Dissertação mestrado Maria Gabriela Simões dez 2010.pdf - INT
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15O preservativo fabricado com látex de borracha natural tem uma série de vantagenspeculiares à matéria-prima e ao desenho: se usado corretamente e de forma consistente porusuário consciente, provê boa contracepção e previne as DST, sem efeitos colaterais; édisponibilizado em embalagem pequena, podendo ser discretamente carregado e armazenado;tem baixo custo; e é de fácil uso e está disponível para o consumo há mais de meio século, sendoamplamente conhecido e bem aceito. Os preservativos masculinos têm sido utilizados há séculos,tanto para evitar a gravidez não-desejada quanto para prevenir as DST (BÓ, 2007)A primeira menção escrita sobre o preservativo aconteceu no século XVI, com autoria doanatomista italiano Gabriel Fallopius, que recomendava o uso de um saquinho feito de linho,amarrado ao pênis com um laço (considerado muito incômodo), provavelmente para evitardoenças venéreas. O termo “Condom”, utilizado na língua inglesa e na língua espanhola, foiinventado em 1671, pelo Dr. Condom, que teria prescrito o uso de um protetor à base de tripa deanimais para o Rei Carlos II, a fim de evitar o nascimento de filhos ilegítimos. Os preservativosproduzidos à base de membranas de intestinos de animais, comercializados na Europa desde osfinais do século XVII, eram caros, pouco confortáveis e de produção limitada.O desenvolvimento do processo de vulcanização, em meados do século XIX, viabilizou aprodução de preservativos de borracha natural em termos comerciais. No entanto, estespreservativos tinham baixo nível de qualidade, apresentavam 7 orifícios e outros defeitos defabricação, freqüentemente rompendo durante o ato sexual e/ou deteriorando-se rapidamente(KARAFIN apud BÓ, 2007).Somente na década de 30, o desenvolvimento do processo de imersão de moldes emcomposições de látex de borracha natural permitiu a obtenção de membranas mais finas, commaior durabilidade, a custos inferiores. Na II Guerra Mundial, o produto foi considerado um item degrande necessidade, quando as tropas americanas chegaram a consumir 50 milhões de unidadespor mês (Preservativo Masculino, Ministério da Saúde, 1997).Embora tenha dupla função, profilática e contraceptiva, o uso do preservativo esteve maisligado à prevenção das DST, principalmente da sífilis e da gonorréia. A partir da década de 50, aspráticas e os comportamentos preventivos em relação às DST tornaram-se cada vez menosadotados, devido ao desenvolvimento da penicilina e de outros antibióticos eficazes e de umamaior liberalidade sexual. Estes fatores explicam o fato de que o uso de preservativo tornou-segradualmente inexpressivo até a década de 80.A partir da década de 80, a AIDS configurou-se como uma epidemia mundial. Desde então,tornou-se necessária a promoção e implementação de métodos eficazes de proteção na área dasaúde pública. Excetuando-se as medidas comportamentais de cunho individual, abstinência
16sexual e fidelidade entre parceiros sadios, o uso correto e consistente do preservativo é o únicométodo eficaz de prevenção às DST e à AIDS de transmissão sexual, com completa ausência deefeitos colaterais.Em meados da década de 80, o preservativo chegou a ser denominado o “remédio deborracha” (FREE apud BÓ, 2007). Diversos estudos sobre a permeabilidade da membrana delátex de borracha natural demonstraram a efetividade deste material como barreira dos fluidosgenitais e seus constituintes. Através da microscopia eletrônica de varredura verificou-se quefilmes de látex não apresentam porosidade (KISH et al apud BÓ, 2007) e que vírus de diversostamanhos não passam através da membrana de preservativos intactos, mesmo quando o artefatoé alongado e estressado. Em workshop realizado nos EUA, em 2000, pela American FoundationFor Aids Research - AMFAR, sobre as evidências científicas da efetividade do preservativo e aprevenção das DST, foi concluído que, quando os preservativos masculinos são usados de formaconsistente e correta, a redução do risco da infecção pelo HIV é de 80-95%.II.2.2O preservativoO acesso ao preservativo faz a diferença. Em 2003, foram distribuídos aproximadamente 5bilhões de preservativos para a prevenção do HIV no mundo; porém, a quantidade estimadanecessária era de 13 bilhões, para frear a propagação da epidemia. A AIDS mudou ocomportamento da população em relação ao preservativo.A aceitabilidade do preservativo aumentou e as crenças de que o uso do preservativo tira oprazer diminuíram. Este insumo é encarado como peça central das políticas governamentais deprevenção à AIDS e outras DST desde o início da década de 90. O governo brasileiro, emconsenso com as Nações Unidas e as comunidades científicas internacionais, com base emdados que comprovam a eficácia do preservativo na prevenção, e na premissa de que não cabeao Estado julgar a estrutura de relacionamento dos indivíduos, enfrentou as reações de setoresmais conservadores e tornou-se o principal protagonista na promoção da camisinha.Hoje, o preservativo é incluído em todos os projetos de prevenção e está presente nasações básicas de saúde. Sua distribuição é gratuita na rede nacional de saúde.O Grupo de Cooperação Técnica Horizontal (GCTH), (integrado pelos programas nacionaisde AIDS dos países da América Latina e do Caribe), e as Redes Regionais Comunitárias daAmérica Latina e do Caribe, reunidos em Buenos Aires, Argentina, em maio de 2006, publicaramum manifesto no qual rejeitam toda e qualquer recomendação relacionada à prevenção do HIV eda AIDS que adotem a estratégia conhecida como “ABC”. Esta estratégia tem como ênfase centralde prevenção à promoção da abstinência e da fidelidade, deixando o uso do preservativo apenaspara situações específicas e, portanto, em segundo plano. O documento afirma que tal estratégia
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16sexual e fidelidade entre parceiros sadios, o uso correto e consistente do preservativo é o únicométodo eficaz de prevenção às DST e à AIDS de transmissão sexual, com completa ausência deefeitos colaterais.Em meados da década de 80, o preservativo chegou a ser denominado o “remédio deborracha” (FREE apud BÓ, 2007). Diversos estudos sobre a permeabilidade da membrana delátex de borracha natural demonstraram a efetividade deste material como barreira dos fluidosgenitais e seus constituintes. Através da microscopia eletrônica de varredura verificou-se quefilmes de látex não apresentam porosidade (KISH et al apud BÓ, 2007) e que vírus de diversostamanhos não passam através da membrana de preservativos intactos, mesmo quando o artefatoé alongado e estressado. Em workshop realizado nos EUA, em 2000, pela American FoundationFor Aids Research - AMFAR, sobre as evidências científicas da efetividade do preservativo e aprevenção das DST, foi concluído que, quando os preservativos masculinos são usados de formaconsistente e correta, a redução do risco da infecção pelo HIV é de 80-95%.II.2.2O preservativoO acesso ao preservativo faz a diferença. Em 2003, foram distribuídos aproximadamente 5bilhões de preservativos para a prevenção do HIV no mundo; porém, a quantidade estimadanecessária era de 13 bilhões, para frear a propagação da epidemia. A AIDS mudou ocomportamento da população em relação ao preservativo.A aceitabilidade do preservativo aumentou e as crenças de que o uso do preservativo tira oprazer diminuíram. Este insumo é encarado como peça central das políticas governamentais deprevenção à AIDS e outras DST desde o início da década de 90. O governo brasileiro, emconsenso com as Nações Unidas e as comunidades científicas internacionais, com base emdados que comprovam a eficácia do preservativo na prevenção, e na premissa de que não cabeao Estado julgar a estrutura de relacionamento dos indivíduos, enfrentou as reações de setoresmais conservadores e tornou-se o principal protagonista na promoção da camisinha.Hoje, o preservativo é incluído em todos os projetos de prevenção e está presente nasações básicas de saúde. Sua distribuição é gratuita na rede nacional de saúde.O Grupo de Cooperação Técnica Horizontal (GCTH), (integrado pelos programas nacionaisde AIDS dos países da América Latina e do Caribe), e as Redes Regionais Comunitárias daAmérica Latina e do Caribe, reunidos em Buenos Aires, Argentina, em maio de 2006, publicaramum manifesto no qual rejeitam toda e qualquer recomendação relacionada à prevenção do HIV eda AIDS que adotem a estratégia conhecida como “ABC”. Esta estratégia tem como ênfase centralde prevenção à promoção da abstinência e da fidelidade, deixando o uso do preservativo apenaspara situações específicas e, portanto, em segundo plano. O documento afirma que tal estratégia