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“Desde entonces la patria no es la misma”: impressões sobre o terror de estado no ChileCesar Augusto Barcellos Guazzelli A alta qualidade da conferência proferida pela Professora Doutora Verónica Valdívia soma-seàquelas de outros professores chilenos de História da América Latina que estiveram em nosso meio;refiro-me a Miguel Rojas Mix e Eduardo Devés Valdéz, ambos com trabalhos que se relacionam dealguma maneira com a ditadura civil-militar chilena. Nestas circunstâncias, aproximar-me dasabordagens mais recentes sobre o Terror de Estado no Chile exigiria um distanciamento crítico quepossivelmente eu não alcance, pois minha visão histórica daquela realidade se confundeinequivocamente com minha memória, e esta é muito traiçoeira e inconfiável! Mais até do que partidária,ela é passional e marcada pela indignação até os dias de hoje!Eu recém-havia ingressado na universidade – também vivendo os horrores do Terror de Estadono Brasil após o Quinto Ato Institucional de 1968 – e as notícias que vinham do Chile eram alvissareiras!Tratarei então de marcar as impressões que tive dos tempos que antecederam a eleição SalvadorAllende da Unidad Popular à presidência do Chile, o impacto das realizações e das dificuldades do seugoverno, e as repercussões mais imediatas do golpe de Estado e implantação da ditadura de Pinochet.Antes de tudo, convém situar a “familiaridade” que já tinha com a política chilena com ashistórias que meus pais contavam, de muitos anos antes. E estas falavam de um país que tinha umadestacada tradição comunista na América Latina. O pai ouvira Pablo Neruda declamar seu Dicho enPacaembu no famoso Comício do Partido Comunista em julho de 1945, quando prestou sua homenagema Luis Carlos restes, libertado recém em abril dos porões do Estado Novo. Os milhares de pessoas quelotavam o maior estádio brasileiro de então ouviram Pablo Neruda dizer no fechamento do seu poema:“Hoy pido un gran silencio de volcanes y ríos. / Un gran silencio pido de tierras y varones. / Pido silencioa América de la nieve a la pampa. / Silencio: La palavra al Capitán del Pueblo. / Silencio: Que el Brasilhablará por su boca.” 1 Quatro anos depois, escreveria ainda outra homenagem de Neruda, em Prestesdel Brasil, recordando o encontro no Pacaembu: “El estadio pululaba con cien mil corazones rojos queesperaban verlo y tocarlo”. 2 A grande obra do futuro Prêmio Nobel aludia ao líder comunista brasileiroem dois de seus poemas, destacando-o entre os grandes Libertadores do continente americano.Quanta diferença deste Chile ligado ao Brasil pela utopia daquelas publicações que pela primeiravez divulgaram o “perigo vermelho” numa eventual vitória de candidatos da esquerda! Esta situação eratemida mesmo no moderado governo de Eduardo Frei, do Partido Demócrata Cristiano por ativistas daextrema direita brasileira! Com efeito, o próprio Plínio Correa de Oliveira, fundador da famigeradaSociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), tratou de identificar os riscosque advinham da reforma agrária levada a efeito por Frei, mesmo que ela fosse muito restrita. Temia aDemocracia Cristã chilena, “desatenta” a tais projetos, mesmo que tímidos. Juan Gonzalo LarrainCampbell, diretor da versão da TFP no Chile – Sociedade Chilena de Defesa da Tradição, Família ePropriedade – explica: “O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, sempre fiel sentinela da Contra-Revolução, nãotardou em discernir o perigo que significava para o continente latino-americano a ascensão de Frei.Pediu, então, a Fábio Vidigal Xavier da Silveira que viajasse ao país andino para confirmar in loco asapreensões que lhe assomavam ao espírito.” 3 Com efeito, ainda em 1967 o diretor de TFP Fábio Vidigalpublicou o livro Frei, o Kerensky Chileno, que prenunciava o avanço das ideias esquerdistas na AméricaLatina, mesmo pelas mãos da Democracia Cristã. 4Mas se a ultradireita brasileira e a ditadura militar se preocupavam com o Chile antes daseleições de 1970, a pior situação para elas estava por acontecer. Houve uma cisão entre os grupos nãoesquerdistas: de um lado, o Partido Nacional, com Alessandri, que congregava os setores burguesesmais conservadores e os latifundiários; também a Democracia Cristã, com um projeto mais progressistaque atraía grupos médios urbanos, pequena burguesia e até alguns setores populares, apresentoucandidato próprio, Tomic. Esta divisão favoreceu a vitória de Unidad Popular: em 4 de setembro, com1234Professor Associado do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História daUniversidade Federal do Rio Grande do Sul.Esta poesia foi incluída em Canto General, publicado por primeira vez no México em 1950. Neste volume, ahomenagem a Prestes se inclui em Los Libertadores, parte IV do livro. NERUDA, Pablo. Dicho en Pacaembu(Brasil, 1945). In: Canto General. Buenos Aires: Losada, 1975, p.143-145.Prestes del Brasil (1949). In: Id. Ibid. p.141-143.LARRAIN CAMPBELL, Juan Gonzalo. Frei, o Kerensky chileno: 30 anos depois. Catolicismo. São Paulo, EditoraPadre Belchior de Pontes, agosto de 1997 (edição on line).SILVEIRA, Fábio Vidigal Xavier da. Frei, o Kerensky Chileno. Editora Vera Cruz, 1967.24

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