10.07.2015 Views

Helena Kolody: a poesia da inquietação. - Portugues.seed.pr.gov.br

Helena Kolody: a poesia da inquietação. - Portugues.seed.pr.gov.br

Helena Kolody: a poesia da inquietação. - Portugues.seed.pr.gov.br

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>A crítica de Octavio Paz é uma crítica <strong>da</strong> linguagem, mais ain<strong>da</strong>, dohomem e <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. O homem, ao interrogar-se, busca a com<strong>pr</strong>eensão de suaessência e de seu destino. Pode-se dizer que esse questionar-se, in<strong>da</strong>gar-se dohomem, a<strong>pr</strong>esenta-se como uma <strong>inquietação</strong> humana.Em Convergências: ensaios so<strong>br</strong>e arte e literatura, Paz declara que"interrogar a linguagem é interrogar-nos a nós mesmos". Na história <strong>da</strong> <strong>poesia</strong>moderna aparece, como obsessão, a busca de uma linguagem anterior a to<strong>da</strong>s aslinguagens, visando restaurar e restabelecer a uni<strong>da</strong>de do espírito. Essa busca deuma linguagem transcendente a to<strong>da</strong>s as linguagens é uma <strong>da</strong>s formas desolucionar os antagonismos "entre a uni<strong>da</strong>de e a multiplici<strong>da</strong>de que não cessa deintrigar o espírito humano" (PAZ, 1991, p. 18).Em sua origem, a <strong>poesia</strong> foi fala<strong>da</strong> e ouvi<strong>da</strong> por uma coletivi<strong>da</strong>de. Poucoa pouco ela se tornou uma experiência solitária, um "tecido de conotações", feitade ecos, reflexos e correspondências, entre o som e o sentido. O poeta, ao nomearo que sentiu e pensou, não transmite as sensações e ideias originais, masa<strong>pr</strong>esenta formas e figuras que são combinações rítmicas nas quais o som éinseparável do sentido. O poema é a metáfora do que o poeta sentiu e pensou.Essa metáfora é a ressurreição <strong>da</strong> experiência e sua transmutação.Em relação à o<strong>br</strong>a de arte, salienta-se que ela é uma "transgressão <strong>da</strong>funcionali<strong>da</strong>de". O conjunto dessas transgressões constitui o estilo: os estilos são"comunais". Ca<strong>da</strong> o<strong>br</strong>a de arte é um "desvio e uma configuração do estilo de seutempo e lugar: ao violá-lo, cum<strong>pr</strong>e-o". A o<strong>br</strong>a de arte enquanto objeto é "eterna"(ain<strong>da</strong> que o seu destino seja a eterni<strong>da</strong>de refrigera<strong>da</strong> do museu). No entanto,como ideia, as o<strong>br</strong>as de arte "envelhecem e morrem". Porém, não raro, os artistas,os poetas esquecem que "sua o<strong>br</strong>a é dona do segredo do ver<strong>da</strong>deiro tempo: não aeterni<strong>da</strong>de vazia, mas a vivaci<strong>da</strong>de do instante" (PAZ, 1991, p. 57).Em La otra voz, Octavio Paz refere-se que a <strong>poesia</strong> é pedra de escân<strong>da</strong>lo<strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de. "Entre a revolução e a religião, a <strong>poesia</strong> é a outra voz. Sua voz éoutra porque é a voz <strong>da</strong>s paixões e <strong>da</strong>s visões. É de um outro mundo e é deste. Éantiga e atual, uma antigui<strong>da</strong>de sem <strong>da</strong>tas. Poesia herética e cismática, <strong>poesia</strong>inocente e perversa, límpi<strong>da</strong> e lodosa, aérea e subterrânea, <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> ermi<strong>da</strong> e dobar <strong>da</strong> esquina, <strong>poesia</strong> ao alcance <strong>da</strong>s mãos e sem<strong>pr</strong>e de um mais além que estáaqui mesmo" (1990, p. 61).A singulari<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>poesia</strong> moderna não nasce <strong>da</strong>s ideias ou <strong>da</strong>s atitudesdo poeta, mas de sua voz, ou seja, do acento de sua voz. A <strong>poesia</strong> se ouve com osouvidos, porém se vê com o entendimento. Suas imagens são criaturas anfíbias,são ideias e são formas, são sons e silêncios. A <strong>poesia</strong> é a memória feito imagem e65

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!