www.nead.unama.brreminiscência. Afinal, deu com um dos grandes espelhos que havia erguidos sobreos consolos, e mirou-se, deixando escapar uma longa exclamação de pasmo.Desconhecera-se.Aproximou-se mais da sua lívida e descarnada imagem, profundamenteabismada de se ver tão feia. Virou-se de um para outro lado e voltou-se para trás,procurando quem era aquela múmia, aquela horrorosa criatura que se refletia lá noespelho.— Não! Não! Murmurou, sem se alterar e até sorrindo. — A que aparece lánão sou eu. É impossívelE sacudia com a cabeça, punha a língua de fora, arregalava os olhos. Ovidro reproduzia tudo.— Mas não, não é possível que seja eu, insistia a desgraçada, fugindo dasua sombra e gritando, a correr pela sala: — Eu tenho sangue nos lábios, brilho nosolhos, frescura na pele! Meus peitos são carnudos e suculentos como duas mangaspicadas por passarinho! Meu corpo é todo cheio e torneado como o da novilha quefoi coberta e ainda não pariu! Eu sou a mais formosa entre as mulheres da terra, porisso meu amado me escolheu entre todas! Quando eu vou ter com ele, andodepressa, sacudindo as saias, e a barra do meu vestido recende que nem a baunilhae a trevo-cheirosoJustina acudiu aos lascivos gritos da senhora. O Conselheiro não foi logo,porque nessa ocasião fazia a sesta no divã do seu gabinete.— Então que é isso, minh'ama?...— Não! Não! Aquela que ali estava não era eu!... Bem sei que isto nãopassa de uma extravagância de sonho!...— É porque vosmecê está muito fraca... Quer que lhe vá buscar ocaldinho?....Magda não respondeu; olhava fixamente para as suas mãos angulosas edesfeadas. Depois, com uma careta de repugnância, tenteou-se toda e ficou a tomarnos dedos a magreza das suas coxas.Mas riu-se logo, repetindo, a apalpar-se:— Que sonho extravagante! Que sonho engraçado!E ia de novo ao espelho e apontava para a sua figura, e ria--se a bandeirasdespregadas, como ébria.— Que sonho! Que sonho!— Então, minh'ama, posso ir buscar-lhe o caldinho?..Magda pôs-se muito séria e correu para junto da criada, como se só entãotivesse dado pela sua presença.— Heim? Que é?— Pergunto se vosmecê quer tomar o seu caldo?...98
www.nead.unama.br— Que caldo?— Ora essa O seu caldinho das três horas.— Três horas!— Da tarde, minh'ama. Eu lho trago já.E Justina saiu, resmungando: — Coitada! Inda ontem tão senhora de si e jáhoje dá para não dizer coisa com coisa!... Mas isto há de passar, é fraquezatalvez!... ela, coitadinha, ainda não meteu nada p'ra o estômago!...Daí a um instante voltava à sala.— Prove, minh'ama, para ver como está seu apetite!E esfriava o caldo com a colher, soprando-lhe em Magda sorviaautomaticamente as colheradas que levava à boca.— Você onde estava?... Perguntou a senhora.— Na cozinha. Porque, minha'ama?— E ontem, à noite?— No casamento de minha mana...— Sua mana?...— A Rosinha, como não?— Com quem ela casou?— É boa! Com o Luiz! Pois minh'ama já se não lembra...— Luiz? Quem é o Luiz?...— Olhe agora! E' o filho da tia Zefa, o moço ali da pedreira...— Ah!... Um de corpo nu, com a cara molhada de suor...— Que trouxe vosmecê ao colo, quando minh'ama subiu ao morro...Minh'ama conhece-o, como não?Justina dizia estas coisas com a paciência de quem conversa com umalienado de estimação; e a outra olhava para ela sem pestanejar, interrompendo asua imobilidade apenas para sorver as colheradas de caldo.— Um descalço, prosseguiu Magda; um que tem cabelos no peito; a carnerija como pedra; branca de marfim; a boca cheirando a murta!... Conheço! oh, seconheço!... Pois, se lhe quero tanto bem!... E por onde anda agora esse ingrato...— Está em casa, minh'ama... Ele hoje não foi ao serviço, porque se casou,mas...— Ah! Ele casou-se...? Que homem!— Casou-se ontem, sim senhora, mas amanhã está fino para o trabalho!— Ah! Ele amanhã não fica na cama!...— Não fica, não senhora.— Casou-se! Pois diga-lhe que venha aqui com a noiva; quero dar-lhes umpresente, um bom presente de núpcias. Traga-os, não se esqueça; ouviu?— Sim senhora. E quando?— Quando quiserem vir.— E a que horas, minh’ama?— A qualquer hora, contanto que venham.Nisto entrou o Conselheiro, e a um sinal trocado secretamente com a criada,esta lhe respondeu em voz baixa:99
- Page 4 and 5:
www.nead.unama.brSegundo o que sabi
- Page 6 and 7:
www.nead.unama.brMagda afastou-se,
- Page 8 and 9:
www.nead.unama.brO primeiro a apres
- Page 10 and 11:
www.nead.unama.br— E daí?— Da
- Page 12 and 13:
www.nead.unama.brO velho sentia o s
- Page 14 and 15:
www.nead.unama.br— Dezessete anos
- Page 16 and 17:
www.nead.unama.brmarido prático, u
- Page 18 and 19:
www.nead.unama.br— É o diabo!...
- Page 20 and 21:
www.nead.unama.brMuito mais! E com
- Page 23 and 24:
www.nead.unama.brgraça que a Sra.
- Page 25 and 26:
www.nead.unama.brUma conduta irrepr
- Page 27 and 28:
www.nead.unama.brgarganta e, depois
- Page 29 and 30:
www.nead.unama.brroupa e apenas enf
- Page 31 and 32:
www.nead.unama.brexistência! Que a
- Page 33 and 34:
www.nead.unama.bruma mesinha cobert
- Page 35 and 36:
www.nead.unama.brNunca entravam em
- Page 37 and 38:
www.nead.unama.br— Vamos lá?...
- Page 39 and 40:
www.nead.unama.brcorpo, nem que se
- Page 41 and 42:
www.nead.unama.br— Piedade, meu p
- Page 43 and 44:
www.nead.unama.bràs histéricas, s
- Page 45 and 46:
www.nead.unama.brAo perceber uma pe
- Page 47 and 48: www.nead.unama.br— Vou comprara u
- Page 49 and 50: www.nead.unama.bracompanhou-lhe log
- Page 51 and 52: www.nead.unama.brúnico dever. Desd
- Page 53 and 54: www.nead.unama.brde suspiros estala
- Page 55 and 56: www.nead.unama.brE, uma vez deitado
- Page 57 and 58: www.nead.unama.brE notava agora na
- Page 59 and 60: www.nead.unama.brde quem admira; Ma
- Page 61 and 62: www.nead.unama.brE, apesar dos esfo
- Page 63 and 64: www.nead.unama.br— Sim, sim, mas
- Page 65 and 66: www.nead.unama.br— Voltemos para
- Page 68 and 69: www.nead.unama.brimensa túnica de
- Page 70 and 71: www.nead.unama.brE respirava alto,
- Page 72 and 73: www.nead.unama.brJustina estendeu o
- Page 74 and 75: www.nead.unama.brcarne às garras d
- Page 76 and 77: www.nead.unama.brCAPÍTULO XVIEsta
- Page 78 and 79: www.nead.unama.brtraziam lenços de
- Page 80 and 81: www.nead.unama.brlatas de bolacha i
- Page 82 and 83: www.nead.unama.brcomo um lírio lev
- Page 84 and 85: www.nead.unama.brela dizia com a ma
- Page 86 and 87: www.nead.unama.brCAPÍTULO XVIIIE e
- Page 88 and 89: www.nead.unama.brJá a gaiola de um
- Page 90 and 91: www.nead.unama.brprecipitou-se do a
- Page 92 and 93: www.nead.unama.brsuavam4he com o gr
- Page 94 and 95: www.nead.unama.brbrancas. Metia gos
- Page 96 and 97: www.nead.unama.brFoi ter à janela
- Page 100 and 101: www.nead.unama.br— Agora... Depoi
- Page 102 and 103: www.nead.unama.br— Estava como lo
- Page 104 and 105: www.nead.unama.br— Agora vai busc
- Page 106 and 107: www.nead.unama.brO populacho do cor
- Page 108 and 109: www.nead.unama.brOs marinheiros tin