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O Homem - Unama

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www.nead.unama.brbrancas. Metia gosto! E a cama? Só lençóis de linho — quatro! e mais três dealgodão; não contando as colchas!— Sete lençóis?E, porque a ama fizesse um certo ar de estranheza: — Para não manchar ocolchão, como não?cama?— Ah .... Fez Magda, caindo em si.— E o colchão é novo em folha! O homem saiu-se!— Que homem?— O padrinho do Luiz, o Antônio Pechinchão! Pois quem foi que lhe deu a— Sim, sim.— E' um traste que mete respeito. Aquilo deita a netos!E, vendo que a senhora mostrava interesse, continuou a dar à língua,particularizando os episódios mais insignificantes da função, repetindo as partidasque se deram, narrando pilhérias, contando os namoros, os ciúmes, e afinal! — Ai! aCaninha Verde! "Que pena não poder ficar para ver!" Depois, sem se conter e rindoenvergonhada, confessou a festa que lhe fez o Manuel das Iscas. "Pois o demôniodo homem não lhe tocou em casar?... Ora que asneira!... Uma viúva mãe de trêsfilhos pode lá pesar nisso!..." E por ai foi. no calor do entusiasmo, derretendo empalavras o seu bom humor condimentado com os brindes desse dia.Magda escutava-a. imóvel, sem lhe opor uma palavra; agora assentada; oqueixo enterrado entre as mãos, os cotovelos fincados sobre as coxas magras. Láfora, na casa. dos noivos, continuavam a cantar ao desafio, ao som plangente dasguitarras; e aquela música simples e melancólica, dissolvida num lamentoharmonioso e continuo, ora chorado por voz de homem, ora soluçado por voz demulher, chegava aos ouvidos dela, embebida em deliciosas mágoas de amor. Roíacomo uma saudade; gemia mais triste que a derradeira esperança quando abre asasas e desfere o vôo, para nunca mais voltar.— Olhe, minh'ama! Exclamou de súbito Justina.— É ele que. está cantando agora! E' o Luiz!Magda ergueu-se com um sobressalto e correu à janela. Era, com efeito, avoz do seu companheiro da outra vida:"Tu a amar-me e eu a amar-te,Não sei qual será mais firme!Eu como sol a buscar-te;Tu como sombra a fugir-me!"E um coro de vozes abafadas respondia:"Verde no marAnda à roda do vapor.Ainda está para nascerQuem há de sero meu amor."E os olhos de Magda orvalharam-se de ternura, e o seu coraçãoenlanguesceu dolente, como se aquela voz, tão meiga e tão sentida, a estivessechamando lá da misteriosa ilha dos seus amores.94

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