Antonio Donizeti <strong>da</strong> Cruza imagem converti<strong>da</strong> em voz. A outra voz que está adormeci<strong>da</strong> no íntimo de ca<strong>da</strong>homem.Octavio Paz considera a <strong>poesia</strong> como uma forma eleva<strong>da</strong> de liber<strong>da</strong>de,um conhecer e um interrogar. A moderni<strong>da</strong>de nunca é ela mesma; é sem<strong>pr</strong>e outra,numa autodestruição criadora. Pode-se afirmar que "a moderni<strong>da</strong>de é sinônimode crítica e se identifica com a mu<strong>da</strong>nça. Não é afirmação de um <strong>pr</strong>incípiointemporal, mas o desa<strong>br</strong>ochar <strong>da</strong> razão crítica que, sem cessar, interroga-se edestrói-se para renascer novamente" (1984a, p. 47).Maria <strong>da</strong> Glória Bordini, em “A <strong>poesia</strong> do tarde”, registra que um dostraços <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de literária consiste, pois, em não acreditar "nos objetos domundo, restando-lhe, como algo ain<strong>da</strong> passível de fé, a linguagem e a criaçãoverbal". Para a autora, o discurso literário cria seus <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>ios referentes em graumáximo. Em relação ao estatuto "de papel" <strong>da</strong>s significações literárias e dosaspectos <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de, Bordini assinala:Desde o início do século iriam <strong>pr</strong>oliferar os manifestosestéticos e, com o avançar dos anos, a metaliteratura, ou seja,a o<strong>br</strong>a literária que tematiza a si mesma, ou ao ato criador.Nos dias atuais, em que se discutem os <strong>pr</strong>imórdios de umatransformação cultural, denomina<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> cautelosamentede pós-moderna, essa feição de moderni<strong>da</strong>de se acentua, sejana narrativa ou no poema, em que a linguagem ou os<strong>pr</strong>ocedimentos de construção se tornam os ver<strong>da</strong>deirosheróis os textos (BORDINI, 1991, p. 39).Segundo Bordini, a <strong>poesia</strong> é <strong>da</strong>s formas literárias a que mais requer"introspecção", justamente pelo poema condensar "múltiplos sentidos numespaço gráfico mínimo"; e não por ser um fato subjetivo, "a exacerbação de umestado de espírito pessoal do escritor, como por vários séculos, se acreditouque fosse uma de suas manifestações, a lírica" (1986, p. 31).A autora constata que a condensação dos sentidos opera<strong>da</strong> pela palavrapoética não deriva, por conseguinte, somente <strong>da</strong> melopéia ou <strong>da</strong> imagética. É<strong>pr</strong>eciso ir "além do nível verbal" e adentrar "no campo <strong>da</strong>s re<strong>pr</strong>esentações", parase com<strong>pr</strong>eender a significação do poema. Todo discurso evoca seus conceitos enão as coisas. No discurso poético, "a não-transparência aumenta a distânciaentre o poema e a vi<strong>da</strong>, o<strong>br</strong>igando à introspecção". A respeito <strong>da</strong> <strong>poesia</strong> lírica,Bordini afirma:66A lírica, seja em que período for, se define pela posiçãocentral do Eu como filtro do mundo, quer esse Eu sejaentendido como pessoal, confessional, como sede <strong>da</strong>
<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>consciência ou como sujeito de um ato de linguagem. Ocentramento no Eu, em vista disso, é esperável e nãosignifica necessariamente que <strong>pr</strong>ofesse a transcendência elamente sua per<strong>da</strong>, mas sim que se afasta do Outro poralguma razão (BORDINI, 1987, p. 12).No que diz respeito ao afastamento do Eu lírico em relação ao Outro, poralgum motivo, conforme constata Bordini, pode-se dizer que, no momento emque ele se afasta, acaba por "<strong>pr</strong>ocurar", por buscar esse Outro. Pois, a <strong>poesia</strong>sem<strong>pr</strong>e foi uma tentativa de resolver a discórdia entre "o eu do diálogo no tu domonólogo". A <strong>poesia</strong> "não diz: eu sou tu; diz: meu eu és tu". Ou seja, a <strong>poesia</strong> é a"<strong>pr</strong>ocura dos outros, descoberta <strong>da</strong> outri<strong>da</strong>de" (PAZ, 1982, p. 318-319).Em relação à <strong>poesia</strong>, <strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong> assinala sua posição, reforçando oque já se registrou:A <strong>poesia</strong> é uma ex<strong>pr</strong>essão transfigura<strong>da</strong> de nossa vivência,num certo tempo, num determinado lugar. Embora nãopareça, as circunstâncias de nossa vi<strong>da</strong> im<strong>pr</strong>egnam,sutilmente, nossa arte (BASSETI, 1990, p. 5).Ain<strong>da</strong>, em o Jornal do livro, de Curitiba, <strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong> define a <strong>poesia</strong><strong>da</strong> seguinte forma:A <strong>poesia</strong>, para mim, é como um jogo. Mas um jogo difícil,ain<strong>da</strong> que tenha elementos lúdicos de <strong>pr</strong>azer. É como umjogo que você não consegue armar, não consegue vencer.Às vezes não era aquela a palavra que você queria. Então,você mu<strong>da</strong>, tira um verso, corta. O meu normal é cortarmuito. Poesia é um jogo no qual a gente perde sem<strong>pr</strong>e(1985, p. 5).<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>, em entrevista a Hamilton Faria, em O Estado doParaná, a 11 de outu<strong>br</strong>o de 1992, afirma que a <strong>poesia</strong> é intrinsecamenteliga<strong>da</strong> à beleza. No Universo, tudo é <strong>poesia</strong> de Deus: é a som<strong>br</strong>a de Deus nomundo. O poema é como "um jogo de palavras que gera <strong>pr</strong>azer" e, uma <strong>da</strong>scaracterísticas do poeta, é a "paixão pela palavra e pela leitura". O poeta "é umaantena sensível, captando seus <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>ios sentimentos, bem como osacontecimentos do mundo que lhe ferem a sensibili<strong>da</strong>de".Neste capítulo, buscou-se configurar a <strong>inquietação</strong> e a <strong>poesia</strong>, a partir de<strong>pr</strong>essupostos e do estudo referencial e teórico de autores como Paz, Esteban,Lavigne, entre outros, para que sirva de embasamento à análise <strong>da</strong> o<strong>br</strong>akolodyana.67
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19: SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24: PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34: desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42: Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59: Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61: Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63: Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65: Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67: Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81 and 82: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83 and 84: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99 and 100: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 101 and 102: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 103 and 104: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105 and 106: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 107 and 108: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 109 and 110: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 111 and 112: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 113 and 114: Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 115 and 116: dando um tom de irregularidade às
- Page 117 and 118: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119 and 120:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121 and 122:
Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 123 and 124:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132:
CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138:
ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142:
JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143:
ANEXOS
- Page 147:
145
- Page 151:
149
- Page 155:
153
- Page 159:
157
- Page 163:
161
- Page 167 and 168:
2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169:
3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que