10.07.2015 Views

paulistanas - Club Athletico Paulistano

paulistanas - Club Athletico Paulistano

paulistanas - Club Athletico Paulistano

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

página do escritorA seção publica este mês o conto Max de autoria de Sergio Cataldi.MaxCoisas estranhas estão acontecendo.Fui de ônibus. Não pretendia comprarnada. Como a gente se engana!Época deliciosa, ensolarada manhãdominical de outono, ideal paraalgumas horas sem pressa. A Praçada República, como esperava, estavacheia. Como é gostoso flanar! Já fazalgum tempo que me dou esse tipo depresente. Você resolve, num impulso,gastar mais alguns minutos aqui,outros acolá, sabendo que nenhumademora trará consequências. Tira omáximo de proveito do ‘aqui e agora’.É uma delícia, ainda mais por ser umaoportunidade tão rara!Observei a qualidade dos produtosda feira, apreciando-os, mesmo sem aintenção de comprá-los. Não sou dosque aproveitam preços e oportunidadesse não houver necessidade. Em outraspalavras, ainda não fui inoculado pelomicróbio do consumismo.De repente, lá adiante, uma claridadeatraiu minha atenção. Estranho, era numponto só. Um retângulo de luminosidade.Aproximei-me, curioso. Mas aluminosidade desaparecera. Em meio apeças de artesanato de madeira, umapasta metálica destoava. Um laptop! Oque fazia ali?- Esse laptop está à venda? Chefe,satisfaça minha curiosidade: por quê?- Moço, eu não quero mais ele. Daí,trago e deixo à mostra. Se alguém seinteressar, leva. Quase de graça.- Funciona?- Claro! Está perfeitinho. Bem...para falar a verdade, não sei oque acontece.Às vezes, trabalha normalmente. Aí,não sei por que, empaca, não vai mais,48 48como se estivesse emburrado. Perdi apaciência. Agora tenho outro que meobedece sempre. Não preciso maisdele, por isso esse está tão barato.- Obrigado, só queria saber.A luminosidade voltou. Tive a nítidaimpressão de que o computadorestava me encarando. É ilusão minha,ou ele sorriu ligeiramente?Intrigado, ia dando meia-volta.Não, não me enganei. O laptopcomeçou a acender e apagar,pisca-pisca. Cada vez que euameaçava me afastar, mais forte a luz.Esse cara está tentando secomunicar comigo!Apanhei-o e o abri. Assim que oliguei, vi a mensagem na tela – juro!– ‘me leva’.Quem resiste a um mistério?Nos entendemos desde o início.- Você é o máximo. Eu te batizoMax.Mas ele exigia agrado todos os dias.No início do meu dia de trabalho,quando entrava no escritório, eleestava à minha espera, ansioso.Se eu não o cumprimentasse –‘bom-dia, meu querido’; nãoaceitava nada menos que isso –emburrava, ficava escuro, opaco.Uma boa acariciada com as pontasdos dedos o conquistava emdefinitivo. Às vezes – tenho quasecerteza – me parecia ouvir um ligeirogemido de prazer.Jamais conheci alguém tãociumento. Eu precisava de muitotato para poder trabalhar no meucomputador de mesa.- Max, você sabe, meu querido,que eu prefiro você. Mas o trabalhobruto é com ele. Reservo para vocêo trabalho delicado. Não fique comciúmes.Para acalmá-lo, eu tinha deconversar muito.- Max, deixe o outro em paz. Vocêsabe que é de você que eu gosto.Veja, até lhe comprei uma mochilaespecial, carrego você para qualquercanto, e ele fica abandonado. Nemnome tem. Fica aí parado, semreclamar. Quando o ligo, trabalhasem perguntar por que o abandonei,sem se queixar de minha preferênciapor você. Tenha dó.Depois disso, Max funcionavauma maravilha. Fazia tudo queeu mandava, prontamente. Erarapidíssimo, muito esperto.Descobri que, para me agradar, eletrabalhava sem eu mandar.Um dia, recebi resposta de um clientecom quem eu não tinha entrado emcontato. Era uma boa proposta, queme rendeu um trabalho proveitoso.- Agradeço muito, mas deixe que euentre em contato com meus clientes.Não precisa se preocupar.Tudo que fez foi ficar opaco. No diaseguinte, não trabalhou, não houvejeito. Por sorte, eu ainda tinha o outro.As coisas entortaram quando Claraentrou na minha vida. Nada maisnatural que dois jovens apaixonadosqueiram passar bastante tempo juntos,dia e noite. Não para Max. Nessashoras eu tinha de redobrar os agrados.Mas às vezes nem isso funcionava, seClara estivesse presente.A coisa ficou feia quando descobrique ele usou meu blog. Criou umamensagem desaforada, difamandoClara. Tive de enviar nova mensagem,desdizendo e neutralizando a dele.- Max, você passou dos limites. Sevocê não se comportar, não recarregomais. Aí sua bateria chega ao fim evocê não fica totalmente sem ação,apaga de vez. Você quer isso?A melhora não durou muito tempo.Sempre, na presença de Clara,procurava chamar minha atenção,de um jeito ou de outro. Quando nosrecolhíamos, à noite, ele começava apiscar, enfurecido. Para acalmá-lo, euo acariciava. Como se aquecia! Deraiva, claro.Mais cedo ou mais tarde teríamos decolocar um ponto final nessa história.Foi ele quem resolveu tudo.Você fica assustado quando éacordado por algo fora do normal.Um cheiro de queimado penetrouem minhas narinas, mas levou algumtempo para que chegasse até océrebro.Voei até a sala. Lá estava ele, sobre aescrivaninha, pegando fogo, piscandoadoidado, tamanho o ódio. O baldede água que o apagou evitou que aescrivaninha também se incendiasse.Mas não deu para salvar Max. O quefazer com um laptop torrado?Coisas estranhas estão acontecendo.Agora é o outro que está ficandotemperamental.Max?

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!