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governantes do continente. Sabe-se que houve aberta atuação dos Estados Unidos em prol do golpe,inclusive com sua armada a postos para intervir, assim como a participação da diplomacia brasileira, doItamaraty até sua representação no Chile. 8Chegava ao fim a experiência chilena de revolução pacífica, dentro dos marcos institucionais e– talvez por isto mesmo! – derrubada por uma ação muito cruenta das Forças Armadas, até pouco tempoantes comprometidas com a ordem constitucional. 9 Em uma obra recente, o historiador chileno MiguelRojas Mix elenca uma série de “tarefas” que a ditadura civil-militar de Terror de Estado assumiu no Chile,de resto semelhante a outras aparecidas na América Latina. 10 Ele chama a atenção para algunsaspectos significativos:1. O Terror de Estado é um corolário da chamada Doutrina de Segurança Nacional (DSN),desenvolvida nos Estados Unidos e propalada para a América Latina; para garantir a integridade dospaíses americanos, deve-se promover uma guerra contra os “inimigos internos”, justificando-se todos osmeios para isto. 112. O caráter religioso que aproxima o golpe chileno do falangismo da Guerra Civil Espanhola; o“banho de sangue” para lavar o país, resgatando o “nacional-catolicismo” e a hispanidad do povo chilenoda conspurcação pretendida pelo Comunismo, internacional e ateu. A civilização ocidental se confundecom o Catolicismo.3. As Forças Armadas do Chile retomaram o papel histórico de defensoras do país desde ostempos da Conquista; o golpe de Estado coloca-as como a representação máxima do nacionalismochileno.4. A democracia e a “degeneração” dos costumes eram sinais inequívocos da “decadência” doOcidente. Spengler e Toynbee foram alguns dos autores que inspiraram estas ideias: as civilizaçõespassam sempre por um processo de “despertar, ascensão e queda”, necessitando de “minoriascriadoras” capazes de regenerarem as nações.5. Estes pressupostos ideológicos se somavam às doutrinas neoliberais, defendidas por Heyer,Friedmann e Popper desde 1947, e que se impunham progressivamente entre os países capitalistas.Favorecer os empreendimentos transnacionais no Chile e liquidar com a intervenção do Estado naeconomia foram tarefas cumpridas pela ditadura.Nos anos seguintes a ditadura protagonizou a eliminação de antigos membros do governoAllende. Para tanto, havia criado em 1974 a Dirección de Inteligencia Nacional (DINA), uma políciasecreta treinada por agentes da CIA na Escola das Américas, na Zona do Canal do Panamá,encarregada de fomentar a contrainsurgência nos países americanos. Já em 30 de setembro de 1974, arecém-criada DINA levou a cabo o atentado a bomba que resultou na morte do general Carlos Prats,exilado em Buenos Aires. Em 21 de setembro de 1976 foi a vitimado Orlando Letelier, que tinha sidoembaixador do Chile nos Estados Unidos e depois Ministro de Relações Exteriores, Interior e defesa; em891011Um fato pitoresco: o primeiro testemunho ocular do golpe de 11 de setembro foi dado em Porto Alegre pelopresidente da Federação Gaúcha de Futebol, Rubens Freire Hoffmeister. Ele se encontrava em Santiago nocomando de uma seleção de jogadores de clubes do interior do Rio Grande do Sul que disputaria um jogocontra a Seleção do Chile. Quando aconteceu o bombardeio do palácio de governo, a delegação estava em umhotel localizado nas proximidades. Tendo ligações políticas com a ARENA, Hoffmeister defendeu a versão oficialdos golpistas, a defesa da “democracia ocidental” contra o avanço do “comunismo” na América Latina. Como eraum homem muito caricato e alvo de ditos jocosos pela imprensa, seu testemunho de certa forma desmoralizouas razões que justificavam o golpe de Estado.Foram muitas as explicações dadas por intelectuais de esquerda para o fracasso do Chile. Agustín Cuevadefendeu que a causa do golpe se deu pelo caráter revolucionário da Unidad Popular, onde o Estado era a“institución encargada de regular las contradicciones sociales, ahora más bien las reproducía ampliamente en suseno, convertido en uno de los puntos nodales de la lucha de clases. Lucha que se expresaba en este nivel,entre otras formas, como una contradicción entre las prácticas gubernamentales orientadas hacia latransformación del modo de producción dominante y la superestructura jurídico-política encargada deperpetuarlo.” CUEVA, Agustín. Teoria Social y Procesos Políticos em América Latina. México: Edicol, 1979,p.119. Já para Sader, a Unidade Popular partia da ocupação de apenas uma parte do poder para iniciar atransição “Ou seja, um centro vital do aparato criado para a preservação da ordem burguesa era ocupado poruma coalizão que pretendia destruí-la. Porém, o insólito prosseguia no fato de que esta coalizão pretendiachegar ao socialismo pelas vias institucionais criadas para combatê-lo”. SADER, Eder. Um Rumor de Botas. Amilitarização do estado na América Latina. São Paulo: Polis, 1982 p.91-92. Semelhante é a explicação deAggio, que afirma ter o processo chileno se caracterizado por uma “revolução passiva”, onde “o Chile tinha nafunção moderna desempenhada pelo Estado seu referencial de “racional absoluto”, cabendo a ele implementar“do alto” as transformações clamadas pela sociedade em seu conjunto”. AGGIO, Alberto. Frente Popular,radicalismo e revolução passiva no Chile. São Paulo: Annablume / FAPESP, 1999, p. 210.ROJAS MIX, Miguel. El dios de Pinochet. Fisionomía del fascismo iberoamericano. Buenos Aires: Prometeo,2007, p.13-18.A DSN tinha uma versão latino-americana realizada pelo general Golbery do Couto e Silva na escola Superiorde Guerra do Brasil. SILVA, Golbery do Couto e. Geopolítica do Brasil. Rio de Janeiro: Jospe Olympio, 1967.26

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