16das de Resposta, que deverá subsidiar órgãos técnicos(SBSTA) e de implementação da Convenção (SBI). Issoquer dizer que, na prática, este Fórum poderá ter umafunção de acompanhamento e relatoria sobre a implementaçãoe o cumprimento <strong>do</strong>s preceitos legais da Declaração<strong>do</strong>s Direitos <strong>do</strong>s Povos Indígenas da ONU, nodesenvolvimento da estratégia nacional de <strong>REDD</strong>+ nospaíses em desenvolvimento.E o que essa decisão representa em termos práticospara a luta <strong>do</strong>s povos da floresta por maior engajamentonas discussões de <strong>REDD</strong>+?Ao fazer referência explicita à necessidade de cumpriras salvaguardas socioambientais e se haver engajamentoda sociedade civil, povos indígenas e comunidadestradicionais no processo de desenvolvimentoe implementação das atividades de <strong>REDD</strong>+, a decisãoreforça a importância da necessidade de dar continuidadee fortalecer os grupos de trabalho que vêm discutin<strong>do</strong>os arranjos institucionais, a repartição de benefícios de<strong>REDD</strong>+, as salvaguardas socioambientais e os mecanismose fontes de financiamento para a construção de um regimenacional de <strong>REDD</strong>+ para o Brasil. Tais discussões secretariadaspelo Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente podem passar aobter apoio financeiro para garantir a efetiva participaçãode representantes de movimentos sociais nestes grupos,que até então não podiam estar presentes fisicamente nasreuniões que tiveram lugar somente em Brasília-DF.Em segun<strong>do</strong> lugar, a decisão condiciona financiamentoàs atividades de <strong>REDD</strong>+ ao apoio e promoçãodas salvaguardas socioambientais. Isso significaque os países vão precisar mostrar que estão protegen<strong>do</strong>suas florestas naturais e que estão envolven<strong>do</strong> associedades que delas dependem na elaboração de suasestratégias de <strong>REDD</strong>+ para receber financiamento. Dessaforma torna-se evidente a necessidade de se a<strong>do</strong>tar práticase ações que melhorem a governança florestal <strong>do</strong>spaíses, o que deve trazer resulta<strong>do</strong>s diretos a melhoria devida de pessoas que vivem na floresta e dela dependemcomo fonte de subsistência. Além <strong>do</strong> mais, essa é umaforma de dar maior controle aos povos das florestas, quedependem <strong>do</strong>s recursos naturais das florestas sobre osdiferentes financiamentos para ações de <strong>REDD</strong>+ no paíse a conseqüente direção de desenvolvimento que o paísdeve a<strong>do</strong>tar.Percebe-se que esse é um momento único de fazervaler a capacidade da sociedade civil de desenvolver eapresentar propostas tanto para a criação <strong>do</strong> Sistema deInformação, quanto para o Fórum sobre o Impacto daImplementação das Medidas de Mitigação. Para tanto, osexemplos forneci<strong>do</strong>s pela própria sociedade civil brasileiracom o fim de acompanhar e monitorar ações, projetos,programas e políticas de <strong>REDD</strong>+, como o os Princípiose Critérios socioambientais de <strong>REDD</strong> e o arranjo institucionalfruto desse mesmo processo, o Observatório <strong>do</strong><strong>REDD</strong>+, cria<strong>do</strong> para monitorar as políticas e iniciativas de<strong>REDD</strong>, podem e devem ser usa<strong>do</strong>s. Ao mesmo tempo,isso pode ainda significar recursos extras para que estemodelo de processo de consulta e elaboração de salvaguardassocioambientais seja exporta<strong>do</strong> a outros países/regiões que ainda não sabem exatamente como desenvolvê-lo,como já é o caso de diversos países africanosque vem demonstran<strong>do</strong> grande interesse em conhecermelhor esses processos.Após o Brasil ter si<strong>do</strong> o primeiro país em desenvolvimentoa ter regulamenta<strong>do</strong> sua meta de redução degases de efeito estufa, por meio de um decreto lança<strong>do</strong>durante a COP16, o país poderá novamente dar o seuexemplo, relatan<strong>do</strong> ao mun<strong>do</strong> sua experiência quanto aimplementação de salvaguardas socioambientais no processode construção de seu regime nacional de <strong>REDD</strong>+,utilizan<strong>do</strong>-se para isso de um arranjo institucional cria<strong>do</strong>pela própria sociedade civil, o Observatório <strong>do</strong> <strong>REDD</strong>.
Biblioteca <strong>do</strong> Observatório <strong>do</strong> <strong>REDD</strong>Fun<strong>do</strong> Amazônia: esta<strong>do</strong> atual e perspectivasda sociedade civil e <strong>do</strong>s movimentos sociaisDentre as políticas nacionais brasileiras para a mitigação e adaptação às mudanças climáticasdestaca-se a criação <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> Amazônia. Originalmente idealiza<strong>do</strong> pelo Serviço Florestal Brasileiro i oFun<strong>do</strong>, hoje geri<strong>do</strong> pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tem comoobjetivo investir em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, e de promoçãoda conservação e <strong>do</strong> uso sustentável das florestas <strong>do</strong> bioma amazônico. Atualmente o Fun<strong>do</strong> contacom um aporte de 107 milhões de dólares originários <strong>do</strong> Governo Norueguês e 21 milhões de euros<strong>do</strong>a<strong>do</strong>s pelo Banco Alemão de Desenvolvimento (KfW).A criação <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> Amazônia é uma iniciativa importante <strong>do</strong> governo brasileiro. Seus objetivosvão ao encontro <strong>do</strong>s anseios da sociedade civil brasileira de combate ao desmatamento florestal, deconservação da biodiversidade amazônica e de redução das emissões de gases de efeito estufa. OFun<strong>do</strong> Amazônia atende, também, às expectativas da comunidade internacional quanto à manutençãoe uso sustentável das florestas tropicais no Brasil e em particular da Amazônia Brasileira.Embora o desmatamento da Amazônia contribua com 2,5 % das emissões globais (o uso decombustíveis fósseis representa 75% das emissões ii, iii, iv ) a criação <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> Amazônia é uma respostaclara <strong>do</strong> governo e da sociedade civil e movimentos sociais brasileiros de luta contra o desmatamentoe em defesa da conservação <strong>do</strong>s ecossistemas amazônicos. O GTA apoiou a sua criação e quer ocumprimento <strong>do</strong>s seus objetivos, os quais, uma vez atendi<strong>do</strong>s, gerarão ganho para a qualidade de vida<strong>do</strong>s povos da floresta. Entretanto, o fun<strong>do</strong> enseja aperfeiçoamentos.O Fun<strong>do</strong> foi cria<strong>do</strong> para ser acessa<strong>do</strong> não somente por Governos (federal, estadual, municipal),Empresas, ONGs, Instituições e Universidades por meio de projetos não reembolsáveis, mas tambémpor entidades representativas das comunidades locais. A sua estrutura de gestão, implementada peloBNDES, carece de mecanismos de controle social, tanto na destinação <strong>do</strong>s recursos, quanto no controlee monitoramento da execução <strong>do</strong>s projetos aprova<strong>do</strong>s e em execução. Em parte, isso se deve ao fatode que o BNDES tem tradição e experiência reconhecida na gestão de fun<strong>do</strong>s de desenvolvimento,porém pouca ou nenhuma experiência na gestão de fun<strong>do</strong>s socioambientais, ou na incorporação degarantias socioambientais nos seus projetos de desenvolvimento.Para a gestão <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> Amazônia, o BNDES se esforçou crian<strong>do</strong> o Comitê Orienta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong>Amazônia (COFA) e permitin<strong>do</strong> o assento à representantes de ONG’s socioambientais e movimentossociais entre os seus membros. Porém, em razão <strong>do</strong> caráter meramente consultivo <strong>do</strong> Comitê, aparticipação da sociedade civil no Fun<strong>do</strong> não influencia nas decisões tomadas pelo Banco. As orientaçõespropostas pelo Comitê podem ser atendidas ou não, pela gestão <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong>. Como resulta<strong>do</strong>, osrecursos são aplica<strong>do</strong>s sem transparência e sem controle efetivo da sociedade.O Fun<strong>do</strong> Amazônia contratou nove projetos desde a sua criação, nesses quase três anos de criação.Os recursos não estão sen<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong>s na velocidade necessária à urgência <strong>do</strong> problema. A demora naaprovação <strong>do</strong>s projetos poderia significar um zelo <strong>do</strong> Banco na destinação <strong>do</strong>s recursos, o que parecenão ser a realidade. Segmentos da sociedade civil brasileira, e internacional criticam algumas escolhasfeitas pelo Banco.i Serviço Florestal Brasileiro: autarquia <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente.ii Le Quéré, C., M. R. Raupach, J. G. Canadell, G Marland, L. Bopp, P. Ciais, T. J. Conway, S. C. Doney, R. Feely, P. Foster, P. Friedlingstein, K. Gurney, R. A.Houghton, J. I. House, C. Huntingford, P.E. Levy, M. R. Lomas, J. Majkut, N. Metzl, J. P. Ometto, G. P. Peters, I. C. Prentice, J. T. Randerson, S. W. Running,J. L. Sarmiento, U. Schuster, S. Sitch, T. Takahashi, N. Viovy, G. R. van der Werf, F. I. Woodward. Trends in the sources and sinks of carbon dioxide. NatureGeosciences, November 17 2009.iii Aguiar, A.P., J.Ometto,C. Nobre, G. Câmara, K. Longo, R. Alvalá, R. Araújo, J.V. Soares, D. Valeriano, C. Almeida, I. Vieira, A. Almeida. Estimativa dasemissões de CO2 por desmatamento na Amazônia Brasileira. Relatório Técnico Sintético, INPE, Novembro 2009. Disponível em http://www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/Emissoes_CO2_2009.pdfiv incluin<strong>do</strong> a uso de combustíveis fosseis por cimenteiras.17