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dirigentes, alguns foram presos, outros partiram ao exílio na União Soviética, mas o Partido Comunistaviu muitos de seus dirigentes e a juventude – particularmente sua juventude – sofrendo com a torturadesde 1974. O Partido conseguiu sobreviver: alguns dirigentes intermediários salvaram-no, mas trêsdireções foram assassinadas entre 1973 e 1976. Em relação ao Partido Socialista, muitos de seusdirigentes partiram à Alemanha Oriental, que existia nesse tempo, e outros ficaram no Chile. Seudirigente máximo, Carlos Altamirano, foi retirado pela Stasi em um operativo, caso contrário teria sidoassassinado. Muitos jovens dirigentes socialistas eram estudantes e foram assassinados. O que querosalientar é que em 1976 a esquerda marxista no Chile quase não existia mais. Os que restavam estavamna clandestinidade, e era uma esquerda quase paralisada.No Chile não houve solidariedade, na maioria dos casos. O impacto da violência foi de tal nível,que o que produziu foi uma paralisação social. Muitos dos perseguidos não receberam ajudam, e o queocorreu no país foi finalmente gerando uma espécie de indiferença social. Já vou explicar porque aguerra psicológica feita pela ditadura teve êxito, e muitos setores da sociedade chilena chegaram àconclusão de que se alguns eram perseguidos, algo haviam feito, e portanto deviam merecer o que lhesestava ocorrendo. Assim, a rede de solidariedade não foi majoritária, e as pessoas que auxiliaram aosperseguidos sofreram com a repressão em consequência.Chile é hoje um país muito despolitizado. O terror paralisou grande parte da sociedade, e quemseguia militando, colaborando ou ajudando era uma minoria. O restante estava submetido à ditadura eao discurso – ou ao monólogo – de Pinochet e de seus iguais. Agora, se o impacto interno da violênciafoi a paralisação, a quase aniquilação da esquerda, e a neutralização da oposição – refiro-me àDemocracia Cristã – ao nível internacional a violência do golpe gerou isolamento. Se os EUA e a CIAprepararam o golpe de Estado, na prática para o mundo o fato de Salvador Allende ter chegado por viasdemocráticas ao poder tornava a violência do golpe era inaceitável, portanto, desde o primeiro momento,a Junta de Governo ficou isolada politicamente. O Chile foi condenado sistematicamente pororganizações de Direitos Humanos, condenado pelas Nações Unidas, condenado pela OEA. Portanto, oregime que acreditava que, uma vez derrotado Allende, seria o “favorito”, ou receberia o apoiointernacional, na prática era um regime sitiado, que não tinha apoio econômico, mas sim recebeu apoioda CIA para exercer a repressão.Por que este tema do isolamento internacional e o impacto da violência do golpe de Estado?Porque diferentemente dos casos da Argentina e do Uruguai, no Chile não existia uma esquerda armadaconsiderável. Não tínhamos nem Tupamaros, nem Montoneros. Havia o Movimiento de IzquierdaRevolucionaria, que reivindica a violência e a via armada. O MIR foi um dos poucos partidos que tratoude resistir ao golpe pela via armada. Mas sem dúvida, era um Partido muito pequeno, que não tinha maisde dois mil militantes. Preparados com experiência em guerrilha, ou algo do estilo, não eram mais de dezpor cento de seus dirigentes. Em testemunhos os miristas se recordam que não tinham mais de cemmilitantes preparados para combater. Destes, os que tiveram condições de lutar não passaram decinquenta. O chefe do MIR foi detectado um ano após o golpe. Em outubro de 1974 foi assassinado. Osúltimos dirigentes foram arrancados em 1975. Portanto, o MIR não teve nenhuma capacidade deenfrentar o golpe de Estado. Este tema é muito importante, porque a existência de uma guerrilha nãopode ser justificativa para o golpe de Estado. Seria nos casos da Argentina e do Uruguai, onde aresistência armada transformou-se em “desculpa” para o fato. Todavia, nos casos da Argentina e doUruguai existiam efetivamente grupos armados importantes. Na prática eles também foram derrotadosantes do golpe de Estado, mas sem dúvida o fato de terem existido permitiu a desculpa para o golpe, eisso provocou a posição institucional das Forças Armadas, que se justificavam a si mesmas e a suasalianças no poder, porque sua tarefa era derrotar a subversão. O conceito de subversão neste casoestava associado a existência de uma guerrilha. Mas no caso do Chile isso não era possível. A ditadurausou o discurso de que no Chile havia uma guerrilha.De fato, em outubro de 1973, inventou-se o que foi chamou de o “Plano Zeta”. Pretendia-se dizerque a Unidade Popular estava preparando um autogolpe, portanto, o golpe de setembro teria sido paraevitar a instalação de um governo totalitário ditatorial dirigido por MAPU 4 . Isso era mentira. Esse planonunca existiu. Fez-se o que se conhece como Caravana da Morte, um assassinato de dirigentes daUnidade Popular com a justificativa de que eles estavam comprometidos com o Plano Zeta. No fundo, aditadura precisava inventar que no Chile efetivamente havia um perigo armado para justificar o golpe deEstado. Por tanto, a ideia de que seria necessário manter um governo militar de longa duração não sejustificava pela existência de uma guerrilha que não existia. Nesse sentido, era necessário justificar ogolpe a partir de outro ponto de vista. E esse ponto de vista é o que explica porque, hoje em dia, 40 anosdepois, seguimos vivendo sob os parâmetros da ditadura.Se vocês têm visto notícias sobre o Chile, sabem que os estudantes têm gerado, pela primeiravez em 40 anos, um movimento político com impacto realmente político. Pela primeira vez estãocolocando no tapete os problemas da aliança ditatorial. Pela primeira vez o sistema político tem4Nota de tradução: MAPU é a sigla para Movimiento de Acción Popular Unitario.20

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