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Guião da disciplina - Universidade da Madeira

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1Guião para as Correntes Críticas e Pós-críticas do CurrículoJesus Maria SousaUniversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>Madeira</strong>1. A pseudo neutrali<strong>da</strong>de do modelo curricular tecnológicoTaylorismo e a escolarização de massas, tendo em vista o máximo de eficácia e omínimo de custos: uma lógica empresarial que confere ao currículo um carácterinstrumental;Teoria linear e prescritiva de instrução através <strong>da</strong> especificação o mais detalha<strong>da</strong>possível de comportamentos; a Pe<strong>da</strong>gogia por Objectivos;Ideologia e “aparelhos ideológicos” do Estado. Um continuum de práticas em quetodos participam, mesmo os dos grupos e <strong>da</strong>s classes sociais maisdesfavoreci<strong>da</strong>s, sendo portanto mais complica<strong>da</strong> a tarefa de reacção contra aopressão e a dominação;Relação entre o sistema económico e o sistema cultural ou simbólico; areprodução social, habitus, capital cultural e violência simbólica;Os papéis de submissão ou dominação trabalhados através do currículo oculto.2. O fim <strong>da</strong>s meta-narrativas: a diferença e a identi<strong>da</strong>de, valoriza<strong>da</strong>s numaperspectiva crítica Multiculturalismo e o movimento legítimo de afirmação de formas de expressãocultural dos grupos culturais dominados, no interior de países com culturasdominantes; Compreensão antropológica: o respeito pela diferença face à mesma humani<strong>da</strong>de; As relações de poder que fazem com que o “diferente” seja avaliadonegativamente, relativamente ao “não-diferente”; O multiculturalismo como uma questão educacional ou curricular; Perspectiva liberal/humanista versus perspectiva crítica relativamente à tolerância; “Justiça curricular” nas relações sociais de assimetria.3. As diferenças de géneroAspectos socialmente construídos do processo de identificação sexual;As relações de género no currículo;Linhas de poder <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de marca<strong>da</strong>s pelo capitalismo e pelo patriarcado;Desigual<strong>da</strong>de no acesso à educação por questões de género, sobretudo nospaíses periféricos do capitalismo;A construção do mundo social de acordo com os interesses e as formasmasculinas de pensamento e conhecimento.


24. O currículo como narrativa racial e étnicaRaça e etnia: clarificação de conceitos;O acesso à educação com base na dinâmica <strong>da</strong> raça e <strong>da</strong> etnia;O homem branco europeu na sua relação com as populações dos países por elecolonizados.A desconstrução do texto racial do currículo como herança colonial;Um currículo crítico centrado na discussão <strong>da</strong>s causas institucionais, históricas ediscursivas do racismo;5. A teoria queer: uma coisa “estranha” no currículoA teoria queer surge, em países como os Estados Unidos e a Inglaterra, como umaespécie de unificação dos estudos gays e lésbicos.Queer: “estranho”. Através <strong>da</strong> “estranheza” pretende-se perturbar a tranquili<strong>da</strong>de<strong>da</strong> “normali<strong>da</strong>de”.A teoria queer começa por problematizar a identi<strong>da</strong>de sexual considera<strong>da</strong> normal,ou seja, a heterossexuali<strong>da</strong>de; abor<strong>da</strong> a homossexuali<strong>da</strong>de como um desvio <strong>da</strong>sexuali<strong>da</strong>de dominante, hegemónica, normal, isto é, a heterossexuali<strong>da</strong>de.A teoria queer procura levar as pessoas a pensar o impensável, o que é proibidode pensar, a questionar to<strong>da</strong>s as formas bem-comporta<strong>da</strong>s de conhecimento e deidenti<strong>da</strong>de.Estimula que a sexuali<strong>da</strong>de seja trata<strong>da</strong> no currículo como uma questão legítimade conhecimento e de identi<strong>da</strong>de.6. O pós-modernismo e o currículoO pós-modernismo como um conjunto variado de perspectivas que abrangem umadiversi<strong>da</strong>de de campos intelectuais, políticos, estéticos, epistemológicos.A escola, tal como a conhecemos hoje, é uma instituição moderna por excelência(produto <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de); <strong>da</strong>í que o questionamento pós-moderno possadesembocar num ataque à própria escola (e consequentemente à educação), ouseja, às formas dominantes de conhecimento;Para o pós-modernismo, o progresso não é algo necessariamente desejável oubenigno;O pós-modernismo privilegia a mistura, o hibridismo e a mestiçagem – de culturas,de estilos e de modos de vi<strong>da</strong>. Pende para a incerteza e para a dúvi<strong>da</strong>.7. Uma teoria pós-estruturalista do currículoEnquanto o pós-modernismo se define relativamente a uma mu<strong>da</strong>nça de época(Época Moderna – Época Contemporânea), o pós-estruturalismo limita-se ateorizar sobre a linguagem e o processo de significação.Para o estruturalismo a língua é a estrutura e a fala é a utilização concreta, pelosfalantes, de uma língua particular; o pós-estruturalismo partilha com oestruturalismo a mesma ênfase na linguagem como um sistema de significação;


3mas a suposta fixidez do significado, assumi<strong>da</strong> pelo estruturalismo, transforma-seem fluidez, indeterminação e incerteza, no pós-estruturalismo;Como campos de significação, o conhecimento e o currículo são caracterizadostambém pela sua indeterminação e pela sua ligação com as relações de poder;Uma perspectiva pós-estruturalista sobre o currículo questiona os “significadostranscendentais”, que tenham a ver com a religião, a pátria e a ciência, quepovoam o currículo. Ela questiona o seguinte: onde, quando, e por quem forameles inventados?8. Uma teoria pós-colonialista do currículoO mundo contemporâneo, globalizado, só pode ser adequa<strong>da</strong>mente compreendidose o relacionarmos com a chama<strong>da</strong> “aventura colonial europeia” inicia<strong>da</strong> no séculoXV.A análise pós-colonial procura revisitar tanto as obras literárias escritas do pontode vista dominante, quanto aquelas outras escritas por pessoas pertencentes àsnações domina<strong>da</strong>s;A teoria pós-colonial é um elemento importante no questionamento e na crítica doscurrículos centrados no chamado “cânone ocidental”; Foi através <strong>da</strong> representaçãoque o Ocidente construiu um “outro” como supostamente irracional, inferior eportador de uma sexuali<strong>da</strong>de selvagem e irreflecti<strong>da</strong>A análise pós-colonial junta-se às análises pós-moderna e pós-estruturalista, paraquestionar as relações de poder e as formas de conhecimento que colocaram asujeito imperial europeu na sua actual posição de privilégio;A crítica pós-colonial permite debruçar-se não só sobre os processos dedominação cultural como sobre os processos de resistência cultural, bem comosobre a interacção entre ambos. O híbrido carrega as marcas do poder, mastambém as marcas <strong>da</strong> resistência.9. Os Estudos Culturais e o currículoO campo de teorização conhecido como Estudos Culturais tem sua origem nafun<strong>da</strong>ção do Centro de Estudos Culturais Contemporâneos, na Inglaterra, em1964;Os esforços iniciais do Centro concentraram-se no estudo de formas culturaisurbanas, sobretudo <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s “subculturas”;Os Estudos Culturais concebem a cultura como campo de luta em torno <strong>da</strong>significação social. A cultura é um jogo de poder;Os Estudos Culturais estão preocupados com questões que se situam naintersecção entre cultura, significação, identi<strong>da</strong>de e poder;Nessa perspectiva, a “instituição” do currículo é uma invenção social comoqualquer outra, sendo o “conteúdo” do currículo uma construção social;Não há uma separação rígi<strong>da</strong> entre o conhecimento tradicionalmente consideradocomo escolar e o conhecimento quotidiano <strong>da</strong>s pessoas envolvi<strong>da</strong>s no currículo,ambos buscam influenciar e modificar as pessoas, estão ambos envolvidos emcomplexas relações de poder.


410. Cultura e pe<strong>da</strong>gogia: onde começa e termina ca<strong>da</strong> uma?Todo o conhecimento, na medi<strong>da</strong> em que se constitui num sistema de significação,é cultural.Tal como a educação, as outras instâncias culturais também são pe<strong>da</strong>gógicas,também ensinam alguma coisa. O cultural torna-se pe<strong>da</strong>gógico e a pe<strong>da</strong>gogiatorna-se cultural.Aprende-se vendo, por exemplo, um noticiário ou uma peça de publici<strong>da</strong>de natelevisão. Do ponto de vista pe<strong>da</strong>gógico e cultural, não se trata simplesmente deinformação ou entretimento: trata-se de formas de conhecimento que influenciarãoo comportamento <strong>da</strong>s pessoas de forma crucial;O currículo e a pe<strong>da</strong>gogia dessas formas culturais mais amplas diferem <strong>da</strong>pe<strong>da</strong>gogia e do currículo escolares, <strong>da</strong>dos os imensos recursos económicos etecnológicos que os primeiros mobilizam, para as apresentarem de maneirasedutora e irresistível (as indústrias culturais);Filmes <strong>da</strong> Disney (Henry Giroux), publici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> MacDonald’s (Joe Kincheloe),boneca Barbie (Shirley Steinberg);A teoria curricular crítica vê tanto a indústria cultural quanto o currículopropriamente escolar como artefactos culturais, no contexto de relações de poder.11. Currículo: a relação entre saber e poderEmbora seja evidente que somos ca<strong>da</strong> vez mais governados por mecanismossubtis de poder, é também evidente que continuamos a ser governados porrelações e estruturas de poder basea<strong>da</strong>s na proprie<strong>da</strong>de de recursos económicose culturais.Depois <strong>da</strong>s teorias críticas e pós-críticas do currículo, torna-se impossível pensar ocurrículo simplesmente através de conceitos técnicos como os de ensino eeficiência ou de categorias psicológicas como as de aprendizagem;Nas teorias pós-críticas o conhecimento não é exterior ao poder, não se opõe aopoder, é parte inerente do poder.

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