Antonio Donizeti <strong>da</strong> CruzA temática ex<strong>pr</strong>essa no título e nos versos do poema apóia-se no tempo,na insatisfação humana e no sofrimento de forma clara. Nota-se no poema umacomposição metafórica em que a solidão, mesmo simbolizando a dor, pode geraralegria. Na <strong>pr</strong>imeira estrofe, o verbo flexionado e plural “estamos” realça acondição solitária do ser humano. No eixo paradigmático, aparece a antítese dorversus alegria. Os termos “sozinho” e “solidão” apontam para a condição dosentes, pois a vi<strong>da</strong> é marca<strong>da</strong> pelo sentido de não-permanência. O nascer e morrersão balizas <strong>da</strong> solidão.No poema “Ilhas” (VB, p. 6-7), o sujeito lírico manifesta o sentimento desolidão:ILHASSomos ilhas no mar desconhecido.O grande mar nos une e nos separa.Fala de longe o aceno leve <strong>da</strong>s palmeiras.Mensagens se alongam nas líqui<strong>da</strong>s vere<strong>da</strong>s.Ca<strong>da</strong> penhasco é tão sozinho e diferente!Ninguém consegue partilhar a solidão.Ilhas no grande mar, a<strong>pr</strong>isiona<strong>da</strong>s,Apenas o perfil de outras ilhas, vemos.Só Deus conhece nossa exata dimensão.São versos que revelam que o homem é por natureza um ser solitário. Asolidão é a <strong>pr</strong>ofundeza última <strong>da</strong> condição humana. O homem é o único ser que sesente só. E, também, o único que é busca de outro. Ele é nostalgia e comunhão,por isso, ca<strong>da</strong> vez que se sente a si mesmo, sente-se como carência do outro,como solidão (PAZ, 1984b, p. 175).Essa afirmativa de Octavio Paz é constata<strong>da</strong> nos versos dos poemas,“Solidão” (SR – VE) e “Ilhas” (VB), em que o sujeito é sem<strong>pr</strong>e "plural","Estamos sem<strong>pr</strong>e sozinhos", "somos ilhas". O sujeito poético <strong>pr</strong>opõe, ao leitor,uma conscientização em relação ao objeto referente e à <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>ia palavra, poisnuma noção de moderni<strong>da</strong>de, o máximo que o poeta pode ser é a consciênciadesse "nós". Mas também há a despersonalização total do eu lírico, como se podeverificar no poema “Último” (IP, p. 43), com suas imagens de sentido de busca e<strong>inquietação</strong>:104
<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>ÚLTIMOVoo solitáriona fím<strong>br</strong>ia <strong>da</strong> noite,em busca do pouso distante.Ou mesmo nos versos do poema “Coragem de cantar” (IP, p. 19), "Maisforte que o desamor./ elevar acima <strong>da</strong> solidão/ o canto solidário".O poema “Cantar” (PM, p. 20) mostra que partilhar a solidão também émister dos que buscam o "outro", em especial, o <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>io poeta:CANTARQuem vai cantandonão vai sozinho.Dançam em seu caminhoo sonho e a canção.Em “Hora vazia” (SR), a solidão é associa<strong>da</strong> à imagem do deserto. O eulírico declara: “Se esta hora é vazia,/ O deserto é só meu.// É imortal a <strong>pr</strong>esença <strong>da</strong><strong>poesia</strong>/ na face multiforme <strong>da</strong> beleza [...]” (p. 38). Símbolo <strong>da</strong> solidão, o desertoa que se refere o sujeito <strong>da</strong> enunciação não é só aridez, é também um espaço emque é possível vivenciar a solidão através <strong>da</strong> criação poética, pois "a <strong>pr</strong>esença<strong>da</strong> <strong>poesia</strong>" é sinônimo de beleza.<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>, ao se referir à solidão, em entrevista a Alzeli Bassetti, naRevista Brasília, em julho de 1990, declara:Há uma espécie de solidão positiva e necessária: parapensar, para sonhar, para criar, ou, simplesmente, olharpela janela a paisagem lá fora. É na solidão que a genteconsegue olhar para dentro de si e encontrar-se. O <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>iosonho floresce na solidão. E to<strong>da</strong> criação é, a <strong>pr</strong>incípio umsonho lúcido (1990, p. 5).Na <strong>poesia</strong> de <strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>, a temática <strong>da</strong> solidão, relaciona<strong>da</strong> àquestão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong> morte, é uma constante. A <strong>poesia</strong> kolodyana ex<strong>pr</strong>essa suaintenção humana, como potenciali<strong>da</strong>de, busca de sentido existencial eresistência. A <strong>poesia</strong> faz-se reflexiva porque interroga, a um só tempo, osmeandros <strong>da</strong> existência humana, <strong>da</strong> arte e do mundo.“Ensaio” (VB, p. 58) trata <strong>da</strong> questão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong> morte, sem<strong>pr</strong>e105
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19:
SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24:
PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34:
desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42:
Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59: Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61: Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63: Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65: Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67: Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69: Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81 and 82: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83 and 84: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99 and 100: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 101 and 102: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 103 and 104: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 109 and 110: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 111 and 112: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 113 and 114: Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 115 and 116: dando um tom de irregularidade às
- Page 117 and 118: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119 and 120: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121 and 122: Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 123 and 124: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132: CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138: ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142: JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143: ANEXOS
- Page 147: 145
- Page 151: 149
- Page 155: 153
- Page 159:
157
- Page 163:
161
- Page 167 and 168:
2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169:
3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que