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Helena Kolody: a poesia da inquietação. - Portugues.seed.pr.gov.br

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<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>humano. Para Jacques Lavigne, o homem somente escreveria sua história, se elemesmo fosse simultaneamente testemunha de sua origem e restituído ao termo<strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>. O homem, ao tomar consciência de sua vi<strong>da</strong>, encontra-secom<strong>pr</strong>omissado, e não sabe que rumo terá sua existência. O que o tornaconsciente de si na <strong>inquietação</strong> é o estar entre o passado perdido e o futuroincerto, uma vez que o passado traz a decepção, o futuro, a angústia. Naexistência e na <strong>inquietação</strong>, o homem é colocado acima do tempo e do devir; éforçado a in<strong>da</strong>gar o seu sentido (1958, p. 28-29).A <strong>inquietação</strong> origina-se de um duplo sentimento de ausência, pois avi<strong>da</strong> humana, realizando-se no tempo, gera sucessivamente um passado e umfuturo: o passado, que é uma per<strong>da</strong>, e o futuro, uma <strong>pr</strong>ivação. A infância nãoconhece a <strong>inquietação</strong>: o homem só a conhece quando sua vi<strong>da</strong> já <strong>pr</strong>incipiou, poisé no limiar <strong>da</strong> maturi<strong>da</strong>de que a <strong>inquietação</strong> aparece. É como que a condição doseu advento espiritual, em que, desco<strong>br</strong>indo o tempo, ele é colocado em face <strong>da</strong>sua insuficiência. Ao desco<strong>br</strong>ir o tempo, o homem introduz um intervalo entre sie ele, entre o mundo que tem e o que desejaria, sentindo que na<strong>da</strong> no mundo e dohomem poderá <strong>pr</strong>eencher este espaço e vazio. A <strong>inquietação</strong> é a consciência destaruptura. O que inquieta o ser humano é recusar no fundo de si mesmo o únicomundo que seja o seu, o único lugar que lhe pertence.A <strong>inquietação</strong> pode ser a ausência do infinito. Não se pode responder aesta ausência senão pelo absoluto. Hegel foi um dos filósofos que refletiramso<strong>br</strong>e a <strong>inquietação</strong>. O fato de Hegel conceber a vi<strong>da</strong> como uma história e a<strong>inquietação</strong> como uma fase dessa história, coloca-o muito naturalmente nocaminho <strong>da</strong> filosofia cristã. Tanto mais que sustenta claramente que a<strong>inquietação</strong> nasce, no ser humano, <strong>da</strong> oposição <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> finita ao pensamentoinfinito; que o tempo é para o homem o lugar onde se conquista a eterni<strong>da</strong>de.Ain<strong>da</strong>, para Hegel, é a ideia de infinito que <strong>pr</strong>ovoca a <strong>inquietação</strong> (LAVIGNE,1958, p. 48-50).Hegel, em Estética: <strong>poesia</strong>, afirma que "o objeto ver<strong>da</strong>deiro <strong>da</strong> <strong>poesia</strong> é oreino infinito do espírito". A <strong>poesia</strong> lírica tem por conteúdo o mundo interior, osubjetivo, a alma agita<strong>da</strong> por sentimentos, "alma que em vez de agir, persiste nasua interiori<strong>da</strong>de", e não pode, por essa maneira, "ter por forma e por fim senão aexpansão do sujeito, a sua ex<strong>pr</strong>essão" (HEGEL, 1980, p. 31).A <strong>poesia</strong> é palavra, e o som <strong>da</strong> palavra é a coisa mais <strong>pr</strong>óxima <strong>da</strong> ideia. A<strong>poesia</strong> re<strong>pr</strong>esenta o ver<strong>da</strong>deiro. A <strong>poesia</strong> lírica satisfaz a necessi<strong>da</strong>de de percebero que sentimos: os nossos sentimentos, as nossa paixões, as nossas emoções, porintermédio <strong>da</strong> linguagem e <strong>da</strong>s palavras com que os revelamos ou objetivamos,57

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