves, o atendimento é ambulatorial.Qualidade da assistênciaOs casos deverão ser atendi<strong>do</strong>s em unidade de saúde com capacidade para prestaratendimento adequa<strong>do</strong> e oportuno. Aqueles que apresentarem complicações, principal-510 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leptospirosemente metabólicas, renais, respiratórias e hemorrágicas, deverão ser encaminha<strong>do</strong>s parainternação em hospitais de maior complexidade, que disponham de capacidade para realizarprocedimentos de diálise e cuida<strong>do</strong>s de terapia intensiva, se necessários.Proteção individualA transmissão pessoa a pessoa é rara e sem importância epidemiológica. Em geral, a<strong>do</strong>tam-semedidas de precaução universal no manejo <strong>do</strong>s casos suspeitos e confirma<strong>do</strong>s. O destinoadequa<strong>do</strong> das excretas evitará o contato da urina de <strong>do</strong>entes com pessoas susceptíveis.Confirmação diagnósticaColetar material para diagnóstico laboratorial específico de to<strong>do</strong>s os casos suspeitos,sempre que possível, de acor<strong>do</strong> com as orientações <strong>do</strong> Anexo 1. Acompanhar os resulta<strong>do</strong>s<strong>do</strong>s exames inespecíficos que auxiliam no esclarecimento <strong>do</strong> diagnóstico.Proteção da populaçãoOrientar e a<strong>do</strong>tar as medidas de prevenção da <strong>do</strong>ença, particularmente antes e duranteo perío<strong>do</strong> das grandes chuvas. Alertar a população para que realize as medidas de desinfecçãode <strong>do</strong>micílios após as enchentes e evite entrar ou permanecer desnecessariamente emáreas alagadas ou enlameadas sem a devida proteção individual. Descartar os alimentos queentraram em contato com águas contaminadas, bem como verificar se o tratamento da águade uso <strong>do</strong>méstico está adequa<strong>do</strong>.Medidas de anti-ratização são indicadas, principalmente em áreas endêmicas sujeitasa inundações.Ações continuadas de informação, comunicação e educação em saúde deverão ser empreendidasno senti<strong>do</strong> de repassar à população informações relativas às formas de transmissão,reservatórios animais envolvi<strong>do</strong>s e situações de risco.6LInvestigaçãoA investigação epidemiológica de cada caso suspeito e/ou confirma<strong>do</strong> deverá ser realizadacom base no preenchimento da ficha específica de investigação, visan<strong>do</strong> determinar aforma e local provável de infecção (LPI), o que irá orientar a a<strong>do</strong>ção de medidas adequadasde controle.Roteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação epidemiológica <strong>do</strong> Sinan relativosaos da<strong>do</strong>s gerais, da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> caso e de residência <strong>do</strong> paciente.Coleta de da<strong>do</strong>s epidemiológicos, clínicos e laboratoriaisColetar da<strong>do</strong>s referentes aos antecedentes epidemiológicos, com especial atenção paraa ocupação e situação de risco ocorrida nos 30 dias que antecederam os primeiros sintomasSecretaria de Vigilância em Saúde / MS511


Leptospirose<strong>do</strong> paciente, registran<strong>do</strong> a data e endereço <strong>do</strong> local provável de infecção (LPI) e a ocorrênciade casos anteriores de leptospirose humana ou animal no mesmo.Registrar a data <strong>do</strong> atendimento e os sinais e sintomas apresenta<strong>do</strong>s pelo pacientedesde o início <strong>do</strong> quadro clínico, a ocorrência de hospitalização, datas de internação e altae o endereço <strong>do</strong> hospital.Levantar da<strong>do</strong>s referentes à coleta e encaminhamento de amostra(s) para diagnósticolaboratorial, técnicas utilizadas (Elisa, microaglutinação, etc.), datas de coleta e respectivosresulta<strong>do</strong>s. Os exames inespecíficos (níveis de uréia, creatinina, bilirrubinas, transaminases,plaquetas e potássio) poderão ser sugestivos para confirmação ou descarte <strong>do</strong> caso, nadependência da evolução clínica e <strong>do</strong>s exames sorológicos específicos.Para confirmar a suspeita diagnóstica – seguir os critérios de definição e de confirmaçãode casos.Para identificação da área de risco – determinar forma e local provável de infecção(LPI), sen<strong>do</strong> importante pesquisar:• contato com água, solo ou alimentos que possam estar contamina<strong>do</strong>s pela urina deroe<strong>do</strong>res infecta<strong>do</strong>s;• contato direto com roe<strong>do</strong>res ou outros reservatórios animais;• condições propícias à proliferação ou presença de roe<strong>do</strong>res nos locais de trabalho oumoradia;• ocorrência de enchentes, níveis de precipitações pluviométricas, atividades de lazerem áreas potencialmente contaminadas, dentre outras.O mapeamento de to<strong>do</strong>s os casos deverá ser feito para se conhecer a distribuição espacialda <strong>do</strong>ença, possibilitan<strong>do</strong> a identificação de áreas de aglomeração de casos humanos.Para determinação da extensão da área de risco – as áreas de risco são definidas apóso mapeamento <strong>do</strong>s locais prováveis de infecção de cada caso, associan<strong>do</strong>-as:• às áreas com antecedentes de ocorrência da <strong>do</strong>ença em humanos e/ou animais;• aos fatores ambientais predisponentes: topografia, hidrografia, temperatura, umidade,precipitações pluviométricas, pontos críticos de enchente, pH <strong>do</strong> solo, condiçõesde saneamento básico, disposição, coleta e destino <strong>do</strong> lixo;• aos fatores socioeconômicos e culturais: classes sociais pre<strong>do</strong>minantes, níveis derenda, aglomerações populacionais, condições de higiene e habitação, hábitos e costumesda população, proteção aos trabalha<strong>do</strong>res sob risco;• aos níveis de infestação de roe<strong>do</strong>res na área em questão.Coleta e remessa de material para examesVerificar se a equipe de assistência a<strong>do</strong>tou as providências para realizar o exame específico,cujo material deve ser coleta<strong>do</strong> e conserva<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com as orientações <strong>do</strong> Anexo 1.Por tratar-se de patologia freqüentemente confundida com outras <strong>do</strong>enças febris, ictéricasou não, e em algumas situações ocorrerem surtos concomitantes de hepatite, dengue eoutras <strong>do</strong>enças, deve-se atentar para o fato de que os exames inespecíficos são valiosos para512 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


LeptospiroseRoteiro de investigação epidemiológica da leptospiroseCaso suspeitoInvestigação epidemiológicaCasoAmbientalAtenção médica/da<strong>do</strong>s clínicosColeta deda<strong>do</strong>s clínicos/epidemiológicos<strong>do</strong> pacienteIdentificação<strong>do</strong> local provável deinfecção (LPI) e áreasde transmissão6Exame laboratorialColeta e remessade materialAcionar medidasde controle e manejointegra<strong>do</strong> de roe<strong>do</strong>resNãoSimAnti-ratizaçãoDesratizaçãoEducaçãoem saúdeDiagnósticodescarta<strong>do</strong>Diagnósticoconfirma<strong>do</strong>LAvaliar critériosclínicoepidemiológicosAcompanharevoluçãoCuraÓbitoDescarteConfirmaçãoAcionar medidas de controleManejo integra<strong>do</strong> de roe<strong>do</strong>resfortalecer ou afastar a suspeita diagnóstica. A unidade de atendimento deverá estar orientadapara solicitar os exames inespecíficos de rotina para os casos suspeitos, bem comoexames específicos para outras <strong>do</strong>enças caso o diagnóstico diferencial assim o exija.Análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sA distribuição <strong>do</strong>s casos notifica<strong>do</strong>s e confirma<strong>do</strong>s deve ser apresentada em gráficose tabelas agrega<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> faixa etária, sexo, ocupação, data <strong>do</strong>s primeiros sintomas, fre-Secretaria de Vigilância em Saúde / MS513


Leptospiroseqüência e distribuição <strong>do</strong>s sinais ou sintomas, área geográfica de ocorrência, etc. Tambémdevem ser considera<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s referentes a hospitalizações, estimativas de incidência ede mortalidade, taxa de letalidade, etc. Percentuais e critérios de confirmação de casos devemser explicita<strong>do</strong>s. Quan<strong>do</strong> possível, relacionar os sorovares infectantes de acor<strong>do</strong> comos sinais e/ou sintomas <strong>do</strong>s pacientes (gravidade) e a respectiva distribuição geográfica. Aforma de contágio da <strong>do</strong>ença e a evolução <strong>do</strong> evento serão úteis na determinação <strong>do</strong> perfilepidemiológico <strong>do</strong>s indivíduos afeta<strong>do</strong>s.A construção <strong>do</strong> diagrama de controle permite a comparação da incidência atual da<strong>do</strong>ença com a de anos anteriores, evidencia mais claramente o comportamento da <strong>do</strong>ençaem cada área – endêmico ou epidêmico – e permite melhor direcionar as medidas de controle,bem como avaliar sua efetividade.Encerramento de casosSeguir os critérios de confirmação e descarte de casos, descritos no tópico Definiçãode caso.RelatóriosPor tratar-se de <strong>do</strong>ença endêmica, a elaboração e a divulgação de relatórios periódicosserá de essencial importância para se obter um perfil epidemiológico da <strong>do</strong>ença no tempoe no espaço, de mo<strong>do</strong> a direcionar as medidas de prevenção e controle a médio e longoprazos. Nas situações de surtos e/ou epidemias, deverão ser elabora<strong>do</strong>s relatórios parciaise finais, visan<strong>do</strong> orientar as medidas imediatas e mediatas para a redução da transmissão eda morbimortalidade.Instrumentos disponíveis para controleVários fatores interagem na ocorrência de um caso de leptospirose; portanto, as medidasde prevenção e/ou controle deverão ser direcionadas não-somente aos reservatórioscomo também à melhoria das condições de proteção <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res expostos, das condiçõeshigiênico-sanitárias da população e às medidas corretivas no meio ambiente.ImunizaçãoNo Brasil, não existe uma vacina disponível para uso humano contra a leptospirose.A vacinação de animais <strong>do</strong>mésticos (cães, bovinos e suínos) evita que a<strong>do</strong>eçam mas nãoimpede que se infectem. Neste caso, podem apresentar leptospirúria, tornan<strong>do</strong>-se fontesde infecção, ainda que em grau mais leve e por um perío<strong>do</strong> menor <strong>do</strong> que ocorre com ainfecção em animais não-vacina<strong>do</strong>s.Controle de reservatóriosA efetividade das ações de prevenção e controle voltadas aos animais (sinantrópicos,<strong>do</strong>mésticos ou de criação) e a conseqüente diminuição <strong>do</strong> nível de contaminação am biental514 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leptospiroselevarão à redução <strong>do</strong> número de casos humanos de leptospirose. As principais medidasvoltadas aos reservatórios são:• controle da população de roe<strong>do</strong>res❯ anti-ratização – visa modificar as características ambientais que favorecem a penetração,instalação e livre proliferação de roe<strong>do</strong>res, por meio da eliminação <strong>do</strong>sfatores que propiciem o acesso desses animais a alimento, água e abrigo;❯ desratização – visa a eliminação direta <strong>do</strong>s roe<strong>do</strong>res através de méto<strong>do</strong>s mecânicos(ratoeiras) e químicos (raticidas). Estas atividades devem ser planejadas eexecutadas por equipes devidamente capacitadas. Os méto<strong>do</strong>s biológicos (preda<strong>do</strong>res)não são aplicáveis na prática;• segregação e tratamento de animais <strong>do</strong>mésticos infecta<strong>do</strong>s e/ou <strong>do</strong>entes e proteçãodas áreas humanas de moradia, trabalho e lazer contra a contaminação pela urinadestes animais;• imunização de animais <strong>do</strong>mésticos e de produção (caninos, bovinos e suínos) através<strong>do</strong> uso de vacinas preparadas com os sorovares prevalentes na região;• cuida<strong>do</strong>s com a higiene, remoção e destino adequa<strong>do</strong> de excretas de animais e desinfecçãopermanente <strong>do</strong>s canis ou locais de criação.6Ações de educação em saúde• Alertar a população sobre a distribuição da <strong>do</strong>ença, formas de transmissão, manifestaçõesclínicas e medidas de prevenção.• Esclarecer sobre o problema, visan<strong>do</strong> a busca conjunta de soluções, as medidas queos órgãos de saúde estão desenvolven<strong>do</strong>, os locais para encaminhamento <strong>do</strong>s casossuspeitos, etc.• Definir formas de participação da população nas ações de controle da <strong>do</strong>ença, consideran<strong>do</strong>as estratégias propostas a seguir.LEstratégias de prevençãoDentre as principais medidas de prevenção e/ou controle da leptospirose, destacam-se:Relativas às fontes de infecção• Controle da população de roe<strong>do</strong>res (anti-ratização e desratização);• Segregação e tratamento de animais de produção e companhia;• Vigilância epidemiológica <strong>do</strong>s <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res de sêmen animal e <strong>do</strong>s comunicantes, controlesanitário da inseminação artificial;• Cuida<strong>do</strong>s com a higiene animal: remoção e destino adequa<strong>do</strong> de resíduos alimentares,excretas, cadáveres e restos de animais; limpeza e desinfecção permanente <strong>do</strong>scanis ou locais de criação;• Armazenamento apropria<strong>do</strong> <strong>do</strong>s alimentos em locais inacessíveis a roe<strong>do</strong>res;• Coleta, condicionamento e destino adequa<strong>do</strong> <strong>do</strong> lixo, principal fonte de alimentopara roe<strong>do</strong>res;• Manutenção de terrenos baldios, públicos ou priva<strong>do</strong>s, mura<strong>do</strong>s e livres de mato eSecretaria de Vigilância em Saúde / MS515


Leptospiroseentulhos, evitan<strong>do</strong> condições à instalação de roe<strong>do</strong>res.• Eliminar entulho, materiais de construção ou objetos em desuso que possam oferecerabrigo a roe<strong>do</strong>res.Observação: para a viabilização das medidas de anti-ratização faz-se necessário agilizare conscientizar a população e os órgãos competentes sobre a importância <strong>do</strong>s serviçosintegra<strong>do</strong>s de coleta de lixo, aprimoramento <strong>do</strong> uso de aterros sanitários e limpeza pública,aperfeiçoamento da legislação sanitária e promoção <strong>do</strong> envolvimento e participação da comunidade.Relativas às vias de transmissãoCuida<strong>do</strong>s com a água para consumo humano diretoDeve-se garantir a utilização de água potável, filtrada, fervida ou clorada para consumohumano. Se o <strong>do</strong>micílio for abasteci<strong>do</strong> por sistema público e, no ponto de consumo(torneira, jarra, pote, etc.), não for verificada a presença de cloro na quantidade recomendada(maior que 0,5 mg/l) ou se a água utilizada for proveniente de poço, cacimba, fonte,rio, riacho, açude, barreira, etc., deve-se proceder à cloração no local utiliza<strong>do</strong> para armazenamento(reservatório, tanque, tonel, jarra, etc.). Indica-se o uso de hipoclorito de sódioa 2,5% ou água sanitária, numa das seguintes diluições:Volumede águaHipoclorito de sódio a 2,5% (ou água sanitária)DosagemMedida práticaTempode contato1 mil litros 100ml 2 copinhos de café (descartáveis)200 litros 15ml 1 colher de sopa20 litros 2ml 1 colher de chá30 minutos1 litro 0,0045ml 2 gotasObs.: aguardar 30 minutos para consumirLimpeza da lama residual das enchentesA lama das enchentes tem alto poder infectante e nestas ocasiões fica aderida a móveis,paredes e chão. Recomenda-se retirar essa lama (sempre se protegen<strong>do</strong> com luvas e botas deborracha) e lavar o local, desinfetan<strong>do</strong>-o a seguir com solução de água sanitária (hipocloritode sódio a 2,5%) na seguinte proporção:Para um balde de 20 litros de água: adicionar 1 copo (200 ml) de água sanitária.Limpeza de reservatórios <strong>do</strong>mésticos de água (caixa d’água)Nas enchentes, o sistema <strong>do</strong>méstico de armazenamento de água pode ser contamina<strong>do</strong>,mesmo quan<strong>do</strong> não diretamente atingi<strong>do</strong> pela água da enchente, pois a rede de distribuiçãopode apresentar vazamentos que permitem a entrada de água poluída. Para limpar edesinfetar o reservatório (caixa d’água), recomenda-se:516 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Leptospirose• esvaziar a caixa d’água completamente e lavá-la esfregan<strong>do</strong> bem as paredes e o fun<strong>do</strong>,retiran<strong>do</strong> toda a sujeira utilizan<strong>do</strong> pá, balde e panos. Não esquecer de usar botase luvas de borracha;• após concluída a limpeza, colocar 1 litro de água sanitária (hipoclorito de sódio a2,5%) para cada 1 mil litros de água <strong>do</strong> reservatório;• abrir a entrada (registro ou torneira) para encher a caixa com água limpa;• após 30 minutos, abrir as torneiras da casa por alguns segun<strong>do</strong>s, com vistas à entradada água clorada na tubulação <strong>do</strong>méstica;• aguardar 1 hora e 30 minutos para que ocorra a desinfecção <strong>do</strong> reservatório e dascanalizações;• abrir as torneiras, poden<strong>do</strong> aproveitar a água para limpeza em geral de chão e paredes.Cuida<strong>do</strong>s com os alimentosÉ fundamental que as ações de vigilância sanitária relativas à produção, armazenamento,transporte e conservação <strong>do</strong>s alimentos sejam continuadas. Os alimentos que entraramem contato com as águas de enchentes deverão ser descarta<strong>do</strong>s, pois é perigosa qualquertentativa de reaproveitamento. O ideal, como prevenção, é armazená-los em locais eleva<strong>do</strong>s,acima <strong>do</strong> nível das águas.6Alimentos enlata<strong>do</strong>sLatas amassadas, enferrujadas ou semi-abertas deverão ser inutilizadas, porém as quepermanecerem em bom esta<strong>do</strong> e nas quais se tenha certeza de que não houve contato daságuas com os alimentos nela conti<strong>do</strong>s poderão ser lavadas com solução de água sanitária naproporção de 1/100, preparada <strong>do</strong> seguinte mo<strong>do</strong>:1 litro de água sanitária para 100 litros de água; ou1/2 litro de água sanitária para 50 litros de água; ou1/4 litro de água sanitária para 25 litros de água.LÁguas superficiais e esgotos• desassoreamento, limpeza e canalização de córregos;• emprego de técnicas de drenagem de águas livres supostamente contaminadas;• construção e manutenção permanente das galerias de águas pluviais e esgoto emáreas urbanas.Relativas ao susceptível• Medidas de proteção individual para trabalha<strong>do</strong>res ou indivíduos expostos ao risco,através <strong>do</strong> uso de equipamentos de proteção individual como luvas e botas.• Redução <strong>do</strong> risco de exposição de ferimentos às águas/lama de enchentes ou outrasituação de risco.• Imunização de animais <strong>do</strong>mésticos (cães, bovinos e suínos) com vacinas preparadascom sorovares prevalentes na região.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS517


LeptospiroseAnexo 1Normas para procedimentos laboratoriaisColeta e conservação de material para diagnóstico de leptospiroseTipo dediagnósticoTipo dematerialQuantidadeNº deamostrasPerío<strong>do</strong> da coleta Recipiente TransporteEstocagemlongo prazoCulturaSangue1, 2 e 3 gotaspor tubo*(total=3tubos porpaciente)1Fase aguda, preferencialmenteantes de tratamentoantibiótico. Idealaté o 7º dia <strong>do</strong> início <strong>do</strong>ssintomasMeio decultura EMJHou FletcherTemperaturaambienteNão se aplicaMicroaglutinaçãoSoro(semhemólise)3,0ml 2Amostras pareadas nas fasesaguda e convalescente:a primeira, no primeiroatendimento; a segunda,após um intervalo de 14a 21 dias (máx. 60)Frasco adequa<strong>do</strong>para congelamento(tubode ensaio) semanticoagulanteNo gelo(4 o C)Congela<strong>do</strong>(-20ºCa -70ºC)Elisa-IgMSoro(semhemólise)3,0ml 1 ou 2Fase aguda (no primeiroatendimento); se for negativo,coletar uma segundaamostra em 5-7 diasFrasco adequa<strong>do</strong>para congelamento(tubode ensaio) semanticoagulanteNo gelo(4 o C)Congela<strong>do</strong>(-20ºCa -70ºC)MacroaglutinaçãoSoro(semhemólise)3,0ml 1 ou 2Fase aguda (no primeiroatendimento); se for negativo,repetir em 5-7 diasFrasco adequa<strong>do</strong>para congelamento(tubode ensaio) semanticoagulanteNo gelo(4 o C)Congela<strong>do</strong>(-20ºCa -70ºC)*O sangue para o isolamento das leptospiras deverá ser semea<strong>do</strong> em três tubos conten<strong>do</strong> o meio de cultura específico.No primeiro tubo, deverá ser colocada uma gota de sangue; no segun<strong>do</strong>, duas e no terceiro, três gotas.Volumes de sangue maiores que os recomenda<strong>do</strong>s podem acarretar o insucesso diagnóstico.Teste de Elisa-IgMO teste imunoenzimático Elisa-IgM é um méto<strong>do</strong> sensível e específico, implanta<strong>do</strong>desde 2003 em to<strong>do</strong>s os laboratórios centrais das unidades federadas, que permite a detecçãode anticorpos a partir da primeira semana da <strong>do</strong>ença até 1 ou 2 meses após. Parafacilidade operacional, a coleta deve ser feita a partir <strong>do</strong> 7º dia <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s sintomas: oresulta<strong>do</strong> “reagente” confirma o caso e o resulta<strong>do</strong> “não-reagente” descarta o caso. No entanto,em muitas ocasiões, este teste é solicita<strong>do</strong> no primeiro atendimento ao paciente, antesde decorri<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> referi<strong>do</strong>; apresentará conseqüentemente, resulta<strong>do</strong> não-reagente.Por isso, aconselha-se a coleta de uma segunda amostra, apenas nestes casos, uma semanadepois (ver fluxograma em seguida).518 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


LeptospiroseFluxograma para Elisa ou macroaglutinaçãoCaso suspeitoElisa ou macroAmostra de sangue antes <strong>do</strong> 7º dia de sintomasAmostra de sangue após o 7º dia de sintomasNão-reagente Reagente Reagente Não-reagenteRepetir com outra amostracolhida após o 7º diaConfirma o casoDescarta o caso6Reação de macroaglutinaçãoTrata-se de um exame acessível e de fácil execução, poden<strong>do</strong> ser realiza<strong>do</strong> até porpequenos laboratórios em hospitais gerais e/ou unidades de saúde. Por detectar, principalmente,anticorpos antileptospira da classe IgM, é um exame bastante útil na fase aguda da<strong>do</strong>ença. O perío<strong>do</strong> ideal de coleta de amostra sangüínea é a partir <strong>do</strong> 7º dia de início <strong>do</strong>ssintomas. No entanto, em muitas ocasiões este teste é solicita<strong>do</strong> no primeiro atendimentoao paciente, antes de decorri<strong>do</strong> este perío<strong>do</strong>, apresentan<strong>do</strong> conseqüentemente resulta<strong>do</strong>não-reagente. Por isso, aconselha-se a coleta de uma segunda amostra, apenas nestes casos,uma semana depois (ver fluxograma anterior).LReação de microaglutinação• A prova de aglutinação microscópica (microaglutinação) realizada a partir de antígenosvivos é considerada como o exame laboratorial “padrão-ouro” para a confirmação<strong>do</strong> diagnóstico da leptospirose. Além de detectar anticorpos específicos, éusada na identificação e classificação <strong>do</strong>s sorovares isola<strong>do</strong>s e deve ser realizada emlaboratórios especializa<strong>do</strong>s ou de referência.• Geralmente, os anticorpos começam a surgir na primeira semana da <strong>do</strong>ença e alcançamtítulos máximos em torno da terceira e quarta semanas. Os títulos decaemprogressivamente e persistem baixos durante meses e até anos. Este fato dificulta aavaliação, no senti<strong>do</strong> de se concluir, diante de um exame reagente, se estamos diantede uma infecção em atividade ou de uma infecção passada (cicatriz sorológica).Por esta razão, recomenda-se comparar duas amostras de soro, a primeira colhidana fase aguda da <strong>do</strong>ença e a segunda, duas a três semanas após. O aumento de 4vezes ou mais (2 ou mais diluições) no título de anticorpos da 1ª para a 2ª amostraconfirma o diagnóstico de infecção aguda. Se houver um resulta<strong>do</strong> não-reagenteSecretaria de Vigilância em Saúde / MS519


Leptospirosena primeira amostra e um resulta<strong>do</strong> reagente com título maior ou igual a 1:200 nasegunda amostra, teremos o que se conhece como soroconversão, o que tambémconfirma o caso.• Deve-se ressaltar que o uso precoce de antibióticos pode interferir na resposta imunológica,alteran<strong>do</strong> os títulos de anticorpos. Por esta razão, muitos pacientes nãochegam a apresentar soroconversão ou o aumento de 4 vezes ou mais nos títulos entrea primeira e a segunda amostra, o que impediria a sua confirmação se não fossemrealiza<strong>do</strong>s outros exames laboratoriais confirmatórios (isolamento, PCR e outros).• Excepcionalmente, quan<strong>do</strong> se conta apenas com uma amostra sangüínea com teste demicroaglutinação reagente, com título igual ou maior que 1:800, confirma-se o caso.Exames laboratoriais em caso de óbito por síndrome febril• Em caso de óbito de pacientes com síndrome febril, febril-ictérica ou febril-hemorrágica,sem diagnóstico nosológico definitivo, recomenda-se colher imediatamenteapós o óbito uma amostra de 10ml de sangue para sorologia de leptospirose (pesquisade anticorpos IgM), mesmo que tenham si<strong>do</strong> colhidas amostras anteriormente.• A amostra de soro deve ser identificada, mantida refrigerada e enviada ao Lacenjuntamente com a ficha de notificação devidamente preenchida.A coleta para sorologia servirá para diagnóstico laboratorial de leptospirose e outraspatologias que cursem com um quadro semelhante, como hepatite viral, febre amarela,dengue, hantavirose.• Para meningococcemia e septicemia, sugere-se também colher sangue para hemocultura.• Estes procedimentos são particularmente importantes em casos de óbito de pacientesinterna<strong>do</strong>s (UTI ou enfermaria) cuja etiologia ainda não foi esclarecida.• Recomenda-se também a coleta de teci<strong>do</strong>s, conforme descrito a seguir.Amostras de teci<strong>do</strong>s para histopatologiae imunohistoquímica após o óbito• É importante coletar amostras de teci<strong>do</strong>s (fragmentos de aproximadamente 1 cm)de diversos órgãos, incluin<strong>do</strong> o cérebro, pulmão, rim, fíga<strong>do</strong>, pâncreas, coração emúsculo esquelético (panturrilha). As amostras devem ser coletadas o mais rápi<strong>do</strong>possível, no máximo até 8 horas após a morte. Devem ser identificadas e conservadasem solução de formalina tamponada ou embebidas em parafina e transportadasem temperatura ambiente. A ficha de notificação e um resumo <strong>do</strong>s acha<strong>do</strong>s macroscópicosdevem ser encaminha<strong>do</strong>s juntamente com as amostras.• Cada Lacen deverá orientar os serviços de vigilância e assistência de sua unidade federadaacerca da melhor maneira de proceder a coleta e encaminhamento de amostrasnestes casos, bem como estabelecer os fluxos com os laboratórios de referênciapara a realização <strong>do</strong>s exames, se necessários.• Outros exames, como o PCR, cultura e isolamento de leptospiras, podem ser realiza<strong>do</strong>spor laboratórios de referência (amostras criopreservadas).520 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MaláriaMALÁRIACID 10: B50 a B54Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoDoença infecciosa febril aguda, causada por protozoários transmiti<strong>do</strong>s por vetores.Reveste-se de importância epidemiológica por sua gravidade clínica e eleva<strong>do</strong> potencial dedisseminação em áreas com densidade vetorial que favoreça a transmissão. Causa consideráveisperdas sociais e econômicas na população sob risco, concentrada na região amazônica.Agente etiológicoProtozoários <strong>do</strong> gênero Plasmodium. No Brasil, três espécies causam a malária emseres humanos: P. vivax, P. falciparum e P. malariae. Uma quarta espécie, o P. ovale, só éencontra<strong>do</strong> em áreas restritas <strong>do</strong> continente africano.6ReservatórioO homem é o único reservatório com importância epidemiológica para a malária.VetorMosquito pertencente à ordem <strong>do</strong>s dípteros, família Culicidae, gênero Anopheles. Estegênero compreende mais de 400 espécies. Em nosso país, as principais espécies transmissorasda malária, tanto na zona rural quanto na urbana, são: Anopheles darlingi, Anopheles aquasalis,Anopheles albitarsis s.l., Anopheles cruzii e Anopheles bellator. A espécie Anopheles darlingié o principal vetor no Brasil, destacan<strong>do</strong>-se na transmissão da <strong>do</strong>ença pela distribuição geográfica,antropofilia e capacidade de ser infecta<strong>do</strong> por diferentes espécies de plasmódios.Popularmente, os vetores da malária são conheci<strong>do</strong>s por “carapanã”, “muriçoca”, “sovela”,“mosquito-prego” e “bicuda”.MMo<strong>do</strong> de transmissãoAtravés da picada da fêmea <strong>do</strong> mosquito Anopheles, infectada por Plasmodium.Os vetores são mais abundantes nos horários crepusculares, ao entardecer e ao amanhecer.Todavia, são encontra<strong>do</strong>s pican<strong>do</strong> durante to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> noturno, porém em menorquantidade em algumas horas da noite.Não há transmissão direta da <strong>do</strong>ença de pessoa a pessoa. Pode ocorrer a transmissãoinduzida, por meio de transfusão de sangue contamina<strong>do</strong> ou <strong>do</strong> uso compartilha<strong>do</strong> de seringascontaminadas.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS521


MaláriaPerío<strong>do</strong> de incubaçãoO perío<strong>do</strong> de incubação da malária varia de acor<strong>do</strong> com a espécie de plasmódio. ParaP. falciparum, de 8 a 12 dias; P. vivax, 13 a 17; e P. malariae, 18 a 30 dias.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeO mosquito é infecta<strong>do</strong> ao sugar o sangue de uma pessoa com gametócitos circulantes.Os gametócitos surgem na corrente sangüínea, em perío<strong>do</strong> que varia de poucas horas parao P. vivax e de 7 a 12 dias para o P. falciparum. Para malária causada por P. falciparum, oindivíduo pode ser fonte de infecção por até 1 ano; P. vivax, até 3 anos; e P. malariae, pormais de 3 anos, desde que não seja adequadamente trata<strong>do</strong>.Susceptibilidade e imunidadeEm geral, toda pessoa é susceptível à infecção por malária. Os indivíduos que desenvolvematividades em assentamentos na região amazônica e outras, relacionadas ao desmatamento,exploração mineral, extrativismo vegetal, estão mais expostos à <strong>do</strong>ença.Indivíduos que tiveram vários episódios de malária podem atingir um esta<strong>do</strong> de imunidadeparcial, apresentan<strong>do</strong> quadro subclínico ou assintomático.Em regiões não-endêmicas, as áreas de risco são determinadas pelo potencial malarígeno,relaciona<strong>do</strong> com a receptividade e vulnerabilidade da área. A receptividade semantém pela presença, densidade e longevidade <strong>do</strong> mosquito Anopheles. A vulnerabilidadeé causada pela chegada de porta<strong>do</strong>res de malária, oriun<strong>do</strong>s da região amazônica e de outrospaíses. Com exceção <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul e Distrito Federal, to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s são aindatotal ou parcialmente receptivos para a malária.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasO quadro clínico típico é caracteriza<strong>do</strong> por febre alta, acompanhada de calafrios, su<strong>do</strong>reseprofusa e cefaléia, que ocorrem em padrões cíclicos, dependen<strong>do</strong> da espécie de plasmódioinfectante. Em alguns pacientes, aparecem sintomas prodrômicos, vários dias antes<strong>do</strong>s paroxismos da <strong>do</strong>ença, a exemplo de náuseas, vômitos, astenia, fadiga, anorexia.Perío<strong>do</strong> de infecção – a fase sintomática inicial caracteriza-se por mal-estar, cansaço emialgia. O ataque paroxístico inicia-se com calafrio, acompanha<strong>do</strong> de tremor generaliza<strong>do</strong>,com duração de 15 minutos a 1 hora. Na fase febril, a temperatura pode atingir 41 o C. Estafase pode ser acompanhada de cefaléia, náuseas e vômitos.Remissão – caracteriza-se pelo declínio da temperatura (fase de apirexia). A diminuição<strong>do</strong>s sintomas causa sensação de melhora no paciente. Esta fase pode durar 48 horaspara P. falciparum e P. vivax (febre terçã) e 72 horas para P. malariae (febre quartã).Perío<strong>do</strong> toxêmico – se o paciente não recebe terapêutica específica, adequada e oportunaos sinais e sintomas podem evoluir para formas graves e complicadas, relacionadas àresposta imunológica <strong>do</strong> organismo, aumento da parasitemia e espécie de plasmódio.522 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MaláriaHipoglicemia, convulsões, vômitos repeti<strong>do</strong>s, hiperpirexia, icterícia e distúrbios daconsciência são indica<strong>do</strong>res de mau prognóstico. Esses sintomas podem preceder as formasclínicas da malária grave e complicada, tais como malária cerebral, insuficiência renal aguda,edema pulmonar agu<strong>do</strong>, disfunção hepática e hemoglobinúria.Dignóstico diferencialO diagnóstico diferencial da malária é feito com a febre tifóide, febre amarela, leptospirose,hepatite infecciosa, calazar e outros processos febris. Na fase inicial, principalmentena criança, a malária confunde-se com outras <strong>do</strong>enças infecciosas <strong>do</strong>s tratos respiratório,urinário e digestivo, quer de etiologia viral ou bacteriana. No perío<strong>do</strong> de febre intermitente,as principais <strong>do</strong>enças que se confundem com a malária são as infecções urinárias,tuberculose miliar, salmoneloses septicêmicas, calazar, en<strong>do</strong>cardite bacteriana e as leucoses.Todas apresentam febre e, em geral, esplenomegalia. Algumas delas apresentam anemia ehepatomegalia.Diagnóstico laboratorialO diagnóstico laboratorial específico de rotina é realiza<strong>do</strong> mediante demonstraçãode parasitos, através <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> da gota espessa (usa<strong>do</strong> preferencialmente) ou esfregaçoou testes imunocromatográficos (testes rápi<strong>do</strong>s) em áreas de baixa endemicidade ou difícilacesso. Existem ainda os testes de imunodiagnóstico, como a imunofluorescência indireta(IFI), imunoabsorção enzimática (Elisa), aglutinação, precipitação e radiodiagnóstico, nãoutiliza<strong>do</strong>s na prática diária. Dentre os méto<strong>do</strong>s de imunodiagnóstico, o IFI e o Elisa sãomais factíveis operacionalmente.Gota espessa – sua técnica baseia-se na visualização das formas <strong>do</strong> parasito através demicroscopia óptica, após coloração pelo méto<strong>do</strong> de Walker ou Giemsa. Permite a diferenciaçãoespecífica <strong>do</strong>s para sitos a partir da análise de sua coloração, morfologia e estágios dedesenvolvimento no sangue periférico, devi<strong>do</strong> à sua alta concentração.Esfregaço – é o méto<strong>do</strong> mais utiliza<strong>do</strong> para a identificação das espécies de plasmódios,porém a sensibilidade <strong>do</strong> diagnóstico é menor que o da gota espessa, em virtude da menorcon centração <strong>do</strong> sangue. A preparação é corada pelos méto<strong>do</strong>s de Giemsa ou Wright.Imunotestes rápi<strong>do</strong>s – nova meto<strong>do</strong>logia diagnóstica representada pelos testes imunocromatográficosde diagnóstico rápi<strong>do</strong> da malária. Esses testes são realiza<strong>do</strong>s em fitas denitrocelulose conten<strong>do</strong> anticorpo monoclonal contra antígenos específicos <strong>do</strong> parasito. Ostestes hoje disponíveis discriminam especificamente o P. falciparum e as demais espéciessimultaneamente, não sen<strong>do</strong> capazes, portanto, de diagnosticar a malária mista. Pela suapraticidade e facilidade de realização, esses méto<strong>do</strong>s têm si<strong>do</strong> considera<strong>do</strong>s úteis principalmenteem situações onde é complica<strong>do</strong> processar o exame da gota espessa, como áreas dedifícil acesso ao serviço de saúde.6MSecretaria de Vigilância em Saúde / MS523


MaláriaTratamentoA quimioterapia da malária tem como objetivos: interromper a esquizogonia sangüínearesponsável pela patogenia e manifestações clínicas da infecção; proporcionar a erradicaçãode formas latentes <strong>do</strong> parasito (hipnozoítas) das espécies P. vivax e P. ovale no ciclotecidual, evitan<strong>do</strong> as recaídas; e reduzir as fontes de infecção para os mosquitos, eliminan<strong>do</strong>as formas sexuadas <strong>do</strong>s parasitos.O tratamento adequa<strong>do</strong> e oportuno da malária previne o sofrimento humano, a ocorrência<strong>do</strong> caso grave, o óbito e elimina a fonte de infecção.As principais drogas antimaláricas são assim classificadas:• pelo grupo químico – quinolinometanóis (quinina e mefloquina); 4-aminoquinolinas(cloroquina); 8-aminoquinolinas (primaquina); peróxi<strong>do</strong> de lactona sesquiterpênica(deriva<strong>do</strong>s da artemisinina); antibióticos (tetraciclina, <strong>do</strong>xiciclina e clindamicina);• pelo alvo de ação no ciclo biológico <strong>do</strong> parasito – esquizonticidas teciduais ouhipnozoiticidas (cura radical <strong>do</strong> P. vivax e P. ovale); esquizonticidas sangüíneos (promovema cura clínica); gametocitocidas (bloqueiam a transmissão).A decisão de como tratar o paciente com malária deve estar de acor<strong>do</strong> com o Manualde Terapêutica da Malária e ser precedida de informações sobre os seguintes aspectos:• gravidade da <strong>do</strong>ença – pela necessidade de drogas injetáveis de ação mais rápidasobre os parasitos, visan<strong>do</strong> reduzir a letalidade;• espécie de plasmódio – deve ser diferenciada, em face <strong>do</strong> perfil varia<strong>do</strong> de resposta<strong>do</strong> P. falciparum aos antimaláricos. Caso não seja possível determinar a espécie <strong>do</strong>parasito, deve-se optar pelo tratamento <strong>do</strong> P. falciparum, pelo risco de evolução grave,devi<strong>do</strong> à alta parasitemia;• idade <strong>do</strong> paciente – pelo pior prognóstico na criança e no i<strong>do</strong>so;• história de exposição anterior à infecção – indivíduos não-imunes (primoinfecta<strong>do</strong>s)tendem a apresentar formas clínicas mais graves.• susceptibilidade <strong>do</strong>s parasitos aos antimaláricos convencionais – para indicar tratamentocom drogas sabidamente eficazes para área de ocorrência <strong>do</strong> caso, evitan<strong>do</strong>atraso no efeito terapêutico e agravamento <strong>do</strong> quadro clínico;• gravidez – a gravidez aumenta o risco de gravidade da malária e de morte. As gestantesnão-imunes correm risco de aborto, parto prematuro e natimortalidade. Estãomais propensas à malária cerebral, a hipoglicemia e edema agu<strong>do</strong> <strong>do</strong> pulmão.524 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MaláriaEsquemas de tratamento para a malária recomenda<strong>do</strong>spelo Ministério da SaúdeNas tabelas a seguir, encontram-se os tratamentos preconiza<strong>do</strong>s pelo Ministérioda Sa ú de, relativos aos esquemas. Caso surjam dúvidas, recorrer ao texto <strong>do</strong> Manual deTerapêu tica da Malária, edita<strong>do</strong> pelo Ministério da Saúde.Quadro 1. Equivalência entre grupo etário e peso corporal aproxima<strong>do</strong>Grupos etáriosMenor de 6 mesesPeso corporalMenos de 5kg6 a 11 meses 5 a 9kg1 a 2 anos 10 a 14kg3 a 6 anos 15 a 19kg67 a 11 anos 20 a 29kg12 a 14 anos 30 a 49kg15 ou mais anos 50kg ou maisObservaçãoTo<strong>do</strong>s os profissionais de saúde envolvi<strong>do</strong>s no tratamento da malária, desde o auxiliarde saúde da comunidade até o médico, devem orientar adequadamente, com linguagemcompreensível, os pacientes quanto ao tipo de medicamento que está sen<strong>do</strong>ofereci<strong>do</strong>, a forma de ingeri-lo e os respectivos horários. Muitas vezes, os pacientessequer dispõem de relógio para verificar as horas.MO uso de expressões locais para a indicação <strong>do</strong> momento da ingestão <strong>do</strong> remédio érecomendável. As expressões de 8 em 8 horas ou de 12 em 12 horas muitas vezes nãoajudam os pacientes a saber quan<strong>do</strong> devem ingerir os medicamentos. Por outro la<strong>do</strong>,sempre que possível, deve-se também orientar os acompanhantes ou responsáveis,além <strong>do</strong>s próprios pacientes, que, geralmente, além de humildes, encontram-se desatentoscomo conseqüência da febre, das <strong>do</strong>res e <strong>do</strong> mal-estar causa<strong>do</strong>s pela <strong>do</strong>ença.O tratamento da malária, mesmo em nível periférico, é muito complexo. Dificilmente,apenas um medicamento é utiliza<strong>do</strong>. Em geral, são duas ou três diferentes drogasassociadas. É muito fácil haver confusão e troca de medicamentos. Em vários lugares,as pessoas que distribuem os remédios e orientam o seu uso utilizam envelopes decores diferentes para cada medicamento. O importante é evitar a ingestão incorreta<strong>do</strong>s remédios, pois as conseqüências podem ser graves.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS525


MaláriaEsquemas de primeira escolhaTabela 1. Esquema recomenda<strong>do</strong> para tratamento das infecções por Plasmodium vivaxcom cloroquina em 3 dias e primaquina em 7 diasDrogas e <strong>do</strong>sesGrupos etáriosCloroquina(comp.)1 o dia 2 o e 3 o dias 4 o ao 7 o diasPrimaquina(comp.)Cloroquina(comp.)Primaquina(comp.)Primaquina(comp.)Adulto Infantil Adulto Infantil Adulto InfantilMenor de 6 meses1/4--1/4----6 a 11 meses1/2-11/2-1-11 a 2 anos1-11/2-1-13 a 6 anos1-21-2-27 a 11 anos2111 e 1/2111112 a 14 anos31 e 1/2-21 e 1/2-1 e 1/2-15 ou mais anos42-32-2-Primaquina: comprimi<strong>do</strong>s para adultos com 15mg da base e para crianças com 5mg da base. A cloroquina e aprimaquina deverão ser ingeridas preferencialmente às refeições. Não administrar primaquina para gestantes ecrianças até 6 meses de idade. Ver Tabela 10. Se surgir icterícia, suspender a primaquina.Tabela 2. Esquema recomenda<strong>do</strong> para tratamento das infecções por Plasmodium falciparumcom quinina em 3 dias + <strong>do</strong>xiciclina em cinco dias + primaquina no 6 o diaDrogas e <strong>do</strong>sesGrupos etários1º, 2º e 3º dias 4º e 5º dias 6º diaQuinina (comp.) Doxiciclina (comp.) Doxiciclina (comp.) Primaquina (comp.)8 a 11 anos1 e 1/211112 a 14 anos2 e 1/21 e 1/21 e 1/2215 ou mais anos4223As <strong>do</strong>ses diárias de quinina e <strong>do</strong>xiciclina devem ser divididas em duas tomadas, de 12/12 horas. A <strong>do</strong>xiciclina ea primaquina não devem ser dadas a gestantes. Neste caso, ver Tabela 7. Para menores de 8 anos e maiores de6 meses de idade, ver a Tabela 6.526 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MaláriaTabela 3. Esquema recomenda<strong>do</strong> para tratamento das infecções mistas por Plasmodiumvivax + Plasmodium falciparum com mefloquina em <strong>do</strong>se única e primaquina em 7 diasDrogas e <strong>do</strong>sesGrupos etáriosMefloquina(comp.)<strong>do</strong>se única1 o dia 2 o ao 7 o diasPrimaquina (comp.)Primaquina (comp.)Adulto Infantil Adulto InfantilMenor de 6 meses*----6 a 11 meses1/4-1-11 a 2 anos1/2-1-13 a 4 anos1-2-25 a 6 anos1 e 1/4-2-27 a 8 anos1 e 1/211119 a 10 anos11 a 12 anos22 e 1/211 e 1/21-11 e 1/21-613 a 14 anos31 e 1/2-1 e 1/2-15 ou mais42-2-*Calcular 15 a 20mg/kg de peso.A <strong>do</strong>se diária de mefloquina pode ser dividida em duas tomadas com intervalo de até 12 horas. Não usar primaquinaem gestantes e menores de 6 meses. Ver Tabela 10.Tabela 4. Esquema recomenda<strong>do</strong> para tratamento das infecções porPlasmodium malariae com cloroquina em 3 diasDrogas e <strong>do</strong>sesGrupos etáriosCloroquina (comp.)1 o dia 2 o dia 3 o diaMMenor de 6 meses1/41/41/46 a 11 meses1/21/21/21 a 2 anos11/21/23 a 6 anos1117 a 11 anos21 e 1/21 e 1/212 a 14 anos32215 ou mais anos433Obs. Diferentemente <strong>do</strong> P. vivax, não se usa primaquina para o P. malariae.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS527


MaláriaEsquemas alternativosTabela 5. Esquema alternativo para tratamento das infecções por Plasmodium vivax emcrianças apresentan<strong>do</strong> vômitos, com cápsulas retais de artesunato em 4 dias e primaquinaem 7 diasDrogas e <strong>do</strong>sesGrupos etáriosArtesunatocápsula retal1 o , 2 o e 3 o dias 4 o dia 5 o ao 11 o diasArtesunatocápsula retalPrimaquina (comp.)AdultoInfantil1 a 2 anos11-13 a 5 anos2 (A)11/2-6 a 9 anos3 (B)1-210 a 12 anos3 (B)3 (B)1-Cápsula retal com 50mg. A cápsula retal pode ser conservada em temperatura ambiente. Primaquina infantil eadulto com 5mg e 15mg de primaquina-base, respectivamente. A <strong>do</strong>se de primaquina é de 0,50mg/kg de peso edeve ser ingerida, preferencialmente, às refeições.(A) Administrar uma cápsula retal de 12 em 12 horas;(B) Administrar uma cápsula retal de 8 em 8 horas.Para menores de um ano e maiores de 12 anos, ver a Tabela 1. Obs.: não usar este esquema para crianças comdiarréia.Tabela 6. Esquema alternativo para tratamento das infecções por Plasmodiumfalciparum com mefloquina em <strong>do</strong>se diária e primaquina no 2 o diaDrogas e <strong>do</strong>sesGrupos etários1 o dia 2 o diaPrimaquina (comp.)Mefloquina (comp.)AdultoInfantilMenor de 6 meses*--6 a 11 meses1/4-11 a 2 anos1/21/2-3 a 4 anos11-5 a 6 anos1 e 1/41-7 a 8 anos1 e 1/21 e 1/2-9 a 10 anos21 e 1/2-11 a 12 anos2 e 1/21 e 1/2-13 a 14 anos32-15 ou mais43-*Calcular 15 a 20mg/kg de peso.A <strong>do</strong>se diária de mefloquina pode ser dada em duas tomadas, com intervalo máximo de 12 horas.Não usar mefloquina se tiver usa<strong>do</strong> quinina nas últimas 24 horas. Não usar mefloquina em gestantes no primeirotrimestre. Não usar primaquina em gestantes e menores de 6 meses.528 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MaláriaTabela 7. Tratamento alternativo das infecções por Plasmodium falciparumcom quinina em 7 diasGrupos etáriosMenor de 6 meses6 a 11 meses1 a 2 anos3 a 6 anos7 a 11 anos12 a 14 anos15 anos ou maisDrogas e <strong>do</strong>sesQuinina (comp.) (<strong>do</strong>se diária durante 7 dias)1/41/23/411 e 1/223A <strong>do</strong>se diária de quinina deve ser fracionada em 3 tomadas, de 8 em 8 horas.Tabela 8. Esquema alternativo para tratamento das infecções por Plasmodium falciparumde crianças, com cápsulas retais de artesunato em 4 dias e <strong>do</strong>se única de mefloquina no3 o dia e primaquina no 5 o dia6Drogas e <strong>do</strong>sesGrupos etários1º o e 2º o dias 3º dia 4º dia 5º diaArtesunatocápsula retalArtesunatocápsula retalMefloquina(comp.)Artesunatocápsula retalPrimaquina(adulto)1 a 2 anos111/211/23 a 5 anos2 (A)2 (A)1116 a 9 anos3 (B)3 (B)1 e 1/211 e 1/210 a 12 anos3 (B)3 (B)2 e 1/23 (B)2A cápsula retal pode ser conservada em temperatura ambiente. A mefloquina pode ser administrada na <strong>do</strong>se de15-20mg/kg, dividida em duas tomadas, com intervalo de 12 horas.(A) Administrar uma cápsula retal de 12 em 12 horas;(B) Administrar uma cápsula retal de 8 em 8 horas.Para menores de um ano, ver a Tabela 7; e maiores de 12 anos, as Tabelas 2 ou 6. Obs.: não usar este esquemapara crianças com diarréia.MTabela 9. Esquema alternativo para tratamento das infecções mistas por Plasmodiumvivax + Plasmodium falciparum com quinina em 3 dias, <strong>do</strong>xiciclina em 5 dias eprimaquina em 7 diasDrogas e <strong>do</strong>sesGrupos etários1º, 2º e 3º dias 4º dia 5º dia 6º ao 11º diasQuinina(comp.)Doxiciclina(comp.)Doxiciclina(comp.)Doxiciclina(comp.)Primaquina(comp.) (adulto)Primaquina(comp.) (adulto)8 a 11 anos1 e 1/21111112 a 14 anos2 e 1/21 e 1/21 e 1/21 e 1/21 e 1/21 e 1/215 ou mais anos422222A <strong>do</strong>se diária de quinina e de <strong>do</strong>xiciclina deve ser fracionada em duas tomadas, de 12 em 12 horas. Não usar<strong>do</strong>xiciclina e primaquina em gestantes. Nesses casos, ver as Tabelas 7 e 10.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS529


MaláriaTabela 10. Esquema de prevenção de recaída da malária por Plasmodiumvivax, com cloroquina em <strong>do</strong>se única semanal, durante 3 meses*Peso (Kg) Idade Número de comprimi<strong>do</strong>s (150mg/base) por semana5 - 67 - 1415 - 1819 - 3536 e mais< 4 meses4 meses a 2 anos3 - 4 anos5 - 10 anos11 e + anos1/41/23/412*Esquema recomenda<strong>do</strong> para pacientes que apresentam recaídas após tratamento correto; e para gestantese menores de 1 ano. Só deve ser inicia<strong>do</strong> após o término <strong>do</strong> tratamento com cloroquina em três dias.Tratamento da malária grave e complicadaQuadro 2. Esquema recomenda<strong>do</strong> para malária grave por P. falciparum1. Primeira escolhaDeriva<strong>do</strong>s da artemisininaDrogaA. Artesunato en<strong>do</strong>venoso: 2,4mg/kg como <strong>do</strong>sede ataque e 1,2mg/kg nos momentos 4, 24 e 48 horas.Diluir cada <strong>do</strong>se em 50ml de solução isotônica (depreferência glicosada a 5% ou 10%), via en<strong>do</strong>venosaem uma hora ou,B. Artemeter intramuscular: aplicar 3,2mg/kgde peso em <strong>do</strong>se única no 1 o dia. Após 24 horas,aplicar 1,6mg/kg de peso a cada 24 horas, por4 dias, totalizan<strong>do</strong> 5 dias de tratamento2. Segunda escolhaQuinina en<strong>do</strong>venosaInfusão de 20-30mg <strong>do</strong> sal de dicloridrato de quinina/kg/dia, diluída em solução isotônica, de preferência glicosada,a 5% ou 10% (máximo de 500ml), a cada 8 horas.Importante: esta infusão deve ser administrada lentamente,durante 4 horasObservações importantesCompletar o tratamento com clindamicina,20mg/kg de peso/dia, por 5 dias, dividida emduas tomadas (12 em 12 horas), via oral; ou<strong>do</strong>xiciclina, 3,3mg/kg de peso/dia, dividida emduas tomadas (12 em 12 horas), por 5 dias, viaoral; ou mefloquina, 15-20mg/kg de peso, em<strong>do</strong>se única, via oral. Estes medicamentos devemser administra<strong>do</strong>s ao final <strong>do</strong> tratamento comos deriva<strong>do</strong>s da artemisinina. A <strong>do</strong>xiciclina nãodeve ser administrada a gestantes e menoresde 8 anos. A mefloquina não deve ser usadaem gestantes <strong>do</strong> primeiro trimestreQuan<strong>do</strong> o paciente estiver em condições deingestão oral e a parasitemia em declínio,utiliza-se a apresentação oral de sulfato dequinina, na mesma <strong>do</strong>sagem, a cada 8 horas.Manter o tratamento até 48 horas após anegativação da gota espessa (em geral, 7 dias)3. Terceira escolhaQuinina en<strong>do</strong>venosa associadaà clindamicina en<strong>do</strong>venosaA quinina na mesma <strong>do</strong>sagem da segunda escolhaaté 3 dias. Simultaneamente, administrar a clindamicina,20mg/kg de peso, dividida em 2 <strong>do</strong>ses, uma a cada12 horas, diluída em solução glicosada a 5% ou 10%(15ml/kg de peso), infundida, gota-a-gota, em uma hora,por 7 diasEsquema indica<strong>do</strong> para gestantesObservação: os deriva<strong>do</strong>s da artemisinina têm se mostra<strong>do</strong> muito eficazes e de ação muito rápida na redução eeliminação da parasitemia. Assim, é necessário que estes medicamentos sejam protegi<strong>do</strong>s de seu uso abusivo eindica<strong>do</strong>s fundamentalmente para casos graves e complica<strong>do</strong>s. Em gestantes, o esquema terapêutico específicopreferencial é a associação quinina e clindamicina en<strong>do</strong>venosa, pela sua eficácia e inocuidade para a mãe e parao feto.530 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MaláriaAspectos epidemiológicosA malária é reconhecida como grave problema de saúde pública no mun<strong>do</strong>, ocorren<strong>do</strong>em mais de 40% da população de mais de 100 países e territórios. Sua estimativa é de 300 a500 milhões de novos casos e 1 milhão de mortes por ano.No Brasil, aproximadamente 99% <strong>do</strong>s casos de malária se concentram na região amazônica,composta pelos esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará,Rondônia, Roraima e Tocantins. A região é considerada a área endêmica <strong>do</strong> país para malária.A maioria <strong>do</strong>s casos ocorre em áreas rurais, mas há registro da <strong>do</strong>ença também em áreasurbanas. Mesmo na área endêmica, o risco de contrair a <strong>do</strong>ença não é uniforme. Este riscoé medi<strong>do</strong> pelo índice parasitário anual (IPA), que classifica as áreas de transmissão em alto,médio e baixo risco, de acor<strong>do</strong> com o número de casos por 1 mil habitantes (Figura 1).Figura 1. Classificação das áreas de risco para malária, segun<strong>do</strong> o índice parasitárioanual (IPA). Amazônia Legal, 20036Índice parasitário anual (IPA)Por 1 mil habitantesEsta<strong>do</strong>s da Amazônia Legal, 2003M0 (227 municípios)> 0,1 a 9,9 (Baixo risco: 391 municípios)> 10 a 49,9 (Médio risco: 111 municípios)> 49,9 (Alto risco: 76 municípios)Fonte: CGPNCM/Diges/SVS/MSNa série temporal, a partir <strong>do</strong>s anos 60 pode ser observa<strong>do</strong> que até 1976 foram registra<strong>do</strong>smenos de 100 mil casos de malária por ano. A partir daquele ano, houve forte tendênciana elevação da <strong>do</strong>ença em função da ocupação desordenada da região amazônica.Este incremento deveu-se também à implantação, na região, de projetos de colonização emineração.Em 1983, registrou-se 300 mil casos. No perío<strong>do</strong> de 1984 a 1986, a malária se mantevena faixa <strong>do</strong>s 400 mil casos. De 1987 a 1995, foram registra<strong>do</strong>s 500 mil casos em média. Em1996 e 1997 houve redução importante nos registros da <strong>do</strong>ença, 21,3% e 28,1%, respecti-Secretaria de Vigilância em Saúde / MS531


Maláriavamente, se compara<strong>do</strong>s a 1995. Nos anos de 1998 e 1999, a malária aumentou de formapreocupante, atingin<strong>do</strong> seu limite, em 1999, com 637.472 casos. Em 2000, a <strong>do</strong>ença voltaa apresentar nova queda, para 615.245 casos. Em 2001, foi observa<strong>do</strong> o maior declínio naocorrência da malária nos últimos 40 anos. Neste ano, registrou-se 389.775 casos, o que representou38,5% de queda em relação a 2000. Em 2003 registrou-se um aumento de 15,8%em relação ao número de casos de 2002 (348.259 casos).Até a década de 80, houve relativa equivalência entre as espécies parasitárias (P. vivaxe P. falciparum). A partir de então, nota-se um distanciamento no número de registro dasduas espécies, que culminou com a pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> P. vivax, responsável por cerca de78% <strong>do</strong>s casos notifica<strong>do</strong>s em 2003 (Figura 2).Figura 2. Registro de casos de malária e espécies parasitárias (P.falciparum e P. vivax).Brasil, 1961-2003700600500400300200100061 63 65 67 69 71 73 75 77 79 81 83 85 87 89 91 93 95 97 99 01 03P. falciparum P. vivax CasosFonte: CGPNCM/Diges/SVS/MSNa região extra-amazônica, 92% <strong>do</strong>s casos registra<strong>do</strong>s são importa<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>spertencentes à área endêmica e da África. Casos autóctones esporádicos ocorrem em áreasfocais restritas desta região. Destacam-se os municípios localiza<strong>do</strong>s às margens <strong>do</strong> lagoda usina hidrelétrica de Itaipu, áreas cobertas pela Mata Atlântica nos esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> EspíritoSanto, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia; a região Centro-Oeste, nos esta<strong>do</strong>sde Goiás e Mato Grosso <strong>do</strong> Sul, e a região Nordeste, nos esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Piauí, Pernambuco eCeará.532 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MaláriaVigilância epidemiológicaObjetivos• Estimar a magnitude da morbidade e mortalidade da malária.• Identificar tendências, grupos e fatores de risco.• Detectar surtos e epidemias.• Evitar o restabelecimento da endemia, nas áreas onde a transmissão foi interrompida;• Recomendar as medidas necessárias para prevenir ou controlar a ocorrência da<strong>do</strong>en ça.• Avaliar o impacto das medidas de controle.Definição de casoSuspeitoÁrea endêmica – toda pessoa que apresente quadro febril, seja residente ou tenha sedesloca<strong>do</strong> para área onde haja transmissão de malária no perío<strong>do</strong> de 8 a 30 dias anterioresà data <strong>do</strong>s primeiros sintomas.Área não-endêmica – toda pessoa procedente de área onde haja transmissão de malária,no perío<strong>do</strong> de 8 a 30 dias anteriores à data <strong>do</strong>s primeiros sintomas, e apresente quadrode paroxismo febril com os seguintes sintomas: calafrios, tremores generaliza<strong>do</strong>s, cansaço,mialgia.6Confirma<strong>do</strong>Critério clínico-laboratorial – toda pessoa cuja presença de parasito no sangue, suaespécie e parasitemia tenham si<strong>do</strong> identificadas através de exame laboratorial.Descarta<strong>do</strong>Caso suspeito com diagnóstico laboratorial negativo para malária.MRecaída (P. vivax, P. ovale) ou recrudescência (P. falciparum, P. malariae)Lâmina de verificação de cura (LVC) – classifica-se como LVC o exame de microscopia(gota espessa e esfregaço) realiza<strong>do</strong> durante e após tratamento recente, em pacientepreviamente diag nostica<strong>do</strong> para malária, por busca ativa ou passiva.Objetivos da realização de LVC• No que diz respeito à atenção clínica (individual) – acompanhar o paciente paraverificar se o tratamento foi eficaz.• No que diz respeito à vigilância epidemiológica (coletivo) – a LVC constitui importanteindica<strong>do</strong>r para a detecção de deficiências <strong>do</strong>s serviços de saúde na vigilânciade fontes de infec ção, atenção e tratamento <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente com malária. Além disso, éútil para diferenciar uma nova infecção (caso novo) de uma recidiva (recrudescênciaou recaída).Secretaria de Vigilância em Saúde / MS533


MaláriaCritérios para a aplicação de LVCPara a Amazônia Legal – não há obrigatoriedade na realização <strong>do</strong>s controles periódicospela LVC durante o tratamento. Desta forma, to<strong>do</strong> paciente que demandar o diagnósticode malária deverá ser assim classifica<strong>do</strong>:• resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exame atual = P. vivaxSe o paciente realizou tratamento para P. vivax dentro <strong>do</strong>s últimos 60 dias <strong>do</strong> diagnósticoatual, deverá ser classifica<strong>do</strong> como LVC.• resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exame atual = P. falciparumSe o paciente realizou tratamento para P. falciparum dentro <strong>do</strong>s últimos 40 dias <strong>do</strong>diagnóstico atual, deverá ser classifica<strong>do</strong> como LVC.• para a região extra-amazônica – a realização <strong>do</strong>s controles periódicos pela LVCdurante os pri meiros 40 (P. falciparum) e 60 dias (P. vivax) após o início <strong>do</strong> tratamentodeve constituir-se na conduta regular na atenção a to<strong>do</strong>s os pacientes maláricosnessa região. Desta forma, a LVC deverá ser realizada:❯ nos dias 2, 4, 7, 14, 21, 28, 40 e 60 após o início <strong>do</strong> tratamento de pacientescom malá ria causada pelo P. vivax;❯ nos dias 2, 4, 7, 14, 21, 28 e 40 após o início <strong>do</strong> tratamento de pacientes commalária cau sada pelo P. falciparum.Em caso de lâmina positiva após os limites máximos acima especifica<strong>do</strong>s, o pacientedeverá ser classifica<strong>do</strong> como caso novo e deve-se considerar a investigação epidemiológicapara confirmar ou afastar autoctonia. Caso seja afastada a possibilidade de autoctonia, classificaro exame como LVC.NotificaçãoTo<strong>do</strong> caso de malária deve ser notifica<strong>do</strong> às autoridades de saúde, tanto na área endêmicaquanto na área não-endêmica. A notificação deverá ser feita através da ficha de notificaçãode caso de malária, conforme fluxo e modelo adiante apresenta<strong>do</strong>s.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência ao pacienteAtendimento ambulatorial ao paciente suspeito, para coleta da amostra de sangue eexame parasitoscópico. O caso confirma<strong>do</strong> recebe tratamento em regime ambulatorial. Ocaso grave deverá ser hospitaliza<strong>do</strong> de imediato. No paciente com resulta<strong>do</strong> negativo paramalária, outras <strong>do</strong>enças deverão ser pesquisadas.Qualidade da assistênciaUm <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res para se avaliar a qualidade da assistência é o tempo verifica<strong>do</strong> entrea coleta da amostra de sangue para exame e o início <strong>do</strong> tratamento, que não deve ser superior a24 horas. Outra forma de garantir boa assistência é o monitoramento <strong>do</strong> tratamento, por meiode visitas <strong>do</strong>miciliares ou de idas <strong>do</strong> paciente à unidade de saúde, para assegurar a cura.534 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MaláriaConfirmação diagnósticaColetar material para diagnóstico laboratorial, de acor<strong>do</strong> com as orientações técnicas.Proteção da populaçãoComo medidas utilizadas para o controle da malária na população, podemos destacar:• tratamento imediato <strong>do</strong>s casos diagnostica<strong>do</strong>s;• busca de casos junto aos comunicantes;• investigação epidemiológica;• orientação à população quanto à <strong>do</strong>ença, uso de repelentes, mosquiteiros impregna<strong>do</strong>s,roupas protetoras, telas em portas e janelas;• investigação entomológica com determinação <strong>do</strong>s hábitos hematofágicos, infectividadenatural nos vetores e paridade;• borrifação residual em todas as casas da localidade acometida, com periodicidadedeterminada por provas biológicas para residualidade, sazonalidade <strong>do</strong> vetor ou verificação<strong>do</strong> aumento da taxa de paridade;• aplicação espacial de inseticidas nos horários de maior densidade vetorial, com intervalosde, no máximo, sete dias;❯ aplicação de larvicidas em cria<strong>do</strong>uros <strong>do</strong> vetor; e pequenas obras de saneamento,para eliminação de cria<strong>do</strong>uros <strong>do</strong> vetor.6InvestigaçãoApós a notificação de um ou mais casos de malária, deve-se iniciar a investigação epidemiológicapara permitir que as medidas de controle possam ser a<strong>do</strong>tadas. O instrumentode coleta de da<strong>do</strong>s é a ficha de notificação de caso de malária, que contém os elementosessenciais a serem coleta<strong>do</strong>s em uma investigação de rotina. To<strong>do</strong>s os seus campos devemser criteriosamente preenchi<strong>do</strong>s. As informações sobre “da<strong>do</strong>s preliminares da notificação”,“da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> paciente”, “local provável da infecção” e os campos, “sintomas”, “data <strong>do</strong>s primeirossintomas” e “paciente é gestante?” devem ser preenchi<strong>do</strong>s no primeiro atendimento aopaciente.MRoteiro de investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de notificação de casos de malária relativos aos“da<strong>do</strong>s preliminares da notificação”, “da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> paciente” e “paciente é gestante?”Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosAnotar na ficha de notificação de caso de malária• Se o paciente está com ou sem sintomas.• Data <strong>do</strong>s primeiros sintomas.• Coletar amostra de sangue, anotan<strong>do</strong> a data da notificação e, posteriormente, verificaro resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exame laboratorial.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS535


MaláriaPara identificação da área de transmissão (local provável da infecção)• Identificar se o local de residência corresponde a uma área de transmissão da malária.• Verificar se o paciente esteve em área de transmissão de malária no perío<strong>do</strong> de 8 a30 dias anteriores à data <strong>do</strong>s primeiros sintomas e se os mesmos ocorreram à noite.• Verificar a principal atividade exercida pelo paciente no perío<strong>do</strong> de 8 a 30 dias anterioresà data <strong>do</strong>s primeiros sintomas, e se os mesmos ocorreram em horários dehábitos alimentares <strong>do</strong>s vetores.Estes procedimentos devem ser feitos mediante entrevista com o paciente, familiares,responsáveis ou pessoas da comunidade. Os da<strong>do</strong>s serão anota<strong>do</strong>s na ficha de notificação,permitin<strong>do</strong> identificar o local de infecção da malária.Quan<strong>do</strong> o paciente residir em área endêmica, a caracterização <strong>do</strong> local de transmissãoé facilitada. Entretanto, a história <strong>do</strong>s deslocamentos de to<strong>do</strong>s os casos suspeitos permitirádefinir, com maior certeza, o local provável de infecção.Lembrar que a identificação da área onde se deu a transmissão é de fundamentalimportân cia para nortear a extensão das medidas de controle.Para determinação da extensão da área de transmissãoEm áreas rurais e urbanas – após a identificação <strong>do</strong> local provável de infecção, faz-sea busca ativa de outros casos, delimitan<strong>do</strong> a área de transmissão. Uma equipe treinada empesquisa de vetores deve ser deslocada para esta área, para a captura <strong>do</strong>s prováveis mosquitosvetores. Os espécimes coleta<strong>do</strong>s devem ser envia<strong>do</strong>s ao laboratório de entomologia,para identificação e verificação de infectividade e paridade.Coleta e remessa de material para examesA coleta e remessa da amostra de sangue para exame de malária devem ser feitas portécnicos devidamente prepara<strong>do</strong>s pelo serviço de saúde, de acor<strong>do</strong> com os procedimentosabaixo:• coleta da amostra de sangue e preparação da lâmina;• identificação da lâmina;• coloração da lâmina: gota espessa, pelo méto<strong>do</strong> de Walker; esfregaço, pelos méto<strong>do</strong>sde Giemsa ou Wright;• exame da lâmina e registro <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>.Em locais que somente coletam amostras de sangue, após preparação e identificaçãoda lâmina, estas devem ser enviadas ao laboratório de referência, juntamente com a fichade notificação de caso. O resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exame deverá ser envia<strong>do</strong>, posteriormente, ao localda coleta.536 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MaláriaFluxograma <strong>do</strong> Sistema de Vigilância da MaláriaCaso suspeitoUnidade de saúde, agente de saúde(coleta de sangue, início da notificação)Laboratório(exame e registro de resulta<strong>do</strong>)Resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exame(positivo)Resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exame(negativo)Unidade de saúde,agente de saúde(tratamento)Unidade de saúde(notificação)Unidade de saúde(pesquisar outros agravos)6Análise deinformaçõesSecretaria municipalde saúde (digitação)Divulgaçãode informaçõesAnálise deinformaçõesRegional estadual desaúde (consolidação<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s)Divulgaçãode informaçõesAnálise deinformaçõesSecretaria estadual desaúde (consolidação<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s)Divulgaçãode informaçõesMLacen(controle de qualidade)Análise deinformaçõesCGPNCM/SVS/MS(consolidação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s)Divulgação deinformaçõesAnálise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sA análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da notificação deve permitir a avaliação da magnitude, segun<strong>do</strong> ascaracterísticas de pessoa, tempo e lugar. O nível local deverá fazer as primeiras avaliações,de forma que se possa a<strong>do</strong>tar as ações adequadas e oportunas ao controle da malária. Estasações serão constantemente reavaliadas para medição <strong>do</strong> impacto sobre a transmissão da<strong>do</strong>ença e redirecionamento, caso necessário.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS537


MaláriaEncerramento de casosConfirma<strong>do</strong> o diagnóstico laboratorial e inicia<strong>do</strong> o tratamento, encerra-se o caso demalária.Caso descarta<strong>do</strong> – caso suspeito notifica<strong>do</strong>, cujo resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exame laboratorial foinegativo.Relatório finalOs da<strong>do</strong>s da investigação deverão ser sumariza<strong>do</strong>s em um relatório com as principaisconclusões, das quais destacam-se:• distribuição da <strong>do</strong>ença, por sexo e faixa etária;• identificação <strong>do</strong> local provável da infecção e perío<strong>do</strong> da ocorrência;• descrição <strong>do</strong>s fatores de risco envolvi<strong>do</strong>s na transmissão;• descrição das espécies de plasmódios causa<strong>do</strong>ras da <strong>do</strong>ença;• análise da situação da <strong>do</strong>ença, segun<strong>do</strong> os indica<strong>do</strong>res de risco de transmissão e degravidade (IPA, percentagem de falciparum, coeficiente de internação, mortalidadee letalidade);• descrição <strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>uros potenciais de Anopheles e respectivas espécies vetoras, responsáveispela transmissão.Instrumentos disponíveis para coletaImunizaçãoVários antígenos plasmodiais foram identifica<strong>do</strong>s nas últimas décadas. Ensaios decampo foram realiza<strong>do</strong>s para avaliar a eficácia de algumas vacinas, porém os resulta<strong>do</strong>sdestes estu<strong>do</strong>s ainda não são satisfatórios para a implantação da vacinação.Controle vetorialO controle vetorial da malária deve ser desenvolvi<strong>do</strong>, preferencialmente, ao nívelmunicipal, com o objetivo de reduzir o risco de transmissão, prevenin<strong>do</strong> a ocorrência deepidemias, com a conseqüente diminuição da morbimortalidade. Os principais méto<strong>do</strong>semprega<strong>do</strong>s são o controle <strong>do</strong>s mosquitos adultos e, quan<strong>do</strong> viável, de larvas.Para o controle larvário, o ordenamento <strong>do</strong> meio por drenagem, aterro, modificação<strong>do</strong> fluxo da água e controle da vegetação aquática e limpeza das margens é o méto<strong>do</strong> maisindica<strong>do</strong>. Larvicidas químicos não são indica<strong>do</strong>s devi<strong>do</strong> ao impacto ambiental que podemcausar. O controle biológico, com utilização de biolarvicidas, peixes larvófagos e outros, éindica<strong>do</strong> para pequenas coleções de água, em cria<strong>do</strong>uros limita<strong>do</strong>s em número e com baixofluxo de água.Para o controle de mosquitos adultos, utiliza-se o controle químico por meio da aplicaçãointra<strong>do</strong>miciliar de inseticida de efeito residual e pulverização espacial de inseticida.A partir de 1999, vem ocorren<strong>do</strong> na região amazônica a implantação <strong>do</strong> controle seletivode vetores. Esse novo direcionamento para as ações de controle origina-se da neces-538 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Maláriasidade de implantar estratégias criativas para o enfrentamento <strong>do</strong> problema. O controleseletivo pode ser entendi<strong>do</strong> como a seleção de medidas de controle mais efetivas, seguras,de baixo custo, que causem menor impacto ambiental e sejam adaptadas à realidade local.Ações de educação em saúdeA população deve ser informada sobre a <strong>do</strong>ença, da necessidade de se procurar a unidadede saúde aos primeiros sintomas, a importância <strong>do</strong> tratamento, os cuida<strong>do</strong>s com aproteção individual e coletiva. Várias técnicas pedagógicas podem ser utilizadas, tanto paraeducação em saúde coletiva (teatro, música, imprensa falada, escrita, entre outras) quantoindividual (cartilhas, “folders” e outros).Ten<strong>do</strong> em vista que os determinantes da ocorrência de malária não são exclusivos <strong>do</strong>setor saúde, é necessário que a comunidade esteja mobilizada para se articular junto aosdemais setores envolvi<strong>do</strong>s com o controle da endemia.Estratégia de prevençãoAlém de evitar freqüentar os locais de transmissão à noite, utilizam-se como medidasde prevenção individual: uso de mosquiteiros impregna<strong>do</strong>s ou não com inseticidas, roupasque protejam pernas e braços, telas em portas e janelas, uso de repelentes.As medidas de prevenção coletiva utilizadas são: drenagem, pequenas obras de saneamentopara eliminação de cria<strong>do</strong>uros <strong>do</strong> vetor, aterro, limpeza das margens <strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>uros,modificação <strong>do</strong> fluxo da água, controle da vegetação aquática, melhoramento da moradia edas condições de trabalho, uso racional da terra.Programas coletivos de quimioprofilaxia não têm si<strong>do</strong> a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s devi<strong>do</strong> à resistência<strong>do</strong> P. falciparum à cloroquina e outros antimaláricos, à toxicidade e custo mais eleva<strong>do</strong> denovas drogas. Porém, em situações especiais, como missões militares, religiosas, diplomáticase outras, em que haja deslocamento para áreas maláricas <strong>do</strong>s continentes africano e asiático,recomenda-se entrar em contato com os setores responsáveis pelo controle da malárianas secretarias municipais e estaduais de saúde, e <strong>do</strong> Ministério da Saúde.No Brasil, a política a<strong>do</strong>tada atualmente centra-se no diagnóstico e tratamento oportunoe adequa<strong>do</strong>, pois existe estrutura na rede pública de saúde para diagnóstico e tratamentoda malária.6MSecretaria de Vigilância em Saúde / MS539


Malária540 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MeningitesMENINGITESCID 10: A17.0 (M. tuberculosa); A39.0 (M. meningocócica);A87 (M. virais); G00.0 (M. haemophilus); G00.1 (M. pneumocócica)Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoO termo meningite expressa a ocorrência de um processo inflamatório das meninges,membranas que envolvem o cérebro.Agente etiológicoA meningite pode ser causada por diversos agentes infecciosos, como bactérias, víruse fungos, dentre outros, e agentes não-infecciosos (ex: traumatismo).As meningites de origem infecciosa, principalmente as causadas por bactérias e vírus,são as mais importantes <strong>do</strong> ponto de vista da saúde pública, pela magnitude de sua ocorrênciae potencial de produzir surtos. Dentre elas, destacam-se:6Meningites bacterianasOs principais agentes bacterianos causa<strong>do</strong>res de meningite são:Neisseria meningitidis (meningococo)Bactéria gram-negativa em forma de coco. Possui diversos sorogrupos, de acor<strong>do</strong> como antígeno polissacarídeo da cápsula. Os mais freqüentes são os sorogrupos A, B, C, W 135e Y. Podem também ser classifica<strong>do</strong>s em sorotipos e subtipos, de acor<strong>do</strong> com os antígenosprotéicos da parede externa <strong>do</strong> meningococo.MMycobacterium tuberculosisBacilo não forma<strong>do</strong>r de esporos, sem flagelos e que não produz toxinas. É uma espécieaeróbica estrita, necessitan<strong>do</strong> de oxigênio para crescer e se multiplicar. Tem a forma debastonete, medin<strong>do</strong> de 1 a 4 micra. Quan<strong>do</strong> cora<strong>do</strong> pelo méto<strong>do</strong> de Ziehl-Neelsen, fixa afucsina, não se descoran<strong>do</strong> depois de trata<strong>do</strong> pelos álcoois (álcool-áci<strong>do</strong> resistente).Haemophilus influenzaeBactéria gram-negativa que pode ser classificada, atualmente, em 6 sorotipos (a, b, c,d, e, f), a partir da diferença antigênica da cápsula polissacarídica. O Haemophilus influenzae,desprovi<strong>do</strong> de cápsula, se encontra nas vias respiratórias de forma saprófita, poden<strong>do</strong>causar infecções assintomáticas ou <strong>do</strong>enças não-invasivas tais como bronquite, sinusites eotites, tanto em crianças como em adultos. A forma capsulada <strong>do</strong> Haemophilus influenzae<strong>do</strong> tipo b, antes da introdução da vacina Hib, era responsável por 95% das <strong>do</strong>enças invasivas(meningite, septicemia, pneumonia, epiglotite, celulite, artrite séptica, osteomielite epericardite).Secretaria de Vigilância em Saúde / MS541


MeningitesStreptococcus pneumoniaeBactéria gram-positiva com característica morfológica esférica (cocos), disposta aospares. É alfa-hemolítico e não-agrupável, possuin<strong>do</strong> mais de 90 sorotipos capsulares.Meningites viraisSão representadas principalmente pelos enterovírus. Neste grupo estão incluídas astrês cepas <strong>do</strong>s poliovírus, 28 cepas de echovírus, 23 cepas <strong>do</strong> vírus coxsackie A, 6 <strong>do</strong> víruscoxsackie B e 5 outros enterovírus.O Quadro 1 apresenta a lista com os principais agentes etiológicos de meningite:Quadro 1Bactérias Vírus OutrosNeisseria meningitidisHaemophilus influenzaeStreptococcus pneumoniaeMycobacterium tuberculosisStaphylococcus aureusPseu<strong>do</strong>mona aeruginosaEscherichia coliKlebsiella spEnterobacter spSalmonella spProteus spListeria monocytogenesLeptospira spRNA Vírus• Enterovírus• Arbovírus• Vírus <strong>do</strong> sarampo• Vírus da caxumba• Arenavírus – coriomeningite linfocitária• HIV 1DNA vírus• Adenovírus• Vírus <strong>do</strong> grupo Herpes• Varicela zoster• Epstein Barr• CitomegalovírusFungos• Cryptococcus neoformans• Candida albicans e C. tropicalisProtozoários• Toxoplasma gondii• Trypanosoma cruzi• Plasmodium spHelmintos• Infecção larvária da Taenia solium• Cysticercus cellulosae (cisticercose)ReservatórioO principal reservatório é o homem. No caso da meningite tuberculosa, outros animais,em especial o ga<strong>do</strong> bovino, podem ser reservatórios da <strong>do</strong>ença. No entanto, o homemcom a forma pulmonar bacilífera é o reservatório de maior importância epidemiológica.Mo<strong>do</strong> de transmissãoEm geral, a transmissão é de pessoa a pessoa, através das vias respiratórias, por gotículase secreções da nasofaringe, haven<strong>do</strong> necessidade de contato íntimo (residentes namesma casa, colega de <strong>do</strong>rmitório ou alojamento, namora<strong>do</strong>) ou contato direto com assecreções respiratórias <strong>do</strong> paciente.A transmissão fecal-oral é de grande importância em infecções por enterovírus. Ameningite tuberculosa é uma complicação da infecção tuberculosa. Os casos de tuberculosepulmonar com escarro positivo à baciloscopia constituem a principal fonte de infecção,542 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Meningitespois eliminam grande número de bacilos, poden<strong>do</strong> provocar uma infecção maciça <strong>do</strong>s contatos,com maior probabilidade de desenvolvimento de formas graves da <strong>do</strong>ença, como ameningite.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoEm geral, de 2 a 10 dias; em média, 3 a 4 dias. Pode haver alguma variação em função<strong>do</strong> agente etiológico responsável.A meningite tuberculosa, em geral, ocorre nos primeiros seis meses após a infecção.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeÉ variável, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> agente infeccioso e da instituição <strong>do</strong> diagnóstico e tratamentoprecoces.No caso da <strong>do</strong>ença meningocócica, a transmissibilidade persiste até que o meningococodesapareça da nasofaringe. O que geralmente ocorre após 24 horas de antibioticoterapia.Aproximadamente, 10% da população pode apresentar-se como porta<strong>do</strong>r assintomático.6Susceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade é geral, mas o risco de a<strong>do</strong>ecer declina com a idade. O grupo demenores de 5 anos é o mais vulnerável.Os neonatos raramente a<strong>do</strong>ecem, em virtude da proteção conferida pelos anticorposmaternos. Esta imunidade vai declinan<strong>do</strong> até os 3 meses de idade, com o conseqüente aumentoda susceptibilidade.Em relação à meningite pneumocócica, i<strong>do</strong>sos e indivíduos porta<strong>do</strong>res de quadroscrônicos ou de <strong>do</strong>enças imunossupressoras apresentam maior risco de a<strong>do</strong>ecimento. Sãoexemplos de <strong>do</strong>enças imunossupressoras: síndrome nefrótica, asplenia anatômica ou funcional,insuficiência renal crônica, diabetes mellitus, infecção pelo HIV. Nos primeiros mesesde vida os lactentes estão protegi<strong>do</strong>s por anticorpos específicos da classe IgG.MAspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasA meningite é uma síndrome que se caracteriza por febre, cefaléia intensa, vômitos esinais de irritação meníngea, acompanhadas de alterações <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> cefalorraquidiano.A irritação meníngea associa-se aos sinais descritos a seguir:Sinal de Kernig – resposta em flexão da articulação <strong>do</strong> joelho, quan<strong>do</strong> a coxa é colocadaem certo grau de flexão, relativamente ao tronco. Há duas formas de se pesquisar essesinal:• paciente em decúbito <strong>do</strong>rsal: eleva-se o tronco, fletin<strong>do</strong>-o sobre a bacia; há flexão daperna sobre a coxa e desta sobre a bacia; eSecretaria de Vigilância em Saúde / MS543


Meningites• paciente em decúbito <strong>do</strong>rsal: eleva-se o membro inferior em extensão, fletin<strong>do</strong>-o sobrea bacia; após pequena angulação, há flexão da perna sobre a coxa. Essa variantechama-se, também, manobra de Laségue.Sinal de Brudzinski – flexão involuntária da perna sobre a coxa e desta sobre a bacia,ao se tentar fletir a cabeça <strong>do</strong> paciente.Crianças de até nove meses poderão não apresentar os sinais clássicos de irritaçãomeníngea. Outros sinais e sintomas permitem a suspeita diagnóstica, tais como febre, irritabilidadeou agitação, choro persistente, grito meníngeo (criança grita ao ser manipulada,principalmente quan<strong>do</strong> se flete as pernas para trocar a fralda) e recusa alimentar, acompanhadaou não de vômitos, convulsões e abaulamento da fontanela.Meningites bacterianasAs infecções causadas pelas bactérias Neisseria meningitidis, Haemophilus influenzaee Streptococcus pneumoniae podem limitar-se à nasofaringe ou evoluir para septicemia oumeningite. Em geral, o quadro clínico da meningite bacteriana é grave e caracteriza-se porfebre, cefaléia intensa, náusea, vômito, rigidez de nuca, prostração e confusão mental.No curso da <strong>do</strong>ença podem surgir delírio e coma. Dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> grau de comprometimentoencefálico, o paciente poderá também apresentar convulsões, paralisias, tremores,transtornos pupilares, hipoacusia, ptose palpebral e nistagmo. Casos fulminantes com sinaisde choque também podem ocorrer.As principais complicações das meningites bacterianas são perda da audição, distúrbiode linguagem, retar<strong>do</strong> mental, anormalidade motora e distúrbios visuais.A presença de alguns sinais clínicos pode sugerir a suspeita etiológica. É o caso daNeisseria meningitidis que, em alguns casos, é responsável pelos quadros de meningococcemiacom ou sem meningite, caracterizada por um exantema (“rash”) principalmente nasextremidades <strong>do</strong> corpo. Este exantema apresenta-se tipicamente eritematoso e macular noinício da <strong>do</strong>ença, evoluin<strong>do</strong> rapidamente para exantema petequial. A infecção pela Neisseriameningitidis pode provocar meningite, meningococcemia e as duas formas clínicasassociadas (meningite meningocócica com meningococcemia), ao que se denomina <strong>do</strong>ençameningocócica. A vigilância da <strong>do</strong>ença meningocócica é de grande importância para asaúde pública em virtude de sua magnitude e gravidade, bem como <strong>do</strong> potencial de causarepidemias.Diferentemente das demais meningites, as meningites tuberculosa e fúngica podemapresentar uma evolução mais lenta, de semanas ou meses, tornan<strong>do</strong> difícil o diagnósticode suspeição.Na meningite tuberculosa não tratada, classicamente o curso da <strong>do</strong>ença é dividi<strong>do</strong> emtrês estágios:Estágio I – em geral, tem duração de 1 a 2 semanas, caracterizan<strong>do</strong>-se pela inespecificidade<strong>do</strong>s sintomas, poden<strong>do</strong> ocorrer febre, mialgias, sonolência, apatia, irritabilidade,cefaléia, anorexia, vômitos, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal e mudanças súbitas <strong>do</strong> humor, sintomas comuns544 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Meningitesa qualquer processo inespecífico. Nessa fase, o paciente pode encontrar-se lúci<strong>do</strong> e o diagnósticogeralmente é estabeleci<strong>do</strong> pelos acha<strong>do</strong>s liquóricos.Estágio II – caracteriza-se pela persistência <strong>do</strong>s sintomas sistêmicos e pelo surgimentode evidências de dano cerebral (sinais de lesão de nervos cranianos, exteriorizan<strong>do</strong>-se porparesias, plegias, estrabismo, ptose palpebral, irritação meníngea e hipertensão en<strong>do</strong>craniana).Nessa fase, alguns pacientes apresentam manifestações de encefalite, com tremoresperiféricos, distúrbios da fala, trejeitos e movimentos atetóides.Estágio III ou perío<strong>do</strong> terminal – ocorre quan<strong>do</strong> surge o déficit neurológico focal,opistótono, rigidez de nuca, alterações <strong>do</strong> ritmo cardíaco e da respiração e graus varia<strong>do</strong>sde perturbação da consciência, incluin<strong>do</strong> o coma. Em qualquer estágio clínico da <strong>do</strong>ençapode-se observar convulsões focais ou generalizadas.Na maioria <strong>do</strong>s casos de meningite tuberculosa observa-se alterações radiológicaspulmonares. O teste tuberculínico pode ou não ser reator. É importante lembrar que esteteste somente tem valor nos pacientes não vacina<strong>do</strong>s com BCG e que poderá apresentarresulta<strong>do</strong>s negativos nos indivíduos anérgicos, pacientes em fase terminal, pacientes comtuberculose disseminada, na desnutrição grave e nos pacientes com Aids (síndrome daimunodeficiência adquirida).6Meningites viraisO quadro clínico é semelhante ao das demais meningites agudas. Entretanto, ao examefísico chama a atenção o bom esta<strong>do</strong> geral associa<strong>do</strong> à presença de sinais de irritaçãomeníngea. Em geral, o restabelecimento <strong>do</strong> paciente é completo mas em alguns casos podepermanecer alguma debilidade, como espasmos musculares, insônia e mudanças de personalidade.A duração <strong>do</strong> quadro é geralmente inferior a uma semana. Em geral, as meningitesvirais não estão associadas a complicações, a não ser que o indivíduo seja porta<strong>do</strong>r dealguma imunodeficiência.Quan<strong>do</strong> se trata de enterovírus, é importante destacar que os sinais e sintomas inespecíficosque mais antecedem e/ou acompanham o quadro da meningite são: manifestaçõesgastrointestinais (vômitos, anorexia e diarréia), respiratórias (tosse, faringite), mialgia eerupção cutânea.MAs características <strong>do</strong> líquor nas diferentes etiologias estão descritas no Quadro 1 <strong>do</strong>Anexo 1).Diagnóstico diferencialDeve ser feito com as <strong>do</strong>enças febris hemorrágicas, tais como septicemias, febre purpúricabrasileira e ricketsioses.Com relação à meningite viral, o diagnóstico diferencial deve ser feito também comoutras encefalites.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS545


MeningitesDiagnóstico laboratorialO diagnóstico laboratorial das meningites é realiza<strong>do</strong> através <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong>cefalorraquidiano, poden<strong>do</strong> também ser utilizada a hemocultura, o raspa<strong>do</strong> de lesões petequiais,urina e fezes. A punção liquórica é freqüentemente realizada na região lombar,entre as vértebras L1 e S1, sen<strong>do</strong> mais indica<strong>do</strong>s os espaços L3-L4, L4-L5 ou L5-S1. Umadas contra-indicações para a punção lombar é a existência de infecção no local da punção(piodermite). No caso de haver hipertensão en<strong>do</strong>craniana grave, é aconselhável solicitarum especialista para a retirada mais cuida<strong>do</strong>sa <strong>do</strong> líquor, ou aguardar a melhora <strong>do</strong> quadro,priorizan<strong>do</strong>-se a análise de outros espécimes clínicos.O líquor normal é límpi<strong>do</strong> e incolor, como “água de rocha”. O volume normal é de 80 a150ml. O aumento de elementos figura<strong>do</strong>s (células) causa turvação, cuja intensidade variade acor<strong>do</strong> com a quantidade e o tipo desses elementos.Os principais exames para o esclarecimento diagnóstico de casos suspeitos de meningitesão:• exame quimiocitológico <strong>do</strong> líquor;• bacterioscopia direta (líquor ou soro);• cultura (líquor, sangue, petéquias ou fezes);• contra-imuneletroforese cruzada (CIE) (líquor ou soro);• aglutinação pelo látex (líquor ou soro).Obs.: ver rotina laboratorial para diagnóstico das meningites (Anexos 1 e 2).TratamentoEm se tratan<strong>do</strong> de meningite bacteriana, o tratamento com antibiótico deve ser instituí<strong>do</strong>tão logo seja possível, preferencialmente logo após a punção lombar e a coleta de sanguepara hemocultura. O uso de antibiótico deve ser associa<strong>do</strong> a outros tipos de tratamentode suporte, como reposição de líqui<strong>do</strong>s e cuida<strong>do</strong>sa assistência.Observações:• Nos casos de concomitância entre tuberculose meningoencefálica e em qualqueroutra localização, usar o esquema II.• Nos casos de tuberculose meningoencefálica em qualquer idade, recomenda-se ouso de corticosteróides (prednisona, dexametasona ou outros) por um perío<strong>do</strong> de 1a 4 meses, no início <strong>do</strong> tratamento.• Na criança, a prednisona é administrada na <strong>do</strong>se de 1 a 2mg/kg de peso corporal, atéa <strong>do</strong>se máxima de 30mg/dia. No caso de se utilizar outro corticosteróide, aplicar atabela de equivalência entre eles.• A fisioterapia na tuberculose meningoencefálica deverá ser iniciada o mais ce<strong>do</strong>possível.546 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MeningitesRecomendação de antibioticoterapia nos casos de meningite bacterianasem etiologia determinadaFaixa etária Antibiótico (1ª escolha) Antibiótico (2ª escolha)< 2 mesesAmpicilina + aminoglicosídeo(gentamicina ou amicacina)Cefalosporina 3ª geração(cefataxina ou ceftriaxone) + ampicilina2 meses a 5 anos Ampicilina + cloranfenicol Ceftriaxone> 5 anos Penicilina G. cristalina + ampicilina Cloranfenicol ou ceftriaxoneRecomendação de antibioticoterapia, segun<strong>do</strong> etiologiaAgentes Antibióticos Dose (EV) Intervalo Duração6NeisseriameningitidisPenicilina G.cristalinaouampicilina300 a 500 milUI/kg/diaaté24.000.000UI/dia200 a 400mg/kg/diaaté 15g/dia3/3h ou 4/4h4/4h ou 6/6h7 diasHaemophilusinfluenzaeCloranfenicolou ceftriaxone75 a 100mg/kg/diaaté 6g/dia100mg/kg/dia até 4g/dia6/6 h12/12h ou 24/24h)7 a 10 dias300 a 500 milUI/kg/diaStreptococcuspneumoniaePenicilina G.cristalina*até24.000.000UI/dia200 a 400mg/kg/diaaté 15g/dia3/3h ou 4/4h4/4h ou 6/6h10 - 14 diasMStaphilococcusOxacilina ouvancomicina200mg/kg/dia até 12g/dia300 a 400mg/kg/dia até 2g/dia4/4hs ou 6/6h6/6h21 diasEnterobactériasCeftriaxone ousulfametaxazol+ trimetropim100mg/kg/dia até 8g/dia100mg/kg/dia12/12h ou 24/24h8/8h ou 12/12h14 a 21 diasPseu<strong>do</strong>monasCeftaridima +amicacina oucarbenicilina +amicacina100mg/kg/dia até 8g/dia20 a 30mg/kg/dia até 1,5g/dia400 a 600mg/kg/dia até 30g/dia8/8h3/3h21 diasO tratamento da meningite tuberculosa é feito com o esquema II, padroniza<strong>do</strong> pelo Programa Nacional de Controleda Tuberculose.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS547


MeningitesEsquema II: 2 RHZ/7RH* − Indica<strong>do</strong> na meningite tuberculosaPeso <strong>do</strong> <strong>do</strong>enteFases <strong>do</strong>tratamentoDrogasAté 20kgMais de 20kge até 35kgMais de 35kge até 45kgMais de 45kgmg/kg/dia mg/dia mg/dia mg/dia1ª fase(2 meses - RHZ)RHZ1010353002001 mil4503001.5006004002 mil2ª fase(4 meses - RH)RH1010300200450300600400*2RHZ – 1ª fase (2 meses), 7RH (7 meses).Obs: R – Rifampicina; H – Isoniazida; Z – Pirazinamida. Siglas utilizadas pela Organização Mundial da SaúdeDe mo<strong>do</strong> geral, a antibioticoterapia é administrada por via venosa por um perío<strong>do</strong> de7 a 14 dias ou até mais, dependen<strong>do</strong> da evolução clínica e <strong>do</strong> agente etiológico.A a<strong>do</strong>ção imediata <strong>do</strong> tratamento adequa<strong>do</strong> não impede a coleta de material para odiagnóstico etiológico, seja líquor, sangue ou outros.O prognóstico está relaciona<strong>do</strong> a vários fatores, tais como agente etiológico, condiçõesclínicas e a faixa etária <strong>do</strong> paciente. Entretanto, apesar destes fatores o prognóstico será tantomelhor na medida em que for realiza<strong>do</strong> o diagnóstico e o tratamento precoces.O uso de corticóide nas situações de choque é discutível, existin<strong>do</strong> controvérsias sobrea influência favorável ao prognóstico. Há evidências de que poderia agir favoravelmente naprevenção de seqüelas nos casos de meningite originada pelo Haemophilus influenzae tipob. Contu<strong>do</strong>, sua eficácia para meningites por outras bactérias ainda permanece em fase deestu<strong>do</strong>s.A emergência de cepas bacterianas com diferentes graus de resistência antimicrobianaé o aspecto mais alarmante na terapia das <strong>do</strong>enças infecciosas. O principal fator que leva aníveis eleva<strong>do</strong>s de resistência é o uso empírico abusivo <strong>do</strong>s antibióticos.Nos casos de meningite viral, o tratamento antiviral específico não tem si<strong>do</strong> amplamenteutiliza<strong>do</strong>. Em geral, utiliza-se o tratamento de suporte, com criteriosa avaliação eacompanhamento clínicos. Tratamentos específicos somente estão preconiza<strong>do</strong>s para ameningite herpética (HSV 1 e 2 e VZV) com acyclovir en<strong>do</strong>venoso. Na caxumba, a globulinaespecífica hiperimune pode diminuir a incidência de orquite, porém não melhora asíndrome neurológica.Aspectos epidemiológicosAs meningites têm distribuição mundial e sua expressão epidemiológica depende defatores como o agente infeccioso, existência de aglomera<strong>do</strong>s populacionais e característicassocioeconômicas <strong>do</strong>s grupos populacionais e <strong>do</strong> meio ambiente (clima).548 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MeningitesDe mo<strong>do</strong> geral, a sazonalidade da <strong>do</strong>ença caracteriza-se pelo pre<strong>do</strong>mínio das meningitesbacterianas no inverno e das meningites virais no verão.A Neisseria meningitidis é a principal bactéria causa<strong>do</strong>ra de meningite. Tem distribuiçãomundial e potencial de ocasionar epidemias. O “cinturão africano” – região ao norte daÁfrica – é freqüentemente acometi<strong>do</strong> por epidemias causadas por este agente. No Brasil, nadécada de 70 e 80 ocorreram epidemias em várias cidades devi<strong>do</strong> aos sorogrupos A e C e,posteriormente, o B. A partir da década de 90, houve diminuição proporcional <strong>do</strong> sorogrupoB e aumento progressivo <strong>do</strong> sorogrupo C. Desde então, surtos isola<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sorogrupo Ctêm si<strong>do</strong> identifica<strong>do</strong>s e controla<strong>do</strong>s no país.Até 1999, as meningites causadas pelo Haemophilus influenzae <strong>do</strong> tipo b (Hib) representavama 2ª causa de meningite bacteriana depois da <strong>do</strong>ença meningocócica. A partir <strong>do</strong>ano 2000, após a introdução da vacina conjugada contra a Hib, houve uma queda de 90%na incidência de meningites por este agente e a 2ª maior causa de meningites bacterianaspassou a ser representada pelo Streptococcus pneumoniae.A meningite tuberculosa não sofre variações sazonais e sua distribuição não é igual emto<strong>do</strong>s os continentes. A <strong>do</strong>ença guarda íntima relação com as características socioeconômicas,principalmente naqueles países onde a população está sujeita à desnutrição e condiçõesprecárias de habitação. Com relação à faixa etária, o risco de a<strong>do</strong>ecimento é eleva<strong>do</strong> nosprimeiros anos de vida e muito baixo na idade escolar, voltan<strong>do</strong> a se elevar na a<strong>do</strong>lescênciae início da idade adulta. Os indivíduos HIV (+) também têm maior risco de a<strong>do</strong>ecimento.A meningite viral tem distribuição universal e potencial de ocasionar epidemias, principalmenterelacionadas a enterovírus. O aumento de casos também pode estar relaciona<strong>do</strong>a epidemias de varicela, sarampo, caxumba e também a eventos adversos pós-vacinais.A partir de 2004, foi desencadeada a implementação <strong>do</strong> diagnóstico laboratorial demeningite viral, com o intuito de conhecer melhor os agentes virais causa<strong>do</strong>res desse tipode meningite no país. A implementação da vigilância das meningites virais, juntamentecom as ações de vigilância vetorial, permitirá a detecção precoce de casos da febre <strong>do</strong>Nilo Ocidental, <strong>do</strong>ença em expansão no mun<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>s focos existentes nos Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s.6MVigilância epidemiológicaO Sistema de Vigilância das Meningites (SVE/Meningites) compreende todas as atividadese atores envolvi<strong>do</strong>s desde a identificação de um caso suspeito até a a<strong>do</strong>ção dasmedidas de prevenção e controle da <strong>do</strong>ença na comunidade. Desta forma, a operação desteSistema pressupõe uma boa integração técnica entre as atividades de assistência aos casos,de identificação e estu<strong>do</strong> das características <strong>do</strong> agente etiológico e de análise epidemiológica<strong>do</strong> comportamento da <strong>do</strong>ença na população. O SVE/Meningites teve sua implantaçãoem 1975, quan<strong>do</strong> tinha como objetivo principal o controle da <strong>do</strong>ença meningocócica, emvirtude <strong>do</strong>s surtos então verifica<strong>do</strong>s no país. Ao longo <strong>do</strong>s anos, foi incorporada a este Sistemaa vigilância de outras meningites de interesse para a saúde pública, como a meningiteSecretaria de Vigilância em Saúde / MS549


Meningitestuberculosa, a meningite por Haemophilus influenzae, a meningite por Streptococcus pneumoniaee as meningites virais.Objetivos gerais• Monitorar a situação epidemiológica das meningites no país.• Orientar a utilização das medidas de prevenção e controle disponíveis e avaliar aefetividade <strong>do</strong> uso dessas tecnologias.• Avaliar o desempenho operacional <strong>do</strong> SVE/Meningites.• Produzir e disseminar informações epidemiológicas.Objetivos específicos• Detectar surtos de <strong>do</strong>ença meningocócica e de meningite viral.• Monitorar a prevalência <strong>do</strong>s sorogrupos e sorotipos de Neisseria meningitidis, <strong>do</strong>s sorotiposde Haemophilus influenzae e Streptococcus pneumoniae circulantes no país.• Monitorar o perfil da resistência bacteriana das cepas de Neisseria meningitidis, Haemophilusinfluenzae e Streptococcus pneumoniae.Definição de casoSuspeito• Crianças acima de 1 ano e adultos com febre, cefaléia intensa, vômitos em jato, rigidezda nuca, sinais de irritação meníngea (Kernig, Brudzinski), convulsões e/oumanchas vermelhas no corpo.• Em crianças abaixo de um ano de idade, os sintomas clássicos acima referi<strong>do</strong>s podemnão ser tão evidentes. É importante considerar para a suspeita diagnóstica sinaisde irritabilidade, como choro persistente, e verificar a existência de abaulamentode fontanela.Confirma<strong>do</strong>• To<strong>do</strong> caso suspeito confirma<strong>do</strong> através <strong>do</strong>s seguintes exames laboratoriais específicos:cultura, CIE e látex, ou• To<strong>do</strong> caso suspeito de meningite com história de vínculo epidemiológico com casoconfirma<strong>do</strong> laboratorialmente por um <strong>do</strong>s exames especifica<strong>do</strong>s acima, ou• To<strong>do</strong> caso suspeito com exames laboratoriais inespecíficos (bacterioscopia, quimiocitológicoou outro) ou com evolução clínica compatível, ou• To<strong>do</strong> caso suspeito de meningite tuberculosa com história de vínculo epidemiológicocom casos de tuberculose.Obs.: vide Anexo 3 ‒ Tabela de inconsistência entre etiologia e critério diagnóstico.Descarta<strong>do</strong>Caso suspeito com diagnóstico confirma<strong>do</strong> de outra <strong>do</strong>ença.550 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MeningitesNotificaçãoA meningite faz parte da Lista Nacional de Doenças de Notificação Compulsória, deacor<strong>do</strong> com a Portaria GM nº 2.325, de 8 de dezembro de 2003. É de responsabilidade <strong>do</strong>serviço de saúde notificar to<strong>do</strong> caso suspeito às autoridades municipais de saúde, que deverãoprovidenciar, de forma imediata, a investigação epidemiológica e avaliar a necessidadede a<strong>do</strong>ção das medidas de controle pertinentes.To<strong>do</strong>s os profissionais de saúde de unidades de saúde públicas e privadas, bem comode laboratórios públicos e priva<strong>do</strong>s, são responsáveis pela notificação. O funcionamentode unidades de vigilância epidemiológica (UVE) nos hospitais é fundamental para a buscaativa de casos dentro <strong>do</strong>s mesmos.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao paciente – hospitalização imediata <strong>do</strong>s casos suspeitos, coletade líquor cefalorraquidiano e de sangue para o esclarecimento diagnóstico, medidas de suportegeral e instituição de terapêutica específica, conforme a suspeita clínica.Qualidade da assistência – o tratamento precoce e adequa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s casos reduz significativamentea letalidade da <strong>do</strong>ença. Para o bom desempenho no atendimento ao pacientegrave toda a equipe de assistência deve estar familiarizada com as técnicas de suporte cardiorrespiratórioe contar com a infra-estrutura necessária. A abordagem inicial, o rápi<strong>do</strong>reconhecimento da falência respiratória e <strong>do</strong> choque, a identificação e realização de drenagemde abcessos, dentre outros procedimentos de suporte ao paciente, são de fundamentalimportância na diminuição da morbimortalidade. O transporte <strong>do</strong>s casos para outraunidade de saúde, quan<strong>do</strong> necessário, deve ser efetua<strong>do</strong> após a estabilização da ventilação,oxigenação e perfusão orgânica e com acesso venoso com antibioticoterapia.Proteção individual e da população – o isolamento <strong>do</strong> paciente está indica<strong>do</strong> apenasdurante as primeiras 24 horas <strong>do</strong> tratamento com o antibiótico adequa<strong>do</strong>. Deve-se procederà desinfecção concorrente em relação às secreções nasofaríngeas e aos objetos contamina<strong>do</strong>spor elas. Nos casos de <strong>do</strong>ença meningocócica ou meningite por Haemophilus influenzaeestá indicada a quimioprofilaxia <strong>do</strong> caso e <strong>do</strong>s contatos íntimos (ver tópico Instrumentosdisponíveis para prevenção e controle). É importante a vigilância destes contatos por umperío<strong>do</strong> mínimo de 10 dias, orientan<strong>do</strong> a população sobre os sinais e sintomas da <strong>do</strong>ença eindican<strong>do</strong> os serviços de saúde a que devem recorrer frente a uma suspeita diagnóstica demeningite.6MContato íntimo: mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> mesmo <strong>do</strong>micílio, indivíduos que compartilham omesmo <strong>do</strong>rmitório, comunicantes de creches e pessoas diretamente expostas às secreções<strong>do</strong> paciente.A quimioprofilaxia não está indicada para pessoal médico ou de enfermagem quetenha atendi<strong>do</strong> pacientes com meningites bacterianas, a menos que tenha havi<strong>do</strong> exposiçãoàs secreções respiratórias durante procedimentos como respiração boca a boca e/ouentubação.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS551


MeningitesConfirmação diagnóstica – é imprescindível a coleta de espécimes clínicos <strong>do</strong> pacientepara a confirmação <strong>do</strong> diagnóstico etiológico (Anexo 1).Investigação – deve-se proceder à investigação epidemiológica frente à notificação dequalquer caso suspeito de meningite, para que se obtenha informações quanto à caracterizaçãoclínica <strong>do</strong> caso (incluin<strong>do</strong> a análise <strong>do</strong>s exames laboratoriais) e as possíveis fontes detransmissão da <strong>do</strong>ença. Além disso, verificar a necessidade de identificação de contatos e aimplementação das medidas de controle cabíveis em cada situação.Roteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> casoPreencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação <strong>do</strong> Sinan referentes à notificação(da<strong>do</strong>s gerais, <strong>do</strong> caso e de residência).Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosO instrumento de coleta de da<strong>do</strong>s é a ficha de investigação <strong>do</strong> Sinan, que contém asinformações essenciais a serem coletadas em uma investigação de rotina. To<strong>do</strong>s os seuscampos devem ser criteriosamente preenchi<strong>do</strong>s, mesmo que a informação seja negativa.Outras informações podem ser incluídas, conforme a necessidade.As fontes de coleta de da<strong>do</strong>s são: entrevista com o médico ou outro profissional de saúdeque atendeu ao caso, da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> prontuário e entrevista de familiares e pacientes (quan<strong>do</strong>possível).Para confirmar a suspeita diagnóstica• Verificar se preenche a definição de caso.• Verificar a coleta e resulta<strong>do</strong>s de exames de líquor, sangue/soro e fezes encaminha<strong>do</strong>sao laboratório.• Verificar a evolução <strong>do</strong>(s) paciente(s).Para identificação e determinação da extensão da área de transmissão• Coletar informações na residência e nos locais usualmente freqüenta<strong>do</strong>s pelos indivíduosacometi<strong>do</strong>s (creches, escolas, locais de trabalho, quartéis, discotecas, etc.),para identificar possíveis fontes de infecção.• Identificar to<strong>do</strong>s os contatos íntimos.• Investigar a existência de casos secundários e co-primários.• Verificar histórico vacinal <strong>do</strong> paciente.Coleta e remessa de material para examesA punção lombar para coleta de líquor e a coleta de sangue e/ou fezes para o diagnósticolaboratorial devem ser realizadas logo após a suspeita clínica de meningite, preferencialmenteantes <strong>do</strong> início <strong>do</strong> tratamento com antibiótico. O material coleta<strong>do</strong> em meio estérildeve ser processa<strong>do</strong> no laboratório local para orientação da conduta médica. Posteriormente,deve ser encaminha<strong>do</strong> para o laboratório central de saúde pública (Lacen), para os552 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MeningitesRoteiro de investigação epidemiológica das meningites (parte 1)Caso suspeitoNotificação imediataInvestigação imediataColeta de da<strong>do</strong>s clínico-epidemiológicosSuspeita clínica de viralSuspeita clínica de bacteriana6Caso isola<strong>do</strong> SurtoDM MHiOutras bacterianasOrientaçõesindividuaisColetade materialIdentificarcontatos íntimosOrientaçõesgeraisMedidasde controleBusca ativade casosQuimioprofilaxiaEncerramentoSurtoImunizaçãose necessárioAtualização<strong>do</strong> SinanMedidasadicionaisde controleOrientaçõesgeraisMEncerramentoAtualização<strong>do</strong> SinanLegendaDM – Doença meningocócica; MHi – Meningite por Haemophilus influenzaeprocedimentos de identificação etiológica, de acor<strong>do</strong> com as normas técnicas apresentadasnos Anexos 1 e 2.Análise de da<strong>do</strong>sEsta é uma etapa fundamental da investigação epidemiológica e corresponde à interpretação<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s em seu conjunto. Esta análise deverá ser orientada poralgumas perguntas, tais como: quais foram as fontes de infecção? O caso atual, sob investi-Secretaria de Vigilância em Saúde / MS553


MeningitesRoteiro de investigação epidemiológica das meningites (parte 2)Caso suspeitoNotificação imediataInvestigação imediataColeta de da<strong>do</strong>s clínico-epidemiológicosSuspeita clínica de viralSuspeita clínica de bacterianaCaso isola<strong>do</strong>SurtoAté 20 amostrasColetaSangueLíquorColetaSangueLíquorFezesLaboratório localBacterioscopiaCitoquímicaLaboratório localCitoquímicaLacenCulturaCIELátexLacenPreparo das amostrasLRNIALCGLABLRNFiocruzIECLegendaCGLAB – Coordenação Geral de Laboratórios; Lacen – Laboratório de Saúde Pública; LRN – Laboratório de ReferênciaNacional; IAL – Instituto A<strong>do</strong>lfo Lutz; Fiocruz – Fundação Oswal<strong>do</strong> Cruz; IEC – Instituto Evandro Chagas.gação, transmitiu a <strong>do</strong>ença para outras pessoas? Trata-se de casos isola<strong>do</strong>s ou de um surto?Existem medidas de controle a serem executadas?Isto significa que a investigação epidemiológica não se esgota no preenchimento da fichade investigação <strong>do</strong> Sinan. A análise <strong>do</strong> prontuário, a realização de estu<strong>do</strong>s adicionais e apesquisa em diferentes fontes de da<strong>do</strong>s (busca ativa de novos casos) são atividades inerentes554 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Meningitespara o alcance <strong>do</strong> objetivo final da vigilância epidemiológica: o controle das <strong>do</strong>enças. Paraesta análise, é importante:• acompanhamento semanal <strong>do</strong> número de casos de <strong>do</strong>ença meningocócica e meningiteviral por município, para detectar surtos;• revisão <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da ficha de investigação de casos;• acompanhamento da situação epidemiológica das meningites (incidência e letalidadepor etiologia, sazonalidade, sorogrupo pre<strong>do</strong>minante de Neisseria meningitidis,etc.);• análise de indica<strong>do</strong>res operacionais da vigilância (oportunidade de realização daquimioprofilaxia, oportunidade de encerramento <strong>do</strong>s casos, percentual de meningitesbacterianas confirmadas por cultura e critério laboratorial, etc.), conforme descritono Caderno de Análise <strong>do</strong> Sinan.Encerramento de casoDeve ser realiza<strong>do</strong> após a verificação de todas as informações necessárias para a conclusão<strong>do</strong> caso. A ficha de investigação deve ter si<strong>do</strong> devidamente preenchida para possibilitara revisão e discussão <strong>do</strong> caso para o encerramento. O encerramento deverá ser feitocom base na tabela de inconsistência entre etiologia e critério diagnóstico (Anexo 3), noprazo máximo de 60 dias e posterior atualização <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s no Sinan.6Instrumentos disponíveis para prevenção e controleA meningite é uma síndrome que pode ser causada por diferentes agentes infecciosos.Para alguns destes, é possível dispor de medidas de prevenção primária, tais como vacinase quimioprofilaxia. O diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais para um bomprognóstico da <strong>do</strong>ença.MQuimioprofilaxiaA quimioprofilaxia, muito embora não assegure efeito protetor absoluto e prolonga<strong>do</strong>,tem si<strong>do</strong> a<strong>do</strong>tada como eficaz medida na prevenção de casos secundários. Está indicadapara os contatos íntimos de casos de <strong>do</strong>ença meningocócica e meningite por Haemophilusinfluenzae e também para o paciente, no momento da alta, no mesmo esquema preconiza<strong>do</strong>para os contatos, exceto se o tratamento foi com ceftriaxona, pois há evidências de queesta droga é capaz de eliminar o meningococo da orofaringe.A droga de escolha para a quimioprofilaxia é a rifampicina, que deve ser administradaem <strong>do</strong>se adequada e simultaneamente a to<strong>do</strong>s os contatos íntimos, no prazo de 48 horas daexposição à fonte de infecção. Considerar o perío<strong>do</strong> de transmissibilidade da <strong>do</strong>ença. O usorestrito da droga visa evitar a seleção de estirpes resistentes de meningococos.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS555


MeningitesEsquema de rifampicina indica<strong>do</strong> por etiologiaAgente etiológico Dose Intervalo DuraçãoAdultos - 600mg/<strong>do</strong>se12/12h2 diasCrianças> 1 mês até 10 anos<strong>do</strong>se - 10mg/kg/<strong>do</strong>seNeisseria meningitidis12/12h (<strong>do</strong>se máxima de 600mg)2 dias< 1 mêsDose - 5mg/kg/<strong>do</strong>se12/12h (<strong>do</strong>se máxima de 600mg)2 diasHaemophilus influenzaeAdultos - 600mg/<strong>do</strong>seCrianças> 1 mês até 10 anos<strong>do</strong>se - 20mg/kg/<strong>do</strong>se24/24h24//24h (<strong>do</strong>se máxima de 600mg)4 dias4 dias< 1 mêsDose - 10mg/kg/<strong>do</strong>se24/24h (<strong>do</strong>se máxima de 600mg)4 diasObservação: criança com o esquema vacinal completo contra Haemophilus influenzae tipo b não precisa receberquimioprofilaxia, exceto nos casos de ser imunocomprometida.ImunizaçãoAs vacinas contra meningite são específicas para determina<strong>do</strong>s agentes etiológicos.Algumas fazem parte <strong>do</strong> calendário básico de vacinação da criança e outras estão indicadasapenas em situações de surto.Vacina contra Haemophilus influenzae tipo b (Hib) ou tetravalenteEsta vacina previne contra as infecções invasivas causadas pelo Haemophilus influenzae<strong>do</strong> tipo b, como meningite, pneumonia, septicemia, otite, etc. Faz parte <strong>do</strong> calendáriobásico de vacinação infantil e está recomendada para menores de um ano no esquema detrês <strong>do</strong>ses com intervalo de 60 dias entre as <strong>do</strong>ses (esquema: 2, 4 e 6 meses de idade). Éutilizada juntamente com a vacina DPT, compon<strong>do</strong> a vacina tetravalente.Suas contra-indicações são as gerais, relacionadas à hipersensibilidade. As reações adversassão raras e, quan<strong>do</strong> ocorrem, são locais (<strong>do</strong>r, eritema e enduração) e surgem nas primeiras24 a 48 horas após a administração. Esta vacina também está indicada em casos de:• crianças e a<strong>do</strong>lescentes até 18 anos, com asplenia anatômica ou funcional ou comimunodeficiência congênita ou adquirida;• menores de cinco anos, com <strong>do</strong>ença pulmonar ou cardiovascular crônica e grave;• transplanta<strong>do</strong>s de medula óssea de qualquer idade.Vacina contra o bacilo de KochA vacina BCG (bacilo de Calmette-Guérin, estirpe Moreau Rio de Janeiro) previnecontra as formas graves de tuberculose (miliar e meníngea). É uma vacina composta de556 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Meningitescepas atenuadas <strong>do</strong> bacilo Mycobacterium bovis. O esquema recomenda<strong>do</strong> é uma <strong>do</strong>se aonascer, deven<strong>do</strong> ser administrada o mais precocemente possível, na própria maternidadeou na sala de vacinação da rede pública de saúde. A utilização de uma <strong>do</strong>se de reforço entre6 e 10 anos de idade, já introduzida em alguns esta<strong>do</strong>s, é recomendada. Em criança querecebeu BCG há seis meses ou mais, na qual esteja ausente a cicatriz vacinal, indica-se arevacinação, sem necessidade de realização prévia <strong>do</strong> teste tuberculínico (PPD).A vacina é contra-indicada nas seguintes situações:• em porta<strong>do</strong>r HIV positivo, sintomático ou assintomático;• em menores de 13 anos infecta<strong>do</strong>s pelo HIV, considerar a Tabela 1 e avaliar os parâmetrosclínicos e risco epidemiológico para a tomada de decisão;• nos trabalha<strong>do</strong>res de saúde reatores à prova tuberculínica (reator forte/acima de10mm);• nos porta<strong>do</strong>res de imunodeficiências congênitas.Em recém-nasci<strong>do</strong>s com peso inferior a 2kg, devi<strong>do</strong> à escassez <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> cutâneo e empresença de afecções dermatológicas extensas em atividade, <strong>do</strong>enças graves, ou nos casosde uso de drogas imunossupressoras, recomenda-se o adiamento até que a criança estejaclinicamente bem.Os eventos adversos mais comuns são: formação de abscesso subcutâneo frio ou quente,ulceração com diâmetro maior que 1cm no local da aplicação, linfadenite regional supurada,cicatriz quelóide, reação lupóide e outras lesões localizadas ou generalizadas (maioresdetalhes, ver Manual de Vigilância Epidemiológica <strong>do</strong>s Eventos Adversos, disponível no sitewww.saude.gov.br/svs/publicações).6Vacinas contra Neisseria meningitidisAs vacinas antimeningocócicas podem ser polissacarídicas ou conjugadas.MTabela 1. Categoria imunológica da classificação da infecção pelo HIV na criança(menores de 13 anos)Contagem de LT CD4+ em células/mm 3Alteração imunológicaIdade


MeningitesVacina polissacarídica contra o meningococo <strong>do</strong>s sorogrupos A e C – é constituídapor polissacarídeos capsulares purifica<strong>do</strong>s de Neisseria meningitidis (isola<strong>do</strong>s ou combina<strong>do</strong>s)que foram quimicamente identifica<strong>do</strong>s, induzin<strong>do</strong> uma resposta imunológica decélula T independente. A eficácia em adultos é alta, mas no grupo de menores de 2 anos ébaixa. Além disso, produzem imunidade de curta duração (12 a 24 meses).Os eventos adversos pós-vacinação são leves e pouco freqüentes, consistin<strong>do</strong>, principalmente,de manifestações locais como <strong>do</strong>r, edema e eritema local com duração de 1 a 2dias. As manifestações sistêmicas são leves e pouco freqüentes, consistin<strong>do</strong> principalmentede febre baixa, com início até 48 horas após a aplicação da vacina e persistin<strong>do</strong> por 24 a 48horas.No Brasil, estas vacinas estão indicadas no controle de surtos, não estan<strong>do</strong> disponíveisna rotina <strong>do</strong>s serviços de saúde.Vacina polissacarídica contra o meningococo <strong>do</strong> sorogrupo B – existe uma vacinadisponível cujos resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s no Brasil indicam baixa efetividade emmenores de 2 anos. A vacina contra o meningococo B possui baixa eficácia porque o polissacarídeoda cápsula desse meningococo é fracamente imunogênico, devi<strong>do</strong> à sua semelhançaestrutural com teci<strong>do</strong>s corporais humanos.Os eventos adversos pós-vacinação mais observa<strong>do</strong>s são a <strong>do</strong>r no local da aplicação etumefação. A febre é a mais comum das manifestações gerais, ocorren<strong>do</strong> na maioria das vezesnas primeiras 48 horas após a vacinação. A síndrome de reação sistêmica precoce podemanifestar-se dentro de 3 horas após a aplicação da vacina com um ou mais <strong>do</strong>s seguintessintomas: tremores, calafrios, febre, cefaléia intensa, vômitos, sonolência, prostração, cianoseperioral ou de de<strong>do</strong>s.Vacina conjugada contra o meningococo <strong>do</strong> sorogrupo C – a vacina antimeningocócicaconjugada <strong>do</strong> sorogrupo C é constituída por polissacarídeo meningocócico <strong>do</strong>grupo C, conjuga<strong>do</strong> ao toxóide tetânico. Está indicada na prevenção da infecção invasivapelo meningococo C em crianças acima de 2 meses de idade. Esta vacina está disponívelnos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie) sen<strong>do</strong> recomendada nasseguintes situações:• crianças e a<strong>do</strong>lescentes com asplenia anatômica ou funcional ou com imunodeficiênciacongênita ou adquirida;• menores de cinco anos, com <strong>do</strong>ença pulmonar ou cardiovascular crônica e grave;• transplanta<strong>do</strong>s de medula óssea.Os eventos adversos mais freqüentes são <strong>do</strong>r, vermelhidão e inchaço no local da aplicação.Em crianças que começam a andar e em bebês, observa-se choro, irritabilidade, sonolência,insônia. Febre, vômito, náusea, perda de apetite e diarréia ocorrem em menorfreqüência.558 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MeningitesVacina contra Streptococcus pneumoniaeEsta vacina está disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais(Crie) em duas apresentações, sen<strong>do</strong> indicada nas seguintes situações:23 Valente• Adultos a partir de 60 anos de idade, quan<strong>do</strong> hospitaliza<strong>do</strong>s, institucionaliza<strong>do</strong>s ouacama<strong>do</strong>s;• Crianças com <strong>do</strong>is anos e mais, a<strong>do</strong>lescentes e adultos com imunodeficiência adquiridaou congênita, síndrome nefrótica, disfunção anatômica e funcional <strong>do</strong> baço,<strong>do</strong>ença pulmonar ou cardiovascular crônica e grave, insuficiência renal crônica, diabetesmellitus insulino-dependente, cirrose hepática, fístula liquórica e transplanta<strong>do</strong>sde medula óssea de qualquer idade.7 ValenteA partir <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is meses de idade até 23 meses: menores de <strong>do</strong>is anos de idade imunocompetentes,com <strong>do</strong>ença pulmonar ou cardiovascular crônicas graves, insuficiência renalcrônica, síndrome nefrótica, diabetes mellitus, cirrose hepática, fístula liquórica, aspleniacongênita ou adquirida, hemoglobinopatias, imunodeficiência congênita ou adquirida,crianças HIV positivo assintomáticas e com aids.6Observação: a vacina deve ser administrada 15 dias antes de esplenectomia eletiva equimioterapia imunossupressora.Vacinação para bloqueio de surtoRecomendaçõesA vacinação para bloqueio está indicada nas situações em que haja a caracterização deum surto de <strong>do</strong>ença meningocócica para o qual seja conheci<strong>do</strong> o sorogrupo responsável eexista vacina eficaz disponível.Estas vacinas somente serão utilizadas a partir de decisão conjunta das três esferas degestão: secretaria municipal de saúde, secretaria estadual de saúde e a Secretaria de Vigilânciaem Saúde/MS, após comprovação <strong>do</strong> sorogrupo responsável pelo surto.A estratégia de vacinação (campanha indiscriminada ou discriminada) será definidaconsideran<strong>do</strong> a análise epidemiológica, as características da população (faixa etária, etc.) ea área geográfica de ocorrência <strong>do</strong>s casos.To<strong>do</strong>s os procedimentos relaciona<strong>do</strong>s com o desencadeamento de campanha de vacinaçãodeverão estar de acor<strong>do</strong> com as normas técnicas preconizadas pelo Programa Nacionalde Imunização.Após a vacinação, são necessários 7 a 10 dias para a obtenção de títulos protetores deanticorpos. Casos ocorri<strong>do</strong>s em pessoas, no perío<strong>do</strong> de até 10 dias após a vacinação nãodevem ser considera<strong>do</strong>s falhas da vacinação. Estes casos são passíveis de ocorrência, hajavista que o indivíduo pode ainda não ter produzi<strong>do</strong> imunidade ou estar em perío<strong>do</strong> deincubação da <strong>do</strong>ença, que varia de 2 a 10 dias.MSecretaria de Vigilância em Saúde / MS559


MeningitesAs orientações técnicas para a administração de vacinas estão descritas no Manual deProcedimentos <strong>do</strong> Programa Nacional de Imunizações.Ações de educação em saúdeA população deve ser orientada sobre os sinais e sintomas da <strong>do</strong>ença, bem como oshábitos, condições de higiene e disponibilidade de outras medidas de controle e prevenção,tais como quimioprofilaxia e vacinas, alertan<strong>do</strong> para a procura imediata <strong>do</strong> serviço de saúdefrente a suspeita da <strong>do</strong>ença.A divulgação de informações é fundamental para diminuir a ansiedade e evitar o pânico.Resumo das estratégias de prevenção e controle• Orientar a população sobre a importância da higiene corporal e ambiental, bemcomo a manutenção de ambientes <strong>do</strong>miciliares e ocupacionais ventila<strong>do</strong>s, e evitaraglomera<strong>do</strong>s em ambientes fecha<strong>do</strong>s.• Informar sobre os mecanismos de transmissão da <strong>do</strong>ença.• Capacitar os profissionais de saúde para o diagnóstico e tratamento precoces.• Notificar to<strong>do</strong>s os casos suspeitos às autoridades de saúde.• Investigar imediatamente to<strong>do</strong>s os casos notifica<strong>do</strong>s como meningite.• Realizar, de forma adequada e em tempo hábil, a quimioprofilaxia <strong>do</strong>s contatos íntimos,quan<strong>do</strong> indicada.• Manter alta cobertura vacinal contra BCG e Hib, observan<strong>do</strong> a importância da coberturahomogênea nos municípios.• Detectar precocemente e investigar rapidamente os surtos.• Realizar a vacinação para bloqueio de surtos, quan<strong>do</strong> indicada.560 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MeningitesAnexo 1O diagnóstico etiológico <strong>do</strong>s casos suspeitos de meningite é de extrema importânciapara a vigilância epidemiológica, tanto na situação endêmica da <strong>do</strong>ença quanto em situaçõesde surto.Para to<strong>do</strong> caso suspeito de meningite bacteriana, utilizar o kit de coleta para o diagnósticolaboratorial, distribuí<strong>do</strong> pelos Lacens em to<strong>do</strong> o território nacional, composto de:• 1 frasco para hemocultura (com cal<strong>do</strong> TSB ou BHI acresci<strong>do</strong> <strong>do</strong> anticoagulanteSPS);• 1 frasco com meio de cultura ágar chocolate base Müller Hinton ou similar, paralíquor;• 1 frasco estéril para coleta de soro, para realizar CIE e látex;• 1 frasco estéril para coleta de líquor, para citoquímica, CIE e látex;• 2 lâminas sem uso prévio, perfeitamente limpas e desengorduradas, para bacterioscopia(uma é corada e processada no laboratório <strong>do</strong> hospital; a outra, enviada para oLacen).6Kit para colheita e transporte <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> cefalorraquidiano/sangue/soroÁgar chocolate baseMüeller HintonCal<strong>do</strong> TSB frascohemoculturaM2 lâminas de microscopiaFrasco vazio para LCRFrasco vazio para soroAs culturas positivas devem ser sempre encaminhadas ao Lacen, que a seguir as enviarápara o Instituto A<strong>do</strong>lfo Lutz (IAL/SP), que é o laboratório de referência nacional para asmeningites bacterianas, onde serão realiza<strong>do</strong>s os seguintes estu<strong>do</strong>s complementares: confirmaçãode espécie, sorogrupo, sorotipo e sorosubtipo, caracterização molecular e controleda resistência antimicrobiana da cepa.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS561


MeningitesQuadro 1. Alteração <strong>do</strong> LCR em algumas patologias (exames laboratoriais)ExameslaboratoriaisMeningitesBacteriana Tuberculosa ViralEncefalitesNeuro cis ticercoseMeningoencefaliapor fungosNormalAspectoTurvoLímpi<strong>do</strong> ouligeiramenteturvo(opalescente)Límpi<strong>do</strong>Límpi<strong>do</strong>Límpi<strong>do</strong> ouligeiramenteturvoLímpi<strong>do</strong>Límpi<strong>do</strong>CorBranca-leitosaou ligeiramentexantocrômicaIncolor ouxantocrômicaIncolor ouopalescenteIncolor Incolor IncolorIncolor, cristalino(“águade rocha”)CoáguloPresença ouausênciaPresença(fibrinadelicada)ou ausênciaAusente Ausente Ausente Ausente AusenteCloretos Diminuí<strong>do</strong>s Diminuí<strong>do</strong>s Normal Normal Normal Normal NormalGlicose Diminuída Diminuída Normal Normal Normal Normal 45 a 100mg/dlProteínastotaisAumentadasAumentadasLevementeaumentadasDiscretamenteaumentadasDiscretamenteaumentadasDiscretamenteaumentadas15 a 50mg/dlGlobulinasPositiva(gama-globulina)Positiva(alta e gamaglobulinas)Negativaou positivaAumentodiscreto (gamaglobulina)NormalAumento(gamaglobulina)-Leucócitos200 a milhares(neutrófilos)25 a 500(linfócitos)5 a 500(linfócitos)1 a 100(linfócitos)1 a 100(linfócitos)1 a 100(linfócitosou eosinófilos)0 a 5 mm 3VDRL - - - - - - -Contraimunoeletroforese(CIE)Reagente (1) - - - - - -Látex Reagente (5) - - - - - -MicroscopiaPositiva paraDGN, BGN,CGP, BGP (2)ou nãoGramnegativa(4)Positiva (tintananquim p/ C.neoformans oupara Candida spGramnegativaGramnegativaGramnegativa-CulturaCrescimentoem ágarchocolate (3)Crescimentoem meioLowestein-Jansen- -Crescimento emmeio Sabouraude ágar sangue- -Observação:(1) Contra-imunoeletroforese (CIE) reagente para N. meningitidis, H. influenzae tipo b.(2) DGN = Diplococo gram-negativo; BGN = Bacilo gram-negativo; CGP = Cocos gram-positivo; BGP = Bacilogram-positivo.(3) Quan<strong>do</strong> sem uso prévio de antibióticos e condições adequadas de coletas e semeadura <strong>do</strong> LCR.(4) Exame baciloscópico é de valor relativo porque a presença de BAAR é sempre pequena no LCR (paucibacilar).A baciloscopia é feita com coloração de Ziehl-Nielsen.(5) Látex = reagente para S. pneumoniae (grupos A e B), H. influenzae e N. meningitidis A, B, C, Y, W 135ou outrosagentes, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> produto disponível.562 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MeningitesExames laboratoriaisA seguir, descrevem-se os exames laboratoriais disponíveis, sua interpretação e as normasde coleta <strong>do</strong>s espécimes clínicos. Para isso, é necessário que a coleta seja realizada noato da entrada <strong>do</strong> paciente na unidade de saúde, no primeiro atendimento, preferencialmenteantes da utilização da primeira <strong>do</strong>se <strong>do</strong> antibiótico.• Cultura – exame de alto grau de especificidade, poden<strong>do</strong> ser realiza<strong>do</strong> com diversostipos de flui<strong>do</strong>s corporais, mais comumente líquor e sangue. O seu objetivo é identificara espécie da bactéria.• Contra-imunoeletroforese cruzada (CIE) – os polissacarídeos de Neisseria meningitidise Haemophilus influenzae tipo b apresentam carga negativa e, quan<strong>do</strong> submeti<strong>do</strong>sa um campo elétrico sob determinadas condições de pH e força iônica, migramem senti<strong>do</strong> contrário ao <strong>do</strong> anticorpo. Assim, tanto o antígeno quanto o anticorpodirigem-se para um determina<strong>do</strong> ponto e, ao se encontrarem, formam uma linha deprecipitação que indica a positividade da reação. A contra-imunoeletroforese forneceuma sensibilidade de aproximadamente 70% na identificação de Neisseria meningitidise de 90% na identificação de H. influenzae, e uma especificidade da reação de98%. O material indica<strong>do</strong> para o ensaio é o LCR, soro e outros flui<strong>do</strong>s.• Aglutinação pelo látex – partículas de látex, sensibilizadas com anti-soros específicospermitem, por técnica de aglutinação rápida (em lâmina ou placa), detectaro antígeno bacteriano em líquor, soro e outros flui<strong>do</strong>s biológicos. Pode ocorrer resulta<strong>do</strong>falso-positivo em indivíduos porta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> fator reumático ou em reaçõescruzadas com outros agentes. A sensibilidade <strong>do</strong> teste de látex é da ordem de 90%para H. influenzae, 94,4% para S. pneumoniae e 80% para N. meningitidis. A especificidadeda reação é de 97%.• Bacterioscopia – pela técnica de coloração de Gram, caracteriza-se morfológica etintorialmente os agentes bacterianos, permitin<strong>do</strong> sua classificação com pequenograu de especificidade. Pode ser realizada a partir <strong>do</strong> líquor e outros flui<strong>do</strong>s corpóreosnormalmente estéreis.• Quimiocitológico – permite a leitura citológica <strong>do</strong> líquor e a <strong>do</strong>sagem de glicose,proteínas e cloretos. Traduz a intensidade <strong>do</strong> processo infeccioso e orienta a suspeitaclínica, mas não deve ser utiliza<strong>do</strong> para conclusão <strong>do</strong> diagnóstico final, por seu baixograu de especificidade.• Outros exames – alguns méto<strong>do</strong>s vêm sen<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>s, principalmente nos laboratóriosde pesquisa, como PCR, Elisa e imunofluorescência, cujos resulta<strong>do</strong>s ainda seencontram em avaliação e, portanto, não são preconiza<strong>do</strong>s na rotina diagnóstica.• Reação em cadeia pela polimerase (PCR) – a detecção <strong>do</strong> DNA bacteriano podeser obtida por amplificação da cadeia de DNA pela enzima polimerase, que permitea identificação <strong>do</strong> agente utilizan<strong>do</strong> oligonucleotídeos específicos. Possui alta sensibilidadee especificidade; entretanto, a técnica para o diagnóstico de meningite aindanão está validada, não sen<strong>do</strong> utilizada como rotina diagnóstica.6MSecretaria de Vigilância em Saúde / MS563


Meningites• Méto<strong>do</strong> da imunofluorescência – este méto<strong>do</strong> consiste na marcação de anticorposespecíficos com substâncias fluorescentes para a identificação de H. influenzae,S.pneumoniae e N. meningitidis, em esfregaços de materiais clínicos. A sensibilidade<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s foi comparável à <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s convencionais, como exame direto,através da coloração de Gram e cultura atingin<strong>do</strong> 70% a 93%. O material indica<strong>do</strong>para o ensaio é o LCR e o soro.• Méto<strong>do</strong> imunoenzimático (Elisa) – o méto<strong>do</strong> fundamenta-se na capacidade <strong>do</strong>anticorpo ou antígeno ligar-se a uma enzima, resultan<strong>do</strong> em conjuga<strong>do</strong>, com a atividadeimunológica inalterada e, portanto, possível de detectar tanto antígeno comoanticorpo. O material indica<strong>do</strong> é o LCR e o soro.Além <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s supracita<strong>do</strong>s, há outros inespecíficos que são utiliza<strong>do</strong>s de formacomplementar: tomografia computa<strong>do</strong>rizada, raios X, ultra-sonografia, angiografia cerebrale ressonância magnética.• Os exames realiza<strong>do</strong>s pelos Lacens são cultura e antibiograma, CIE, látex e bacterioscopia.• To<strong>do</strong> material deverá ser envia<strong>do</strong> ao Lacen devidamente identifica<strong>do</strong> e acompanha<strong>do</strong>de cópia da ficha de investigação <strong>do</strong> Sinan, que servirá de orientação quanto aosexames indica<strong>do</strong>s.• O perfeito acondicionamento, para remessa de amostras, é de fundamental importânciapara o êxito <strong>do</strong>s procedimentos laboratoriais.564 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MeningitesQuadro 2. Coleta e conservação de material para diagnóstico de meningite bacterianaTipo dediagnósticoCulturaTipo dematerialSangueQuantidade10% a 20%<strong>do</strong> volumetotal <strong>do</strong> frascoNº deamostrasCultura Líquor 5 a 10 gotas 1CIELíquorou soro11ml 1Látex Soro 2ml 1Látex Líquor 1 a 2ml 1Bacte rioscopiaFrasco estérilSangue colhi<strong>do</strong>sem anticoagulanteQuimiocitológicoLíquor1 gota a partir<strong>do</strong> sedimento<strong>do</strong> materialquimio citológicoLíquor 2ml 12Perío<strong>do</strong>da coletaPreferencialmenteno ato <strong>do</strong> 1ºatendimentoPreferencialmenteno ato <strong>do</strong> 1ºatendimento.Semear imediatamenteou até 3hapós a punçãoPreferencialmenteno ato <strong>do</strong> 1ºatendimentoPreferencialmenteno ato <strong>do</strong> 1ºatendimentoPreferencialmenteno ato <strong>do</strong> 1ºatendimentoPreferencialmenteno ato <strong>do</strong> 1ºatendimentoPreferencialmenteno ato <strong>do</strong> 1ºatendimentoRecipienteFrasco adequa<strong>do</strong>para hemocultura(cal<strong>do</strong> BHIou TSB acresci<strong>do</strong>de SPS)Frasco com meiode cultura ágarchocolate baseMüller-Hintonou similarFrasco estérilFrasco estéril2 lâminas demicrocospiavirgensFrasco estérilArmazenamento/conservaçãoColocar imediatamente emestufa entre 35 o e 37 o C, logoapós a semeadura, até o envioao laboratório. Fazer subculturasem ágar chocolate após 8 horasIncubar a 35ºC-37ºC ematmosfera de CO 2(chama devela), úmi<strong>do</strong> após a semeadura,até o envio ao laboratórioEm temperatura ambiente,em até 1 horaTempo superior a 1 hora,conservar a 4ºCPode ser congela<strong>do</strong>, se o exame nãofor realiza<strong>do</strong> nas primeiras 24 horas.Estocar o restante para a necessidadede realizar outros procedimentosEm temperatura ambiente,em até 1 horaTempo superior a 1 hora, conservara 4ºCPode ser congela<strong>do</strong>, se o exame nãofor realiza<strong>do</strong> nas primeiras 24 horasEstocar o restante para a necessidadede realizar outros procedimentosEm temperatura ambiente,em até 1 horaTempo superior a 1 hora, conservara 4ºCPode ser congela<strong>do</strong>, se o exame nãofor realiza<strong>do</strong> nas primeiras 24 horasEstocar o restante para a necessidadede realizar outros procedimentosEm temperatura ambiente,em até 3 horasTempo superior a 3 horas,conservar a 4ºCTransporteNunca refrigerar.Manter o frasco emtemperatura ambientee encaminhar o maisrápi<strong>do</strong> possível parao laboratórioNunca refrigerar.Manter o frasco emtemperatura ambientee encaminhar o maisrápi<strong>do</strong> possível parao laboratórioEnviar imediatamenteao laboratório,conserva<strong>do</strong> em geloApós separar o soro,enviar imediatamenteao laboratório ouconservarEnviar imediatamenteao laboratório,conserva<strong>do</strong> em geloEnviarimediatamenteao laboratório6MObservações:• Nenhum <strong>do</strong>s exames cita<strong>do</strong>s substitui a cultura de líquor e/ou sangue. A recuperação <strong>do</strong> agente etiológico viável éde extrema importância para a sua caracterização e para o monitoramento da resistência bacteriana aos diferentesagentes microbianos.• Sempre colher o líquor em recipiente estéril, de preferência com tampa de borracha. Se o paciente for transferi<strong>do</strong>de hospital, deve ser encaminha<strong>do</strong> juntamente com o líquor e com o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s exames obti<strong>do</strong>s.• Os frascos conten<strong>do</strong> material biológico para exames devem ser rotula<strong>do</strong>s e identifica<strong>do</strong>s com: material biológico,suspeita clínica, nome completo, idade, município de residência, data e hora da coleta.• Proceder a antissepsia no local da punção com solução de io<strong>do</strong> a 2%. Após a punção, remover o resíduo de io<strong>do</strong>com álcool a 70%, visan<strong>do</strong> evitar queimadura ou reação alérgica.• Na suspeita de meningite por agente bacteriano anaeróbico, a eliminação <strong>do</strong> ar residual deve ser realizada apósa coleta <strong>do</strong> material. Transportar na própria seringa da coleta, com agulha obstruída, em tubo seco e estéril ouinoculada direto nos meios de cultura. Em temperatura ambiente, o tempo ótimo para transporte de material aolaboratório é de 15 minutos para menos de 1ml e 30 minutos para volume superior.• O exame de látex deve ser processa<strong>do</strong> com muito cuida<strong>do</strong>, para que não ocorram reações inespecíficas. Observar,portanto, as orientações <strong>do</strong> manual <strong>do</strong> kit, uma vez que a sensibilidade <strong>do</strong> teste varia de acor<strong>do</strong> com o produtor.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS565


MeningitesFluxo de encaminhamento de amostras (meningites virais)HospitalPunção lombar• Coletar em um tubo 1ml de LCR• Coletar em um tubo 1,5 a 2ml de LCRLaboratório<strong>do</strong> hospital• Fazer o quimiocitológico <strong>do</strong> LCR utilizan<strong>do</strong> a amostra de 1ml• Congelar imediatamente a amostra de 1,5 a 2ml de LCR• Coletar de 4 a 8g de fezes em frasco coletor universal e acondicionarimediatamente sob refrigeração• Coletar duas amostras de 5ml de sangue sem anticoagulante,com intervalo de 15 a 20 dias. Separar o soro e acondicionarimediatamente a -20 o• Caso o quimiocitológico seja sugestivo de MV, enviar ao Lacenas amostras de LCR, fezes e soroLacen• Acondicionar imediatamente as amostras de LCR, fezes e soroa -70 o e enviar, o mais rápi<strong>do</strong> possível, em gelo seco, ao LRRLaboratóriode referênciaregional• Processar as amostras de LCR e fezes para isolamento viral• Processar a RT-PCR em caso de isolamento positivo• Enviar as amostras de soro ao LRNLaboratóriode referêncianacional• Identificar o sorotipo viral por sequenciamento• Pesquisar anticorpos no soroObservação: os relatórios conten<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s devem ser encaminha<strong>do</strong>s trimestralmente <strong>do</strong>s Lacen aos laboratórioshierarquicamente superiores, bem como à CGLAB. Da mesma forma, o laboratório de referência nacional(LRN) deverá encaminhar relatório trimestral <strong>do</strong>s exames realiza<strong>do</strong>s aos laboratórios de referência Regional (LRR),Lacen e CGLAB.566 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MeningitesAnexo 2O diagnóstico laboratorial específico das meningites virais, em situações de surtos eem alguns casos isola<strong>do</strong>s, é de extrema importância para a vigilância epidemiológica.A seguir, estão descritas as normas de coleta <strong>do</strong>s espécimes, os exames laboratoriaisdisponíveis e suas interpretações. Para isso, é necessário que a coleta seja realizada no ato daentrada <strong>do</strong> caso suspeito na unidade de saúde, no primeiro atendimento.Para casos suspeitos de meningite viral deve ser utiliza<strong>do</strong> o kit completo de coleta,distribuí<strong>do</strong> pelos Lacen em to<strong>do</strong> o território nacional, constituí<strong>do</strong> de:• 1 frasco de polipropileno com tampa de rosca para líquor;• 2 frascos de polipropileno com tampa de rosca para soro;• 1 coletor universal para fezes.Exames laboratoriaisIsolamento viral em cultura celular – pode ser realiza<strong>do</strong> com diversos tipos de flui<strong>do</strong>scorporais, mais comumente líquor e fezes. São utiliza<strong>do</strong>s cultivos celulares sensíveispara o isolamento da maioria <strong>do</strong>s vírus associa<strong>do</strong>s às meningites assépticas: RD (rab<strong>do</strong>miosarcomaembrionário humano), Hep-2 (carcinoma epidermóide de laringe) e Vero (rim demacaco verde africano).Reação de soroneutralização e de imunofluorescência – técnicas imunológicas paraidentificação <strong>do</strong> vírus isola<strong>do</strong>; serão utiliza<strong>do</strong>s conjuntos de anti-soros específicos para aidentificação <strong>do</strong>s sorotipos.Reação em cadeia pela polimerase (PCR e RT-PCR) – técnica baseada na amplificaçãode seqüências nucleotídicas definidas presentes no DNA ou RNA viral. Possui alto graude especificidade quanto à identificação <strong>do</strong> agente etiológico, sen<strong>do</strong> utilizada para detecçãodireta ou identificação de diferentes grupos de vírus associa<strong>do</strong>s às meningites virais.Pesquisa de anticorpos no soro <strong>do</strong> paciente – serão utiliza<strong>do</strong>s testes de soroneutralização,em amostras pareadas de soro, para a pesquisa de anticorpos para enterovírus; paraos demais vírus, serão utiliza<strong>do</strong>s ensaios imunoenzimáticos com a finalidade de se detectaranticorpos da classe IgG e IgM.6MObservações:• Estes exames são realiza<strong>do</strong>s a partir de contato com a secretaria estadual de saúde eLacen. No caso de ocorrência de surto, serão analisadas amostras clínicas coletadasde, no máximo, 20 pacientes.• As amostras devem ser encaminhadas ao laboratório com as seguintes informações:nome <strong>do</strong> paciente, esta<strong>do</strong> e cidade de notificação, cidade, esta<strong>do</strong> e país de residência<strong>do</strong> paciente, tipo de amostra (líquor e/ou fezes), data de início <strong>do</strong>s sintomas, data decoleta da amostra, data de envio da amostra para o laboratório, história de vacinaçãorecente e história de viagem recente.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS567


Meningites• As amostras devem ser individualmente acondicionadas em sacos plásticos e enviadasao laboratório, em condições adequadas de transporte (caixas isotérmicas comgelo reciclável e, preferencialmente, em gelo seco para o transporte de líquor).• O material deve chegar ao Lacen no prazo de 12 a 24 horas após a coleta.• O tempo de procedimento técnico para o isolamento de vírus e sua identificação éde 30 dias conta<strong>do</strong>s a partir da entrada da amostra no laboratório de referência parao diagnóstico de meningite viral.To<strong>do</strong> material deverá ser envia<strong>do</strong> ao laboratório, devidamente identifica<strong>do</strong> e acompanha<strong>do</strong>de cópia da ficha de investigação <strong>do</strong> Sinan, que servirá de orientação quanto aosexames indica<strong>do</strong>s.O perfeito acondicionamento, para remessa de amostras, é de fundamental importânciapara o êxito <strong>do</strong>s procedimentos laboratoriais.Quadro 3. Coleta e conservação de material para diagnóstico de meningite viralTipo dediagnósticoTipo dematerialQuantidadeNº deamostrasPerío<strong>do</strong>da coletaRecipienteArmazenamento/conservaçãoTransporteIsolamento eidentificaçãoLíquor 1,5 a 2ml 1No ato <strong>do</strong>atendimentoao paciente(fase agudada <strong>do</strong>ença)1 frasco depolipropilenocom tamparosqueadaAcondicionarimediatamenteem banho de geloe conservar a-70 o C ou a -20 o Caté 24 horasEnviar imediatamenteao laboratórioem banhode gelo ou emgelo seco emcaixas isotérmicasIsolamento eidentificaçãoFezes4 a 8g,aproximadamente1/3<strong>do</strong> coletor1No ato <strong>do</strong>atendimentoao paciente(fase agudada <strong>do</strong>ença)1 coletoruniversalConservar emgeladeira poraté 72 horasSob refrigeração,em caixas isotérmicas,com geloreciclávelDetecçãodiretaLíquor 1,5 a 2ml 1No ato <strong>do</strong>atendimentoao paciente(fase agudada <strong>do</strong>ença)1 frasco depolipropilenocom tamparosqueadaAcondicionarimediatamenteem banhode geloEnviar imediatamenteao laboratórioem banhode gelo ou emgelo seco emcaixas isotérmicasPesquisa deanticorposda classe IgGSoro5ml desangue emfrasco semanticoagulanteparaobter o soro2(só serãoprocessadasas amostraspareadas)1ª amostrano ato <strong>do</strong>atendimentoao paciente(fase agudada <strong>do</strong>ença);2ª amostra15 a 20 diasapós a 1ª (faseconvalescente)2 frascosde polipropilenocomtampa rosqueadaApós aretração<strong>do</strong> coágulo,separar o soroe conservara -20 o CSob refrigeração,em caixas isotérmicas,com geloreciclávelPesquisa deanticorposda classeIgMSoro5ml desangue emfrasco semanticoagulantepara obtero soro11 amostrano ato <strong>do</strong>atendimentoao paciente(fase agudada <strong>do</strong>ença)1 frasco depolipropilenocom tamparosqueadaApós a retração <strong>do</strong>coágulo, separaro soro e conservara -20 o CSob refrigeração,em caixas isotérmicas,com geloreciclável568 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


MeningitesAnexo 3. Tabela de inconsistência entre etiologia e critério diagnóstico*7Etiologia654321VÍNC.EPIDEMIOLÓGICOQUIMIOCITOLÓGICOBACTERIOSCOPIACLÍNICO8ISOLAMENTOVIRAL9OUTRA TÉCNICALABORATORIALLÁTEXCIECULTURACritério diagnósticoMCC 1MM 2MM+MCC 3DOENÇAMENINGOCÓCICAMeningite tuberculosa 45Meningite poroutras bactérias6Meningitenão especificadaMeningite viral 78Meningite poroutra etiologia9Meningite porHaemophilus influenzae10MeningitepneumocócicaDIAGNÓSTICO INCONSISTENTE COM CRITÉRIO*O critério de PCR ainda não está valida<strong>do</strong> para confirmação de caso.6MSecretaria de Vigilância em Saúde / MS569


Parotidite InfecciosaPAROTIDITE INFECCIOSACID 10: B26Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoDoença viral aguda, caracterizada por febre e aumento <strong>do</strong> volume de uma ou maisglândulas salivares, geralmente a parótida e, às vezes, glândulas sublinguais ou submandibulares.Antes da instituição da imunização em massa, esta virose era muito comum nainfância, apresentan<strong>do</strong>-se sob a forma de surtos sazonais.SinonímiaPapeira, caxumba.Agente etiológicoVírus da família Paramyxoviridae, gênero Paramyxovirus.ReservatórioO homem.Mo<strong>do</strong> de transmissãoVias aéreas, através da disseminação de gotículas ou por contato direto com saliva depessoas infectadas.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoDe 12 a 25 dias, sen<strong>do</strong>, em média, de 16 a 18 dias.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeVaria entre 6 e 7 dias antes das manifestações clínicas até 9 dias após o surgimento <strong>do</strong>ssintomas. O vírus pode ser encontra<strong>do</strong> na urina até 14 dias após o início da <strong>do</strong>ença.Susceptibilidade e imunidadeA imunidade é de caráter permanente, sen<strong>do</strong> adquirida após infecções inaparentes,aparentes ou após imunização ativa.570 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Parotidite InfecciosaAspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasA principal e mais comum manifestação desta <strong>do</strong>ença é o aumento das glândulas salivares,principalmente a parótida, acometen<strong>do</strong> também as glândulas sublinguais e submaxilares,acompanhada de febre. Aproximadamente, 30% das infecções podem não apresentarhipertrofia aparente dessas glândulas. Cerca de 20% a 30% <strong>do</strong>s homens adultos acometi<strong>do</strong>sapresentam orquite. Mulheres acima de 15 anos podem apresentar mastite (aproximadamente15% <strong>do</strong>s casos).Em menores de 5 anos de idade, são comuns sintomas das vias respiratórias e perdaneurossensorial da audição. O vírus também apresenta tropismo pelo sistema nervosocentral, observan<strong>do</strong>-se com certa freqüência meningite asséptica de curso benigno, que namaioria das vezes não deixa seqüelas. Outras complicações são encefalite e pancreatite.Não há relato de óbitos relaciona<strong>do</strong>s à parotidite. Sua ocorrência durante o primeirotrimestre da gestação pode ocasionar aborto espontâneo.6Diagnóstico diferencialCálculo de dutos parotidianos, reação à iodetos, ingestão de ami<strong>do</strong>s, sarcoi<strong>do</strong>se, cirrose,diabetes, bulimia, parotidite de etiologia piogênica, inflamação de linfono<strong>do</strong>s.Diagnóstico laboratorialO diagnóstico da <strong>do</strong>ença é eminentemente clínico-epidemiológico. Existem testes sorológicos(Elisa, inibição da hemaglutinação e fixação <strong>do</strong> complemento) ou de cultura paravírus, porém não utiliza<strong>do</strong>s como rotina.TratamentoNão existe tratamento específico, indican<strong>do</strong>-se apenas repouso, analgesia e observaçãocuida<strong>do</strong>sa quanto à possibilidade de aparecimento de complicações. Nos casos que cursamcom meningite asséptica, o tratamento também é sintomático. Nas encefalites, tratar o edemacerebral e manter as funções vitais.PTratamento de apoio para a orquite• Suspensão da bolsa escrotal, através de suspensório, aplicação de bolsas de gelo eanalgesia, quan<strong>do</strong> necessárias.• Redução da resposta inflamatória: prednisona, 1ml/kg/dia, via oral, com reduçãogradual, semanal.Aspectos epidemiológicosA parotidite infecciosa costuma apresentar-se sob a forma de surtos, que acometemmais as crianças. Estima-se que, na ausência de imunização, 85% <strong>do</strong>s adultos poderão ter aSecretaria de Vigilância em Saúde / MS571


Parotidite Infecciosa<strong>do</strong>ença, sen<strong>do</strong> que 1/3 <strong>do</strong>s infecta<strong>do</strong>s não apresentarão sintomas. A <strong>do</strong>ença é mais grave emadultos. As estações com maior ocorrência de casos são o inverno e a primavera.Vigilância epidemiológicaObjetivosInvestigar surtos para a a<strong>do</strong>ção de medidas de controle.Definição de casoSuspeitoPaciente com febre e aumento de glândulas salivares, principalmente parótidas.Confirma<strong>do</strong>Caso suspeito com história de contato com indivíduos <strong>do</strong>entes por caxumba nos 15dias anteriores ao surgimento <strong>do</strong>s primeiros sintomas.Descarta<strong>do</strong>Caso suspeito em que se confirma outra <strong>do</strong>ença.NotificaçãoNão é <strong>do</strong>ença de notificação compulsória. A ocorrência de surtos deverá ser notificada.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteO atendimento é ambulatorial e o tratamento é feito no <strong>do</strong>micílio. A hospitalização<strong>do</strong>s pacientes só é indicada para os casos que apresentem complicações graves, como meningitese encefalites.Confirmação diagnósticaEm geral, não se indica a realização de exames laboratoriais. A grande maioria <strong>do</strong>scasos tem diagnóstico clínico-epidemiológico.Proteção da populaçãoA administração da vacina está indicada antes da exposição. Assim, diante da ocorrênciade surtos, deve-se verificar a cobertura vacinal da área, para avaliar a indicação devacinação <strong>do</strong>s indivíduos susceptíveis.572 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Parotidite InfecciosaInvestigaçãoNão é <strong>do</strong>ença de investigação obrigatória. Em situação de surto, avaliar a necessidadede bloqueio vacinal.Instrumentos disponíveis para controleImunizaçãoEsquema vacinal básicoVacina tríplice viral (sarampo, rubéola, caxumba), aos 12 meses de idade. O reforçodeve ser administra<strong>do</strong> entre 4 e 6 anos de idade. Para detalhes operacionais sobre a organizaçãodas atividades de vacinação de rotina, consultar o site www.saude.gov.br/svs/imunizacoes.6Eventos adversosOs eventos adversos são raros, consistin<strong>do</strong> pre<strong>do</strong>minantemente em manifestações locais.As reações sistêmicas mais associadas ao componente caxumba, são febre, parotidite,orquite, meningite e, mais raramente, meningoencefalite, encefalite, surdez e reação anafilática.Contra-indicaçõesUso recente de imunoglobulinas ou de transfusão sangüínea nos últimos 3 meses,pacientes com imunodeficiência (leucemia e linfoma), uso de corticosteróide e gravidez.Pacientes com infecção sintomática HIV mas que não estejam gravemente imunocomprometi<strong>do</strong>sdevem ser vacina<strong>do</strong>s.Ações de educação em saúdeA população deve ser informada quanto às características da parotidite infecciosa e apossibilidade de complicações, deven<strong>do</strong> ser orientada quanto a busca de assistência médicaadequada, quan<strong>do</strong> necessária (orquites, mastites, meningite, encefalite), e a importância devacinar as crianças.PSecretaria de Vigilância em Saúde / MS573


PestePESTECID 10: A20Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoDoença infecciosa aguda, transmitida principalmente por picada de pulgas infectadas,que se manifesta sob três formas clínicas principais: bubônica, septicêmica e pneumônica.Constitui perigo potencial para as populações, devi<strong>do</strong> a persistência da infecção em roe<strong>do</strong>ressilvestres e ao seu importante potencial epidêmico.Agente etiológicoYersinia pestis, bactéria que se apresenta sob a forma de bacilo gram-negativo, comcoloração mais acentuada nos pólos (bipolar).ReservatórioA peste é primordialmente uma zoonose de roe<strong>do</strong>res que pode, em determinadas condições,infectar outros mamíferos (coelhos, camelos, cães, gatos), inclusive o homem. Osroe<strong>do</strong>res mais freqüentemente encontra<strong>do</strong>s infecta<strong>do</strong>s nos focos <strong>do</strong> Nordeste <strong>do</strong> Brasil são:Bolomys, Calomys, Oligoryzomys, Oryzomys, R. rattus, Galea, Trychomys. Alguns marsupiais(carnívoros) são também freqüentemente envolvi<strong>do</strong>s durante epizootias em roe<strong>do</strong>res,principalmente Monodelphis <strong>do</strong>mestica.VetoresA Xenopsylla cheopis, X. brasiliensis e X. astia têm grande capacidade vetora; Nosopsyllusfasciatus e Leptosylla segnis são menos eficientes; Ctenocephalides canis e C. felis podemtransmitir peste de animais <strong>do</strong>mésticos para o homem; Pulex irritans também é umprovável vetor; Polygenis bolhsi jordani e P. tripus são parasitos de roe<strong>do</strong>res silvestres e têmgrande importância na epizootização da peste entre os roe<strong>do</strong>res nos campos e nas casas,bem como na gênese da peste humana no Nordeste <strong>do</strong> Brasil.Mo<strong>do</strong> de transmissãoO principal mo<strong>do</strong> de transmissão da peste bubônica ao homem é a picada de pulgasinfectadas. No caso da peste pneumônica, as gotículas transportadas pelo ar e os fômites depacientes são a forma de transmissão mais freqüente de pessoa a pessoa. Teci<strong>do</strong>s de animaisinfecta<strong>do</strong>s, fezes de pulgas e culturas de laboratório também são fontes de contaminaçãopara quem os manipula sem obedecer as regras de biossegurança.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoDois a seis dias para a peste bubônica e um a três dias para a peste pneumônica.574 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


PestePerío<strong>do</strong> de transmissibilidadeA peste bubônica não é transmitida diretamente de uma pessoa a outra, exceto seexistir contato com o pus de bubões supura<strong>do</strong>s. No caso da peste pneumônica o perío<strong>do</strong> detransmissibilidade começa com o início da expectoração, permanecen<strong>do</strong> enquanto houverbacilos no trato respiratório.As pulgas podem permanecer infectadas durante meses, se existirem condições propíciasde temperatura e umidade.Susceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade é geral e a imunidade temporária e relativa, não protegen<strong>do</strong> contragrandes inóculos.Aspectos clínicos e laboratoriais6Manifestações clínicasPeste bubônicaÉ a mais comum no Brasil. O quadro clínico pode apresentar os seguintes sinais esintomas, em intensidades variáveis: cefaléia, febre, <strong>do</strong>res generalizadas, mialgias, anorexia,náuseas, vômitos, confusão mental, congestão das conjuntivas, pulso rápi<strong>do</strong> e irregular,taquicardia, hipotensão arterial, prostração e mal-estar geral. Os casos da forma bubônicapodem, com certa freqüência, apresentar sintomatologia moderada ou mesmo benigna.No segun<strong>do</strong> ou terceiro dia de <strong>do</strong>ença, aparecem as manifestações de inflamação aguda e<strong>do</strong>lorosa <strong>do</strong>s linfono<strong>do</strong>s da região, ponto de entrada da Y. pestis. Este é o chama<strong>do</strong> bubãopestoso, forma<strong>do</strong> pela conglomeração de vários linfono<strong>do</strong>s inflama<strong>do</strong>s. O tamanho variade 1 a 10 cm. A pele <strong>do</strong> bubão é brilhante, distendida e de coloração vermelho-escura; é,de regra, extremamente <strong>do</strong>loroso e freqüentemente se fistuliza, com drenagem de materialpurulento. Podem ocorrer manifestações hemorrágicas e necróticas em virtude da ação daen<strong>do</strong>toxina bacteriana sobre os vasos.PPeste septicêmica primáriaÉ uma forma muito rara, na qual não há reações ganglionares visíveis. É caracterizadapela presença permanente <strong>do</strong> bacilo no sangue. O início é fulminante, com febre elevada,pulso rápi<strong>do</strong>, hipotensão arterial, grande prostração, dispnéia, fácies de estupor, dificuldadede falar e hemorragias cutâneas, às vezes serosas e mucosas e até nos órgãos internos. Demo<strong>do</strong> geral, a peste septicêmica aparece na fase terminal da peste bubônica não tratada.Peste pneumônicaPode ser secundária à peste bubônica ou septicêmica por disseminação hematógena.É a forma mais grave e perigosa da <strong>do</strong>ença, por seu quadro clínico e alta contagiosidade,poden<strong>do</strong> provocar epidemias explosivas. Inicia-se com quadro infeccioso grave, de evolu-Secretaria de Vigilância em Saúde / MS575


Pesteção rápida, com abrupta elevação térmica, calafrios, arritmia, hipotensão, náuseas, vômitos,astenia, obnubilação mental. A princípio, os sinais e sintomas pulmonares são discretos eausentes. Depois, surge <strong>do</strong>r no tórax, respiração curta e rápida, cianose, expectoração sangüinolentaou rósea, fluida, muito rica em germes. Surgem fenômenos de toxemia, delírio,coma e morte, se não houver instituição <strong>do</strong> tratamento precoce e adequa<strong>do</strong>.• Perío<strong>do</strong> de infecção – cerca de 5 dias após, os microrganismos inocula<strong>do</strong>s difundem-sepelos vasos linfáticos até os linfono<strong>do</strong>s regionais que passarão a apresentarinflamação, edema, trombose e necrose hemorrágica, constituin<strong>do</strong> os característicosbubões pestosos. Quan<strong>do</strong> se institui tratamento correto, este perío<strong>do</strong> se reduz para1 ou 2 dias.• Perío<strong>do</strong> toxêmico – dura de 3 a 5 dias, corresponden<strong>do</strong> ao perío<strong>do</strong> de bacteremia.A ação da toxina nas arteríolas e capilares determina hemorragias e necrose. Petéquiase equimose são encontradas quase sempre na pele e mucosas. Há hemorragiasnas cavidades serosas, nos aparelhos respiratórios, digestivos e urinário. Nos casosgraves, estas manifestações conferirão à pele um aspecto escuro.• Remissão – em geral, se inicia por volta <strong>do</strong> oitavo dia e caracteriza-se por uma regressão<strong>do</strong>s sintomas, com a febre cain<strong>do</strong> em lise e os bubões reabsorvi<strong>do</strong>s ou fistula<strong>do</strong>s.Quan<strong>do</strong> o quadro é de peste bubônica, pode haver remissão mesmo sem tratamentoem percentual considerável <strong>do</strong>s casos; entretanto, nos casos de peste pneumônicase não for instituída a terapia adequada o óbito ocorre em poucos dias.Diagnóstico diferencialA peste bubônica deve ser diferenciada de adenites regionais supurativas, linfogranulomavenéreo, cancro mole, tularemia e sífilis. Em alguns focos brasileiros, a peste bubônicapode, inclusive, ser confundida com a leishmaniose tegumentar americana, na sua formabubônica. A forma septicêmica deve ser diferenciada de septicemias bacterianas das maisdiversas naturezas e de <strong>do</strong>enças infecciosas de início agu<strong>do</strong> e de curso rápi<strong>do</strong> e grave. Nasáreas endêmicas de tifo exantemático, tifo murino e febre maculosa, pode haver dificuldadediagnóstica com a septicemia pestosa. A peste pulmonar, pela sua gravidade, deve ser diferenciadade outras pneumonias, broncopneumonias e esta<strong>do</strong>s sépticos graves.A suspeita diagnóstica pode ser difícil no início de uma epidemia ou quan<strong>do</strong> é ignoradaa existência da <strong>do</strong>ença em uma localidade, já que suas primeiras manifestações sãosemelhantes a muitas outras infecções bacterianas. A história epidemiológica compatívelfacilita a suspeição <strong>do</strong> caso.Diagnóstico laboratorialÉ realiza<strong>do</strong> mediante o isolamento e a identificação da Y. pestis, em amostras de aspira<strong>do</strong>de bubão, escarro e sangue. Pode-se realizar imunofluorescência e também sorologiapor meio das técnicas de hemaglutinação/inibição da hemaglutinação (PHA/PHI), Elisa,Dot-Elisa) e diagnóstico bacteriológico por meio de cultura e hemocultura.576 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


PesteTratamentoO tratamento com antibióticos ou quimioterápicos deve ser instituí<strong>do</strong> precoce e intensivamente,não se deven<strong>do</strong>, em hipótese alguma, aguardar os resulta<strong>do</strong>s de exames laboratoriais,devi<strong>do</strong> à gravidade e rapidez da instalação <strong>do</strong> quadro clínico. Amostras para examedevem ser colhidas antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong> tratamento. O ideal é que se institua a terapêuticaespecífica nas primeiras 15 horas após o início <strong>do</strong>s sintomas.Estreptomicina – é o antibiótico mais eficaz contra a Y. pestis, particularmente na formapneumônica. Entretanto, atualmente, seu uso está bastante restrito devi<strong>do</strong> às suas manifestaçõestóxicas. A <strong>do</strong>se pode ser de 30mg/kg/dia (não ultrapassan<strong>do</strong> o total de 2g/dia), por viaintramuscular, durante 10 dias ou até 3 dias depois da temperatura ter volta<strong>do</strong> ao normal.Cloranfenicol – é a droga de eleição para as complicações que envolvem espaços tissulares(peste meníngea), onde outros medicamentos penetram com dificuldade. A via deadministração pode ser oral ou venosa. A <strong>do</strong>sagem é de 50mg/kg/dia, dividida em 4 tomadasdiárias (6 em 6 horas), durante 10 dias.Tetraciclinas – este grupo de antibiótico é bastante efetivo no tratamento primário depacientes com peste sem complicações. Aplicar uma <strong>do</strong>se inicial de15 mg/kg (não deven<strong>do</strong>exceder 1g total) e continuar com 25-50 mg/kg/dia (não ultrapassar 2g/dia) por 10 dias. Astetraciclinas podem também ser usadas combinadas com outros antibióticos.Sulfamidas – têm si<strong>do</strong> usadas extensivamente em prevenção e tratamento da peste.Entretanto, alguns estu<strong>do</strong>s têm mostra<strong>do</strong> serem bem menos efetivas <strong>do</strong> que os antibióticosanteriormente referi<strong>do</strong>s. A sulfadiazina é usada em <strong>do</strong>ses de 2-4g, seguida de <strong>do</strong>se de 1g, de4-6 horas, por um perío<strong>do</strong> de 10 dias. Em crianças, a <strong>do</strong>se oral é de 75mg/kg, seguida de 150mg/kg/dia, dividida em 6 <strong>do</strong>ses. A combinação das drogas sulfametoxazol + trimetoprimatem si<strong>do</strong> usada na prevenção e tratamento da peste.6Atenção: os antibióticos das classes das penicilinas, cefalosporinas e macrolídeos nãosão eficazes no tratamento da peste.PTratamento da peste em grávidas e crianças – é importante atentar para a escolha <strong>do</strong>antibiótico durante a gravidez, devi<strong>do</strong> aos efeitos adversos. Experiências têm mostra<strong>do</strong> queos aminoglicosídeos administra<strong>do</strong>s de forma cuida<strong>do</strong>sa são eficazes e seguros para mãe,feto e crianças. A gentamicina é o antibiótico preferencial para tratamento da peste emmulheres grávidas.Tratamento de suporte – deve-se buscar controlar os sintomas à medida que foremaparecen<strong>do</strong>. Como medidas gerais e de tratamento sintomático, recomenda-se desde oprincípio observar o esta<strong>do</strong> da circulação, da pressão arterial e da função cardíaca. Se necessário,empregar analépticos cardiovasculares para contrabalançar os efeitos da toxinasobre o coração, sedativos para combater a agitação e o delírio e anti-hemorrágicos para asmanifestações hemorrágicas. Fazer reidratação e reposição <strong>do</strong>s eventuais distúrbios hidreletrolíticos.Manter cuida<strong>do</strong>s com as mucosas e a mobilização <strong>do</strong> paciente. O bubão tende àreabsorção sob a ação <strong>do</strong>s antibióticos, dispensan<strong>do</strong> qualquer tratamento local, deven<strong>do</strong>-sefazer a drenagem unicamente nos casos de bubões supura<strong>do</strong>s.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS577


PesteAspectos epidemiológicosA peste continua sen<strong>do</strong> potencialmente perigosa em diversas partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, devi<strong>do</strong>à persistência da infecção em roe<strong>do</strong>res silvestres e ao seu contato com ratos comensais.Focos naturais de peste persistem na África, Ásia, sudeste da Europa, América <strong>do</strong> Norte eAmérica <strong>do</strong> Sul. Na América <strong>do</strong> Norte, tem si<strong>do</strong> comprovada a existência da peste na regiãoocidental <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Na América <strong>do</strong> Sul, a peste tem si<strong>do</strong> notificada pelos seguintespaíses: Brasil, Bolívia, Equa<strong>do</strong>r e Peru.No Brasil, existem duas áreas principais de focos naturais: o Nordeste e Teresópolis.O foco <strong>do</strong> Nordeste está localiza<strong>do</strong> na região semi-árida <strong>do</strong> Polígono das Secas, em váriosesta<strong>do</strong>s (Piauí, Ceará, Rio Grande <strong>do</strong> Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia), e nordestede Minas Gerais (Vale <strong>do</strong> Jequitinhonha), além de outra zona pestosa no esta<strong>do</strong> deMinas Gerais fora <strong>do</strong> Polígono das Secas (Vale <strong>do</strong> Rio Doce). O foco de Teresópolis ficalocaliza<strong>do</strong> na Serra <strong>do</strong>s Órgãos, nos limites <strong>do</strong>s municípios de Teresópolis, Sumi<strong>do</strong>uro eNova Friburgo (Figura 1).Figura 1. Regiões pestígenas. Brasil, 1983-2000Fonte: SVS/MSDe 1983 a 2000, foram notifica<strong>do</strong>s 487 casos humanos no país. Estes registros foramprocedentes <strong>do</strong>s focos <strong>do</strong> Ceará, Rio Grande <strong>do</strong> Norte, Paraíba, Bahia e Minas Gerais (Figura2). Além <strong>do</strong> potencial epidêmico, outro aspecto epidemiológico que se destaca é o potencialletal da peste. A forma bubônica quan<strong>do</strong> não tratada pode chegar a 50% e a pneumônicae septicêmica, próximas a 100% de letalidade.578 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


PesteFigura 2. Casos de peste humana por UF. Brasil, 1983-2000350300250200150100500CE125RN1PB54Unidade federadaBA302MG66Fonte: SVS/MSVigilância epidemiológicaObjetivos• Impedir a transmissão para humanos mediante controle <strong>do</strong>s focos naturais (prevençãoprimária).• Realizar diagnóstico precoce de casos humanos (prevenção secundária) visan<strong>do</strong> diminuira letalidade da <strong>do</strong>ença.• Impedir a reintrodução da peste urbana através de portos e aeroportos.Definição de casoPSuspeito• Paciente que apresentar quadro agu<strong>do</strong> de febre em área pertencente a um foco naturalde peste, que evolua com adenite (“sintomático ganglionar”).• Paciente proveniente de área com ocorrências de peste pneumônica (de 1 a 10 dias)e que apresente febre e/ou outras manifestações clínicas da <strong>do</strong>ença, especialmentesintomatologia respiratória.Confirma<strong>do</strong>Critério clínico-laboratorialTo<strong>do</strong> caso com quadro clínico de peste e diagnóstico laboratorial confirma<strong>do</strong> (positivoclasse I).Secretaria de Vigilância em Saúde / MS579


PesteCritério clínico-epidemiológicoTo<strong>do</strong> caso com quadro clínico sugestivo de peste e história epidemiológica, em áreaonde tenha si<strong>do</strong> confirmada laboratorialmente a ocorrência de peste humana ou animal(positivo classe II).Descarta<strong>do</strong>• Caso suspeito com diagnóstico laboratorial negativo.• Caso suspeito com história epidemiológica não compatível.• Caso com história epidemiológica porém sem nenhuma confirmação anterior decaso confirma<strong>do</strong> laboratorialmente.NotificaçãoA peste é uma <strong>do</strong>ença de notificação compulsória, sujeita ao Regulamento SanitárioInternacional. To<strong>do</strong>s os casos suspeitos devem ser imediatamente notifica<strong>do</strong>s por telefone,fax ou e-mail às autoridades sanitárias superiores. A rapidez nas notificações visa à prevençãode novos casos e até mesmo de um surto.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteTratar precoce e adequadamente o paciente.Qualidade da assistênciaVerificar se os casos estão sen<strong>do</strong> atendi<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com as orientações pertinentes.Proteção individualManter em isolamento restrito os casos de peste pneumônica, com precauções contraa disseminação aérea até se tenha completa<strong>do</strong> 48 horas de esquema de tratamento comantibiótico apropria<strong>do</strong>.Confirmação diagnósticaColetar material para diagnóstico laboratorial de acor<strong>do</strong> com as orientações constantes<strong>do</strong> Anexo 1.Proteção da populaçãoProteção de contatos – logo que se tenha conhecimento da suspeita de caso(s) de pesteé indicada a quimioprofilaxia para contatos de pacientes com peste pneumônica e paraindivíduos suspeitos de terem ti<strong>do</strong> contato com pulgas infectadas.Devem ser intensificadas ações de esclarecimento à população sobre o ciclo de transmissãoda <strong>do</strong>ença, gravidade e situação de risco, utilizan<strong>do</strong>-se os meios comunicação demassa, bem como visitas <strong>do</strong>miciliares e palestras.580 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


PesteInvestigaçãoTo<strong>do</strong>s os casos de peste devem ser cuida<strong>do</strong>samente investiga<strong>do</strong>s, não só para o corretodiagnóstico <strong>do</strong>s pacientes como também para orientar as medidas de controle a serema<strong>do</strong>tadas. O instrumento de coleta de da<strong>do</strong>s, a ficha epidemiológica disponível no Sinan,contém os elementos essenciais a serem coleta<strong>do</strong>s em uma investigação de rotina. To<strong>do</strong>sos seus campos devem ser criteriosamente preenchi<strong>do</strong>s, mesmo quan<strong>do</strong> a informação fornegativa. Outros itens e observações podem ser incluí<strong>do</strong>s, conforme as necessidades e peculiaridadesde cada situação.Roteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação epidemiológica <strong>do</strong> Sinan relativosaos da<strong>do</strong>s gerais, notificação individual e da<strong>do</strong>s de residência.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPara confirmar a suspeita diagnóstica – anotar na ficha de investigação da<strong>do</strong>s sobrecritério de confirmação, classificação da forma clínica e gravidade.Para identificação da área de transmissão – verificar se o local de residência correspondea uma área de provável transmissão da <strong>do</strong>ença (focos naturais da <strong>do</strong>ença). A identificaçãoda área onde se deu a transmissão é de suma importância para a condução dasmedidas de controle.Para determinação da extensão da área de transmissão• Busca ativa de caso humano: após a identificação <strong>do</strong> possível local de transmissãoiniciar imediatamente a busca ativa de outros casos humanos na localidade.• Captura, identificação e exames de reservatórios e vetores: a morte de roe<strong>do</strong>resna área é sugestiva da circulação da Y. pestis, daí a importância de capturar roe<strong>do</strong>respara identificação. Proceder também à captura, identificação e exame daspulgas existentes no local, para pesquisa da Y. pestis. Esse trabalho deve ser executa<strong>do</strong>por equipes treinadas, com observância <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s de biossegurança.6PColeta e remessa de material para examesLogo após a suspeita clínica de peste, coletar material para exame, antes de iniciar otratamento (conforme o Anexo 1).AtençãoEm vista da gravidade e rapidez da instalação <strong>do</strong> quadro clínico da <strong>do</strong>ença, não se deveem hipótese alguma aguardar os resulta<strong>do</strong>s de exames laboratoriais para instituir otratamento.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS581


PesteRoteiro de investigação epidemiológica da pesteOcorrência de caso suspeito de pesteAtendimento clínico1 a instância de investigaçãoAvaliação criteriosa dahistória clínica e <strong>do</strong> exame físicoInterrogatório meticuloso sobreda<strong>do</strong>s de caráter epidemiológicoDe acor<strong>do</strong> com da<strong>do</strong>s clínico-epidemiológicosconfirmar ou descartar a suspeita <strong>do</strong>(s) caso(s)2 a instância de investigaçãoNos casos em que se mantiver a suspeita diagnósticacoletar material para testes laboratoriais de acor<strong>do</strong>com procedimentos <strong>do</strong> Anexo 1Realizar investigação epidemiológica de campoBusca ativade outroscasos suspeitosBusca ativade indícios deoutros roe<strong>do</strong>resColeta deespécimes paratestes laboratoriaistanto <strong>do</strong>s casoshumanos como<strong>do</strong>s animaissuspeitos3 a instância de investigaçãoTestagem laboratorial das amostrascoletadas visan<strong>do</strong> a identificação da Y. pestisBacteriológicoSorológico4 a instância de investigaçãoDe posse de to<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s, fazer umareavaliação <strong>do</strong>(s) caso(s) classifican<strong>do</strong>-os emconformidade com o resulta<strong>do</strong> da investigaçãoObservação: da mesma forma que os eventos envolven<strong>do</strong> pessoas, as denúncias sobreepizootias de roe<strong>do</strong>res devem ser objeto de investigação.582 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


PesteAnálise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sO profissional deve interpretar passo a passo os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s, engloban<strong>do</strong> o surgimentode casos humanos de peste (confirma<strong>do</strong>s e suspeitos); comprovação de peste animalem roe<strong>do</strong>res, pulgas, carnívoros ou outros mamíferos e descoberta de roe<strong>do</strong>res mortos nalocalidade com causa atribuível à peste, para orientar e desencadear as medidas de controle.Encerramento de casosA ficha epidemiológica de cada caso deve ser analisada visan<strong>do</strong> definir qual o critérioutiliza<strong>do</strong> para o diagnóstico, consideran<strong>do</strong> as seguintes alternativas:Confirma<strong>do</strong> por critério clínico-laboratorialCaso o objeto de investigação seja confirma<strong>do</strong> por um ou mais testes de laboratório(Classe I).Confirma<strong>do</strong> por critério clínico-epidemiológicoCaso não confirma<strong>do</strong> por teste laboratorial, mas que se enquadra em critérios clínicose epidemiológicos bem estabeleci<strong>do</strong>s, os quais caracterizam, com boa margem de segurança,a nosologia pestosa (Classe II).Situações abrangidas:• caso humano com quadro clínico compatível com nosologia pestosa, claramente associa<strong>do</strong>com peste comprovada em roe<strong>do</strong>res, pulgas ou carnívoros;• caso com quadro clínico sugestivo, bastante compatível com peste, de ocorrência emregião pestígena reconhecida como tal e associa<strong>do</strong> a indício de peste animal;• caso com quadro clínico não característico, porém ainda assim considera<strong>do</strong> compatívelcom peste, ocorri<strong>do</strong> em região pestígena conhecida e alia<strong>do</strong> a indícios segurosde peste animal.ÓbitoCaso investiga<strong>do</strong>, com evolução para óbito.6PCaso descarta<strong>do</strong>Caso investiga<strong>do</strong>, cujo resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s testes laboratoriais foram negativos, com isolamentode outro agente patogênico; caso não submeti<strong>do</strong> a testes laboratoriais, com quadro clínico-epidemiológicoconsidera<strong>do</strong> suficiente para excluir com segurança a hipótese de peste.Relatório finalOs da<strong>do</strong>s da investigação deverão ser sumariza<strong>do</strong>s em um relatório com as principaisconclusões, das quais destacam-se:• área de transmissão <strong>do</strong>s casos. Distribuição <strong>do</strong>s casos segun<strong>do</strong> espaço, pessoa etempo;• situação atual <strong>do</strong> foco e medidas de controle a<strong>do</strong>tadas para impedir a transmissãopara humanos;Secretaria de Vigilância em Saúde / MS583


Peste• situação de risco para a ocorrência de novos casos ou surtos;• critérios de confirmação e descarte <strong>do</strong>s casos.Instrumentos disponíveis para controleImunizaçãoA vacina disponível é muito pouco utilizada, pois é de baixa tolerabilidade e a proteçãoconferida é de curta duração (alguns meses), após a administração de duas ou três <strong>do</strong>ses emais uma de reforço.Controle vetorialO ambiente onde vivem os contatos deve ser desinfesta<strong>do</strong> (despuliza<strong>do</strong>) de pulgasatravés <strong>do</strong> uso de inseticidas. Caso se suspeite que outras habitações possam estar com pulgascontaminadas, deve-se estender essa medida. Se houver indicação de desratização ouanti-ratização, a eliminação das pulgas deve anteceder a eliminação <strong>do</strong>s roe<strong>do</strong>res.Vários tipos de inseticidas podem ser emprega<strong>do</strong>s com sucesso para o controle daspulgas, destacan<strong>do</strong>-se o grupo <strong>do</strong>s carbamatos e piretróides.Ações de educação em saúdeA prática educativa nas ações de controle é tão mais efetiva quanto mais se contar coma compreensão e participação ativa da comunidade. Orientações devem ser dadas quantoa necessidade de se evitar que roe<strong>do</strong>res disponham de abrigo e alimento próximos às habitaçõeshumanas e as formas de eliminá-los quan<strong>do</strong> presentes – preceden<strong>do</strong> com o cuida<strong>do</strong>de eliminação das pulgas; caso contrário, sem seu alimento habitual, elas terão comoalternativa invadir o ambiente <strong>do</strong>méstico. Evitar que os roe<strong>do</strong>res entrem em contato comgrãos armazena<strong>do</strong>s pelo homem, mesmo em anexos fora <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio. Evitar contato comroe<strong>do</strong>res silvestres em áreas de foco pestoso.Estratégias de prevenção• Monitoramento da atividade pestosa em roe<strong>do</strong>res e pulgas.• Busca de outras situações que indiquem aumento <strong>do</strong> risco de contágio (índices deroe<strong>do</strong>res e pulgas acima <strong>do</strong> usual, infestação murina <strong>do</strong>miciliar).• Identificação precoce de casos para pronta intervenção da vigilância epidemiológica.• Vigilância nas áreas portuárias e aeroportuárias (incluin<strong>do</strong> naves e aeronaves): esta<strong>do</strong>de alerta para a possibilidade de importação da peste.Vigilância epidemiológica – de acor<strong>do</strong> com o perío<strong>do</strong> de incubação da peste, preconiza-seque to<strong>do</strong> indivíduo que tenha contato com paciente de peste pneumônica devaficar sob vigilância durante sete dias, visan<strong>do</strong> diagnóstico precoce e a<strong>do</strong>ção de medidas deprevenção. Os contatos devem ser informa<strong>do</strong>s a respeito <strong>do</strong>s sinais, sintomas e gravidade da584 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Peste<strong>do</strong>ença, para buscar assistência médica imediata caso haja alteração no seu esta<strong>do</strong> de saúde,informan<strong>do</strong> ao médico o fato de ter ti<strong>do</strong> contato com paciente de peste.Proteção de contatosQuimioprofilaxiaIndicada para contatos de pacientes com peste pneumônica e para indivíduos suspeitosde terem ti<strong>do</strong> contato com pulgas infectadas nos focos da <strong>do</strong>ença.Drogas indicadasSulfadiazina: 2 a 3 gramas por dia (divididas em 4 ou 6 tomadas, durante 6 dias)Sulfametoxazol + trimetoprima: 400mg e 80mg, respectivamente, de 12 em 12 horas,durante 6 dias.Tetraciclina: 1 grama ao dia, durante 6 dias.6AtençãoÉ importante lembrar que os menores de 7 anos não podem fazer uso de tetraciclinas.PSecretaria de Vigilância em Saúde / MS585


PesteAnexo 1Normas para procedimentos laboratoriaisO diagnóstico específico da peste é de extrema importância para a vigilância epidemiológica.O diagnóstico laboratorial compreende o isolamento e identificação da Y. pestis,bem como a detecção de anticorpos em material coleta<strong>do</strong>. Pode ser realiza<strong>do</strong> por técnicasbacteriológicas e sorológicas. No quadro abaixo, consta o tipo de material que deve ser coleta<strong>do</strong>dependen<strong>do</strong> da forma clínica da <strong>do</strong>ença.Coleta e conservação de material para diagnóstico de pesteFormada <strong>do</strong>ençaTipo de materialAcondicionamentodas amostras paratransporte e diagnós ticobacteriológicoAnálises bacteriológicasBubônica Aspira<strong>do</strong> de bubão Cary-BlairPneumônica Esputo Cary-BlairExame de esfregaço cora<strong>do</strong>(azul de metileno ou gram)Semeio em duas placas de gelose(Blood ágar base), colocar o fagoantipestoso em 1 placaExame de esfregaço cora<strong>do</strong>(azul de metileno ou gram)Semeio em duas placas degelose (Blood ágar base), colocar ofago antipestoso em 1 placaSepticêmicaHemocultura2ml de sangue em20ml de cal<strong>do</strong> (BHI)Subcultivo em gelose e testede bacteriófagoEnquanto perdurar a ausência decrescimento, repetir os subcultivosa cada 48 horas, até 8 diasÓbitoDigitotomia (falange)Morte recente:SangueAspira<strong>do</strong> de bubãoIn natura(em frasco estanque)Cary-BlairCary-BlairAspirar a medula óssea, fazeresfregaços e semeio em duasplacas de gelose (uma com fago)Exame de esfregaço cora<strong>do</strong>(azul de metileno ou gram);semeio em duas placas de gelose(uma com o fago)Exame de esfregaço cora<strong>do</strong> (azul demetileno ou gram); semeio em duasplacas de gelose (um com o fago)586 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


PoliomielitePOLIOMIELITECID 10: A80Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoA poliomielite ou “paralisia infantil” é uma <strong>do</strong>ença infecto-contagiosa viral aguda, caracterizadapor quadro de paralisia flácida, de início súbito. O déficit motor instala-se subitamentee a evolução desta manifestação, freqüentemente, não ultrapassa três dias. Acomete emgeral os membros inferiores, de forma assimétrica, ten<strong>do</strong> como principais características a flacidezmuscular, com sensibilidade conservada e arreflexia no segmento atingi<strong>do</strong>. Esta <strong>do</strong>ençaencontra-se erradicada no país desde o início <strong>do</strong>s anos 90, em virtude <strong>do</strong> êxito da política deprevenção, vigilância e controle desenvolvida pelos três níveis <strong>do</strong> Sistema Único de Saúde.6Agente etiológicoOs poliovírus pertencem ao gênero enterovírus, da família Picornaviridae, e apresentamtrês sorotipos: I, II e III.ReservatórioO homem.Mo<strong>do</strong> de transmissãoA transmissão ocorre principalmente por contato direto pessoa a pessoa, fazen<strong>do</strong>-sea transmissão pelas vias fecal-oral ou oral-oral, esta última através de gotículas de muco daorofaringe (ao falar, tossir ou espirrar). As más condições habitacionais, a higiene pessoalprecária e o eleva<strong>do</strong> número de crianças numa mesma habitação constituem fatores quefavorecem a transmissão <strong>do</strong> poliovírus.PPerío<strong>do</strong> de incubaçãoO perío<strong>do</strong> de incubação é, geralmente, de 7 a 12 dias, poden<strong>do</strong> variar de 2 a 30 dias.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeO perío<strong>do</strong> de transmissibilidade pode iniciar-se antes <strong>do</strong> surgimento das manifestaçõesclínicas. Em indivíduos susceptíveis, a eliminação <strong>do</strong> vírus se faz pela orofaringe, porum perío<strong>do</strong> de cerca de uma semana, e pelas fezes, por cerca de seis semanas, enquanto nosindivíduos reinfecta<strong>do</strong>s a eliminação <strong>do</strong> vírus se faz por perío<strong>do</strong>s mais reduzi<strong>do</strong>s.Perío<strong>do</strong> de susceptibilidade e imunidadeTodas as pessoas não imunizadas são susceptíveis de contrair a <strong>do</strong>ença. A infecçãonatural ou a vacinação conferem imunidade dura<strong>do</strong>ura, tipo-específica (ou seja, de acor<strong>do</strong>Secretaria de Vigilância em Saúde / MS587


Poliomielitecom o poliovírus responsável pelo estímulo antigênico). Contu<strong>do</strong>, embora não desenvolven<strong>do</strong>a <strong>do</strong>ença, as pessoas imunes podem reinfectar-se e eliminar o poliovírus, ainda queem menor quantidade e por um perío<strong>do</strong> menor de tempo. Esta reinfecção é mais comumpelos tipos 1 e 3.O recém-nasci<strong>do</strong> é provi<strong>do</strong> de anticorpos séricos maternos da classe IgG transferi<strong>do</strong>s,da mãe sensibilizada, para o feto por via placentária, que conferem proteção transitória àcriança nos primeiros meses de vida extra-uterina.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasAs manifestações clínicas devidas à infecção pelo poliovírus são, em sua maioria, infecçõesinaparentes (90% a 95%). No entanto, em 1%-1,6% <strong>do</strong>s casos a <strong>do</strong>ença pode manifestar-seclinicamente por quadros de paralisia grave, levan<strong>do</strong> à morte. Apenas as formasparalíticas possuem características clínicas típicas que permitem sugerir o diagnóstico depoliomielite, quais sejam:• instalação súbita da deficiência motora, acompanhada de febre;• assimetria, acometen<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> a musculatura <strong>do</strong>s membros, com mais freqüênciaos inferiores;• flacidez muscular, com diminuição ou abolição de reflexos profun<strong>do</strong>s na área paralisada;• sensibilidade conservada;• persistência de alguma paralisia residual (seqüela), após 60 dias <strong>do</strong> início da <strong>do</strong>ença.Diagnóstico diferencialO diagnóstico diferencial da poliomielite deve ser feito com polineurite pós-infecciosae outras infecções que causam paralisia flácida aguda. As principais <strong>do</strong>enças a serem consideradasno diagnóstico diferencial são: síndrome de Guillain-Barré (SGB), mielite transversa,meningite viral, meningoencefalite e outras enteroviroses (Echo tipo 71 e coxsackie,especialmente <strong>do</strong> grupo A tipo 7). Para o adequa<strong>do</strong> esclarecimento diagnóstico, a investigaçãoepidemiológica e a análise <strong>do</strong>s exames complementares são essenciais.Diagnóstico laboratorialExames específicosIsolamento <strong>do</strong> vírus – é feito a partir de amostras de fezes <strong>do</strong> caso ou de seus contatos.O isolamento de poliovírus selvagem nessas amostras permite a confirmação diagnóstica.A identificação <strong>do</strong> agente viral isola<strong>do</strong> pode ser realizada através de testes de soroneutralizaçãocom o uso de soros imunes específicos ou através da técnica de PCR. Esta técnica,que amplifica seqüências nucleotídicas específicas presentes no genoma viral, permitereconhecer o vírus isola<strong>do</strong> como pertencente ao gênero <strong>do</strong>s enterovírus, além de propiciar588 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


PoliomieliteElementos para o diagnóstico diferencial entre Poliomielite, síndrome de Guillain-Barrée mielite transversaEspecificação Poliomielite Síndrome de Guillain-Barré Mielite transversaInstalação da paralisia 24 a 28 horas Desde horas até 10 dias Desde horas até 4 diasFebre ao inícioAlta. Sempre presenteno início da paralisia,desaparece no dia seguinteNão é freqüenteRaramente presenteParalisiaAguda, assimétrica,principalmente proximalGeralmente aguda.Simétrica e distalAguda, simétrica emmembros inferioresReflexososteotendinosos profun<strong>do</strong>sDiminuí<strong>do</strong>s ou ausentesGlobalmente ausentesAusentes emmembros inferioresSinal de Babinsky Ausente Ausente PresenteSensibilidade Grave mialgia Parestesia, hipoestesiaSinais de irritação meníngea Geralmente presentes Geralmente ausentes AusentesAnestesia de MMIIcom nível sensitivo6Comprometimentode nervos cranianosSomente nasformas bulbaresPode estar presenteAusenteInsuficiência respiratóriaSomente nasformas bulbaresEm casos graves, exarcebadapor pneumonia bacterianaEm geral torácica,com nível sensorialLíqui<strong>do</strong> cefalorraquidianoInflamatórioDissociaçãoproteíno-citológicaCélulas normais ouelevadas; aumentomodera<strong>do</strong> ouacentua<strong>do</strong> de proteínasDisfunção vesical Ausente Às vezes transitória PresenteVelocidade decondução nervosaNormal ou pode-se detectarapenas redução na amplitude<strong>do</strong> potencial da unidade motoraRedução da velocidade decondução motora e sensitivaDentro <strong>do</strong>s limitesda normalidadeEletromiografia (EMG)Presença ou não de fibrilaçõesPotencial da unidade motoracom longa duração e aumentoda amplitudePresença ou não de fibrilaçõese pontas positivas. Potencialda unidade motora pode sernormal ou neurogênicoDentro <strong>do</strong>s limitesda normalidadePidentificação <strong>do</strong> sorotipo de poliovírus isola<strong>do</strong>, bem como a sua origem, se vacinal ou selvagem.O isolamento viral a partir <strong>do</strong> líquor, quan<strong>do</strong> disponível, pode ser realiza<strong>do</strong> pois apresença de vírus no líquor permite também a confirmação diagnóstica.O seqüenciamento nucleotídico identifica o número de mutações e as possíveis recombinaçõesque possam ter ocorri<strong>do</strong> no genoma <strong>do</strong> poliovírus vacinal isola<strong>do</strong>, em relaçãoà sequência <strong>do</strong> vírus Sabin padrão correspondente. O vírus é considera<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> semelhanteao vírus vacinal se o número de mutações for de até 0,9%. A partir de 1%, o vírusé considera<strong>do</strong> como poliovírus vacinal deriva<strong>do</strong>. Os vírus deriva<strong>do</strong>s readquirem as característicasbiológicas <strong>do</strong>s poliovírus selvagens, tais como neurovirulência e capacidade decirculação por tempo prolonga<strong>do</strong> na comunidade. Para a vigilância epidemiológica, estesvírus devem ser considera<strong>do</strong>s como selvagens.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS589


PoliomieliteOs poliovírus, selvagem e vacinal, também podem ser isola<strong>do</strong>s a partir de amostras deágua de esgoto. As mesmas técnicas anteriormente descritas, podem ser utilizadas para aidentificação <strong>do</strong> enterovírus detecta<strong>do</strong>.Os laboratórios nacionais de referência para o diagnóstico laboratorial <strong>do</strong>s poliovíruse demais enterovírus de interesse em saúde pública são o Instituto Evandro Chagas/SVS/MS, o Laboratório Central de Saúde Pública da secretaria de saúde <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de Pernambucoe a Fundação Oswal<strong>do</strong> Cruz/MS.Sorologia – no Brasil, a sorologia deixou de ser utilizada como apoio para o diagnósticode poliomielite a partir de maio de 1990, devi<strong>do</strong> à grande quantidade de vacina oral contraa poliomielite (VOP) administrada no país, que resultou em eleva<strong>do</strong>s títulos de anticorpospara os três tipos de poliovírus na população, dificultan<strong>do</strong> a interpretação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s.Exames complementares (inespecíficos)Líquor – permite o diagnóstico diferencial com a síndrome de Guillain-Barré e com asmeningites que evoluem com deficiência motora. Na poliomielite, observa-se discreto aumento<strong>do</strong> número de células, poden<strong>do</strong> haver discreto aumento de proteínas. Na síndromede Guillain-Barré observa-se uma dissociação proteíno-citológica (aumento acentua<strong>do</strong> deproteínas sem elevação da celularidade) e nas meningites observa-se aumento <strong>do</strong> númerode células, com alterações bioquímicas.Eletromiografia – os acha<strong>do</strong>s e o padrão eletromiográfico da poliomielite são comunsa um determina<strong>do</strong> grupo de <strong>do</strong>enças que afetam o neurônio motor inferior. Este examepode contribuir para descartar a hipótese diagnóstica de poliomielite quan<strong>do</strong> seus acha<strong>do</strong>ssão analisa<strong>do</strong>s conjuntamente com os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> isolamento viral e da evolução clínica.Anatomopatologia – o exame anatomopatológico <strong>do</strong> sistema nervoso não permite odiagnóstico de certeza, pois não há alterações patognomônicas. Entretanto, dada a predileção<strong>do</strong> parasitismo <strong>do</strong> poliovírus pelas células motoras <strong>do</strong> corno anterior da medula e dealguns núcleos motores <strong>do</strong>s nervos cranianos, as alterações histológicas podem ser extremamentesugestivas e possibilitam fechar o diagnóstico diante de um quadro clínico suspeito.As alterações consistem em atividade inflamatória, perivasculite linfocitária, nódulosou atividade microglial difusa e figuras de neuronofagia (neurônios sen<strong>do</strong> fagocita<strong>do</strong>s porcélulas da microglia). Essas alterações são comuns a quaisquer encefalomielites virais, sen<strong>do</strong>que nos casos de poliomielite pre<strong>do</strong>minam nitidamente no corno anterior da medula eno tronco cerebral.Coleta, conservação e transporte de amostras clínicasColeta de amostras de fezes <strong>do</strong>s casosA amostra de fezes constitui o material mais adequa<strong>do</strong> para o isolamento <strong>do</strong> poliovírus.Embora os pacientes com poliomielite eliminem poliovírus durante semanas, os melhoresresulta<strong>do</strong>s de isolamento são alcança<strong>do</strong>s com amostras fecais coletadas na fase agudada <strong>do</strong>ença.• To<strong>do</strong> caso conheci<strong>do</strong> tardiamente deverá ter uma amostra de fezes, coletada até 60dias após o início da deficiência motora.590 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Poliomielite• O swab retal somente é recomenda<strong>do</strong> naqueles casos de paralisia flácida aguda (PFA)que foram a óbito antes da coleta adequada de fezes. Em crianças que apresentamobstipação intestinal, dificultan<strong>do</strong> a coleta de amostras de fezes, pode-se utilizar supositóriode glicerina.Coleta de amostras de fezes de contatosDeverão ser coletadas exclusivamente nas seguintes situações:• contatos de caso com clínica compatível com poliomielite, quan<strong>do</strong> houver suspeitade reintrodução da circulação <strong>do</strong> poliovírus selvagem.• contato de caso em que haja confirmação <strong>do</strong> vírus deriva<strong>do</strong> vacinal.ObservaçõesOutras situações que requeiram coleta de contatos, não previstas neste Guia, deverãoser previamente discutidas com a Coordenação Nacional da Vigilância das PFA/Pólio.Lembrar-se de que os contatos não são necessariamente intra<strong>do</strong>miciliares (embora,quan<strong>do</strong> presentes, devam ser prioriza<strong>do</strong>s para coleta de amostras de fezes).Não coletar amostras de contato que recebeu a vacina contra a poliomielite (VOP) nosúltimos 30 dias.6Conservação e transporte de amostras de fezes• Colocar cada amostra em um recipiente limpo e seco (de preferência nos coletoresdistribuí<strong>do</strong>s para esse fim) e vedar bem. A quantidade de fezes recomendada deveequivaler ao tamanho de <strong>do</strong>is de<strong>do</strong>s polegares de adulto.• Os recipientes conten<strong>do</strong> amostras fecais devem ser conserva<strong>do</strong>s em freezer a -20°C,até o momento <strong>do</strong> envio. Na impossibilidade da utilização de freezer, colocar emgeladeira comum (4º-8ºC) por até, no máximo, 3 dias, não deven<strong>do</strong> jamais ser coloca<strong>do</strong>sem congela<strong>do</strong>r comum.• O transporte deve ser feito em caixa térmica com gelo seco. Os recipientes das amostrasdevem estar acondiciona<strong>do</strong>s em saco plástico bem veda<strong>do</strong>, para que, em caso dedescongelamento, não haja risco de molhar o material.• A caixa térmica deve conter gelo suficiente para resistir ao transporte para entregaao laboratório. Deve ser fechada por fora, com fita adesiva, e ser acondicionada emoutra caixa de papelão de acor<strong>do</strong> com as especificações <strong>do</strong> Departamento de AviaçãoCivil ou Agência Nacional de Transporte Terrestre.• Deve ser enviada ao laboratório, acompanhan<strong>do</strong> as amostras de fezes, uma cópia daficha de envio de amostras devidamente preenchida e acondicionada em saco plásticopara evitar que seja molhada, prejudican<strong>do</strong> as informações.PLíquor (LCR) – se disponível e coleta<strong>do</strong> na fase aguda <strong>do</strong> quadro clínico, deve ser envia<strong>do</strong>ao laboratório de referência em tubo estéril, em volume de aproximadamente 2ml. OLCR deve ser conserva<strong>do</strong> em freezer e transporta<strong>do</strong> congela<strong>do</strong> em caixas térmicas conten<strong>do</strong>gelo seco ou gelo reciclável.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS591


PoliomieliteTratamentoNão há tratamento específico. To<strong>do</strong>s os casos devem ser hospitaliza<strong>do</strong>s, fazen<strong>do</strong>-se otratamento de suporte de acor<strong>do</strong> com o quadro clínico <strong>do</strong> paciente.Aspectos epidemiológicosAté a primeira metade da década de 80, a poliomielite foi de alta incidência no Brasil,contribuin<strong>do</strong> de forma significativa para a elevada prevalência anual de seqüelas físicasobservada naquele perío<strong>do</strong>. Em 1994, a Organização Pan-Americana da Saúde/OMS certificoua erradicação da transmissão autóctone <strong>do</strong> poliovírus selvagem nas Américas, após3 anos sem circulação deste vírus neste continente. Desde então, to<strong>do</strong>s os países da regiãoassumiram o compromisso de manter altas e homogêneas coberturas vacinais, bem comouma vigilância epidemiológica ativa e sensível para identificar imediatamente a reintrodução<strong>do</strong> poliovírus selvagem em cada território nacional e a<strong>do</strong>tar medidas de controlecapazes de impedir sua disseminação.No Brasil, o último caso de infecção pelo poliovírus selvagem ocorreu em 1989, nacidade de Souza/PB. A estratégia a<strong>do</strong>tada para a erradicação no país foi centrada na realizaçãode campanhas de vacinação em massa com a vacina oral contra a pólio (VOP), que,além de propiciar imunidade individual, aumenta a imunidade de grupo na população emgeral através da disseminação <strong>do</strong> poliovírus vacinal no meio ambiente em curto espaço detempo. O número de casos de paralisia flácida aguda e poliomielite, no perío<strong>do</strong> 1980-2003,encontram-se representa<strong>do</strong>s no gráfico a seguir.Dois fatores foram decisivos para a erradicação da poliomielite no Brasil: os eleva<strong>do</strong>sníveis de cobertura vacinal obti<strong>do</strong>s nas campanhas nacionais a partir de 1988 e o aumento<strong>do</strong> poder imunogênico da vacina utilizada no país, pela substituição <strong>do</strong> componente P3 atéentão utiliza<strong>do</strong>.Observa-se que no perío<strong>do</strong> imediatamente após a certificação da erradicação <strong>do</strong> poliovírusselvagem das Américas houve redução na sensibilidade <strong>do</strong> Sistema de Vigilância Epidemiológica,que foi recuperada somente na década atual como resulta<strong>do</strong> de intenso esforçoinstitucional para aprimorar a vigilância da poliomielite junto às unidade da Federação.No momento atual, chama-se a atenção para um fenômeno já observa<strong>do</strong> em algumasocasiões em países com coberturas vacinais insuficientes e/ou heterogêneas: a emergênciade cepas de vírus deriva<strong>do</strong>s da vacina, que passam a readquirir neurovirulência e patogenicidade,provocan<strong>do</strong> surtos de poliomielite em países que já tinham a <strong>do</strong>ença sob controleparcial ou total. O surto mais importante desta <strong>do</strong>ença devi<strong>do</strong> a vírus deriva<strong>do</strong> vacinal(PVDV) ocorreu na ilha de Hispaniola (que pertence ao Haiti e à República Dominicana),em 2000/01, quan<strong>do</strong> foram registra<strong>do</strong>s 22 casos (50% na faixa de 1-4 anos). Outros surtosde menor magnitude, ocorri<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong> 1988/2002, foram registra<strong>do</strong>s no Egito, emGuizhou/China, nas Filipinas e em Madagascar. O fator chave para o controle <strong>do</strong> poliovírusderiva<strong>do</strong> da vacina é o mesmo daquele necessário para controlar a circulação de poliovírusselvagem: alcançar e manter altas e homogêneas coberturas vacinais.592 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


PoliomieliteChama-se também a atenção para o risco de importações de casos de países ondeainda há circulação endêmica <strong>do</strong> poliovírus selvagem, o que demanda ações permanentes eefetivas de vigilância da <strong>do</strong>ença e níveis adequa<strong>do</strong>s de proteção imunológica da população.Número de casos notifica<strong>do</strong>s de paralisia flácida aguda e confirma<strong>do</strong>s de poliomielite.Brasil, 1980-20031.4001.2001.0008006600400200080 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 031.290 122 69 45 130 329 612 196 106 35 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 00 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 517 538 419 453 432 369 437 528 678 637 654PoliomielitePFAFonte: Cover/CGDEP/Devep/SVS/MSPVigilância epidemiológicaObjetivosGeralManter erradicada a poliomielite no Brasil.Específicos• Monitorar a ocorrência de casos de paralisia flácida aguda (PFA) em menores de 15anos de idade.• Acompanhar e avaliar o desempenho operacional <strong>do</strong> Sistema de Vigilância Epidemiológicadas PFAs no país.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS593


Poliomielite• Assessorar tecnicamente os demais níveis <strong>do</strong> Sistema Único de Saúde.• Produzir e disseminar informações epidemiológicas.A suspeita de poliomielite em indivíduos de qualquer idade e as PFAs em menores de15 anos são de notificação e investigação obrigatórias. Para a detecção de casos de poliomieliteem tempo hábil, o Sistema de Vigilância Epidemiológica deve ser suficientementesensível e ágil para:• identificar, notificar e investigar imediatamente to<strong>do</strong> caso de deficiência motora flácida,de início súbito, em menores de 15 anos, independente da hipótese diagnóstica, eem pessoas de qualquer idade que apresentem suspeita diagnóstica de poliomielite;• analisar e detectar oportunamente os surtos de PFA/Pólio, para que as medidas decontrole possam ser rapidamente reforçadas;• acompanhar e avaliar as tendências das paralisias flácidas agudas;• identificar e investigar to<strong>do</strong> caso de evento adverso da vacina oral contra a poliomielite;• estimular pesquisas de casos associa<strong>do</strong>s à vacina e ao comportamento de outras síndromesparalíticas.Definição de casoSuspeito• To<strong>do</strong> caso de deficiência motora flácida, de início súbito, em menores de 15 anos,independente da hipótese diagnóstica de poliomielite.• Toda hipótese diagnóstica de poliomielite, em pessoas de qualquer idade.Nota: os casos de paralisia ocular isolada e paralisia facial periférica não devem serinvestiga<strong>do</strong>s.Confirma<strong>do</strong>Caso de paralisia flácida aguda em que houve isolamento de poliovírus selvagem na(s)amostra(s) de fezes <strong>do</strong> caso ou de um de seus comunicantes, independente de haver ou nãoseqüela, após 60 dias <strong>do</strong> início da deficiência motora.Poliomielite compatívelCaso de PFA que não teve coleta adequada de amostra de fezes e que apresentou seqüelaaos 60 dias ou evoluiu para óbito ou teve evolução clínica ignorada.Descarta<strong>do</strong> (não-poliomielite)Caso de paralisia flácida aguda no qual não houve isolamento de poliovírus selvagemem amostra(s) adequada(s) de fezes, ou seja, amostra (s) coletada(s) até 14 dias <strong>do</strong> início dadeficiência motora.594 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


PoliomielitePoliomielite associada à vacinaCasos de PFA em que há isolamento de vírus vacinal na(s) amostra(s) de fezes e presençade seqüela compatível com poliomielite, 60 dias após o início da deficiência motora.Há <strong>do</strong>is tipos de poliomielite relaciona<strong>do</strong>s com a vacina:• paralisia flácida aguda, que se inicia entre 4 e 45 dias após o recebimento da VOPe que apresenta seqüela neurológica, compatível com poliomielite, 60 dias após oinício <strong>do</strong> déficit motor;• caso de poliomielite associa<strong>do</strong> à vacina administrada em contatos: PFA que surgeapós contato com criança que tenha recebi<strong>do</strong> VOP até 40 dias antes. A paralisiasurge de 4 a 85 dias após a exposição ao contato vacina<strong>do</strong> e o indivíduo apresentaseqüela neurológica compatível com poliomielite 60 dias após o déficit motor.Em qualquer das situações acima, o isolamento de poliovírus vacinal nas fezes é condiçãoimprescindível para que o caso seja considera<strong>do</strong> como associa<strong>do</strong> à vacina. Insiste-sena necessidade de coletar as fezes adequadamente, nos primeiros 14 dias após o início <strong>do</strong>déficit motor. Caso a coleta seja tardia, entre 15 e 40 dias após o início <strong>do</strong> déficit motor, ehaja isolamento de vírus vacinal, o caso será classifica<strong>do</strong> como associa<strong>do</strong> à vacina.6Poliovírus deriva<strong>do</strong> vacinal (PVDV)Poliovírus que apresenta mais de 1% de diferença genética em relação ao vírus vacinalcorrespondente.NotificaçãoDiante da definição a<strong>do</strong>tada para caso suspeito, todas as afecções neurológicas agudas,em menores de 15 anos, que cursam com paralisia flácida devem entrar no sistema de vigilância,isto é, devem ser notificadas e investigadas para afastar possíveis associações como poliovírus.PPrimeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasEm virtude das características de transmissão <strong>do</strong> poliovírus, silenciosa e rápida, e daocorrência de grande número de infecções sem manifestações clínicas, a vigilância deve serintensificada com a finalidade de detectar a ocorrência de outros casos de PFA e de caracterizaro processo de transmissão. A manutenção dessa vigilância deve abranger, além <strong>do</strong> localde residência <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente, as localidades visitadas nos 30 dias anteriores ao início da paralisia,em caso de viagem, bem como os locais de residência das visitas recebidas no mesmo perío<strong>do</strong>,onde pode estar a provável fonte de infecção. Ao la<strong>do</strong> da intensificação da vigilância,também recomenda-se: avaliação da cobertura vacinal específica da área, visita às unidadesde saúde, busca ativa de outros casos na área e contato com profissionais de saúde.Assistência médica ao pacienteO repouso completo no leito e o tratamento sintomático são fundamentais. A internaçãoem unidade de terapia intensiva é indicada nas formas graves da <strong>do</strong>ença.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS595


PoliomieliteQualidade da assistênciaO atendimento <strong>do</strong>s casos de PFA deve ser realiza<strong>do</strong> em unidade com adequa<strong>do</strong> suporte,visan<strong>do</strong> o monitoramento <strong>do</strong> paciente.Proteção individual para evitar circulação viralA proteção se dá através da vacina oral contra a poliomielite. Caso haja a suspeita deinfecção por poliovírus selvagem em pacientes interna<strong>do</strong>s, orienta-se a a<strong>do</strong>ção de precauçõesentéricas.Confirmação diagnósticaUtiliza-se a pesquisa de poliovírus nas fezes, coletadas nos primeiros 14 dias da deficiênciamotora.Proteção da populaçãoA principal proteção ocorre pela manutenção de elevadas coberturas vacinais na rotinae nas campanhas de vacinação em massa, com a vacina VOP. Quan<strong>do</strong> houver casos notifica<strong>do</strong>sde PFA com hipótese diagnóstica de poliomielite, recomenda-se a vacinação comVOP indiscriminada para menores de 5 anos na área de abrangência <strong>do</strong> caso.Investigação epidemiológicaTo<strong>do</strong> caso de paralisia flácida aguda deve ser investiga<strong>do</strong> nas primeiras 48 horas apóso conhecimento. Esta medida visa subsidiar o processo de tomada de decisão quanto aodesencadeamento, em tempo hábil, das medidas de controle indicadas em cada situação. Aficha de investigação epidemiológica de PFA é o instrumento de coleta de da<strong>do</strong>s. To<strong>do</strong>s osseus campos devem ser rigorosamente preenchi<strong>do</strong>s.Roteiro da investigação epidemiológica• Caracterizar clinicamente o caso, para determinar sua inclusão no sistema de investigação.• Colher uma amostra de fezes <strong>do</strong> caso, preferencialmente até o 14º dia <strong>do</strong> início dadeficiência motora, para investigação etiológica.• Obter informações detalhadas e uniformes para to<strong>do</strong>s os casos, através <strong>do</strong> preenchimentode to<strong>do</strong>s os campos da ficha <strong>do</strong> Sinan para investigação epidemiológica dePFA, de mo<strong>do</strong> a permitir a comparabilidade e análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s.• Visitar imediatamente o <strong>do</strong>micílio para complementar da<strong>do</strong>s da ficha de investigação(história vacinal, fonte de infecção, etc.) e buscar outros casos, quan<strong>do</strong> necessário.• Orientar medidas de controle pertinentes.• Realizar a revisita <strong>do</strong> caso para avaliação de seqüela, 60 dias após o início da deficiênciamotora.• Classificar o caso conforme os critérios estabeleci<strong>do</strong>s.• Retroalimentar a fonte notifica<strong>do</strong>ra.596 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


PoliomieliteIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os itens da ficha de investigação epidemiológica <strong>do</strong> Sinan relativos aosda<strong>do</strong>s gerais, notificação e residência.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosRegistrar na ficha de investigação da<strong>do</strong>s clínicos, epidemiológicos e laboratoriaisda <strong>do</strong>ença. Os da<strong>do</strong>s são coleta<strong>do</strong>s através das informações obtidas <strong>do</strong>s profissionais queprestaram assistência, das contidas no prontuário e das coletadas por ocasião da visita<strong>do</strong>miciliar.Coleta e remessa de material para examesVerificar o tópico Diagnóstico laboratorial.Análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sOs da<strong>do</strong>s devem ser analisa<strong>do</strong>s sistematicamente, visan<strong>do</strong> produzir informações úteisao processo de tomada de decisão sobre as ações de vigilância e controle da <strong>do</strong>ença.6Encerramento de casosOs casos de PFA devem ser encerra<strong>do</strong>s após 60 dias da notificação, quan<strong>do</strong> se realiza aavaliação neurológica; faz-se necessário que to<strong>do</strong>s os acha<strong>do</strong>s da investigação epidemiológicasejam minuciosamente avalia<strong>do</strong>s. A classificação final <strong>do</strong>s casos deverá seguir as definiçõesconstantes <strong>do</strong> tópico Definição de casos.Relatório finalA elaboração de relatório final não faz parte da rotina de investigação de caso de PFA;a ficha de notificação constitui o instrumento que fornece todas as informações necessáriaspara a inclusão, avaliação e descarte final <strong>do</strong>s casos.PAvaliaçãoIndica<strong>do</strong>res e metas mínimas estabelecidas para acompanhamento e avaliação <strong>do</strong> sistemade vigilância epidemiológica da PFA/Pólio:• taxa de notificação de PFA: deve ser de, no mínimo, um caso para cada 100 mil habitantesmenores de 15 anos de idade;• Proporção de casos investiga<strong>do</strong>s em 48 horas: pelo menos 80% <strong>do</strong>s casos notifica<strong>do</strong>sdevem ser investiga<strong>do</strong>s dentro das 48 horas após a notificação;• Proporção de casos com coleta adequada de fezes: pelo menos 80% <strong>do</strong>s casos devemter uma amostra de fezes, para cultivo <strong>do</strong> vírus, coletadas dentro das duas semanasseguintes <strong>do</strong> início da deficiência motora;• Notificação negativa: pelo menos 80% das unidades notificantes devem notificar aocorrência ou não de casos de PFA, semanalmente. Este indica<strong>do</strong>r é obti<strong>do</strong> a partirdas informações produzidas nas fontes notifica<strong>do</strong>ras de PFA existentes nos esta<strong>do</strong>s.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS597


PoliomieliteObservação: o sistema de informação oficial para a vigilância das PFAs é o Sinan, e aalimentação e o fluxo de da<strong>do</strong>s obedecerá normatização específica da Secretaria de Vigilânciaem Saúde/MS.Resumo da investigação epidemiológica da PFA/PoliomieliteCaso suspeitoNotificaçãoInvestigar em 48 horasColetar da<strong>do</strong>s clínicose epidemiológicosColetar uma amostra defezes até o 14 o dia <strong>do</strong> início<strong>do</strong> déficit motorVerificar a ocorrênciade outros casos na áreaAnalisar a cobertura vacinalcontra a poliomielite na áreaFazer a avaliação neurológicaapós 60 dias <strong>do</strong> déficit motorReforçar, se necessário, asatividades de vacinação na áreaComplementar ainvestigação epidemiológicaEncerrar o(s) caso(s), atualizaros sistemas de informações eretroalimentar as fontes notifica<strong>do</strong>rasInstrumentos disponíveis para controleJuntamente com uma vigilância epidemiológica efetiva das PFAs, a vacinação constituia principal medida para manter erradicada a circulação <strong>do</strong> poliovírus selvagem nas Américas.Portanto, deverão ser mantidas a vacinação de rotina nos serviços de saúde, além dascampanhas nacionais de vacinação. Há <strong>do</strong>is tipos de vacinas: a vacina de vírus vivos atenua<strong>do</strong>spara uso oral (VOP ou Sabin) e a vacina de vivos inativa<strong>do</strong>s (VIP ou Salk).598 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


PoliomieliteVacinação de rotinaCompreende as atividades realizadas de forma contínua, através <strong>do</strong>s serviços permanentesde saúde, visan<strong>do</strong> assegurar, o mais precocemente possível, a imunização adequada dascrianças nascidas, para evitar a formação de bolsões populacionais susceptíveis à <strong>do</strong>ença.O esquema vacinal preconiza<strong>do</strong> consiste na administração de três <strong>do</strong>ses de vacina antipóliooral (VOP), com intervalo de no mínimo 30 dias (inician<strong>do</strong>-se aos <strong>do</strong>is meses devida), com a administração de uma <strong>do</strong>se de reforço um ano após a 3ª <strong>do</strong>se.Esta vacina confere imunidade individual contra os três tipos de vírus, como tambémimpede a multiplicação e eliminação <strong>do</strong> poliovírus selvagem no meio ambiente. Esta característicadeve-se ao estímulo à produção de IgA secretória, que permite a competição<strong>do</strong>s vírus vacinais com o poliovírus selvagem nos sítios de acoplamento <strong>do</strong> mesmo na luzintestinal.Definição de criança adequadamente vacinada – é aquela que recebeu três ou mais<strong>do</strong>ses de vacina oral contra poliomielite, com um intervalo mínimo de 30 dias entre cada<strong>do</strong>se.A VOP contém vírus atenua<strong>do</strong>s nas seguintes concentrações de partículas antigênicas:• poliovírus tipo I – 1 milhão Dict 50 (<strong>do</strong>se infectante em cultura de teci<strong>do</strong>);• poliovírus tipo II – 100 mil Dict 50;• poliovírus tipo III – 600 mil Dict 50.6Outras substâncias estão presentes na vacina, como o cloreto de magnésio, a sacarose,a neomicina, a estreptomicina ou a eritromicina (estabilizantes) e o vermelho de amaranteou roxo de fenol (corante indica<strong>do</strong>r de Ph).A vacina deve ser conservada entre +2ºC e +8ºC. Cada <strong>do</strong>se, em geral, correspondea duas gotas, poden<strong>do</strong> variar conforme especificações <strong>do</strong> laboratório produtor. A eficáciasitua-se em torno de 90% a 95% após a aplicação da 3ª <strong>do</strong>se.PCampanhas de vacinaçãoAs campanhas constituem ação complementar para a vacinação de rotina, quan<strong>do</strong>a rede de serviços de saúde for insuficiente para assegurar satisfatória cobertura vacinal.É importante salientar que a vacina oral contra a poliomielite, aplicada em campanhas,produz extensa disseminação <strong>do</strong> vírus vacinal, capaz de competir com a circulação <strong>do</strong> vírusselvagem, interrompen<strong>do</strong> abruptamente a cadeia de transmissão da <strong>do</strong>ença. Por serde administração oral, apresenta facilidade operacional de aplicação e pelas característicasjá descritas, aliadas às condições de saneamento básico, proporciona maior disseminaçãodas partículas <strong>do</strong>s vírus vacinais, que podem, direta ou indiretamente, imunizar um maiornúmero de crianças nas campanhas e bloqueios.As atividades de rotina e campanhas devem alcançar coberturas vacinais altas (95%) euniformes em to<strong>do</strong>s os municípios.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS599


PoliomieliteRiscos de índices inadequa<strong>do</strong>s de cobertura vacinalOs baixos índices de coberturas vacinais e/ou sua heterogeneidade numa certa regiãogeográfica favorecem a reintrodução <strong>do</strong> poliovírus, de duas maneiras:• através da importação <strong>do</strong> poliovírus, por intermédio de um indivíduo infecta<strong>do</strong>que chegue ao país – o poliovírus é altamente infeccioso. Pelo menos 99% dasinfecções por poliovírus selvagem são assintomáticas, mas podem proporcionar aeliminação de grande quantidade <strong>do</strong> agente infeccioso através das fezes e secreçõesrespiratórias;• através de mutações genéticas – a dispersão persistente de poliovírus deriva<strong>do</strong> davacina oral por imunodeficientes com insuficiência de linfócitos B pode conduzir auma contínua circulação deste agente entre indivíduos mal vacina<strong>do</strong>s numa comunidadee, conseqüentemente, a sua alteração genética, adquirin<strong>do</strong> neurovirulência etransmissibilidade, à semelhança <strong>do</strong> poliovírus selvagem. Observações demonstramque uma margem de diferenciação genética de 1% a 15% é característica das cepasresponsáveis por surtos de poliovírus deriva<strong>do</strong>s vacinais compatíveis com umatransmissão extensa e capacidade de causar <strong>do</strong>ença paralítica em uma comunidade.Utilização da vacina inativada de poliomielite (VIP)A VIP é utilizada no Brasil nas seguintes situações especiais:• em crianças imunodeprimidas ou que tenham contato freqüente ou familiar comcrianças ou adultos imunocomprometi<strong>do</strong>s;• em adultos e gestantes não-imunes, nos casos de epidemias.A vacina inativada estimula a presença de anticorpos protetores circulantes mas a proteçãointestinal é transitória e de baixo nível. Desse mo<strong>do</strong>, apesar de sua eficácia na proteçãoindividual contra a <strong>do</strong>ença, é incompleta contra a infecção pelo poliovírus selvagem, quemantém a capacidade de multiplicar-se nas células intestinais e de ser elimina<strong>do</strong> pelas fezesde pessoas vacinadas com a VIP. O seu emprego é eficaz em países com bons níveis de saneamentoe altas e homogêneas coberturas vacinais.Ações de educação em saúdeA educação em saúde compreende as atividades desenvolvidas pelas equipes de saúdee outras organizações governamentais e não-governamentais ten<strong>do</strong> em vista não apenas adifusão de informações para apoiar o trabalho específico – campanhas de vacinação, porexemplo – mas, também, a participação das pessoas nas ações de saúde, atuan<strong>do</strong>, inclusive,em áreas tradicionalmente consideradas como exclusivas <strong>do</strong>s técnicos de saúde, tais comoa vigilância e controle de <strong>do</strong>enças.Nas atividades de manutenção da erradicação da poliomielite devem ser leva<strong>do</strong>s emconsideração os seguintes aspectos:• a necessidade de informar às pessoas a importância <strong>do</strong> seu papel no esforço de mantera erradicação da <strong>do</strong>ença;600 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Poliomielite• a necessidade de que as pessoas conheçam as causas e as conseqüências dessa <strong>do</strong>ença,bem como as ações individuais e coletivas que podem contribuir para manter suaerradicação.Funções da educação em saúde• Identificação e análise de fatores inerentes à equipe de saúde e à população, que interfiramnos propósitos de manutenção da erradicação da poliomielite.• Articulação com as organizações existentes na comunidade (governamentais e nãogovernamentais),ten<strong>do</strong> em vista o engajamento de seus representantes no programade manutenção da erradicação da poliomielite.• Capacitação de pessoas da comunidade, principalmente aquelas ligadas às organizaçõescomunitárias, para atuarem junto às equipes de saúde na notificação, investigaçãoe controle de casos de paralisia flácida aguda, ten<strong>do</strong> em vista a manutenção daerradicação da poliomielite.• Capacitação das equipes de saúde para atuarem, de forma conjunta, com pessoas,grupos e organizações da comunidade.• Divulgação de informações sobre poliomielite, vacina, notificação, investigação emedidas de controle a<strong>do</strong>tadas.6PSecretaria de Vigilância em Saúde / MS601


PoliomieliteAnexo 1Fluxograma <strong>do</strong> envio de fezes parapesquisa de enterovírus e liberação de resulta<strong>do</strong>sUnidade de saúdeSecretariaestadual de saúdeLacen/SESCover/CGDT/Devep/SVS/MSCGLAB/Devep/SVS/MSResulta<strong>do</strong>sLaboratórios de referênciaFiocruz/RJEvandro ChagasLacen-PE602 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RaivaRAIVACID 10: A82Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoEncefalite viral aguda, transmitida por mamíferos, que apresenta <strong>do</strong>is ciclos principaisde transmissão: urbano e silvestre. Reveste-se da maior importância epidemiológicapor apresentar letalidade de 100%, além de ser <strong>do</strong>ença passível de eliminação no seu ciclourbano, por se dispor de medidas eficientes de prevenção tanto em relação ao ser humanoquanto à fonte de infecção.Agente etiológicoO vírus rábico pertence ao gênero Lyssavirus, da família Rhab<strong>do</strong>viridae. Possui aspectode um projétil e seu genoma é constituí<strong>do</strong> por RNA. Apresenta <strong>do</strong>is antígenos principais:um de superfície, constituí<strong>do</strong> por uma glicoproteína, responsável pela formação de anticorposneutralizantes e adsorção vírus-célula, e outro interno, constituí<strong>do</strong> por uma nucleoproteína,que é grupo específico.6ReservatórioNo ciclo urbano, as principais fontes de infecção são o cão e o gato. No Brasil, o morcegoé o principal responsável pela manutenção da cadeia silvestre. Outros reservatórios silvestressão: macaco, raposa, coiote, chacal, gato-<strong>do</strong>-mato, jaritataca, guaxinim e mangusto.Ciclos epidemiológicos de transmissão da raivaRCiclo aéreoCiclo silvestreCiclo ruralCiclo urbanoSecretaria de Vigilância em Saúde / MS603


RaivaMo<strong>do</strong> de transmissãoA transmissão da raiva se dá pela penetração <strong>do</strong> vírus conti<strong>do</strong> na saliva <strong>do</strong> animal infecta<strong>do</strong>,principalmente pela mordedura e, mais raramente, pela arranhadura e lambedurade mucosas. O vírus penetra no organismo, multiplica-se no ponto de inoculação, atinge osistema nervoso periférico e, posteriormente, o sistema nervoso central. A partir daí, dissemina-separa vários órgãos e glândulas salivares, onde também se replica e é elimina<strong>do</strong> pelasaliva das pessoas ou animais enfermos.Existem relatos de casos de transmissão inter-humana na literatura, que ocorreramatravés de transplante de córnea. A via respiratória, transmissão sexual, via digestiva (emanimais) e transmissão vertical também são aventadas, mas com possibilidade remota.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoÉ extremamente variável, desde dias até anos, com uma média de 45 dias no homeme de 10 dias a 2 meses no cão. Em crianças, existe tendência para um perío<strong>do</strong> de incubaçãomenor que no indivíduo adulto. O perío<strong>do</strong> de incubação está diretamente liga<strong>do</strong> a:• localização, extensão e profundidade da mordedura, arranhadura, lambedura oucontato com a saliva de animais infecta<strong>do</strong>s;• distância entre o local <strong>do</strong> ferimento, o cérebro e troncos nervosos;• concentração de partículas virais inoculadas e cepa viral.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeNos cães e gatos, a eliminação de vírus pela saliva ocorre de 2 a 5 dias antes <strong>do</strong> aparecimento<strong>do</strong>s sinais clínicos, persistin<strong>do</strong> durante toda a evolução da <strong>do</strong>ença. A morte <strong>do</strong>animal acontece, em média, entre 5 a 7 dias após a apresentação <strong>do</strong>s sintomas. Em relaçãoaos animais silvestres, há poucos estu<strong>do</strong>s sobre o perío<strong>do</strong> de transmissão, saben<strong>do</strong>-se quevaria de espécie para espécie. Por exemplo, especificamente os quirópteros podem albergaro vírus por longo perío<strong>do</strong>, sem sintomatologia aparente.Susceptibilidade e imunidadeTo<strong>do</strong>s os mamíferos são susceptíveis à infecção pelo vírus da raiva. Não há relato decasos de imunidade natural no homem. A imunidade é conferida através de vacinação,acompanhada ou não por soro.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasApós um perío<strong>do</strong> variável de incubação, aparecem os pródromos que duram de 2 a 4dias e são inespecíficos. O paciente apresenta mal-estar geral, pequeno aumento de temperatura,anorexia, cefaléia, náuseas, <strong>do</strong>r de garganta, entorpecimento, irritabilidade, inquietudee sensação de angústia. Podem ocorrer hiperestesia e parestesia no trajeto de nervosperiféricos, próximos ao local da mordedura, e alterações de comportamento. A infecção604 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Raivaprogride, surgin<strong>do</strong> manifestações de ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes, febre, delírios,espasmos musculares involuntários, generaliza<strong>do</strong>s e/ou convulsões. Espasmos <strong>do</strong>smúsculos da laringe, faringe e língua ocorrem quan<strong>do</strong> o paciente vê ou tenta ingerir líqui<strong>do</strong>,apresentan<strong>do</strong> sialorréia intensa. Os espasmos musculares evoluem para um quadro de paralisia,levan<strong>do</strong> a alterações cardiorrespiratórias, retenção urinária e obstipação intestinal.O paciente se mantém consciente, com perío<strong>do</strong> de alucinações, até à instalação de quadrocomatoso e evolução para óbito. Observa-se ainda a presença de disfagia, aerofobia, hiperacusia,fotofobia. O perío<strong>do</strong> de evolução <strong>do</strong> quadro clínico, após instala<strong>do</strong>s os sinais esintomas até o óbito, é em geral de 5 a 7 dias.Diagnóstico diferencialNão existem dificuldades para estabelecer o diagnóstico quan<strong>do</strong> o quadro clínico vieracompanha<strong>do</strong> de sinais e sintomas característicos da raiva, precedi<strong>do</strong>s por mordedura, arranhaduraou lambedura de mucosas provocadas por animal raivoso. Este quadro clínicotípico ocorre em cerca de 80% <strong>do</strong>s pacientes.No caso da raiva humana transmitida por morcegos hematófagos, cuja forma é pre<strong>do</strong>minantementeparalítica, o diagnóstico é incerto e a suspeita recai em outros agravos quepodem ser confundi<strong>do</strong>s com raiva humana. Nestes casos, o diagnóstico diferencial deveser realiza<strong>do</strong> com: tétano; pasteurelose, por mordedura de gato e de cão; infecção por vírusB (Herpesvirus simiae), por mordedura de macaco; botulismo e febre por mordida de rato(Sodóku); febre por arranhadura de gato (linforreticulose benigna de inoculação); encefalitepós-vacinal; quadros psiquiátricos; outras encefalites virais, especialmente as causadaspor outros rab<strong>do</strong>vírus; e tularemia. Cabe salientar a ocorrência de outras encefalites porarbovírus e intoxicações por mercúrio, principalmente na região amazônica, apresentan<strong>do</strong>quadro de encefalite compatível com o da raiva.É importante ressaltar que a anamnese <strong>do</strong> paciente deve ser realizada junto ao acompanhantee ser bem <strong>do</strong>cumentada, com destaque para sintomas prodrômicos, antecedentesepidemiológicos e vacinais. No exame físico, frente à suspeita clínica, observar atentamenteo fácies, presença de hiperacusia, hiperosmia, fotofobia, aerofobia, hidrofobia e alterações<strong>do</strong> comportamento.6RDiagnóstico laboratorialA confirmação laboratorial em vida, <strong>do</strong>s casos de raiva humana, pode ser realizadapelo méto<strong>do</strong> de imunofluorescência direta (IFD) em impressão de córnea, raspa<strong>do</strong> de mucosalingual (swab) ou teci<strong>do</strong> bulbar de folículos pilosos, obti<strong>do</strong>s por biópsia de pele daregião cervical (procedimento que deve ser feito por profissional habilita<strong>do</strong> mediante o usode equipamento de proteção individual/EPI).A sensibilidade dessas provas é limitada e, quan<strong>do</strong> negativas, não se pode excluir apossibilidade de infecção. A realização da autópsia é de extrema importância para a confirmaçãodiagnóstica. O sistema nervoso central (cérebro, cerebelo e medula) deverá ser encaminha<strong>do</strong>para o laboratório, conserva<strong>do</strong> preferencialmente refrigera<strong>do</strong> em até 24 horas,e congela<strong>do</strong> após este prazo. Na falta de condições adequadas de refrigeração, conservarSecretaria de Vigilância em Saúde / MS605


Raivaem solução salina com glicerina a 50%, em recipientes de paredes rígidas, hermeticamentefecha<strong>do</strong>s, com identificação de material de risco biológico e cópia da ficha de notificação oude investigação. Não usar formol. O diagnóstico laboratorial é realiza<strong>do</strong> com fragmentos <strong>do</strong>sistema nervoso central através das técnicas de IFD e inoculação em camun<strong>do</strong>ngos recémnasci<strong>do</strong>sou de 21 dias.TratamentoIndependente <strong>do</strong> ciclo, não existe tratamento específico para a <strong>do</strong>ença. Por isso, a profilaxiapré ou pós-exposição ao vírus rábico deve ser adequadamente executada. O pacientedeve ser atendi<strong>do</strong> na unidade hospitalar de saúde mais próxima, sen<strong>do</strong> evitada sua remoção.Quan<strong>do</strong> imprescindível, tem que ser cuida<strong>do</strong>samente planejada. Manter o enfermoem isolamento, em quarto com pouca luminosidade, evitar ruí<strong>do</strong>s e formação de correntesde ar, proibir visitas e somente permitir a entrada de pessoal da equipe de atendimento. Asequipes de enfermagem, higiene e limpeza devem estar devidamente capacitadas para lidarcom o paciente e com o seu ambiente e usar equipamentos de proteção individual, bemcomo estarem pré-imuniza<strong>do</strong>s.Recomenda-se como tratamento de suporte: dieta por sonda nasogástrica e hidrataçãopara manutenção <strong>do</strong> balanço hídrico e eletrolítico; na medida <strong>do</strong> possível, usar sonda vesicalpara reduzir a manipulação <strong>do</strong> paciente; controle da febre e vômito; betabloquea<strong>do</strong>resna vigência de hiperatividade simpática; uso de antiáci<strong>do</strong>s, para prevenção de úlcera de estresse;realizar os procedimentos para aferição da pressão venosa central (PVC) e correçãoda volemia na vigência de choque; tratamento das arritmias cardíacas. Sedação de acor<strong>do</strong>com o quadro clínico, não deven<strong>do</strong> ser contínua.Aspectos epidemiológicosA raiva é uma antropozoonose transmitida ao homem pela inoculação <strong>do</strong> vírus rábicoconti<strong>do</strong> na saliva <strong>do</strong> animal infecta<strong>do</strong>, principalmente através da mordedura. Apesar de serconhecida desde a antiguidade, continua sen<strong>do</strong> problema de saúde pública nos países emdesenvolvimento, principalmente a transmitida por cães e gatos, em áreas urbanas, manten<strong>do</strong>-sea cadeia de transmissão animal <strong>do</strong>méstico/homem.Esta <strong>do</strong>ença ocorre em to<strong>do</strong>s os continentes, com exceção da Oceania. Alguns paísesdas Américas (Uruguai, Barba<strong>do</strong>s, Jamaica e Ilhas <strong>do</strong> Caribe), da Europa (Portugal, Espanha,Irlanda, Grã-Bretanha, Países Baixos e Bulgária) e da Ásia (Japão) encontram-se livresda infecção no seu ciclo urbano. Entretanto, alguns países da Europa (França, Inglaterra) eda América <strong>do</strong> Norte (EUA e Canadá) ainda enfrentam problemas quanto ao ciclo silvestreda <strong>do</strong>ença.A raiva apresenta <strong>do</strong>is ciclos básicos de transmissão: o urbano, que ocorre principalmenteentre cães e gatos e é de grande importância nos países <strong>do</strong> terceiro mun<strong>do</strong>, e o silvestre,que ocorre principalmente entre morcegos, macacos e raposas. Na zona rural, a <strong>do</strong>ençaafeta animais de produção como bovinos, eqüinos e outros.606 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RaivaA distribuição da raiva não é obrigatoriamente uniforme, poden<strong>do</strong> existir áreas livrese outras de baixa ou alta endemicidade, apresentan<strong>do</strong>, em alguns momentos, formasepizoóticas. No Brasil, a raiva é endêmica, em grau diferencia<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com a regiãogeopolítica. A região Nordeste responde por 54,2% <strong>do</strong>s casos humanos registra<strong>do</strong>s de 1980a 2003; seguida da região Norte, com 17,5%; Sudeste, com 10,8%; Centro-Oeste, com 10,4%e Sul, com 0,4%. Desde 1987 não há registro de casos nos esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Sul, sen<strong>do</strong> o último noParaná, cuja fonte de infecção foi um morcego hematófago. No perío<strong>do</strong> de 1991 a 2003, cãese gatos foram responsáveis por transmitir 80% <strong>do</strong>s casos humanos de raiva; os morcegos,por 10,6% e outros animais (raposas, sagüis, gato selvagem, bovinos, eqüinos, caititus, gambás,suínos e caprinos), 4,8%. Casos cuja fonte de infecção foi desconhecida representaram4,6%. O coeficiente de morbimortalidade de raiva humana nos últimos anos vem diminuin<strong>do</strong>de forma gradativa: de 0,05/100 mil habitantes, em 1990, para 0,01/100 mil habitantes,atualmente. A taxa de letalidade é de 100%.6Vigilância epidemiológicaHá muitas interfaces entre a raiva humana e a animal. Na vigilância da raiva, os da<strong>do</strong>sepidemiológicos são essenciais tanto para os médicos, para que seja tomada a decisão detratamento pós-exposição, como para os veterinários, que devem a<strong>do</strong>tar medidas relativasao animal envolvi<strong>do</strong>. Sem dúvida, um caso de raiva humana representa falência <strong>do</strong> sistemade saúde local, além de ser um indica<strong>do</strong>r para avaliação da qualidade <strong>do</strong>s serviços.Objetivos• Detectar precocemente a circulação <strong>do</strong> vírus em animais (urbanos e silvestres), visan<strong>do</strong>impedir a ocorrência de casos humanos.• Propor e avaliar as medidas de prevenção e controle.• Identificar a fonte de infecção de cada caso humano ou animal.• Determinar a magnitude da raiva humana e as áreas de risco, para intervenção.RDefinição de casoSuspeitoTo<strong>do</strong> paciente com quadro clínico sugestivo de encefalite rábica, com antecedentes ounão de exposição à infecção pelo vírus rábico.Confirma<strong>do</strong>To<strong>do</strong> caso suspeito comprova<strong>do</strong> laboratorialmente ou to<strong>do</strong> indivíduo com quadro clínicocompatível de encefalite rábica associa<strong>do</strong> a antecedentes de agressão ou contato comanimal suspeito (associação epidemiológica), com evolução para óbito.Critério clínico-laboratorial – detecção de anticorpos específicos, pela técnica de soroneutralizaçãoem cultura celular, em pacientes sem antecedentes de vacinação contra aSecretaria de Vigilância em Saúde / MS607


Raivaraiva; demonstração <strong>do</strong> antígeno pela técnica de imunofluorescência direta, e isolamento<strong>do</strong> vírus através da prova biológica (PB) em camun<strong>do</strong>ngos ou células, ou por meio da reaçãode cadeia pela polimerase (PCR).Atualmente, um importante instrumento de vigilância epidemiológica é a tipificaçãoantigênica através da imunofluorescência indireta com anticorpos monoclonais, que é umatécnica específica e rápida, e da caracterização genética. É importante destacar que o usodas técnicas de biologia molecular deve estar sempre associa<strong>do</strong> à investigação epidemiológicade campo, visto que somente assim se atingirá o maior poder discriminatório. Recomenda-se,também, a realização <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> antigênico e genético em 100% das amostrasisoladas de humanos, cães e gatos de áreas livres ou controladas, e de animais silvestres.Critério clínico-epidemiológico – paciente com quadro neurológico agu<strong>do</strong> (encefalite),que apresente formas de hiperatividade, segui<strong>do</strong> de síndrome paralítica com progressãopara coma e morte, geralmente por insuficiência respiratória, sem possibilidade dediagnóstico laboratorial mas com antecedente de exposição a provável fonte de infecção emregião com comprovada circulação de vírus rábico. Mesmo nos casos nos quais a suspeitafoi aventada após o óbito, a possibilidade de exumação deve ser considerada, visto queatualmente se dispõe de técnicas laboratoriais que, no seu conjunto, apresentam grandesensibilidade e especificidade.Caso descarta<strong>do</strong>To<strong>do</strong> caso suspeito com IFD e PB negativa ou que durante a investigação teve seudiagnóstico confirma<strong>do</strong> laboratorialmente por outra etiologia, ou to<strong>do</strong> caso suspeito quenão tenha evoluí<strong>do</strong> para óbito.NotificaçãoTo<strong>do</strong> caso humano suspeito de raiva é de notificação individual, compulsória e imediataaos níveis municipal, estadual e federal.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteToda pessoa com histórico de exposição deve procurar assistência médica e, conformeavaliação, receber vacinação ou soro-vacinação ou, ainda, acompanhamento durante operío<strong>do</strong> de observação animal.Qualidade da assistênciaVerificar se os casos estão sen<strong>do</strong> atendi<strong>do</strong>s em unidade de saúde com capacidade paraprestar atendimento adequa<strong>do</strong> e oportuno. Deve-se ficar atento para evitar o aban<strong>do</strong>no,garantin<strong>do</strong> o esquema de vacinação completo e a obrigatoriedade da busca ativa pelos profissionaisda rede <strong>do</strong>s serviços de saúde.608 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RaivaConfirmação diagnósticaColetar material para diagnóstico laboratorial, de acor<strong>do</strong> com as orientações constantesno tópico Diagnóstico laboratorial <strong>do</strong>s diferentes animais.Proteção da populaçãoLogo que se tenha conhecimento da suspeita de caso de raiva, deve-se organizar umbloqueio vacinal em cães e gatos em até 72 horas após a notificação, em um raio de 5km oumais, dependen<strong>do</strong> da zona de abrangência (zona urbana ou rural) onde o paciente foi agredi<strong>do</strong>,não sen<strong>do</strong> necessário aguardar resulta<strong>do</strong>s de exames laboratoriais para confirmação<strong>do</strong> caso suspeito. É necessária, ainda, a captura e o envio de amostras de animais da área deatuação para o diagnóstico laboratorial e/ou comprovação da circulação viral.As informações sobre as coberturas vacinais <strong>do</strong>s animais da área endêmica, quan<strong>do</strong>disponíveis, são importantes para o processo de decisão quanto à extensão inicial e seletividade<strong>do</strong> bloqueio.Devem ser organizadas ações de esclarecimento à população, utilizan<strong>do</strong>-se meios decomunicação de massa, visitas <strong>do</strong>miciliares e palestras. É também importante a veiculaçãode conhecimentos sobre o ciclo de transmissão da <strong>do</strong>ença, gravidade e esclarecimentos dasituação de risco e ações envolven<strong>do</strong> a participação efetiva da comunidade.6InvestigaçãoImediatamente ou até 72 horas após a notificação de um caso de raiva, deve-se iniciara investigação epidemiológica para permitir que as medidas de controle possam ser a<strong>do</strong>tadas.O instrumento de coleta de da<strong>do</strong>s, a ficha epidemiológica disponível no Sinan, contémos elementos essenciais a serem coleta<strong>do</strong>s em uma investigação de rotina. To<strong>do</strong>s os seuscampos devem ser criteriosamente preenchi<strong>do</strong>s, mesmo quan<strong>do</strong> a informação for negativa.Outros itens e observações podem ser incluí<strong>do</strong>s em relatório anexo, conforme as necessidadese peculiaridades de cada situação.Casos de raiva em animais de produção (bovinos, eqüinos e outros), notificar imediatamenteàs autoridades da agricultura para o desencadeamento das ações de controle: indicaçãode vacinação nos rebanhos, captura e combate aos morcegos hematófagos e educaçãosanitária.RRoteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação epidemiológica, relativos aos da<strong>do</strong>sgerais, notificação individual e da<strong>do</strong>s de residência.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPara confirmar a suspeita diagnóstica – anotar na ficha de investigação da<strong>do</strong>s da história,manifestações clínicas e antecedentes de exposição às prováveis fontes de infecção.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS609


Raiva• Como, em geral, quan<strong>do</strong> se suspeita de raiva humana os <strong>do</strong>entes são hospitaliza<strong>do</strong>s,impõe-se a consulta <strong>do</strong> prontuário e a entrevista ao médico assistente para completaras informações clínicas sobre o paciente. Estas informações servirão para definirse o quadro apresenta<strong>do</strong> é compatível com a <strong>do</strong>ença;• Sugere-se fazer uma cópia da anamnese, exame físico e evolução <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente, comvistas ao enriquecimento das análises e, também, para que possam servir como instrumentode aprendizagem <strong>do</strong>s profissionais <strong>do</strong> nível local;• Verificar data, local e mo<strong>do</strong> de ocorrência da exposição, tipo e localização, históriade tratamento profilático anterior e atual, data de início <strong>do</strong>s sintomas, coleta e enviode material para diagnóstico laboratorial, critério de confirmação de caso, observação<strong>do</strong> animal, espécie, história de vacinação e outras informações de acor<strong>do</strong> com asituação de cada caso. Se não houve tratamento atual, identificar as razões;• Acompanhar a evolução <strong>do</strong>s pacientes e os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames laboratoriais específicos.Para identificação da área de transmissão – no local de ocorrência da exposição,identificar fatores de risco como baixa cobertura vacinal canina, presença de cães errantes,regime de criação de cães (com proprietário restrito, parcialmente restrito, com mais de umproprietário), presença de casos suspeitos ou confirma<strong>do</strong>s de raiva animal e outros elementosque possam determinar o grau de risco de disseminação. Avaliar o acidente quanto àscausas que o motivaram, méto<strong>do</strong>s de manutenção para a observação <strong>do</strong> animal no <strong>do</strong>micílio,cuida<strong>do</strong>s e prevenção de <strong>do</strong>enças com o animal e riscos de contaminação a que foiexposto em perío<strong>do</strong>s de até 180 dias antes.Providências necessárias:• buscar, no provável local de infecção e em um raio de até 5km, pessoas e outrosanimais que foram expostos ao mesmo animal agressor ou a outros suspeitos;• verificar o acesso <strong>do</strong>s expostos aos serviços de saúde e realizar busca ativa <strong>do</strong>s faltosose/ou aban<strong>do</strong>nos de tratamento profilático anti-rábico humano;• notificar os casos positivos em animais ao serviço de controle de raiva (vigilânciaepidemiológica, centros de controle de zoonozes e agricultura), para controle defocos e outras ações pertinentes;• analisar a situação epidemiológica da área de abrangência, visan<strong>do</strong> impedir a ocorrênciade novos casos.Nos casos de suspeita de raiva humana transmitida por morcegos hematófagos, recomenda-seobservar os seguintes fatores:• presença de mordeduras em animais e humanos;• existência de circulação viral;• aparecimento de casos humanos de encefalite;• existência de pequena população de animais de criação (bovinos, equídeos, etc.);• presença de áreas de desmatamento ou reflorestamento;• presença de moradias sem proteção adequada;610 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Raiva• novos assentamentos urbanos e rurais, regiões de garimpo, áreas com projetos deexploração de madeira e outras culturas;• proximidade de povoa<strong>do</strong>s com matas florestais;• ocorrência de baixos indica<strong>do</strong>res socioeconômicos.Para determinação da extensão da área de risco• Em áreas silvestres – sen<strong>do</strong> a fonte de infecção da espécie quiróptera (morcegos),determinar a extensão da ação de bloqueio em um raio de até 12km.• Em áreas urbanas – para cães e gatos, determinar a extensão da ação de bloqueioem um raio de até 5km.Lembrar que a identificação da área onde se deu a transmissão é de fundamental importânciapara nortear a continuidade <strong>do</strong> processo de investigação e a extensão dasmedidas de controle imediatas.6Coleta e remessa de amostra para diagnóstico• Logo após a suspeita clínica de raiva, deve-se orientar sobre a coleta de amostra paralaboratório. Quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> óbito, é imprescindível coletar e enviar amostras <strong>do</strong> cérebro,cerebelo, tronco encefálico e medula ao laboratório, para confirmação <strong>do</strong> caso, deacor<strong>do</strong> com as normas técnicas apresentadas no tópico Definição de caso, observan<strong>do</strong>-secriteriosamente todas as recomendações.• É da responsabilidade <strong>do</strong>s profissionais da vigilância epidemiológica e/ou <strong>do</strong>s laboratórioscentrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo proceder a essas coletas.Não se deve aguardar os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s testes laboratoriais para desencadear as medidasde controle e outras atividades da investigação, embora sejam imprescindíveispara a confirmação de casos e para nortear o encerramento das investigações.RAnálise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sIdentificar as falhas da vigilância epidemiológica, assistência e <strong>do</strong>s serviços de saúdeque propiciaram a ocorrência de caso humano e em animais <strong>do</strong>mésticos. Observar a distribuiçãotemporal e geográfica <strong>do</strong>s casos, localização e data das ocorrências, sexo, idade,ocupação, zona urbana ou rural, natureza da agressão, espécie agressora, história de vacinaçãoe outros da<strong>do</strong>s de interesse para cada localidade. A análise destes da<strong>do</strong>s deverá orientaro desencadeamento, duração e extensão das ações de controle desenvolvidas e posterioravaliação de sua adequação.Encerramento de casosConfirma<strong>do</strong> por critério clínico-laboratorial (isolamento viral, sorologia ou histopatologia)– pacientes com sintomatologia compatível, na qual a imunofluorescência ouexame histopatológico ou a inoculação em camun<strong>do</strong>ngos foi positiva para raiva.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS611


RaivaConfirma<strong>do</strong> por critério clínico-epidemiológico – paciente com sintomatologiacompatível, cujo histórico permite realizar vínculo epidemiológico entre o caso suspeito e aregião de ocorrência, com comprovada circulação <strong>do</strong> vírus rábico, que selaria o diagnósticode raiva.Caso descarta<strong>do</strong> – caso notifica<strong>do</strong> cujos resulta<strong>do</strong>s de exames laboratoriais foram negativos,afastan<strong>do</strong> a hipótese de raiva, ou pacientes com evolução incompatível com raiva.Relatório finalOs da<strong>do</strong>s da investigação deverão ser consolida<strong>do</strong>s em um relatório com as principaisconclusões, das quais destacam-se:• intervenção sobre a fonte de infecção: da<strong>do</strong>s de cobertura vacinal animal, bloqueiosde foco, número de animais captura<strong>do</strong>s, animais submeti<strong>do</strong>s à eutanásia, envio deamostras ao laboratório, ações educativas e mobilização comunitária;• da<strong>do</strong>s pessoais: sexo, idade, ocupação, zona urbana ou rural;• antecedentes epidemiológicos: tipo da exposição (arranhadura, mordedura, lambedura,contato indireto), localização (mucosa, cabeça/pescoço, mãos/pés, tronco,membros superiores/inferiores), tipo de ferimento (único, múltiplo, superficial, profun<strong>do</strong>,dilacerante), espécie <strong>do</strong> animal agressor e data da exposição;• da<strong>do</strong>s de atendimento: hospitalização (avaliação da qualidade <strong>do</strong> atendimento aopaciente), vacinação e/ou sorovacinação, número de <strong>do</strong>ses aplicadas e data de iníciode tratamento;• exames laboratoriais: tipo de exame realiza<strong>do</strong> e resulta<strong>do</strong>s;• encerramento de caso.Instrumentos disponíveis para controleA prevenção de raiva humana é direcionada para o tratamento profilático anti-rábicotoda vez que houver suspeita de exposição ao vírus rábico. Após o início <strong>do</strong> quadroclínico não existe tratamento que forneça resulta<strong>do</strong>s satisfatórios.Conduta em caso de possível exposição ao vírus da raivaEm caso de possível exposição ao vírus da raiva é imprescindível a limpeza <strong>do</strong> ferimentocom água corrente abundante e sabão, ou outro detergente, pois essa conduta diminui,comprovadamente, o risco de infecção. Deve ser realizada o mais rápi<strong>do</strong> possível apósa agressão e repetida na unidade de saúde, independentemente <strong>do</strong> tempo transcorri<strong>do</strong>. Alimpeza deve ser cuida<strong>do</strong>sa, visan<strong>do</strong> eliminar as sujidades sem agravar o ferimento e, emseguida, devem ser utiliza<strong>do</strong>s antissépticos que inativem o vírus da raiva (como o livinilpirroli<strong>do</strong>na-io<strong>do</strong>,por exemplo, o polvidine ou gluconato de clorexidine ou álcool-ioda<strong>do</strong>).Lembrar que essas substâncias deverão ser utilizadas uma única vez, na primeira consulta,e sempre que possível, posteriormente, a região deve ser lavada com solução fisiológica.612 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RaivaRoteiro de investigação epidemiológica da raiva humanaNotificação de Caso Humano SuspeitoInvestigaçãoDeterminar ciclo detransmissão e localprovável de infecçãoColeta de da<strong>do</strong>sBusca ativa de casosem outros animaisDa<strong>do</strong>s clínicos eepidemiológicosOutro caso Sem casoUrbano SilvestreClínicosHistóricode vacinaçãoAntecedentesepidemiológicosApós o óbito,coletar materialEncerrarinvestigaçãoIniciarinvestigaçãoQuirópteros OutrasespéciesResulta<strong>do</strong><strong>do</strong>s examesBloqueio(raio de até 5km)Educação sanitária,Vigilância laboratorialNotificar unidadelocal de DSA*PositivoNegativoBusca ativa depessoas expostasMobilizaçãocomunitáriaVigilâncialaboratorial(6 mesesno mínimo)Capturae eutanásiade animaisVacinaçãode cães e gatoscasa a casaBusca ativa depessoas e animaisagredi<strong>do</strong>sConfirmao casoDescartaro casoEducaçãoem saúdeEncerraro casoAtender emconjunto com a DSAAvaliar**Educaçãoem saúdeIdentificaçãode abrigos econtrole dapopulação demorcegosVacinação<strong>do</strong> animalde bloqueioBusca ativade pessoasagredidas*DSA: Defesa Sanitária Animal.**Avaliar se as estratégias de prevenção, vigilância e controle a<strong>do</strong>tadas são suficientes.Avaliar**6RSecretaria de Vigilância em Saúde / MS613


RaivaDeve-se fazer anamnese completa, utilizan<strong>do</strong>-se a ficha de atendimento anti-rábicohumano, visan<strong>do</strong> à indicação correta <strong>do</strong> tratamento profilático.Classificar o acidente de acor<strong>do</strong> com as seguintes características <strong>do</strong> ferimento e <strong>do</strong>animal envolvi<strong>do</strong> no acidente:Características <strong>do</strong> ferimentoEm relação à transmissão <strong>do</strong> vírus da raiva, os acidentes causa<strong>do</strong>s por animais devemser avalia<strong>do</strong>s quanto ao:Local <strong>do</strong> acidente – acidentes que ocorrem em regiões próximas ao sistema nervosocentral (cabeça, face ou pescoço) ou em locais muito inerva<strong>do</strong>s (mãos, polpas digitais eplanta <strong>do</strong>s pés) são graves porque facilitam a exposição <strong>do</strong> sistema nervoso ao vírus. Alambedura da pele íntegra não oferece risco, mas a lambedura de mucosas também é graveporque as mesmas são permeáveis ao vírus, mesmo quan<strong>do</strong> intactas, e também porque aslambeduras, geralmente, abrangem áreas mais extensas.Profundidade <strong>do</strong> acidente – os acidentes devem ser classifica<strong>do</strong>s como superficiais(sem presença de sangramento) ou profun<strong>do</strong>s (apresentam sangramento, ou seja, ultrapassama derme). Os ferimentos profun<strong>do</strong>s, além de aumentar o risco de exposição <strong>do</strong> sistemanervoso, oferecem dificuldades à assepsia. Mas vale ressaltar que os ferimentos puntiformessão considera<strong>do</strong>s como profun<strong>do</strong>s e algumas vezes não apresentam sangramento.Extensão e número de lesões – deve-se observar a extensão da lesão e se ocorreu apenasuma única lesão ou múltiplas, ou seja, uma porta de entrada ou várias.De acor<strong>do</strong> com os critérios acima estabeleci<strong>do</strong>s, as exposições podem ser assim classificadas:Acidentes leves• ferimentos superficiais, pouco extensos, geralmente únicos, em tronco e membros(exceto mãos, polpas digitais e planta <strong>do</strong>s pés); podem acontecer em decorrência demordeduras ou arranhaduras causadas por unha ou dente;• lambedura de pele com lesões superficiais.Acidentes graves• ferimentos na cabeça, face, pescoço, mão, polpa digital e/ou planta <strong>do</strong> pé;• ferimentos profun<strong>do</strong>s, múltiplos ou extensos, em qualquer região <strong>do</strong> corpo;• lambeduras de mucosas;• lambeduras de pele onde já existe lesão grave;• ferimentos profun<strong>do</strong>s causa<strong>do</strong>s por unha de gato;• quaisquer ferimentos causa<strong>do</strong>s por morcego.AtençãoO contato indireto, como a manipulação de utensílios potencialmente contamina<strong>do</strong>s,e a lambedura na pele íntegra não são considera<strong>do</strong>s acidentes de risco e não exigemtratamento profilático.614 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RaivaCaracterísticas <strong>do</strong> animal envolvi<strong>do</strong> no acidenteCão e gato – as características da <strong>do</strong>ença em cães e gatos, como perío<strong>do</strong> de incubação,transmissão e quadro clínico, são bem conhecidas e semelhantes. Por esta razão estes animaissão analisa<strong>do</strong>s em conjunto, nos seguintes elementos:• esta<strong>do</strong> de saúde <strong>do</strong> animal no momento da agressão – avaliar se o animal estavasadio ou apresentava sinais sugestivos de raiva. A maneira como ocorreu o acidentepode fornecer informações sobre seu esta<strong>do</strong> de saúde. O acidente provoca<strong>do</strong> (porexemplo, o animal que reage em defesa própria, a estímulos <strong>do</strong>lorosos ou outras provocações)geralmente indica uma reação normal <strong>do</strong> animal, enquanto que a agressãoespontânea (sem causa aparente) pode indicar alteração <strong>do</strong> comportamento e sugereque o animal pode estar acometi<strong>do</strong> de raiva. Lembrar que o animal também podeagredir devi<strong>do</strong> à sua ín<strong>do</strong>le ou adestramento;• possibilidade de observação <strong>do</strong> animal por 10 dias – mesmo se o animal estiversadio no momento <strong>do</strong> acidente, é importante que seja manti<strong>do</strong> em observação por10 dias. Nos cães e gatos, o perío<strong>do</strong> de incubação da <strong>do</strong>ença pode variar de algunsdias a anos, mas em geral é de cerca de 60 dias. No entanto, a excreção de vírus pelasaliva, ou seja, o perío<strong>do</strong> em que o animal pode transmitir a <strong>do</strong>ença, só ocorre apartir <strong>do</strong> final <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de incubação, varian<strong>do</strong> entre <strong>do</strong>is e cinco dias antes <strong>do</strong>aparecimento <strong>do</strong>s sinais clínicos, persistin<strong>do</strong> até sua morte, que pode ocorrer em atécinco dias após o início <strong>do</strong>s sintomas. Portanto, o animal deve ser observa<strong>do</strong> por 10dias; se em to<strong>do</strong> esse perío<strong>do</strong> permanecer vivo e saudável, não há risco de transmissão<strong>do</strong> vírus;• procedência <strong>do</strong> animal – é necessário saber se a região de procedência <strong>do</strong> animal éárea de raiva controlada ou não controlada;• hábitos de vida <strong>do</strong> animal – o animal deve ser classifica<strong>do</strong> como <strong>do</strong>micilia<strong>do</strong> ounão-<strong>do</strong>micilia<strong>do</strong>. Animal <strong>do</strong>micilia<strong>do</strong> é o que vive exclusivamente dentro <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio,não tem contato com outros animais desconheci<strong>do</strong>s e só sai à rua acompanha<strong>do</strong><strong>do</strong> seu <strong>do</strong>no. Desse mo<strong>do</strong>, esses animais podem ser classifica<strong>do</strong>s como de baixorisco em relação à transmissão da raiva. Ao contrário, aqueles animais que passamlongos perío<strong>do</strong>s fora <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio, sem controle, devem ser considera<strong>do</strong>s como animaisde risco, mesmo que tenham proprietário e recebam vacinas, o que geralmentesó ocorre nas campanhas de vacinação.6RAnimais silvestres – morcego de qualquer espécie, micos (sagüi e “soin”), macaco,raposa, guaxinim, quati, gambá, roe<strong>do</strong>res silvestres, etc. devem ser classifica<strong>do</strong>s como animaisde risco, mesmo que <strong>do</strong>micilia<strong>do</strong>s e/ou <strong>do</strong>mestica<strong>do</strong>s, haja vista que nesses animais apatogenia da raiva não é bem conhecida.Relatos recentes mostram que o risco de transmissão <strong>do</strong> vírus pelo morcego é sempreeleva<strong>do</strong>, independentemente da espécie e gravidade <strong>do</strong> ferimento. Por isso, todaagressão por morcego deve ser classificada como grave.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS615


RaivaAnimais <strong>do</strong>mésticos de interesse econômico ou de produção – bovinos, bubalinos,eqüídeos, caprinos, ovinos, suínos e outros também são animais de risco. É importanteconhecer o tipo, freqüência e grau <strong>do</strong> contato ou exposição que os trata<strong>do</strong>res e outros profissionaistêm com estes animais, e a incidência da raiva na região, para avaliar a indicaçãode tratamento pré ou pós-exposição.Animais de baixo risco – os seguintes roe<strong>do</strong>res e lagomorfos (áreas urbanas ou decriação) são considera<strong>do</strong>s como de baixo risco para a transmissão da raiva e, por isto, nãoé necessário indicar tratamento profilático da raiva em caso de acidentes causa<strong>do</strong>s pelosmesmos:• ratazana-de-esgoto (Rattus norvegicus);• rato-de-telha<strong>do</strong> (Rattus rattus);• camun<strong>do</strong>ngo (Mus musculus);• cobaia ou porquinho-da-índia (Cavea porcellus);• hamster (Mesocricetus auratus);• coelho (Oryetolagus cuniculus).Observação válida para to<strong>do</strong>s os animais de risco: sempre que possível, coletar amostrade teci<strong>do</strong> cerebral e enviar para o laboratório de diagnóstico. O diagnóstico laboratorialé importante tanto para definir a conduta em relação ao paciente como para se conhecer orisco de transmissão da <strong>do</strong>ença na área de procedência <strong>do</strong> animal. Se o resulta<strong>do</strong> for negativo,o tratamento não precisa ser indica<strong>do</strong> ou, caso tenha si<strong>do</strong> inicia<strong>do</strong>, pode ser suspenso.Todas as características acima são fundamentais para determinar a indicação ou nãoda profilaxia anti-rábica de acor<strong>do</strong> com os esquema descrito no Quadro 1 da vacinade cultivo celular.Conduta em caso de possível reexposição ao vírus da raivaPessoas com risco de reexposição ao vírus da raiva, que já tenham recebi<strong>do</strong> tratamentopós-exposição anteriormente, devem ser tratadas novamente de acor<strong>do</strong> com as indicações<strong>do</strong> Quadro 2. Para estas pessoas, quan<strong>do</strong> possível, também é recomendável a pesquisa deanticorpos.Observações: em caso de reexposição, com história de tratamento anterior completo,não é necessário administrar o soro anti-rábico (homólogo ou heterólogo). No entanto, osoro poderá ser indica<strong>do</strong> se houver dúvidas ou conforme a análise de cada caso, especialmentenos pacientes imunodeprimi<strong>do</strong>s que devem receber sistematicamente soro e vacina.Recomenda-se que, ao final <strong>do</strong> tratamento, seja realizada a avaliação sorológica após o 14ºdia da aplicação da última <strong>do</strong>se.Devem ser avalia<strong>do</strong>s, individualmente, os pacientes que receberam muitas <strong>do</strong>ses devacina, como, por exemplo, os que receberam mais de uma vez o esquema completo de616 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Raivapós-exposição e vários esquemas de re-exposição. O risco de reações adversas às vacinasaumenta proporcionalmente ao número de <strong>do</strong>ses aplicadas. Nestes casos, se possível, solicitara avaliação sorológica <strong>do</strong> paciente. Se o título de anticorpos neutralizantes (AcN) forigual ou maior a 0,5UI/ml, não é necessário indicar tratamento ou, caso tenha si<strong>do</strong> inicia<strong>do</strong>,pode ser suspenso.ImportanteEm caso de reexposição com histórico de tratamento anterior completo e se o animalagressor, cão ou gato, for passível de observação, considerar a hipótese de somenteobservar o animal.Quan<strong>do</strong> o paciente tiver o esquema de pré-exposição, em qualquer momento, a<strong>do</strong>tarconduta conforme o Quadro 3.Conduta em caso de possível exposição ao vírus da raivaem pacientes que receberam esquema de pré-exposiçãoO Quadro 3 indica os procedimentos a serem a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s para pacientes que, acidentalmente,se expuseram ao risco de infecção pelo vírus da raiva e que tenham recebi<strong>do</strong> tratamentopré-exposição anteriormente.Considerar as notas de rodapé <strong>do</strong> Quadro 2, caso o esquema recebi<strong>do</strong> anteriormentetenha si<strong>do</strong> incompleto.6Profilaxia pré-exposiçãoÉ indicada para pessoas que, por força de suas atividades profissionais ou de lazer,estejam expostas permanentemente ao risco de infecção pelo vírus da raiva, tais como profissionaise estudantes das áreas de medicina veterinária e de biologia e profissionais e auxiliaresde laboratórios de virologia e/ou anatomia patológica para raiva. É indicada, também,para aqueles que atuam no campo na captura, vacinação, identificação e classificação demamíferos passíveis de portarem o vírus, bem como funcionários de zoológicos.RCom a vacina de cultivo celularEsquema: 3 <strong>do</strong>ses.Dias de aplicação: 0, 7, 28.Via de administração e <strong>do</strong>se: intramuscular profunda, utilizan<strong>do</strong> <strong>do</strong>se completa; ouhaven<strong>do</strong> capacitação técnica, por via intradérmica, utilizan<strong>do</strong> a <strong>do</strong>se de 0,1ml.Local de aplicação: músculo deltóide ou vasto lateral da coxa (não aplicar em glúteo).Controle sorológico: a partir <strong>do</strong> 14º dia após a última <strong>do</strong>se <strong>do</strong> esquema.Resulta<strong>do</strong>s:• insatisfatório – se o título de anticorpos for menor <strong>do</strong> que 0,5 UI/ml. Nesse caso,aplicar uma <strong>do</strong>se de reforço e reavaliar a partir <strong>do</strong> 14º dia após o reforço;• satisfatório – se o título de anticorpos for maior ou igual a 0,5 UI/ml.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS617


RaivaQuadro 1. Esquema para tratamento profilático anti-rábico humano com a vacinade cultivo celularCondições <strong>do</strong>animal agressor 1Cão ou gato semsuspeita de raiva nomomento da agressãoCão ou gato clinicamentesuspeito de raiva nomomento da agressãoCão ou gato raivoso,desapareci<strong>do</strong> ou morto;Animais silvestres(inclusive os <strong>do</strong>micilia<strong>do</strong>s) 2Animais <strong>do</strong>mésticos de interesseeconômico ou de produçãoTipo de exposiçãoContato indiretoLavar com água e sabãoNão tratarLavar com água e sabãoNão tratarLavar com água e sabãoNão tratarAcidentes levesFerimentos superficiais,pouco extensos, geralmenteúnicos, em troncoe membros (excetomãos, polpas digitais eplanta <strong>do</strong>s pés);Podem acontecer emdecorrência de mordedurasou arranhadurascausadas por unha oudente;Lambedura de pele comlesões superficiaisLavar com água e sabãoObservar o animal durante10 dias após a exposiçãoSe o animal permanecersadio no perío<strong>do</strong> de obser vação,encerrar o casoSe o animal morrer,desaparecer ou se tornar raivoso,administrar5 <strong>do</strong>ses de vacina(dias 0, 3, 7, 14 e 28)Lavar com água e sabão.Iniciar tratamento com duas<strong>do</strong>ses, uma no dia 0 e outrano dia 3Observar o animal durante10 dias após a exposiçãoSe a suspeita de raiva fordescartada após o 10º dia deobservação, suspender o tratamentoe encerrar o casoSe o animal morrer, desaparecerou se tornar raivoso, completaro esquema até 5 <strong>do</strong>ses. Aplicaruma <strong>do</strong>se entre o 7º e o 10º diae uma <strong>do</strong>se nos dias 14 e 28Lavar com água e sabão.Iniciar imediatamente otratamento com 5 (cinco)<strong>do</strong>ses de vacina administradasnos dias 0, 3, 7, 14 e 28Acidentes gravesFerimentos na cabeça,face, pescoço, mão,polpa digital e/ouplanta <strong>do</strong> pé;Ferimentos profun<strong>do</strong>s,múltiplos ou extensos,em qualquer região <strong>do</strong>corpo;Lambedura de mucosas;Lambedura de pele ondejá existe lesão grave;Ferimento profun<strong>do</strong>causa<strong>do</strong> por unhade gato.Lavar com água e sabãoObservar o animal durante10 dias após exposiçãoIniciar tratamento com duas<strong>do</strong>ses: uma no dia 0 e outra nodia 3.Se o animal permanecer sadio noperío<strong>do</strong> de obser vação, encerraro casoSe o animal morrer, desapa recerou se tornar raivoso, dar continuidadeao tratamento, administran<strong>do</strong>o soro 3 e completan<strong>do</strong> o esquemaaté 5 (cinco) <strong>do</strong>ses. Aplicaruma <strong>do</strong>se entre o 7º e o 10º dia euma <strong>do</strong>se nos dias 14 e 28Lavar com água e sabão.Iniciar o tratamento com soro 3e 5 <strong>do</strong>ses de vacina nos dias 0,3, 7, 14 e 28Observar o animal durante10 dias após a exposiçãoSe a suspeita de raiva fordescartada após o 10º dia deobservação, suspender o tratamentoe encerrar o casoLavar com água e sabãoIniciar imediatamente otratamento com soro 3 e 5<strong>do</strong>ses de vacina nos dias 0,3, 7, 14 e 281. É preciso sempre avaliar os hábitos e cuida<strong>do</strong>s recebi<strong>do</strong>s pelo cão e gato. Podem ser dispensadas <strong>do</strong> tratamentoas pessoas agredidas por cão ou gato que, com certeza, não têm risco de contrair a infecção rábica. Por exemplo,animais que vivem dentro <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio (exclusivamente), não têm contato com outros animais desconheci<strong>do</strong>s eque somente saem às ruas acompanha<strong>do</strong>s de seus <strong>do</strong>nos, que não circulem em área com a presença de morcegoshematófagos.Em caso de dúvida, iniciar o esquema de profilaxia indica<strong>do</strong>. Se o animal for procedente de área de raiva controlada,não é necessário iniciar o tratamento. Manter o animal sob observação e só indicar o tratamento (soro + vacina)se o animal morrer, desaparecer ou se tornar raivoso.2. Nas agressões por morcegos, deve-se indicar a soro-vacinação independente da gravidade da lesão, ou indicarconduta de reexposição.3. Aplicação <strong>do</strong> soro perifocal na(s) porta(s) de entrada. Quan<strong>do</strong> não for possível infiltrar toda a <strong>do</strong>se, a quantidaderestante deve ser aplicada pela via intramuscular, poden<strong>do</strong> ser utilizada a região glútea. Sempre aplicar em localanatômico diferente <strong>do</strong> que aplicou a vacina.618 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RaivaQuadro 2. Esquemas de reexposição, conforme o esquema e vacina prévios e a vacinaa ser utilizada por ocasião da reexposiçãoTipo de esquemaCompletoVacinaCultivo celularEsquema de reexposiçãoCultivo celulara) até 90 dias: não tratarb) após 90 dias: duas <strong>do</strong>ses, uma no dia 0 e outra no dia 3Incompleto 2 Cultivo celular 1 b) após 90 dias: ver esquema de pós-exposição (conformea) até 90 dias: completar o número de <strong>do</strong>seso caso)1. Pelo menos duas <strong>do</strong>ses de vacina de cultivo celular em dias alterna<strong>do</strong>s;2. Não considerar o esquema anterior se o paciente recebeu número menor de <strong>do</strong>ses <strong>do</strong> que aqueles referi<strong>do</strong>snas notas acima.Quadro 3. Conduta em caso de possível exposição ao vírus da raiva em pacientes quereceberam esquema de pré-exposição6Sorologia comprovada (titulação)Com comprovação sorológica(título maior ou igual a 0,5UI/ml).Sem comprovação sorológicaou titulo inferior a 0,5UI/mlVacinaCultivo celularDuas <strong>do</strong>ses: uma no dia 0 e outra no dia 3Verificar o Quadro 2, em caso de esquema vacinal incompletoObservação: o controle sorológico é exigência básica para a correta avaliação da pessoa vacinada.ImportanteDeve-se fazer o controle sorológico anual <strong>do</strong>s profissionais que se expõem permanentementeao risco de infecção ao vírus da raiva, administran<strong>do</strong>-se uma <strong>do</strong>se de reforçosempre que os títulos forem inferiores a 0,5 UI/ml. Repetir a sorologia a partir <strong>do</strong> 14ºdia, após a <strong>do</strong>se de reforço.RVacinaVacina de cultivo celularSão vacinas mais potentes, seguras e isentas de risco. São produzidas em cultura decélulas (diplóides humanas, células Vero, células de embrião de galinha, etc.) com cepas devírus Pasteur (PV) ou Pittman-Moore (PM) inativa<strong>do</strong>s pela betapropiolactona. São apresentadassob a forma liofilizada, acompanhadas de diluente; devem ser conservadas emgeladeira, fora <strong>do</strong> congela<strong>do</strong>r, na temperatura entre + 2ºC a + 8ºC, até o momento de suaaplicação, observan<strong>do</strong> o prazo de validade <strong>do</strong> fabricante. A potência mínima destas vacinasé 2,5 UI/<strong>do</strong>se.Dose e via de aplicação – são apresentadas nas <strong>do</strong>ses de 0,5ml e 1ml, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong>fabricante (verificar embalagem e/ou lote). A <strong>do</strong>se indicada pelo fabricante independe daSecretaria de Vigilância em Saúde / MS619


Raivaidade e <strong>do</strong> peso <strong>do</strong> paciente. A via de aplicação recomendada é a intramuscular, na região<strong>do</strong> deltóide ou vasto lateral da coxa. Em crianças até 2 anos de idade, está indica<strong>do</strong> o vastolateral da coxa. A vacina não deve ser aplicada na região glútea.Contra-indicação – a vacina não tem contra-indicação (gravidez, mulheres lactantes,<strong>do</strong>ença intercorrente ou outros tratamentos). Sempre que possível, recomenda-se a interrupção<strong>do</strong> tratamento com corticóides e/ou imunossupressores ao iniciar o esquema devacinação. Não sen<strong>do</strong> possível, tratar a pessoa como imunodeprimida.Eventos adversos – as manifestações adversas relatadas com maior freqüência são reaçãolocal, febre, mal-estar, náuseas e cefaléia. Não há relato de ocorrência de óbito associa<strong>do</strong>ao uso da vacina de cultivo celular.A freqüência de reações neurológicas associadas a esta vacina, citada na literaturacientífica, é baixa. De acor<strong>do</strong> com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até junho de1996 haviam si<strong>do</strong> relata<strong>do</strong>s seis casos de reações neurológicas temporalmente associadas àvacina. Em cinco foram registra<strong>do</strong>s quadros de fraqueza ou parestesia, sen<strong>do</strong> que em um<strong>do</strong>s pacientes ocorreu déficit muscular permanente <strong>do</strong> músculo deltóide. O sexto pacienteapresentou quadro neurológico semelhante ao de esclerose múltipla. A incidência de manifestaçõesneurológicas, consideran<strong>do</strong>-se to<strong>do</strong>s estes casos como realmente provoca<strong>do</strong>s pelavacina, é de cerca de 1 para cada 500 mil pacientes trata<strong>do</strong>s.Nos EUA, a incidência de reações alérgicas notificadas à vacina de células diplóides foide 11 casos por 10 mil pacientes trata<strong>do</strong>s (0,11%). As reações variam de urticária a anafilaxiae ocorrem principalmente após as <strong>do</strong>ses de reforço; em 1/10 mil tratamentos é registradareação anafilática <strong>do</strong> tipo I; a maioria das reações, 10/10 mil, é de hipersensibilidade <strong>do</strong>tipo III. A evolução é boa e a maioria <strong>do</strong>s pacientes não necessita internação hospitalar.SorosSoro heterólogoO soro heterólogo é uma solução concentrada e purificada de anticorpos, preparadaem eqüídeos imuniza<strong>do</strong>s contra o vírus da raiva. Deve ser conserva<strong>do</strong> em geladeira, entre+2º a +8ºC, observan<strong>do</strong> o prazo de validade <strong>do</strong> fabricante.A <strong>do</strong>se indicada é de 40 UI/kg de peso <strong>do</strong> paciente. Deve-se infiltrar nas lesões a maiorquantidade possível da <strong>do</strong>se <strong>do</strong> soro. Quan<strong>do</strong> a lesão for extensa e múltipla, a <strong>do</strong>se pode serdiluída em soro fisiológico, para que todas as lesões sejam infiltradas. Caso a região anatômicanão permita a infiltração de toda a <strong>do</strong>se, a quantidade restante, a menor possível, deveser aplicada por via intramuscular, na região glútea.Quan<strong>do</strong> não se dispuser <strong>do</strong> soro ou de sua <strong>do</strong>se total, aplicar inicialmente a partedisponível. Iniciar imediatamente a vacinação e administrar o restante da <strong>do</strong>se de soro recomendadaantes da 3ª <strong>do</strong>se da vacina de cultivo celular. Após esse prazo, o soro não é maisnecessário.O uso <strong>do</strong> soro não é necessário quan<strong>do</strong> o paciente recebeu tratamento completo anteriormente.No entanto, em situações especiais, como pacientes imunodeprimi<strong>do</strong>s ou dúvidascom relação ao tratamento anterior, se houver indicação o soro deve ser recomenda<strong>do</strong>.620 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RaivaEventos adversos – os soros atualmente produzi<strong>do</strong>s são seguros mas podem causareventos adversos, como qualquer imunobiológico. As reações mais comuns são benignas,fáceis de tratar e apresentam boa evolução. A possibilidade de ocorrência destas reaçõesnunca contra-indica a prescrição <strong>do</strong> soro.Eventos adversos que podem ocorrer após a administração <strong>do</strong> soro heterólogo:• manifestações locais – <strong>do</strong>r, edema e hiperemia e, mais raramente, presença de abscesso.São as manifestações mais comuns, normalmente de caráter benigno.Conduta: não é necessário notificar. Deve ser feito tratamento local, com o objetivode diminuir a <strong>do</strong>r, a tumefação e a vermelhidão.• manifestações imediatas – choque anafilático. Manifestação rara que pode ocorrernas primeiras duas horas após a aplicação. Os sintomas mais comuns são formigamentonos lábios, palidez, dispnéia, edemas, exantemas, hipotensão e perda deconsciência.Conduta: notificar e investigar. Substituir o soro por imunoglobulina anti-rábica.Cuida<strong>do</strong> intensivo.6• manifestações tardias: ocorrem com mais freqüência até a segunda semana após aaplicação <strong>do</strong> soro.❯ Doença <strong>do</strong> soro – caracterizada por edema e eritema no local de aplicação <strong>do</strong>soro, febre, mioartralgia (poliartrite serosa), astenia, cefaléia, su<strong>do</strong>rese, desidratação,exantema com máculas e pápulas pruriginosas, infartamento e inflamaçõesganglionar e, mais raramente, vasculite e nefrite.❯ Reação de Arthus – caracterizada por vasculite local acompanhada de necrose,<strong>do</strong>r, tumefação, rubor e úlceras profundas. Também é um quadro muito raro.Conduta: notificar e investigar. Deve ser feito acompanhamento clínico por serviçoespecializa<strong>do</strong>.RCom o conhecimento existente na literatura disponível e pela experiência acumulada,é possível inferir que o teste de sensibilidade ao soro heterólogo tem valor preditivobaixo e por isso não é indica<strong>do</strong>. A conduta mais importante antes de sua administraçãoé rigoroso interrogatório sobre os antecedentes <strong>do</strong> paciente, avalian<strong>do</strong>:• ocorrência e gravidade de quadros anteriores de hipersensibilidade;• uso prévio de imunoglobulinas de origem eqüídea;• existência de contatos freqüentes com animais, principalmente com eqüídeos,por exemplo, nos casos de contato profissional (veterinário) ou por lazer.Em caso de resposta afirmativa a um <strong>do</strong>s itens anteriores, classificar o paciente comode risco e considerar a possibilidade de substituição <strong>do</strong> soro heterólogo pelo soro homólogo(imunoglobulina humana anti-rábica), se disponível. Caso não haja disponibilidade deSecretaria de Vigilância em Saúde / MS621


Raivasoro homólogo, aconselha-se a pré-medicação deste paciente antes da aplicação <strong>do</strong> soroheterólogo.Antes da administração <strong>do</strong> soro heterólogo, aconselha-se sempre a seguinte rotina,para qualquer paciente:• garantir bom acesso venoso, manten<strong>do</strong>-o com soro fisiológico a 0,9% (gotejamentolento);• dentro das possibilidades, é conveniente deixar prepara<strong>do</strong>:❯ laringoscópio com lâminas e tubos traqueais adequa<strong>do</strong>s para o peso e idade;❯ frasco de soro fisiológico e/ou solução de Ringer lacta<strong>do</strong>;❯ solução aquosa de adrenalina (preparada na diluição de 1:1 mil) e de aminofilina(10ml = 240mg).Após receber o soro heterólogo, o paciente deverá ser observa<strong>do</strong> pelo prazo de duashoras.Pré-medicação – na tentativa de prevenir ou atenuar possíveis reações adversas imediatasem pacientes de risco, podem ser utilizadas drogas bloquea<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s receptores H1 eH2 da histamina (anti-histamínicos) e um corticosteróide em <strong>do</strong>se anti-inflamatória:Eventos adversosManifestações locais – pode provocar reações de caráter benigno com <strong>do</strong>r, edema ehiperemia e, mais raramente, presença de abscesso.Conduta: não é necessário notificar. Deve ser feito tratamento local com o objetivode diminuir a <strong>do</strong>r, a tumefação e a vermelhidão.Manifestações imediatas – choque anafilático. Raro, mas pode ocorrer na administração<strong>do</strong> soro anti-rábico heterólogo. Nas primeiras duas horas após a aplicação, podemocorrer formigamento nos lábios, palidez, dispnéia, edemas, exantemas, hipotensão e perdada consciência.Conduta: notificar e investigar. Substituir o soro por imunoglobulina anti-rábica.Cuida<strong>do</strong> intensivo.Manifestações tardias• Doença <strong>do</strong> soro – febre, mioartralgia (poliartrite serosa), astenia, cefaléia, su<strong>do</strong>rese,desidratação, exantema com máculas e pápulas pruriginosas, infartamento e inflamações<strong>do</strong>s linfono<strong>do</strong>s, vasculite, nefrite.• Reação de Arthus – vasculite local acompanhada de necrose, <strong>do</strong>r, tumefação, rubor,necrose, úlceras profundas.Conduta: notificar e investigar. Deve ser feito acompanhamento clínico por serviçoespecializa<strong>do</strong>.622 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RaivaOpção 1. Via parenteralCriançasAdultosAntagonistas <strong>do</strong>s receptores H1 da histaminaMaleato de dextroclorfeniramina ouPrometazinaAntagonistas <strong>do</strong>s receptores H2 da histaminaCimetidina ouRanitidina0,08mg/kg0,5mg/kg10mg/kg1,5mg/kg5mg50mg300mg50mgCorticosteróide 10mg/kg 500mgA aplicação <strong>do</strong> soro anti-rábico heterólogo deverá ser realizada 20 a 30 minutos apósa aplicação da pré-medicação acima (esquema parenteral).Opção 2. Via oral6PosologiaDose máximaAntagonistas <strong>do</strong>s receptores H1Maleato de dextroclorfeniramina oral (xarope) 0,2mg/kg 5mgAntagonistas <strong>do</strong>s receptores H2Cimetidina ouRanitidinaCorticosteróideHidrocortisona (via venosa) ouDexametasona (fosfato) intramuscular20 a 30mg/kg1 a 2mg/kg10mg/kg2 ou 4mg400mg300mg1000mg20mgA aplicação <strong>do</strong> soro anti-rábico heterólogo deverá ser realizada aproximadamente2 horas após a aplicação da pré-medicação acima (esquema oral).ROpção 3. Esquema mistoPosologiaDose máximaAntagonistas <strong>do</strong>s receptores H1 - via oralMaleato de dextroclorfeniramina oral (xarope) 0,2mg/kg 5mgAntagonistas <strong>do</strong>s receptores H2 – parenteralCimetidina ouRanitidinaCorticosteróideHidrocortisona – intravenosa ouDexametasona – intramuscular10mg/kg3mg/kg10mg/kg2 ou 4mg300mg100mg1000mg20mgSecretaria de Vigilância em Saúde / MS623


RaivaImunoglobulina humana anti-rábica – Soro homólogoA imunoglobulina humana anti-rábica, uma solução concentrada e purificada de anticorpos,preparada a partir de hemoderiva<strong>do</strong>s de indivíduos imuniza<strong>do</strong>s com antígenorábico, é um produto mais seguro que o soro anti-rábico porém de produção limitada e, porisso, de baixa disponibilidade e alto custo. Deve ser conservada entre + 2° e + 8° C, protegidada luz, observan<strong>do</strong>-se o prazo de validade <strong>do</strong> fabricante.A <strong>do</strong>se indicada é de 20 UI/kg de peso. Deve-se infiltrar a maior quantidade possívelna(s) lesão(ões). Quan<strong>do</strong> a lesão for muito extensa e múltipla, a <strong>do</strong>se indicada pode ser diluídaem soro fisiológico para que todas as lesões sejam infiltradas. Caso a região anatômicanão permita a infiltração de toda a <strong>do</strong>se, a quantidade restante, a menor possível, deve seraplicada por via intramuscular, na região glútea.Eventos adversosManifestações locais – pode provocar reações de caráter benigno como <strong>do</strong>r, edema,eritema e, mais raramente, abscesso.Conduta: não é necessário notificar. Deve ser feito tratamento local com o objetivode diminuir a <strong>do</strong>r, a tumefação e a vermelhidão.Manifestações sistêmicas – leve esta<strong>do</strong> febril. Em presença de gama-globulinemia ouhipogamaglobulinemia pode ocorrer reação anafilática. Raramente, reação de hipersensibilidade.Conduta: notificar e investigar.Notas:• A imunoglobulina humana anti-rábica (soro homólogo) está disponível nos Centrosde Referência para Imunobiológicos Especiais (Cries) <strong>do</strong> Programa de Imunizaçõesdas secretarias de saúde <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s e <strong>do</strong> Distrito Federal.• Os eventos adversos ao soro anti-rábico humano (heterólogo ou homólogo) devemser investiga<strong>do</strong>s e notifica<strong>do</strong>s ao sistema de vigilância de eventos adversos <strong>do</strong> ProgramaEstadual de Imunizações da secretaria de saúde <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s ou <strong>do</strong> DistritoFederal.Aban<strong>do</strong>no de tratamentoO tratamento profilático anti-rábico humano deve ser garanti<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os dias, inclusivenos finais de semana e feria<strong>do</strong>s, até a última <strong>do</strong>se prescrita (esquema completo).É de responsabilidade <strong>do</strong> serviço de saúde que atende o paciente realizar busca ativaimediata daqueles que não comparecem nas datas agendadas para a aplicação de cada <strong>do</strong>seda vacina prescrita.As condutas indicadas para pacientes que não comparecem na data agendada estão aseguir descritas.624 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RaivaPaciente em uso da vacina de cultivo celular• No esquema recomenda<strong>do</strong> (dias 0, 3, 7, 14 e 28 ), as cinco <strong>do</strong>ses devem ser administradasno perío<strong>do</strong> de 28 dias a partir <strong>do</strong> início <strong>do</strong> tratamento.• Quan<strong>do</strong> o paciente faltar para a segunda <strong>do</strong>se: aplicar no dia que comparecer e agendara terceira <strong>do</strong>se com intervalo mínimo de 2 dias.• Quan<strong>do</strong> o paciente faltar para a terceira <strong>do</strong>se: aplicar no dia que comparecer e agendara quarta <strong>do</strong>se com intervalo mínimo de 4 dias.• Quan<strong>do</strong> o paciente faltar para a quarta <strong>do</strong>se: aplicar no dia que comparecer e agendara quinta <strong>do</strong>se para 14 dias após.Bases gerais <strong>do</strong> tratamento• A profilaxia contra a raiva deve ser iniciada o mais precocemente possível.• Sempre que houver indicação, tratar o paciente em qualquer momento, independentemente<strong>do</strong> tempo transcorri<strong>do</strong> entre a exposição e o acesso à unidade de saúde.• A história vacinal <strong>do</strong> animal agressor não constitui elemento suficiente para a dispensada indicação <strong>do</strong> tratamento anti-rábico humano.• Haven<strong>do</strong> interrupção <strong>do</strong> tratamento, completar as <strong>do</strong>ses da vacina prescritas anteriormentee não iniciar nova série.• Recomenda-se que o paciente evite esforços físicos excessivos e bebidas alcoólicasdurante e logo após o tratamento.• Em caso de acidente por vacina anti-rábica de vírus vivo, o paciente deve receberesquema completo (soro + vacina).• Não se indica o uso de soro anti-rábico para os pacientes considera<strong>do</strong>s imuniza<strong>do</strong>spor tratamento anterior, exceto nos casos de paciente imunodeprimi<strong>do</strong> ou em casode dúvidas sobre o tratamento anterior, quan<strong>do</strong> deve-se indicar o soro.• Nos casos em que só tardiamente se conhece a necessidade <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> soro antirábicoou quan<strong>do</strong> há qualquer impedimento para o seu uso, aplicar a <strong>do</strong>se de sororecomendada antes da aplicação ou até a 3ª <strong>do</strong>se da vacina de cultivo celular. Apósesse prazo o soro não é mais necessário.6RSobre o ferimento• Lavar imediatamente o ferimento com água corrente, sabão ou outro detergente.A seguir, devem ser utiliza<strong>do</strong>s antissépticos que inativem o vírus da raiva (comoo polvidine, clorexidine e álcool-ioda<strong>do</strong>). Essas substâncias deverão ser utilizadasuma única vez, na primeira consulta. Posteriormente, lavar a região com soluçãofisiológica.• A mucosa ocular deve ser lavada com solução fisiológica ou água corrente.• O contato indireto é aquele que ocorre por meio de objetos ou utensílios contamina<strong>do</strong>scom secreções de animais suspeitos. Nestes casos, indica-se apenas lavar bemSecretaria de Vigilância em Saúde / MS625


Raivao local com água corrente e sabão.• Em casos de lambedura na pele íntegra, por animal suspeito, recomenda-se lavar olocal com água e sabão.• Não se recomenda a sutura <strong>do</strong>s ferimentos. Quan<strong>do</strong> for absolutamente necessário,aproximar as bordas com pontos isola<strong>do</strong>s. Haven<strong>do</strong> necessidade de aproximar as bordas,o soro anti-rábico, se indica<strong>do</strong>, deverá ser infiltra<strong>do</strong> uma hora antes da sutura.• Proceder à profilaxia <strong>do</strong> tétano segun<strong>do</strong> o esquema preconiza<strong>do</strong> (caso não seja vacina<strong>do</strong>ou com esquema vacinal incompleto) e uso de antibióticos nos casos indica<strong>do</strong>s,após avaliação médica.• Haven<strong>do</strong> contaminação da mucosa, seguir o tratamento indica<strong>do</strong> para lambedurana mucosa.Sobre o animal• O perío<strong>do</strong> de observação de 10 (dez) dias é restrito aos cães e gatos.• Considera-se suspeito to<strong>do</strong> cão ou gato que apresentar mudança brusca de comportamentoe/ou sinais e sintomas compatíveis com a raiva, tais como salivaçãoabundante, dificuldade para engolir, mudança nos hábitos alimentares e paralisiadas patas traseiras.• Sempre que possível, o animal agressor, cão ou gato, deverá ser observa<strong>do</strong>. Se duranteo perío<strong>do</strong> de observação o animal morrer ou desenvolver sintomatologia compatívelcom raiva, amostras de seu sistema nervoso central (SNC) deverão ser enviadaspara o laboratório de diagnóstico. Se necessário, o animal deverá ser sacrifica<strong>do</strong> apóso aparecimento de sintomas de paralisia. Cuida<strong>do</strong>s deverão ser observa<strong>do</strong>s no manuseio<strong>do</strong> animal (EPIs), para evitar acidentes.• A agressão por outros animais <strong>do</strong>mésticos (bovinos, ovinos, caprinos, eqüídeos esuínos) deverá ser avaliada e, se necessário, deverá ser indica<strong>do</strong> o tratamento profilático,lembran<strong>do</strong> que não se indica a observação desses animais com o objetivode definir a conduta para o ser humano. Se o animal morrer, sempre que possívelcoletar amostra de teci<strong>do</strong> <strong>do</strong> SNC e enviar ao laboratório de diagnóstico.• Está indica<strong>do</strong> tratamento, sistematicamente, para to<strong>do</strong>s os casos de agressão poranimais silvestres, mesmo quan<strong>do</strong> <strong>do</strong>micilia<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>mestica<strong>do</strong>s.• Não é indica<strong>do</strong> tratamento nas agressões causadas pelos seguintes roe<strong>do</strong>res e lagomorfos(de áreas urbanas ou de criação):❯ ratazana-de-esgoto (Rattus norvegicus);❯ rato-de-telha<strong>do</strong> (Rattus rattus);❯ camun<strong>do</strong>ngo (Mus musculus);❯ cobaia ou porquinho-da-índia (Cavea porcellus);❯ hamster (Mesocricetus auratus);❯ coelho (Oryetolagus cuniculus).• Nas agressões por morcegos, deve-se proceder a sorovacinação, independentemente<strong>do</strong> tipo de morcego agressor, tempo decorri<strong>do</strong> e gravidade da lesão. Em caso de reexposição,seguir as orientações específicas para cada caso.626 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RaivaImportanteA imunofluorescência para raiva é um exame importante, de alta sensibilidade e especificidade.Quan<strong>do</strong> o diagnóstico laboratorial <strong>do</strong> animal agressor for negativo pelatécnica de imunofluorescência, o tratamento <strong>do</strong> paciente, a critério médico, pode sersuspenso aguardan<strong>do</strong>-se o resulta<strong>do</strong> da prova biológica. Isso não se aplica para eqüídeos(cavalo, burro, jumento), exceto nos casos em que os fragmentos encaminha<strong>do</strong>spara o diagnóstico desses animais tenham si<strong>do</strong> o tronco encefálico e a medula.Medidas de controle para raiva animalAspectos clínicos da raiva animalRaiva no cão – os animais mais jovens são mais susceptíveis à infecção, cujo perío<strong>do</strong>de incubação varia de dez dias a <strong>do</strong>is meses, em média. A fase prodrômica dura, aproximadamente,3 dias. O animal demonstra alterações sutis de comportamento, anorexia, esconde-se,parece desatento e, por vezes, nem atende ao próprio <strong>do</strong>no.Nessa fase ocorre um ligeiro aumento de temperatura, dilatação de pupilas e reflexoscorneanos lentos. Há duas apresentações de raiva no cão:• furiosa – angústia, inquietude, excitação, tendência à agressão (morde objetos, outrosanimais e o próprio <strong>do</strong>no), alterações <strong>do</strong> lati<strong>do</strong> (lati<strong>do</strong> rouco), dificuldade dedeglutição, sialorréia, tendência a fugir de casa, excitação das vias geniturinárias, irritaçãono local da agressão, incoordenação motora, crise convulsiva, paralisia, comae morte;• muda ou paralítica – fase de excitação ausente, inaparente ou curta, busca de lugaresescondi<strong>do</strong>s ao abrigo da luz (fotofobia), sintomas pre<strong>do</strong>minantes paralíticos, quese iniciam pelos músculos da cabeça e pescoço, paralisia <strong>do</strong>s membros posteriores,estenden<strong>do</strong>-se por to<strong>do</strong> o corpo <strong>do</strong> animal, dificuldade de deglutição, sialorréia,coma e morte. Deve-se considerar que os sinais e sintomas das diferentes apresentaçõesnão seguem, necessariamente, seqüências obrigatórias ou apresentam-se emsua totalidade. O curso da <strong>do</strong>ença dura em média dez dias e o animal pode estareliminan<strong>do</strong> vírus na saliva desde o 5° dia, antes de apresentar os primeiros sintomas.Em conseqüência das características da <strong>do</strong>ença, o animal raivoso é facilmenteatropela<strong>do</strong> em vias públicas, o que exige muito cuida<strong>do</strong> ao prestar socorro a umanimal;• diagnóstico diferencial da raiva canina – cinomose, encefalites não especificadas,infestação por helmintos (migração de larvas para o cérebro), intoxicação por estricnina,atropina, <strong>do</strong>ença de Aujeszky, eclâmpsia, ingestão de corpos estranhos.6RSecretaria de Vigilância em Saúde / MS627


RaivaRaiva no gato – geralmente, apresenta-se sob a forma furiosa, com sintomatologiasimilar à <strong>do</strong> cão. A mudança de comportamento, muitas vezes, não é observada, umavez que os gatos são animais “semi<strong>do</strong>mésticos”. Em conseqüência das próprias características<strong>do</strong>s felinos, o primeiro ataque é feito com as garras e depois com a mordida.Devi<strong>do</strong> ao hábito de se lamberem constantemente, as arranhaduras são sempre graves.• diagnóstico diferencial da raiva felina – pode-se fazer o diagnóstico diferencialcom encefalites, intoxicação e traumatismo cranioencefálico.Raiva em morcego – a patogenia da <strong>do</strong>ença é pouco conhecida. O mais importantea considerar é o fato de que o morcego pode albergar o vírus rábico em sua saliva e serinfectante antes de a<strong>do</strong>ecer, por perío<strong>do</strong>s maiores que os de outras espécies. Algumasapresentações da <strong>do</strong>ença em morcegos foram assim registradas:• raiva furiosa típica, com paralisia e morte;• raiva furiosa e morte sem paralisia;• raiva paralítica típica e morte.Obs.: Deve-se ressaltar que um morcego é considera<strong>do</strong> suspeito de estar infecta<strong>do</strong>com o vírus da raiva quan<strong>do</strong> for encontra<strong>do</strong> em horário e locais não habituais.Diagnóstico laboratorial <strong>do</strong>s diferentes animaisO diagnóstico laboratorial é essencial tanto para a eleição de estratégias e definiçãode intervenção no paciente como para o conhecimento <strong>do</strong> risco da <strong>do</strong>ença na regiãode procedência <strong>do</strong> animal. Os materiais de eleição para exame são cérebro, cerebelo emedula. Em se tratan<strong>do</strong> de eqüídeos, enviar também o tronco encefálico e a medula.Caso não seja possível realizar a coleta <strong>do</strong> material, pode-se enviar a cabeça ou o animalinteiro, quan<strong>do</strong> de pequeno porte. O material deverá ser coleta<strong>do</strong> por profissional habilita<strong>do</strong>,de acor<strong>do</strong> com técnicas de biossegurança.Acondicionamento, conservação e transporte – o material para diagnóstico deveser acondiciona<strong>do</strong> em saco plástico duplo, veda<strong>do</strong> hermeticamente, identifica<strong>do</strong> de formaclara e legível, não permitin<strong>do</strong> que a identificação se apague em contato com a águaou gelo.A amostra, devidamente embalada e identificada, deve ser colocada em caixa deisopor, com gelo suficiente para que chegue bem conservada ao seu destino. A caixadeve ser rotulada e bem fechada, não permitin<strong>do</strong> vazamentos que possam contaminarquem a transporte.O mo<strong>do</strong> de conservação dependerá <strong>do</strong> tempo (estima<strong>do</strong>) decorri<strong>do</strong> entre a remessaao laboratório e o processamento da amostra:• até 24 horas – refrigera<strong>do</strong>;• mais de 24 horas – congela<strong>do</strong>;• na falta de condições adequadas de refrigeração, conservar em solução com glicerinaa 50%.628 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RaivaA qualidade <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> laboratorial dependerá <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de conservação <strong>do</strong> materialenvia<strong>do</strong>. Materiais autolisa<strong>do</strong>s interferem nas técnicas laboratoriais, muitas vezes tornan<strong>do</strong>impossível a emissão <strong>do</strong> lau<strong>do</strong>.Juntamente com o material, deve ser enviada a ficha epidemiológica completa, com onome e endereço <strong>do</strong> solicitante, a espécie <strong>do</strong> animal e os possíveis contatos com humanos eanimais; se houve observação <strong>do</strong> animal <strong>do</strong>ente e qual o perío<strong>do</strong>; se o animal foi sacrifica<strong>do</strong>ou morreu naturalmente, etc.Quan<strong>do</strong> envia<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is ou mais fragmentos de teci<strong>do</strong>s, especificar no pedi<strong>do</strong> e identificaros mesmos.Quadro 4. Espécie animal e fragmentos de eleição <strong>do</strong> SNC a ser coleta<strong>do</strong> para diagnósticolaboratorial da raivaEspécie animalHumanaCanina/felinaBovinoEqüídeo (cavalo, jumento, burro)Ovino, caprino e suínoAnimal silvestreFragmentos <strong>do</strong> SNC a serem coleta<strong>do</strong>s (preferencialmente)Cérebro, cerebelo e medulaCorno de Amon e medulaCerebelo e medulaTronco encefálico e medulaCérebro, cerebelo e medulaQuan<strong>do</strong> possível, enviar o animal inteiro, para identificação da espécie;se não for possível, enviar o cérebro, cerebelo e medula6Observações:To<strong>do</strong> indivíduo que executa ou auxilia necropsias de animais com suspeita de raivadeve se submeter ao esquema vacinal pré-exposição e ter seu soro <strong>do</strong>sa<strong>do</strong> para anticorposanti-rábicos duas vezes ao ano, como forma de verificar a manutenção <strong>do</strong> título protetor.Como a raiva acomete todas as espécies de mamíferos, recomenda-se que to<strong>do</strong> e qualqueranimal suspeito de estar infecta<strong>do</strong> com o vírus da raiva seja encaminha<strong>do</strong> para diagnósticolaboratorial.Ressalte-se o crescente número de morcegos positivos para a raiva e os inúmeros acidentesque vêm causan<strong>do</strong> aos humanos. Morcegos e outros animais silvestres pequenos devemser encaminha<strong>do</strong>s inteiros, refrigera<strong>do</strong>s ou congela<strong>do</strong>s, para a identificação da espéciee orientação de ações de controle de foco em até 72 horas após a notificação, se possível.Os procedimentos de biossegurança devem ser rigorosamente segui<strong>do</strong>s, tanto no tratocom os animais suspeitos quanto com os pacientes humanos.RDefinição de caso suspeito e confirma<strong>do</strong> em cão e gatoCaso suspeito – to<strong>do</strong> cão ou gato que apresente sintomatologia compatível com raivae que possua história de agressão por outro animal suspeito ou raivoso. To<strong>do</strong> cão ou gatoque apresente sintomatologia compatível com a raiva, mesmo sem antecedentes de contatoou agressão conhecida por outro suspeito ou raivoso que resida ou provenha de áreas endêmicas.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS629


RaivaCaso confirma<strong>do</strong> – to<strong>do</strong> cão ou gato submeti<strong>do</strong> a exame laboratorial e cujo materialse revele positivo para raiva em laboratório de diagnóstico. To<strong>do</strong> cão ou gato que tenha si<strong>do</strong>clinicamente diagnostica<strong>do</strong> como raivoso, por médico veterinário, e tenha evoluí<strong>do</strong> paraóbito, ainda que não se tenha envia<strong>do</strong> material para laboratório de diagnóstico.Como proceder diante de 1 ou mais casos de raiva canina:• notificar imediatamente o caso à vigilância epidemiológica municipal, centro decontrole de zoonoses (quan<strong>do</strong> existir) e coordenação estadual <strong>do</strong> Programa de Profilaxiada Raiva das secretarias estaduais de saúde;• se o animal estiver vivo, não matar; juntamente com a autoridade sanitária garantirque seja observa<strong>do</strong> com segurança e alimentação adequadas, para o acompanhamentoda evolução <strong>do</strong> quadro. Se o animal apresentar sintomatologia compatível com a raivae não houver possibilidades de observação em local seguro, recomenda-se o sacrifício<strong>do</strong> mesmo, por profissional habilita<strong>do</strong>. Se o animal morrer, providenciar o envio <strong>do</strong>encéfalo ao laboratório, devidamente conserva<strong>do</strong> em gelo, jamais em formol.Decisão/ação (agir até 72 horas após a notificação):• investigar o caso;• diagnosticar a situação;• definir as intervenções.Em caso de intervençãoCabe ao proprietário – entregar para sacrifício to<strong>do</strong> animal que tenha si<strong>do</strong> agredi<strong>do</strong>por animal raivoso e contribuir para a execução <strong>do</strong> trabalho.Cabe aos serviços de saúde – diante da recusa <strong>do</strong> proprietário, os profissionais desaúde, legalmente basea<strong>do</strong>s nos códigos sanitários (federal, estadual ou municipal), devemretirar o animal <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio ou via pública; os animais sem vacinação prévia devem sersacrifica<strong>do</strong>s, poden<strong>do</strong>-se abrir exceção quan<strong>do</strong> existir a segurança de que o animal agredi<strong>do</strong>tenha si<strong>do</strong> vacina<strong>do</strong> e esteja dentro <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de imunidade previsto para esse imunobiológico(1 ano). Se não for realiza<strong>do</strong> o sacrifício, o animal agredi<strong>do</strong> deve ser manti<strong>do</strong>confina<strong>do</strong> e em observação por pelo menos 6 meses. Encaminhar à unidade de saúde to<strong>do</strong>sos indivíduos que tenham si<strong>do</strong> agredi<strong>do</strong>s ou tiveram contato com o animal. Prosseguir ainvestigação epidemiológica, a quantificação de casos em animais e a caracterização da área<strong>do</strong> foco, com vistas a:• informar e envolver a comunidade para participação efetiva nas ações de controle;• vacinar os animais susceptíveis, sob cadastramento. Essa vacinação <strong>do</strong>s susceptíveisdentro da área de foco deve ser <strong>do</strong> tipo “casa a casa”, com o objetivo de imunizar100% da população canina estimada, deven<strong>do</strong> ser realizada nas primeiras 72 horasapós a detecção <strong>do</strong> foco;• apreender cães errantes;• realizar em locais adequa<strong>do</strong>s a observação de animais (cães e gatos) agressores, porum perío<strong>do</strong> de 10 dias;• estimular e providenciar o envio de amostras para laboratório;630 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Raiva• proceder a revacinação, em prazo não inferior a 90 dias;• delimitar o foco com base nos critérios estabeleci<strong>do</strong>s pelo rastreamento da possívelfonte de infecção, barreiras naturais e organização <strong>do</strong> espaço urbano;• estimular tanto a notificação negativa como a positiva.Aspectos específicos da epidemiologia e controle da raiva animal• Casos surgi<strong>do</strong>s após 90 dias de intervenção caracterizam novos focos.• A concomitância de casos dispersos em um município, consideran<strong>do</strong> a baixa notificação,pode caracterizar uma epizootia.• A persistência de casos animais, apesar da existência de intervenções, faz pensar nafalta de qualidade e eficácia das medidas sanitárias ou, ainda, de que se trata de umproblema crônico – endemia ou até mesmo, em uma exacerbação <strong>do</strong> comportamentoda <strong>do</strong>ença, epidemia.• Sobretu<strong>do</strong> em áreas endêmicas impõe-se a necessidade da constituição de serviçode apreensão rotineira de cães errantes. Calcula-se que se deva recolher anualmente20% da população canina estimada aos canis públicos, onde devem permanecer porprazo não superior a 72 horas – para serem resgata<strong>do</strong>s por seus <strong>do</strong>nos. Passa<strong>do</strong> esseprazo, serão <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s às instituições de ensino biomédico ou submeti<strong>do</strong>s à eutanásia.O sucesso no controle da raiva canina depende de uma cobertura vacinal acima de80% (desde que a estimativa canina seja confiável). A estratégia a ser a<strong>do</strong>tada nascampanhas de vacinação em massa pode ser <strong>do</strong> tipo casa a casa, postos fixos oumistos (casa a casa + postos fixos), a critério de cada município.• O controle da raiva silvestre, sobretu<strong>do</strong> <strong>do</strong> morcego hematófago, exige uma intervençãoespecífica. Em função da gravidade das agressões por morcegos, deve-se comunicaro caso imediatamente aos serviços de saúde e à agricultura, para o desencadeamentodas ações de controle de competência de cada instituição, e reportar-se aoManual sobre morcegos em áreas urbanas e rurais: manejo e controle, <strong>do</strong> Ministérioda Saúde.Ações de educação em saúdeOrientar o processo educativo no programa da raiva (urbana, rural e silvestre) temcomo ferramentas básicas a participação e a comunicação social, deven<strong>do</strong> ser necessariamenteenvolvi<strong>do</strong>s os serviços interinstitucionais, intersetoriais e multidisciplinares (profissionaisde saúde, agricultura, escolas, universidades, meio ambiente, Ongs, associaçõesde mora<strong>do</strong>res, sindicatos rurais, proprietários de animais de estimação, proprietários degrandes animais e a população em geral).Estimular a posse responsável de animais.Desmistificar a castração <strong>do</strong>s animais de estimação.A<strong>do</strong>tar medidas de informação/comunicação que levem a população a reconhecer agravidade de qualquer tipo de exposição a um animal; a necessidade de atendimento imediato;as medidas auxiliares que devem ser a<strong>do</strong>tadas às pessoas que foram expostas e/ouagredidas; a identificar os sintomas de um animal suspeito.6RSecretaria de Vigilância em Saúde / MS631


RaivaDivulgar os serviços existentes, desmistifican<strong>do</strong> simultaneamente o tratamento profiláticoanti-rábico humano e estimulan<strong>do</strong> a responsabilidade <strong>do</strong> paciente com o cumprimento<strong>do</strong> esquema indica<strong>do</strong>, visan<strong>do</strong> à diminuição <strong>do</strong> aban<strong>do</strong>no e risco de ocorrência decasos.Não valorizar a proteção <strong>do</strong> cão errante.Estimular a imunização anti-rábica animal.Desenvolver ações educativas especificamente voltadas para o ensino fundamental.Estratégias de prevençãoO tratamento profilático de pessoas agredidas previne a ocorrência de novos casos.Assim, o tratamento adequa<strong>do</strong> é de suma importância para a eliminação da raiva humana.Lembrar que pessoas sob risco devem tomar a vacina para evitar a <strong>do</strong>ença.A vacinação periódica e rotineira de 80% <strong>do</strong>s cães (população real estimada) e gatospode quebrar o elo da cadeia epidemiológica, impedin<strong>do</strong> que o vírus alcance a população,interrompen<strong>do</strong>, assim, o ciclo urbano da raiva.A captura de animais e o envio de amostras ao laboratório ajudam no monitoramentoda circulação <strong>do</strong> vírus.Já que dificilmente se consegue vacinar os cães errantes, fundamentais para a persistênciada cadeia de transmissão, recomenda-se a eliminação de 20% da população caninavisan<strong>do</strong> reduzir a circulação <strong>do</strong> vírus.Com relação a morcegos, a ocorrência crescente de casos de raiva humana transmitidapelos mesmos faz com que se conheça cada vez mais detalhadamente a raiva <strong>do</strong>s quirópteros(morcegos): seu comportamento, distribuição e maneiras de controle.Estimular a pesquisa, juntamente com os órgãos ambientais, da raiva no ciclo silvestrepermitirá traçar o perfil epidemiológico e identificar a circulação viral.632 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RubéolaRUBÉOLACID 10: B06Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoÉ uma <strong>do</strong>ença exantemática aguda, de etiologia viral, que apresenta alta contagiosidade,acometen<strong>do</strong> principalmente crianças. Doença de curso benigno, sua importânciaepidemiológica está relacionada ao risco de abortos, natimortos e malformações congênitascomo cardiopatias, catarata e surdez, denominada síndrome da rubéola congênita (SRC)quan<strong>do</strong> a infecção ocorre durante a gestação.Agente etiológicoO agente infeccioso da rubéola é um vírus pertencente ao gênero Rubivirus, famíliaTogaviridae.6ReservatórioO homem.Mo<strong>do</strong> de transmissãoAtravés de contato com as secreções nasofaríngeas de pessoas infectadas. A infecção éproduzida por disseminação de gotículas ou contato direto com os pacientes. A transmissãoindireta, mesmo pouco freqüente, ocorre mediante contato com objetos contamina<strong>do</strong>scom secreções nasofaringeanas, sangue e urina.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoEm geral, varia de 14 a 21 dias, duran<strong>do</strong>, em média, 17 dias. A variação máxima observadaé de 12 a 23 dias.RPerío<strong>do</strong> de transmissibilidadeAproximadamente, de 5 a 7 dias antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong> exantema até 5 a 7 dias após.Susceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade é geral. A imunidade ativa é adquirida através da infecção naturalou por vacinação, permanecen<strong>do</strong> por quase toda a vida. Os filhos de mães imunes podemapresentar imunidade passiva e transitória durante 6 a 9 meses. Tem si<strong>do</strong> relatada aocorrência de reinfecção em pessoas previamente imunes através de vacinação ou infecçãonatural, quan<strong>do</strong> reexpostas ao vírus. Esta reinfecção é usualmente assintomática, detectávelapenas por méto<strong>do</strong>s sorológicos.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS633


RubéolaAspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasO quadro clínico é caracteriza<strong>do</strong> por exantema máculo-papular e puntiforme difuso,inician<strong>do</strong>-se na face, couro cabelu<strong>do</strong> e pescoço, espalhan<strong>do</strong>-se posteriormente para o troncoe membros. Além disso, apresenta febre baixa e linfadenopatia retroauricular, occipitale cervical posterior, geralmente anteceden<strong>do</strong> ao exantema no perío<strong>do</strong> de 5 a 10 dias, poden<strong>do</strong>perdurar por algumas semanas. Formas inaparentes são freqüentes, principalmenteem crianças. A<strong>do</strong>lescentes e adultos podem apresentar um perío<strong>do</strong> prodrômico com febrebaixa, cefaléia, <strong>do</strong>res generalizadas (artralgias e mialgias), conjuntivite, coriza e tosse. Aleucopenia é comum e raramente ocorrem manifestações hemorrágicas. Apesar de raras,complicações podem ocorrer com maior freqüência em adultos, destacan<strong>do</strong>-se artrite ou artralgia,encefalites (1 para 5 mil casos) e manifestações hemorrágicas (1 para 3 mil casos).Diagnóstico diferencialO diagnóstico diferencial deve ser feito com sarampo, escarlatina, dengue, exantemasúbito (crianças até 2 anos), eritema infeccioso, enteroviroses (coxsackie e echo) e, também,com outras <strong>do</strong>enças que podem causar síndromes congênitas, como mononucleose infecciosa,toxoplasmose e infecção por citomegalovírus.Diagnóstico laboratorialÉ realiza<strong>do</strong> mediante detecção de anticorpos específicos no soro (IgM e IgG) e isolamentoviral (ver normas e procedimentos no Anexo 1).TratamentoNão há tratamento específico para a rubéola. Os sinais e sintomas apresenta<strong>do</strong>s devemser trata<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com a sintomatologia e terapêutica adequada.Aspectos epidemiológicosA rubéola foi introduzida na lista de <strong>do</strong>enças de notificação compulsória no Brasil nasegunda metade da década de 90. Em 1997, ano em que o país enfrentou a última epidemiade sarampo, foram notifica<strong>do</strong>s cerca de 30 mil casos de rubéola, sen<strong>do</strong> que no perío<strong>do</strong>compreendi<strong>do</strong> entre 1999 a 2001 ocorreram surtos desta <strong>do</strong>ença em vários esta<strong>do</strong>s. Nesteperío<strong>do</strong>, observou-se aumento progressivo no número de casos suspeitos de SRC (de 200para 600), o que reflete tanto o aumento da circulação <strong>do</strong> vírus (a taxa de incidência derubéola na população feminina, em 2001, chegou a 5/100 mil mulheres na faixa etária de15 a 19 anos e de 6,3/100 mil mulheres na faixa etária de 20 a 29 anos) como o incrementode estratégias de vigilância para a detecção de casos. A vigilância epidemiológica dessas<strong>do</strong>enças tem se mostra<strong>do</strong> sensível, oportuna e específica.634 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RubéolaA implementação <strong>do</strong> Plano de Erradicação <strong>do</strong> Sarampo no país, a partir de 1999, impulsionoua vigilância e o controle da rubéola. Em 2002, ocorreram 1.480 casos de rubéolano Brasil, o que corresponde a um decréscimo de 95% quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s à incidência de1997. As taxas de incidência no sexo feminino, em 2002, ficaram em 1/10 5 mulheres tantona faixa etária de 15 a 19 como de 20 a 29 anos. Em 2003, foram confirma<strong>do</strong>s 561 casos derubéola entre os 16.036 casos suspeitos notifica<strong>do</strong>s, demonstran<strong>do</strong> a alta sensibilidade eespecificidade <strong>do</strong> sistema de vigilância.Destaca-se a realização de uma campanha de vacinação em massa dirigida às mulheresem idade fértil (MIF) durante 2001 e 2002, ao tempo em que completou-se a introduçãoda vacina dupla ou tríplice viral no calendário básico de imunização, processo inicia<strong>do</strong> em1992. O fortalecimento da vigilância <strong>do</strong> sarampo e da rubéola revelou a necessidade decontrole e prevenção da SRC.Figura 1. Evolução da taxa de incidência de rubéola e estratégias de controle.Brasil, 1992-2003625Incidência /100 mil hab.2015105NotificaçãocompulsóriaImplantação VTV 1 - 11 anosMIF - PRMIF - RNMIF - 13 UFs11 UFs092 93 94 9596 97 98 99 00 01 02 03Fonte: Cover/CGDT/Devep/SVS/MSFigura 2. Número de casos confirma<strong>do</strong>s e taxa de incidência de rubéolapor grupos etários. Brasil, 2000-2003R4.000253.6003.200202.8002.400152.0001.600101.20080054000< 1a 1 - 4 5 - 9 10 - 14 15 - 19 20 - 29 30 +0Casos 00Incid 00Casos 01Incid 01Casos 02Incid 02Casos 03Incid 03Fonte: Cover/CGDT/Devep/SVS/MSSecretaria de Vigilância em Saúde / MS635


RubéolaVigilância epidemiológicaObjetivosDetectar a circulação <strong>do</strong> vírus em determina<strong>do</strong> tempo e área geográfica, identificar apopulação sob risco para SRC nessas áreas e proteger a população susceptível.Definição de casoSuspeitoTo<strong>do</strong> paciente que apresente febre e exantema máculo-papular, acompanhada de linfoadenopatiaretroauricular, occipital e cervical, independente da idade e situação vacinal.Confirma<strong>do</strong>Laboratorial – quan<strong>do</strong> a interpretação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames sorológicos for positivopara rubéola.Vínculo epidemiológico – quan<strong>do</strong> o caso suspeito teve contato com um ou mais casosde rubéola, confirma<strong>do</strong>s por laboratório, e apresentou os primeiros sintomas da <strong>do</strong>ençaentre 12 a 23 dias após a exposição ao(s) caso(s).Clínico – quan<strong>do</strong> há suspeita clínica de rubéola, mas as investigações epidemiológicae laboratorial não foram realizadas ou concluídas. Como o diagnóstico de rubéola não podeser confirma<strong>do</strong> nem descarta<strong>do</strong> com segurança, este caso representa uma falha <strong>do</strong> sistemade vigilância epidemiológica.Descarta<strong>do</strong>Laboratorial – quan<strong>do</strong> o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exame laboratorial:• for negativo para IgM específica para rubéola;• for positivo para outra <strong>do</strong>ença;• em duas amostras pareadas, não detectar soroconversão <strong>do</strong>s anticorpos.Quan<strong>do</strong> o resulta<strong>do</strong> for IgM negativo em amostra tardia, o caso é descarta<strong>do</strong> apenasse não for gestante.Vínculo epidemiológico – quan<strong>do</strong> o caso tiver como fonte de infecção um ou maiscasos descarta<strong>do</strong>s pelo critério laboratorial ou quan<strong>do</strong>, na localidade, estiver ocorren<strong>do</strong>outros casos, surtos ou epidemia de outra <strong>do</strong>ença exantemática febril, confirmada por diagnósticolaboratorial.Clínico – caso suspeito de rubéola em que não houve coleta de amostra para exame laboratorial,mas a avaliação clínica e epidemiológica detectou sinais e sintomas compatíveiscom outro diagnóstico diferente da rubéola.636 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RubéolaCritérios para o descarte de casos suspeitosde rubéola com associação temporal à vacinaA avaliação clínica e epidemiológica indica uma associação temporal entre a data <strong>do</strong>início <strong>do</strong>s sintomas e a data <strong>do</strong> recebimento da última <strong>do</strong>se da vacina com o componentecontra a rubéola, mesmo que não tenha si<strong>do</strong> realizada coleta de amostra. Os critérios paradescarte como associação temporal à vacina são os seguintes:• febre com temperatura que pode chegar a 39ºC ou mais, com início entre o 5º e 12ºdias após a vacinação e duração média de um a <strong>do</strong>is dias, poden<strong>do</strong> chegar até cincodias;• exantema, geralmente benigno, que dura de um a <strong>do</strong>is dias e que surge entre o 7º e10º dias após a administração da vacina;• cefaléia ocasional, irritabilidade, conjuntivite ou manifestações catarrais observadasentre o 5º e 12º dias após a vacinação;• linfadenopatias que se instalam entre 7 a 21 dias após a data de vacinação;• resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exame laboratorial “reagente” ou “positivo para IgM” em amostra colhidano perío<strong>do</strong> de 8 a 56 dias após a data da última <strong>do</strong>se de vacina.6NotificaçãoTo<strong>do</strong>s os casos suspeitos devem ser imediatamente notifica<strong>do</strong>s pelo nível local à secretariamunicipal de saúde, seguin<strong>do</strong> o fluxo defini<strong>do</strong> pelo nível estadual.A ocorrência de um surto de rubéola deve ser notifica<strong>do</strong> de imediato aos demais níveis<strong>do</strong> sistema.Caso suspeito de rubéolaToda pessoa com febre e exantema maculopapular acompanhada de linfoadenopatiaretroauricular, occipital e cervical, independente da idade e situação vacinalSuspeitar de rubéolaNotificar a secretaria municipal de saúdeRInvestigar em até 48hColetar sangue parasorologia no primeirocontato com o pacienteVacinação de bloqueio.Vacinar os contatossusceptíveisPrimeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteA assistência ocorre em unidades básicas de saúde e, quan<strong>do</strong> gestantes, em serviços depré-natal. A necessidade de hospitalização é muito rara.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS637


RubéolaQualidade da assistênciaVerificar se os casos estão sen<strong>do</strong> atendi<strong>do</strong>s de forma adequada nas unidades básicasde saúde, bem como se há orientação disponível sobre procedimentos frente a um caso derubéola, principalmente relaciona<strong>do</strong>s ao cuida<strong>do</strong> com as gestantes.Proteção individual para evitar circulação viralAs crianças e adultos acometi<strong>do</strong>s de rubéola devem ser afasta<strong>do</strong>s da escola, creche oulocal de trabalho durante o perío<strong>do</strong> de transmissibilidade (cinco a sete dias antes <strong>do</strong> início<strong>do</strong> exantema e pelo menos cinco a sete dias depois).Confirmação diagnósticaColetar material para diagnóstico laboratorial, de acor<strong>do</strong> com as orientações constantes<strong>do</strong> Anexo 1.Proteção da populaçãoA principal medida de controle da rubéola é feita através da vacinação <strong>do</strong>s susceptíveis,que inclui: vacinação da rotina da rede básica de saúde, bloqueio vacinal, intensificaçãoe/ou campanhas de vacinação. Ressalte-se que a cada caso suspeito notifica<strong>do</strong> a ação debloqueio vacinal deve ser desencadeada imediatamente. A faixa etária prioritária para arealização <strong>do</strong> bloqueio vacinal é a de 6 meses a 39 anos de idade. A redução ou aumento daidade para a realização <strong>do</strong> bloqueio vacinal deverá ser avaliada de acor<strong>do</strong> com a situaçãoepidemiológica local. Extensa busca ativa de novos casos suspeitos e susceptíveis deve serrealizada para um controle mais eficiente da <strong>do</strong>ença.As gestantes susceptíveis devem ser afastadas <strong>do</strong> contato com casos e comunicantesdurante o perío<strong>do</strong> de transmissibilidade e incubação da <strong>do</strong>ença.Se a gestante mantiver contato com um <strong>do</strong>ente de rubéola deve ser avaliada sorologicamente,o mais precocemente possível, para posterior acompanhamento e orientação.Ações de esclarecimento à população mediante visitas <strong>do</strong>miciliares, palestras nas comunidadese por meio de veículos de comunicação de massa devem ser implementadas. Oconteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>s esclarecimentos deve incluir conhecimentos sobre o ciclo de transmissão da<strong>do</strong>ença, gravidade, situação de risco e imunização.InvestigaçãoTo<strong>do</strong> caso suspeito de rubéola deve ser investiga<strong>do</strong>, objetivan<strong>do</strong> coletar as informaçõesnecessárias para o correto diagnóstico final. Além disso, a possibilidade de detecçãode novos casos deve ser considerada e, nesse momento, devem ser a<strong>do</strong>tadas medidas decontrole frente à ocorrência de um ou mais casos.638 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RubéolaRoteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação epidemiológica <strong>do</strong> Sinan, relativosaos da<strong>do</strong>s gerais, notificação individual e da<strong>do</strong>s de residência.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPara confirmar a suspeita diagnósticaTo<strong>do</strong> caso suspeito de rubéola deve ser investiga<strong>do</strong> até 48 horas após seu conhecimento,com os seguintes objetivos:• caracterizar clinicamente o caso para determinar sua classificação como suspeito.Preencher a ficha de investigação epidemiológica de <strong>do</strong>enças exantemáticas febris(sarampo/rubéola), nacionalmente padronizada pelo Sinan;• coletar amostra de sangue para exame sorológico, a fim de confirmar o diagnóstico.Desencadear as medidas de controle pertinentes;• a gestante assintomática (contato/exposta a casos suspeitos ou confirma<strong>do</strong>s de rubéola)com resulta<strong>do</strong> IgM positivo, que foi notificada à vigilância epidemiológica, deveráser acompanhada da mesma forma que as gestantes sintomáticas para rubéola.6Para identificação da área de transmissãoÉ importante registrar todas as informações referentes aos casos suspeitos, para identificaros grupos populacionais acometi<strong>do</strong>s ou sob risco de <strong>do</strong>ença, o perío<strong>do</strong> e a área detransmissão (Quem? Quan<strong>do</strong>? Onde?). Essas informações orientam a tomada de decisõesquanto às medidas de controle (por exemplo, quem, quan<strong>do</strong> e onde vacinar?) e permitemacompanhar adequadamente e divulgar a situação de cada município alvo de surto.Um surto de rubéola caracteriza-se pela ocorrência de incidência acima <strong>do</strong> valor espera<strong>do</strong>,quan<strong>do</strong> comparada aos anos anteriores. A ocorrência de um surto de rubéola é consideradasituação de emergência epidemiológica pois, além de se tratar de <strong>do</strong>ença infecciosa,há uma real possibilidade de ocorrência da SRC.Uma vez caracterizada a ocorrência de surto ou epidemia numa área determinada, nãoé necessário coletar amostra de to<strong>do</strong>s os casos que surgirem, exceto nas gestantes, desdeque a investigação comprove que estão relaciona<strong>do</strong>s entre si.Em uma situação de surto, as mulheres expostas durante a gravidez devem ser acompanhadasdurante a gestação e no pós-parto; e o recém-nasci<strong>do</strong>, durante o primeiro ano devida.Na ocorrência de um surto, a possível fonte de infecção <strong>do</strong>s casos deve ser exaustivamenteinvestigada para identificar novas áreas de circulação viral. Quan<strong>do</strong> a investigaçãodetecta que o caso de rubéola esteve viajan<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong> de 12 a 23 dias antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong>ssintomas, a equipe de vigilância <strong>do</strong> município de origem <strong>do</strong> caso deve informar à equipede vigilância <strong>do</strong> local onde o paciente esteve, a fim de que a<strong>do</strong>te as medidas de investigaçãoe controle.RSecretaria de Vigilância em Saúde / MS639


RubéolaPara determinação da extensão da área de transmissãoDeve ser feito um detalha<strong>do</strong> estu<strong>do</strong> para caracterizar o perfil da ocorrência e os fatoresque contribuíram para a circulação <strong>do</strong> vírus na população. Atenção especial deve ser dada àdetecção da rubéola em mulheres em idade fértil, visan<strong>do</strong> identificar os futuros casos suspeitosde SRC. A obtenção de informações detalhadas e uniformes, para to<strong>do</strong>s os casos, possibilitaa comparação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s e a análise adequada da situação epidemiológica da <strong>do</strong>ença.Consideran<strong>do</strong> que, com grande freqüência, se pode encontrar casos suspeitos de rubéolaentre as pessoas que viajam, a identificação de um viajante nestas condições deve sernotificada, de imediato, às autoridades sanitárias. Além disso, o viajante-paciente ou seuacompanhante deve ser informa<strong>do</strong> sobre a <strong>do</strong>ença, complicações e transmissibilidade, bemcomo sobre a necessidade de manter-se recolhi<strong>do</strong> ao local de hospedagem (hotel ou outro)até cinco dias após o aparecimento <strong>do</strong> exantema.Coleta e remessa de material para examesTo<strong>do</strong> caso suspeito de rubéola e toda gestante com história de contato com caso confirma<strong>do</strong>deverão ter uma amostra de sangue coletada para sorologia. Na ocorrência de surto,deve-se coletar também espécimes clínicas para isolamento viral, de acor<strong>do</strong> com as normase procedimentos <strong>do</strong> Anexo 1.É da responsabilidade <strong>do</strong>s profissionais da vigilância epidemiológica e/ou <strong>do</strong>s laboratórioscentrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo realizar estas coletas.Os resulta<strong>do</strong>s laboratoriais devem ser interpreta<strong>do</strong>s com base nas datas de coleta, deaparecimento <strong>do</strong>s sintomas e da última <strong>do</strong>se de vacina.Análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sA análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s deve ser realizada rotineiramente, em to<strong>do</strong>s os níveis <strong>do</strong> sistema(local, municipal, estadual e federal), para identificar duplicidade de casos e informaçõesincorretas.Deve-se buscar responder, pelo menos, às três questões: quan<strong>do</strong>? (distribuição temporal),onde? (distribuição geográfica), e quem? (distribuição segun<strong>do</strong> atributos pessoais). Ocálculo <strong>do</strong> coeficiente de incidência é fundamental, principalmente para realizar comparaçõescom perío<strong>do</strong>s anteriores (análise de tendência).Essas informações, juntamente com a cobertura vacinal, permitem a avaliação das estratégiasde vacinação a<strong>do</strong>tadas e orientam novas medidas, como a intensificação da vacinaçãoem locais de baixa cobertura.Encerramento de casosApós análise das fichas epidemiológicas, os casos deverão ser encerra<strong>do</strong>s em até 30dias e digita<strong>do</strong>s no Sinan.Relatório finalÉ realiza<strong>do</strong> somente em situações de surto, onde deverão estar relatadas as ações realizadaspara o controle <strong>do</strong> surto.640 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RubéolaRoteiro de investigação epidemiológica da rubéolaNotificação de caso suspeitoInvestigaçãoColetar da<strong>do</strong>sclínicos eepidemiológicosColetar materialpara sorologiaRealizar medidasde controleRealizareducação em saúdeIdentificar novoscasos suspeitosEnviar aolaboratórioBloqueiovacinal6Identificarocorrência de surtosLaboratório informao resulta<strong>do</strong> à secretariaestadual de saúde/secretaria municipalde saúdeOperação limpezaIdentificar áreade transmissãoAvaliar a coberturavacinal da áreaSecretarias municipaise estaduais de saúdeencerram o caso,conforme o algoritmo(Anexos 2 e 3)Instrumentos disponíveis para controleRImunizaçãoRecomendações gerais para a vacinaçãoA vacina é a única forma de prevenir a ocorrência da rubéola na população. O riscoda <strong>do</strong>ença para indivíduos susceptíveis permanece em função da circulação <strong>do</strong> vírus entrea população masculina não vacinada em campanhas ou bloqueios, e porque o vírus circulaem várias regiões <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. É necessário, portanto, manter um alto nível de imunidadena população por meio de coberturas vacinais elevadas, iguais ou superiores a 95%, o quereduz a possibilidade da ocorrência da rubéola em coortes vacinadas.Vacinação na rotinaÉ a atividade realizada de forma contínua na rede de serviços de saúde, em to<strong>do</strong> oterritório nacional.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS641


RubéolaNo Brasil, atualmente, a vacinação de rotina contra a rubéola é realizada aos 12 mesesde vida, utilizan<strong>do</strong>-se a vacina tríplice viral (sarampo, rubéola e cachumba), com um reforçoentre os 4-6 anos. Chama-se a atenção para o fato de que quan<strong>do</strong> a vacinação é iniciadae as coberturas não são satisfatórias (


RubéolaTo<strong>do</strong>s os profissionais de saúde, em especial os obstetras, neonatologistas e pediatras,devem receber informações sistemáticas sobre:• ocorrência de surtos;• implicações <strong>do</strong> surto em mulheres grávidas;• definição de casos suspeitos e condutas pertinentes a cada um;• importância da notificação imediata frente à suspeita de rubéola.Quan<strong>do</strong> da ocorrência de um surto, a vigilância da SRC deve continuar por nove meses,no mínimo, desde a ocorrência <strong>do</strong> último caso notifica<strong>do</strong> de rubéola.Ações de educação em saúdeEsclarecer a população, principalmente da área de educação, sobre a <strong>do</strong>ença e a importânciade vacinação das crianças e mulheres, com vistas à prevenção da SRC.6Estratégias complementares de prevençãoIntensificação da vacinação extramurosA intensificação da vacinação compreende, de maneira geral, o desenvolvimento deatividades fora <strong>do</strong>s serviços de saúde (extramuros). O principal objetivo é eliminar bolsõesde susceptíveis, deven<strong>do</strong> ser realizada sempre que os índices de vacinação estiverem abaixode 95%. Com isso, assegura-se que nenhum município tenha cobertura vacinal contra osarampo/rubéola abaixo da meta.A intensificação das atividades consiste, sobretu<strong>do</strong>, na realização de vacinação casaa casa (incluin<strong>do</strong> residências e instituições em geral, como, por exemplo, escolas, creches,orfanatos, etc.), alcançan<strong>do</strong> crianças de 12 meses até menores de 12 anos de idade que nãoforam vacinadas na rotina e nas campanhas de multivacinação e de seguimento, especialmenteas que vivem nas áreas urbanas e rurais de difícil acesso e que, geralmente, não sãotrabalhadas pelos serviços de saúde.RCampanhas de multivacinaçãoAs campanhas de multivacinação (que acontecem duas vezes ao ano) são excelentesoportunidades para aumentar as coberturas vacinais. No entanto, quan<strong>do</strong> a meta é controlara rubéola e eliminar a SRC, não se devem esperar as campanhas para vacinar ossusceptíveis.Por ocasião das campanhas de multivacinação são vacinadas as crianças de 12 mesesaté menores de 12 anos de idade que não foram atingidas pelas atividades de rotina e campanhasde seguimento.Vacinação de grupos de riscoMesmo consideran<strong>do</strong> que as crianças são prioridade das estratégias voltadas à erradicação<strong>do</strong> sarampo e as mulheres em idade fértil para o controle da rubéola e eliminaçãoSecretaria de Vigilância em Saúde / MS643


Rubéolada SRC, um percentual da população permanece susceptível à <strong>do</strong>ença, pois escapou tantoda infecção natural como da vacinação. São os chama<strong>do</strong>s grupos de risco, entre os quaisdestacam-se:• profissionais e estudantes da área de saúde e educação;• populações institucionalizadas de quartéis, prisões, centros de reclusão de menores,albergues, alojamentos, universidades, etc.;• populações que migram de localidades onde as coberturas vacinais, anteriores e/ouatuais, são baixas;• a<strong>do</strong>lescentes e adultos jovens que viajam para países onde o sarampo é endêmico;• vende<strong>do</strong>res ambulantes, profissionais <strong>do</strong> sexo e trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s setores hoteleiro ede turismo, bem como de portos, feiras, aeroportos e ro<strong>do</strong>viárias;Ressalte-se a importância de disponibilizar a vacina às pessoas que chegam ao país,oriundas de locais com ocorrência de rubéola e sarampo. Para prevenir a ocorrência desurtos de rubéola e sarampo entre os a<strong>do</strong>lescentes e adultos jovens que compõem os gruposde risco, faz-se necessário um esforço adicional para vaciná-los.644 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RubéolaAnexo 1Normas para procedimentos laboratoriaisFazer o diagnóstico diferencial com base na clínica entre a rubéola e outras <strong>do</strong>ençasexantemáticas é bastante difícil, daí a importância <strong>do</strong> exame laboratorial para a confirmação<strong>do</strong> diagnóstico.O diagnóstico laboratorial é realiza<strong>do</strong> por meio <strong>do</strong> isolamento <strong>do</strong> vírus ou por méto<strong>do</strong>ssorológicos para detecção de anticorpos específicos, sen<strong>do</strong> necessário assegurar a coletada amostra de sangue logo no primeiro atendimento. No caso da gestante que teve contatocom pessoa <strong>do</strong>ente de rubéola, a primeira amostra também deve ser coletada no momento<strong>do</strong> primeiro atendimento.Os anticorpos específicos para o vírus da rubéola aparecem logo após o início da <strong>do</strong>ença.A presença de IgM positivo significa que houve infecção recente, mas geralmente nãosão mais detecta<strong>do</strong>s após 4 a 6 semanas <strong>do</strong> início <strong>do</strong> exantema, quan<strong>do</strong> pre<strong>do</strong>minam osanticorpos IgG, que usualmente persistem por toda a vida.61. Tipos de examesEnsaio imunoenzimático (EIE) – na maioria <strong>do</strong>s casos, o ensaio imunoenzimáticode captura para IgM anti-rubéola permite o diagnóstico através da realização <strong>do</strong> exame deuma amostra, coletada durante o comparecimento ao serviço de saúde.Inibição da hemaglutinação (HI) – mais utilizada por ser de baixo custo e simplesexecução, apresentan<strong>do</strong> também boa sensibilidade e especificidade. Devem ser coletadasduas amostras: a primeira, durante o perío<strong>do</strong> exantemático, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> comparecimento<strong>do</strong> <strong>do</strong>ente ao serviço de saúde; a segunda, 14 dias a partir da data da coleta da primeiraamostra.Outros méto<strong>do</strong>s que podem ser utiliza<strong>do</strong>s – EIE para detecção de IgG, aglutinaçãopassiva <strong>do</strong> látex, hemólise radial e detecção de IgM por hemoabsorção.RProcedimentosSorologiaColeta – de acor<strong>do</strong> com o Plano de Controle da Rubéola deverá ser coletada umaamostra de sangue para realização de exame sorológico, visan<strong>do</strong>-se a detecção de anticorposespecíficos, na primeira visita <strong>do</strong> paciente ao serviço de saúde.As amostras deverão ser coletadas nos primeiros 28 dias após o início <strong>do</strong> exantema.Aquelas coletadas após o 28 o dia são consideradas tardias mas mesmo assim devem seraproveitadas e encaminhadas ao laboratório para realização da pesquisa de IgM. É importanteressaltar que resulta<strong>do</strong>s não-reagentes para IgM não descartam a possibilidade deinfecção recente pelo vírus da rubéola.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS645


RubéolaMaterial – o material a ser colhi<strong>do</strong> é o sangue venoso sem anticoagulante, na quantidadede 5 a 10ml. Quan<strong>do</strong> se tratar de criança muito pequena e não for possível coletar ovolume estabeleci<strong>do</strong>, obter no mínimo 3ml.Conservação e envio ao Lacen – após a separação <strong>do</strong> soro, conservar o tubo com osoro sob refrigeração na temperatura de +4ºC a +8ºC, por no máximo 48 horas.Enviar ao laboratório no prazo de <strong>do</strong>is dias, no máximo, colocan<strong>do</strong> o tubo em embalagemtérmica ou caixa de isopor com gelo ou gelox.Caso o soro não possa ser encaminha<strong>do</strong> ao laboratório no prazo de <strong>do</strong>is dias (48h),conservá-lo no freezer em uma temperatura de -20ºC até o momento <strong>do</strong> transporte para olaboratório de referência. O prazo máximo para chegar ao Lacen é de até 5 dias.Interpretação <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>Rubéola pós-natal (exceto gestantes)Coleta da amostra Resulta<strong>do</strong> Classificação <strong>do</strong> casoAté 28 diasApós 28 diasIgM (+)IgM (-)IgM (+)IgM (-)Confirmar o casoDescartar o casoConfirmar o casoEmbora não se possa afirmar que não houveinfecção recente, des cartar o casoRubéola em gestante sintomáticaColeta da amostra Resulta<strong>do</strong> Classificação <strong>do</strong> casoDo 1º ao 4º diaDo 5º ao 28º diaApós 28 diasIgM (+)IgM (-)IgG (+)IgG (-)IgM (+)IgM (-)IgM (+)IgM (-)IgG (+)IgG (-)Confirmar o casoRealizar pesquisa de IgGDescartar o casoColher 2ª amostra após 7 a 21 dias da 1ªConfirmar o caso – acompanharDescartar o casoConfirmar o casoNão se pode afirmar que não houve infecção, realizarIgGConfirmar o casoDescartar o caso646 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RubéolaGestante assintomática por contato de rubéolaColeta da amostra Resulta<strong>do</strong> Classificação <strong>do</strong> casoIgM (+)Acompanhar – recém-nasci<strong>do</strong> suspeito de SRCIgM (-)Realizar pesquisa de IgGIgG (+)Gestante não-susceptívelAté 27 diasIgG (-)Colher 2ª amostra entre a 4ª e 6ª semanas (29 a 42 dias) após o contato2ª amostraIgM (+)Acompanhar – recém-nasci<strong>do</strong> suspeito de SRCIgM (-)Vacinar após o partoEntre 28 e 42 diasIgM (+)IgM (-)Acompanhar – recém-nasci<strong>do</strong> suspeito de SRCRealizar pesquisa de IgGIgM (+)Acompanhar – recém-nasci<strong>do</strong> suspeito de SRCApós 42 diasIgM (-)IgG (+)Realizar pesquisa de IgGNão se pode afirmar que houve infecçãoAcompanhar – recém-nasci<strong>do</strong> suspeito de SRC6IgG (-)Vacinar após o partoIsolamento viral – o vírus da rubéola pode ser isola<strong>do</strong> a partir das secreções nasofaríngeas.Este procedimento é recomenda<strong>do</strong> na ocorrência de surtos ou epidemias já confirma<strong>do</strong>spor laboratório. Coletar de 5 a 10 espécimes por surto, numa determinada área geográfica,não necessitan<strong>do</strong> realizar a coleta de to<strong>do</strong>s os casos suspeitos de rubéola.To<strong>do</strong> espécime clínico coleta<strong>do</strong> deve ser encaminha<strong>do</strong> ao laboratório central <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>(Lacen), para o processamento inicial da amostra. Cabe a este Lacen o encaminhamento aoCentro de Referência Nacional para Sarampo/Rubéola, na Fiocruz/RJ.Quanto mais perto <strong>do</strong> início <strong>do</strong> exantema a amostra for coletada e quanto mais rápi<strong>do</strong>chegar ao laboratório de referência nacional (Fiocruz/RJ), maiores serão as possibilidadesde isolamento <strong>do</strong> vírus, que tem por objetivos:• identificar o padrão genético <strong>do</strong> vírus circulante no país;• diferenciar, <strong>do</strong>s casos importa<strong>do</strong>s, os casos autóctones de rubéola;• diferenciar o vírus selvagem <strong>do</strong> vírus vacinal.RCritérios para a coleta de espécimes para isolamento – a coleta <strong>do</strong>s espécimes clínicospara isolamento viral deve ser priorizada nas seguintes situações:• em to<strong>do</strong>s os municípios com ocorrência de surtos de rubéola, independente da distância<strong>do</strong> laboratório central estadual;• obedecer ao critério de 5 a 10 casos suspeitos por área geográfica, em situações desurtos ou epidemias.Perío<strong>do</strong> para coleta <strong>do</strong>s espécimes clínicos – as amostras <strong>do</strong>s espécimes clínicos, ouseja, de secreções nasofaríngeas, devem ser coletadas até o 5° dia a partir <strong>do</strong> aparecimentoSecretaria de Vigilância em Saúde / MS647


Rubéola<strong>do</strong> exantema (preferencialmente, nos primeiros três dias; em casos esporádicos, para quenão se perca a oportunidade de recolher amostras clínicas para o isolamento viral, o perío<strong>do</strong>pode ser estendi<strong>do</strong> em até 7 dias após o início <strong>do</strong> exantema).Quantidade, coleta, encaminhamento e processamento de secreção nasofaríngea(SNF) – deve ser coleta<strong>do</strong> o máximo possível de SNF, por meio da técnica de swab ou aspiração.A SNF, o melhor material para o isolamento <strong>do</strong> vírus da rubéola, pode ser coletada:• Com uma sonda nasal conectada a uma seringa, instilar no nariz <strong>do</strong> paciente de 3 a5ml de solução salina:❯ aspirar a maior quantidade possível de material;❯ colocar em tubo conten<strong>do</strong> meio DMEM específico forneci<strong>do</strong> pelo laboratório.❯ caso não se disponha <strong>do</strong> meio, colocar o material aspira<strong>do</strong> com a salina em umtubo.• Coletar com uma sonda acoplada a um equipo de soro, com ajuda de um vácuo (hospitaistêm vácuo na parede). Este material pode permanecer no próprio equipo.• Swabs:❯ Coletar 3 amostras de swab, uma amostra de cada narina e uma da garganta, como uso de fricção para obter as células de mucosa, uma vez que o vírus está estreitamenteassocia<strong>do</strong> às células. Colocar os 3 swabs em um tubo conten<strong>do</strong> 3ml demeio (Earle, Dulbecco, Salina, etc., forneci<strong>do</strong> pelo laboratório).❯ A SNF e os swabs no tubo com meio podem ser conserva<strong>do</strong>s em geladeira por 24a 48 horas. Não devem ser congela<strong>do</strong>s.❯ Enviar em gelo reciclável ao Lacen.❯ Para conservar e transportar a SNF devem ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s os seguintes cuida<strong>do</strong>s:no Lacen, colocar a SNF em freezer a -70ºC;❯ Encaminhar a amostra para o Centro de Referência Nacional para Sarampo/Rubéola,na Fiocruz/RJ, em isopor com gelo seco.648 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RubéolaAnexo 2Diagnóstico laboratorial – Rubéola pós-natalAmostra coletadaentre o 1º e 28ºdias após o início<strong>do</strong> exantemaIgM negativaIgM positivaCaso descarta<strong>do</strong> por laboratórioCaso confirma<strong>do</strong> por laboratórioAmostra coletadaapós o 28º dia <strong>do</strong>início <strong>do</strong> exantemaIgM negativaCaso descarta<strong>do</strong> por amostrastardias com IgM negativa6IgM positivaCaso confirma<strong>do</strong> por laboratórioRSecretaria de Vigilância em Saúde / MS649


RubéolaAnexo 3Diagnóstico laboratorial – Rubéola em gestante sintomáticaAmostra IgM positivacoletadaentre o 1ºe o 4º diasapós o início<strong>do</strong> exantema IgM negativa Pesquisar IgGIgG positivaIgG negativaCasoconfirma<strong>do</strong>Casodescarta<strong>do</strong>Colher 2ªamostraAmostracoletadaentre o 5ºe o 28º diasapós o início<strong>do</strong> exantemaIgM positivaIgM negativaCasoconfirma<strong>do</strong>Casodescarta<strong>do</strong>Amostracoletadaapós o28º dia <strong>do</strong>exantemaIgM positivaIgM negativaPesquisar IgGIgG positivaCasoconfirma<strong>do</strong>Caso confirma<strong>do</strong>por amostra tardiacom IgM negativaIgG negativaCasodescarta<strong>do</strong>650 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


RubéolaDiagnóstico laboratorial – Gestante assintomática queteve contato com caso confirma<strong>do</strong> ou suspeito de rubéola1 a amostraAté 28 diasapós a exposiçãoEntre 29 e 42 diasapós a exposiçãoApós o 42 o diapós-exposiçãoIgM negativaIgM positivaIgM negativaIgM positivaPesquisar IgGPesquisar IgG6IgG positivaIgG negativaIgG positivaIgG negativa**Coletar amostra de28 a 42 dias após exposiçãopara pesquisa de IgMIgM negativa**IgM positivaRCasoconfirma<strong>do</strong>*Casodescarta<strong>do</strong>*Se a gestante assintomática é classificada como caso confirma<strong>do</strong>, fazer a investigação <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong> queé considera<strong>do</strong> caso suspeito de síndrome da rubéola congênita.**Se a gestante apresentar IgG negativo, sem outra evidência de infecção (IgM positiva na 2 a amostra), seránecessária a vacinação pós-parto.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS651


SarampoSARAMPOCID 10: B05Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoO sarampo é uma <strong>do</strong>ença infecciosa aguda, de natureza viral, grave, transmissível eextremamente contagiosa. A viremia causada pela infecção provoca uma vasculite generalizada,responsável pelo aparecimento das diversas manifestações clínicas, inclusive pelasperdas consideráveis de eletrólitos e proteínas, geran<strong>do</strong> o quadro espoliante característicoda infecção. Além disso, as complicações infecciosas contribuem para a gravidade <strong>do</strong> sarampo,particularmente em crianças desnutridas e menores de 1 ano.Agente etiológicoO vírus <strong>do</strong> sarampo pertence ao gênero Morbillivirus, família Paramyxoviridae.Reservatório e fonte de infecçãoO homem é o único hospedeiro natural conheci<strong>do</strong>.Mo<strong>do</strong> de transmissãoÉ transmiti<strong>do</strong> diretamente de pessoa a pessoa, através das secreções nasofaríngeas expelidasao tossir, espirrar, falar ou respirar. Essa forma de transmissão é responsável pelaelevada contagiosidade da <strong>do</strong>ença. Tem si<strong>do</strong> também descrito o contágio por dispersãode gotículas com partículas virais no ar, em ambientes fecha<strong>do</strong>s como escolas, creches eclínicas.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeOcorre entre 4 a 6 dias antes <strong>do</strong> aparecimento <strong>do</strong> exantema, e até 4 dias após. O perío<strong>do</strong>de maior transmissibilidade é o de 2 dias antes e 2 dias após o início <strong>do</strong> exantema. Ovírus vacinal não é transmissível.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoGeralmente, de 10 dias (varian<strong>do</strong> de 7 a 18 dias), desde a data da exposição até o aparecimentoda febre, e cerca de 14 dias até o início <strong>do</strong> exantema.Susceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade ao vírus <strong>do</strong> sarampo é geral. Os lactentes cujas mães já tiveram sarampoou foram vacinadas possuem, temporariamente, anticorpos transmiti<strong>do</strong>s por via placentária,conferin<strong>do</strong> imunidade provisória à <strong>do</strong>ença, geralmente até os 9 meses de idade, o652 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sarampoque interfere na resposta à vacina se administrada neste perío<strong>do</strong>. Chama a atenção o fato deque a queda <strong>do</strong>s níveis desses anticorpos já se faz de maneira acentuada aos 6 meses de vida,o que, em situação de bloqueio vacinal, justifica a vacinação de crianças a partir desta idade.A imunidade ativa é adquirida por meio da infecção natural ou pela vacinação. Após ainfecção natural, a imunidade é dura<strong>do</strong>ura. A imunidade “de grupo” é obtida com 95% decobertura vacinal, no mínimo.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasCaracteriza-se por febre alta, acima de 38ºC, exantema maculopapular generaliza<strong>do</strong>,tosse, coriza, conjuntivite e manchas de Koplik (pequenos pontos brancos que aparecem namucosa bucal, anteceden<strong>do</strong> ao exantema).6Perío<strong>do</strong> de infecção – dura cerca de sete dias, inician<strong>do</strong> com o perío<strong>do</strong> prodrômico,onde surge febre acompanhada de tosse produtiva, coriza, conjuntivite e fotofobia. Do 2° ao4° dia desse perío<strong>do</strong> surge o exantema, quan<strong>do</strong> acentuam-se os sintomas iniciais: o pacientefica prostra<strong>do</strong> e aparecem as lesões características <strong>do</strong> sarampo, como exantema cutâneomáculo-papular de coloração vermelha, inician<strong>do</strong> na região retroauricular.Remissão – caracteriza-se pela diminuição <strong>do</strong>s sintomas, principalmente pelo declínioda febre. O exantema torna-se escureci<strong>do</strong> e, em alguns casos, surge descamação fina,lembran<strong>do</strong> farinha, daí o nome de furfurácea.Perío<strong>do</strong> toxêmico – o sarampo é uma <strong>do</strong>ença que compromete a resistência <strong>do</strong> hospedeiro,facilitan<strong>do</strong> a ocorrência de superinfecção viral ou bacteriana. Por isso são freqüentesas complicações, principalmente nas crianças até <strong>do</strong>is anos de idade, em especial as desnutridas,e adultos jovens.A ocorrência de febre por mais de três dias após o aparecimento <strong>do</strong> exantema é umsinal de alerta, indican<strong>do</strong> o aparecimento de complicações. As mais comuns são:• infecções respiratórias;• desnutrição;• <strong>do</strong>enças diarréicas;• <strong>do</strong>enças neurológicas.SGeralmente, as complicações sistêmicas se instalam durante o perío<strong>do</strong> exantemático,embora a encefalite possa aparecer após o 20º dia.Diagnóstico diferencialO diagnóstico diferencial <strong>do</strong> sarampo deve ser realiza<strong>do</strong> com as <strong>do</strong>enças exantemáticasfebris agudas. Dentre as quais destacam-se: rubéola, eritema infeccioso (parvovírusSecretaria de Vigilância em Saúde / MS653


SarampoB19), exantema súbito (roséola infantum – herpes vírus 6), dengue, enteroviroses e ricketioses.Rubéola – <strong>do</strong>ença de natureza viral que, em geral, apresenta-se com pródromos somenteem crianças. O exantema é róseo, discreto e, excepcionalmente, confluente, commáxima intensidade no segun<strong>do</strong> dia, desaparecen<strong>do</strong> até o sexto dia, sem descamação. Hápresença de linfadenopatia, principalmente retroauricular e occipital.Eritema infeccioso (parvovírus B19) – caracteriza<strong>do</strong> por exantema, febre, adenopatia,artralgia e <strong>do</strong>res musculares, acometen<strong>do</strong> principalmente as crianças de 4 a 14 anosde idade, sen<strong>do</strong> moderadamente contagiosa. O exantema surge, em geral, sete dias após osprimeiros sinais e sintomas, caracterizan<strong>do</strong>-se por três estágios: estágio 1: face eritematosa,conhecida como “aparência de bochecha esbofeteada”; estágio 2: surge um a quatro diasapós o estágio 1, caracteriza<strong>do</strong> como exantema maculopapular, distribuí<strong>do</strong> simetricamenteno tronco e nas extremidades, poden<strong>do</strong> ser acompanha<strong>do</strong> de pruri<strong>do</strong>; estágio 3: mudançade intensidade no rash, com duração de uma ou mais semanas, exarceba<strong>do</strong> por exposiçãoao sol ou fatores emocionais.Exantema súbito (roséola infantum) – <strong>do</strong>ença de natureza viral provocada pelo herpesvírus 6, acometen<strong>do</strong> principalmente os menores de 5 anos. O paciente apresenta 3 a 4dias de febre alta e irritabilidade, poden<strong>do</strong> ocorrer convulsões. O exantema é semelhanteao da rubéola e pode durar apenas horas. Inicia-se, caracteristicamente, no tronco, após odesaparecimento da febre, e não há descamação.Dengue – caracteriza-se por início súbito, com febre, cefaléia intensa, mialgias, artralgias,<strong>do</strong>r retroorbital e <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal difusa. Alguns casos podem cursar também comerupção maculopapular generalizada, que aparece freqüentemente com o declínio da febre.É também uma <strong>do</strong>ença de natureza viral.Enteroviroses (coxsackioses e echoviroses) e ricketioses – para o diagnóstico diferencialdas enteroviroses considerar, no caso de infecção pelo vírus echo, que o perío<strong>do</strong>prodômico dura de três a quatro dias com a ocorrência de febre. Não existem pródromosquan<strong>do</strong> se trata de vírus coxsackie.O exantema pode manifestar-se de várias formas, pre<strong>do</strong>minan<strong>do</strong> o maculopapulardiscreto. São mais freqüentes em crianças de baixa idade, na maioria <strong>do</strong>s casos acometen<strong>do</strong>a região palmo-plantar e não provocan<strong>do</strong> descamação.Diagnóstico laboratorialÉ realiza<strong>do</strong> mediante detecção de anticorpos IgM no sangue na fase aguda da <strong>do</strong>ença,desde os primeiros dias até quatro semanas após o aparecimento <strong>do</strong> exantema. Os anticorposespecíficos da classe IgG podem eventualmente aparecer na fase aguda da <strong>do</strong>ença egeralmente são detecta<strong>do</strong>s durante muitos anos após a infecção.Técnicas de diagnóstico laboratorialPara detecção de anticorpos podem ser utilizadas as seguintes técnicas:• ensaio imunoenzimático (EIE/Elisa) para <strong>do</strong>sagem de IgM e IgG;654 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sarampo• inibição de hemaglutinação (HI) para <strong>do</strong>sagem de anticorpos totais;• imunofluorescência para <strong>do</strong>sagem de IgM e IgG;• neutralização em placas.To<strong>do</strong>s os testes têm sensibilidade e especificidade entre 85% a 98%.No Brasil, a rede laboratorial de saúde pública de referência para o sarampo utiliza atécnica de Elisa para a detecção de IgM e IgG.Número de amostrasA amostra de sangue <strong>do</strong> caso suspeito deve ser colhida, sempre que possível, no primeiroatendimento ao paciente.São consideradas amostras oportunas (S1) as coletadas entre o 1º e o 28º dias <strong>do</strong> aparecimento<strong>do</strong> exantema. Mesmo que a coleta seja tardia (após o 28º dia) ainda assim deveser enviada ao laboratório.Os resulta<strong>do</strong>s IgM positivo ou indetermina<strong>do</strong>, independente da suspeita clínica inicial,devem ser comunica<strong>do</strong>s imediatamente à vigilância epidemiológica estadual, para a realizaçãoda reinvestigação e coleta da segunda amostra de sangue.A realização desta segunda coleta (S2) é obrigatória e imprescindível para a classificaçãofinal desses casos e deverá ser realizada entre 2 a 3 semanas após a data da primeira coleta.Os procedimentos laboratoriais estão descritos no Anexo 1.6Isolamento viralO vírus <strong>do</strong> sarampo pode ser isola<strong>do</strong> da urina, das secreções nasofaríngeas, <strong>do</strong> sangue,<strong>do</strong> liquor cérebro-espinhal ou de teci<strong>do</strong>s <strong>do</strong> corpo.Este isolamento objetiva identificar o genoma <strong>do</strong> vírus circulante no país, o que permitediferenciar os casos autóctones <strong>do</strong>s casos importa<strong>do</strong>s e o vírus selvagem <strong>do</strong> vírus vacinal.Perío<strong>do</strong> para coletaAs amostras <strong>do</strong>s espécimes clínicos (urina, secreções nasofaríngeas ou sangue total)devem ser coletadas até o 5º dia a partir <strong>do</strong> início <strong>do</strong> exantema, preferencialmente nos 3primeiros dias. Em casos esporádicos, para não se perder a oportunidade de colher amostrade urina para o isolamento viral, o perío<strong>do</strong> pode ser estendi<strong>do</strong> em até 7 dias após a data deinício <strong>do</strong> exantema.SCritérios para a coleta de espécimes para isolamento• Em presença de surto de sarampo, independente da distância <strong>do</strong> laboratório central.• Casos importa<strong>do</strong>s, independente <strong>do</strong> país de origem.• Em to<strong>do</strong>s os casos com resulta<strong>do</strong> laboratorial IgM positivo ou indetermina<strong>do</strong> parao sarampo, independente da suspeita clínica inicial, observan<strong>do</strong>-se o perío<strong>do</strong> decoleta adequa<strong>do</strong>.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS655


SarampoTratamentoNão existe tratamento específico para a infecção por sarampo. O tratamento profiláticocom antibiótico é contra-indica<strong>do</strong>.É recomendável a administração da vitamina A em crianças acometidas pela <strong>do</strong>ença, afim de reduzir a ocorrência de casos graves e fatais. A OMS recomenda administrar a vitaminaA para todas as crianças, no mesmo dia <strong>do</strong> diagnóstico <strong>do</strong> sarampo, nas seguintes <strong>do</strong>sagens:Menores de seis meses de idade – 50 mil UI (unidades internacionais):• uma <strong>do</strong>se, em aerossol, no dia <strong>do</strong> diagnóstico;• outra <strong>do</strong>se no dia seguinte.Entre 6 e 12 meses de idade – 100 mil UI:• uma <strong>do</strong>se, em aerossol, no dia <strong>do</strong> diagnóstico;• outra <strong>do</strong>se no dia seguinte.Maiores de 12 meses de idade – 200 mil UI:• uma <strong>do</strong>se, em aerossol ou cápsula, no dia <strong>do</strong> diagnóstico;• outra <strong>do</strong>se no dia seguinte.Para os casos não complica<strong>do</strong>s, manter a hidratação, o suporte nutricional e diminuira hipertermia. Muitas crianças necessitam de quatro a oito semanas para recuperar o esta<strong>do</strong>nutricional que apresentavam antes da <strong>do</strong>ença.Complicações como diarréia, pneumonia e otite média devem ser tratadas de acor<strong>do</strong>com normas e procedimentos estabeleci<strong>do</strong>s pelo Ministério da Saúde.Aspectos epidemiológicosO sarampo é uma das principais causas de morbimortalidade entre menores de cincoanos, sobretu<strong>do</strong> os desnutri<strong>do</strong>s e os que vivem nos países de menor desenvolvimento econômico.É uma <strong>do</strong>ença de distribuição universal que apresenta variação sazonal. Nos climastempera<strong>do</strong>s, observa-se aumento da incidência no perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong> entre o final <strong>do</strong>inverno e o início da primavera; nos climas tropicais, a transmissão parece aumentar depoisda estação chuvosa. O comportamento endêmico-epidêmico <strong>do</strong> sarampo varia de um localpara outro e depende basicamente da relação entre o grau de imunidade e a susceptibilidadeda população, bem como da circulação <strong>do</strong> vírus na área.Nos locais onde as coberturas vacinais não são homogêneas e estão abaixo de 95%, a<strong>do</strong>ença tende a comportar-se de forma endêmica, com a ocorrência de epidemias a cada<strong>do</strong>is ou três anos, aproximadamente. Na zona rural, a <strong>do</strong>ença apresenta-se com intervaloscíclicos mais longos.O sarampo afeta igualmente ambos os sexos. Sua incidência, evolução clínica e letalidadesão influenciadas pelas condições socioeconômicas e esta<strong>do</strong> nutricional e imunitário<strong>do</strong> <strong>do</strong>ente. Elevadas densidades demográficas e condições que favorecem a aglomeração emlugares públicos e em habitações de tamanho inadequa<strong>do</strong> para o grupo familiar são fatores656 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sarampoque modulam o processo de transmissão da <strong>do</strong>ença em situações de circulação viral e existênciade grupos de susceptíveis.Atualmente, nos países que conseguem manter altos níveis de cobertura vacinal, aincidência da <strong>do</strong>ença é reduzida, ocorren<strong>do</strong> em perío<strong>do</strong>s de cinco a sete anos. No entanto,quan<strong>do</strong> os susceptíveis vão se acumulan<strong>do</strong> e chegam a um quantitativo suficiente parasustentar uma transmissão ampla, podem ocorrer surtos explosivos que também afetam,escolares, a<strong>do</strong>lescentes e adultos jovens.No Brasil, o sarampo é <strong>do</strong>ença de notificação compulsória desde 1968. Até 1991, opaís enfrentou nove epidemias, uma a cada <strong>do</strong>is anos, em média. O maior número de casosnotifica<strong>do</strong>s foi registra<strong>do</strong> em 1986 (129.942), representan<strong>do</strong> um coeficiente de incidênciade 97,7 por 100 mil habitantes (Figura 1). Até o início da década de 90, a faixa etária maisatingida foi a de menores de 15 anos.Até o final <strong>do</strong>s anos 70 esta virose era uma das principais causas de óbito dentre as<strong>do</strong>enças infectocontagiosas, sobretu<strong>do</strong> em menores de cinco anos, em decorrência de complicações,especialmente a pneumonia. Na década de 80, ocorreu um declínio gradativo noregistro de óbitos por esta <strong>do</strong>ença, passan<strong>do</strong> para 15.638 mortes. Essa redução foi atribuídaao aumento da cobertura vacinal e à melhoria da assistência médica ofertada às criançascom complicações pós-sarampo. Na década de 90 ocorreram 822 óbitos por sarampo, ouseja, uma redução de cerca de 95% <strong>do</strong>s registra<strong>do</strong>s na década anterior (Figura 2).Em 1997, após um perío<strong>do</strong> de 4 anos de controle, o país experimentou o ressurgimento<strong>do</strong> sarampo com um surto inicia<strong>do</strong> na cidade de S. Paulo e propaga<strong>do</strong> para outras unidadesda Federação. Com a a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> Plano de Ação Suplementar de Emergência contra o Sarampo,em 1999, foi cria<strong>do</strong> um grupo tarefa para atuar junto à vigilância epidemiológica decada esta<strong>do</strong>, o que propiciou a implementação das ações de vigilância e controle da <strong>do</strong>ença,viabilizan<strong>do</strong> o alcance da meta de erradicação de sua transmissão autóctone. Em 1999,<strong>do</strong>s 10.007 casos suspeitos de sarampo notifica<strong>do</strong>s, 908 (8,9%) foram confirma<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong>378 (42%) por laboratório. Dos 8.358 casos suspeitos de sarampo notifica<strong>do</strong>s em 2000, 36(0,4%) foram confirma<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>s quais 30 (83%) por laboratório. Neste mesmo ano, 92% <strong>do</strong>scasos descarta<strong>do</strong>s tiveram por base testes laboratoriais. O último surto de sarampo ocorreuem fevereiro de 2000, com 15 casos. Nos anos de 2001 a 2003 foram confirma<strong>do</strong>s quatrocasos de sarampo (<strong>do</strong>is casos importa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Japão e <strong>do</strong>is importa<strong>do</strong>s da Europa).Atualmente, não existe evidência de transmissão autóctone de sarampo no Brasil, sen<strong>do</strong>importante a manutenção da sensisibilidade e especificidade atual <strong>do</strong> sistema de vigilânciaepidemiológica desta <strong>do</strong>ença, com vistas à detecção oportuna de casos importa<strong>do</strong>s e aa<strong>do</strong>ção imediata de todas as medidas de controle pertinentes ao caso.Para que a população brasileira continue efetivamente livre <strong>do</strong> sarampo, é imprescindívela manutenção de coberturas vacinais minimamente adequadas para impedir a formaçãode um estoque de susceptíveis. Isto significa a obtenção de níveis de cobertura de 95%em to<strong>do</strong>s os municípios <strong>do</strong> país, atentan<strong>do</strong>-se para que esta homogeneidade de coberturatambém seja alcançada em todas as localidades <strong>do</strong>s mesmos.6SSecretaria de Vigilância em Saúde / MS657


SarampoFigura 1. Incidência de sarampo e cobertura vacinal em menores de 1 ano (até2001) e de 1 ano (a partir de 2002), com a vacina tríplice viral. Brasil, 1980-20031009080706050403020100Incidência/100 mil Cobertura (%)80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 031009080706050403020100IncidênciaCoberturaFonte: CGDT/CGPNI/Devep/SVS/MSFigura 2. Coeficiente de mortalidade e letalidade por sarampo. Brasil, 1977-2000Óbitos/100 mil hab. Letalidade (%)32,72,42,11,81,51,20,90,60,365,44,84,23,632,41,81,20,6077 787980 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 000Coef. mortalidadeLetalidadeFonte: CGDT/Devep/SVS/MS658 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


SarampoVigilância epidemiológicaObjetivosConsolidar a erradicação <strong>do</strong> sarampo através de uma vigilância epidemiológica sensível,ativa e oportuna, permitin<strong>do</strong> a identificação e notificação imediata de to<strong>do</strong> e qualquercaso suspeito na população, para a a<strong>do</strong>ção das medidas de prevenção e controle pertinentes,bem como monitorar as demais condições de risco.Definição de casoSuspeitoTo<strong>do</strong> paciente que, independente da idade e situação vacinal, apresentar febre e exantemamaculopapular, acompanha<strong>do</strong>s de um ou mais <strong>do</strong>s seguintes sinais e sintomas: tosse,coriza e conjuntivite.6Confirma<strong>do</strong>To<strong>do</strong> caso suspeito comprova<strong>do</strong> como caso de sarampo a partir de, pelo menos, um<strong>do</strong>s critérios a seguir detalha<strong>do</strong>s:Laboratorial – caso suspeito cujo exame laboratorial teve como resulta<strong>do</strong> “reagente”ou “positivo para IgM”, e a análise clínica epidemiológica indica a confirmação <strong>do</strong> sarampo(Algoritmo, Anexo 2).Observação: ten<strong>do</strong> em vista o momento atual <strong>do</strong> processo de erradicação <strong>do</strong> sarampo,to<strong>do</strong>s os casos com IgM positivo, reagente ou indetermina<strong>do</strong> para o sarampo devem seranalisa<strong>do</strong>s conjuntamente pela SES e pela Cover/CGDT/Devep/SVS/MS.Vínculo epidemiológico – caso suspeito, contato de um ou mais casos de sarampoconfirma<strong>do</strong>s pelo laboratório, que apresentou os primeiros sintomas da <strong>do</strong>ença entre 7 a 18dias da exposição ao caso confirma<strong>do</strong>.Observação: considera-se também confirmação por vínculo epidemiológico to<strong>do</strong>caso suspeito cujo exame laboratorial teve como resulta<strong>do</strong> “não-reagente” ou “negativo paraIgM” em amostra colhida entre o 1º e o 3º dia a partir <strong>do</strong> aparecimento <strong>do</strong> exantema, comhistória de exposição a um ou mais casos de sarampo confirma<strong>do</strong>s pelo laboratório (estaexposição deve ter ocorri<strong>do</strong> dentro de um perío<strong>do</strong> de sete a 18 dias antes <strong>do</strong> aparecimento<strong>do</strong>s sinais e sintomas).SClínico – caso suspeito de sarampo que:• pela avaliação clínica apresente sinais e sintomas compatíveis com a definição decaso suspeito, porém sem a obtenção de amostras de sangue para a realização desorologia;• não foi investiga<strong>do</strong>;• evoluiu para óbito sem a realização de qualquer exame laboratorial.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS659


SarampoA confirmação de casos de sarampo pelo critério clínico representa falha <strong>do</strong> sistemade vigilância epidemiológica.Descarta<strong>do</strong>To<strong>do</strong> paciente considera<strong>do</strong> como caso suspeito e que não foi comprova<strong>do</strong> como casode sarampo, de acor<strong>do</strong> com os critérios assim defini<strong>do</strong>s:Laboratorial• Caso suspeito de sarampo cujo exame laboratorial teve como resulta<strong>do</strong> “não-reagente”ou “negativo para IgM”, em amostra oportuna, ou seja, colhida até o 28 o dia<strong>do</strong> aparecimento <strong>do</strong> exantema.• Caso suspeito de sarampo cujo exame laboratorial teve como resulta<strong>do</strong> outra <strong>do</strong>ença(Anexo 2).• Caso suspeito de sarampo cuja análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da sorologia em duas amostraspareadas não evidencia soroconversão <strong>do</strong>s anticorpos IgG.Vínculo epidemiológico• Caso suspeito de sarampo que tiver como fonte de infecção um ou mais casos descarta<strong>do</strong>spelo critério laboratorial.• Quan<strong>do</strong> na localidade estiver ocorren<strong>do</strong> surto ou epidemia de outras <strong>do</strong>enças exantemáticasfebris, comprovadas pelo diagnóstico laboratorial; nessa situação, os casosdevem ser criteriosamente analisa<strong>do</strong>s antes de serem descarta<strong>do</strong>s e a provável fontede infecção deve ser especificada.ClínicoCaso suspeito de sarampo em que não houve coleta de amostra para exame laboratorialmas a avaliação clínica e epidemiológica detectou sinais e sintomas compatíveis comdiagnóstico diferente <strong>do</strong> sarampo.O descarte clínico <strong>do</strong> sarampo representa falha <strong>do</strong> sistema de vigilância epidemiológica.Critérios para o descarte de casos suspeitos de sarampo associa<strong>do</strong>stemporalmente a eventos adversos à vacinaSem coleta de amostra – quan<strong>do</strong> a avaliação clínica e epidemiológica indicou associaçãotemporal entre a data <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s sintomas e a data <strong>do</strong> recebimento da última <strong>do</strong>se davacina com o componente contra o sarampo, que se enquadre nas especificações abaixo:• febre com temperatura que pode chegar a 39ºC ou mais, com início entre o 5º e 12ºdias após a vacinação e duração média de um a <strong>do</strong>is dias, poden<strong>do</strong> chegar até cincodias;• exantema – cerca de 5% das pessoas que recebem a vacina pela primeira vez poderãoapresentar exantema com início no 7º ao 10º dia após a vacinação, que dura de <strong>do</strong>isa quatro dias;660 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sarampo• cefaléia ocasional, irritabilidade, conjuntivite ou manifestações catarrais observadasentre o 5º e o 12º dia após a vacinação.Com coleta de amostra – IgM positivo associa<strong>do</strong> temporalmente à vacina, cuja coletade sangue ocorreu entre 8 a 56 dias após a vacinação.Classificação <strong>do</strong>s casos confirma<strong>do</strong>s de sarampo, de acor<strong>do</strong>com a fonte de infecçãoCaso importa<strong>do</strong> – caso cuja exposição ocorreu fora <strong>do</strong> continente americano duranteos 14 a 23 dias prévios ao surgimento <strong>do</strong> exantema, de acor<strong>do</strong> com a análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sepidemiológicos e/ou virológicos. A confirmação deve ser laboratorial e a coleta de espécimesclínicas (urina ou secreção de nasofaringe) para isolamento viral deve ser realizada noprimeiro contato com o paciente.Caso relaciona<strong>do</strong> com importação – infecção contraída localmente, que ocorre comoparte de uma cadeia de transmissão originada por um caso importa<strong>do</strong>, de acor<strong>do</strong> com aanálise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s epidemiológicos e/ou virológicos.Caso com origem de infeçcção desconhecida – caso em que não foi possível estabelecera origem da fonte de infecção, após investigação epidemiológica minuciosa.Caso índice – primeiro caso ocorri<strong>do</strong> entre os vários casos de natureza similar e epidemiologicamenterelaciona<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> a fonte de infecção no território nacional.A confirmação deve ser laboratorial e a coleta de espécimes clínicos (urina ou swab denasofaringe) para isolamento viral deve ser realizada no primeiro contato com o paciente.Caso secundário – caso novo de sarampo surgi<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> contato com o casoíndice. A confirmação deve ser laboratorial e a coleta de espécimes clínicas (urina ou secreçãode nasofaringe) para isolamento viral deve ser realizada no primeiro contato com opaciente.Caso autóctone – caso novo ou contato de um caso secundário de sarampo, após aintrodução <strong>do</strong> vírus no país. A confirmação deve ser laboratorial e a coleta de espécimesclínicas (urina ou secreção de nasofaringe) para isolamento viral deve ser realizada no primeirocontato com o paciente.6SNotificaçãoA notificação <strong>do</strong> sarampo é obrigatória e imediata. Deve ser realizada por telefone àsecretaria municipal de saúde, dentro das primeiras 24 horas a partir <strong>do</strong> atendimento <strong>do</strong>paciente. O caso deve ser notifica<strong>do</strong> à secretaria estadual de saúde por telefone, fax ou e-mail, para acompanhamento junto ao município.Consideran<strong>do</strong> a alta infectividade e contagiosidade da <strong>do</strong>ença, to<strong>do</strong>s os profissionais <strong>do</strong>sserviços públicos e priva<strong>do</strong>s, principalmente os médicos pediatras, clínicos, infectologistas,enfermeiros e laboratoristas, devem notificar, de imediato, to<strong>do</strong> caso suspeito de sarampo.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS661


SarampoObservação: para efeito de acompanhamento pelo nível nacional, to<strong>do</strong>s os casos suspeitosprovenientes de áreas com circulação endêmica ou epidêmica <strong>do</strong> vírus <strong>do</strong> sarampodevem também ser imediatamente comunica<strong>do</strong>s à Secretaria de Vigilância em Saúde/MS.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteGeralmente ocorre em unidades básicas de saúde. A hospitalização é necessária quan<strong>do</strong>há infecção bacteriana (complicações) e em indivíduos imunocomprometi<strong>do</strong>s, principalmentecrianças desnutridas.Definição de caso suspeitoToda pessoa com febre e exantema,acompanhadas de tosse e/ou coriza e/ou conjuntivite,independemente da idade ou situação vacinalSuspeitar de sarampoNotificar à secretariamunicipal de saúdeNotificar a Secretariade Vigilância em Saúdese proveniente de áreade circulação endêmicaou epidêmica <strong>do</strong> vírusInvestigar em até 48 horasColetar sangue para sorologia noprimeiro contato com o pacienteVacinação de bloqueioVacinar os contatos susceptíveisQualidade da assistênciaOs casos deverão ser atendi<strong>do</strong>s na rede de serviços de saúde. Os profissionais devemser orienta<strong>do</strong>s sobre os procedimentos frente a um caso de sarampo. A hospitalização só sefaz necessária em situações graves.Proteção individual para evitar circulação viralNo plano individual, o isolamento <strong>do</strong>miciliar ou hospitalar <strong>do</strong>s casos consegue diminuira intensidade da transmissão. Deve-se evitar, principalmente, a freqüência às escolasou creches, agrupamentos ou qualquer contato com pessoas susceptíveis, até 4 dias após oinício <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> exantemático. O impacto <strong>do</strong> isolamento <strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes é relativo porque operío<strong>do</strong> prodrômico da <strong>do</strong>ença já apresenta elevada transmissibilidade <strong>do</strong> vírus e, em geral,não é possível isolar os <strong>do</strong>entes a não ser no perío<strong>do</strong> exantemático. Portanto, a vigilância<strong>do</strong>s contatos deve ser necessariamente realizada por um perío<strong>do</strong> de 21 dias.662 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


SarampoComo o risco de transmissão intra-hospitalar é muito alto, deve ser feita a vacinaçãoseletiva de to<strong>do</strong>s os pacientes e profissionais <strong>do</strong> setor de internação <strong>do</strong> caso suspeito de sarampoe, dependen<strong>do</strong> da situação, de to<strong>do</strong>s os profissionais <strong>do</strong> hospital. Pacientes interna<strong>do</strong>sdevem ser submeti<strong>do</strong>s a isolamento respiratório, até 4 dias após o início <strong>do</strong> exantema.Confirmação diagnósticaDe acor<strong>do</strong> com as orientações constantes <strong>do</strong> tópico Diagnóstico diferencial e <strong>do</strong>s Anexos1 e 2.Proteção da populaçãoA principal medida de controle <strong>do</strong> sarampo é a vacinação <strong>do</strong>s susceptíveis, que incluivacinação de rotina na rede básica de saúde, bloqueio vacinal, intensificação e campanhasde vacinação de seguimento. Ressalte-se que a cada caso suspeito notifica<strong>do</strong> a ação de bloqueiovacinal deve ser desencadeada imediatamente e uma extensa busca ativa de novoscasos suspeitos e susceptíveis deve ser realizada. A faixa etária prioritária para as ações debloqueio vacinal é a de 6 meses a 39 anos, mas sua redução ou ampliação deve ser avaliadade acor<strong>do</strong> com a situação epidemiológica apresentada na localidade. A investigação epidemiológica,principalmente através da busca ativa de casos, leva a um melhor controle da<strong>do</strong>ença.Devem ser organizadas ações de esclarecimento à população, utilizan<strong>do</strong> os meios decomunicação de massa, visitas <strong>do</strong>miciliares e palestras nas comunidades, bem como conhecimentossobre o ciclo de transmissão da <strong>do</strong>ença, gravidade, vacinação e esclarecimentos dasituação de risco veicula<strong>do</strong>s.InvestigaçãoA investigação <strong>do</strong> caso suspeito de sarampo deve ser realizada pela equipe municipal,objetivan<strong>do</strong> de a<strong>do</strong>tar medidas de controle frente a um ou mais casos, surtos e epidemias,e coleta <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s que permitirão analisar a situação epidemiológica. As informações obtidasna investigação epidemiológica deverão responder às perguntas básicas da análise epidemiológica,ou seja: quem foi afeta<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> ocorreram os casos e onde se localizam.A partir dessas informações serão desencadeadas as condutas adequadas. To<strong>do</strong>s os casossuspeitos de sarampo devem ser investiga<strong>do</strong>s no prazo máximo de 48 horas após a notificação.6SRoteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de notificação individual e investigação epidemiológica<strong>do</strong> Sinan relativos aos da<strong>do</strong>s gerais, individuais e de residência.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS663


SarampoColeta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPara confirmar a suspeita diagnósticaNa investigação, todas as informações necessárias à verificação <strong>do</strong> diagnóstico <strong>do</strong> casodevem ser coletadas, especialmente os da<strong>do</strong>s sobre a situação clínica e epidemiológica <strong>do</strong>caso suspeito.A investigação, de forma geral, é iniciada no <strong>do</strong>micílio <strong>do</strong> caso suspeito de sarampo,por meio da visita <strong>do</strong>miciliar feita especialmente para:• completar as informações sobre o quadro clínico apresenta<strong>do</strong> pelo caso suspeito;• confirmar a situação vacinal <strong>do</strong> caso suspeito e seus contatos familiares, sociais eprofissionais, mediante verificação <strong>do</strong> cartão de vacinação;• estabelecer um prazo entre sete e 18 dias para realizar a revisita, a fim de detectar aocorrência de complicações e/ou o surgimento de novos casos;• acompanhar a evolução <strong>do</strong> caso;• confirmar ou descartar o caso.Para identificar a área de transmissãoA investigação na comunidade visa verificar a ocorrência de outros casos suspeitos nãonotifica<strong>do</strong>s. Essa investigação é realizada, principalmente, em torno da área de residência econvivência <strong>do</strong> caso suspeito, ou seja, na vizinhança, local de trabalho, escola, creche, igrejas,e outros locais também freqüenta<strong>do</strong>s pelo paciente, nos últimos sete a 18 dias.Na investigação deve-se:• coletar da<strong>do</strong>s que permitam analisar a situação epidemiológica, responden<strong>do</strong> àsperguntas básicas: quem foi afeta<strong>do</strong>? quan<strong>do</strong> e como ocorreram os casos? onde selocalizam?;• preencher a ficha de investigação individual específica para o sarampo e rubéola,registran<strong>do</strong> corretamente to<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s e colocan<strong>do</strong> o mesmo número da ficha denotificação individual;• colher uma amostra de sangue para o diagnóstico laboratorial. Caso a amostra nãotenha si<strong>do</strong> colhida no serviço de saúde que fez a notificação, identificar a provávelfonte de infecção;• avaliar a cobertura vacinal da área;• verificar se estão ocorren<strong>do</strong> surtos em outras áreas;• tomar decisões quanto às medidas de controle da <strong>do</strong>ença, ou seja, definir e orientara equipe <strong>do</strong> serviço de saúde sobre a estratégia de vacinação a ser a<strong>do</strong>tada;• orientar a comunidade sobre a necessidade de comunicar aos serviços de saúde osurgimento de pessoas com sinais e sintomas de sarampo.Para determinação da extensão da área de transmissãoBusca ativa <strong>do</strong>s casos: a partir da notificação de um caso suspeito de sarampo, fazer abusca ativa durante a atividade de investigação <strong>do</strong> caso, numa determinada área geográfica,a fim de detectar outros possíveis casos, mediante:664 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sarampo• visitas às residências, creches, colégios, centros de saúde, hospitais, farmácias, quartéis,etc.;• contatos com médicos, líderes comunitários e pessoas que exercem práticas alternativasde saúde (curandeiros, benzedeiras);• visitas periódicas aos serviços de saúde que atendam <strong>do</strong>enças exantemáticas febrisna área, particularmente se os mesmos não vêm notifican<strong>do</strong> casos suspeitos;• visitas a laboratórios da rede pública ou privada, objetivan<strong>do</strong> verificar se foram realiza<strong>do</strong>sexames para a detecção de sarampo, rubéola ou outro quadro semelhante eque não tenham si<strong>do</strong> notifica<strong>do</strong>s.Coleta e remessa de material para examesEm to<strong>do</strong> caso suspeito de sarampo, deverão ser colhi<strong>do</strong>s espécimes clínicos para sorologia,de acor<strong>do</strong> com o constante no tópico Diagnóstico diferencial e Anexo 2.Análise de da<strong>do</strong>sEm cada nível <strong>do</strong> SUS (municipal, estadual e federal) devem ser realizadas análises periódicas<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s epidemiológicos coleta<strong>do</strong>s, da forma mais padronizada possível, abrangen<strong>do</strong>,conforme já referi<strong>do</strong>, a distribuição temporal, a localização espacial e a distribuiçãosegun<strong>do</strong> atributos pessoais.6Distribuição temporal (quan<strong>do</strong>?) – a análise temporal considera a distribuição <strong>do</strong>número de casos notifica<strong>do</strong>s e confirma<strong>do</strong>s (segun<strong>do</strong> critério laboratorial, vínculo epidemiológicoe clínico) de acor<strong>do</strong> com o intervalo de tempo como, por exemplo, semana epidemiológica,mês ou ano. Também devem ser calcula<strong>do</strong>s os coeficientes de incidência emortalidade mensais e anuais, conforme a situação epidemiológica vigente, para verificaçãoda tendência da <strong>do</strong>ença na população. A distribuição no tempo é um da<strong>do</strong> essencial para oadequa<strong>do</strong> acompanhamento <strong>do</strong> aumento ou redução da ocorrência de casos na populaçãoe para o estabelecimento da variação sazonal da <strong>do</strong>ença.Localização espacial (onde?) – a análise da situação, segun<strong>do</strong> a localização <strong>do</strong>s casos,permite o conhecimento da área geográfica de ocorrência que pode ser melhor visualizada,assinalan<strong>do</strong>-os com cores diferentes em um mapa, destacan<strong>do</strong>:• local de residência <strong>do</strong>s casos (rua, bairro, distrito, município, esta<strong>do</strong>, país);• local onde o caso permaneceu por mais tempo (escola, creche, alojamento, canteirode obra, quartéis, entre outros);• zona de residência/permanência (urbana, rural);• as áreas que concentram eleva<strong>do</strong> número de susceptíveis.SDistribuição segun<strong>do</strong> atributos pessoais (quem?) – a análise da distribuição segun<strong>do</strong>atributos pessoais permite conhecer o perfil da população que está sen<strong>do</strong> acometida e se ocomportamento da <strong>do</strong>ença apresenta fatores distintos que indicam mudanças em seu perfil,como, por exemplo, o deslocamento da faixa etária. Para isso, é importante considerar:Secretaria de Vigilância em Saúde / MS665


Sarampo• a distribuição <strong>do</strong>s casos confirma<strong>do</strong>s por faixa etária;• a história vacinal <strong>do</strong>s casos confirma<strong>do</strong>s, segun<strong>do</strong> número de <strong>do</strong>ses recebidas;• histórias de deslocamento;• outros atributos, tais como: ocupação, escolaridade, etc.Encerramento de casosPor se tratar de <strong>do</strong>ença em processo de erradicação, os casos deverão ser encerra<strong>do</strong>sno Sinan, no prazo de até 30 dias após a notificação.Roteiro de investigação epidemiológica <strong>do</strong> sarampoNotificação de caso suspeitoInvestigaçãoColeta de da<strong>do</strong>s clínicose epidemiológicosColeta de materialpara sorologiaRealiza medidas de controleAções de educaçãoem saúdeIdentificar novoscasos suspeitosEnviar ao laboratórioBloqueio vacinalIdentificarocorrência de surtosLaboratório informa oresulta<strong>do</strong> à secretariaestadual de saúde/secretariamunicipal de saúdeOperação limpezaIdentificar áreade transmissãoSecretarias municipaise estaduais de saúdeencerram o caso, conformeo algoritmo (Anexo 1)Avaliar a coberturavacinal da áreaRelatório finalOs da<strong>do</strong>s das fichas de notificação individual e de investigação deverão estar adequadamenteprocessa<strong>do</strong>s e digita<strong>do</strong>s no Sinan, até 30 dias após a notificação. O encerramentooportuno <strong>do</strong>s casos possibilitará a análise epidemiológica necessária à tomada de decisão.Em situações de surtos, o relatório permite analisar a extensão e as medidas de controlea<strong>do</strong>tadas, bem como caracterizar o perfil de ocorrência e os fatores que contribuírampara a circulação <strong>do</strong> vírus na população.666 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


SarampoInstrumentos disponíveis para controleImunizaçãoRecomendações gerais para a vacinaçãoA vacina é a única forma de prevenir a ocorrência <strong>do</strong> sarampo.O risco da <strong>do</strong>ença para indivíduos susceptíveis permanece, em função da circulação<strong>do</strong> vírus <strong>do</strong> sarampo em várias regiões <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e de sua facilidade de propagação. É necessário,portanto, manter um alto nível de imunidade na população, por meio de coberturasvacinais elevadas (iguais ou superiores a 95%), o que reduz a possibilidade da ocorrência<strong>do</strong> sarampo, permitin<strong>do</strong> a erradicação da transmissão <strong>do</strong> vírus na população.Vacinação na rotinaÉ a atividade realizada de forma contínua na rede de serviços de saúde, em to<strong>do</strong> oterritório nacional. O objetivo é vacinar todas as crianças aos 12 meses, a fim de manteralta imunidade de grupo, sen<strong>do</strong> necessário alcançar e manter coberturas vacinais iguais ousuperiores a 95%, em todas as localidades e municípios. Recomenda-se, ainda, uma <strong>do</strong>se dereforço para as crianças entre 4 e 6 anos de idade, para corrigir possível falha vacinal primáriae vacinar aqueles que porventura não tenham si<strong>do</strong> vacina<strong>do</strong>s anteriormente.Para detalhes operacionais sobre a organização das atividades de vacinação de rotina,ver www.saude.gov.br/imunizações.Observação: a vacina contra o sarampo pode ser aplicada simultaneamente com qualqueroutra vacina <strong>do</strong> calendário de imunizações.6Eventos adversosEsta vacina é pouco reatogênica. Os eventos adversos apresentam boa evolução, sen<strong>do</strong>que os mais observa<strong>do</strong>s são febre e cefaléia. As reações de hipersensibilidade são raras.Estratégia de vacinação frente a ocorrência de casos suspeitosSVacinação de bloqueio limitada aos contatos – diante de uma pessoa com sinais esintomas <strong>do</strong> sarampo, deve ser realiza<strong>do</strong> o bloqueio vacinal dirigi<strong>do</strong> aos contatos <strong>do</strong> casosuspeito.A vacinação de bloqueio fundamenta-se no fato de que a vacina consegue imunizaro susceptível em prazo menor que o perío<strong>do</strong> de incubação da <strong>do</strong>ença. Em função disso, avacina deve ser administrada, de preferência, dentro de 72 horas após a exposição. A vacinaçãode bloqueio deve abranger as pessoas <strong>do</strong> mesmo <strong>do</strong>micílio <strong>do</strong> caso suspeito, vizinhospróximos, creches ou, quan<strong>do</strong> for o caso, pessoas da mesma sala de aula, mesmo quarto dealojamento, sala de trabalho, etc. Utilizar a vacina tríplice viral para a faixa etária de 6 mesesa 39 anos, de forma seletiva. Se aplicada em crianças menores de 1 ano, esta vacina não seráconsiderada como <strong>do</strong>se válida. Aos 12 meses, a criança deverá ser revacinada com a vacinatríplice viral.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS667


SarampoA inclusão de pessoas acima de 40 anos na vacinação de bloqueio só será indicada combase na análise da situação epidemiológica.Estratégia de vacinação frente a um caso confirma<strong>do</strong> ou surtoOperação limpeza – o objetivo desta estratégia é interromper a cadeia de transmissão<strong>do</strong> vírus <strong>do</strong> sarampo numa área geográfica determinada, através da busca exaustiva deto<strong>do</strong>s os susceptíveis. A operação limpeza também é utilizada de forma seletiva, deven<strong>do</strong>abranger:• os locais habitualmente freqüenta<strong>do</strong>s pelo caso confirma<strong>do</strong>;• to<strong>do</strong> o quarteirão, área residencial ou bairro, se necessário;• a escola, creche, cursinhos, faculdade, alojamento, local de trabalho e outros estabelecimentoscoletivos freqüenta<strong>do</strong>s pelo caso;• to<strong>do</strong> o município, quan<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>.A faixa etária a ser vacinada é a mesma referida para o bloqueio vacinal.Estratégias complementares de prevençãoVacinação indiscriminada em campanhas de seguimento – esta atividade é realizadaperiodicamente, em nível nacional, com o objetivo de alcançar crianças susceptíveis nãovacinadas e revacinar as demais, principalmente as em idade pré-escolar. Esta estratégiaé recomendada sempre que o número de susceptíveis, em nível nacional, se aproximar deuma coorte de nascimentos.O intervalo entre uma campanha de seguimento e outra depende da cobertura vacinalalcançada na rotina, nesse perío<strong>do</strong>.Intensificação da vacinação extramuros – o principal objetivo é eliminar bolsões desusceptíveis, deven<strong>do</strong> ser realizada sempre que os índices de vacinação estiverem abaixo de95%. Com isso, fica assegura<strong>do</strong> que nenhum município tenha cobertura vacinal contra osarampo/rubéola abaixo <strong>do</strong> mínimo necessário para obter um nível seguro de imunidadede grupo.A intensificação das atividades consiste, sobretu<strong>do</strong>, na realização de vacinação casaa casa (incluin<strong>do</strong> residências e instituições em geral, como, por exemplo, escolas, creches,orfanatos, etc.), alcançan<strong>do</strong> crianças de 12 meses até menores de 12 anos, não vacinadas narotina e nas campanhas de multivacinação e de seguimento, especialmente as que vivem nasáreas urbanas e rurais de difícil acesso e que, geralmente, não são trabalhadas pelos serviçosde saúde.Campanhas de multivacinação – as campanhas de multivacinação, que acontecemduas vezes ao ano, são excelentes oportunidades para aumentar as coberturas vacinais. Noentanto, quan<strong>do</strong> a meta é erradicar o sarampo, não se deve esperar as campanhas para vacinaros susceptíveis.668 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


SarampoPor ocasião das campanhas de multivacinação são vacinadas as crianças na faixa de 12meses a menores de 12 anos que não foram atingidas pelas atividades de rotina e campanhasde seguimento.Vacinação de grupos de risco – considera-se que um determina<strong>do</strong> percentual de a<strong>do</strong>lescentese adultos jovens permanece susceptível à <strong>do</strong>ença, devi<strong>do</strong> ao fato de não terem si<strong>do</strong>expostos nem à infecção natural e nem à vacinação. Devi<strong>do</strong> às características das atividadesque os indivíduos pertencentes a esse grupo etário desenvolvem, há um risco aumenta<strong>do</strong> decontrair a infecção pelo vírus <strong>do</strong> sarampo. Dentre essas atividades, destacam-se:• profissionais e estudantes da área de saúde e educação;• populações institucionalizadas de quartéis, prisões, centros de reclusão de menores,albergues, alojamentos, universidades, etc.;• populações que migram de localidades onde as coberturas vacinais, anteriores e/ouatuais, são baixas;• a<strong>do</strong>lescentes e adultos jovens que viajam para países onde o sarampo é endêmico;• trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s setores hoteleiro, turismo e portuário, bem como de feiras, aeroportos,vende<strong>do</strong>res ambulantes, profissionais <strong>do</strong> sexo e ro<strong>do</strong>viárias;6Para prevenir a ocorrência de surtos de sarampo nesses grupos de risco faz-se necessárioum esforço adicional de vacinação, mesmo em locais com elevadas coberturas vacinais.Ações de educação em saúdeO melhor mo<strong>do</strong> é desenvolver atividades de forma integrada com a área de educação.Na escola, deverão ser trabalha<strong>do</strong>s a <strong>do</strong>ença e os meios de prevenção. No momento dainvestigação deve-se orientar as pessoas sobre a importância da prevenção <strong>do</strong> sarampo e odever de cada cidadão de informar ao serviço de saúde mais próximo de sua casa a existênciade um caso suspeito.SSecretaria de Vigilância em Saúde / MS669


SarampoAnexo 1Classificação de caso suspeito de sarampoColeta de sangue no primeiro contato com o paciente+investigação epidemiológicaIgMnegativoIgMpositivoConsiderar a última <strong>do</strong>se de vacina contra sarampo(mono ou polivalente)Data de início <strong>do</strong>s sintomas entre5 e 12 dias após a aplicação da vacinaouColeta de sangue entre 8 e 56dias após a aplicação da vacinaSIMNÃOReinvestigaçãoepidemiológica*Colher urina paraisolamento viralSem 2ª amostra parasorologia: avaliar IgGna 1ª amostraCom 2ª amostrapara sorologia:há soroconversão IgG?IgMpositivoIgMnegativoVírus selvagem detecta<strong>do</strong>?Até o 5 o dia<strong>do</strong> início <strong>do</strong>exantemaApós o 5 o dia<strong>do</strong> início <strong>do</strong>exantemaSIMNÃONÃOSIMProtocolodiagnósticodiferencialDESCARTARCONFIRMAR*Ver roteiro de investigação epidemiológica670 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


SarampoAnexo 2Na situação epidemiológica atual, em que não há circulação autóctone <strong>do</strong> vírus <strong>do</strong>sarampo no país e frente ao aumento da disseminação de vacinas contra a <strong>do</strong>ença na população,espera-se que ocorram, com relativa frequência, “casos” que na verdade representameventos adversos à vacina, bem como o aparecimento de resulta<strong>do</strong>s laboratoriais falso-positivos– o que significa que o diagnóstico etiológico e sua interpretação devem ser feitos deforma bastante criteriosa.O diagnóstico laboratorial de rotina é realiza<strong>do</strong> por meio da sorologia para detecçãode anticorpos específicos. Para tanto, é imprescindível assegurar a coleta de amostras desangue para análise, no primeiro contato com o paciente.Na infecção primária, os anticorpos IgM e IgG anti-sarampo podem ser detecta<strong>do</strong>s nosangue nos primeiros dias após o início <strong>do</strong> exantema. O IgM pode permanecer eleva<strong>do</strong> por4 a 6 semanas após o aparecimento <strong>do</strong> exantema, enquanto o IgG pode ser detecta<strong>do</strong> portoda a vida, após a infecção. Para a detecção desses anticorpos, nos indivíduos vacina<strong>do</strong>s ouque tiveram a <strong>do</strong>ença, utiliza-se a técnica de ensaio imunoenzimático (Elisa).Em situações específicas, será também necessária a coleta de espécimes clínicos parao isolamento viral, com o objetivo de se conhecer o genótipo <strong>do</strong> vírus que está circulan<strong>do</strong>.A urina é o material clínico de escolha para o isolamento viral, por ser de mais fácil coletanos ambulatórios.6ProcedimentosSorologia• Coleta oportuna – a amostra de sangue <strong>do</strong> caso suspeito deve ser colhida, sempreque possível, no primeiro atendimento <strong>do</strong> paciente ou, no máximo, em até 28 diasapós o aparecimento <strong>do</strong> exantema.• Material – sangue venoso sem anticoagulante, na quantidade de 5 a 10ml. Quan<strong>do</strong>tratar-se de criança muito pequena e não for possível coletar o volume estabeleci<strong>do</strong>,colher pelo menos 3ml. A separação <strong>do</strong> soro pode ser feita por meio de centrifugaçãoou após retração <strong>do</strong> coágulo, em temperatura ambiente ou a 37ºC.• Conservação e envio ao Lacen – após a separação <strong>do</strong> soro, conservar o tubo com osoro sob refrigeração na temperatura de +4ºC a + 8ºC, por no máximo 48 horas.• Remessa – enviar ao laboratório no prazo máximo de <strong>do</strong>is dias, colocan<strong>do</strong> o tuboem embalagem térmica ou caixa de isopor com gelo ou gelox. Caso o soro não possaser encaminha<strong>do</strong> ao laboratório neste prazo, conservá-lo no freezer na temperaturade -20ºC até o momento <strong>do</strong> transporte para o laboratório de referência.SObservação: todas as amostras com resulta<strong>do</strong> sorológico IgM+ ou inconclusivo deverãoser enviadas ao laboratório de referência nacional (Fiocruz/RJ) para reteste. É importanteo envio <strong>do</strong>s soros da 1ª e 2ª amostras.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS671


SarampoDiagnóstico diferencialA realização de testes diagnósticos para a detecção de outras <strong>do</strong>enças exantemáticasfebris em amostras negativas de casos suspeitos de sarampo, bem como a realizaçãode sorologia para o sarampo em amostras negativas de casos suspeitos de outras <strong>do</strong>ençasexantemáticas febris, dependerá da situação epidemiológica que está sen<strong>do</strong> considerada(surtos, casos isola<strong>do</strong>s, áreas de baixa cobertura vacinal, resulta<strong>do</strong>s sorológicos IgM+ parao sarampo, etc.). Como esta situação é dinâmica, a indicação e interpretação <strong>do</strong>s exameslaboratoriais para o diagnóstico diferencial de <strong>do</strong>enças exantemáticas febris deverão serdiscutidas conjuntamente pelos técnicos responsáveis das secretarias estaduais de saúde (vigilânciaepidemiológica e laboratório), ouvi<strong>do</strong> o Ministério da Saúde (através <strong>do</strong> endereçoexantematicas@saude.gov.br).Isolamento viralO isolamento viral tem por objetivos identificar o padrão genotípico <strong>do</strong> vírus circulantee diferenciar casos autóctones de casos importa<strong>do</strong>s e o vírus selvagem <strong>do</strong> vacinal.Espécimes clínicos – urina ou secreções nasofaríngeas. Devem ser coletadas até o 5°dia a partir <strong>do</strong> aparecimento <strong>do</strong> exantema, preferencialmente nos primeiros três dias.Excepcionalmente, em casos com IgM positivo para sarampo, este perío<strong>do</strong> poderá serestendi<strong>do</strong> para que não se perca a oportunidade de colher amostras de urina para o isolamentoviral.Quantidade e cuida<strong>do</strong>s com os espécimes clínicos:• coletar de 15 a 100ml de urina, em frasco estéril;• colher, de preferência, a primeira urina da manhã, após higiene íntima, desprezan<strong>do</strong>o primeiro jato e coletan<strong>do</strong> o jato médio; não sen<strong>do</strong> possível obter a primeira urina<strong>do</strong> dia, colher em outra hora;• logo após a coleta, colocar a urina em caixa de isopor com gelo reciclável e enviarao Lacen, dentro de 24 a 48 horas, no máximo, para evitar que o crescimento debactérias diminua a possibilidade de isolamento <strong>do</strong> vírus. A urina não deve ser congelada;• processar a amostra no Lacen ou no laboratório municipal, se houver, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> osseguintes procedimentos:❯ centrifugar a amostra de urina a 1.500 rpm, a +4ºC (se possível);❯ ressuspender o sedimento em 2ml de meio de transporte de vírus ou em soluçãosalina estéril com adição de antibióticos;❯ congelar (preferencialmente) os espécimes centrifuga<strong>do</strong>s a -70ºC e enviá-los aoCentro de Referência Nacional para o Sarampo, na Fiocruz/RJ, em gelo seco, dentrode, no máximo, 72 horas.Para orientação geral e interpretação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames laboratoriais frente aum caso suspeito de sarampo, ver Anexo 1.672 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sífilis CongênitaSÍFILIS CONGÊNITACID 10: A50Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoA sífilis é uma <strong>do</strong>ença infectocontagiosa sistêmica, de evolução crônica, sujeita a surtosde agudização e perío<strong>do</strong>s de latência. A sífilis congênita é conseqüente à infecção <strong>do</strong>feto pelo Treponema pallidum, por via placentária, em qualquer momento da gestação. Suaocorrência evidencia falhas <strong>do</strong>s serviços de saúde, particularmente da atenção ao pré-natal,pois o diagnóstico precoce e tratamento da gestante são medidas relativamente simples ebastante eficazes na prevenção desta forma da <strong>do</strong>ença. A taxa de óbito (aborto, natimorto,óbito neonatal precoce) é elevada, estimada de 25% a 40% <strong>do</strong>s casos.6Agente etiológicoO Treponema pallidum tem forma de espiral e motilidade em “saca-rolhas”. Não écultivável, mas a inoculação em cobaia permite seu isolamento e confirmação laboratorial.Pode ser visualiza<strong>do</strong> sob microscopia de campo escuro, coloração pela prata ou imunofluorescênciadireta.ReservatórioO homem é o único reservatório. Infecções experimentais em cobaias não repetem aevolução humana, não contaminan<strong>do</strong> outros animais e findan<strong>do</strong> espontaneamente.Mo<strong>do</strong> de transmissãoA sífilis adquirida é uma <strong>do</strong>ença de transmissão pre<strong>do</strong>minantemente sexual e aproximadamenteum terço <strong>do</strong>s indivíduos expostos a um parceiro sexual com sífilis adquirirá a<strong>do</strong>ença. O Treponema pallidum, quan<strong>do</strong> presente na corrente sangüínea da gestante, atravessaa barreira placentária e penetra na corrente sangüínea <strong>do</strong> feto. A transmissão podeocorrer em qualquer fase da gestação, estan<strong>do</strong>, entretanto, na dependência <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> dainfecção na gestante, ou seja, quanto mais recente a infecção, mais treponemas estarão circulantese, portanto, mais gravemente o feto será atingi<strong>do</strong>. Inversamente, infecção antigaleva à formação progressiva de anticorpos pela mãe, o que atenuará a infecção ao concepto,produzin<strong>do</strong> lesões mais tardias na criança. Sabe-se que a taxa de transmissão vertical dasífilis, em mulheres não tratadas, é superior a 70% quan<strong>do</strong> estas encontram-se nas fases primáriae secundária da <strong>do</strong>ença, reduzin<strong>do</strong>-se para 10% a 30% nas fases latente ou terciária.SSecretaria de Vigilância em Saúde / MS673


Sífilis CongênitaPerío<strong>do</strong> de incubaçãoNa sífilis adquirida, é de cerca de 21 dias a partir <strong>do</strong> contato sexual infectante. A criançacom sífilis congênita ao nascimento pode já se encontrar gravemente enferma ou commanifestações clínicas menos intensas, ou até aparentemente saudável, vin<strong>do</strong> a manifestarsinais da <strong>do</strong>ença mais tardiamente, meses ou anos depois, quan<strong>do</strong> seqüelas graves e irreversíveister-se-ão instala<strong>do</strong>.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeA transmissão vertical pode ocorrer por to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> gestacional. Acreditava-seque a infecção fetal não ocorresse antes <strong>do</strong> 4º mês de gestação. Entretanto, já se constatou apresença de T. pallidum em fetos aborta<strong>do</strong>s, ainda no primeiro trimestre da gravidez.Susceptibilidade e imunidadeA resposta imune, celular e humoral, que se desenvolve não impede a implantação <strong>do</strong>agente no local de inoculação nem previne sua disseminação, com o conseqüente aparecimentode manifestações determinadas pela reação <strong>do</strong> hospedeiro à presença de antígenostreponêmicos nos teci<strong>do</strong>s corporais. A susceptibilidade à <strong>do</strong>ença é universal e infecçõesanteriores não determinam imunidade frente a novas exposições ao treponema.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasO quadro clínico da sífilis congênita é variável, de acor<strong>do</strong> com alguns fatores: o tempode exposição fetal ao treponema (duração da gestação com sífilis sem tratamento), a cargatreponêmica materna, a virulência <strong>do</strong> treponema, o tratamento da infecção materna, a coinfecçãomaterna pelo HIV ou outra causa de imunodeficiência.Esses fatores poderão acarretar aborto, natimorto ou óbito neonatal, bem como sífiliscongênita “sintomática” ou “assintomática” ao nascimento.Didaticamente, a sífilis congênita é classificada em recente e tardia.Sífilis congênita recenteSinais e sintomas surgem nos primeiros <strong>do</strong>is anos de vida mas tornam-se evidentesentre o nascimento e o terceiro mês (comumente, nas cinco primeiras semanas). Os principaissinais são baixo peso, rinite com coriza serossanguinolenta, obstrução nasal, prematuridade,osteocondrite, periostite ou osteíte, choro ao manuseio, hepatoesplenomegalia,alterações respiratórias ou pneumonia, hidropsia, pseu<strong>do</strong>paralisia <strong>do</strong>s membros, fissuraorificial, condiloma plano, pênfigo palmoplantar e outras lesões cutâneas, icterícia e anemia.Quan<strong>do</strong> ocorre invasão maciça de treponemas e/ou estes são muito virulentos, a evolução<strong>do</strong> quadro é grave e a letalidade, alta. A placenta encontra-se volumosa, com lesões emanchas amareladas ou esbranquiçadas.674 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sífilis CongênitaSífilis congênita tardiaOs sinais e sintomas são observa<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> ano de vida, geralmente devi<strong>do</strong>à infecção por treponemas menos virulentos ou infecção de longa evolução materna:tíbia em lâmina de sabre, fronte olímpica, nariz em sela, dentes deforma<strong>do</strong>s (dentes de Hutchinson),mandíbula curta, arco palatino eleva<strong>do</strong>, ceratite intersticial com cegueira, surdezneurológica, dificuldade no aprendiza<strong>do</strong>, hidrocefalia e retar<strong>do</strong> mental.Perío<strong>do</strong> de infecção – o tempo de evolução é extremamente variável, geralmente interrompi<strong>do</strong>com o tratamento. A remissão espontânea da <strong>do</strong>ença é improvável. A evoluçãoda infecção treponêmica determinará lesões deformantes, com destruição tecidual em teci<strong>do</strong>ósseo e cutâneo-mucoso, além das graves seqüelas neurológicas. Pode ocorrer contágioinvoluntário quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> manuseio inadequa<strong>do</strong>/desprotegi<strong>do</strong> das crianças com sífiliscongênita, por parte <strong>do</strong>s familiares e profissionais de saúde, quan<strong>do</strong> estão presentes lesõescutâneas e mucosas, ricas em treponemas.Perío<strong>do</strong> toxêmico – o quadro clínico é variável. Manifestações gerais e sinais de comprometimentosimultâneo de múltiplos órgãos, como febre, icterícia, hepatoesplenomegalia,linfadenopatia generalizada, anemia, entre outros sinais, podem ser observadas isoladasou simultaneamente. Manifestações graves ao nascimento, tais como pneumonia intersticiale insuficiência respiratória, com risco de vida, requerem especial atenção. O óbitoperinatal pode chegar a taxas expressivas.Remissão – o tratamento adequa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s casos diagnostica<strong>do</strong>s promove a remissão<strong>do</strong>s sintomas em poucos dias. As lesões tardias já instaladas, a despeito da interrupção daevolução da infecção, não serão revertidas com a antibioticoterapia.6Diagnóstico diferencialO múltiplo comprometimento de órgãos e sistemas impõe o diagnóstico diferencialcom septicemia e outras infecções congênitas, tais como rubéola, toxoplasmose, citomegalovirose,infecção generalizada pelo vírus <strong>do</strong> herpes simples e malária. Lesões mais tardiaspoderão ser confundidas com sarampo, catapora, escarlatina e até escabiose.Diagnóstico laboratorialBaseia-se na execução de um conjunto de exames, quais sejam:SMicroscopia – a pesquisa <strong>do</strong> T. pallidum em material coleta<strong>do</strong> de lesão cutâneo-mucosa,de biópsia ou autópsia, assim como de placenta e cordão umbilical, é um procedimentoque apresenta sensibilidade de 70% a 80% . A preparação e a observação em campoescuro imediatamente após a coleta <strong>do</strong> espécime permite visualizar os treponemas móveis;quan<strong>do</strong> a observação não pode ser realizada logo após a coleta, a imunofluorescência diretaestá indicada. Os fatores que diminuem a sensibilidade <strong>do</strong> teste são: coleta inadequada <strong>do</strong>sespécimes, tratamento prévio e coleta nas fases finais da evolução das lesões, quan<strong>do</strong> a populaçãode T. pallidum estará muito reduzida;Sorologia não-treponêmica (VDRL) – indicada para o diagnóstico e seguimento terapêutico,devi<strong>do</strong> à propriedade de ser passível de titulação. A sensibilidade <strong>do</strong> teste naSecretaria de Vigilância em Saúde / MS675


Sífilis Congênitafase primária é de 78%, elevan<strong>do</strong>-se nas fases secundária (100%) e latente (cerca de 96%).Com mais de um ano de evolução, a sensibilidade cai progressivamente, fixan<strong>do</strong>-se, emmédia, em 70%. A especificidade <strong>do</strong> teste é de 98%. O teste pode resultar reagente por longosperío<strong>do</strong>s, mesmo após a cura da infecção (cicatriz sorológica), porém, após instituí<strong>do</strong>o tratamento, apresenta queda progressiva nas titulações, até que se torna não reagente.Recém-nasci<strong>do</strong>s de mães com sífilis, mesmo os não infecta<strong>do</strong>s, podem apresentar anticorposmaternos transferi<strong>do</strong>s passivamente pela placenta. Nesses casos, em geral, o teste seráreagente até o sexto mês de vida. A coleta de sangue de cordão umbilical para a realização<strong>do</strong> teste está contra-indicada pela baixa sensibilidade. Deve-se coletar sangue periférico <strong>do</strong>RN, cuja mãe apresentar resulta<strong>do</strong> reagente no momento <strong>do</strong> parto;Sorologia treponêmica (FTA-abs, MHA-Tp) – são testes específicos, úteis na exclusãode resulta<strong>do</strong>s de VDRL falso-positivos em adultos mas de uso limita<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> parao diagnóstico de recém-nasci<strong>do</strong>s, pois os anticorpos IgG maternos ultrapassam a barreiraplacentária. O FTA-abs/IgM, por sua baixa sensibilidade, também pode apresentar desempenhoinadequa<strong>do</strong> para a definição diagnóstica <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong>. Assim, a realização detestes treponêmicos em recém-nasci<strong>do</strong>s não auxiliam na confirmação <strong>do</strong> caso, recomendan<strong>do</strong>-se,então, a análise clínico-epidemiológica de cada caso, especialmente o históricoda <strong>do</strong>ença materna, para aplicação das condutas clínicas. Já em maiores de 18 meses, umresulta<strong>do</strong> reagente de teste treponêmico confirma a infecção, pois os anticorpos maternostransferi<strong>do</strong>s passivamente já terão desapareci<strong>do</strong>. A sensibilidade <strong>do</strong>s testes treponêmicosna sífilis adquirida é de 84% na fase primária, de 100% nas fases secundária e latente e decerca de 96% na sífilis terciária;Raios X de ossos longos – o acha<strong>do</strong> de anormalidades em radiografias de ossos longosé comum na sífilis congênita sintomática (70% a 90%). A sensibilidade das alterações radiológicaspara diagnóstico de sífilis congênita, em crianças assintomáticas, é desconhecida– estima-se em 4% a 20% <strong>do</strong>s recém-nasci<strong>do</strong>s assintomáticos infecta<strong>do</strong>s. A única alteraçãoé o acha<strong>do</strong> radiográfico, o que justifica a realização deste exame nos casos suspeitos de sífiliscongênita;Exame <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> cefalorraquidiano (LCR) – recomenda-se realizar a análise <strong>do</strong>LCR em to<strong>do</strong>s os recém-nasci<strong>do</strong>s que se enquadrem na definição de caso . A presença deleucocitose (>25 leucócitos/mm 3 ) e o eleva<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> protéico (>150 mg/dl) no LCR deum recém-nasci<strong>do</strong> (antes de 28 dias), suspeito de ser porta<strong>do</strong>r de sífilis congênita, devemser considera<strong>do</strong>s como evidências adicionais para o diagnóstico. Uma criança com VDRLpositivo no LCR deve ser diagnosticada como porta<strong>do</strong>ra de neurossífilis, independenteda existência de alterações na celularidade e/ou na proteinorraquia, porém um resulta<strong>do</strong>negativo não afasta o diagnóstico da afecção <strong>do</strong> sistema nervoso central. A ocorrência dealterações no LCR é muito mais freqüente nas crianças com outras evidências clínicas desífilis congênita <strong>do</strong> que nas crianças assintomáticas (86% versus 8%, respectivamente). Se acriança for identificada após o perío<strong>do</strong> neonatal (>28 dias de vida), as anormalidades liquóricasincluem teste VDRL positivo e/ou leucócitos >5/mm 3 e/ou proteínas >40 mg/dl.676 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sífilis CongênitaTratamentoNo perío<strong>do</strong> neonatal (antes de 28 dias)A penicilina é a droga de escolha para todas as apresentações da sífilis. Não há relatosconsistentes na literatura de casos de resistência treponêmica à droga. A análise clínica <strong>do</strong>caso indicará o melhor esquema terapêutico.A. Nos recém-nasci<strong>do</strong>s de mães com sífilis não tratada ou inadequadamente tratada,independentemente <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> VDRL <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong>, realizar hemograma, radiografiade ossos longos, punção lombar e outros exames, quan<strong>do</strong> clinicamente indica<strong>do</strong>s. Deacor<strong>do</strong> com a avaliação clínica e de exames complementares:• A1 – se houver alterações clínicas e/ou sorológicas e/ou radiológicas e/ou hematológicas,o tratamento deverá ser feito com penicilina G cristalina na <strong>do</strong>se de 50 milUI/kg/<strong>do</strong>se, via intravenosa, a cada 12 horas (nos primeiros 7 dias de vida) e a cada 8horas (após 7 dias de vida), durante 10 dias; ou penicilina G procaína 50 mil UI/kg,<strong>do</strong>se única diária, via intramuscular, durante 10 dias;• A2 – se houver alteração liquórica, o tratamento deverá ser feito com penicilina Gcristalina 1 , na <strong>do</strong>se de 50 mil UI/kg/<strong>do</strong>se, via intravenosa, a cada 12 horas (nos primeiros7 dias de vida) e a cada 8 horas (após 7 dias de vida), durante 10 dias;• A3 – se não houver alterações clínicas, radiológicas, hematológicas e/ou liquóricas,e a sorologia for negativa, proceder ao tratamento com penicilina G benzatina, viaintramuscular, na <strong>do</strong>se única de 50 mil UI/kg. O acompanhamento é obrigatório,incluin<strong>do</strong> o seguimento com VDRL sérico após conclusão <strong>do</strong> tratamento (ver Seguimento,adiante). Sen<strong>do</strong> impossível garantir o acompanhamento, o recém-nasci<strong>do</strong>deverá ser trata<strong>do</strong> com o esquema A1.6B. Nos recém-nasci<strong>do</strong>s de mães adequadamente tratadas: realizar o VDRL em amostrade sangue periférico <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong>; se for reagente com titulação maior <strong>do</strong> que amaterna e/ou na presença de alterações clínicas, realizar hemograma, radiografia de ossoslongos e análise <strong>do</strong> LCR:• B1 – se houver alterações clínicas e/ou radiológicas e/ou hematológica sem alteraçõesliquóricas, o tratamento deverá ser feito como em A1;• B2 – se houver alteração liquórica, o tratamento deverá ser feito como em A2;SC. Nos recém-nasci<strong>do</strong>s de mães adequadamente tratadas: realizar o VDRL em amostrade sangue periférico <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong>:• C1 – se for assintomático e o VDRL não for reagente, proceder apenas ao seguimentoclínico-laboratorial. Na impossibilidade de garantir o seguimento, realizar otratamento com penicilina G benzatina, via intramuscular, na <strong>do</strong>se única de 50 milUI/kg;1O tratamento com penicilina G procaína por 10 dias em pacientes assintomáticos e com exames complementaresnormais não mostrou nenhum benefício adicional quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> ao esquema de penicilina G benzatina.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS677


Sífilis Congênita• C2 – se for assintomático e tiver VDRL reagente com título igual ou menor queo materno, acompanhar clinicamente. Na impossibilidade <strong>do</strong> seguimento clínico,tratar como A1 e, se houver alterações no LCR, tratar como A2.No perío<strong>do</strong> pós-natal (após o 28º dia)Crianças com quadro clínico sugestivo de sífilis congênita devem ser cuida<strong>do</strong>samenteinvestigadas, obedecen<strong>do</strong>-se à rotina acima referida. Confirman<strong>do</strong>-se o diagnóstico, procederao tratamento conforme preconiza<strong>do</strong>, observan<strong>do</strong>-se o intervalo das aplicações que,para a penicilina G cristalina, deve ser de 4 em 4 horas, e para a penicilina G procaína, de 12em 12 horas, manten<strong>do</strong>-se os mesmos esquemas de <strong>do</strong>ses anteriormente preconiza<strong>do</strong>s.Seguimento• Consultas ambulatoriais mensais no primeiro ano de vida.• Realizar VDRL com 1, 3, 6, 12 e 18 meses de idade, interrompen<strong>do</strong> o seguimentocom <strong>do</strong>is exames de VDRL negativos consecutivos.• Diante de elevação <strong>do</strong> título sorológico ou da sua não-negativação até os 18 mesesde idade, reinvestigar o paciente e proceder o tratamento.• Recomenda-se o acompanhamento oftalmológico, neurológico e audiológico semestralpor <strong>do</strong>is anos.• Nos casos em que o LCR mostrou-se altera<strong>do</strong>, deve ser realizada uma reavaliaçãoliquórica a cada 6 meses, até a normalização <strong>do</strong> mesmo; alterações persistentes indicamavaliação clínico-laboratorial completa e retratamento.• Nos casos de crianças tratadas de forma inadequada, na <strong>do</strong>se e/ou tempo <strong>do</strong> tratamentopreconiza<strong>do</strong>, deve-se convocar a mesma para reavaliação clínico-laboratoriale reiniciar o tratamento, obedecen<strong>do</strong> aos esquemas anteriormente descritos.Observações• No caso de interrupção <strong>do</strong> tratamento por mais de 1 dia, o mesmo deverá ser reinicia<strong>do</strong>.• Em relação à biossegurança hospitalar, são recomendadas precauções de contatopara to<strong>do</strong>s os casos de sífilis congênita até 24 horas <strong>do</strong> início <strong>do</strong> tratamento compenicilina.• O uso de outro antimicrobiano não é adequa<strong>do</strong>. O curso de 10 dias de penicilinadeve ser realiza<strong>do</strong> mesmo quan<strong>do</strong> a ampicilina é inicialmente prescrita para possívelsepse neonatal.AtençãoNa impossibilidade de realizar a punção lombar, considerar o caso, para efeito detratamento, como neurossífilis.678 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sífilis CongênitaTratamento inadequa<strong>do</strong> para sífilis materna• tratamento realiza<strong>do</strong> com qualquer medicamento que não seja a penicilina; ou• tratamento incompleto, mesmo ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> feito com penicilina; ou• tratamento inadequa<strong>do</strong> para a fase clínica da <strong>do</strong>ença; ou• instituição de tratamento dentro <strong>do</strong> prazo <strong>do</strong>s 30 dias anteriores ao parto; ou• ausência de <strong>do</strong>cumentação de tratamento anterior; ou• ausência de queda <strong>do</strong>s títulos (sorologia não-treponêmica) após tratamento adequa<strong>do</strong>;ou• parceiro não trata<strong>do</strong> ou trata<strong>do</strong> inadequadamente ou quan<strong>do</strong> não se tem a informaçãodisponível sobre o seu tratamento.Obs.: realizar exames neurológico, oftalmológico (fun<strong>do</strong> de olho) e audiológico emtodas as crianças incluídas como caso de sífilis congênita.6Aspectos epidemiológicosA sífilis congênita é <strong>do</strong>ença de notificação compulsória, com compromisso internacionalde eliminação enquanto problema de saúde pública. Estu<strong>do</strong> nacional realiza<strong>do</strong> em2000 mostra prevalência de 1,7% 2 de sífilis em parturientes. O subdiagnóstico e a subnotificaçãoda sífilis congênita ainda são eleva<strong>do</strong>s, porém observa-se um incremento de casosnotifica<strong>do</strong>s nos últimos oito anos, passan<strong>do</strong> de pouco mais de 200, em 1995, para mais de 3mil, nos últimos 4 anos. Nos últimos 5 anos, foram registra<strong>do</strong>s 16.119 internamentos.No perío<strong>do</strong> de 1998 a 2003, os da<strong>do</strong>s nacionais de sífilis congênita mostram uma incidênciamédia de 1,15/1 mil nasci<strong>do</strong>s vivos. Maiores coeficientes são encontra<strong>do</strong>s na regiãoSudeste, principalmente nos esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Rio de Janeiro e Espírito Santo, o que pode estarrefletin<strong>do</strong> não uma realidade mais desfavorável que a de outros esta<strong>do</strong>s, mas a intensidade<strong>do</strong>s esforços para detectar e notificar a <strong>do</strong>ença 3 .No que tange às características maternas, 74% estão na faixa etária de 20 a 39 anos;mais de 40% <strong>do</strong>s casos com escolaridade informada têm de 1 a 3 anos de estu<strong>do</strong>; aproximadamente70% <strong>do</strong>s casos notifica<strong>do</strong>s fizeram pré-natal e cerca de 50% realizaram 4 ou maisconsultas e tiveram diagnóstico de sífilis durante a gravidez. Os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Sinan mostramque mais de 54% <strong>do</strong>s parceiros não foram trata<strong>do</strong>s. As crianças se apresentavam assintomáticasao nascimento em 75% das notificações onde consta a informação.S2Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST/Aids. Estu<strong>do</strong> SentinelaParturiente Corte Nacional – outubro de 2000.3Fonte <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)/MS/SVS/PN-DST/Aids – casos notifica<strong>do</strong>saté 8/1/2004.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS679


Sífilis CongênitaVigilância epidemiológicaObjetivo• Identificar os casos de sífilis congênita para subsidiar as ações de prevenção e controledesse agravo, intensifican<strong>do</strong>-as no pré-natal.• Conhecer o perfil epidemiológico da sífilis congênita no Brasil e suas tendências.Definição de casoPara fins de vigilância epidemiológica, será considera<strong>do</strong> caso de sífilis congênita e assimdeverá ser notifica<strong>do</strong>:• toda criança ou aborto 4 ou natimorto 5 de mãe com evidência clínica 6 para sífilis e/oucom sorologia não-treponêmica reagente para sífilis com qualquer titulação, na ausênciade teste confirmatório treponêmico, realizada no pré-natal ou no momento<strong>do</strong> parto ou curetagem que não tenha si<strong>do</strong> tratada ou recebi<strong>do</strong> tratamento inadequa<strong>do</strong>;• to<strong>do</strong> indivíduo com menos de 13 anos com as seguintes evidências sorológicas:❯ titulações ascendentes (testes não-treponêmicos); e/ou❯ testes não-treponêmicos reagentes após 6 meses de idade (exceto em situaçãode seguimento terapêutico); e/ou❯ testes treponêmicos reagentes após 18 meses de idade; e/ou títulos em testenão-treponêmico maiores que os da mãe.Obs.: Em caso de evidência sorológica apenas, deve ser afastada a possibilidade desífilis adquirida.• to<strong>do</strong> indivíduo com menos de 13 anos com teste não-treponêmico reagente e evidênciaclínica ou liquórica ou radiológica de sífilis congênita;• toda situação de evidência de T. pallidum em placenta ou cordão umbilical e/ouamostra de lesão, biópsia ou autópsia de criança, aborto ou natimorto.Notificação e investigaçãoÉ <strong>do</strong>ença de notificação compulsória e to<strong>do</strong> caso defini<strong>do</strong> como sífilis congênita, segun<strong>do</strong>os critérios descritos na definição de caso, deve ser notifica<strong>do</strong> à vigilância epidemiológica.A notificação é feita pelo preenchimento e envio da ficha de notificação e investigaçãoepidemiológica de caso de sífilis congênita, que deve ser preenchida pelo médico ououtro profissional de saúde no exercício de sua função.A investigação de sífilis congênita será desencadeada nas seguintes situações:4Aborto é toda perda gestacional até 22 semanas de gestação ou com peso menor ou igual a 500g.5Natimorto é to<strong>do</strong> feto morto após 22 semanas de gestação ou com peso maior que 500g.6Evidência clínica para sífilis na gestação: sífilis primária – cancro duro; sífilis secundária – lesões cutâneo-mucosas(roséolas sifilíticas, sifílides papulosas, condiloma plano sifilítico, alopecia e lesões palmoplantares); sífilis terciária– lesões cutâneo-mucosas (tubérculos ou gomas); alterações neurológicas (tabes <strong>do</strong>rsalis, demência); alteraçõescardiovasculares (aneurisma aórtico); alterações articulares (artropatia de Charcot).680 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sífilis Congênita• todas as crianças nascidas de mãe com sífilis (evidência clínica e/ou laboratorial),diagnosticadas durante a gestação, parto ou puerpério;• to<strong>do</strong> indivíduo com menos de 13 anos com suspeita clínica e/ou epidemiológica desífilis congênita.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadas frentea um caso identifica<strong>do</strong>Assistência médica ao pacienteTen<strong>do</strong> em vista o projeto de eliminação da sífilis congênita, toda gestante deverá sertestada para sífilis na primeira consulta, no início <strong>do</strong> terceiro trimestre <strong>do</strong> pré-natal e naadmissão para o parto. As mulheres reagentes serão tratadas segun<strong>do</strong> o esquema abaixo:• sífilis primária (cancro duro): penicilina benzatina 2.400.000 UI, via intramuscular,em <strong>do</strong>se única (administrar metade em cada glúteo);• sífilis secundária e sífilis latente recente (com menos de um ano de evolução): penicilinabenzatina 2.400.000 UI, via intramuscular, repetin<strong>do</strong> a mesma <strong>do</strong>se umasemana depois; <strong>do</strong>se total: 4.800.000 UI;• sífilis terciária ou sífilis com mais de um ano de evolução ou duração ignorada: penicilinabenzatina 2.400.000 UI, via intramuscular, em 3 aplicações, com intervalode uma semana entre cada aplicação; <strong>do</strong>se total: 7.200.000 UI;6AtençãoNa sífilis primária o parceiro deve também ser trata<strong>do</strong>, com a mesma <strong>do</strong>se, independentementede apresentar manifestação clínica. Nas sífilis secundária e terciá riao tratamento <strong>do</strong> parceiro só deve ser feito após avaliação clínica e laboratorial, e sódeverão ser trata<strong>do</strong>s aqueles com sífilis confirmada.• em caso de alergia referida, realizar testes cutâneos padroniza<strong>do</strong>s e dessensibilizarquan<strong>do</strong> confirmada a atopia;• alternativamente, em caso de alergia comprovada à penicilina, pode ser utilizada aeritromicina (estearato) 500mg – 1 comp., 6/6 h, via oral, por 15 dias (sífilis recente)ou 30 dias (sífilis tardia).SObservaçõesA eritromicina tem um perfil de eficácia menor, múltiplas <strong>do</strong>ses diárias e maior incidênciade efeitos colaterais (o que diminui a adesão). Assim, requer acompanhamentomais atento.Deve-se proporcionar a to<strong>do</strong>s os porta<strong>do</strong>res de DST a realização de testes anti-HIV,mediante aconselhamento.Fazer controle de cura trimestral com a realização <strong>do</strong> VDRL.Tratar novamente em caso de interrupção <strong>do</strong> tratamento ou quadruplicação <strong>do</strong>s títulos(ex.: de 1/2 para 1/8).Secretaria de Vigilância em Saúde / MS681


Sífilis CongênitaAssistência médica ao recém-nasci<strong>do</strong> e criança com sífilis congênitaTodas as crianças que se enquadrem na definição de caso devem ser submetidas aotratamento e seguimento clínico e laboratorial preconiza<strong>do</strong>s. É fundamental evitar a perdade oportunidades de diagnóstico e tratamento, tanto da infecção materna quanto dacriança, reduzin<strong>do</strong>-se, assim, as elevadas taxas de morbi-mortalidade determinadas pelainfecção, incluin<strong>do</strong>-se as lesões <strong>do</strong> sistema nervoso central.Qualidade da assistênciaA sífilis congênita é uma <strong>do</strong>ença prevenível, bastan<strong>do</strong> que a gestante infectada sejadetectada e prontamente tratada, assim como o(s) seu(s) parceiro(s) sexual(is). Portanto,a medida mais efetiva de controle da sífilis congênita consiste em oferecer, a toda gestante,uma assistência pré-natal adequada. No entanto, as medidas de controle devem abrangeroutros momentos: antes da gravidez e na admissão à maternidade, seja no momento <strong>do</strong>parto, seja na curetagem por abortamento ou durante qualquer outra intercorrência nagravidez. Mesmo o diagnóstico tardio da infecção materna, realiza<strong>do</strong> na admissão para oparto, é vali<strong>do</strong>, pois, a despeito de não se evitar a <strong>do</strong>ença na criança, haverá condições detratar a mulher e o concepto, reduzin<strong>do</strong> as complicações advindas da infecção.Confirmação diagnósticaO teste sorológico de imunofluorescência, o FTA-abs/IgM-19S, realiza<strong>do</strong> em sangueperiférico de recém-natos, pode definir a infecção; no entanto, sua disponibilidade é limitadaaos centros laboratoriais de referência ou de pesquisa. Um teste não-treponêmicoreagente após o sexto mês de vida, ou um teste treponêmico após o 18º mês, é defini<strong>do</strong>r dainfecção. A realização de exames microbiológicos em amostras de teci<strong>do</strong>s da criança ou deplacenta ou cordão umbilical são definitivos para a confirmação <strong>do</strong> caso.Instrumentos disponíveis para controleAntes da gravidez• Diagnóstico precoce em mulheres em idade reprodutiva e seus parceiros.• Realização <strong>do</strong> teste VDRL em mulheres que manifestem a intenção de engravidar.• Tratamento imediato <strong>do</strong>s casos diagnostica<strong>do</strong>s em mulheres e seus parceiros.Durante a gravidezRealizar o teste VDRL no primeiro trimestre da gravidez, ou na primeira consulta, eoutro no início <strong>do</strong> terceiro trimestre. Na ausência de teste confirmatório, considerar para odiagnóstico as gestantes com VDRL reagente, em qualquer titulação, desde que não tratadasanteriormente de forma adequada ou que a <strong>do</strong>cumentação deste tratamento não estejadisponível.682 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Sífilis CongênitaAções de educação em saúdeA a<strong>do</strong>ção de práticas sexuais seguras, associada ao bom desempenho na execução <strong>do</strong>pré-natal, são peças-chave para o controle <strong>do</strong> agravo. A população-alvo deverá receberinformações sobre a prevenção das DST e o direito a uma assistência médica humanizadae de qualidade.Estratégias de prevençãoAs ações de prevenção da sífilis congênita baseiam-se em três pontos estratégicos,abaixo visualiza<strong>do</strong>s:Oportunidades estratégicas para o controle da sífilis congênita e suas complicaçõesPerío<strong>do</strong> de atuaçãoAnteriorà gestaçãoGestaçãoParto oucuretagem6Objetivos geraisPrevenir DSTem mulheresem idade fértilEvitar a transmissãopara o conceptoReduzir amorbimortalidadeGrupos-alvoPopulaçãogeralGestantesno pré-natalRecém-nasci<strong>do</strong>Principais atividadesDiagnóstico etrata mento precoceda sífilis adquirida;incentivo aouso regular depreservativosVDRL no1º e 3º trimestresda gestação.Tratamento da gestantee parceiroVDRL emparturientes: sepositivo, investigarrécem-nasci<strong>do</strong>TratamentoSSecretaria de Vigilância em Saúde / MS683


Síndrome da Rubéola CongênitaSÍNDROME DA RUBÉOLA CONGÊNITACID 10: P35.0Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoA síndrome da rubéola congênita (SRC) constitui importante complicação da infecçãopelo vírus da rubéola durante a gestação, principalmente no primeiro trimestre, poden<strong>do</strong>comprometer o desenvolvimento <strong>do</strong> feto e causar aborto, morte fetal, natimorto e anomaliascongênitas. Suas manifestações clínicas podem ser transitórias (púrpura, trombocitopenia,hepatoesplenomegalia, icterícia, meningoencefalite, osteopatia radioluscente),permanentes (deficiência auditiva, malformações cardíacas, catarata, glaucoma, retinopatiapigmentar) ou tardias (retar<strong>do</strong> <strong>do</strong> desenvolvimento, diabetes mellitus). As crianças comSRC freqüentemente apresentam mais de um sinal ou sintoma, mas podem ter apenas umamalformação, sen<strong>do</strong> a deficiência auditiva a mais comum.Agente etiológicoO vírus da rubéola é um vírus RNA, pertencente ao gênero Rubivirus, família Togaviridae.ReservatórioO homem é o único reservatório conheci<strong>do</strong>.Mo<strong>do</strong> de transmissãoA SRC é transmitida pela via transplacentária, após a viremia materna.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeRecém-nasci<strong>do</strong>s com SRC podem excretar o vírus da rubéola nas secreções naso-faríngeas,sangue, urina e fezes por longos perío<strong>do</strong>s. O vírus pode ser encontra<strong>do</strong> em 80% dascrianças no primeiro mês de vida; 62% <strong>do</strong> primeiro ao quarto mês; 33% <strong>do</strong> quinto ao oitavomês; 11% entre nove e <strong>do</strong>ze meses e apenas 3% no segun<strong>do</strong> ano de vida.Susceptibilidade e imunidadeA infecção natural pelo vírus da rubéola ou pela imunização confere, em geral, imunidadepermanente. No entanto, o nível de imunidade coletiva atingi<strong>do</strong> não é suficientementealto para interromper a transmissão <strong>do</strong> vírus.Diferentes estratégias de vacinação contra a rubéola têm si<strong>do</strong> a<strong>do</strong>tadas para a prevençãoda SRC. A vacinação de mulheres em idade fértil (MIF) tem efeito direto na prevençãoao reduzir a susceptibilidade entre gestantes sem que ocorra a eliminação <strong>do</strong> vírus na comunidade.A longo prazo, a vacinação de rotina na infância tem impacto na prevenção da684 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Síndrome da Rubéola CongênitaSRC pois interrompe a transmissão <strong>do</strong> vírus entre as crianças, o que reduz o risco de exposiçãode gestantes susceptíveis. Além disso, reduz a susceptibilidade nas futuras coortes demulheres em idade fértil.A incidência da SRC depende, portanto, <strong>do</strong> número de susceptíveis, da circulação <strong>do</strong>vírus na comunidade e <strong>do</strong> uso de vacina específica.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasA infecção pelo vírus da rubéola na fase intra-uterina pode resultar no nascimento decriança sem nenhuma anomalia, mas pode provocar abortamento espontâneo, natimortalidadeou nascimento de crianças com anomalias simples ou combinadas. As principaismanifestações clínicas da SRC são catarata, glaucoma, microftalmia, retinopatia, cardiopatiacongênita (persistência <strong>do</strong> canal arterial, estenose aórtica, estenose pulmonar), surdez,microcefalia e retar<strong>do</strong> mental. Outras manifestações clínicas podem ocorrer, mas sãotransitórias, como hepatoesplenomegalia, hepatite, icterícia, anemia hemolítica, purpuratrombocitopênica, adenopatia, meningoencefalite, miocardite, osteopatia de ossos longos(rarefações lineares nas metáfises) e exantema crônico. A prematuridade e o baixo peso aonascer estão também associa<strong>do</strong>s à rubéola congênita.6Diagnóstico diferencialVárias patologias congênitas ou adquiridas, que ocorrem após o nascimento, têm manifestaçõesclínicas semelhantes entre si. O diagnóstico diferencial da SRC inclui: infecções congênitaspor citomegalovírus, varicela-zoster, Coxsackievirus, Echovirus, herpes simples, HIV,hepatite B, parvovírus B19, Toxoplasma gondii, Treponema pallidum, malária e Tripanosomacruzi. As principais manifestações clínicas dessas patologias são descritas no Quadro 1.Diagnóstico laboratorialO feto infecta<strong>do</strong> é capaz de produzir anticorpos específicos IgM e IgG para rubéola,antes mesmo <strong>do</strong> nascimento.A presença de anticorpos IgM específicos para rubéola, no sangue <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong>,é evidência de infecção congênita, uma vez que os anticorpos IgM maternos não ultrapassama barreira placentária. Os anticorpos IgM podem ser detecta<strong>do</strong>s em 100% das criançascom SRC até o 5º mês; em 60% de 6 a 12 meses e em 40% de 12 a 18 meses. Raramente sãodetecta<strong>do</strong>s após o 18º mês.Os anticorpos maternos, da classe IgG, podem ser transferi<strong>do</strong>s passivamente ao fetoatravés da placenta, sen<strong>do</strong> também encontra<strong>do</strong>s nos recém-natos normais, nasci<strong>do</strong>s demães imunes à rubéola. Não é possível diferenciar os anticorpos IgG maternos daquelesproduzi<strong>do</strong>s pelo próprio feto, quan<strong>do</strong> infecta<strong>do</strong>s na vida intra-uterina. Como a quantidadede anticorpos IgG maternos diminui com o tempo, desaparecen<strong>do</strong> por volta <strong>do</strong> 6º mês, apersistência <strong>do</strong>s níveis de anticorpos IgG no sangue <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong> é altamente sugestivade infecção intra-uterina.SSecretaria de Vigilância em Saúde / MS685


Síndrome da Rubéola CongênitaOs exames laboratoriais são imprescindíveis para o estabelecimento <strong>do</strong> diagnósticodefinitivo. Para a investigação de casos suspeitos de SRC, deve ser colhida uma amostra desangue logo após o nascimento, quan<strong>do</strong> há suspeita ou confirmação de infecção maternadurante a gestação, ou logo após a suspeita diagnóstica, nos menores de um ano.Quadro 1. Principais manifestações clínicas de patologias congênita ou que ocorremapós o nascimentoPatologia/patógeno Feto Recém-nasci<strong>do</strong> Malformação SeqüelaRubéolaAbortoBaixo peso,hepato esplenomegalia,osteíte, purpuraCardiopatia,microcefalia,catarataSurdez, retar<strong>do</strong>mental, diabete,autismo, cegueira,degeneração <strong>do</strong> SNCCitomegalovírus -Anemia, trombocitopenia,hepatoesplenomegalia,icterícia, encefaliteMicrocefalia,microftalmia,retinopatiaSurdez,retar<strong>do</strong> psicomotor,calcificação cerebralVaricela-zoster -Baixo peso, corioretinite,varicela congênita ouneonatal, encefaliteHipoplasia demembros, atrofiacortical, cicatrizesEvolução fatal porinfecção secundáriaPicornavírus,Coxsackievírus,EchovírusAbortoDoença febril leve,exantema, <strong>do</strong>ençasistêmica grave, enteritePossível cardiopatia,miocarditeDéficit neurológicoHerpes simplesAbortoDoença sistêmicagrave, lesõesvesiculosas, retinopatiaMicrocefalia,retinopatia, calcificaçõescerebraisDéficit motorVírus HIV - Aids (Sida) - Aids (Sida)Vírus da hepatite B -HbsAg assintomático,baixo peso, hepatite aguda-Hepatite crônica,HbsAg+ persistenteParvovírus B19Natimorto,hidropsia fetalNatimorto - -Toxoplasma gondiiAbortoBaixo peso,hepatoesplenomegalia,icterícia, anemiaHidrocefalia,microcefaliaCorioretinite,retar<strong>do</strong> mentalTreponema pallidumNatimorto,hidropsia fetalLesões de pele, rinite,hepatoesplenomegalia,icterícia, anemia-Ceratite intersticial,bossa frontal, tíbiaem sabre, dentesde HutchinsonMaláriaAbortoHepatoesplenomegalia,icterícia, anemia, vômitos- -Tripanosoma cruzi(Chagas)AbortoBaixo peso, icterícia,anemia, petéquias,falha cardíaca, hepatoesplenomegalia,encefaliteCatarataMiocardite, acalasiaFonte: Gotoft/SP - Infections of newborn. In: Behrman RE, Kliegman RM: Nelson Textboook of Pediatrics, WBSaunders Co, Philadelphia, 1992, 14th. 496.686 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Síndrome da Rubéola CongênitaQuadro 2. Diagnóstico laboratorial de caso suspeito de SRC*Perío<strong>do</strong> da coleta Pesquisa Resulta<strong>do</strong> CondutaLogo após o nascimento ouquan<strong>do</strong> da suspeita de SRCIgM Positivo Confirmar o casoNegativoRealizar pesquisa de IgG com o mesmo soroIgG Positivo Coletar 2ª amostra após 3 mesesNegativoDescartar o casoApós 3 meses da 1ª coleta(realizar testes parea<strong>do</strong>s)IgGSe o IgG mantiver o títuloanterior ou for maiorConfirmar o casoSe houver queda acentuada<strong>do</strong> título de IgG, compara<strong>do</strong>com o anteriorDescartar o caso*Recém-nasci<strong>do</strong> cuja mãe teve diagnóstico confirma<strong>do</strong> de rubéola durante a gestação, ou lactente com suspeitade SRC.Observação: Quan<strong>do</strong> a mãe não foi investigada anteriormente, realizar na mesma a pesquisa de IgM e IgG.6RecomendaçãoIsolamento viral – se a sorologia for IgM reagente (+), recomenda-se a coleta de espécimeclínica (swab nasofaríngeo) para identificação <strong>do</strong> genótipo <strong>do</strong> vírus.TratamentoNão existe tratamento antiviral efetivo. Este será direciona<strong>do</strong> às malformações congênitase deficiências observadas. Quanto mais precoces forem a detecção e a intervenção,quer o tratamento seja clínico, cirúrgico ou de reabilitação, melhor será o prognóstico da<strong>do</strong>ença.Aspectos epidemiológicosA rubéola e a SRC são <strong>do</strong>enças de notificação compulsória desde 1996. No entanto,só a partir de 1999, com a vigilância integrada <strong>do</strong> sarampo e rubéola como estratégia paraatingir a meta de erradicação <strong>do</strong> sarampo, passou-se a <strong>do</strong>cumentar mais sensível e representativamentea circulação <strong>do</strong> vírus da rubéola no Brasil. Assim, surtos de rubéola foramdetecta<strong>do</strong>s em diversos esta<strong>do</strong>s entre 1999 e 2001. Padrões diferencia<strong>do</strong>s de ocorrência darubéola por faixa etária foram observa<strong>do</strong>s, provavelmente como consequência da introduçãogradual da vacina, o que acarretou deslocamento da ocorrência da <strong>do</strong>ença para adultosjovens entre 1999 e 2000. Em 1999, a maioria <strong>do</strong>s surtos ocorreu em esta<strong>do</strong>s que ainda nãohaviam implanta<strong>do</strong> a vacinação contra a rubéola, sen<strong>do</strong> a população mais atingida a de menoresde 15 anos. Em 2000, os surtos atingiram esta<strong>do</strong>s que já vacinavam contra a rubéola.No perío<strong>do</strong> de 2000 e 2001, observou-se aumento no número de casos de SRC, como efeito<strong>do</strong> surto, mas também refletin<strong>do</strong> a estruturação da vigilância da SRC no país (Figura 1).SSecretaria de Vigilância em Saúde / MS687


Síndrome da Rubéola CongênitaOs da<strong>do</strong>s de vigilância da rubéola, nesses anos, possibilitaram não só a a<strong>do</strong>ção demedidas de controle frente a surtos (vacinação de bloqueio) mas também a implantação daestratégia de controle acelera<strong>do</strong> da SRC, com a realização, em 2001 e 2002, de campanhasde vacinação de mulheres em idade fértil em to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s brasileiros. Como resulta<strong>do</strong>desse intenso esforço de vacinação de grupos susceptíveis, observa-se substancial redução<strong>do</strong> número de casos de rubéola e de SRC a partir de 2002 (Figura1).A SRC é um evento relativamente raro, principalmente na ausência de surtos e comelevadas coberturas vacinais. Entretanto, possui grande magnitude pelo alto custo associa<strong>do</strong>ao tratamento, intervenções e educação especial, sem contar o sofrimento humano.Estima-se que muitos casos não são diagnostica<strong>do</strong>s ou permaneçam não notifica<strong>do</strong>s, contribuin<strong>do</strong>para o conhecimento apenas parcial <strong>do</strong> problema.Em 2003, foi estabelecida a meta de eliminação da rubéola e da SRC nas Américasaté 2010. Para isso, é fundamental fortalecer a vigilância da SRC, em especial por meio devigilância ativa em unidades de referência para o atendimento de crianças com infecçõescongênitas e outras malformações compatíveis com SRC. Assim, será possível detectar oscasos suspeitos, realizar exames diagnósticos e intervenções mais precocemente, o que tendea aumentar a especificidade <strong>do</strong> sistema.Figura 1. Incidência* e nº de casos confirma<strong>do</strong>s e compatíveis de SRC.Brasil, 1997-20031203,5Número de casos1008060402032,521,510,5Incidência por 100 mil*01997 1998 1999 2000 2001 2002 20030Casos de SRCIncidênciaFonte: Sinan*Denomina<strong>do</strong>r: População


Síndrome da Rubéola CongênitaDefinição de casoSuspeitoTo<strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong> cuja mãe foi caso suspeito ou confirma<strong>do</strong> de rubéola ou contatode caso confirma<strong>do</strong> de rubéola durante a gestação, ou toda criança, até 12 meses de idade,que apresente sinais clínicos compatíveis com infecção congênita pelo vírus da rubéola,independente da história materna.Confirma<strong>do</strong>Caso suspeito que apresenta malformações congênitas compatíveis com SRC e evidêncialaboratorial da infecção congênita pelo vírus da rubéola: presença de anticorpos IgM específicosou elevação persistente <strong>do</strong>s títulos de anticorpos da classe IgG, detecta<strong>do</strong>s atravésde ensaio imunoenzimático (Elisa) em amostras pareadas, com intervalo de 3 meses.Importa<strong>do</strong>Caso cuja exposição ocorreu fora <strong>do</strong> continente americano durante os 14 a 23 diasprévios ao surgimento <strong>do</strong> exantema, de acor<strong>do</strong> com a análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s epidemiológicose/ou virológicos.Caso relaciona<strong>do</strong> com importação – infecção contraída localmente que ocorre comoparte de uma cadeia de transmissão originada por um caso importa<strong>do</strong>, de acor<strong>do</strong> com aanálise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s epidemiológicos e/ou virológicos.Caso com origem de infecção desconhecida – caso em que não foi possível estabelecera origem da fonte de infecção, após investigação epidemiológica minuciosa.6CompatívelCaso suspeito que apresente pelo menos uma manifestação clínica <strong>do</strong> Grupo 1 (sinaismaiores) associada a uma outra <strong>do</strong> Grupo 2 (sinais menores) ou à história de infecção maternacomprovada por laboratório ou vínculo epidemiológico durante a gestação.Grupo 1 – catarata/glaucoma congênitos (interpretar como uma só manifestação),cardiopatia congênita, retinopatia pigmentar, surdez.Grupo 2 – hepatoesplenomegalia, icterícia, microcefalia, retar<strong>do</strong> mental, meningoencefalite,púrpura trombocitopênica, radiotransparência óssea nas metáfises (osteopatia deossos longos).SInfecção congênitaCaso suspeito que apresenta evidência laboratorial de infecção congênita pelo vírus darubéola, sem nenhuma manifestação clínica compatível com SRC.Descarta<strong>do</strong>O caso será classifica<strong>do</strong> como descarta<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> enquadrar-se em uma das seguintescondições:• títulos de IgM e IgG ausentes em crianças menores de 12 meses;Secretaria de Vigilância em Saúde / MS689


Síndrome da Rubéola Congênita• títulos de IgG diminuin<strong>do</strong>, em prazo compatível com a transferência de anticorposmaternos detecta<strong>do</strong>s por ensaio imunoenzimático a partir <strong>do</strong> nascimento;• quan<strong>do</strong>, por qualquer motivo, os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> exame sorológico <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong>não estiverem disponíveis e os da<strong>do</strong>s clínicos forem insuficientes para confirmar ocaso pela clínica;• títulos de IgG ausentes na mãe.NotificaçãoA notificação deve ser feita, de imediato, para a Comissão de Infecção Hospitalar eServiço de Vigilância Epidemiológica da unidade de saúde. O recém-nasci<strong>do</strong> pode ser fontede infecção dentro de uma unidade de saúde, sen<strong>do</strong> necessária a a<strong>do</strong>ção de medidas decontrole, como isolamento respiratório e vacinação de contactantes.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteRealizar exame clínico minucioso para detectar malformações e coletar sangue parasorologia. To<strong>do</strong> caso que apresentar malformação deverá ser encaminha<strong>do</strong> para especialista(neurologista, cardiologista, otorrinolaringologista e/ou oftalmologista, etc.), para tratamentoespecífico.Qualidade da assistênciaVerificar se os casos estão sen<strong>do</strong> atendi<strong>do</strong>s em unidade de saúde com capacidade paraprestar atendimento adequa<strong>do</strong> e oportuno. Na maioria das vezes, estes pacientes necessitamde cuida<strong>do</strong>s permanentes e contínuos, demandan<strong>do</strong> avaliação especializada (déficit auditivo,cardiopatias, malformações oculares).Proteção individual para evitar circulação viralÉ necessário realizar o isolamento <strong>do</strong>s contatos <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong>, uma vez que o víruspode estar presente em flui<strong>do</strong>s corporais (secreção nasofaríngea e urina). A infecção podeser transmitida aos susceptíveis, sen<strong>do</strong> importante a vacinação <strong>do</strong>s profissionais de saúde econtactantes. É importante evitar o contato de gestantes com a criança.Confirmação diagnósticaColetar material para diagnóstico laboratorial, de acor<strong>do</strong> com as orientações <strong>do</strong>Anexo 1.Proteção da populaçãoApós o conhecimento de um surto de rubéola é importante avaliar a distribuição etária<strong>do</strong>s casos confirma<strong>do</strong>s e a situação vacinal, além da cobertura vacinal na área. Se o surtoocorrer em um grupo não vacina<strong>do</strong>, realizar a vacinação visan<strong>do</strong>, principalmente, interrompera circulação viral, reduzin<strong>do</strong> o risco de exposição de gestantes susceptíveis ao vírus.690 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Síndrome da Rubéola CongênitaDevem ser organizadas divulgação nos meios de comunicação de massa, visitas <strong>do</strong>miciliarese palestras nas comunidades para esclarecer a população sobre a <strong>do</strong>ença, a gravidadeda infecção intra-uterina e a importância da vacinação.InvestigaçãoTo<strong>do</strong> caso suspeito de SRC deve ser investiga<strong>do</strong> em até 48 horas após a notificação,com o objetivo de:• caracterizar clinicamente o caso;• coletar da<strong>do</strong>s epidemiológicos <strong>do</strong> caso;• coletar amostra de sangue para exame sorológico, a fim de confirmar o diagnóstico;• desencadear as medidas de controle pertinentes;• obter informações detalhadas e uniformes, para to<strong>do</strong>s os casos, possibilitan<strong>do</strong> acomparação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s e a análise adequada da situação epidemiológica da <strong>do</strong>ença;• confirmar ou descartar o caso, conforme os critérios estabeleci<strong>do</strong>s.6O instrumento de coleta de da<strong>do</strong>s – ficha epidemiológica específica de SRC – disponívelno Sinan contém os elementos essenciais a serem coleta<strong>do</strong>s em uma investigaçãode rotina. To<strong>do</strong>s os seus campos devem ser criteriosamente preenchi<strong>do</strong>s, mesmo quan<strong>do</strong>a informação for negativa. Outros itens e observações podem ser incluí<strong>do</strong>s, conforme asnecessidades e peculiaridades de cada situação.Toda gestante com resulta<strong>do</strong> sorológico (IgM) positivo para rubéola ou que teve contatocom casos confirma<strong>do</strong>s ou suspeitos de rubéola deve ser acompanhada pelo serviço devigilância epidemiológica, com o objetivo de verificar a ocorrência de abortos, natimortosou o nascimento de crianças com ou sem malformações congênitas ou outras anomalias.Roteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação epidemiológica <strong>do</strong> Sinan, relativosaos da<strong>do</strong>s gerais, notificação individual e da<strong>do</strong>s de residência.SColeta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPara confirmar a suspeita diagnósticaAnotar na ficha de investigação os da<strong>do</strong>s da história e manifestações clínicas:• deve-se consultar o prontuário e entrevistar o médico assistente, para completar asinformações clínicas sobre o paciente. Estas informações servirão para definir se oquadro apresenta<strong>do</strong> é compatível com a <strong>do</strong>ença;• sugere-se fazer uma cópia da anamnese, exame físico e evolução <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente, comvistas ao enriquecimento das análises e, também, para que possam servir como instrumentode aprendizagem <strong>do</strong>s profissionais <strong>do</strong> nível local; acompanhar a evolução<strong>do</strong>s pacientes e os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames laboratoriais específicos.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS691


Síndrome da Rubéola CongênitaPara identificação de novos casos de SRC• Realizar busca ativa nos livros de registros de internação e alta de pacientes e no Sistemade Informação Hospitalar (SIH) em maternidades, unidades neonatais e livrosde registros de serviços pediátricos especializa<strong>do</strong>s, como cardiologia, oftalmologia,neurologia, otorrinolaringologia e fonoaudiologia.• Locais com ocorrência de surto: além <strong>do</strong> acompanhamento das gestantes que tiveramdiagnóstico de rubéola confirma<strong>do</strong>, realizar vigilância ativa prospectiva nasmaternidades, unidades neonatais e pediátricas, por um perío<strong>do</strong> de pelo menos 9meses após o término <strong>do</strong> surto.Coleta e remessa de material para exames• Logo após a suspeita de SRC, coletar sangue de to<strong>do</strong>s os casos.• É da responsabilidade <strong>do</strong>s profissionais da vigilância epidemiológica e/ou <strong>do</strong>s laboratórioscentrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo realizar estas coletas.Não se deve aguardar os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames para o desencadeamento das medidasde controle e outras atividades da investigação, embora eles sejam imprescindíveis paraa confirmação de casos e para nortear o encerramento das investigações. Se o teste deIgM for negativo, a criança pode ser retirada <strong>do</strong> isolamento.Análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sA análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da investigação deve permitir a avaliação da magnitude <strong>do</strong> problema,a caracterização clínica da coorte, a identificação de oportunidades perdidas de vacinação,a adequação das medidas de controle a<strong>do</strong>tadas e, finalmente, a avaliação <strong>do</strong> impactodas estratégias de vacinação atuais na prevenção da SRC.Encerramento de casosAs fichas epidemiológicas de cada caso devem ser analisadas visan<strong>do</strong> definir qual ocritério utiliza<strong>do</strong> para o diagnóstico. Espera-se que to<strong>do</strong>s os casos sejam classifica<strong>do</strong>s pelocritério laboratorial.Relatório finalOs da<strong>do</strong>s da ficha de investigação deverão estar adequadamente encerra<strong>do</strong>s e digita<strong>do</strong>sno Sinan, no perío<strong>do</strong> de até 180 dias após a notificação <strong>do</strong> caso, para as análises epidemiológicasnecessárias.Instrumentos disponíveis para controleA vacina tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba) foi implantada no Brasil, de formagradativa, no perío<strong>do</strong> de 1992 a 2000. Atualmente, a vacinação contra a rubéola estáinserida no calendário vacinal de rotina, deven<strong>do</strong> ser realizada aos 12 meses de vida. O692 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Síndrome da Rubéola Congênitasistema de vigilância da SRC foi implanta<strong>do</strong> em 2000, objetivan<strong>do</strong> conhecer a magnitudeda SRC como problema de saúde pública e avaliar as estratégias de vacinação.Roteiro de investigação epidemiológica da síndrome da rubéola congênitaNotificação de caso(s) suspeito(s)InvestigaçãoAtenção médica/da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosIdentificarocorrência de surtosColeta de materialpara sorologiaEnviar ao laboratórioResulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exameSimIdentificar áreade transmissãoDeterminar a extensãoda área de transmissão6NegativoPositivoA<strong>do</strong>tar medidas deprevenção e controleMonitoramento daárea durante 9 mesesEncerrar o casoBloqueioAcompanhamentode mulheres grávidasexpostas e recém-nasci<strong>do</strong>Educaçãoem saúdeImunizaçãoRecomendações para a vacinação – a vacinação é uma estratégia para o controle darubéola e prevenção da SRC.A medida de controle, quan<strong>do</strong> da detecção de um caso de SRC, é a vacinação de bloqueio,que deve ocorrer no hospital de atendimento <strong>do</strong> caso, no <strong>do</strong>micílio e na creche que acriança irá freqüentar, uma vez que o vírus pode ser excreta<strong>do</strong> pelas secreções nasofaríngease urina, em até 1 ano de idade. Administrar a vacina tríplice viral (sarampo/rubéola/caxumba)no grupo etário de 1 a 39 anos de idade, na rotina, e nos bloqueios de 6 meses a 39 anosde idade. É necessário que as crianças de 6 a 11 meses sejam revacinadas aos 12 meses deidade na rotina, quan<strong>do</strong> a vacina tem maior eficácia, sen<strong>do</strong> esta a <strong>do</strong>se considerada válida.SAções de educação em saúde• Esclarecer a população, principalmente da área da educação e creches, sobre a <strong>do</strong>ença,a importância de notificar a secretaria municipal de saúde e a vacinação de criançase mulheres para a prevenção da SRC.• Orientar os profissionais de creches quanto aos cuida<strong>do</strong>s com a criança porta<strong>do</strong>ra deSRC.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS693


Síndrome da Rubéola CongênitaAnexo 1Normas para procedimentos laboratoriaisO diagnóstico específico de cada paciente com suspeita de síndrome da rubéola congênitaé da maior importância para a vigilância epidemiológica. A seguir, são descritos osexames laboratoriais disponíveis, suas interpretações e as normas de coleta <strong>do</strong>s espécimes.Testes sorológicos• MAC-Elisa – é bastante sensível e detecta anticorpos específicos da classe IgM, queindica infecção ativa. Esses anticorpos, na infecção congênita, aparecem desde onascimento e perduram, em geral, até os 180 dias de vida. É um teste sensível, deeleição para a triagem de casos.• PCR – detecta material genético <strong>do</strong> vírus em amostra clínica (urina e secreção nasofaríngea).• Isolamento viral em cultura de células – útil para identificar o genótipo <strong>do</strong> vírus,possibilitan<strong>do</strong> conhecer a origem <strong>do</strong> vírus, em casos importa<strong>do</strong>s, e também diferenciaro vírus selvagem <strong>do</strong> vacinal.• Diagnóstico histopatológico – realiza<strong>do</strong> a partir de coleta de material post-mortem.Coleta e conservação de material para diagnóstico da síndrome da rubéola congênitaTipo dediagnósticoTipo dematerialQuantidadeNº deamostrasPerío<strong>do</strong>da coletaRecipienteArmazenamento/conservaçãoTransporteSorológicoSangueObtençãoda amostra:punçãovenosaCrianças:2-5mlAté 3*1ª ao nascer;2ª no terceiromês de vida;3ª no sextomês de vidaTubo plásticoou vidro,com tampade roscaou frascocom vácuoGeladeira local:4ºC a 8ºCaté 48 horasLacen: -20ºCGelo reciclávelem até 48horas apósa coletaIsolamentoviralSecreçõesnasofaringeasatravésde swabUma amostrade cadanarina e umada garganta1Após o resulta<strong>do</strong>de IgM positivona 1ª amostra,até 12 mesesde vidaFrasco estérilde plásticocom meioespecíficoEm geladeiraaté 48 horas(sem congelar)Lacen:freezer a -70ºCGelo reciclávelem até 48horas apósa coletaUrina 2-5ml 1Após o resulta<strong>do</strong>de IgM positivona 1ª amostra,até 12 mesesde vidaFrasco estérilde plásticoEm geladeiraaté 48 horas(sem congelar)Lacen:freezer a -70ºCGelo reciclávelem até 48horas apósa coleta*Conforme resulta<strong>do</strong> da primeira amostra.694 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Síndrome da Rubéola CongênitaTo<strong>do</strong> material deverá ser envia<strong>do</strong> devidamente identifica<strong>do</strong> e acompanha<strong>do</strong> de cópiada ficha de acompanhamento sorológico, que servirá para orientar os técnicos <strong>do</strong> laboratórioquanto aos exames indica<strong>do</strong>s, de acor<strong>do</strong> com o perío<strong>do</strong> que antecedeu a suspeita dainfecção.A informação sobre a história vacinal <strong>do</strong>s casos suspeitos é muito importante parasubsidiar a análise adequada <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s de testes sorológicos.Conduta frente a um caso suspeitoRecém-nasci<strong>do</strong> cuja mãe foi caso suspeito ou confirma<strong>do</strong> derubéola durante a gestação, ou criança de até 12 meses queapresente sinais clínicos compatíveis com infecção congênitapelo vírus da rubéola, independente da história materna6Suspeito de síndrome da rubéola congênitaNotificarColher amostra de sangue parasorologia logo após o nascimentoou suspeita de SRCVacinação de bloqueioIgM +IgM -IgG -IgM -IgG +Confirmar o caso Descartar o caso Coletar 2ª amostraapós 3 meses da coletada 1ª amostraSSe o IgG mantivero título anteriorou for maiorSe houver quedaacentuada <strong>do</strong> títulode IgG, compara<strong>do</strong>ao anteriorConfirmar o casoDescartar o casoSecretaria de Vigilância em Saúde / MS695


Tétano AcidentalTÉTANO ACIDENTALCID 10: A35Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoDoença infecciosa aguda não-contagiosa, causada pela ação de exotoxinas produzidaspelo Clostridium tetani, que provocam um esta<strong>do</strong> de hiperexcitabilidade <strong>do</strong> sistema nervosocentral. Clinicamente, a <strong>do</strong>ença manifesta-se por febre baixa ou ausente, hipertoniamuscular mantida, hiperreflexia e espasmos ou contraturas paroxísticas espontâneas ouocasiona<strong>do</strong>s por vários estímulos, tais como sons, luminosidade, injeções, toque ou manuseio.Em geral, o paciente mantém-se consciente e lúci<strong>do</strong>.Agente etiológicoO Clostridium tetani, bacilo gram-positivo esporula<strong>do</strong>, anaeróbico, morfologicamentesemelhante a um alfinete de cabeça, com 4 a 10μ de comprimento. Produz esporos que lhepermitem sobreviver no meio ambiente por vários anos.ReservatórioO Clostridium tetani é comumente encontra<strong>do</strong> na natureza, sob a forma de esporo,nos seguintes meios: pele, trato intestinal <strong>do</strong>s animais (especialmente <strong>do</strong> cavalo e <strong>do</strong> homem,sem causar <strong>do</strong>ença), fezes, terra, reino vegetal, águas putrefatas, instrumentos perfurocortantesenferruja<strong>do</strong>s, poeira das ruas, etc.Mo<strong>do</strong> de transmissãoNão há transmissão direta ou indireta. A infecção ocorre pela introdução <strong>do</strong>s esporosem solução de continuidade da pele ou mucosas (ferimentos superficiais ou profun<strong>do</strong>s dequalquer natureza). Em meio a condições favoráveis de anaerobiose, os esporos transformam-seem formas vegetativas, que são as responsáveis pela produção de tetanospasminas.A presença de teci<strong>do</strong>s desvitaliza<strong>do</strong>s, corpos estranhos, isquemia e infecção contribuempara diminuir o potencial de oxirredução.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoÉ o perío<strong>do</strong> requeri<strong>do</strong> pelo esporo para germinar, elaborar as toxinas e permitir queestas atinjam o sistema nervoso central, geran<strong>do</strong> alterações funcionais com aumento daexcitabilidade. Varia de um dia a alguns meses, mas comumente é de três a 21 dias.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeNão há.696 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tétano AcidentalSusceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade é universal, independente de sexo ou idade. A imunidade permanenteé conferida pela vacina com 3 <strong>do</strong>ses e reforço a cada 5 ou 10 anos A <strong>do</strong>ença não confereimunidade. Os filhos de mães imunes apresentam imunidade passiva e transitória até4 meses. Recomenda-se um reforço em caso de nova gravidez, se esta distar mais de 5 anosda última <strong>do</strong>se. A imunidade através <strong>do</strong> soro antitetânico (SAT) dura até 14 dias, em média1 semana, e a conferida pela imunoglobulina humana antitetânica dura de 2 a 4 semanas,em média 14 dias.Aspectos clínicosManifestações clínicasO tétano é uma toxiinfecção causada pela toxina <strong>do</strong> bacilo tetânico, introduzi<strong>do</strong> noorganismo através de ferimentos ou lesões de pele ou mucosa. Clinicamente, o tétano acidentalse manifesta por:Hipertonia <strong>do</strong>s músculos – masseteres (trismo e riso sardônico), pescoço (rigidez denuca), faringe (ocasionan<strong>do</strong> dificuldade de deglutição-disfagia), contratura muscular progressivae generalizada <strong>do</strong>s membros superiores e inferiores (hiperextensão de membros),reto-ab<strong>do</strong>minais (ab<strong>do</strong>me em tábua), paravertebrais (opistótono) e diafragma, levan<strong>do</strong> àinsuficiência respiratória; os espasmos são desencadea<strong>do</strong>s ao menor estímulo (luminoso,sonoro ou manipulação <strong>do</strong> paciente) ou surgem espontaneamente;Perío<strong>do</strong> de infecção – em média, de <strong>do</strong>is a cinco dias;Remissão – não apresenta perío<strong>do</strong> de remissão;Perío<strong>do</strong> toxêmico – ocorre su<strong>do</strong>rese pronunciada e pode haver retenção urinária porbexiga neurogênica. Inicialmente, as contrações tônico-clônicas ocorrem sob estímulos externos.Com a evolução da <strong>do</strong>ença, passam a ocorrer espontaneamente. É característicada <strong>do</strong>ença o enfermo manter-se lúci<strong>do</strong> e apirético ou com febre baixa. A presença de febreacima de 38°C é indicativa de infecção secundária ou de maior gravidade <strong>do</strong> tétano.Diagnóstico diferencialEm relação às formas generalizadas <strong>do</strong> tétano, incluem-se os seguintes diagnósticosdiferenciais:• intoxicação pela estricnina – há ausência de trismos e de hipertonia generalizadadurante os intervalos <strong>do</strong>s espasmos;• meningites – há febre alta desde o início, ausência de trismos, presença <strong>do</strong>s sinais deKerning e Brudzinsky, cefaléia e vômito;• tetania – os espasmos são principalmente nas extremidades, com sinais de Trousseaue Chvostek presentes, hipocalcemia e relaxamento muscular entre os paroxismos;• raiva – história de mordedura, arranhadura ou lambedura por animais, convulsão,ausência de trismos, hipersensibilidade cutânea e alterações de comportamento;6TSecretaria de Vigilância em Saúde / MS697


Tétano Acidental• histeria – ausência de ferimentos e de espasmos intensos. Quan<strong>do</strong> o paciente sedistrai, desaparecem os sintomas;• intoxicação pela metoclopramida e por neurolépticos – podem levar ao trismo ehipertonia muscular;• processos inflamatórios da boca e faringe, acompanha<strong>do</strong>s de trismo – dentre osprincipais, citam-se: abscesso dentário, perio<strong>do</strong>ntite alvéolo-dentária, erupção viciosa<strong>do</strong> dente <strong>do</strong> siso, fratura e/ou osteomielite de mandíbula, abscesso amigdalianoe/ou retrofaríngeo;• <strong>do</strong>ença <strong>do</strong> soro – pode cursar com trismo, que é decorrente da artrite têmporomandibularque se instala após uso <strong>do</strong> soro heterólogo. Ficam evidenciadas lesõesmaculopapulares cutâneas, hipertrofia ganglionar, comprometimento renal e outrasartrites.É importante chamar a atenção para as condições que, mesmo excepcionalmente, podemfigurar no diagnóstico diferencial <strong>do</strong> tétano, tais como:❯ osteoartrite cervical aguda com rigidez de nuca;❯ espondilite septicêmica;❯ hemorragia retroperitonial;❯ úlcera péptica perfurada;❯ outras causas de ab<strong>do</strong>me agu<strong>do</strong>;❯ epilepsia;❯ outras causas de convulsões.Diagnóstico laboratorial e exames complementaresO diagnóstico <strong>do</strong> tétano é eminentemente clínico-epidemiológico, não dependen<strong>do</strong>de confirmação laboratorial. O laboratório auxilia no controle das complicações e tratamento<strong>do</strong> paciente. O hemograma habitualmente é normal, exceto quan<strong>do</strong> há infecçãoinespecífica associada. As transaminases e uréia sangüíneas podem elevar-se nas formasgraves. A <strong>do</strong>sagem de gases e eletrólitos é importante nos casos de insuficiência respiratória.As radiografias de tórax e da coluna vertebral devem ser realizadas para o diagnóstico deinfecções pneumônicas e de fraturas de vértebras, respectivamente. Hemoculturas, culturasde secreções e de urina são indicadas nos casos de infecção secundária.TratamentoO <strong>do</strong>ente deve ser interna<strong>do</strong> em unidade apropriada com temperatura estável e agradávele o mínimo de ruí<strong>do</strong> e luminosidade. Casos graves têm indicação de terapia intensiva,onde haja suporte necessário para o manejo de complicações e conseqüente redução dasseqüelas e letalidade. São de fundamental importância os cuida<strong>do</strong>s dispensa<strong>do</strong>s por equipesmédica e de enfermagem, experientes no atendimento a esse tipo de enfermidade.Os princípios básicos <strong>do</strong> tratamento são:• sedação <strong>do</strong> paciente – através <strong>do</strong> uso de benzodiazepínicos e miorrelaxantes;• neutralização da toxina tetânica – utiliza-se o soro antitetânico (SAT), cuja indi-698 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tétano Acidentalcação terapêutica é de 10 mil a 20 mil UI para crianças e adultos, via intramuscular,distribuída em duas massas musculares, ou via en<strong>do</strong>venosa, diluí<strong>do</strong> para 100 ml desoro fisiológico e infundi<strong>do</strong> em uma hora. Atentar para a possibilidade <strong>do</strong> surgimentode reação anafilática. A realização prévia de testes oculares e intradérmicosé de grande importância para avaliar a existência de hipersensibilidade, porém nãosão inteiramente seguros. Desse mo<strong>do</strong>, tanto a avaliação de hipersensibilidade quantoa administração <strong>do</strong> SAT devem ser feitas em ambiente hospitalar, garantin<strong>do</strong>-semedidas imediatas de suporte de vida frente a ocorrência de reação anafilática. Aimunoglobulina humana antitetânica (IGHAT ou TIG) é disponível no Brasil apenaspara uso intramuscular, em duas ou mais massas musculares, na <strong>do</strong>sagem, a critériomédico, de 1 mil a 3 mil UI. A administração da TIG pela via intratecal, ainda é controversana literatura e, no Brasil, seu uso está limita<strong>do</strong> a protocolos de pesquisas;• debridamento <strong>do</strong> foco – limpar o ferimento suspeito com soro fisiológico ou água esabão e retirar o teci<strong>do</strong> desvitaliza<strong>do</strong> e corpos estranhos. Após a remoção de todas asáreas suspeitas, fazer limpeza com água oxigenada ou solução de permanganato depotássio a 1:5000. Ferimentos puntiformes e profun<strong>do</strong>s devem ser abertos em cruz elava<strong>do</strong>s com soluções oxidantes. Não há comprovação de eficácia <strong>do</strong> uso de penicilinabenzatina como profilático <strong>do</strong> tétano acidental, nas infecções cutâneas. Além detratamento sintomático, caso haja indicação para o uso de antibióticos proceder deacor<strong>do</strong> com os esquemas terapêuticos indica<strong>do</strong>s pela situação clínica.6Aspectos epidemiológicosO tétano ainda constitui problema de saúde pública nas áreas onde os níveis de desenvolvimentohumano e de cobertura vacinal são inadequa<strong>do</strong>s.No Brasil, verifica-se tendência de declínio das taxas médias de incidência no perío<strong>do</strong>de 1982 a 2003 (vide gráfico a seguir), com uma redução de 72% no número absoluto decasos confirma<strong>do</strong>s. A região Sudeste apresentou a maior redução no coeficiente de incidênciadeste perío<strong>do</strong>, decrescen<strong>do</strong> de 1,00 para 0,01 por 100 mil habitantes. Esta situação podeser atribuída ao maior desenvolvimento socioeconômico e educacional e ao maior acessoa serviços de saúde, inclusive da população que migrou da zona rural para a urbana comoconseqüência da mecanização da agricultura.A <strong>do</strong>ença tem acometi<strong>do</strong> todas as faixas etárias mas, atualmente, 46,2% <strong>do</strong>s casos estãoconcentra<strong>do</strong>s no grupo de 20 a 49 anos de idade, segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> de 50 anos e mais, que acumulaum percentual de 35,3%. A faixa etária pre<strong>do</strong>minante varia conforme a região: as regiõesCentro-Oeste, Sul e Sudeste têm apresenta<strong>do</strong> baixas incidências no grupo <strong>do</strong>s menores de15 anos de idade, ao contrário das regiões Norte e Nordeste.Outras características da situação epidemiológica <strong>do</strong> tétano acidental, para o paíscomo um to<strong>do</strong>: tem acometi<strong>do</strong> com mais freqüência o sexo masculino; a partir <strong>do</strong>s anos90, a zona urbana passou a responder pelo maior número de casos (62,2%); a letalidade estáacima de 30%, afetan<strong>do</strong> principalmente os menores de cinco anos e os i<strong>do</strong>sos, sen<strong>do</strong> con-TSecretaria de Vigilância em Saúde / MS699


Tétano Acidentalsiderada elevada quan<strong>do</strong> comparada com os países de maior desenvolvimento econômico,que apresentam taxas entre 10% a 17%.Tétano acidental: distribuição <strong>do</strong>s coeficientes de incidência. Brasil, 1982-20032,01,8Coeficiente de incidência /100 mil hab.1,61,41,21,00,80,60,40,2082 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03AnoFonte: Devep/CGVEP/SVS/MS*Da<strong>do</strong>s sujeitos a revisãoVigilância epidemiológicaObjetivos• Monitorar o comportamento epidemiológico da <strong>do</strong>ença.• Avaliar a efetividade das medidas de prevenção e controle.• Investigar, com qualidade, 100% <strong>do</strong>s casos suspeitos.• Identificar grupos de risco.• Analisar da<strong>do</strong>s e a<strong>do</strong>tar medidas de controle pertinentes.• Produzir e disseminar informações epidemiológicasDefinição de casoSuspeitoTo<strong>do</strong> paciente com dificuldade para deglutir, trismo, contraturas musculares localizadasou generalizadas progressivas, com ou sem espasmos, apresentan<strong>do</strong> ou não solução de continuidadede pele ou mucosa, independente de história vacinal e <strong>do</strong>ença prévia de tétano.700 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tétano AcidentalConfirma<strong>do</strong>To<strong>do</strong> caso suspeito cujos sinais/sintomas não se justifiquem por outras etiologias eapresente hipertonia <strong>do</strong>s masseteres (trismo), disfagia, contratura <strong>do</strong>s músculos da mímicafacial (riso sardônico, acentuação <strong>do</strong>s sulcos naturais da face, pregueamento frontal,diminuição da fenda palpebral), rigidez ab<strong>do</strong>minal (ab<strong>do</strong>me em tábua), contraturas damusculatura paravertebral (opistótono), da região cervical (rigidez de nuca), de membros(dificuldade para deambular), independente da situação vacinal, história prévia de tétanoe de detecção de solução de continuidade da pele ou mucosa. A lucidez <strong>do</strong> paciente reforçao diagnóstico.Descarta<strong>do</strong>To<strong>do</strong> caso suspeito que, após investigação clínica e epidemiológica, não preencha oscritérios de confirmação.Notificação6A notificação de casos suspeitos de tétano acidental deverá ser feita às autoridades einstâncias superiores por profissionais da saúde ou por qualquer pessoa da comunidade.Após a notificação, deve-se proceder a investigação epidemiológica.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteHospitalização imediata.Qualidade da assistênciaA internação deve ser imediata, em unidades específicas ou de terapia intensiva demaior complexidade; os pacientes devem ser assisti<strong>do</strong>s por profissionais médicos e de enfermagemqualifica<strong>do</strong>s e com experiência com esta <strong>do</strong>ença, visan<strong>do</strong> diminuir a letalidade eas seqüelas. Alguns cuida<strong>do</strong>s são necessários com relação à internação (unidades especiaiscom pouca iluminação, diminuição de ruí<strong>do</strong>s, temperaturas estáveis e mais baixas que atemperatura corporal e manipulação restrita apenas ao necessário), devi<strong>do</strong> a possibilidade<strong>do</strong> desencadeamento das crises de contraturas. O isolamento é feito em virtude da necessidadede cuida<strong>do</strong>s especiais e não pela infecção, pois a <strong>do</strong>ença não é transmissível.TProteção individualNão é necessária, já que não há transmissão de pessoa a pessoa.Confirmação diagnósticaMediante da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicos.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS701


Tétano AcidentalProteção da populaçãoO tétano acidental é uma <strong>do</strong>ença para a qual há um meio eficaz de proteção. Portanto,frente ao conhecimento da ocorrência de caso(s), deve-se avaliar a situação das ações deprevenção <strong>do</strong> tétano na área e implementar medidas que as reforcem. Além da vacinaçãode rotina, de acor<strong>do</strong> com os calendários de vacinação da criança, <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente e <strong>do</strong> adultoe <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so, destaca-se, em particular, a identificação e vacinação de grupos de risco, comotrabalha<strong>do</strong>res da construção civil e da agricultura, cata<strong>do</strong>res de lixo, trabalha<strong>do</strong>res de oficinasmecânicas, etc.Destaca-se, ainda, a importância da atualização <strong>do</strong>s profissionais de saúde quanto aotratamento adequa<strong>do</strong> de ferimentos e esquemas de prevenção da <strong>do</strong>ença.InvestigaçãoImediatamente após a notificação de um caso suspeito, iniciar a investigação epidemiológicapara permitir que as medidas de controle possam ser a<strong>do</strong>tadas em tempo oportuno.O instrumento de coleta de da<strong>do</strong>s é a ficha de investigação epidemiológica <strong>do</strong> Sinan,que contém as variáveis de interesse a serem analisadas em uma investigação de rotina. To<strong>do</strong>sos seus campos devem ser criteriosamente preenchi<strong>do</strong>s, mesmo quan<strong>do</strong> a informaçãofor negativa. É importantíssima a revisão <strong>do</strong> preenchimento, ou seja, verificar a completudee consistência das informações antes da digitação no Sinan. Outros itens e observações podemser incluí<strong>do</strong>s, conforme as necessidades e peculiaridades de cada situação. Observar oprazo máximo para o encerramento <strong>do</strong>s casos.Roteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação epidemiológica <strong>do</strong> Sinan relativosaos da<strong>do</strong>s gerais, notificação individual e da<strong>do</strong>s de residência.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPara confirmar a suspeita diagnóstica• Anotar na ficha de investigação os da<strong>do</strong>s da história clínica.• Consultar a ficha de atendimento e/ou prontuário, entrevistar o médico assistenteou alguém da família ou acompanhante e realizar visita <strong>do</strong>miciliar e/ou no local detrabalho para completar as informações sobre a manifestação da <strong>do</strong>ença e possíveisfatores de exposição no meio ambiente.• Acompanhar a evolução <strong>do</strong> caso, as medidas implementadas e encerrar a investigaçãoepidemiológica no sistema de informação.Para identificar as áreas ou grupos de risco• Verificar a ocorrência de outros casos no município, levantar os possíveis fatoresdeterminantes, identificar a população de risco e traçar estratégias para a implementaçãodas ações de prevenção para o tétano.702 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tétano AcidentalObservação: casos de tétano em conseqüência de aborto podem às vezes ser mascara<strong>do</strong>squanto ao diagnóstico final.Análise da situaçãoA qualidade da investigação é fundamental para uma análise adequada <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s,permitin<strong>do</strong> a caracterização <strong>do</strong> problema segun<strong>do</strong> pessoa, tempo e lugar e o levantamentode hipóteses e/ou explicações que vão subsidiar o planejamento das ações parasolucionar ou minimizar os problemas detecta<strong>do</strong>s. Permite também melhor conhecimentoacerca da magnitude <strong>do</strong> problema e a<strong>do</strong>ção oportuna das medidas de prevenção e controle.Encerramento de casosApós a coleta e análise de todas as informações necessárias à investigação <strong>do</strong> caso,definir o diagnóstico final e atualizar, se necessário, os sistemas de informação (Sinan, SIH-SUS e SIM).6Relatório finalApós análise, os da<strong>do</strong>s deverão ser sumariza<strong>do</strong>s em um relatório com as principaisconclusões, das quais destacam-se:• se o caso foi decorrente de falhas de vacinação ou devi<strong>do</strong> a baixa cobertura vacinalna área ou em grupos de risco, ou ainda se houve conservação inadequada da vacina,o que implica a a<strong>do</strong>ção de medidas de aprimoramento desses serviços;• se a ocorrência <strong>do</strong>s casos pode estar atribuída à falta de conhecimento quanto àsformas de prevenção, desconhecimento da existência da vacina eficaz e gratuita nosserviços de saúde ou problemas de acesso a estes serviços;• importância <strong>do</strong> uso de equipamentos de proteção individual em atividades de riscopara esta <strong>do</strong>ença.Algumas estratégias recomendadas• Garantir a vacina em estoque suficiente para a demanda nas unidades de saúde.• Garantir o funcionamento das salas de vacina nos horários comerciais.• Sensibilizar a população em geral acerca da importância da vacina e de manter oesquema vacinal atualiza<strong>do</strong>.• Reforçar a importância das parcerias, principalmente com outros órgãos, como Ministério<strong>do</strong> Trabalho, sociedades de infectologia, CRM, Coren, serviços de atençãobásica, serviços de atuação à saúde <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, ONGs, saúde indígena, educação,etc.• Divulgar, na mídia, a importância e a necessidade da prevenção.• No âmbito da atenção à saúde, aplicar as medidas terapêuticas e profiláticas indicadasde acor<strong>do</strong> com a classificação <strong>do</strong> ferimento, asseguran<strong>do</strong> as <strong>do</strong>ses subseqüentesapós a alta hospitalar, se necessário.• implementar todas as ações em parceria com os diversos atores envolvi<strong>do</strong>s, atentan<strong>do</strong>para as questões político-gerenciais pertinentes à situação.TSecretaria de Vigilância em Saúde / MS703


Tétano AcidentalRoteiro de investigação <strong>do</strong> tétano acidentalCaso suspeitoNotificaçãoInvestigaçãoColetar da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosIdentificação preliminar da (s) área (s) e/ou grupos de riscoVerificar a existência de outroscasos através de busca ativaAnalisar a cobertura vacinalcontra o tétano em crianças,a<strong>do</strong>lescentes e adultosComplementar ainvestigação epidemiológicaReforçar as atividades de vacinação,com ênfase nos grupos de maiorrisco para a <strong>do</strong>ençaEncerrar o (s) caso (s) eatualizar os sistemas de informaçãoMeios disponíveis para prevençãoVacinaçãoAtualmente, a vacinação contra o tétano é realizada concomitantemente à vacinaçãocontra a difteria, coqueluche e contra a meningite pelo Haemophilus influenza tipo b ouassociada somente ao componente antidiftérico, infantil ou <strong>do</strong> adulto (ver quadro abaixo).Os eventos adversos são raros, comumente apresentan<strong>do</strong>-se sob a forma de <strong>do</strong>r local, hiperemia,edema e induração e febrícula com sensação de mal-estar de intensidade variávele passageira.Recomendações para a vacinaçãoRecomenda-se o esquema vacinal completo contra o tétano a todas as pessoas aindanão vacinadas ou àquelas com esquema incompleto, independente da idade e sexo. Deve-704 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tétano Acidentalse considerar como <strong>do</strong>se válida apenas as que podem ser comprovadas por caderneta devacinação. Como o bacilo encontra-se no meio ambiente, a exposição acidental ao mesmoatravés de um ferimento é universal. A manutenção de altas taxas de cobertura vacinal torna-seprioritária, ten<strong>do</strong> em vista a gravidade <strong>do</strong> quadro clínico, a elevada taxa de letalidadee as seqüelas decorrentes das complicações.A prevenção <strong>do</strong> tétano poderá ser iniciada com as vacinas abaixo indicadas:Esquemas e orientações para vacinaçãoVacina Protege contra EficáciaInício davacinação(idade)Dose/<strong>do</strong>sagem/via deadministração/intervaloentre as <strong>do</strong>sesReforçosTetravalente(DTP + Hib)Difteria, tétano,coqueluche e<strong>do</strong>ença invasivapor Haemohilusinfluenzae tipo bDifteria: 80%Tétano: 99%Coqueluche:75% a 80%2 mesesde idade3 <strong>do</strong>ses/0,5ml/IM/30-60 diasAos 15 meses(1 o reforço)e entre 4-6 anos(2 o reforço)Ambos devem ser feitoscom a vacina DTP6dTDifteria e tétano(a<strong>do</strong>lescentee adulto)Difteria: 80%Tétano: 99%Sete anos de idadee MIF.Para pessoas quenão tenham recebi<strong>do</strong>o esquemabásico completoe os <strong>do</strong>is reforçosTrês <strong>do</strong>ses/0,5ml/IM/60 dias entre as <strong>do</strong>ses,mínimo de 30 diasUma <strong>do</strong>se a cada10 anos, exceto emcaso de gravidez eferimento grave.Antecipar o reforçose a última <strong>do</strong>se foihá mais de cinco anosA vacina deve ser conservada entre +2°C e +8°C. O seu congelamento provoca a desnaturaçãoprotéica e a desagregação <strong>do</strong> adjuvante, com perda de potência e aumento<strong>do</strong>s eventos adversos.Recomendações para a soroterapiaO soro antitetânico (SAT) é indica<strong>do</strong> para a prevenção e o tratamento <strong>do</strong> tétano. Asua indicação depende <strong>do</strong> tipo e das condições <strong>do</strong> ferimento, bem como das informaçõesrelativas ao uso <strong>do</strong> próprio SAT e <strong>do</strong> número de <strong>do</strong>ses da vacina contra o tétano recebi<strong>do</strong>anteriormente. O SAT é composto a partir <strong>do</strong> soro de eqüinos hiperimuniza<strong>do</strong>s com toxóidetetânico e apresenta-se sob forma líquida, em ampolas de 5 ml (5000 UI).A <strong>do</strong>se e o volume <strong>do</strong> SAT dependem <strong>do</strong> motivo que justificou sua indicação. A <strong>do</strong>seprofilática é de 5000 UI (para crianças e adultos) e a <strong>do</strong>se terapêutica de 20 mil UI.A administração <strong>do</strong> SAT é por via intramuscular, poden<strong>do</strong> ser na região deltóide, naface externa superior <strong>do</strong> braço, no vasto lateral da coxa ou no quadrante superior <strong>do</strong> glúteo.Quan<strong>do</strong> o volume a ser administra<strong>do</strong> for grande, a <strong>do</strong>se deve ser dividida entre os membrossuperiores e a região glútea. Ao administrar o SAT juntamente com a vacina contra otétano, utilizar regiões musculares diferentes. A pessoa que fez uso <strong>do</strong> SAT deve ser alertadapara procurar o serviço de saúde caso apresente febre, urticária, <strong>do</strong>res musculares e aumentode gânglios, dentre outros sintomas.TSecretaria de Vigilância em Saúde / MS705


Tétano AcidentalA imunoglobulina humana hiperimune antitetânica (IGHAT) é indicada para o tratamentode casos de tétano, em substituição ao SAT, nas seguintes situações: hipersensibilidadeao soro heterólogo, história pregressa de alergia ou hipersensibilidade ao uso de outrossoros heterólogos.A IGHAT é constituída por imunoglobulinas da classe IgG que neutralizam a toxinaproduzida pelo Clostridium tetani, obtida <strong>do</strong> plasma humano. Apresenta-se sob forma líquidaou liofilizada em frasco-ampola de 1ml ou 2ml conten<strong>do</strong> 250 UI e sua conservaçãodeverá ser feita entre +2ºC e +8ºC, não poden<strong>do</strong> ser congelada.Sua administração é por via intramuscular, poden<strong>do</strong> ser aplicada na região deltóide, naface externa superior <strong>do</strong> braço. Em menores de <strong>do</strong>is anos, utilizar o vastolateral da coxa. A<strong>do</strong>se e volume dependem da justificativa utilizada para seu uso (profilático ou terapêutico).Conduta frente a ferimentos suspeitosEsquema de condutas profiláticas de acor<strong>do</strong> com o tipo de ferimento e situação vacinalHistória de vacinaçãoprévia contra tétanoFerimentos com riscomínimo de tétano*Ferimentos com alto risco de tétano**Vacina SAT/IGHAT Outras condutas Vacina SAT/IGHAT Outras condutasIncertaou menosde 3 <strong>do</strong>sesSim*NãoLimpeza e desinfecção,lavar comsoro fisiológicoe substânciasoxidantes ouantissépticas edebridar o focode infecçãoSim***simDesinfecção, lavar comsoro fisiológico e substânciasoxidantes ouantissépticas e removercorpos estranhos e teci<strong>do</strong>sdesvitaliza<strong>do</strong>s.Debridar o ferimento elavar com água oxigenada3 <strong>do</strong>ses ou mais,sen<strong>do</strong> a última <strong>do</strong>sehá menos de 5 anosNão Não - Não Não -3 ou mais <strong>do</strong>ses,sen<strong>do</strong> a última <strong>do</strong>sehá mais de 5 anose menos de 10 anosNão Não -Sim(1 reforço)Não**** -3 ou mais <strong>do</strong>ses,sen<strong>do</strong> a última <strong>do</strong>sehá 10 ou mais anosSim Não -Sim(1 reforço)Não**** -*Ferimentos superficiais, limpos, sem corpos estranhos ou teci<strong>do</strong>s desvitaliza<strong>do</strong>s.**Ferimentos profun<strong>do</strong>s ou superficiais sujos, com corpos estranhos ou teci<strong>do</strong>s desvitaliza<strong>do</strong>s; queimaduras;feridas puntiformes ou por armas brancas e de fogo; mordeduras; politraumatismos e fraturas expostas.***Vacinar e aprazar as próximas <strong>do</strong>ses, para complementar o esquema básico. Esta vacinação visa proteger contrao risco de tétano por outros ferimentos futuros. Se o profissional que presta o atendimento suspeita que oscuida<strong>do</strong>s posteriores com o ferimento não serão adequa<strong>do</strong>s, deve considerar a indicação de imunização passivacom SAT ou IGHAT. Quan<strong>do</strong> indica<strong>do</strong> o uso de vacina e SAT ou IGHAT, concomitantemente, devem ser aplica<strong>do</strong>sem locais diferentes.****Para paciente imunodeprimi<strong>do</strong>, desnutri<strong>do</strong> grave ou i<strong>do</strong>so, além <strong>do</strong> reforço com a vacina está também indicadaIGHAT ou SAT.706 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tétano AcidentalAções de educação em saúdeA educação em saúde é uma prática social que tem por objetivo promover a consciênciasanitária <strong>do</strong>s cidadãos. Estimula a luta pela melhoria da qualidade de vida, conquista àsaúde, responsabilidade comunitária, aquisição, apreensão, socialização de conhecimentose opção por um estilo de vida saudável. Preconiza a utilização de méto<strong>do</strong>s pedagógicosparticipativos (criatividade, problematização e criticidade) e dialógicos, respeitan<strong>do</strong> as especificidadeslocais, o universo cultural da comunidade e suas formas de organização.As ações de educação em saúde devem envolver os empresários, gestores, gerentes,professores, etc., articulan<strong>do</strong>-os em torno de um pacto com seus emprega<strong>do</strong>s, funcionáriose alunos para manter o esquema vacinal em dia. Um importante grupo para a conscientizaçãoquanto à necessidade de vacinação são as gestantes, pela sua importância na prevenção<strong>do</strong> tétano neonatal.Os processos de educação continuada <strong>do</strong>s profissionais de saúde devem ser estimula<strong>do</strong>spara que os mesmos se mantenham atualiza<strong>do</strong>s quanto aos esquemas de prevenção etratamento.6Ações de comunicaçãoAtentar para a adequação <strong>do</strong>s meios de divulgação e comunicação aos cenários socioculturaise de organização <strong>do</strong>s serviços em que são produzi<strong>do</strong>s os casos de tétano acidental.Lembrar que a vacinação e conservação <strong>do</strong> cartão não é só para crianças.TSecretaria de Vigilância em Saúde / MS707


Tétano NeonatalTÉTANO NEONATALCID 10: A33Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoDoença infecciosa aguda, grave, não-contagiosa, que acomete o recém-nasci<strong>do</strong> nosprimeiros dias de vida, ten<strong>do</strong> como manifestação clínica inicial a dificuldade de sucção <strong>do</strong>seio, mamadeira ou chupetas.SinonímiaTétano umbilical e “mal de sete dias”, como é popularmente conheci<strong>do</strong>.Agente etiológicoClostridium tetani, bacilo gram-positivo esporula<strong>do</strong> anaeróbico, morfologicamentesemelhante a um alfinete de cabeça, com 4 a 10μ de comprimento. Produz esporos que lhepermitem sobreviver no meio ambiente.ReservatórioO Clostridium tetani é comumente encontra<strong>do</strong> na natureza, sob a forma de esporo, nosseguintes meios: pele, trato intestinal <strong>do</strong>s animais (especialmente <strong>do</strong> cavalo e <strong>do</strong> homem,sem causar <strong>do</strong>ença), fezes, terra, reino vegetal, águas putrefatas, instrumentos perfurocortantes,poeira das ruas, etc.Mo<strong>do</strong> de transmissãoNão há transmissão de pessoa a pessoa. A infecção ocorre por contaminação, quan<strong>do</strong>são utiliza<strong>do</strong>s instrumentos cortantes contamina<strong>do</strong>s para secção <strong>do</strong> cordão umbilical, ouatravés <strong>do</strong> uso de substâncias contaminadas na ferida umbilical, como teia de aranha, póde café, esterco, etc.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoEm média, sete dias, poden<strong>do</strong> variar de 2 a 28 dias.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeComo não é <strong>do</strong>ença contagiosa, não existe transmissão de pessoa a pessoa.Susceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade é universal, afetan<strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong>s de ambos os sexos e todas asraças. A <strong>do</strong>ença não confere imunidade, a qual só é conferida pela vacinação adequada damãe, com três <strong>do</strong>ses (mínimo de duas). Os filhos de mães adequadamente vacinadas nos708 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tétano Neonatalúltimos 5 anos apresentam imunidade passiva e transitória até os 4 meses de vida extrauterina.A imunidade ativa obtida através da vacina dura em torno de 10 anos. No entanto,recomenda-se um reforço em caso de nova gravidez, se esta ocorrer há mais de 5 anos daúltima <strong>do</strong>se; a imunidade passiva através <strong>do</strong> soro antitetânico (SAT) e da imunoglobulinahumana antitetânica (IGHAT) dura em média uma semana e 14 dias, respectivamente.Aspectos clínicosManifestações clínicasRecém-nasci<strong>do</strong> normal que passa a apresentar:• irritação;• choro constante, sem motivo;• recusa à amamentação;• contraturas paroxísticas, geralmente confundidas com cólica intestinal.6Clinicamente, o recém-nasci<strong>do</strong> apresenta-se com choro constante, irritabilidade, dificuldadeem abrir a boca decorrente de trismo (contratura <strong>do</strong>lorosa da musculatura da mandíbula),seguida de rigidez de nuca, tronco e ab<strong>do</strong>me, su<strong>do</strong>rese e taquicardia. Evolui comhipertonia generalizada, hiperextensão <strong>do</strong>s membros inferiores e hiperflexão <strong>do</strong>s membrossuperiores, com as mãos em flexão, chamada de “atitude de boxea<strong>do</strong>r”. Crises de contraturase rigidez da musculatura <strong>do</strong>rsal (opistótono) e intercostal, causan<strong>do</strong> problemas respiratórios.A contração da musculatura da mímica facial leva ao cerramento <strong>do</strong>s olhos, fronte pregueadae contratura da musculatura <strong>do</strong>s lábios, como se o recém-nasci<strong>do</strong> fosse pronunciar aletra U. Quan<strong>do</strong> há presença de febre, ela é baixa, exceto se houver infecção secundária.Os espasmos são desencadea<strong>do</strong>s ao menor estímulo (toque, luminosidade, ruí<strong>do</strong>s) ousurgem espontaneamente. Com a piora <strong>do</strong> quadro clínico, o recém-nasci<strong>do</strong> deixa de chorar,respira com dificuldade e passam a ser constantes as crises de apnéia, que podem levar aóbito.Perío<strong>do</strong> de infecção – em média, de <strong>do</strong>is a cinco dias; o coto umbilical pode apresentarcaracterísticas de infecção ou encontrar-se normal.Perío<strong>do</strong> toxêmico – ocorre taquicardia com pulso filiforme, taquipnéia e presença defebre nos casos com infecção secundária.TDiagnóstico diferencialSepticemia – nas sepses <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong> pode haver hipertonia muscular, porém oesta<strong>do</strong> geral da criança é grave, com hipertermia ou hipotermia, alterações <strong>do</strong> sensório eevidências <strong>do</strong> foco séptico (diarréia, onfalite). O trismo não é freqüente, nem ocorrem osparoxismos;Encefalopatias – podem cursar com hipertonia e o quadro clínico geralmente é evidentelogo após o nascimento, haven<strong>do</strong> alterações <strong>do</strong> sensório e crises convulsivas. O trismonão é manifestação freqüente;Secretaria de Vigilância em Saúde / MS709


Tétano NeonatalDistúrbios metabólicos – como a hipoglicemia, hipocalcemia e alcalose;Outros diagnósticos diferenciais – principalmente com a epilepsia, lesão intracranianasecundária ao parto, peritonites, onfalites e meningites bacterianas.Diagnóstico laboratorialA confirmação <strong>do</strong>s casos é eminentemente clínica e/ou a partir de vínculo clínico-epidemiológico.Os exames laboratoriais são realiza<strong>do</strong>s apenas para controle das complicações,orientan<strong>do</strong> o tratamento <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong>. O hemograma apresenta-se normal, poden<strong>do</strong>evidenciar discreta leucocitose ou linfopenia. As transaminases e a uréia sangüíneas podemelevar-se nas formas graves. A <strong>do</strong>sagem de gases e eletrólitos é importante na ocorrênciade insuficiência respiratória. As radiografias de tórax e coluna vertebral torácica devem serrealizadas para o diagnóstico de infecções pneumônicas e possíveis fraturas de vértebras.Culturas de secreções, urina e sangue são indicadas nos casos de infecção secundária.TratamentoO paciente deve ser interna<strong>do</strong> em unidade de terapia intensiva ou enfermaria apropriada,o que reduz as complicações e a letalidade, deven<strong>do</strong> ser acompanha<strong>do</strong> por equipemédica e de enfermagem experiente no atendimento a esse tipo de enfermidade. A unidadeou enfermaria deve dispor de isolamento acústico, com redução da luminosidade etemperatura ambiente. A atenção da enfermagem deve ser contínua, vigilante quanto àsemergências respiratórias decorrentes <strong>do</strong>s espasmos, realizan<strong>do</strong> pronto-atendimento comassistência ventilatória nos casos de dispnéia ou apnéia.Os princípios básicos <strong>do</strong> tratamento são:Sedação <strong>do</strong> paciente – usar sedativos e miorrelaxantes de ação central ou periférica:• diazepan – 0,3 a 2mg/kg/<strong>do</strong>se, repetidas até o controle das contraturas (monitorara função pulmonar, devi<strong>do</strong> ao risco de depressão respiratória);• clorpromazina – 0,5mg/kg/<strong>do</strong>se, de 6/6 horas, alterna<strong>do</strong> com o diazepan;• fenobarbital – 10mg/kg/dia, de 12/12 horas, via intramuscular;• mefenesina – miorrelaxante metaboliza<strong>do</strong> em 5 minutos, poden<strong>do</strong> ser feito eminfusão contínua. Dose máxima: 1 ampola com 50ml (10ml/kg).Curare – utiliza<strong>do</strong> como último recurso para os casos muito graves que não responderamao tratamento anterior (reduz a letalidade de 100% para 30%). O paciente deve estarseda<strong>do</strong> e em ventilação mecânica, sob vigilância rigorosa. O nível sérico <strong>do</strong> curare dura1 hora. Efeitos colaterais: taquicardia e liberação de histamina. Dose: 0,1mg/kg/<strong>do</strong>se, poden<strong>do</strong>fazer até 1/1 hora, se necessário. Apresentação: 1 ampola contém 2ml com 2mg/ml.Diluir 1 ampola em 8ml de água destilada (1ml da diluição contém 0,4mg).Hidrato de cloral a 10% – 50mg/kg/<strong>do</strong>se em 5ml de soro fisiológico, com seringaadaptada em sonda retal, injetan<strong>do</strong> pequenas e repetidas frações, de 4 em 4 horas, até acessação <strong>do</strong>s espasmos (1ml de hidrato de cloral a 10% = 100mg).710 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tétano NeonatalObservação: só usar o hidrato de cloral quan<strong>do</strong> não houver cessação <strong>do</strong>s espasmoscom a administração de diazepan ou com outras medidas.Cuida<strong>do</strong>s com o coto umbilical – realizar limpeza com água oxigenada a 10% oucom permanganato de potássio a 1/5.000 (1 comprimi<strong>do</strong> diluí<strong>do</strong> em meio litro de água).A indicação de debridamento no coto umbilical deve ser cuida<strong>do</strong>samente avaliada pelaequipe médica.Hidratação intravenosa adequadaAntibioticoterapia – o uso de substâncias antimicrobianas visa o combate ao Clostridiumtetani presente no foco de infecção. Emprega-se a penicilina G cristalina ou o metronidazolpor 7 a 10 dias.A penicilina G cristalina é utilizada por via intravenosa na <strong>do</strong>se de 50 mil a 100 milUI/kg/dia, fracionada de 6/6 horas. O metronidazol pode ser utiliza<strong>do</strong> em <strong>do</strong>se única de30mg/kg/dia ou fracionada de 8/8 horas, por via intravenosa. Alternativamente, poderá serutilizada a cefalexina por sonda nasogástrica, na <strong>do</strong>se de 25 a 30mg/kg/dia, fracionada de6/6 horas.Outros antimicrobianos poderão ser necessários nos casos de infecção secundária(onfalites, pneumonia, infecção urinária e sepse).Neutralização da toxina, realizada através <strong>do</strong>:• soro antitetânico heterólogo (SAT) – realizar previamente teste intradérmico paraverificar a hipersensibilidade. Caso seja negativo, administrar <strong>do</strong>se de 10 mil a 20mil Unidades Internacionais (UI), por via en<strong>do</strong>venosa diluída em soro glicosa<strong>do</strong> a5%, em gotejamento lento. Sua vida média é inferior a duas semanas;• imunoglobulina humana antitetânica (IGHAT ou TIG) – disponível no Brasilapenas para uso intramuscular, poderá ser utilizada em substituição ao SAT, nassituações em que houver risco de apresentar reações de hipersensibilidade. A <strong>do</strong>se éde 1 mil UI a 3 mil UI, distribuída em duas massas musculares. A vida média é emtorno de duas semanas.Como a administração da TIG pela via intratecal ainda é controversa, seu uso no Brasilestá limita<strong>do</strong> a protocolos de pesquisas.6TTratamento sintomático• Utilizar analgésicos, se necessário. Evitar a obstipação intestinal com o uso de laxativosuave e administrar antiespasmódico para prevenir cólicas.• Evitar sondagem vesical e manter coletor urinário para medir a diurese.• Manter o equilíbrio hidreletrolítico.• Manter hidratação venosa contínua.• Manter o aporte de glicose e aminoáci<strong>do</strong>s.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS711


Tétano NeonatalAspectos epidemiológicosNo final <strong>do</strong>s anos 90 registraram-se 289.250 casos de tétano neonatal em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>,<strong>do</strong>s quais 215 mil foram a óbito (taxa de letalidade de 74,3%), assim distribuí<strong>do</strong>s: 124mil na África; 91 mil no sudeste da Ásia; 55 mil no Oriente Médio; 18 mil no oeste <strong>do</strong> Pacífico;1 mil nas Américas e 250 na Europa.Atualmente, esta <strong>do</strong>ença continua existin<strong>do</strong> como problema de saúde pública apenasnos países de menor desenvolvimento econômico e social, principalmente no continenteafricano e sudeste asiático.Com a implementação de uma política de eliminação <strong>do</strong> tétano neonatal como problemade saúde pública no mun<strong>do</strong>, sua incidência tem si<strong>do</strong> reduzida sensivelmente, principalmentenas Américas. De acor<strong>do</strong> com a Organização Mundial da Saúde (OMS), esta metaequivale a alcançar uma taxa de incidência máxima de 1 caso/1 mil nasci<strong>do</strong>s vivos (NV),por distrito ou município, internamente a cada país.No Brasil, em 2002 ocorreram 33 casos de tétano neonatal, sen<strong>do</strong> nove na região Norte(27,3%), 18 na região Nordeste (54,5%), 3 na região Sudeste (9,1%), 1 na região Sul (3,0%) e2 casos na região Centro-Oeste (6,1%). Em 2003, ocorreu uma redução de 54,6% no númerode casos em relação ao ano anterior, chaman<strong>do</strong>-se a atenção para o surgimento de casosem municípios até então considera<strong>do</strong>s fora das áreas geográficas definidas como prioritáriaspara a implementação das ações de vigilância e controle. Para o país como um to<strong>do</strong>,os níveis de incidência estão abaixo <strong>do</strong> preconiza<strong>do</strong> pela OMS, porém há municípios queainda estão aquém desta meta.Casos confirma<strong>do</strong>s de tétano neonatal. Brasil, 1982-2003800Número de casos7006005004003002001000 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03Fonte: Cover/CGDT/Devep/SVS/MSAno712 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tétano NeonatalFatores de risco para o tétano neonatal• Baixas coberturas vacinais com a vacina dT em mulheres em idade fértil.• Partos <strong>do</strong>miciliares assisti<strong>do</strong>s por parteiras tradicionais sem capacitação e sem instrumentosde trabalho adequa<strong>do</strong>s.• Não realização <strong>do</strong> pré-natal ou realização de pré-natal sem qualidade.• Alta hospitalar precoce e sem conhecimento adequa<strong>do</strong> quanto aos cuida<strong>do</strong>s com ocoto umbilical.• Baixo nível de escolaridade das mães.• Baixo nível socioeconômico.• Dificuldades de acesso geográfico a serviços de saúde.• Partos ocorri<strong>do</strong>s em condições sépticas, em mulheres sem esquema vacinal atualiza<strong>do</strong>contra o tétano.Vigilância epidemiológica6Objetivos• Conhecer to<strong>do</strong>s os casos suspeitos de tétano neonatal.• Investigar, com qualidade, 100% <strong>do</strong>s casos suspeitos.• Mapear as áreas de risco.• Analisar os da<strong>do</strong>s e a<strong>do</strong>tar as medidas de controle pertinentes.• Implementar ações para atingir a meta de eliminação da <strong>do</strong>ença.• Avaliar a efetividade das medidas de prevenção e controle.• Produzir e disseminar informações epidemiológicas.Definição de casoSuspeito• To<strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong> que nasceu bem e sugou normalmente nas primeiras 24 ou 48horas e passe a apresentar, entre o segun<strong>do</strong> e o 28 º dia de vida extra-uterina, dificuldadede mamar, independente <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> vacinal da mãe, <strong>do</strong> local e das condições <strong>do</strong>parto.• To<strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong> que nasceu bem e sugou normalmente mas foi a óbito no perío<strong>do</strong>de 2 a 28 dias de vida extra-uterina, cujo diagnóstico foi constata<strong>do</strong> comoindefini<strong>do</strong> ou caracteriza<strong>do</strong> como quadro de tétano por seus familiares.TConfirma<strong>do</strong>• To<strong>do</strong> caso suspeito que apresentou um ou mais <strong>do</strong>s seguintes sinais e sintomas: trismo,crises de contraturas musculares, contração permanente <strong>do</strong>s músculos da mímicafacial e lábios contraí<strong>do</strong>s (como se fosse pronunciar a letra U), olhos cerra<strong>do</strong>s,pele da região frontal pregueada, hiperflexão <strong>do</strong>s membros superiores junto ao tóraxSecretaria de Vigilância em Saúde / MS713


Tétano Neonatal(mão fechada em posição de boxea<strong>do</strong>r) e membros inferiores em hiperextensão,com ou sem inflamação <strong>do</strong> coto umbilical.• To<strong>do</strong> caso de óbito neonatal cuja investigação evidencia características clínicas eepidemiológicas da <strong>do</strong>ença.Descarta<strong>do</strong>To<strong>do</strong> caso suspeito de tétano neonatal em que a investigação evidencia característicasclínicas e epidemiológicas de outra <strong>do</strong>ença.NotificaçãoA ocorrência de casos suspeitos de tétano neonatal requer notificação imediata às autoridadessanitárias superiores, por se tratar de um evento para o qual se dispõe de medidasde prevenção altamente eficazes. Esta notificação pode ser feita através de tele fone, fax oue-mail, de acor<strong>do</strong> com as normas definidas pelos níveis federal e estadual <strong>do</strong> SUS.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteHospitalização imediata <strong>do</strong> recém-nato.Qualidade da assistênciaPraticamente, to<strong>do</strong>s os casos necessitam de internação em unidades de terapia intensiva,de maior complexidade ou unidades especiais com atendimento por profissionais médicose de enfermagem qualifica<strong>do</strong>s. Alguns cuida<strong>do</strong>s são necessários com relação à internação(unidades com pouca iluminação, diminuição de ruí<strong>do</strong>s, temperaturas estáveis e maisbaixas que a temperatura corporal e manipulação restrita apenas ao necessário), devi<strong>do</strong> apossibilidade <strong>do</strong> desencadeamento das crises de contraturas.Proteção individualNão é necessária, já que a infecção não se transmite de pessoa a pessoa.Confirmação diagnósticaMediante da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicos.Proteção da populaçãoApesar de não ser <strong>do</strong>ença transmissível, logo que se tenha conhecimento da suspeitaou confirmação de caso(s) de tétano neonatal deve-se intensificar as ações de vigilância,prevenção e controle da <strong>do</strong>ença, com o objetivo de detectar casos ainda não notifica<strong>do</strong>s eprevenir a ocorrência de novos. Destaca-se em particular a avaliação da cobertura vacinalcom a vacina dT das mulheres em idade fértil na área de ocorrência <strong>do</strong>(s) caso(s) e a avaliaçãoda assistência ao pré-natal, parto e puerpério. Ou seja, a suspeita ou confirmação de714 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tétano Neonatalcasos deve ser tomada, no nível local, como um evento sentinela, implican<strong>do</strong> na a<strong>do</strong>çãoimediata de medidas para verificar a existência e a correção de possíveis falhas nos serviçosde saúde. É importante garantir à população um pré-natal e um parto seguros, bem comouma assistência perinatal minimamente qualificada, onde se inclui o tratamento adequa<strong>do</strong><strong>do</strong> coto umbilical e o acompanhamento <strong>do</strong>s primeiros 28 dias de vida extra-uterina.InvestigaçãoDeve ser feita imediatamente após a notificação de um caso suspeito. Lembrar que ainvestigação não deve restringir-se ao âmbito hospitalar, buscan<strong>do</strong>-se informações complementaresno <strong>do</strong>micílio, com familiares, especialmente a mãe <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong>.Roteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de investigação epidemiológica <strong>do</strong> Sinan relativosaos da<strong>do</strong>s gerais, notificação individual e da<strong>do</strong>s de residência.6Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPara confirmar a suspeita diagnósticaAnotar na ficha de investigação os da<strong>do</strong>s da história e as manifestações clínicas• Em geral, deve-se consultar o prontuário e entrevistar o médico assistente para completaras informações clínicas sobre o paciente. Estas informações são importantespara análise e para definir se o quadro apresenta<strong>do</strong> é compatível com a <strong>do</strong>ença.• Se necessário, fazer uma cópia da anamnese, exame físico e evolução <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente, comvistas ao enriquecimento das análises e recomendações a serem feitas para a melhoria<strong>do</strong>s serviços de saúde.• Verificar a história vacinal da mãe contra o tétano e registrar a(s) data(s) da vacinação,caso haja comprovante. Lembrar de pesquisar a vacinação na infância, principalmenteno caso de mulheres mais jovens.• Acompanhar a evolução <strong>do</strong>s casos e as medidas implementadas para a resolução <strong>do</strong>sproblemas identifica<strong>do</strong>s durante a investigação epidemiológica.TRoteiro de notificação e investigação <strong>do</strong> tétano neonatalPara identificação das áreas de riscoConsiderar que existem duas situações a ser avaliadas• O local onde ocorreu a contaminação <strong>do</strong> coto umbilical, seja devi<strong>do</strong> a parto sépticoe/ou ao tratamento inadequa<strong>do</strong> <strong>do</strong> coto umbilical;Secretaria de Vigilância em Saúde / MS715


Tétano Neonatal• O local onde a gestante passou a maior parte da gravidez, ou seja, onde deverialhe ter si<strong>do</strong> provi<strong>do</strong> um pré-natal de qualidade, particularmente no que se refere àsações de prevenção primária e secundária de <strong>do</strong>enças transmissíveis e/ou infecciosas,como no caso <strong>do</strong> tétano neonatal.Obviamente, essas áreas podem se superpor. Portanto, deve-se verificar a existência defatores ou situações de risco que possam estar associa<strong>do</strong>s à ocorrência de casos, tais como:baixas coberturas vacinais em mulheres em idade fértil, ocorrência de partos <strong>do</strong>miciliares,cobertura e qualidade <strong>do</strong> pré-natal, dificuldades de acesso aos serviços de saúde, capacitaçãotécnica específica <strong>do</strong>s profissionais de saúde, etc.Investigar minuciosamente• História de migração da família, de forma a identificar os possíveis locais em quehouve falhas na oferta <strong>do</strong>s serviços de saúde.• Relatos ou rumores de óbitos de recém-nasci<strong>do</strong>s até 28 dias de vida, cuja suspeita foi“mal de sete dias” ou causa ignorada.Existência de outros casos não notifica<strong>do</strong>s, através da realização de busca ativa emlocalidades onde existem casos e fatores ou situações de risco para a ocorrência da<strong>do</strong>ença. Várias estratégias podem ser utilizadas com este objetivo, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong>tamanho da localidade: casa a casa, em unidades de saúde, cartórios (verificar as declaraçõesde óbito emitidas), registros de cemitérios, entrevistas com líderes comunitários,benzedeiras, parteiras, agentes comunitários de saúde, serviços de verificaçãode óbito, serviço social da prefeitura, entre outras. Confrontar as informaçõeslevantadas sobre a morbimortalidade por tétano neonatal com os da<strong>do</strong>s disponíveisno SIM e no SIH-SUS, toman<strong>do</strong> como base as <strong>do</strong>enças que figuram como diagnósticodiferencial para a <strong>do</strong>ença.• A situação da organização <strong>do</strong>s serviços e <strong>do</strong> processo de trabalho: infra-estruturamínima para a atenção materno-infantil, capacitação <strong>do</strong>s recursos humanos existentes,funcionamento das salas de vacina e da rede de frio, oportunidades perdidas devacinação, atividades extramuros, nível de integração de trabalho intra-setorial, etc.Encerramento da investigação de casosApós a coleta e análise de todas as informações necessárias ao esclarecimento <strong>do</strong> caso,definir o diagnóstico final e atualizar, se necessário, os sistemas de informação (Sinan, SIMe SIH-SUS).Análise da situaçãoA qualidade da investigação é fundamental para uma análise adequada <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s,permitin<strong>do</strong> a caracterização <strong>do</strong> problema segun<strong>do</strong> pessoa, tempo e lugar e o levantamentode hipóteses e/ou explicações que vão subsidiar o planejamento das ações parasolucionar ou minimizar os problemas detecta<strong>do</strong>s.716 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tétano NeonatalRoteiro de investigação <strong>do</strong> tétano neonatalCaso suspeitoNotificaçãoInvestigaçãoColetar da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosIdentificação preliminar da (s) área (s) de risco: local de ocorrência<strong>do</strong> caso de tétano neonatal e local de realização <strong>do</strong> pré-natal6Verificar a existência de outroscasos através de busca ativaAnalisar a cobertura vacinalde mulheres em idade fértilAnalisar a situação daoferta e da organização<strong>do</strong>s serviços de saúdeComplementar ainvestigação epidemiológicaEncerrar o (s) caso (s) e atualizaros sistemas de informaçãoReforçar as atividades devacinação contra o tétano emmulheres em idade fértilIdentificar os principais problemasda atenção à saúde da mulhere da criança, da imunizaçãoe da vigilância epidemiológicaRelatório com resumo <strong>do</strong>s problemasidentifica<strong>do</strong>s e das proposições acordadas,com os respectivos prazos e responsáveisRelatório finalApós análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da investigação, estes deverão ser sumariza<strong>do</strong>s em um relatóriocom as principais conclusões, encaminhamento e recomendações, bem como os respectivosprazos e responsáveis.TConclusões• A ocorrência <strong>do</strong> caso foi decorrente da falta de conhecimento da gestante sobre aimportância <strong>do</strong> pré-natal ou por problema de acesso ao serviço de saúde?• Havia desconhecimento, por parte da mulher, da existência de uma vacina eficaz egratuita nos serviços de saúde?• Havia desconhecimento da necessidade de prevenção, através de um esquema devacinação adequa<strong>do</strong>, e da importância <strong>do</strong> parto asséptico ou limpo?• Havia problemas de gerenciamento das unidades de saúde que resultaram em desa-Secretaria de Vigilância em Saúde / MS717


Tétano Neonatalbastecimento de vacinas ou em seu armazenamento de forma inadequada ou outraordem de problemas que prejudicou o funcionamento normal da unidade de saúde?• Houve oportunidades perdidas de vacinação: quan<strong>do</strong> a mulher compareceu aos serviçosde saúde, por qualquer motivo, seja para consulta, quan<strong>do</strong> conduziu seu filhopara receber a vacina, quan<strong>do</strong> foi como acompanhante ou outra causa?EncaminhamentosMinimamente, pode-se elencar os seguintes pontos que merecem maior atenção nestadiscussão, ressalvan<strong>do</strong>-se, obviamente, que variarão de acor<strong>do</strong> com cada situação concreta:• capacitar e/ou atualizar os profissionais de saúde quanto à orientação e acompanhamentodas mulheres em idade fértil;• implementar processos de acompanhamento e avaliação <strong>do</strong>s serviços de saúde;• manter as parteiras atuantes capacitadas e integrá-las aos serviços de saúde parareposição ou substituição de materiais usa<strong>do</strong>s por esteriliza<strong>do</strong>s. Mantê-las comoparceiras e aliadas, em decorrência <strong>do</strong> poder de liderança e confiabilidade que usufruementre as mulheres. É necessário supervisionar o serviço dessas parteiras, verifican<strong>do</strong>,na prática, a aplicação <strong>do</strong>s conhecimentos adquiri<strong>do</strong>s;• fazer parcerias com to<strong>do</strong>s os que trabalham com a saúde da mulher e da criança,Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia, infectologia; atenção básica; órgãos internacionais;ONGs; saúde indígena; educação em saúde; to<strong>do</strong>s os profissionais da áreada saúde, conselho tutelar e promotoria pública, quan<strong>do</strong> necessário, lideranças comunitáriase comunidade em geral, etc.;• divulgação, na mídia, sobre a importância e necessidade da prevenção;• organização <strong>do</strong> trabalho em parceria com as unidades assistenciais;• sensibilização <strong>do</strong>s gestores e comunidade em geral.Instrumentos disponíveis para prevençãoPré-natalA realização <strong>do</strong> pré-natal é extremamente importante não só para acompanhar o desenvolvimento<strong>do</strong> feto como também para prevenir muitas <strong>do</strong>enças factíveis de serem evitadas,como o tétano neonatal. Destaca-se aqui, além <strong>do</strong>s processos de estabelecimento oureforço <strong>do</strong>s vínculos da usuária com a unidade de saúde, a importância da atualização <strong>do</strong>esquema vacinal, <strong>do</strong> parto asséptico, da amamentação, <strong>do</strong> planejamento familiar e <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>sde higiene <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong>, em especial <strong>do</strong> coto umbilical.VacinaçãoA principal forma de prevenção <strong>do</strong> tétano neonatal é a vacinação de todas as mulheresem idade fértil (entre 12 e 49 anos) com o esquema completo da vacina dupla tipo adulto(dT). Mulheres grávidas que ainda não iniciaram este esquema devem fazê-lo o mais pre-718 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tétano Neonatalcocemente possível. Caso o façam tardiamente, a 2ª <strong>do</strong>se da vacina dT deverá ser administradaaté 20 dias antes da data provável <strong>do</strong> parto, para que haja tempo suficiente para aformação de anticorpos que possibilitem a imunização passiva <strong>do</strong> feto. Nesta situação, a 3ª<strong>do</strong>se deverá ser agendada após o parto (ver Quadro 1).O reforço é preconiza<strong>do</strong> a cada 10 anos, exceto em casos de lesões graves (ver o capítuloTétano acidental) e quan<strong>do</strong> há nova gravidez num perío<strong>do</strong> superior a cinco anos daexposição à última <strong>do</strong>se de reforço, para possibilitar a reativação da produção de anticorpose potencialização da passagem de anticorpos protetores ao recém-nasci<strong>do</strong>.A vacina é composta de associações de toxóides diftérico e tetânico, ten<strong>do</strong> o hidróxi<strong>do</strong>ou fosfato de alumínio como adjuvante e o timerosal como preservativo, sen<strong>do</strong> apresentadasob forma líquida e em frasco multi<strong>do</strong>ses. Quanto à <strong>do</strong>se e volume, aplica-se 0,5ml por viaintramuscular profunda. Atualmente, a vacina utilizada no Brasil é a dupla adulto – dT(contra a difteria e o tétano). Esta vacina é indicada a partir <strong>do</strong>s sete anos de idade, para pessoasque não tenham recebi<strong>do</strong> as vacinas tetravalente, DPTa e DT ou que tenham esquemaincompleto ou por ocasião <strong>do</strong>s reforços <strong>do</strong> esquema básico.6Quadro 1. Esquema de vacinação contra otétano neonatal para as mulheres em idade fértilHistória de vacinaçãocontra o tétanoGestanteMulheres em idade fértilNão-gestanteNegativa(nenhuma <strong>do</strong>se comprovada)3 <strong>do</strong>ses, com intervalo entre 30-60 dias.Se iniciar o esquema tardiamente, garantirpelo menos 2 <strong>do</strong>ses (programar a 2 a <strong>do</strong>separa no máximo 20 dias antes <strong>do</strong> partoe completar o esquema no puerpério)Esquema vacinal com3 <strong>do</strong>ses, intervalo de30-60 dias + reforçosMenos de 3 <strong>do</strong>ses registradas Completar o esquema Completar o esquema3 <strong>do</strong>ses ou mais + 1 reforçohá menos de 5 anos da última <strong>do</strong>seNão é necessário vacinarNão é necessário vacinar3 <strong>do</strong>ses ou mais + 1 reforçoentre 5 a 10 anos da última <strong>do</strong>se3 <strong>do</strong>ses ou mais + 1 reforçohá mais de 10 anos da última <strong>do</strong>se1 <strong>do</strong>se de reforço Não é necessário vacinar1 <strong>do</strong>se de reforço 1 <strong>do</strong>se de reforçoTObservação: ao indicar a vacinação, considerar as <strong>do</strong>ses administradas anteriormenteda tríplice bacteriana (DTP) ou <strong>do</strong> toxóide tetânico (TT).A vacina é conservada entre +2°C e +8°C, não poden<strong>do</strong> ser congelada pois isto poderáprovocar a desnaturação protéica, desagregação <strong>do</strong> adjuvante e perda de potência. Oseventos adversos comumente observa<strong>do</strong>s se restringem ao local da aplicação sob a formade <strong>do</strong>r, hiperemia, edema, induração e febre alta. Em nível sistêmico, pode ocorrer reaçãoanafilática, neuropatia periférica e síndrome de Guillan-Barré.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS719


Tétano NeonatalO monitoramento rápi<strong>do</strong> da cobertura vacinal é uma estratégia que objetiva subsidiaras ações desenvolvidas na população-alvo. Através dele pode-se avaliar se as coberturasvacinais administrativas da área onde está sen<strong>do</strong> aplicada são reais, visan<strong>do</strong> subsidiar atomada de decisão sobre a implementação das atividades de imunização.Ações de educação em saúdeA educação em saúde é uma prática social que objetiva promover o aumento da consciênciasanitária da população e <strong>do</strong>s profissionais de saúde. Estimula a luta pela melhoria daqualidade de vida, conquista à saúde, responsabilidade comunitária, aquisição, apreensão,socialização de conhecimentos e opção por um estilo de vida saudável. Preconiza a utilizaçãode méto<strong>do</strong>s pedagógicos participativos (criatividade, problematização e criticidade) edialógicos, respeitan<strong>do</strong> as especificidades locais, o universo cultural da comunidade e suasformas de organização.Processos de educação continuada, atualização e/ou aperfeiçoamento devem ser estimula<strong>do</strong>sno senti<strong>do</strong> de melhorar a prática das ações <strong>do</strong>s profissionais das áreas de saúde eeducação.Ações de comunicaçãoA informação sobre a <strong>do</strong>ença e suas formas de prevenção e controle é um <strong>do</strong>s aspectosimportantes das ações de vigilância epidemiológica. Deve-se atentar para a adequação <strong>do</strong>smeios de divulgação e comunicação aos cenários socioculturais e de organização <strong>do</strong>s serviçosem que são produzi<strong>do</strong>s os casos de tétano neonatal.Nas ações de educação e informação pode-se utilizar os vários meios de comunicaçãode massa, as visitas <strong>do</strong>miciliares e palestras (nas escolas, nos locais de trabalho, nas igrejas,etc.) sobre a <strong>do</strong>ença e suas formas de prevenção e controle. É importante que as parteirassejam consideradas como aliadas nesse processo.Conduta frente a ocorrência de um caso de tétano neonatal• Atualizar o esquema vacinal da mãe.• Informar aos profissionais de saúde e líderes comunitários a ocorrência <strong>do</strong> caso eenvolvê-los na vigilância e prevenção permanente da <strong>do</strong>ença.• Analisar a cobertura vacinal e, se for baixa, promover vacinação discriminada emmulheres em idade fértil, visan<strong>do</strong> a atualização <strong>do</strong> esquema vacinal.• Cadastrar e treinar as parteiras tradicionais.• Fazer busca ativa de outros casos, incluin<strong>do</strong> a investigação de to<strong>do</strong>s os óbitos ocorri<strong>do</strong>sem recém-nasci<strong>do</strong>s menores de 28 dias de vida sem causa básica definida.• Informar e discutir os resulta<strong>do</strong>s da investigação com as autoridades sanitárias <strong>do</strong>slocais de ocorrência <strong>do</strong> caso (onde se deu a contaminação <strong>do</strong> coto umbilical) e <strong>do</strong>local de residência da mãe (onde se deu a falha da prevenção), com o objetivo detomar as medidas cabíveis visan<strong>do</strong> evitar a ocorrência de novos casos.720 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


TracomaTRACOMACID 10: A71Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoÉ uma afecção inflamatória ocular, uma ceratoconjuntivite crônica recidivante que,em decorrência de infecções repetidas, produz cicatrizes na conjuntiva palpebral superior,poden<strong>do</strong> levar à formação de entrópio (pálpebra com a margem virada para dentro <strong>do</strong>olho) e triquíase (cílios em posição defeituosa nas bordas da pálpebra, tocan<strong>do</strong> o globoocular). O atrito poderá ocasionar alterações da córnea, provocan<strong>do</strong> graus varia<strong>do</strong>s de opacificação,que podem evoluir para a redução da acuidade visual, até a cegueira. A OrganizaçãoMundial da Saúde estima, mundialmente, a existência de 150 milhões de pessoas comtracoma, das quais cerca de 6 milhões estão cegas.6Agente etiológicoA Chlamydia trachomatis, bactéria gram-negativa, <strong>do</strong>s sorotipos A, B, Ba e C.ReservatórioO homem, com infecção ativa na conjuntiva ou outras mucosas. Crianças com até10 anos de idade, com infecção ativa, são o principal reservatório <strong>do</strong> agente etiológico naspopulações onde o tracoma é endêmico.VetoresAlguns insetos, como a mosca <strong>do</strong>méstica (Musca <strong>do</strong>mestica) e/ou a lambe-olhos(Hippelates sp.), podem atuar como vetores mecânicos.Mo<strong>do</strong> de transmissãoA principal forma de transmissão é a direta, de pessoa a pessoa, ou indireta, através deobjetos contamina<strong>do</strong>s (toalhas, lenços, fronhas). As moscas podem contribuir para a disseminaçãoda <strong>do</strong>ença, por transmissão mecânica. A transmissão só é possível na presençade lesões ativas.TPerío<strong>do</strong> de incubaçãoDe cinco a <strong>do</strong>ze dias, após contato direto ou indireto.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeA transmissão ocorre enquanto houver lesões ativas nas conjuntivas, o que pode duraranos.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS721


TracomaSusceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade é universal, sen<strong>do</strong> as crianças as mais susceptíveis, inclusive às reinfecções.Embora a clamídia seja de baixa infectividade, sua distribuição no mun<strong>do</strong> é ampla.Não se observa imunidade natural ou adquirida à infecção pela Chlamydia trachomatis.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasO tracoma inicia-se sob a forma de uma conjuntivite folicular, com hipertrofia papilare infiltra<strong>do</strong> inflamatório difuso que se estende por toda a conjuntiva, especialmente natarsal superior. Nos casos mais bran<strong>do</strong>s, os folículos podem regredir espontaneamente.Nos casos mais severos, eles crescem, evoluin<strong>do</strong> para necrose, com formação de pequenospontos cicatriciais na conjuntiva. Após repetidas reinfecções, forma-se um número cadavez maior de pontos cicatriciais, levan<strong>do</strong> à formação de cicatrizes mais extensas. Essas cicatrizespodem tracionar, principalmente, a pálpebra superior, levan<strong>do</strong> à sua distorção, oentrópio, fazen<strong>do</strong> com que os cílios inverti<strong>do</strong>s toquem no globo ocular. Esta alteração podeprovocar ulcerações corneanas, com conseqüente opacificação, que pode levar a graus varia<strong>do</strong>sde diminuição da acuidade visual e cegueira.A sintomatologia associada ao tracoma inflamatório inclui lacrimejamento, sensaçãode corpo estranho, fotofobia discreta e pruri<strong>do</strong>. Uma grande proporção de casos de tracoma,principalmente entre as crianças mais jovens, é assintomática.Os <strong>do</strong>entes que apresentam entrópio, triquíase e aqueles com ulcerações corneanas,referem <strong>do</strong>r constante e intensa fotofobia. Infecções bacterianas secundárias podem estarassociadas ao quadro, contribuin<strong>do</strong> para a disseminação da <strong>do</strong>ença.Diagnóstico diferencialO diagnóstico diferencial <strong>do</strong> tracoma deve ser realiza<strong>do</strong> com as outras conjuntivitesfoliculares (como foliculoses, conjuntivite folicular tóxica), e conjuntivites foliculares agudase crônicas de qualquer etiologia (ex.: herpes simples, adenovírus, molusco contagioso,conjuntivite de inclusão <strong>do</strong> adulto).Diagnóstico laboratorialO diagnóstico <strong>do</strong> tracoma é essencialmente clínico e, geralmente, realiza<strong>do</strong> por meiode exame ocular externo, utilizan<strong>do</strong> lupa binocular de 2,5 vezes de aumento.O diagnóstico laboratorial <strong>do</strong> tracoma deve ser utiliza<strong>do</strong> para a constatação da circulação<strong>do</strong> agente etiológico na comunidade e não para a confirmação de cada caso, individualmente.A cultura é uma técnica laboratorial com alta sensibilidade e especificidade para a Chlamydiatrachomatis. A clamídia é um microrganismo de vida obrigatoriamente intracelular,portanto só cresce em cultura de células. Por tratar-se de procedimento complexo e caro,não está disponível para uso na rotina das ações de vigilância epidemiológica <strong>do</strong> tracoma.722 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


TracomaA partir da segunda metade da década de 80 vem sen<strong>do</strong> utilizada uma outra técnicapara o diagnóstico laboratorial das infecções por Chlamydia trachomatis: a imunofluorescênciadireta, com anticorpos monoclonais. Consiste na observação, ao microscópio, decampo escuro, de lâminas conten<strong>do</strong> raspa<strong>do</strong> de células da conjuntiva tarsal superior, coradascom anticorpos monoclonais antiChlamydia trachomatis fluorescentes. Esta técnica émais simples e está disponível nos laboratórios da rede pública. Apesar de sua alta especificidade,sua sensibilidade é baixa para o tracoma, sen<strong>do</strong> mais adequada para o estabelecimentode focos endêmicos.Ultimamente, as técnicas de amplificação <strong>do</strong> áci<strong>do</strong> nucléico – reação da polimerase emcadeia (PCR) – apresentam maior sensibilidade para a detecção da clamídia, mas tambémnão se encontram disponíveis para uso na rotina das ações de vigilância epidemiológica <strong>do</strong>tracoma.TratamentoO objetivo <strong>do</strong> tratamento é a cura da infecção e a conseqüente interrupção da cadeiade transmissão da <strong>do</strong>ença.As condutas a seguir relacionadas são recomendadas pela Organização Mundial daSaúde e utilizadas no Brasil.6Tratamento tópico• Tetraciclina a 1% – pomada oftálmica usada duas vezes ao dia, durante seis semanas;• Sulfa – colírio usa<strong>do</strong> quatro vezes ao dia, durante seis semanas, na ausência de tetraciclinaou por hipersensibilidade à mesma.Tratamento sistêmicoTratamento seletivo, com antibiótico sistêmico via oral, indica<strong>do</strong> para pacientes comtracoma intenso (TI) ou casos de tracoma folicular (TF) e/ou associação das duas formas(TF/TI) que não responda bem ao medicamento tópico. Deve ser usa<strong>do</strong> com critério eacompanhamento médico, devi<strong>do</strong> às possíveis reações adversas.• Azitromicina – 20mg/kg de peso, para menores de 14 anos de idade, e 1g para adultos,em <strong>do</strong>se única oral. Este medicamento vem sen<strong>do</strong> testa<strong>do</strong> com bons resulta<strong>do</strong>sem termos de efetividade para o tratamento e sua utilização vem sen<strong>do</strong> ampliadapara o controle desta endemia no mun<strong>do</strong>;• Eritromicina – 250mg quatro vezes ao dia, durante três semanas (50mg/kg de pesoao dia);• Tetraciclina – 250mg quatro vezes ao dia, durante três semanas (somente paramaiores de 10 anos);• Doxaciclina – 100mg/dia duas vezes ao dia, durante três semanas (somente paramaiores de 10 anos);• Sulfa – <strong>do</strong>is tabletes ao dia, durante três semanas.TSecretaria de Vigilância em Saúde / MS723


TracomaTo<strong>do</strong>s os casos de entrópio palpebral e triquíase tracomatosa (TT) devem ser encaminha<strong>do</strong>spara avaliação e cirurgia corretiva das pálpebras. To<strong>do</strong>s os casos de opacidadecorneana (CO) devem ser encaminha<strong>do</strong>s a um serviço de referência oftalmológica, quemedirá a acuidade visual.Em áreas onde a proporção de crianças com tracoma folicular (TF) seja maior ou iguala 20% e/ou a proporção de tracoma intenso (TI) seja maior ou igual a 5%, recomenda-se otratamento em massa de toda a população, utilizan<strong>do</strong>-se a tetraciclina 1% tópica.Além <strong>do</strong> tratamento medicamentoso, são fundamentais as medidas de promoção dahigiene pessoal e familiar, tais como a limpeza <strong>do</strong> rosto, o destino adequa<strong>do</strong> <strong>do</strong> lixo e adisponibilidade de água e saneamento.Estratégia de tratamento indicada segun<strong>do</strong> a proporção de crianças(de 1 a 10 anos) com tracoma inflamatório na comunidade a ser trabalhadaProporção de crianças com tracomaTratamento tópico com tetraciclina>20% de tracoma folicular (TF) ou >5% de tracoma intenso (TI) Em massa5% a 20% de tracoma folicular (TF) Individual, familiar ou em massa*


Tracomaquíase). Em caso de entrópio e/ou triquíase, o paciente deve ser encaminha<strong>do</strong> paracorreção cirúrgica.Após um ano <strong>do</strong> diagnóstico confirma<strong>do</strong> de tracoma, nova busca ativa deve ser realizadaem toda a comunidade, garantin<strong>do</strong> a cobertura e adesão adequadas ao tratamento,inician<strong>do</strong>-se novo registro <strong>do</strong>s pacientes diagnostica<strong>do</strong>s.Aspectos epidemiológicosO tracoma não existia entre as populações nativas <strong>do</strong> continente americano. A <strong>do</strong>ençafoi trazida pela colonização e imigração européias. Relata-se que teria si<strong>do</strong> introduzida noBrasil a partir <strong>do</strong> século XVIII, no Nordeste, com a deportação <strong>do</strong>s ciganos, estabelecen<strong>do</strong>seo “foco <strong>do</strong> Cariri” e, a partir da segunda metade <strong>do</strong> século XIX, os “focos de São Pauloe Rio Grande <strong>do</strong> Sul”, que teriam se inicia<strong>do</strong> com a intensificação da imigração européiapara esses <strong>do</strong>is esta<strong>do</strong>s.Com a expansão da fronteira agrícola para o oeste, o tracoma disseminou-se e tornou-seendêmico em praticamente to<strong>do</strong> o Brasil, sen<strong>do</strong> hoje encontra<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> o territórionacional, onde são desenvolvidas ações de busca ativa de casos. Apesar da diminuiçãoacentuada na prevalência <strong>do</strong> tracoma, a <strong>do</strong>ença continua a existir, acometen<strong>do</strong> as populaçõesmais carentes e desassistidas, inclusive na periferia das grandes metrópoles.6Vigilância epidemiológicaObjetivos• Controlar a ocorrência de tracoma mediante a realização regular de busca ativa decasos e visita <strong>do</strong>miciliar <strong>do</strong>s contatos.• Acompanhar os focos da <strong>do</strong>ença, para verificar a tendência de expansão da infecção.• Realizar diagnóstico e tratar os casos com infecção ativa, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> as medidas decontrole pertinentes.TDefinição de casoSuspeitoIndíviduos que apresentam história de “conjuntivite prolongada” ou referem sintomatologiaocular de longa duração (ar<strong>do</strong>r, pruri<strong>do</strong>, sensação de corpo estranho, fotofobia,lacrimejamento e secreção ocular), especialmente na faixa etária de 1 a 10 anos.Os comunicantes de casos confirma<strong>do</strong>s de tracoma também devem ser considera<strong>do</strong>scasos suspeitos.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS725


TracomaConfirma<strong>do</strong>Considera-se caso confirma<strong>do</strong> de tracoma qualquer indivíduo que, por meio de exameocular externo, apresentar um ou mais <strong>do</strong>s seguintes sinais:• inflamação tracomatosa folicular (TF) – quan<strong>do</strong> se verifica a presença de folículosde, no mínimo, 0,5mm de diâmetro na conjuntiva tarsal superior;• inflamação tracomatosa intensa (TI) – quan<strong>do</strong> se verifica a presença de espessamentoda conjuntiva tarsal superior com mais de 50% <strong>do</strong>s vasos tarsais profun<strong>do</strong>snão visualiza<strong>do</strong>s;• cicatrização conjuntival tracomatosa (TS) – presença de cicatrizes na conjuntivatarsal superior com aparência esbranquiçada, fibrosa, com bordas retas, angularesou estreladas;• triquíase tracomatosa (TT) – quan<strong>do</strong> pelo menos um <strong>do</strong>s cílios atrita o globo ocularou há evidência de recente remoção de cílios, associa<strong>do</strong> à presença de cicatrizesna conjuntiva tarsal superior (TS) sugestivas de tracoma;• opacificação corneana (CO) – caracteriza-se por sua nítida visualização sobre a pupilacom intensidade suficiente para obscurecer pelo menos uma parte da margempupilar.A confirmação <strong>do</strong> caso é essencialmente clínica, através da verificação <strong>do</strong>s sinais-chave,ao exame ocular externo. O caso inicial confirma<strong>do</strong> deve ser toma<strong>do</strong> como caso índice,a partir <strong>do</strong> qual serão desencadeadas medidas de investigação epidemiológica para a detecçãode casos a ele associa<strong>do</strong>s. Só após a investigação epidemiológica, com a detecção deoutros casos, é que se terá a confirmação clínico-epidemiológica definitiva <strong>do</strong> caso índice,pois não existem casos isola<strong>do</strong>s de tracoma. Mesmo que o caso índice tenha confirmaçãolaboratorial de C. trachomatis, se não houver caso associa<strong>do</strong> a ele o seu diagnóstico é deconjuntivite de inclusão. A exceção é feita aos casos de tracoma cicatricial, que indicariamuma infecção no passa<strong>do</strong>, ou cicatrizes tracomatosas associadas a formas inflamatórias (TFe/ou TI) que indicariam que o caso índice tem a <strong>do</strong>ença há muito tempo.Descarta<strong>do</strong>Considera-se caso descarta<strong>do</strong> de tracoma qualquer indivíduo que, por meio de exameocular externo, não apresente sinais clínicos de tracoma.NotificaçãoO tracoma não é <strong>do</strong>ença de notificação compulsória nacional, sen<strong>do</strong> de notificaçãoobrigatória em algumas unidades federadas.No entanto, é uma <strong>do</strong>ença sob vigilância epidemiológica, sen<strong>do</strong> recomendável fazerregistros sistemáticos <strong>do</strong>s casos detecta<strong>do</strong>s e trata<strong>do</strong>s, de forma a proporcionar informaçõessobre a situação epidemiológica <strong>do</strong> agravo na região, permitin<strong>do</strong> avaliar tanto a suaevolução como o impacto das ações de controle desenvolvidas.726 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


TracomaMedidas a serem a<strong>do</strong>tadasQualidade da assistênciaVerificar se os casos estão sen<strong>do</strong> atendi<strong>do</strong>s por profissionais capacita<strong>do</strong>s para realizaro diagnóstico clínico e se estão sen<strong>do</strong> seguidas as recomendações quanto ao diagnóstico,tratamento e controle.Confirmação diagnósticaQuan<strong>do</strong> houver indicação de coleta de material para diagnóstico laboratorial, deveráser colhi<strong>do</strong> o raspa<strong>do</strong> conjuntival da pálpebra superior, de acor<strong>do</strong> com as orientações <strong>do</strong>Anexo. O material colhi<strong>do</strong> deve ser examina<strong>do</strong> pelo méto<strong>do</strong> de imunofluorescência diretacom anticorpos monoclonais.InvestigaçãoA investigação epidemiológica deve dirigir-se, prioritariamente, às instituições educacionaise/ou assistenciais e <strong>do</strong>micílios <strong>do</strong>s casos que constituem locais com maior probabilidadede transmissão da <strong>do</strong>ença.Desde que haja a confirmação da existência de um ou vários casos na comunidade (escola,creche, bairro, povoa<strong>do</strong>, etc.), deverão ser desencadeadas medidas visan<strong>do</strong> a detecçãode casos associa<strong>do</strong>s.A investigação epidemiológica <strong>do</strong>s casos é importante não só para elucidar a situaçãoepidemiológica <strong>do</strong> caso índice como para fornecer subsídios para o conhecimento <strong>do</strong> quadroepidemiológico da <strong>do</strong>ença no país, possibilitan<strong>do</strong> o desenho de estratégias de intervençãomais amplas e adequadas às realidades regionais.6Investigação em instituições educacionaisA busca ativa em escolas e creches deve ser sistemática nos locais onde haja suspeita daocorrência de casos de tracoma. Deve ser ressaltada a importância das medidas de educaçãoem saúde envolven<strong>do</strong> pais, professores, funcionários e crianças, para o sucesso das medidasde controle <strong>do</strong> tracoma.Por tratar-se de <strong>do</strong>ença crônica e endêmica, não há necessidade de isolamento <strong>do</strong>scasos. Os indivíduos com tracoma devem receber tratamento e continuar a freqüentar ainstituição, pois a <strong>do</strong>ença está ocorren<strong>do</strong> no local onde as pessoas já foram expostas aoagente etiológico e o contágio, se houve, já ocorreu. E, certamente, haverá casos no perío<strong>do</strong>de incubação, sem sinais e sintomas, que não serão detecta<strong>do</strong>s na visita inicial. Daí a importância<strong>do</strong> trabalho permanente nessas instituições.TInvestigação <strong>do</strong>miciliarDeve ser realizada para to<strong>do</strong>s os casos novos de tracoma inflamatório, de forma a identificarcasos associa<strong>do</strong>s ao caso índice.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS727


TracomaInvestigação na comunidadeO sistema de informações poderá revelar grupos populacionais com maior concentraçãode casos. Deve-se realizar inquéritos epidemiológicos populacionais, visan<strong>do</strong> melhorconhecimento da situação nas localidades identificadas.Roteiro de investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacienteA partir da busca ativa de casos realiza<strong>do</strong>s em escolas e locais com suspeita de ocorrênciade tracoma, to<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s de identificação <strong>do</strong>s casos diagnostica<strong>do</strong>s devem serpreenchi<strong>do</strong>s em formulário padrão <strong>do</strong> Ministério da Saúde (ficha de acompanhamento econtrole <strong>do</strong>s casos). Deve ser realizada busca de casos <strong>do</strong>miciliares <strong>do</strong>s comunicantes <strong>do</strong>scasos índices verifica<strong>do</strong>s.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicos• Para orientar o diagnóstico e tratamento e demais medidas de prevenção.• Para caracterizar a existência <strong>do</strong> foco: o tracoma é uma situação clínico-epidemiológicana qual o agente etiológico encontra-se amplamente dissemina<strong>do</strong> na população,de forma a propiciar a contínua reinfecção da conjuntiva.É incomum a existência de casos de tracoma isola<strong>do</strong>s. A constatação de um caso isola<strong>do</strong>na comunidade requer investigação epidemiológica de seus comunicantes. Caso não seidentifique relação com os comunicantes, provavelmente é um caso importa<strong>do</strong>, que contraiua <strong>do</strong>ença em outro local.A constatação de uma criança com diagnóstico de conjuntivite por C. trachomatisdeve ser acompanhada pela investigação epidemiológica <strong>do</strong>s seus comunicantes.Em áreas onde não existe registro da ocorrência, ao ser detecta<strong>do</strong> um caso novo de tracomaativo (TF e/ou TI) em uma comunidade, escola, creche, povoa<strong>do</strong> ou áreas periféricasdas metrópoles recomenda-se colher raspa<strong>do</strong> conjuntival da pálpebra superior de algunsindivíduos, <strong>do</strong> mesmo local, que apresentem sinais de tracoma, para confirmação <strong>do</strong> foco.O material colhi<strong>do</strong> deve ser examina<strong>do</strong> pelo méto<strong>do</strong> de imunofluorescência direta comanticorpos monoclonais (Anexo). Se o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exame de uma das lâminas for positivo,fica estabeleci<strong>do</strong> o foco. A partir da caracterização <strong>do</strong> foco, deve-se proceder as ações devigilância epidemiológica e controle <strong>do</strong> agravo.Análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sA análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s através da investigação deve permitir a avaliação da magnitude<strong>do</strong> problema, distribuição e ocorrência <strong>do</strong> agravo e conhecimento das populações sobrisco, que devem ser incluídas nas medidas de controle, objetivan<strong>do</strong> a adequação das medidasa<strong>do</strong>tadas e a priorização das ações de prevenção e controle que devem ser mantidas na área.728 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


TracomaDeverá ser estabeleci<strong>do</strong> um fluxo de informações por meio de formulários específicos,que deverão ser coleta<strong>do</strong>s, consolida<strong>do</strong>s e analisa<strong>do</strong>s em nível municipal, deven<strong>do</strong> sertransmiti<strong>do</strong>s para o nível estadual que, por sua vez, deverá analisar a situação epidemiológicano esta<strong>do</strong> e repassar as informações para o nível federal.A periodicidade deste fluxo deverá ser estabelecida pelas condições regionais e regulamentadapelo Ministério da Saúde. Os relatórios devem conter o número de pessoasexaminadas e de casos detecta<strong>do</strong>s de tracoma, bem como sua distribuição por idade, sexoe forma clínica.Propõe-se a realização de fluxo trimestral, <strong>do</strong> município para o esta<strong>do</strong>, e semestral, <strong>do</strong>esta<strong>do</strong> para o nível federal.Os municípios devem realizar avaliações das atividades de vigilância epidemiológica econtrole <strong>do</strong> tracoma, com as seguintes sugestões de acompanhamento:• número de instituições (escolas, creches, etc.) e locais onde foi feita a busca ativa;• número de casos de tracoma inflamatório que recebeu visitar <strong>do</strong>miciliar para examede comunicantes;• prevalência de tracoma no município, por faixa etária, forma clínica e localidade(bairros);• taxa de detecção de tracoma por instituições;• taxa de tracoma por formas clínicas;• ações educativas desenvolvidas.6Instrumentos disponíveis para controleMedidas de controleMedidas relativas à fonte de infecção• Tratamento individual: to<strong>do</strong> caso de tracoma inflamatório (TF e/ou TI) deve sertrata<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com as orientações descritas.• Tratamento em massa: haven<strong>do</strong> indicação epidemiológica, indicada anteriormente,o tratamento em massa deverá ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>.• Busca ativa: a busca ativa de novos casos deverá ser procedida, visan<strong>do</strong> o tratamentoe conscientização da população.TMedidas referentes às vias de transmissãoAs áreas endêmicas <strong>do</strong> tracoma, em sua maioria, apresentam precárias condições desaneamento e higiene, fatores determinantes na manutenção de eleva<strong>do</strong>s níveis endêmicos.Assim, a melhoria sanitária <strong>do</strong>miciliar, o destino adequa<strong>do</strong> <strong>do</strong> lixo e o acesso ao abastecimentode água representam importantes ações no controle da <strong>do</strong>ença.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS729


TracomaAções de educação em saúdeO desenvolvimento de ações educativas em saúde tem importante impacto no trabalhode prevenção e controle da <strong>do</strong>ença, mobilizan<strong>do</strong> a comunidade para criar recursos eparticipar ativamente <strong>do</strong> processo. Recomenda-se:• planejar as ações educativas antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong> projeto: organizan<strong>do</strong> a equipe desaúde com profissionais aptos não só para detectar e tratar casos de tracoma comoassumir a responsabilidade de transmissão <strong>do</strong> conhecimento, envolven<strong>do</strong> professorese toda a comunidade;• contar com material de apoio suficiente para o desenvolvimento das ações educativas,organizan<strong>do</strong>, junto com o grupo envolvi<strong>do</strong>, dramatizações, histórias, criação decartazes e folhetos;• buscar apoio <strong>do</strong>s meios de comunicação de massa, para divulgação e prevenção da<strong>do</strong>ença, como reforço às práticas propostas.A ação educativa constitui importante estratégia para o controle <strong>do</strong> tracoma, buscan<strong>do</strong>a conscientização da população sobre a necessidade e a<strong>do</strong>ção de hábitos de higiene,como a necessidade de lavar regularmente o rosto das crianças, além de enfatizar a importância<strong>do</strong> uso individual de objetos pessoais como toalhas, fronhas, lençóis, entre outros.A abordagem da população quanto aos aspectos relaciona<strong>do</strong>s à higiene deverá sertratada com cuida<strong>do</strong>, para que não ocorra entendimento errôneo quanto à transmissão da<strong>do</strong>ença ou discriminação <strong>do</strong> paciente quanto a maus hábitos de higiene.Ainda em relação ao tratamento, compete à equipe de saúde orientar o uso corretoda medicação, a observação <strong>do</strong>s prazos <strong>do</strong> tratamento e comparecimento aos retornos deavaliação clínica, para garantir a efetividade <strong>do</strong> tratamento.730 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


TracomaAnexoProcedimentos para a coleta de material para exame laboratorialPara a realização de exame laboratorial pela técnica de imunofluorescência direta comanticorpos monoclonais deve-se colher raspa<strong>do</strong> da conjuntiva tarsal superior <strong>do</strong>s indivíduos.Material necessário• Livro de registro <strong>do</strong>s indivíduos a serem submeti<strong>do</strong>s à coleta.• Kits de coleta de exames – lâminas apropriadas e swabs.• Frasco com metanol.• Lápis e caneta para identificação.• Isopor com gelo reciclável.• Saco de lixo.• Gaze.• Solução salina isotônica.6Orientações para a coleta• Anotar, com lápis, na lâmina, o nome <strong>do</strong> indivíduo de quem foi feita a coleta e adata.• Anotar o mesmo nome no livro apropria<strong>do</strong>.• Remover, com gaze, as lágrimas e secreções; se necessário, limpar com soro fisiológico.Após o uso, a gaze deve ser jogada no lixo apropria<strong>do</strong>.• Everter a pálpebra superior.• Para assegurar a adequada coleta, esfregar o swab firmemente sobre a placa tarsal superior<strong>do</strong> canto externo para o interno e vice-versa (por dez vezes), rolan<strong>do</strong> o swab.• Colocar o swab sobre a metade inferior <strong>do</strong> círculo da lâmina rolan<strong>do</strong>-o numa direção.• Levantar o swab em relação à lâmina sem mudar sua posição na mão; girar a lâminapor 180º. Rolar o swab na mesma direção anterior, usan<strong>do</strong>, agora, a metade restante<strong>do</strong> círculo.• Atentar para que toda a superfície <strong>do</strong> swab tenha esta<strong>do</strong> em contato com o círculo.• Esperar secar o raspa<strong>do</strong> por cinco minutos e, então, fixar a lâmina com duas gotas <strong>do</strong>metanol. Usar como suporte superfícies que não sejam danificadas pelo metanol.• Após a lâmina estar seca, colocá-la na caixa de lâminas, que, por sua vez, deve seracondicionada no isopor com gelo. Ao final de cada dia de trabalho, as caixas com aslâminas devem ser guardadas dentro de um freezer a -20ºC.• Retirar to<strong>do</strong> o material utiliza<strong>do</strong> e jogar o material contamina<strong>do</strong> no lixo que deve serdescarta<strong>do</strong> em local apropria<strong>do</strong>.TSecretaria de Vigilância em Saúde / MS731


TuberculoseTUBERCULOSECID 10: A15 a A19Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoA tuberculose é um problema de saúde prioritário no Brasil que, juntamente com outros21 países em desenvolvimento, alberga 80% <strong>do</strong>s casos mundiais da <strong>do</strong>ença.Estima-se que cerca de um terço da população mundial está infectada com o Mycobacteriumtuberculosis, sob risco, portanto, de desenvolver a enfermidade.Anualmente, ocorrem em torno de oito milhões de casos novos e quase 3 milhões demortes por tuberculose. Nos países desenvolvi<strong>do</strong>s é mais freqüente entre as pessoas i<strong>do</strong>sas,nas minorias étnicas e imigrantes estrangeiros. Nos países em desenvolvimento, estima-seque ocorram 95% <strong>do</strong>s casos e 98% das mortes causadas pela <strong>do</strong>ença, ou seja, mais de 2,8milhões de mortes por tuberculose e 7,5 milhões de casos novos, atingin<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s os gruposetários, com maior pre<strong>do</strong>mínio nos indivíduos economicamente ativos (15-54 anos).Os homens a<strong>do</strong>ecem duas vezes mais que as mulheres.O Brasil apresenta aproximadamente 85 mil casos novos por ano e cerca de 5-6 milmortes pela <strong>do</strong>ença.Com o surgimento, em 1981, da síndrome de imunodeficiência adquirida (Sida/Aids),vem-se observan<strong>do</strong>, tanto em países desenvolvi<strong>do</strong>s como nos em desenvolvimento, crescentenúmero de casos notifica<strong>do</strong>s de tuberculose em pessoas infectadas pelo vírus da imunodeficiênciahumana (HIV). Esta associação (HIV/TB) constitui, nos dias atuais, um sérioproblema de saúde pública, poden<strong>do</strong> levar ao aumento da morbidade e mortalidade pelatuberculose em muitos países.Agente etiológicoMycobacterium tuberculosis, também conheci<strong>do</strong> como bacilo de Koch. O complexoMycobacterium tuberculosis é constituí<strong>do</strong> de várias espécies: M. tuberculosis, M. bovis, M.africanum e M. microti. Outras espécies de micobactérias podem produzir quadro clínicosemelhante ao da tuberculose, sen<strong>do</strong> necessárias para o diagnóstico diferencial a cultura ea identificação das mesmas, pelos laboratórios de referência.ReservatórioO reservatório principal é o homem. Em algumas regiões, o ga<strong>do</strong> bovino <strong>do</strong>ente. Emraras ocasiões, os primatas, aves e outros mamíferos. Em geral, a fonte de infecção é o indivíduocom a forma pulmonar da <strong>do</strong>ença, que elimina bacilos para o exterior (bacilífero).Calcula-se que durante um ano, numa comunidade, um indivíduo bacilífero poderá infectar,em média, de 10 a 15 pessoas.732 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


TuberculoseNão existem estimativas da proporção de pacientes com tuberculose causada pelo M.Bovis, no entanto é importante que o sistema de saúde esteja atento à possibilidade de ocorrênciadeste agente. Em alguns locais, ele assume o papel de principal agente etiológicocausa<strong>do</strong>r da <strong>do</strong>ença, apresentan<strong>do</strong>-se de forma idêntica ao M. tuberculosis mas com maiorincidência da forma ganglionar e outras extrapulmonares. Sua ocorrência é mais freqüenteem comunidades que consomem leite e produtos deriva<strong>do</strong>s (não pasteuriza<strong>do</strong>s ou fervi<strong>do</strong>s)de rebanho bovino infecta<strong>do</strong>, em pacientes provenientes de áreas rurais e em profissionais(veterinários, ordenha<strong>do</strong>res, funcionários de mata<strong>do</strong>uros, entre outros). Uma vez confirmadaa contaminação humana, os serviços sanitários devem ser informa<strong>do</strong>s para atuar naimediata identificação das fontes de infecção e tomar as medidas de controle adequadas,prevenin<strong>do</strong>, assim, a ocorrência de novos casos.Mo<strong>do</strong> de transmissãoA tuberculose é transmitida de pessoa a pessoa, principalmente através <strong>do</strong> ar. A fala,o espirro e, principalmente, a tosse de um <strong>do</strong>ente de tuberculose pulmonar bacilífera lançano ar gotículas, de tamanhos varia<strong>do</strong>s, conten<strong>do</strong> no seu interior o bacilo. As gotículas maispesadas depositam-se rapidamente no solo, enquanto que as mais leves podem permanecerem suspensão por diversas horas. Somente os núcleos secos das gotículas (núcleo de Wells),com diâmetro de até 5µ e com 1 a 2 bacilos em suspensão, podem atingir os bronquíolos ealvéolos e aí iniciar sua multiplicação. Em sua maioria, as gotículas médias são retidas pelamucosa <strong>do</strong> trato respiratório superior e removidas <strong>do</strong>s brônquios através <strong>do</strong> mecanismomucociliar. Os bacilos assim removi<strong>do</strong>s são degluti<strong>do</strong>s, inativa<strong>do</strong>s pelo suco gástrico e elimina<strong>do</strong>snas fezes. Os bacilos que se depositam nas roupas, lençóis, copos e outros objetosdificilmente se dispersarão em aerossóis e, por isso, não desempenham papel importantena transmissão da <strong>do</strong>ença.6Perío<strong>do</strong> de incubaçãoApós a infecção pelo M. tuberculosis, transcorrem, em média, 4 a 12 semanas para adetecção das lesões primárias. A maioria <strong>do</strong>s novos casos de <strong>do</strong>ença pulmonar ocorre emtorno de 12 meses após a infecção inicial. A probabilidade de o indivíduo vir a ser infecta<strong>do</strong>,e de que essa infecção evolua para a <strong>do</strong>ença, depende de múltiplas causas, destacan<strong>do</strong>-se,dentre estas, as condições socioeconômicas e algumas condições médicas (diabetes mellitus,silicose, uso prolonga<strong>do</strong> de corticosteróide ou outros imunossupressores, neoplasias, uso dedrogas e infecção pelo HIV). A evolução <strong>do</strong> quadro clínico dependerá de o indivíduo estarsen<strong>do</strong> infecta<strong>do</strong> pela primeira vez (primo-infecção) ou reinfecta<strong>do</strong> (reinfecção exógena). Aprimo-infecção pode causar a <strong>do</strong>ença dependen<strong>do</strong> da virulência <strong>do</strong> bacilo, da fonte infectantee das características genéticas <strong>do</strong>s indivíduos infecta<strong>do</strong>s. Em novo contato, após umainfecção natural ou induzida pela BCG, a resistência dependerá da resposta imunológica.TPerío<strong>do</strong> de transmissibilidadeA transmissão é plena enquanto o <strong>do</strong>ente com a forma clínica de tuberculose pulmonarbacilífera eliminar bacilos e não tiver inicia<strong>do</strong> o tratamento. Com o esquema terapêu-Secretaria de Vigilância em Saúde / MS733


Tuberculosetico recomenda<strong>do</strong>, a transmissão é reduzida, gradativamente, a níveis insignificantes, aofim de poucos dias ou semanas. As crianças com tuberculose pulmonar geralmente não sãoinfectantes.Susceptibilidade e imunidadeA infecção pelo bacilo da tuberculose pode ocorrer em qualquer idade, mas no Brasilgeralmente acontece na infância. Nem todas as pessoas expostas ao bacilo da tuberculosese tornam infectadas. A infecção tuberculosa, sem <strong>do</strong>ença, significa que os bacilos estãopresentes no organismo mas o sistema imune está manten<strong>do</strong>-os sob controle. Entre os infecta<strong>do</strong>s,a probabilidade de a<strong>do</strong>ecer aumenta na presença de infecção pelo vírus da imunodeficiênciahumana (HIV) e outras formas de imunodepressão, na presença de desnutrição,silicose, diabetes e em usuários de drogas en<strong>do</strong>venosas. As reativações de infecções antigase latentes explicam grande parte <strong>do</strong>s casos de <strong>do</strong>ença em i<strong>do</strong>sos. A imunidade natural podeser explicada por diferenças fisiológicas que existem nas várias espécies. No entanto, nãoexistem diferenças fisiológicas que expliquem os diversos graus de imunidade, aparentementenatural, observa<strong>do</strong>s em uma mesma espécie animal. A maior ou menor imunidadenatural parece estar relacionada com a maior ou menor velocidade com que o hospedeiro écapaz de adquirir imunidade. Assim, não haveria propriamente uma imunidade “natural”,mas uma imunidade adquirida mais rápida e eficaz e, portanto, capaz de propiciar o controleda infecção, em uma fase precoce. Essa competência imunológica é controlada geneticamente,embora fatores como a desnutrição, possam suprimi-la. Na imunidade adquirida, aresposta imunológica humoral não tem importância, já que a imunidade para a tuberculoseé, fundamentalmente, mediada pelo sistema imunológico celular, timodependente, atravésda interação entre linfócitos T ativa<strong>do</strong>s e macrófagos.Aspectos clínicos e laboratoriasManifestações clínicasPerío<strong>do</strong> de infecção – um indivíduo que receba uma carga infecciosa de bacilos datuberculose, pela primeira vez (primo-infecção), da qual um ou mais bacilos alcancem opulmão, vencen<strong>do</strong> as defesas da árvore respiratória e localizan<strong>do</strong>-se nos alvéolos da periferiapulmonar, apresentará reação inflamatória e exsudativa de tipo inespecífica. Aproximadamente,em 15 dias os bacilos podem multiplicar-se livremente, porque ainda não existeimunidade adquirida. Nesse perío<strong>do</strong>, os bacilos podem, a partir da lesão pulmonar, atingira via linfo-hematogênica, comprometen<strong>do</strong> os linfono<strong>do</strong>s e órgãos <strong>do</strong>s diversos sistemase aparelhos, principalmente o fíga<strong>do</strong>, o baço, a medula óssea, os rins e o sistema nervoso.Essa disseminação, de poucos bacilos, é considerada “benigna”: os bacilos ficarão latentesou serão destruí<strong>do</strong>s pela ação da imunidade que se instalará. No início da 3ª semana, oorganismo normal, reconhecen<strong>do</strong> a presença de elemento estranho, é capaz de mobilizarseu sistema de defesa imunológico específico visan<strong>do</strong> a destruição ou inativação <strong>do</strong> agente734 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tuberculoseagressor. Passa a haver, então, no pulmão, no local da inoculação inicial, um foco pequeno,arre<strong>do</strong>nda<strong>do</strong>, de 1 a 2 mm, esbranquiça<strong>do</strong>, de consistência amolecida e constituí<strong>do</strong>, principalmente,por material caseoso. Esse foco é circunda<strong>do</strong> por afluxo celular de linfócitos,células epitelióides (macrófagos ativa<strong>do</strong>s e modifica<strong>do</strong>s) e macrófagos (foco primário), localiza<strong>do</strong>principalmente no terço médio, compreenden<strong>do</strong> a parte inferior <strong>do</strong> lobo superior,lobo médio e, particularmente, o ápice <strong>do</strong> lobo inferior. Normalmente, esse nódulo é únicoe com as dimensões mencionadas, mas há relatos da existência de múltiplos focos primáriose de focos de maiores dimensões. À associação <strong>do</strong> foco primário aos gânglios satélites dasua região dá-se o nome de complexo primário de Ranke. O foco pulmonar regressivo, quepode ser visto nas radiografias, chama-se foco de Gohn. Cerca de 90% da população infectadaconsegue bloquear o avanço <strong>do</strong> processo, a partir da formação <strong>do</strong> complexo primáriode Ranke, permanecen<strong>do</strong> apenas como infecta<strong>do</strong>s.Tuberculose primária – ocorre durante uma primo-infecção, pode evoluir tanto apartir <strong>do</strong> foco pulmonar quanto <strong>do</strong> foco ganglionar ou, então, em conseqüência da disseminaçãohematogênica. Isso acontece em 5% <strong>do</strong>s primo-infecta<strong>do</strong>s.6Tuberculose pós-primária – ocorre no organismo que tem sua imunidade desenvolvidatanto pela infecção natural quanto pela BCG. Dos primo-infecta<strong>do</strong>s, 5% a<strong>do</strong>ecerãotardiamente em conseqüência <strong>do</strong> recrudescimento de algum foco já existente em seu organismo(reativação endógena). Também pode ocorrer a reinfecção exógena, ou seja, opaciente a<strong>do</strong>ecer por receber nova carga bacilar <strong>do</strong> exterior. O quadro clínico não apresentanenhum sinal ou sintoma característico. Observa-se, normalmente, comprometimento <strong>do</strong>esta<strong>do</strong> geral, febre baixa vespertina com su<strong>do</strong>rese, inapetência e emagrecimento. Quan<strong>do</strong>a <strong>do</strong>ença atinge os pulmões, o indivíduo pode apresentar <strong>do</strong>r torácica e tosse produtiva,acompanhada ou não de escarros hemoptóicos. A tosse produtiva é o sintoma maisfreqüente da forma pulmonar. Nas crianças, também é comum o comprometimento ganglionarmediastínico e cervical (forma primária), que se caracteriza por lesões bipolares:parênquima e gânglios. Nos pacientes adultos, maiores de 15 anos, a tuberculose atinge ospulmões em cerca de 90% <strong>do</strong>s casos. Nos menores de 15 anos, este percentual é de 75%,poden<strong>do</strong>, entretanto, localizar-se em outras partes <strong>do</strong> organismo: rins, ossos e meninges,dentre outras, em função das quais se expressará clinicamente. Uma das formas clínicasmais graves é a tuberculose miliar, decorrente de disseminação hematogênica com acometimentosistêmico, quadro tóxico infeccioso importante e grande risco de meningite.Os pulmões se apresentam difusamente ocupa<strong>do</strong>s por pequenas lesões. Os demais órgãostambém podem ser acometi<strong>do</strong>s por lesões idênticas.TNa criança e no a<strong>do</strong>lescente com suspeita de tuberculose as manifestações clínicas podemser variadas. A maioria <strong>do</strong>s casos apresenta febre, habitualmente moderada, persistentepor mais de 15 dias e freqüentemente vespertina. São comuns irritabilidade, tosse, perda depeso e su<strong>do</strong>rese noturna, às vezes profusa. Muitas vezes, a suspeita de tuberculose é feitaem casos de pneumonia de evolução lenta, que não vem apresentan<strong>do</strong> melhora com o usoSecretaria de Vigilância em Saúde / MS735


Tuberculosede antimicrobianos para bactérias comuns. Em crianças e a<strong>do</strong>lescentes, há pre<strong>do</strong>mínio dalocalização pulmonar sobre as formas de tuberculose extrapulmonares. A suspeita deve serrealizada na presença de linfadenopatia cervical ou axilar, após excluir adenite infecciosaaguda, com evidentes sinais flogísticos. Na presença de reação forte ao PPD, está indica<strong>do</strong> otratamento. Os acha<strong>do</strong>s radiográficos mais sugestivos de tuberculose, nessa faixa etária, são:adenomegalias hilares e/ou paratraqueais (gânglios mediastínicos aumenta<strong>do</strong>s de volume),pneumonias com qualquer aspecto radiológico (de evolução lenta, às vezes associadas aadenomegalias mediastínicas, ou que cavitam durante a evolução) e o infiltra<strong>do</strong> nodulardifuso (padrão miliar). Deve-se sempre investigar se houve contato prolonga<strong>do</strong> com adulto<strong>do</strong>ente de tuberculose pulmonar bacilífera ou com história de tosse por três semanas oumais. Os casos suspeitos de tuberculose em crianças e a<strong>do</strong>lescentes devem ser encaminha<strong>do</strong>spara a unidade de referência, para investigação e confirmação <strong>do</strong> diagnóstico. Apósdefinição <strong>do</strong> diagnóstico e estabeleci<strong>do</strong> o tratamento, a criança deverá voltar para acompanhamentona unidade básica de saúde.Remissão – apesar de ocorrer a cura espontânea, em alguns casos, a remissão <strong>do</strong>s sintomase a respectiva cura <strong>do</strong> paciente só ocorre após o tratamento apropria<strong>do</strong>.Devi<strong>do</strong> à remissão <strong>do</strong>s sintomas, alguns pacientes aban<strong>do</strong>nam o tratamento no início.O agente então persiste no organismo, que fica exposto a recidivas e a resistência a drogas.Dependen<strong>do</strong> da extensão das lesões pulmonares, várias seqüelas podem permanecer,apesar da cura bacteriológica, resultantes da destruição <strong>do</strong> parênquima pulmonar e da arquiteturabrônquica. As mais importantes complicações, clinicamente, são:• distúrbio ventilatório obstrutivo e/ou restritivo;• infecções respiratórias de repetição;• formação de bronquiectasias;• atelectasias;• hemoptise;• empiemas.Diagnóstico diferencialPneumonias, micoses pulmonares (paracoccidioi<strong>do</strong>micose, histoplasmose), sarcoi<strong>do</strong>see carcinoma brônquico, dentre outras enfermidades.Diagnóstico laboratorialÉ fundamenta<strong>do</strong> nos seguintes méto<strong>do</strong>s:• bacterioscópico: baciloscopia e cultura;• radiológico; tomografia computa<strong>do</strong>rizada <strong>do</strong> tórax;• broncoscopia;• outros: prova tuberculínica cutânea (PPD); anátomo-patológico (histológico e citológico);• sorológico, bioquímico, biologia molecular.736 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


TuberculoseExames bacteriológicosBaciloscopia direta <strong>do</strong> escarro – é o méto<strong>do</strong> prioritário, porque permite descobrira fonte mais importante de infecção: o <strong>do</strong>ente bacilífero. Executa<strong>do</strong> corretamente permitedetectar de 70% a 80% <strong>do</strong>s casos de tuberculose pulmonar em uma comunidade. O méto<strong>do</strong>de coloração a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> no Brasil e de custo mais barato é o Ziehl-Neelsen), que, por simplese seguro, pode ser realiza<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os laboratórios. A baciloscopia direta é indicada parato<strong>do</strong>s os sintomáticos respiratórios (indivíduos com tosse e expectoração por três semanase mais). Deverá ser dada ênfase para a realização deste exame nos pacientes que apresentemalterações pulmonares na radiografia de tórax e nos contatos de tuberculose pulmonarbacilíferos. Também é utilizada para acompanhar, mensalmente, a evolução bacteriológica<strong>do</strong> paciente pulmonar, inicialmente positivo, durante o tratamento. Recomenda-se, para odiagnóstico, a coleta de duas amostras de escarro: uma por ocasião da primeira consulta e asegunda na manhã <strong>do</strong> dia seguinte, em jejum, ao despertar.Cultura de escarro ou de outras secreções – é indicada para suspeitos de tuberculosepulmonar e negativos ao exame direto <strong>do</strong> escarro, bem como para o diagnóstico de formasextrapulmonares (como meníngea, renal, pleural, óssea e ganglionar) e diagnóstico de tuberculoseem paciente soropositivo para o HIV/Aids. Este exame está indica<strong>do</strong> nos casos deretratamento após falência bacteriológica ao esquema de tratamento padrão – RHZ ou recidivada <strong>do</strong>ença ou reinício após aban<strong>do</strong>no, com teste de sensibilidade. A cultura é tambémindicada nos casos de suspeita de resistência bacteriana às drogas, acompanhada <strong>do</strong> testede sensibilidade. Nos casos de suspeita de infecção por micobactérias não-tuberculosas,notadamente nos <strong>do</strong>entes HIV positivos ou com aids, além da cultura deverá ser realizadaa tipificação <strong>do</strong> bacilo.6Exame radiológicoA evolução da tuberculose é acompanhada de anormalidades radiográficas na maioria<strong>do</strong>s casos. Por isso, a radiografia <strong>do</strong> tórax é importante auxiliar no diagnóstico, justifican<strong>do</strong>sesua utilização, quan<strong>do</strong> possível, nos casos suspeitos. É sempre importante realizar o exameradiológico para um diagnóstico correto. Este exame permite a identificação de pessoasporta<strong>do</strong>ras de imagens sugestivas de tuberculose deven<strong>do</strong> ser consideradas duas situaçõesdistintas: a tuberculose primária e a tuberculose secundária – que se manifestam clínica eradiologicamente de forma distinta. O exame radiológico, em pacientes com baciloscopiapositiva, tem como função principal a exclusão de outra <strong>do</strong>ença pulmonar associada, quenecessite de tratamento concomitante, além de permitir avaliação da evolução radiológica<strong>do</strong>s pacientes, sobretu<strong>do</strong> daqueles que não responderam à quimioterapia.O exame radiológico não substitui a realização da investigação bacterioscópica, sen<strong>do</strong>sugerida uma padronização para a descrição <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s:• normal – ausência de imagens patológicas nos campos pulmonares;• seqüela – apresentam imagens sugestivas de lesões cicatriciais;• suspeito – apresentam imagens sugestivas de processo tuberculoso ativo;TSecretaria de Vigilância em Saúde / MS737


Tuberculose• outras <strong>do</strong>enças – apresentam imagens sugestivas de pneumopatias não-tuberculosas(infecções bacterianas, micoses, abcessos ou neoplasias).A abreugrafia indiscriminada, em pessoas aparentemente sadias, não está indicada porter baixo rendimento e por expor, de forma desnecessária, a população à radiação.Tomografia computa<strong>do</strong>rizada <strong>do</strong> tórax – méto<strong>do</strong> diagnóstico útil, notadamente atomografia computa<strong>do</strong>rizada de alta resolução, em alguns casos em que a radiografia <strong>do</strong>tórax apresenta resulta<strong>do</strong>s imprecisos, por alterações parenquimatosas mínimas ou por nãopermitir distinguir lesões antigas das lesões da tuberculose ativa. No entanto, é méto<strong>do</strong> demaior custo e menor oferta, restrito aos centros de referência. Deve ser usa<strong>do</strong> de formaindividualizada, levan<strong>do</strong> em consideração os recursos disponíveis e o custo-benefício, especialmentenos casos com baciloscopia negativa que exigem melhor diagnóstico diferencialcom outras <strong>do</strong>enças.BroncoscopiaA broncoscopia e os procedimentos a ela associa<strong>do</strong>s, a exemplo de lava<strong>do</strong> brônquico,lava<strong>do</strong> broncoalveolar, escova<strong>do</strong> brônquico, biópsia brônquica, biópsia transbrônquica epunção aspirativa com agulha podem ser úteis no diagnóstico da tuberculose nas seguintessituações: formas negativas à baciloscopia, suspeita de outra <strong>do</strong>ença pulmonar que não atuberculose, presença de <strong>do</strong>ença que acomete difusamente o parênquima pulmonar, suspeitade tuberculose en<strong>do</strong>brônquica ou em pacientes imunodeprimi<strong>do</strong>s, particularmenteos infecta<strong>do</strong>s pelo HIV.Prova tuberculínicaA prova tuberculínica cutânea está indicada como méto<strong>do</strong> auxiliar, no diagnóstico datuberculose, em pessoas não vacinadas com BCG. A prova tem por base a reação celulardesenvolvida após a inoculação intradérmica de um deriva<strong>do</strong> protéico <strong>do</strong> M. tuberculosis.O resulta<strong>do</strong> positivo evidencia apenas a infecção por micobactérias, não caracterizan<strong>do</strong> apresença de <strong>do</strong>ença.No Brasil, a tuberculina usada é o PPD RT23, aplicada por via intradérmica, no terçomédio da face anterior <strong>do</strong> antebraço esquer<strong>do</strong>, na <strong>do</strong>se de 0,1ml, equivalente a 2UT (unidadesde tuberculina). Quan<strong>do</strong> conservada em temperatura entre 4ºC e 8°C, a tuberculinamantém-se ativa por seis meses. Não deve, entretanto, ser congelada, nem exposta à luzsolar direta.A técnica de aplicação (a mais empregada é a de Mantoux) e o material utiliza<strong>do</strong> sãopadroniza<strong>do</strong>s pela Organização Mundial da Saúde e têm especificações semelhantes às usadaspara a vacinação BCG. A injeção <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> faz aparecer uma pequena área de limitesprecisos, pálida e de aspecto pontilha<strong>do</strong>, como casca de laranja.A leitura da prova tuberculínica é realizada de 72 a 96 horas após a aplicação, medin<strong>do</strong>-secom régua milimetrada o maior diâmetro transverso da área de endurecimento palpável.O resulta<strong>do</strong>, registra<strong>do</strong> em milímetros, define a classificação e interpretação clínica:738 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tuberculose• 0 a 4mm – não-reator: indivíduo não infecta<strong>do</strong> pelo M. tuberculosis ou por outramicobactéria; ou infecta<strong>do</strong> pelo M. tuberculosis há menos de duas semanas (em fasede viragem tuberculínica) ou, ainda e excepcionalmente, em infecta<strong>do</strong>s ou <strong>do</strong>entesimunodeprimi<strong>do</strong>s;• 5 a 9mm – reator fraco: indivíduo vacina<strong>do</strong> com BCG ou infecta<strong>do</strong> pelo M. tuberculosisou por outras micobactérias;• 10mm ou mais – reator forte: indivíduo infecta<strong>do</strong> pelo M. tuberculosis, que podeestar <strong>do</strong>ente ou não, e indivíduos recentemente vacina<strong>do</strong>s com BCG.Observações em relação à prova tuberculínica:• algumas circunstâncias podem interferir no resulta<strong>do</strong> da prova tuberculínica como,por exemplo, desnutrição, aids, sarcoi<strong>do</strong>se, neoplasias, <strong>do</strong>enças linfoproliferativas,tratamentos com corticosteróide e outras drogas imunodepressoras, gravidez, etc.;• to<strong>do</strong>s os indivíduos infecta<strong>do</strong>s pelo HIV devem ser submeti<strong>do</strong>s ao teste tuberculínico.Nesses casos, considera-se reator aquele que apresenta endurecimento de5mm ou mais e não reator aquele com endurecimento entre 0 e 4mm. Para pacientesnão reatores, e em uso de terapia anti-retroviral, recomenda-se fazer o teste seismeses após o início da terapia, devi<strong>do</strong> à possibilidade de restauração da respostatuberculínica;• nos indivíduos vacina<strong>do</strong>s com BCG, sobretu<strong>do</strong> entre aqueles imuniza<strong>do</strong>s há até<strong>do</strong>is anos, a prova tuberculínica deve ser interpretada com cautela porque, em geral,apresenta reações de tamanho médio, poden<strong>do</strong> alcançar 10mm ou mais;• recomenda-se realizar o teste tuberculínico em to<strong>do</strong>s os profissionais <strong>do</strong>s serviçosde saúde, por ocasião de sua admissão.6Em áreas de elevada prevalência de infecção tuberculosa, a taxa de positividade paraa prova tuberculínica pode oscilar entre 25% e 55% da população geral. Nos locais onde háincidências significativas de HIV aumenta a probabilidade de resulta<strong>do</strong>s falso-negativos. Aprova tuberculínica deve, portanto, ser utilizada com cautela, ten<strong>do</strong> em vista suas limitaçõesna decisão diagnóstica e sempre levan<strong>do</strong> em consideração os indica<strong>do</strong>res epidemiológicosregionais.TOutros examesAnátomo-patológico (histológico e citológico) – sempre que possível, deve-se realizara biópsia nas formas extrapulmonares. No material colhi<strong>do</strong> será feito o exame direto,a cultura e o exame anátomo-patológico, para identificar o M. tuberculosis ou o processoinflamatório granulomatoso compatível com a tuberculose.Bioquímico – são mais utiliza<strong>do</strong>s em casos de tuberculose extrapulmonar, principalmenteno derrame pleural, derrame pericárdico e meningoencefalite tuberculosa.Sorológico e de biologia molecular – são méto<strong>do</strong>s diagnósticos recentes, de custoeleva<strong>do</strong> e valores preditivos variáveis, muitos ainda não definitivamente testa<strong>do</strong>s ou aprova<strong>do</strong>s.Apesar das perspectivas futuras quanto à sua utilidade no diagnóstico precoce, não sãoSecretaria de Vigilância em Saúde / MS739


Tuberculoserecomenda<strong>do</strong>s para a rotina diagnóstica de tuberculose no Brasil, fican<strong>do</strong> seu uso restrito aalguns centros de referência e pesquisa onde podem ser utiliza<strong>do</strong>s para casos que demandemdiagnóstico rápi<strong>do</strong>.ObservaçãoO exame sorológico anti-HIV deve ser ofereci<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s aqueles com diagnóstico detuberculose confirma<strong>do</strong>. O profissional de saúde deve conversar com o <strong>do</strong>ente sobre apossibilidade de associação das duas infecções e os benefícios <strong>do</strong> diagnóstico precocee tratamento da infecção pelo HIV. O <strong>do</strong>ente deve assinar o termo de consentimento,para realização <strong>do</strong> exame. Caso o exame seja positivo, deve ser encaminha<strong>do</strong> para aunidade de referência para Aids mais próxima de sua residência, capacitada a tratardas duas infecções.TratamentoA tuberculose é uma <strong>do</strong>ença grave, porém curável em praticamente 100% <strong>do</strong>s casosnovos, desde que os princípios da quimioterapia sejam segui<strong>do</strong>s. O tratamento <strong>do</strong>s bacilíferosé a atividade prioritária de controle da tuberculose, uma vez que permite anular rapidamenteas maiores fontes de infecção. Poucos dias após o início da quimioterapia, os bacilosda tuberculose praticamente perdem seu poder infectante. Assim, os <strong>do</strong>entes “pulmonarespositivos” não precisam, nem devem, ser segrega<strong>do</strong>s <strong>do</strong> convívio familiar e comunitário.A associação medicamentosa adequada, <strong>do</strong>ses corretas, uso por tempo suficiente, com supervisãoda tomada <strong>do</strong>s medicamentos, são os meios utiliza<strong>do</strong>s para evitar a persistênciabacteriana e o desenvolvimento de resistência às drogas, asseguran<strong>do</strong> a cura <strong>do</strong> paciente.O tratamento da tuberculose deve ser feito em regime ambulatorial, supervisiona<strong>do</strong>,no serviço de saúde mais próximo, na residência ou no trabalho <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente.Antes de iniciar a quimioterapia, faz-se necessário orientar o paciente quanto ao tratamento.Para isso, deve-se explicar, na entrevista inicial e em linguagem acessível, as característicasda <strong>do</strong>ença e o esquema de tratamento que será segui<strong>do</strong> – drogas, duração, benefícios<strong>do</strong> uso regular da medicação, conseqüências advindas <strong>do</strong> aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> tratamento epossíveis efeitos adversos <strong>do</strong>s medicamentos.O tratamento diretamente observa<strong>do</strong> de curta duração (DOTS) é fator essencial parase promover o real e efetivo controle da tuberculose. Define-se como uma estratégia*, re-*Os cinco elementos da estratégia DOTS são:• Compromisso político com a implementação e sustentabilidade <strong>do</strong> programa de controle da tuberculose;• Detecção de casos, por meio de baciloscopia de escarro, entre sintomáticos respiratórios da demanda <strong>do</strong>s serviçosgerais de saúde;• Tratamento padroniza<strong>do</strong>, de curta duração, diretamente observa<strong>do</strong> e monitora<strong>do</strong> quanto à sua evolução, parato<strong>do</strong>s os casos com baciloscopia de escarro positiva;• Provisão regular de medicamentos tuberculostáticos;• Sistema de informação que permita avaliar a detecção de casos, o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> tratamento de casos individuaise o desempenho <strong>do</strong> programa.740 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tuberculosecomendada pela Organização Mundial da Saúde, que tem como principal sustentáculo aobservação direta da tomada de medicamento para tuberculose em pelo menos três observaçõessemanais, nos primeiros <strong>do</strong>is meses, e uma observação por semana, até o seu final.Além disso, o DOTS visa ao aumento da adesão <strong>do</strong>s pacientes, a maior descoberta dasfontes de infecção (pacientes pulmonares bacilíferos) e ao aumento da cura, reduzin<strong>do</strong>-se orisco de transmissão da <strong>do</strong>ença na comunidade.Esta estratégia contínua é uma das prioridades para que o Programa Nacional de Controleda Tuberculose (PNCT), <strong>do</strong> Ministério da Saúde, atinja a meta de curar pelo menos85% <strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes, diminua a taxa de aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> tratamento, evite o surgimento de baciloresistentes e possibilite um efetivo controle da tuberculose no país.Além da a<strong>do</strong>ção da estratégia DOTS, o PNCT reconhece a importância de horizontalizaro combate à tuberculose, estenden<strong>do</strong>-o para to<strong>do</strong>s os serviços de saúde <strong>do</strong> SistemaÚnico de Saúde (SUS). Portanto, visa a efetiva descentralização <strong>do</strong> controle da tuberculosee sua integração no processo de trabalho da atenção básica, incluin<strong>do</strong> o Programa Saúde daFamília (PSF) para garantir a efetiva ampliação <strong>do</strong> acesso ao diagnóstico e tratamento.O tratamento supervisiona<strong>do</strong> deve ser prioriza<strong>do</strong> para to<strong>do</strong>s os casos de tuberculosebacilífera. A supervisão da ingestão <strong>do</strong>s medicamentos deve ser realizada em local de escolha<strong>do</strong> paciente (unidade de saúde, residência), poden<strong>do</strong> ser administrada por um trabalha<strong>do</strong>rde saúde (agente comunitário de saúde, membro da equipe <strong>do</strong> PSF ou da unidadebásica de saúde) ou familiar devidamente orienta<strong>do</strong> para essa atividade.6Tratamento supervisiona<strong>do</strong>Atenção especial deve ser dada para os <strong>do</strong>entes que se enquadrem nas seguintes situações:etilistas, casos de retratamento após aban<strong>do</strong>no, mendigos, presidiários e <strong>do</strong>entesinstitucionaliza<strong>do</strong>s (asilos, manicômios). Compete aos serviços de saúde prover os meiosnecessários para garantir que to<strong>do</strong> indivíduo com diagnóstico de tuberculose possa, sematraso, ser adequadamente trata<strong>do</strong>.A hospitalização é indicada apenas para as seguintes circunstâncias: meningite tuberculosa,indicações cirúrgicas em decorrência da <strong>do</strong>ença, complicações graves, intolerânciamedicamentosa incontrolável em ambulatório, intercorrências clínicas e/ou cirúrgicasgraves, esta<strong>do</strong> geral que não permita tratamento em ambulatório, em casos sociais, comoausência de residência fixa, ou grupos especiais, com maior possibilidade de aban<strong>do</strong>no,especialmente se for caso de retratamento ou falência. O perío<strong>do</strong> de internação deve ser reduzi<strong>do</strong>ao mínimo necessário, independentemente <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exame bacteriológico.TImportante• Instituir tratamento supervisiona<strong>do</strong> para to<strong>do</strong>s os casos com baciloscopia positiva• Realizar baciloscopia de controle• Realizar consultas de acompanhamento• Realizar visita <strong>do</strong>miciliarSecretaria de Vigilância em Saúde / MS741


TuberculoseAs drogas utilizadas nos esquemas padroniza<strong>do</strong>s pelo Ministério de Saúde são: Isoniazida– H; Rifampicina – R; Pirazinamida – Z; Estreptomicina – S; Etambutol – E; Etionamida– Et.Em menores de cinco anos, que apresentem dificuldade para ingerir os comprimi<strong>do</strong>s,recomenda-se o uso das drogas na forma de xarope ou suspensão.Esquema I (esquema básico) – 2RHZ/4RHCasos novos* de todas as formas de tuberculose pulmonar e extrapulmonar**Peso <strong>do</strong> <strong>do</strong>enteFases <strong>do</strong>tratamentoDrogasAté 20kgMais de 20kge até 35 kgMais de 35 kge até 45 kgMais de 45 kgMg/kg/dia Mg/dia Mg/dia Mg/dia1ª fase(2 meses – RHZ)RHZ1010353002001.0004503001.5006004002.0002ª faseR10300450600(4 meses – RH)H10200300400R = Rifampicina; H = Isoniazida; Z = Pirazinamida*Sem tratamento anterior, tratamento por menos de 30 dias ou tratamento anterior há mais de 5 anos.**Exceto meningiteA eficácia deste esquema de tratamento no Brasil é elevada (98%). Consideran<strong>do</strong>-se aocorrência de óbitos e taxa de aban<strong>do</strong>no de 12%, a efetividade cai para 83% mas continuaadequada. De acor<strong>do</strong> com o inquérito nacional de resistência realiza<strong>do</strong> pelo Ministérioi daSaúde (1997), a resistência primária aos medicamentos antituberculose é baixa, definin<strong>do</strong>que este esquema deve ser manti<strong>do</strong> sem a necessidade de acréscimo de um quarto medicamentona fase de ataque, como a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> em outros países. Ressalte-se que o aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong>tratamento é o principal problema para melhor efetividade <strong>do</strong> tratamento demonstran<strong>do</strong> aimportância da estratégia proposta pelo PNCT para o controle da tuberculose no país.Observaçõesa) As drogas deverão ser administradas preferencialmente em jejum, em uma únicatomada, ou, em caso de intolerância digestiva, junto com uma refeição.b) Em casos individualiza<strong>do</strong>s, cuja evolução clínica inicial não tenha si<strong>do</strong> satisfatória,ou ainda nos casos de tuberculose extrapulmonar, com a orientação de especialistas,o tempo de tratamento poderá ser prolonga<strong>do</strong>, na sua 2ª fase, por mais três meses(2RHZ/7RH).c) Os casos de tuberculose associa<strong>do</strong>s ao HIV devem ser encaminha<strong>do</strong>s para unidadesde referência, em seu município ou em municípios vizinhos, para serem trata<strong>do</strong>spara os <strong>do</strong>is agravos (TB/HIV).742 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


TuberculoseEsquema I IR (esquema básico + etambutol) – 2RHZE/4RHECasos de recidiva após cura* ou retorno após aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> esquema IPeso <strong>do</strong> <strong>do</strong>enteFases <strong>do</strong>tratamentoDrogasAté 20kgMais de 20kge até 35 KgMais de 35 kge até 45 kgMais de 45 kgMg/kg/dia Mg/dia Mg/dia Mg/diaR103004506001ª faseH10200300400(2 meses – RHZE)Z351.0001.5002.000E256008001.2002ª fase(4 meses – RHE)RHE1010253002006004503008006004001.200Siglas: Rifampicina = R; Isoniazida = H; Pirazinamida = Z; Etambutol = E*Considera-se retratamento a prescrição de um esquema de drogas para o <strong>do</strong>ente já trata<strong>do</strong> por mais de 30 dias,que venha a necessitar de nova terapia por recidiva após cura,retorno após aban<strong>do</strong>no ou falência <strong>do</strong> esquema Iou esquema IR (esquema básico + etambutol).6Esquema II (esquema para tuberculose meningoencefálica) – 2RHZ/(7RH)Peso <strong>do</strong> <strong>do</strong>enteFases <strong>do</strong>tratamentoDrogasAté 20KgMais de 20kge até 35kgMais de 35kge até 45kgMais de 45kgMg/kg/dia Mg/dia Mg/dia Mg/dia1ª fase(2 meses – RHZ)RHZ1010353002001.0004503001.5006004002.0002ª faseR10300450600(7 meses – RH)H10200300400Siglas: Rifampicina = R; Isoniazida = H; Pirazinamida = ZObservações• Levar em consideração as indicações de retratamento, discutidas anteriormente.• Os casos de recidiva de esquemas alternativos, por toxicidade ao esquema I, devem seravalia<strong>do</strong>s em unidades de referência, para prescrição de esquema individualiza<strong>do</strong>.• O paciente que apresentar alteração da visão deverá ser encaminha<strong>do</strong> para unidadede referência, com o objetivo de avaliar o uso <strong>do</strong> etambutol.• Nos casos de concomitância entre tuberculose meningoencefálica e qualquer outralocalização, usar o esquema II.• A internação é mandatória, sempre que se suspeitar <strong>do</strong> diagnóstico de tuberculosemeningoencefálica.• Nos casos de tuberculose meningoencefálica, em qualquer idade, recomenda-se ouso de corticosteróide (prednisona, dexametasona ou outros), por um perío<strong>do</strong> de 1TSecretaria de Vigilância em Saúde / MS743


Tuberculosea 4 meses, no início <strong>do</strong> tratamento.• Na criança, a prednisona é administrada na <strong>do</strong>se de 1 a 2mg/kg de peso corporal,até a <strong>do</strong>se máxima de 30mg/dia. No caso de se utilizar outro corticosteróide, aplicara tabela de equivalência entre eles.• Na tuberculose meningoencefálica, a fisioterapia deverá ser iniciada o mais ce<strong>do</strong>possível.Esquema III (esquema para falência) – 3SZEEt/9EetCasos de falência de tratamento <strong>do</strong> E-I e E-IR (esquema I reforça<strong>do</strong>)Peso <strong>do</strong> <strong>do</strong>enteFases <strong>do</strong>tratamentoDrogasAté 20KgMais de 20kge até 35kgMais de 35kge até 45kgMais de 45kgMg/kg/dia Mg/dia Mg/dia Mg/diaS205001.0001.0001ª faseZ351.0001.5002.000(3 meses – SZEEt)E256008001.200Et122505007502ª fase(9 meses – EEt)EEt25126002508005001.200750Siglas: Estreptomicina = S; Pirazinamida = Z; Etambutol = E; Etionamida = EtA falência ao esquema I (E-I) ou ao E-IR define a obrigatoriedade da realização decultura com identificação e teste de sensibilidade, no início <strong>do</strong> tratamento, para definirclaramente a possibilidade de sucesso desse esquema ou sua modificação. Portanto,recomenda-se que o esquema III deva ser acompanha<strong>do</strong> por uma unidade demaior resolubilidade, sempre que possível.Observações• Os casos de suspeita de falência aos esquemas E-I ou E-IR devem ser encaminha<strong>do</strong>sà unidade de referência para avaliação e acompanhamento.• A estreptomicina deve ser usada por via intramuscular. Em situações especiais, podeser aplicada por via en<strong>do</strong>venosa, diluída a 50 ou 100ml de soro fisiológico, corren<strong>do</strong>por um mínimo de 1/2 hora.• Em casos especiais, com dificuldades de aceitação de droga injetável ou para facilitarseu uso supervisiona<strong>do</strong> na unidade de saúde, o regime de uso da estreptomicinapode ser altera<strong>do</strong> para aplicações de 2ª a 6ª feira, por <strong>do</strong>is meses, e duas vezes semanais,por mais 4 meses.• Em maiores de 60 anos, a estreptomicina deve ser administrada na <strong>do</strong>se de 500mg/dia.744 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tuberculose• Haven<strong>do</strong> alteração visual durante o tratamento, o paciente deverá ser encaminha<strong>do</strong>para serviço de referência, com o objetivo de avaliar o uso <strong>do</strong> etambutol.• É importante que o paciente trata<strong>do</strong> com o esquema III realize seu tratamento deforma supervisionada.O paciente deverá ser encaminha<strong>do</strong> para tratamento em uma unidade de referênciade tuberculose quan<strong>do</strong> houver antecedentes ou evidências clínicas de hepatopatia aguda(hepatite) ou crônica (cirrose, hepatopatia alcoólica); ser porta<strong>do</strong>r de aids ou soro positivopara o HIV; tiver antecedentes ou evidências clínicas de nefropatias (insuficiência renal crônica,pacientes em regime de diálise). Em to<strong>do</strong>s os esquemas, a medicação é de uso diárioe deverá ser administrada, de preferência, em uma única tomada em jejum ou, em caso deintolerância digestiva, junto com uma refeição.Atenção especial deve ser dada ao tratamento <strong>do</strong>s grupos considera<strong>do</strong>s de alto risco deintoxicação, como pessoas com mais de 60 anos, em mau esta<strong>do</strong> geral e etilistas.A rifampicina interfere na ação <strong>do</strong>s contraceptivos orais, deven<strong>do</strong> as mulheres, em usodesse medicamento, receber orientação para utilizar outros méto<strong>do</strong>s anticoncepcionais.6O esquema E-I (básico) e o esquema E-IR (básico + etambutol) podem ser usa<strong>do</strong>spelas gestantes em qualquer perío<strong>do</strong> da gestação.Tratamento da tuberculose multirresistente – se o teste de sensibilidade às drogas,quan<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>, apresentar resistência a apenas um <strong>do</strong>s medicamentos em uso, com opaciente apresentan<strong>do</strong> boa evolução clínica e laboratorial, isto indica que o regime não deveser altera<strong>do</strong>. A associação medicamentosa de três drogas é proposta, entre outras razões,justamente para contemplar essa possibilidade.Os pacientes que não se curam após tratamento com os esquemas padroniza<strong>do</strong>s peloMinistério da Saúde, porta<strong>do</strong>res de bacilos resistentes a mais de duas drogas, dentre as quaisa rifampicina e a isoniazida, constituem um grupo de <strong>do</strong>entes classifica<strong>do</strong>s no ConsensoBrasileiro de Tuberculose (de 1997/2004) como porta<strong>do</strong>res de tuberculose multirresistente.A este grupo, são agrega<strong>do</strong>s os pacientes que apresentam resistência primária à rifampicina,isoniazida e a outras drogas utilizadas, geralmente a estreptomicina e/ou etambutol.Estes pacientes e seus familiares serão atendi<strong>do</strong>s por equipe multiprofissional especializada,em centros de referência que cumpram as normas de biossegurança e estejamcredencia<strong>do</strong>s pelas coordena<strong>do</strong>rias municipais e estaduais <strong>do</strong> programa de tuberculose.TReações adversas ao uso de drogas antituberculoseA maioria <strong>do</strong>s pacientes submeti<strong>do</strong>s ao tratamento de tuberculose consegue completaro tempo recomenda<strong>do</strong> sem sentir qualquer efeito colateral relevante. Os fatores relaciona<strong>do</strong>sàs reações são diversos. Todavia, os maiores determinantes dessas reações se referemà <strong>do</strong>se, horários de administração da medicação, idade <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente, seu esta<strong>do</strong> nutricional,alcoolismo, condições da função hepática e renal e co-infecção pelo HIV.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS745


TuberculoseA conduta adequada está apresentada, de forma esquemática, nos quadros a seguir,conforme a classificação: efeitos menores e efeitos maiores. Os efeitos menores ocorrementre 5% a 20% <strong>do</strong>s casos e são assim classifica<strong>do</strong>s porque não implicam em modificaçãoimediata <strong>do</strong> esquema padroniza<strong>do</strong>; os efeitos maiores são aqueles que implicam interrupçãoou alteração <strong>do</strong> tratamento e são menos freqüentes, ocorren<strong>do</strong> em torno de 2% <strong>do</strong>scasos, poden<strong>do</strong> chegar a 8% em serviços especializa<strong>do</strong>s.Efeitos menoresEfeito Droga CondutaIrritação gástrica (náusea, vômito),epigastralgia e <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minalRifampicina, IsoniazidaPirazinamidaReformular os horários de administraçãoda medicação e avaliar a função hepáticaArtralgia ou artrite Pirazinamida, Isoniazida Medicar com áci<strong>do</strong> acetilsalicílicoNeuropatia periférica(queimação das extremidades)Isoniazida, Etambutol Medicar com piri<strong>do</strong>xina (vit. B6)Cefaléia e mudança de comportamento(euforia, insônia, ansiedade e sonolência)IsoniazidaOrientarSuor e urina cor de laranja Rifampicina OrientarPruri<strong>do</strong> cutâneo Isoniazida, Rifampicina Medicar com anti-histamínicoHiperuricemia (com ou sem sintomas) Pirazinamida, Etambutol Orientação dietética (dieta hipopurínica)Febre Rifampicina, Isoniazida OrientarEfeitos maioresEfeito Droga CondutaExantemasEstreptomicinaRifampicinaSuspender o tratamentoReintroduzir o tratamento droga a droga após resoluçãoSubstituir o esquema nos casos graves ou reincidentesHipoacusia Estreptomicina Suspender a droga e substituí-la pela melhor opçãoVertigem e nistagmo Estreptomicina Suspender a droga e substituí-la pela melhor opçãoPsicose, crise convulsiva,encefalopatia tóxica e comaIsoniazidaSubstituir por estreptomicina + etambutolNeurite ótica Etambutol, Isoniazida SubstituirHepatotoxicidade (vômitos, hepatite,alteração das provas de função hepática)Trombocitopenia, leucopenia, eosinofilia,anemia hemolítica, agranulocitose, vasculiteNefrite intersticialRab<strong>do</strong>miólise com mioglobinúriae insuficiência renalTodas as drogasRifampicinaIsoniazidaRifampicina, principalmenteintermitentePirazinamidaSuspender o tratamento temporariamente até resoluçãoDependen<strong>do</strong> da gravidade, suspender o tratamentoe reavaliar o esquema de tratamentoSuspender o tratamentoSuspender o tratamento746 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


TuberculoseAspectos epidemiológicosA tuberculose não apresenta variações cíclicas ou sazonais de importância prática. Aprevalência observada é maior em áreas de grande concentração populacional e precáriascondições socioeconômicas e sanitárias. A distribuição da <strong>do</strong>ença é mundial, com tendênciadecrescente da morbidade e mortalidade nos países desenvolvi<strong>do</strong>s. Nas áreas com elevadaprevalência de infecção pelo HIV vem ocorren<strong>do</strong> estabilização ou aumento <strong>do</strong> númerode casos e óbitos por tuberculose. Estão mais sujeitos à <strong>do</strong>ença os indivíduos que convivam(contatos) com <strong>do</strong>ente bacilífero, determina<strong>do</strong>s grupos com redução da imunidade, comoos diabéticos ou silicóticos, e pessoas em uso de corticosteróides ou infecta<strong>do</strong>s pelo HIV.No Brasil, no ano de 2001 foram notifica<strong>do</strong>s 81.432 casos novos, corresponden<strong>do</strong> aocoeficiente de incidência de 47,2/100 mil habitantes, <strong>do</strong>s quais 43.085 foram formas pulmonaresbacilíferas (coeficiente de incidência de 24,9/100 mil habitantes). Com pertinênciaao encerramento <strong>do</strong> tratamento, 72,2% receberam alta por cura, 11,7% aban<strong>do</strong>naram otratamento, 7,0% representam os óbitos e 9,1% referem-se à transferência de serviços e <strong>do</strong>micílios.Com a tuberculose é uma <strong>do</strong>ença com profundas raízes sociais, relacionada a mádistribuição de renda e à pobreza, estas taxas variam de acor<strong>do</strong> com as regiões e, inclusive,dentro das mesmas regiões.Antes <strong>do</strong> advento da moderna quimioterapia, a mortalidade era o indica<strong>do</strong>r utiliza<strong>do</strong>tanto para avaliar a tendência da endemia como para fazer estimativas de morbidade – aprevalência era o <strong>do</strong>bro da incidência, que por sua vez era o <strong>do</strong>bro da mortalidade. Na eraquimioterápica essas equivalências romperam-se: atualmente, a mortalidade representa odesempenho <strong>do</strong> programa, uma vez que praticamente to<strong>do</strong>s teriam a chance de se curar, mediantediagnóstico precoce e tratamento corretamente administra<strong>do</strong>. A análise da mortalidadedeve considerar a distribuição geográfica, os grupos etários e a associação com o HIV.6Vigilância epidemiológicaO propósito <strong>do</strong> Programa Nacional de Controle da Tuberculose é reduzir a transmissão<strong>do</strong> bacilo da tuberculose na população, através das ações de diagnóstico precocee tratamento adequa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s casos. As metas internacionais estabelecidas pela OrganizaçãoMundial da Saúde e pactuadas pelo governo brasileiros são a descoberta de 70% <strong>do</strong>s casosde tuberculose estima<strong>do</strong>s e o tratamento e a cura de 85% <strong>do</strong>s mesmos.TObjetivosO principal objetivo da vigilância epidemiológica é identificar as possíveis fontes de infecção.Para tanto, deve ser realizada investigação epidemiológica entre os contatos de to<strong>do</strong>caso novo de tuberculose e, prioritariamente, nos que convivam com <strong>do</strong>entes bacilíferos,devi<strong>do</strong> ao maior risco de infecção e a<strong>do</strong>ecimento que esse grupo apresenta. No caso de umacriança <strong>do</strong>ente, a provável fonte de infecção será o adulto que com ela convive. No caso destenão comparecer à unidade de saúde para exame, torna-se obrigatória a visita <strong>do</strong>miciliar.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS747


TuberculoseO PNCT se propõe ainda a intensificar a identificação de sintomáticos respiratórios,examiná-los com a baciloscopia e implementar o registro <strong>do</strong>s mesmos na rede laboratorial<strong>do</strong> SUS.Definição de casoSuspeito• To<strong>do</strong> indivíduo com sintomatologia clínica sugestiva de tuberculose pulmonar: tossecom expectoração por três ou mais semanas, febre, perda de peso e apetite – ochama<strong>do</strong> sintomático respiratório.• Paciente com imagem radiológica compatível com tuberculose.Confirma<strong>do</strong>Critério clínico-laboratorialTuberculose pulmonar bacilífera – paciente com duas baciloscopias diretas positivasou uma baciloscopia direta positiva e cultura positiva ou uma baciloscopia direta positiva eimagem radiológica sugestiva de tuberculose.Tuberculose pulmonar escarro negativo (BK-) – paciente com duas baciloscopiasnegativas, com imagem radiológica sugestiva e acha<strong>do</strong>s clínicos ou outros exames complementaresque permitam ao médico efetuar um diagnóstico de tuberculose.Tuberculose extrapulmonar – paciente com evidências clínicas e acha<strong>do</strong>s laboratoriais,inclusive histopatológicos, compatíveis com tuberculose extrapulmonar ativa, em queo médico toma a decisão de tratar com esquema específico; ou paciente com, pelo menos,uma cultura positiva para M.tuberculosis, de material proveniente de uma localização extrapulmonar.Critério clínico-epidemiológicoO raciocínio diagnóstico deve desenvolver-se a partir <strong>do</strong> exame clínico, <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s epidemiológicose da interpretação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames solicita<strong>do</strong>s. Apesar de indispensável,em situações em que o diagnóstico laboratorial não pode ser realiza<strong>do</strong> o clínico podeconfirmar o caso pelo critério clínico-epidemiológico, principalmente quan<strong>do</strong> de históriade contato com <strong>do</strong>entes de tuberculose, fator de importância primordial para a suspeiçãodiagnóstica.Descarta<strong>do</strong>Casos suspeitos que, apesar de sintomatologia compatível, apresentaram resulta<strong>do</strong>snegativos nos exames laboratoriais, principalmente quan<strong>do</strong>, na busca de diagnóstico diferencial,se confirma outra patologia.NotificaçãoA unidade de saúde que descobre e inicia o tratamento <strong>do</strong>s casos novos torna-se responsávelpela notificação compulsória <strong>do</strong>s mesmos. Outras fontes de notificação são os748 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tuberculosehospitais, os laboratórios e outros serviços de assistência médica, quer governamental ouparticular.A base <strong>do</strong> sistema de informação da tuberculose é o prontuário <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente, a partir<strong>do</strong> qual são colhi<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s necessários para o preenchimento da ficha individual deinvestigação <strong>do</strong> Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan). As unidadesassistenciais enviarão às secretarias estaduais de saúde, através <strong>do</strong>s níveis intermediários(municípios e regionais de saúde, entre outros), os da<strong>do</strong>s de descoberta de casos e resulta<strong>do</strong>s<strong>do</strong> tratamento, que após consolidação serão envia<strong>do</strong>s ao nível central nacional. Devemser notifica<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os casos, independente <strong>do</strong> tipo de entrada:Caso novo ou sem tratamento anterior – são os pacientes que nunca se submeteramà quimioterapia antituberculosa ou fizeram-na por menos de 30 dias ou há mais de cincoanos. Verificar insistentemente com o paciente e seus familiares se não houve tratamentoantituberculoso prévio, superior a 30 dias.Retratamento – prescrição de um esquema de drogas para o <strong>do</strong>ente já trata<strong>do</strong> pormais de 30 dias e que venha a necessitar de nova terapia por recidiva após cura (RC), retornoapós aban<strong>do</strong>no (RA) ou por falência <strong>do</strong> esquema básico.Aban<strong>do</strong>no – o <strong>do</strong>ente que, após inicia<strong>do</strong> o tratamento para tuberculose, deixou decomparecer à unidade de saúde por mais de 30 dias consecutivos, a partir da data aprazadapara seu retorno.Recidiva – o <strong>do</strong>ente com tuberculose em atividade, que já se tratou anteriormentee recebeu alta por cura, desde que a data da cura e a data <strong>do</strong> diagnóstico de recidiva nãoultrapassem cinco anos. Se esse intervalo exceder cinco anos, o caso é considera<strong>do</strong> como“caso novo” e o tratamento preconiza<strong>do</strong> é o esquema básico.Falência – a persistência da positividade <strong>do</strong> escarro ao final <strong>do</strong> 4º ou 5º meses detratamento, ten<strong>do</strong> havi<strong>do</strong> ou não negativação anterior <strong>do</strong> exame. São aqueles <strong>do</strong>entes que,no início <strong>do</strong> tratamento, são fortemente positivos (++ ou +++) e mantêm essa situação atéo 4º mês, ou aqueles com positividade inicial seguida de negativação e nova positividadepor <strong>do</strong>is meses consecutivos, a partir <strong>do</strong> 4º mês de tratamento com comprovação através decultura de escarro. O aparecimento de poucos bacilos no exame direto <strong>do</strong> escarro, na altura<strong>do</strong> 5º ou 6º meses, isoladamente, não significa, necessariamente, falência <strong>do</strong> esquema, emespecial se acompanha<strong>do</strong> de melhora clínico-radiológica. Nesse caso, o paciente será segui<strong>do</strong>com exames bacteriológicos.Transferência – refere-se àquele paciente que comparece à unidade de saúde paradar continuidade ao tratamento inicia<strong>do</strong> em outra unidade de saúde, desde que não tenhahavi<strong>do</strong> interrupção <strong>do</strong> uso da medicação por mais de 30 dias. Neste último caso, o tipo deentrada deve ser “reingresso após aban<strong>do</strong>no”.6TMedidas a serem a<strong>do</strong>tadasConduta frente a um caso suspeito de tuberculose pulmonar:• identificação e confirmação <strong>do</strong> caso;• baciloscopia direta <strong>do</strong> escarro no momento da consulta e solicitação de outra amostraa ser colhida no dia seguinte;Secretaria de Vigilância em Saúde / MS749


Tuberculose• raios X de tórax e realização de prova tuberculínica, nos casos negativos à baciloscopia;• cultura <strong>do</strong> escarro nos casos negativos à baciloscopia.Roteiro para investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacienteDiversas informações referentes ao paciente, ao lugar, ao caso e ao tempo são fornecidasdurante o preenchimento da ficha de notificação. Por meio delas pode-se avaliar asituação e tendência da <strong>do</strong>ença:• referentes ao lugar – unidade de saúde (ou outra fonte notifica<strong>do</strong>ra), logra<strong>do</strong>uro,bairro, distrito, zona (urbana ou rural), município de notificação e residência, unidadefederada e país;• referentes ao paciente – nome, sexo, idade, escolaridade, etnia (no caso de populaçãoindígena), critério diagnóstico, raça/cor, número <strong>do</strong> cartão SUS, nome da mãe,telefone, ocupação;• referentes ao tempo – data de notificação, data <strong>do</strong> diagnóstico, data de nascimento,data de início <strong>do</strong> tratamento atual;• referentes ao caso – número <strong>do</strong> prontuário, tipo de entrada, raios X (tórax), testetuberculínico, forma clínica, agravos associa<strong>do</strong>s, baciloscopia de escarro, baciloscopiade outro material, cultura de escarro, cultura de outro material, teste HIV (soropositividade),histopatologia, drogas (esquema terapêutico utiliza<strong>do</strong>), tratamentosupervisiona<strong>do</strong>, <strong>do</strong>ença relacionada ao trabalho.Coleta e análise de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosOs da<strong>do</strong>s deverão ser registra<strong>do</strong>s, consolida<strong>do</strong>s e analisa<strong>do</strong>s pela unidade de saúde epelas esferas municipal, estadual e federal <strong>do</strong> sistema de saúde. A análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s permitea tomada de decisões nas diferentes instâncias <strong>do</strong> sistema de vigilância. A distribuição esperada<strong>do</strong>s casos, por grupos etários e formas clínicas, pode ser observada na Figura 1. Deveser investiga<strong>do</strong>, junto à fonte notifica<strong>do</strong>ra, aumento importante de determinada formaclínica, para avaliação da qualidade <strong>do</strong> diagnóstico. A alteração <strong>do</strong> perfil epidemiológicoespera<strong>do</strong> precisa ser analisada quanto à possível variação da história natural da <strong>do</strong>ença. Asunidades de saúde que têm ações de controle de diagnóstico e tratamento devem inscrevero paciente no Livro de Registro e Controle de Tratamento <strong>do</strong>s Casos de Tuberculose, parapossibilitar a análise por coortes da distribuição <strong>do</strong>s casos por grupo etário, forma clínica,qualidade diagnóstica e resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> tratamento. O registro de óbitos por tuberculose tambémdeve ser analisa<strong>do</strong>, comparan<strong>do</strong>-se com os da<strong>do</strong>s de morbidade.Acompanhamento <strong>do</strong> casoPor ser enfermidade de características crônicas, a evolução <strong>do</strong> caso de tuberculosedeve ser acompanhada e registrada em notificação, para que possa ser encerra<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong>com os seguintes critérios:750 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


TuberculoseAlta por cura – pulmonares inicialmente positivos: a alta por cura será dada quan<strong>do</strong>,ao completar o tratamento, o paciente apresentar duas baciloscopias negativas: uma na fasede acompanhamento e outra no final <strong>do</strong> tratamento (cura);Alta por completar o tratamento – será dada com base em critérios clínicos e radiológicosquan<strong>do</strong> o paciente não tiver realiza<strong>do</strong> o exame de escarro por ausência de expectoraçãoe tiver alta com base em da<strong>do</strong>s clínicos e exames complementares; e nos casos detuberculose pulmonar inicialmente negativos e casos de tuberculose extrapulmonar;Alta por aban<strong>do</strong>no de tratamento – será dada ao <strong>do</strong>ente que deixou de comparecerà unidade por mais de 30 dias consecutivos, após a data prevista para seu retorno. Nos casosde tratamento supervisiona<strong>do</strong>, o prazo de 30 dias é conta<strong>do</strong> a partir da data da últimatomada da droga. A visita <strong>do</strong>miciliar, realizada pela equipe de saúde, tem como um <strong>do</strong>sobjetivos evitar que o <strong>do</strong>ente aban<strong>do</strong>ne o tratamento;Alta por mudança de diagnóstico – será dada quan<strong>do</strong> for constata<strong>do</strong> erro no diagnóstico;Alta por óbito – será dada por ocasião <strong>do</strong> conhecimento da morte <strong>do</strong> paciente, duranteo tratamento e independentemente da causa;Alta por falência – será dada quan<strong>do</strong> houver persistência da positividade <strong>do</strong> escarroao final <strong>do</strong> 4º ou 5º meses de tratamento. Os <strong>do</strong>entes que no início <strong>do</strong> tratamento são fortementepositivos (+ + ou + + +) e mantêm essa situação até o 4º mês ou os que apresentampositividade inicial seguida de negativação e nova positividade por <strong>do</strong>is meses consecutivos,a partir <strong>do</strong> 4º mês de tratamento, são classifica<strong>do</strong>s como caso de falência. O aparecimentode poucos bacilos no exame direto <strong>do</strong> escarro, por volta <strong>do</strong> 5º ou 6º meses de tratamento,isoladamente, não necessariamente significa a falência <strong>do</strong> tratamento. O paciente deverá seracompanha<strong>do</strong> com exames bacteriológicos para melhor definição.Observação: quan<strong>do</strong> o caso for encerra<strong>do</strong> por falência e o paciente iniciar novo tratamento,deverá ser registra<strong>do</strong> como caso de retratamento no Livro de Registro e Controle deTratamento <strong>do</strong>s Casos de Tuberculose;Alta por transferência – será dada quan<strong>do</strong> o <strong>do</strong>ente for transferi<strong>do</strong> para outro serviçode saúde. A transferência deve ser processada através de <strong>do</strong>cumento que informará odiagnóstico e o tratamento realiza<strong>do</strong> até o momento. Deve-se, no momento da avaliação dacoorte, buscar a confirmação de que o paciente compareceu à unidade para a qual foi transferi<strong>do</strong>,bem como o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> tratamento. Só serão considera<strong>do</strong>s transferi<strong>do</strong>s aquelespacientes cujo resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> tratamento for desconheci<strong>do</strong>.6TControle pós-curaA maioria <strong>do</strong>s casos cura<strong>do</strong>s não necessita de controle pós-tratamento, deven<strong>do</strong>-seorientar o paciente a retornar à unidade apenas se surgirem sintomas semelhantes aos <strong>do</strong>início da <strong>do</strong>ença. Após alta <strong>do</strong> tratamento por tuberculose multirresistente, o paciente deveser acompanha<strong>do</strong> pelo menos a cada semestre, por três anos subseqüentes.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS751


TuberculoseFigura 1. Distribuição da tuberculose no Brasil, segun<strong>do</strong> grupos etáriose formas clínicas70%Baciloscopia positiva90%Formaspulmonares85%Maiores de 15 anos30%Sem confirmaçãobaciloscópica10%FormasextrapulmonaresDoentes20%Baciloscopia positiva75%Formaspulmonares15%Menores de 15 anos80%Sem confirmaçãobaciloscócpica25%FormasextrapulmonaresInstrumentos disponíveis para controleDiagnóstico e tratamentoPrioritariamente, a procura de casos de tuberculose deve ser efetuada nos sintomáticosrespiratórios (indivíduos com tosse e expectoração por três ou mais semanas), que deverãosubmeter-se à rotina prevista para o diagnóstico de tuberculose. Os sintomáticos respiratóriosdeverão realizar radiografia de tórax, quan<strong>do</strong> houver disponibilidade desse recurso.A anulação das fontes de infecção, através <strong>do</strong> tratamento <strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes, é um <strong>do</strong>s aspectosmais importantes no controle da tuberculose. Deve-se avaliar mensalmente o <strong>do</strong>entee a evolução <strong>do</strong> tratamento, realizan<strong>do</strong>-se, nos casos novos pulmonares com baciloscopiapositiva (BK +), o controle bacteriológico, de preferência mensal e, obrigatoriamente, aotérmino <strong>do</strong> segun<strong>do</strong>, quarto e sexto meses de tratamento. Quan<strong>do</strong> houver indicação deinternação de pacientes com tuberculose, deve-se procurar a<strong>do</strong>tar medidas de isolamentorespiratório, especialmente tratan<strong>do</strong>-se de pacientes bacilíferos e crônicos com multirresistência.Deve-se internar o <strong>do</strong>ente em hospitais que tenham poder de resolução paraos motivos que determinaram sua internação, não sen<strong>do</strong> obrigatória a especialização empneumologia. O controle de contatos é prioritariamente indica<strong>do</strong> para os contatos que752 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Tuberculoseconvivam com <strong>do</strong>entes bacilíferos, especialmente os intra<strong>do</strong>miciliares, por apresentaremmaior probabilidade de a<strong>do</strong>ecimento, e nos adultos que convivam com <strong>do</strong>entes menores de5 anos, para identificação da possível fonte de infecção. O fluxograma abaixo traz as condutasa serem a<strong>do</strong>tadas com relação aos contatos, de acor<strong>do</strong> com o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s exames.Avaliação <strong>do</strong>s contatos de casos de tuberculose pulmonar com baciloscopia positivaAdultosAssintomáticosSintomáticosOrientaçãoExames de escarro6PositivoNegativoTratamentoOrientação/encaminhamentoCrianças Adultos até 15 anosNão vacinadasVacinadasPPDAssintomáticosSintomáticos (II)Não-reatorReatorOrientaçãoRaios X de tóraxTBCGRaios X de tórax Sugestivo de TB +sintomas clínicosNormal e semsintomas clínicosSugestivo de TB +sintomas clínicosTratamentoNormal e semsintomas clínicosQuimioprofilaxiaTratamentoTratamentoMedicaçãosintomáticaAcompanhamentoSecretaria de Vigilância em Saúde / MS753


TuberculoseImunizaçãoA vacina BCG, sigla decorrente da expressão bacilo de Calmette-Guérin, é preparadaa partir de uma cepa derivada <strong>do</strong> Mycobacterium bovis, atenuada por sucessivas passagensatravés de meio de cultura. Confere poder protetor às formas graves de tuberculose, decorrentesda primo-infecção. No Brasil, é prioritariamente indicada para as crianças de 0 a 4anos de idade, sen<strong>do</strong> obrigatória para menores de um ano, como dispõe a Portaria nº 452,de 6/12/76, <strong>do</strong> Ministério da Saúde. Recomenda-se a revacinação com BCG nas criançascom 10 anos de idade, <strong>do</strong>se que pode ser antecipada para os seis anos, independente de terou não cicatriz vacinal. Não há necessidade de revacinação caso a primeira vacinação porBCG tenha ocorri<strong>do</strong> aos seis anos de idade ou mais. Há contra-indicação relativa ou temporáriadefinin<strong>do</strong> o adiamento da aplicação da vacina, nos seguintes casos: peso ao nascerinferior a 2kg; reações dermatológicas na área de aplicação; <strong>do</strong>enças graves e uso de drogasimunossupressoras. Há contra-indicação absoluta para aplicar a vacina BCG nos porta<strong>do</strong>resde imunodeficiências congênitas ou adquiridas.Os recém-nasci<strong>do</strong>s e crianças soropositivas para HIV, ou filhos de mães com aids,desde que não apresentem os sintomas da <strong>do</strong>ença, deverão ser vacina<strong>do</strong>s. Pacientes adultossintomáticos ou assintomáticos não deverão ser vacina<strong>do</strong>s.QuimioprofilaxiaA quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administração de isoniazida em pessoasinfectadas pelo bacilo (quimioprofilaxia secundária) ou não (quimioprofilaxia primária),na <strong>do</strong>sagem de 10mg/kg/dia (até 300mg), diariamente, por um perío<strong>do</strong> de 6 meses.Está recomendada nas seguintes situações:Contactantes de bacilífero, menores de 15 anos, não vacina<strong>do</strong>s com BCG, reatoresà prova tuberculínica, com 10mm ou mais, com exame radiológico normal e sem sintomatologiaclínica compatível com tuberculose. Na eventualidade de contágio recente, a sensibilidadeà tuberculina pode não estar exteriorizada, sen<strong>do</strong> negativa a resposta. Neste caso,deve-se repetir a prova em 40 a 60 dias. Se a resposta for positiva, indica-se a quimioprofilaxia;se negativa, vacina-se com BCG;Recém-nasci<strong>do</strong>s coabitantes de foco bacilífero – administra-se a quimioprofilaxiapor três meses e, após esse perío<strong>do</strong>, faz-se a prova tuberculínica na criança. Se reatora, mantém-sea isoniazida até completar 6 meses; se não reatora, suspende-se a droga e aplica-sea vacina BCG;Indivíduos com viragem tuberculínica recente (até 12 meses), isto é, que tiveramum aumento na resposta tuberculínica de, no mínimo, 10mm;População indígena – neste grupo, a quimioprofilaxia está indicada em to<strong>do</strong> o contatode tuberculose bacilífera, reator forte ao PPD, independente da idade e esta<strong>do</strong> vacinal,após avaliação e, através de baciloscopia e exame radiológico, afastada a possibilidade detuberculose;Imunodeprimi<strong>do</strong>s por uso de drogas ou por <strong>do</strong>enças imunodepressoras e contatosintra<strong>do</strong>miciliares de tuberculosos, sob criteriosa decisão médica;754 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


TuberculoseReatores fortes à tuberculina, sem sinais de tuberculose ativa mas com condiçõesclínicas associadas a alto risco de desenvolvê-la, como: alcoolismo, diabetes insulinodependente,silicose, nefropatias graves, sarcoi<strong>do</strong>se, linfomas, uso prolonga<strong>do</strong> de corticosteróidesem <strong>do</strong>se de imunossupressão, pacientes submeti<strong>do</strong>s à quimioterapia antineoplásica ou a tratamentocom imunossupressores, porta<strong>do</strong>res de imagens radiológicas compatíveis com tuberculoseativa, sem história de quimioterapia prévia. Estes casos deverão ser encaminha<strong>do</strong>sa uma unidade de referência para a tuberculose;Coinfecta<strong>do</strong>s HIV e M. tuberculosis – este grupo deve ser submeti<strong>do</strong> à prova tuberculínica.Para considerar-se uma pessoa infectada pelo M. tuberculosis, o limite da reaçãoao PPD será de 5mm, ao invés de 10mm. A quimioprofilaxia para tuberculose em pacientesHIV+ será aplicada segun<strong>do</strong> as seguintes indicações:Indicações 1, 2Esquema 4Indivíduo sem sinais ou sintomas sugestivos de tuberculoseA. Com radiografia de tórax normal e reação ao PPD maior ou igual a 5mm 3 ou contatosintra<strong>do</strong>miciliares ou institucionais de tuberculose bacilífera ou PPD não-reator ou com enduraçãoentre 0-4mm, com registro <strong>do</strong>cumental de ter si<strong>do</strong> reator ao teste tuberculínico e não submeti<strong>do</strong> atratamento ou quimioprofilaxia na ocasiãoB. Com radiografia de tórax anormal: presença de cicatriz radiológica de tuberculose sem tratamentoanterior (afastada a possibilidade de tuberculose ativa, através de exames de escarroe radiografias anteriores), independentemente <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> teste tuberculínicoIsoniazida, VO, 5 – 10 mg/kg/dia (<strong>do</strong>se máxima: 300mg/dia) por seis meses consecutivos61. O teste tuberculínico deve ser sempre realiza<strong>do</strong> na avaliação inicial <strong>do</strong> paciente HIV+, independentemente <strong>do</strong>seu esta<strong>do</strong> clínico ou laboratorial (contagem de células CD4+ e carga viral), deven<strong>do</strong> ser repeti<strong>do</strong> anualmente nosindivíduos não-reatores. Nos pacientes não-reatores e em uso de terapia anti-retroviral, recomenda-se fazer o testea cada seis meses no primeiro ano de tratamento, devi<strong>do</strong> à possibilidade de restauração da resposta tuberculínica.2. A quimioprofilaxia com isoniazida reduz o risco de a<strong>do</strong>ecimento a partir da reativação endógena <strong>do</strong> bacilo, masnão protege contra exposição exógena após sua suspensão. Portanto, em situações de possível reexposição ao baciloda tuberculose, o paciente deverá ser reavalia<strong>do</strong> quanto à necessidade de prolongamento da quimioprofilaxia(caso esteja em uso de isoniazida) ou de instauração de nova quimioprofilaxia (caso esta já tenha si<strong>do</strong> suspensa).3. Para pacientes com imunodeficiência moderada/grave e reação ao PPD >10mm, sugere-se investigar cuida<strong>do</strong>samentetuberculose ativa (pulmonar ou extrapulmonar), antes de iniciar a quimioprofilaxia.4. Indivíduos HIV+, contatos de pacientes bacilíferos com tuberculose isoniazida-resistente <strong>do</strong>cumentada, deverãoser encaminha<strong>do</strong>s a uma unidade de referência para realizar quimioprofilaxia com rifampicina.Observações• Não se recomenda a quimioprofilaxia nos HIV positivos, não-reatores à tuberculina,com ou sem evidências de imunodeficiência avançada. Deve-se repetir a provatuberculínica a cada seis meses.• Em pacientes com raios X normal, reatores à tuberculina, deve-se investigar outraspatologias ligadas à infecção pelo HIV antes de iniciar a quimioprofilaxia, devi<strong>do</strong> àconcomitância de agentes oportunistas/manifestações atípicas de tuberculose freqüentesnessas coortes.• Nos indivíduos HIV positivos e tuberculino-positivos com raios X normal, sem sinaise sintomas de tuberculose, devem-se destacar (investigar) os contatos institucionais(casas de apoio, presídios, abrigos, asilos, etc.).TSecretaria de Vigilância em Saúde / MS755


Tuberculose• Recomenda-se suspender imediatamente a quimioprofilaxia no surgimento de qualquersinal de tuberculose ativa, monitorá-la nos casos de hepatotoxidade e administrá-lacom cautela nos alcoólicos.Controle de infecção em unidades de saúdeUm efetivo programa de controle de infecção da tuberculose, qualquer que seja a unidadede saúde, tem início com a detecção precoce, isolamento e tratamento de pessoascom tuberculose infectante (principalmente pacientes bacilíferos). Atenção especial deveser dada àqueles que apresentam alguma forma de resistência às drogas. Pessoas com tuberculoseextrapulmonar são usualmente não-infectantes; no entanto, a <strong>do</strong>ença pode sertransmitida por contato com teci<strong>do</strong>s conten<strong>do</strong> o bacilo. Pacientes imunodeprimi<strong>do</strong>s e,principalmente, com HIV positivo são os que apresentam maior susceptibilidade, exigin<strong>do</strong>medidas mais severas para o controle da infecção.O controle de infecção deve ser realiza<strong>do</strong> com ênfase em três aspectos:• diminuição <strong>do</strong> risco de exposição <strong>do</strong>s pacientes a pessoas com tuberculose infectante;• controle da expansão e redução da concentração de partículas infectantes em suspensão(por exemplo: sistemas de ventilação, salas de isolamento de pacientes commaior risco de infecção);• uso de proteção respiratória individual (máscaras) em áreas com maior risco de exposiçãoao M. tuberculosis.Ações de educação em saúdeAlém das medidas descritas acima, faz-se necessário esclarecer a comunidade quantoaos aspectos importantes da <strong>do</strong>ença, sua transmissão, prevenção e tratamento. O desconhecimentoleva à discriminação <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente nos âmbitos familiar e profissional. O afastamentocompulsório <strong>do</strong> trabalho contribui para o agravamento <strong>do</strong> sofrimento <strong>do</strong> paciente.756 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Varicela/Herpes ZosterVARICELA/HERPES ZOSTERCID 10: B01 a B02Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoVaricelaÉ uma infecção viral primária, aguda, caracterizada por surgimento de exantema deaspecto máculo-papular, de distribuição centrípeta, que, após algumas horas, adquire aspectovesicular, evoluin<strong>do</strong> rapidamente para pústulas e, posteriormente, forman<strong>do</strong> crostasem 3 a 4 dias. Pode ocorrer febre moderada e sintomas sistêmicos. A principal característicaclínica é o polimorfismo das lesões cutâneas que se apresentam nas diversas formas evolutivas,acompanhadas de pruri<strong>do</strong>. Em crianças, geralmente, é <strong>do</strong>ença benigna e autolimitada.6Herpes zosterGeralmente, é decorrente da reativação <strong>do</strong> vírus da varicela que permanece em latênciaapós a infecção primária. Ocorre principalmente em adultos e pacientes imunocomprometi<strong>do</strong>s,como porta<strong>do</strong>res de <strong>do</strong>enças crônicas, neoplasias, aids e outras. O herpes zostertem quadro pleomórfico, causan<strong>do</strong> desde <strong>do</strong>ença benigna até outras formas graves, comêxito letal. Após a fase de disseminação hematogênica <strong>do</strong> vírus v-z, em que atinge a pele,difunde-se centripetamente pelos nervos periféricos até os gânglios nervosos, onde poderápermanecer, em latência, por toda a vida.Diversos fatores podem levar a uma reativação <strong>do</strong> vírus, causan<strong>do</strong> a característicaerupção <strong>do</strong> herpes zoster. Excepcionalmente, há pacientes que desenvolvem herpes zosterapós contato com <strong>do</strong>entes de varicela e, até mesmo, com outro <strong>do</strong>ente de zoster, o que indicaa possibilidade de uma reinfecção em paciente já previamente imuniza<strong>do</strong>. É tambémpossível uma criança adquirir varicela por contato com <strong>do</strong>ente de zoster.O quadro clínico <strong>do</strong> herpes zoster é, quase sempre, típico. A maioria <strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes refere,anteceden<strong>do</strong> às lesões cutâneas, <strong>do</strong>res nevrálgicas, além de parestesias, ar<strong>do</strong>r e pruri<strong>do</strong>locais, acompanha<strong>do</strong>s de febre, cefaléia e mal-estar. A lesão elementar é uma vesículasobre base eritematosa. A erupção é unilateral, raramente ultrapassan<strong>do</strong> a linha mediana,seguin<strong>do</strong> o trajeto de um nervo. Surgem de mo<strong>do</strong> gradual, levan<strong>do</strong> de 2 a 4 dias para seestabelecerem. Quan<strong>do</strong> não ocorre infecção secundária, as vesículas evoluem para crostase o quadro regride para a cura em 2 a 4 semanas. As regiões mais comprometidas são a torácica(53% <strong>do</strong>s casos), cervical (20%), trigêmeo (15%) e lombossacra (11%). Em pacientesimunossuprimi<strong>do</strong>s, as lesões surgem em localizações atípicas e, geralmente, disseminadas.O envolvimento <strong>do</strong> VII par craniano leva a uma combinação de paralisia facial periféricae rash no pavilhão auditivo, denomina<strong>do</strong> síndrome de Hawsay-Hurt, com prognóstico derecuperação pouco provável. O acometimento <strong>do</strong> nervo facial (paralisia de Bell) apresentaVSecretaria de Vigilância em Saúde / MS757


Varicela/Herpes Zostera característica de distorção da face. Lesões na ponta e asa <strong>do</strong> nariz sugerem envolvimento<strong>do</strong> ramo oftálmico <strong>do</strong> trigêmio com possível comprometimento ocular. Nos pacientes comherpes zoster dissemina<strong>do</strong> e/ou recidivante, é aconselhável fazer sorologia para HIV, alémde pesquisar neoplasias malignas.SinonímiaCatapora, “tatapora”, fogo que salta (varicela); cobreiro (herpes zoster).Agente etiológicoÉ um vírus RNA. Vírus Varicella-zoster, da família Herpesviridae.ReservatórioO homem.Mo<strong>do</strong> de transmissãoPessoa a pessoa, através de contato direto ou secreções respiratórias e, raramente, atravésde contato com lesões. Transmitida indiretamente através de objetos contamina<strong>do</strong>s comsecreções de vesículas e membranas mucosas de pacientes infecta<strong>do</strong>s.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoEntre 14 a 16 dias, poden<strong>do</strong> variar entre 10 a 20 dias após o contato. Pode ser maiscurto em pacientes imunodeprimi<strong>do</strong>s e mais longo após imunização passiva.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeVaria de 1 a 2 dias antes da erupção até 5 dias após o surgimento <strong>do</strong> primeiro grupo devesículas. Enquanto houver vesículas, a infecção é possível.Susceptibilidade e imunidadeA susceptibilidade é universal. A infecção confere imunidade permanente, embora, raramente,possa ocorrer um segun<strong>do</strong> episódio de varicela. Infecções subclínicas são raras.A imunidade passiva transferida para o feto pela mãe que já teve varicela assegura, namaioria das vezes, proteção até 4 a 6 meses de vida extra-uterina.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasPerío<strong>do</strong> prodrômico – tem início com febre baixa, cefaléia, anorexia e vômito, poden<strong>do</strong>durar de horas até três dias. Na infância, esses pródromos não costumam ocorrer,sen<strong>do</strong> o exantema o primeiro sinal da <strong>do</strong>ença. Em crianças imunocompetentes a varicelaé geralmente benigna, com início repentino, apresentan<strong>do</strong> febre moderada de 2 a 3 dias,758 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Varicela/Herpes Zostersintomas generaliza<strong>do</strong>s inespecíficos e uma erupção cutânea pápulo-vesicular que se iniciana face, couro cabelu<strong>do</strong> ou tronco (distribuição centrípeta).Perío<strong>do</strong> exantemático – as lesões comumente aparecem em surtos sucessivos de máculasque evoluem para pápulas, vesículas, pústulas e crostas. Tendem a surgir mais naspartes cobertas <strong>do</strong> corpo, poden<strong>do</strong> aparecer no couro cabelu<strong>do</strong>, na parte superior das axilase nas membranas mucosas da boca e vias aéreas superiores.O aparecimento das lesões em surtos e a rápida evolução conferem à <strong>do</strong>ença o polimorfismoregional característico da varicela: lesões em diversos estágios (máculas,pápulas, vesículas, pústulas e crostas) em uma mesma região <strong>do</strong> corpo.Nos adultos imunocompetentes a <strong>do</strong>ença cursa de mo<strong>do</strong> mais grave <strong>do</strong> que nas crianças,apesar de ser bem menos freqüente (cerca de 3% <strong>do</strong>s casos). A febre é mais elevada e prolongada,o esta<strong>do</strong> geral é mais comprometi<strong>do</strong>, o exantema mais pronuncia<strong>do</strong> e as complicaçõesmais freqüentes, poden<strong>do</strong> levar a óbito, principalmente devi<strong>do</strong> a pneumonia primária.A varicela está associada à síndrome de Reye, que ocorre especialmente em criançase a<strong>do</strong>lescentes que fazem uso <strong>do</strong> áci<strong>do</strong> acetilsalicílico durante a fase aguda e caracteriza-sepor um quadro de vômitos após o pródromo viral, segui<strong>do</strong> de irritabilidade, inquietude ediminuição progressiva <strong>do</strong> nível da consciência, com edema cerebral progressivo. A síndromede Reye é o resulta<strong>do</strong> de um comprometimento hepático agu<strong>do</strong>, segui<strong>do</strong> de comprometimentocerebral. Portanto, está contra-indica<strong>do</strong> o uso de áci<strong>do</strong> acetilsalicílico por pacientescom varicela.6Varicela e gravidezA infecção materna no primeiro ou segun<strong>do</strong> trimestre da gestação pode resultar emembriopatia. Nas primeiras 16 semanas de gestação há maior risco de lesões graves ao feto,resultan<strong>do</strong> em baixo peso ao nascer, cicatrizes cutâneas, microftalmia, catarata e retar<strong>do</strong>mental.Gestantes que tiverem contato com casos de varicela e herpes-zoster devem receber aimunoglobulina humana contra este vírus.DiagnósticoPrincipalmente através <strong>do</strong> quadro clínico-epidemiológico. O vírus pode ser isola<strong>do</strong>das lesões vesiculares durante os primeiros 3 a 4 dias de erupção.VDiagnóstico laboratorialOs exames laboratoriais não são utiliza<strong>do</strong>s para confirmação ou descarte <strong>do</strong>s casos devaricela mas podem ser utiliza<strong>do</strong>s para o diagnóstico diferencial em casos graves.Os testes mais utiliza<strong>do</strong>s são o ensaio imunoenzimático (EIE), aglutinação pelo látex(AL) e a imunofluorescência indireta (IFI). A identificação <strong>do</strong> vírus Varicella-zoster podeser realizada através da cultura <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> vesicular.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS759


Varicela/Herpes ZosterDiagnóstico diferencialVaríola (erradicada), coxsackioses, infecções cutâneas, dermatite herpetiforme de DuringBrocq, impetigo, erupção variceliforme de Kaposi, riquetsioses, etc.Em caso de dúvida, encaminhar o paciente para uma unidade de referência.ComplicaçõesInfecção bacteriana secundária de pele: impetigo, abcesso, celulite e erisipela, causadaspor S. aureus, Streptococcus pyogenes, que podem levar a quadros sistêmicos de sepse, comartrite, pneumonia, en<strong>do</strong>cardite. Encefalite ou meningite e glomerulonefrite. Pode ocorrersíndrome de Reye, caracterizada por quadro neurológico de rápida progressão e disfunçãohepática, associa<strong>do</strong> ao uso de áci<strong>do</strong> acetilsalicílico principalmente em crianças. Infecçãofetal, durante a gestação, pode levar à embriopatia, com síndrome da varicela congênita (varicelaneonatal, em recém-nasci<strong>do</strong>s expostos, com microoftalmia, catarata, atrofia óptica e<strong>do</strong> sistema nervoso central). Imunodeprimi<strong>do</strong>s podem ter a forma de varicela disseminadaou varicela hemorrágica. Nevralgia pós-herpética: definida como <strong>do</strong>r persistente por 4 a 6semanas após a erupção cutânea. Sua incidência é claramente associada à idade, atingin<strong>do</strong>cerca de 40% <strong>do</strong>s indivíduos acima de 50 anos. É mais freqüente em mulheres e após comprometimento<strong>do</strong> trigêmeo.TratamentoSintomático – anti-histamínicos sistêmicos para atenuar o pruri<strong>do</strong> e banhos de permanganatode potássio na diluição de 1:40 mil. Haven<strong>do</strong> infecção secundária, recomendaseo uso de antibióticos sistêmicos. Varicela em crianças é uma <strong>do</strong>ença benigna, não sen<strong>do</strong>necessário, em geral, tratamento específico.Tópico – compressas de permanganato de potássio (1:40 mil) ou água boricada a 2%,várias vezes ao dia.Específico – antivirais: aciclovir – em crianças, quan<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>, 20mg/kg/<strong>do</strong>se, viaoral, 4 vezes ao dia, <strong>do</strong>se máxima 800mg/dia, durante 5 dias. Adultos: aciclovir, em altas <strong>do</strong>ses,800mg, via oral, 5 vezes ao dia, durante 7 dias. Seu uso está indica<strong>do</strong> apenas para casosde varicela de evolução moderada ou grave em maiores de 12 anos, com <strong>do</strong>ença cutânea oupulmonar crônica. Não está indica<strong>do</strong> seu uso em casos de varicela não complicada, sen<strong>do</strong>discutível a utilização em gestantes. Crianças imunocomprometidas não devem fazer usode aciclovir oral. Aciclovir intravenoso é recomenda<strong>do</strong> em pacientes imunocomprometi<strong>do</strong>sou em casos graves, na <strong>do</strong>sagem de 10mg/kg, a cada 8 horas, infundi<strong>do</strong> durante uma hora,durante 7 a 14 dias. Seu uso está indica<strong>do</strong>, com restrições, em gestantes com complicaçõesgraves de varicela. Outros antivirais têm si<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>s. A nevralgia pós-herpética (NPH) éuma complicação freqüente (até 20% <strong>do</strong>s casos) da infecção pelo herpes zoster, que se caracterizapela refratariedade ao tratamento. A terapia antiviral específica, iniciada dentro de 72horas após o surgimento <strong>do</strong> rash, reduz a ocorrência da NPH. O uso de corticosteróides, nafase aguda da <strong>do</strong>ença, não altera a incidência e a gravidade da NPH, porém reduz a neurite760 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Varicela/Herpes Zosteraguda, deven<strong>do</strong> ser a<strong>do</strong>tada em pacientes sem imunocomprometimento. Uma vez instaladaa NPH, o arsenal terapêutico é enorme, porém não há uma droga eficaz para seu controle.São utiliza<strong>do</strong>s: creme de capsaicina, 0,025% a 0,075%; li<strong>do</strong>caína gel, a 5%; amitriplina, em<strong>do</strong>ses de 25 a 75mg, via oral; carbamazepina, em <strong>do</strong>ses de 100 a 400mg, via oral; benzodiazepínicos;rizotomia, termocoagulação e simpatectomia.Aspectos epidemiológicosA varicela é uma <strong>do</strong>ença benigna mas altamente contagiosa, que ocorre principalmenteem menores de 15 anos. É mais freqüente no final <strong>do</strong> inverno e início da primavera.Indivíduos imunocomprometi<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> adquirem varicela primária ou recorrente, possuemmaior risco de <strong>do</strong>ença grave. Em recém-nasci<strong>do</strong>s de mães com varicela no primeirosemestre de gravidez, a taxa de ataque para síndrome de varicela congênita é 1,2%; quan<strong>do</strong>a infecção ocorreu entre a 13ª e 20ª semanas de gestação, de 2%. Recém-nasci<strong>do</strong>s que adquiremvaricela entre 5 e 10 dias de vida, cujas mães infectaram-se no perío<strong>do</strong> situa<strong>do</strong> entrecinco dias antes <strong>do</strong> parto e <strong>do</strong>is dias após o mesmo, estão mais expostos à varicela grave,cuja letalidade pode atingir 30%.Herpes zoster e aids – a partir de 1981, o herpes zoster passou a ser reconheci<strong>do</strong>como uma infecção freqüente em pacientes porta<strong>do</strong>res de HIV. Posteriormente, observaçõesepidemiológicas demonstraram tratar-se de uma manifestação inicial de infecção peloHIV, cuja ocorrência é preditiva de soropositividade para HIV em populações de risco. Aincidência de herpes zoster é significativamente maior entre indivíduos HIV positivos queentre os soro negativos (15 vezes mais freqüente nos primeiros). A incidência cumulativade zoster por 12 anos após a infecção pelo HIV foi de 30%, ocorren<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> uma taxarelativamente constante, poden<strong>do</strong> ser manifestação precoce ou tardia da infecção pelo HIV.Complicações, como retinite, necrose aguda de retina e encefalite progressiva fatal, têmsi<strong>do</strong> relatadas com mais freqüência em pacientes HIV positivos.6Situação epidemiológica da varicela no BrasilNo Brasil, a varicela não é uma <strong>do</strong>ença de notificação compulsória, embora os surtos devamser notifica<strong>do</strong>s às secretarias municipais e estaduais de saúde. A seguir, são apresenta<strong>do</strong>sos principais acha<strong>do</strong>s de <strong>do</strong>is estu<strong>do</strong>s de soroprevalência da varicela, bem como uma análisepreliminar <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s de morbidade e mortalidade a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Sistema de InformaçõesHospitalares (SIH-SUS) e <strong>do</strong> Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).Um estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> em 1997 avaliou a prevalência da infecção pelo vírus Varicellazosterem 975 amostras de soro de adultos jovens de 20-29 anos, <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res de sangue de cincocapitais brasileiras (Fortaleza, Salva<strong>do</strong>r, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre). A soroprevalênciaglobal de anticorpos antivaricela zoster foi de 94% e a soroprevalência nas regiõesde clima tropical (Fortaleza e Salva<strong>do</strong>r, 89%) foi significativamente menor que nas regiõesde clima tempera<strong>do</strong> (97%). Outro estu<strong>do</strong>, conduzi<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong> de 1992 a 1994 em escolaspúblicas <strong>do</strong> município de São Paulo, indica que o contato com o vírus Varicella-zosterVSecretaria de Vigilância em Saúde / MS761


Varicela/Herpes Zosterocorre nos primeiros anos da infância. Cerca de 40% das crianças com 1 ano apresentaramanticorpos antivaricela zoster, proporção que aumentou rapidamente até o 3º ano, manteveseascendente e alcançou 90% aos 10 anos.No perío<strong>do</strong> de 1998 a 2002, foram registradas no SIH-SUS 6.558 internações por varicela,com média anual de 1.312 casos (desvio padrão=546) (Figura 1). O maior númerode hospitalizações concentra-se na faixa etária de 1 a 4 anos, segui<strong>do</strong> <strong>do</strong>s menores de 1 anoe de 5-9 anos. Embora o maior número absoluto de hospitalizações seja observa<strong>do</strong> entrecrianças, grupo em que se espera o maior número de casos da <strong>do</strong>ença, proporcionalmenteos adultos apresentam maior risco de evoluir com complicações, hospitalização e óbito,como demonstra<strong>do</strong> na Figura 2, na qual vê-se que a taxa de letalidade entre os casos hospitaliza<strong>do</strong>saumenta com a idade, chegan<strong>do</strong> a 5% na faixa etária de 50 anos ou mais e 3% nafaixa etária de 15 a 49 anos.De 1998 a 2002, ocorreram 1.464 óbitos cuja causa básica foi varicela, de acor<strong>do</strong> como SIM (Figura 1). Excetuan<strong>do</strong> 1999, ano em que foi registra<strong>do</strong> o maior número de óbitospor varicela nesse perío<strong>do</strong> (n=212), a média anual foi de 104 óbitos (desvio padrão=25).Os óbitos concentram-se nas faixas etárias de 1 a 4 anos, segui<strong>do</strong>s de menores de 1 ano emaiores de 30 anos.Figura 1. Hospitalizações, óbitos e taxa de letalidade por ano de ocorrênciade varicela. Brasil, 1998-200210.0002501.000200150100100105011998 1999 2000 2001 20020Hospitalizações Óbitos SIH Letalidade Óbitos SIMFonte: SIH-SUS e SIM762 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Varicela/Herpes ZosterFigura 2. Hospitalizações por varicela e taxa de letalidade acumuladas porfaixa etária. Brasil, 1998-20023.50063.00052.50042.0001.50031.000250010< 1 1 - 4 5 - 14 15 - 49 > 5006Faixa etáriaHospitalizaçõesLetalidadeFonte: SIH-SUS e SIMVigilância epidemiológicaObjetivosConhecer os padrões de ocorrência da <strong>do</strong>ença (sazonalidade e distribuição por faixaetária) e detectar surtos em sua fase inicial.A vigilância de casos graves de varicela visa monitorar a intensidade da circulaçãoviral e fatores associa<strong>do</strong>s à gravidade e óbito, que possam, inclusive, reorientar as atuaisrecomendações de vacinação.Definição de casoSuspeitoVaricela – paciente com quadro de febre moderada, de início súbito, que dura de 2a 3 dias, e sintomas generaliza<strong>do</strong>s inespecíficos (mal-estar, adinamia, anorexia, cefaléia eoutros) e erupção cutânea pápulo-vesicular que se inicia na face, couro cabelu<strong>do</strong> ou tronco(distribuição centrípeta: cabeça e tronco).Surtos de varicela – considerar como surto de varicela a ocorrência de um númerode casos acima <strong>do</strong> limite espera<strong>do</strong>, com base nos anos anteriores, ou casos agrega<strong>do</strong>s eminstituições, como creches, escolas e hospitais pediátricos.Varicela grave – paciente com febre alta (>38ºC) e lesões cutâneas polimorfas (pápulas,vesículas, pústulas, crostas) que tenha si<strong>do</strong> hospitaliza<strong>do</strong> ou evoluiu com complicaçõesVSecretaria de Vigilância em Saúde / MS763


Varicela/Herpes Zosterou óbito e pertença a um <strong>do</strong>s seguintes grupos: recém-nasci<strong>do</strong>s, a<strong>do</strong>lescentes, adultos, pacientesimunodeprimi<strong>do</strong>s, gestantes.Confirma<strong>do</strong>Critério clínico – manifestações clínicas características da varicela. Paciente com febremoderada de 2 a 3 dias, de início repentino, sintomas generaliza<strong>do</strong>s inespecíficos (mal-estar,adinamia, anorexia, cefaléia e outros) e erupção cutânea pápulo-vesicular.Critério clínico-epidemiológico – to<strong>do</strong> caso suspeito de varicela que teve contatocom caso de varicela até 8 dias antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong> exantema.Descarta<strong>do</strong>Caso suspeito de varicela não grave cuja avaliação clínico-epidemiológica conclua seroutra <strong>do</strong>ença.Caso suspeito de varicela grave com diagnóstico laboratorial negativo para varicela ouconfirma<strong>do</strong> como outra <strong>do</strong>ença.NotificaçãoNão é <strong>do</strong>ença de notificação compulsória. Portanto, a ocorrência de casos suspeitos devaricela não requer imediata notificação e investigação. Na situação de surto, a notificaçãodeve ser realizada através <strong>do</strong> módulo de notificação de surtos <strong>do</strong> Sinan-W.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteTratamento sintomático em nível ambulatorial. Hospitalização imediata <strong>do</strong>s pacientescom varicela grave ou zoster dissemina<strong>do</strong>, em regime de isolamento.Proteção da populaçãoAfastar os acometi<strong>do</strong>s das atividades desenvolvidas na escola, creche, trabalho, etc.,por um perío<strong>do</strong> de 10 dias, conta<strong>do</strong>s a partir da data de aparecimento <strong>do</strong> exantema. Vacinaros indivíduos sob risco de desenvolver formas graves, de acor<strong>do</strong> com as orientaçõespertinentes à imunização.InvestigaçãoRecomenda-se investigar os casos graves.Roteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacientePreencher to<strong>do</strong>s os campos da ficha de notificação.764 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Varicela/Herpes ZosterColeta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicos• É necessário consultar o prontuário e entrevistar o médico assistente para completaras informações clínicas sobre o paciente. Estas informações servirão para definir seo quadro apresenta<strong>do</strong> é compatível com a varicela grave.• Sugere-se fazer uma cópia da anamnese, exame físico e evolução <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente, comvistas ao enriquecimento da análise.• Verificar se o paciente foi vacina<strong>do</strong> previamente contra a varicela, se entrou em contatocom casos de varicela ou herpes zoster ou se já teve varicela em algum momentode sua vida. Registrar a data da vacinação para saber se o mesmo encontrava-seprotegi<strong>do</strong>. Esta informação é também utilizada como subsídio para a escolha <strong>do</strong>sexames laboratoriais.• Acompanhar a evolução <strong>do</strong>s pacientes e os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames laboratoriais específicos.• Verificar, na residência, se estão ocorren<strong>do</strong> outros casos. Investigar minuciosamente:deslocamentos <strong>do</strong> caso, de familiares e/ou de amigos (considerar to<strong>do</strong>s os deslocamentosque antecederam 10 dias <strong>do</strong> início <strong>do</strong> exantema, inclusive os de curtaduração), para identificar a ocorrência de outros casos.6Análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sA análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da investigação deve permitir a avaliação da magnitude <strong>do</strong> problemae a adequação das medidas a<strong>do</strong>tadas. Esta análise deve ser orientada para a identificação<strong>do</strong> local de transmissão, fonte de infecção, dimensionamento da real magnitude <strong>do</strong> episódio,extensão <strong>do</strong> surto, etc. Consolidar os da<strong>do</strong>s consideran<strong>do</strong> as características de pessoa,tempo e área geográfica.Encerramento de casosOs casos notifica<strong>do</strong>s serão classifica<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com os critérios menciona<strong>do</strong>s nadefinição de caso.Relatório finalOs da<strong>do</strong>s da investigação deverão ser sumariza<strong>do</strong>s em um relatório com as principaisconclusões.VInstrumentos disponíveis para controleImunizaçãoAs vacinas contra a varicela, administradas por via subcutânea a partir <strong>do</strong>s 12 mesesde idade, são de vírus vivo atenua<strong>do</strong> provenientes da cepa OKA. Cada <strong>do</strong>se deve conter, nomínimo, 1.350 unidades forma<strong>do</strong>ras de placa UFP de vírus Varicella-zoster em cultura decélulas conten<strong>do</strong> traços de neomicina e gelatina.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS765


Varicela/Herpes ZosterAté o momento, a vacinação universal contra a varicela não é realizada no Brasil, excetonas populações indígenas. A vacina é recomendada em caso de surto nas populaçõesindígenas a partir <strong>do</strong>s 6 meses e para a prevenção da <strong>do</strong>ença em indivíduo susceptível dequalquer idade, até 96 horas após a exposição a uma fonte de infecção, desde que seja integrantede grupo de risco para as formas graves da <strong>do</strong>ença.Situações especiais em que deve ser indicada a vacina contra a varicela, de acor<strong>do</strong> comas orientações <strong>do</strong>s Centros de Referências de Imunobiológicos Especiais (CRIEs):• pacientes com leucemia linfocítica aguda e com tumores sóli<strong>do</strong>s em remissão (hápelo menos 12 meses), desde que apresentem 1.200 linfócitos/mm 3 ou mais, semradioterapia; caso estejam em quimioterapia, suspendê-la por sete dias antes e setedias após a vacinação;• pessoas susceptíveis à <strong>do</strong>ença, candidatos a transplante de órgãos (fíga<strong>do</strong>, rim, coração,pulmão e outros orgãos sóli<strong>do</strong>s), pelo menos três semanas antes <strong>do</strong> ato cirúrgico;• profissionais de saúde susceptíveis à <strong>do</strong>ença;• familiares de pacientes imunodeprimi<strong>do</strong>s, susceptíveis à <strong>do</strong>ença;• demais pessoas susceptíveis, além <strong>do</strong>s profissionais de saúde e familiares, que estejamem convívio hospitalar ou <strong>do</strong>miciliar com pacientes imunodeprimi<strong>do</strong>s;• HIV positivo, assintomático e oligossintomático.Contra-indicações da vacina• Gestantes (mulheres em idade fértil devem evitar a gravidez durante 30 dias após aadministração).• Imunodeprimi<strong>do</strong>s, exceto os casos previstos nas indicações acima (pacientes emuso de terapia imunossupressora só deverão fazer uso da vacina após três meses desuspensão da medicação).• Anafilaxia à <strong>do</strong>se anterior da vacina ou a qualquer um <strong>do</strong>s seus componentes.Eventos adversos – <strong>do</strong>r transitória, hiperestesia, rubor no local da aplicação. Um mêsapós a vacinação, pode ocorrer exantema maculopapular ou variceliforme, de pequena intensidade,em cerca de 7% a 8% <strong>do</strong>s indivíduos.O risco de herpes zoster é mais baixo após a vacinação <strong>do</strong> que após a <strong>do</strong>ença natural.Imunoglobulina humana antivaricela–zoster – é obtida de plasma humano conten<strong>do</strong>títulos altos de IgG contra o vírus da varicela. Contém de 10% a 18% de globulina etimerosol como preservativo.É administrada por via intramuscular em qualquer idade.Indicação – indivíduo imunodeprimi<strong>do</strong> que tenha ti<strong>do</strong> contato com <strong>do</strong>ente de varicelaem fase contagiosa.766 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Varicela/Herpes ZosterAções de educação em saúdeEm situações de surto, desenvolver atividades de educação em saúde, principalmenteem escolas e creches, visan<strong>do</strong> orientar os professores e pais para que os indivíduos com suspeitada <strong>do</strong>ença permaneçam em casa. Alertar para a necessidade de vacinar os indivíduosconforme as situações apontadas no tópico Imunização e evitar que mantenham contatocom pessoas que tenham a <strong>do</strong>ença.6VSecretaria de Vigilância em Saúde / MS767


VaríolaVARÍOLACID 10: B03Características clínicas e epidemiológicasDescriçãoA varíola é uma <strong>do</strong>ença viral, exclusiva de humanos. Desde seu último caso registra<strong>do</strong>,em 26 de outubro de 1977, na Somália, encontra-se erradicada no mun<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>, apresenta-secomo potencial ameaça contra to<strong>do</strong>s os países, principalmente pela possibilidadede seu uso em atos terroristas.É considerada uma das mais sérias de todas as <strong>do</strong>enças infecciosas, matan<strong>do</strong> de 25% a30% das pessoas infectadas não imunizadas. Em 1980, após a interrupção de sua circulaçãoviral, a vacinação foi interrompida, exceto em trabalha<strong>do</strong>res de laboratório que manipulavamo agente em pesquisas. Oficialmente, apenas <strong>do</strong>is laboratórios conservam estoques <strong>do</strong>vírus: um nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América e outro na Rússia. Entretanto, após o atenta<strong>do</strong> de11 de setembro de 2001, cogitou-se a possibilidade de que outros estoques estejam conserva<strong>do</strong>sem locais desconheci<strong>do</strong>s.SinonímiaBexiga, alastrim.Agente etiológicoVírus DNA, <strong>do</strong> gênero Orthopoxvirus, da subfamília Chor<strong>do</strong>poxvirinae da família Poxviridae.É um <strong>do</strong>s vírus mais resistentes, em particular, aos agentes físicos.ReservatórioNão há reservatório animal e os seres humanos não são porta<strong>do</strong>res. Desta forma, presume-seque o vírus tenha emergi<strong>do</strong> de um reservatório animal, no passa<strong>do</strong>, após o primeiroassentamento de agricultores, cerca de 10 mil anos a.C., quan<strong>do</strong> os aglomera<strong>do</strong>s populacionaistornaram-se grandes o suficiente para manter a transmissão de pessoa a pessoa.Mo<strong>do</strong> de transmissãoDe pessoa a pessoa, através de gotículas de saliva e aerossóis.Perío<strong>do</strong> de incubaçãoDe 10 a 14 dias (varian<strong>do</strong> de 7 a 19 dias) após a exposição.Perío<strong>do</strong> de transmissibilidadeEm média, três semanas, prazo que vai desde o momento em que aparecem as primeiraslesões até o desprendimento de todas as crostas. A fase de maior contaminação é o768 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Varíolaperío<strong>do</strong> anterior ao surgimento das erupções, por meio de gotículas de aerossóis que levamo vírus às lesões orofaríngeas.Susceptibilidade e imunidadeAspectos como idade, sexo, raça e clima não evitam nem favorecem a transmissão davaríola.Aspectos clínicos e laboratoriaisManifestações clínicasPaciente com <strong>do</strong>ença sistêmica, que apresenta pródromos com duração média de <strong>do</strong>isa quatro dias, iniciada com sintomas inespecíficos, tais como febre alta, mal-estar intenso,cefaléia, <strong>do</strong>res musculares, náuseas e prostração, poden<strong>do</strong> apresentar <strong>do</strong>res ab<strong>do</strong>minais intensase delírio. A <strong>do</strong>ença progride com o aparecimento de lesões cutâneas (mácula, pápula,vesícula, pústula e formação de crostas) em surto único, de duração média entre um e <strong>do</strong>isdias, com distribuição centrífuga, atingin<strong>do</strong> mais a face e membros. Observa-se o mesmoestágio evolutivo das lesões em determinada área.6Diagnóstico diferencialO principal diagnóstico diferencial é com a varicela, sen<strong>do</strong> quase impossível distinguilasclinicamente nos primeiros 2 a 3 dias de aparecimento das máculas.VaríolaAlastrim – BexigaInício entre 7 e 17 dias após contatocom <strong>do</strong>ente de varíolaO paciente apresenta febre e mal-estar,2 a 4 dias antes de aparecerem as lesõesAs lesões duram de 1 a 2 dias. Nãoaparecem lesões novas após este perío<strong>do</strong>As lesões são mais numerosas na face,braços e pernas, inclusive nas palmasdas mãos e plantas <strong>do</strong>s pésVaricelaCataporaInício de 14 a 21 dias após contato com <strong>do</strong>ente de varicelaO paciente não apresenta sintomas até o aparecimento das lesõesAs lesões aparecem em diversas fases, durante vários dias atéuma semanaAs lesões são mais numerosas no tronco, sen<strong>do</strong> raras nas palmasdas mãos ou planta <strong>do</strong>s pésVEm um mesmo segmento <strong>do</strong> corpo,as lesões encontram-se em um mesmoestágio de evolução (Ex.: não são observadascrostas e vesículas ao mesmo tempo)As lesões apresentam estágios diferentes de evolução, em ummesmo segmento <strong>do</strong> corpo. Máculas, vesículas, pústulas e crostaspodem ser encontradas simultaneamenteAs crostas se formam de 10 a 14 diasapós o início da erupção, e caem entreo 14° ao 28° dia após o início das lesõesAs crostas se formam de 4 a 7 dias após o início da erupção,e caem dentro <strong>do</strong>s 14 dias após o aparecimento das lesõesSecretaria de Vigilância em Saúde / MS769


VaríolaOutros diagnósticos diferenciais – impetigo, eczema infecta<strong>do</strong>, sífilis secundária,escabiose, picadas de insetos, erupções medicamentosas, eritema multiforme. Quan<strong>do</strong> seapresenta sob a forma hemorrágica, a varíola pode ser confundida com a leucemia aguda,meningococcemia e púrpura trombocitopênica idiopática.Diagnóstico laboratorialExistem vários méto<strong>do</strong>s para a confirmação diagnóstica da varíola; alguns são específicosna identificação <strong>do</strong> vírus da varíola; outros, para identificação de Orthopoxvirus emgeral. Podem ser submeti<strong>do</strong>s a exame, raspa<strong>do</strong> de lesões de pele (pápulas, vesículas, pústulase crostas) e amostras de sangue, colhi<strong>do</strong>s por profissional de saúde vacina<strong>do</strong> contra a varíolae devidamente protegi<strong>do</strong> com equipamentos de proteção individual (avental, máscara,óculos e luvas) e manipula<strong>do</strong>s em ambiente de contenção de risco biológico.As amostras podem ser examinadas diretamente por microscopia eletrônica, para aidentificação de vírions, e o antígeno viral pode ser identifica<strong>do</strong> por imunohistoquímica. Areação em cadeia da polimerase (PCR) para o gênero Orthopoxvirus pode detectar o vírusvariólico antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s sintomas.As provas sorológicas (Elisa, IFA) não identificaram a espécie <strong>do</strong> vírus e o pareamentodas amostras está indica<strong>do</strong> para diferenciar uma infecção recente de uma vacinação no passa<strong>do</strong>.Os méto<strong>do</strong>s sorológicos, com detecção de IgM específica, estão sen<strong>do</strong> aprimora<strong>do</strong>s deforma a aumentar a sensibilidade e especificidade. O isolamento viral em cultivo celular ouem membranas corioalantóicas são considera<strong>do</strong>s padrão-ouro na identificação <strong>do</strong> vírus.TratamentoNão há tratamento específico para a varíola. A terapia é de suporte, manten<strong>do</strong>-se obalanço hidroeletrolítico e cuida<strong>do</strong>s de enfermagem. A antibioticoterapia é indicada para otratamento de infecções bacterianas secundárias, que são freqüentes.Aspectos epidemiológicosA varíola foi uma <strong>do</strong>ença de grande impacto na saúde pública mundial. Em 1967, 33países ainda eram considera<strong>do</strong>s endêmicos, com cerca de 10-15 milhões de casos notifica<strong>do</strong>spor ano. Como a mortalidade média atingia a casa <strong>do</strong>s 30% em pessoas não vacinadas,cerca de 3 milhões de mortes ocorriam anualmente.Estu<strong>do</strong>s demonstraram que no hemisfério norte a varíola era mais freqüente no invernoe na primavera, estações coincidentes, no hemisfério sul, com o verão e outono, ondeparecia também aumentar a incidência da varíola, quan<strong>do</strong> esta era endêmica.A introdução da varíola no território brasileiro ocorreu com os primeiros coloniza<strong>do</strong>rese escravos no século XVI e a primeira epidemia registrada data de 1563, na ilha deItaparica na Bahia, de onde se disseminou para o resto <strong>do</strong> país.Em 1804, foi introduzida a vacina jeneriana no país, dan<strong>do</strong>-se início às campanhas decombate à virose. Em 1962, o Ministério da Saúde criou a Campanha Nacional Contra a Va-770 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Varíolaríola, com resulta<strong>do</strong>s inexpressivos, e a média anual de casos mantinha-se elevada, em tornode 3 mil, atingin<strong>do</strong> principalmente a faixa etária de menores de 15 anos (80% <strong>do</strong>s casos).Em agosto de 1966, foi instituída a Campanha de Erradicação da Varíola e só durantea fase de ataque, encerrada em 16 de outubro de 1971, cerca de 88% da população brasileirahavia si<strong>do</strong> vacinada.A notificação mensal de casos diminuiu e a vigilância ativa da <strong>do</strong>ença permitiu reduzira ocorrência de casos e notificação, o que aumentava a efetividade <strong>do</strong>s bloqueios vacinais.Em 1971, com o prosseguimento <strong>do</strong>s trabalhos de vacinação, foi-se interrompen<strong>do</strong>a transmissão no país, registran<strong>do</strong>-se apenas 19 casos de varíola, to<strong>do</strong>s no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Riode Janeiro. A última notificação da <strong>do</strong>ença foi em abril daquele ano e desde então não háregistro de casos de varíola no Brasil.Atualmente, considera-se importante estar prepara<strong>do</strong> para responder a um possívelataque com o vírus da varíola como arma biológica, por se saber que este agente é relativamenteestável, de fácil disseminação (aerossolização) e alta transmissibilidade.6Vigilância epidemiológicaObjetivosManter erradicada a varíola, mediante a detecção precoce de casos suspeitos e a<strong>do</strong>çãodas medidas de controle pertinentes.Definição de casoSuspeitoTo<strong>do</strong>s os pacientes provenientes de países ou regiões com suspeita de disseminaçãoacidental ou intencional <strong>do</strong> vírus da varíola, com sinais clínicos inespecíficos e que, até 4dias <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s sintomas, apresentem lesões cutâneas.Confirma<strong>do</strong>Critério clínico-laboratorial – to<strong>do</strong> caso suspeito que apresente isolamento <strong>do</strong> vírusda varíola.Critério clínico-epidemiológico – to<strong>do</strong> caso suspeito de varíola, proveniente de paísesou regiões em que outros casos tenham si<strong>do</strong> confirma<strong>do</strong>s laboratorialmente, ou casosque tenham relato de manifestação clínica característica de varíola e que tenham evoluí<strong>do</strong>para óbito.VDescarta<strong>do</strong>Caso suspeito com diagnóstico laboratorial negativo, desde que se comprove que asamostras foram coletadas e transportadas adequadamente; ou caso suspeito com diagnósticoconfirma<strong>do</strong> de outra <strong>do</strong>ença.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS771


VaríolaNotificaçãoA ocorrência de casos suspeitos de varíola requer imediata notificação e investigação,por se tratar de <strong>do</strong>ença grave. Um caso pode significar a existência de um surto, o que impõea a<strong>do</strong>ção imediata de medidas de controle. Por ser <strong>do</strong>ença de notificação compulsóriainternacional, to<strong>do</strong> caso suspeito deve ser prontamente comunica<strong>do</strong> por telefone, fax oue-mail às autoridades sanitárias superiores.Primeiras medidas a serem a<strong>do</strong>tadasAssistência médica ao pacienteHospitalização imediata <strong>do</strong>s pacientes em hospitais de referência, para isolamento etratamento, ten<strong>do</strong>-se o cuida<strong>do</strong> de verificar se to<strong>do</strong>s os profissionais foram imuniza<strong>do</strong>s previamente(interrogar sobre história vacinal e inspecionar a marca da vacina “pega”).Qualidade da assistênciaVerificar se os casos estão sen<strong>do</strong> atendi<strong>do</strong>s em unidade de saúde de referência comatendimento adequa<strong>do</strong> e oportuno.Proteção individual para evitar a circulação viralTo<strong>do</strong>s os profissionais <strong>do</strong> hospital de referência deverão estar previamente imuniza<strong>do</strong>se devem utilizar equipamento de proteção padrão e máscara tipo N-95. Roupas íntimas e decama deverão ser acondicionadas em sacos para transporte de material biológico e, posteriormente,autoclava<strong>do</strong>s e incinera<strong>do</strong>s. O local deverá ser descontamina<strong>do</strong>, de acor<strong>do</strong> comas normas <strong>do</strong> programa de infecção hospitalar.Proteção da populaçãoLogo que se tenha conhecimento da suspeita de caso(s) de varíola, deve-se organizarum bloqueio vacinal nas áreas onde o paciente esteve no perío<strong>do</strong> de viremia, privilegian<strong>do</strong>as populações expostas ao risco de transmissão, não sen<strong>do</strong> necessário aguardar os resulta<strong>do</strong>s<strong>do</strong>s exames laboratoriais para confirmação <strong>do</strong>s casos suspeitos.Utilizar os meios de comunicação de massa para esclarecimentos à população. Organizarvisitas <strong>do</strong>miciliares e palestras nas comunidades. Veicular informações sobre o ciclo detransmissão da <strong>do</strong>ença, sua gravidade e esclarecimentos sobre a situação de risco.InvestigaçãoImediatamente após a notificação de um ou mais casos de varíola, deve-se iniciar ainvestigação epidemiológica para permitir que as medidas de controle possam ser a<strong>do</strong>tadasem tempo oportuno.É imprescindível que os profissionais que irão participar das investigações tenham si<strong>do</strong>vacina<strong>do</strong>s previamente, antes de se deslocarem para a provável área de transmissão.772 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


VaríolaRoteiro da investigação epidemiológicaIdentificação <strong>do</strong> pacienteDeverão ser preenchi<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os itens da ficha de notificação <strong>do</strong> Sinan relativos aosda<strong>do</strong>s gerais, notificação individual e da<strong>do</strong>s de residência.Não se dispõe de ficha epidemiológica de investigação no Sinan, deven<strong>do</strong>-se elaboraruma específica para este fim, que contenha campos que coletem os da<strong>do</strong>s das principaiscaracterísticas clínicas e epidemiológicas da <strong>do</strong>ença.Coleta de da<strong>do</strong>s clínicos e epidemiológicosPor se tratar de <strong>do</strong>ença erradicada, com pouca probabilidade de ocorrência, a históriaepidemiológica é importantíssima para fundamentar a suspeita diagnóstica de varíola. Assim,torna-se da maior importância entrevistar o médico que atendeu o paciente e pesquisarse existe alguma evidência (nacional ou internacional) de transmissão intencional e se opaciente é procedente de alguma região com reativação de “foco da <strong>do</strong>ença”.Como, em geral, quan<strong>do</strong> da suspeita de varíola os <strong>do</strong>entes são hospitaliza<strong>do</strong>s, deveseconsultar o prontuário, além da entrevista ao médico assistente, visan<strong>do</strong> completar asinformações clínicas e epidemiológicas sobre o paciente – as quais servirão para definirse o quadro apresenta<strong>do</strong> é compatível com a <strong>do</strong>ença. Cuidar para que a identificação e oendereço <strong>do</strong> paciente sejam preserva<strong>do</strong>s.Sugere-se fazer uma cópia da anamnese, exame físico e evolução <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente, com vistasao enriquecimento das análises e, também, para que possam servir como instrumento deaprendizagem <strong>do</strong>s profissionais <strong>do</strong> nível local.Acompanhar a evolução <strong>do</strong>s pacientes e os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames laboratoriais específicos.6Para identificação da área de transmissãoInvestigar minuciosamente• Procedência e deslocamentos <strong>do</strong> caso, de familiares e/ou amigos (considerar to<strong>do</strong>sos deslocamentos anteriores aos dias <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s sintomas, inclusive os de curtaduração), para caracterizar se houve permanência em local de provável circulaçãoviral;• Notícias de casos de varicela naquele perío<strong>do</strong>, para estabelecer o diagnóstico diferencial,bem como averiguar esta ocorrência em anos anteriores.VEstes procedimentos devem ser feitos mediante entrevista com o paciente, familiaresou responsáveis e líderes da comunidade. Tais da<strong>do</strong>s, que serão anota<strong>do</strong>s na ficha de investigaçãoe folhas anexas, permitirão identificar o provável local de transmissão <strong>do</strong> vírus.Por se tratar de <strong>do</strong>ença com alto poder de disseminação, caso se fundamente a suspeitadiagnóstica cabe verificar, rápida e imediatamente a história <strong>do</strong>s deslocamentos de to<strong>do</strong>sos casos suspeitos. Deste mo<strong>do</strong>, serão defini<strong>do</strong>s com maior grau de certeza o(s) local(is)provável(eis) de infecção, bem como a abrangência da circulação <strong>do</strong> vírus. Importante ob-Secretaria de Vigilância em Saúde / MS773


Varíolaservar que mesmo a permanência de poucas horas com pacientes com suspeita de varíolaou em locais com fômites de <strong>do</strong>entes podem resultar em infecção.Lembrar que a identificação da área onde ocorreu a transmissão é de fundamental importânciapara nortear a continuidade <strong>do</strong> processo de investigação e a extensão dasmedidas de controle imediatas.Para determinação da extensão da área de transmissãoBusca ativa de casos humanos• Após a identificação <strong>do</strong> possível local de transmissão, iniciar imediatamente a buscaativa de outros casos humanos, casa a casa, e em unidades de saúde. Além daquelescom sinais e sintomas evidentes de varíola/varicela, deve-se considerar os óbitoscom quadro sugestivo da <strong>do</strong>ença, ocorri<strong>do</strong>s nos dias anteriores na comunidade, e osoligossintomáticos, inclusive to<strong>do</strong>s os indivíduos, na área, que apresentarem febre(vigilância de casos exantemáticos), com ou sem outras manifestações clínicas, poisos resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames laboratoriais irão esclarecer o diagnóstico.• Tanto em área urbana como rural, o procedimento é o mesmo e a delimitação dabusca baseia-se nos resulta<strong>do</strong>s da busca ativa e história epidemiológica <strong>do</strong>s primeiroscasos.Coleta e remessa de material para examesLogo após a suspeita clínica de varíola, coletar material de to<strong>do</strong>s os casos (óbitos, formasgraves ou oligossintomáticas), de acor<strong>do</strong> com as normas técnicas, observan<strong>do</strong>-se criteriosamentetodas as recomendações.É da responsabilidade <strong>do</strong>s profissionais da vigilância epidemiológica e/ou <strong>do</strong>s laboratórioscentrais ou de referência viabilizar, orientar ou mesmo realizar as coletas.Caso haja forte suspeita clínica e vínculo epidemiológico claramente estabeleci<strong>do</strong>, nãose deve aguardar os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s exames para o desencadeamento das medidas de controlee outras atividades da investigação, embora sejam imprescindíveis para confirmar enortear o encerramento <strong>do</strong>s casos.Atentar para a interpretação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s de sorologias quan<strong>do</strong> não se utilizar examede detecção de IgM, consideran<strong>do</strong> as datas de coleta e dias de aparecimento <strong>do</strong>s sintomas,necessidade de amostras pareadas e o esta<strong>do</strong> vacinal <strong>do</strong> paciente, que pode levar a resulta<strong>do</strong>sfalso-positivos.Análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sA análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da investigação deve permitir a avaliação da magnitude <strong>do</strong> problemae a adequação das medidas a<strong>do</strong>tadas, visan<strong>do</strong> impedir a propagação da <strong>do</strong>ença e indicarse as ações de prevenção e alerta às autoridades e comunidades devem ser mantidas a curtoe médio prazos.Desde o início, o investiga<strong>do</strong>r deve analisar os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s para alimentar o processode decisão das atividades de investigação e ações de controle. Esta análise, como referi<strong>do</strong>774 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Varíolaanteriormente, deve ser orientada para identificação da procedência <strong>do</strong> vírus, se este permanececirculan<strong>do</strong> ou se foi exporta<strong>do</strong> para outras áreas por meio de migração ou fluxo turístico;dimensionamento da real magnitude <strong>do</strong> episódio (incidência e letalidade); extensão daárea onde o vírus circulou e se outras áreas estão sob risco de introdução <strong>do</strong> vírus, etc.Para isso, o profissional deve interpretar, passo a passo, os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s, de mo<strong>do</strong> adefinir a extensão <strong>do</strong> bloqueio vacinal, as atividades para continuidade da investigação e aampliação, redução ou interrupção das medidas a<strong>do</strong>tadas, de acor<strong>do</strong> com as evoluções <strong>do</strong>evento e da investigação.A consolidação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, consideran<strong>do</strong> as características de pessoa, tempo e, principalmente,área geográfica, permitirá uma caracterização detalhada <strong>do</strong> episódio.Encerramento de casoOs da<strong>do</strong>s de cada caso devem ser analisa<strong>do</strong>s visan<strong>do</strong> definir qual o critério utiliza<strong>do</strong>para o diagnóstico, consideran<strong>do</strong> as seguintes alternativas:• confirma<strong>do</strong> por critério clínico-laboratorial – isolamento viral, sorologia e histopatologia;• confirma<strong>do</strong> por critério clínico-epidemiológico – verificar se existe vínculo epidemiológicoentre o caso suspeito e outros casos confirma<strong>do</strong>s de varíola;• óbitos – também serão considera<strong>do</strong>s confirma<strong>do</strong>s os óbitos de paciente com vínculoepidemiológico e manifestações clínicas de varíola;• caso descarta<strong>do</strong> – caso notifica<strong>do</strong> cujos resulta<strong>do</strong>s de exames laboratoriais adequadamentecoleta<strong>do</strong>s e transporta<strong>do</strong>s foram negativos ou tiveram como diagnósticooutra <strong>do</strong>ença.6Observar se to<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s necessários ao encerramento <strong>do</strong>s casos e <strong>do</strong> evento (epidemiaou caso isola<strong>do</strong>) foram coleta<strong>do</strong>s durante a investigação, deven<strong>do</strong> estar criteriosamenteregistra<strong>do</strong>s e analisa<strong>do</strong>s.Relatório finalOs da<strong>do</strong>s da investigação deverão ser sumariza<strong>do</strong>s em um relatório com as principaisconclusões.VInstrumentos disponíveis para controleImunizaçãoO Brasil recebeu o Certifica<strong>do</strong> Internacional de Erradicação da Varíola em 1973. Coma erradicação da <strong>do</strong>ença, a vacinação foi excluída da rotina <strong>do</strong>s serviços de saúde pública.As pessoas vacinadas no passa<strong>do</strong> não estão necessariamente protegidas, pois o nível deimunidade é incerto, portanto, são consideradas susceptíveis. A maioria <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s sugereque a imunidade permanece por três a cinco anos, mas pode ser estimulada em uma simplesrevacinação. A infecção prévia pelo vírus selvagem confere imunidade permanente.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS775


VaríolaA vacina é constituída por vírus vivo atenua<strong>do</strong> (vaccinia), que se multiplica nas camadassuperficiais da pele.A administração da vacina é realizada com a técnica de múltipla punção, com agulhabifurcada de uso único, acondicionada com a vacina reconstituída.O sucesso da vacinaçãoé considera<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> acontece a “pega”.Recomendações para a vacinaçãoEstratégia a primáriaA vacinação <strong>do</strong>s contatos deve ser baseada na identificação de um caso de varíola e navacinação das pessoas que tiveram contato com um caso de varíola, ou muito provavelmentetiveram este contato, pois são as que apresentam grande chance de desenvolver a <strong>do</strong>ença.Se os contatos forem vacina<strong>do</strong>s em até quatro dias após o contato com o caso de varíola,poderão estar protegi<strong>do</strong>s contra o desenvolvimento da <strong>do</strong>ença ou desenvolver uma <strong>do</strong>ençamenos severa. À medida que ocorre a transmissão da varíola, usualmente através <strong>do</strong> contatoíntimo, exceto em circunstâncias especiais, as pessoas que mantêm contato íntimo <strong>do</strong>miciliarcom um <strong>do</strong>ente são as que apresentam maior risco de desenvolver a <strong>do</strong>ença. Por isso, avacinação das mesmas deve ser priorizada.Indivíduos que, muito provavelmente, entraram em contato com um contato assintomáticode um caso de varíola (membros <strong>do</strong> mesmo <strong>do</strong>micílio) também devem ser vacina<strong>do</strong>spara prevenir a infecção, pois podem desenvolver a <strong>do</strong>ença posteriormente. Some-sea isso a possibilidade de isolamento <strong>do</strong>s indivíduos contagiosos (aqueles que apresentamexantema), para prevenir o contato com os não-vacina<strong>do</strong>s, ou indivíduos susceptíveis, duranteo perío<strong>do</strong> de infecciosidade (<strong>do</strong> início <strong>do</strong> rash até que todas as crostas tenham caí<strong>do</strong>),limitan<strong>do</strong> a posterior oportunidade de transmissão da <strong>do</strong>ença. A vigilância intensiva <strong>do</strong>soutros contatos e casos potenciais na área ajudará a identificar outros grupos para a vacinaçãofocal e o isolamento.As estratégias de vacinação contra a varíola em um surto devem estar baseadas em:• identificação e vacinação <strong>do</strong>s contatos íntimos <strong>do</strong>s casos;• monitoramento <strong>do</strong>s contatos vacina<strong>do</strong>s e isolamento daqueles que desenvolveremfebre;• vacinação <strong>do</strong>s membros <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio que não tiverem contra-indicação para a vacinação,a fim de protegê-los, se o contato desenvolver varíola. Os membros <strong>do</strong> <strong>do</strong>micíliode um contato que não podem ser vacina<strong>do</strong>s, devi<strong>do</strong> a contra-indicações,devem ficar fora da casa para evitar o contato até o final <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de incubação (18dias) ou até 14 dias após a vacinação <strong>do</strong> contato;• vacinação <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res da assistência e da saúde pública (médicos e enfermeiros,dentre outros profissionais) que estarão diretamente envolvi<strong>do</strong>s na avaliação,tratamento, transporte ou entrevistas com casos potenciais de varíola;• vacinação de outros recursos humanos que apresentem probabilidade razoável deter contato com pacientes de varíola ou materiais infecta<strong>do</strong>s (ex.: pessoal militar,emergência, grupos especiais de secretarias de segurança pública, entre outros).776 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


VaríolaNo momento da vacinação deve ser fornecida uma caderneta de vacinação a to<strong>do</strong>s osvacina<strong>do</strong>s – que servirá para registrar os procedimentos de seguimento da vacinação, ouseja, a confirmação de que a vacina foi recebida e o reconhecimento das reações locais.Se os recursos humanos forem suficientes a “pega” vacinal, deve ser confirmada e registradasete dias após a vacinação. Se o quantitativo de recursos humanos não permitiremseguimento direto, deve-se instruir os profissionais <strong>do</strong>s serviços de saúde locais, onde foirealizada a vacinação, para realizar este seguimento.Contra-indicações da vacina:• gravidez;• imunodeficiência;• <strong>do</strong>enças de pele extensas (ex. acne, queimadura, incisão recente, impetigo, dermatitede contato);• terapia imunossupressora (ex. radioterapia, transplantes, quimioterapia);• <strong>do</strong>enças inflamatórias oftalmológicas;• eczemas, dermatite atópica (presente ou “curada”);• alergia aos componentes da vacina.6No caso de epidemia, a vacina deve ser oferecida às pessoas que, apesar de terem algumacontra-indicação, estejam sob risco.Eventos adversos pós-vacinaçãoEm geral, reações cutâneas leves. Raramente, encefalite fatal. Existem estimativas, daordem de 25%, para o total de eventos adversos (leves e graves), sen<strong>do</strong> que a ocorrência daencefalite pós-vacinal foi estimada em 3 casos para 1 milhão de <strong>do</strong>ses aplicadas. Para a vacinaçãoprimária, estimou-se um óbito para 1 milhão de <strong>do</strong>ses aplicadas. Para a revacinação,estimou-se um óbito para 4 milhões de <strong>do</strong>ses aplicadas.VSecretaria de Vigilância em Saúde / MS777


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GlossárioEste glossário visa esclarecer a terminologia utilizada nesta publicação. Vale salientar que, emboraalguns termos aqui incluí<strong>do</strong>s possam ser encontra<strong>do</strong>s com significa<strong>do</strong>s diferentes, as definiçõesapresentadas são as mais freqüentemente aplicadas no contexto da vigilância e controlede <strong>do</strong>enças transmissíveis.ABATE: marca comercial <strong>do</strong> inseticida organofosfora<strong>do</strong> Temefós.AGENTE: entidade biológica, física ou química capaz de causar <strong>do</strong>ença.AGENTE INFECCIOSO: agente biológico, capaz de produzir infecção ou <strong>do</strong>ença infecciosa.ALADO: fase adulta <strong>do</strong> vetor, presença de asas.ANATOXINA (toxóide): toxina tratada pelo formol ou outras substâncias, que perde sua capacidadetoxigênica mas conserva sua imunogenicidade. Os toxóides são usa<strong>do</strong>s para induzirimunidade ativa e específica contra <strong>do</strong>enças.ANTICORPO: globulina encontrada em flui<strong>do</strong>s teciduais e no soro, produzida em resposta aoestímulo de antígenos específicos, sen<strong>do</strong> capaz de se combinar com os mesmos, neutralizan<strong>do</strong>osou destruin<strong>do</strong>-os.ANTICORPO MONOCLONAL: anticorpo produzi<strong>do</strong> pela progênie de uma única célula, fatoque o torna extremamente puro, preciso e homogêneo.ANTIGENICIDADE: capacidade de um agente, ou de fração <strong>do</strong> mesmo, estimular a formaçãode anticorpos.ANTÍGENO: porção ou produto de um agente biológico, capaz de estimular a formação deanticorpos específicos.ANTISSEPSIA: conjunto de medidas empregadas para impedir a proliferação microbiana.ANTITOXINA: anticorpos protetores que inativam proteínas solúveis tóxicas de bactérias.ANTRÓPICO: tu<strong>do</strong> o que possa ser atribuí<strong>do</strong> à atividade humana.ANTROPONOSE: infecção com transmissão restrita aos seres humanos.ANTROPOZOONOSE: infecção transmitida ao homem, por reservatório animal.ARBOVIROSES: viroses transmitidas, de um hospedeiro para outro, por meio de um ou maistipos de artrópodes.ÁREA ENDÊMICA: aqui considerada como área reconhecidamente de transmissão para esquistossomose,de grande extensão, contínua, dentro de um município.ÁREA DE FOCO: área de transmissão para esquistossomose, com localização bem definida,limitada a uma localidade ou pequeno número desta, em um município.ÁREA INDENE VULNERÁVEL: área reconhecidamente sem transmissão para esquistossomose,mas cujas condições ambientais (presença de hospedeiros intermediários nas condiçõeshídricas), associadas a precárias condições socioeconômicas e de saneamento, na presença demigrantes porta<strong>do</strong>res da esquistossomose, oriun<strong>do</strong>s de áreas de transmissão, tornam a área sobrisco.ASCITE: acúmulo de líqui<strong>do</strong> seroso na cavidade peritonial, causa<strong>do</strong> pelo aumento da pressãovenosa ou queda da albumina no plasma. O exame revela aumento in<strong>do</strong>lor <strong>do</strong> ab<strong>do</strong>me, macicez796 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Glossáriolíquida que muda com a postura. É responsável pelo termo “barriga d’água” para a esquistossomose.ASSEPSIA: conjunto de medidas utilizadas para impedir a penetra ção de microrganismos (contaminação)em local que não os conte nha.ASSOCIAÇÃO MEDICAMENTOSA: administração simultânea de <strong>do</strong>is ou mais medica mentos,seja em preparação separada, seja em uma mesma preparação.BACTERIÓFAGO: vírus que lisa a bactéria. Capaz de infectar e destruir bactérias. É freqüentementeutiliza<strong>do</strong> como vetor pela engenharia genética.BIOCENOSE: comunidade resultante da associação de populações confinadas em deter mina<strong>do</strong>sambientes, no interior de um ecossis tema.BIOGEOCENOSE (ecossistema): sistema dinâmico que inclui todas as interações entre o ambientee as populações ali existentes.BIOSFERA: conjunto de to<strong>do</strong>s os ecossistemas.BIOTA: reunião de várias comunidades.CAPACIDADE VETORIAL: propriedade <strong>do</strong> vetor, mensurada por parâmetros como abundância,sobrevivência e grau de <strong>do</strong> miciliação. Relaciona-se à transmissão <strong>do</strong> agente infeccioso emcondições naturais.CARACTERES EPIDEMIOLÓGICOS: mo<strong>do</strong>s de ocorrência natural das <strong>do</strong>enças em uma comunidade,em função da estrutura epidemio lógica da mesma.CARÁTER ANTIGÊNICO: combinação química <strong>do</strong>s componentes antigênicos de um agente,cuja combinação e componentes são únicos, para cada espécie ou cepa <strong>do</strong> agente, sen<strong>do</strong> responsávelpela especificidade da imunidade resultante da infecção.CASO: pessoa ou animal infecta<strong>do</strong> ou <strong>do</strong>ente, apresentan<strong>do</strong> caracte rísticas clínicas, labora toriaise/ou epidemiológicas específicas.CASO AUTÓCTONE: caso contraí<strong>do</strong> pelo enfermo na zona de sua residência.CASO CONFIRMADO: pessoa de quem foi isola<strong>do</strong> e identifica<strong>do</strong> o agente etiológico, ou dequem foram obtidas outras evidências epi demiológicas e/ou laboratoriais da presença <strong>do</strong> agenteetiológico, como, por exemplo, a conversão sorológica em amostras de sangue colhidas nas fasesaguda e de convalescência. Esse indivíduo pode ou não apresentar a síndrome indicativa da<strong>do</strong>ença causada pelo agente. A confirmação <strong>do</strong> caso está sempre condicionada à observa ção <strong>do</strong>scritérios estabeleci<strong>do</strong>s pela definição de caso, a qual, por sua vez, está relacionada ao objetivo <strong>do</strong>programa de controle da <strong>do</strong>ença e/ou <strong>do</strong> sistema de vigilância.CASO ESPORÁDICO: caso que, segun<strong>do</strong> informações disponíveis, não se apresenta epidemiologicamenterelaciona<strong>do</strong> a outros já co nheci<strong>do</strong>s.CASO ÍNDICE: primeiro, entre vários casos, de natureza similar e epidemiologicamente relaciona<strong>do</strong>s.O caso índice é muitas vezes identifica<strong>do</strong> como fonte de contaminação ou infecção.CASO IMPORTADO: caso contraí<strong>do</strong> fora da zona onde se fez o diagnós tico. O emprego dessaexpressão dá a idéia de que é possí vel situar, com certeza, a origem da infecção numa zona conhecida.CASO INDUZIDO: caso de malária que pode ser atribuí<strong>do</strong> a uma transfusão de sangue ou aoutra forma de inoculação parenteral, porém não à transmissão natural pelo mosquito. A inoculaçãopode ser acidental ou deliberada e, neste caso, pode ter objetivos terapêu ticos ou depesquisa.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS797


GlossárioCASO INTRODUZIDO: na terminologia comum, esse nome é da<strong>do</strong> aos casos sintomáticosdiretos, quan<strong>do</strong> se pode provar que os mes mos constituem o primeiro elo da transmissão localapós um caso importa<strong>do</strong> conheci<strong>do</strong>.CASO PRESUNTIVO: pessoa com síndrome clínica compatível com a <strong>do</strong>ença, porém sem confirmaçãolaboratorial <strong>do</strong> agente etiológico. A classificação como caso presuntivo está condicionadaà definição de caso.CASO SUSPEITO: pessoa cuja história clínica, sintomas e possível exposição a uma fonte deinfecção sugerem que possa estar ou vir a desenvolver alguma <strong>do</strong>ença infecciosa.CEPA: população de uma mesma espécie, descendente de um único antepassa<strong>do</strong> ou que tenhaespécie descendente de um único ante passa<strong>do</strong> ou mesma origem, conservada medianteuma série de passagens por hospedeiros ou subculturas adequadas. As cepas de comportamentosemelhante são chamadas “homólogas” e as de comportamento diferente, “heterólogas”. Anteriormente,empregava-se o termo “cepa” de maneira impre cisa, para aludir a um grupo de organismosestreitamente relaciona<strong>do</strong>s entre si e que perpe tuavam suas características em geraçõessucessivas. Ver também CULTURA ISOLADA.CERCÁRIA: forma <strong>do</strong> Schistossoma mansoni, infectante para o ho mem (hospedeiro definitivo).CIRCULAÇÃO COLATERAL: circulação que se instala em órgãos, ou parte deles, através deanastomose (comunicação) <strong>do</strong>s vasos, quan<strong>do</strong> o suprimento sangüíneo original está obstruí<strong>do</strong>ou aboli<strong>do</strong>.CLONE: população de organismos geneticamente idênticos, descen dente de uma única célulapor reprodução assexuada. Nos parasitas da malária obtém-se o clone, em geral, a partir de formaseritrocíti cas, por meio de uma técnica de diluição e cultura in vitro.COORTE: grupo de indivíduos que têm um atributo em comum. Designa também um tipo deestu<strong>do</strong> epidemiológico.COLONIZAÇÃO: propagação de um microrganismo na superfície ou no organismo de umhospedeiro, sem causar agressão celular. Um hospedeiro coloniza<strong>do</strong>r pode atuar como fonte deinfecção.CONGÊNERE: na terminologia química, qualquer substância de um grupo químico cujos componentessejam deriva<strong>do</strong>s da mesma subs tância-mãe, por exemplo, as 4-amino quinaleínas sãocongêneres uma das outras.CONTÁGIO: sinônimo de transmissão direta.CONTAMINAÇÃO: ato ou momento em que uma pessoa ou objeto se converte em veículomecânico de disseminação de determina<strong>do</strong> agente patogênico.CONTATO: pessoa ou animal que teve contato com pessoa ou ani mal infecta<strong>do</strong>, ou com ambientecontamina<strong>do</strong>, crian<strong>do</strong> a oportuni dade de adquirir o agente etiológico.CONTATO EFICIENTE: contato entre um susceptível e uma fonte primária de infecção, em queo agente etiológico é realmente transfe ri<strong>do</strong> dessa para o primeiro.CONTROLE: quan<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong> a <strong>do</strong>enças transmissíveis e não transmissíveis, signi fica operaçõesou programas desenvolvi<strong>do</strong>s com o objetivo de reduzir sua incidência e/ou prevalência aníveis muito baixos.COPROSCOPIA: diagnóstico realiza<strong>do</strong> mediante exame parasitoló gico de fezes.COR-PULMONALE: comprometimento cardíaco decorrente <strong>do</strong> efeito de hipertensão pulmonarsobre o ventrículo direito.CULTURA ISOLADA: amostra de parasitas não necessariamente homogêneos, sob a pers pectiva798 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Glossáriogenética, obti<strong>do</strong>s de um hospedeiro natural e conserva<strong>do</strong>s em laboratório mediante passagenspor outros hospedeiros ou cultura in vitro. Dá-se preferência a esse termo, em lugar de “cepa”, deuso freqüente, mas um tanto impreciso. Ver também CLONE, LINHAGEM e CEPA.CURA RADICAL: eliminação completa de parasitas que se encon tram no organismo, excluídaqualquer possi bilidade de recidivas.DENSIDADE LARVÁRIA: quantidade de larvas para determina<strong>do</strong> denomina<strong>do</strong>r (reci piente,concha, área, imóvel).DENOMINAÇÕES INTERNACIONAIS COMUNS (DIC): nomes co muns de medica mentosaceitos pela Organização Mundial da Saúde e incluí<strong>do</strong>s na lista oficial rubricada por esse organismo.DESINFECÇÃO: destruição de agentes infecciosos que se encontram fora <strong>do</strong> corpo, por meio deexposição direta a agentes químicos ou físicos.DESINFECÇÃO CONCORRENTE: aplicação de medidas desin fetantes o mais rápi<strong>do</strong> possível,após a expulsão de material infec cioso <strong>do</strong> organismo de uma pessoa infectada ou depois que amesma tenha se contamina<strong>do</strong> com o referi<strong>do</strong> material. Reduz ao mí nimo o contato de outrosindivíduos com esse material ou objetos.DESINFECÇÃO TERMINAL: desinfecção feita no local em que es teve um caso clínico ou porta<strong>do</strong>r,ocorren<strong>do</strong>, portanto, depois que a fonte primária de infecção deixou de existir (por morteou por ter se cura<strong>do</strong>) ou depois que aban<strong>do</strong>nou o local. A desinfecção terminal, aplicada raramente,é indicada no caso de <strong>do</strong>enças transmitidas por contato indireto.DESINFESTAÇÃO: destruição de metazoários, especialmente artró podes e roe<strong>do</strong>res, com finalidadesprofiláticas.DISPONIBILIDADE BIOLÓGICA: velocidade e grau de absorção de um medicamento, a partirde um prepara<strong>do</strong> farmacêutico, determi na<strong>do</strong>s por sua curva de concentração/tempo na circulaçãogeral ou por sua excreção na urina.DISSEMINAÇÃO POR FONTE COMUM: disseminação <strong>do</strong> agente de uma <strong>do</strong>ença, a partir daexposição de um determina<strong>do</strong> número de pessoas, num certo espaço de tempo, a um veículocomum. Exemplo: água, alimentos, ar, seringas contaminadas.DIMORFISMO: propriedade de existir em duas diferentes formas estruturais.DOENÇA TRANSMISSÍVEL (<strong>do</strong>ença infecciosa): <strong>do</strong>ença causada por um agente infecciosoespecífico ou pela toxina por ele produzida, por meio da transmissão desse agente ou de seuproduto, tóxico a partir de uma pessoa ou animal infecta<strong>do</strong>, ou ainda de um reservató rio paraum hospedeiro susceptível, quer direta ou indiretamente inter media<strong>do</strong> por vetor ou ambiente.DOENÇAS QUARENTENÁRIAS: <strong>do</strong>enças de grande transmissibili dade, em geral graves, querequerem notificação internacional imedi ata à Organização Mundial da Saúde, isola mento rigorosode casos clínicos e quarentena <strong>do</strong>s comunicantes, além de outras medidas de profilaxia como intuito de evitar sua introdução em regiões até então indenes. Entre as <strong>do</strong>enças quarentenáriasencontram-se a cólera, febre amarela e tifo exantemático.DOSE DE REFORÇO: quantidade de antígeno administrada com o fim de manter ou reavivar aresistência conferida pela imuni zação.ECOLOGIA: estu<strong>do</strong> das relações entre seres vivos e seu ambiente. “Ecologia humana” diz respeitoao estu<strong>do</strong> de grupos humanos, em face da influência de fatores ambientais, incluin<strong>do</strong> muitasvezes fatores sociais e <strong>do</strong> comportamento.ECOSSISTEMA: conjunto constituí<strong>do</strong> pela biota e o ambiente não vivo, que interagem em determinadaregião.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS799


GlossárioEFEITOS DELETÉRIOS DOS MEDICAMENTOS: inclui to<strong>do</strong>s os efeitos não deseja<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>snos seres humanos como resulta<strong>do</strong> da administração de um medicamento. Segun<strong>do</strong>Rasenhein (1958), em geral pode-se classificar esses efeitos em: a) efeitos tóxicos: introduzi<strong>do</strong>spor <strong>do</strong>ses excessivas, quer seja por única <strong>do</strong>se grande ou pela acumulação de várias <strong>do</strong>ses <strong>do</strong>medicamento; b) efeitos colaterais: terapeuticamente inconvenientes, mas conse qüência inevitávelda medicação (por exemplo, náuseas e vômitos, após ingerir cloroquina em jejum, ou quedade pressão, após injeção en<strong>do</strong>venosa de quinina); c) efeitos secundários: surgem indiretamentecomo resulta<strong>do</strong> da ação de um medicamento (por exemplo, a monilíase em pacientes submeti<strong>do</strong>sa tratamento prolonga<strong>do</strong> com a tetraciclina); d) intolerância: diminuição <strong>do</strong> limite de sensibilidadeà ação fisiológica normal de um medicamento (por exemplo, enjôo, surdez, visão embaraçadaque alguns pacientes sofrem ao receber uma <strong>do</strong>se normal de quinina); e) idiossincra sia:reação qualitativamente anormal de um medicamento (por exemplo, a hemólise que ocorre emalguns pacientes após a admi nis tração de primaquina); f) hipersensibilidade por reação alér gica:resposta imunológica anormal após sensibilização provo cada por um medicamento (por exemplo,alergia à penicilina).ELIMINAÇÃO: vide ERRADICAÇÃO.ENDEMIA: presença contínua de uma enfermidade, ou agente infeccioso, em uma zona geográficadeterminada; pode tam bém expressar a prevalência usual de uma <strong>do</strong>ença particular numazona geográfica. O termo hiperendemia significa a transmissão in tensa e persistente, atingin<strong>do</strong>todas as faixas etárias; e holoendemia, um nível eleva<strong>do</strong> de infecção que começa a partir deuma idade pre coce e afeta a maior parte da população jovem, como, por exemplo, a malária emalgumas regiões <strong>do</strong> globo.ENDOTOXINA: toxina encontrada no interior da célula bacteriana, mas não em filtra<strong>do</strong>s livresde células de bactéria. As en<strong>do</strong>toxinas são liberadas pela bactéria quan<strong>do</strong> sua célula se rompe.ENZOOTIA: presença constante, ou prevalência usual da <strong>do</strong>ença ou agente infeccioso, na populaçãoanimal de dada área geográfica.EPIDEMIA: manifestação, em uma coletividade ou região, de um corpo de casos de alguma enfermidadeque excede claramente a incidência prevista. O número de casos, que indica a existênciade uma epidemia, varia com o agente infeccioso, o tamanho e as carac terísticas da populaçãoexposta, sua experiência prévia ou falta de exposição à enfermidade e local e época <strong>do</strong> ano emque ocorre. Por decorrência, a epidemia guarda relação com a freqüência co mum da enfermidadena mesma região, na população especificada e na mesma estação <strong>do</strong> ano. O aparecimento deum único caso de <strong>do</strong>ença transmissível, que durante um lapso de tempo prolonga<strong>do</strong> não haviaafeta<strong>do</strong> uma população ou que invade pela primeira vez uma região, requer notificação imediatae uma completa investi gação de campo; <strong>do</strong>is casos dessa <strong>do</strong>ença, associa<strong>do</strong>s no tempo ou espaço,podem ser evidência suficiente de uma epidemia.EPIDEMIA POR FONTE COMUM (epidemia maciça ou epidemia por veículo comum): epidemiaem que aparecem muitos casos clínicos, dentro de um intervalo igual ao perío<strong>do</strong> de incubaçãoclínica da <strong>do</strong>ença, o que sugere a exposição simultânea (ou quase simultâ nea) de muitaspessoas ao agente etiológico. O exemplo típico é o das epidemias de origem hídrica.EPIDEMIA PROGRESSIVA (epidemia por fonte propagada): epi demia na qual as infecções sãotransmitidas de pessoa a pessoa ou de animal, de mo<strong>do</strong> que os casos identifica<strong>do</strong>s não podemser atri buí<strong>do</strong>s a agentes transmiti<strong>do</strong>s a partir de uma única fonte.EPIGASTRALGIA: <strong>do</strong>r na região <strong>do</strong> epigástrio (ab<strong>do</strong>me), que corres ponde à localização <strong>do</strong>estômago.EPIZOOTIA: ocorrência de casos, de natureza similar, em população animal de uma área geográficaparticular, que se apresenta clara mente em excesso em relação à incidência normal.800 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


GlossárioEQUIVALÊNCIA TERAPÊUTICA: característica de diferentes produ tos farmacêuticos que,quan<strong>do</strong> administra<strong>do</strong>s em um mesmo regime, apresentam resulta<strong>do</strong>s com o mesmo grau deeficácia e/ou toxici dade.ERRADICAÇÃO: cessação de toda a transmissão da infecção, pela extinção artificial da espécie<strong>do</strong> agente em questão. A erradicação pressupõe a ausência completa de risco de reintrodução da<strong>do</strong>ença, de forma a permitir a suspensão de toda e qualquer medida de pre venção ou controle.A erradicação regional ou eliminação é a cessa ção da transmissão de determinada infecção, emampla região geo gráfica ou jurisdição política.ESPLENOMEGALIA: aumento <strong>do</strong> volume <strong>do</strong> baço.ESTRUTURA EPIDEMIOLÓGICA: conjunto de fatores relativos ao agente etiológico, hospedeiroe meio ambiente, que influi sobre a ocorrência natural de uma <strong>do</strong>ença em uma comunidade.EXOTOXINA: toxina produzida por uma bactéria, e por ela liberada, no meio de cultura ou nohospedeiro, conseqüentemente encontrada em filtra<strong>do</strong>s livres de célula e em culturas de bactériaintacta.FAGÓCITO: célula que engloba e destrói partículas estranhas ou microrganismos, por digestão.FAGOTIPAGEM: caracterização de uma bactéria, pela identificação de sua susceptibilidade adetermina<strong>do</strong>s bacteriófagos. É uma técnica de caracterização de uma cepa.FALÊNCIA: persistência da positividade <strong>do</strong> escarro ao final <strong>do</strong> trata mento. Os <strong>do</strong>entes que, noinício <strong>do</strong> tratamento, são fortemente positi vos (++ ou +++) e mantêm essa situação até o 4º mêssão também classifica<strong>do</strong>s como caso de falência.FARMACODINÂMICA: estu<strong>do</strong> da variação individual e coletiva, isto é, étnica, relacionada comfatores genéticos, da absorção e metabo lismo <strong>do</strong>s medicamentos e resposta <strong>do</strong> organismo aosmesmos.FARMACOTÉCNICA: ramo da ciência que estuda a absorção, distri buição, metabolismo e excreção<strong>do</strong>s medicamentos.FEBRE HEMOGLOBINÚRICA: síndrome caracterizada por hemólise intravascular aguda e hemoglobinúrica,muitas vezes acompanhada de insuficiência renal. A febre é uma das características<strong>do</strong> processo relaciona<strong>do</strong> à infecção por Plasmodium falciparum.FENÔMENO DE INTERFERÊNCIA: esta<strong>do</strong> de resistência temporária a infecções por vírus.Resistência induzida por uma infecção viral existente atribuída, em parte, ao Interferon.FIBROSE HEPÁTICA: crescimento <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> conjuntivo em nível he pático, decorrente de lesõesocasionadas pela presença de ovos ou outros antígenos <strong>do</strong> Schistosoma, na vascula rização <strong>do</strong>fíga<strong>do</strong>. É a lesão hepática característica da forma crônica de esquistos somose.FITONOSE: infecção transmissível ao homem, cujo agente tem ve getais como reser va tó rios.FOCO NATURAL: pequeno território, compreenden<strong>do</strong> uma ou várias paisagens, onde a circulação<strong>do</strong> agente causal estabeleceu-se numa biogecenose, por um tempo indefinidamente longo,sem sua importação de outra região. O foco natural é uma entidade natural, cujos limites podemser demarca<strong>do</strong>s em um mapa.FOCO ARTIFICIAL: <strong>do</strong>ença transmissível que se instala em condi ções propiciadas pela atividadeantrópica.FÔMITES: objetos de uso pessoal <strong>do</strong> caso clínico ou porta<strong>do</strong>r, que podem estar contamina<strong>do</strong>s etransmitir agentes infecciosos e cujo controle é feito por meio da desinfecção.FONTE DE INFECÇÃO: pessoa, animal, objeto ou substância a partir <strong>do</strong> qual o agente é transmiti<strong>do</strong>para o hospedeiro.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS801


GlossárioFONTE PRIMÁRIA DE INFECÇÃO (reservatório): homem ou ani mal e, raramente, o solo ouvegetais, responsável pela sobrevivência de determinada espécie de agente etiológico na natureza.No caso <strong>do</strong>s parasitas heteroxenos, o hospedeiro mais evoluí<strong>do</strong> (que geralmente é também odefinitivo) é denomina<strong>do</strong> fonte primária de infecção; e o hospedeiro menos evoluí<strong>do</strong> (em geralhos pedeiro intermediário) é chama<strong>do</strong> vetor biológico.FONTE SECUNDÁRIA DE INFECÇÃO: ser anima<strong>do</strong> ou inanima<strong>do</strong> que transporta determina<strong>do</strong>agente etiológico, não sen<strong>do</strong> o prin cipal responsável pela sobrevivência desse como espécie.Esta ex pressão é substituída, com vantagem, pelo termo “veículo”.FREQÜÊNCIA (ocorrência): termo genérico, utiliza<strong>do</strong> em epi demiologia para descrever a freqüênciade uma <strong>do</strong>ença ou de outro atributo ou evento identifica<strong>do</strong> na população, sem fazerdistinção entre incidência ou prevalência.FUMIGAÇÃO: aplicação de substâncias gasosas capazes de destruir a vida animal, especialmenteinsetos e roe<strong>do</strong>res.GAMETÓFARO: refere-se ao indivíduo porta<strong>do</strong>r das formas sexuadas <strong>do</strong> parasita (gametas).GOTÍCULAS DE FLÜGGE: secreções oronasais de mais de 100 micras de diâmetro, que transmitemagentes infecciosos de maneira direta mediata.HEMATÊMESE: vômito no sangue.HEPATOMEGALIA: aumento de volume <strong>do</strong> fíga<strong>do</strong>.HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA: descrição que inclui as caracte rísticas das funções deinfecção, distribuição da <strong>do</strong>ença segun<strong>do</strong> os atributos de pessoas, tempo e espaço, distribuiçãoe características ecológicas <strong>do</strong>(s) reservatório(s) <strong>do</strong> agente; mecanismos de transmis são e efeitosda <strong>do</strong>ença sobre o homem.HOLOMETABÓLICO: animais que apresentam metamorfose com pleta (ex: ovo, larva, pulpa,adulto).HOSPEDEIRO: organismo simples ou complexo, incluin<strong>do</strong> o homem, capaz de ser infecta<strong>do</strong>por um agente específico.HOSPEDEIRO DEFINITIVO: apresenta o parasita em fase de maturidade ou de atividade sexual.HOSPEDEIRO INTERMEDIÁRIO: apresenta o parasita em fase larvária ou assexuada.IMUNIDADE: resistência, usualmente associada à presença de anti corpos que têm o efeito deinibir microrganismos específicos ou suas toxinas, responsáveis por <strong>do</strong>enças infecciosas particulares.IMUNIDADE ATIVA: imunidade adquirida naturalmente pela infec ção, com ou sem manifestaçõesclínicas, ou artificialmente pela ino culação de frações ou produtos de agentes infecciosos,ou <strong>do</strong> próprio agente morto, modifica<strong>do</strong> ou de forma variante.IMUNIDADE DE REBANHO: resistência de um grupo ou população à introdução e disseminaçãode um agente infeccioso. Essa resistência é baseada na elevada proporção de indivíduosimunes, entre os membros desse grupo ou população, e na uniforme distri buição des ses indivíduosimunes.IMUNIDADE PASSIVA: imunidade adquirida naturalmente da mãe, ou artificialmente pelainoculação de anticorpos protetores específi cos (soro imune de convalescentes ou imunoglobulinasérica). A imunidade passiva é pouco dura<strong>do</strong>ura.IMUNODEFICIÊNCIA: ausência de capacidade para produzir anticor pos em resposta a umantígeno.802 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


GlossárioIMUNOGLOBULINA: solução estéril de globulinas que contêm aqueles anticorpos normalmentepresentes no sangue <strong>do</strong> adulto.IMUNOPROFILAXIA: prevenção da <strong>do</strong>ença através da imunidade conferida pela administraçãode vacinas ou soros a uma pessoa ou animal.INCIDÊNCIA: número de casos novos de uma <strong>do</strong>ença, ocorri<strong>do</strong>s em uma população particular,durante um perío<strong>do</strong> específico de tempo.ÍNDICE DE BRETEAU: número de recipientes, habita<strong>do</strong>s por formas imaturas de mosqui tos,em relação ao número de casas examinadas para o encontro de cria<strong>do</strong>uros.INFECÇÃO: penetração, alojamento e, em geral, multiplicação de um agente etiológico anima<strong>do</strong>no organismo de um hospedeiro, produ zin<strong>do</strong>-lhe danos, com ou sem aparecimento desintomas clinicamente reconhecíveis. Em essência, a infecção é uma competição vital entre umagente etiológico anima<strong>do</strong> (parasita “sensu latu”) e um hospe deiro; é, portanto, uma luta pelasobrevivência entre <strong>do</strong>is seres vivos, que visam a manutenção de sua espécie.INFECÇÃO APARENTE (<strong>do</strong>ença): desenvolve-se acompanhada de sinais e sintomas clínicos.INFECÇÃO HOSPITALAR: desenvolve-se em paci ente hospitaliza<strong>do</strong> ou atendi<strong>do</strong> em outroserviço de assistência, que não padecia nem estava incuban<strong>do</strong> a <strong>do</strong>ença no momento da hospitalização.Pode manifestar-se, também, como efeito residual de infecção adquirida durante hospitalizaçãoanterior, ou ainda mani festar-se somente após a alta hospitalar. Abrange igualmenteas infecções adquiridas no ambiente hospitalar, acometen<strong>do</strong> visitantes ou sua própria equipe.INFECÇÃO INAPARENTE: cursa na ausência de sinais e sintomas clínicos perceptíveis.INFECTANTE: aquele que pode causar uma infecção; aplica-se, geralmente, ao parasita (porexemplo, o gametócito, o esporozoíto).INFECTIVIDADE: capacidade <strong>do</strong> agente etiológico se alojar e multi plicar-se no corpo <strong>do</strong> hospedeiro.INFESTAÇÃO: entende-se por infestação de pessoas ou animais o alojamento, desen vol vimentoe reprodução de artrópodes na superfí cie <strong>do</strong> corpo ou nas roupas. Os objetos ou locais infesta<strong>do</strong>ssão os que albergam ou servem de alojamento a animais, especialmente artrópodes e roe<strong>do</strong>res.INFLAMAÇÃO: resposta normal <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> à agressão celular por material estranho; caracteriza-sepela dilatação de capilares e mobili zação de defesas celulares (leucócitos e fagócitos).INQUÉRITO EPIDEMIOLÓGICO: levantamento epidemiológico feito por coleta ocasional deda<strong>do</strong>s, quase sempre por amostra gem, que fornece da<strong>do</strong>s sobre a prevalência de casos clínicosou porta<strong>do</strong>res em determinada comunidade.INTERAÇÃO FARMACOLÓGICA: alteração <strong>do</strong> efeito farmacológico de um medicamento administra<strong>do</strong>simultaneamente com outro.INTERFERON: proteína de baixo peso molecular, produzida por cé lulas infectadas por vírus.Tem a propriedade de bloquear as células sadias da infecção viral, supri min<strong>do</strong> a multiplicaçãoviral nas células já infectadas; é ativo contra amplo es pectro de vírus.INVASIBILIDADE: capacidade de um microrganismo entrar no corpo e se disse mi nar através<strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s. Essa disseminação pode ou não resultar em infecção ou <strong>do</strong>ença.INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DE CAMPO (classicamente conhecida por investigaçãoepidemiológica): estu<strong>do</strong>s efetua<strong>do</strong>s a partir de casos clínicos, ou de porta<strong>do</strong>res, para a identificaçãodas fontes de infecção e mo<strong>do</strong>s de transmissão <strong>do</strong> agente. Pode ser realizada quan<strong>do</strong> decasos esporádicos ou surtos.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS803


GlossárioISOLAMENTO: segregação de um caso clínico <strong>do</strong> convívio das ou tras pessoas, durante o perío<strong>do</strong>de transmissibilidade, visan<strong>do</strong> evitar que os susceptíveis sejam infecta<strong>do</strong>s. Em certos casos,o isolamento pode ser <strong>do</strong>miciliar ou hospitalar; em geral, é preferível esse último, por ser maiseficiente.ISOMETRIA: fenômeno presente nos compostos químicos de idên tica fórmula mole cular, masde estrutura molecular diferente. As substâncias que compartilham essas carac te rísticas chamam-seisômeros. Nos deriva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> núcleo benzênico, a isomeria geométrica e a isomeria óticadependem da distribuição espacial das quatro ligações <strong>do</strong> átomo de carbono.JANELA IMUNOLÓGICA: intervalo entre o início da infecção e a possibilidade de detecção deanticorpos, por meio de técnicas labora toriais.LATÊNCIA: perío<strong>do</strong>, na evolução clínica de uma <strong>do</strong>ença parasitária, no qual os sintomas desaparecem,apesar de o hospedeiro estar ainda infecta<strong>do</strong>, e de já ter sofri<strong>do</strong> o ataque primário, ouuma ou vá rias recaídas. Terminologia freqüentemente utilizada em relação à malária.LARVITRAMPAS: recipiente com água, onde se observam as larvas <strong>do</strong>s mosquitos após aeclosão.LINHAGEM: população de parasitas, submetida a determinadas pas sagens no laboratório, emgeral de uma seleção especial (seja natu ral ou experimental), de acor<strong>do</strong> com uma característicaespecífica (por exemplo, farmacorresistência). Ver também CEPA.MALACOLOGIA: estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> caramujo.MIRACÍDIO: forma <strong>do</strong> Schistosoma mansoni, infectante para o cara mujo.MONITORAMENTO ENTOMOLÓGICO: acompanhar, analisar e avaliar a condição entomológicade determinada área.MONITORIZAÇÃO: abrange, segun<strong>do</strong> John M. Last, três campos de atividade: a) elabo ração eanálise de mensurações rotineiras, vi san<strong>do</strong> detectar mudanças no ambiente ou esta<strong>do</strong> de saúdeda comunidade. Não deve ser confundida com vigilância. Para alguns estudiosos, monitorizaçãoimplica em intervenção à luz das mensu rações observadas; b) contínua mensuração <strong>do</strong>desempenho <strong>do</strong> serviço de saúde ou de profissionais de saúde, ou <strong>do</strong> grau com que os pacientesconcordam com ou aderem às suas recomendações; c) na ótica da administração, a contínuasupervisão da implementação de uma atividade com o objetivo de assegurar que a liberação <strong>do</strong>srecursos, esquemas de trabalho, objetivos a serem atingi<strong>do</strong>s e outras ações necessárias estejamsen<strong>do</strong> processa<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com o planeja<strong>do</strong>.NICHO OU FOCO NATURAL: quan<strong>do</strong> o agente patogênico, o vetor específico e o animal hospedeiroexistirem sob condições naturais, durante muitas gerações, num tempo inde fi ni<strong>do</strong>, independenteda existência <strong>do</strong> homem.NÚCLEO DE WELLS: secreções oronasais de menos de 100 micra de diâmetro, que transmitemagentes infecciosos de maneira indireta, por meio <strong>do</strong> ar, onde flutuam durante intervalo detempo mais ou menos longo.OPORTUNISTA: organismo que, viven<strong>do</strong> normalmente como co mensal ou de vida livre, passaa atuar como parasita, geralmente em decorrência da redução da resistência natural <strong>do</strong> hospedeiro.ORGANOFOSFORADO: grupo de produtos químicos utiliza<strong>do</strong>s como inseticida.OVIPOSIÇÃO: ato <strong>do</strong> inseto fêmea por ovos.OVITRAMPAS: recipiente onde as fêmeas de mosquitos fazem oviposição e onde se pode observaros ovos.804 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


GlossárioOVOS VIÁVEIS: ovos que contém o miracídio capaz de viver.PANDEMIA: epidemia de uma <strong>do</strong>ença que afeta pessoas em muitos países e continentes.PARASITA: organismo, geralmente microrganismo, cuja existência ocorre à expensa de um hospedeiro.Entretanto, não é obrigatoria mente nocivo a seu hospedeiro. Existem parasitas obrigatóriose facultativos; os primeiros sobrevivem somente na forma parasitária e os últimos podemter uma existência independente.PARASITAS HETEROXENOS: necessitam de <strong>do</strong>is tipos diferentes de hospe deiros para suacompleta evolução: o hospedeiro definitivo e o intermediário.PARASITAS MONOXENOS: necessitam de um só hospedeiro para a sua completa evo lução.PASTEURIZAÇÃO: desinfecção <strong>do</strong> leite, feita pelo aquecimento a 63º-65ºC, durante 30 minutos(ou a 73º-75ºC, durante 15 minutos), bai xan<strong>do</strong> a temperatura imediatamente para 20º a 50ºC.PATOGENICIDADE: capacidade de um agente biológico causar <strong>do</strong>ença em um hospedeiro susceptível.PATÓGENO: agente biológico capaz de causar <strong>do</strong>enças.PERÍODO DE INCUBAÇÃO: intervalo entre a exposição efetiva <strong>do</strong> hospedeiro susceptível aum agente biológico e o início <strong>do</strong>s sinais e sintomas clínicos da <strong>do</strong>ença no mesmo.PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE: intervalo de tempo durante o qual uma pessoa ou animalinfecta<strong>do</strong> elimina um agente biológico para o meio ambiente ou para o organismo de umvetor hematófago, sen<strong>do</strong> possível, portanto, a sua transmissão a outro hospedeiro.PERÍODO DE LATÊNCIA: intervalo entre a exposição a agentes patológicos e início <strong>do</strong>s sinaise sintomas da <strong>do</strong>ença.PERÍODO PRODRÔMICO: lapso de tempo entre os primeiros sintomas da <strong>do</strong>ença e o início<strong>do</strong>s sinais ou sintomas, que baseia o estabelecimento <strong>do</strong> diagnóstico.PESCA LARVA: coa<strong>do</strong>r confecciona<strong>do</strong> em teci<strong>do</strong> de filó, usa<strong>do</strong> para retirar larva <strong>do</strong>s depósitos.PIRETRÍODE: grupo de produtos químicos utiliza<strong>do</strong> como inseticida.PODER IMUNOGÊNICO (imunogenicidade): capacidade de o agente biológico estimular aresposta imune no hospedeiro; conforme as características desse agente, a imunidade obtidapode ser de curta ou longa duração e de grau eleva<strong>do</strong> ou baixo.PORTADOR: pessoa ou animal que não apresenta sintomas clinica mente reconhecíveis de determinada<strong>do</strong>ença transmissível ao ser examina<strong>do</strong>, mas que está albergan<strong>do</strong> o agente etiológicorespec tivo. Em saúde pública, têm mais importância os porta<strong>do</strong>res que os casos clínicos, porque,muito freqüentemente, a infecção passa des percebida nos primeiros. Os que apresentamrealmente importância são os porta<strong>do</strong>res eficientes, assim, na prática, o termo “porta<strong>do</strong>r” quasesempre se refere aos porta<strong>do</strong>res eficientes.PORTADOR ATIVO: porta<strong>do</strong>r que teve sintomas, mas que, em de termina<strong>do</strong> momento, não osapresenta.PORTADOR ATIVO CONVALESCENTE: porta<strong>do</strong>r durante e após a convalescença. Tipo comumna febre tifóide e na difteria.PORTADOR ATIVO CRÔNICO: pessoa ou animal que continua a albergar o agente etio lógico,muito tempo após ter ti<strong>do</strong> a <strong>do</strong>ença. O momento em que o porta<strong>do</strong>r ativo convalescente passa acrônico é estabeleci<strong>do</strong> arbitrariamente para cada <strong>do</strong>ença. No caso da febre tifóide, por exemplo,o porta<strong>do</strong>r é considera<strong>do</strong> como ativo crônico quan<strong>do</strong> alberga a Salmonella typhi por mais de umano após ter esta<strong>do</strong> <strong>do</strong>ente.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS805


GlossárioPORTADOR ATIVO INCUBADO OU PRECOCE: porta<strong>do</strong>r durante o perío<strong>do</strong> de incu baçãoclínica de uma <strong>do</strong>ença.PORTADOR EFICIENTE: porta<strong>do</strong>r que elimina o agente etiológico para o meio exterior oupara o organismo de um vetor hematófago, ou que possibilita a infecção de novos hospedeiros.Essa eliminação pode ser feita de maneira contínua ou de mo<strong>do</strong> intermitente.PORTADOR INEFICIENTE: porta<strong>do</strong>r que não elimina o agente etio lógico para o meio exterior,não representan<strong>do</strong>, portanto, perigo para a comunidade no senti<strong>do</strong> de disse minar esse microrganismo.PORTADOR PASSIVO (porta<strong>do</strong>r aparentemente são): porta<strong>do</strong>r que nunca apresentou sintomasde determinada <strong>do</strong>ença transmissí vel, não os está apresentan<strong>do</strong> e não os apresen ta rá no futuro;so mente pode ser descoberto por meio de exames labo ratoriais adequa<strong>do</strong>s.PORTADOR PASSIVO CRÔNICO: porta<strong>do</strong>r passivo que alberga um agente etiológico por longoperío<strong>do</strong> de tempo.PORTADOR PASSIVO TEMPORÁRIO: porta<strong>do</strong>r passivo que alberga um agente etiológico durantepouco tempo; a distinção entre o porta <strong>do</strong>r passivo crônico e o temporário é estabe lecidaarbitrariamente para cada agente etiológico.POSTULADOS DE EVANS: a expansão <strong>do</strong> conhecimento biomédico levou à revisão <strong>do</strong>s postula<strong>do</strong>sde Koch. Em 1976, Alfred Evans elaborou os seguintes postula<strong>do</strong>s, com base naquelesidealiza<strong>do</strong>s por Koch:• A prevalência da <strong>do</strong>ença deve ser significativamente mais alta entre os expostos à causasuspeita <strong>do</strong> que entre os controles não expostos;• A exposição à causa suspeita deve ser mais freqüente entre os atingi<strong>do</strong>s pela <strong>do</strong>en ça <strong>do</strong>que o grupo de controle que não a apre senta, manten<strong>do</strong>-se constantes os demais fatoresde risco;• A incidência da <strong>do</strong>ença deve ser significantemente mais elevada entre os expostos à causasuspeita <strong>do</strong> que entre aqueles não ex postos. Tal fato deve ser demonstra<strong>do</strong> em estu<strong>do</strong>sprospectivos;• A exposição ao agente causal suspeito deve ser seguida de <strong>do</strong> ença, enquanto a distribuição<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de incubação deve apresentar uma curva normal;• Um espectro da resposta <strong>do</strong> hospedeiro deve seguir a exposição ao provável agente, numgradiente biológico que vai <strong>do</strong> benigno ao grave;• Uma resposta mensurável <strong>do</strong> hospedeiro, até então inexistente, tem alta proba bilidadede aparecer após a exposição ao provável agente, ou aumentar em magnitude se presenteanteriormente. Esse padrão de resposta deve ocorrer infre qüentemente em pes soas poucoexpostas;• A reprodução experimental da <strong>do</strong>ença deve ocorrer mais fre qüentemente em ani mais ouno homem, adequadamente exposta à provável causa <strong>do</strong> que naqueles não expostos. Essaexposição pode ser deliberada em voluntários; experimental mente induzida em laboratório,ou pode representar um parâmetro da expo sição natural;• A eliminação ou modificação da causa provável deve diminuir a incidência da <strong>do</strong>ença;• A prevenção ou modificação da resposta <strong>do</strong> hospedeiro em face da exposição à causaprovável, deve diminuir a incidência ou eliminar a <strong>do</strong>ença;• Todas as associações ou acha<strong>do</strong>s devem apresentar consistência com os conhe cimentosnos campos da biologia e da epidemiologia.POSTULADOS DE KOCH: originalmente formula<strong>do</strong>s por Henle e adapta<strong>do</strong>s por Robert Koch,em 1877. Koch afirmava que quatro pos tula<strong>do</strong>s deveriam ser previamente observa<strong>do</strong>s para quese pudesse aceitar uma relação causal entre um particular microrganismo ou parasita e uma<strong>do</strong>ença, a saber:806 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Glossário• O agente biológico deve ser demonstra<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s os casos da <strong>do</strong>ença, por meio de seuisolamento em cultura pura;• O agente biológico não deve ser encontra<strong>do</strong> em outras <strong>do</strong>enças;• Uma vez isola<strong>do</strong>, o agente deve ser capaz de reproduzir a <strong>do</strong>ença em animais de experimento;• O agente biológico deve ser recupera<strong>do</strong> da <strong>do</strong>ença experimental mente produzida.PREVALÊNCIA: número de casos clínicos ou de porta<strong>do</strong>res existen tes em um determina<strong>do</strong>momento, em uma comunidade, dan<strong>do</strong> uma idéia estática da ocorrência <strong>do</strong> fenômeno. Pode serexpressa em números absolutos ou em coeficientes.PRÓDROMOS: sintomas indicativos <strong>do</strong> início de uma <strong>do</strong>ença.PROFILAXIA: conjunto de medidas que têm por finalidade prevenir ou atenuar as <strong>do</strong>enças, suascomplicações e conseqüências. Quan<strong>do</strong> a profilaxia basear-se no emprego de medi camentos,trata-se da quimioprofilaxia.PUÇÁ DE FILÓ: instrumento, na forma de grande coa<strong>do</strong>r, utiliza<strong>do</strong> para a captura de mos quitoadulto.QUARENTENA: isolamento de indivíduos ou animais sadios pelo perío<strong>do</strong> máximo de incubaçãoda <strong>do</strong>ença, conta<strong>do</strong> a partir da data <strong>do</strong> último contato com um caso clínico ou porta<strong>do</strong>rou da data em que esse comunicante sadio aban<strong>do</strong>nou o local em que se encontrava a fonte deinfecção. Na prática, a quarentena é aplicada no caso das <strong>do</strong>enças quarentenárias.QUIMIOPROFILAXIA: administração de uma droga, incluin<strong>do</strong> antibi óticos, para preveniruma infecção ou a progressão de uma infecção com manifestações da <strong>do</strong>ença.QUIMIOTERAPIA: uso de uma droga com o objetivo de tratar uma <strong>do</strong>ença clinicamente reconhecívelou de eliminar seu progresso.RECAÍDA: reaparecimento ou recrudescimento <strong>do</strong>s sintomas de uma <strong>do</strong>ença, antes <strong>do</strong> <strong>do</strong>enteapresentar-se completamente cura<strong>do</strong>. No caso da malária, recaída significa nova aparição desintomas depois <strong>do</strong> ataque primário.RECIDIVA: reaparecimento <strong>do</strong> processo mórbi<strong>do</strong> após sua cura apa rente. No caso da malária,recidiva significa recaída na infecção ma lárica entre a 8ª e a 24ª semanas posteriores ao ataqueprimário. Na tuberculose, significa o aparecimento de positividade no escarro, em <strong>do</strong>is examessucessivos, após a cura.RECORRENTE: esta<strong>do</strong> patológico que evolui através de recaídas sucessivas. No caso da malária,recorrência significa recaída na infecção malárica depois de 24 semanas posteriores ao ataqueprimário.RECRUDESCÊNCIA: exacerbação das manifestações clínicas ou anatômicas de um proces somórbi<strong>do</strong>. No caso da malária, recrudes cência é a recaída na infecção malárica nas pri meiras 8semanas posteriores ao ataque primário.REPASTO: ato <strong>do</strong> inseto alimentar-se diretamente <strong>do</strong> animal.RESERVATÓRIO DE AGENTES INFECCIOSOS (fonte primária de infecção): qualquer ser humano,animal, artrópode, planta, solo, matéria ou uma combinação deles, no qual normalmentevive e se multiplica um agente infeccioso, que depende desse meio para sua sobrevivên cia, reproduzin<strong>do</strong>-sede mo<strong>do</strong> tal que pode ser transmiti<strong>do</strong> a um hospedeiro susceptível.RESISTÊNCIA: conjunto de mecanismos específicos e inespecíficos <strong>do</strong> organismo que serve dedefesa contra a invasão ou multiplica ção de agentes infecciosos ou contra os efeitos nocivos deseus produtos tóxicos. Os mecanismos específicos constituem a imuni dade; os inespecíficos, aresistência inerente ou natural.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS807


GlossárioRESISTÊNCIA INERENTE (resistência natural): capacidade de resistir a uma enfer midade,independente de anticorpos ou da res posta específica <strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s. Geralmente, depende dascaracterísticas anatômicas ou fisiológicas <strong>do</strong> hospedeiro, poden<strong>do</strong> ser genética ou adquirida,permanente ou temporária.SANEAMENTO DOMICILIAR: conjunto de ações que visa à melhoria <strong>do</strong> abastecimento d’água,esgotamento sanitário, manejo e destino adequa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s resíduos sóli<strong>do</strong>s no <strong>do</strong>mi cílio.SEPTICEMIA: presença de microrganismo patogênico, ou de suas toxinas, no sangue ou emoutros teci<strong>do</strong>s.SINAL: evidência objetiva de <strong>do</strong>ença.SÍNDROME: conjunto de sintomas e sinais que tipificam uma deter minada <strong>do</strong>ença.SINERGISMO: ação combinada de <strong>do</strong>is ou mais medicamentos que produzem um efeito biológico,cujo resulta<strong>do</strong> pode ser simplesmente a soma <strong>do</strong>s efeitos de cada composto ou um efeitototal superior a essa soma. Quan<strong>do</strong> um medicamento aumenta a ação de outro, diz-se que existepotencialização. Esse termo é muitas vezes utiliza<strong>do</strong> de forma pouco precisa para descrever ofenômeno de sinergismo, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong>is compostos atuam sobre diferentes locais receptores <strong>do</strong>agente patogênico. O caso oposto é representa<strong>do</strong> pelo antagonismo, fenômeno pelo qual as açõesconjuntas de <strong>do</strong>is ou mais compostos resultam em diminuição <strong>do</strong> efeito farmacológico.SINTOMA: evidência subjetiva de <strong>do</strong>ença.SOROEPIDEMIOLOGIA: estu<strong>do</strong> epidemiológico ou atividade base ada na identificação, combase em testes sorológicos, de mudanças nos níveis de anticorpos específicos de uma população.Esse méto<strong>do</strong> permite não só a identificação de casos clínicos mas também os esta<strong>do</strong>s de porta<strong>do</strong>re as infecções latentes ou subclínicas.SOROTIPO: caracterização de um microrganismo pela identificação de seus antígenos.SURTO EPIDÊMICO: ocorrência de <strong>do</strong>is ou mais casos epidemiolo gicamente relacio na<strong>do</strong>s.SUSCEPTÍVEL: qualquer pessoa ou animal que supostamente não possui resistência sufi cientecontra um determina<strong>do</strong> agente patogê nico, que o proteja da enfermidade caso venha a entrarem contato com o agente.TAXA DE ATAQUE: taxa de incidência acumulada, usada freqüentemente para grupos particulares,observa<strong>do</strong>s por perío<strong>do</strong>s limita<strong>do</strong>s de tempo e em condições especiais, como em umaepide mia. As taxas de ataque são usualmente expressas em porcentagem.TAXA DE ATAQUE SECUNDÁRIO: medida de freqüência de casos novos de uma <strong>do</strong>ença,entre contatos próximos de casos co nheci<strong>do</strong>s, ocorren<strong>do</strong> dentro de um perío<strong>do</strong> de incubaçãoaceito, após exposição ao caso índice. Essa taxa é freqüentemente calculada para contatos <strong>do</strong>miciliares.TAXA (OU COEFICIENTE) DE LETALIDADE: medida de fre qüência de óbitos por determinadacausa, entre membros de uma população atingida pela <strong>do</strong>ença.TAXA DE MORBIDADE: medida de freqüência de <strong>do</strong>ença em uma população. Existem <strong>do</strong>isgrupos importantes de taxa de morbidade: os de incidência e os de prevalência.TAXA (OU COEFICIENTE) DE MORTALIDADE: medida de fre qüência de óbitos em umadeterminada população, durante um inter valo de tempo específico. Ao serem incluí<strong>do</strong>s os óbitospor todas as causas, tem-se a taxa de mortalidade geral. Caso se inclua somente óbitos pordeterminada causa, tem-se a taxa de mortalidade específica.TAXA (OU COEFICIENTE) DE NATALIDADE: medida de fre qüência de nascimentos, emuma determinada população, durante um perío<strong>do</strong> de tempo especifica<strong>do</strong>.808 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


GlossárioTEMEFÓS: inseticida organofosfora<strong>do</strong>, adequadamente formula<strong>do</strong> para manter larvas em recipientescom água, potável ou não.TEMPO DE SUPRESSÃO: tempo transcorri<strong>do</strong> entre a primeira porção tomada de um medicamentoaté o desaparecimento da para sitemia observável.TENDÊNCIA SECULAR: comportamento da incidência de uma <strong>do</strong> ença, em um longo intervalode tempo, geralmente anos ou décadas.TOXINA: proteínas ou substâncias protéicas conjugadas, letais para certos organismos. As toxinassão produzidas por algumas plantas superiores, por determina<strong>do</strong>s animais e por bactériaspatogênicas. O alto peso molecular e a antigenicidade das toxinas diferenciam-nas de algunsvenenos químicos e alcalóides de origem vegetal.TRANSMISSÃO: transferência de um agente etiológico anima<strong>do</strong> de uma fonte primária de infecçãopara um novo hospedeiro. Pode ocorrer de forma direta ou indireta.TRANSMISSÃO DIRETA (contágio): transferência <strong>do</strong> agente etioló gico, sem a interferência deveículos.TRANSMISSÃO DIRETA IMEDIATA: transmissão direta, em que há um contato físico entre afonte primária de infecção e o novo hospe deiro.TRANSMISSÃO DIRETA MEDIATA: transmissão direta, em que não há contato físico entre afonte primária de infecção e o novo hospe deiro; a transmissão ocorre por meio das secreçõesoronasais (gotículas de Flügge).TRANSMISSÃO INDIRETA: transferência <strong>do</strong> agente etiológico por meio de veículos ani ma<strong>do</strong>sou inanima<strong>do</strong>s. A fim de que a transmis são indireta possa ocorrer, torna-se essencial que osgermes sejam capazes de sobreviver fora <strong>do</strong> organismo, durante um certo tempo, e que haja umveículo que os leve de um lugar a outro.TRATAMENTO ANTI-RECIDIVANTE: tratamento destina<strong>do</strong> a preve nir as recidivas, particularmenteas que incidem a longo prazo. Sinô nimo de tratamento radical.TRATAMENTO PROFILÁTICO: tratamento de um caso clínico ou de um porta<strong>do</strong>r, com afinalidade de reduzir o perío<strong>do</strong> de transmissibili dade.TUBITO: pequeno tubo usa<strong>do</strong> para acondicionamento de larvas, quan<strong>do</strong> da remessa ao laboratório.VACINA: preparação conten<strong>do</strong> microrganismos vivos ou mortos ou suas frações, possui<strong>do</strong>ra depropriedades antigênicas. São emprega das para induzir, em um indivíduo, a imunidade ativa eespecífica contra um microrganismo.VEÍCULO: ser anima<strong>do</strong> ou inanima<strong>do</strong> que transporta um agente etiológico. Não são consideradas,como veículos, as secreções e ex creções da fonte primária de infecção, que são, na realidade,um substrato no qual os microrganismos são elimina<strong>do</strong>s.VEÍCULO ANIMADO (vetor): artrópode que transfere um agente infeccioso da fonte de infecçãopara um hospedeiro susceptível.VEÍCULO INANIMADO: ser inanima<strong>do</strong> que transporta um agente etiológico. Os veículos inanima<strong>do</strong>ssão: água, ar, alimentos, solo e fômites.VETOR BIOLÓGICO: vetor no qual se passa, obrigatoriamente, uma fase <strong>do</strong> desenvol vimentode determina<strong>do</strong> agente etiológico. Erradi can<strong>do</strong>-se o vetor biológico, desaparece a <strong>do</strong>ença quetransmite.VETOR MECÂNICO: vetor acidental que constitui somente uma das modalidades da transmissãode um agente etiológico. Sua erradica ção retira apenas um <strong>do</strong>s componentes da transmissãoda <strong>do</strong>ença.Secretaria de Vigilância em Saúde / MS809


GlossárioVIGILÂNCIA DE DOENÇA: levantamento contínuo de to<strong>do</strong>s os aspectos relaciona<strong>do</strong>s coma manifestação e propagação de uma <strong>do</strong>ença, importantes para o seu con trole eficaz. Inclui acoleta e avaliação sistemática de :• da<strong>do</strong>s de morbidade e mortalidade;• da<strong>do</strong>s especiais de investigações de campo sobre epidemias e casos individuais;• da<strong>do</strong>s relativos a isolamento e notificação de agentes infecciosos em laboratório;• da<strong>do</strong>s relativos à disponibilidade, uso e efeitos adversos de vaci nas, toxóides, imunoglobulinas,inseticidas e outras substâncias empregadas no controle de <strong>do</strong>en ças;• da<strong>do</strong>s sobre níveis de imunidade em certos grupos da população.To<strong>do</strong>s esses da<strong>do</strong>s devem ser reuni<strong>do</strong>s, analisa<strong>do</strong>s e apresenta<strong>do</strong>s na forma de informes queserão distribuí<strong>do</strong>s a todas as pessoas que colaboraram na sua obtenção e a outras que necessitemconhecer os resulta<strong>do</strong>s das atividades da vigilância, para fins de prevenção e con trole de agravosrelevantes à saúde pública. Esses procedimentos aplicam-se a to<strong>do</strong>s os níveis <strong>do</strong>s serviços desaúde pública, desde o local até o internacional.VIGILÂNCIA DE PESSOA: observação médica rigorosa, ou outro tipo de supervisão de contatosde pacientes com <strong>do</strong>ença infecciosa, que visa permitir a identificação rápida da infecção ou<strong>do</strong>ença, porém sem restringir liberdade de movimentos.VIGILÂNCIA SANITÁRIA: observação <strong>do</strong>s comunicantes durante o perío<strong>do</strong> máximo de incubaçãoda <strong>do</strong>ença, a partir da data <strong>do</strong> último contato com um caso clínico ou porta<strong>do</strong>r, ou da dataem que o co municante aban<strong>do</strong>nou o local em que se encontrava a fonte primária de infecção.Não implica restrição da liberdade de movimentos.VIRULÊNCIA: grau de patogenicidade de um agente infeccioso.ZOOANTROPONOSE: infecção transmitida aos animais, a partir de reservatório humano.ZOONOSES: infecção ou <strong>do</strong>ença infecciosa transmissível, sob con dições naturais, de ho mens aanimais e vice-versa.810 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Relação de endereçosSecretaria de Vigilância em Saúde – Ministério da SaúdeEsplanada <strong>do</strong>s Ministérios, Bloco G, Edifício-Sede <strong>do</strong> Ministério da Saúde1º andar. CEP 70.058-900. Brasília/DF. Tel.: (61) 3315 3777E-mail: svs@saude.gov.br Endereço eletrônico: www.saude.gov.br/svsVigilância epidemiológica das secretarias estaduais de saúdeSecretaria Estadual de Saúde <strong>do</strong> AcreAv. Antônio da Rocha Viana, 1.294 - Vila IvoneteRio Branco/AC. CEP 69.910-610Tels.: (68) 3223 2320/3223 8007 Fax: (68) 224 7019Secretaria Estadual de Saúde de AlagoasRua da Paz, 1.068 - Jaraguá. Maceió/AL. CEP 57.025-050Tels.: (82) 315 1671/315 1151 Fax: (82) 315 3774/315 1481Secretaria Estadual de Saúde <strong>do</strong> AmapáAv. Men<strong>do</strong>nça Furta<strong>do</strong> - CentroMacapá/AP. CEP 68.906-350Tels.: (96) 212 6217/6216/6218/6258 Fax: (96) 212 6216Superintendência de Saúde <strong>do</strong> AmazonasAv. André Araújo, 701 - Aleixo. Manaus/AM. CEP 69.060-001Tels.: (92) 643 6320/643 6384/643 6300 ramal: 6331 Fax: (92) 611 4566Secretaria Estadual de Saúde da Bahia4a. Av. Centro Adm. da Bahia, Plataforma 6, La<strong>do</strong> B2º andar, Sala 209. Salva<strong>do</strong>r/BA. CEP 41.750-300Tels.: (71) 3115 4341/4343/4373 Fax: (71) 3115 4341Secretaria Estadual de Saúde <strong>do</strong> CearáAv. Almirante Barroso, 600 - Praia de IracemaFortaleza/CE. CEP 60.060-440Tels.: (85) 3101 5212/5214/5215 Fax: (85) 3101 5197Secretaria Estadual de Saúde <strong>do</strong> Distrito FederalSIA trecho 1, lotes 1.730/1.760, Bloco E, 3º andarBrasília/DF. CEP 71.200-010Tels.: (61) 3403 2833/2498/2400/2393 Fax: 3403 2425/2397Secretaria Estadual de Saúde <strong>do</strong> Espírito SantoAv. Marechal Mascarenhas de Morais, 2.025 - Bento FerreiraVitória/ES. CEP 29052-120Tels.: (27) 3137 2310/2396 Fax: (27) 3137 2310/2367Secretaria de Vigilância em Saúde / MS811


Relação de EndereçosSecretaria Estadual de Saúde de GoiásAv. Anhanguera, 5195 - Setor Coimbra. Goiânia/GO. CEP 74.043-011Tels.: (62) 293 6524/6481 Fax: (62) 291 7611/5140Secretaria Estadual de Saúde <strong>do</strong> MaranhãoAv. Carlos Cunha, s/nº - Retorno <strong>do</strong> CalhauSão Luís/MA. CEP 65.076-0820Tels.: (98) 218 8733/8706 Fax: (98) 218 8701Secretaria Estadual de Saúde de Minas GeraisRua Rio Grande <strong>do</strong> Norte, 613, 4º andar - FuncionáriosBelo Horizonte/MG. CEP 30.130-130Tels.: (31) 3274 3470/4705/4258 Fax: (31) 3213 8503/3965Secretaria Estadual de Saúde <strong>do</strong> Mato Grosso <strong>do</strong> SulParque <strong>do</strong>s Poderes, Bloco 7Campo Grande/MS. CEP 79.031-902Tels.: (67) 318 1690/1683/326 4071 Fax: (67) 318 1690/1683Secretaria Estadual de Saúde de Mato GrossoCentro Político Administrativo, Bloco 3, 2º andarCuiabá/MT. CEP 78.050-970Tels.: (65) 613 5379/5380/5381/5368 Fax: (65) 613 5384/5369Secretaria Estadual de Saúde <strong>do</strong> ParáRua Presidente Pernambuco, 489 - Batista CampoBelém/PA. CEP 66.015-200Tels.: (91) 224 9195/230 3099 Fax: (91) 242 0048Secretaria Estadual de Saúde da ParaíbaAv. Dom Pedro II, 1.826 - TorreJoão Pessoa/PB. CEP 58.040-440Tels.: (83) 218 7329/7330 Fax: (83) 218 7331/0330Secretaria Estadual de Saúde de PernambucoPraça oswal<strong>do</strong> Cruz, s/nº - Boa Vista. Recife/PE. CEP 50.050-210Tels.: (81) 3412 6412/6413 Fax: (81) 3412 6366Secretaria Estadual de Saúde <strong>do</strong> PiauíAv. Pedro Freitas, s/nº, Centro Administrativo, Bloco A - São PedroTeresina/PI. CEP 64.018-200Tels.: (86) 3216 3596/3605/3686/3683/3589 Fax: (86) 3216 3596/3505Secretaria Estadual de Saúde <strong>do</strong> ParanáRua Piquiri, 170 - Rebouças. Curitiba/PR. CEP 80.230-140Tels.: (41) 330 4570/4566 Fax: (41) 330 4571/330 4535Secretaria Estadual de Saúde <strong>do</strong> Rio de JaneiroRua México, 128, 4º andar, Sala 410 - CentroRio de Janeiro/RJ. CEP 20.031-140Tel.: (21) 2215 2531 Fax: (21) 2240 0611812 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Relação de EndereçosSecretaria Estadual de Saúde <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> NorteAv. Câmara Cascu<strong>do</strong>, 488 - Cidade Alta, CentroNatal/RN. CEP 59.025-280Tel.: (84) 232 2598 Fax: (84) 232 2598Secretaria Estadual de Saúde de RondôniaRua Padre Angelo Cerri, s/nº, Esplanada das Sec. - PedrinhasPorto Velho/RO. CEP 78.900-000Tels.: (69) 216 5275/5294 Fax: (69) 216 5275Secretaria Estadual de Saúde de RoraimaRua Madri, s/nº - Aeroporto. Boa Vista/RR. CEP 69.304-650Tels.: (95) 623 2771/0967/1714 Fax: (95) 623 1714Secretaria Estadual de Saúde <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> SulAv. Borges de Medeiros, 1.501, 3º andar, Ala Norte, sala 308Porto Alegre/RS. CEP 90.650-090Tels.: (51) 3901 1157/1166 Fax: (51) 3901 1054Secretaria Estadual de Saúde de Santa CatarinaRua Felipe Smidt, 774 - Centro. Florianópolis/SC. CEP 88.010-002Tel.: (48) 221 8445 Fax: (48) 221 8445Secretaria Estadual de Saúde de São PauloAv. Dr. Arnal<strong>do</strong>, 351, 1º andar - Cerqueira CésarSão Paulo/SP. CEP 01.246-902Tels.: (11) 3066 8798/8604 Fax: (11) 3082 9359/3082 9395Secretaria Estadual de Saúde de SergipePraça General Valadão, 32, Palácio Serigy - CentroAracaju/SE. CEP 49.010-520Telefax: (79) 234 9577/234 9578Secretaria Estadual de Saúde de TocantinsPraça <strong>do</strong>s Girassóis - Espl. das Secretarias s/nºPalmas/TO. CEP 70.7015-007Tels.: (63) 3218 3094/3245/1762/1735 Fax: (63) 3218 1791/1778Vigilância epidemiológica das secretarias municipais de saúdeSecretaria Municipal de Saúde <strong>do</strong> AcreRua Floriano Peixoto, 1.092 - CentroRio Branco/AC. CEP 69.908-030Tels.: (68) 3211 2101/2114 Fax: (68) 3211 2110Secretaria Municipal de Saúde de AlagoasRua Dias Cabral, 569 - CentroMaceió/AL. CEP 57.020-250Tels.: (82) 3315 5180/5181 Fax: (82) 3315 5183Secretaria de Vigilância em Saúde / MS813


Relação de EndereçosSecretaria Municipal de Saúde <strong>do</strong> AmapáAv. Procópio Rola, 166 - Centro. Macapá/AP. CEP 68.906-030Tels.: (96) 3213 1009/1109/1295 Fax: (96) 3213 1009Secretaria Municipal de Saúde <strong>do</strong> AmazonasRua Recife, 1.695 - Parque 10. Manaus/AM. CEP 69.057-001Tels.: (92) 3642 6723/3236 7363 Fax: (92) 3642 5875Secretaria Municipal de Saúde da BahiaAv. Sete de Setembro, 2.019 - Corre<strong>do</strong>r da VitóriaSalva<strong>do</strong>r/BA. CEP 40.080-002Tels.: (71) 3611 1000/1014/1023/1043/338 1010 Fax: (71) 336 5303Secretaria Municipal de Saúde <strong>do</strong> CearáRua <strong>do</strong> Rosário, 283, 3º andar - Centro. Fortaleza/CE. CEP 60.055-090Tels.: (85) 3452 6605/6604 Fax: (85) 3452 6992Secretaria Municipal de Saúde <strong>do</strong> Espírito SantoAv. Marechal Mascarenhas de Moraes, 1.185 - Forte São JoãoVitória/ES. CEP 29.010-331Tels.: (27) 3132 5058/5059/5053 Fax: (27) 3132 5061Secretaria Municipal de Saúde de GoiásAv. 5ª Radial, quadra 216 A, lote 6 - Setor Pedro Lu<strong>do</strong>vicoGoiânia/GO. CEP 74.823-030Tels.: (62) 3524 1554/1507/1506/1500 Fax: (62) 3524 1503/1509Secretaria Municipal de Saúde <strong>do</strong> MaranhãoAv. <strong>do</strong>s Franceses, 113 - Alemanha. São Luís/MA. CEP 65.036-280Tels.: (98) 3243 2321 Fax: (98) 3249 2906Secretaria Municipal de Saúde de Minas GeraisAv. Afonso Pena, 2.336 - 13º andar. Belo Horizonte/MG. CEP 30.130-006Tels.: (31) 3277 7753/7767 Fax: (31) 3277 7789Secretaria Municipal de Saúde de Mato Grosso <strong>do</strong> SulRua 13 de Maio, 1.090 - Monte Líbano. Campo Grande/MS. CEP 79.004-423Tels.: (67) 314 3346 Fax: (67) 314 3097Secretaria Municipal de Saúde de Mato GrossoRua São Joaquim, 315 - Porto. Cuiabá/MT. CEP 78.020-700Tels.: (65) 3617 1212/1213/1228 Fax: 3051 9512/9500Secretaria Municipal de Saúde <strong>do</strong> ParáTrav. Padre Eutíquio, 543 - Campina. Belém/PA. CEP 66.020-240Tels.: (91) 3241 1969/3212 0506 Fax: 3241 1969Secretaria Municipal de Saúde da ParaíbaAv. Presidente Epitácio Pessoa, 1.324 - ExpedicionáriosJoão Pessoa/PB. CEP 58.043-000Tels.: (83) 3214 7952/7947 Fax: (83) 3214 7947814 Secretaria de Vigilância em Saúde / MS


Relação de EndereçosSecretaria Municipal de Saúde de PernambucoAv. Cais <strong>do</strong> Apolo, 925, 13º andar. Recife/PE. CEP 50.030-903Tels.: (81) 3232 8113 Fax: (81) 3425 8640Secretaria Municipal de Saúde <strong>do</strong> PiauíRua Gov. Artur de Vasconcelos, 3.015 - AeroportoTeresina/PI. CEP 64.006-080Tels.: (86) 3215 7710 Fax: (86) 3221 0181/3222 0409Secretaria Municipal de Saúde <strong>do</strong> ParanáAv. João Gouberto, 623 - 3º andar, Sala 301/307. Curitiba/PR. CEP 80.030-000Tels.: (41) 3350 9303/9333 Fax: (41) 3350 9339/9458Secretaria Municipal de Saúde <strong>do</strong> Rio de JaneiroRua Afonso Cavalcante, 455, Sala 701, Bloco 1Rio de Janeiro/RJ. CEP 20.211-901Tels.: (21) 2503 2024/2273/7844/2247 Fax: (21) 2293 4826Secretaria Municipal de Saúde <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> NorteRua João Pessoa, 634, Edifício Call Center - CentroNatal/RN. CEP 59.025-500Tels.: (84) 3232 8487/8488 Fax: (84) 232 8487Secretaria Municipal de Saúde de RondôniaAv. Calama, 4.008 - Embratel. Porto Velho/RO. CEP 78.908-010Tels.: (69) 222 8035 Fax: (69) 212 0411Secretaria Municipal de Saúde de RoraimaAv. Getulio Vargas, 678 - Centro. Boa Vista/RR. CEP 69.301-031Tels.: (95) 623 1673 Fax: (95) 623 2005Secretaria Municipal de Saúde <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> SulAv. João Pessoa, 325, 4º andar - Cidade BaixaPorto Alegre/RS. CEP 90.040-100Tels.: (51) 3289 2701/2800/2406/3212 6492 Fax: (51) 3216 8827/3289 2827Secretaria Municipal de Saúde de Santa CatarinaAv. Prof. Henrique da Silva Fontes, 6.100 - TrindadeFlorianópolis/SC. CEP 88.036-710Tels.: (48) 3239 1505/1507 Fax: (48) 3239 1506Secretaria Municipal de Saúde de SergipeRua Sergipe, 1.310 - Siqueira Campos. Aracaju/SE. CEP 49.075-540Tels.: (79) 3179 1023/ 1060 Fax: (79) 3179 1023Secretaria Municipal de Saúde de São PauloRua General Jardim, 36 - Vila Buarque. São Paulo/SP. CEP 01.223-010Tels.: (11) 3218 4001/4002/4003/4004/4005 Fax: (11) 3257 5321Secretaria Municipal de Saúde de Tocantins103 Sul, Rua SO 7, Lote 3 - Centro. Palmas/TO. CEP 77.185-030Tels.: (63) 3218 5640/5098/5097/5107 Fax: (63) 3218 5332/5098Secretaria de Vigilância em Saúde / MS815

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